que eu tenho admiração. É que eu só sei...

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28 de Abril Dia Nacional da Caatinga Caro leitor, eu preciso Da sua honrosa atenção, Para ouvir uns poucos verso, Que fiz com dedicação, Falando um pouco da terra Que eu tenho admiração. E não é por nada não, É que eu só sei escrever Se for assim, desse jeito, Em cordel, prá o povo ler. Então ouça sem receio Tudo que eu tenho a dizer. Não trago grande saber, Nem sei a medida exata. Apenas falo de coisas Que o próprio povo relata. Do que a natureza dá E a gente usa e maltrata. Não é da Zona da Mata, Do Cerrado, ou da Restinga. É do Sertão quente, que Chove um ano, outro nem pinga... “Mas se chover, dá de tudo!” Toda planta, flora e vinga. Quero falar da Caatinga, De macambira e facheiro, Mandacaru, xique-xique, Coroade-frade, espinheiro, Malva, velame, favela, Catingueira e umbuzeiro. Da sombra do juazeiro Que a caatinga oferece. E da flor de jitirana, Que se enrola, sobe e cresce, Vestindo a mata despida, Que o novo terno agradece. A parte herbácea aparece Como quem cresce à vontade, Mas árvores de grande porte, Que hoje são raridade, Também compõem a Caatinga, Mas em menor quantidade. Ganham notoriedade A barúna, a aroeira, O cumaru, o angico, O Ipê e a ingazeira Que cresce à beira do rio, Como oiti e marizeira. Veja, não é brincadeira, Que são mais de novecentas As espécies da Caatinga, Desde herbáceas suculentas A lenhosa e arbustivas Das nossas matas cinzentas Falando das suculentas, São famílias numerosas. Entre cactos e bromélias Que nas áreas pedregosas Predominam, povoando As superfícies rochosas. Mas, nem tudo é mar de rosas, Como já diz o ditado. São plantas que vestem a terra E se o vestido é rasgado, O solo nu, raso, fica, Logo, logo, degradado. E ainda tem d’outro lado, A fauna rica também. Entre grandes e pequenos Animais, dizer convém, Que são mais de oitocentas Espécies que a fauna tem. Porém é preciso ouvir O sertanejo, um momento. Pois ele na terra vive E dela tira o sustento. Também pode oferecer Seu vasto conhecimento. Seu relacionamento Com a Caatinga, no sertão, Tá na história do vaqueiro, De guarda-peito e gibão, Rompendo o mato fechado, Para pegar barbatão. Tá nas catas de algodão E na limpa do roçado. Nas brocas, ou derrubadas, De facão, foice e machado, Em tempos que a extinção Não inspirava cuidado. Na caçada do veado, Tatu, peba, aves também. Mas caça, que antes era Prá alimento, hoje tem Força e status de comércio, Que há tempos crescendo vem. O sertanejo também Sabe, como ninguém mais, Onde procurar as ervas De usos medicinais, As suas aplicações E efeitos colaterais. Suas fontes culturais Tão na lenda da caipora, Nas estórias de trancouso Prá senhor e prá senhora. Prosas e versos cantados, Que hoje pouca gente explora. Pois o que vemos agora É pura devastação. Caça e corte de madeira, Queimadas em extensão, Cada vez mais agravando O grau de degradação. Urge a preservação Pra que na vida futura As gerações se harmonizem Em sustentável estrutura Com produtos da Caatinga E frutos da agricultura. Aves são, em número, quem Dominam a região. Mergulhão, pato, marreca, Carcará e gavião, Juriti e asa branca E o profeta carão. Ai tem uma porção De pequenos passarinhos, Que catam sementes, cantam, Se acasalam, fazem ninhos E naturalmente cuidam Dos pequenos filhotinhos. E o habitat dos bichinhos É a Caatinga preservada. Mas pelo jeito que vejo A sentença já está dada: Sem ela não temos eles, Sem eles não atemos nada. Tem o peixe, na invernada. Tem mamíferos pequeninos: Peba, tatu e preá, E os saguis genuínos. E seis dos representantes Das espécies dos felinos. Caatinga em alerta Prof. Dr. Antônio Amador de Sousa - UAEF No grupo dos pequeninos, O gato mourisco fica, Junto com o maracajá E do mato (fauna rica). No dos grandes, a pintada, A parda e a jaguatirica. E onde tudo isto fica? A resposta é trivial: No nordeste, semiárido. Mas detalhar não faz mal. Ela cobre onze por cento Do solo nacional. Um bioma colossal De nossa exclusividade. Ninguém tem igual ao nosso, Pode crer, isto é verdade. E a maior riqueza está Na biodiversidade. Toda a comunidade Pode bem usufruir. Com um manejo adequado, Conviver sem destruir O que a natura levou Milênios pra construir.

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Page 1: Que eu tenho admiração. É que eu só sei escrevercstr.ufcg.edu.br/2016_pdf/cordel_para_a_pagina_final.pdf28 de Abril Dia Nacional da Caatinga Sabe, como ninguém mais, Que eu tenho

28 de Abril

Dia Nacional da Caatinga

Caro leitor, eu preciso Da sua honrosa atenção, Para ouvir uns poucos verso, Que fiz com dedicação, Falando um pouco da terra Que eu tenho admiração. E não é por nada não, É que eu só sei escrever Se for assim, desse jeito, Em cordel, prá o povo ler. Então ouça sem receio Tudo que eu tenho a dizer. Não trago grande saber, Nem sei a medida exata. Apenas falo de coisas Que o próprio povo relata. Do que a natureza dá E a gente usa e maltrata. Não é da Zona da Mata, Do Cerrado, ou da Restinga. É do Sertão quente, que Chove um ano, outro nem pinga... “Mas se chover, dá de tudo!” Toda planta, flora e vinga.

Quero falar da Caatinga, De macambira e facheiro, Mandacaru, xique-xique, Coroa–de-frade, espinheiro, Malva, velame, favela, Catingueira e umbuzeiro. Da sombra do juazeiro Que a caatinga oferece. E da flor de jitirana, Que se enrola, sobe e cresce, Vestindo a mata despida, Que o novo terno agradece. A parte herbácea aparece Como quem cresce à vontade, Mas árvores de grande porte, Que hoje são raridade, Também compõem a Caatinga, Mas em menor quantidade. Ganham notoriedade A barúna, a aroeira, O cumaru, o angico, O Ipê e a ingazeira Que cresce à beira do rio, Como oiti e marizeira.

Veja, não é brincadeira, Que são mais de novecentas As espécies da Caatinga, Desde herbáceas suculentas A lenhosa e arbustivas Das nossas matas cinzentas Falando das suculentas, São famílias numerosas. Entre cactos e bromélias Que nas áreas pedregosas Predominam, povoando As superfícies rochosas. Mas, nem tudo é mar de rosas, Como já diz o ditado. São plantas que vestem a terra E se o vestido é rasgado, O solo nu, raso, fica, Logo, logo, degradado. E ainda tem d’outro lado, A fauna rica também. Entre grandes e pequenos Animais, dizer convém, Que são mais de oitocentas Espécies que a fauna tem.

Porém é preciso ouvir O sertanejo, um momento. Pois ele na terra vive E dela tira o sustento. Também pode oferecer Seu vasto conhecimento. Seu relacionamento Com a Caatinga, no sertão, Tá na história do vaqueiro, De guarda-peito e gibão, Rompendo o mato fechado, Para pegar barbatão. Tá nas catas de algodão E na limpa do roçado. Nas brocas, ou derrubadas, De facão, foice e machado, Em tempos que a extinção Não inspirava cuidado. Na caçada do veado, Tatu, peba, aves também. Mas caça, que antes era Prá alimento, hoje tem Força e status de comércio, Que há tempos crescendo vem.

O sertanejo também Sabe, como ninguém mais, Onde procurar as ervas De usos medicinais, As suas aplicações E efeitos colaterais. Suas fontes culturais Tão na lenda da caipora, Nas estórias de trancouso Prá senhor e prá senhora. Prosas e versos cantados, Que hoje pouca gente explora. Pois o que vemos agora É pura devastação. Caça e corte de madeira, Queimadas em extensão, Cada vez mais agravando O grau de degradação. Urge a preservação Pra que na vida futura As gerações se harmonizem Em sustentável estrutura Com produtos da Caatinga E frutos da agricultura.

Aves são, em número, quem Dominam a região. Mergulhão, pato, marreca, Carcará e gavião, Juriti e asa branca E o profeta carão. Ai tem uma porção De pequenos passarinhos, Que catam sementes, cantam, Se acasalam, fazem ninhos E naturalmente cuidam Dos pequenos filhotinhos. E o habitat dos bichinhos É a Caatinga preservada. Mas pelo jeito que vejo A sentença já está dada: Sem ela não temos eles, Sem eles não atemos nada. Tem o peixe, na invernada. Tem mamíferos pequeninos: Peba, tatu e preá, E os saguis genuínos. E seis dos representantes Das espécies dos felinos.

Caatinga em alerta

Prof. Dr. Antônio Amador de Sousa -

UAEF

No grupo dos pequeninos, O gato mourisco fica, Junto com o maracajá E do mato (fauna rica). No dos grandes, a pintada, A parda e a jaguatirica. E onde tudo isto fica? A resposta é trivial: No nordeste, semiárido. Mas detalhar não faz mal. Ela cobre onze por cento Do solo nacional. Um bioma colossal De nossa exclusividade. Ninguém tem igual ao nosso, Pode crer, isto é verdade. E a maior riqueza está Na biodiversidade. Toda a comunidade Pode bem usufruir. Com um manejo adequado, Conviver sem destruir O que a natura levou Milênios pra construir.