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RELATO DE EXPERIÊNCIA Oficina Didática de Filosofia: ALICE NO PAÍS DA FILOSOFIA: PARA QUE SERVE O FILOSOFAR? Nomes dos Autores Andressa dos Santos Cizini 1 Cristiane Regina Cemin 2 Fernando Servenini 3 Franciele Festner dos Santos 4 Gustavo Henrique Rondis Cruvinel 5 Natália Aparecida Pacheco Ferro 6 Ursula Rodrigues Galvão 7 Viviane Arruda Sanches 8 PIBID/UNIOESTE Colégio Estadual Augusto Morais Rego “A filosofia deve tornar-se livre em nós, deve tornar-se necessidade interna de nossa essência mais própria, de modo a conferir a essa essência a sua dignidade mais peculiar”. (HEIDEGGER) Palavras-chave: Filosofia; Ser-aí; Pensar; Filosofar; Heidegger. Introdução Este trabalho é um relato de experiência de aplicação de uma oficina preparada pelo grupo Pibid Filosofia da Unioeste apresentada para o grupo Pibid e posteriormente 1 Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 2 Bolsista PIBID de supervisão à docência do subprojeto filosofia do campus de Toledo.E-mail: [email protected]. 3 Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 4 Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 5 Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 6 Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 7 Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 8 Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected]

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Page 1: QUE SERVE O FILOSOFAR? · é isto – a filosofia, uma preocupação quanto ao que seja o homem, o ser-aí e o filosofar. Segundo o pensador, a filosofia é o que há de essencial

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Oficina Didática de Filosofia: ALICE NO PAÍS DA FILOSOFIA: PARA

QUE SERVE O FILOSOFAR?

Nomes dos Autores

Andressa dos Santos Cizini1

Cristiane Regina Cemin2

Fernando Servenini3

Franciele Festner dos Santos4

Gustavo Henrique Rondis Cruvinel5

Natália Aparecida Pacheco Ferro6

Ursula Rodrigues Galvão7

Viviane Arruda Sanches8

PIBID/UNIOESTE

Colégio Estadual Augusto Morais Rego

“A filosofia deve tornar-se livre em nós, deve tornar-se necessidade interna de nossa

essência mais própria, de modo a conferir a essa essência a sua dignidade mais

peculiar”. (HEIDEGGER)

Palavras-chave: Filosofia; Ser-aí; Pensar; Filosofar; Heidegger.

Introdução

Este trabalho é um relato de experiência de aplicação de uma oficina preparada

pelo grupo Pibid Filosofia da Unioeste apresentada para o grupo Pibid e posteriormente

1Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 2Bolsista PIBID de supervisão à docência do subprojeto filosofia do campus de Toledo.E-mail:

[email protected]. 3Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail:

[email protected] 4Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 5Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 6Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 7Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected] 8Bolsista de iniciação à docência do subprojeto de filosofia do campus de Toledo. E-mail: [email protected]

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no Colégio Luiz Augusto Morais Rego nas turmas de 1º ano B e 3º ano A. oficina foi

elaborada com o intuito de estabelecer uma ponte entre reflexões teóricas geradas a partir

de leituras heideggerianas que possibilitem identificar argumentos que conduzam à

compreensão do papel e da importância da filosofia e a verificação de como essa

perspectiva se acha nos entremeios de nossas vivências.

A proposta deste trabalho foi a de propiciar ao estudante de Ensino Médio uma

reflexão acerca da filosofia a partir da relação entre excertos da obra Que é isto – a

filosofia? de Heidegger com a literatura de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol,

gerando um desafio ao próprio pensar.

A obra de Lewis Carrol conta a história de uma menina que ao cair na toca de um

coelho descobre um universo paralelo ao seu. Por meio de diálogos, a personagem

percorrerá um caminho repleto de descobertas. O fato de Alice se questionar a todo o

momento remete a uma relação direta com a filosofia. Toda descoberta e questionamento

feito por Alice têm relação com seu contexto histórico, seu próprio modo de ser, ou seja,

sua existência. O espanto, a dúvida e a incerteza que a menina encontra farão com que

ela se sinta “desafiada” a procurar novas possibilidades para sua existência. Por si só, o

espanto e o questionamento nos remetem ao caminho do filosofar ao longo da história da

humanidade.

O filósofo alemão contemporâneo, Martin Heidegger, apresenta em sua obra, Que

é isto – a filosofia, uma preocupação quanto ao que seja o homem, o ser-aí e o filosofar.

Segundo o pensador, a filosofia é o que há de essencial ao homem. No entanto, no

primeiro momento ela se encontra adormecida em nós, por isso cabe a cada ser no mundo

(ser-aí) despertá-la a fim de colocar a filosofia em curso. Portanto, a filosofia deve fazer

sentido ao ser; pois “ser homem já significa filosofar”, e o filosofar só é possível ao

homem.

O questionamento que nos conduziu a pensar a relação entre as duas obras (de

Lewis Carrol e Heidegger), se refere a suposição de sermos (ou não) capazes de conduzir

nossos estudantes de Ensino Médio, e a nós mesmos, ao caminho que garanta que o

exercício da reflexão nos eleve à superação das questões que nos mantém à margem

daquilo que é fundamental – o próprio filosofar. Colocar em curso o filosofar pressupõe

a tarefa de libertar em nós a compreensão de que filosofia e filosofar nunca estão fora da

essência do existir do homem, e que, portanto, existir como ser humano é o caminho do

próprio filosofar.

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Sabendo-se que a filosofia é uma ferramenta que pode conduzir o educando a

perceber-se como agente ativo na transformação de sua realidade, elaboramos a oficina

com uma metodologia dentro da perspectiva proposta por Silvio Gallo, que prevê a

sensibilização como passo inicial, seguida da problematização, investigação e

conceituação. Esses momentos se entrelaçam culminando na conceituação das noções

heideggeriana de Homem, Ser-aí e Filosofar, bem como das relações que podem vir a se

estabelecer com a contemporaneidade, possibilitando ao estudante de Ensino Médio se

reconhecer como sujeito ativo perante a autonomia do pensar.

Público alvo

O grupo escolhido para a aplicação da oficina é uma turma de terceiro ano de

Ensino Médio do Colégio Estadual Luiz Augusto Morais Rego.

Número de participantes:

Trinta estudantes de Ensino Médio.

Tempo de aplicação da Oficina:

O tempo utilizado para aplicação é de 1h30min

Objetivos

- Estimular o desenvolvimento do senso crítico nos alunos, mostrando que a Filosofia não

se encontra somente em obras filosóficas, mas também, segundo a concepção

Heideggeriana diretamente ligada ao modo próprio de existir (ser) do homem.

- Refletir acerca do percurso feito pela filosofia, a fim de entender melhor as principais

ideias que contribuem para uma definição do conceito de filosofia.

- Oferecer elementos que sensibilizem o estudante de Ensino Médio para a importância

da leitura e interpretação de textos filosóficos clássicos.

- Oportunizar aos alunos bolsistas do PIBID Filosofia uma proximidade maior com o

ensino da filosofia no Ensino Médio, permitindo-lhes a iniciação do exercício da

docência.

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- Perceber a possibilidade de relacionar a literatura e a filosofia na reflexão sobre um tema

específico.

Recursos Didáticos

Quadro, giz, projetor multimídia, pendrive, computador, caixa de som, xerox,

lápis, papel, canetas, flipsharp, excertos das obras de Martin Heidegger, cenário

específico com vestuário próprio das personagens do livro “Alice no país das

Maravilhas”.

Metodologia

Esta proposta de trabalho seguiu uma série de técnicas de estudo integradas dentre

as quais o ponto de partida – a sensibilização - se deu através de uma encenação baseada

nos primeiros capítulos da obra de Lewis Carroll “Alice no País das Maravilhas”.

Pretendeu-se a partir de uma série de diálogos, que Alice em uma viagem ao mundo da

Filosofia, mostrasse algumas das concepções acerca da Filosofia que foram elaboradas

ao longo de história.

Uma oficina didática de Filosofia por si só não deve pautar-se apenas na

metodologia tradicional do Ensino de Filosofia, muito pelo contrário, deve contemplar o

horizonte filosófico com os olhos de diversas áreas como a das artes e da literatura, e para

tal tarefa a equipe PIBID/Morais Rego teve a ousadia de se apoderar de um dos livros

mais clássicos de literatura, qual seja, Alice no País das Maravilhas, publicado por Lewis

Carroll no ano de 1865, e reimpresso várias vezes e nas mais diversas línguas.

Em meio a esse universo, encontramos uma forma diversa para falar de Filosofia

de modo mais leve – a oficina - mas sem permitir que seu rigor e que sua importância

fossem deixados ao acaso do senso comum ou ainda às ideologias que a pudessem

subverter.

Com isso pretendeu-se apresentar uma metodologia diferenciada para se trabalhar

com os textos clássicos em sala de aula que dialogasse com a literatura e teatro. Durante

o desdobramento dos trabalhos os participantes foram envolvidos por meio de dinâmicas

que incitaram o questionamento e a reflexão.

Seguem as etapas do trabalho:

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1º Etapa – Sensibilização/ Problematização

Quando somos desafiados a pensar em algo para instigar os alunos a participarem

de uma atividade, nos deparamos com um desafio imediato: como fazer com que os

alunos se sintam a vontade para participar de uma oficina? Pensando nisso, a

sensibilização é considerada o principal mecanismo para conduzir às demais etapas. Para

que tal objetivo fosse alcançado na aplicação desta oficina, os acadêmicos bolsistas

fizeram um pequeno teatro que lembra a história de Alice no País das Maravilhas. Nesta

etapa, o cenário, as falas com alguns personagens da obra e também da Filosofia foram

decisivos, pois foi por meio deles que os problemas iniciais da oficina foram

apresentados.

Primeiramente, o coelho fez um pequeno monólogo em convite aos alunos

participantes para adentrarem a sala que foi decorada e ambientada seguindo alguns

detalhes pontuais para que, ao máximo, se assemelhe à toca em que se passa todo o enredo

da obra Alice no país das maravilhas. Após o monólogo do coelho, os estudantes

foram recebidos por Alice e junto a ela fizeram um passeio pelo “caminho da Filosofia”.

Os alunos foram questionados pela própria personagem de Alice sobre possíveis

problemas apresentados no diálogo inicial, tais como: O que é filosofia? Por que filosofar,

afinal? O que pensam os filósofos, ao longo da história da filosofia sobre o que é o

filosofar?

Alice passou então a questionar, em companhia do coelho e dos alunos, alguns

dos ilustres pensadores que a tradição filosófica pôde nos ofertar, sendo eles: Platão,

Aristóteles, Descartes e Heidegger. Os questionamentos se deram em torno da questão:

“O que é a Filosofia?” e as respostas apontadas pelos filósofos em consonância com suas

teorias e ideias. Cada filósofo, ao responder o questionamento de Alice, fez primeiro uma

breve apresentação de si mesmo de modo a localizar os estudantes quanto ao momento

histórico vivido pelo mesmo (Ver anexo).

Esta atividade teve o intuito de apresentar aos alunos que tiveram um primeiro

contato com conteúdos filosóficos, uma visão geral sobre “O que é a Filosofia” através

de diversas concepções, de diferentes filósofos, conduzindo o estudante a refletir sobre o

que é posto como ponto central, ou seja, de que trata a filosofia e o que é o filosofar.

Alice, intrigada com tantas respostas diferentes ao que seja a filosofia, ainda

insatisfeita, se colocou a procurar, no seu entorno, outras respostas. Após breves instantes

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de procura, sem sucesso, a personagem convidou alguns estudantes a ajudá-la, dizendo:

“Caros estudantes, vocês poderiam me ajudar a encontrar algo que possa me servir de

resposta para o que seja o filosofar?” Auxiliada pelos alunos que aceitaram ajudá-la, saem

à procura de outras respostas.

Alice caminhou pela sala e surpreendendo-se ao encontrar mais um pensador

sentado em um canto. Ela estabelecer um diálogo com o mesmo e descobre que ele se

chama Martin Heidegger e que é contemporâneo a ela. O filósofo apresenta a Alice

algumas ideias que lhe parecerão mais interessantes e que dão impulso a curiosidade da

jovem (ver anexo). Heidegger então, convida a todos a aprofundar seus conhecimentos

através da leitura de trechos de sua obra que estão espalhados pela sala.

3º Etapa – Investigação

Alice e os alunos encontrão cartas de baralhos, dispostas no ambiente da oficina,

com perguntas problematizadoras e pequenos trechos da obra de Heidegger. Tanto as

perguntas como os textos foram identificados em quatro grupos diferentes de acordo com

o baralho (copas, espadas, ouros, paus). Após os estudantes encontrarem as cartas

espalhadas pela sala, com as perguntas e os trechos do pensamento de Heidegger que

conduziram a Investigação, o Coelho passou entre os mesmos com um baralho do qual

cada aluno pegou uma carta (todos os naipes deverão conter a mesma quantidade de

cartas). Cada estudante se agrupou com aqueles que tinham o mesmo naipe e estes todos

com aquele que tinha encontrado a grande carta (de naipe igual) com a pergunta

problematizadora e o fragmento de Heidegger (ver anexo).

A intenção em dispor os fragmentos de textos pela sala (mais precisamente pelo

cenário) remete a possibilidade que o modelo didático escolhido – a oficina - nos

apresenta para trabalhar com o lúdico, relacionando a busca de Alice com a procura dos

textos e a própria investigação.

Foi então proposto a cada grupo que fizesse a leitura do texto encontrado (ver

anexo) e a partir deste iniciasse um debate tendo como ponto de partida tudo o que foi

trabalhado até então na oficina. Cada grupo ficou responsável por eleger um secretário

para anotar aquilo que foi debatido, com intuito de partilhar as reflexões realizadas pelo

pequeno grupo. Os pontos que foram investigados durante esse momento da oficina se

referem às seguintes questões: O que é o espanto? O que é o filosofar? Que relação há

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entre existir e filosofar? O que significa dizer que filosofar é próprio do homem? Por que

na medida em que o homem existe acontece o filosofar?

A proposta de investigação para os grupos compreende um aprofundamento nos

conceitos de Homem, ser-aí, filosofia/filosofar a partir da perspectiva Heideggeriana.

(Ver textos em anexo).

Cada grupo foi acompanhado por um aluno bolsista do PIBID que ficou

responsável em instruir e auxiliar os alunos na leitura e discussão do fragmento de texto

proposto, mediando o debate e instigando os alunos a relacionar o texto com as outras

partes da oficina e a esta em geral com a própria vida.

4º Etapa – Conceituação

Vale ressaltar a imensa harmonia existente entre esta etapa da oficina e o próprio

conteúdo proposto por ela, tendo em vista que a conceituação é um convite para que os

alunos se apropriem dos conceitos apresentados e os relacionem com o seu cotidiano,

com sua vida.

Diante de tudo o que foi trabalhado na oficina, e com base nos fragmentos de

textos lidos e debatidos nos pequenos grupos, os alunos foram convidados a expor suas

conclusões. Uma vez que tivemos como principal objetivo da oficina motivar os alunos a

um pensamento autônomo, neste momento o convite foi para que eles expusessem suas

ideias e opiniões daquilo que aprenderam e partilhassem com toda a turma aquilo que foi

discutido e refletido no grupo.

Para frisar a conceituação, as anotações feitas e apresentadas por cada grupo,

foram dispostas em um cartaz dentro de uma grande cartola. O cartaz foi afixado na

parede da sala de aula (cada grupo deixou claro os conceitos investigados: O que é o

homem? O que é o ser-aí? O que é o filosofar?).

Resultados esperados e discussão

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Usar a metodologia da oficina nos possibilitou a abertura para trabalhar de um

modo dinâmico e multidisciplinar, pois nos permitu evocar a literatura e o teatro para

tratar de um tema tão polêmico: “Para que serve o filosofar?”.

O tema aqui discutido - Alice no País da Filosofia: para que serve o filosofar? –

surgiu do desejo de tornar a filosofia mais convidativa aos estudantes que iniciam o estudo

da filosofia no Ensino Médio, e que, geralmente, ainda não tiveram contato algum com

as ideias de Filósofos como Heidegger, ou mesmo para àqueles que já trilharam um

caminho pela filosofia para fazê-los resgatar o encantamento e o espanto diante das

questões mais fundamentas da vida humana.

Trazendo as ideias Heideggerianas para dentro da sala de aula, esperamos que os

estudantes compreendessem que fazer filosofia é algo próprio do ser humano, e, como

tal, não deve ser apenas um conteúdo a ser estudado e repassado de forma dogmática,

mas, antes de tudo, a filosofia deve propiciar o desenvolvimento da capacidade de colocar

o pensamento em curso para que neste exercício, cada indivíduo consiga realizar-se

plenamente na tarefa de ser humano.

REFERÊNCIAS:

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ARANHA, Maria Lucia Arruda; MARTINS, Maria H. Pires. Filosofando: Introdução a

Filosofia. 4ª edição. São Paulo: Moderna, 2009.

CARROLL, Lewis. Alice no país das Maravilhas. Trad. Sebastião Uchoa Leite.

Ilustrações de John Tenniel: Editora 34, São Paulo, 2015.

CARROLL, Lewis. Alice no país das Maravilhas. Edição comentada. Trad. Maria Luiza

X. de A. Borges. Ilustrações de John Tenniel: Zahar, Rio de Janeiro, 2002.

GALLO, Sílvio; FAVARETTO, Celso; ASPIS, Lima. Filosofia no Ensino Médio

(Coleção 4 DVDs), Produtora: Atta Mídia e Educação, 2007.

GALLO, S. A filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. In: Revista Ethica, vol.

13, nº 1, Rio de Janeiro, 2006, p. 17-35.

HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de

Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969.

HEIDEGGER, Martin. O caminho do campo. São Paulo: Duas cidades, 1969.

HEIDEGGER, Martin. Que é isto – a filosofia? Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Duas

Cidades, 1971.

HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos Filosóficos. Trad. Ernildo Stein: Nova

Cultura, 2000. Coleção Os Pensadores.

KAHLMEYER-MERTENS, Roberto S.. Heidegger & a educação. Belo Horizonte:

Autêntica, 2008.

ARENDT, Hannah; HEIDEGGER, Martin. Correspondência 1925/1975. Rio de Janeiro:

Relume Dumará, 2001.

ANEXOS

Teatro inicial:

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Fora da toca...

Coelho (Sentado na porta da Sala): [preocupado]

- ORA, É TARDE! É tarde, é tarde. Já está atrasado o pensamento. Não se faz mais

raciocinar – já que não convém a ninguém – e ainda querem por um fim, afinal ao

questionar. Que há de se fazer?

[Pergunta direcionada aos alunos]

- MAS JÁ SEI! No fundo, pois, desta mesma toca, onde há muito caiu Alice, louca em

sua curiosidade, lhes digo, tem resposta. Pra que se fazer de bobo? Não é a toa que tanto

pensaram uns e outros, sobre tudo isso. Pra sair da Caverna, a gente faz o processo

inverso. Pra saber como é, quem é, você pergunta. E quem não quer saber? Afinal, de

onde vocês vieram? [Pergunta, espera-se resposta dos alunos, se não, continua]

E quem são vocês? [de novo espera-se resposta] E como respondem a tudo isso? [idem]

E pra que a filosofia? [idem]

- Pois já disse, é por ali o caminho, e é bom que se apressem pra saber tudo isso, antes

que lhes cortem a cabeça; vamos fazer uso dela, de pergunta em pergunta, que no seu dia

a dia, hora dessas, tudo vem à calhar. [Coelho entra na toca com os participantes]

[Dentro da “toca”]:

Coelho: [Animado] - E bem vindos, bem vindos, ao país da Filosofia. Aqui, terra de

perguntas, a gente sempre pensa os porquês. A pergunta pra responder hoje, por que

Filosofia, afinal?

[entra Alice]

Alice [voltada para o Gato de Cheshire]: - Ó, Sr. Gato, poderia me dizer que caminho

devo seguir?

Gato de Chesire: - Isso depende muito do lugar para onde você quer ir ...

Alice: Não me importa muito onde... contando que eu chegue à algum lugar.

Gato de Chesire: Ora, nesse caso, não importa o cainho que você irá tomar...

Alice: [confusa] - E aqui estou eu há tanto tempo, querendo saber a mesma coisa, onde

quer que eu possa ir... O que é essa tal de filosofia? E o filosofar? Seriam coisas

diferentes? Ah! Oh! Tenho tantas perguntas e tão poucas respostas (sai andando como

Alice... e encontra Platão).

Alice: Olá! Quem é você? Que roupas estranhas? De onde você vem? Pode me esclarecer

o que é a filosofia? Ah, desculpe, meu nome é Alice.

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Platão - Ora, ora minha querida Alice, meu nome é Platão e eu fui um filósofo muito

importante do período clássico da Grécia Antiga, eu vivi no século IV a. C. Fui discípulo

do famoso Sócrates e como ele, tentei responder algumas questões fundamentais da

existência humana e posso te garantir que o que você está vendo (mostrar o mundo

sensível a sua volta) não passa de sombras e ilusões.

Alice: Como assim Sr. Platão? Seria por isso que às vezes não sei como me sinto? Tudo

é tão confuso... às vezes sou grande demais, as vezes sou pequena demais... parece que

nunca estou adequada para esse mundo...

Platão: Cara Alice, as percepções que temos através dos cinco sentidos nos aprisionam

nesta caverna das opiniões e das crenças. A filosofia só é possível quando saímos da

caverna, quando usamos a razão e libertamos nossa capacidade de pensar.

Alice: [Ainda Confusa] - Mas então, perguntei aqui e lá em casa, e continua tudo na

mesma. Aqui e lá, as mesmas dúvidas... Oh Deus, o que farei?????????? Seguirei adiante

para ver se encontro respostas mais claras... Até breve Sr. Platão.

Alice: (encontra Aristóteles e pergunta): Olá, quem é você? Meu nome é Alice e estou

um pouco perdida... você pode me dizer o que é a filosofia?

Aristóteles: - Olá cara Alice, meu nome é Aristóteles, fui aluno desse tal Platão, mas não

concordo muito com as suas ideias. Esqueça essa história de dois mundos, caverna,

ilusão... isso tudo é bobagem. Ora, é este mundo que aqui está... que deve ser

compreendido. Como? Pelo espanto com as coisas mais simples do cotidiano.

Contemplando, com a razão,as coisas que nos são dadas pelos sentidos. Afinal, 'nada há

no intelecto que não tenha passado pelos sentidos.

Alice: [Mais confusa] - Mas os sentidos então, que são aqui tão diferentes, e no fim não

sei nem o que sinto. Perguntei para uma lagarta, uma rainha e até um chapeleiro, e

ninguém soube responder.

Entra Descartes:

Alice: - Olá! Meu nome é Alice e quem é você?

Descartes: - Olá Alice, meu nome é René Descartes. Ó minha criança, estive tão cercado

de dúvidas quanto tu estás. Dúvidas sobre o mundo, sobre o que sou, sobre tudo o que me

cerca. Acontece que os nossos sentidos nos traem, somente a razão, que nada mais é que

o pensamento bem orientado, é capaz nos fornecer verdades indubitáveis. Não dê ouvidos

as palavras de Aristóteles! Todo conhecimento está dentro de nos mesmos, através da

meditação e do filosofar foi que encontrei um pouco de tranquilidade para as minhas

angústias. Pensei, pois se penso, logo, existo.

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Alice: [Senta no chão emburrada] - Mas ó, que fazer? Todo mundo quer dar uma

resposta diferente, com tantas perguntas e tantas respostas, quanto mais confusa hei de

ficar?

Alice:[Confusa, anda pela sala com a mão na testa dramaticamente] Ó MUNDO, que

hei de fazer? Ó, mas nem o coelho saberia responder. Ó, ó... óOOO [bate de frente com

Heidegger, que não tinha visto, quase cai] Mil perdões senhor, não o vi. Quem é você,

tão modernas roupas, tão futurísticas? Pois deve saber algo, tem cara de sabido. Estimado

senhor, me chamo Alice e estou em busca de algumas respostas. Sabe algo sobre

filosofia? Pode me ajudar a esclarecer umas ideias?

Heidegger:[se limpando da pisada de pé eu levou] - Olá Alice, sou Martin Heidegger,

sou um filósofo do século XX. Posso sim te ajudar! Perceba que este mundo está cercado

por maravilhas e a filosofia está por toda parte, ser homem já significa filosofar... [senta-

se e faz Alice sentar][Enuncia bem as palavras]

Alice: [confusa] - Pois como assim, vá com calma. Você está dizendo que o filosofar é

algo que todos nós, que somos seres humanos, fazemos? Ó ! Mas que noção moderna!

Heidegger: -Então, minha cara, sugiro que investiguemos conceitos como ser-aí. Ser-aí

é um estar no mundo, é uma possibilidade que se realiza na existência, nascer já é estar

aberto ao mundo, perceba Alice que estar no mundo significa possibilidade, o homem não

é um objeto que pensa, é sim uma intrínseca possibilidade de liberar o filosofar em sua

mais complexa essência.

Alice: -Nossa! Que modo peculiar de ver nossa existência!0 Muito interessante Sr.

Heidegger!

Heidegger: -Entretanto façamos assim, responda à essas perguntas e tenho certeza que

encontrará o que procuras!

Alice: [Alice recebe as questões e as lê espantosamente para os participantes]– Ai,

ai!!! Irei precisar da ajuda de vocês nesta missão, as pistas das respostas devem estar pelo

caminho, Heidegger disse que estava por aqui em algum lugar... [Alice toma quatro dos

participantes e os conduz pela busca]

Pretende-se fazer uma breve explicação, após a conceituação, a partir do trecho seguinte

convidando os alunos a pensarem que na filosofia existem vários caminhos, ou melhor,

que na filosofia se fazem diversos caminhos. Sendo próprio de cada ser humano o

filosofar, cabe a cada um construir seu caminho rumo a um pensamento autônomo, claro

e livre do senso comum. A árdua tarefa de vencer a ignorância e libertar-se do comodismo

de respostas fáceis e prontas está em nossas “próprias mãos”. Não obstante, existe um

vasto caminho já percorrido por pessoas que nos antecederam, às quais devemos dar

muita importância.

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-Pois bem [Alice coloca as mãos na cintura], acho que encontrei minhas respostas. Sou

eu mesma, e vocês todos [aponta pros alunos] o filosofar. Pois, se é de nossa natureza,

eu ser, ou seja, aqui estar, já faço filosofar. [ri de maneira esfuziante e saltita pra fora

da sala]

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Questões e textos usados na Problematização e Investigação

Os trechos abaixo estarão dispostos no ambiente em grandes cartas de baralho e os

estudantes buscarão, através do trecho a ser lido, compreender o que é o homem, o ser-aí

e o filosofar. Os alunos serão divididos em grupos de acordo com o Naipe do baralho.

Heidegger, junto a Alice, irá instigar alguns alunos (quatro ao todo) a procurar no próprio

cenário as respostas para as dúvidas levantadas durante a oficina. Os mesmos serão

conduzidos a encontrar as cartas de baralho (uma de cada Naipe) nas quais estarão

dispostos alguns questionamentos e trechos da obra de Heidegger. Em seguida, Alice

passará entre os demais alunos com um baralho para que cada um tire uma carta

aleatoriamente. A partir do naipe indicado na carta que escolheu, cada aluno seguirá para

um grupo no qual serão feitas as leituras e debates indicados na grande carta (Serão usadas

as quatro Rainhas do baralho e os textos e questionamentos estão impressos no verso

destas cartas).

GRUPO 01 - Qual relação entre existir e filosofar?

TRECHO: “Ser-aí como homem significa filosofar, pois o homem é o único capaz de

colocar em prática o ato de filosofar, pois mesmo Deus, que contempla a ideia de

infinidade, não tem por sua essência o filosofar, já que a essência da filosofia é ser uma

possibilidade finita de um ente finito.” (HEIDEGGER, 2008, p. 3).

“[...] Se a filosofia já reside em nosso ser-aí como tal, então essa aparência só pode surgir

do fato de a filosofia estar como que dormindo em nós. Ela reside em nós, ainda que

agrilhoada e intrincada. Ela não está livre, ainda não está em movimento que lhe é

possível. A filosofia não acontece em nós da forma como poderia deveria por fim

acontecer [...]” (HEIDEGGER, 2008, p. 4).

“A filosofia há de ficar livre em nós, quer dizer, há de converter-se em íntima necessidade

de nosso ser mais próprio, de nossa mais própria essência, de sorte que dê a esse ser ou a

essa essência sua mais própria dignidade. Agora bem, o que assim há de ficar livre em

nós temos de assumi-lo em nossa liberdade, somos nós mesmos os que temos de tomar e

despertar livremente o filosofar em nós.” (HEIDEGGER, 2001, p. 20).

GRUPO 02 – O que significa dizer que o filosofar é próprio do homem?

TRECHO: “Ser-aí como homem significa filosofar, pois o homem é o único capaz de

colocar em prática o ato de filosofar, pois mesmo Deus, que contempla a ideia de

infinidade, não tem por sua essência o filosofar, já que a essência da filosofia é ser uma

possibilidade finita de um ente finito.” (HEIDEGGER, 2008, p. 3).

Page 15: QUE SERVE O FILOSOFAR? · é isto – a filosofia, uma preocupação quanto ao que seja o homem, o ser-aí e o filosofar. Segundo o pensador, a filosofia é o que há de essencial

“Não estamos absolutamente fora da filosofia, e isso não porque acaso contamos já com

certos conhecimentos de filosofia. Ainda quando não sabemos nada de filosofia, estamos

já na filosofia, porque a filosofia está em nós e nos pertence e, por certo, no sentido de

que filosofamos já sempre. Filosofamos inclusive quando não temos nem ideia disso,

inclusive quando ‘não fazemos’ filosofia. Não é que filosofemos neste momento ou

aquele, senão que filosofamos constantemente e necessariamente enquanto que existimos

como homens. Existir como homens, ser-aí como homens, dasein como homens, significa

filosofar.” (Heidegger, 2001, p. 19).

GRUPO 03 – Por que: “na medida em que o homem existe acontece o filosofar?

TRECHO: “A filosofia há de ficar livre em nós, quer dizer, há de converter-se em íntima

necessidade de nosso ser mais próprio, de nossa mais própria essência, de sorte que dê a

esse ser ou a essa essência sua mais própria dignidade. Agora bem, o que assim há de

ficar livre em nós temos de assumi-lo em nossa liberdade, somos nós mesmos os que

temos de tomar e despertar livremente o filosofar em nós.” (HEIDEGGER, 2001, p. 20)

“Ser-aí como homem significa filosofar, pois o homem é o único capaz de colocar em

prática o ato de filosofar, pois mesmo Deus, que contempla a ideia de infinidade, não tem

por sua essência o filosofar, já que a essência da filosofia é ser uma possibilidade finita

de um ente finito.” (HEIDEGGER, 2008, p. 3).

.GRUPO 04 – Que é isto - a Filosofia?

TRECHO: “Notemos bem: tanto o tema de nossa interrogação: “a filosofia”, como o

modo como perguntamos: “que é isto...” - ambos permanecem gregos em sua

proveniência. Nós mesmos fazemos parte desta origem, mesmo então quando nem

chegamos a dizer a palavra “filosofia”. Somos propriamente chamados de volta para esta

origem, reclamados para ela e por ela, tão logo pronuciemos a pergunta: Que é isto- a

filosofia? Não apenas em seu sentido literal, mas meditando seu sentido profundo.

[A questão: que é filosofia? não é uma questão que uma espécie de conhecimento

se coloca a si mesmo (filosofia da filosofia). A questão também não PE de cunho

histórico; não se interessa em rsolver como começou e se desenvolveu aquilo que se

chama “filosofia”. A questão é carregada de historicidade, é historical, quer dizer, carrega

em si um destino, nosso destino. Ainda mis: ela não “uma”, ela é a questão historical de

nossa existência ocidental-européia.]

Se penetrarmos no sentido pleno e originário da questão: Que é isto – a filsoofia?

Então nosso questionar encontrou, em sua proviniência historical, uma direção para nosso

futuro historical. Encontramos um caminho. A questão mesma é um caminho. Ele conduz

da existência própria ao mundo grego até nós, quandonão para além de nós mesmos.

Page 16: QUE SERVE O FILOSOFAR? · é isto – a filosofia, uma preocupação quanto ao que seja o homem, o ser-aí e o filosofar. Segundo o pensador, a filosofia é o que há de essencial

Estamos – se perserverarmos na questão – a caminho, num caminho claramente orientado.

Todavia, não nos dá isto uma garantia de que já, desde agora, sejamos capazes de trilhar

este caminho de maneira correta.” (HEIDEGGER, 2008, p. 30 e 31).