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Luiz Augusto Lopes Serrano Vitor Hugo de Oliveira Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro Resumo: O cajueiro, planta nava do Brasil, é encontrado em diversos locais do mundo, vegetando e produzindo mesmo em condições ecológicas consideradas insasfatórias, o que lhe caracteriza como planta rúsca. Essa ruscidade é interpretada por muitos como uma ausência de necessidade de realizar os devidos tratos culturais que são recomendados para tantas outras culturas. Após sucessivos decréscimos de produvidade, os atores envolvidos no agronegócio caju estão se convencendo de que é preciso profissionalizar o culvo. A disponibilização de genópos de cajueiro-anão-precoce, com alto potencial de produção por unidade de área, oriundos da propagação assexual (clones), mostrou que, para obter sucesso com o culvo, há a necessidade de se implantar um sistema de produção cujos tratos culturais sejam indispensáveis para a obtenção de maiores rendimentos produvos e econômicos, tanto da castanha como do pedúnculo. Vários trabalhos cienficos comprovaram que o cajueiro apresenta resposta posiva em sua produção, quando são realizados os devidos tratos culturais recomendados. Neste capítulo, abordaremos os aspectos botânicos e fenológicos do cajueiro, bem como os principais tratos culturais recomendados para a obtenção de sucesso na cultura do cajueiro-anão-precoce. Introdução Breve histórico O cajueiro é considerado planta nava do Brasil, pois, quando os colonizadores aqui chegaram, já o encontraram amplamente disseminado no litoral nordesno, compondo a vegetação de praias, dunas e resngas (LIMA, 1988a; CRISÓSTOMO et al., 2003). Posteriormente, outras espécies de cajueiros foram encontradas e relatadas como plantas espontâneas na região amazônica – bioma Amazônia (plantas de porte grande – 25 m a 40 m de altura – e médio – 4 m a 20 m) –, no Planalto Central – bioma Cerrado (plantas arbusvas de pequeno porte – entre 0,5 m e 12 m de altura) –, e no Sertão Nordesno – bioma Caanga (plantas de porte intermediário com até 20 m de altura) (LIMA, 1988a). Devido à sua dispersão, realizada pelos colonizadores desde o século 16 (entre 1563 e 1578), o cajueiro atualmente é encontrado em diversos locais do mundo

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Page 1: Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Luiz Augusto Lopes SerranoVitor Hugo de Oliveira

Capítulo3

Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Resumo: O cajueiro, planta nativa do Brasil, é encontrado em diversos locais do mundo, vegetando e produzindo mesmo em condições ecológicas consideradas insatisfatórias, o que lhe caracteriza como planta rústica. Essa rusticidade é interpretada por muitos como uma ausência de necessidade de realizar os devidos tratos culturais que são recomendados para tantas outras culturas. Após sucessivos decréscimos de produtividade, os atores envolvidos no agronegócio caju estão se convencendo de que é preciso profissionalizar o cultivo. A disponibilização de genótipos de cajueiro-anão-precoce, com alto potencial de produção por unidade de área, oriundos da propagação assexual (clones), mostrou que, para obter sucesso com o cultivo, há a necessidade de se implantar um sistema de produção cujos tratos culturais sejam indispensáveis para a obtenção de maiores rendimentos produtivos e econômicos, tanto da castanha como do pedúnculo. Vários trabalhos científicos comprovaram que o cajueiro apresenta resposta positiva em sua produção, quando são realizados os devidos tratos culturais recomendados. Neste capítulo, abordaremos os aspectos botânicos e fenológicos do cajueiro, bem como os principais tratos culturais recomendados para a obtenção de sucesso na cultura do cajueiro-anão-precoce.

IntroduçãoBreve histórico

O cajueiro é considerado planta nativa do Brasil, pois, quando os colonizadores aqui chegaram, já o encontraram amplamente disseminado no litoral nordestino, compondo a vegetação de praias, dunas e restingas (LIMA, 1988a; CRISÓSTOMO et al., 2003). Posteriormente, outras espécies de cajueiros foram encontradas e relatadas como plantas espontâneas na região amazônica – bioma Amazônia (plantas de porte grande – 25 m a 40 m de altura – e médio – 4 m a 20 m) –, no Planalto Central – bioma Cerrado (plantas arbustivas de pequeno porte – entre 0,5 m e 12 m de altura) –, e no Sertão Nordestino – bioma Caatinga (plantas de porte intermediário com até 20 m de altura) (LIMA, 1988a).

Devido à sua dispersão, realizada pelos colonizadores desde o século 16 (entre 1563 e 1578), o cajueiro atualmente é encontrado em diversos locais do mundo

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(entre as latitudes 30°N e 31°S), vegetando e produzindo mesmo em condições ecológicas consideradas insatisfatórias, o que lhe caracteriza como planta com grande capacidade adaptativa (FROTA; PARENTE, 1995). Devido a essa característica de adaptação, os primeiros plantios comerciais foram explorados de forma expansiva, com o aumento da área cultivada e aplicação incipiente de tecnologia, caracterizada pelo uso de mudas de qualidade duvidosa e sem a constância das práticas culturais necessárias para o adequado desenvolvimento das plantas. Dessa forma, para a obtenção de altas produções de castanhas, era necessário o cultivo de áreas extensas.

Até meados da década de 1980, quase a totalidade dos plantios de cajueiro existentes no Nordeste brasileiro eram provenientes do plantio direto da semente ou de mudas de pé-franco do cajueiro-comum em covas de tamanho reduzido e sem fertilizantes, o que resultou – e ainda resulta –, em pomares desuniformes, de baixa produtividade e rentabilidade (LOPES et al., 1987; PARENTE; BUENO, 1991; PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

Frota (1988) já alertava que a exploração racional e econômica da cultura do cajueiro não deveria ser confundida com a sua capacidade de sobrevivência (adaptativa). Paula Pessoa e Parente (1991) avaliaram os impactos dos incentivos fiscais sobre a produção nordestina de castanha-de-caju e concluíram que seria necessário o incremento na produtividade para o alcance da sustentabilidade da cultura do cajueiro. Essa sustentabilidade ocorreria por meio da utilização de plantas com caracteres genéticos de boa produtividade e da realização de tratos culturais adequados à cultura.

A partir de programas de melhoramento genético iniciados pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Ceará (Epace) e pelo Centro Nacional de Pesquisa do Caju, da Embrapa, houve aos produtores a disponibilização de genótipos de cajueiro com alto potencial de produção por unidade de área (Embrapa, 1991). As plantas desses genótipos eram disponibilizadas via mudas clonais (oriundas da propagação assexual – enxertia), apresentando, quando adulta, um porte menor em relação aos cajueiros--comuns, o que favorecia a aplicação de tratos culturais, o adensamento e a colheita manual do pedúnculo.

Atualmente, a Embrapa disponibiliza os clones ‘CCP 06’ e ‘CCP 76’ (1983); ‘CCP 09’ e ‘CCP 1001’ (1987); ‘Embrapa 50’ e ‘Embrapa 51’ (1996); ‘BRS 189’ (2000); ‘BRS 226’ (2002); ‘BRS 253’ (2004); ‘BRS 265’ (2005); ‘BRS 274’ e ‘BRS 275’ (2007) (BARROS et al., 2000; OLIVEIRA, 2008; PAIVA; BARROS, 2004).

Devido ao porte baixo dos clones de cajueiros, o que facilitou a prática da colheita manual de cajus de qualidade, o pedúnculo de caju, que até então não era aproveitado, passou a ser comercializado tanto in natura quanto pelas indústrias processadoras de sucos (CRISÓSTOMO et al., 2002). Ademais, com os avanços das

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pesquisas pós-colheita, o caju passou a ser transportado para mercados distantes mais de 4.000 km do local de origem (PAIVA et al., 1998a). Com a industrialização do pedúnculo (sucos, doces, compotas, geleias e outros), criou-se uma alternativa para a agregação de valor e geração de renda para os cajucultores do Nordeste do Brasil (PAIVA, 2010).

Com esses novos clones de cajueiro, passou a ser possível alcançar os incrementos da produtividade e da rentabilidade (sustentabilidade) da cultura, propostos por Paula Pessoa e Parente (1991), pois seria possível, além de alta produtividade por área, a agregação de valor na cultura mediante a exploração comercial não só da castanha, mas também do pedúnculo para o consumo in natura ou para as indústrias de sucos, doces, cajuína, entre outros (OLIVEIRA, 2002; PAULA PESSOA et al., 2000; ROSSETTI; AQUINO, 2002).

Atual realidadeMuitas áreas antigas exploradas com o cajueiro-comum, caracterizadas por

pomares formados por plantas desuniformes (Figura 1), já foram e vêm sendo substituídas pelo cultivo do cajueiro-anão-precoce, cujos pomares são caracterizados pela uniformidade das plantas em porte e produção (Figura 2).

Figura 1. Pomares antigos de cajueiro-comum no Estado do Ceará. Nota-se a heterogeneidade do pomar, com muitas falhas e plantas com diferentes tipos de copas.Fonte: Google Earth (2012).

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Figura 2. Região produtora de caju no Estado do Piauí. Nota-se que os pomares heterogêneos de cajueiro-comum estão sendo substituídos pelos pomares de clones de cajueiro-anão-precoce, conferindo maior homogeneidade.Fonte: Google Earth (2012).

Entretanto, mesmo com a disponibilização e introdução de genótipos superiores de cajueiro no setor produtivo, observa-se, ainda nos dias atuais, rendimentos pífios de produção de castanha e de pedúnculo. Isso é reflexo principalmente da deficiente infraestrutura (tecnologia) de produção na maioria das áreas cultivadas, das secas cíclicas nas principais regiões produtoras, do plantio de mudas de baixa qualidade e da ocorrência e não controle de pragas e doenças (OLIVEIRA, 2008).

Para se obter sucesso com o cultivo do cajueiro, há a necessidade de implantar um sistema de produção cujos tratos culturais sejam indispensáveis para obtenção de maior rendimento tanto da castanha como do pedúnculo. Logo, exige-se uma maior profissionalização dos atores envolvidos na cadeia produtiva, principalmente dos produtores e dos técnicos.

Inúmeros trabalhos científicos realizados no Brasil (e também no exterior) comprovam que o cajueiro apresenta resposta positiva em sua produção, quando são realizados os devidos tratos culturais recomendados, como, por exemplo, a adubação (ALMEIDA et al., 1995a; CRISÓSTOMO et al., 2003; LIMA et al., 2003, SERRANO et al., 2010), o manejo adequado de plantas daninhas ou espontâneas (OLIVEIRA et al., 1993a) e a irrigação (ALMEIDA et al., 1998; OLIVEIRA, 2002; OLIVEIRA et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2006; PAIVA et al., 1998a).

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Neste capítulo, abordaremos as principais características do cajueiro e os tratos culturais recomendados para a obtenção de sucesso na cultura. Acredita-se que, se bem manejada, conseguiremos incrementar a produtividade, minimizar o risco de perda de produção, melhorar as qualidades da castanha e do pedúnculo, assegurando, assim, o retorno econômico do investimento.

Inicialmente, para entender as necessidades dos tratos culturais na cultura do cajueiro, serão abordados sucintamente algumas das principais características botânicas e fisiológicas da planta, bem como a sua fenologia.

Aspectos botânicos do cajueiroO cajueiro pertence à família Anacardiaceae, que é composta por cerca de 70

gêneros e 700 espécies, distribuídas nas regiões tropical e subtropical do planeta. No Brasil, ocorrem 15 gêneros e cerca de 70 espécies constituídas por árvores e arbustos que apresentam ramos sempre providos de canais resiníferos (LIMA, 1988a; CARVALHO; GAIAD, 2012).

Quanto ao gênero, o cajueiro pertence ao Anacardium, constituído por aproximadamente 22 espécies, sendo 21 originárias das Américas do Sul e Central e uma da Malásia (LIMA, 1988a).

Dessas 22 espécies de cajueiro já relatadas, apenas são explorados comercialmente os cajueiros conhecidos como comum e o anão-precoce, que pertencem à mesma espécie Anacardium occidentale L., de origem brasileira (BARROS, 1995).

A seguir, serão descritas as principais características das plantas da espécie Anacardium occidentale L.

Sistema radicularO conhecimento do sistema radicular de uma planta, por meio de sua

morfologia e distribuição, é de extrema importância para qualquer cultivo, pois servirá de subsídio para o emprego mais eficiente das práticas de fertilização, irrigação, manejo de plantas daninhas, dentre outras necessárias ao bom desenvolvimento e produção da cultura.

De acordo com um estudo exploratório do sistema radicular de um cajueiro--comum no litoral cearense (solo arenoso e profundo), com 34 anos de idade, Frota et al. (1991) constataram que a planta apresentava raízes laterais distribuídas horizontalmente em toda a sua periferia e uma raiz pivotante bifurcada logo abaixo da superfície. Observaram, ainda, raízes verticais emitidas ao longo das raízes laterais. Na profundidade entre 15 cm a 20 cm da superfície do solo, constatou-se a presença de 50% das raízes laterais, e os outros restantes até a faixa de 50 cm de profundidade.

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Tanto as raízes mais grossas quanto as mais finas apresentavam radicelas (sensíveis e quebradiças) responsáveis pela absorção de água e nutrientes. A envergadura do sistema radicular foi de até 30 m no sentido leste-oeste, demonstrando que a extensão das raízes laterais se projetou ao longo das linhas, entrelaçando-as com as das plantas vizinhas.

Do mesmo modo, Barros (1995) relata que 82% das raízes efetivas na absorção de nutrientes encontram-se nas camadas mais superficiais, até 30 cm de profundidade. Segundo o autor, as raízes laterais podem atingir uma distância duas vezes superior à projeção da copa.

Almeida et al. (1995b) observaram que plantas do cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ com 3 anos de idade, oriundas de alporquia (propagação vegetativa) e cultivadas em solo arenoso de baixa fertilidade, apresentavam elevado número de raízes, com muitas ramificações. O número total de raízes laterais variou de 14 a 30, com envergadura média de 11,6 m. Em relação ao crescimento vertical, os autores constataram entre 2 e 9 raízes pseudopivotantes com profundidade média de 1,9 m. Esses autores observaram ainda que mais de 50% da área explorada pelo sistema radicular encontrava-se na área de projeção da copa.

Em Paraipaba, CE, Boni et al. (2008) avaliaram a distribuição do sistema radicular do cajueiro-anão-precoce ‘CCP 09’, com 10 anos de idade, em cultivos irrigado e de sequeiro. Foi observado que as plantas irrigadas apresentavam profundidade efetiva das raízes até 60 cm num raio de 1,0 m a partir do caule. Já para as plantas de sequeiro, foram encontradas raízes até 1,0 m de profundidade, num raio de 1,6 m a partir do caule. Os autores observaram que a concentração preponderante de raízes, em ambos os cultivos, se localizou a uma profundidade de até 25 cm e a uma distância de até 50 cm do caule.

Os resultados do estudo acima, referente ao sistema radicular, mostraram que o desenvolvimento, tanto lateral quanto vertical, das raízes das plantas cultivadas em sequeiro é maior do que aquelas encontradas nas plantas irrigadas, fato explicado pela busca de água por parte das raízes, que é mais intensa nas plantas cultivadas em regime de sequeiro. Em razão disso, estas plantas tendem a desenvolver um maior sistema radicular e uma menor parte aérea (BONI et al., 2008).

Parte aérea (copa)O cajueiro é uma planta perene, de ramificação baixa (ramos próximo ao solo),

apresentando porte variado (BARROS, 1995; LIMA, 1988a). Em função do porte das plantas, o cajueiro é classificado em dois tipos, o comum (gigante) e o anão-precoce (CRISÓSTOMO et al., 2003).

O cajueiro-comum é o mais encontrado nas regiões produtoras, pois é a planta que foi propagada via semente desde a sua descoberta, além de ser a primeira

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explorada comercialmente. Já o cajueiro-anão-precoce é oriundo de seleções fenotípicas realizadas a partir da década de 1960, sendo disponibilizado aos produtores na década de 1980.

Apesar de recente, o cajueiro-anão-precoce vem aumentando sua representação nas áreas de cultivo devido aos novos plantios e aos programas de substituição de copa incentivados pelos órgãos públicos. No Estado do Ceará, por exemplo, nos anos de 2008, 2009 e 2010, o cultivo do cajueiro-anão-precoce representou 11%, 14% e 17% da área colhida e 19%, 18% e 39% da produção estadual de castanha, respectivamente (IBGE, 2012).

A parte aérea (copa) do cajueiro-comum pode atingir até 20 m de altura, sendo, por isso, também chamado de gigante (Figura 3). No entanto, é mais comum os cajueiros entre 8 m e 15 m de altura, com diâmetro (envergadura) proporcional ou superior à altura (BARROS, 1995). Em regiões de clima seco e com solos arenosos de baixa fertilidade, as plantas apresentam porte inferior, de tronco atarracado, tortuoso e esgalhado a partir da base, com ramos longos, sinuosos, formando copa ampla e irregular (LIMA, 1988a) (Figura 4).

Figura 3. Cajueiro-comum com idade entre 70 e 80 anos no litoral nordestino, em Cruz, CE. A um metro de altura, o tronco apresenta 2,8 m de circunferência. A altura foi estimada em 17 m e o diâmetro de copa em 24 m. Nota-se o formato guarda-chuva da copa ainda em produção.

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Figura 4. Cajueiro-comum com aproxima- damente 15 anos de idade no Sertão nordestino, em Pio IX, PI. Planta com porte baixo e copa aberta e esgalhada.

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O cajueiro-anão-precoce caracteriza-se pelo porte baixo, raramente ultrapassando os 5 m de altura e 8 m de diâmetro de copa (Figuras 5 e 6). Possui copa mais compacta e homogênea do que o cajueiro-comum. Segundo Almeida et al. (1995c), somente a partir do segundo ano a envergadura da copa supera a altura da planta.

Figura 5. Cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’, em cultivo de sequeiro, com 6,5 anos de idade, em Pio IX, PI. A altura média das plantas está em torno de 1,8 m e o diâmetro de copa de 3,7 m. Repare o formato clássico da copa do tipo guarda-chuva.

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Figura 6. Cajueiro-anão-precoce ‘BRS 226’ em cultivo de sequeiro, com 8 anos de idade, em Pio IX, PI. A altura média das plantas do pomar é de 2,3 m, e o diâmetro médio de copa, de 4,1 m.

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Por a envergadura ser relativamente maior que a altura, a copa natural e considerada adequada (mais produtiva) para ambos os tipos de cajueiro é aquela com formato de guarda-chuva ou meia-lua.

Silva (1993) verificou em progênies de cajueiro-anão-precoce que os crescimentos vertical e lateral da planta ocorrem de forma contínua até o sexto ano após o plantio, quando, então, ocorre uma possível estabilidade em altura e envergadura. Almeida et al. (1995c), ao avaliarem plantas enxertadas de diversos genótipos de cajueiro-anão-precoce, cultivadas em solo de areia quartzosa distrófica, sob irrigação, também observaram que a estabilização de crescimento em altura e envergadura ocorreu no sexto ano após o plantio.

Do mesmo modo, Almeida et al. (1995d), em Caucaia, CE, observaram que, mesmo apresentando crescimento contínuo, os genótipos de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 1001’ e ‘CCP 76’ apresentaram estabilização de crescimento também no sexto ano após o plantio. Nessa época, as plantas de ‘CCP 1001’ apresentaram 5,0 m de altura e 7,9 m de envergadura média; e as de ‘CCP 76’ apresentaram 4,7 m de altura e 7,1 m de envergadura média.

Rosseti et al. (1998), em Canto do Buriti, PI, verificaram que, aos 2 anos de idade, plantas de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ oriundas de sementes (pé-franco) apresentavam, em média, altura de 0,91 m, envergadura norte-sul de 1,30 m e envergadura leste-oeste de 1,36 m. Após a decepa das plantas – a 40 cm do solo – seguida de enxertia com o próprio ‘CCP 76’, as plantas apresentaram, 2 anos após a enxertia, médias de 1,42 m de altura e 1,53 m de envergadura tanto na posição norte-sul quanto na leste-oeste.

Em Pacajus, CE, Barros et al. (2000) observaram em cultivo de sequeiro que, aos 6 anos de idade, os clones de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 06’ e ‘CCP 09’ apresentavam, em média, altura de 2,11 m e 2,15 m, respectivamente. Os clones de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ e ‘CCP 1001’ apresentavam portes superiores com médias de altura de 2,68 m e 2,78 m, respectivamente. Quanto ao diâmetro de copa, não foi observada diferença entre os clones citados, com respectivas médias de 4,52 m; 4,65 m; 4,98 m e 5,03 m.

Em Aracati, no litoral cearense, Paiva et al. (2005) observaram que, no 1o, 2o e 3o ano de idade, as plantas de ‘CCP 76’ apresentavam altura média de 0,77 m; 1,17 m e 1,54 m; e diâmetro médio de copa de 0,75 m; 1,88 m e 2,80 m, respectivamente. Já no semiárido do Piauí, em Pio IX, Paiva et al. (2008) verificaram que as plantas de cajueiro ‘CCP 76’ com 5 anos de idade apresentavam altura de 1,55 m e diâmetro de copa de 3,25 m. Esses resultados mostram a influência do ambiente sobre o crescimento do genótipo.

Também no semiárido piauiense, Paiva et al. (2008) verificaram que cajueiros--anões-precoces ‘BRS 189’ com 5 anos de idade apresentavam altura de 1,45 m e diâmetro de copa de 3,03 m.

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A estimativa das alturas das plantas de cajueiro pode ser uma importante ferramenta para a definição do espaçamento a ser utilizado. Desse modo, Silva et al. (2004) definiram uma equação para estimar a altura (h) de plantas do clone de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’, sendo h = 0,5167 d; em que d é a média dos diâmetros da copa nas orientações norte-sul e leste-oeste.

Outra importante característica do cajueiro é que aqueles com idade acima de 2 anos produzem um exsudado natural no tronco ou nos ramos, denominado goma ou resina. Essa resina, de coloração amarelada ou acastanhada, possui consistência dura, levemente perfumada, sabor acre (ácido) e, regularmente, solúvel em água e insolúvel no álcool e nos demais solventes orgânicos. Quando tratada adequadamente, essa goma forma uma solução homogênea, com alto poder de colagem. Resultados de algumas pesquisas revelaram que a goma do cajueiro tem potencial para inúmeras utilidades comerciais (PAULA PESSOA; BANDEIRA, 1993). Por ser natural, seu uso vem se tornando crescente devido às múltiplas e lucrativas possibilidades de industrialização e ao excelente mercado internacional (LIMA et al., 2000).

FolhasAs folhas do cajueiro são simples, inteiras, com pecíolos curtos e sem estípulas.

Apresentam limbo coriáceo, espesso, glabro (sem pelos) e brilhantes. Quanto à disposição nos ramos, as folhas do cajueiro são alternadas e obtusas, isto é, se apresentam arqueadas, com ângulo externo com o pecíolo maior que 90 graus.

Após a emergência, as folhas novas apresentam consistência delicada, de coloração variável conforme o genótipo, podendo ser verde-claras ou roxo-avermelhadas. Após 2 a 3 semanas de sua emergência, as folhas maduras tornam-se verde-escuras, com possíveis variações no tom.

O tamanho das folhas também é variado de acordo com o genótipo, medindo de 10 cm a 20 cm de comprimento por 6 cm a 12 cm de largura (BARROS, 1995). Quanto ao formato, normalmente são ovais, apresentando nervuras salientes na face abaxial (página inferior). Entre as nervuras principais, são observados canais reticulados.

As folhas possuem alto teor de tanino, por isso são utilizadas para curtume. Sua infusão também tem utilidade na medicina caseira com ação terapêutica e antiescorbútica (LIMA, 1988a).

RamosNo cajueiro, observam-se duas fases de crescimento dos ramos: um

fluxo vegetativo e um reprodutivo. No fluxo vegetativo, ocorrem dois tipos de ramificações: uma intensiva e a outra extensiva (BARROS, 1995).

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A ramificação intensiva (produtiva) caracteriza-se por ramos que crescem entre 25 cm e 30 cm, apresentando uma inflorescência no ápice. Simultaneamente, na mesma ramificação, entre 10 cm a 15 cm do ápice do ramo principal, crescem de 3 a 8 ramos que podem apresentar outras panículas.

A ramificação extensiva (vegetativa) caracteriza-se por ramos que crescem entre 20 cm e 30 cm, com posterior repouso da gema apical, sem emissão de panícula. Desses ramos, originam-se outros mais que, do mesmo modo, não emitem panículas num prazo de 2 a 3 anos.

A predominância de ramos intensivos (produtivos) é que caracteriza o formato de guarda-chuva da planta de cajueiro, enquanto o inverso propicia plantas com copas esgalhadas e abertas, e com menor produção (BARROS, 1995).

InflorescênciaO tipo de inflorescência do cajueiro é a panícula, caracterizada por um cacho

(racimo) terminal com ramificações que vão decrescendo da base para o ápice, apresentando, assim, formato piramidal.

Segundo Barros (1988a), o comprimento da panícula, o número de ramificações e a duração das panículas do cajueiro-anão-precoce são menores que no tipo comum. Entretanto, há variações de resultados entre as pesquisas já publicadas nessa área.

Em Pacajus, CE, Pinheiro et al. (1993) estudaram o desenvolvimento de caracteres de panículas de populações de cajueiros do tipo comum e anão-precoce, e observaram que as panículas atingiram o comprimento máximo, aos 45 dias após seu surgimento, de 15,67 cm e 11,76 cm, respectivamente. Já no estudo de Sousa et al. (2007), foi observado que as panículas de cajueiro-comum mediam entre 7 cm e 15,5 cm, com média de 11,0 cm. Em cajueiro-anão-precoce, as panículas mediam entre 6 cm e 29 cm de comprimento, com média de 16,7 cm. Esses resultados mostram que o comprimento da panícula do cajueiro apresenta resultados variados entre os tipos de cajueiro e dentro deles.

Quanto à ramificação das panículas, foram observadas as mesmas variações de resultados. Segundo Pinheiro et al. (1993), as panículas são estruturas ramificadas com média de até 9,8 ramificações em cajueiro-comum e 7,8 em cajueiro-anão-precoce. Entretanto, Sousa et al. (2007) observaram médias de 7,3 e 7,9 ramificações, respectivamente.

Para o número de flores por panícula, Pinheiro et al. (1993) observaram valores médios de 225 em uma população de cajueiro-comum e 130 em uma população de cajueiro-anão-precoce. Para esses autores, esse fato foi decorrente do maior comprimento da panícula, com maior número de ramificações, em cajueiro-comum. No entanto, Sousa et al. (2007) observaram o inverso ao estudar as inflorescências

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dos clones (e não população) de cajueiro-anão-precoce da Embrapa. Esses autores verificaram médias de 275 flores por panícula em cajueiro-comum e 447 flores por panícula em cajueiro-anão-precoce.

Como já mencionado, há diferenças no número de flores por panícula entre os cajueiros comum e anão-precoce. Isso parece ocorrer também dentro do mesmo tipo de cajueiro. Sousa et al. (2007), por exemplo, observaram que plantas do cajueiro ‘Embrapa 51’ produziram mais flores por panícula do que as plantas de cajueiros- -anões-precoces ‘CCP 76’ e ‘BRS 189’.

Outro fato relevante que merece destaque foi constatado por Pinheiro et al. (1993) em relação ao total de flores que se abrem. Os autores constataram que, em média, numa mesma panícula, apenas 14,2% das flores se abriram em cajueiro-comum e 25,5% em cajueiro-anão-precoce.

FloresO cajueiro é uma planta andromonoica, apresentando numa mesma panícula

flores perfeitas ou completas (hermafroditas) e estaminadas (masculinas) (Figura 7), em quantidades e proporções que variam entre genótipos, plantas e entre panículas de uma mesma planta (BARROS, 1988a).

Independentemente do sexo, as flores do cajueiro são pentâmeras (com 5 sépalas e 5 pétalas) e diplostêmones (o número de estames é o dobro do de pétalas) (OLIVEIRA et al., 2001).

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Figura 7. Flores do cajueiro: flor perfeita (hermafrodita) com o pistilo maior do que o estame mais desenvolvido (A); e flor estaminada (masculina) com o estame proeminente e sem a presença do pistilo (B).

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89Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Dos estames presentes na flor, um deles, abaxial ao carpelo, é mais desenvolvido que os demais (OLIVEIRA et al., 2001). Segundo Barros (1988a; 1995), as flores estaminadas apresentam, além do estame mais desenvolvido, cerca de 5 a 16 estames menores, todos com uma antera e um filete curto.

As flores perfeitas possuem, além dos estames menores e de um estame maior, uma estrutura denominada pistilo, geralmente mais comprido que o estame mais desenvolvido. Desse modo, além do gameta masculino (grão de pólen), esse tipo de flor também apresenta o gameta feminino (óvulo), localizado no interior do ovário. Por isso, essas flores resultam em frutos (OLIVEIRA; LIMA, 2000).

Algumas variações e anomalias dos componentes florais são frequentemente observadas (BARROS, 1995). Certas flores apresentam arranjo dos estames similar ao das flores estaminadas e ao das flores perfeitas; entretanto, não apresentam o estame mais desenvolvido ou o pistilo, sendo, assim, denominada como anômala.

Oliveira et al. (2001) estudaram a morfologia das flores do cajueiro ‘CCP 76’ e constataram desenvolvimento helicoidal das sépalas e unidirecional das pétalas. O androceu possuía um estame com desenvolvimento heterocrônico e heteromórfico marcante em relação aos nove estames restantes, e um carpelo unilocularterminal. O gineceu era composto de um carpelo unilocular que continha apenas um rudimento seminal. Nas flores estaminadas, o carpelo e o rudimento seminal interrompem seu desenvolvimento não formando frutos. Nas flores perfeitas, o rudimento seminal segue normalmente seu desenvolvimento formando o fruto.

Aparentemente, não há nenhum sistema de autoincompatibilidade no cajueiro (BARROS, 1988a). O óvulo de uma flor perfeita do cajueiro pode ser fertilizado por polens da mesma flor, ou de flores da mesma planta ou de flores de plantas diferentes. No entanto, a estrutura da flor perfeita do cajueiro, com o estigma (pistilo) situando-se em posição superior aos estames, parece favorecer mais a polinização cruzada.

Devido a uma provável superioridade da fecundação cruzada sobre a autofecundação, o cajueiro é considerado uma planta alógama. Essa alogamia (cruzamento entre plantas diferentes) é a responsável pela alta variabilidade nos pomares oriundos de mudas propagadas por sementes (pé-franco), pois elas carregam a carga genética de plantas diferentes.

A porcentagem de flores perfeitas numa panícula pode variar de 0,5% até próximo de 25% (BARROS, 1988a). Pinheiro et al. (1993) observaram, no cajueiro--comum e no anão-precoce, baixos índices de flores perfeitas, sendo os máximos de 5,3% e 6,3%, respectivamente.

Freitas (1995), citado por Vieira et al. (2005), observou que a produção de flores estaminadas é de 6 a 10 vezes maior que a de flores perfeitas. Esse fato mostra que a planta apresenta substancial dispêndio de energia para a produção

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90 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Geralmente, quando a flor perfeita (que origina o fruto) é polinizada (fecundada), seu pedicelo fica mais largo e com coloração arroxeada (Figura 9). No caso do cajueiro (A. occidentale), esse pedicelo se desenvolve – processo

de pólen, o que resulta em baixa eficiência produtiva (PINHEIRO et al., 1993). Entretanto, segundo Wunnachit et al. (1992), há diferenças funcionais entre os grãos de pólen oriundos dos estames proeminentes das flores perfeitas e das estaminadas. Os formados no primeiro tipo floral serviriam como alimento para os insetos visitantes, enquanto aqueles formados nas flores estaminadas exerceriam função na fecundação e produção de frutos.

As flores do cajueiro recém-abertas apresentam coloração branco-esverdeada e, após 24 horas, já se apresentam de coloração roxa. Com relação ao horário de abertura das flores, Barros (1988a) relata que as estaminadas iniciam a abertura por volta das 6h, prolongando-se até às 16h, enquanto a abertura das flores perfeitas concentra-se entre as 10h e 12h. O período ótimo para que ocorra a polinização coincide com o período de abertura das flores perfeitas, pois o estigma já se encontra receptivo mesmo antes da abertura.

No Brasil, considera-se que os insetos são importantes agentes polinizadores, sendo a abelha Apis mellifera a espécie mais importante (BARROS, 1995) (Figura 8). O vento também é considerado um dos principais responsáveis pela polinização das flores do cajueiro (BARROS, 1988a).

Figura 8. Inflorescência do cajueiro sendo visitada pela abelha Apis mellifera, inseto que participa da polinização.

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91Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 9. Pedicelo da flor perfeita (hermafrodita) arroxeado e mais largo que os demais, indicando a ocorrência da fecundação com posterior formação do fruto.

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Figura 10. Após a fecundação, o ovário se desenvolve dando origem à castanha-de-caju, o fruto verdadeiro.

Segundo Oliveira e Lima (2000), existe um consenso de que a inflorescência, o tipo de flores (perfeitas, estaminadas e anômalas), o número de flores, o padrão de florescimento e a proporção de sexos das flores estão correlacionados, em maior ou menor grau, com a produtividade do cajueiro. Em geral, o percentual de frutos formados em relação à quantidade de flores perfeitas produzidas é considerado muito baixo (<10%). Essa característica foi observada por Pinheiro et al. (1993) e Sousa et al. (2007) tanto em cajueiros-comuns quanto em anões-precoces.

Em cajueiros ‘CCP 09’, Oliveira e Lima (2000) observaram os percentuais totais de 8,9% de flores perfeitas, 86,1% de flores estaminadas e 5,0% de flores anômalas. Para os clones ‘CCP 1001’ e ‘CCP 76’, os percentuais de flores perfeitas observadas por Oliveira (1992) foram de 23% e 14%, respectivamente.

Vieira et al. (2005), em Paraipaba, CE, observaram reduzido número de flores perfeitas em relação ao total de flores abertas nos clones ‘CCP 09’ (10,5%) e ‘Embrapa 51’ (3,6%). O percentual de flores estaminadas foi de 78,8% e 94,6% para os respectivos clones, e as demais foram consideradas anômalas.

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denominado hipertrofia – formando o pedúnculo do caju. Também após a fecundação dos óvulos, o ovário inicia o crescimento, dando origem à castanha (Figura 10), inicialmente chamada de maturi.

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92 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

FrutoO verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha, um aquênio reniforme de cor

marrom-acinzentada, composta pelo pericarpo e pela amêndoa (semente) (Figura 11). O pericarpo é a casca da castanha, e é constituído por três camadas: epicarpo, mesocarpo e endocarpo.

O epicarpo é a camada mais externa, de consistência coriácea, representando cerca de 65% a 70% do peso da castanha. O mesocarpo é uma camada intermediária logo abaixo do epicarpo, apresentando aspecto esponjoso, cujos alvéolos são preenchidos por um líquido cáustico e inflamável – o líquido da casca da castanha (LCC). O endocarpo é a camada mais interna da castanha, de aspecto duro, e tem a função de proteger a amêndoa.

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Figura 11. Castanha-de-caju com a amêndoa em seu interior.

No cajueiro, observa-se que o número de frutos formados por panícula é considerado baixo (1 a 3); entretanto, alguns genótipos possuem a característica de produzir em cachos. Segundo Sousa et al. (2007) o número de frutos por panícula pode variar entre 1 e 17.

Dos frutos novos surgidos na panícula, poucos se desenvolvem, resultando numa baixa média de frutos colhidos em relação ao número de flores (PINHEIRO et al., 1993). Vieira et al. (2005) observaram que a relação entre frutos novos e flores perfeitas foi de 43,5% no clone ‘CCP 09’ e 28,9% no clone ‘Embrapa 51’. Os autores também observaram um percentual ainda mais baixo na relação entre frutos colhidos e a quantidade de flores perfeitas.

Entre os motivos da perda de frutos novos, destaca-se a queda natural (aspecto fisiológico da planta), que, segundo Barros (1988a), pode estar ligada principalmente pelas alterações no metabolismo da planta e no seu estado nutricional, além das quedas provocadas por pragas e doenças.

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93Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

As castanhas dos clones de cajueiro-anão-precoce da Embrapa (Figura 12) apresentam peso variando entre 6,7 g (‘CCP 06’) e 12,5 g (‘BRS 265’), enquanto as amêndoas pesam, em média, entre 1,8 g (‘CCP 76’) e 2,7 g (‘BRS 226’) (PAIVA; CAVALCANTI Júnior, 2010). Nos cajueiros-comuns, normalmente são produzidas castanhas e amêndoas com pesos superiores a esses mencionados. Por exemplo, para o ‘BRS 274’, têm-se os pesos médios de 16 g e 3,5 g, para a castanha e a amêndoa, respectivamente.

Figura 12. Castanhas dos clones de cajueiro da Embrapa. Observa-se que tanto as castanhas de cajueiros-comuns de pé-franco quanto do clone ‘BRS 274’ apresentam maior tamanho em relação às demais.

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O caju, tão popularmente conhecido como fruto, é o conjunto entre o pedúnculo (pseudofruto) e a castanha (fruto verdadeiro) (Figura 13). Seu nome provém do tupi, com o significado de “fruto amarelo” ou “fruta amarela de chifre” (LIMA, 1988a).

Figura 13. Caju ‘CCP 76’: castanha (fruto verdadeiro) e pedúnculo (pseudofruto).

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Castanha (10%)

Pedúnculo (90%)

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94 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

As plantas de cajueiro-anão-precoce tendem a produzir cajus que apresentam pedúnculo grande e castanha pequena, sendo essa relação, em média, de 9:1, isto é, o peso do caju é constituído por 90% de pedúnculo e 10% de castanha. Entretanto, os valores dessa relação são muitos variáveis entre os clones (OLIVEIRA, 2002).

O caju maduro, dependendo dos genótipos da Embrapa, apresenta o pedúnculo de coloração amarela, alaranjada ou vermelha (Figura 14). O peso médio varia entre 87 g (‘CCP 09’) e 155 g (‘BRS 189’). A relação entre o peso do pedúnculo e o peso da castanha varia entre 9:1 (‘BRS 253’) a 19:1 (‘BRS 189’). A relação entre o peso da amêndoa e o da castanha varia entre 20,1% (‘CCP 76’) e 27,7% (‘CCP 09’) (PAIVA; CAVALCANTI Júnior, 2010).

Figura 14. Cajus com pedúnculos de diferentes colorações produzidos em Francisco Santos, PI.

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Lopes et al. (2011), em Pacajus, CE, avaliaram os cajus produzidos pelos clones ‘CCP 09’, ‘CCP 76’, ‘BRS 189’ e ‘BRS 265’ e observaram que, no ponto de colheita, as massas totais médias foram de 141,67 g, 183,77 g, 142,95 g e 69,15 g, respectivamente. O pedúnculo representava 92,9%, 93,9%, 94,0% e 86,5% do peso total dos cajus, respectivamente.

Moura et al. (2001), em Mossoró, RN, também observaram que os pedúnculos de ‘CCP 76’ foram maiores que os de ‘CCP 09’. Os pedúnculos desses clones apresentaram 61,82 mm e 52,14 mm de diâmetro basal; 50,27 mm e 42,22 mm de diâmetro apical; 76,44 mm e 59,98 mm de comprimento e 141,80 g e 83,15 g de peso médio, respectivamente. O peso total dos cajus (pedúnculo + castanha) foi de 150,82 g e 91,72 g, respectivamente.

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95Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

O caju é classificado como fruto que apresenta modelo de respiração não climatérico, com baixa taxa de produção de etileno (MENEZES; ALVES, 1995). É um produto perecível com vida útil pós-colheita do pedúnculo não ultrapassando 48 horas; entretanto, os recentes avanços nas áreas de melhoramento genético (qualidade do pedúnculo) e de pós-colheita (armazenamento em condições controladas) vêm permitindo a ampliação da vida pós-colheita em até 15 dias, fato que está possibilitando a sua comercialização em mercados distantes do centro de produção (CRISÓSTOMO et al., 2002; OLIVEIRA, 2008).

Do ponto de vista nutritivo, o caju é considerado fonte de vitamina C, vitaminas do Complexo B e Ferro, e pode ser considerado fonte relevante de compostos antioxidantes, que são necessários para a saúde humana. Assim, os pedúnculos, quando consumidos frescos, conferem benefícios diretos para a saúde humana (LOPES et al., 2012).

Ao analisar cajus dos clones ‘CCP 76’, ‘CCP 09’, ‘BRS 189’ e ‘BRS 265’, Lopes et al. (2012) verificaram que os pedúnculos maduros do ‘BRS 265’ apresentaram o maior teor de vitamina C (279,37 mg 100 g-1 de polpa); os de ‘BRS 189’ apresentaram o maior conteúdo de antocianinas totais (21,16 mg 100 g-1 de polpa); os de ‘CCP 76’ apresentaram o maior conteúdo de flavonoides amarelos (56,32 mg 100 g-1 de polpa) e os de ‘CCP 09’ apresentaram os maiores teores de polifenóis extraíveis e atividade antioxidante total.

Em outros trabalhos, os pedúnculos do ‘CCP 76’, clone mais cultivado no Brasil, apresentaram teores de vitamina C entre 158,26 mg (MAIA et al., 2004) e 289,40 mg (PEREIRA et al., 2005) por 100 g de polpa. Pereira et al. (2005) observaram, ainda, que cajus com castanhas maiores tendem a obter pedúnculos mais ácidos e com maiores teores de vitamina C.

SementeA semente do cajueiro consiste no óvulo da flor desenvolvido (após a

fecundação), estando localizada no interior da castanha. A semente é dividida em três partes: tegumento (película), embrião e amêndoa. A amêndoa da castanha-de-caju (ACC) é o principal produto econômico do cajueiro em todo o mundo.

A película é um envoltório pouco rígido de tonalidade avermelhada, que tem a função de proteger a semente (amêndoa). Durante o processamento da amêndoa, há a necessidade de retirada dessa película, processo conhecido como despeliculagem. A aplicação de altas temperaturas no processo de cozimento da castanha pode provocar um aumento na aderência da película na superfície da amêndoa, dificultando o processo de despeliculagem e, consequentemente, depreciando o valor da amêndoa (LIMA, 2009).

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96 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Figura 15. Plântula de cajueiro recém-germinada: cotilédone ou banda da amêndoa formando as folhas embrionárias (A); e parte aérea da nova planta com o primeiro par de folhas verdadeiras (B).

Quanto ao aspecto propagativo, sendo o cajueiro uma planta de fecundação cruzada, suas sementes apresentam carga genética de indivíduos diferentes, as quais originarão plantas diferentes. Mesmo em pomares homogêneos formados por plantas clonais, as sementes produzidas originarão plantas desuniformes quanto ao porte, produção, peso das castanhas, cor e peso dos pedúnculos (CRISÓSTOMO et al., 1991; PAIVA et al., 1998b). Segundo esses autores, os danos provocados pelos cruzamentos entre indivíduos aparentados (plantas clonadas) podem ser explicados pela depressão por endogamia, que se caracteriza pela perda de vigor e desempenho inferior às plantas-mães.

Em um estudo realizado por Barros et al. (1984) sobre a produção do cajueiro--anão-precoce ‘CCP 76’ oriundo de sementes (pé-franco), foi constatado que,

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O embrião é formado por duas partes extremas: a radícula e o caulículo. A radícula originará o sistema radicular da nova planta, e o caulículo formará as primeiras folhas embrionárias.

A amêndoa é um tecido de reserva, apresentando a função primordial de armazenar nutrientes para serem utilizados no crescimento inicial da nova planta. É composta por dois cotilédones de coloração branco-amarelada ou marfim, carnosos e ricos em óleo (ácidos graxos insaturados). Durante a germinação da semente, os cotilédones darão origem às duas primeiras folhas da nova planta (Figura 15), cumprindo a função especial de fornecer nutrientes para o desenvolvimento inicial desta.

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97Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

aos 9 anos de idade, a produtividade foi de apenas 600 kg ha-1 de castanha, ante o potencial superior aos 1.000 kg ha-1. Observou-se, ainda, que 36% das plantas produziram de 0 kg a 1 kg de castanha; 32%, de 1 kg a 2 kg; 25%, de 2 kg a 4 kg; 2,8%, entre 4 kg e 5 kg; e apenas 4% produziram acima de 5 kg. Do mesmo modo, num plantio feito por meio de sementes de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’, Paiva et al. (1992) observaram que, das plantas surgidas, apenas 67% poderiam ser consideradas do tipo anão-precoce, e, destas, apenas 17% frutificaram.

Com essas informações, conclui-se que, independente da origem genética da semente, as mudas de pé-franco não são recomendadas para a implantação de um novo pomar comercial de cajueiro.

Fenologia do cajueiroA fenologia de uma planta baseia-se nas observações de estádios de

desenvolvimento externamente visíveis (fenofases), como, por exemplo, emergência das gemas vegetativas e/ou reprodutivas, época de florescimento, período de crescimento dos frutos, entre outros. A organização das datas fenológicas proporciona informações ecológicas importantes sobre a duração média das diferentes fenofases das distintas espécies em uma área, e sobre o local e as diferenças determinadas pelo clima nas datas de início dessas fases (LARCHER, 2000).

A observação do comportamento de uma mesma espécie em diferentes ambientes também torna-se importante na avaliação de suas características genéticas. Ademais, o próprio manejo dos pomares, como o espaçamento entre plantas, as adubações, podas, entre outros, pode interferir nas fenofases de uma planta, como, por exemplo, no padrão de florescimento e de frutificação (CORRÊA et al., 2002).

Frota e Parente (1995) afirmam que o conhecimento da fenologia é requisito básico para a avaliação das exigências ecológicas de uma espécie e constitui instrumento usado em estudos de propagação, previsão de safras e controle fitossanitário.

O cajueiro caracteriza-se por apresentar crescimento vegetativo intermitente, exibindo períodos alternados de intensa atividade e outros de aparente repouso (FROTA, 1988). No Brasil, o comportamento da cultura é bastante variável, principalmente devido à heterogeneidade das plantas, decorrente da propagação sexual (ALMEIDA et al., 1995c).

A periodicidade do crescimento do cajueiro pode manifestar-se em diferentes níveis de intensidade, podendo apresentar exigências diferentes com relação aos fatores ambientais (FROTA, 1988). Os fatores climáticos influenciam o comportamento fisiológico da planta, e, segundo Almeida et al. (1995c) e Frota e Parente (1995), a umidade relativa do ar e a intensidade e distribuição das

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98 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

precipitações parecem ser os principais fatores controladores da periodicidade das fenofases do cajueiro, influenciando tanto as fenofases vegetativas como as reprodutivas.

Vários autores também afirmam ser comum a observação de frequência de variações no início e término das fenofases do cajueiro, devido tanto às condições genéticas quanto às condições climáticas ocorridas durante o período. No Ceará, por exemplo, em relação às condições genéticas, Parente et al. (1991) e Parente e Bueno (1991) acompanharam o comportamento de crescimento e desenvolvimento de cajueiros dos tipos comum e anão, oriundos de mudas e de copas substituídas, e verificaram que o cajueiro-anão apresentou tendência de antecipação no início das fenofases em aproximadamente um mês, quando comparado ao cajueiro- -comum. Frota e Parente (1995) também relataram a precocidade estacional do cajueiro-anão, afirmando que suas fenofases são antecedidas de 1 a 2 meses, em relação ao cajueiro-comum. Devido às observações da fenologia do cajueiro-anão em comparação ao cajueiro-comum, aquele passou a ser denominado cajueiro-anão--precoce.

Almeida et al. (1995c) consideraram como fenofases do desenvolvimento do cajueiro a brotação das gemas, o alongamento dos internódios (ramos) e a produção de inflorescência na parte terminal do ramo recém-formado.

No entanto, detalhando-se ainda mais as fenofases do cajueiro, consideramos como principais as seguintes: a) aparente repouso vegetativo na época das chuvas; b) queda das folhas; c) fluxo foliar ou crescimento vegetativo, dividido em dois fluxos de alta e baixa intensidade; d) floração; e) frutificação.

Abordaremos, a seguir, as principais fenofases do cajueiro e suas características.

Repouso vegetativoO cajueiro é uma planta de crescimento intermitente, isto é, apresenta um

período de reduzido crescimento vegetativo, considerado como um aparente repouso vegetativo.

Em Pacajus, CE, Parente et al. (1991) observaram que, entre os meses de janeiro a abril, os cajueiros, tanto o anão-precoce quanto o comum, apresentaram escassa ou nenhuma emissão de fluxo de crescimento. Esse período coincide exatamente com o período de maior concentração de chuvas nas regiões produtoras do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, conhecido como quadra chuvosa ou “inverno nordestino”.

Queda de folhasLogo após o período das chuvas mais intensas e do repouso vegetativo do

cajueiro, inicia-se um período de acentuada queda de folhas. Normalmente, essa

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99Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

queda acentua-se a partir de maio, atingindo o pico entre junho e agosto (FROTA, 1988).

Esse fenômeno parece estar ligado ao preparo da planta para a emissão de novos fluxos foliares. A translocação de fotoassimilados e nutrientes das folhas velhas (fonte) para as folhas novas (dreno) parece constituir o fator determinante do aumento da abscisão foliar (PARENTE et al., 1991).

A queda de folhas no cajueiro pode ser observada já no primeiro ano pós--plantio, porém ela se torna mais expressiva e permanente somente após os primeiros anos do plantio (ALMEIDA et al., 1995c).

Em condições experimentais, Parente et al. (1991) observaram intensa queda de folhas no período de maio a setembro. A queda também ocorreu em outros meses, no entanto, com menor intensidade. Os autores observaram que a queda das folhas inicia-se antes no cajueiro-anão-precoce, e que o período desse evento é mais amplo quando comparado ao cajueiro-comum. Os picos de queda foram observados em julho em cajueiro-anão-precoce e em agosto em cajueiro-comum.

Tem-se que as folhas caídas se decompõem com certa rapidez (112 dias) liberando os nutrientes nelas contidos, principalmente N, P, Mg, S e Na (SOARES et al., 2008). Cajueiros com 2, 3, 8 e 9 anos de idade produziram, respectivamente, cerca de 4,5 t ha-1 ano-1; 4,3 t ha-1 ano-1; 8,5 t ha-1 ano-1 e 7,9 t ha-1 ano-1 de serrapilheira, composta por aproximadamente 81% de folhas.

Fluxo foliarO fluxo foliar corresponde ao crescimento vegetativo dos ramos, caracterizado

pela retomada de crescimento da gema apical, expansão de internódios e formação simultânea de folhas.

Ocorre em dois fluxos vegetativos bem definidos, sendo um de grande intensidade, que é observado logo após o período de chuvas mais intensas (coincidindo com o pico de queda de folhas) em junho, e outro de menor intensidade, que ocorre geralmente em novembro, logo após as chuvas esparsas, comuns nesse período, na região Nordeste (FROTA; PARENTE, 1995). Almeida et al. (1995d) também observaram, em clones de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 1001’ e ‘CCP 76’, intenso crescimento vegetativo durante o período de maior queda de folhas.

Após o término do período chuvoso, as gemas presentes no ápice dos ramos iniciam sua abertura, emitindo novas brotações que darão origem a novos ramos vegetativos e reprodutivos. Essa fase é caracterizada pela presença de folhas novas, de menor tamanho e coloração, variando, entre os genótipos, de verde-claras a marrom-avermelhadas (Figura 16).

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O fluxo foliar pode ter seu início influenciado tanto pela pluviosidade quanto pela temperatura do ar, pois a brotação das gemas pode ser retardada quando sob regime de baixas temperaturas (FROTA, 1988). A diminuição brusca da pluviosidade e a crescente insolação se apresentam como prováveis fatores que estimulam a brotação das gemas (FROTA; PARENTE, 1995).

Figura 16. Ramo com gema apical em repouso (A); ramo com gema apical recém--aberta (B); folhas novas recém-emitidas (C); cajueiro com folhas novas logo após o término do período chuvoso (D); folhas maduras (E); e cajueiro com maioria das folhas maduras apresentando o segundo fluxo foliar (F).

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101Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Parente (1981) observou um fluxo de grande intensidade, a partir de junho, logo após o período de maiores precipitações, quando a disponibilidade de água no solo ainda era favorável ao crescimento. Segundo o autor, a diminuição brusca de pluviosidade e a crescente insolação, que ocorreram concomitantemente, constituíram-se nos fatores que estimularam de algum modo a brotação de gemas. Já o pico da emissão de novas folhas ocorreu em agosto, e um outro fluxo, de menor intensidade, ocorreu entre outubro e dezembro, com pico em novembro.

Em clones de cajueiro-anão-precoce irrigados ‘CCP 76’ e ‘CCP 1001’, Almeida et al. (1995d) observaram a ocorrência de intenso crescimento vegetativo a partir de setembro.Segundo Almeida et al. (1995c), em cultivos irrigados, pode haver alteração dessa fenofase, em que as plantas podem emitir fluxos vegetativos continuamente.

Floração

A floração do cajueiro-anão-precoce inicia-se já no primeiro ano (ALMEIDA et al., 1995c), enquanto o florescimento do cajueiro-comum inicia-se no segundo ou terceiro ano (Barros, 1995).

Tanto mudas oriundas de sementes como mudas enxertadas de cajueiro- -anão-precoce tendem a emitir panículas precocemente (SERRANO et al., 2010) (Figura 17).

Figura 17. Muda de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ oriunda de semente (pé-franco) com 150 dias de idade. Observa-se a emissão da primeira panícula – característica de precocidade.

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102 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Segundo Frota (1988), a floração do cajueiro está diretamente relacionada com os fluxos de crescimento vegetativo, sendo que ambos ocorrem concomitantemente em certos períodos e com diferentes intensidades. Como vimos anteriormente, o processo que se inicia com a brotação da gema, alongamento dos internódios e emissão de folhas tende a terminar, nos ramos produtivos, com a emissão da inflorescência na parte terminal do broto recém-formado (Figuras 18 e 19).

Figura 18. Início do florescimento do cajueiro: na gema apical do broto em crescimento surge a inflorescência – panícula (A). Posteriormente, a panícula se desenvolve até atingir o seu máximo crescimento (B).

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Figura 19. Panícula do cajueiro com flores abertas.

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Alguns autores, citados por Parente et al. (1991), sugerem que o estímulo da floração é realizado por um hormônio produzido pelas folhas recém-formadas de maior eficiência fotossintética.

Nambiar (1977), citado por Oliveira e Lima (2000), afirma que o estresse hídrico exerce influência no florescimento de árvores tropicais quando associado a outros fatores ambientais, como temperatura, umidade relativa do ar e radiação solar. No caso do cajueiro, o autor sugere que, quando o estresse hídrico está associado a um aumento na insolação, e, simultaneamente, a uma diminuição na umidade relativa do ar – período após o término da estação chuvosa –, há indução à diferenciação e ao crescimento da gema reprodutiva.

Frota (1988) também afirma que a floração do cajueiro ocorre preferencialmente durante a estação seca, na qual predomina pouca nebulosidade e alta insolação. O autor ainda afirma que, à medida que as regiões de cultivo se afastam do Equador, a floração torna-se gradativamente mais tardia, fato ligado à insolação.

O período de máxima diferenciação floral e florescimento ocorre entre os meses de junho e setembro (FROTA; PARENTE, 1995). Parente et al. (1991) observaram variação mensal da floração entre junho e novembro, com pico de florescimento no mês de agosto. Segundo os autores, os cajueiros-anões-precoces apresentam maiores intensidades de floração no início do período.

Sob condições de sequeiro, o início do florescimento do cajueiro-anão-precoce geralmente coincide com o final da estação chuvosa; já sob irrigação, ocorre uma antecipação do início do período de floração e um aumento na intensidade de emissão de panículas (OLIVEIRA; LIMA, 2000). Plantas do clone de cajueiro-anão--precoce ‘CCP 09’ irrigado produziram cerca de 10% a mais de flores e apresentaram maior número de flores abertas por panícula do que as plantas cultivadas sob sequeiro.

De modo geral, o período de florescimento perdura por 5 a 7 meses, iniciando em julho e terminando em dezembro, isso nos anos normais de precipitação. Devido à heterogeneidade dos pomares de cajueiros-comuns, e ao tipo de cultivo do cajueiro-anão-precoce, observa-se, não raramente, grande variação no início e na duração do período de florescimento, sendo possível encontrar plantas que florescem durante o ano inteiro (BARROS, 1988a). Outro fato relevante, é que há diferença no início da fenofase de florescimento entre os clones de cajueiro-anão-precoce, sendo observados que os clones ‘CCP 09’, ‘CCP 76’ e ‘BRS 189’ tendem a ser mais precoces, enquanto o ‘CCP 1001’ tende a ser o mais tardio.

Pinheiro et al. (1993) observaram duração média do período de florescimento de 98 dias para uma população de cajueiro-anão-precoce e 102 dias para uma população de cajueiro-comum, considerando-os semelhantes, com média de 100

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104 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

dias.No Piauí, Sousa et al. (2007) observaram que o período de florescimento de

vários genótipos de cajueiro-anão-precoce durou em média 94 dias, com amplitude entre 39 e 125 dias. Para o cajueiro-comum, a duração média do período foi de 87 dias, com amplitude entre 48 e 180 dias.

Em cajueiro ‘CCP 09’, em Paraipaba, CE, a duração do período principal de emissão de flores foi de 35 a 70 dias, não havendo diferença entre as plantas cultivadas em sequeiro ou sob irrigação (OLIVEIRA; LIMA, 2000). Entretanto, há relatos de pomares irrigados de ‘CCP 09’ com produção de frutos durante todo o ano no litoral cearense.

Almeida et al. (1995d) avaliaram a floração de progênies do ‘CCP 76’ e do ‘CCP 1001’, constatando que, na maioria das vezes, ela ocorreu de forma diferenciada. Para o ‘CCP 76’, observaram-se máximas intensidades de floração, com taxas de 100%, a partir de julho, permanecendo, assim, durante 7 meses consecutivos. Esse índice decresceu somente no mês de fevereiro do ano seguinte. Quanto ao ‘CCP 1001’, ele permaneceu em florescimento por 6 meses. Em ambas as progênies, as menores taxas de floração ocorreram nos meses de maiores precipitações.

Em alguns anos, foi observado que, após as primeiras chuvas no final do período seco (dezembro e janeiro) procedidas de um novo período seco (15 a 20 dias), as plantas de cajueiros-anões-precoces emitiram outro fluxo de florescimento, de pequena intensidade. Após esse florescimento, se o tempo permanecer seco, há a possibilidade de obter um bom índice de frutificação e produção de cajus com qualidade. No entanto, se acontecer o inverso (chuvas e alta umidade relativa do ar), poderá haver baixo índice de frutificação decorrente da incidência de doenças.

Em Mauriti, CE, no ano de 2011, foi constatada floração e frutificação do cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ em pleno mês de abril (período chuvoso). O mesmo fato foi observado no município de Cruz, CE, no ano de 2012, em que, após um pequeno período de chuvas no mês de janeiro, as plantas de ‘CCP 76’ emitiram novo fluxo vegetativo, seguidos de panículas, e produção de cajus de boa qualidade. Em Pio IX, PI, também em 2012, plantas do clone ‘BRS 226’ também emitiram panículas após um período de chuvas em janeiro procedido de um período seco em fevereiro e março (Figura 20).

Também é importante ressaltar que, em épocas de umidade relativa muito baixa (< 50%), poderá haver menor receptividade do estigma e menor viabilidade do grão de pólen, o que também acarretará em baixo índice de frutificação. Em novembro de 2012, ano muito seco, foi observado em Pio IX, PI, panículas sadias (coloração verde) com flores totalmente secas devido à umidade relativa do ar em torno de 20%.

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105Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 20. Floração e frutificação do cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’, no mês de abril de 2011, em Mauriti, CE (A); e do ‘BRS 226’, no mês de março de 2012, em Pio IX, PI (B).

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FrutificaçãoAssim como o florescimento, a frutificação do cajueiro-anão-precoce também

pode se iniciar no primeiro ano (Figura 21). Entretanto, não é recomendável manter uma planta nova em produção, pois pode afetar negativamente o seu desenvolvimento.

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Figura 21. Cajueiro-anão-precoce enxertado, com menos de 1 ano de idade, apresentando panícula com maturi (fruto).

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Figura 22. Etapas da floração e início da frutificação do cajueiro. Numa mesma panícula, é possível observar: botão floral (flor fechada) (1); flor recém-aberta, com pétalas de coloração branca (2); flor madura, com pétalas de coloração arroxeada (3); flor perfeita (hermafrodita) fecundada, apresentando pedicelo arroxeado e início do surgimento do maturi (4); e maturi em início de desenvolvimento; quando maduro, torna-se a castanha-de-caju (5).

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Detalhando o desenvolvimento do caju, temos, inicialmente, um crescimento rápido da castanha, a qual atinge seu máximo por volta da quinta semana (35 dias) após a fecundação da flor. A amêndoa, localizada no interior da castanha, não segue o crescimento desta, de modo que, quando a castanha já atingiu o seu tamanho máximo, a amêndoa ainda está imatura (Figura 23).

Segundo Parente et al. (1991) e Frota e Parente (1995), a frutificação do cajueiro ocorre normalmente na estação seca, com tendência de maior concentração de cajus maduros nos meses de outubro a dezembro, com o pico ocorrendo no mês de novembro. De acordo com os autores, há uma certa antecipação do início da produção do cajueiro-anão-precoce em aproximadamente 30 dias, quando comparado ao cajueiro-comum.

Almeida et al. (1995d) observaram que a frutificação em clones de cajueiro--anão-precoce ‘CCP 76’ e ‘CCP 1001’ ocorreram entre agosto e dezembro. Ambos os genótipos atingiram picos de colheita em novembro, mês de menores precipitação e umidade relativa do ar.

Quanto ao processo de frutificação, ele inicia-se aproximadamente após 7 dias da fecundação da flor (BARROS, 1988a). Percebe-se, então, o surgimento dos frutos jovens, chamados de maturis (Figura 22).

No geral, a duração do período entre o surgimento do maturi até a completa maturação do caju (pedúnculo + castanha) está em torno de 52 a 60 dias (BARROS, 1988a).

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107Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 23. Rápido crescimento da castanha-de-caju e lento crescimento do pedúnculo do caju ‘BRS 274’ (A). Corte da castanha, mostrando a amêndoa ainda imatura (B).

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O crescimento do pedúnculo é lento na fase inicial de desenvolvimento do caju. A partir da quinta semana após a fecundação, fase que coincide com o final do crescimento da castanha, o pedúnculo inicia um rápido crescimento até completar o seu amadurecimento (época da colheita) (Figuras 24 e 25). Nessa fase, o pedúnculo apresenta cerca de 85% a 89% de umidade.

Figura 24. Etapas da frutificação do cajueiro-anão-precoce ‘BRS 226’: desde o pequeno maturi (à esquerda) até a maturação completa do pedúnculo (à direita).

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Após a castanha atingir o máximo de tamanho, inicia-se o processo de endurecimento da casca e o desenvolvimento do embrião. Nessa fase, ocorre a diminuição do tamanho da castanha, devido à perda de umidade, estimada em até 10% na época da colheita (ALMEIDA et al., 1987).

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108 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

A maturação completa do caju (castanha + pedúnculo) ocorre, em média, entre 7 a 8 semanas após a fecundação da flor (Figura 26).

Figura 25. Após o crescimento máximo da castanha (A), o pedúnculo começa a se desenvolver, apresentado rápido crescimento entre o 35o e 48o dia após o surgimento do maturi (B e C).

Figura 26. Maturação completa do caju ‘CCP 76’.

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No campo experimental da Embrapa, em Pacajus, CE, Almeida et al. (1987) avaliaram os crescimentos da castanha e do pedúnculo de caju. Foi observado que, a partir da fecundação da flor, o tamanho máximo da castanha ocorreu entre o 30o e o 36o dia com posterior decréscimo de 15% na época de colheita. Já o tamanho máximo do pedúnculo foi observado entre o 48o e o 52o dia (aproximadamente 7 semanas a partir da fecundação da flor). A partir dos dados, foi possível definir um possível comportamento de desenvolvimento do caju (Figura 27).

Parente e Bueno (1991) consideram o limite do início de declínio da produção do cajueiro-comum a idade de 32 anos. Entretanto, tanto em Pio IX, PI, quanto em Cruz, CE, foram identificadas plantas (isoladas) de cajueiro-comum acima dos 50 anos produzindo acima de 130 kg de castanhas. Quanto ao cajueiro-anão-precoce, são poucas as informações sobre a sua vida útil produtiva; no entanto, existem pomares com 15 anos em plena produção.

Implantação e tratos culturais do pomar de cajueiroO cajueiro é considerado uma planta rústica, com adaptação em várias regiões

de diferentes climas e regimes hídricos. É encontrado medrando naturalmente tanto no litoral como no sertão nordestino, sendo muito comum nos quintais das residências.

Devido a essa aparente rusticidade, os primeiros modelos de exploração adotados foram o extrativista, com cajueiros nativos, e o plantio desorganizado nas propriedades, como plantas de pomar doméstico. Em seguida, surgiram as grandes plantações comerciais realizadas a partir da década de 1960, com o objetivo

Figura 27: Curvas de crescimento da castanha e do pedúnculo de caju, a partir da fecundação da flor até colheita. (Adaptado de ALMEIDA et al., 1987).

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Dias após a fecundação da flor

Castanha

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110 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

de abastecer as primeiras indústrias processadoras de castanha e as de suco. Posteriormente, também surgiram os plantios organizados nas pequenas e médias propriedades, incentivados pelos órgãos públicos estaduais; e o reflorestamento, por meio de uma política florestal do Governo Federal para a região Nordeste (LIMA, 1988b).

Devido principalmente aos incentivos governamentais para a expansão da cultura e para o reflorestamento, a área ocupada com cajueiros gira em torno de impressionantes 764 mil ha (IBGE, 2012). Em comparação a outras 17 áreas ocupadas com fruteiras no Brasil, essa área só é menor do que a cultivada com laranjeiras, 834 mil ha.

Atualmente, a grande maioria dos pomares de cajueiros são explorados por produtores em pequenas e médias propriedades. Destacam-se também os cultivos realizados em associações de pequenos produtores, em comunidades e assentamentos rurais.

No Estado do Ceará, a castanha é o principal produto explorado comercialmente, sendo quase totalmente aproveitada na colheita, e seu comércio é caracterizado do seguinte modo: os pequenos produtores comercializam com os atravessadores e estes com as indústrias processadoras. O pedúnculo é aproveitado somente quando se realiza a colheita do caju na planta e, geralmente, pelos produtores que estão próximos a alguma indústria de suco, cajuína ou doce. É frequentemente observado que os produtores que comercializam apenas a castanha não obtêm rentabilidade no cultivo suficiente para investir na cultura, iniciando um terrível e desastroso ciclo, apresentado na Figura 28.

Figura 28. Ciclo vicioso da realidade de muitos cajucultores.

Pouca rentabilidade

Falta de investimentona cultura

Baixaprodutividade

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111Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

No Estado do Piauí, o pedúnculo é tido como principal produto, devido à presença de várias fábricas de sucos e outros derivados (cajuína e doces). Ademais, o crescente cultivo de cajueiros de porte baixo (anão-precoce) favorece a colheita manual e o aproveitamento do pedúnculo na planta. Normalmente, os cajus são enviados para as indústrias descastanhados (vão apenas os pedúnculos); assim, há também o aproveitamento da castanha para comercialização. A grande maioria dos produtores piauienses também comercializam suas safras (pedúnculo e castanha) com os atravessadores; entretanto, por meio de associações e cooperativas eles vêm aumentando os ganhos com a cultura.

O outro segmento de exploração na atualidade são, ainda, as grandes plantações com cajueiros-comuns, aqueles mesmos plantados desde as décadas de 1960, 1970 e 1980. Esse tipo de cultivo é caracterizado por extensas áreas (>10.000 ha) com plantas propagadas via sementes (pé-franco) e idades superiores a 25 anos. Por serem oriundos de sementes (propagação sexual), os pomares são muito heterogêneos, falhos (grande perda de plantas sem o devido replantio) e, consequentemente, de baixa produtividade.

Em ambos os sistemas de exploração, predomina o cultivo em sequeiro e com poucos tratos culturais (cultivo mínimo). São realizados o preparo do terreno para o plantio, o plantio em espaçamento definido, coveamento (irregular), capina em torno das mudas (coroamento) e eliminação eventual de brotações laterais. Devido aos poucos tratos culturais dispensados à cultura, a grande maioria dos pomares apresenta baixa produtividade (CRISÓSTOMO et al., 2003).

Com a predominância do cultivo mínimo na cajucultura, em 2010, as produtividades médias foram de apenas 98,6 kg ha-1; 218,8 kg ha-1 e 85,1 kg ha-1 de castanhas-de-caju nos principais estados produtores, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, respectivamente (IBGE, 2012).

Segundo Paula Pessoa et al. (2000) e Oliveira et al. (2005), a viabilidade econômica da exploração comercial do cajueiro, bem como o alcance dos padrões da fruticultura moderna, estão ligadas à necessidade de intensificar o cultivo de genótipos com carga genética superior, pois, desse modo, a cultura poderá expressar todo o seu potencial produtivo, tanto em relação à produção de castanha como a de pedúnculo. A resposta aos tratos culturais pode ser vista na Figura 29.

Andrigueto e Kososki (2005) relataram que, em 2004, em 1.500 ha de cajueiros cultivados sob o sistema de produção integrada (cultivo intensivo racional), a produção obtida foi de 1.800 toneladas de castanhas, perfazendo uma produtividade média de 1.200 kg ha-1. Produtividades elevadas (20 t ha-1 de cajus) também foram obtidas no Estado de São Paulo com o cultivo intensivo do cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ para atender as indústrias de suco e o mercado in natura (ARAÚJO et al., 2010).

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112 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Figura 29: Clone de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’, com 6 anos de idade, em cultivo mínimo (acima); e com 4 anos de idade, em cultivo intensivo (abaixo).

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O sistema de cultivo intensivo inicia-se já na produção e obtenção de mudas de qualidade, e prossegue com adequado preparo e correção do solo do terreno onde será implantado o pomar. Posteriormente, deve-se realizar as podas recomendadas, o manejo racional das plantas daninhas, os tratamentos fitossanitários (pragas e doenças); a irrigação (se possível) e a colheita especializada dos produtos (castanha e pedúnculo).

Estudos realizados na região Nordeste do Brasil citam que a produtividade esperada para o cajueiro-anão-precoce sob sequeiro esteja em torno de 1.000 kg ha-1 de castanha e 10.000 kg ha-1 de pedúnculo. Em cultivo irrigado, espera-se a obtenção de 3.800 kg ha-1 de castanha e 30.000 kg ha-1 de pedúnculo (OLIVEIRA, 2008).

No Estado de São Paulo, com o cultivo intensivo do ‘CCP 76’ e com os preços praticados na Ceagesp, Araújo et al. (2010) verificaram que, com a venda dos melhores frutos para o mercado de mesa e os demais para as indústrias de suco e

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113Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

doces da região, a cultura apresentou índice de lucratividade de 46,5%, sendo, assim, considerada rentável.

Além do incremento na produtividade e na rentabilidade, Andrade et al. (2008) verificaram que cajus produzidos em sistema de cultivo intensivo, como o sistema de produção integrada, apresentaram qualidade superior àqueles produzidos no cultivo convencional.

Também já foi relatado, por Cardoso et al. (2010), que cajueiros submetidos a estresses (hídrico, nutricional, entre outros) são mais propensos a apresentarem doenças, entre elas a resinose (Lasiodiplodia theobromae), considerada a principal doença do cajueiro no Semiárido nordestino. Do mesmo modo, Viana et al. (2011) detectaram diferença significativa entre os sistemas de produção em relação à severidade da antracnose, principal doença da cultura. Segundo os autores, o clone de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 09’ em regime de sequeiro é mais propício à doença do que aqueles em cultivos irrigados.

Enfim, após relatados os resultados obtidos com o cultivo intensivo, destacaremos a seguir os principais manejos para a obtenção de um pomar produtivo de cajueiro-anão-precoce.

Escolha da áreaPara a obtenção de sucesso com a cultura, inicialmente é necessário avaliar as

condições edafoclimáticas (solo e clima) da região e do local onde se deseja iniciar o cultivo. Esse fator é tão importante que atualmente temos o zoneamento agrícola como ferramenta oficial de pré-consulta ao plantio de diversas culturas.

O zoneamento agrícola de uma determinada cultura indica o melhor período para se plantar em cada município do País, de acordo com a análise histórica do comportamento do clima. O objetivo é orientar os agricultores sobre os riscos de adversidades climáticas coincidentes com as fases mais sensíveis das culturas.

No caso específico da cultura do cajueiro, temos as Portarias de no 35 a 43 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011), referentes ao zoneamento agrícola para a cultura do cajueiro nos estados nordestinos.

Segundo esse zoneamento, as condições ótimas para o cultivo do cajueiro são as regiões ou municípios com temperaturas médias anuais entre 22 oC e 32 oC, alta luminosidade, precipitação anual acima de 1.200 mm, período de estiagem máximo de 3 a 4 meses e altitudes inferiores a 600 metros.

Por meio do zoneamento agrícola, identificam-se as áreas aptas, bem como os melhores períodos de plantio, visando assim à minimização dos riscos climáticos. Para essa identificação, são considerados o levantamento exploratório e o

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114 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

reconhecimento de solos dos estados ou regiões, além dos seguintes parâmetros de risco:

Temperatura média anual (TM)• TM entre 22 oC e 32 oC: ótima → baixo risco.• TM acima de 32 oC, mas menor que 40 oC: regular → médio risco.• TM abaixo de 22 oC, mas maior que 16 oC: regular → médio risco.• TM acima de 40 oC, mas menor que 42 oC: restrito→ alto risco.• TM abaixo de 16 oC, mas maior que 15 oC: restrito→ alto risco.• TM abaixo de 15 oC ou superior a 42 oC: inapto.

Precipitação pluviométrica média anual (P)• P entre 800 mm e 1.500 mm, com período seco de 4 a 5 meses:

ótima → baixo risco.• P entre 600 mm e 800 mm, com período seco de 5 a 7 meses:

regular → médio risco.• P entre 500 mm e 600 mm, com período seco de 5 a 7 meses:

restrito→ alto risco.• P menor que 500 mm, com período seco maior do que 7 meses: inapto.

Deficiência hídrica anual (DEF)DEF até 350 mm: boas condições naturais para o cultivo.

Altitude (ALT)• ALT entre 0 m (nível do mar) e 300 m: ótima → baixo risco.• ALT entre 300 m e 600 m: regular → médio risco.• ALT entre 600 m e 900 m: restrito → alto risco.• ALT superior a 900 m: inapto.

Na delimitação das regiões de plantio para o cultivo do cajueiro, em condições naturais (sem irrigação), considera-se uma frequência de 80% de ocorrência dos valores de deficiência hídrica anual iguais ou inferiores a 350 mm, em cada posto pluviométrico da área estudada, bem como condições térmicas e altimétricas dentro dos limites pré-estabelecidos para as condições de sequeiro.

São considerados aptos para o cultivo os municípios que apresentam 20% ou mais de suas áreas em condições de baixo risco ou condições de médio e baixo risco combinadas em, pelo menos, 60% de seus territórios.

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115Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Quanto aos solos aptos ao cultivo de cajueiro, são recomendados os seguintes tipos:

Tipo 1: solos de textura arenosa, com 10% a 15% de argila, ou com argila acima de 15% e areia superior a 50%.

Tipo 2: solos de textura média, com 15% a 35% de argila ou com areia inferior a 50%.

Tipo 3: solos de textura argilosa, com argila superior a 35%.

Não são indicadas para o cultivo as áreas de preservação obrigatória, áreas com problemas de drenagem (sujeitas ao encharcamento), áreas com solos que apresentam profundidade inferior a 50 cm (solos rasos), e solos muito pedregosos, nos quais calhaus (Ø entre 2 cm e 20 cm) e matacães (Ø > 25,6 cm) ocupem mais de 15% da massa e/ou da superfície do terreno.

Segundo Crisóstomo et al. (2003), os principais solos cultivados com cajueiro no Nordeste são os neossolos quartzarênicos (areias quartzosas), os latossolos vermelho-amarelo e amarelo e os argissolos (podzólicos) acinzentado e vermelho- -amarelo.

Os neossolosos quartzarênicos ocorrem principalmente nas faixas litorâneas do Ceará, como em Paraipaba, no litoral oeste (BONI et al., 2008), e Aracati, no litoral leste (PAIVA et al., 2005). Esses solos possuem predominância de areia quartzosa (> 85%), baixo teor de matéria orgânica (com baixo suprimento de N e S), distróficos, perfil profundo, alta capacidade de drenagem com elevadas perdas por lixiviação de N, K, Ca e Mg (ALMEIDA et al., 1995c; CRISÓSTOMO et al., 2003).

Os latossolos são constituídos de sesquióxidos de Fe e Al e apresentam fração de minerais de argila. Devido à presença de Al, possuem pH ácido (< 6,0), entretanto, se corrigido, apresentam boas possibilidades para uso agrícola, pois possuem adequadas condições físicas, profundidade e porosidade, características favoráveis ao desenvolvimento do sistema radicular da planta (CRISÓSTOMO et al., 2003). Os latossolos possuem camada fértil do solo no horizonte A devido à matéria orgânica, porém, se desprotegida, essa camada pode ser perdida por erosão. O latossolo amarelo álico, com pH abaixo de 5,0, é o solo predominante das áreas produtoras de Pio IX, PI (AQUINO et al., 2003; PAIVA et al., 2008), município com a maior área cultivada com cajueiro no Brasil (IBGE, 2012).

Os argissolos apresentam horizonte Bt, não hidromórfico e com argila de baixa atividade. O horizonte A (camada superficial) apresenta textura arenosa ou média, enquanto o horizonte B pode variar de média a argilosa (> 35% argila). Também apresentam baixa acidez (OLIVEIRA, 2002). Grandes plantios comerciais de cajueiro são cultivados nesse tipo de solo na região norte do Ceará (CRISÓSTOMO, et al., 2003).

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116 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Época de plantioO período de plantio mais indicado para o cultivo em sequeiro é aquele que

coincide com o início do período chuvoso. Para o cultivo irrigado, pode-se efetuar o plantio durante todo o ano.

De acordo com o zoneamento agrícola (BRASIL, 2011), recomendam-se as seguintes épocas de plantio para os estados do Nordeste:

Ceará: entre 1o de fevereiro e 31 de maio (regiões de Beberibe, Cruz e Pacajus), e entre 1o de janeiro e 30 de abril (região de Mauriti).

Piauí: entre 1o de janeiro e 31 de março (regiões de Santo Antônio de Lisboa e Floriano).

Rio Grande do Norte: entre 1o de março e 30 de abril (região de Serra do Mel), e entre 1o de abril e 30 de junho (região de Macaíba).

Maranhão: entre 1o de janeiro e 31 de maio (região de Barreirinhas), e entre 1o de novembro e 30 de abril (região de Buriti Bravo).

Bahia: entre 1o de março e 30 de junho (região de Ribeira do Pombal).

Pernambuco: entre 1o de abril e 30 de junho (região de Buíque).

Alagoas: entre 1o de maio e 30 de junho (região de Carneiros).

Sergipe: entre 1o de abril e 31 de julho.

Paraíba: entre 1o de abril e 30 de junho.

Preparo do terreno e correção do soloApós a escolha da área do novo cajueiral, deve-se proceder a limpeza

removendo toda a vegetação não desejada. No caso de renovação do pomar, retiram-se todos os cajueiros antigos, inclusive as raízes e tocos (Figura 30).

As operações que compõem o preparo e a limpeza da área são: derrubada ou destoca da vegetação, enleiramento da madeira (troncos e galhos), retirada de tocos e raízes, aração e gradagem (BARROS, 1988b).

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117Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 30. Remoção e limpeza de uma área com cajueiral antigo. O processo inicia-se com o corte das árvores e enleiramento dos ramos mais grossos (A). Em seguida, há a retirada dos troncos e raízes (B), para evitar a rebrota da planta antiga (C). Posteriormente, toda a madeira é retirada da área e empilhada para possível comercialização (D).

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Após a retirada das plantas de porte mais elevado, inicia-se o preparo do solo por meio das práticas de aração e gradagem (Figura 31). Normalmente, nas áreas cultivadas com cajueiro no Nordeste, os solos são de textura arenosa e profundos, dispensando a aração em alguns casos. Entretanto, outras áreas são de argissolos, que apresentam horizonte Bt com textura média ou argilosa. Nesses casos, a prática da aração é recomendada, assim como, em alguns casos (camadas subsuperficiais adensadas), o uso de escarificador ou subsolador.

Em relação à prática da gradagem, inicialmente, para nivelar o terreno, recomenda-se a passagem inicial de uma grade pesada (grade de arrasto), seguida de uma gradagem leve (grade hidráulica) (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

Figura 31. Área de um cajueiral antigo após a derrubada dos cajueiros (A); e após a limpeza e o preparo da área (B), em Pacajus, CE.

Por ser uma planta perene com vida útil longa, tais procedimentos de preparo do solo são de suma importância para a cultura, pois propiciarão um adequado ambiente para o desenvolvimento de um efetivo sistema radicular, o qual é responsável pela absorção de água e nutrientes. Contudo, todas essas operações (aração, gradagem e escarificação) são restritas para a fase de implantação da cultura, não sendo recomendadas nas fases posteriores, devido aos possíveis impactos ambientais negativos que possam ser gerados.

Após o preparo da área, com o terreno nivelado, devem-se retirar amostras do solo nas profundidades (camadas) de 0 cm a 20 cm, 20 cm a 40 cm, 40 cm a 60 cm e 60 cm a 80 cm, pois, nessas camadas de solo, a maioria das raízes que absorvem água e nutrientes se desenvolverão.

Em uma área homogênea de até 10 ha, retiram-se pelo menos 20 a 25 amostras simples (subamostras) em diferentes pontos do terreno, para cada camada de solo citada (Figura 32). Posteriormente, para cada camada amostrada,

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119Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

mistura-se o solo dessas subamostras, eliminando pedras, folhas, raízes, entre outros, e retira-se uma amostra de aproximadamente 300 g de solo. Essa amostra deverá ser acondicionada em uma sacola plástica, identificada e encaminhada a um laboratório especializado.

No laboratório, é necessário que sejam realizadas as análises química (pH, P, K, Ca, Mg, Al, Na, S, matéria orgânica, B, Cu, Fe, Mn, Zn, soma de bases, saturação por bases, acidez potencial e capacidade de troca catiônica) e física (textura ou granulometria) do solo. A análise física do solo pode ser realizada ao menos uma vez (na época de plantio), enquanto a química deverá ser realizada anualmente (na véspera do início do período chuvoso).

Figura 32. Exemplo de locais (pontos) do pomar ou de uma área em que devem ser retiradas 20 subamostras de solo (caminho em zigue-zague). Após a retirada de todas as subamostras, mistura-se o solo delas, retirando 300 g de solo dessa mistura (amostra completa). Essa amostra deverá ser enviada a um laboratório especializado para realização das análises química e física.Fonte: Google Earth (2012).

Após a obtenção dos resultados das análises de solo, calculam-se as necessidades e quantidades de calcário (carbonato de cálcio), fósforo (P), potássio (K) e micronutrientes a serem aplicados. Desse modo, ocorrerá a correção química do solo, por meio da neutralização da acidez do solo e do fornecimento dos nutrientes essenciais nas quantidades requeridas pelo cajueiro.

A aplicação do calcário permite corrigir a acidez ativa do solo (pH), neutralizar a acidez trocável (Al3+) e fornecer os macronutrientes cálcio (Ca) e magnésio (Mg). Ademais, a prática da calagem estimula a atividade microbiana do solo, aumenta a disponibilidade da maioria dos nutrientes para as plantas e preserva a matéria orgânica do solo (MALAVOLTA, 2006).

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120 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Quando a necessidade de calcário a ser aplicada for superior a 1,5 t ha-1, o produtor pode realizar a aplicação em duas parcelas iguais. A primeira metade da dose total deverá ser aplicada antes da aração ou da primeira gradagem. Já a segunda metade da dose total deverá ser aplicada antes da segunda gradagem (Figura 33). Desse modo, aumenta-se a possibilidade de o calcário ser incorporado em profundidade.

Esses procedimentos são de suma importância para o sucesso do cultivo, pois é somente nessa fase de pré-plantio (preparo do terreno) que haverá a possibilidade de incorporar o calcário em profundidade. Quando aplicado em cobertura (a lanço), o calcário tende a penetrar no solo em pequena profundidade (< 10 cm). Logo o solo subsuperficial continuará apresentando acidez e baixos teores de nutrientes, fato que pode prejudicar o adequado desenvolvimento do sistema radicular com consequência negativa na produção.

Figura 33. Aplicação de calcário numa área no pré-plantio da cultura. Observa-se a aplicação da segunda metade da dose de calcário logo após a primeira gradagem do solo. Posteriormente à aplicação, será realizada a segunda gradagem do terreno para incorporação do calcário.

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Nos solos do Sertão nordestino (principalmente na parte do Cerrado), a deficiência de Ca, associada ou não à toxidez do alumínio (Al), não ocorre apenas na camada arável (0 cm a 20 cm), mas também abaixo dela, nas camadas subsuperficiais (40 cm a 80 cm) (OLIVEIRA et al., 2000). Assim, para neutralizar o Al (elemento tóxico às plantas quando em excesso) e disponibilizar os nutrientes Ca, K e Mg nas camadas subsuperficiais, recomenda-se, além do calcário, o uso do gesso agrícola (CaSO4.2H2O – sulfato de cálcio).

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121Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

O gesso agrícola é um recurso que complementa a ação superficial do calcário, melhorando o solo em profundidade, o que favorece o aprofundamento das raízes, com consequente melhora na absorção de água e nutrientes, favorecendo a obtenção de maiores produções. É válido lembrar que o gesso agrícola não substitui o calcário, pois não corrige a acidez do solo (pH), e que, se jogado em excesso, pode prejudicar ainda mais a fertilidade do solo.

A necessidade ou não de aplicação de gesso é constatada pela análise química do solo das camadas subsuperficiais (> 20 cm). Constatando-se a necessidade da aplicação de gesso, as doses a serem aplicadas deverão ser definidas de acordo com a textura do solo (obtida pela análise física do solo).

Em Canto do Buriti, PI, Aquino et al. (1997), ao implantarem um pomar de ‘CCP 76’ numa área com solo franco arenoso (18% de argila), pH 4,0, saturação por base de 37% e baixos valores de nutrientes e matéria orgânica, verificaram que aos 2 anos de idade, a aplicação de calcário (2 t ha-1) e de gesso agrícola (0,5 t ha-1) proporcionaram produções de castanhas 129% superiores às daquelas plantas cultivadas na área em que o solo não foi corrigido.

Marcação das covas e espaçamentosApós o preparo e a correção do solo, deverão ser marcadas no terreno as

posições das fileiras das plantas, e, nessas fileiras, os locais das covas que receberão as mudas de cajueiro.

Na definição do espaçamento, deve-se considerar o nível tecnológico do pomar, isto é, o quanto e como as técnicas recomendadas serão realizadas, como, por exemplo, podas, irrigação, manejo das plantas daninhas, controle fitossanitário, entre outros (OLIVEIRA et al., 2005). As condições edafoclimáticas locais também devem ser consideradas para a escolha do espaçamento a ser adotado, visto que, em regiões onde o clima (por exemplo, temperatura média ótima e precipitação adequada e bem distribuída ao longo do ano) e o solo (por exemplo, eutrófico e profundo) propiciam boas condições para o rápido desenvolvimento da planta, os espaçamentos mais amplos deverão ser utilizados.

As posições das fileiras das plantas são definidas nas extremidades do terreno, de acordo com o espaçamento desejado, alinhando-as. A partir do início de cada fileira marcada, por meio da utilização de cordas ou de correntes especiais segmentadas, são marcadas as posições das covas, até o término da fileira.

Nas cordas ou correntes, de comprimentos variáveis, são marcados sinais ou marcas a cada metro ou mais, dependendo do espaçamento que se deseja usar na linha de plantio. Dois funcionários esticam a corda enquanto outro coloca piquetes de madeira ou abre um buraco nos locais definidos para ser a cova. A vantagem no uso de piquetes de madeiras para a marcação das covas é o seu aproveitamento posterior como tutor das mudas recém-plantadas (OLIVEIRA et al., 2005).

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122 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Após todas as posições das covas de uma linha estarem marcadas, a corda é deslocada paralelamente para outra linha.

Além do espaçamento adequado, é importante também a disposição ou arranjo das plantas – direção das linhas – em relação aos pontos cardeais, mais precisamente em relação ao sol poente (CRISÓSTOMO et al., 1992). Vários autores relatam a observação de que a radiação solar exerce influência sobre a produção do cajueiro, sendo comumente observado que um lado da planta pode apresentar maior produção do que o outro. Existem diferenças numéricas entre as panículas de uma mesma planta (cajueiro) quanto ao número de flores, conforme suas orientações em relação aos pontos cardeais (OLIVEIRA; LIMA, 2000).

Em Pacajus, CE, Crisóstomo et al. (1992) observaram que, num período de 5 anos, cajueiros produziram 30,9% das castanhas no lado oeste e 29,3% no lado norte da planta. Vieira et al. (2005) também observaram, em plantas do clone ‘CCP 09’, que houve maior produção de maturis por panícula na posição oeste da planta. Do mesmo modo, Oliveira e Lima (2000) observaram maiores valores de flores perfeitas (hermafroditas – que originam frutos) emitidas por panícula no lado norte das plantas de cajueiro.

As partes das plantas que permanecem sombreadas durante a maior parte do dia apresentam as menores produções, pois há o aumento na quantidade de ramos secos, diminuição da emissão de folhas, flores e frutos, redução da aeração e aumento na incidência de pragas e doenças (OLIVEIRA et al., 2005). Assim, para obter maior eficiência no pomar, deve-se orientar o plantio de modo a favorecer, ao máximo, a incidência da radiação solar nas partes reprodutivas da planta (CRISÓSTOMO et al., 1992).

Quanto à disposição das plantas (covas) no terreno, são utilizados os seguintes arranjos: quadrado (espaçamento entre linhas e entre plantas iguais – L2); retangular (espaçamento entre linhas superior ao entre plantas – L1 x L2), e triangular (espaçamento em triangulo equilátero – L2.sen60°).

Os arranjos quadrados e retangulares são os mais utilizados na região Nordeste por facilitarem o trânsito de máquinas (roçadeiras, por exemplo) e o consórcio com outras espécies.

Apesar de pouco adotado, o arranjo triangular é o que favorece a maior incidência de radiação solar nas partes reprodutivas da planta, fato que pode incrementar a produção (CRISÓSTOMO et al. 1992). Além disso, esse arranjo possibilita cerca de 15% a mais de plantas numa mesma área.

O cajueiro-anão-precoce, pelas suas características de porte baixo e copa compacta, é explorado em sistemas de cultivo de média a alta densidade de plantio (PARENTE; OLIVEIRA, 1995). Os espaçamentos tradicionalmente recomendados para a cultura são:

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123Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

cultivo em sequeiro:• 7 m x 7 m, em arranjo quadrangular, com estande de 204 plantas ha-1.• 8 m x 6 m, em arranjo retangular, com estande de 208 plantas ha-1.

cultivo irrigado:• 8 m x 7 m, em arranjo retangular, com estande de 178 plantas ha-1.

Como variações dos espaçamentos tradicionais, é comum encontrarmos pomares nos seguintes espaçamentos:

• 7 m x 7 m x 7 m, em arranjo triangular, com estande de 236 plantas ha-1.• 8 m x 8 m, em arranjo quadrangular, com estande de 156 plantas ha-1.• 10 m x 10 m, em arranjo quadrangular, com estande de 100 plantas ha-1.Este último espaçamento é o tradicionalmente utilizado para o cultivo do

cajueiro-comum; entretanto, mesmo com a introdução do cajueiro-anão-precoce, alguns cajucultores mantiveram esse espaçamento, geralmente devido ao tipo de exploração da área (consórcios com outras culturas ou pecuária).

Para o clone de cajueiro-comum ‘BRS 274’, os espaçamentos indicados são de 12 m x 10 m, em arranjo retangular, ou 11 m x 11 m, em arranjo quadrangular, ambos resultando em 83 plantas ha-1. Para o clone de cajueiro híbrido ‘BRS 275’, são recomendados os espaçamentos 11 m x 9 m, em sistema retangular, e o 10 m x 10 m, em arranjo quadrangular (PAIVA; BARROS, 2004).

Dependendo do genótipo cultivado, e se a poda de manutenção for realizada anualmente, poderão ser adotados também espaçamentos mais adensados. No entanto, o produtor deverá estar ciente de que, quanto mais sombreado for o cajueiro, menor será sua produção (BARROS, 1988a; CRISÓSTOMO et al., 1992). A baixa luminosidade em pomares sujeitos a intenso entrelaçamento de copas ocasiona aumento da quantidade de ramos secos, reduz a emissão de folhas e diminui a floração e frutificação (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

Para o cultivo irrigado, que propicia maior desenvolvimento das plantas, recomendam-se espaçamentos mais largos. O mesmo ocorre com o cultivo de genótipos que apresentam copas mais amplas, como é o caso do ‘Embrapa 51’ e do ‘BRS 274’.

O cultivo adensado (Figura 34) é considerado uma alternativa para reduzir o prazo de recuperação de parte do capital empregado na instalação e manutenção do cajueiral, pois proporciona rendimentos iniciais elevados e o uso mais eficiente dos recursos, água e nutrientes, por exemplo (BEZERRA; DAMASCENO JÚNIOR, 2002).

Parente e Oliveira (1995) destacam como vantagens do adensamento as maiores produções nos primeiros anos de cultivo, a maximização da utilização da área, maior proteção e sombreamento do solo e possibilidade de excluir plantas

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124 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

mal formadas. Como desvantagens, citam: a redução da produção assim que ocorre a competição por luz e água; o sombreamento dos ramos mais baixos da planta, afetando a produção; a maior incidência de pragas e doenças; a necessidade de podas constantes para evitar o entrelaçamento de copas; e a menor possibilidade de uso da área com cultivos consorciados.

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Figura 34. Plantio adensado de progênies de ‘BRS 226’ em sequeiro no sertão do Piauí. Plantas aos 22 meses (A) e aos 37 meses (B) de idade. O espaçamento utilizado foi de apenas 2 m entre plantas.

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Barros (1988b) afirma que o emprego dos sistemas adensados pode ser rentável desde que se utilizem todas as práticas exigidas num pomar, além de genótipos (clones) de altas produções. Segundo esse autor, um possível sistema com maior produção por unidade de área e em menor período de tempo seria o plantio em espaçamento 4 m (entre fileiras) por 3 m (entre plantas), com 833 plantas por hectare. No terceiro e quarto ano, realiza-se a eliminação da metade das plantas na linha de plantio, passando para o espaçamento 4 m (entre fileiras) por 6 m (entre plantas). Já no quinto e sexto ano, elimina-se metade das fileiras de plantas, deixando o pomar no espaçamento tradicional 8 m (entre fileiras) por 6 m (entre plantas).

No Ceará, alguns produtores estão plantando o cajueiro-anão-precoce em espaçamentos de 8,0 m a 10,0 m (entre fileiras) x 3,0 m a 4,0 m (entre plantas). Quando o pomar atinge entre 4 e 6 anos de idade, é realizado o desbaste das plantas na linha de plantio, consistindo na retirada de uma planta entre outras duas.

Testes preliminares realizados por Bezerra e Miranda (1998) mostraram que, nos primeiros anos, as plantas de cajueiro ‘CCP 76’ cultivadas em sistema adensado (4,0 m x 3,0 m) apresentaram portes semelhantes aos das plantas cultivadas no espaçamento tradicional (8,0 m x 6,0 m). Na primeira produção (plantas com 20

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125Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

meses de idade), os autores observaram que a diferença de produção de castanha no sistema adensado em relação ao sistema tradicional foi de 343%. Em relação à produção de pedúnculo, a diferença entre os sistemas foi de 332%. No entanto, as plantas desse sistema adensado já se entrelaçavam, com isso o desbaste ou a poda já seriam recomendadas.

Damasceno Júnior e Bezerra (2002), em Paraipaba, CE, avaliaram os pedúnculos de cajueiro ‘CCP 76’ cultivados nos espaçamentos 8,0 m x 6,0 m (convencional) e 4,0 m x 3,0 m; 6,0 m x 3,0 m e 8,0 m x 3,0 m (adensados com podas e desbastes), e concluíram que não houve influência do adensamento sobre as características químicas do pedúnculo.

Barros (1988b) define como complexa a escolha do espaçamento para a cultura do cajueiro. O adensamento, para maiores produções nos primeiros anos da plantação, tem como desvantagens os altos custos do desbaste, agravados pelo não aproveitamento do material lenhoso obtido, e pelo declínio da produção individual por planta no segundo e terceiro ano decorrente da competição entre plantas. Já o plantio definitivo em espaçamentos maiores implica baixas produtividades da área nos primeiros anos de cultivo.

No caso de experimentos científicos, Rossetti et al. (1991) recomendam, para a cultura do cajueiro-comum, parcelas de 4 plantas úteis, em 2 linhas de plantio (2 plantas em cada linha, formando um quadrado), ou parcelas de 6 ou 9 plantas em 3 linhas de plantio, para o caso de meia bordadura. No caso de utilizar bordadura completa, as parcelas poderão ser formadas de 6 plantas, em 2 ou 3 linhas de plantio, ou 9 plantas em 3 linhas de plantio. Já para experimentos com cajueiro-anão--precoce, Rossetti et al. (1996) recomendam parcelas de 4 a 6 plantas úteis, em 2 fileiras, tanto com meia bordadura quanto em bordadura simples entre elas.

Enfim, fica o relato de que a redução de formas de competitividade, seja da copa ou do sistema radicular, por espaço, água, nutrientes e, principalmente, luz, são requisitos básicos para melhorar a produção e aumentar a vida útil do cajueiro (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

Abertura das covas ou dos sulcos de plantioSabe-se que um dos principais fatores para o bom desenvolvimento de uma

espécie perene é a capacidade de o sistema radicular explorar os nutrientes e a água do solo. Assim, torna-se importante, além de um adequado preparo do solo no pré-plantio, a abertura de covas profundas para essas espécies.

Como o cajueiro-anão-precoce é uma planta perene, que vai explorar uma mesma faixa de solo por alguns anos, recomenda-se a abertura de covas grandes nas dimensões mínimas de 40 cm de largura, 40 cm de comprimento e 40 cm de profundidade, totalizando um volume de 64 litros de solo. Em solos com maiores

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126 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

teores de argila (> 35%), recomenda-se a abertura de covas com dimensões ainda maiores, entre 50 cm e 60 cm para todas as dimensões mencionadas.

Em cultivos de grandes áreas, a abertura de sulcos de plantio pode proporcionar menores custos com mão de obra, além de maior rendimento de serviço. Nesse tipo de plantio, há um maior gasto de fertilizantes, pois todo o sulco é adubado; entretanto, como os solos da região produtora possuem baixos teores de matéria orgânica e de nutrientes essenciais, essa prática pode possibilitar uma maior área corrigida quando comparada ao volume de solo de uma cova, sendo considerado um investimento a longo prazo.

Para tal finalidade, utiliza-se o implemento agrícola chamado sulcador. Os sulcos são abertos com uma profundidade entre 30 cm e 40 cm, necessitando para tal que o solo esteja úmido. Em locais de topografia plana, pode ser realizado o sulcamento cruzado (BARROS, 1988b), em que o local de cruzamento dos sulcos irá determinar o local de plantio da muda.

A abertura e o preparo das covas ou do sulco de plantio (Figura 35) deve ser realizado entre 30 e 45 dias antes da data prevista do plantio (BARROS, 1988b; PARENTE; OLIVEIRA, 1995; OLIVEIRA, 2008). O preparo da cova consiste na aplicação dos fertilizantes indicados pelos resultados da análise do solo. Após a abertura da cova, no solo retirado dela são aplicados o calcário (se necessário), o adubo fosfatado (fonte de P), o adubo fonte de micronutrientes e o adubo orgânico curtido.

Figura 35. Sulco (A) e cova (B) abertos para o plantio de cajueiro.

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Como já citado anteriormente, o sistema radicular é responsável pela absorção de água e nutrientes. Por isso, um volume de solo (cova) bem preparado (adubado)

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127Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 36. Sulco (A) e cova (B) de plantio fechados após o preparo (adubação). Ambos estarão aptos para o plantio após 30 a 40 dias do fechamento.

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favorecerá um maior desenvolvimento do sistema radicular da planta, trazendo reflexos positivos tanto na produção quanto na longevidade produtiva do pomar.

Para o caso do cajueiro e de outras plantas perenes, erros ou omissão na adubação de fundação (covas ou sulcos), dificilmente poderão ser corrigidos após o plantio dessas mudas no campo. Tanto o calcário como o fósforo – importantes para o desenvolvimento do sistema radicular – quando aplicados a lanço (em cobertura), apresentam baixo poder de penetração no perfil do solo, sendo, por isso, recomendada a incorporação deles no solo na fase de pré-plantio das mudas.

Após o preparo das covas ou sulcos, elas são fechados novamente (Figura 36). Recomenda-se que sejam umedecidos de forma regular no intuito de favorecer a reação dos fertilizantes aplicados no solo. Por isso, é importante a abertura das covas na véspera ou início do período chuvoso, entre dezembro e janeiro (Nordeste) ou setembro e outubro (Sudeste), para não haver dispêndio com irrigação.

Além do objetivo de promover o início da reação química dos adubos, o fechamento das covas ou sulcos serve também para o solo se assentar na cova, evitando, assim, o posterior “afogamento” do colo da planta, fato que pode causar a morte das mudas de cajueiro.

Em áreas com incidência de cupins, é recomendável que, após a abertura das covas, elas permaneçam abertas por pelo menos 15 dias, para que ocorra a solarização do solo, minimizando, assim, tal problema (OLIVEIRA, 2008).

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128 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

A maioria dos solos destinados à cajucultura no Nordeste são arenosos, ácidos (pH baixo), pobres em matéria orgânica, com baixo teor de nutrientes, baixa capacidade de troca catiônica (CTC) e baixa saturação por bases. Assim, a utilização de matéria orgânica desde o plantio torna-se fator de extrema importância, para a melhoria das características físicas e químicas do solo (MALAVOLTA, 2006).

A matéria orgânica pode ser encontrada ou produzida nas próprias propriedades agrícolas, pois, além dos estrumes de animais, podem ser utilizados compostos orgânicos elaborados com os restos de culturas, como, por exemplo, espigas de milho, casca de arroz, palhada do feijão, bagaço de cana-de-açúcar, palha de carnaúba, serragem, sobra de cocheiras (silagem) e camas de animais (cama de aviário).

É de suma importância que o cajucultor tenha o máximo de cuidado com a aplicação de fontes orgânicas não decompostas na cova de plantio. A matéria orgânica não decomposta está em processo de fermentação (maturação), apresentando alta temperatura. Se aplicada na cova, a matéria orgânica em fermentação (não curtida) causará a morte das raízes mais finas, responsáveis pela absorção de água e nutrientes, fato que, provavelmente, resultará na morte da planta. Para verificar se a matéria orgânica está curtida, ela deve apresentar coloração escura e temperatura amena quando tocada pelas mãos (Figura 37).

Quanto à aplicação de calcário na cova, deve-se ter o cuidado para que não seja realizada a supercalagem desta, isto é, a aplicação de doses elevadas de calcário. Esse fato pode interferir na disponibilidade de outros nutrientes (principalmente os micronutrientes), devido à elevação do pH (MALAVOLTA, 2006).

Figura 37. Composto orgânico pronto para uso, apresentando coloração escura e textura fina. Quando tocada pelas mãos, a matéria orgânica deve apresentar temperatura amena.

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129Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Abaixo, encontram-se as fórmulas de recomendação da quantidade de calcário a ser aplicada na cova de plantio (Tabela 1).

Dimensões da cova (cm)Largura x comprimento x profundidade

Volume de solo (L ou dm3) Fator

Quantidade de calcário a ser colocada na cova de

plantio (gramas)

40 x 40 x 40 64 32,0 QC = NC (t ha-1) x 32

50 x 50 x 50 125 62,5 QC = NC (t ha-1) x 62,5

60 x 60 x 60 216 108 QC = NC (t ha-1) x 108

Tabela 1. Fórmulas para o cálculo da quantidade de calcário (QC) a ser colocada na cova de plantio, de acordo com a necessidade de calcário (NC) a ser aplicada em área total, determinada por meio da análise química do solo.

Para exemplificar, consideraremos uma recomendação de calagem (NC) de 2,0 toneladas por hectare (t ha-1). A quantidade de calcário a ser aplicada (QC) na cova de plantio, com dimensões de 40 cm x 40 cm x 40 cm, será de:

QC = 2,0 x 32

QC = 64 g por cova

Comumente, observamos recomendações fixas e sem critério (não baseadas na análise de solo) da aplicação de 100 g de calcário (QC) numa cova 40 cm x 40 cm x 40 cm. Se utilizarmos a equação acima, teremos:

100 = NC x 32

NC = 3,12 t ha-1

Constata-se que tal dose de 100 g de calcário por cova equivale a uma elevada dose de calcário aplicada por área. No litoral cearense, por exemplo, as doses de calcário recomendadas geralmente não ultrapassam 2 t ha-1. Assim, uma dose definida empiricamente pode se transformar em prejuízo para o produtor.

PlantioO plantio das mudas de cajueiro no local definitivo deverá ser realizado após 30

a 45 dias do preparo (adubação) e fechamento das covas ou do sulco.No dia do plantio, na parte central da cova ou do ponto determinado no sulco,

abre-se um buraco (“coveta”) na mesma dimensão da embalagem que contém a muda (Figura 38).

Page 54: Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

130 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Figura 38. Abertura da coveta no local de plantio preparado com 30 a 45 dias de antecedência.

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Figura 39. Plantio da muda de cajueiro, sem o recipiente, na coveta. A retirada do recipiente é obrigatória.

Figura 40. Muda de cajueiro-anão- -precoce recém-plantada no sulco.

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Quando as mudas forem provindas de sacolas plásticas, recomenda-se fazer um corte delgado (≈ 3 cm) no fundo da sacola para a eliminação de possíveis raízes enoveladas no fundo, fato que, geralmente, não ocorre com aquelas produzidas em tubetes.

Posteriormente, retira-se a embalagem e coloca-se a muda na coveta (Figura 39). Em seguida, fecha-se a coveta com solo pressionando-o, para que haja maior contato entre o substrato da muda e o solo (Figura 40).

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131Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 41. Bacia feita em torno da muda de cajueiro recém-plantada (A) para melhor contenção da água aplicada (B) no período pós-plantio.

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Após o plantio das mudas de cajueiro no campo, comumente é feita uma bacia de aproximadamente 50 cm a 60 cm de raio em volta da planta, com o intuito de reter a água aplicada nos primeiros dias após o plantio (Figura 41). Nessa bacia, se possível, recomenda-se também utilizar algum tipo de cobertura morta (mulching), que pode ser obtida de materiais vegetais disponíveis na região, como a bagana de carnaúba, palhadas de capins (sobras do roço), restos de culturas (palha de feijão e milho) entre outros. Essa prática apresenta as vantagens de diminuir a perda da água do solo por evaporação, manter a temperatura do solo amena, realizar o controle físico das plantas daninhas e, a longo prazo, aumentar o teor de matéria orgânica no solo.

Ao término do plantio, as mudas deverão ficar com o colo a 3 cm da superfície do solo. Elas deverão ser amarradas a tutores (estacas utilizadas para marcação das covas) enterrados próximo à planta, prática essa que evita o tomba-mento por ventos fortes (Figura 42).

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Figura 42. Muda de cajueiro-anão-precoce amarrada em um tutor. Essa prática evita o tombamento da muda causado pelos ventos fortes.

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132 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

É muito comum observarmos erros grosseiros no plantio do cajueiro, como, por exemplo, mudas com o colo afogado (Figura 43), decorrente do mal preparo da cova (não assentamento do solo).

Figura 43. Mudas com afogamento de colo devido ao erro no plantio (A). Nesse caso, a muda estava enterrada acima do ponto de enxertia, necessitando de outro serviço de mão de obra (elevando os custos) para a correção do problema (B).

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A B

Outro erro comum e grave é abrir a cova, adubá-la e plantar as mudas num mesmo momento. Não é raro produtores abrirem um pequeno buraco com a cavadeira (10 cm a 15 cm de diâmetro e 15 cm a 20 cm de profundidade), depositando os adubos no fundo da cova (sais), sem misturá-los, e plantando a muda logo em seguida. O resultado é que, em poucos dias, as raízes das mudas em desenvolvimento entram em contato com os sais depositados e não misturados no fundo da cova. Em decorrência disso, elas morrem por desidratação, fato que refletirá na parte área com o amarelecimento das mudas, com grande probabilidade de morte, e necessidade de replantio (Figura 44). Assim, o produtor que economizou serviço no início, gastará com novas mudas e outro serviço de replantio.

ReplantioQuando necessário, o replantio das mudas de cajueiro deverá ser realizado

o mais breve possível, pois, com o término da estação chuvosa, o replantio tardio pode não ser eficiente. Devem ser substituídas as mudas mortas e aquelas com desenvolvimento lento (fracas) ou anormal (defeituosas).

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133Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 44. Práticas errôneas de plantio: buracos abertos em área sem prévio preparo (A); adubo aplicado no fundo da cova sem ser misturado (B); muda com as folhas amareladas já no primeiro mês após o plantio (C); e morte da muda decorrente dos danos no sistema radicular (D).

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A taxa de replantio de mudas enxertadas de cajueiro-anão-precoce em cultivo de sequeiro está entre 20% a 25% (PARENTE; OLIVEIRA, 1995). Quando o plantio é realizado no início do período chuvoso e/ou quando se pratica a irrigação no primeiro ano de plantio, a taxa de replantio pode ser bem menor que 20%.

Quebra-ventosNo cultivo do cajueiro, o uso de quebra-ventos ainda não é uma prática usual.

Entretanto, seu uso é recomendável, pois as regiões produtoras, principalmente a litorânea, apresentam constância anual de ventos.

Os ventos contínuos e fortes (> 7 m s-1), principalmente no mês de agosto, provocam quebra de galhos das plantas, queda de botões florais, flores e frutos novos (maturis), além do tombamento de mudas.

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134 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Figura 45. Fileiras de quebra-ventos em pomares de cajueiro-anão-precoce. As espécies mais utilizadas são o sabiá ou sansão-do-campo (A) e o nim (B).

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Deve-se ter o cuidado para que o plantio dessas espécies não seja muito próximo às plantas de cajueiro, pois, como já relatado, o cajueiro necessita de intensa radiação solar para produzir, e também para evitar possíveis competições por água e nutrientes.

AdubaçõesO efeito da adubação no cajueiro já foi estudado cientificamente por diversos

pesquisadores. No Brasil, foi comprovado que o cajueiro responde a essa importante prática de manejo, tanto em relação à aplicação dos adubos minerais (ALMEIDA et al., 1992; 1995b; CRISÓSTOMO et al., 2003) quanto à dos adubos orgânicos (LIMA et al., 2003).

Almeida et al. (1995b) constataram que, numa população de cajueiros-anões--precoces adubados, obtiveram incrementos médios de 248% no número de frutos por planta, 288% no peso da castanha e 330% no peso do pedúnculo, quando comparados aos não adubados.

Neste tópico, são focados os procedimentos adequados para a prática da adubação, pois maiores detalhes sobre os aspectos nutricionais do cajueiro são abordados na Parte 2, Capítulo 1.

É comum, em alguns pomares, o plantio do nim (Azadirachta indica) – planta exótica de excelente adaptação tanto no litoral quanto no Sertão nordestino –, e do sabiá ou sansão-do-campo (Mimosa caesalpineafolia) – uma fabácea nativa do próprio Semiárido nordestino (Figura 45).

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135Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

A partir do plantio no campo, quando já foram realizadas a correção da acidez do solo e a adubação de plantio (na cova ou sulco); as adubações realizadas na cultura do cajueiro são a de formação e a de produção.

Adubação de formaçãoConsiste nas adubações a serem realizadas após o plantio da muda no campo

até ela completar o quarto ano de idade. Nessa fase, as mudas crescem e se desenvolvem até atingirem o seu estabelecimento, quando, então, se tornam adultas e atingem os picos de produção de frutos.

A adubação de formação no primeiro ano inicia-se aos 60 dias após o plantio (DAP) da muda no campo (OLIVEIRA, 2008). Como as fontes dos macronutrientes Ca e Mg (calcário) e P (adubo fosfatado), e dos micronutrientes (FTE) já foram aplicadas no plantio, essa adubação baseia-se na aplicação, em cobertura, dos outros dois macronutrientes, o nitrogênio (N) e o potássio (K).

A quantidade de K a ser aplicada é estabelecida por meio dos resultados da análise química do solo. Já a quantidade de N a ser aplicada é pré-estabelecida de acordo com a idade das plantas.

Os fertilizantes nitrogenados (ureia, sulfato de amônio, MAP, entre outros) e potássico (cloreto de potássio) deverão ser aplicados no solo ao redor das plantas (≈ 25 cm do colo) (Figura 46) em três parcelas, sendo uma no início (60 DAP), uma no meio (90 DAP) e outra no fim da estação chuvosa (120 DAP). Cada parcela corresponderá a 1/3 da quantidade total da dose recomendada.

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Figura 46. Adubação de cobertura no primeiro ano, em cajueiro-anão-precoce. O local onde o adubo será aplicado deve estar limpo, pois o adubo tem que entrar em contato direto com o solo (A). A aplicação deve ser realizada ao redor da planta (≈ 25 cm do caule) (B).

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136 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Em cultivos irrigados, o parcelamento das adubações poderá ser mensal. Assim, ocorrerá um maior aproveitamento dos fertilizantes, bem como minimizará sua lixiviação (CRISÓSTOMO et al., 2003).

Nas adubações subsequentes, no 2o, 3o e 4o ano, a recomendação deverá seguir o mesmo sistema de aplicação do primeiro ano; contudo, o P também deverá ser aplicado em cobertura. O N e o K são aplicados em três parcelas iguais, já o P pode ser aplicado em uma única parcela, logo no início do período chuvoso. Caso o produtor opte ou necessite realizar alguma adubação após o período chuvoso, haverá a necessidade de providenciar uma maneira de irrigar o local onde o adubo foi aplicado.

As pessoas que irão realizar a adubação devem saber que, em contato com as folhas, os adubos (sais) tendem a provocar lesões nelas e até no próprio caule (Figura 47). Como mencionado anteriormente, os adubos devem entrar em contato direto com o solo.

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Figura 47. Adubo nitrogenado (ureia) aplicado em local incorreto – em contato com o caule (A). O mesmo adubo foi erroneamente aplicado sobre as folhas, provocando a queimadura delas (B). Operação de correção do erro (C) com a mistura do adubo ao solo (D). Devido a um erro de aplicação, o produtor onera seu custo de produção por ter que realizar outra prática, a correção.

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137Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Adubação de produçãoConsiste na adubação a ser realizada a partir do quinto ano de idade, época em

que a planta começa a estabilizar seu crescimento e a expressar todo o seu potencial produtivo. A quantidade de adubo a ser aplicada nessa fase varia de acordo com a produtividade esperada e com os resultados da análise química do solo.

Nas plantas adultas, os adubos podem ser aplicados ao redor da planta, sob a projeção da copa, sendo recomendado, na prática, uma área circular que compreenda 2/3 pra dentro e 1/3 pra fora da projeção da copa (Figura 48).

As quantidades dos adubos a serem aplicados também deverão ser divididas em 3 parcelas iguais em cultivos de sequeiro. A época ideal para aplicação é durante o período chuvoso.

Figura 48. Local correto de aplicação dos adubos em cajueiro-anão-precoce em produção.

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Podas

Em plantas frutíferas, as podas têm como finalidade estabelecer um balanço entre o crescimento vegetativo e a frutificação. Desse modo, uma poda bem feita proporciona a obtenção de plantas adultas vigorosas e mecanicamente fortes, capazes de suportar a grande produção que delas se espera. Ademais, plantas com adequada conformação de copa facilitam os tratos culturais e os tornam menos dispendiosos, além de tenderem a apresentar melhor estado fitossanitário, com consequente incremento na produção e na qualidade dos frutos (MIKA, 1986; SOUSA, 2005).

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138 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Para a prática da poda, o produtor necessita de certo conhecimento técnico, visto que a eliminação excessiva de ramos pode resultar em decréscimo na produção. Para o cajueiro, a poda ocorre em função do porte e do hábito de crescimento dos genótipos, da forma de condução dos pomares, e do tipo de colheita a ser praticada (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

Os cajueiros jovens devem ser conduzidos de modo a formar uma copa compacta, com ampla superfície produtiva e livre de entrelaçamento. Em pomares adultos, há a necessidade de efetuar um adequado balanço entre o crescimento vegetativo e a frutificação, mantendo a planta com adequada iluminação e livre de ramos doentes ou praguejados.

As principais podas recomendadas para a cultura do cajueiro são a desbrota, a retirada de panículas, a poda de formação e a poda de limpeza e manutenção.

DesbrotaConsiderando que o cajueiro-anão-precoce provém de uma muda enxertada,

a desbrota consiste na retirada dos ramos oriundos do porta-enxerto, localizados na base da planta. O que interessa para a produção de frutos é o genótipo copa, assim todos os ramos oriundos do porta-enxerto desde o plantio da muda no campo deverão ser retirados (Figura 49).

Figura 49. Brotos oriundos do porta-enxerto que deverão ser eliminados.

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139Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Devido à não realização da desbrota, não é raro encontrar cajueiros adultos produzindo frutos de diferentes colorações (Figura 50). Isso porque os brotos do porta-enxerto se desenvolveram e se misturaram com os ramos do genótipo copa.

Figura 50. Cajus de diferentes colorações numa mesma planta, devido à mistura de ramos do porta-enxerto (pedúnculo amarelo) e do genótipo copa (pedúnculo vermelho).

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No primeiro ano, os cajueiros novos devem ser conduzidos em haste única, deixando-os com apenas um ramo, de preferência o mais vigoroso e vertical (Figura 51).

Figura 51. Planta nova de cajueiro-anão-precoce com caule bifurcado (A) submetida à desbrota (B) para crescer em haste única.

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140 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Figura 52. Cajueiro-anão-precoce aos 150 dias após o plantio, conduzido em haste única (A); e aos 360 dias após o plantio, com a copa formada acima dos 50 cm em relação à superfície do solo (B).

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A prática constante da desbrota apresenta como principais vantagens o menor desgaste da planta no período seco pela redução da área foliar, equilíbrio entre o sistema radicular e a parte aérea e redução dos custos da poda nos anos subsequentes (BARROS, 1988b; PARENTE; OLIVEIRA, 1995), pois muitos dos ramos grossos eliminados na poda da planta adulta poderiam ter sido cortados na época de desbrota.

Retirada de panículasComo já mencionado, o cajueiro-anão-precoce emite panícula (estrutura

reprodutiva) de forma natural antes de completar 1 ano de idade (Figura 53). Essa precocidade é ainda maior em mudas enxertadas, pois o enxerto provém de uma planta adulta, sendo comum observar, ainda no viveiro, mudas com panículas.

Tanto no viveiro de mudas como nos dois primeiros anos após o plantio, recomenda-se a eliminação de todas as panículas surgidas. As partes reprodutivas da planta (panículas, flores e frutos) são o dreno principal de nutrientes e fotoassimilados. Assim as partes vegetativas (ramos, folhas, raízes) receberão menores quantidades desses produtos, o que poderá acarretar em atraso no desenvolvimento (crescimento) da planta.

Além da retirada dos brotos do porta-enxerto, recomenda-se também a retirada de ramos laterais do genótipo copa que estão posicionados nos primeiros 50 cm de altura da planta (Figura 52). A desbrota normalmente é realizada após o período chuvoso, funcionando como uma poda de formação do cajueiro (BARROS, 1988b).

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141Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 53. Cajueiro-anão-precoce ‘BRS 189’ com panícula, aos 30 dias após o plantio (A). Ela deve ser retirada durante os primeiros anos do cajueiro (B).

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A B

Algumas observações realizadas no campo permitem inferir que os clones de cajueiro-anão-precoce ‘BRS 189’ e ‘CCP 76’ apresentam maior precocidade em emissão de panículas, bem como maior número de panículas emitidas no primeiro ano, exigindo, assim, maior número de operações de retirada de panículas.

Poda de formaçãoEssa poda consiste na formação de uma copa adequada nas plantas jovens.

Essas plantas devem ser conduzidas de modo a formar uma copa compacta, com ampla superfície produtiva e livre de entrelaçamento. Desse modo, facilitará a mecanização dos cultivos, as operações de adubação, a roçagem do mato e, no caso de cultivo irrigado, a inspeção do sistema de irrigação.

Os jovens cajueiros devem ser mantidos em haste única até pelo menos nos primeiros 50 cm de altura. A partir dessa altura, deixa-se a planta emitir de forma natural suas ramificações laterais.

A retirada das panículas e a desbrota podem ser realizadas simultaneamente. Para essas práticas, é imprescindível o uso de tesouras com lâminas afiadas, conferindo cortes retos e precisos.

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142 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Ramos direcionados para o solo e brotos que surgirem nos 50 cm iniciais da planta também deverão ser removidos. Pode-se selecionar de 3 a 4 ramos laterais distribuídos em diferentes pontos, tanto na posição (altura) quanto no lado (ponto cardeal) da planta para a formação de uma boa copa. Recomenda-se um ramo por ponto cardeal distribuídos em forma de espiral na planta.

Devem ser evitados ramos originados em um mesmo ponto em lados opostos, pois eles apresentam maior possibilidade de quebra quando adultos, danificando o porte e podendo também rachar o tronco, fato que poderá matar a planta.

Poda de manutenção e limpezaNo cajueiro adulto, a produção é periférica e concentrada nos 2/3 inferiores da

copa (OLIVEIRA; LIMA, 2000). Assim, deve-se evitar a eliminação excessiva de ramos nessa posição (OLIVEIRA, 2008), pois, segundo Barros (1988b), uma poda exagerada pode resultar na diminuição da produção de frutos, uma vez que há correlação positiva e significativa entre a área da copa e a produção de frutos.

Recomenda-se, portanto, a priorização de evitar os entrelaçamentos de ramos de plantas vizinhas, bem como de ramos de uma mesma planta no interior da copa,

Figura 54. Cajueiros-anões-precoces jovens sem (A) e com (B) condução de copa.

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Após o surgimento da ramificação lateral, procede-se, quando necessário, à eliminação de ramos com crescimento anormal e ramos vigorosos que crescem na vertical com poucas ramificações (improdutivos) denominados de “ladrões” ou “chupões” (Figura 54). Esses últimos, por crescerem rápido, sombreiam os ramos produtivos, o que é prejudicial para o cajueiro. Além disso, servem como fonte de inóculo de doenças e foco de infestação de pragas.

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143Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Sob o ponto de vista fisiológico, o objetivo dessa poda é intervir sobre a parte aérea da árvore, de tal forma que o maior número possível de folhas seja exposto ao sol, já que aquelas situadas na sombra têm balanço energético negativo, com baixa produção de fotoassimilados (MIKA, 1986).

A prática da poda pode influenciar a área foliar e a estrutura da folha, melhorando a interceptação e distribuição da luz dentro da copa da planta. Isso promove efeitos diretos e indiretos na fotossíntese, culminando em maior produção de frutos (MIKA, 1986).

Araújo et al. (2010) relataram que, no Estado de São Paulo, os cajucultores que praticam a poda de manutenção vêm colhendo frutos com qualidade, o que lhes proporciona a comercialização no mercado de frutas frescas, atingindo, assim, maior preço no produto. Outras vantagens relatadas por esses autores são os aumentos nas eficiências da mão de obra na prática da colheita e nas pulverizações para controle de pragas e doenças.

Figura 55. Cajueiros jovens sem poda de manutenção (A) e com poda. O formato ideal da copa é do tipo “guarda-chuva” (B).

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além de eliminar ramos ladrões, doentes e praguejados. Os ramos de crescimento intermitente, chamados extensivos, que não emitem panículas, também deverão ser eliminados quando mal posicionados na planta, pois são esses ramos que podem alterar a forma natural da copa do cajueiro, dando-lhe um aspecto esgalhado, não adequado para o cajueiro (OLIVEIRA et al., 2005) (Figura 55).

Deve-se preservar a copa com o maior número possível de ramos produtivos (BARROS, 1988b), porém de forma a se deixar uma superfície frutificante proporcional ao porte da planta. Ademais, deve-se assegurar um distanciamento entre as unidades produtivas que permita uma adequada produção (SOUSA, 2005).

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144 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Figura 56. Cajueiro-anão-precoce ‘BRS 265’ antes (A) e após (B) a poda de manutenção. Foram removidos os ramos inferiores direcionados ao solo, os ramos “ladrões” no interior da copa e as extremidades dos ramos superiores para manutenção do porte baixo.

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Recomenda-se que a poda de manutenção seja realizada cerca de um mês após o fim da colheita dos frutos (PARENTE; OLIVEIRA, 1995), pois é importante dar à planta um período de repouso após a colheita, para que haja oportunidade para o acúmulo de reservas, tanto nutritivas quanto hormonais, necessárias a uma nova e adequada brotação (SOUSA, 2005). Permite-se, assim, a recuperação da planta, visto que, durante a maturação dos frutos, ela acumula nos ramos a maior parte de suas reservas.

A retirada de ramos improdutivos (praguejados, secos, quebrados, lascados, entre outros), propiciará um maior arejamento e maior penetração de raios solares no interior da planta (Figura 56), favorecendo a obtenção de uma boa produção de frutos com qualidade.

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145Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Como a poda envolve cortes de numerosos brotos e galhos pequenos, se realizada incorretamente, ela poderá induzir a uma excessiva brotação na planta, o que dificultará a penetração de luz para os órgãos responsáveis pela produção de frutos no interior da copa (MIKA, 1986). Se os ramos mais grossos (grande quantidade de reserva acumulada) forem cortados próximo à sua base (encurtamento), poderá haver produção excessiva de ramos vegetativos.

A poda drástica (encurtamento de todos os ramos) é realizada apenas nos campos de matrizes de cajueiro (Figura 57), pois almeja-se a obtenção de estruturas vegetativas para a prática da propagação vegetativa e não a produção de frutos.

Figura 57. Poda drástica em matrizes de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ realizada no mês de janeiro (A), em Pacajus, CE. Excesso de brotos novos em ramos grossos (B). Os brotos novos surgem a partir dos 14 dias da prática da poda (C). Matriz de cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’ no mês de maio (D).

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Figura 58. Cajueiros submetidos à eliminação dos ramos inferiores para facilitar o livre trânsito de animais.

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Quando não se realiza uma intervenção regular na copa da planta (ausência de poda de manutenção), os pomares adultos estarão sujeitos a problemas graves ocasionados pelo fechamento da copa, como competição por água e luz, diminuição da área foliar e ocorrência acentuada de ramos secos e praguejados (Figura 59). Esses problemas ocasionarão uma redução drástica na produção (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

Nos cajueirais onde são praticados consórcios com pecuária, os ramos inferiores são retirados anualmente após a colheita (Figura 58). O objetivo principal dessa prática é evitar que os animais esbarrem e quebrem os ramos inferiores das plantas, o que pode ocasionar também um possível dano no seu tronco. A eliminação dos ramos mais baixos também facilita o livre acesso dos animais sob a copa das plantas, oferecendo-lhes sombra nos períodos mais quentes do dia e facilidade para o consumo dos pedúnculos caídos no solo (não aproveitados para a comercialização).

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147Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 59. Cajueiro-anão-precoce ‘CCP 76’, aos 10 anos de idade, sem controle de crescimento, e com intenso sombreamento no interior da copa (A). Nesse caso, a produção de frutos fica restrita à periferia da planta e apenas os frutos do terço inferior serão colhidos manualmente. Pomar em que as plantas não apresentam ramos produtivos em seu interior devido à baixa iluminação (B). Ramo praguejado no interior da copa de um cajueiro adulto (C). Ramos rasteiros e entrelaçados com severo ataque de mosca-branca (D). Eliminação de ramos praguejados pela prática da poda de limpeza (E). Ramo rasteiro em que o fruto entra em contato com a superfície, depreciando-o (F).

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Recomenda-se, logo após a prática de qualquer uma das podas mencionadas, a aplicação de um fungicida cúprico (oxicloreto de cobre: 60 g do produto comercial em 20 litros de água) nas partes cortadas para proteção dos ferimentos contra a ação de patógenos.

Manejo de plantas daninhasUma planta espontânea pode ser considerada daninha se, em determinado

momento, estiver interferindo negativamente nos objetivos do produtor rural (ASSOCIAÇÃO..., 2006). Entretanto, essa mesma planta espontânea pode ser útil em outras situações.

Na cultura do cajueiro, Barros (1988b) afirma que o rendimento da cultura é sensivelmente afetado pela competição com as plantas daninhas. Por outro lado, essas plantas podem também, desde que bem manejadas, trazer benefícios ao pomar, seja evitando, pelo sombreamento, a incidência direta dos raios solares no solo, seja diminuindo os efeitos da erosão dele, seja aumentando a matéria orgânica nele e reciclando nutrientes (AQUINO et al., 2003; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2001).

As plantas daninhas competem com as culturas por água, nutrientes, luz e gás carbônico (CO2). A competição pelos dois primeiros fatores são as mais importantes para as espécies perenes de grande porte.

Com relação à competição por água, as plantas daninhas apresentam alta capacidade de extrair a água do solo. Por isso, é normal observar que, em alguns agroecossistemas, em dias quentes e secos, as plantas (ou folhas) da cultura ficam murchas e as plantas daninhas túrgidas, sem qualquer sinal de deficit hídrico (ASSOCIAÇÃO..., 2006).

Do mesmo modo, elas também apresentam grande capacidade de extrair do ambiente os elementos essenciais (nutrientes) ao seu crescimento e desenvolvimento. Em consequência disso, essas plantas exercem forte competição com as culturas pelos nutrientes essenciais, os quais, em grande parte, estão em pequenas quantidades nos solos nordestinos. As espécies infestantes, mesmo em baixas densidades, acarretam decréscimos consideráveis no conteúdo relativo de nutrientes de plantas cultivadas (ASSOCIAÇÃO..., 2006).

Já a competição por luz é mais importante na fase inicial da cultura, uma vez que algumas espécies de plantas daninhas podem crescer mais que as mudas de cajueiro, sombreando-as, fato que pode prejudicar e atrasar o normal desenvolvimento da planta.

As plantas daninhas podem, ainda, comprometer indiretamente a cultura agrícola por hospedarem pragas e doenças nocivas ao cajueiro (AQUINO et al., 2003), bem como dificultar os tratos fitossanitários e culturais, como, por exemplo, a irrigação por microaspersão e a adubação (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2001).

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149Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Pelo lado benéfico, Maia et al. (2004), em Pacajus, CE, observaram que a manutenção de plantas espontâneas como cobertura do solo (arenoso) mostrou-se eficiente na proteção deste durante todo o ano. Verificou-se que as espécies Wedelia padulosa, Slephontopur hirtiflorus, Setaria geniculata, Leptochloa filiformis, Hyptis suaveolens, Alternanthera brasiliana e Porophyllum ruderale apresentaram potencial para uso como adubos verdes, com especial capacidade de acumular K, Ca e Mg.

Outro fato relevante é que várias espécies de plantas espontâneas têm grande importância por fornecerem néctar para as abelhas produzirem o mel, produto de grande importância para os agricultores familiares do Nordeste. Ademais, ao atrair as abelhas, estas também visitarão as flores do cajueiro, realizando a polinização cruzada e, por consequência, auxiliando na produção de frutos.

Oliveira e Oliveira (2001) realizaram um levantamento das principais espécies de plantas daninhas presentes nos pomares de cajueiro no litoral cearense. As principais espécies de folhas largas são: Borreria verticillata (vassourinha), Ipomoea glabra (gitirana), Ipomoea fistulosa (salsa), Waltheria indica (malva), Mimosa pudica (sensitiva) e Cassia tora (fedegoso). Já as espécies de folhas estreitas são: Alternanthera brasiliana (cabeça branca), Panicum maximum (capim-colonião), Mollugo verticillata (capim-tapete), Cenchrus echinatus (carrapicho), Eleusine indica (capim-pé-de-galinha) e Cyperus rotundus (tiririca).

Na região de Pacajus, CE, as espécies predominantes pertencem à família Poacea (gramínea) como o Panicum maximum e Setaria geniculata (capim-rabo--de-raposa). Essa predominância é atribuída pelo potencial dessas espécies em se desenvolverem em solos de baixa fertilidade e de luminosidade variada (tanto em áreas novas como em pomares fechados). Na época seca, há predominância das espécies Alternanthera brasiliana, Mimosa pudica, Leptochloa filiformis e Senna rizzini, pois apresentam maior resistência ao deficit hídrico (MAIA et al., 2004).

Outras espécies identificadas na região produtora de Pacajus, CE, são Wedelia padulosa, Hyptis suaveolens, Slephontopur hirtiflorus, Ipomoea purpurea (corda-de--viola ou campainha), Evolvulus sp., Borreria verticillata, Sida cordifolia (guanxuma ou mata-pasto), Merremia cissoides (corda-de-viola), Sida linifolia (guanxuma), Triunfetta ssp. (carrapichão), Pavonia cancellata e Porophyllum ruderale.

No Piauí, na região produtora dos municípios de Picos, Pio IX, Francisco Santos e Santo Antônio de Lisboa, Aquino et al. (2003) identificaram, como as principais espécies de plantas daninhas que infestam a cultura do cajueiro, a Solanum stipulaceum (jurubeba), Swartzia flaemingii (rama-de-bezerro), Cnidoscolus urens (cipó-de-tatu), Stipnopappus sp. (balaio-de-velho) e Cenchrus echinatus (capim--carrapicho). Essa última espécie tem significativa ocorrência nas áreas onde o solo é movimentado com maior frequência por meio de máquinas (grades).

Quanto ao manejo de plantas daninhas na cultura do cajueiro, sabe-se que este é mais sensível à competição das plantas daninhas na fase inicial de crescimento

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150 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

(AQUINO et al., 2003). Por isso, o controle nos primeiros meses após o plantio é uma prática indispensável para o rápido crescimento do sistema radicular e normal desenvolvimento da planta (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

No primeiro ano após o plantio, o sistema radicular da planta possivelmente não se expandirá lateralmente a uma faixa superior ao da área da bacia feita para aplicação de água por ocasião do plantio. Assim, o controle de plantas daninhas deverá ser realizado principalmente nessa região, por meio do “coroamento” da planta.

É importante frisar que a competição por água e nutrientes ocorre principalmente no local de exploração das raízes do cajueiro. Assim, durante todo o primeiro ano, a área em torno da muda deverá ser mantida limpa (Figura 60).

Figura 60. Pomar de cajueiro-anão-precoce aos 9 meses após o plantio. Durante sua fase jovem, o cajueiro deve ser mantido livre da competição com plantas daninhas.

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É comum e benéfica a utilização de cobertura morta – obtida na roçagem das plantas daninhas (mulching) ou de outros materiais – em torno das mudas recém--plantadas, e mesmo sob a projeção da copa das plantas adultas. Essa cobertura morta forma uma camada protetora sobre o solo, exercendo efeito físico sobre as sementes e a população de plantas daninhas, principalmente as jovens. Ademais, impede ou minimiza a passagem de luz e podem liberar substâncias alelopáticas que proporcionam condições adversas para a germinação e o estabelecimento de espécies indesejadas.

Em pomares adultos, deve-se realizar o controle de plantas daninhas na área de projeção da copa, local onde está a grande maioria das raízes responsáveis por absorver água e nutrientes. Ademais, é nessa área que ocorre a colheita das castanhas.

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151Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Na região Nordeste, tem-se verificado crescente utilização de máquinas, como a grade de disco, para o controle de plantas daninhas nas entrelinhas do pomar (OLIVEIRA et al., 2005) (Figura 61). Essa prática tem como vantagem a eficiência do serviço; no entanto, resulta em efeitos negativos sobre as propriedades e características do solo. A exposição direta do solo à irradiação solar favorece a perda de água do solo para a atmosfera (evaporação), tornando-o mais seco. Do mesmo modo, também ocorre a elevação de sua temperatura, resultando num aumento da velocidade de decomposição da matéria orgânica, com consequente decréscimo na atividade biológica do solo.

Considerando que a maioria dos solos cultivados com cajueiro apresenta textura arenosa, baixa agregação de suas partículas e baixo teor de matéria orgânica, a exposição direta da superfície à ação das chuvas e ventos também pode provocar a erosão, com consequente diminuição da biodiversidade local.

A eliminação da flora nativa e de várias espécies de artrópodes resultará em maior incidência de pragas (MESQUITA, 1993) e um possível surgimento de novas pragas, pois o cajueiro pode hospedar cerca de uma centena de artrópodes (MESQUITA; MELO, 1991). Com poucas espécies de plantas no pomar, é muito provável que os inimigos naturais das pragas não estarão em número suficiente para manter a população destas abaixo do nível de dano, sendo, portanto, necessário o uso de medidas de controle muitas vezes associadas ao aumento do uso de agrotóxicos (BLEICHER et al., 1997).

No sistema racional de cultivo, como, por exemplo, na Produção Integrada de Caju (PI-Caju), recomenda-se adotar o manejo integrado de plantas daninhas,

Figura 61. Manejo de plantas daninhas comum na região Nordeste: passagem da grade nas entrelinhas do pomar (A) e gradagem cruzada (B).

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utilizando métodos preventivos, mecânicos e culturais para o controle (OLIVEIRA et al., 2005), antes que seja necessário o controle químico por meio de herbicidas. Nesse sistema, os usos de arados e grade lateral para o controle de plantas daninhas são proibidos, sendo permitido o uso de roçadeiras nas entrelinhas, desde que se mantenha a cobertura vegetal com pelo menos 5 cm de altura (OLIVEIRA, 2003).

Com essa prática, o solo da entrelinha estará protegido da exposição direta e prolongada tanto do sol como da chuva, evitando sua rápida degradação. Ressalta-se também, que, como a maioria dos solos da região produtora é naturalmente pobre em matéria orgânica, a roçagem do mato seguida de sua posterior decomposição torna-se uma prática importante para aumentar o teor de matéria orgânica nos solos ao longo dos anos.

Já as linhas de plantio (local em que a maioria das raízes se concentram) devem ser mantidas limpas (sem competição), ou, como alternativa, que seja realizado apenas o coroamento das plantas (OLIVEIRA, 2003), que consiste na limpeza da área sob a copa.

O coroamento comumente é realizado por meio de capinas manuais (Figura 62), realizadas com enxadas; ou capinas mecânicas, com o uso de máquinas carpideiras (Figura 63). O rendimento médio da capina manual realizada por um homem está entre 120 a 200 covas por dia. A capina mecânica, realizada com o uso de implementos, apresenta alto rendimento de serviço, com rendimentos de até 10.000 covas por dia (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2001).

Figura 62. Manejo de plantas daninhas comum em pequenas propriedades. Consiste no coroamento da planta por meio de capina manual.

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Por ano, o número de capinas varia de acordo com a região e o regime hídrico. No geral, recomenda-se que a planta permaneça o maior tempo possível livre da concorrência com as plantas daninhas.

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153Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

A utilização de capinas mecânicas é muito comum na região, principalmente por ser uma operação mais rápida e econômica para grandes áreas. Cita-se também como causa da adoção dessa prática o crescente custo e escassez de mão de obra no campo. Entretanto, o uso excessivo de máquinas e implementos, desde o preparo do solo para o plantio até a colheita das culturas, pode promover efeitos negativos no solo. Além de expor o solo à radiação solar e às chuvas, o uso excessivo de máquinas favorece a formação de camadas compactadas e/ou adensadas (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2001). Ademais, como grande parte das raízes do cajueiro encontra-se nas camadas mais superficiais do solo, o emprego de certos implementos podem causar danos ao sistema radicular da planta (OLIVEIRA et al., 2005).

Desse modo, o controle de plantas daninhas pelo método químico, por meio de herbicidas, também é uma alternativa à escassez de mão de obra, principalmente nas áreas de extensos plantios de cajueiro, em que a utilização do controle manual é praticamente inviável economicamente (AQUINO et al., 2003).

Figura 63. Manejo de plantas daninhas por meio de roçagem nas entrelinhas do pomar. Uso de roçadeira mecânica de duas lâminas tracionada pelo microtrator Tobata® (A). Utilização de implemento roçadeira-triturador (B). Uso de roçadeira mecânica de duas lâminas tracionada por trator “fruteiro” (C). Uso de roçadeira de arrasto com sistema de transmissão por cardan (D).

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Segundo o Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) (BRASIL, 2011a), não há herbicidas registrados para a cultura do cajueiro; entretanto, a utilização de herbicidas dessecantes é realizada por vários cajucultores.

No caso de uso do controle químico das plantas daninhas, esse método deverá ser apenas um complemento aos métodos culturais de controle na linha de plantio, não sendo recomendada a sua utilização nas entrelinhas. Também não se recomenda o uso de herbicidas no período compreendido entre a floração e a colheita dos frutos (OLIVEIRA et al., 2005).

Para o controle químico, deve-se, inicialmente, ser realizado um criterioso levantamento da população e identificação das espécies de plantas daninhas, para que posteriormente se decida pela escolha do produto a ser aplicado (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2001).

É necessário que as aplicações sejam realizadas com os devidos cuidados para que o produto não entre em contato com a planta. Em horários em que for constatada a ocorrência de ventos, a aplicação deverá ser evitada, pois o contato do herbicida com as folhas do cajueiro, por meio da deriva, pode provocar sintomas de fitotoxidez nas plantas (Figura 64).

Deve-se, também, estender esses cuidados ao aplicador, que deve estar protegido com Equipamento de Proteção Individual (EPI).

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Figura 64. Controle químico de plantas daninhas com o uso de dessecantes para o coroamento das plantas (A). Em contato com as folhas do cajueiro, o produto causa sintomas de fitotoxidez (B).

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155Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

São escassos os trabalhos científicos sobre o uso de controle químico de plantas daninhas na cultura do cajueiro. Em um deles, realizado por Oliveira et al. (1993a), os resultados mostraram que, quando se realizou o controle químico com o herbicida glifosato (2 L ha-1), os cajueiros com 6 anos de idade apresentaram, em média, altura de 4,6 m e envergaduras de copa de 8,8 m no sentido leste-oeste e 9,6 m no sentido norte-sul. Já os cajueiros submetidos ao coroamento manual apresentaram os valores de 4,2 m, 8,2 m e 9,2 m, respectivamente.

ConsorciaçãoComo citado anteriormente, a maioria dos solos cultivados com cajueiro

apresentam limitações nas propriedades químicas, principalmente com baixos teores de matéria orgânica e nutrientes essenciais às plantas. Para tornar esses solos mais produtivos, é necessário o investimento em corretivos e fertilizantes, fato que pode onerar demasiadamente os custos da cultura, inviabilizando o retorno econômico esperado pelo produtor.

Portanto, torna-se necessário investir num sistema de manejo adequado que vise à melhoria das condições físico-químicas e microbiológicas do solo, possibilitando maior oferta de nutrientes e água, essenciais ao crescimento vegetativo e produção do cajueiro (OLIVEIRA et al., 1993b).

A prática de cultivos intercalares ou consorciação do cajueiro com outras culturas é uma boa alternativa para o cajucultor. Essa prática apresenta inúmeras vantagens, como: gerar alimento, gerar renda paralela, ser ocupadora de mão de obra na época de entressafra, auxiliar o manejo de plantas daninhas, melhorar a estrutura do solo, aumentar o conteúdo de matéria orgânica no solo e, no caso das leguminosas, contribuir para a fixação do nitrogênio (OLIVEIRA et al., 2005). Ademais, o sistema de consórcio faculta ao cajueiro o aproveitamento de resíduos de fertilizantes aplicados nas culturas consorciadas (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

No Nordeste, comumente são utilizados, no consórcio, culturas anuais de subsistência como o feijão-caupi (Vigna unguiculata), o milho (Zea mays) e a mandioca (Manihot esculenta) (Figura 65). Oliveira et al. (2005) citam a tradição de consorciar, em outras regiões, o cajueiro-anão-precoce com sorgo, abacaxi, cana--de-açúcar, girassol, dentre outras.

O número de linhas da cultura intercalar, nas entrelinhas do cajueiral, depende basicamente da espécie a ser utilizada no consórcio e do espaçamento entre os cajueiros. Deve-se sempre deixar uma faixa lateral aos cajueiros, livre de plantio, de, no mínimo, um metro de largura, para evitar qualquer possibilidade de sombreamento (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

No fim do cultivo da espécie em consórcio com o cajueiro, recomenda-se que os restos culturais sejam incorporados ao solo. A incorporação de leguminosas,

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156 Parte 2 Onde, o que plantar e como conduzir pomares de cajueiros

Figura 65. Plantios consorciados de culturas temporárias com o cajueiro-anão--precoce: feijão-caupi (A), milho (B) e cana-de-açúcar (C).

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por exemplo, promove boa cobertura do solo, protegendo-o de processos erosivos, bem como dificulta o estabelecimento de plantas daninhas. Além disso, ocorre a incorporação da matéria orgânica ao solo e a reciclagem de nutrientes (OLIVEIRA et al., 1993b; OLIVEIRA et al., 2005).

Alguns testes realizados em Pacajus, CE, mostraram que as leguminosas Canavalia ensiformis (feijão-de-porco) e Stizolobium aterrimum (mucuna-preta), aos 120 dias após o plantio, praticamente cobriram e protegeram 100% da superfície do solo de um cajueiral com ‘CCP 09’. Essas espécies, bem como a Dolichos lablab (lablab) também apresentaram elevada produção de massa verde (OLIVEIRA et al., 1993b).

Outro consórcio bastante comum no Nordeste é com a pecuária (Figura 66). Em pomares adultos, no final da safra, normalmente os animais criados na propriedade são soltos na área para se alimentarem dos pedúnculos caídos no chão e das plantas daninhas. Esses pedúnculos são impróprios para o consumo humano, mas servem de alimento para esses animais (PAIVA, 2010).

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157Capítulo 3 Aspectos botânicos, fenologia e manejo da cultura do cajueiro

Figura 66. Consorciação do cajueiro-anão-precoce e cajueiro-comum com a pecuária bovina após a safra de caju no Ceará (A) e no Piauí (B).

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Devido ao porte dos animais, o consórcio com bovinos é mais utilizado pelos produtores em pomares de cajueiro-comum. A pecuária ovina e a apicultura são outras atividades que geralmente são exploradas em associação com o cajueiro, gerando uma importante renda adicional aos pequenos produtores. No caso das abelhas, além da produção de mel, elas atuam como agentes polinizadores, propiciando um possível incremento na produção de frutos.

IrrigaçãoHistoricamente, o cajueiro é considerado uma planta resistente e adaptada à

seca. Entretanto, estudos revelaram que cajueiros do tipo anão-precoce sob irrigação localizada apresentaram produções de castanha e pedúnculo superiores aos de suas plantas cultivadas em sequeiro (SAUNDERS et al., 1995; OLIVEIRA, 1999; OLIVEIRA et al., 2006).

Parente e Oliveira (1995) e Oliveira et al. (2003) relataram que plantas novas cultivadas sob sequeiro apresentam alto índice de mortalidade no primeiro ano pós- -plantio, entre 20% a 25%, valor considerado alto se comparado com outras frutíferas perenes. Segundo esses autores, as plantas adultas cultivadas em sequeiro são mais sensíveis à ação negativa de fatores climáticos do que aquelas cultivas sob irrigação.

O uso da irrigação está condicionado ao cultivo do cajueiro-anão-precoce, devido ao aproveitamento tanto da castanha quanto do pedúnculo. Paula Pessoa et al. (2000), ao analisarem a viabilidade econômica do cultivo do cajueiro (204 plantas ha-1), chegaram às seguintes conclusões: em cultivo de sequeiro com exploração comercial apenas da castanha, o retorno do investimento ocorreria apenas no 14o ano,

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enquanto, se se aproveitasse também o pedúnculo, o retorno ocorreria no 11o ano; já em cultivo irrigado com exploração comercial apenas da castanha, o retorno do investimento ocorreria no 8o ano, enquanto, se se aproveitasse também o pedúnculo para indústria e mercado in natura, o retorno ocorreria já no 3o ano.

Dentre os métodos de irrigação, a localizada é a mais recomendável, sendo comum o emprego de microaspersores com vazão de 30 a 100 litros por hora, que apresentem um diâmetro molhado de 4 m a 6 m. É recomendável a redução do diâmetro molhado para 1 m a 2 m durante o primeiro ano de cultivo, em face do menor porte da planta (OLIVEIRA, 2008).

De acordo com um estudo sobre o sistema radicular do cajueiro ‘CCP 09’, Boni et al. (2008) recomendam que, na localização de emissores de irrigação, privilegie-se um raio molhado de pelo menos 1,0 m.

A época em que se recomenda a utilização da irrigação na região produtora no litoral cearense vai de junho a dezembro, enquanto, no Semiárido, a irrigação pode ser utilizada durante todo o ano (PARENTE; OLIVEIRA, 1995).

Ao avaliar o comportamento de clones de cajueiro-anão-precoce sob cultivo irrigado, com 3 anos de idade, em Mossoró, RN, Paiva et al. (1998a) observaram uma produção de 11.926 kg ha-1 e 15.664 kg ha-1 de pedúnculos para os clones ‘CCP 76’ e ‘CCP 09’, respectivamente. Esses autores observaram ainda produção durante todo o ano, fato que possibilita ao cajucultor a obtenção de melhores preços nos períodos de menor oferta (entressafra). Essa observação corrobora Almeida et al. (1995c), que verificaram que, sob cultivo irrigado, o cajueiro tende a aumentar o seu período de frutificação.

Em Paraipaba, litoral cearense, Oliveira et al. (2003) observaram que, ao irrigar plantas dos clones ‘CCP 09’, ‘CCP 76’ e ‘CCP 1001’, aos 4 anos de idade, o incremento na produtividade de castanha foi de 76% e 57% para os dois primeiros, respectivamente; já o último não respondeu a essa prática. No mesmo sentido, a produção de pedúnculo teve um incremento de 94,7%; 57,1% e 7,4% para os respectivos clones (OLIVEIRA, 2002). Os resultados mostraram que a resposta do cajueiro-anão-precoce à irrigação é genótipo dependente.

Nas mesmas condições acima, Oliveira et al. (2006) verificaram produtividades de até 2.325 kg ha-1; 1.704 kg ha-1 e 1.926 kg ha-1 de castanhas, em áreas irrigadas com os clones ‘CCP 09’, ‘CCP 76’ e ‘CCP 1001’ com 7 anos de idade.

Informações mais detalhadas sobre a irrigação do cajueiro são encontradas na Parte 2, Capítulo 4.

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