quatro mitos do brasil atual

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 1 QUATRO MITOS DO BRASIL ATUAL  A funç ão p r i mo r d ial d a s aná li se s de c o njunt ura s é o fe recer um a le i tura r e a li st a,  sist e m á t i ca e ar t i cula d a d e uma det e rmi na da sit ua ç ão ge o p o lític a , p o lítica , econômica e social. Os diferentes agrupamentos políticos se orientam a partir do cr uza m e nto d a s análi se s d e co nj untur as co m o s p r i ncí p i o s e p r o si to s que lhe sã o  p a r t i cula r e s. N e st e se nt i d o , o r ga niz a ç õ e s p olíti c a s e so c iai s, d i fe re nt e s o u até mesmo rivais, podem produzir análises de conjuntura bastante similares, sem, contudo, serem convergentes no ponto de vista da ação.  A análise d e co njunt ura p o ss ibilita a p r á t i c a c o ns c i e nt e e p la ne j a d a num de te r m i nad o co nte xto . É ce rto que não e xi ste um m o delo de aná li se d e co nj untur a universal, tampouco este é o objetivo a ser perseguido, porém a mesma não pode  se r c o nstr uíd a a r bi t r a r i a m e nt e , sem c ri t é r i o s e r efe r ê nc i a s a r t i c uladas e hierarquizadas a partir do real, das relações sociais concretas. Logo, as referidas análises são, a um só tempo, necessárias e problemáticas. Necessárias porque em  su a a us ê nc i a n ã o há açã o c o ns c ie nt e na d isp ut a po t i ca c ole t i v a ; p roblemá t i c a s  p o r q ue se m p r e e st a rão su je i ta s à s limitaçõ e s d a a p reensã o do r e a l. Outro problema recorrente é que a clareza do conceito não é suficiente para informar ação prática, é necessário ter fidelidade ao momento histórico, ou seja,  fi de lid ade à s p o ss i b i li da d es que são r evela d a s no p roce ss o d e a li se d e co nj untur a . E m o utr as p a lavr as, é p r e ci so se co m p ro m e ter co m a s análi se s que  fa z e m o s e levá-la s à s úl t i mas c o nse q nc i a s. N em o i nt ele c t ual, ne m a s organizações de militantes podem escapar desta verdade, sob o risco de cair no descrédito ou apontar por caminhos fora do curso ou das exigências do tempo  p r ese nt e . No entanto, de forma sub-reptícia, alguns setores confundem a análise de uma  situ açã o c o nc r e t a co m a gi taçã o i d e o gi c a , a uto p r o c lamaçõ e s ou m e sm o

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QUATRO MITOS DO BRASIL ATUAL 

 A função primordial das análises de conjunturas é oferecer uma leitura realista,  sistemática e articulada de uma determinada situação geopolítica, política,econômica e social. Os diferentes agrupamentos políticos se orientam a partir do cruzamento das análises de conjunturas com os princípios e propósitos que lhe são  particulares. Neste sentido, organizações políticas e sociais, diferentes ou até  mesmo rivais, podem produzir análises de conjuntura bastante similares, sem, contudo, serem convergentes no ponto de vista da ação.

  A análise de conjuntura possibilita a prática consciente e planejada num determinado contexto. É certo que não existe um modelo de análise de conjunturauniversal, tampouco este é o objetivo a ser perseguido, porém a mesma não pode  ser construída arbitrariamente, sem critérios e referências articuladas e hierarquizadas a partir do real, das relações sociais concretas. Logo, as referidas análises são, a um só tempo, necessárias e problemáticas. Necessárias porque em sua ausência não há ação consciente na disputa política coletiva; problemáticas

 porque sempre estarão sujeitas às limitações da apreensão do real.

Outro problema recorrente é que a clareza do conceito não é suficiente parainformar ação prática, é necessário ter fidelidade ao momento histórico, ou seja,  fidelidade às possibilidades que são reveladas no processo de análise de  conjuntura. Em outras palavras, é preciso se comprometer com as análises que  fazemos e levá-las às últimas consequências. Nem o intelectual, nem as  organizações de militantes podem escapar desta verdade, sob o risco de cair no

  descrédito ou apontar por caminhos fora do curso ou das exigências do tempo presente.

 No entanto, de forma sub-reptícia, alguns setores confundem a análise de uma  situação concreta com agitação ideológica, autoproclamações ou mesmo

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  justificativas para a inércia e o abandono da iniciativa política. Sem nenhum compromisso com a situação conjuntural, sem nenhuma responsabilidade com a organização e mobilização das massas, sem nenhum cuidado com as condições devida das maiorias, estas posições infames, ao serem repetidas cotidianamente, se  transformam em culturas políticas setoriais (ou internas a uma determinada organização ou movimento). Toda cultura baseada em construções abstratas, em princípios fechados e retro- alimentados pela crença de que sua bandeira e seusvalores são “eleitos” e a razão não reside nos outros, inevitavelmente cria seus

  mitos, laicos ou não. Este fundamentalismo secular, com uma suposta base científica, gera distorções substantivas nas análises de conjunturas que, no lugar de verificar os contornos da realidade, são reduzidas a pequenos instrumentos delegitimação de um determinado discurso.

Quais seriam então alguns importantes mitos em circulação no momento atual? Passamos a discutir alguns deles.

MITO 1: “A crise mundial é financeira”  

queles que defendem a noção na qual a crise que foi revelada ao mundoem 2008 é de natureza financeira, criada por uma suposta “bolha”especulativa no setor imobiliário, estão defendendo explícita ou

implicitamente a postura liberal, que recolhe “problemas  no capitalismo” sem,contudo, entender ou admitir a dinâmica do próprio circuito de reprodução do capital,necessariamente concentrador e desequilibrado. Alguns defendem que o problemafoi o descuido para com a chamada “economia real”, ou seja, industrial . O problemadesta análise é óbvio, a separação entre capital bancário e industrial é apenas teórica,na realidade trata-se do mesmo capital em etapa diferente de seu ciclo de reproduçãoampliada. A ideia de “bolha” pretende isolar artificialmente um deter minadomomento do circuito de reprodução do capital, dando uma feição isolada para osuposto ponto de origem da crise. Ambas as análises procuram acobertar o que éprincipal: A crise atual é uma crise de reprodução do capital.

Não há dúvida que as dificuldades enfrentadas ultrapassam o limite do setorfinanceiro, pois existe, sobretudo, uma crise de alternativas. Os governos nãoconseguem respostas confiáveis para a bancarrota das economias centrais. Ao que

tudo indica não poderão produzi-las com o repertório liberal. Ou seja, apostando noajuste fiscal, em medidas restritivas de direitos e injeção permanente de recurso nosbancos. Para os trabalhadores isto tem significado especialmente a supressão dedireitos trabalhistas e garantias sociais históricas, que foram conquistas de muitos

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anos de luta. Este ataque do capital orquestrado pelo Estado aos direitos dostrabalhadores soma-se às estratégias existentes de transferência de valor da periferiaao centro e reforça os elementos contra-tendenciais da crise capitalista, ou seja, oselementos que invertem o movimento tendencial de redução da taxa de lucro naprodução capitalista. O resultado imediato desta dinâmica só poderia significar maiscentralização do capital à custa do empobrecimento crescente dos trabalhadores.Desta forma, em países como Grécia, Espanha, Itália e Inglaterra, por exemplo, ostrabalhadores retomaram sua agenda de lutas. Também no Oriente Médio, emespecial nos países árabes da região, tem havido um acirramento da luta de classes.O que move os trabalhadores do mundo é a luta pela defesa de suas conquistastrabalhistas e sociais e a negação de um sistema que, embora nunca tenha produzidotanta riqueza, o faz concentrando renda, elevando o desemprego, mercantilizandodireitos, intensificando a pobreza e elevando o grau de exploração da força de

trabalho.

A resposta às condições acima expostas e à consequente deterioração dalegitimidade das estruturas de poder político se expressa nas mobilizações de massascada vez mais internacionais e frequentes. No entanto, a indignação, que assumefeições anticapitalistas, ainda não tem conseguido apontar para a superação dosistema.

Faltam proposições capazes de disputarem a preferência das maiorias, oferecendoindicações de uma alternativa à crise civilizatória. Depois de dizer “não”, é hora de pensar: “e agora, para onde vamos?”.

O capitalismo, mesmo com sérias dificuldades de reprodução, ainda éhegemônico e não pode ser subestimado. Cabe às organizações revolucionáriasdisputarem uma nova concepção de humanidade e trabalhar da melhor formapossível o momento atual. Certamente a correlação de forças ainda é desfavorável à

classe trabalhadora, mas pelo menos a situação oferece um novo terreno de combateque pode implicar em uma retomada da ofensiva política.

MITO 2: “A crise não chegou ao Brasil”  

ão é coincidência que a tese da crise financeira seja acompanhada por

outra: a de que a crise não chegou ao Brasil. Defende-se que, graças àatuação decidida e responsável do governo juntamente com a força denosso mercado interno foi possível blindar a economia brasileira. Uma análise umpouco mais rigorosa  – e histórica  – revela que esta tese não passa de pura apologiaN

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ao governo e à manutenção do status quo, que tem na falácia de “um mercadointerno em crescimento” e das “desigualdades sociais em diminuição” suas

  justificativas ideológicas. Os aparelhos ideológicos do Estado Brasileiro têm obtidorelativo sucesso na tarefa de convencer a população brasileira (inclusive grande partedos partidos e organizações de esquerda) de que o crescimento do mercado interno éproduto de sua política social de distribuição de renda. Sem distribuir oudemocratizar, no entanto, os fatores de produção desta renda, mantendo atransferência de valor do trabalho ao capital por meio de uma estrutura tributáriaregressiva e sem garantir o crescimento do poder de compra dos salários dostrabalhadores, o governo se vê obrigado a retirar a remuneração dos lucros de suasestatísticas para poder assim produzir uma diminuição da desigualdade social que éilusória.

Se analisarmos a partir da principal categoria marxista  –  a totalidade  –  estaapologia se desfaz rapidamente. A acumulação capitalista é mundial. Organiza ecoordena a acumulação do capital em cada país do globo, justamente de maneiradesigual e combinada. Se houve no centro deste sistema uma crise de reprodução dociclo do capital é óbvio que esta crise não deixaria de ter efeitos em todos os paísescapitalistas.

O que comumente se chama de crise é um momento específico da verdadeira

crise. Esta desorganização generalizada dos mercados financeiros, que rapidamente“afetou” a indústria e o comércio é somente a válvula de escape de uma panela depressão que há muito tempo está no fogo. A essência da crise já vinha ocorrendoantes, ou seja, a insuficiência das taxas de exploração em continuarem remunerandocrescentemente o capital mobilizado. Quando isto ocorre por um tempo prolongado,a expressão da crise aparece assustadoramente aos olhos dos analistas de superfície.

O mundo capitalista vive hoje, portanto, uma dupla necessidade: desvalorizar

brutalmente o capital já existente e aumentar as taxas de exploração. Estanecessidade é urgente principalmente nos territórios em que a situação é mais difícil,dado as dificuldades de aumentar as taxas de exploração internamente: Europa, EUA,Japão. Portanto, ao mesmo tempo em que lentamente estas dificuldades sãocombatidas, a periferia é convocada a dar sua contribuição por meio dastransferências internacionais de valor, ou, desde nossa perspectiva: por meio dasperdas internacionais.

O Brasil, como hoje já é evidente, não poderia fugir das necessidades daacumulação mundial de capital (exceto com uma proposta de alternativa aocapitalismo). Em primeiro lugar, a clássica política de contenção da desorganizaçãofinanceira foi tomada: uma transferência gigantesca de excedente econômico foirealizada, via Estado, para os grandes monopólios: seja por meio da isenção fiscal,

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que contribui para a realização da mercadoria e para redução do custo da força detrabalho; seja por meio da injeção de dinheiro público captado a preços altíssimospelo governo (taxa de juros selic) no mercado nacional e internacional, masoferecido a preço baixo por meio de uma política do BNDES que favorece um seletogrupo de monopólios nacionais e estrangeiros. A expansão do crédito temcontribuído também para oxigenar os lucros das grandes empreiteiras (setoresimobiliário e de construção civil) e das multinacionais de setores comoeletroeletrônicos e de linha branca, automobilístico e de aviação civil, à custa, noentanto, de um endividamento familiar crescente (segundo dados da ConfederaçãoNacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, 65% das famílias brasileirasestão endividadas), que já compromete significativa parcela da renda e dopatrimônio dos trabalhadores brasileiros, intensificando uma vez mais a transferênciade sua renda ao grande capital. Como esta expansão do crédito tem um padrão de

financiamento estrangeiro, a captação de recursos no exterior que o BNDES realizasistematicamente tem contribuído, também, para o endividamento do Estado e oagravamento da dependência em nosso país. O próprio BNDES, aliás, alterou em2006 seu estatuto para permitir que este crédito financie empreiteiras, financeiras e oagronegócio brasileiro.

Entretanto, esta rápida retomada keynesiana teve vida curta. Se entre 2007 e 2010alguém se iludiu que a política econômica da estabilidade - que na verdade sustenta

o pacto da classe dominante desde o início do plano real, ou seja, a “santíssimatrindade” da inflação, câmbio e juros: se alguém teve a ilusão de que finalmenteestava sendo alterada, foi obrigado a tomar uma nova dose de realismo imposta,desta vez, pelo governo da presidente Dilma. Ora, se a crise não chegou ao Brasilporque as atuais medidas de austeridade, de contenção do aumento salarial e dosgastos sociais? Porque a retomada do aumento da taxa de juros que havia sidoreduzido de 19,75 pontos percentuais desde agosto de 2005 para 8,75% a.a em julhode 2009, mas que já foi rapidamente elevado para 12,5% em julho deste ano?

A crise está, portanto, obviamente afetando o Brasil que assim como todas asnações do mundo está sendo chamado à “responsabilidade” de salvar os paísescentrais. Algumas nações, no entanto, têm mais capacidade de se defender contra adesvalorização monetária dos países centrais  –  forma com que estes paísesclassicamente encontram para se apropriar do excedente econômico produzido emoutros países. Todavia, o nível de integração subalterna do Brasil à economiamundial não faz dele uma destas nações.

A primeira expressão que nos demonstra isto e que mais “liga” o Brasil à crise é adívida pública. Não é paradoxal que justamente durante uma crise financeira, deescassez de crédito, ou seja, de escassez monetária nosso país seja invadido por umaenxurrada de dólares? Este paradoxo aparente revela, na verdade, toda falácia da

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economia liberal, pois, como já dissemos não se trata de uma crise financeira, decrédito, ou bolha especulativa, mas sim de uma crise de reprodução do capital(produção e apropriação do valor). Se o epicentro desta crise são os países centrais énatural que o capital que sobra nestes países busque se apropriar de mais-valorproduzido por trabalhadores de outros países. A entrada de capitais externos no paísocorre com este objetivo. Seu principal instrumento: a dívida pública interna(principalmente) e externa. O Estado brasileiro compromete anualmente metade deseu orçamento para essa gigantesca transferência de valor. Valor produzido pelostrabalhadores e trabalhadoras de nosso país e que está sendo utilizado para tentarsalvar a acumulação nos países centrais. E tudo isto por um único motivo: aestabilidade da acumulação nestes países é pressuposto da estabilidade da nossaclasse dominante.

A estabilidade brasileira, portanto, está assentada nesta gigantesca transferênciade valor, nas famosas perdas internacionais do nosso país. Estas se dãoprincipalmente por meio da remuneração da dívida pública, mas não somente. Umarápida olhada na evolução dos indicadores do Balanço de Pagamentos revela outrasde suas formas. Se em 2003 o Brasil transferiu US$ 18,6 bi em “renda deinvestimento”, em 2010 essa cifra passou para US$ 40bi; na rubrica “lucros edividendos  –   investimento direto” passou de US$ 4 bi para US$23,6 bi; e o de“lucros e dividendos –   investimento em carteira” foi de US$1,5bi para US$6,7bi.

Esses dados demonstram como nosso país tem contribuído com a necessidade deacumulação dos países centrais em detrimento das necessidades do nosso povo. Nãoé coincidência, portanto, que justamente desde 2008  – ano de estouro da crise  – osaldo de transações correntes do balanço de pagamentos tenha se tornado deficitário.Isso significa que o superávit comercial não tem conseguido fazer frente à gigantescaquantidade de riqueza que tem sido sugada do país, na forma monetária.

Ademais, a clássica transferência de valor por meio de intercâmbio desigual de

mercadorias também continua operando, apesar de que para muitos analistas  – queainda não aprenderam a diferença entre valor e preço - seja “coisa do passado”. 

Não obstante, a aposta do governo tem sido em aumentar o saldo comercial pormeio do aumento da exportação dos produtos agrários, o que tem se revelado comouma verdadeira ressatelitização da economia brasileira. Tal economia tem, cada vezmais, passado a orbitar ao redor da economia chinesa. É flagrante demais para serapenas coincidência que a volta dos produtos primários como primeiro produto napauta de exportação tenha se dado juntamente com a ascensão da China comoprimeiro parceiro comercial brasileiro, sendo que tudo isto se desenhou com a crisede 2008.

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MITO 3: “A ‘recente’ desindustrialização do Brasil e o seu

‘neodesenvolvimento’”  

economia brasileira, a despeito da propaganda oficial, segue sendodependente e, ao que tudo indica, cada vez mais subordinada aodesenvolvimento chinês. A fração mais ligada ao setor industrial da

classe dominante brasileira até ensaiou uma ofensiva ideológica contra estemovimento denunciando a suposta desindustrialização brasileira no último período.Segundo esta tese, na verdade um outro mito, a “forte e industrializada” economiabrasileira estaria sofrendo com o ataque especulativo do dólar e a concorrênciachinesa. Mesmo sendo verdade, isso não significa um movimento recente, mas umaspecto estrutural da nossa economia e uma prova da manutenção das diretrizesneoliberais na atual política econômica.

A tese da desindustrialização não é uma novidade tupiniquim. Como quase tudoque passa na cabeça de nossos analistas ela veio importada diretamente do

 pensamento dos países centrais. Mais especificamente de uma análise do “insuspeito”Fundo Monetário Internacional. Era a tentativa de explicar o fenômeno ocorrido nosEUA, Europa e Japão que entre as décadas de 1970 e 1990 viram a porcentagem da

população empregada no setor manufatureiro cair em torno de 10%, na mesmamedida em que crescia a porcentagem da população empregada no setor de serviços.Outro indicador utilizado foi o de valor adicionado pela indústria no PIB queapresentou o mesmo movimento: diminuição da contribuição do setor industrial eaumento do setor terciário. Trata-se, portanto, de nova importação teórica sem adevida redução sociológica.

Em primeiro lugar, antes de falar em desindustrialização temos que compreender

corretamente o que foi a nossa industrialização, pois ela não tem paralelo com aindustrialização dos países centrais. Ao contrário de lá, não tivemos uma revoluçãoindustrial capitaneada por uma burguesia nacional que dominou toda a cadeiatecnológica e integrou produtivamente grande parte de sua força de trabalhodisponível. A industrialização brasileira foi periférica e dirigida pelo estado,especialmente durante a era Vargas. Este processo contou com a participação dosmonopólios internacionais, principalmente a partir da década de 50, logo após arecuperação das economias centrais no pós-guerra. A industrialização brasileira não

foi capaz de superar a orientação exógena, e continuou apoiada sobre uma pauta deexportação de baixo valor agregado. A dinâmica de nossa industrialização semprenecessitou da realização de mercadorias via exportação dado que nosso mercadointerno é historicamente atrofiado pela super-exploração de sua força de trabalho.Basta comparar o poder de compra de um trabalhador da mesma transnacional no

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Brasil ou nos EUA; ou então, o lucro da General Motors nos dois países paraevidenciar este mecanismo em operação. A nossa indústria é um apêndice dosconglomerados transnacionais. Como precisamente afirmou Darcy Ribeiro, é umaindustrialização recolonizadora.

Por isso, o arroubo de ofensiva nacionalista dos industriais durou muito pouco.Bastou algumas reuniões com o atual ministro de desenvolvimento, indústria ecomércio (Fernando Pimentel) para compreenderem que “teriam que aprender aviver com o câmbio baixo”. Afinal, os industriais estão aproveitando muito bem ocâmbio baixo: a captação de recursos externos do setor privado aumentouviolentamente em conjunto com a importação de máquinas e bens de equipamentoda China e dos EUA. Este mecanismo de se endividar em dólar em troca demáquinas e bens de equipamento permite aumentar a produtividade interna, elevar a

quantidade produzida sem aumentar a massa salarial.Não obstante, com esta ofensiva ideológica conseguiram algumas concessões e

benefícios governamentais, como isenção fiscal, proteção tarifária direcionada enovos benefícios creditícios.

Por fim, os 3 indicadores mais utilizados para defender a tese dadesindustrialização estão sendo utilizados de maneira precária. Isto porque aformação bruta de capital fixo, ou seja, a famigerada taxa de investimento não

ultrapassa o nível de 20% do PIB desde 1994. O mesmo acontece com a participaçãoda indústria de transformação no PIB que passou de 35% em 1985 para 18% em1995 e desde então nunca mais ultrapassou o teto de 20% do PIB. O mesmomovimento aconteceu com o percentual da população economicamente ativaocupada na indústria: queda acentuada até 1995 e manutenção do mesmo nível desdeentão. Esses dados demonstram, portanto, que se houve alguma desindustrializaçãoela não é recente. Ao contrário, ela está na base do pacto de classe do plano real quemantêm a atual estabilidade.

Por que, então, a burguesia industrial brasileira não reclama dadesindustrialização desde 1994? Porque defende com unhas e dentes a “santíssimatrindade” - inflação, câmbio flutuante e juros altos? Por uma razão muito simples: aburguesia industrial se contenta com a posição de sócia subalterna dodesenvolvimento dos países centrais. A rápida arrefecida da sua ofensiva ideológicademonstrou quais eram seus únicos objetivos: conquistar mais alguns privilégiosestatais. Por isso esta mesma burguesia que se diz contra a desindustrializaçãocontinua importando massivamente máquinas e bens de equipamento do exterior;continua se endividando gigantescamente; e se levanta contra qualquer tentativa dogoverno de reestabelecer uma indústria de base, de tecnologia de ponta, sob aacusação de “reestatização da economia”. 

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Portanto, esta tese da desindustrialização revela o oportunismo da burguesiabrasileira, desinteressada e não identificada com um processo de desenvolvimentonacional e autônomo. O que mais preocupa, no entanto, é que partidos de esquerdaestejam influenciando parte da classe trabalhadora a sair em defesa dos interessesdesta burguesia. Se a luta contra a desindustrialização capitaneada pela classetrabalhadora não for tomada como parte de uma luta contra a burguesia ela será, naverdade, uma luta contra os próprios trabalhadores.

Aqueles dados, por sua vez, também ajudam a desmistificar uma segunda tese: ade que o atual governo é neodesenvolvimentista. Desde 1994 a taxa de investimento,a de valor adicionado pela indústria ao PIB, e a de pessoal ocupado na indústria detransformação mantêm-se praticamente estável. Tampouco vimos acelerar a reformaagrária, urbana, universitária e bancária nos moldes defendidos pelo

desenvolvimentismo clássico da década de 1960.Outra “novidade neodesenvolvimentista” vangloriada pelo governo e pelos

analistas de plantão da economia é o chamado “dinamismo do mercado interno”. Noentanto, sua origem está numa combinação perigosa entre consumo e endividamento.De um lado, o governo estimula a produção de bens como os produtos da “linha

 branca” e automóveis favorecendo os grandes monopólios nacionais com renúnciasfiscais, debilitando assim as finanças do Estado; de outro, as famílias se postam “àscompras” lastreadas nas “facilidades” do crédito, ou seja, no endividamento. Uma

simples pesquisa demonstra que o endividamento médio dos brasileiros tem crescidobrutalmente nos últimos anos. E não poderia ser de outra forma, uma vez que osalário percebido pela classe trabalhadora do país, por si só, é insuficiente até paraprovê-la de mercadorias básicas da modernidade como fogão, geladeira e televisão.Logo, o mecanismo que tem dado fôlego ao mercado interno nos últimos anos trazpro país a solidez de um pântano, além de implicações decorrentes como o aumentodos danos ambientais num contexto de manutenção da lógica da dependência e deaprofundamento do caos nas cidades.

O atual centro do debate “neodesenvolvimentista” –  inflação, câmbio e juros  –  nunca foi o centro do debate desenvolvimentista; da heterodoxia do pensamentoeconômico. O governo petista não é neodesenvolvimentista simplesmente porque oneodesenvolvimentismo é uma falácia. Não tem nada de desenvolvimentista. É purooportunismo ideológico e político que concorre para alimentar o discurso do “BrasilGrande” juntamente com um conjunto de fatos levantados –  como grandes obras,PAC, a recepção da Copa do Mundo e das Olimpíadas – para alimentar a fantasia deque o Brasil estaria se colocando na economia mundial como uma grande potênciaque “dita os rumos”. Este mesmo movimento ideológico apresenta-se no interior daesquerda brasileira. A apologia neodesenvolvimentista, útil para os setoresdominantes e governistas, aparece no interior da esquerda com a tese de que o Brasilestaria se tornando uma nação imperialista. Neodesenvolvimentismo por um lado e

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imperialismo por outro, são, portanto, duas faces do mesmo movimento ideológicoincapaz de perceber a posição intermediária e dependente que nosso país ocupa.Todavia, ao contrário da ideologia neodesenvolvimentista (que é útil às classesdominantes), a tese do Brasil imperialista poderá levar a (pretensa) esquerdarevolucionária brasileira a erros gravíssimos.

O cenário ideológico brasileiro oferece, portanto, várias opções para distrair asconsciências ingênuas. “A crise não chegou ao Brasil”, “o país está sedesindustrializando” e “o governo é neodesenvolvimentista”, são todas alternativaspara manter nossa consciência crítica alienada, sem enxergar os nossos reaisproblemas e distanciando-nos das verdadeiras soluções. Isto porque interessa a todasas frações da nossa classe dominante manter o atual governo simplesmente porqueele tem sido fundamental para manter seu pacto de classe. Nunca antes na história

desse país os banqueiros nacionais e internacionais ganharam tanto; os grandesmonopólios produtivos estão subsidiados pelo lado fiscal e do crédito além deaproveitarem as brechas da legislação para também acumular na esfera financeira; oagronegócio, não obstante a famigerada elevação do preço das commodities,continua sugando do Estado brasileiro gigantescas quantias anuais, revelando que emvez de trazer superávits ao país está deixando nosso Estado deficitário.

Porém, é cada vez mais evidente que a atual fase cíclica do capital afetou e

afetará ainda mais o Brasil. O funcionalismo público já está sentindo isso na pele eparte dele sequer teve reajuste inflacionário no ano de 2011; os trabalhadores dainiciativa privada também já tiveram diminuição no seu aumento de poder decompra; os marginalizados estão cada vez mais percebendo que a sua participaçãoneste “neodesenvolvimentismo” é assessória e resumida ao assistencialismo. Asolução para a crise não está em construir modelos recauchutados da ideologianeoliberal. Tampouco não há crise sem soluções, e ao que tudo indica esta não serásuperada sem a abertura de uma nova vaga histórica de lutas populares.

MITO 4: “O ‘eterno’ descenso das massas”  

em sido consagrado em recentes análises de conjuntura que o país vive umprofundo descenso do movimento de massas. De fato não estamos

vivenciando nenhum momento pré-revolucionário. Porém, o que importasão as consequências, em termos de ação política, derivadas deste tipo de leitura. Amais difundida é que, na medida em que estamos num descenso do movimento demassas, não é possível ter iniciativa na luta política, sendo que alguns aindacomplementam que “é o momento de estudar e formar quadros”.T

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Há o que dizer sobre esta lógica. A primeira é que a tarefa de formação dequadros necessariamente é permanente, não é restrita a conjunturas de baixamobilização. Por outro lado, um quadro não se forma apenas com estudo, poismesmo sendo este imprescindível é necessário que experimente a ação prática, otrabalho de organização de massas nas mais diferentes e difíceis situações. O quadrose forma quando é chamado a definir a política de sua organização, seresponsabilizando e se comprometendo. O concurso de estudo, ação política evivência organizativa forma o quadro, não apenas os cursos, que por maisnecessários que sejam não são suficientes. Apenas o estudo cria militantes pedantes,apenas a prática cria voluntaristas sem reflexão. A teoria e a prática são tarefas emqualquer situação, em qualquer conjuntura.

Porém, algumas organizações justificam sua inoperância com o argumento de quenão é possível fazer outra coisa senão “estudar” e “formar” quadros. Os maishonestos defensores desta concepção acreditam que realmente não é possívelacumular força no descenso. O que resta, portanto, é estudar e manter “a chamaacesa da utopia”, sendo isso nada mais que uma postura religiosa sobre o processopolítico. O que não percebem é que para cada conjuntura exige uma determinadaestratégia de atuação, pois não há acúmulo de força fora de uma estratégia. O queexiste não é a impossibilidade de ação política, mas a ausência de uma estratégia por

parte destas organizações.

Outro gargalo que deve ser entendido se refere à relação entre a ação política e aconjuntura. É puro determinismo acreditar que o descenso é impermeável à açãopolítica. A prática política estrategicamente e teoricamente embasada permite alterara conjuntura, acumular forças e romper com o descenso de massas. Não se trata devoluntarismo, mas de intervir conscientemente dentro das condições existentes,procurando alterá-las em benefício do objetivo.

É comum encontrarmos análises de conjuntura que atribuem às políticasassistenciais um efeito desmobilizador das massas. Em outras palavras, estas

  políticas pacificariam “os debaixo”, obstruído qualquer possibilidade de ação daesquerda. O primeiro problema deste tipo de análise é que a mesma superestima oalcance destas políticas, atribuindo uma força que não possuem. Programasassistenciais estão longe de garantir um nível de bem-estar que retiraria apossibilidade de mobilização popular. O segundo se refere à concepção de trabalho

 político de massas, ou como é conhecido “o trabalho de base”. O estilo tradicional de“trabalho de base” foi elaborado em condições de profunda pauperização das classessubalternas, trabalhando com alvos fáceis dentro das lutas econômicas. Porém,qualquer alteração das condições de vida o torna obsoleto e não mais responde aoseu propósito. Diante da falência deste estilo de trabalho de organização popular,

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setores de esquerda atribuem o problema ao povo, ou ao descenso do movimento demassas, criando justificativas elegantes teoricamente para a própria miopia política.

“É necessário retomar o trabalho de base”. Algo que é repetido como mantras por setores da esquerda. Quem pode ir contra tal afirmação? No entanto, escondem aausência de uma política para que este instrumento tenha conteúdo e um novométodo para que seja eficaz. Toda linha de massas serve a uma linha política e estácontida em uma estratégia, do contrário são apenas palavras bonitas, consensuais einofensivas.

Este suposto “retorno ao trabalho de base” se materializa, na prática, como rituais,uma vez que as massas não respondem ao chamado das “vanguardas”, sendo então“necessário que a mesma produza por ela mesma os atos”. Ou seja, que uma minoria

radical cumpra a função da classe. Este aspecto se expressa por meio de campanhasnacionais artificiais, completamente deslocadas das necessidades e do horizonte dasmaiorias. Da mesma forma os inúmeros atos e jornadas de luta reforçam a lógica dasmanifestações como “espetáculos” e que em nada tem haver com a organizaçãopopular cotidiana e persistente, apesar de ser algo de fundamental importância paraqualquer processo de transformação social. As ruas não podem se tornar umpicadeiro dos descontentes, que isolam e desmoralizam a militância perante a massa,não podem ser lugar de rituais de sensibilização dos governos e da sociedade para as

causas populares. Esta postura, por mais bem intencionada, ao contrário do quedeclara, está longe de representar os interesses das classes trabalhadoras. Geralmentesão atos que tendem a impor determinada pauta política, sem, contudo, compreendere ser fiel ao momento conjuntural. As mobilizações e a tomada das ruas devem serproduto de uma condução afinada à realidade, naquelas situações em que os atos nãose tornam apenas desfiles, mas um imperativo político e moral de avanço ou defesados interesses das maiorias. Para que as organizações políticas e movimentosconsigam entender a melhor forma de condução das mobilizações é preciso estar

inserido no cotidiano da classe, e construir a partir deste encontro as força capaz deenvolver as maiores frações do corpo social em torno de reivindicações reais, que sóassim poderão se transformar em fermento para a luta.

Os arautos do mito do descenso de massas esquecem que os ascensos somentesão aproveitados por aqueles que estiverem melhores posicionados politicamente,geralmente aqueles que tiveram fidelidade aos acontecimentos históricos. Aascendência das mobilizações populares não é facilmente prevista, revoluções não seanunciam, são vividas, e geralmente as condições de sua existência são verificadas aposteriori. Por isso não se pode esperá-las, não se pode postergar o trabalhoorganizativo até uma futura insurreição de massa, na qual os “esclarecidosrevolucionários” se apresentará mecanicamente como a direção da plebe rude. Asmassas não aguardam as direções, sendo que a autoproclamação de vanguarda

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somente serve para satisfazer as expectativas e ansiedades da pequena burguesiaradicalizada.

Também o oposto do mito do descenso de massa parte do mesmo erro: osubjetivismo. Alguns agrupamentos da esquerda tentam causar o ascenso das massassimplesmente anunciando-o diuturnamente. Para estes, por oportunismo conscienteou não, enxergam em cada situação um período pré-revolucionário. Criam análises ediscursos que são monumentos à ansiedade. O resultado desta prática é claramenteperceptível, as maiorias os enxergam como alienígenas. Muitas das vezes este tipode interpretação está apoiada em uma leitura mecânica das obras revolucionárias, deum estilo doutrinário de pensamento alheio à criação, que apresenta soluções pré-moldadas antes mesmo de refletir sobre as questões que se colocam para o tempopresente. As respostas para as questões atuais não podem ser produzidas em série,

tão pouco serão encontradas por meio da visita importuna às sinistras enciclopédias.Citações não criam teoria, tampouco convencem as massas. Para se aproximar deuma análise concreta é necessário partir do real. Somente assim é possívelcompreender a situação da luta de classes e produzir a melhor política.

Não é certo que a classe proletário-popular está adormecida, as lutas acontecem,porém em um nível de consciência muito imediato. O que falta é uma melhorcompreensão de como elas estão se desenvolvendo, muitas vezes de forma

subterrânea. Porém esta compreensão não vem apenas dos estudos, mas da inserçãono meio popular.

DESVENDAR OS MITOS

s análises de conjuntura são aproximações do real, assim, mitos e

quaisquer outros tipos de abstrações não são apropriadas a umesforço sério de interpretação da situação. A conjuntura atual nos

exige a capacidade de estabelecer parâmetros mais sólidos para a ação.

A crise mundial é sistêmica e profunda e pode inaugurar um períodohistórico novo que desafia as forças sociais anticapitalistas. É preciso terconsciência que o Brasil está inserido dentro deste conjunto de mudanças

globais, com as quais tem profunda interação. Neste sentido, as respostas atéagora apresentadas estão longe de oferecerem alternativas contundentes aosconstrangimentos causados pela deterioração da ordem capitalista mundial.As contestações populares se generalizam, ainda que pouco sólidas e órfãs de

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uma proposta alternativa. As organizações revolucionárias podem contribuirna construção deste novo patamar de disputa política, mas terão que secredenciar a partir da atuação consciente junto às massas. O mundo não émais o mesmo, a mudança não é apenas um imperativo moral, mas uma

exigência cada vez mais urgente.

 Brasil, 05 de janeiro de 2012.

O QUE SÃO AS BRIGADAS POPULARES?

Brigadas Populares é uma organização política autônoma, que possui como objetivo estratégico a construção do Poder Popular no Brasil. Poderestabelecido a partir da participação consciente das amplas bases populares,  trabalhadores e trabalhadoras e dos setores conscientes da sociedade  brasileira. A construção do Poder Popular faz parte do processo deemancipação política, econômica, social e ideológica da classe

 trabalhadora que se concretiza por via da Revolução Brasileira. As Brigadas Populares são uma contribuição na organização, formaçãoe mobilização do povo brasileiro, e acredita que a construção do Poder Popular passa pela participação direta e política das camadas populares e  das suas organizações: sindicatos, associações, grêmios, movimentos sociais e organizações políticas comprometidas com emancipação da classe trabalhadora.

Nossos Compromissos:

1)  Contribuir para a organização do povo, superando a dispersão e oindividualismo presente no sistema capitalista. Organizar paraemancipar.

2)  Contribuir para a elevação do nível de consciência política do povo,estabelecendo a consciência de classe explorada, superando aideologia burguesa, alienante, que impede a compreensão darealidade e das necessidades dos trabalhadores e das trabalhadoras.

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3)  Contribuir com a elevação do nível de luta, "somente a luta muda avida", para que as demandas do povo brasileiro sejam solucionadas énecessária a luta direta, organizada e consciente.

Pátria Livre e Poder Popular:

Entendemos que a construção do Poder Popular é o instrumento necessário,unindo caminho e caminhante, para desde agora construir a sociedade nova,das bases populares até a totalidade da sociedade. Acreditamos que ocaminho passa a construção de uma Pátria Livre, soberana em todos osaspectos, que possa estruturar suas capacidades humanas e naturais paracorrigir as profundas desigualdades geradas por mais de 500 anos deexploração imperialista e capitalista.

Método de trabalho:

Ao desenvolver as lutas diretas e econômicas, como por exemploocupações urbanas, manifestações pela Reforma Urbana etc; construímos

através da formação a consciência política sobre os problemas queenfrentamos. A relação entre a teoria e a prática é mediada pela a organizaçãodas pessoas, estas são organizadas pelas suas necessidade imediatas e noprocesso educam-se politicamente.

O instrumento que utilizamos para ampliar a organização e a consciênciadas comunidades são as Assembléias Populares, espaço de participação ondecada pessoas tem a oportunidade de colocar sua opinião e discutir sobre osassuntos de interesse da comunidade e do povo.

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Para conhecer melhor as Brigadas Populares:www.brigadaspopulares.org 

E-mail: [email protected]