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LEIALDO PULZ UM MUNDO CHAMADO

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Apresentamos um capítulo (Experiências Futebolísticas) do livro que conta as nossas experiências na Rússia entre 2010-2011

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Page 1: Um Mundo chamado Rússia

LEIALDO PULZ

UM MUNDO CHAMADO

Page 2: Um Mundo chamado Rússia

EXPERIÊNCIAS FUTEBOLÍSTICAS

Quando falamos de Brasil, logo vem a associação na mente

dos russos com café e futebol. Mas o café brasileiro já é assediado

pela concorrência de outros países, como Etiópia, Colômbia, entre

tantos outros.

Neste caso então sobra a imagem do país do futebol. E este

esporte é o mais popular do mundo. Em todos os cantos existem

pessoas que correm atrás de uma bola.

A admiração na Rússia pelos nossos desportistas é constatá-

vel pelo número destes atletas nos times do país. Praticamente to-

das as equipes da primeira divisão têm no seu elenco nossos

compatriotas. Mesmo na segunda divisão, percebe-se o empenho

dos times em reforçar seu elenco com algum jogador daqui, ou

mesmo da Argentina. Mas a busca por sul-americanos atualmente

tem se diversificado e a busca por uruguaios, paraguaios e outros

tem crescido.

Page 3: Um Mundo chamado Rússia

Por isto não seria de admirar que em nossa Krasnodar hou-

vesse ao menos um brasileiro jogando no time local. Quando chega-

mos em 2005, o Clube de Futebol Kuban era daqueles times que,

ora está na Segundona, ora sobe para a Primeirona.

Na Universidade, ficamos sabendo que o time tinha um bra-

sileiro jogando lá. Ficamos felizes, pois até então pensávamos que

éramos os únicos brasileiros conhecidos por aquelas estepes.

Descobrimos que ele era a estrela do time, e conseguir o contato

assim direto era algo que precisava ser batalhado. Certo dia, o

celular toca e ao atender ouvi um sotaque baiano falando do outro

lado. Demorou uns micro-segundos até reorientar a mente para o

português e conversar com o conterrâneo.

Dali em diante, desenvolvemos uma amizade muito profun-

da com este jogador. Ele havia saído ainda novo em sua carreira

para jogar na Bósnia. Passou um tempo lá e o clube de Krasnodar o

contratou. Sem família (esposa e filhos), sem maiores impedimentos

aceitou o desafio de ir para Krasnodar. E isto é digno de nota, pois

muitos jogadores que vão para fora do Brasil, em busca de

realização profissional e estabilidade financeira, se deparam lá fora

com falta de estrutura, solidão, choques culturais e etc. Isto acaba

levando a uma volta prematura ou desestímulo, que afeta a

carreira.

Acompanhamos (como família) todas as alegrias e dificulda-

des destes profissionais que no decorrer dos anos passaram por

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Krasnodar. Muitas são as lutas, desde o assédio, a cobrança, o

despreparo para situações da vida lá fora, as saudades de casa e

entre outros aspectos dos brasileiros no estrangeiro.

O futebol russo sempre foi marcado por, digamos, suspeitas

em relação a sua integridade. Muitos analistas afirmam que as fra-

cas atuações dos times da URSS e Rússia eram resultado de uma

máquina de corrupção que não deixavam com que as equipes con-

seguissem atingir um nível técnico para conseguir competir com os

outros times europeus. Num país onde tudo era resolvido fora do

campo, era de se esperar que os resultados em competições inter-

nacionais fossem frustrantes. E este “jeitinho russo” incomodava

muitos jogadores. Não que em outros lugares este tipo de “jeitinho”

não existisse, mas era sempre tão evidente na Rússia, que os própri-

os torcedores diziam: o time campeão sempre é o time do Premier

(na época soviética). Coincidentemente, era exatamente isto que

acontecia!

Mas a chegada cada vez maior da “legião estrangeira”,

investimentos privados e a seriedade dos campeonatos vêm

elevando o nível do futebol russo. Hoje eles já brigam nos

campeonatos europeus de forma mais digna, passando das

primeiras fases, e até mesmo se tornando campeões, como CSKA e

o Zenit.

Todo russo com quem conversei sobre o assunto de futebol

torcia por um time russo (óbvio!) e para um time europeu da

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Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha, ou outro. A pergunta que me

faziam era sempre para que time russo eu torcia, o que era normal,

mas em seguida a questão era para que time europeu. Quando dizia

que não tinha nenhuma equipe pela qual eu tinha simpatia

imediata, suas caras sempre expressavam assombro. Como um

brasileiro pode não ter um time de futebol? Isto se explica pelo fato

de os russos não terem idéia de que futebol possa existir em outros

continentes. Nenhum deles conhecia clubes brasileiros, ou mesmo

sul-americanos. Taça Libertadores? Que é isto? - perguntavam.

Mundial de Clubes? Enfim, eu sempre desistia da conversa no meio,

pois mostrar que se existem jogadores brasileiros, deveria indicar

que eles deveriam jogar em algum time por aqui, antes de ir para a

tão badalada Europa.

Para um russo, ir ao estádio é como ir a um balé, um espetá-

culo, assistir um filme. É parte de uma herança cultural da URSS,

onde atividades “culturais” eram de acesso das massas. O crescente

padrão da técnica, jogadas de efeito (de brasileiros na maioria, é

claro!) estimularam o público a se aproximar dos clubes de futebol.

O esporte virou um grande negócio, e isto tem profissionalizado o

espetáculo.

Mas nem só dos profissionais tem vivido a paixão dos russos

pelo futebol. Ao longo do tempo que vivemos lá, pudemos ver se

multiplicar as quadras e campos de futebol, especialmente do tipo

“grama sintética”. O interesse de pais em buscar uma atividade

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física para os filhos também impulsionou o mercado de escolinhas

de futebol. O governo tem encontrado no esporte uma forma de

ideologia perdida com o fim da URSS. O consumo de drogas e álcool

tem alarmado as autoridades, e em especial as autoridades de

Krasnodar. A solução mais rápida foi incentivar a prática de esporte.

Assim, através de alguns contatos na cidade, nós com um

grupo de amigos propusemos a vinda de uma equipe de futsal do

Brasil para trabalharmos um pouco esta questão. O alvo principal

era atingir as crianças, que são o ponto mais fraco e desprotegido

destes terríveis males que atacam todas as sociedades. Tínhamos a

experiência de um amigo nosso no Brasil que vem trabalhando com

uma ONG em São Paulo em comunidades carentes da capital.

Agregamos a isto a necessidade dos russos e o interesse do futebol.

O resultado foi que em 2010, um grupo de 8 jogadores foram até

Krasnodar para este projeto. A equipe contava com jogadores

profissionais de futsal que já haviam jogado na Liga Italiana, outros

que foram para Portugal e EUA. Mas a grande estrela do time era

um ex-jogador da seleção brasileira de futsal, bi-campeão mundial.

A presença dele foi fundamental para que conseguíssemos chamar

a atenção da imprensa local e de algumas autoridades.

O projeto durou ao todo duas semanas, e estivemos em

muitos lugares do estado e na capital. Participamos de um torneio

de futsal de rua, numa quadra onde ocorriam os jogos da liga de

Krasnodar de futsal de rua. Os atletas foram em escolas, ginásios,

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estádio. As emissoras locais de TV (5 canais ao todo) fizeram repor-

tagens, entrevistas e uma “coletiva de imprensa”. Foi muito impor-

tante para a região, especialmente para as pequenas cidades do in-

terior. A chegada do time causou um verdadeiro alvoroço em cida-

des do interior, e mesmo na cidade de Maykop, capital da República

da Adygea, tivemos uma partida com o time local, onde o estádio

municipal ficou completamente lotado.

A mensagem que queríamos transmitir para aquela socieda-

de era de que existem valores aos quais devemos nos apegar, o que

ia ao encontro do discurso do próprio governo, ou seja, um

chamado para valorização da família, uma atitude contra as drogas,

e a necessidade da fé.

Sempre fomos bem recepcionados nos lugares por onde

passamos. As pessoas eram atenciosas e sempre procuravam o con-

tato, o que era muito estranho para mim, pois geralmente os russos

são frios, distantes e muito desconfiados. Isto até causou uma im-

pressão equivocada com o pessoal da equipe, que acabou levando

aquele clima cordial e amistoso como sendo a constante da vida dos

russos.

Em uma cidade no interior de Krasnodar tivemos uma expe-

riência um tanto negativa. Num dos jogos que os brasileiros partici-

param, um deles se chocou com um russo e caiu. Ele sentiu uma for-

te dor no ombro, mas teimosamente continuou em campo. Ao aca-

bar a partida sentindo muitas dores, ele me procurou e pediu para

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ver se poderíamos ver o que havia ocorrido. Felizmente no local ha-

via uma ambulância de plantão, e recorremos ao pessoal ali.

Fizeram uma faixa e deram algum remédio, mas a situação não

parecia nada boa. Uma das organizadoras do evento veio ao meu

encontro e recomendou que fôssemos para o hospital municipal

para falar com os médicos.

Não tive como conter em minha mente as cenas das experi-

ências anteriores nos hospitais de Krasnodar, mas pensando na

situação de nosso atleta, resolvemos prosseguir. Ao grupo se somou

outro jogador que estava sentindo fortes dores nas costas. Ao che-

garmos ao hospital, a moça que cuidava da organização do evento

tomou a dianteira e foi falar com alguém lá dentro. Parece que cida-

des pequenas têm a vantagem de que certas pessoas carregam

consigo alguma influência e logo são recebidas. Em pouco tempo ela

volta com o médico que vem perguntando o que havia acontecido.

Ele examinou os jogadores com muita paciência (!!!) e pediu

que fôssemos até uma sala onde seria tirada uma radiografia.

Comecei a imaginar para onde tudo aquilo nos levaria,

especialmente em termos financeiros. Neste meio tempo fiquei

conversando com algumas pessoas ali mesmo, pois parecia que

todos os funcionários que estavam naquele dia no hospital, num fim

de sábado, num hospital de cidade interiorana vieram ver o

movimento que estava acontecendo. Achei muito engraçado tudo

aquilo, e a tensão foi baixando.

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Após alguns minutos, que não tenho bem certeza devido a

toda a situação, os médicos chamaram para uma sala. Eles haviam

constatado que um osso havia quebrado na região do ombro. Eles

achavam melhor operar para verificar os pequenos estilhaços que

estavam alojados e fazer o procedimento padrão. Devo confessar

que não entendi muito do que estavam falando, mas apontavam

com insistência para um local na radiografia, e era nítido o rompi-

mento e alguns pedaços pequenos pela região. Assustado com a

possibilidade de uma cirurgia naquele local, precisei ligar para um

amigo médico brasileiro em Moscou. Não tive resposta, por isto

convenci os médicos que iríamos esperar até termos uma posição

do nosso amigo lá de Moscou.

Os médicos não ficaram muito contentes com aquilo, pois

achavam que uma intervenção era necessária. Contudo, o humor

deles não se desfaleceu com isto, e acabaram por “tietar” nossos jo-

gadores, tirando várias fotos com eles, exclamando “quando tere-

mos a oportunidade de tirar fotos com celebridades assim de

novo?” e riam como crianças diante de um ídolo. Sorrimos aperta-

mos as mãos e fomos embora.

A noite conversei com nosso amigo médico, que após vários

minutos de conversa, deixou em nossas mãos a decisão, ou esperar

até a data da viagem para o jogador ser atendido no Brasil dali uma

semana, ou antecipar a viagem (e pagar por isto) para que fosse

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atendido de pronto. O próprio atleta resolveu permanecer com o

grupo.

Depois de uma semana o grupo foi embora, e entre tantas

dificuldades, especialmente com contusões e outros problemas físi-

cos, eles partiram animados, felizes por participar de um projeto tão

inusitado.

A pergunta que nos fazíamos como família era se aqueles

dias mágicos seriam apenas como sonhos de verão, que não voltari-

am a se repetir. Tivemos um tempo de grande alegria com a presen-

ça daqueles jogadores por lá, apesar de todas as dificuldades que ti-

vemos com burocracias, choques culturais dos atletas, falta de

preparo por parte dos russos na logística entre outros.

Mas no ano seguinte aconteceria outro projeto nos moldes

do anterior. Contudo, desta vez, ao invés de oito atletas, seriam

quatorze, sendo que alguns destes haviam participado do primeiro

time. O grupo, no entanto, era bem mais experiente em relação à

vida. Alguns já tinham famílias e vieram com o intuito de focar no

trabalho de mini-clínicas de futebol voltado mais para o público in-

fanto-juvenil. Se o primeiro time foi uma espécie de cartão de visi-

tas, um “abra alas”, este segundo veio colher os resultados do ante-

rior, pois já haviam sido estabelecidos alguns contatos, e isto na

Rússia é primordial para um bom desempenho. Apesar de não

contarmos com nenhuma “estrela” no time, fomos bem recebidos

por todos como se tivéssemos ali uma equipe de renome

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internacional. Principalmente nas cidades do interior, a festa

sempre era muito calorosa. E na realidade aquele momento de uma

equipe de brasileiros chegando à cidade ou vila, seria possivelmente

a única oportunidade de muitos estarem perto de jogadores, e até

mesmo de estrangeiros de uma forma geral.

Nossa intenção naquele momento não era entrar na mídia

mais expressamente, ainda que canais estivessem presentes em de-

terminadas ocasiões. Este segundo projeto esteve muito mais perto

das pessoas, e de forma mais especial, das crianças. Brincar e diver-

tir-se com elas era muito bom, além de abrir o coração dos pais.

Numa das ocasiões, quando estávamos numa escolinha de futebol

nos arredores de Krasnodar, enquanto nossos brasileiros brincavam

com as crianças no campo, eu passeava pelo gramado que estava

cheio de pais atentos ao que acontecia. De repente, alguém se apro-

ximou e disse: “Que interessante, como o pessoal brinca e se

diverte com nossos filhos!!!”. A alegria era contagiante, e os pais ali

presentes se maravilhavam com tudo aquilo.

O dia que mais marcou para mim foi quando tivemos a

oportunidade de visitarmos o Hospital de Câncer Infantil de Krasno-

dar. A diretora autorizou a vinda do grupo, com uma condição: as

crianças desceriam para a quadra, mas ficariam no máximo 30

minutos e ficariam sentadas fora da quadra assistindo o show dos

jogadores. Pensando na situação, não discordamos da diretora e

nos submetemos a todas suas ordens.

Page 12: Um Mundo chamado Rússia

Aquele provavelmente foi o dia mais quente do ano. O ter-

mômetro da praça estava marcando 40° C. Nossos atletas se

perguntavam o que poderia ser feito em tais condições, e senti que

alguns estavam desanimados, até mesmo pelo cansaço da maratona

a qual estavam sendo submetidos nos últimos dias.

Quando chegamos à quadra, vi um batalhão de crianças

sentadas, comportadas, algumas com os pais, e no canto estavam as

enfermeiras com seus jalecos brancos. Muitas das crianças estavam

com véu ou boné em suas cabeças, pois a quimioterapia tinha co-

brado um preço alto. Pensei comigo: “o que podemos fazer por

elas? O que será possível fazer aqui?”. Gosto de crer que esta

pequena oração foi escutada nos céus.

A enfermeira chefe veio repassar as condições da diretora, e

nos comprometemos em não desobedecermos a suas normas. O in-

teressante foi ver o nosso pessoal renovando as forças ao verem as

crianças. O capitão da delegação chamou os jogadores no centro e

passou as instruções rígidas da diretora e concluiu: “Pessoal, vamos

dar ao menos algum tempo de alegria para estas crianças, sei que

está calor, vocês estão cansados, mas façam isto por elas!!!”. Foi de

arrepiar…

Os jogadores foram para o centro da quadra com as bolas e

começaram a fazer a apresentação padrão com firulas, embaixadi-

nhas, toques de bola, ou seja, o espetáculo que eles muito bem sa-

biam fazer. As crianças ficavam ali paradas, imóveis em seus corpos,

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numa disciplina militar russa, mas foi só uma bola escapar, uma

brincadeira com a criança, um sorriso e um convite para chutar a

bola, que tudo foi por água a baixo. Em instantes as crianças esta-

vam em pé sorrindo, querendo chutar a bola também. As enfermei-

ras se olharam e simplesmente “deixaram o clima rolar”. Em pouco

tempo havia organizada uma fila para chutar a bola, outra para

abraçar jogadores, lá no canto outros tiravam fotos, e aí ninguém

mais ficou sentado. Até um mini-jogo foi organizado num outro

canto. E parecia que ninguém estava querendo sair dali. Depois de

bastante tempo, onde toda a programação já tinha furado, o

pessoal se aquietou um pouco e as bolas foram deixadas de lado. Já

não importava mais nada, todos foram tirar fotos, as crianças com

os jogadores, e os jogadores com as crianças.

Alguém da equipe havia trazido um violão e um tambor.

Pronto, aí virou festa mesmo. Os jogadores tocaram e cantaram

para as crianças, num ritmo bem brasileiro. Quando olho para meio

do grupo animado, vi uma enfermeira rebolando com uma ginga

típica de brasileiro (uma imitação, mas era o que ela podia fazer!!!).

Depois descobri que ela era a chefe das enfermeiras. Era surreal ver

tantas pessoas empolgadas e sorrindo. Depois de algumas músicas,

as enfermeiras pediram para as crianças se despedirem dos jogado-

res, pois dos 30 minutos que deveriam ficar fora, haviam se passado

quase duas horas! A despedida foi muito calorosa, com abraços e

mais fotos.

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Depois disto, chegou-se a mim a enfermeira chefe e me

apresentou a diretora do hospital. Preparei-me psicologicamente

para a bronca, aquela típica dos russos. Mas vi no seu rosto algo

surpreendente, ela me cumprimentou sorrindo e agradecendo por

nossa estadia ali. Ela se mostrou muito empolgada e resolveu fazer

um tour com nossos atletas pelo hospital. O convite não foi muito

bem recebido pelo nosso pessoal, que já estavam exaustos e

ansiosos por um banho depois daquela tarde quente. Mas eu sabia

que aquele momento era algo raro. O convite era uma honra que a

diretora estava estendendo para o grupo, pois este tipo de

oportunidade só é estendida quando um russo, especialmente no

caso de uma diretora de instituição pública, está plenamente

satisfeito e contente com algo.

Este foi um momento impar para nós, pois se confirmava di-

ante de nossos olhos uma característica especial do povo russo. Em

geral, eles se apresentam fechados, sérios, frios e desconfiados.

Contudo, tudo isto é muito mais uma fachada cultural que eles se-

guem à risca, mas quando se rompe esta primeira barreira, eles se

mostram absolutamente passionais, emotivos, e em certos aspec-

tos, quase latinos. Pena que para nós brasileiros, o romper destas

barreiras externas seja um processo tão demorado e penoso!

Muitos outros momentos interessantes ocorreram nesta se-

gunda viagem, mas gostaria de me restringir ao que já foi narrado,

Page 15: Um Mundo chamado Rússia

pois poderíamos nos delongar e acabar diluindo este encontro que

foi o mais marcante para todos.

Na despedida ao fim do projeto que durou duas semanas,

houve muita emoção no aeroporto. Alguns nitidamente

emocionados falaram do que aqueles poucos dias na Rússia haviam

representado para eles. Outros nos abraçaram comovidos e não fa-

laram nada. Vê-los partir foi um forte golpe nos nossos corações.

Mas para nós, sem que soubéssemos, o tempo de Rússia

também estava chegando ao fim…