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Virgem Prudentíssima
Quem não lembra da história que Jesus contou sobre as virgens prudentes e as virgens imprudentes? (Mt 25,4) O Mestre elogia aquelas mulheres que foram aguardar o noivo com as
lâmpadas cheias de óleo.
Algumas foram imprudentes, pois não levaram combustível suficiente. Em outra ocasião Jesus aconselhou seus discípulos a serem “prudentes” como as serpentes e simples como as
pombas (Mt 10, 16).
A ladainha de Nossa Senhora elogia Maria como “Virgem Prudentíssima”. O que isso quer dizer? Temos que tomar muito cuidado com a palavra “prudência”, pois alguns teimam em
entender esta virtude apenas como um certo “cuidado”, quase tímido.
Padre Dehon, já na França do século 19 criticava os cristãos que não assumiam o compromisso de transformar a sociedade em nome de uma discutível prudência. Ele chegou a afirmar que
“Uma pessoa que quer transformar a sociedade não pode ter idéias tímidas”. Maria não tinha nada desta pseudo-prudência de quem se omite, coloca panos quentes,
prefere o silêncio e a discrição.
Entrei para o seminário ainda muito jovem. Havia lá um sacerdote que costumava dar palestras aos seminaristas sobre temas de espiritualidade. Lembro bem que ele falava de
Maria dizendo que é “como a mãe da gente lá em casa… mulher humilde, serviçal, silenciosa, discreta, prudente”.
Eu não gostava daquela Maria, pois não tinha nada a ver com minha mãe, a Maria da Glória. Essa era (e é) uma mulher falante, que toma iniciativas, dá opinião, estuda, faz a hora, não
espera acontecer. Levei algum tempo para recuperar minha devoção mariana. Acabei descobrindo que a mãe de Jesus é muito mais parecida com minha mãe do que aquele santo
sacerdote poderia suspeitar.
As duas são prudentes no sentido que Santo Tomás de Aquino deu para a prudência como “recta ratio agibilium”, ou seja, o jeito certo de fazer as coisas. Ela é a rainha das virtudes
cardeais. Quem decide corretamente o que deve fazer acaba atraindo todas as outras virtudes como a justiça, a fortaleza e a temperança.
Tudo começa com uma boa decisão. Por incrível que pareça os indecisos acabam tendo fama de prudentes. Na doutrina da Igreja é exatamente o contrário: os firmemente decididos é que
são prudentes, pois prudência é a arte de decidir.
Com certeza Maria era uma mulher decidida. O evangelista Lucas registrou logo no início do seu evangelho o diálogo entre a Virgem e o Anjo onde aconteceu a decisão mais importante
da história. É uma lição de prudência. Vale a pena ler o texto com cuidado. Maria está em silêncio. Ouve uma voz que diz: “Alegre-se, cheia de charme, o Senhor está contigo”.
Ela fica extasiada com esta experiência espiritual. Esta admiração, encantamento, espanto, é o princípio do conhecimento. Não existe filosofia sem capacidade de se maravilhar. Mas depois da emoção vem a razão. Ela se coloca a pensar no significado disso tudo. O anjo diz que ela
não precisa ter medo pois tudo isso vem de Deus. Diz ainda que ela foi escolhida para ser a mãe do Messias.
Desfilam pelo coração de Maria as memórias da libertação do Egito, do Maná e dos Profetas…
tantas vezes Deus cumpriu sua promessa. E a menina de Nazaré decide com prudência: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a sua promessa”. Saber dividir é ser prudente.
Ela questiona o céu dizendo que era solteira e não entendia como isso poderia acontecer. O ser celeste dá mil explicações. Vejam só… Deus não exige de Maria uma fé cega. Permite que
ela faça perguntas até entender os caminhos do Senhor. Por fim, a frase definitiva do anjo, normalmente traduzida como “para Deus nada é impossível”.
Nas versões mais antigas do original grego seria: “Deus cumpre o que promete”. Que Maria nos inspire a tomar as grandes decisões de nossa vida depois de algum tempo de silêncio,
escuta, encanto, reflexão, diálogo, questionamento e resposta. Virgem prudentíssima, rogai por nós.
Texto – Pe. Joãozinho – Imagens Google – Música – Ave
Maria – Demis Roussus Formatação – Altair Castro