quarta-feira, 4 de setembro de 2013 rússia em são o … · nalista da radio free eu-rope na...

4
NOTAS Um ex-policial que adulterou a seu favor uma oferta de cartão de crédito recebida pelo correio em 2008 está causando polêmi- ca. Dmítri Agarkov escaneou o documento, alterou as condições e enviou de volta à instituição. Sua versão do contrato implicava em taxa de juros de 0%, crédito ilimitado e nenhu- ma tarifa anual. Agarkov também instituiu o direito de multar o banco em 3 milhões de rublos (R$ 198 mil) toda vez que ele não cumprisse com o acordo, além de 6 milhões de rublos (R$ 396 mil) para o cancelamen- to do contrato. Os funcionários do banco aparentemente não leram as letras minús- culas, assinaram o acordo e emitiram um cartão para Agarkov. O escândalo veio à tona cinco anos de- pois, e o caso foi parar nos tribunais quan- do o banco tentou recuperar a dívida não paga. Agakov saiu vitorioso, e o juiz decla- rou que o contrato era legal, exigindo ape- nas que ele pagasse a dívida contraída. Artiom Zagorodnov Ex-policial altera contrato e engana banco Alguns edifícios de Moscou serão cober- tos por grafites ecológicos feitos com uma substância especial a partir da qual brota um musgo. De acordo com o porta-voz do Departamento de Recursos Naturais de Mos- cou, Anton Kulbatchévski, a nova tecnolo- gia permite criar quaisquer desenhos ou ins- crições nas paredes de edifícios. “O primeiro desenho já apareceu na pa- rede da livraria Dom Knígui na rua Nôvi Arbat, em Moscou”, disse. O desenho leva de duas a três semanas para tomar forma e ficará nas paredes até que caia a primeira neve. Segundo Kulba- tchévski, se os moscovitas gostarem do “eco- -grafite”, a prefeitura da cidade Moscou con- tinuará a investir no projeto. Vassíli Krilov A Duma de Estado (câmara baixa do Par- lamento russo) está considerando um pro- jeto que propõe proibir a doação de san- gue por homossexuais. Segundo o vice-presidente do Comitê para a Ciência, Mikhail Degtiariov, a ideia é que a homos- sexualidade seja adicionada à lista de con- tra-indicações à doação, como já acontece nos Estados Unidos com a doação de san- gue de homens homossexuais. “A medida não é discriminatória, já que os homossexuais representam 65% dos por- tadores do vírus HIV”, declarou Degtiariov. Vassíli Krilov Fachadas de Moscou ganharão “eco-grafite” Governo quer proibir doação de sangue por gays Polêmica Comunidade internacional teme pela segurança de LGBTs russos Maioria dos russos apoia a proibição da “propaganda de valores não tradicionais para menores de idade”. Em 11 de junho deste ano, a Duma (câmara dos deputa- dos da Rússia) aprovou, por unanimidade, uma lei que proíbe cidadãos russos, es- trangeiros no país ou empre- sas de mídia de fazer “pro- paganda de relações sexuais não tradicionais” voltada a menores de idade. Popularmente chamada de “lei antigay russa” no Oci- dente, o projeto gerou críti- Experiências de Brasil, Índia, China e África do Sul servem de lição à Rússia Comunida- de LGBT alega que proibição vai margi- nalizar ain- da mais seus mem- bros, já pri- vados de di- versos direitos IAROSLAVA KIRIUKHINA GAZETA RUSSA A lei que pesa sobre a bandeira do arco-íris cas ferozes da comunidade internacional. Liudmila Alekseieva, ex- -dissidente soviética e cofun- dadora da organização de di- reitos humanos Grupo Helsinki de Moscou, chamou a legislação de “um passo rumo à Idade Média”. Já o historiador Kirill Kobrin, historiador e jor- nalista da Radio Free Eu- rope na Rússia, acredita que houve uma grande mu- dança na consciência do público sob o comando do Kremlin. “Na Rússia, era impensável até mesmo dis- cutir essas questões há vinte anos”, diz ele. A deputada Elena Mizú- lina, uma das autoras da lei e líder do Comitê sobre Fa- mília, Mulheres e Crianças na Duma, garante que a le- gislação tem como objetivo apenas proteger as crianças de informações que vão con- tra os “valores familiares tradicionais”. O presidente russo Vladí- mir Pútin manifestou apoio à nova lei, afirmando que sua única meta é “proteger as crianças”. Pútin também disse que os homossexuais “não estão sendo discrimi- nados de forma alguma”. Mas muitos observadores in- ternacionais questionam CONTINUA NA PÁGINA 2 No início deste ano, os eco- nomistas Nouriel Roubini e Ian Bremmer prenunciaram durante o Fórum Econômi- co Mundial de Davos que a Rússia deve ser substituída pela Indonésia ou Turquia no grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e Áfri- ca do Sul). Para que isso não aconte- ça, o país deve prestar aten- ção às vias de desenvolvimen- to dos outros países do bloco nos últimos anos e tirar as devidas lições e conclusões. Economia Estudo aponta caminho para melhorar a economia russa seguindo exemplo de outros membros Apesar da desaceleração geral, Rússia é vista como o elo fraco do conjunto de países emergentes mais promissores da atualidade. Esta é a opinião de um grupo de especialistas rus- sos que elaborou recomen- dações para as autoridades do país a partir da experi- ência dos parceiros da Rús- sia no Brics. Entre os especialistas estão o presidente do Quirguistão e membro da Academia das Ciências da Rússia Askar Akaev, o professor da Facul- dade de Processos Globais da Universidade Estatal de Moscou Andrêi Korotaev, e o coordenador científico do Instituto de Economia da Academia das Ciências da Rússia, Serguêi Malkov. Os autores do estudo acre- ditam que a participação ativa do Estado na econo- mia é mais importante que o liberalismo e a iniciativa privada. A Rússia ficou para trás? Na última década, os Brics foram um centro de atra- ção para os investidores. Mesmo durante a crise de 2008 e 2009, quando países desenvolvidos entraram em recessão, os resultados das economias em desenvolvi- mento foram bastante satisfatórios. Já os da economia russa, que ficou para trás tanto em relação aos Brics quanto aos países desenvolvidos, nem tanto: em 2009, sua taxa de crescimento caiu 7% em re- lação ao ano anterior. Foi O “R” dos Brics em apuros INTERFAX.RU P.4 QUARTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2013 O melhor da gazetarussa.com.br Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES www.rbth.ru Próxima edição 18 de setembro Museu Lasar Segall exibe obras de artistas brasileiros e alemães que ilustraram narrativas do escritor. Considerado por muitos o maior escritor russo de todos os tempos, Fiódor Dostoié- vski (1821-1881) é tema de exposição em cartaz no museu Lasar Segall, em São Paulo, desde julho. A mostra “Noites Bran- cas: Dostoiévski Ilustrado”, que fica em cartaz até o dia 29 de setembro, conta com obras de Lasar Segall (1891- 1957), Oswaldo Goeldi (1895- 1961), Alfred Kubin (1877- 1959) e outros 11 artistas que, com seus desenhos e gravuras, buscaram reali- zar interpretações gráficas da obra de Dostoiévski. Das 64 obras expostas, 44 vieram das instituições ale- mãs Gabinete de Gravuras de Dresden e Museu Linde- nau, de Altenburg, e foram trazidas pela primeira vez ao Brasil especialmente para a mostra. São gravuras, de- senhos e livros originais edi- tados no Brasil e na Alemanha. Com curadoria de Samuel Titan Jr., professor do De- partamento de Teoria Lite- rária e Literatura Compa- rada da Universidade de São Paulo, a exposição enfoca o diálogo entre os artistas da mostra e a obra de Dostoi- évski representada pelo ex- pressionismo alemão. “A ideia da exposição surgiu um pouco por acaso. Em 2005, ganhei uma bolsa para estudar em Berlim e decidi procurar ilustra- ções de Alfred Kubin, pois já conhecia a ligação dele com Goeldi. Encontrei uma edição de 1913 do livro ‘O Duplo’ com 60 ilustra- ções de Kubin e, pesquisan- do mais, fui me dando conta de que Dostoiévski foi adotado pelo expressionis- mo alemão como uma figura de destaque”, Dostoiévski é tema de exposição em SP VANESSA CORRÊA DA SILVA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA como a nova lei poderá ser aplicada sem que os repre- sentantes LGBT sejam alvo de discriminação. No dia em que a lei foi aprovada, o comissário dos diretos humanos na Rússia, Vladímir Lukin, se adian- tou em dizer que a “aplica- ção imprudente” da legis- lação poderá levar a “tragédias e perdas humanas”. Origem da lei A chamada “defesa dos va- lores tradicionais” é um tema que tem chamado a atenção de todo o mundo para a Rússia. Hoje, trami- ta no parlamento, por exem- plo, um projeto para limitar o número de vezes que uma pessoa poderá se casar no país. A aprovação do projeto apelidado “antigay” veio na esteira de leis estaduais se- melhantes aprovadas no país. Em São Petersburgo, a lei foi usada em uma ten- tativa de processar a canto- ra Madonna por comentá- rios pró-LGBT feitos Rússia em São Paulo Restaurante nos Jardins torna-se opção para os “órfãos” da cozinha russa na cidade CONTINUA NA PÁGINA 4 CONTINUA NA PÁGINA 3 AP/EASTNEWS REUTERS

Upload: dangtuyen

Post on 27-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

NOTAS

Um ex-policial que adulterou a seu favor uma oferta de cartão de crédito recebida pelo correio em 2008 está causando polêmi-ca. Dmítri Agarkov escaneou o documento, alterou as condições e enviou de volta à instituição.

Sua versão do contrato implicava em taxa de juros de 0%, crédito ilimitado e nenhu-ma tarifa anual. Agarkov também instituiu o direito de multar o banco em 3 milhões de rublos (R$ 198 mil) toda vez que ele não cumprisse com o acordo, além de 6 milhões de rublos (R$ 396 mil) para o cancelamen-to do contrato. Os funcionários do banco aparentemente não leram as letras minús-culas, assinaram o acordo e emitiram um cartão para Agarkov.

O escândalo veio à tona cinco anos de-pois, e o caso foi parar nos tribunais quan-do o banco tentou recuperar a dívida não paga. Agakov saiu vitorioso, e o juiz decla-rou que o contrato era legal, exigindo ape-nas que ele pagasse a dívida contraída.

Artiom Zagorodnov

Ex-policial altera contrato e engana banco

Alguns edifícios de Moscou serão cober-tos por grafi tes ecológicos feitos com uma substância especial a partir da qual brota um musgo. De acordo com o porta-voz do Departamento de Recursos Naturais de Mos-cou, Anton Kulbatchévski, a nova tecnolo-gia permite criar quaisquer desenhos ou ins-crições nas paredes de edifícios.

“O primeiro desenho já apareceu na pa-rede da livraria Dom Knígui na rua Nôvi Arbat, em Moscou”, disse.

O desenho leva de duas a três semanas para tomar forma e fi cará nas paredes até que caia a primeira neve. Segundo Kulba-tchévski, se os moscovitas gostarem do “eco--grafi te”, a prefeitura da cidade Moscou con-tinuará a investir no projeto.

Vassíli Krilov

A Duma de Estado (câmara baixa do Par-lamento russo) está considerando um pro-jeto que propõe proibir a doação de san-gue por homossexuais. Segundo o vice-presidente do Comitê para a Ciência, Mikhail Degtiariov, a ideia é que a homos-sexualidade seja adicionada à lista de con-tra-indicações à doação, como já acontece nos Estados Unidos com a doação de san-gue de homens homossexuais.

“A medida não é discriminatória, já que os homossexuais representam 65% dos por-tadores do v írus HIV”, declarou Degtiariov.

Vassíli Krilov

Fachadas de Moscou ganharão “eco-grafi te”

Governo quer proibir doação de sangue por gays

Polêmica Comunidade internacional teme pela segurança de LGBTs russos

Maioria dos russos apoia a proibição da “propaganda de valores não tradicionais para menores de idade”.

Em 11 de junho deste ano, a Duma (câmara dos deputa-dos da Rússia) aprovou, por unanimidade, uma lei que proíbe cidadãos russos, es-trangeiros no país ou empre-sas de mídia de fazer “pro-paganda de relações sexuais não tradicionais” voltada a menores de idade.

Popularmente chamada de “lei antigay russa” no Oci-dente, o projeto gerou críti-

Experiências de Brasil, Índia, China e África do Sul servem de lição à Rússia

Comunida-de LGBT alega que proibição vai margi-nalizar ain-da mais seus mem-bros, já pri-vados de di-versos direitos

IAROSLAVA KIRIUKHINAGAZETA RUSSA

A lei que pesa sobre a bandeira do arco-íris

cas ferozes da comunidade internacional.

Liudmila Alekseieva, ex--dissidente soviética e cofun-dadora da organização de di-reitos humanos Grupo Helsinki de Moscou, chamou a legislação de “um passo rumo à Idade Média”.

Já o historiador Kirill Kobrin, historiador e jor-nalista da Radio Free Eu-rope na Rússia, acredita que houve uma grande mu-dança na consciência do público sob o comando do Kremlin. “Na Rússia, era impensável até mesmo dis-cutir essas questões há vinte anos”, diz ele.

A deputada Elena Mizú-lina, uma das autoras da lei e líder do Comitê sobre Fa-mília, Mulheres e Crianças na Duma, garante que a le-gislação tem como objetivo apenas proteger as crianças de informações que vão con-tra os “valores familiares tradicionais”.

O presidente russo Vladí-mir Pútin manifestou apoio à nova lei, afirmando que sua única meta é “proteger as crianças”. Pútin também disse que os homossexuais “não estão sendo discrimi-nados de forma alguma”. Mas muitos observadores in-ternacionais questionam CONTINUA NA PÁGINA 2

No início deste ano, os eco-nomistas Nouriel Roubini e Ian Bremmer prenunciaram durante o Fórum Econômi-co Mundial de Davos que a Rússia deve ser substituída pela Indonésia ou Turquia no grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e Áfri-ca do Sul).

Para que isso não aconte-ça, o país deve prestar aten-ção às vias de desenvolvimen-to dos outros países do bloco nos últimos anos e tirar as devidas lições e conclusões.

Economia Estudo aponta caminho para melhorar a economia russa seguindo exemplo de outros membros

Apesar da desaceleração geral, Rússia é vista como o elo fraco do conjunto de países emergentes mais promissores da atualidade.

Esta é a opinião de um grupo de especialistas rus-sos que elaborou recomen-dações para as autoridades do país a partir da experi-ência dos parceiros da Rús-sia no Brics.

Entre os especialistas estão o presidente do Quirguistão e membro da Academia das Ciências da Rússia Askar Akaev, o professor da Facul-dade de Processos Globais da Universidade Estatal de Moscou Andrêi Korotaev, e o coordenador científi co do Instituto de Economia da Academia das Ciências da Rússia, Serguêi Malkov.

Os autores do estudo acre-ditam que a participação ativa do Estado na econo-mia é mais importante que

o liberalismo e a iniciativa privada.

A Rússia ficou para trás?Na última década, os Brics foram um centro de atra-ção para os investidores. Mesmo durante a crise de 2008 e 2009, quando países desenvolvidos entraram em recessão, os resultados das economias em desenvolvi-mento foram bastante satisfatórios.

Já os da economia russa, que fi cou para trás tanto em relação aos Brics quanto aos países desenvolvidos, nem tanto: em 2009, sua taxa de crescimento caiu 7% em re-lação ao ano anterior. Foi

O “R” dos Brics em apuros

INTERFAX.RU

P.4

QUARTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2013

O melhor da gazetarussa.com.br

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

PRODUZIDO PORRUSSIA BEYONDTHE HEADLINESwww.rbth.ru

Próxima edição

18de setembro

Museu Lasar Segall exibe obras de artistas brasileiros e alemães que ilustraram narrativas do escritor.

Considerado por muitos o maior escritor russo de todos os tempos, Fiódor Dostoié-vski (1821-1881) é tema de exposição em cartaz no museu Lasar Segall, em São Paulo, desde julho.

A mostra “Noites Bran-cas: Dostoiévski Ilustrado”, que fi ca em cartaz até o dia 29 de setembro, conta com obras de Lasar Segall (1891-1957), Oswaldo Goeldi (1895-1961), Alfred Kubin (1877-1959) e outros 11 artistas que, com seus desenhos e gravuras, buscaram reali-zar interpretações gráfi cas da obra de Dostoiévski.

Das 64 obras expostas, 44 vieram das instituições ale-mãs Gabinete de Gravuras de Dresden e Museu Linde-nau, de Altenburg, e foram trazidas pela primeira vez ao Brasil especialmente para a mostra. São gravuras, de-senhos e livros originais edi-tados no Bras i l e na Alemanha.

Com curadoria de Samuel Titan Jr., professor do De-partamento de Teoria Lite-rária e Literatura Compa-rada da Universidade de São Paulo, a exposição enfoca o diálogo entre os artistas da mostra e a obra de Dostoi-évski representada pelo ex-pressionismo alemão.

“A ideia da exposição surgiu um pouco por acaso. Em 2005, ganhei uma bolsa para estudar em Berlim e decidi procurar ilustra-ções de Alfred Kubin, pois já conhecia a ligação dele com Goeldi. Encontrei uma edição de 1913 do livro ‘O Duplo’ com 60 ilustra-ções de Kubin e, pesquisan-do mais, fui me dando conta de que Dostoiévski foi adotado pelo expressionis-mo alemão como uma f ig u ra de de s t aque”,

Dostoiévski é tema de exposição em SP

VANESSA CORRÊA DA SILVAESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

como a nova lei poderá ser aplicada sem que os repre-sentantes LGBT sejam alvo de discriminação.

No dia em que a lei foi aprovada, o comissário dos diretos humanos na Rússia, Vladímir Lukin, se adian-tou em dizer que a “aplica-ção imprudente” da legis-lação poderá levar a “ t r a g é d i a s e p e r d a s humanas”.

Origem da leiA chamada “defesa dos va-lores tradicionais” é um tema que tem chamado a atenção de todo o mundo para a Rússia. Hoje, trami-ta no parlamento, por exem-plo, um projeto para limitar o número de vezes que uma pessoa poderá se casar no país.

A aprovação do projeto apelidado “antigay” veio na esteira de leis estaduais se-melhantes aprovadas no país. Em São Petersburgo, a lei foi usada em uma ten-tativa de processar a canto-ra Madonna por comentá-r ios pró-LGBT feitos

Rússia em São PauloRestaurante nos Jardins torna-se opção para os “órfãos” da cozinha russa na cidade

CONTINUA NA PÁGINA 4

CONTINUA NA PÁGINA 3

AP/

EAST

NEW

S

REU

TERS

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BREspecial LGBT

durante um show na cidade em agosto do ano passado.

A Igreja Ortodoxa Russa tem sido uma grande força por trás da nova legislação. O líder religioso, Patriarca Kirill, é conhecido por suas declarações contra os ho-mossexuais. Durante uma missa em Moscou, em julho, Kirill declarou que o casa-mento entre pessoas do mesmo sexo é “um sinal pe-rigoso do apocalipse” e que tal acontecimento “indica que as pessoas estão optan-d o p e l o c a m i n h o d a autodestruição”.

De acordo com a nova le-gislação, os cidadãos que pro-moverem “relações não tra-dicionais para menores” poderão pagar multas de 5 mil a 100 mil rublos (R$ 350 a R$ 7.100), enquanto estran-geiros correm o risco de ser detidos por até 15 dias e de-portados, além de pagar multa de até 100 mil rublos.

Problema históricoAs relações sexuais entre pes-soas do mesmo sexo foram descriminalizadas na Rússia há apenas 20 anos, em 1993, quando a “lei sobre sodomia”, datada de 1934, foi revogada.

velem quantas pessoas se identifi cam como LGBT no país.

Logo após a aprovação da lei antigay, o presidente Vla-dímir Pútin assinou, em 3 de julho, uma emenda ao Códi-go Russo da Família proibin-do a adoção de crianças rus-sas por casais de gays e lésbicas que vivem no exte-rior. O projeto de lei já havia sido aprovado por unanimi-dade pela Duma de Estado em terceira e última leitura. Casais do mesmo sexo tam-pouco são reconhecidos na Rússia e não podem partici-par de processos de adoção.

Nos últimos sete anos, a co-munidade LGBT viu-se im-possibilitada de realizar pro-testos e paradas devido a proibições impostas pela pre-feitura de Moscou. O ex-pre-feito Iúri Lujkov chegou a qualifi car tais eventos como “satânicos”. Grupos que ten-taram furar as proibições foram atacados por manifes-tantes e detidos pela polícia.

Grupos extremistas de cristãos ortodoxos foram res-ponsáveis por alguns desses ataques, disparando cuspes e ovos podres sobre ativistas pacífi cos. Mas o registro mais chocante de violência acon-teceu no primeiro semestre

A aprovação da lei que proíbe a “propa-ganda de relações sexuais não tradi-

cionais para menores de idade” foi acolhida negati-vamente pela comunidade LGBT internacional e enti-dades de defesa dos direitos humanos.

A reação era esperada e não preocupa o Kremlin. Cerca de 76% dos russos são favoráveis à nova norma e apenas 17% são contra. Leis estaduais semelhantes foram aprovadas em 11 das 83 uni-dades federativas russas. Mas a norma só foi aplicada quatro vezes na região de Arkhanguelsk e uma em São Petersburgo. As decisões ju-diciais tomadas em Arkhan-guelsk, porém, foram con-testadas na Corte Suprema da Rússia, que esclareceu, em um despacho especial, que nem todo ato público é propaganda.

Mas os críticos da Rússia não querem saber. Acusam o país de seguir o caminho da Alemanha nazista e com-param o Holocausto à per-seguição a gays na Rússia. Assim, sugerem transferir os Jogos de Inverno de 2014 para outro país. Pelo menos é exatamente isso o que pede o escritor e ator britânico Stephen Fry em carta aber-ta ao primeiro-ministro do Reino Unido e ao COI (Co-m i t ê O l í m p i c o Internacional).

Mesmo sendo um dos crí-ticos mais duros do presi-

dente Pútin, o campeão mun-d ia l de xad rez Gar r y Kasparov é contra a campa-nha de boicote. “Como atleta profi ssional, não posso saudar o boicote aos Jogos de Sôtchi. Tais ações prejudicam injus-tamente os atletas, indepen-dentemente de suas opiniões pessoais”, disse em entrevista a uma emissora de rádio.

Em um editorial de 27 de junho do The New York Times lê-se: “Os crescentes apelos de boicote às Olimpíadas de Sôtchi ganharão força. Isso não permitirá que os jogos se tornem o triunfo de Pútin”.

A campanha é ativa, e os sites da grande mídia pedem incessantemente que usuários enviem histórias sobre proble-mas com homossexuais rus-sos. Mas a tentativa de apre-sentar como protesto o beijo de duas corredoras russas é fruto da imaginação dos jor-nalistas. Ambas mantêm ca-samentos heterossexuais.

Já que o problema dos gays preocupa tanto a grande mídia, por que a imprensa oci-dental mantém silêncio em re-lação à situação dos homos-sexuais na Arábia Saudita, no Qatar, ou no Iraque, cujo novo governo foi criado sob o con-trole dos EUA?

A ideia de boicotar os Jogos Olímpicos não é nova. O boi-cote aos Jogos de Moscou em 1980 devido à intervenção mi-litar soviética no Afeganistão e a retaliação da URSS em relação aos Jogos Olímpicos de Los Angeles são exemplos claros das campanhas de boi-cote. Os pretextos eram dife-rentes, mas o mecanismo, sem-pre o mesmo. Não é nada pessoal, apenas política.

OPINIÃO

Pretexto muda, mas mecanismo de boicote é sempre movido a política

Andrêi IliachenkoJORNALISTA

de 2013 em Volgogrado, cerca de 1.000 km a sudeste de Mos-cou. Lá, um homem que pro-testava pelos direitos LGBT foi morto a garrafadas e pedradas.

Fotos da violência contra manifestantes LGBT não

param de circular nas redes sociais. Ao provocar indig-nação e ganhar importância internacional, o material con-tribui para reforçar a segu-rança dessa comunidade na Rússia. Mas não há números ofi ciais sobre a violência fí-sica contra os LGBT no país.

Crítica internacional A aprovação da nova lei gerou reação de fi guras públicas in-ternacionais. A protagonista de “Crônicas de Nárnia”, Tilda Swinton, por exemplo, causou burburinho nas redes sociais ao posar para foto com uma bandeira do arco-íris em frente ao Kremlin em junho.

Além disso, alguns grupos LGBT nos EUA pedem o boi-

cote dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sôtchi, que acon-tecerão em 2014, como forma de protestar contra a nova le-gislação. O Comitê Olímpico Internacional divulgou um comunicado ofi cial dizendo que irá garantir que não haja discriminação aos partici-pantes LGBT no evento.

Medidas políticas também foram tomadas para pressio-nar o Kremlin. Jón Gnarr, prefeito da capital da Islân-dia, ameaçou cortar laços com Moscou, e a Câmara Municipal de Melbourne, na Austrália, recebeu uma pe-tição com 10 mil assinatu-ras exigindo que o mesmo fosse feito em relação a São Petersburgo.

Até a vodca russa foi alvo de uma campanha de boico-te, liderada pelo colunista nor te -a mer ica no Da n Savage.

Mas, mesmo diante de crí-ticas ferozes, o Kremlin per-manece resoluto, enquanto muitos russos não entendem a reação que a legislação pro-vocou no Ocidente, insistin-do que não se trata de uma lei antigay, mas de uma norma contra a propaganda de valores homossexuais des-tinada apenas “a proteger as crianças”.

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Maria olha com ternura sua companheira Irma, que con-cordou em fazer um casa-mento de fachada com um homem para poderem fi car juntas. Se não tivesse se ca-sado, a família de Irma, que é da república russa do Da-guestão, a teria forçado a um relacionamento com um noivo de sua escolha.

Na tumultuada república islâmica, ser homossexual é equivalente a um “fora da lei”, e a única casa noturna

Vídeos de skinheads espan-cando homossexuais na Rússia têm se espalhado pela inter-net brasileira. Como o gover-no lida com esse tipo de vio-lência?Somos absolutamente contra violência desse tipo, que re-presenta um comportamento inadequado do que é a escó-ria da sociedade.

O sr. não acha que uma lei como essa “contra a propa-ganda de valores não tradicio-nais” pode intensificar o ódio à comunidade LGBT e desen-cadear mais ocorrências do gênero?Não, não acho. A lei não é voltada contra a comunida-

para LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais) na capital do Daguestão, Makha-tchkalá, foi incendiada en-quanto seus frequentadores eram agredidos do lado de fora.

Maria e Irma só se assu-miram para um seleto grupo de amigos, a maioria LGBT. Ao tentar solicitar crédito imobiliário na Rússia como casal, tiveram o pedido re-cusado por serem ambas mu-lheres. Foi só quando Maria resolveu fazer a solicitação como solteira que o banco fi -

n a l me nt e conce deu o empréstimo.

Casamentos fictícios são uma forma efi caz de encobrir

a realidade não só para o mu-lheres, mas para homens ho-mossexuais. Ser gay na Rús-s i a s ó é a c e i t o e m

IAROSLAVA KIRIÚKHINAGAZETA RUSSA

Novas leis têm apoio popularPesquisas recentes do VTsIOM (Centro de Pesquisa de Opi-nião Pública da Rússia) suge-rem que grande parte dos rus-sos (88%) apoiam a nova “lei antigay”, e 54% defendem a criminalização da homossexu-alidade. Enquanto 94% dos entrevista-dos declararam nunca ter ti-do contato com “propaganda gay”, 84% deles disseram se opor à ela. O principal ativista dos direi-tos LGBT do país, Nikolai Alek-seiev, está processando a de-putada Elena Mizúlina, uma das principais figuras por trás da nova lei, por “incitação ao ódio”. Ele também acusa o governo russo de crimes contra a hu-manidade e diz temer que a legislação reforce a não aceita-ção à já marginalizada comuni-dade gay russa. No Facebook, a iniciativa “The Children-404”, promovida pe-la jornalista russa Elena Klímo-va, pede que se compreenda, tolere e reconheça a juventude LGBT no país.

" Quando o mundo está mudando de tal forma que coisas completa-

mente não naturais ocorrem, o que podemos esperar da cinematografia? Um filme bom e intenso simplesmente não pode existir em um mundo on-de o casamento entre pessoas do mesmo sexo é oficialmente legalizado.”

" Insistimos em direitos iguais para todos e vamos continuar a lutar

contra os valores patriarcais que estão sendo ativamente disseminados pela Igreja e pelo governo. Fazemos isso porque não acreditamos que esses valores e normas se encaixem na sociedade mo-derna.”

FRASE

Nikita Mikhalkov

Ígor Kotchetkov

DIRETOR DE “O SOL ENGANADOR” (1994),

FILME PREMIADO COM UM OSCAR

DIRETOR DA “REDE RUSSA LGBT”

ENTREVISTA MIKHAIL TROIÁNSKI

Cônsul russo condena ataques a gays

determinadas profissões, como a indústria da moda. Mesmo assim, ser abertamen-te gay no trabalho poder re-sultar, em muitos casos, em discriminação.

O jornalista político Anton Krasovski, por exemplo, foi demitido recentemente de seu cargo como editor-chefe do canal de TV a cabo fi nancia-do pelo Kremlin “Kontr-TV”, após sair do armário em uma transmissão ao vivo. “Tomei essa atitude porque os gays estão sofrendo na Rússia”, d i sse. “É hora de ter coragem.”

Maria e Irma, no entanto, acham que é desaconselhá-vel protestar publicamente contra a proibição da “pro-paganda gay”, já que isso ape-nas tornaria a situação ainda pior para a comunidade LGBT da Rússia.

de LGBT, mas contra os va-lores que eles podem difun-d i r e n t r e c r i a n ç a s , trastornando sua psique, ainda fraca e não preparada para extravagâncias.

Tal lei não aproxima mais a Rússia de posições considera-das retrógradas aplicadas em países muçulmanos, aumen-tando o abismo entre Rússia e Ocidente? Isso não poderá ter impacto negativo sobre as relações políticas e comerciais russas? Em primeiro lugar, não penso que seria correto ofender os países muçulmanos com o termo “retrógradas”. Eles têm outra cultura e religião, cujas

concepções de vida são defe-rentes dos ocidentais. Isso é normal.

As quatro principais reli-giões da Rússia - Igreja Or-todoxa russa, Islã, Budismo e Judaísmo - concordam plena-mente com a posição do nosso governo nessa questão, defen-dendo os valores da família tradicional.

Em terceiro lugar, não penso que entre a Rússia e o Ocidente haja um abismo. O que existe, sim, é um trata-mento diferente com relação a diferentes questões. E as re-lações políticas e comerciais internacionais não dependem da comunidade LGBT, mas de outros fatores.

Os autores dessa lei afirmam que seu objetivo é proibir a propaganda das relações se-xuais não tradicionais entre as crianças. Isso significa que a propaganda da relações se-xuais tradicionais é permitida?Eu não conheço um país onde seja permitida a propaganda das relações sexuais tradicio-nais. Para quê? É uma esfera da vida íntima das pessaas. A única “propaganda” que se realiza nesse sentido perten-ce, no meu parecer, ao cine-ma. Mas mesmo lá existem os limites de idade, não é?

IDADE: 64 ANOS

CARGO: CÔNSUL-GERAL DA

RÚSSIA EM SÃO PAULO

Entrevista concedida aMarina Darmaros,

Vassíli Krilov

Casamentos de fachada são arma contra discriminação

Legislação ameaça mandar LGBTs de volta ao armário

LGBT prevalece na socieda-de. Nenhum partido político russo apoia as minorias se-xuais e não existem estatís-ticas (ofi ciais ou não) que re-

Vinte anos depois da descriminalização da homossexualidade, Moscou ainda proíbe paradas LGBT

Além disso, em 1999, a homos-sexualidade foi retirada do índice ofi cial de doenças men-tais no país.

Porém, a discriminação aos

AFP/EASTNEWS

PHO

TOX

PRES

S

© R

IA N

OVO

STI

ITA

R-T

ASS

(2)

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BR Economia e Negócios

quando surgiram rumores de que a Rússia não teria mais lugar entre os Brics.

No curto prazo, o país pas-sará por uma nova provação, já que no primeiro trimestre deste ano o PIB da China cresceu “apenas” 7,5%. Já o crescimento da economia brasileira, que em 2012 não passou de 0,9%, deverá al-cançar os 2,5%, segundo o FMI, enquanto o da Índia cairá pela metade, compara-do ao de 2010.

O crescimento do PIB russo, ainda de acordo com o FMI, cairá pela metade. Mas há previsões ainda pio-res para o país, o que daria um fi m ao “R” no Brics.

Para alcançar Brasil, Índia, China e África do Sul e não deixar o conjunto das eco-nomias mais promissoras do momento, segundo o estudo, o governo russo deve, desde

já, arregaçar as mangas e por as mãos na massa.

O que aconselham é que as autoridades do país constru-am moradias e estradas, como na China, pois grandes projetos de infraestrutura são motores do crescimento. A ideia é que a Rússia siga o exemplo optando por um pro-grama de construção e me-lhoria das rodovias.

A China alcançou uma at-mosfera de intensa competi-tividade e até de dura con-corrência na luta pelos ritmos de crescimento, volume de capital investido, recursos e criação de postos de traba-lho por meio do estímulo es-tatal, trabalho ideológico e planifi cação. Como consequ-ência, surgiu o impulso ao d e s e n v o l v i m e n t o econômico.

Os dirigentes chineses re-correm ativamente aos seus empresários para concreti-zar projetos de infraestrutu-

Rússia tem a aprender com BricsCONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

ra. Ao mesmo tempo em que são pressionados pelas auto-ridades, os empresários re-cebem em troca proteção e melhoria social.

Da Índia e do BrasilImpulsionar o setor estatal da economia para lançar e desenvolver setores indispen-

sáveis, mas que não desper-tam o interesse do setor pri-vado, seria uma forma de combater monopólios e asse-gurar as receitas orçamen-tárias. Nesse tópico, o exem-plo vem da Índia.

De acordo com os especia-listas, o crescimento do setor privado não deve ser feito por

meio da desestatização, mas pelo apoio ao lançamento de novos empreendimentos.

Do Brasil, a tônica está na experiência do sistema fi scal progressivo, onde receitas ca-nalizadas para educação e saúde possibilitaram uma melhoria considerável da mão de obra e a aceleração

do ritmo de crescimento.A estratégia brasileira de

captação de investimentos poderia funcionar na Rússia, detectando-se em cada esta-do os setores em que o cres-cimento econômico pudesse se apoiar, buscando no mer-cado internacional os inves-tidores necessários e traba-

lhando para levá-los para cada uma das regiões em questão.

Mulheres africanasUma sólida infraestrutura fi -nanceira, elevados padrões de auditoria e contabilidade, e um sistema bancário segu-ro são ingredientes da recei-ta de sucesso da África do Sul, que está entre os dez pa-íses do mundo com melhor fi nanciamento a longo prazo, à frente de todos os outros Brics no quesito.

Outra questão muito atual que deve ser aplicada à Rús-sia, segundo os especialistas, diz respeito à ampliação dos direitos políticos das mulhe-res. Enquanto a porcentagem de mulheres no Parlamento sul-africano cresceu de 27,8%, em 1994, para 44%, em 2009, nos órgãos legisla-tivos regionais esse aumento subiu, no mesmo período, de 25,4% para 42,4%.

Projetos de infra-estrutura deverão servir de motor do crescimento, como na China

Especialistas apostam suas fichas não na privatização, mas na criação de novas empresas

Energia Segundo especialista, investimento da Gazprom foi baixo, mas possibilitará entrada da Rosneft na exploração de petróleo do país

Gigante estatal russa irá explorar gás boliviano em parceria com a francesa Total. Contrato foi assinado no Palácio do Governo da Bolívia.

Três companhias energéticas de diferentes pontos do globo, a boliviana YPFB, a russa Gazprom e a francesa Total, assinaram um contrato no mês passado para explora-ção do bloco Azero, um campo de gás de 785.623 hec-tares na Bolívia. O evento ocorreu no Palácio de Gover-no da Bolívia e contou com a presença do presidente bo-liviano Evo Morales e seu mi-nistro de Hidrocarbonetos, Juan José Sosa.

“A presença da Rússia e da Gazprom na prospecção e ex-tração de gás na Bolívia é uma satisfação e um avanço enorme para o povo local. Vamos continuar a melhorar a economia nacional”, decla-rou então o presidente boliviano.

“No caso de uma descober-ta comercial positiva nessa área, o governo imediata-mente criará uma sociedade

anônima entre esses parcei-ros e a YPFB que será res-ponsável pela extração e pro-dução de gás”, completou o ministro Sosa.

A delegação da Gazprom foi chefi ada pelo vice-diretor de operações, Roman Kuz-netsov. “É uma grande honra que o primeiro contrato tenha sido assinado no Pa-lácio de Governo com a pre-sença do presidente Evo Mo-

rales. A Bolívia é um dos países mais atraentes para a realização e desenvolvimen-to de projetos de gás”, decla-rou Kuznetsov.

Baixo investimento?De acordo com a analista do banco de investimentos VTB Capital, Ekaterina Ródina, os investimentos da Gazprom na Bolívia são insignifi can-tes. “Os investimentos anu-

ais da Gazprom ultrapassam os US$ 40 bilhões. Os US$ 130 milhões que foram des-tinados à exploração na Bo-lívia representam um valor irrisório para uma empresa tão grande”, diz Ródina. “Quase todos os investimen-tos das petrolíferas no exte-rior são infrutíferos.”

O contrato assinado em La Paz prevê ainda que a petro-lífera estatal russa Rosneft

se una à Gazprom para ex-plorar petróleo no local. Isso deve ampliar a área de in-fl uência da gigante russa do petróleo, que já está presen-te no Brasil, México, Vene-zuela e Peru.

Relações bilateraisA assinatura do acordo foi antecipada durante o encon-tro entre o presidente boli-viano Evo Morales e seu ho-

mólogo russo, Vladímir Pútin, na véspera da cúpula do FPEG (Fórum de Países Exportadores de Gás), rea-lizada em Moscou no início de julho.

“Foi a primeira vez que um país tão grande como a Rús-sia nos convidou para uma reunião bilateral. Fiquei sur-preso”, declarou Morales na véspera de sua viagem à ca-pital russa.

Com a descoberta de vas-tas reservas de gás de xisto nos Estados Unidos, os paí-ses participantes da cúpula falaram sobre a necessidade de vincular os preços do gás ao do petróleo, assim como assinar mais contratos de ex-portação a longo prazo para garantir a estabilidade do mercado internacional de energia.

Os presidentes da Rússia e Bolívia confi rmaram que a exploração de gás é a base das relações entre os dois pa-íses. Morales declarou que a Bolívia está interessada na presença da Rússia na explo-ração dos recursos nacionais bolivianos, primeiramente no desenvolvimento das jazidas de gás, que contêm mais de 11,2 bilhões de pés cúbicos.

Além da cooperação na área de hidrocarbonetos, o acordo bilateral entre Mora-les e Pútin assinado em Mos-cou inclui a compra pelo go-verno boliviano de dois helicópteros russos Mi-17, a serem usados na luta contra o tráfi co de drogas, e o au-mento das vagas para estu-d a nt e s bol iv ia no s n a Rússia.

Gazprom assina acordo com Bolívia

Representantes da Gazprom, Total e YPFB celebram contrato na presença do presidente Morales

VASSÍLI KRILOVGAZETA RUSSA

" A presença da Rússia e da Gazprom na pros-pecção e extração de

gás na Bolívia é uma satisfação e um avanço enorme para o povo local. Vamos continuar a melhorar a economia nacional.”

FRASE

Evo MoralesPRESIDENTE DA BOLÍVIA

Fórum dos exportadores O FEPG (Fórum dos Países Ex-portadores de Gás) foi realiza-do pela primeira vez em 2001, em Teerã. Trata-se de uma or-ganização internacional que reúne treze dos principais pro-dutores de gás de todo o mun-do (mais 60% das reservas mundiais), com o objetivo de promover uma estratégia co-mum para a comercialização dessa fonte de energia não re-novável. Entre os membros do grupo estão Rússia, Bolívia, Venezuela, Argélia, Irã e Líbia.

Antes de receber este ano a cúpula do G20, o grupo das maiores economias do mundo, as autoridades de São Petersburgo correram contra o tempo para entre-gar uma nova estrada e re-solver problemas com imi-grantes ilegais, sobretudo da CEI (Comunidade dos Esta-dos Independentes), de modo a i m p r e s s i o n a r o s participantes.

A última reunião do grupo, composta por ministros da Economia e Finanças e pre-sidentes de bancos centrais das grandes economias de-senvolvidas e emergentes, aconteceu no fi nal de julho e identifi cou os pontos mais importantes da agenda da próxima cúpula.

Em comunicado fi nal, as au-toridades fi nanceiras das 20 maiores economias do plane-ta aprovaram três planos de

Saindo do buraco Recessão direciona roteiro de discussões

Pauta de encontro dos líderes G20, realizado a partir desta quinta-feira (5) em São Petersburgo, busca estímulo ao crescimento econômico.

ação: para estudar a possibi-lidade de aumentar os inves-timentos a longo prazo; para combater a evasão fi scal; e o chamado “Plano de ação de São Petersburgo”, destinado à promoção de um crescimen-to equilibrado da economia mundial por meio da geração de empregos.

O tema da desaceleração econômica irá dominar a pauta da cúpula, já que o pro-

blema não afeta só a Euro-pa, em recessão prolongada, mas também os EUA e paí-ses emergentes, que apresen-taram desaceleração do PIB nos últimos anos.

“Esse fenômeno se deve, em parte, aos processos cíclicos e à falta de ajustamento es-trutural”, explica o especia-lista-chefe em macroecono-mia da IHS Global Insight, Nariman Beravesh.

Em julho passado, o FMI (Fundo Monetário Internacio-nal) reduziu sua previsão de crescimento global para 2013 de 3,3% para 3,1%, deixando, contudo, no mesmo nível (1,2%) suas estimativas para os países desenvolvidos.

Já as estimativas da enti-dade para as economias emer-gentes são menos otimistas: o PIB da China deverá crescer 7,8%, contra a previsão ante-rior de 8%; o Brasil, 2,5% (an-teriormente 3%), e a Índia, 5,6% (anteriormente 5,7%).

Para a Rússia, os números são alarmantes. Em julho pas-sado, o índice PMI da indús-tria transformadora russa caiu pela primeira vez, desde agosto 2011, para o nível mais baixo desde dezembro de 2009. Previsões pessimistas para a economia russa já haviam sido divulgadas pelo FMI e pelo Banco Mundial, que reduzi-ram as previsões de cresci-mento do PIB para 2,5% e 2,3%, respectivamente.

Presidindo atualmente o G20, a Rússia deve enfatizar a necessidade de aumento dos investimentos para a recupe-ração global.

rotativa da Rússia e que será levado adiante durante a pre-sidência austríaca prevê ações coordenadas para garantir in-dependência às agências an-ticorrupção, combater a lava-gem de dinheiro e controlar a mobilidade de servidores pú-blicos envolvidos em tais crimes.

Alguns dos temas em pauta foram herdados pela Rússia de presidências anteriores. Entre eles, estão a continua-ção da reforma da arquitetu-ra fi nanceira internacional e a regulação fi nanceira. Isso inclui a reorganização das cotas de participação no FMI em favor dos países emergen-tes, aprovada pelo G20 ainda em 2010 e que preocupa so-bretudo os países do Brics.

“Há dois grandes desafi os para a recuperação econô-mica: como colocar em ação o motor do desenvolvimento e como reduzir os riscos por meio de uma arquitetura fi -nanceira internacional que evite desequilíbrios capazes de provocar uma nova crise”, afi rma o analista econômi-co Evsei Gurvitch. Além disso, os países do G20 devem buscam criar instituições para aumentar o controle sobre a aplicação de inves-timentos e rever políticas go-vernamentais de apoio a investidores.

O combate à evasão fi scal e à corrupção também deve estar no alvo da próxima cú-pula. Um plano de ação ela-borado durante a presidência

Cúpula do G20 focará em investimentos

Um dos tópicos prioritários será ação coordenada contra corrupção e evasão fiscal

TATIANA LÍSSINAESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Entre temas herdados de presidências anteriores está reforma da arquitetura financeira

PIB do BRIC em previsão

PHO

TOSH

OT/

VOST

OC

K-PH

OTO

SERV

IÇO

DE

IMPR

ENSA

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BREm Foco

EXPEDIENTEWWW.RBTH.RU E-MAIL: [email protected] TEL.: +7 (495) 775 3114  FAX: +7 (495) 775 3114 ENDEREÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993

EDITOR-CHEFE: EVGUÊNI ABOV; EDITOR-CHEFE EXECUTIVO: PÁVEL GOLUB; EDITOR: DMÍTRI GOLUB; SUBEDITOR: MARINA DARMAROS;

EDITOR NO BRASIL: WAGNER BARREIRA; EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV;CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: [email protected] © COPYRIGHT 2013 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

PRESIDENTE DO CONSELHO: ALEKSANDR GORBENKO (ROSSIYSKAYA GAZETA); DIRETOR-GERAL: PÁVEL NEGÓITSA; EDITOR-CHEFE: VLADISLAV FRÓNIN É EXPRESSAMENTE PROIBIDA A REPRODUÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO OU RETRANSMISSÃO DE QUALQUER PARTE DO CONTEÚDO DESTA PUBLICAÇÃO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO ESCRITA DA ROSSIYSKAYA GAZETA. PARA OBTER AUTORIZAÇÃO DE CÓPIA OU REIMPRESSÃO DE QUALQUER ARTIGO OU FOTO, FAVOR SOLICITAR PELO TELEFONE +7 (495) 775 3114 OU E-MAIL [email protected]

ESCREVAPARA A REDAÇÃO DA

GAZETA RUSSA EM PORTUGUÊS:

[email protected]

FOLHA DE S.PAULO, BRASIL • THE DAILY TELEGRAPH, REINO UNIDO • THE WASHINGTON POST, ESTADOS UNIDOS • THE NEW YORK TIMES, ESTADOS UNIDOS • THE WALL STREET JOURNAL, ESTADOS UNIDOS • LE FIGARO, FRANÇA • SÜDDEUTSCHE ZEITUNG, ALEMANHA • EL PAÍS, ESPANHA • LA REPUBBLICA, ITÁLIA • LE SOIR, BÉLGICA • EUROPEAN VOICE, UNIÃO EUROPEIA • DUMA, BULGÁRIA • GEOPOLITICA, SÉRVIA • POLITIKA, SÉRVIA • ELEUTHEROS TYPOS, GRÉCIA • ECONOMIC TIMES, ÍNDIA • NAVBHARAT TIMES, ÍNDIA • MAINICHI SHIMBUN, JAPÃO • CHINA BUSINESS NEWS, CHINA • SOUTH CHINA MORNING POST, CHINA (HONG KONG) • LA NACION, ARGENTINA • EL OBSERVADOR, URUGUAI • TODAY, CINGAPURA • JOONGANG ILBO, COREIA DO SUL • UNITED DAILY NEWS , TAIWAN • THE SYDNEY MORNING HERALD, THE AGE, AUSTRÁLIA. E-MAIL [email protected]. MAIS INFORMAÇÕES EM HTTP://GAZETARUSSA.COM.BR/QUEMSOMOS

A FOLHA DE S.PAULO É PUBLICADA PELA EMPRESA FOLHA DA MANHÃ S.A., ALAMEDA BARÃO DE LIMEIRA, 425, SÃO PAULO-SP, BRASIL, TEL: 55 11 3224 3222O SUPLEMENTO “GAZETA RUSSA” É DISTRIBUÍDO NAS ÁREAS METROPOLITANAS DE SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA, COM CIRCULAÇÃO DE 128.469 EXEMPLARES (IVC MARÇO 2012 – MÉDIA MENSAL)

CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS

NA NEBLINAHORÁRIOS A CONFIRMAR, PÁTIO PAULISTA – CINEMARK 6, SÃO PAULO

Dirigido pelo bielorrusso Serguêi Loznitsa, o filme disputou a Palma de Ouro do Festival de Cannes do ano passado. A história retrata um ferroviário inocente que é detido com sabotadores de um trem na fronteira ocidental da União Soviética sob ocupação alemã, em 1942. Desesperado para salvar sua dignidade, o protagonista enfrenta sérias escolhas morais. › www.cinemark.com.br

MOSSHOES 2013DE 23 A 26 DE SETEMBRO, CROCUS EXPO, MOSCOU - RÚSSIA

Especializada em calçados, bolsas e acessórios, a feira existe desde 1997 e é uma das principais do Leste Europeu. É realizada quatro vezes por ano, e entre seus participantes há mais de 500 fabricantes de diversos países, como Itália, China, Alemanha, Turquia, Polônia e também Brasil. A exibição é uma ótima oportunidade de contato entre fabricantes, compradores, revendedores e fashionistas, e define o mercado local da estação. › www.mosshoes.com/

CONFIRA MAISwww.gazetarussa.com.br

RECEITA

Antepasto russo-francês que esquenta

O “aspic” é um prato prepara-do à base de carne ou peixe, no qual os ingredientes ficam cobertos por uma gelatina ao consomê. Na Rússia, ele sur-giu no início do século 19 e re-sultou da influência da escola francesa. Mas muito antes da chegada de cozinheiros estrangeiros ao país, pratos frios semelhantes já eram preparados na Rús-sia. Em casas de nobres, no dia que se seguia a uma re-cepção, os restos dos pratos eram picados, misturados com consomê e resfriados, resul-tando no “studen” (gelatina) destinado aos serviçais. A febre de se levar cozinheiros estrangeiros ao país começou nos séculos 18 e 19, iniciada por Piotr I. Esses chefs, so-bretudo franceses, viraram o sonho de consumo da nobre-za, que os incorporou a suas

cozinhas. E foram justamente os franceses que adaptaram o “studen”, deixando sua gelatina mais límpida e acrescentando ervas, especiarias, raízes, legu-mes e cogumelos, além de usar os melhores cortes de carne e peixe em seu preparo.O preparo do “aspic”, servido como antepasto, era bastan-te demorado: o corte era feito de maneira rebuscada e incluía pedacinhos de peixe, ovos co-zidos, limão e legumes dispos-tos cuidadosamente em forma-tos especiais. Apesar de ter sido preparado com carnes de caça, aves e outros animais, o único “aspic” que vingou na culinária russa foi o de peixe. Seu sabor forte, porém, não agrada a todos: em uma visita à Rússia em 2005, o presidente Barack Obama disse que o pra-to lhe suscitou sentimentos de “profunda inquietação”.

DARIAGONZALEZ

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Ingredientes:

• 1,5 a 2 kg de peixe • 2 cenouras médias• 2 cebolas• 50 g de aipo• 2 folhas de louro• 8 a 10 pimentas-do-reino em grãos• 5 g de pimenta-do-reino em pó • 20 g de sal • 40 a 50 g de gelatina ins-tantânea• 10 ovos de codorna • Ervas frescas: salsa, endro• 1 limão

Modo de preparo:

O antepasto deve ser prepa-rado com antecedência e con-servado na geladeira por até 7 dias e servido em porções individuais. Para o preparo podem ser uti-lizadas diferentes variedades de peixes de água doce, como a carpa.Limpe os peixes frescos, re-mova as guelras e as entra-nhas, separe as cabeças e as caudas. Faça filés de tama-nhos iguais, retire as espinhas. As caudas e as cabeças de-vem ser colocadas em água fria e levadas ao fogo até a fervura. Em seguida, deve-se retirar a espuma e adicionar as cenou-ras, as cebolas, a salsa, o en-dro, a pimenta-do-reino em grãos, as folhas de louro e o sal. Mantenha no fogo por 15 minutos, retirando a espuma de tempos em tempos.Retire as cabeças e caudas do caldo, coloque os pedaços de peixe já preparados e cozinhe em fogo baixo até que fiquem macios. Depois, tire com cui-dado os pedaços de peixe do

caldo com a ajuda de uma es-cumadeira, e coloque-os em uma travessa ou em forminhas. O caldo deve ser coado com 2 a 3 camadas de gaze.Dica: O caldo não deve ferver muito, pois isso poderá deixá-lo turvo e escuro. Para ficar mais transparente, basta adicionar, ao final do cozimento, um cubinho de gelo e levar para ferver no-vamente.Dissolva 50 g de gelatina em um copo de água morna e mis-ture com o caldo coado, leve à fervura (mas não deixe ferven-do) e cubra os pedaços de pei-xe com ele. Decore o prato com cenouras cozidas, cortadas em estrelinhas, ervilhas verdes, fo-lhinhas de salsa, ovos bem co-zidos e cortados em rodelas, e despeje o restante do caldo. Deixe esfriar.O prato também pode ser de-corado com rodelas de limão, mas apenas após enrijecer. Do contrário, a gelatina tomará um sabor amargo. Costuma-se ser-vir o “aspic” de peixe acompa-nhado de vegetais frescos, pepi-nos marinados e frescos, molho de raiz forte e vinagre, maione-se com ervas e azeitonas verdes ou pretas.

disse Titan Jr. à Gazeta Russa.

“Entre os autores do sécu-lo 19, Dostoiévski era aquele que, para os alemães, pare-cia ter o caráter mais visio-nário. Mais do que um ro-mancista, ele foi um autor que soube fazer com precisão o diagnóstico da crise do homem de sua época”, expli-ca o professor.

A admiração por Dostoié-vski fez com que diversos ar-tistas do expressionismo ale-mão se dedicassem a ilustrar contos e trechos de seus ro-mances. “Max Beckmann, que ilustrou episódios do ro-mance ‘Recordações da Casa dos Mortos’, dizia: ‘Quero ser para Dostoiévski o que Bot-ticelli foi para Dante’”, conta Titan Jr., fazendo referência à relação do pintor italiano Sandro Botticelli com o autor de “Divina Comédia”.

Segundo o professor, dú-zias de edições ilustradas de seus contos e romances sur-giram na Alemanha entre o início da década de 1910 e a ascensão do nazismo, quan-do o expressionismo passou a ser reprimido e entrou em declínio. Além de ilustrações, houve o surgimento de uma série de gravuras em pedra, madeira e metal, além de por-tfólios em formato de revis-ta, com artistas mostrando suas interpretações da obra do escritor russo.

Expressionismo alemão dá o tom em mostra de Dostoiévski

Exposição “Noites Brancas”: Dostoiévski Ilustrado traz obras de Segall e Kubin

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

tradução dos textos. “As ilus-trações têm um peso muito grande até hoje e talvez sejam a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas quando pensam nessa coleção.”

Fazem parte da exposição diversos desenhos e gravu-ras feitos por Oswaldo Go-eldi encomendados pela José Olympio durante as décadas de 1930 e 1940. Entre as nar-rativas que ganharam inter-pretações de Goeldi na forma de desenhos estão “Memórias do Subsolo”, “O Idiota” e “Humilhados e Ofendidos”.

O público também poderá

conferir uma série de cinco litografi as que Lasar Segall realizou em 1917 em torno da novela “Uma criatura dócil”, além de gravuras de alemães como Erich Heckel, Max Beckmann e Otto Möl-ler, e 40 das 60 gravuras de Kubin que fazem parte da edição de 1913 de “O Duplo” encontrada por Titan Jr. em Berlim.

Para Gomide, a exposição faz parte da redescoberta de Dostoiévski no Brasil, com reedições de obras do escri-tor feitas por diversas edito-ras, peças teatrais e fi lmes.

Com o fechamento de seu úl-timo restaurante russo, o Café Pittoresque, São Paulo já não tinha mais um endereço fi xo para a comida russa. Entre as alternativas restantes aos sau-dosos do arenque, dos blini e do salmão defumado, resta-ram apenas as festas culiná-rias que acontecem periodi-camente na Vila Zelina ou um “pulinho” no Rio de Ja-neiro para se deliciar com a comida do Dona Irene, onde também se destila o próprio “ s a m o g o n ” ( v o d c a artesanal).

Desde o fi nal de novembro, porém, a cidade conta com uma nova alternativa. É o Ca-marada Bistrô, que, apesar do nome que remete ao socialis-mo soviético, oferece comida sofi sticada.

O empreendimento nasceu como um projeto de MBA ide-alizado pelo casal russo-bra-sileiro Gustavo Makhoul, 28, e Daria Muzychenko, 31, que se conheceram trabalhando em uma empresa de navega-ção na Bélgica.

“Chamamos o restaurante de Camarada porque era a maneira como os comunistas se tratavam uns aos outros, uma espécie de irmandade. A maneira como a gente quer receber as pessoas é assim,

Gastronomia Empreendimento é fruto do projeto de MBA de casal russo-brasileiro

Camarada Bistrô encontrou lugar entre órfãos da comida russa na cidade e conquista novos amantes da especialidade.

russa. “As conservas neutra-lizam o sabor entre uma dose e outra”, explica Gustavo.

Além da bebida na sua forma clássica, outro sucesso do bar tem sido o coquetel “White Russian”, com cor de café e preparado à base de creme de leite e vodca. Segun-do os proprietários, cresce o público que frequenta o espa-ço para degustar as entradi-nhas e se deliciar com coque-téis a noite toda.

Fora do barNo salão, os visitantes têm opções de pratos variados, desde as famosas panquecas russas (“bliní”) até novida-des para o paladar brasilei-ro, como o “golubtsi”, uma mistura de carnes bovina e suína enrolada em folhas de repolho ao creme de dill, e o “oladi”, panquequinha de ba-tata temperada com sabor mais suave e certeiro, além do pelmêni artesanal, a massa recheada que, de tanto os clientes russos insistirem, foi incorporada ao cardápio diário.

Com a chegada do frio, a especialidade da casa são as sopas, que também podem ser apreciadas em menu “degus-tação”: a clássica borsch de beterraba, a schi, a sopa de cogumelos e a solianka. Du-rante o almoço, de segunda a sexta (exceto feriados), a casa também oferece cardápios “executivos” e já começa a in-coporar marcas de vale-refei-ç ã o c o m o o p ç ã o d e pagamento.

São Paulo ganha restaurante russo “executivo”

Ambiente do Camarada Bistrô: sofisticação e aconchego

Arenque salmoura: culinária vai além do óbvio

MARINA DARMAROSGAZETA RUSSA

muito aberta e aconchegan-te”, conta Gustavo.

Com diferentes ambientes bem decorados, como o salão com sacada e estantes reche-adas de livros e o terraço aber-to no andar superior, o casal parece ter atingido seu objetivo.

Localizado na rua Melo Alves, no Jardins, à noite o novo russo da cidade fi ca en-volto no burburinho dos bares

vizinhos, e já está virando des-tino também dos boêmios, com sua degustação de vod-cas. A casa mostra aos visi-tantes que a bebida vai muito além da Stolítchnaia, que ofe-rece junto à Rússki Standart (Russian Standart), a Pravda, além da suíça Xellent e da po-lonesa Wyborowa, entre outras.

A degustação consiste de quatro doses de vodca, acom-panhadas de conservas varia-das (pepinos, brócolis, cenou-ra, couve-fl or), uma tradição

“Chamamos o restaurante Camarada porque queremos receber de maneira aberta”

Casa mostra diversidade da vodca russa e oferece degustação com conservas

“Somente na Alemanha Dostoiévski foi objeto de uma recepção gráfi ca tão coeren-te. Essa tradição morreu no país, mas ressurgiu algum tempo depois no Brasil, com as edições de suas obras pela editora José Olympio”, diz Titan Jr.

Para o professor Bruno Go-mide, coordenador do pro-grama de pós-graduação em Literatura e Cultura Russa da USP, as ilustrações feitas para as edições da José Olym-pio são um dos pontos altos da coleção e receberam o mesmo cuidado dedicado à

A tradição de representar graficamente a obra de Dostoiévski nasceu na Alemanha, mas prosperou no Brasil, com o traço de Goeldi e Segall.

gazetarussa.com.br/18587

STO

CK

FO

OD

/FO

TOD

OM