quem disse que a fotografia tinha de ser fácil - pÚblico

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“Quem disse que a fotografia tinha de ser fácil ” SÉRGIO B. GOMES 14/09/2015 - 07:55 Lisboa nunca tinha feito parte da rota de Martin Parr. Até agora. A recém- inaugurada Barbado Gallery, exclusivamente dedicada à fotografia, escolheu entrar na obra do fotógrafo britânico com um pé na praia. É difícil não ver uma fotografia de Martin Parr. Elas entram-nos pelos olhos dentro. Mesmo na confusão da inauguração daquela que se apresentou como a primeira exposição individual do fotógrafo britânico em Portugal (não é – expôs em Braga em 1999). Mas, na verdade, quem entrasse na Barbado Gallery, em Lisboa, durante a recente apresentação à imprensa ouviria a voz grossa de Parr ao longe, num sotaque muito cerrado, a sobrepor-se às suas imagens, a confundir-se com elas.

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Interview with Martin Parr.Copyrights : Jornal Publico (Portugal)

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“Quem disse que a fotografia tinha de ser

fácil ”

SÉRGIO B. GOMES  14/09/2015 - 07:55

Lisboa nunca tinha feito parte da rota de Martin Parr. Até agora. A recém-

inaugurada Barbado Gallery, exclusivamente dedicada à fotografia, escolheu

entrar na obra do fotógrafo britânico com um pé na praia.

É difícil não ver uma fotografia de Martin Parr. Elas entram-nos pelos olhos dentro.

Mesmo na confusão da inauguração daquela que se apresentou como a primeira

exposição individual do fotógrafo britânico em Portugal (não é – expôs em Braga

em 1999). Mas, na verdade, quem entrasse na Barbado Gallery, em Lisboa, durante

a recente apresentação à imprensa ouviria a voz grossa de Parr ao longe, num

sotaque muito cerrado, a sobrepor-se às suas imagens, a confundir-se com elas.

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Parr (e a sua obra) é daqueles fotógrafos capazes de gerar grandes amores e ódios

figadais. Fala alto mesmo que lhe estejam a sussurrar uma pergunta - fala alto, mas

mal mexe os lábios finos. A espaços, nota-se ironia e algum enfado (limitou as

entrevistas em número e em tempo), ainda que no trato imediato demonstre uma

simpatia diplomática. E até uma ou outra ousadia, como quando, no momento de

uma fotografia da praxe, impôs como condição que a fotografada saltasse para o seu

colo. Ou ainda quando, no retrato para um jornal, decidiu fazer uma pose à super-

homem, de pernas abertas e punhos na cintura. É uma excentricidade snob que,

afinal, também marca a sua obra, nomeadamente nas séries sobre as praias que

começaram em meados dos anos 80, com The Last Resort , o seu primeiro grande

projecto a cor. As praias na obra de Martin Parr (Epsom, 1952) são tantas e tão

omnipresentes que dão para fazer um percurso retrospectivo e, a partir daí,

compreender outros caminhos por onde andou. Foi isso que fez João Barbado, ao

escolher com o fotógrafo britânico 25 imagens entre as séries mais antigas até obras

captadas já este ano. E daí resultou A Place in the Sun - Martin Parr’s Beach Photos

1985-2015  (até 11 de Novembro), que mistura fotografias muito conhecidas (e

esgotadas no mercado coleccionista) com obras pouco vistas. Certo é que todas

tiveram o mesmo cuidado com os pormenores, na parede e fora dela – Barbado

andou num corropio a borrifar a galeria com um frasco de fragâncias estivais.

Conversa numa manhã de calor abafado com cheiro a bronzeador.

Porque é que decidiu concentrar-se nas praias para apresentar a sua

primeira exposição individual em Portugal que é, ao mesmo tempo,

uma pequena retrospectiva da sua obra? O que é que o fascina tanto

nestes lugares?

Esta não é a minha primeira exposição individual em Portugal. Já fiz uma exposição

em Braga. Mas é a primeira em Lisboa que, de todas as capitais da Europa e por

razões insondáveis, era a única onde ainda não tinha mostrado o meu trabalho. As

praias têm sido para mim um tema recorrente. Exploro-as de maneiras diferentes.

São como um laboratório social. Quando começo a fotografar num qualquer lugar

do mundo o meu ponto de partida são as praias. Acho que são uma óptima maneirade começar a olhar para um lugar. Há tantas e tão diferentes que nunca é

aborrecido. É um projecto em permanente construção.

Mal chega a um lugar começa logo a procurar a costa, é isso?

Não, nem sempre. Hoje, por exemplo, está um dia quente mas só poderia ir

fotografar às oito da manhã, quando não há ninguém. E isso não me interessa. É

preciso tempo e eu estou aqui numa visita rápida.

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 As suas fotografias estão sempre cheias de pessoas.

 Adoro fotografar pessoas. Somos infinitamente fascinantes.

Fotografar na praia pode ser um exercício arriscado? Como tem lidado

com isso?

Tornou-se mais arriscado recentemente. Há 30 anos a noção de pedofilia, por

exemplo, não estava no pensamento das pessoas. É mais difícil hoje, sem dúvida.

Mas fala com as pessoas antes de as fotografar?

Não tenho nenhum método estipulado. Mas também falo com as pessoas,

provavelmente até mais noutras situações do que na praia. Não sou purista quanto a

isso nem tenho nada contra falar antes de fotografar. O problema é que trabalho

muito em países estrangeiros onde não domino a língua. Por vezes, tenho um

assistente local que traduz e isso simplifica as coisas.

E como reagem à presença de umdesconhecido com uma câmara?

Em geral, as pessoas sentem-se

lisonjeadas por estarem a ser

fotografadas. Diria que uma em cada

quatro é capaz de rejeitar. Haverá

sempre pessoas a dizer “não, não me

tire fotografias”. Mas essas são fáceis de

(http://imagens1.publico.pt/imagens.aspx/977181?tp=UH&db=IMAGENS)

Mar del Plata, Argentina, 2014. Da série Life’s a Beach © MARTIN PARR/BARBADO/MAGNUM

"As praias [...] são como um

laboratório social. Quando começo a

fotografar num qualquer lugar do

mundo o meu ponto de partida são

as praias."

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descobrir. Normalmente vêm ter comigo muito aborrecidas. Como disse, são uma

minoria. Mas quem disse que a fotografia tinha de ser fácil? Gosto do facto de não

ser fácil.

Fale-nos das principais diferenças entre fotografar a praia em meados

dos anos 80 e agora.

Bem, a moda mudou, mas provavelmente muito menos do que a mudança que

ocorreu com os centros comerciais. Na verdade, as praias são eternas. O mobiliário

e as lojas podem ter mudado um pouco. Os bikinis estão diferentes e as pessoas têmmais estilo, mas a maior parte das coisas não mudou nada.

Já fotografou nalguma praia em Portugal?

Não, nunca. Já estive aqui algumas vezes mas nunca fotografei a sério. Tenho noção

disso e é algo que gostava de corrigir. Estou à espera de ter a oportunidade certa

para fazer “o” trabalho de fotografia aqui e mostrá-lo depois. Acho que estou a

aproximar-me do meu ponto cego em relação ao resto da Europa.

O turismo global, o exibicionismo, o kitsch e o consumismo são algunsdos temas recorrentes na sua obra. A praia é o lugar ideal para

encontrar num só lugar todo este universo?

Sim, as praias têm tudo a ver com o lazer. Gosto de ver as pessoas enquanto

procuram esse estado de descontracção. Há muitos anos que ando a olhar para as

praias e o turismo, são assuntos que têm estado sempre presentes na minha

carreira, embora tenham sido objecto de diferentes capítulos, livros e aproximações.

Diria que a busca do lazer pelo mundo Ocidental é a minha maior motivação

fotográfica.

(http://imagens2.publico.pt/imagens.aspx/977182?tp=UH&db=IMAGENS)

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E o consumismo?

Também, claro. O consumismo é uma actividade do lazer. Tive uma fase, nos anos

80 e 90, em que fotografei muitos supermercados e centros comerciais.

Mas isso chocava-o?

Não, nem por isso. Imagino que num país como Portugal as mudanças têm sido

menos acentuadas. Mas parece-me que, ainda assim, tem havido mudanças. E asmudanças são sempre interessantes. Tento responder àquilo que muda. Parte do

meu trabalho passa por documentar o mundo em que vivemos para que no futuro

possamos olhar para trás e termos algo que recordar. As minhas fotografias dos

anos 80 são muito diferentes das que capto hoje. O mundo mudou muito. É preciso

que o trabalho fotográfico tenha alguma validade documental. Ao olharmos para

estas imagens [na galeria] podemos encontrar boas fotografias. Mas é preciso que

elas documentem o mundo. É isso que lhes dá valor. Se se acrescentar a esse valor

do documental uma boa fotografia, temos um bónus.

 A mudança do preto e branco para a cor em meados dos anos 80 está

relacionada com o facto de ter começado a fotografar na praia em

trabalhos como The Last Resort ?

Sim. Na verdade, esse foi o primeiro grande trabalho que fiz a cor. Foi muito

interessante descobrir a praia através da cor.

No texto de apresentação desta exposição Agnès de Gouvion Saint-Cyr

afirma que as suas fotografias lhe fazem lembrar quadros de Pieter

Brueghel (sempre com muitas pessoas e ocupações do quotidiano).Revê-se nesta associação?

Talvez, ainda não li o texto. E também não conheço assim tão bem os quadros de

Brueghel. Mas parece-me uma boa associação. Não sou muito bom a falar de arte.

Sou uma pessoa simples com sentido intuitivo e livre acerca do que está certo ou

errado.

 À partida, o ambiente da praia tem

tudo para ser mau para um

fotógrafo: excesso de luz, reflexos,areia, confusão…

Isso para mim parece-me tudo bem!

Mas qual é para si o maior pesadelo enquanto fotografa na praia?

Não haver pessoas suficientes. Praias desertas não têm interesse. Quando ia de

férias para a Escócia as praias costumavam estar todas desertas. Era bom para fazer

caminhadas. Mas tinha de me forçar a fazer férias naqueles lugares porque para

fotografar não havia nada de excitante. Aquilo que quero é fotografar praias cheias

de gente.

Miami, Florida, EUA. 1998. Da série Common Sense, 1995-99 © MARTIN PARR/BARBADO/MAGNUM

"Adoro fotografar pessoas. Somos

infinitamente fascinantes."

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No Reino Unido isso é capaz de ser um pouco difícil…

Não, nem por isso. Num dia quente de Verão as praias enchem depressa. Ao

contrário de Portugal, que tem muitos dias seguidos de calor, o tempo no Reino

Unido é muito imprevisível. Quando há uma ponta de sol toda a gente sai à rua.

É presidente da agência de fotografia Magnum desde o ano passado e

membro efectivo há mais de 25. O que o levou a aceitar agora a

liderança da cooperativa?

Não havia mais ninguém para o fazer! É um cargo que tem de ser desempenhadopor um fotógrafo da cooperativa e na última reunião percebi que não havia

candidatos. Achei que podia desempenhá-lo e avancei. Nomeamos um CEO muito

dinâmico que vai ajudar-nos a implementar uma gestão mais empresarial. As

mudanças no mercado da fotografia e no mundo editorial são enormes. Ao contrário

de muitas agências, felizmente na Magnum temos a cultura e o engenho para seguir

em frente, mas temos enfrentado tempos difíceis. Temos que nos adaptar às novas

formas de consumir fotografia.

 Acha que os moldes em que funciona a agência ainda fazem sentidohoje?

Da maneira como funcionava antes, não, seria redundante. Temos de mudar. Por

exemplo, estamos a trabalhar num canal business-to-customer [empresa produtora

ou vendedora negoceia com o consumidor final], queremos continuar a apostar na

 venda de cópias originais de fotógrafos da agência - que tem sido um sucesso -, em

projectos de grupo e em parcerias. Temos de procurar formas de nos tornarmos

mais sustentáveis. Isso é um desafio meu e do actual quadro de gestão.

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 A conta de Instagram da Magnum tem quase meio milhão de

seguidores…

 A sério? Não sabia.

Costuma acompanhar o que lá se publica? Como olha para este

universo?

Gosto do Instagram, mas pessoalmente não contribuo nem sigo o que a Magnum lá

publica.

Tem alguma conta pessoal?

Não. Só tenho uma página de Facebook que alguém gere por mim. Sabe, sou uma

pessoa um bocado antiquada. E, por outro lado, estou sempre sobrecarregado compedidos de toda a natureza. Mal consigo sobreviver. Por isso fico contente que a

Magnum faça posts no Instagram por mim. O meu sentimento em relação aos

media sociais é de indulgência. Tenho um site muito completo, actualizado e com

muita informação. Invisto muito nele. Não posso ficar atento a tudo o que se passa

no Instagram.

O humor, uma faceta muito presente na sua obra, é um género pouco

habitual na fotografia de hoje. Porque é que acha que isto acontece? É

subvalorizado?

(http://imagens3.publico.pt/imagens.aspx/977183?tp=UH&db=IMAGENS)

New Brighton, Inglaterra. Da série The Last Resort , 1983-85 © MARTIN PARR/BARBADO/MAGNUM

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É? Não sei. As pessoas são engraçadas.

O mundo é engraçado. E se não rirmos,

choramos. Aquilo que quero é reflectir a

minha própria sensibilidade nas

imagens que tiro. Não me compete fazer

 juízos de valor sobre as minhas

fotografias. Isso é o seu trabalho. Crio imagens divertidas que têm uma mensagem

séria acerca das contradições do mundo. Só isso. Não posso verbalizar o que as

pessoas acham das minhas fotografias. Isso é com elas. As minhas imagens falam

por si, para o bem e para o mal.

 A sua paixão por livros de fotografia é muito conhecida. Ainda tem

espaço em casa para livros?

Estou a ficar sem espaço, muito depressa. Tenho outro edifício para além da casa,

onde já estou a ficar sem espaço também. É um problema. Mas quando se tem um

 vício como este é difícil parar.

É uma paixão compulsiva.É como a heroína ou o crack. É mesmo muito difícil parar. Esta tarde vou à procura

de livros de fotografia em Lisboa. Portugal é um país interessante. Há livros

extraordinários da época do fascismo dos anos 30. E depois há também livros

publicados em Angola com muito interesse. Acho que, neste campo, Portugal é um

país onde ainda há muito por descobrir.

Que tipo de livros o tem fascinado mais nos últimos tempos?

Uma colecção que comprei no Irão, um país onde é muito complicado encontrar

livros, em particular sobre a guerra Irão/Iraque e sobre a revolução. Compreirecentemente uma grande colecção deles, uns 30 ou 40. É inacreditável. Há bons

livros e fotógrafos de quem nunca ouvimos falar. Já não há assim tantas histórias

escondidas como esta. Recentemente publiquei um livro sobre fotolivros chineses.

Chegaremos a um ponto em que nada restará desconhecido.

O volume três de The Photobook -

 A History (Phaidon, 2014) será o

último?

Para já sim, mas quem sabe… Desde queesse livro foi publicado já encontrei

outros que mereceriam entrar.

 As pessoas costumam mandar-lhe livros?

Sim, muitos, uns bons uns maus (mais maus do que bons). Mas sabe, da mesma

maneira que precisamos de má fotografia também precisamos de maus livros de

fotografia – vão ajudar-nos a descobrir os bons.

"Os bikinis estão diferentes e as

pessoas têm mais estilo, mas a maior

parte das coisas na praia não mudou

nada."

"Sou uma pessoa simples comsentido intuitivo e livre acerca do

que está certo ou errado."

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Portugal tem quatro entradas no The Photobook... Recorda-se de algum

deles e as razões que os levaram a incluí-lo?

Sim, claro. O Portugal 1934 é um exemplo extraordinário de um livro fascista de

propaganda, com uma estética igual ao que se fazia na Rússia e na Itália. Não há

grande conhecimento das edições fascistas de propaganda portuguesas, é um

mundo ainda um pouco escondido. E há também bons livros contemporâneos,

como o de José Pedro Cortes. Há bons fotógrafos jovens em Portugal e fico contente

por poder mostrar algum do seu trabalho. Haverá certamente outros bons

exemplos, mas tínhamos de cobrir todos os países do mundo e não podíamos

mostrar toda a gente. Tivemos de escolher

No ano passado, decidiu pôr em confronto no Museu da Ciência em

Londres o seu primeiro grande trabalho de meados dos anos 70, The

 Nonconformists, com o trabalho de Tony Ray-Jones (1941-1972). Fale-

nos da experiência de mergulhar nos arquivos de alguém que foi uma

das suas principais influências.

Foi muito interessante olhar para as provas de contacto e descobrir novas

fotografias que talvez tenham sido negligenciadas. O que ele tinha de mais forte era

a noção de espaço. Dá a sensação de que conseguia fotografar os intervalos entre as

coisas e as situações. Foi um bom exercício entrar no mundo dele e encontrar novas

fotografias. E, claro, foi uma honra poder mostrar as minhas imagens junto das de

Tony.

Ray-Jones também fotografou muito a praia. Pode considerar-se que ele

abriu uma porta pela qual também decidiu entrar?

Com certeza. Apesar de ter começado a fotografar praias antes de conhecer o

trabalho de Tony Ray-Jones (nunca o conheci pessoalmente) devo muito às imagens

dele sobre esse universo. Quando as descobri, fiquei espantado com a habilidade

que tinha para lidar com o espaço e isso foi uma coisa que tentei aplicar ao meu

trabalho. Foi uma profunda influência e não o nego.

É descrito como uma pessoa de múltiplos talentos. O que é que se sente

mais: um fotógrafo, um editor, um curador, um coleccionador de

imagens ou um acumulador de coisas?

 Vejo-me sobretudo como um fotógrafo. É aquilo que de mais importante faço. Todas

as outras actividades, que me dão muito gozo, são um complemento dessa faceta.

Mas, ultimamente, tenho dado prioridade à fotografia.

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Qual foi a última fotografia que tirou?

Hmmm… Foi uma fotografia de moda no espaço Le Bon Marché, em Paris.

(http://imagens4.publico.pt/imagens.aspx/977184?tp=UH&db=IMAGENS)

Eastbourne, Inglaterra. Da série Think of England , 1995-99 © MARTIN PARR/BARBADO/MAGNUM

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