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QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação do Conselho Europeu (Bruxelas, 13 e 14 de Dezembro de 2007) (debate) Presidente. - Seguem-se na ordem do dia as declarações do Conselho e da Comissão sobre a preparação do Conselho Europeu de Bruxelas, de 13 e 14 de Dezembro de 2007. Manuel Lobo Antunes, Presidente em exercício do Conselho . − Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras e Senhores Deputados, o próximo Conselho Europeu deverá desde logo registar com satisfação a assinatura do Tratado de Lisboa, que deverá ter lugar amanhã, na capital portuguesa, e a proclamação da Carta dos Direitos Fundamentais, que terá hoje lugar, aqui mesmo, dentro de breves instantes. Também não deverá deixar de se fazer um apelo a que o processo de ratificação do Tratado de Lisboa seja rapidamente concluído para que este possa entrar em vigor no próximo 1 de Janeiro de 2009. O Tratado de Lisboa, temo-lo dito, proporcionará à União um quadro institucional estável para os próximos anos, o que lhe permitirá consagrar-se inteiramente aos desafios políticos que o futuro nos reserva, designadamente as alterações climáticas e a globalização, tal como foi destacado em 19 de Abril último, na reunião informal de Chefes de Estado e de Governo. Neste contexto, o Conselho Europeu deverá aprovar uma declaração sobre a globalização. Salientar-se-á nesta declaração que, perante os desafios globais que se nos deparam, a União Europeia tem, simultaneamente, a oportunidade e a responsabilidade de agir. Para o efeito é fundamental que a União tire partido das suas políticas internas e externas. Estou a pensar no cumprimento dos objectivos da Estratégia de Lisboa para o Emprego e o Crescimento, na prossecução do ambicioso pacote sobre a energia e alterações climáticas aprovado no Conselho Europeu da Primavera deste ano, na definição de uma resposta global às recentes turbulências nos mercados financeiros, na promoção do comércio livre e da abertura, na colaboração com os nossos parceiros para prosseguir estratégias de desenvolvimento vigorosas e coerentes, no desenvolvimento de uma política de migração abrangente a nível europeu e no aprofundamento dos instrumentos e capacidades da Política Externa e de Segurança Comum e também na Política Externa de Segurança e Defesa, a fim de permitir que a União desempenhe um papel de crescente importância na construção de um mundo que seja um mundo mais seguro. A União Europeia deverá, enfim, contribuir para que a globalização seja uma fonte de oportunidades, e não uma ameaça, e que contribua para o bem-estar das pessoas. Esperamos, também, que no próximo Conselho Europeu seja criado um grupo de reflexão com o objectivo de contribuir para que a União possa avaliar e responder com maior eficácia aos desafios dos próximos vinte a trinta anos. O Conselho Europeu fará um balanço dos progressos efectuados no domínio da liberdade, da segurança e justiça. Temos que mencionar, desde logo, a abolição dos controlos nas fronteiras internas para os novos Estados-Membros, o que representa uma medida com grande significado e com grande 1 Debates do Parlamento Europeu PT 12-12-2007

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QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007

PRESIDÊNCIA: PÖTTERINGPresidente

1. Abertura da sessão

(A sessão tem início às 9H00)

2. Preparação do Conselho Europeu (Bruxelas, 13 e 14 de Dezembro de 2007)(debate)

Presidente. - Seguem-se na ordem do dia as declarações do Conselho e da Comissãosobre a preparação do Conselho Europeu de Bruxelas, de 13 e 14 de Dezembro de 2007.

Manuel Lobo Antunes, Presidente em exercício do Conselho . − Senhor Presidente, SenhoraComissária, Senhoras e Senhores Deputados, o próximo Conselho Europeu deverá desdelogo registar com satisfação a assinatura do Tratado de Lisboa, que deverá ter lugar amanhã,na capital portuguesa, e a proclamação da Carta dos Direitos Fundamentais, que terá hojelugar, aqui mesmo, dentro de breves instantes. Também não deverá deixar de se fazer umapelo a que o processo de ratificação do Tratado de Lisboa seja rapidamente concluídopara que este possa entrar em vigor no próximo 1 de Janeiro de 2009.

O Tratado de Lisboa, temo-lo dito, proporcionará à União um quadro institucional estávelpara os próximos anos, o que lhe permitirá consagrar-se inteiramente aos desafios políticosque o futuro nos reserva, designadamente as alterações climáticas e a globalização, talcomo foi destacado em 19 de Abril último, na reunião informal de Chefes de Estado e deGoverno. Neste contexto, o Conselho Europeu deverá aprovar uma declaração sobre aglobalização. Salientar-se-á nesta declaração que, perante os desafios globais que se nosdeparam, a União Europeia tem, simultaneamente, a oportunidade e a responsabilidadede agir. Para o efeito é fundamental que a União tire partido das suas políticas internas eexternas. Estou a pensar no cumprimento dos objectivos da Estratégia de Lisboa para oEmprego e o Crescimento, na prossecução do ambicioso pacote sobre a energia e alteraçõesclimáticas aprovado no Conselho Europeu da Primavera deste ano, na definição de umaresposta global às recentes turbulências nos mercados financeiros, na promoção docomércio livre e da abertura, na colaboração com os nossos parceiros para prosseguirestratégias de desenvolvimento vigorosas e coerentes, no desenvolvimento de uma políticade migração abrangente a nível europeu e no aprofundamento dos instrumentos ecapacidades da Política Externa e de Segurança Comum e também na Política Externa deSegurança e Defesa, a fim de permitir que a União desempenhe um papel de crescenteimportância na construção de um mundo que seja um mundo mais seguro.

A União Europeia deverá, enfim, contribuir para que a globalização seja uma fonte deoportunidades, e não uma ameaça, e que contribua para o bem-estar das pessoas. Esperamos,também, que no próximo Conselho Europeu seja criado um grupo de reflexão com oobjectivo de contribuir para que a União possa avaliar e responder com maior eficácia aosdesafios dos próximos vinte a trinta anos. O Conselho Europeu fará um balanço dosprogressos efectuados no domínio da liberdade, da segurança e justiça. Temos quemencionar, desde logo, a abolição dos controlos nas fronteiras internas para os novosEstados-Membros, o que representa uma medida com grande significado e com grande

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importância para as vidas diárias dos nossos cidadãos. Deverá examinar-se, também, aaplicação da política de migrações e, nomeadamente, os progressos realizados na aplicaçãoda abordagem global das migrações à África e ao Mediterrâneo, bem como às regiõeslimítrofes da União Europeia, a Leste e a Sudeste. É de referir, neste contexto, a realizaçãoda primeira Reunião Ministerial Euromediterrânica sobre Migrações, que foram tidas emconta na elaboração da estratégia conjunta e do plano de acção destinados à segundaCimeira UE-África, como aqui, ontem, referimos.

Outros aspectos a examinar no domínio da liberdade, segurança e justiça são os esforçosa desenvolver na luta contra o terrorismo, nomeadamente no que respeita à radicalizaçãoe ao recrutamento, e os progressos em matéria de cooperação judiciária. Quanto às questõeseconómicas, sociais e ambientais, o Conselho Europeu fará um balanço dos trabalhosrealizados nos domínios pertinentes, tendo em vista a preparação do próximo ciclo daEstratégia de Lisboa Renovada para o Crescimento e Emprego, a ser aprovado no ConselhoEuropeu da Primavera de 2008. A discussão dos Chefes de Estado e de Governo na ReuniãoInformal, em Outubro, procurou reforçar a dimensão externa da Estratégia de Lisboa econfirmou que a Estratégia de Lisboa revista deve continuar a constituir o enquadramentoadequado para os principais desafios que se colocam, nomeadamente o desafio daglobalização. Confirmou ainda que a Europa está a fazer progressos e que os objectivosfixados se mantêm adequados, por isso, o novo ciclo deverá, nas suas grandes linhas,preservar a estabilidade necessária para consolidar os resultados, embora deva ser aceleradoo ritmo das reformas.

O Conselho Europeu sublinhará a necessidade de aprofundar a competitividade europeianas vantagens do mercado único, em conjugação com uma política industrial sustentávele com a promoção da inovação e das competências. O desenvolvimento da vertente externada competitividade e a melhoria das condições em que actuam os consumidores e asempresas, sobretudo as pequenas e médias empresas, serão igualmente realçados. Noâmbito do emprego e assuntos sociais, o Conselho Europeu irá confirmar o acordoalcançado sobre princípios comuns de flexissegurança, sublinhado o papel dos parceirossociais na concepção, na implementação e no acompanhamento das políticas relevantes.O Conselho Europeu assinalará ainda os resultados do Ano Europeu da Igualdade deOportunidades para todos, convidando os Estados-Membros a aprofundar os esforços nosentido da prevenção e combate à discriminação. Devo também salientar a importânciade levar por diante a política energética para a Europa estabelecida pelo Conselho Europeuda Primavera. Os progressos alcançados no terceiro pacote do mercado interno daelectricidade e do gás natural e o debate em torno do plano estratégico europeu para astecnologias energéticas estarão também em destaque.

O Conselho Europeu passará ainda em revista a execução da estratégia para odesenvolvimento sustentável, prevendo-se que conclua que se mantêm plenamente válidosos objectivos e as prioridades no âmbito dos sete grandes desafios enunciados na estratégia.Deverá igualmente saudar a Comunicação da Comissão sobre a política marítima integradae convidar a Comissão a apresentar as iniciativas e as propostas constantes do seu planode acção. Quanto às relações externas prevê-se que o Conselho Europeu, com base nasdiscussões dos Ministros no último Conselho de Assuntos Gerais e Relações Externas, queteve lugar na passada segunda-feira, se centre no processo de determinação do estatutofuturo do Kosovo, em particular, numa avaliação do período de negociações. Uma vez queo acordo não foi alcançado entre Belgrado e Priština, como é do vosso conhecimento,espera-se ainda que o Conselho Europeu discuta o papel que a União Europeia poderáassumir doravante neste processo e o respectivo curso de acção a tomar com vista à

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resolução desta questão, assegurando a estabilidade da região e contribuindo para a suaaproximação à União. O Conselho Europeu sublinhará a relevância das várias cimeirasque tiveram lugar no último semestre, em particular as Cimeiras com o Brasil e com África.A Cimeira com o Brasil foi, como se sabe, uma iniciativa inédita e uma estreia e a CimeiraUE-África teve resultados muito encorajadores, que tive já a oportunidade de sublinharontem nesta mesma Assembleia. Serão, enfim, assinalados os avanços registados norelacionamento com outras regiões, nomeadamente com o Mediterrâneo, bem como naárea da cooperação para o desenvolvimento.

Senhor Presidente, Senhores Deputados, as conclusões do Conselho Europeu reflectem osresultados do intenso trabalho desenvolvido neste semestre e demonstram que os principaisobjectivos da Presidência portuguesa foram cumpridos. A União Europeia continuará ater, pela frente, uma agenda de trabalhos muito ambiciosa. Acreditamos que se continuaráa progredir com as próximas Presidências no sentido de uma Europa de maior crescimento,bem-estar social e desenvolvimento sustentável, reforçando o seu papel em termos globaise no seu relacionamento com os seus parceiros a nível bilateral, mas também a nívelmultilateral. Muito obrigado, Senhor Presidente.

(Aplausos)

José Manuel Barroso, Presidente da Comissão . − Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, no último Conselho Europeu em Lisboa, em Outubro, foi possível não apenasmarcarmos o acordo político quanto a um novo Tratado, mas também foi possívellançarmos um debate ao nível de Chefes de Estado e de Governo sobre o interesse europeue o melhor modo de promover esse interesse na era da globalização.

Amanhã terá lugar a assinatura do Tratado de Lisboa e, sexta-feira, o Conselho Europeucomeçará o seu trabalho procurando resultados concretos para uma Europa ao serviçodos cidadãos na idade da globalização. Penso que é importante sublinhar a ligação entreestes dois factos. A Europa resolve os seus problemas institucionais, mas fá-lo porque tem,sobretudo, em consideração os interesses dos seus cidadãos e porque também quer projectaros seus interesses e os seus valores no plano global. As duas vias são, ao fim e ao cabo, duasvias para os mesmos objectivos.

A assinatura do Tratado de Lisboa é muito mais do que uma formalidade. Assinala o acordode 27 Estados sobre um Tratado, mas também marca o seu compromisso com uma vontadecomum de Europa. É, sem dúvida, um símbolo muito poderoso quanto ao caminhopercorrido desde os impasses de 2005.

Do mesmo modo, a proclamação da Carta dos Direitos Fundamentais, que terá lugar nestehemiciclo dentro de algumas horas, pelo Presidente do Conselho, pelo Presidente doParlamento Europeu e pelo Presidente da Comissão, é também uma demonstraçãosignificativa como a União Europeia quer manter os direitos dos cidadãos no coração dasua actividade.

O Conselho Europeu, na sexta-feira, vai dar-nos outra oportunidade de mostrar uma UniãoEuropeia que se quer posicionar em relação à globalização. Parte desse posicionamentotem a ver com a Estratégia de Lisboa para o Crescimento e o Emprego. A verdade é queaquilo que estamos a consolidar agora é precisamente a dimensão da Estratégia de Lisboano plano externo, é essencialmente a ideia de que a Europa tem de responder à globalizaçãocom uma posição pró-activa, confiante e não com uma posição de desistência. Ontem

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mesmo a Comissão adoptou um importante pacote de comunicações e de decisões quepreparam um novo ciclo da Estratégia para o período de 2008-2010.

Senhor Presidente, a estratégia de Lisboa está a dar resultado: está a criar crescimento eemprego. Temos agora os melhores números de criação de emprego desde os anos 80. Aestratégia de Lisboa está a ajudar a colocar a Europa e os cidadãos europeus numa posiçãoque lhes permita ter sucesso na era da globalização. A estratégia de Lisboa deu à Europauma agenda económica comum e pragmática, e que respeita integralmente as diferençasnacionais.

Ficarmos muito satisfeitos connosco mesmos, porém, seria fatal para as possibilidades demoldar a globalização que se deparam à Europa. Há muito mais que fazer: o progresso édesigual entre áreas políticas, e alguns Estados-Membros estão a avançar muito maisdepressa do que outros.

O pacote de ontem dá resposta à necessidade de que a Europa actue e de que enfrente ascrescentes incertezas da economia global, bem como à de conferir ainda maior prioridadeà dimensão social, à instrução e às qualificações profissionais, e também às tecnologias dainformação e da comunicação, à flexigurança, à necessidade de ter uma política comumde energia e de combater as alterações climáticas.

A declaração sobre globalização que o Conselho Europeu está em vias de adoptar reconheceplenamente o papel da estratégia de Lisboa. A declaração deveria exprimir a nossa convicçãode que a União tem todas as razões para se sentir confiante no seu futuro. A União Europeiade hoje está a mostrar como a preservação dos valores políticos, económicos e sociaiseuropeus e a defesa dos interesses europeus são plenamente compatíveis com umaabordagem proactiva da globalização.

Estamos hoje em posição favorável para continuarmos as reformas internas, parareforçarmos a nossa capacidade de competir a nível global e para, ao mesmo tempo,mantermos os nossos valores económicos e sociais de coesão e de solidariedade. Estamoshoje em posição favorável para oferecermos ao mundo a visão global de que ele precisapara uma ordem multilateral, um sistema de segurança colectiva, comércio livre e justo edesenvolvimento sustentável, no respeito do equilíbrio ambiental do nosso planeta. Estamoshoje em posição favorável para prosseguirmos os interesses europeus nas parcerias e nasrelações com os nossos aliados e com outras grandes potências do mundo.

Há duas semanas, juntamente com o Presidente do Conselho Europeu, estive na China ena Índia para uma cimeira entre a União Europeia e essas duas potências emergentes. Foifascinante ver o ritmo do desenvolvimento económico naquela parte do mundo. Precisamosde estar atentos ao que se está a passar na Ásia. É inegável que o desenvolvimento económicoajudou a tirar da pobreza milhões de seres humanos. E não tenho dúvidas de que osprogressos dessas populações terão impacte directo nas gerações futuras de Europeus.

A questão crucial é esta: que vamos nós fazer, face a tamanha transformação estrutural ?Não tenhamos ilusões: a globalização significa também mudanças profundas no equilíbriode poder mundial. A verdade é que, não há muito anos, quando aqui na Europa se falavade globalização, se pensava sobretudo em ocidentalização ou por vezes em americanização.Hoje, quando na Europa falamos de globalização, muita gente pensa sobretudo nas potênciaseconómicas que estão a crescer na Ásia.

O mundo está pois a mudar, e creio que essa mudança está também a tornar mais óbvia anecessidade de adaptarmos aos novos desafios o nosso projecto comum europeu. E é por

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isso que há hoje condições para aceitarmos a declaração sobre globalização que os líderesda União Europeia vão adoptar esta semana. É mais evidente do que nunca que nem sequeras maiores potências da Europa podem lidar sozinhas com os desafios da globalização. Émais evidente do que nunca que precisamos de uma União Europeia forte.

Acredito que a ascensão dos poderes da Ásia por um lado, e a consciência do desafio dasalterações climáticas por outro, são realmente duas forças motoras de grande importânciapara a União Europeia, pois que nos mostram que, havendo um desafio chamadoglobalização, há igualmente uma oportunidade para aproveitar.

Julgo por isso que o Conselho Europeu desta semana terá significado muito importante eserá de grande relevância. Aqui há uns anos, teria sido impossível que os líderes europeusconcordassem na declaração sobre globalização que estão em vias de apoiar. Agora é bemclaro que os fins da União Europeia não são apenas internos: os fins da União Europeiasão também globais. Precisamos de promover os nossos interesses e de promover os nossosvalores na nova ordem global que está a surgir. É por isso que penso que esta semanapodemos tomar decisões muito importantes. Devemos fazê-lo com toda a confiança nasnossas capacidades, e acima de tudo confiando na capacidade das sociedades europeiaspara se elevarem à altura das circunstâncias.

De modo especial, não devemos esquecer que dispomos na Europa de aptidões humanasexcelentes, de grandes tradições de conhecimento e de conhecimento crítico, e de capacidadede adaptação. Temos conhecimentos científicos e tecnológicos do mais elevado nível. Etemos - é o mais importante - sociedades organizadas sob o primado da lei, o que nosconfere grande vantagem neste mundo que está a mudar, e a mudar depressa.

Tal é o modo europeu de viver. Preservá-lo e melhorá-lo será o nosso melhor investimento.Com a agenda política correcta, poderemos encarar confiadamente a globalização.

A globalização cria desafios específicos. Um deles é a migração em massa, que constitui,em certa medida, um fenómeno novo na Europa – pelo menos com a dimensão que assumiunos tempos mais recentes.

Na semana passada, a Comissão adoptou uma comunicação sobre migração, que serádiscutida no Conselho Europeu. A comunicação sublinha a necessidade de ver a questãonuma perspectiva de conjunto. É, obviamente, findamental para a vigilância das nossasfronteiras e para a nossa segurança, mas tem também enormes implicações económicas esociais, e impõe-se como tema central nas nossas relações com parceiros de todo o mundo.A migração está próxima das preocupações e interesses dos cidadãos. E não pode serenfrentada por nenhum Estado-membro isoladamente; como tenho dito mais de uma vez- e nesta Casa também -, é completamente absurdo, numa União Europeia de 27Estados-Membros, em que há liberdade de circulação de pessoas, termos 27 políticas deimigração. Precisamos de uma abordagem comum da imigração, e precisamos de reconhecerque os problemas que alguns Estados-Membros estão a defrontar devem ser consideradoscomo problemas europeus também.

(Aplausos)

Carecemos de uma política integrada - uma política que faça sentido para os cidadãoseuropeus, para os imigrantes e para os parceiros internacionais. A finalidade do documentoque apresentámos a este Conselho é suscitar o debate, em primeira linha no ConselhoEuropeu, mas também nas sociedades europeias - incluindo, naturalmente, este Parlamento- e lançar um processo que conduza a uma política abrangente. Ao examinar, apenas um

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dia depois da assinatura do Tratado de Lisboa, matéria que constitui preocupação centraldos cidadãos europeus, a União continua a sua estratégia: uma estratégia baseada emresultados concretos para a Europa e resultados concretos para os nossos cidadãos. É esteo modo correcto de avançar; e creio que a cimeira europeia desta semana pode fazer-nosdar um passo em diante no nosso desejo e na nossa vontade de moldar a globalização, emoldá-la com os os nossos valores.

(Aplausos)

Joseph Daul, em nome do grupo PPE-DE. - (FR) Senhor Presidente, Senhor Presidente daComissão, Senhor Presidente em exercício do Conselho, caros colegas, o Conselho Europeude Lisboa anuncia o regresso da Europa dos resultados, da Europa ideal. Para os cidadãoseuropeus, este Conselho consagra mais liberdade de circulação e mais integração. Foramresolvidos muitos problemas institucionais, chegando ao fim dois anos de bloqueio eincertezas.

Amanhã, em Lisboa, 27 assinaturas no Tratado Reformador irão selar o nosso destinocomum: um século XXI europeu, baseado nos nossos valores comuns, na nossaprosperidade, na nossa segurança e na nossa solidariedade. Queremos poder aplicar, já apartir de Janeiro de 2009, o nosso novo modo de funcionamento. É importante, uma vezque as disposições do Tratado de Lisboa terão efeitos sobre as próximas eleições europeiase, por conseguinte, sobre a nomeação do Presidente da Comissão.

Caros colegas, a Carta dos Direitos Fundamentais constitui a grande inovação do Tratadode Lisboa, pois responde claramente a duas perguntas fundamentais: quem somos? O queé que fazemos juntos? A Carta dos Direitos Fundamentais ilustra a nossa partilha de valorese é também resultado de um consenso, da unidade na diversidade. Se negligenciarmosqualquer um destes dois termos, esbarramos contra a oposição e a reticência dos povos.Espero que o espírito e a letra da Carta dos Direitos Fundamentais sejam aplicados numespaço europeu o mais alargado possível, pois essa Carta consagra a pertença de todos nósà União Europeia e o nosso laço a uma Comunidade Europeia de valores partilhados.

O Tratado Reformador alarga também o campo da democracia, ao atribuir ao ParlamentoEuropeu um poder acrescido, ao criar um sistema de voto mais justo no seio do Conselho,ao atribuir um papel activo aos parlamentos nacionais enquanto garantes da subsidiariedade,e ao aproximar-se do cidadão, a quem é reconhecido um direito de iniciativa legislativa.

Este Parlamento possuirá mais deveres e responsabilidades perante os seus cidadãos, o queexige mais rigor da parte da nossa Assembleia, e também mais visibilidade. O meu grupoestá disposto a contribuir enquanto legislador e criativo. Subscrevo também a propostade reunir o grupo de reflexão. O seu papel de pioneiro nos próximos vinte ou trinta anosé fundamental. Se queremos construir uma Europa baseada na prosperidade e na segurança,e também nos valores, e numa solidariedade partilhada, temos de poder reflectir sobre ofuturo do modelo europeu de sociedade.

Com a ratificação terminada, podemos concentrar-nos nos pedidos dos nossos concidadãosde mais Europa. E é à escala da Europa que devemos abordar as questões relativas àsalterações climáticas, à energia, à imigração e à segurança.

Caros colegas, a segunda decisão esperada de Lisboa é mais que simbólica. Trata-se doalargamento do acervo de Schengen aos Estados que se tornaram membros em 2004. Aliberdade de circulação é um assunto sensível, sobretudo apara os cidadãos que sofreramo jugo da ocupação e que foram privados de liberdade. Viver numa Comunidade de valores

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partilhados não é compatível com o facto de se marcar uma diferença entre os cidadãosque se deslocam na União Europeia. Dito isto, a igualdade de tratamento implica tambéma igualdade perante a lei. Ora, se negligenciarmos este princípio, nenhuma coesão socialserá possível e os nossos povos desviar-se-ão da Europa.

Saúdo também o alargamento da cooperação policial e judiciária entre os Estados-Membros.Numa Europa aberta, essa cooperação permite combater eficazmente os flagelos querepresentam o tráfico de seres humanos e a imigração ilegal. Caros colegas, o ConselhoEuropeu de quinta-feira constitui um passo em frente em direcção a uma Europa maisaberta, mais democrática, capaz de agir. Mas uma Europa que garante a unidade na suadiversidade constitui também um factor de estabilidade no interior das suas fronteiras, ede paz no mundo.

Martin Schulz, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o Presidente da Comissão referiu justamente um dos desafios essenciais dotempo presente, nomeadamente a questão do modo como devemos organizar a nossapolítica de assuntos internos da Europa, tendo como base o Tratado que vai ser assinadoamanhã, tendo como base as novas estruturas jurídicas da União Europeia. O PresidenteBarroso referiu o problema da imigração em massa para a Europa como exemplo do modocomo um espaço interno europeu, pelo qual eu entendo um espaço jurídico com fronteirasexternas, mas já sem fronteiras internas, pode ser organizado. Nós abordamos essa questãoà escala intergovernamental.

Que ninguém se iluda – a Convenção de aplicação do Acordo de Schengen não faz partedo direito da União Europeia, não é uma lei comunitária, é sim um instrumentointergovernamental. Este facto em si demonstra que ainda temos um falha estrutural, poisos instrumentos intergovernamentais constituem primordialmente uma forma de legislaçãoque incide sobre a soberania nacional e não na criação de um quadro europeu eficaz. Estaé uma distinção essencial. A verdade é que a legislação baseada na soberania nacionalpermite todas as manifestações de peculiaridades nacionais e todas as reservas individuaispara bloquear o progresso da União. Perante os desafios com que nos defrontamos nodomínio da política de imigração, trata-se de algo que não nos podemos permitir.

Nessa perspectiva, o Presidente Barroso está perfeitamente correcto, pois não está certoque alguns – por exemplo no Sul da Europa – estejam sujeitos a uma intensa pressãomigratória, enquanto outros, em diferentes localizações geográficas da Europa, lavam asmãos em relação ao problema. Esta situação não pode continuar indefinidamente. O passoque agora estamos a dar consiste no relançamento do processo de integração, tendo comobase o novo Tratado, e é, portanto, um primeiro passo que tem de ser seguido por outros,estando-me eu a referir a integração mais estreita em outros domínios, incluindo os dapolítica comum de assuntos internos, a política comum de segurança e a política comumde justiça.

Este raciocínio leva-me ao meu segundo ponto, que é da maior importância no momentopresente. Vamos hoje assinar formalmente a Carta dos Direitos Fundamentais. Óptimo.Uma mesa requintada, cadeiras magníficas, um ambiente agradável, tudo excelente comosempre.

(Interjeição de Daniel Cohn-Bendit: E magníficos deputados do Parlamento Europeu!)

Sim, excelentes deputados também. No entanto, alguns são mais simpáticos do que outros,Colega Cohn-Bendit.

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(Risos)

O cenário vai ser belíssimo, como sempre. Mas isso recorda-me um bom amigo meu quese casou diversas vezes e também se divorciou diversas vezes. De cada vez que eu ia ao seucasamento e me despedia para regressar a casa após uma cerimónia solene e uma funçãomagnífica, eu dizia-lhe: “Estava tudo óptimo, como sempre.” Hoje, sinto-me um poucoassim. Estive em Roma – juntamente consigo, Senhor Presidente Pöttering, e uma série deoutros deputados que aqui se encontram hoje. Foi assim que nos sentimos em Roma. Foicomo um casamento – celebração solene, óptima comida, uma cerimónia belíssima,excelente música,

(Interjeição de Daniel Cohn-Bendit: E uma cidade maravilhosa!)

uma cidade maravilhosa, um ambiente magnífico, sem o colega Cohn-Bendit por lá,portanto simplesmente fantástico!

(Risos)

Depois viemos para casa e a seguir foi o divórcio. E hoje, lá vamos nós para o casamentoque se segue, desta vez em Lisboa: um ambiente magnífico, uma cidade maravilhosa, semo colega Cohn-Bendit por lá – portanto, tudo como deve ser. Só espero que, a seguir, nãohaja outro pedido de divórcio na Irlanda. Resumindo, minhas Senhoras e meus Senhores,não temos motivos para celebrar enquanto o Tratado não for efectivamente ratificadopelos 27 países.

Faz sentido ratificar o Tratado. Aqueles anti-europeus que queriam dar cabo da Constituiçãopor acharem que podiam travar o processo de integração, não há dúvida de que tiveramagora a merecida lição com este Tratado. É verdade que o Tratado de Lisboa não satisfaztodos os nossos desejos, mas é melhor do que destruir a Europa pela constante oposiçãoà integração.

(Aplausos)

E aqueles que rejeitaram o projecto de Tratado Constitucional por acharem que apresentavadeficiências em matéria de política social e necessitava de um elemento social mais sólidonão vão encontrar esse elemento adicional neste novo Tratado, contudo a proclamaçãoda Carta dos Direitos Humanos e a sua integração no Tratado tornaram possível realizarvários direitos sociais fundamentais.

Indubitavelmente, houve motivos para a rejeição do projecto de Constituição pelosextremistas de ambos os lados. Posso compreender um pouco melhor os que o rejeitarampor motivos sociais, do que os anti-europeístas, que rejeitaram o Tratado por uma questãode principio, porque não desejam esta União.

No entanto, uma coisa está clara: este Tratado apenas pode ser representar um trampolim.Constitui um passo em frente, mas não nos leva suficientemente longe. De qualquer modo,é um passo para dar agora, sem dúvida. Tenho esperança de que este casamento seja paratoda a vida, e que os advogados especialistas em divórcios fiquem em casa, pois nenhumdos desafios dos próximos anos (e o meu estimado colega, senhor deputado Swoboda,falará daqui a pouco sobre o Kosovo) poderá ser superado se não colocamos a Europasobre fundações institucionais sólidas.

(Aplausos)

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Andrew Duff, em nome do Grupo ALDE . – (EN) Senhor Presidente, o senhor deputadoSchulz tem toda a razão em dizer que esta é uma semana de celebração, em queproclamamos solenemente a Carta que protege os nossos cidadãos contra abusos do grandepoder que está conferido à União, e em que assinamos o Tratado de Lisboa, reforçando anossa capacidade de agir e melhorando muito a qualidade da nossa democracia. É paramim motivo de viva satisfação o facto de o Primeiro-Ministro Brown ter finalmente decididoaparecer - ainda que, infelizmente, aparecer tarde. Receio que não se possa esperar outracoisa da participação britânica na UE. E por favor: vejam bem que o senhorPrimeiro-Ministro Brown assine com caneta, em vez de assinar com lápis!

(Risos)

O Conselho Europeu é o nosso primeiro ensejo de avançarmos decididamente mais além,saindo deste período instrospectivo de reflexão, e de começarmos a fazer alguma políticaséria. À cabeça da lista temos o Kosovo, onde a União está a supervisionar a independênciade um país sem a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É crucial parao futuro do Kosovo, e para todos nós, que os que receiam que tão ousado passo crie umprecedente escolham um caminho sábio de abstenção construtiva, não tentando bloqueara auto-determinação dos Kosovares.

O Conselho Europeu deveria também começar a tomar, em sinal das suas intenções,algumas decisões firmes quanto à dimensão e à forma da missão PESD para o Kosovo.Além disso, devemos reiterar a nossa recusa de assinar um acordo de estabilização eassociação com a Sérvia antes da entrega dos seus criminosos de guerra ao TPI. É nestecontexto que o groupe des sages inspirado por Sarkozy poderia ser posto a fazer algumtrabalho sério para construir cenários alternativos para o futuro dos Balcãs, não devendoele, no entanto, perturbar os nossos compromissos actuais.

(Aplausos)

Brian Crowley, em nome do Grupo UEN. – (GA) Senhor Presidente, os líderes da UE estãoreunidos em Bruxelas para uma reunião do Conselho Europeu no dia após a assinatura donovo Tratado Reformador. A Irlanda é um dos países em que as disposições do Tratadoserão colocadas a referendo; se a campanha a favor do Tratado for realizada de uma formaclaramente profissional acredito que o referendo será um grande sucesso.

E, aditando ao que o senhor deputado Schulz disse sobre os perigos de um resultadonegativo vindo da Europa, compete-me, enquanto representante da Irlanda que usa dapalavra nesta ronda do debate sobre o futuro de Lisboa, apontar certo número de verdadesdesagradáveis.

Primeiramente: felicitar todos quantos intervieram na génese do acordo final sobre oTratado de Lisboa. Isso, poém, é só o documento escrito: e nós perguntamo-nos – e nesteParlamento perguntamo-nos muitas vezes – que é que a Europa quer ver? Que é que apopulação e os cidadãos da Europa querem saber ?

Sim, os cidadãos da Europa querem mais Europa. Mas mais Europa, para eles, não significao que bom número dos presentes nesta salã poderiam supor. Não significa maisregulamentações, mais leis – que os cidadãos entenderiam como mais restrições. Significauma Europa mais inteligente, uma Europa que dê resposta às necessidades quotidianas doscidadãos. É por isso que a estratégia de Lisboa – a continuação e o melhoramento daestratégia de Lisboa – são tão importantes para o que possa passar-se na reunião do Conselhode Lisboa.

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Em segundo lugar, toda a questão da migração, a que muitos Deputados aludiram, está apressionar enormemente os nossos recursos, não apenas em termos financeiros, quantoao custo que determina para os países - especialmente os do Sul do Mediterrâneo, que sãoforçados a despender enormes somas de dinheiro para lidar com este problema - mastambém do ponto de vista da coesão social, no interior de cada país. A migração está acriar enormes problemas e a exigir muito da boa vontade e dos esforços desses países.

Em terceiro lugar, e é o mais importante de tudo, toda a questão do desenvolvimento davisão europeia que queremos ver difundida no mundo, tal como está agora a ser apresentadaem Bali na Conferência sobre Alterações climáticas, e como será apresentada em algumasoutras conferências em Nova Iorque nos próximos meses. E, com a maior importância,temos para dizer aos nossos cidadãos e infora-los correctamente do what comes beforethem.

Finalmente, deixem-me dizer ao Presidente Barroso e à Vice-Presidente Wallström, nestemomento em que estamos a ter um referendo na Irlanda: nada de impostos, nada deimpostos, nada de impostos! Os Tratados não vos dão o poder de apresentar propostasfiscais. A Comissão nãi deve tocar nisso.

Daniel Cohn-Bendit, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, Senhorase Senhores Deputados, temos aqui uma magnífica reunião. O Presidente em exercício doConselho e o Conselho mostraram-se diligentes, e o resumo que nos ofereceram foi tambémmaravilhoso. Escapa-se-me o que resumiram exactamente, mas os títulos estavam, semdúvida correctos.

O gerente principal da Comissão salientou a Comissão abordou os desafios da globalização.Disse “globalização” 87 vezes, e “desafios” 82, portanto, deve ser verdade.

E lá vamos para a boda que o colega Martin descreveu com tanto entusiasmo. Não hádúvida de que temos um interessante estado de coisas, visto que o noivo está disposto acasar com a mesma noiva pela segunda vez. É pouco usual, inclusive nos casamentos queo colega Martin frequenta. A única questão é que, agora, a noiva esta um pouco mais velha,um pouco mais fora-de-moda e menos atraente do que estava em Roma. Não obstante,este casamento é necessário. Hoje estamos todos convidados. Como eu assisto hoje, masnão assisti na ocasião anterior, vai correr tudo bem. Neste ponto vai residir toda a diferença.

Antes de comentar dois importantes problemas, permitam-me aludir à actuaçãoperfeitamente surrealista do Primeiro-Ministro britânico em Lisboa. Descobriu que umsubcomité de um comité de uma subcomissão ia reunir na Câmara dos Comuns e, portanto,não pôde estar presente na assinatura daquilo que não queria assinar, mas ia assinar emqualquer caso, mas mais tarde à refeição, acabou por assinar. Foi algo de surrealista, maso Reino Unido é assim actualmente. O problema é deles, não é meu!

Em todo o caso, gostaria de abordar dois assuntos graves. O primeiro é o Kosovo. Há umavelha anedota de judeus em que dizemos, “se tens duas opções, escolhe sempre a terceira”.Temos duas opções. Se não reconhecemos a independência do Kosovo, teremos um conflitoem mãos. Se reconhecemos a independência do Kosovo, teremos um conflito em mãos.Ambas as opções conduzem ao conflito, seja com o Kosovo, seja com a Sérvia. Na UniãoEuropeia, devemos agora conduzir-nos com firmeza ao mostrar o modo como podemosactuar, e não apenas a forma como podemos pronunciar-nos. Devemos formular umaAgenda 2020 com vista a potenciar o Estado de Direito nessa região, e este programa deveser desenvolvido em conjunto com o Kosovo, a Sérvia e a Bósnia-Herzegovina.

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Temos de reforçar o Estado de Direito em toda a região. Devemos elaborar um pacto parao meio ambiente e para o clima. Devemos formular um plano de desenvolvimento regionalcom componentes como as redes viárias transbalcânicas, outorgando à região umaperspectiva de convergência acelerada com a União Europeia, com o objectivo de umaintegração simultânea de todos estes países na União. O único meio de que dispomos paraevitar o conflito consiste em garantir, aqui e agora, que a estes países não só se oferece o“aglutinante” europeu, mas também se dá ajuda para o aplicar. Veremos então se os 27 sãocapazes, não só de casarem com as suas noivas, mas também de receber crianças difíceisna família, de maneira que a paz possa avançar, por fim, nesta região. Esta parte já tem, narealidade, a ver com a noite de núpcias.

O segundo assunto é tão crítico como o primeiro, e tem a ver com o Irão. O Conselhotambém terá de tomar uma decisão a esse respeito. Neste caso, podemos dizer que a ameaçade uma bomba nuclear iraniana, pelos vistos, se atenuou, se é que podemos crer nos serviçossecretos dos Estados Unidos. Somos todos como crianças pequenas, acreditando sempreno que queremos acreditar. Se alguém nos diz algo que não nos convém, acusamo-lo deestar a mentir. Si o que nos conta nos agrada, garantimos que está com a razão. Ignoroquem tem razão, mas convinha-me estivessem do lado certo nesta ocasião.

Em todo o caso, relativamente ao Irão, a possibilidade de uma bomba nuclear não representao único problema. Também nos deparamos com o problema da liberdade ou, para sermosmais precisos, da supressão da mesma. Nos últimos anos tem-se assistido a um incrívelrecrudescimento da opressão sobre a população do Irão. Creio que a Europa também temuma tarefa a desempenhar a este respeito. Não se trata apenas de evitar a ameaça de umabomba nuclear. Está em causa também a liberdade do povo no Irão, e o modo comoajudamos a sociedade civil a conquistar essa liberdade.

Há chefes de governo que crêem que são mais inteligentes por darem sábios conselhos elevarem a cabo acções de grande envergadura e engenho para Europa. No entanto, todosaqueles que acham que podem vender reactores nucleares em todas as regiões do mundo,seja para a Líbia (uma ditadura terrorista), ou para a Tunísia, Argélia ou Marroecos, apenaspara descobrirem posteriormente que todas estas nações querem uma bomba nuclear,estão a ser hipócritas. Na edição do New York Times de ontem dizia-se uma coisa queandamos todos a dizer nos últimos 30 anos, a saber, que todo aquele que utiliza a energianuclear com fins civis, a utilizará também em última instância para fins militares, se nãotiver outra alternativa. E nós vendemos reactores nucleares a todos os países africanos eamericanos, e de outros continentes, e achamos que somos espertos. Somos estúpidos aoproceder desta forma. Há que o dizer.

(Aplausos)

Francis Wurtz, em nome do grupo GUE/NGL. - (FR) Senhor Presidente, Senhor Presidenteda Comissão, Senhor Presidente em exercício do Conselho, o próximo Conselho Europeuterá lugar no seguimento da assinatura de um novo Tratado, após uma cimeira UniãoEuropeia-África particularmente marcante e também, não esqueçamos muito depressa,na primeira fase da implementação do processo de Annapolis.

Relativamente ao Tratado, penso que a União cometeria um pesado erro de diagnósticose considerasse que este acordo na cimeira marca o final da crise de confiança entre sectoresinteiros da nossa sociedade e as actuais orientações económicas e sociais da União. Oproblema mantém-se tal e qual, mais valia reconhecê-lo e prepararmo-nos para lhe darresposta.

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Penso que precisamos de um sobressalto de lucidez semelhante no que respeita às nossasrelações com África. O Presidente da Comissão da União Africana, Alpha Konaré, instoua Europa a romper com o paternalismo. Salientou que África, e cito: "não pode constituirum couto privado nem um território a conquistar". Criticou fortemente, e cito mais umavez: "a lógica dos acordos de parceria económica com custos dramáticos para as populaçõesafricanas".

Significativamente, é praticamente no mesmo dia que sete países da América Latina criamo Banco do Sul para se emanciparem do Fundo Monetário Internacional (FMI) e reduziremas desigualdades na região. Esta exigência geral crescente de uma parceria mais justa e maisdigna tem de ser devidamente considerada pela União, inclusive na sua forma de tratar osmigrantes.

Por fim, vejamos o Próximo Oriente, aparentemente ausente da ordem de trabalhos doConselho. Como é que a União pôde aceitar, em Annapolis, ser completamente espoliadada sua estrutura encarregue de acompanhara a aplicação do roteiro? Vai a Comissão assistirpassivamente às violações do acordo, como aconteceu na semana passada com o caso dacolónia de Jerusalém Oriental? De uma forma geral, que ambições possuímos para a Europae de que meios nos dotamos para as alcançarmos? Eis um tema prioritário para o próximoConselho Europeu.

Jens-Peter Bonde , em nome do Grupo IND/DEM . – (EN) Senhor Presidente, amanhã às11H30 os Primeiros-Ministros vão assinar um tratado definitivo que nenhum deles leu.Vão assinar um molho de alterações que não compreendem sequer. Ontem o Parlamentodinamarquês recusou um referendo sobre um tratado que não leu. Violou a Constituiçãodinamarquesa; e pode ser levado a tribunal para termos um referendo.

Alguns poucos poderão ter lido uma minuta completa: do que duvido. A versão definitivacontinua a ser impossível de ler, por uma razão simples: não está consolidada. A CIGdecidiu que só serão impressas versões legíveis quando o Tratado estiver ratificado portodos os 27 Estados-Membros. Não leias, assina: eis a cínica moral. Manteve-se absolutosegredo, pelo que respeita a muitos membros deste Parlamento, sobre todas as negociaçõesque decorreram na CIG e no grupo de juristas linguistas. O sistema de numeração foimudado três vezes, para que toda e qualquer comparação antes da assinatura se tornassetecnicamente impossível. Não há sequer uma tabela de confronto com a versão publicadaem Outubro.

Primeiro procedem como se não tivesse havido dois referendos que rejeitaram aConstituição. Depois negoceiam em segredo e, sob nome diferente, conservam o mesmoconteúdo. Continuo a oferecer uma garrafa de bom vinho em troca de um exemplo só delei que pudesse ser aprovada sob a Constituição e não sob o Tratado de Lisboa. Até o maisexperiente perito jurídico do Ministério dos Negócios Estrangeiros dinamarquês admitiuque não há nenhuma.

Numa audição de peritos no Parlamento dinamarquês, por três vezes pedi que me dessemtrês exemplos de áreas do Direito nacional em que o Tratado de Lisboa, com as suasclásusulas horizontais e princípios fundamentais, não pudesse intervir. Não me foi dadoum único exemplo. O Tratado de Lisboa dissolverá a UE actual, estabelecerá um novoEstado com nacionalidade comum, personalidade jurídica e todos os instrumentos dosEstados-nação. A maioria das leis serão feitas em segredo por funcionários. O déficedemocrático agravar-se-á. O meu grupo propõe que a assinatura seja cancelada até quetenhais lido o texto definitivo.

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(Aplausos)

Jim Allister (NI). - (EN) Senhor Presidente, muita gente está hoje a falar de novo, emtom grandiloquente, dos valores europeus de democracia. Teremos hoje uma afirmaçãopretensiosa da crença nos direitos humanos. E todavia, ao mesmo tempo, a elite da UEprepara-se para celebrar o seu maior gesto de arrogância até à data, ao aprontar-se paraassinar a Constituição reempacotada, sem olhar para trás, para os seus povos e para o queeles querem ou o que eles pensam.

Os referendos de 2005 mostraram que a Europa vai mal, mas a lição aprendida não foiabandonar o que o povo não quer, mas tornear a sua oposição, decidindo não lhe perguntardesta vez. Donde o escândalo de se ver que, em todo este continente, vão ser retiradospoderes nacionais, vão ser estabelecidas estruturas superestaduais, uma nova nacionalidadeEU será criada, e será conferida personalidade jurídica à EU - e só meia dúzia de cidadãoschegam a ser consultados.

E porquê? Porque na maioria dos Estados, o meu inclusive, os líderes receiam o veredictodos seus povos, ajuntando covardia à arrogância. Assim, neste dia em que se fala muito dedireitos humanos, digo: dai ao povo da Europa o direito básico, humano e político, de dizer“sim” or “não” a esta Constituição, o direito de, num referendo, dizer “sim” ou “não”.

(Aplausos)

Carlos Coelho (PPE-DE). - Senhor Presidente do Conselho, Senhor Presidente daComissão, Senhoras e Senhores Deputados, a Presidência portuguesa está a chegar ao fime pode já apresentar um conjunto de apreciáveis sucessos. Não sou dos que sublinhamexcessivamente as iniciativas diplomáticas relacionadas com as cimeiras com o Brasil ecom a África, entre outras, só o tempo o dirá se se traduzem em medidas concretas ou senão passaram de grandes eventos com visibilidade mediática.

Mas sublinho as medidas estruturais que, para bem da Europa, foram tomadas duranteestes seis meses. Permitam-me sublinhar três: o fim da crise institucional, com a adopçãodo Tratado de Lisboa, que vai ser assinado amanhã, a proclamação da Carta Europeia deDireitos Fundamentais, que passa a ter um carácter vinculativo, o histórico alargamentodo Espaço de Schengen, com a integração de nove novos Estados-Membros e quase quatromilhões de quilómetros quadrados, a viabilização estratégica e o importante programaGALILEO, que alguns preferiam não existir, deixando o exclusivo aos Estados Unidos daAmérica, à Rússia e à China.

Quero ainda sublinhar o profícuo trabalho legislativo, em colaboração com o ParlamentoEuropeu, e o excelente entendimento com a Comissão, presidida pelo Dr. Durão Barroso.A cooperação interinstitucional funcionou e deu bons resultados. Desejo-lhe, SenhorPresidente do Conselho, o melhor sucesso para o Conselho de 14 de Dezembro. Esperamosainda importantes decisões, quer no domínio da política externa, com especial destaquepara o Kosovo, quer no que diz respeito à resposta europeia face aos desafios daglobalização.

Quero felicitar especialmente a Presidência portuguesa por incluir na Agenda do Conselhoa questão da política europeia da imigração, onde o Presidente Barroso poderá sublinharas oportunas iniciativas da Comissão Europeia a esse propósito. Há problemas e desafiosque ultrapassam claramente a dimensão de cada Estado-Membro e recomendam umaabordagem comum, o que é especialmente óbvio, como foi referido, num espaço semfronteiras internas.

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Senhor Presidente, seja-me permitido concluir com uma referência nacional. Portugalsempre deu o seu melhor servindo o interesse comum quando exerceu a Presidência doConselho. Foi assim em 1992 com o Primeiro-Ministro Cavaco Silva, o então Ministro dosNegócios Estrangeiros, e hoje deputado europeu João de Deus Pinheiro, foi assim em 2000com o Primeiro-Ministro António Guterres, está a ser assim hoje na terceira Presidênciaportuguesa do Conselho da União.

Seja-me permitido, Senhor Secretário de Estado, sublinhar o seu empenho pessoal, o doMinistro Luís Amado e o do Primeiro-Ministro Sócrates, mas também todos aqueles queaqui, em Bruxelas e em Lisboa, colaboraram activamente para o sucesso da Presidência.Gostaria de sublinhar o trabalho da REPER, referindo o talento do Embaixador Mendonçae Moura e agradecendo a eficaz ligação ao Parlamento Europeu assegurado pelo Dr.Alexandre Leitão.

Hannes Swoboda (PSE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Presidente em exercício doConselho, Senhor Presidente da Comissão, representa o maior feito da Presidênciaportuguesa o facto de o Tratado de Lisboa se encontrar já preparado para ser assinado,tendo igualmente muitos deputados deste Parlamento desempenhado indubitavelmenteum papel importante neste desempenho.

Uma das funções do Tratado de Lisboa é reforçar a política externa e de segurança comumda UE, e estabelecer uma base institucional para a mesma. Não obstante, um tratado apenaspode criar as condições adequadas, pois a vontade e a energia para levar a cabo uma políticaexterna e de segurança comum são igualmente essenciais.

É verdade, tal como foi assinalado por alguns oradores, que nesta conjuntura concreta,quando o Tratado for assinado, o Kosovo constituirá uma prova da determinação dosEstados-Membros para aplicar uma política externa e de segurança comum. Seja o que forque se decida a respeito do Kosovo, essa decisão colocará problemas à região.

Não há uma nova terceira opção, como sugere o senhor deputado Cohn-Bendit, porqueuma terceira opção, como por exemplo dedicar uma grande quantidade de verbas e deiniciativa a essa região, já foi aplicada durante algum tempo. Existe apenas a opção daindependência para o Kosovo, o que suscitará a continuação de vários problemas na região,ou também poderíamos optar por não reconhecer um Kosovo independente, o que tambémdaria origem a vários problemas na região.

Fica claro, quanto a mim, que devemos acatar o princípio de que todos os passos que sejamdados nas próximas semanas e meses devem surgir de dentro da região, e têm de ser dadosconjuntamente com a União Europeia. Em todo o caso, tal não poderá suceder se a UniãoEuropeia não adoptar uma posição comum sobre esta questão.

Tomando como base a minha experiência própria, e já tenho dez anos de trabalho nestaregião ao serviço do Parlamento Europeu, vejo uma única opção viável, que consiste emavançar, no futuro imediato, até uma independência limitada, restringida e supervisionada.No entanto, creio firmemente que seria absolutamente intolerável e inaceitável que oKosovo declarasse a sua independência de maneira unilateral e nós, mais ou menos, oconsentíssemos. Muitos políticos do Kosovo afirmam igualmente que este processo podeser abordado conjuntamente. Comprovei esse facto em primeira-mão, aquando das recenteseleições lá celebradas. O processo pode resultar se a União Europeia optar por umabordagem conjunta.

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Nos últimos dias desta Presidência, gostaria de solicitar ao Conselho que garanta a existênciade uma linha europeia comum, que a responsabilidade comum sobre esta região sejaexercida por todas as partes, e que todos os passos que sejam dados nas próximas semanase meses sejam acompanhados por uma presença da UE no Kosovo. Este é o principalrequisito. O factor decisivo não será o reconhecimento da independência do Kosovo, massim uma vigorosa representação da política de segurança da UE no Kosovo, e o Presidenteportuguês do Conselho deve contribuir para que tal representação seja uma realidade.

(Aplausos)

Sophia in 't Veld (ALDE). - (NL) Senhor Presidente, o novo Tratado vai ser, por fim,assinado, após anos de impasse, mas as partes do Tratado têm também, finalmente, de agircomo os proprietários, os verdadeiros líderes da Europa. Já é mais que tempo de deixaremde se vangloriar na cena nacional acerca do que já conseguiram fazer e de começarem aangariar activamente apoios a este Tratado e a insistir na sua ratificação, para que possaentrar em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009.

A maior alteração prende-se com a cooperação no domínio da polícia e justiça. Temos deser claros e rápidos quanto à forma como iremos tratar as questões pertinentes em 2008,durante o período de transição. Qual é a posição do Conselho relativamente às sugestõesdo Comissário Frattini sobre a aplicação imediata dos novos procedimentos, antes daentrada em vigor das novas regras?

A Carta dos Direitos Fundamentais é também formalmente proclamada hoje. E é deplorávelque os Estados-Membros tenham enfraquecido a Carta, retirando-a do Tratado e,especialmente, aprovando duas cláusulas de auto-exclusão. Têm agora de provar, na prática,que levam os direitos fundamentais a sério, em vez de se limitarem a elogiá-los.

Por fim, Senhor Presidente, a União Europeia está a ficar um pouco mais democrática eum pouco mais eficaz. Mas uma democracia madura não tem apenas de ser vigorosa, temigualmente de controlar o exercício do poder e tem de ser responsável. Chegou a hora dademocracia, a hora de mostrar responsabilidade, também na luta contra o terrorismo, porisso, seria possível obter uma explicação do Conselho sobre o papel que a Europadesempenhou nas actividades ilegais da CIA?

Mirosław Mariusz Piotrowski (UEN). - (PL) Senhor Presidente, a história tende arepetir-se. Há três anos foi assinado o Tratado destinado a dotar a Europa de umaconstituição. Os dirigentes dos Estados-Membros da UE ficaram muito satisfeitos e segurosde que o documento entraria em vigor. No entanto, dois países manifestaram em referendosa sua firme oposição.

Os chefes de governo vão assinar agora um texto quase idêntico, e esperam poder evitardesta vez o referendo, numa atitude de claro menosprezo por este instrumento fundamentalda democracia. Foi desperdiçado o tempo publicamente designado de período de reflexão.Em vez de ser dedicado a consultas, ao diálogo social e ao debate, este período foi gasto ainventar formas de manipulação.

Importa recordar que o chamado Tratado Reformador é um documento de grande alcance,já que implica de facto restrições à soberania dos Estados-Membros. Implica a transferênciade muitos dos poderes até aqui reservados aos estados-nação para instituições da UE quenão se encontram sujeitas a um verdadeiro controlo democrático. Se às nações europeiasfosse dada a oportunidade de se exprimirem, estou convencido de que o tratado que vaiser assinado amanhã teria o mesmo destino que o anterior.

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Mikel Irujo Amezaga (Verts/ALE). – (ES) Senhor Presidente, há alguns meses a estaparte, telefonei ao Provedor de Justiça no meu país, e, enquanto eu esperava pela ligação,puseram a canção “Let it be”, o que me deixou realmente poucos motivos de optimismoquanto ao adequado tratamento da queixa pelo Gabinete, uma sensação que mais tardeveio a revelar-se fundada.

É essa a sensação com que ficam amiúde aqueles de entre nós que continuam a não ver aUnião Europeia fazer alguma coisa para incorporar a dimensão regional ou as nações semEstado na sua estrutura institucional e nas suas políticas. Infelizmente, são cada vez maisas pessoas que acreditam que esse dia jamais chegará, e a verdade é que não nos dão muitasalternativas.

No que se refere ao Kosovo, ouvimos falar aqui dos problemas, mas ainda não ouvi ninguémlevantar a questão que é, a meu ver, a questão crucial: o que querem os kosovares?

Relativamente à Estratégia de Lisboa, pensamos que há demasiada complacência, e queessa complacência se deve, em larga medida, ao facto de os indicadores para avaliar essaestratégia se basearem essencialmente no crescimento do PIB. Quando será que vamos terindicadores do progresso social, económico e ambiental que nos permitam fazer umaavaliação séria dos resultados de Lisboa?

Ilda Figueiredo (GUE/NGL). - Assistimos a mais uma repetição das linhas fundamentaisda política neoliberal, que se aprofundou durante a Presidência portuguesa. A assinatura,amanhã, do Tratado em Lisboa, retomando o essencial da dita "Constituição Europeia", ésem dúvida a questão mais grave que representa um salto qualitativo nesta integraçãoneoliberal que cada vez mais agrava os problemas e as desigualdades sociais.

Em vez das respostas para melhorar as condições de trabalho, apostam na flexigurançapara intensificar a precariedade do trabalho. Em vez de respostas para melhorar as condiçõesde vida e enfrentar a pobreza, que atinge mais de 80 milhões de pessoas, apresentam umaversão ainda mais neoliberal da Estratégia de Lisboa para aprofundar liberalizações eprivatizações de serviços públicos. Por isso, tal como aconteceu em 18 de Outubro, coma manifestação de Lisboa, a luta dos trabalhadores e das populações também vai continuarcontra este Tratado e estas políticas e pela exigência de referendos vinculativos ao Tratadoapós debates devidamente pluralistas.

Frank Vanhecke (NI). - (NL) Senhor Presidente, quando a Venezuela votou recentementenum referendo, em que rejeitou os planos de Hugo Chávez de uma alteração radical daConstituição por uma maioria muito escassa, o pretenso ditador vergou-se à vontade dopovo, tal como os líderes devem fazer num país mais ou menos livre. Penso que nós, naEuropa, poderíamos aprender muito com este exemplo.

Estamos a ver a uma “Constituição Europeia”, que foi democraticamente rejeitada em doisEstados-Membros por uma grande maioria do eleitorado, ser-nos novamente apresentada.Praticamente inalterada, para além de algumas modificações cosméticas. Não há lugar paramais debates nem, seguramente, para um referendo em países que possam vir a adoptaruma posição crítica ou a votar contra. A Constituição Europeia – perdão, o TratadoReformador – vai ser assinada em Lisboa, em ambiente de pompa e circunstância, para serdepois indecentemente aprovado à pressa pelos parlamentos que o apoiam. A democraciaeuropeia é uma farsa.

A forma como os eurocratas tratam a voz do povo ficou, uma vez mais, demonstrado,muito recentemente, no que o Comissário Rehn nos disse acerca da possibilidade de adesão

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da Turquia. Está registado que afirmou que não poderão existir acordos nacionais oupromessas eleitorais específicas que coloquem entraves à adesão da Turquia. Os mandarinseuropeus não se preocupam minimamente com as promessas eleitorais feitas aos eleitoresa propósito da adesão da Turquia. Na Venezuela, por enquanto, ainda existe democracia,mas, infelizmente, existe muito menos na Europa.

Giles Chichester (PPE-DE). - (EN) Senhor Presidente, há algumas questões importantesna agenda do próximo Conselho Europeu. Espero, e desejo, ouvir o que se dirá sobre omelhoramento da competitividade da Europa, sobre o progresso rumo aos ambiciososobjectivos da Europa na luta contra as alterações climáticas e sobre o compromisso daEuropa de trabalhar com as nações em desenvolvimento a fim de aliviar a pobreza. Masesta semana o foco da atenção estará inevitavelmente na assinatura, em Lisboa, do Tratadoreformador.

Como nós, os Conservadores Britânicos, temos dito sem tergiversações, não havia qualquernecessidade substantiva deste Tratado de tão grande alcance; e ainda esta semana mesmaum dos peritos académicos mais autorizados da Europa publicou um relatório sobre osefeitos do alargamento da UE, no qual afirma claramente o que temos vindo a dizer háalgum tempo, a saber: que a UE tem funcionado perfeitamente bem sem este Tratadoreformador. A autora do relatório diz, e passo a citar: “Os indícios fornecidos pela práticadesde Maio de 2004 sugerem que os processos e a prática institucionais da UE lidaram demodo assaz correcto com o impacte do alargamento”.

Se se tem presente tudo o que nos tem sido dito – que a UE não poderia lidar com oalargamento sem cair numa desordem institucional ou até em processos de obstrução -esta observação é importante. E tudo isto reforça a nossa opinião de que o que motiva esteTratado é mais um simbolismo político do que uma qualquer avaliação objectiva daquilode que a Europa carece.

Além de pôr em causa a razão de ser do Tratado, criticámos também fortemente o processoque nos trouxe até este ponto. É impossível acreditar que este Tratado não seja em substânciaexactamente a mesma Constituição Europeia que, quando sujeita a votação na França enos Países Baixos, foi tão enfaticamente rejeitada. Só o Primeiro-Ministro Britânico, entreos seus colegas, persiste em perpetuar esse mito de que o Tratado e a Constituição fossemdiferentes. O povo britânico não acredita nele, e a vasta maioria exprimiu repetidamenteo seu juízo de que deve haver um referendo. O senhor Brown ignorou os desejos do povobritânico, o que minou muito o seu Governo e, mais em geral, a União Europeia.

Robert Goebbels (PSE). - (FR) Senhor Presidente, em 1981 1% da população europeiadetinha 8% da riqueza global da época. Vinte e cinco anos mais tarde, 1% dos mais ricosdispõem de 17% dos rendimentos na União Europeia. Uma pessoa em cada 6, ou seja,cerca de 74 milhões de Europeus, vive abaixo do limiar de pobreza tal como definido paracada país.

Na ausência de ajudas sociais, cerca de 185 milhões de Europeus, ou seja, perto de 4% dapopulação europeia, afundar-se-iam na pobreza. O que demonstra a necessidade de umapolítica social activa, de uma política de redistribuição da riqueza. Ora, no domínio social,a acção da União é particularmente ténue. A visão de uma Europa mais social no séculoXXI que a Comissão acaba de apresentar é perfeita na sua análise, mas muda em matériade iniciativas legislativas.

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O Presidente Barroso acaba de nos dizer que a Estratégia de Lisboa está a dar frutos. Temtoda a razão. Mas, ao mesmo tempo, a bela conjuntura da Europa está ameaçada pela versãomais pérfida da globalização: os mercados financeiros sem fronteiras. A crise dita do"subprime" nasceu do frenesim consumidor dos americanos. A finança global endossouesses veículos especiais repletos de hipotecas podres. A fina-flor da banca, dos seguros,dos fundos de pensão demonstrou mais uma vez que avidez é maior do que a inteligência.

Seja como for, o mundo da finança não arrisca nada: too big to fail. Os Bancos Centrais dosEstados e o contribuinte virão em socorro dos possuidores de pára-quedas dourados. Opreço a pagar será enorme. A actividade económica já começou a decair na Europa. Arecessão ameaça nos Estados Unidos. O dólar está a afundar-se, os preços dasmatérias-primas, e mesmo dos alimentos de base, estão a subir em flecha. A contracçãodo crédito afecta já as pequenas e médias empresas (PME) e os cidadãos que precisam deuma habitação.

Ao lermos o projecto de conclusão do Conselho Europeu de Lisboa, não detectamosqualquer sobressalto da parte da Europa, facto que lamento amargamente.

Marco Cappato (ALDE). - (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,gostaria de começar pela pequena vitória, aparentemente menor, que o Presidente francêsSarkozy obteve ao suprimir a palavra adesão das negociações em curso com a Turquia.

Não muda nada, obviamente, as negociações continuarão; no entanto, Sarkozy, que éactualmente o mais forte e o mais político dos Chefes de Estado europeus, como se viu nodiscurso que proferiu nesta Assembleia, vem depois falar-nos das fronteiras da Europa eda União Mediterrânea, ao que as pessoas reagem com um certo desdém: “não sabe do quefala, o que é isso da União Mediterrânica, não se sabe que jogo está a jogar”.

Na minha opinião, o jogo que está a jogar é muito claro e diz respeito às fronteiras daEuropa: a União Mediterrânica é a Estratégia da Europa das nações. Na prática, se aabordagem se reduzir às relações entre nações, uma União Mediterrânica poderá constituiruma maneira razoável de resolver os problemas económicos, comerciais e ambientais. Noentanto, não é razoável, e há que encontrar uma alternativa se queremos algo mais, sequeremos uma Europa do direito, dos direitos individuais, em particular, uma Europa doscidadãos e não uma Europa dos Estados.

Essa é a alternativa a que os Chefes de Estado ou de Governo, a Comissão e a União Europadevem recorrer para contrariar a estratégia francesa de Sarkozy de uma Europa das Nações.Temos de decidir se queremos que a Carta dos Direitos Fundamentais, um dia no futuro,venha a ser a Carta dos Direitos dos cidadãos turcos, a Carta dos Direitos dos cidadãosmarroquinos, a Carta dos Direitos dos cidadãos israelitas e palestinianos; temos de decidirse queremos ou não proporcionar à nossa Europa esse futuro, pois se assim não for, seráa Europa das nações que prevalecerá.

Para concluir, algumas pessoas vestem t-shirts com a inscrição “referendo sobre a Europa”:sim a um referendo europeu, não a referendos nacionais, porque os referendos nacionaistrazem ao de cima todo o populismo, extremismo, nacionalismo e comunismo da nossaEuropa.

Mario Borghezio (UEN). - (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,felizmente que continua a haver patriotas na Europa e obviamente que nós pediremos umreferendo nacional. Continuaremos a pedir que se realizem referendos, porque acreditamos

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numa Europa dos povos, não numa Europa da alta finança que apoia e financia toda apolítica tecnocrata, essa forma de gerir toda a confusão que são as Instituições europeias.

Essa é precisamente a imagem que emerge da revisão do seu Tratado – a confirmação deuma Instituição dominada por uma tecnoburocracia que só responde perante si mesma esó se alimenta a si mesma. Nesta nova versão, onde é que está algo, por exemplo, quereflicta o forte pedido de defesa do modelo social europeu que ressaltou dos referendospopulares; que resposta deram os Senhores?

No que se refere às fronteiras, nenhuma resposta, além de que se continua com o palavreadogenérico acerca do alargamento, sem levantar o problema geopolítico das fronteiras daEuropa que, para nós, é a questão fundamental. Um edifício como a Europa, com as suasraízes históricas no direito público do Sacro império romano, não se constrói tendo comohorizonte espiritual o valor do euro face ao dólar. Há outros pontos de referência, sobretudo,na nossa opinião, as raízes cristãs da Europa.

Os Senhores não resolverão os problemas cruciais que se deparam à Europa através dosvossos subterfúgios legais ou deixando-se guiar pelas decisões do Tribunal de JustiçaEuropeu. Os Estados não se governam dessa maneira, nem tão pouco o futuro da Europaou a história da Europa. Viva a Europa dos povos, a Europa de raízes cristãs!

Miguel Portas (GUE/NGL). - Amanhã, os Primeiros-Ministros e Chefes de Estado assinamem Lisboa o seu Tratado. Depois de amanhã apelarão à ratificação. A mudança não estáno texto, que replica a Constituição rejeitada por franceses e holandeses. A mudança estáno método. Agora querem ratificações rápidas e sem referendos. Há dias, Zapateroexpressou, nesta mesma sala, o seu desejo de ver, no mesmo dia, os cidadãos dos váriosEstados pronunciando-se sobre o Tratado que regulará o nosso futuro colectivo.

Na Cimeira de sexta-feira os governos têm a oportunidade de desmentir a suspeita querecai sobre cada um deles: a de que querem o novo Tratado aprovado nas costas dos povos.Agarrem com as duas mãos a sugestão de Zapatero. Marquem o dia. Hoje o Tratado deLisboa é apenas vosso. Nunca será o dos europeus enquanto a sua viabilidade depender danão realização de referendos. Tenham a coragem da exigência democrática, porque ela éa condição da própria Europa!

Jana Bobošíková (NI). – (CS) Senhoras e Senhores Deputados, discutimos,frequentemente, as formas de aproximar a UE dos cidadãos e de a tornar mais democrática,sem que façamos qualquer coisa neste sentido. Amanhã, os Chefes de Estado ou de Governoassinarão o Tratado Reformador e já anunciaram, de antemão, que não querem que hajareferendos. É lamentável que este Parlamento aplaude isto, na sua maioria. É umamanifestação de suprema arrogância e desrespeito pela voz dos cidadãos. Tenho a sensaçãode que os políticos ou são demasiado preguiçosos para explicar o novo Tratado ou – o queé ainda pior – têm medo dos cidadãos. Os políticos não querem ter de explicar como onovo Tratado irá alterar o peso dos Estados-Membros na tomada de decisões na UE. Ospolíticos não querem ter de explicar aos cidadãos que eles não terão o “seu” Comissário naComissão. Não querem ter de defender o facto de questões como a migração, a energia eos transportes não serem, no futuro, tratados em cada Estado, mas em Bruxelas. Senhorase Senhores Deputados, se não conquistarmos os cidadãos para as regras que regem a novaconfiguração da UE, se não lhes explicarmos, por um lado, as vantagens da integração e,por outro lado, as questões da perda de soberania nacional, que o Tratado implica,claramente, em algumas áreas, o fosso entre a elite política e os cidadãos continuará a

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aumentar. É por isso que considero que os referendos deveriam constituir um aspectodecisivo do processo de ratificação do Tratado.

Jacek Saryusz-Wolski (PPE-DE). - (EN) Senhor Presidente, o Tratado de Lisboa terá,no futuro próximo, um impacto significativo na política externa da União Europeia.

As nossas discussões na Comissão dos Assuntos Externos desta Câmara permitem-meexprimir juízo muito positivo sobre o novo Tratado, e por várias razões. A estrutura unitáriaaumenta muito a coerência da acção externa da UE: o novo Tratado, quando comparadocom os dispositivos actuais, implica um grande passo em frente. O Tratado fornece basejurídica expressa para a política de vizinhança, institui a personalidade jurídica única daUnião no seu todo e obriga os Estados-Membros a consultarem-se mutuamente e ademonstrarem solidariedade.

No aspecto institucional, são conseguidos grandes melhoramentos ao aumentar os poderesdo Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança -com os seus dois chapéus, pois que é simultaneamente Vice-Presidente da ComissãoEuropeia - e ao instituir o Serviço Europeu para a Acção Externa.

Da maior importância é que o novo Tratado aumenta os poderes orçamentais do Parlamentorelativamente às despesas com a política externa da EU, colocando o Parlamento Europeuem pé de igualdade com o Conselho.

Além disso, é também estabelecida a nova base jurídica dos instrumentos e políticasrelacionadas com a política externa e de segurança comum (PESC), por exemplo as sançõescontra entidades não estatais, a política espacial e a política de segurança energética, a lutacontra as alterações climáticas, a prevenção do terrorismo internacional e a protecção dosdados pessoais.

De facto, os maiores melhoramentos reportam-se à política comum de segurança e defesa(PESD), uma vez que o Tratado de Lisboa prevê em especial uma cooperação na defesa,estruturada e permanente, entre os Estados-Membros com capacidade militar.

Do nosso ponto de vista, porém, o novo Tratado sofre também de algumas insuficiências:o Parlamento Europeu deveria ser consultado sobre a nomeação do novo Alto Representantee Vice-Presidente da Comissão, não só a respeito de quem for a primeira pessoa a tomarposse em 1 de Janeiro de 2009, mas também posteriormente, em caso de nomeaçãoprovisória, e, claro, quando seja nomeada toda a Comissão, incluindo o Vice-Presidentepara os Negócios Estrangeiros.

Seja-me também permitido sublinhar a necessidade de que o Alto Representante eVice-Presidente que venha a ser eleito consulte ex ante e de modo efectivo o Parlamentoacerca dos aspectos principais das escolhas básicas da PESC e da PESD.

Resumindo: o Tratado de Lisboa constitui um marco no desenvolvimento institucional daUnião Europa nos assuntos externos; na qualidade de presidente da Comissão dos AssuntosExternos, congratulo-me sinceramente com a sua iminente assinatura.

Genowefa Grabowska (PSE). - (PL) Senhor Presidente, três anos após o fim da SegundaGuerra Mundial, a Organização das Nações Unidas proclamou a Declaração Universal dosDireitos do Homem, a qual continua a ser o texto de referência neste domínio. Quase 60anos depois, a União Europeia codificou os direitos humanos na sua Carta dos DireitosFundamentais, um documento que vai ao encontro das necessidades e expectativas doseuropeus no limiar do século XXI.

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O que explica então que dois estados, Polónia e Reino Unido, tão empenhados naconsagração dos direitos humanos a nível internacional, se tenham oposto à Carta? Porque motivo não desejam oferecê-la aos seus próprios cidadãos? O meu desapontamentoenquanto polaca é tanto maior quanto a Polónia e o Reino Unido haviam aceite previamentea Carta. Os seus Primeiros-Ministros e Ministros dos Negócios Estrangeiros assinaram-naenquanto segunda parte do Tratado Constitucional, em Roma, no dia 29 de Outubro de2004. As suas assinaturas não só os obrigaram perante os seus parceiros europeus, comoconstituíram um sinal aos cidadãos dos seus próprios países e a promessa de querespeitariam a Carta.

O conteúdo da Carta dos Direitos Fundamentais não mudou desde 2004. O que mudoufoi a atitude da Polónia e do Reino Unido. Pergunto, então, por que motivo os sucessoresde Tony Blair e Marek Belka se opõem à Carta dos Direitos Fundamentais e privam os seusconcidadãos dos benefícios da mesma. Solicitaria igualmente ao Presidente do Conselhoda Europa que perguntasse aos actuais primeiro ministros da Polónia e do Reino Unidopor que motivo não honram a assinatura dos seus antecessores. Em política externa oprincípio da continuidade é fundamental, e nós cidadãos, neste caso polacos, precisamosdos direitos consagrados na Carta.

Alexander Lambsdorff (ALDE). – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, muito já aqui foi dito sobre o conteúdo do Tratado. Nós, liberais alemães,sempre atribuímos grande importância a certos aspectos-chave. Em primeiro lugar, ocompromisso institucional tinha de ser preservado. Em segundo lugar, queríamos umMinistro dos Negócios Estrangeiros da UE e não um ornamento, mas sim um verdadeiroporta-voz da União Europeia. Concordamos inteiramente com o que o colega JacekSaryusz-Wolski referiu há momentos, acerca dos melhoramentos institucionais. No entanto,ainda acreditamos que a Política Externa e de Segurança Comum, no futuro previsível, vaicontinuar a estar de pé ou a cair em função da vontade política dos Estados-Membros, oque é lamentável. O terceiro ponto, ao qual atribuímos grande importância, é a firmeprotecção dos direitos fundamentais, e, por essa razão, estamos ansiosos pela proclamaçãoda Carta.

No seu essencial, há que dizer que o Tratado de Lisboa constitui um êxito para a cooperaçãoluso-alemã, pela qual as duas Presidências merecem ser felicitadas.

No entanto, um verdadeiro inconveniente é a falta de progressos na aproximação dosprocessos de tomada de decisões em relação aos cidadãos. A decisão do Conselho de nãoapresentar um texto consolidado é aquilo a que, em alemão, chamaríamos uma Realsatire,em referência a uma situação da vida real que resulta mais absurda que qualquer outra queum escritor satírico possa imaginar. Não obstante, tal decisão será dentro em breve superadapelos acontecimentos. Estou certo de que o público em geral e os parlamentos obterãocópias do texto consolidado para poderem inteirar-se do que se encontra realmente noTratado.

Devemos agora iniciar uma etapa em que a União Europeia abandone a auto-contemplaçãoe retome a adopção de uma perspectiva global. Devemos fazer jus à nossa responsabilidadeeconómica internacional. O estado geral da economia mundial faz surgir o espectro deum crescimento mais lento e da perda de postos de trabalho na Europa. Em muitosEstados-Membros, incluindo o meu, observo um retorno à complacência, e umenfraquecimento da vontade de promulgar reformas. Isto tem de mudar.

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A minha segunda observação é de que devemos desempenhar de modo responsável onosso papel no domínio da política internacional. Os cidadãos querem que a União Europeiaexerça um papel importante na cena mundial. A responsabilidade é nossa.

Bogdan Pęk (UEN). - (PL) Senhor Presidente, a Europa não é um mero acordo de elites,nem se reduz às instituições europeias. A Europa é acima de tudo uma questão de confiança.

Ontem, porém, Udo Voigt, o presidente do Partido Nacional Democrático da Alemanha,declarou num canal público da televisão alemã que a Polónia deve devolver de imediato aSilésia aos alemães, que a Polónia deve devolver à Alemanha a Pomerânia, Gdańsk, Wrocław(Bratislava) e outras cidades. Questionou ao mesmo tempo os números relativos às vítimasdo Holocausto.

No momento actual, em que o espírito europeu paira à superfície das águas e acima desteParlamento, pergunto como se explica que o senhor deputado Schulz tenha perdido o seupendor revolucionário. Por que motivo não se insurgiu o governo alemão? Foi este tipode mentalidade que conduziu ao Terceiro Reich.

Apelamos para uma forte censura ao partido fascista em causa, e para a ilegalização domesmo, pois prossegue objectivos que podem causar grandes males à Europa, ao tentardestruir a confiança entre nações europeias empenhadas no bem comum. A Alemanha,como grande nação europeia, devia estar especialmente atenta a este tipo de atitudes e agirde imediato, a bem das Comunidades Europeias.

Alain Lamassoure (PPE-DE). - (FR) Senhor Presidente, também eu gostaria de felicitara Presidência portuguesa. A assinatura do Tratado de Lisboa, bem como a cimeira UE-África,representarão marcas importantes da história europeia. Mas estes êxitos magníficos nãodevem ser manchados pelo que virá depois. Gostaria de manifestar a propósito dois temasde preocupação.

O primeiro diz respeito à ratificação do Tratado. O abandono do projecto de Constituiçãoe a sua substituição por um Tratado ordinário significam que, excepto na Irlanda, já nadase opõe a uma ratificação parlamentar em todos os Estados-Membros. Trata-se de umelemento essencial do acordo político alcançado nos Conselhos Europeus de Junho eOutubro. Se, entretanto, um governo mudar de opinião, o mínimo que deverá fazer poruma questão de lealdade para com os seus parceiros será informá-los antes da assinaturae não depois. Tenho a certeza, Senhor Presidente em exercício do Conselho, que aPresidência portuguesa zelará pelo mais estrito respeito desta lealdade elementar.

Segundo tema de preocupação: muitos colegas já falaram dele, trata-se da situação nosBalcãs Ocidentais. Há já oito anos que sabemos que a independência do Kosovo é inevitável.Neste momento, apesar dos consideráveis esforços de Javier Solana e da Comissão, estamostão embaraçados com há oito anos.

Continuamos a dizer que os Balcãs Ocidentais estão vocacionados para entrar para a União.Pretendemos conduzir um início de política externa comum. No entanto, cada Presidentesucessivo da União só tem conseguido passar a batata quente à Presidência seguinte. Já nãoestamos em 1991. Dezasseis anos e trezentos mil mortos depois, os países da União devemmostrar que compreenderam as lições deste passado doloroso. O futuro dos Balcãs não sedecidirá em Washington ou em Moscovo, nem sequer em Nova Iorque, mas sim aqui, naEuropa, entre povos directamente envolvidos e entre vizinhos, amigos e parceiros europeus.

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Gunnar Hökmark (PPE-DE). - (EN) Senhor Presidente, falarei primeiro sobre o Kosovo.Nos Balcãs e no Cáucaso, estamos a presenciar um conflito entre os valores europeus etendências nacionalistas, entre a integração europeia e movimentos e ideias que são apoiadospela Rússia. Se, no futuro, olharmos para trás, tenho a certeza de que nunca lamentaremosos esforços que tivermos hoje podido fazer para apoiar a integração europeia com todosos diferentes meios que temos; mas poderíamos muito bem vir a lamentar, no futuro, osesforços que agora não tivéssemos feito. Julgo que é importante discutir isso no ConselhoEuropeu do fim desta semana.

Desejo, em segundo lugar, falar da globalização. Penso ser importante recordar que foi aglobalização que fez a Europa uma economia líder no mundo, e que, se quisermos ser aeconomia de conhecimento líder no mundo, a globalização é uma necessidade: porquenunca seremos líderes mundiais se só formos os melhores na Europa. Não poderemosnunca obter resultados com medidas proteccionistas. No longo prazo isso prejudicará asoportunidades de emprego e prosperidade, e não nos dará a oportunidade de ser umaeconomia mundialmente líder nem de defender os valores europeus.

Donde a conclusão de que é importante que o Conselho Europeu dê ênfase aos esforçosque são necessários no respeitante à legislação de energia, à legislação de telecomunicaçõese ao mercado, ao comércio e à concorrência internos. A concorrência não é uma luta entrediferentes personalidades ou identidades. É uma oportunidade para todos participarem epara fazermos a Europa andar para diante. Essa é a via que devemos escolher, e é assim quepoderemos usar o Tratado pelo modo que é em absoluto o melhor para respondermos aodesafio global. Essa oportunidade foi-nos dada esta semana: devemos fazer uso dela.

Enrique Barón Crespo (PSE). – (ES) Senhor Presidente, Senhor Presidente em exercíciodo Conselho, Senhor Vice-presidente da Comissão, Senhoras e Senhores Deputados, achoque é justo começarmos por reconhecer publicamente o trabalho realizado pela Presidênciaportuguesa numa data que é muito importante para o Parlamento Europeu, que estáexpressa no frontispício colocado no pódio da Presidência e que representa a proclamaçãosolene da Carta dos Direitos Fundamentais.

A Presidência recebeu – e digo isto enquanto representante do Parlamento Europeu naConferência Intergovernamental – um rascunho, onde a Carta dos Direitos Fundamentaisera apenas a declaração nº 11. É igualmente justo assinalar que – como o Presidente emexercício do Conselho me disse pessoalmente no início – era praticamente impossívelalterar esse estatuto, e creio que na Conferência Intergovernamental conseguimos assegurarem conjunto que a Carta dos Direitos Fundamentais seja de facto uma carta juridicamentevinculativa. Os Estados-Membros não quiseram incluí-la no Tratado, mas é um Carta etem carácter constitucional.

Penso que devemos recordar os esforços que muitas mulheres e homens no ParlamentoEuropeu envidaram ao longo dos anos para conseguir essa Carta. Penso que deveríamosrelembrar a mulher que representa a tragédia e o poder de superação da Europa no séculoXX, Simone Weil, para não falar de homens como Altiero Spinelli, Fernand Herman emuitos outros que trabalharam tantos anos para que pudéssemos, finalmente, ter umadeclaração de direitos que expressasse a nossa identidade.

Senhor Presidente, penso também que é chegada hora de, num Parlamento que legislaindiscriminadamente sobra vacas, cabras, pepinos e finanças, falarmos finalmente sobreas pessoas, sobre os cidadãos e as cidadãs comuns. Acho lamentável que ainda hoje existamEstados que restringem os direitos dos seus nacionais enquanto cidadãos europeus.

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Por último, Senhor Presidente, gostaria de acrescentar outra observação importante,designadamente que a Carta e o Tratado de Lisboa reforçam a União como uma democraciasupranacional de Estados e de cidadãos, e que essa constitui a primeira resposta numa erade globalização política. Estamos a fazê-lo a nível regional, mas creio que esse é um exemploque devemos seguir também para o nosso próprio futuro e para o futuro de toda aHumanidade.

Othmar Karas (PPE-DE). – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,estamos a preparar a cimeira e não espero que esta nos traga quaisquer surpresas. Espero,contudo, que sejam abertas portas para o futuro e para o posicionamento da Europa sobreuma série de questões.

A primeira porta que tem de ser aberta é a porta da ratificação do Tratado de Lisboa.Esperamos que a ratificação tenha rapidamente lugar em todos os Estados-Membros, sendoos resultados das eleições de 2009 para o Parlamento Europeu tomados em conta para anomeação dos detentores de cargos na sequência do novo Tratado. No entanto, esperoigualmente que o abrir caminho para a ratificação vá também querer dizer que o Conselhoe a Comissão vão finalmente começar a comunicar e a dar informações sobre o conteúdodo Tratado nos Estados-Membros.

Não ficamos em silêncio em relação às razões pelas quais damos o nosso apoio a esteTratado. Congratulamo-nos com ele porque dá força aos nossos cidadãos, aos nossosparlamentos, à democracia e à União Europeia.

A segunda porta que estamos a abrir é a porta da liberdade. Schengen vai ser discutido.Congratulamo-nos por, actualmente, haver mais Estados-Membros a preencher os critériosde Schengen, pois satisfazer estes critérios significa mais liberdade no seio da União Europeiae maior liberdade para os cidadãos da União Europeia.

Em terceiro lugar, será aberta a porta, assim o espero, para permitir à União Europeiaassumir mais responsabilidades à escala global. Permitam-me, portanto, dizer francamenteque está esgotado o âmbito para uma solução negociada da questão do Kosovo e que aUnião Europeia vai ter de assumir conjuntamente a responsabilidade pelo Kosovo.Entendemos sem margem para dúvidas que o futuro do Kosovo e da Sérvia está na UniãoEuropeia e que teremos de desenvolver todos os esforços para assegurar a satisfação daaspiração daquele povo a ser livre e a viver e coexistir em paz.

O meu terceiro ponto tem a ver com a porta que abre para investigação e a tecnologia. Épreciso aplicar a decisão sobre o Galileo, algo que apenas pode avançar devido ao facto dea Parlamento Europeu ter feito jus à sua responsabilidade financeira.

Manuel António dos Santos (PSE). - Senhor Presidente, Senhor Presidente do Conselho,o legado da Presidência portuguesa é muito estimulante, mas é também muitoresponsabilizante. Ora é este legado político que a Cimeira desta semana deverá consolidare desenvolver. A assinatura do Tratado de Lisboa que ocorrerá amanhã, a ratificação solene,pelas três instituições da União Europeia, da Carta dos Direitos Fundamentais, que vaiocorrer dentro de momentos, a abertura de uma parceria estratégica com o Brasil, semfragilizar as especiais relações da União Europeia com o Mercosul, o relançamento dascimeiras estratégicas periódicas com o continente africano, enfim, o impulso dado àEstratégia de Lisboa e a tantos pontos determinantes para o futuro da Europa, são feitosnotáveis, mas apenas servirão de alguma coisa se deles resultarem as políticas e forem

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alcançados objectivos indispensáveis para tornar a Europa mais forte, mais coesa, maissolidária e mais determinante para a estabilidade mundial.

Esta é, afinal, a responsabilidade que os Estados-Membros, que o Conselho Europeu, quea Comissão, mas também que este Parlamento herdam da Presidência portuguesa. Maseste é também o estímulo que nos permitirá, a todos, sair da crise institucional que limitoua Europa e o seu processo de integração nos últimos dois anos. Repetindo o que já muitosdisseram: os meus parabéns sinceros à Presidência portuguesa, mas também o meu desejode que a próxima Presidência eslovena possa prosseguir neste sentido e desenvolver o quefica feito. A próxima Cimeira de Bruxelas deve ter como único objectivo criar as condiçõespolíticas para que tal possa ocorrer.

Francisco José Millán Mon (PPE-DE). – (ES) Senhor Presidente, congratulo-me com ofacto de o Tratado de Lisboa ir ser assinado amanhã. Isto irá pôr fim a um período de algumaincerteza e que foi interpretado no exterior como uma certa paralisia da União. Felicito,pois, a Presidência portuguesa.

Após a assinatura do Tratado, espero que não haja motivos para nos fecharmos sobre nósmesmos. É altura de a União, e consequentemente o Conselho Europeu, olharem para forae empenharam-se decididamente na resolução dos problemas que os cidadãos enfrentam.Passo a destacar três.

Crescimento económico: o Conselho Europeu não pode tornar-se complacente. Os sinaisnão são bons: o euro está demasiado forte, o que dificulta as exportações; a inflação estáem queda; o dólar está demasiado fraco e o petróleo continua caro. Todos os estudos – omais recente dos quais é o da OCDE – estão a rever em baixa as previsões de crescimentoeconómico na Europa para 2007 e 2008.

Em segundo lugar, a imigração ilegal: este é um problema sério que a Conferência deMinistros Euromed, entre outros, tem procurado resolver durante este semestre. No planode acção que foi aprovado na Cimeira UE-África também encontrei referências aos acordosde readmissão e a outros instrumentos, mas irão esses compromissos ser honrados? Háquanto tempo está a União a negociar acordos de readmissão com alguns paísesmediterrânicos?

Além disso, a imigração ilegal não depende apenas da cooperação com países terceiros;também nós temos de honrar os nossos compromissos, por exemplo, em relação àFRONTEX. Acresce que o alargamento efectivo de Schengen, que o Conselho deveráconfirmar na próxima sexta-feira, implica também um alargamento das fronteiras externas.Espero que as autoridades e os funcionários responsáveis por essas novas fronteiras externasestejam à altura de lidar com a rede de imigração ilegal.

Por último, o terrorismo: a ameaça persiste. Temos as recentes ameaças dos líderes daAl-Qaeda; os atentados sangrentos ocorridos ontem na Argélia; lembrar-vos-ia ainda oque aconteceu na semana passada, em França, com a ETA.

Alegra-me o facto de, durante a Presidência portuguesa, terem sido envidados esforços nosentido de preencher o cargo de coordenador europeu da luta antiterrorista, um cargo queesteve inexplicavelmente vago durante mais de seis meses. Se porventura isso se deveu aum problema de falta de competências ou de recursos, a reforma do Tratado foi certamenteuma oportunidade perdida para fortalecer esse cargo.

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Por último, espero que o Conselho Europeu insista na rápida tramitação da recente propostada Comissão de alterar a decisão-quadro a fim de incluir a indulgência como um delito.

Paul Marie Coûteaux (IND/DEM). - (FR) Senhor Presidente, este ano de 2007, sob aPresidência alemã seguida da Presidência portuguesa, ficará para a história da construçãoeuropeia como o ano do mais gigantesco desprezo pelos povos e pela democracia.

Com efeito, o Tratado que será assinado amanhã em Lisboa não é nem simplificado nemconsensual. Trata-se pura e simplesmente do regresso do Tratado Constitucional, rejeitadopelo povo francês. A maior parte de vós, aliás, bem como o Sr. Giscard d'Estaing,congratula-se efusivamente com o facto.

Quero, portanto, dirigir daqui, aos meus colegas franceses que apoiam esta Constituiçãodisfarçada, a mais solene chamada de atenção. Estas disposições criam um novo Estado.Este Estado é imposto ao nosso povo contra a sua vontade, pelo que não será legítimo. Oque implica uma consequência concreta mas terrível: os órgãos da União Europeia e osactos por eles emitidos deverão ser considerados ilegítimos. Competir-nos-á também embreve um dever imperioso, ditado pelo direito dos povos, a saber, o dever de desobediência.Nada mais tenho a dizer.

Manuel Lobo Antunes, Presidente em exercício do Conselho . − Senhor Presidente, SenhoraVice-Presidente da Comissão, Senhores Deputados, eu gostaria apenas, na minha intervençãofinal, também de referir brevemente uma questão que foi aqui várias vezes levantada e quetem inegável importância, está na agenda externa da União Europeia, naturalmente que,com grande probabilidade, assim permanecerá como prioridade nas próximas semanas emeses. Refiro-me à questão do Kosovo. E gostaria de vos dizer brevemente o que tem sidoa posição da Presidência portuguesa relativamente a esta questão essencial.

Para nós foi muito importante que se pudesse constituir, na sequência da apresentação doplano Atissari ao Conselho de Segurança, uma Troika integrando a União Europeia, aRússia e os Estados Unidos para, de novo em contacto muito estreito com as partes, procurareventualmente soluções que pudessem ser acordadas por essas mesmas partes. Havia doisobjectivos essenciais, o objectivo de procurar aprofundar alguns dos aspectos que no planoAtissari pudessem e devessem ser aprofundados. Por outro lado, temos a certeza, nós e aUnião Europeia, que tínhamos feito tudo o que estava ao nosso alcance para queefectivamente uma solução consensual para o futuro do Kosovo pudesse ser alcançada.Foi um mandato de 120 dias.

Sabemos hoje, é público, a Troika assim o reportou, que essa solução entre as partes parao futuro estatuto do Kosovo não foi possível, mas nem tudo está perdido. Em primeirolugar temos de registar o excelente clima, o excelente ambiente que se registou entre osparceiros da Troika e também da relação da Troika com as partes. Em segundo lugar, comonós gostaríamos e prevíamos, efectivamente vários dos aspectos focados no relatórioAtissari puderam ser aprofundados e naturalmente novos compromissos nessa basepuderam ser aflorados. Em terceiro lugar, um aspecto muito importante e que, porventura,não tem sido focado essencialmente, que é o compromisso das partes de não recorrerema soluções violentas para a resolução da questão do futuro estatuto do Kosovo. Nósatribuímos a este compromisso político a maior importância e só esperamos naturalmenteque este compromisso seja respeitado.

O processo voltou de novo às Nações Unidas e irá ser debatido de novo no Conselho deSegurança. As Nações Unidas têm aqui, não esqueçamos, um papel fundamental. Mas se,

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eventualmente, não for possível, ao nível das Nações Unidas, encontrar, entre os membrosdo Conselho de Segurança, uma solução que possa definir o futuro estatuto do Kosovo,não tenhamos dúvidas que a comunidade internacional e, em particular, a União Europeia,terá ela mesma de tomar decisões que todos sabemos que serão decisões complexas e queserão decisões porventura difíceis.

Três observações a este respeito que são preocupações fundamentais da Presidênciaportuguesa e que serão preocupações fundamentais de Portugal, enquanto Estado-Membroda União Europeia a partir de 1 de Janeiro. Naturalmente que seja preservada a unidadeentre os Estados-Membros. É para nós fundamental que, quando formos chamados a decidire se tivermos que decidir, o façamos de uma forma unida. Que apresentemos uma frentecomum. Para nós isto é absolutamente essencial. O que não gostaríamos e que nãodesejaríamos e que faremos tudo para evitar é que relativamente a esta questão do Kosovoa União Europeia se apresente dividida, como se apresentou no passado, relativamente atambém situações internacionais, casos internacionais difíceis e de grande responsabilidade.Unidade é, portanto, a palavra fundamental.

Em segundo lugar, a União Europeia tem que assumir as suas responsabilidades porque oKosovo é sobretudo um problema europeu, é sobretudo um problema nosso e, se é evidenteque contamos com todos os parceiros internacionais, também na procura de uma soluçãopara esta questão, a Europa não pode voltar as costas ao Kosovo, tem que assumirplenamente as suas responsabilidades como um problema europeu e a conclusão daPresidência, eu julgo que a União Europeia está perfeitamente consciente deste facto e estáperfeitamente consciente que efectivamente tem que ter aqui um papel predominante.

Em terceiro lugar, que não nos precipitemos, que analisemos bem as consequências detodas as decisões que eventualmente venhamos a tomar, que naturalmente procuremosem todas as circunstâncias e em todas as situações os consensos possíveis, que naturalmentetambém tenhamos em relação a esta questão uma posição clara, a transmitamos de umaforma muito transparente e muito óbvia a todos os parceiros que também, de algumaforma, estão envolvidos na questão do Kosovo.

Finalmente, que sempre e em qualquer circunstância uma solução para o futuro estatutodo Kosovo passe pelo respeito dos valores e princípios que são fundamentais para a UniãoEuropeia, naturalmente a paz e a estabilidade regional e também, obviamente o respeitopela lei, o respeito pela democracia, o respeito pelos direitos humanos.

Não há outro quadro de referência para a solução do problema do Kosovo e não podemos,em qualquer circunstância, também esquecer que a União Europeia ofereceu aos paísesdos Balcãs Ocidentais, e em particular à Sérvia, uma perspectiva europeia sólida e inequívocae é nesse sentido também que temos que trabalhar com as partes. As partes têm que saberque têm na Europa a sua vocação natural. Esperemos que, efectivamente, a União Europeia,na solução da difícil questão do Kosovo - não tenhamos ilusões que é uma questãocomplexa, que é uma questão difícil, - não podemos senão desejar, como vos digo, que aUnião Europeia, em qualquer circunstância e a despeito das diferenças que possam existirsobre questões particulares, que possamos manter a nossa unidade. Isso é fundamental atépara a própria credibilidade da União Europeia na sua acção externa. Era isso, rapidamente,o que gostaria de vos dizer sobre o Kosovo.

Finalmente, Senhor Presidente, perdoará, e estou certo que compreenderá, uma notapessoal: esta é a última vez que, como representante da Presidência portuguesa, estoupresente num debate no Parlamento Europeu. É, portanto, uma nota de despedida, e uma

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nota de despedida que só pode passar também por uma nota de reconhecimento e degratidão pelo apoio que sempre recebi nesta Casa de todos os Senhores Deputados e doSenhor Presidente. Aprendi convosco e aprendi através de vós como é importante esteParlamento no reforço da democracia na nossa União e também, naturalmente, por essavia, no reforço da legitimidade, das decisões que aqui tomamos com vista, obviamente, auma União mais próspera, mais livre, a favor dos cidadãos europeus.

Muito obrigado, portanto, aos Senhores Deputados. Gostaria também, naturalmente, deagradecer aos Senhores Comissários e aos seus colaboradores, ao Senhor Presidente daComissão que comigo, em muitas ocasiões, partilharam estes debates e com quem pudeestabelecer grandes cumplicidades de trabalho, de objectivos e de esforços. Muito obrigadoà Comissão.

Gostaria também, compreenderão, de agradecer aos funcionários do Parlamento Europeue, sobretudo, e também me perdoarão esse facto, aos meus compatriotas que aqui trabalham.Finalmente, e espero não me esquecer de ninguém, aos intérpretes da minha língua, aosintérpretes da língua portuguesa, de que eu muito me orgulho. Eu terminarei usando aexpressão inglesa: "I will miss you all", em português: Já sinto saudades. Muito obrigado.

Presidente. – Obrigado, digo-o na língua de V. Exa., Senhor Presidente em exercício doConselho. Claro que, amanhã, vamos encontrar-nos novamente em Lisboa e, na próximasemana, estaremos novamente aqui para acompanhar o Presidente do Conselho, JoséSócrates, mas, tendo sido esta a sua última intervenção em plenário, não quero deixar delhe expressar os nossos mais sinceros agradecimentos e reafirmar que a nossa cooperaçãofoi um grande prazer e, sobretudo, um grande êxito. Muito obrigado, Senhor Secretáriode Estado Manuel Lobo Antunes.

Margot Wallström, Vice-Presidente da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, muito obrigadapor este debate tão rico de conteúdo, e que creio fornecerá valioso contributo para a reuniãoem Lisboa e para a cimeira em Bruxelas.

Gostaria de focar algumas áreas a que foi feita referência esta manhã, começando peloTratado de Lisboa e pela Carta. Antes de tudo o mais, penso que a Presidência Portuguesa,tal como antes dela a Presidência Alemã, merecem rasgado elogio por nos terem feitochegar a este ponto. A assinatura em Lisboa, amanhã, sublinhará o compromisso de todosos signatários de alcançar a ratificação do Tratado.

Desejaria também aproveitar este ensejo para agradecer novamente aos representantesparlamentares o importante papel que desempenharam, tornando possível que a Uniãoresolvesse as suas dificuldades institucionais. Claro que a Comissão também se empenhouactivamente ao longo deste demorado processo, não em último lugar com a Agenda dosCidadãos e com a “abordagem dual” a que o Presidente Barroso aludiu. Não esqueçam,aqueles de nós que dizem que, no fim de contas, a União funciona mesmo sem estasmudanças, que neste Tratado reformador há uma série de novos elementos que nos ajudame explicitamente nos conferem poderes para lidarmos mais eficazmente com as alteraçõesclimáticas e com todo o desafio da energia, bem como para conseguirmos maior aberturacom reuniões públicas do Conselho e com o incremento do papel dos Parlamentosnacionais. Por isso, julgo que o Tratado nos ajudará a tornarmo-nos mais transparentes,mais abertos e mais democráticos.

Seja qual for o processo de ratificação que cada um dos Estados-Membros decida, temoso dever de comunicar com os cidadãos. Claro que devemos fazê-lo em parceria, e também

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respeitando as diferentes necessidades e desejos que os Estados-membros têm expressoacerca deste debate. Penso que a proclamação da Carta, hoje, é também símbolo de outroimportante resultado das negociações: é símbolo do facto de a Carta – exceptuadas assoluções especiais em dois dos Estados-membros e uma vez que o Tratado entre em vigor– ser legalmente vinculativa, garantindo os direitos fundamentais dos cidadãos europeus.

O segundo ponto que gostaria de comentar é o “Grupo de Reflexão”, porque julgo quetemos de assegurar que ele se centre nos desafios políticos do futuro, em vez de se ocuparsobretudo das instituições. É preciso que tenha como foco de atenção as expectativas dapopulação da Europa. Espero, além disso, que o grupo seja representativo da diversidadeda Europa de hoje.

A minha terceira observação concerne a migração. Creio que uma abordagem integradada migração implica um mix da política da União Europeia e das políticas nacionais. Essaabordagem requer coerência entre as nossas políticas relativas à migração legal e à ilegal,e implica acções no âmbito das políticas de desenvolvimento, de integração social, deliberdade de circulação, de segurança das fronteiras e vistos, para nomear apenas algumas.É excelente que este Conselho queira também discutir estas questões globalmente, maspenso que o Parlamento pode dar um contributo substancial para a discussão. A estratégiade Lisboa, como disse o Presidente, está a dar resultados, e creio que isso deveria ser motivode regozijo em todos os lados desta Câmara. Do mesmo modo, existe consenso quanto ànecessidade de acções para tratar de todos os aspectos do desenvolvimento sustentávelenquanto parte da estratégia. Entre esses aspectos, contam-se a flexigurança, a inclusãosocial e as alterações climáticas. Se pudermos estar de acordo quanto à orientação política,seremos capazes de gerar compromissos políticos para resolver os problemas reais queforam mencionados por alguns de vós.

Finalmente, seja-me permitido dizer também, a respeito da questão do Kosovo - objectode muitas referências nesta Câmara -, que a Comissão compartilha plenamente aspreocupações que alguns Deputados exprimiram quanto à situação no Kosovo. A UniãoEuropeia fez todo o possível por chegar a uma solução negociada, mas é agora claro queo status quo é insustentável e que o Conselho de Segurança das Nações Unidas se terá deocupar desse aspecto da situação quando a apreciar em 19 de Dezembro. O ConselhoEuropeu terá de fazer um inventário da situação, e deve reafirmar o compromisso da UniãoEuropeia de resolver o estatuto do Kosovo e de desempenhar um papel de liderança naaplicação de um acordo de solução do conflito, que deve ter por enquadramento, comofoi dito por muitos de vós, uma perspectiva europeia que abranja toda a região.

Finalmente, este Conselho, juntamente com a assinatura do Tratado e com a proclamaçãoda Carta, não faz talvez um traço sob os acontecimentos de 2005, mas marca o começode uma nova fase do desenvolvimento da União Europeia. Aprendemos as lições de 2005,e espero que possamos entrar nos 50 anos seguintes da União com muito mais confiança.

Presidente. - Está encerrado este ponto.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

Janusz Lewandowski (PPE-DE), por escrito. – (PL) Senhor Presidente, os preparativosda cimeira europeia de Dezembro em Bruxelas estão a decorrer numa atmosfera maispositiva do que o esperado, o que evidentemente se explica pela aprovação do TratadoReformador e a expectativa da sua adopção sem problemas em Lisboa. O compromissoalcançado na Polónia, de manter a posição do governo anterior sobre a Carta dos Direitos

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Fundamentais, de modo a não pôr em perigo o tratado no seu conjunto, teve algumainfluência.

Importa salientar, no entanto, que o ambiente criado à volta do novo tratado associouexageradamente a sua adopção, ou não, às possibilidades de sobrevivência da UniãoEuropeia. Na sequência do alargamento de 2004 e da adesão da Bulgária e da Roménia,ou seja com 27 Estados-Membros, a União Europeia funcionou com base no Tratado deNice. A prova do seu efectivo funcionamento reside na adopção das Perspectivas Financeiraspara 2007-13. Importa reconhecer que tal adopção não decorreu sem algumas dificuldades,mas foi conseguido um acordo sobre os montantes, que parecem ser a questão mais difícil,o que representa uma prova da utilidade das regras institucionais existentes.

Apesar deste e doutros acordos, foram artificialmente criados na UE receios de uma crise,o que teve repercussões na confiança que os cidadãos depositam nas instituições europeiase no fundamento de um novo alargamento. Esta espiral perigosa, que até certo pontoabrandou no segundo semestre de 2007, devia servir de lição e advertência para o futuro.

Silvia-Adriana Ţicău (PSE), por escrito. – (RO) A assinatura do novo Tratado no ConselhoEuropeu de 13-14 de Dezembro leva a cabo uma reforma das instituições europeias mas,principalmente, dá maior poder aos cidadãos europeus para expressarem a sua opiniãosobre a legislação europeia.

Depois de ser ratificado o novo Tratado, os Parlamentos dos Estados-Membros incluirãoas propostas legislativas da Comissão na sua própria agenda, aumentando, assim, o graude democracia na União Europeia. Teríamos gostado que um dos capítulos deste Tratadofosse a própria Carta Europeia dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Infelizmente,é apenas um anexo do Tratado, mas cria desta forma a base legal para tornar vinculativasestas disposições. Os seis capítulos da Carta garantem o direito à dignidade, à liberdade, àsolidariedade, à igualdade, à justiça e à cidadania. A adopção destas disposições tornaráimpossível qualquer futura discriminação de cidadãos europeus baseada em critérios denacionalidade, etnia, religião, idade, género, etc.

O Tratado dá ainda à União a possibilidade de promover a luta contra as alteraçõesclimáticas ao nível internacional e garante protecção social adequada a todos os seuscidadãos. A União Europeia não tem como base apenas critérios económicos. Temos deconstruir uma Europa Social, com base na solidariedade e na coesão económica, social eterritorial.

A adopção do novo Tratado tem de ter a unanimidade do Conselho e a sua ratificação portodos os Estados signatários até Junho de 2009.

PRESIDÊNCIA: WALLISVice-presidente

3. Período de votação

3.1. Acordo euro-mediterrânico CE-Marrocos relativo aos serviços aéreos (votação)

- Relatório Johannes Blokland (A6-0416/2007)

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3.2. Alteração do Acordo euro-mediterrânico CE-Marrocos relativo aos serviçosaéreos (votação)

- Relatório Paolo Costa (A6-0458/2007)

3.3. Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização (votação)

- Relatório Reimer Böge (A6-0485/2007)

- Antes da votação:

Reimer Böge, relator. – (DE) Senhora Presidente, permita-me solicitar a V. Exa. queassegure a permanência dos deputados nos seus lugares para a votação, pois necessitamosde maiorias em conformidade. Este facto é extremamente importante para os próximostrês relatórios, pois, caso contrário, amanhã, teremos um problema com a votação doorçamento para 2008. Nesta perspectiva, peço-lhe o favor de solicitar aos nossos colegasque tenham a bondade de permanecer sentados e de participar na votação, de modo aevitarmos um grave problema.

Presidente. − Obrigado, Senhor Deputado Böge, tem toda a razão. Peço aos Colegas queainda não se sentaram o favor de tomarem os seus lugares. Temos votações nominais querequem maioria qualificada. São votações importantes. Por favor, dirigi-vos aos vossoslugares.

3.4. Instrumento de flexibilidade (votação)

- Relatório Reimer Böge (A6-0499/2007)

3.5. Acordo Interinstitucional sobre a disciplina orçamental e a boa gestão financeira(quadro financeiro plurianual) (votação)

- Relatório Reimer Böge (A6-0500/2007)

3.6. Acções de informação e de promoção dos produtos agrícolas (votação)

- Relatório Bogdan Golik (A6-0461/2007)

3.7. Organização comum de mercado no sector dos produtos da pesca e daaquicultura (votação)

- Relatório Pedro Guerreiro (A6-0467/2007)

- Antes da votação:

Pedro Guerreiro, relator . − Gostaria de iniciar esta pequena intervenção saudando adecisão da Comissão das Pescas do Parlamento Europeu de elaborar um relatório deiniciativa sobre a Organização Comum de Mercado no sector dos produtos da pesca e daaquicultura. É sabido e reconhecido que esta OCM não conseguiu, até agora, concretizaros objectivos para os quais foi criada, isto é, garantir a estabilidade dos mercados dosprodutos da pesca e o rendimento justo aos produtores. Assim sendo, valorizamos a decisãoda Comissão Europeia, embora tardia, de efectuar uma avaliação aprofundada da actualOCM e apelamos a que esta proceda à sua urgente revisão a fim de aumentar o seu

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contributo para garantir o rendimento do sector, a estabilidade dos mercados, a melhoriada comercialização dos produtos da pesca e o aumento do seu valor acrescentado,designadamente através do reforço significativo dos seus meios financeiros.

Apesar de algumas das nossas propostas iniciais não terem conseguido o consensonecessário na Comissão das Pescas, consideramos que o relatório agora em votação contémmedidas que importa valorizar como: a avaliação se os actuais mecanismos de intervençãosão os mais adequados e se têm a flexibilidade necessária para responder às necessidadescolocadas nos diferentes Estados-Membros; a indemnização compensatória para a sardinhacomo já existe para o atum; a necessidade de os Fundos Estruturais contribuírem para amodernização e a criação de infra-estruturas de apoio aos produtores naprodução-comercialização; o apoio efectivo à constituição e ao funcionamento deorganizações de produtores, particularmente na pequena pesca costeira e artesanal; aaplicação aos produtos da pesca importados e comercializados no mercado interno dasmesmas normas e requisitos que são aplicados aos produtos da pesca comunitários. Sãoquestões que, embora podendo não ter significado para alguns Deputados, são muitoimportantes para os pescadores.

3.8. Agência Europeia para a Segurança da Aviação (votação)

- Relatório Jörg Leichtfried (A6-0482/2007)

3.9. Alegações nutricionais e de saúde sobre os alimentos (votação)

- Relatório Adriana Poli Bortone (A6-0464/2007)

- Antes da votação:

Margot Wallström, Vice-Presidente da Comissão . − Senhora Presidente, a Comissão faza seguinte declaração. A Comissão, partilhando as opiniões manifestadas pelo Parlamento,reconhece a necessidade urgente de dispor de uma avaliação científica dos anúncios desaúde infantil já presentes no mercado. Dará pois prioridade ao procedimento que sejanecessário para possibilitar decisões prontas sobre anúncios relativos ao desenvolvimentoe saúde infantil e pedirá também à Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentosque dê prioridade ao processamento da avaliação desses anúncios. Além disso, a Comissãoconfirma que o processo de avaliar esses anúncios pode começar sem demora, ainda napendência da definição dos perfis de nutrição.

3.10. Protecção legal de desenhos e modelos (votação)

- Relatório Klaus-Heiner Lehne (A6-0453/2007)

3.11. Organização comum do mercado vitivinícola (votação)

- Relatório Giuseppe Castiglione (A6-0477/2007)

3.12. Impostos indirectos sobre a mobilização de capitais (votação)

- Relatório Werner Langen (A6-0472/2007)

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3.13. Luta contra o terrorismo (votação)

- Proposta de resolução (B6-0514/2007)

- Antes da votação da alteração 3:

Claudio Fava (PSE). - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a alteraçãooral que o nosso Grupo propõe implica a substituição da expressão “toda a forma deglorificação” pela palavra “apologia”. Consideramos que a palavra “apologia” reflecte melhoro tipo de comportamento que se pretende reprimir. Se o senhor deputado Díaz de Meraestiver de acordo, o nosso grupo votará a favor.

(A alteração oral é aceite)

- Antes da votação da alteração 27:

Cristiana Muscardini (UEN). - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,com base no n.º 3 do artigo 151.º do Regimento, V. Exa., Senhora Presidente, pode decidirsobre a admissibilidade do 6.º parágrafo do considerando A, sobre o qual estamos a votar.Esse considerando afirma que o terrorismo não pode ser erradicado. Poderá esta Assembleiadeclarar oficialmente que o terrorismo não pode ser erradicado? Creio que deverá haver,ou um erro de tradução nalguns textos, ou um juízo político muito erróneo, pelo que lhesolicito, Senhora Presidente, que decida sobre a admissibilidade desse parágrafo.

Presidente. − Senhora Deputada Muscardini, todos os controlos de admissibilidade foramfeitos pelos serviços, e eram possíveis alterações, de modo que receio que tenhamos deficar como estamos.

Claudio Fava (PSE). - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, perguntose o deputado que propôs a alteração concordaria em eliminar as duas expressões seguintes:“nalguns casos excepcionais” e “que pode não ser lícito” da frase. Se estas duas expressõesforem retiradas da alteração, estamos na disposição de a apoiar.

(A alteração oral é aceite)

PRESIDÊNCIA: PÖTTERINGPresidente

4. Proclamação e assinatura da Carta dos Direitos Fundamentais

Presidente. – Senhor Presidente do Conselho Europeu, José Sócrates, Senhor Presidenteda Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, Senhoras e Senhores Deputados, é umenorme prazer dar as boas-vindas a V. Exas. aqui no centro da democracia europeia, noParlamento Europeu, hoje, pela ocasião da assinatura solene da Carta dos DireitosFundamentais da União Europeia. Trata-se realmente de um dia feliz, em particular paraos cidadãos da União Europeia.

Cinquenta anos depois de os pais fundadores terem erigido as Comunidades Europeias apartir das ruínas de um continente destroçado, a nossa intenção é proclamar hojesolenemente os valores comuns que fazem parte do núcleo da nossa identidade europeia.

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Page 34: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

A Carta dos Direitos Fundamentais, que hoje proclamamos, simboliza o importantecaminho percorrido até alcançar a União dos povos da Europa, jornada esta que vimosfazendo em conjunto durante os últimos cinquenta anos.

Esta Carta é a prova de que, quando estabelecemos as fundações da União Europeia,tínhamos aprendido a mais importante lição da história europeia, e que, no momentoactual, continuamos a considerar que o respeito pela dignidade de cada ser humano, apreservação da liberdade que foi conquistada, a paz e a democracia e a aplicação do primadoda lei constituem as forças propulsoras da unificação europeia.

A liberdade não se pode desenvolver sem o respeito pelos direitos dos outros e a paz nãopode florescer sem que sejam tidos em conta os interesses dos outros. A liberdade, a paz,a justiça e o bem-estar social são alcançáveis como um todo integral, não podendo nenhumdestes objectivos ser atingido a expensas dos outros.

Os pais fundadores entenderam isto e criaram a Europa como uma comunidade baseadano primado do direito. A União Europeia não é governada pela ideia de que o poder é quetem a razão, mas sim que a razão é que tem o poder. Neste pressuposto se situa a verdadeiramodernidade e visão da nossa União, uma comunidade enraizada em valores partilhados.Apenas a verdadeira justiça pode garantir paz para todos nós.

A visão dos pais fundadores deu frutos. Mais do que isso, na luta entre dois sistemas, emque a democracia e a liberdade se defrontaram com a ditadura e a opressão dos indivíduos,esta visão provou ser a mais forte e mais bem-sucedida.

O milagre da nossa geração foi o fim da divisão do nosso continente. A queda da Cortinade Ferro e a adesão de doze países à União Europeia foram possíveis graças à voz da liberdadee da democracia e ao poder da igualdade de direitos para todos terem tido mais força doque as ideologias anti-humanas que assolaram o século XX.

A Declaração de Berlim, adoptada em 25 de Março deste ano para assinalar o 50.ºaniversário da assinatura dos Tratados de Roma, enuncia um importante facto ao estipularque “Nós, cidadãos da União Europeia, estamos unidos para o nosso bem”, pois éefectivamente uma bênção que a liberdade, a democracia e os direitos humanos se tenhamtornado uma realidade para todos nós na União Europeia.

A proclamação solene de hoje da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeiaatribui-nos a grande obrigação e a grande oportunidade de explicar a verdadeira essênciada unificação europeia aos quase 500 milhões de pessoas que fazem parte da UniãoEuropeia, assim como às gerações vindouras.

A essência da União Europeia, minhas Senhoras e meus Senhores, transcende os cálculosdas relações custo-benefício. Embora estes cálculos sejam importantes e vão continuar ainfluenciar as nossas vidas na UE, nós somos, acima de tudo, uma comunidade baseadaem valores partilhados, sendo a solidariedade, a liberdade e a igualdade de direitos umacomponente e uma parcela da nossa existência quotidiana. Estes valores comuns, no centrodos quais se situa o respeito pela dignidade humana, tal como consagrado no artigo 1.º daCarta dos Direitos Fundamentais, formam as fundações da unificação europeia.

(Aplausos)

É por este motivo que o Parlamento Europeu considera o reconhecimento juridicamentevinculativo da Carta dos Direitos Fundamentais como uma componente essencial de

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Page 35: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

qualquer acordo sobre reforma dos Tratados europeus, tendo o PE feito prevalecer a suavisão neste ponto.

A referência à Carta dos Direitos Fundamentais no artigo 6.º do Tratado de Lisboa que vaiamanhã ser assinado pelo Chefes de Estado ou de Governo, confere à Carta o mesmocarácter juridicamente vinculativo que os próprios Tratados possuem.

A Europa do século XXI deve dispor de um catálogo abrangente de direitos humanos eliberdades fundamentais, igualmente vinculativos e exigíveis para todos os cidadãos daUnião, sendo este facto perfeitamente natural, mais do que isso, constituindo o núcleoduro da nossa percepção da identidade europeia.

(Aplausos)

As pessoas e a dignidade humana encontram-se no coração das nossas políticas. Destemodo, a União Europeia constitui o enquadramento que nos permite, como seus cidadãos,construir o nosso futuro comum em paz.

Sem as bases firmes dos nosso valores partilhados, e que devemos ter sempre presentes, aUnião Europeia não teria futuro, nem nós teríamos fundamento para insistir com ocumprimento dos direitos humanos no mundo à nossa volta, se não conseguíssemosreconhecer os nossos próprios valores como juridicamente vinculativos na União Europeia.

(Aplausos)

Também não iremos jamais permitir que alguém, dentro ou fora da União Europeia,estabeleça limites à nossa resoluta defesa dos direitos humanos. Nós, no ParlamentoEuropeu, temos um dever moral e político de defender a dignidade humana em todas asocasiões.

(Aplausos)

No mundo actual, nós, europeus, temos a obrigação de no projectarmos como umacomunidade unida por valores partilhados e de defendermos a dignidade humana,procurando encetar um diálogo intercultural. Podemos tomar esta atitude com confiançae devemos fazê-lo com incansável empenho – desde modo, ninguém nos conseguirá parar.

(Aplausos)

Aquando da redacção da Carta dos Direitos Fundamentais, foi utilizado, pela primeira vezna história da unificação europeia, o novo método aberto e democrático da convenção.Este método mostrou ser altamente eficaz, tendo a convenção passado a ser o modelo e oponto de partida de todo o processo de reforma.

O Parlamento Europeu desempenhou um papel particularmente activo na redacção daCarta dos Direitos Fundamentais, tendo exercido influência decisiva no conteúdo do texto.

A Carta constitui o primeiro instrumento a consagrar os direitos económicos e sociais como mesmo estatuto dos direitos políticos e das liberdades pessoais. Protege os direitosfundamentais dentro da esfera de actividades da União e na aplicação da legislaçãocomunitária. Dá igualmente a todos os cidadãos da União Europeia o direito a interporrecurso para o Tribunal de Justiça Europeu, no Luxemburgo. Esperamos que chegue o diaem que a Carta dos Direitos Fundamentais seja juridicamente vinculativa em todos osEstados-Membros.

(Aplausos)

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Page 36: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Direitos humanos e liberdades fundamentais são indivisíveis. Nesta perspectiva, apelo atodos os Estados-Membros da União Europeia, sem excepção, no sentido de subscreverem,no interesse de todos os cidadãos da União, este consenso europeu.

A proclamação solene de hoje deveria igualmente constitui uma ocasião para todos oscidadãos europeus, que podem fazer valer os seus direitos com base na Carta, poderemreflectir sobre o seu dever para com a comunidade de europeus, para com o mundo à nossavolta e para com as futuras gerações. Não há direitos sem responsabilidades. É asolidariedade que nos une.

(Aplausos)

Estamos a criar uma Europa do povo, estamos a dar à nossa União Europeia uma sólidabase de direitos democráticos fundamentais e comuns. A proclamação solene de hojedemonstra como a nossa comunidade baseada em valores partilhados está viva e emcrescimento. Hoje, este conjunto de valores comuns vai ser gravado nas vidas e nas mentesda população da União. Este dia constitui um grande triunfo para os cidadãos da UniãoEuropeia e todos nos podemos regozijar de alma e coração.

(Vivos aplausos)

(Tumulto na Câmara)

(Alguns deputados protestam ruidosamente e exibem bandeirolas e faixas)

Presidente. – Queiram fazer o favor de remover já as bandeirolas e faixas e demonstraralguma cortesia para com o convidado que temos entre nós, no Parlamento Europeu.

Senhor Presidente em exercício do Conselho, queira ter a bondade de iniciar a sua alocução.

José Sócrates, Presidente em exercício do Conselho . − Senhor Presidente do ParlamentoEuropeu, Senhor Presidente da Comissão Europeia, minhas Senhoras e Senhores Deputados.Hoje proclamamos aqui, em sessão solene do Parlamento Europeu, a Carta dos DireitosFundamentais da União Europeia e quero dizer-vos com clareza que este dia - o dia 12 deDezembro -será, a partir de agora, uma data fundamental na história da integração europeia.Uma data fundamental da história europeia.

(Aplausos)

(Tumultos na bancada dos NI e IND/DEM.)

Presidente. – Queriam fazer o favor de ter paciência. Podiam, pelo menos, ter a gentilezade mostrar alguma urbanidade e permitir que o nosso orador faça a sua alocução.

Senhor Presidente, tem a palavra.

José Sócrates, Presidente em exercício do Conselho . − Por mais que muitos gritem tentandoimpedir os outros de falar, esta é uma data fundamental da história europeia. E querodizer-vos também que esta data, e esta cerimónia, é provavelmente a cerimónia maisimportante em que tenho a honra de participar. A cerimónia mais importante de toda aminha carreira política.

Sinto-me muito honrado como europeu de assinar uma Carta e proclamar uma Carta dosDireitos Fundamentais e sinto-me particularmente honrado por esta proclamação ocorrerdurante a Presidência portuguesa. Sinto-me honrado como europeu e sinto-me honradocomo português, tanto mais que foi durante a nossa Presidência em 2000 que a Convenção

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Page 37: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

que deu origem a esta Carta iniciou os seus trabalhos. É por isso que quero dizer aoParlamento que é uma honra para o meu país ficar desta forma associado a uma importanteetapa do projecto de cidadania europeia.

Esta Carta representa um compromisso com valores matriciais da civilização europeia,valores ancorados na defesa da dignidade da pessoa humana e estamos aqui para proclamarque nos mantemos fiéis a esses valores, valores esses que decorrem quer da tradiçãoconstitucional comum aos Estados-Membros da União, mas também dos instrumentosjurídicos internacionais, como é o caso da Declaração Universal dos Direitos do Homeme da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. E para sublinhar esta compatibilidadeo próprio Tratado de Lisboa prevê a adesão da União à Convenção do Conselho da Europae reconhece, assim, o que a tutela dos direitos fundamentais representa hoje nas democraciascontemporâneas.

É, por isso, que o dia de hoje é um dia de grande relevo porque a partir de hoje, e talvezpara incómodo de alguns, os direitos fundamentais passam formalmente, e de formairreversível, a fazer parte do património comum da União, que é um património ético, umpatrimónio político, um património de cidadania e um património do melhor que há nacivilização europeia.

Mas esta Carta é também um instrumento para a acção política, um instrumento para asinstituições pois a Carta orienta a sua actividade. Elas devem também respeitar os direitose os princípios da Carta e promover a sua aplicação, mas é também um instrumento deacção para os cidadãos, pois mostra que o projecto da União é um projecto de cidadaniae mostra que a União está ao serviço dos cidadãos e que protege e promove os seus direitos.

A Carta assume, no contexto europeu, a projecção da dignidade humana também nodomínio dos direitos sociais. É por isso que ela tem também uma componente social,porque projecta a dignidade humana no mundo do trabalho, no mundo do emprego, nomundo da saúde, no âmbito da protecção e da assistência social e também a dignidadehumana no que diz respeito à protecção do ambiente. Esta é também a Carta da igualdadee da solidariedade, a Carta da luta contra todo o tipo de discriminação e é uma Carta pelaigualdade porque consagra uma especial atenção, a especial atenção que devotamos àscrianças e aos jovens, à igualdade entre os homens e as mulheres, ao papel dos idosos,assim como ao importante acervo da protecção de direitos de personalidade e dos dadospessoais.

Destaco também as liberdades que estão consignadas na Carta ligadas à cidadania europeiae aos direitos políticos a ela associados, e às liberdades económicas que estão na base doTratado de Roma de que celebramos este ano o 5º aniversário. Permanecemos, portanto,fiéis à nossa tradição e reiteramos a proibição da pena de morte e congratulo-meespecialmente pela decisão tomada a semana passada pelo Conselho de consagrar o DiaEuropeu Contra a Pena de Morte.

Finalmente, gostaria de destacar que a Carta concilia direitos dos cidadãos e direitos daspessoas, almejando um universo de destinatários que vai para além dos próprios cidadãosdos Estados-Membros e isto não é menos importante porque ela, a partir de agora,representa um esteio fundamental da nossa convicção de que um mundo melhor, é ummundo onde estes direitos e liberdades são universalmente respeitados.

Esta Carta, a partir de agora, estará ao serviço da política externa da União Europeia quevisa um mundo onde todos estes direitos e liberdades sejam universalmente respeitados e

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garantidos. Torna-se, por isso, um guia de orientação, um guia de orientação da posiçãoda União Europeia na cena internacional e na acção que se propõe desenvolver em proldo respeito planetário pelos direitos fundamentais.

É por isso que os cidadãos europeus podem, desta forma, reconhecer-se numa União queé a sua União. Podem reconhecer que direitos a União lhes garante e compreender que aEuropa é um projecto de paz e democracia e é um projecto no qual os direitos do indivíduosão plenamente respeitados. Esta é a nossa autoridade moral e este é o sentido destacerimónia, que une as três Instituições e proclamamos esta Carta na véspera da assinaturado Tratado de Lisboa, uma Carta com valor jurídico que é o valor jurídico preciso de umalei fundamental e um valor jurídico que é equivalente ao valor dos tratados para benefíciode muitos e para desgosto de alguns. Esta Carta está no Tratado.

(A Assembleia, de pé, aplaude o orador.)

(Tumultos repetidos na bancada dos NI e IND/DEM.)

Presidente. – Podiam ao menos ter o decoro de deixar o nosso convidado concluir a suaalocução.

Falar mais alto não é argumento. Saiam imediatamente deste Hemiciclo!

José Sócrates, Presidente em exercício do Conselho . − Neste mundo globalizado onde muitosdefendem que as regras económicas e financeiras são absolutas, o facto de vinte e seteEstados europeus no quadro da União reiterarem este compromisso firme com valores eobjectivos de tutela e salvaguarda dos direitos fundamentais constitui um contributoassinalável para a regulação da própria globalização. Os direitos fundamentais são umatradição comum dos Estados de Direito democrático, formas de limitar o poder einstrumentos fundamentais da protecção do indivíduo.

Ao vincular as Instituições da União e os Estados, a Carta limita o poder e limita o poderem nome da protecção e interesses dos cidadãos e das suas organizações. E ao consagraresta limitação do poder, os limites da sua aplicação observam estritamente o princípio dasubsidiariedade e reforçam a natureza eminentemente democrática da própria União. Adefesa dos direitos fundamentais é reconhecidamente um valor essencial à identidadeeuropeia, faz parte do nosso código genético, é um elemento que estrutura todo o projectoeuropeu e que permite definir a Europa como uma União de valores, e a afirmaçãoincondicional desses valores é também o que o mundo espera da Europa.

É esta a Europa a que eu quero pertencer, uma Europa que defende estes valores. E temosperfeita consciência, eu e todos os Deputados, que o combate pelos direitos fundamentaisé uma tarefa quotidiana e provavelmente é uma tarefa sem fim, uma tarefa dos Estados,uma tarefa das sociedades civis, uma tarefa das empresas e dos sindicatos, uma tarefa doscidadãos individualmente considerados. É por isso que, ao proclamarmos a Carta, noscongratulamo com o acordo sobre ela alcançado, bem como com o reconhecimento doseu valor jurídico em pé de igualdade com os próprios Tratados da União.

Mas mais do que uma jornada de congratulação, a proclamação desta Carta representa umcompromisso das Instituições da União de a respeitarem e de a aplicarem quotidianamentena sua acção. Só assim estaremos à altura da História europeia, só assim seremos dignose herdeiros do que há de melhor na nossa identidade colectiva e na nossa tradição comum:uma identidade colectiva e uma tradição comum que honram uma Europa que luta pelosdireitos, pelas liberdades e pelas garantias dos cidadãos. Muito obrigado a todos.

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Page 39: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

(A Assembleia, de pé, aplaude novamente o orador, excepto nomeadamente os GUE/NGL, os NI eos IND/DEM.)

Presidente. – Senhoras e Senhores Deputados, gostaria de transmitir a V. Exas. algumasinformações e de solicitar que, neste momento, todos mantenhamos a necessária calma.O Rei da Jordânia encontra-se no Parlamento Europeu e, imediatamente após a proclamaçãosolene da Carta dos Direitos Fundamentais, irá endereçar-nos o seu discurso. Também poruma questão de deferência para com o nosso ilustre convidado da Jordânia, peço o favorde os senhores deputados assegurarem que não haverá mais interrupções para que possamoslevar condignamente a cabo esta proclamação.

José Manuel Barroso, Presidente da Comissão . − Senhor Presidente do Parlamento Europeu,Senhor Primeiro Ministro de Portugal e Senhor Presidente do Conselho da União Europeia,Senhores Membros do Parlamento Europeu, na véspera da assinatura do Tratado de Lisboa,os Presidentes das três instituições políticas da União Europeia - Parlamento Europeu,Conselho e Comissão - assinam aqui, em Estrasburgo, a Carta Europeia dos DireitosFundamentais.

Constitui, para mim, uma grande honra pessoal participar num acto de tão elevadosignificado. A proclamação da Carta dos Direitos Fundamentais consagra uma cultura deDireito na Europa. Na União Europeia, que é, antes de tudo, uma comunidade de Direito,as alterações institucionais exigem o reforço do respeito pelos direitos fundamentais.

– Antes da votação da alteração 33:

(EN) , hoje, as três instituições europeias reiteram o seu compromisso – o compromissoque assumiram em Dezembro de 2000, quando a Carta foi proclamada pela primeira vez.Mas, sete anos decorridos, damos mais um passo crucial.

A Carta de 2000 não era juridicamente vinculativa. Com a assinatura do Tratado de Lisboaamanhã, e depois com a ratificação, a Carta passará a fazer parte do Direito primário daUnião e terá o mesmo valor jurídico que os próprios Tratados. Este progresso trarábenefícios muito concretos para os cidadãos europeus. Seja-me permitido ilustrar esteponto olhando brevemente para o conteúdo da Carta. Os 54 artigos cobrem direitos queaté agora tinham de ser reconhecidos pelo Tribunal de Justiça numa base casuística. Agorasão compilados.

A Carta, reconhecendo os princípios básicos da dignidade humana, incorpora antes detudo as liberdades civis clássicas já incluídas na Convenção Europeia dos direitos humanos:liberdade de expressão, liberdade de reunião, liberdade de religião, igualdade perante a leie princípio da não-discriminação.

A Carta também confirma os direitos económicos e sociais. Inclui o direito à propriedadee a liberdade de actividade económica, mas também, simultaneamente, os direitos dostrabalhadores e dos parceiros sociais; e consagra tópicos como segurança social e aassistência social.

A Carta contempla igualmente os desafios novos que se põem à sociedade de hoje. Por issoinclui garantias - conhecidas como “direitos de terceira geração” - sobre protecção de dados,bioética e boa administração,. Estes direitos serão altamente relevantes em muitas nasnossas áreas de actividade, quer na política de investigação, quer na área da liberdade,segurança e justiça, quer ainda na nossa permanente demanda da boa governação.

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Page 40: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

(FR) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a Carta dos Direitos Fundamentaisincentivará a ancoragem da União Europeia numa verdadeira cultura dos direitosfundamentais. Ao assinarmos essa Carta dos Direitos Fundamentais hoje, nós, Presidentesdas três Instituições políticas da União Europeia, comprometemo-nos sobretudo a respeitaresses direitos na nossa própria acção. À primeira vista, esse compromisso poderia parecerfácil de cumprir, mas, na realidade, constitui um desafio quotidiano que consiste em garantirda melhor forma o respeito das liberdades cívicas em todas as políticas da União Europeia,seja legislando sobre o mercado interno, seja gerindo a imigração, seja desenvolvendoesforços de luta contra o terrorismo.

A Carta constitui o primeiro documento juridicamente vinculativo jamais produzido àescala internacional que junta não só os direitos políticos e cívicos, mas também os direitoseconómicos e sociais, num texto único, sujeito aos mesmos mecanismos de controlojurisdicional. Trata-se sem dúvida de um êxito estrondoso de que a União Europeia deveestar orgulhosa. Em minha opinião, é particularmente significativo que tal seja possívelagora nesta nova Europa alargada, esta Europa que foi dividida por regimes totalitários eautoritários que não respeitavam os direitos humanos, mas esta Europa que temos hoje,que é uma Europa unida em torno dos valores da liberdade e da solidariedade.

(Aplausos)

Se conjugarmos os nossos esforços no sentido de estimular essa cultura dos direitoshumanos, daremos uma contribuição essencial para uma verdadeira Europa dos valores,uma Europa dos valores tangíveis e credíveis aos olhos dos seus cidadãos. Fortalecida coma Carta, a Europa está mais determinada em promover os seus valores à escala mundial.Desde e Declaração Universal dos Direitos do Homem que a Europa sempre esteve navanguarda do combate pela defesa dos direitos fundamentais. A partir de hoje, a Europaestá ainda melhor equipada para levar a melhor nesse combate pela liberdade, pela paz epela democracia.

(A Assembleia, de pé, aplaude vivamente)

(Alguns deputados manifestam ruidosamente a sua oposição e mostram bandeirolas e estandartes,entoando: "Référendum!")

(O Senhor Presidente, o Senhor Presidente em exercício do Conselho José Sócrates e o Senhor Presidenteda Comissão José Manuel Barroso procedem à assinatura da Carta dos Direitos Fundamentais)

5. Sessão solene - Jordânia

Presidente. – Senhoras e Senhores Deputados, Senhora Comissária Ferrero-Waldner,minhas Senhoras e meus Senhores, é uma enorme honra para o Parlamento Europeu poder,aqui em Estrasburgo, dar hoje calorosas boas-vindas a Sua Majestade o Rei Abdullah II doReino Hachemita da Jordânia. Seja bem-vindo ao Parlamento Europeu, Majestade!

(Aplausos)

Dou igualmente as boas-vindas à delegação de alto nível, em especial aos Presidentes dasduas Câmaras do Parlamento jordano.

(Aplausos)

A visita que hoje nos é feita pelo Rei da Jordânia é já a terceira desde 2002, ano que SuaMajestade pela primeira vez se dirigiu ao Parlamento Europeu. Em Novembro de 2004, o

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Rei Abdullah II visitou a Conferência dos Presidentes, em Bruxelas. A Sua visita e a Suaalocução de hoje ao Parlamento Europeu constituem sinais do forte espírito de parceriaentre o Reino Hachemita da Jordânia e o Parlamento Europeu e também uma mensagemencorajadora para o nosso futuro comum na região mediterrânica.

Majestade, eu tinha efectivamente preparado uma intervenção mais longa, mas, dado quetivemos de solicitar que esperassem um pouco, vou reduzir o meu discurso e referirsimplesmente que é magnífico ter Vossa Majestade entre nós e poder convidá-lo agora adirigir-nos a palavra.

(Aplausos)

Abdullah II, Rei do Reino Hachemita de Jordânia . − Bismillah ar-Rahman ar-Rahim, (EN)Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, minhas Senhoras e meus Senhores,agradeço a vossa calorosa recepção e, em nome do povo da Jordânia, declaro-me honradopor estar de novo perante esta distinta instituição.

Meus Amigos: estão aqui presentes, hoje, uma Europa em mudança e um Próximo Orienteem mudança. Uma Europa com um número crescente de membros e uma missão visionária- a cooperação que cruza as fronteiras e o crescimento sem entraves. Um Próximo Orientede novos horizontes e esperança crescente - a esperança da paz entre vizinhos, deoportunidades para o nosso povo e de futuro para a nossa juventude.

Estas tendências não ocorrem isoladas. A realização das esperanças das nossas regiõesaumentará a estabilidade e criará novas possibilidades de segurança e de prosperidademundial. Ter sucesso é do nosso mais profundo interesse. E a oportunidade decisiva estáperante nós.

Há duas semanas, com o apoio da União Europeia e das nações de ambas as nossas regiões,os Israelitas e os Palestinianos reuniram-se em Annapolis. Prometeram negociaçõesempenhadas para um Tratado de Paz em 2008 e passos imediatos para cumprir asobrigações previstas no Roteiro para a Paz. Pela primeira vez em muitos anos, vemos quehá movimento na direcção de uma solução do conflito com carácter permanente e de umEstado Palestiniano viável, independente e soberano.

(Aplausos)

Este progresso é fruto do labor de muitos amigos da paz, incluindo líderes da Europa e dosEstados Árabes. Acreditámos que, depois de anos de agravamento da crise, era necessáriauma mudança de estratégia. Instámos por um novo compromisso que visasse o objectivodos dois Estados e por um processo bem focado que pudesse realizar esse objectivo – comcalendários firmes, requisitos mensuráveis e marcos de referência para a acção.

As segundas oportunidades são raras, mas creio que chegámos a uma delas. Temos pelafrente desafios muito reais, mas Anápolis criou uma nova centelha de esperança. Podemose temos de transformar essa centelha num clarão de confiança, de acção e de resultadospalpáveis.

Como nossa vizinha mais próxima, a Europa compartilha o nosso interesse em resolveristo que é a crise central do nosso tempo. Todas as partes respeitam o papel neutral daEuropa e o seu modelo de progresso e paz regional. Durante anos, vós fostes o nossoparceiro na busca de soluções, e sereis também o nosso parceiro nos benefícios do sucesso:uma zona vibrante de paz e prosperidade em todo o hemisfério que partilhamos.

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Estas realidades dão à Europa um papel importante e proeminente no futuro da paz. Faloespecialmente da União Europeia, e de vós, vozes da Europa, aqui no Parlamento Europeu.E eu vim aqui hoje para vos pedir insistentemente o vosso empenhamento activo, parasolicitar a vossa experiência específica e o vosso investimento no futuro, e para oferecer ocompromisso da Jordânia para os dias de labor que temos pela frente.

Meus Amigos: há grandes áreas em que a acção tem de começar já. A primeira é a do apoioàs negociações e ao seu objectivo: um acordo definitivo que ponha termo ao conflito e quecrie segurança tanto para a Palestina como para Israel, e enfim, um Estado Palestinianoviável, independente e soberano.

(Aplausos)

Não devemos subestimar os dias difíceis que temos pela frente. Os problemas são complexose velhos de décadas. Há sérios agravos que têm de ser encarados – e deixados para trás. Olado positivo das coisas é que os Israelitas e os Palestinianos compreendem que têm uminteresse profundo e compartilhado em pôr termo ao conflito. E uma grande quantidadede trabalho está já feita. Desde Oslo, passando pelo Roteiro para a Paz, pelos Acordos deGenebra e por outras iniciativas, os parâmetros das soluções estão focados. Creio que aspartes podem passar ao jogo final.

Mas para que isso aconteça, é vital que a comunidade internacional intervenha. A Europatem uma experiência única dos mecanismos e processos de recuperação e reconciliaçãopós-conflito, incluindo a criação de uma estrutura de segurança que possa dar garantias aambas as partes. As forças de manutenção de paz europeias desempenharam um papelconstrutivo no Líbano. O vosso compromisso pode contribuir para criar grande confiançanum acordo de solução do conflito israelo-palestiniano.

No terreno, há necessidade não apenas de recursos, mas também de parceria – paraimpulsionar as oportunidades económicas, para criar confiança em que o processo políticofuncione, e para ajudar a criar as condições que hão-de manter a paz. Tanto os Palestinianoscomo os Israelitas precisam de ver resultados palpáveis - e depressa. Significa isso segurançacontra a violência e fim da ocupação; mas significa também melhores condições de vida.Nos territórios ocupados, a situação humanitária continua terrível para os Palestinianos.A população carece de acesso ao emprego e à instrução, a serviços públicos eficazes emuito mais. Essa acção produzirá uma grande infusão de esperança e será poderosoargumento contra as profecias extremistas de que nada pode mudar.

Na próxima semana, as nações e instituições doadoras encontrar-se-ão em Paris para fecharcompromissos e planear o caminho em frente. As nações europeias e a União Europeiaestão já a fornecer auxílio; é um compromisso que toda a população da região aprecia.

O segundo imperativo, conexo com o primeiro, consiste em compreender e organizar opotencial de paz. Temos de começar agora a re-imaginar o futuro: uma região em que oconflito tenha sido substituído pela cooperação, em que a economia regional congregueas capacidades e os recursos de 22 países – mais de 300 milhões de pessoas, do OceanoAtlântico ao Oceano Índico – e em que a parceria transfronteiras faça progredir odesenvolvimento, a saúde, o meio-ambiente e muito mais.

É a visão de um futuro que dará ás pessoas a capacidade de participar plenamente noprogresso global. E que abrirá um novo campo de parceria com os nossos vizinhos europeusna ciência, na tecnologia e no comércio.

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Este futuro prometedor é a razão por que temos de avançar rapidamente para uma soluçãoglobal do conflito, agindo sobre as vertentes síria e libanesa. O mundo árabe inteiroreconheceu a importância de caminhar em frente. A iniciativa árabe de paz foi anunciada,unanimemente, na primavera passada, e recebeu o apoio de países muçulmanos exterioresà região. Está aí, enfim, a oportunidade de haver um Estado Palestiniano soberano,independente e viável, e relações normais e plenas entre Israel e 57 nações árabes emuçulmanas. Isto significa aceitação: aceitação por países de grande importância, combiliões de cidadãos, e que constituem quase um terço dos membros das Nações Unidas. Eabre as portas a um futuro partilhado de segurança, de paz e de novas parcerias.

Alcançar tal paz terá também impacte substancial em outras questões. Na região, criaráum espaço estratégico novo, facultando a resolução de outras questões sérias, desde a dapobreza até à da proliferação. As forças agressivas deixarão de ser capazes de explorar acausa palestiniana para servir as suas próprias ambições e interesses.

(Aplausos)

Libertar-se-ão recursos e capacidade de atenção para aumentar o potencial da região pelodesenvolvimento e pela reforma.

Nós, na Jordânia estamos prontos a ir ao encontro desse futuro. Apesar da instabilidaderegional, intensificámos o nosso programa de reforma. Conseguimos, na última década,ganhos significativos: forte crescimento económico, elevação dos rendimentos per capita,e um sistema de instrução modelar. E a Europa tem sido um parceiro importante, atravésde investimentos no sector privado, bem como de ajuda pública. Permiti-me que diga queestamos profundamente reconhecidos pelo apoio e amizade deste Parlamento e da UniãoEuropeia.

(Aplausos)

E acreditamos que nos dias que se seguirão à paz a nossa parceria só poderá elevar-se aindamais alto.

Meus Amigos: hoje podemos pensar numa vizinhança mais vasta, numa vizinhança quese estende desde as regiões a norte do Mar Báltico até às regiões a sul do Mediterrâneo,numa vizinhança partilhada pela Europa e pelo Próximo Oriente. Ela é a base da parceriaEuromed, a nossa plataforma de cooperação e desenvolvimento de região para região. Éum relacionamento com grandes interesses partilhados e potencial ilimitado. E odesenvolvermos a nossa parceria em plenitude só depende de nós.

Estão hoje a chegar à idade adulta jovens europeus que nunca conheceram uma Europadividida. Os seus coetâneos, palestinianos e israelitas, não têm essa experiência positiva:cresceram num mundo de divisão e conflito. Agora, juntos, temos uma oportunidade deremover barreiras ao futuro desses jovens, e deixar para trás o passado.

O Parlamento Europeu representa hoje bastante mais Estados-membros do que quando,há cinco anos apenas, tomei a palavra perante o Parlamento. É o resultado do compromisso,assumido à escala regional, de aumentar a zona de parceria e progresso. O Próximo Orienteestá a enfrentar a mesma importante tarefa. Agora, juntos, podemos contribuir para queo empreendimento tenha sucesso.

Um processo de paz renovado começou hoje. No passado, vimos esses começos falhar.Mas desta vez, uma confluência única de eventos criou novas possibilidades de sucesso.Agora, juntos, podemos e devemos cumprir a promessa da paz.

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(Aplausos)

Meus Amigos: na Jordânia nós sabemos que o plantio é só o primeiro passo para fazerviver uma oliveira. Uma centena de processos são activados para criar as células e asestruturas da vida. Emergem raízes, dá-se o crescimento, e um núcleo de vigor assegura asobrevivência. De fora vem água e apoio para sustentar a vida e produzir novos frutos.

No arena do Próximo Oriente, acaba de ser plantado um novo ramo de oliveira. Agora temde começar o verdadeiro trabalho. Está nas nossas mãos criar o processo e as estruturasque dão raízes à paz, a ajudam a crescer e a sustentam no futuro.

Instantemente vos peço que compartilheis connosco este esforço. A nossa parceria podeproduzir uma transformação histórica e uma rica colheita – anos de paz e de prosperidade,que beneficiarão so nossos povos e o nosso mundo.

(O Parlamento, de pé, aplaude o orador)

Presidente. − Majestade, agradecemos a vossa visita ao Parlamento Europeu.Agradecemo-vos este grande discurso. Sentimo-nos todos – e os aplausos demonstraram-no– profundamente tocados pelas vossas convicções. Há poucas personalidades, há poucoslíderes que estejam tão empenhados como Vós na paz no Próximo Oriente. Chamais-nosamigos, e eu digo-vos, em nome do Parlamento Europeu: estamos ao vosso lado para criarum Estado Palestiniano que possa viver em segurança...

(Aplausos)

... e para ter um Estado de Israel que possa viver em segurança. Nós, no Parlamento Europeu,acreditamos na dignidade do ser humano, e a dignidade do ser humano vale para todo oser humano neste mundo.

(Aplausos)

Majestade, queremos cooperação estreita com o vosso país e vós sois um das muito poucaspersonalidades que visitaram o Parlamento Europeu mais de uma vez. Nós, no ParlamentoEuropeu e na União Europeia, queremos uma parceria forte, um relacionamento e, sepossível, uma amizade com todos os países do Próximo Oriente. Estamos ao vosso lado.Trabalhemos juntos.

Shukran jazilan. Obrigado, Majestade.

PRESIDÊNCIA: WALLISVice-presidente

Martin Schulz (PSE). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, tendoem conta a sessão solene com o Reino Unido da Jordânia, todos os meus colegas presidentesdos grupos políticos foram, certamente impossibilitados de usar da oportunidade deapresentar uma declaração ao abrigo do nosso Regimento sobre os acontecimentos queaqui tiveram lugar anteriormente. Gostaria de o fazer agora.

Creio que posso falar em nome de muito deputados quando expresso, em primeiro lugar,os meus agradecimentos em especial ao Presidente desta Assembleia, o Senhor Presidenteda Comissão, José Manuel Barroso e ao Presidente do Conselho, José Sócrates, pela formasumamente digna como defenderam este acto solene, a assinatura da Carta dos DireitosFundamentais. Tiveram a esmagadora maioria desta Câmara com eles.

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(Aplausos)

Existem contudo duas questões que queria mencionar a esta Câmara, fazendo-o inteiramentea título pessoal e não em nome do meu grupo. Falo em meu nome próprio.

Na qualidade de Presidente de um grupo, gostaria de chamar a atenção desta Câmara paraum aspecto. Não é prática corrente dar conta de deliberações da Conferência dos Presidentes,mas as Senhoras e os Senhores Deputados devem ficar a saber que o único presidente degrupo que solicitou um convite para estar presente na assinatura formal do Tratado deLisboa foi o senhor deputado Bonde. Creio que a Câmara deveria ter conhecimento destefacto. Nenhum outro presidente de qualquer grupo político fez tal pedido. O senhordeputado Bonde, que tanto barulho gosta de fazer aqui, estava determinado a estar presentena assinatura do Tratado. É com estas duplicidades que temos de viver por estas paragens.

Outro comentário que desejo fazer é o seguinte: quando andei no liceu, na Alemanha,tomei conhecimento de que, na República de Weimar, no Reichstag, havia uma táctica decoro colectivo para reduzir ao silêncio os opositores políticos. O grupo político queintroduziu essa prática foi aquele que era liderado por Adolf Hitler. O que se passou hojelembrou-me esses episódios da história. Muito obrigado.

(Vivos aplausos)

Joseph Daul (PPE-DE). - (FR) Gostaria de dizer apenas duas palavras. Também eu fiqueimuito chocado esta manhã. Estamos num Hemiciclo onde reina a democracia e nãoprecisamos de fazer barulho como fizemos esta manhã para chamar a atenção das câmarasde televisão. A comunicação, aqui, é para todos. Gostaria muito simplesmente de dizer àspessoas que estão na origem do tumulto desta manhã, num Hemiciclo onde reinam ademocracia e a liberdade, que aquilo que fizeram não é digno. Voltaremos a falar disto estatarde, em Conferência dos Presidentes, para que a situação não se agrave.

(Vivos aplausos)

Francis Wurtz (GUE/NGL). - (FR) Senhora Presidente, caros colegas, em meu nomepessoal e, espero - depois de tudo o que vivemos -, em nome do meu grupo, gostaria decondenar de forma absoluta a manifestação anti-europeia, xenófoba e indigna que vivemosao meio-dia.

(Aplausos)

Evidentemente que o meu grupo é favorável a um referendo sobre o novo Tratado e quese mantêm interrogações e dúvidas sobre determinados artigos da Carta dos DireitosFundamentais. Mas o que se passou esta manhã nada teve a ver com isso, e não pode haverconfusões. No que nos diz respeito, somos favoráveis a uma Comunidade de valores, somosfavoráveis à promoção dos direitos fundamentais, somos favoráveis a uma Europa dademocracia, e não há lugar no nosso ideal para a xenofobia e comportamentos indignos.

(Vivos aplausos)

Graham Watson (ALDE). - (EN) Senhora Presidente, um ponto de ordem. Quero fazerum requerimento formal para salvaguarda da dignidade da nossa Câmara. Ocomportamento de certos membros desta Câmara, de apupar representantes do Parlamento,da Comissão e do Conselho durante a cerimónia da assinatura, foi intolerável e não podeser tolerado. É trazer para a mais alta Câmara da Europa o pior dos estádios de futebol; elembra as acções dos comunistas na Dieta russa e dos nazis no Reichstag alemão.

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(Aplausos)

O meu pedido formal, Senhora Presidente, é este: o meu Grupo requer que, de futuro, aPresidência use dos poderes que lhe são conferidos pelo nosso Regimento para expulsarda Câmara os membros que se comportem desse modo.

(Vivos aplausos)

Daniel Cohn-Bendit (Verts/ALE). - (FR) Caros colegas, penso que é inútil acrescentarque, como todos os colegas, ficámos muito chocados com o que se passou. Mas gostavade dizer o seguinte: "Não dramatizem! Embora haja cinquenta malucos numa sala, hásetecentas pessoas que estão contra eles; assim, não façam daqui uma questão de Estado,só porque há cinquenta atrasados mentais que perturbaram o que estava a decorrer". Vamosacalmar-nos e, caro Graham, não vamos pedir a sua expulsão física. Penso que umParlamento livre é um Parlamento que aguenta malucos, mesmo quando são malucosdesagradáveis.

(Aplausos)

Brian Crowley (UEN). - (EN) Senhora Presidente, em nome do mau próprio Grupo, setodos nós acolhemos com prazer as ocasiões para aquele empenhamento intenso que deveser permitido dentro de toda e qualquer assembleia parlamentar, o que aconteceu estamanhã foi além do que se deve permitir que tenha lugar em qualquer instituiçãodemocrática. Mas de preferência a prolongar esta discussão, poderíamos por favor passarà votação, e - também - ir almoçar o mais cedo possível ?

Jens-Peter Bonde (IND/DEM). - (EN) Senhora Presidente, fui pessoalmente atacadopelo senhor deputado Schulz; mas creio que devemos passar à votação. Participei numamanifestação pacífica contra a celebração de uma Carta que é parte de uma Constituiçãode que não podemos sequer ter o texto consolidado e cuja relevância e significado nãopodemos perceber - e a Senhora Presidente tão-pouco. O que estais para assinar amanhãé um Tratado que nenhum de vós lestes, simplesmente porque lê-lo não é possível.Apropriais-vos do nosso tempo de votação para celebrar uma vitória sobre a democracia;e, portanto não atacarei ios os meus colegas, mas tenho de dizer ao senhor deputado Schulzque não fui cúmplice de um crime.

Compreendo perfeitamente a questão, mas na Dinamarca temos uma tradição diferente,e por isso estive lá com a minha T-shirt, que reclamava um referendo, e penso que todosnós devemos reclamar um referendo. Essa é a norma democrática que estou a defender.

Dimitar Stoyanov (NI). - (BG) Intervenho nos termos da disposição do Regimento queme concede o direito a uma intervenção sobre assuntos de natureza pessoal, porque osenhor deputado Cohn-Bendit insultou determinadas pessoas neste hemiciclo. São insultospessoais relativamente aos quais, Senhor Deputado Cohn-Bendit, não tem direito aesconder-se atrás da sua imunidade parlamentar. Diga que renuncia à sua imunidade, einsulte depois os deputados a este Parlamento! Em relação ao que aqui se passou, trata-seexclusivamente da liberdade de expressão de todos os deputados a este Parlamento.

Gostaria de me dirigir aos Senhor Deputado Daul. Senhor Deputado Daul, se pretendetirar à força os deputados ao Parlamento deste hemiciclo, não está a fazer exactamente omesmo que Hitler fez no Reichstag alemão?

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A melhor democracia é a democracia directa. Levantámos a nossa voz, exercemos o nossodireito à liberdade de expressão, à democracia directa, em vez de eludir as nações europeiascomo o senhor fez. O que se passa aqui é a ditadura do novo proletariado que ganha formana nova União, que, desta vez, não é soviética, mas europeia.

Joseph Daul (PPE-DE). - (FR) Senhora Presidente, no pedido de levantamento daimunidade parlamentar e no pedido de expulsão do Parlamento, eu fui citado. Caros colegas,aprendam primeiro o nome dos deputados e, depois, retomem o uso da palavra.

Presidente. − Vou agora passar à votação, mas antes disso gostaria de fazer só umaobservação.

Em 29 de Novembro de 2007 esta Câmara aprovou a Carta de Direitos Fundamentais por534 votos contra 85, com 21 abstenções.

(Vivos aplausos)

6. Período de votação (continuação)

6.1. Programa legislativo e de trabalho da Comissão para 2008 (votação)

- Proposta de resolução (B6-0500/2007)

6.2. Acordos de parceria económica (votação)

- Proposta de resolução (B6-0497/2007)

6.3. Direito europeu dos contratos (votação)

- Proposta de resolução (B6-0513/2007)

7. Declarações de voto

Declarações de voto orais

- Relatório Adriana Poli Bortone (A6-0464/2007)

Renate Sommer (PPE-DE). – (DE) Senhora Presidente, hoje, assistimos finalmente àintrodução do período de transição para as alegações nutricionais e de saúde sobre osalimentos relativamente aos rótulos dos alimentos destinados a crianças. A Comissãohavia-se esquecido e tentou deixar o Parlamento literalmente com a criança nos braços.Nós não deixámos. Obrigámos a Comissão a efectuar uma declaração em como reconheciaa necessidade de introduzir períodos de transição para alegações relacionadas com a saúdee o desenvolvimento das crianças. No entanto, o único problema é que a duradoura recusada Comissão em apresentar uma proposta para este efeito, deu origem a distorção daconcorrência. Houve produtos já retirados do mercado devido ao regulamento ter entradoem vigor entretanto. Este foi um erro crasso da parte da Comissão.

Adicionalmente apresentei uma proposta em nome do meu grupo no sentido de sersuprimido o artigo 4.º Tratou-se de uma manifestação política. Mantemos a nossa opiniãode que este regulamento não faz sentido, pois não é possível produzir perfis de nutrientespara todos os alimentos. Praticamente metade dos deputados desta Casa partilha este ponto

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de vista. A EFSA, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, vem agora afirmarque não consegue fornecer perfis de nutrientes para todos os produtos. Burocracia semsentido – mais um texto legislativo supérfluo!

Hannu Takkula (ALDE). - (FI) Senhora Presidente, penso que é muito importante paranós procurar ter alegações de saúde sobre os produtos, mas temos de nos assegurar de queelas são exactas e baseadas em conhecimentos. Não é adequado que seja a própria empresaa fazer a investigação e os “argumentos comerciais”, como se isso fosse suficiente paraganhar os argumentos sobre a saúde. Por outras palavras, a investigação e o conhecimentotêm de ser considerados adequados e correctos e, consequentemente, fiáveis.

É muito importante garantir que as alegações nutricionais e de saúde estejam correctas eque isso possa permitir a alguém escolher uma dieta mais saudável. Isto é especialmenteimportante no caso das crianças e jovens, porque conhecemos os problemas sérios queexistem actualmente na Europa com a obesidade, a diabetes tipo II e outros problemas desaúde conexos. Precisamos de nos certificar de que o valor nutricional é adequado e de queas alegações de saúde são exactas.

- Relatório Klaus-Heiner Lehne (A6-0453/2007)

Zuzana Roithová (PPE-DE). – (CS) Senhora Presidente, votei contra o relatório sobre aliberalização do mercado secundário de peças sobresselentes. Trata-se de uma estratégiainconsistente.

Por um lado, insistimos que a indústria desenvolva carros que sejam cada vez mais segurose combatemos a pirataria industrial. No entanto, em contradição com isso, o Parlamentolegalizou, hoje, a produção de cópias de peças sobresselentes, o que as torna, supostamente,mais baratas. Porém, não será garantido aos consumidores um padrão rigoroso de segurançanos veículos reparados. Os apoiantes da liberalização, principalmente do Reino Unido,afirmam que esta política beneficiará as PME. No entanto, maior parte das cópias baratasde peças sobresselentes patenteadas é produzida, actualmente, na Ásia, e não na Europa.Apesar disso, os preços de peças sobresselentes nos 10 Estados-Membros onde os desenhose modelos não são protegidos até à data são 7% superiores aos preços nos restantes 17Estados-Membros. Os últimos continuam a proteger os desenhos e modelos, tal como oJapão e outros líderes na indústria automóvel. Gostaria de chamar a atenção para o factode, em caso de acidente, tanto os passageiros em veículos, como os peões, estarem, agora,mais ameaçados, porque as peças sobresselentes não originais são de qualidade inferior.Esta directiva constitui, infelizmente, um exemplo de uma estratégia inconsistente porparte da UE.

Jan Březina (PPE-DE). – (CS) Senhora Presidente, também eu gostaria de manifestar omeu desacordo com a restrição da protecção legal de desenhos e modelos industriais daspeças sobresselentes. Estamos a assistir a uma interferência sem precedentes na área dosdireitos industriais. Se existem abusos de monopólios por parte dos titulares de direitosindustriais, podem aplicar-se os instrumentos legais habituais, tais como obrigatoriedadeem matéria de licença. A criação de um desenho ou modelo industrial implica custossignificativos, pelo que a protecção legal é pertinente também do ponto de vista económico.A sua abolição não levará à liberalização do mercado de peças sobresselentes, como esperaa Comissão, mas, com toda a probabilidade, a um aumento do preço do produto final. Areacção previsível dos produtores face à presença de fabricantes independentes no mercadode peças sobresselentes consistirá na compensação das suas perdas através de preços maiselevados. Também é preocupante que o preço mais baixo das peças sobresselentes de

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fabricantes independentes resulte em níveis mais baixos de segurança e qualidade. O queme preocupa, em última análise, é que será o consumidor a ficar em risco.

- Relatório Giuseppe Castiglione (A6-0477/2007)

Michl Ebner (PPE-DE). – (DE) Senhora Presidente, pretendo informar que votei a favordo relatório Castiglione e que creio tratar-se de um relatório extremamente equilibrado,particularmente se tivermos em conta o modo como este começou, com 800 alteraçõesapresentadas na Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural. Os esforçosdesenvolvidos pelo relator e por inúmeros deputados deram, sem dúvida, os seus frutosnum sector cheio de graves dificuldades. É absolutamente essencial darmos aos viticultoresuma perspectiva de esperança em melhores dias.

Creio que o relatório estabelece as bases para o progresso e tenho esperança de que aComissão Europeia, actuando imbuída do espírito dos novos Tratados, tenha na devidaconta – plena conta, se possível – todas as decisões do Parlamento Europeu.

Anja Weisgerber (PPE-DE). – (DE) Senhora Presidente, a votação de hoje sobre a reformado mercado vitivinícola constitui um retumbante êxito para o Parlamento Europeu, paraas diversas regiões vitivinícolas e para os produtores. Por exemplo, conseguimos assegurarque continua a ser possível enriquecer os vinhos com sacarose. O Parlamento rejeitouigualmente os planos da Comissão de prescrever o levantamento da proibição de novasvinhas em 2014. Neste caso, propusemos uma solução capaz de ser posta em prática,mediante a qual a decisão sobre a liberalização não seria tomada antes da apresentação deum estudo sobre o tem, em 2012. Sobre a rotulagem de vinhos específicos, tambémchegámos a um acordo que tem em conta os vários sistemas de designação utilizados naEuropa. Conseguimos ainda incorporar uma cláusula de salvaguarda no regulamento sobreo mercado vitivinícola no sentido de proteger a Bocksbeutel, o tipo de garrafa com umformato especial que é usada na região de onde provenho, a Francónia.

Caros colegas, conseguimos apresentar um quadro extremamente equilibrado, o qual vaidar origem a uma base positiva nas próximas negociações, no Conselho. A bola está agorano campo do Conselho, nós no Parlamento fizemos o que tínhamos a fazer e fizemo-lomuito bem.

Ryszard Czarnecki (UEN). - (PL) Senhora Presidente, sinto-me muito satisfeito por oParlamento Europeu ter apoiado a proposta da Comissão da Agricultura, e em particulara alteração apresentada pelos membros polacos autorizando a utilização de denominaçõescomerciais tais como "vinho à base de frutos", "vinho de maçã" ou "vinho de groselha".Estes vinhos são produzidos no meu país desde o século XIII – há quase 800 anos – econgratulo-me com o facto de o Parlamento Europeu ter reconhecido este facto.

A concluir, desejo felicitá-la Senhora Presidente pela sua excelente condução dos trabalhos,em especial na atmosfera exaltada, por vezes demasiado exaltada, do dia de hoje. SenhoraPresidente, presto-lhe homenagem como digna representante da tradição parlamentarbritânica.

Armando Veneto (PPE-DE). - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,relativamente à votação sobre a organização comum do mercado vitivinícola, gostaria dereferir que votei a favor da alteração 294, apresentada pelo senhor deputado Lavarra doPSE e da qual sou co-signatário, porque entendo que os consumidores têm o direito desaber se foi adicionada sacarose ao vinho que estão a beber e porque a rastreabilidade do

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produto é hoje um princípio geral defendido pela União e não vejo razão alguma para nãoser aplicado no sector vitivinícola.

Pela mesma razão, votei a favor da alteração 310, apresentada pelo Grupo UEN; nenhumadelas tem repercussões sobre o compromisso alcançado pelo senhor deputado Castiglionecom tanto trabalho. Por último, no que se prende com a postura diferente que adopteisobre estas questões em relação ao Grupo a que pertenço, devo dizer que a defesa dosinteresses dos cidadãos significa que a única postura política a que devo obedecer, na minhaopinião, é a de aceitar as propostas que protejam esses interesses independentemente doGrupo que as propõe.

Danutė Budreikaitė (ALDE). – (LT) A posição da Comissão sobre o regulamento doConselho sobre a Organização Comum de Mercado do Vinho discrimina contradeterminados países, especialmente os novos Estados-Membros.

O projecto de promover os vinhos da UE nos países terceiros visa fomentar o comérciomas, por alguma razão, está ligado às áreas de vinhas previamente exploradas e a dadossobre a produção média de vinho dos últimos três anos. A Comissão pretende apoiar asexportações de vinho e determinados marcas. Os produtores e os exportadores dos paísesapoiados beneficiariam de uma vantagem competitiva. O facto dos produtores na Lituâniae nalguns outros países sem vinhas não estarem a receber qualquer apoio é inaceitável.

Eu votei contra o relatório.

Zuzana Roithová (PPE-DE). – (CS) Apoiei a reforma do mercado vitivinícola, quemelhorará a qualidade e a competitividade dos vinhos europeus. Isto diz respeito, sobretudo,à Itália, onde as vinhas ilegais deveriam ser arrancadas e os subsídios à produção excessivade vinhos de baixa qualidade, suspensos. No entanto, a reforma não deve favorecer osprodutores do Sul, em detrimento dos produtores do Norte. Oponho-me categoricamentea qualquer arranque de vinhas na Morávia, onde tudo aquilo que é produzido é consumidoe onde a produção tradicional de vinho se reveste de grande importância, tanto em termosculturais, como para o turismo na região. Oponho-me a uma proibição da adição de açúcarna Europa Oriental, incluindo na Morávia, a não ser que também seja proibida a acidificaçãode vinhos, praticada nos países do Sul. Não compreendo por que razão os viticultores daMorávia deveriam comprar o mosto dispendioso de países do Sul só para substituir umatradição de adição de açúcar com 200 anos, o que alteraria o buquê e o sabor tradicionaisdos seus vinhos de qualidade. Isto contraria os princípios de concorrência no mercadointerno e eu não posso senão discordar disso. Agradeço àqueles colegas que se colocaramdo nosso lado durante a votação e que, fazendo-o, permitiram que o bom senso prevalecesse.A Comissão terá, agora, de se conformar com isso.

Jan Březina (PPE-DE). – (CS) Vimos como os Estados do Sul da Europa que possuemum forte sector vitivinícola defendem com unhas e dentes os seus excedentes de vinho.Entretanto, os subsídios em excesso e os baixos preços dos excedentes de vinho estão aempurrar para fora do mercado os vinhos de qualidade provenientes de outrosEstados-Membros. Oponho-me ao facto de a Comissão tratar os líderes europeus daindústria vitivinícola com grande tacto e diplomacia, enquanto países como a RepúblicaCheca são tratados de maneira rígida e até rude. Senão, como havemos de interpretar aproposta de manter a utilização frequente de mosto de uvas na parte setentrional da UE,enquanto a adição de sacarose é proibida? Por isso, fiquei muito satisfeito como o facto deo Parlamento ter abordado a reforma de maneira responsável e de ter introduzido na mesmaum elemento de tratamento igual e justo. Ao apoiar a adição de sacarose, o Parlamento

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beneficiou a República Checa, entre outros países, demonstrando a sua imparcialidade eresistência às influências baseadas no conflito de interesses nacionais. Compreendo que énecessária uma reforma do mercado vitivinícola. Não tenho dúvidas quanto aos objectivosfundamentais, mas sim quanto às formas de os atingir. Sublinho a importância damanutenção do princípio do tratamento igual e da não discriminação.

Hynek Fajmon (PPE-DE). – (CS) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,votei contra o relatório do senhor deputado Castiglione, tal como os outros deputados daRepública Checa que pertencem ao Partido Democrático Cívico checo (ODS). Este tipo deabordagem à reforma não beneficiará a viticultura checa, da Morávia ou, sequer, europeia.Em vez da liberalização e de uma redução de regulamentação e da carga burocrática, queajudariam realmente o sector vitivinícola, existe uma tendência para mais regulamentos,restrições e ordens. O planeamento central nunca produziu resultados positivos, nem iráproduzi-los no sector vitivinícola. Foi por isso que não apoiei este relatório.

Daniel Hannan (PPE-DE). - (EN) Senhora Presidente, a minha circunscrição do sudesteda Inglaterra é a região vinícola que cresce mais rapidamente na Europa. O efeito dasalterações climáticas é que há agora na Inglaterra uma área maior consagrada à viticulturado que em qualquer época desde o reino de Henrique II, aquando do último período quenteda Europa.

Os vinhateiros dos Home Counties nunca pretenderam subsídios da UE. O Kent e o Surrey,o Sussex e o Hampshire, o Oxfordshire, o Buckinghamshire e o Berkshire estão plantadoscom vinhas comercialmente viáveis que triunfam ou falham pela qualidade do produto.Mas o seu próprio sucesso ameaça agora, quando se aproximam do limite do cultivocomercial permitido, voltar-se contra eles.

Tendo permanecido fora do regime regulador europeu e não tendo recorrido aos subsídios,descobrem agora que, de toda a maneira, vão ser sujeitos a regulamentação.

Tal como não pedimos dinheiro a Bruxelas, também não queremos restrições de Bruxelas.Tudo o que os vinhateiros ingleses pedem é que lhes deixem a liberdade de competir.

Adriana Poli Bortone (UEN). - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,disse um “não” rotundo a um documento que ainda ficou pior com a adopção de váriasalterações, em especial, devido à introdução da adição do açúcar que nós conseguimosevitar durante anos, tendo em conta que a adição do açúcar não é mais do que uma maneirade compensar a natureza.

A maioria desta Assembleia rejeitou as ajudas ao mosto, o que, embora se trate unicamentede uma medida financeira, teria no entanto atenuado os danos causados por se autorizara adição do açúcar. Isto é uma vitória para os países do Norte e uma derrota para os paísesda região Mediterrânea que não conseguiram defender a alta vocacionalidade dos seusterritórios. Esta OCM é prejudicial à qualidade e à natureza típica e genuína dos produtos,assim como o é para os viticultores, os produtores e os consumidores.

- Proposta de resolução: Luta contra o terrorismo (B6-0514/2007)

Antonio Masip Hidalgo (PSE). – (ES) Senhora Presidente, penso que hoje foi muitopositivo o facto de termos dado à aliança de civilizações uma Carta de direitos, que foi emtempos defendida pelo Presidente José Luis Zapatero e pelo Secretário-Geral das NaçõesUnidas, Kofi Annan. Penso que isto é um bom começo.

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Além disso, penso que a Carta dos Direitos Fundamentais que hoje assinámos consagra averdadeira natureza da nossa civilização e não o integrismo daqueles que aqui vieram hojecombatê-la, uma atitude que é lamentável e violenta, e o mesmo acontece quando osislamistas radicais adoptam esse integrismo inveterado. Estas são duas formas de radicalismoque precisamos de erradicar para que haja paz e não terrorismo.

Mario Borghezio (UEN). - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,gostaria de assinalar que votei contra, ainda que por erro tivesse votado a favor – o que jácomuniquei oficialmente – o relatório sobre o terrorismo.

Trata-se de relatório hipócrita, um relatório que mostra a cobardia da atitude da Europadas Instituições para com o terrorismo. Nem sequer tem a coragem de o chamar pelo nomecerto: terrorismo islâmico. Ainda por cima, esta Assembleia votou contra uma alteraçãoapresentada por mim e outros deputados do Grupo UEN, na qual chamávamos a atençãoda Europa para a infiltração da Al-Qaeda no Magreb. Como é óbvio, apresentámo-la háuns dias atrás e, infelizmente, os acontecimentos de ontem vieram provar que tínhamosrazão, para lá das nossas previsões mais pessimistas. A carnificina islâmica da Al-Qaedaatingiu a população pobre argelina, que provavelmente também é islâmica.

É vergonhoso que isto esteja a acontecer às portas da Europa e que esta Assembleia rejeiteuma alteração que apela a acções de represália, porque a Europa não pode fechar os olhosàs ameaças que espreitam à sua porta.

Dimitar Stoyanov (NI). - (BG) Abstive-me na votação sobre a resolução sobre a lutacontra o terrorismo porque, como é lógico, não apoio o desenvolvimento do terrorismo,mas também não posso dar o meu apoio a um documento que, em meu entender, se limitaa difundir o pânico entre os cidadãos europeus e que contribui ainda para a consecuçãodo objectivo último do terrorismo, a saber, o próprio terror. Todavia, congratulei-me comas alterações apresentadas pelo Grupo União para a Europa das Nações, que foramaprovadas, nas quais se afirmava que tudo deve ser tratado a partir da causa, como se dizno antigo provérbio, que diz que todas as doenças devem tratar-se a partir da causa. Porconseguinte, se, por exemplo, não exercermos pressão sobre Israel para que este paíssuspenda a sua política segregacionista e a construção do muro de separação dos árabes,que os privará dos seus direitos humanos básicos, contribuiremos muito mais para a lutacontra o terrorismo do que poderíamos fazer através da escuta telefónica e da organizaçãode vigilância de sítios web. De todas as formas, as alterações propostas no sentido contráriopelo Grupo União para a Europa das Nações não deveriam ter sido rejeitadas, na medidaem que nelas se chamava a atenção para o desenvolvimento do terrorismo no interior daEuropa, porque no meu país organizações terroristas proibidas desenvolvem-se sob a égidedo partido MRF no poder.

Hannu Takkula (ALDE). - (FI) Senhora Presidente, penso que esta resolução é positiva,mas ligeiramente incoerente, visto que em alguns pontos deixa ficar a impressão de quenos estamos a render ao terrorismo. Por outras palavras, não parece aceitar a ideia de queo terrorismo deve ser totalmente eliminado, deve ser arrancado pela raiz; a senhora deputadaMuscardini do Grupo UEN levantou esta questão na sua alteração oral. Na minha opinião,esta é uma daquelas questões que deveria ter sido estudada mais profundamente quandoo relatório estava a ser debatido.

Penso que a posição da União Europeia deveria ser absolutamente clara quanto aoterrorismo. Promovemos a democracia, os direitos humanos e a liberdade de expressão enão podemos em circunstância alguma aprovar o terrorismo. Também teria gostado que

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se tivesse dado um peso maior à importância da educação na abordagem das suas causas.Por exemplo, a luta contra o terrorismo nos Territórios Autónomos da Palestina deveriabasear-se, principalmente, na educação, para que as gerações futuras possam ser educadase criadas sem ódios e possam, por isso, aprender a viver em coexistência pacífica com osseus vizinhos.

Hubert Pirker (PPE-DE). – (DE) Senhora Presidente, na luta contra o terrorismo temosde utilizar todos os meios que forem eficazes, estiverem disponíveis e forem compatíveiscom o primado do Direito. Se a União quer ganhar essa luta, terá de cooperar com parceiros.

Votei contra a resolução devido ao seu tom anti-americano. Em vez de se insurgirenergicamente contra o terrorismo, o autor e muitos outros tomam posição contra aparceria com os Estados Unidos no combate ao terrorismo. Outra razão pela qual voteicontra a proposta de resolução foi por exortar a Comissão e o Conselho a fazerem vir osdetidos de Guantanamo para a Europa. Essa atitude equivaleria a estar a importar oterrorismo para a Europa. Seria uma acção incorrecta.

A terceira razão pela qual votei contra a resolução tem a ver com o facto de esta rejeitarmedidas que está demonstrado serem eficazes na luta contra o terrorismo, nomeadamentea introdução, na Europa, dos registos com os nomes dos passageiros e o reforço da Europol.

Declarações de voto escritas

- Relatório Johannes Blokland (A6-0416/2007)

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − O acordo de aviação com Marrocos é osegundo no que respeita ao dito "espaço aéreo europeu comum" e o primeiro celebrado,neste quadro, com um país fora do continente europeu.

Como nota política mais saliente lamentamos o facto deste acordo - à semelhança do queinaceitavelmente aconteceu relativamente às pescas -, não clarificar de forma explicita "quecomo território sob jurisdição do Reino de Marrocos, se entende o território sob soberania marroquinaem conformidade com o Direito Internacional", salvaguardando assim o respeito pelo direitointernacional e os legítimos e inalienáveis direitos do povo saraui.

A soberania de Marrocos sob o território do Sara Ocidental não é legalmente reconhecidapelo direito internacional, como sublinhou o parecer do Tribunal Internacional de Justiçade Haia, em Outubro de 1975. Marrocos, que ocupa ilegalmente o território do SaraOcidental, não tem, consequentemente qualquer soberania ou jurisdição sobre esseterritório.

Por outro lado, este acordo baseia-se, quase exclusivamente, na sustentação de doisobjectivos, a que nos opomos: a abertura dos mercados e a harmonização regulamentarque promova a concorrência nos transportes aéreos.

- Relatório Reimer Böge (A6-0485/2007)

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − Em Junho e Julho últimos a Comissão recebeua terceira e quarta candidatura para a mobilização deste fundo. Estas candidaturas referem-sea duas empresas alemãs e a uma outra finlandesa, todas na área das telecomunicações, maisprecisamente no fabrico de telemóveis.

Ambas estão relacionadas com a deslocalização da produção para países terceiros queprovocaram o despedimento de 4.211 trabalhadores.

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Até ao momento, além destas duas candidaturas e dos dois pedidos franceses entretantojá aprovados, a Comissão recebeu mais candidaturas de Itália, de Malta, de Espanha e dePortugal. Candidaturas que deverão ser aprovadas no início do próximo ano.

Como temos referido, a existência deste fundo não pode servir como "almofada" para osinaceitáveis custos socioeconómicos da deslocalização de empresas e seus despedimentos.

Insistimos, sim, na criação de um quadro regulamentar que evite e penalize asdeslocalizações de empresas. Consideramos que a concessão de ajudas públicas às empresasdeve estar condicionada a compromissos de longo prazo por parte destas em termos dedesenvolvimento regional e emprego e que não deverá ser concedida qualquer ajudasusceptível de ser utilizada para promover deslocalizações. Igualmente, é fundamentalreforçar o papel dos representantes dos trabalhadores no conselho de administração dasempresas e na tomada de decisões de gestão de carácter estrutural.

Nina Škottová (PPE-DE), por escrito. – (CS) O total de fundos utilizados do Fundo Europeude Ajustamento à Globalização representa cerca de 3,6% e envolve apenas três países. Masa globalização afecta, em maior ou menor medida, todas as actividades humanas. O baixonível de utilização destes fundos suscita, pelo menos, duas questões: primeiro, os efeitosda globalização são assim tão limitados, e segundo, sabemos como obter recursos desteFundo? Por outras palavras, primeiro, podemos perguntar se necessitamos deste Fundo.Se considerarmos que sim, então, em segundo lugar, temos de definir melhor os efeitospositivos da globalização e de rever as regras para obter financiamento, de modo a que oFundo se torne acessível e compreensível para outros países e para as suas regiões maisproblemáticas. A existência de indicadores económicos, sociais e de outros elementostambém constituiria uma ajuda nesta matéria. Justificações, como, por exemplo, a da“imprevisibilidade” por parte da Comissão, são difíceis de aceitar. Votei contra a proposta,por causa das dúvidas mencionadas anteriormente.

- Relatório Reimer Böge (A6-0499/2007)

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − A mobilização do instrumento deflexibilidade, a par da alteração ao Acordo Interinstitucional, é parte integrante da propostade orçamento comunitário para 2008.

Assim, para além da correcção de 1.600 milhões no Quadro Financeiro Plurianual, coma mobilização do instrumento de flexibilidade visa-se completar o financiamento dosprogramas europeus de sistema global de navegação por satélite (EGNOS-GALILEU) comcerca de 200 milhões de euros. Por outro lado, através da mobilização do instrumento deflexibilidade financia-se, igualmente, a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) daUE com mais 70 milhões de euros.

Saliente-se que o relator sublinha que "as acções externas em geral, e a PESC em particular,não se encontram suficientemente cobertas a longo prazo face às exigências agoraidentificadas". Esclarece-se que entre as "exigências identificadas" se encontra o reforço das"missões" da UE no Kosovo e no Afeganistão. Desta forma, é dado o mote para o incrementoda crescente ingerência e intervencionismo militar da UE, apoiando operações da NATO,tanto nos Balcãs - de que são exemplo os preparativos para suportar a "declaração unilateralde independência do Kosovo", em violação do direito internacional -, como na Ásia Central,nomeadamente financiando estas "missões" a partir do orçamento comunitário. Políticase objectivos militaristas com os quais claramente discordamos.

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Janusz Lewandowski (PPE-DE), por escrito . − (PL) Senhora Presidente, a mobilizaçãodo instrumento de flexibilidade, assim como a revisão das perspectivas financeiras, é oresultado natural do acordo de conciliação relativo ao orçamento de 2008, concluído nodia 23 de Novembro. Em princípio, o Instrumento de Flexibilidade destina-se a salvaguardaro plano orçamental em circunstâncias excepcionais e difíceis de prever. De acordo com aminha modesta experiência, no entanto, a utilização deste instrumento de excepçãoraramente respeita os critérios estabelecidos no acordo interinstitucional.

Assim acontece com o projecto de orçamento para 2008. Quer os 200 milhões de eurosdestinados a financiar o programa Galileo em 2008, como o montante de 70 milhões deeuros inscrito na rubrica IV, para cobrir necessidades na área da PESC, são soluções paraproblemas que eram previsíveis. Apesar das reservas da delegação do Parlamento Europeu,que apontavam para a insuficiência do financiamento destinado à navegação via satélite,bem como dos fundos que se prendem com as ambições internacionais da União Europeia,não foi possível convencer o Conselho da necessidade de aumentar os respectivos montantesorçamentais.

Na sua versão final, as perspectivas financeiras faziam prever dificuldades que semanifestaram na preparação do orçamento para 2008. A verdade é que, no decurso doprocesso de conciliação, o Parlamento Europeu teve de resolver problemas criados peloConselho. Considerando a forma incorrecta como a situação foi apresentada pelacomunicação social, importa retirarmos as conclusões que se impõem para o futuro.

- Relatório Bogdan Golik (A6-0461/2007)

Jan Andersson, Göran Färm, Anna Hedh e Inger Segelström (PSE), por escrito. − (SV)Não podemos dar o nosso aval a um sistema em que o dinheiro dos contribuintes é usadopara comércio de produtos agrícolas europeus em países terceiros. Achamos que se deverestringir estas iniciativas, especialmente em países em desenvolvimento, porque corremoso risco de prejudicar a indústria doméstica. Achamos que a União Europeia deve encorajara agricultura local nesses países em vez de boicotar os seus agricultores. Impulsionar aprodução local pode corresponder a uma oportunidade para estes países se desenvolveremeconomicamente e uma via para o desenvolvimento democrático.

Duarte Freitas (PPE-DE), por escrito. − A simplificação da legislação europeia ao níveldas acções de informação e de promoção em favor dos produtos agrícolas no mercadointerno e em países terceiros é muito importante para o desenvolvimento de uma PACsimples e facilmente gerida.

Aprovo a proposta da Comissão de melhoria do sistema, nomeadamente a consolidaçãoregulamentar que envolve a fusão dos dois regulamentos relativos ao mercado interno eaos países terceiros.

Voto favoravelmente o relatório Golik, destacando a sua referência à necessidade de seprestar mais atenção às questões da informação e da promoção nas negociações da OMC.

Bogusław Liberadzki (PSE), por escrito . − (PL) Senhora Presidente, votarei a favor daadopção do relatório do senhor deputado Golik sobre a proposta de regulamento doConselho relativo a acções de informação e promoção a favor dos produtos agrícolas nomercado interno e nos países terceiros.

O relator defende correctamente que, para avançar na formulação de uma política agrícolasimples e eficaz para a Europa, é necessário simplificar o sistema comunitário relativo a

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acções de informação e promoção a favor dos produtos agrícolas no mercado interno enos países terceiros.

Concordo que as campanhas de informação devem transmitir aos consumidores umanoção mais exacta da produção sustentada da PAC, da qualidade dos produtos agrícolaseuropeus, da agricultura biológica e de protecção da saúde.

Diamanto Manolakou (GUE/NGL), por escrito. – (EL) As discussões na OMC e oscompromissos assumidos vão ter como resultado a abolição das restituições à exportação,uma redução das ajudas comunitárias na ordem dos 20,1 mil milhões de euros e cortes de48%-73% nos preços da maioria dos produtos agrícolas da UE, com graves repercussõesno rendimento agrícola.

Com a presente proposta de regulamento, a Comissão pretende compensar os efeitosnegativos causados no passado pelo GATT e pelas anteriores reformas da PAC, efeitosesses que serão ainda mais acentuados devido à OMC e às reformas da PAC em perspectiva.Esses efeitos sentir-se-ão sobretudo a nível da distribuição dos produtos agrícolas, quernos países terceiros quer nos países da UE, em virtude das reduções drásticas e simultâneasdos direitos de importação e da ajuda interna à agricultura comunitária.

É por esse motivo que se propõem programas de promoção e de informação, mas os fundosque lhes são atribuídos em nada contribuem para compensar os referidos efeitos. Em vezdisso, assistiremos a um agravamento dos problemas de distribuição dos produtos agrícolascomunitários nos países terceiros e também na UE, à diminuição dos preços pagos aoprodutor, e à aniquilação de pequenos e médios agricultores, cujo rendimento agrícola jáse encontra no limite. Por outro lado, os programas irão beneficiar principalmente asgrandes empresas com custos de produção competitivos.

- Relatório Pedro Guerreiro (A6-0467/2007)

Duarte Freitas (PPE-DE), por escrito. − A Organização Comum de Mercado (OCM) dosprodutos da pesca e aquacultura, um dos quatro pilares da Política Comum das Pescas,deverá ser alvo de uma profunda remodelação.

Como prioridades estão a revisão de aspectos relacionados com a informação prestada aoconsumidor acerca dos produtos da pesca e uma distribuição mais justa do valoracrescentado do pescado ao longo de todo o processo de comercialização (especial ênfasena questão de primeira venda).

A UE deverá ainda encontrar soluções para contrariar o "dumping social" que é hoje emdia praticado em alguns países terceiros e que retiram poder concorrencial aos nossosprodutos da pesca.

Os interesses nacionais estão salvaguardados neste relatório pelo que o mesmo merece omeu voto favorável.

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − Valorizamos a aprovação do relatório sobrea OCM dos produtos da pesca, dando, desta forma, um sinal claro à Comissão Europeiada necessária, urgente e ambiciosa revisão desta OCM a fim de aumentar o seu contributopara garantir o rendimento do sector, a melhoria da comercialização dos produtos da pescae o aumento do seu valor acrescentado, designadamente através de um reforço significativodos seus meios financeiros.

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Tendo em conta que a OCM deveria dar uma resposta efectiva aos objectivos para os quaisfoi criada e que a insegurança dos rendimentos no sector das pescas decorre em grandeparte da forma como se comercializa no sector, como se formam os preços na primeiravenda e das características irregulares desta actividade, lamentamos que a Comissão dasPescas tenha rejeitado as nossas propostas que iam verdadeiramente ao cerne da questão,entre outras:

- A instauração de taxas máximas de lucro;

- A necessidade de auxílios públicos e a criação de mecanismos eficazes de intervenção nomercado;

- A consideração dos custos de produção na definição dos preços de orientação;

- A introdução de uma compensação financeira para a redução temporária voluntária dacaptura de pescado ou do esforço de pesca.

No entanto, continuaremos a intervir em defesa destas medidas justas.

Ian Hudghton (Verts/ALE), por escrito . − (EN) A organização comum do mercado deprodutos da pesca destina-se a assegurar estabilidade no mercado e segurança de rendimentopara aqueles que participam no sector. Estes objectivos e, em boa verdade, os objectivosdefinidos no Tratado CE, são meritórios e deviam ter produzido prosperidade nascomunidades piscatórias da Europa.

Infelizmente, as últimas duas décadas e meia de controlo centralizado de Bruxelas, na formada PCP, foram desastrosas para as comunidades. Não pode haver mercados florescentes,com segurança do emprego, no quadro da PCP. É preciso devolver o controlo da gestãodas pescas às nações que delas dependem.

- Relatório Jörg Leichtfried (A6-0482/2007)

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − Como temos vindo a sublinhar, as autoridadesnacionais desde há muito que cumprem e fazem cumprir os requisitos em vigor em matériade aviação civil, resultantes de acordos internacionais. A cooperação entre osEstados-Membros da UE e entre estes e outros países é já uma realidade, podendo até sermais incentivada e desenvolvida, mas assegurando o respeito pela soberania de cada país,pelos trabalhadores e seus direitos (designadamente, garantindo uma harmonização socialpela aplicação das condições mais favoráveis), assim como pelos direitos dos utilizadores.

No entanto, as competências de cada Estado-Membro em matéria de aviação civil têmvindo a ser paulatinamente transferidas para a UE, processo tanto mais negativo quandose faz num quadro em que não estão claramente determinados os seus limites.

A criação da Agência Europeia para a Segurança da Aviação, no essencial, significa maisum "avanço" neste sentido. Sublinhe-se que esta agência será responsável por competênciasque cabem actualmente a cada uma das autoridades nacionais. No fundo, trata-se de umamedida que tem em vista a efectiva concretização do chamado "céu único europeu" e aliberalização do transporte aéreo e da navegação aérea ao nível da UE. Liberalização que,em nome da rentabilidade financeira, coloca em causa direitos laborais, a qualidade dosserviços e níveis de segurança.

Ian Hudghton (Verts/ALE), por escrito . − (EN) O relatório Leichtfried marca o culminarde complexas negociações em que intervieram o Parlamento, o Conselho e a Comissão. O

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alargamento dos poderes da AESA é um importante progresso para a segurança da aviaçãona Europa. O meu grupo pôde dar o seu apoio ao compromisso final.

Luca Romagnoli (NI), por escrito . − (IT) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, confirmo o meu voto anterior a favor do relatório Leichtfried. As negociaçõesentre o Parlamento e Conselho, com a ajuda da Comissão, conduziram a este texto que,embora não satisfaça por completo alguns dos pedidos que apoiei, é um bom compromisso.Gostaria de salientar o papel importante que a Agência Europeia para a Segurança daAviação desempenhará no que respeita ao controlo não só da aviação como também daspráticas das companhias. A Agência será responsável pela renovação e emissão decertificados e licenças e pelo controlo da aplicação de normas de segurança uniformes.

Estará também em posição de impor multas se as medidas de segurança não foremdevidamente implementadas. Por conseguinte, regozijo-me com o compromisso alcançadocom a alteração 15 que torna a Agência totalmente independente e imparcial, incluindoem questões relacionadas com a revogação de licenças e imposição de multas. Gostariatambém de referir que o pessoal terá um papel de grande relevo no desenvolvimento efuncionamento deste organismo. Consequentemente, partilho plenamente da preocupaçãodo relator em melhorar as condições deste trabalho, possivelmente aproveitando o potencialoferecido pelo Estatuto dos Funcionários da União Europeia.

Brian Simpson (PSE), por escrito . − (EN) Votarei a favor deste relatório e tenho de felicitaro relator pelo que é uma questão técnica de grande importância. Desejaria, no entanto,fazer uma observação sobre alguns pontos.

No que toca ao licenciamento da tripulação de cabina, é assunto que manifestamentesuscita alguma preocupação em certos Estados-membros e que deu origem a um esforçodeterminado de lobbying por parte dos sindicatos do pessoal de cabina. Creio que o relatorencontrou um compromisso que alivia os receios de alguns Estados-membros, masreconhece a importância das funções exercidas pela tripulação de cabina. Algumascompanhias de aviação abusam francamente do pessoal de cabina, não só tratando-o comosimples “criados do céu”, mas também oferecendo contratos de trabalho pelos quais elesrecebem por tarifas mínimas, para horários máximos, e depois de terem pago o seu própriotreino.

Em segundo lugar, é importante reconhecer que os OPS-UE, tal como foram aprovadospor este Parlamento, passam agora para a competência da AESA. Mas eu aproveitaria oensejo para lembrar à Comissão e à AESA que os tempos de voo e de serviço, tal comoestão previstos na Subparte Q do Regulamento OPS-UE, não podem ser alterados enquantonão tiver sido encomendado um estudo sobre fadiga e a indústria não tiver sido amplamenteconsultada.

Finalmente, espero agora que outros aspectos da segurança da aviação possam sercontemplados à escala da UE, incluindo a vigilância da porta do cockpit e a do porão debagagem.

- Relatório Adriana Poli Bortone (A6-0464/2007)

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − Como acontece na generalidade dosregulamentos nesta área, os objectivos concretos deste relatório baseiam-se naharmonização das disposições legislativas e administrativas regulamentares dosEstados-Membros, no sentido favorecer o desenvolvimento do mercado interno europeu,neste caso no que respeita a alegações nutricionais e de saúde sobre os alimentos.

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A proposta consiste em duas alterações ao Regulamento (CE) n.º 1924/2006 do ParlamentoEuropeu e do Conselho relativo às alegações nutricionais e de saúde sobre os alimentos, etem por objectivo prever um período transitório adequado para as alegações de saúde quese referem ao desenvolvimento e à saúde das crianças.

As alegações nutricionais utilizadas num Estado-Membro antes de 1 de Janeiro de 2006,em conformidade com as disposições nacionais que lhes são aplicáveis, e que não constemdo anexo do Regulamento (CE) n.º 1924/2006, podem continuar a ser utilizadas por umperíodo de três anos após a entrada em vigor do mesmo. As alegações de saúde que nãose refiram ao desenvolvimento e à saúde das crianças também beneficiam de medidas

transitórias, descritas nos n.os 5 e 6 do artigo 28.º do regulamento. Agora, prevêem medidastransitórias semelhantes para as alegações que se referem ao desenvolvimento e à saúdedas crianças.

Peter Skinner (PSE), por escrito . − (EN) Votei a aprovação deste relatório por causa doscontrolos que é preciso fazer para assegurar os anúncios relativos a saúde e nutrição. Sendoa comida saudável, para muita gente, essencial para uma vida longa e activa, é tambémessencial que o consumidor receba informação adequada. Por demasiado tempo os anúnciosfeitos por alguns fabricantes de produtos de grande consumo induziram os consumidoresem erro quanto às propriedades de saúde e nutricionais desses produtos. Peço à Comissãoque gaste tanto tempo quanto seja necessário para garantir esclarecimento adequado aoscidadãos europeus.

- Relatório Klaus-Heiner Lehne (A6-0453/2007)

Bert Doorn (PPE-DE) , por escrito. − (NL) A liberalização do mercado de peças paraautomóveis tem sido objecto de acesos debates desde 1993. Penso que se impõe há muitoa abolição dos direitos sobre o desenho no que diz respeito às peças visíveis de automóveis.Por isso, apoio veementemente a proposta da Comissão, dado que, neste momento, nãoexiste um mercado único que funcione de forma adequada no sector das peçassobressalentes.

Quando artigos funcionais como espelhos laterais e faróis têm de ser substituídos, as peçasnecessárias para devolver ao automóvel a sua condição anterior têm de estar imediatamentedisponíveis. Sou a favor da liberalização europeia o mais rapidamente possível e, por isso,a favor de um período de transição o mais breve possível – cinco anos. Irei, obviamente,votar contra alterações que permitam aos Estados-Membros protelar a liberalização duranteo período de transição.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − Neste relatório há algumas alterações à propostade directiva que visa a liberalização do mercado secundário das peças sobresselentes,aplicando-se à indústria automóvel, à indústria mecânica e à produção de bens deinvestimento e de consumo.

A proposta da Comissão defende os mercados não protegidos enquanto que este relatóriodefende um período de transição de 5 anos para os países que têm protecção dos mercados,como é o caso de Portugal.

Sabemos que, por um lado, o mercado protegido leva ao monopólio por parte das grandesempresas relativamente ao comércio de peças sobresselentes, já que nos mercadosprotegidos o consumidor tem de comprar qualquer peça avariada ou danificada ao produtorde origem. O argumento utilizado é que não se pode alterar o desenho do artigo, sendo o

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exemplo mais conhecido o da indústria automóvel, embora esta proposta de directivatambém se aplique a outras indústrias. Mas há casos práticos em que a substituição de umasimples peça obriga a todo um conjunto, com os custos inerentes para o consumidor.

No entanto, por outro lado, em Portugal, há fábricas, nomeadamente ligadas ao sectorautomóvel, que continuam a funcionar devido ao fabrico das tais peças sobresselentes degrandes marcas e para os quais a "liberalização" do mercado poderia causar sérios problemas.

Janelly Fourtou (ALDE), por escrito . - (FR) No relatório Lehne sobre a protecção legalde desenhos e modelos, decidi apoiar e subscrever uma alteração que propõe um períodode oito anos de transição até à liberalização total dos direitos de propriedade intelectualsobre as peças sobressalentes que servem para repor a aparência inicial dos produtoscomplexos, como por exemplo, os veículos automóveis. Para já, os estudos de impactonão mostraram qualquer baixa significativa dos preços dessas peças para os consumidoresnos Estados-Membros onde essa liberalização foi realizada.

Além disso, penso que a União Europeia está a ir contra os seus próprios interesses namatéria. Outras partes do mundo estão a proteger a sua indústria com direitos depropriedade intelectual e a União Europeia, que afirma por outro lado a sua vontade deproteger os consumidores e de lutar contra a contrafacção, não está a fazer aqui a opçãocorrecta.

Dela depende o equilíbrio económico do sector automóvel e a segurança dos cidadãoseuropeus.

Bruno Gollnisch (NI), por escrito. - (FR) A directiva que nos é proposta hoje sobre aprotecção legal de desenhos e modelos propõe a liberalização total do mercado das peçassobressalentes, nomeadamente no sector automóvel.

O texto do relator flexibiliza em larga medida essa proposta, introduzindo nomeadamentea possibilidade de os Estados-Membros manterem a sua legislação sobre a protecção rígidados desenhos e modelos durante mais cinco anos. Ao preservar o monopólio dosconstrutores sobre o fabrico das peças soltas, trata-se nomeadamente de evitar adeslocalização de empregos comunitários para países como a Turquia, o Brasil ou a Coreia,onde a produção é feita com custos e qualidade menores.

A liberalização demasiado rápida deste sector poderia além disso comportar grandes riscos,nomeadamente para a segurança das pessoas. Com efeito, na medida em que as peças soltassão fabricadas fora de qualquer responsabilidade dos construtores automóveis, nada garantea priori a conformidade das peças sobressalentes nem a sua qualidade. Antes de qualquerconsideração de ordem económica e política, há que manter o objectivo principal daprotecção e da segurança dos utilizadores.

Assim, após os correios, os caminhos-de-ferro, a energia e a electricidade, Bruxelas atacaagora o sector da construção automóvel. A lógica ultra-globalista e de liberalização forçadapor razões ideológicas não tem limites.

(Declaração de voto abreviada nos termos do n.º 1 do artigo 163.º do Regimento)

Małgorzata Handzlik (PPE-DE), por escrito . − (PL) Senhora Presidente, o mercadointerno é uma estrutura muito complexa que tem equilibrado os interesses dos váriosgrupos que dele dependem há muitos anos.

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Esta directiva visa a liberalização total do mercado secundário de peças sobresselentes.Neste contexto, temos por um lado grupos amplos de fabricantes de componentes oupeças sobresselentes que reivindicam o respeito pelos seus direitos, com base na livreconcorrência e na proibição do monopólio de mercado; por outro, temos os fabricantesde veículos (e aqui referimo-nos, como é óbvio, à indústria automóvel) que defendem assuas peças sobresselentes com base na protecção legal de desenhos e modelos.

Nesta situação, que à primeira vista parece não ter solução, partilho o ponto de vista dorelator, que propõe um sistema baseado num período limitado de protecção de desenhos.Na prática, o período de protecção estaria estreitamente associado ao ciclo de vida doproduto complexo.

Também penso, tal como o relator, que no momento da introdução de um novo desenhoprotegido, deve cessar a protecção das peças sobresselentes do modelo mais antigo. Aprotecção deve igualmente cessar quando é suspensa a fabricação de modelos que nãoserão substituídos. Esta proposta parece constituir a solução mais aceitável e aquela quemelhor protegerá os interesses de todos os grupos envolvidos.

Apoio igualmente a proposta de disposição que permite aos Estados-Membros, cujalegislação consagra a protecção dos desenhos ou modelos utilizados como componentes,manter a referida protecção durante cinco anos após a entrada em vigor da directiva.

Ian Hudghton (Verts/ALE), por escrito . − (EN) Dei o meu apoio ao pacote decompromisso e rejeitei as alterações que visavam alargar o período transitório para acláusula relativas às reparações.

Gary Titley (PSE), por escrito. − (EN) Sou a favor de um mercado europeu competitivode peças sobresselentes. Esse mercado facilitará a redução de custos para os consumidorese impulsionará a actividade das pequenas e médias empresas. Em consequência, apoio aproposta da Comissão de abrir à concorrência os mercados de peças sobresselentes.

Como tal, não posso apoiar as alterações que aumentariam para 8 anos o prazo permitidode liberalização do mercado. Isso retardaria o movimento na direcção do nosso objectivode um mercado competitivo de peças sobresselentes.

- Relatório Giuseppe Castiglione (A6-0477/2007)

Jan Andersson, Göran Färm, Anna Hedh e Inger Segelström (PSE), por escrito. − (SV)Votamos contra o relatório e a proposta da Comissão pelas seguintes razões:

- Esperávamos que a reforma significasse uma poupança para os contribuintes da UniãoEuropeia e que a indústria vitivinícola fosse separada de financiamentos da Política AgrícolaComum. Pensamos que, a longo prazo, os subsídios comunitários para a produção europeiade vinho financiados por impostos devem acabar.

- Pensamos ser reprovável usar o dinheiro dos contribuintes para comercializar os vinhoseuropeus, o que está em conflito com a estratégia vitivinícola do Parlamento, que promoveuma perspectiva restritiva relativamente ao comércio de bebidas alcoólicas. Neste contexto,aumentar a despesa em medidas de comercialização é um infeliz reflexo de normas duplas.

- Também nos opomos às propostas que defendem a utilização de dinheiro doscontribuintes europeus para o comércio de vinhos em países terceiros. Achamos que devehaver prudência na comercialização de vinhos europeus, particularmente em países em

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desenvolvimento, por se correr o risco de sufocar as indústrias domésticas. A União Europeianão deve boicotar os produtores locais em países em desenvolvimento, mas antes apoiá-los.

Alessandro Battilocchio (PSE), por escrito . − (IT) Senhora Presidente, voto contra esterelatório, não pela abordagem em geral do senhor deputado Castiglione que compreendealguns pontos positivos como a imposição de limites quantitativos e a compatibilidadeambiental relativamente ao arranque, a proibição do uso de mosto proveniente de paísesterceiros e o alargamento das medidas que os Estados-Membros podem gerir de formaautónoma. No entanto, na minha opinião, subscrever a prática da adição de açúcar e adisposição segundo a qual esta prática não tem de ser indicada no rótulo de informaçãoao consumidor são pontos críticos. A passagem sobre os chamados vinhos à base de frutosé também inteiramente questionável, tal como a abordagem geral do relatório ao mosto.Espero, como italiano, que o Minsitro De Castro e os seus colegas sejam capazes de negociarum quadro jurídico de referência que seja mais respeitador da qualidade e dos direitos dosconsumidores.

Adam Bielan (UEN), por escrito. − (PL) Senhora Presidente, o relatório do senhor deputadoCastiglione sobre a proposta de regulamento do Conselho que estabelece a organizaçãocomum do mercado vitivinícola merece todo o meu apoio.

A criação de um mercado vitivinícola governado por regras simples e eficientes de produçãoe princípios de concorrência saudável entre operadores comunitários contribuirá não sópara melhorar a qualidade dos produtos europeus como o nível de vida dos produtores defruta.

Importa igualmente que os consumidores conheçam o ciclo de produção de determinadosprodutos e a sua origem concreta.

Acresce que estes acordos vão beneficiar consideravelmente a produção de vinho à basede frutos no meu país, motivo principal pelo qual apoio o relatório.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − Votámos contra este relatório pois não alterasignificativamente os aspectos mais importantes da má proposta da Comissão Europeiapara o sector da vinha e do vinho.

Como sempre dissemos, discordamos desta posição liberal, que pretende avançar para odesmantelamento da organização comum do mercado do sector do vinho, embora comcontradições, que o próprio Parlamento Europeu aprofunda ao admitir a adição de açúcar,aumentando, inclusivamente, a graduação possível relativamente a valores ainda em vigor.

Mas um dos aspectos mais graves está na abertura que deixa à hipótese da liberalização dedireitos de plantação a partir de 2013, embora o relatório reconheça que essa medidaapenas servirá a concentração da produção nas mãos das grandes empresas vinícolas quejá beneficiam de avultados apoios públicos e outros privilégios.

De igual modo, lamentamos que não tenham passado as propostas que fizemos para manteros direitos de plantação, apoiar a reestruturação das vinhas, sobretudo a agricultura familiar,os pequenos e médios vitivinicultores e as adegas cooperativas, embora registemospositivamente a aprovação de algumas propostas, designadamente da proposta que defendea destilação de álcool de boca.

Duarte Freitas (PPE-DE), por escrito. − Apesar de concordar com a necessidade dereformar a OCM do sector do vinho e de apoiar, em traços gerais, a proposta da Comissão

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Europeia, considero que o relatório Castiglione deu um importante contributo, propondoalgumas alterações que melhoram substancialmente o documento da Comissão.

Destaco, entre outros aspectos positivos, a introdução da possibilidade de continuar aajuda à destilação de álcool de boca.

Votei favoravelmente as alterações 33 e 223 porque considero que a liberalização do sectornão deve ser abrupta e rejeitei as alterações 314, 347, 293 e 217 porque não concordocom a introdução da possibilidade de se continuar a proceder ao enriquecimento comaçúcar, uma prática que pode provocar desequilíbrios entre os produtores, defendendopor isso, o texto original da Comissão Europeia.

Françoise Grossetête (PPE-DE) , por escrito. - (FR) Congratulo-me com a orientação geraldo relatório, que revê em profundidade a proposta da Comissão Europeia, a qual previa,nomeadamente, um arranque maciço de 400 mil hectares de vinhas. Esta posição nãotinha em conta as realidades sociais da profissão e teria provocado o desenvolvimento dadesertificação e uma deterioração das paisagens. O relatório considera o arranque comouma medida potencialmente interessante, que será proposta numa base voluntária.

Outra proposta positiva é a da possibilidade de pôr em prática medidas de reestruturaçãoda fileira. A fileira vitícola europeia tem de dispor de operadores poderosos e bem sucedidospara fazer face à concorrência internacional.

Em contrapartida, a parte dedicada à prevenção das crises é necessária, mas não suficiente.Dadas as variações da produção, as operações propostas apenas permitirão atenuar asflutuações. Falta um verdadeiro dispositivo de gestão das crises, renovado relativamenteàs medidas actuais.

Por fim, lamento a ausência de indicação no rótulo do recurso à prática do enriquecimentopor adição de sacarose, a qual teria permitido uma informação clara e transparente dirigidaao consumidor.

Christa Klaß (PPE-DE), por escrito. – (DE) Relativamente à organização comum domercado vitivinícola a Comissão procura ter em conta as características específicas dasregiões vitivinícolas, ao delegar mais responsabilidades e ao dar maior margem para ainiciativa.

Actualmente, o Parlamento Europeu estabeleceu esses mesmos objectivos no papel. Temosabsoluta confiança nas nossas propostas, as quais foram adoptadas por todos os deputadosprovenientes de todos os Estados-Membros. A vitivinicultura da Europa faz parte do seupatrimónio. O berço da produção global de vinho é aqui, na Europa. A vitiviniculturasignifica empresas, rendimento e postos de trabalho. Não deveria ser tarefa da Comissãoestar a procurar equilibrar o mercado através da limitação da produção ou através daalteração de regras, de modo a tornar a produção impossível. Deveria, contudo, ser tarefada Comissão salvaguardar a nossa quota de mercados globais e assegurar que os nossosprodutos gozam do prestígio internacional que merecem. O objectivo não deveria serrestringir o mercado, mas sim abrir caminho para novos mercados. Por que haveríamosde alterar métodos vitivinícolas para vinhos que se vendem bem? Os nossos métodosvitivinícolas têm as suas raízes em culturas e tradições ancestrais.

Hoje, o Parlamento Europeu reafirmou claramente o seu apoio a mais medidas de apoioao mercado, a orçamentos nacionais e a margem para iniciativas regionais, à supressãoescalonada de medidas de intervenção e à preservação das práticas enológicas existentes,

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por outras palavras a adição de sacarose e a adição de mostos de uvas concentradosrectificados (MCR), com estes aditivos a serem colocados numa base igual por meio desubsídios adicionais ao MCR.

Espero que as nossas propostas possam ser incorporadas na nova organização comum domercado vitivinícola.

Jörg Leichtfried (PSE), por escrito. – (DE) Nos anos em que as condições são desfavoráveispara a vitivinicultura e quando há pouca luz do Sol, o teor de frutose das uvas não ésuficiente para produzir o volume de álcool necessário para a fermentação. Por este motivo,adicionamos açúcar, que não altera o paladar do vinho. A questão crucial é que o açúcarseja adicionado antes da fermentação e não depois, significando que não estamos empresença de um método de adoçamento de vinho e que a adição de açúcar apenas épermitida para vinhos de mesa e os chamados vins de pays.

Assim deverá manter-se no futuro. A Comissão pretende substituir o açúcar de beterrabaque tem sido, até à data o aditivo normal, por mostos de uvas provenientes de excedentesde produção dos países do sul. Este processo não é aceitável. Independentemente do debateacalorado entre os especialistas relativamente às variações de sabor, existe igualmente umargumento ambiental. Não faz sentido, para mim, estar a transportar moto de uvas pelaEuropa fora em direcção a regiões que já têm o seu próprio abastecimento de açúcar debeterraba.

Nils Lundgren (IND/DEM), por escrito. − (SV) As correcções ao relatório que tivemosde considerar na votação de hoje são ridículas. Um exemplo: a decisão sobre a quantidadede açúcar que devem conter os diferentes tipos de vinho deve, afinal, ser deixada aosconsumidores que compram os produtos. Não deve ser determinada por processos dedecisão entre as instituições da União Europeia.

Os produtores noutras partes do mundo têm conseguido produzir vinhos que agradamaos paladares dos consumidores europeus e, ao mesmo tempo, mais baratos do que osvinhos europeus. De acordo com a maioria no Parlamento Europeu, esta situaçao deve sercombatida, injectando mais dinheiro na política agrícola e levando a cabo várias campanhas.

Não há dúvida de que se produzem excelentes vinhos na Europa. A questão de princípioé se é correcto que os países mais pobres sejam afastados para favorecer a produção vinícolaeuropeia.

É importante ter uma perspectiva que considere todos os factores, incluindo o interesseda saúde pública, quando se discute a produção vitivinícola. Quanto a isto o relatório éomisso.

Por estas razões votei no sentido de rejeitar a proposta da Comissão e o relatório doParlamento Europeu sobre a matéria. Os produtores de vinho devem operar num mercadolivre e não, como agora, receberem enormes subsídios da União Europeia.

Jean-Claude Martinez (NI), por escrito . - (FR) O povo vinhateiro do Languedoc-Roussillon,da Cruz Occitana sobre fundo vermelho de um século de revolta entre 1907 e 1976 deMarcelin Albert a André Castéra, este povo que vai do Ródano até ao Garonne, a Comissãopretende fazê-lo desaparecer para instalar nas suas terras os reformados da Europaanglo-saxónica, os bebedores de chá que vão substituir homens das vindimas e do vinhono Minervois, nas Corbières, nas Costières ou nas vinhas do Picpoul.

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Um crime civilizacional! E tudo isto escondendo-se atrás da mentira de uma pretensasobreprodução, quando há que dizer toda a verdade:

- há 150 mil hectares de vinha ilegais em Espanha e em Itália. - Há que arrancar essas vinhasclandestinas;

- a sobreprodução acaba por ser, na prática, uma sobre-importação de 12 milhões dehectolitros por ano;

- o Pacífico planta vinhas que nós arrancamos;

- e, quando a China beber... faltará o vinho.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) Com a sua proposta de reforma da produçãovitivinícola, a Comissão parece ter conseguido fazer mais uma obra-prima. Por um lado,está a tentar secar os lagos de vinho da Europa, ao atribuir compensações financeiras àredução da área total de vinha, isto ao mesmo tempo que pretende autorizar a plantaçãode vinha em todo o lado, a partir de 2013. No entanto, se deixar de haver restrições, asvinhas em encostas, de mão-de-obra intensiva, tornar-se-ão inviáveis.

Como se não bastasse fazer com que estes produtores vitivinícolas temam pela suasubsistência, a proibição proposta da utilização de açúcar iria privar toda a Europa doNorte das suas colheitas, em anos com menos luz do Sol, ao mesmo tempo que a aboliçãoda ajuda ao mosto concentrado de uva acabaria também por tornar impossível a produçãona Europa do sul. Se adicionarmos a proibição do uso da designação “vinho de mesa”, aqual iria ter inevitavelmente como resultado uma inundação de vinhos de baixíssimacategoria, ficamos com a sensação de que, quem planeou esta reforma não possui osnecessários conhecimentos técnicos nem sensibilidade. O relatório Castiglione constituiuma melhoria destas propostas, razão pela qual o votei favoravelmente.

Pierre Pribetich (PSE), por escrito . - (FR) Os meus colegas e eu próprio aprovámos porlarga maioria o relatório de Giuseppe Castiglione sobre a OCM Vinho.

Nomeadamente, apoiei quatro alterações que considero fundamentais para a preservaçãodo sector vitivinícola europeu - e, mais concretamente, do Borgonha e do Franco-Condado-, mas também para a melhoria da sua competitividade.

Votei favoravelmente a alteração 271, que se opõe ao projecto da Comissão Europeia depôr fim à chaptalização. Com efeito, é primordial manter as tradições vitícolas dechaptalização em vigor em numerosas regiões da Europa, como o Borgonha e oFranco-Condado de onde sou eleito.

Apoiei também as alterações 33 e 223, que se opõem a uma liberalização total dos direitosde plantação a partir de 1 de Janeiro de 2014: o interesse dos viticultores manda que seespere pelo final do regime de arranque para avaliar a sua eficácia, antes de se pensar numaliberalização.

Por fim, votei favoravelmente a alteração 107, que visa manter as prestações vínicas.

Globalmente satisfeito com as alterações aprovadas pelo Parlamento, apoiei o relatório eespero que ele venha a influenciar globalmente o Conselho agrícola de 17 a 19 de Dezembro.Disso depende o interesse das nossas regiões.

Luca Romagnoli (NI), por escrito . − (IT) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, voto a favor do relatório do nosso estimado colega, o senhor deputado

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Castiglione. Há muito tempo que é visível a necessidade de uma reforma do sectorvitivinícola que restaure o perfil e a competitividade dos vinhos comunitários e que permitaaos produtores europeus recuperar os antigos mercados e abrir novos. Os produtoreseuropeus, especialmente os italianos, estão a sofrer uma concorrência desenfreada de novosprodutores.

Isto fica a dever-se não tanto a uma baixa no consumo interno, mas, sim, aos exageradoscustos de produção, aos regulamentos excessivamente rígidos e complicados quefrequentemente limitam a possibilidade de ajustar a produção às variações da procura eainda às políticas de promoção e comercialização demasiado tímidas. Precisamos de tiraro máximo partido da qualidade dos vinhos europeus e italianos. Para que a União Europeiaconsolide a sua posição de liderança no sector vitivinícola, a reforma da OCM para estesector terá de se centrar na melhoria da qualidade, o que significa promover, salvaguardare reforçar as marcas regionais, as denominações de origem e as indicações geográficasvitivinícolas, que representam os produtos europeus de qualidade no mercado mundial.

Karin Scheele (PSE), por escrito. – (DE) Nos anos em que as condições são desfavoráveispara a vitivinicultura e quando a luz do Sol escasseia, o teor de frutose das uvas não ésuficiente para produzir o volume de álcool requerido para a fermentação. Por esta razão,adiciona-se açúcar, que não altera o paladar do vinho. A questão crucial é que o açúcar sejaadicionado antes da fermentação e não depois, significando que não estamos em presençade um método de adoçamento de vinho e que a adição de açúcar apenas é permitida paravinhos de mesa e os chamados vins de pays. Assim deverá manter-se no futuro. A Comissãopretende substituir o açúcar de beterraba que tem sido, até à data o aditivo normal, pormostos de uvas provenientes de excedentes de produção dos países do sul. Este processonão é aceitável.

Brian Simpson (PSE), por escrito . − (EN) Votei a favor deste relatório; mas há aindamuitas áreas de preocupação que o Parlamento entendeu não abordar, nomeadamentepara tornar o sector mais competitivo contra importações de países terceiros e para melhorara qualidade de vinho produzido a nível da UE. Infelizmente, as prioridades nacionais eregionais atravessaram-se no caminho do programa de uma reforma duradoura.

Temos de proteger na Europa a qualidade dos nossos vinhos na Europa, e temos tambémde tratar do problema de produzir vinhos de qualidade a preço acessível. Não há dúvidade que as propostas da Comissão foram diluídas. Felizmente, porém, o Parlamento aceitoua alteração que propus no sentido de elevar os critérios de minimis e as alterações quepermitem a chaptalização. Essas alterações são cruciais para os países do Norte e para osvinhateiros do Reino Unido.

A indústria europeia do vinho enfrenta ainda muitas ameaças, e na UE estamos a verperder-se para outros países do mundo a nossa própria quota de mercado.

Mas por quê? Porque essses países podem produzir vinho de qualidade excelente a preçoacessível e com uma estratégia de comercialização baseada naquilo que o consumidor querno século XXI, e não no que os Romanos plantaram no século III. Precisamos de qualidade,não de quantidade: e precisamos de produzir vinho que valha o dinheiro que custa.

Peter Skinner (PSE), por escrito . − (EN) O mercado do vinho na UE depende da máximavariedade de escolha e de produções locais que sejam sustentáveis. Para muitos, a questãodo vinho está tão perto de ser uma questão cultural como a própria linguagem. Essa a razãode a votação de hoje ter sido tão disputada.

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O impacte da rotulagem do açúcar ou de proibir aos vinhateiros o uso de aditivos de açúcarteria um efeito proibitivo na produção de vinho na Europa do norte. Muitos vinhosexcelentes provêm agora do Rússia e particularmente do sudeste de Inglaterra. Tem sidoassim desde que os Romanos introduziram o vinho no Reino Unido.

Votei pela manutenção desta tradição e por um mercado aberto.

- Proposta de resolução: Luta contra o terrorismo (B6-0514/2007)

Philip Bradbourn (PPE-DE), por escrito . − (EN) Os Conservadores votaram contra estaresolução pelas seguintes razões. Em primeiro lugar, porque a moção pede maiorenvolvimento da EU através do proposto Tratado reformador e assim alargaria as atribuiçõesda UE para a área altamente sensível da segurança nacional. Em segundo lugar, osConservadores acreditam numa forte parceria a nível global com todas as nações quetravam a guerra contra o terrorismo, e especialmente com os nossos aliados americanos.Esta proposta peca por não reconhecer a necessidade de cooperação, mais do que deharmonização, nesta matéria.

Michael Cashman (PSE), por escrito . − (EN) A Delegação Trabalhista Britânica noParlamento Europeu (EPLP) aplaudiu e votou a favor da resolução sobre terrorismo. Se aversão final da resolução adoptada pelo Parlamento Europeu não é perfeita, reconhecemostodavia a importância de enviar, aos que ameaçam o nosso modo de vida, um sinal claroe inequívoco de que não sucumbiremos.

Os trabalhistas britânicos no PE estão convicto de que a UE pode e quer fazer todo o possívelpara derrotar o terrorismo e que, trabalhando juntamente com os Estados-Membrosvizinhos e os aliados internacionais, temos mais probabilidades de alcançar este objectivoúltimo do que com políticas isolacionistas.

Assumimos plena responsabilidade pelo nosso papel, enquanto parlamentares, de examinarcuidadosamente as propostas da Comissão neste campo, a fim de assegurar que toda equalquer legislação, que seja adoptada, seja adequada e proporcional e respeite os direitosfundamentais dos nossos cidadãos. Continuaremos a criticar a política dos aliados quandotenhamos diferenças de visão política; todavia reconhecemos e aplaudimos a cooperaçãoem curso entre a UE e os Estados democráticos, e especialmente a importante relação entrea UE e os EUA, no campo da Justiça e dos assuntos internos. Continuamos convictos deque é pela cooperação com os nossos aliados, e não pelo antagonismo ou pela retaliação,que derrotaremos os que, pela violência e pelo ódio, procuram destruir os nossos valorese princípios.

Sylwester Chruszcz (NI), por escrito . − (PL) Senhora Presidente, os Estados-Membrostêm o dever de combater o terrorismo sob todas as suas formas, dentro do respeito peloslimites da lei e direitos e liberdades civis. O combate ao terrorismo transcende as fronteirasnacionais, o que evidencia a necessidade de cooperação internacional neste domínio.

É absolutamente indispensável que todas as instituições e autoridades com poderes especiaisna luta contra o terrorismo estejam submetidas a um controlo judicial independente.

O combate ao terrorismo não deve, ao contrário do que preconiza a resolução hojeaprovada, justificar os poderes policial e judicial de Bruxelas em detrimento dos poderesdos Estados-Nação. Por este motivo, não apoiei a presente resolução sobre o combate aoterrorismo na UE.

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Patrick Gaubert (PPE-DE), por escrito . - (FR) O terrorismo constitui, mais do que nunca,uma ameaça comum para a segurança do conjunto dos cidadãos da UE. A este título, oGrupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e dos Democratas Europeusconsiderou a luta contra o terrorismo como uma das suas prioridades de acção e manifestouo desejo de ser adoptada uma resolução nesse sentido.

A resolução proposta põe em evidência o difícil mas necessário equilíbrio entre segurançae respeito das liberdades individuais. Nas nossas democracias europeias, há que zelar, comefeito, por que os instrumentos utilizados no âmbito da luta contra o terrorismo sejamproporcionados, de forma a não comprometer as liberdades individuais dos cidadãos.

Todavia, não podemos perder de vista que a União Europeia tem por objectivo, antes demais, defender o direito de cada cidadão europeu à vida e à segurança, prevenindo ecombatendo o terrorismo.

É lamentável que numerosas disposições, particularmente desproporcionadas e por vezesinjustificadas, tenham rompido o equilíbrio deste texto. Apesar das alterações introduzidaspelo nosso grupo, o texto finalmente aprovado em Plenário não está em conformidadenem com o espírito, nem com a letra, daquilo que defendemos neste domínio, razão porque votei contra esta resolução.

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − Apesar de conter aspectos que criticam,embora de forma mitigada, as violações dos direitos humanos cometidas em nome da dita"luta contra o terrorismo" - e que desde o primeiro momento, de forma clara e firmedenunciamos -, a presente resolução não se demarca desta, nem faz a sua desmontagem,quando em nome desta se desrespeita o Direito Internacional e se pratica o terrorismo deEstado.

Sim, sem dúvida que se exige a crítica à violação do direito a um julgamento justo e àprotecção de dados, à falta de transparência e de controlo democrático, à recusa por partedo Conselho em responder às "alegações de abuso de poder a pretexto da luta contra o terrorismo,em particular no que se refere às entregas extraordinárias da CIA e aos centros de detenção secretos".

No entanto, não podemos aceitar que, a coberto da dita "luta contra o terrorismo", seregozije "vivamente com a adopção do novo Tratado reformador" e se exorte "os Estados-Membrosa procederem à sua ratificação"; se sublinhe, uma vez mais, que "os Estados Unidos são umparceiro essencial neste domínio", escamoteando toda a política externa dos EUA; ou se requeiraque "sejam fortalecidos os poderes da Europol" e que lhe seja reconhecida "uma competênciaprópria para conduzir investigações".

Mary Lou McDonald (GUE/NGL), por escrito . − (EN) Não pude apoiar a proposta deresolução de hoje sobre a luta contra o terrorismo por várias razões.

Primeiramente, a celebração entusiástica do Tratado reformador (Tratado de Lisboa) é coisaem que não posso ter parte. Creio que o Tratado reformador não fará da Europa um lugarmais seguro para os cidadãos dos Estados-Membros.

Também tenho preocupações no tocante aos aspectos desta proposta de resolução relativosàs liberdades cívicas. Embora tenha alguns pontos excelentes, a proposta é desequilibrada,com demasiada ênfase na legislação e na cooperação de segurança.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) A Europa tornou-se cada vez mais um alvo deacções terroristas, pois permitiu ser reduzida ao papel de cúmplice nas violaçõesinternacionais da lei e dos direitos humanos, cometidas em nome da política externa do

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Estados Unidos e também por não ter conseguido cumprir o seu papel de mediador honestonas negociações em relação à questão palestiniana. É mais do que tempo de a UE reconhecerque a imigração em massa proveniente de países islâmicos constitui um potencial risco desegurança, particularmente desde que a imigração para a Europa se tornou uma forma deadquirir estatuto de mártir e a infiltração no Ocidente cristão por imigrantes muçulmanosfoi declarada um objectivo religioso.

Em vez de actuar em conformidade e pressionar uma imediata paragem da imigraçãoproveniente de países islâmicos, além de controlar o repatriamento de imigrantes ilegais,a UE está a adoptar uma abordagem delicodoce para não melindrar os muçulmanos quejá se encontram entre nós. Votei contra este relatório sobretudo por este parece consideraro Tratado Reformador, com todo o seu desprezo pela democracia, como a cura para oterrorismo.

Cristiana Muscardini (UEN), por escrito . − (IT) Solicitámos ao Parlamento Europeu queabordasse seriamente o problema do terrorismo no período de sessões de Julho. No entanto,algumas pessoas inteligentes decidiram debater o assunto em Setembro e votar emDezembro: outros cinco meses desperdiçados e ainda uma porção de palavras que apontammais para defender os direitos à liberdade de expressão dos terroristas, que cada vez maisaproveitam as redes de informação, do que para proteger a segurança dos cidadãos europeuse de outros países vítimas do terrorismo.

Concedemos o prémio Sakharov a Salih Mahmoud Osman e deixamo-lo só a combaterpela defesa da vida de milhões de pessoas em Darfur, continuamos a ignorar a violênciados fundamentalistas islâmicos na Somália e choramos lágrimas de crocodilo pelas 50vítimas na Argélia.

Uma vergonha!

Por tudo isto, não posso apoiar a vossa resolução e votarei contra.

Athanasios Pafilis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) A resolução do Parlamento Europeucondiz com, e em muitos aspectos supera, a política reaccionária e as medidasantidemocráticas da UE, a qual, a pretexto do combate ao terrorismo, restringe os direitosindividuais fundamentais e as liberdades democráticas dos trabalhadores. A resolução pedeum reforço ainda maior da cooperação policial e judiciária entre os mecanismos derepressivos e os serviços de segurança secretos dos Estados-Membros, da Europol e daEurojust, e um funcionamento mais eficaz das bases de dados SIS II e VIS, por forma aestender e tornar mais eficaz o controlo e o registo de dados dos trabalhadores em toda aUE. Além de estar em total sintonia com a nova dimensão que a UE está a dar à sua“estratégia antiterrorista”, ou seja, ao combate e prevenção da chamada “radicalizaçãoviolenta”, a resolução pede ainda que esse combate seja firme e englobe, entre outras coisas,o “incitamento à prática de actos violentos”. Esta estratégia contra a “radicalização” revelao verdadeiro alvo desta política dita “antiterrorista” da UE e dos seus mecanismos derepressão: todas aquelas pessoas que resistirem e contestarem a sua política reaccionária.No entanto, por muitas resoluções que os porta-vozes políticos dos monopólios aprovem,não conseguirão travar os movimentos de oposição nem a crescente corrente de opiniãoque contesta a própria UE enquanto união interestatal imperialista do capital europeu.

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- Proposta de resolução: Programa legislativo e de trabalho da Comissão para 2008(B6-0500/2007)

Colm Burke, Avril Doyle, Jim Higgins, Mairead McGuinness e Gay Mitchell (PPE-DE),por escrito . − (EN) A delegação do Fine Gael no Parlamento Europeu votou contra oparágrafo 16º da resolução sobre o Programa Legislativo e de Trabalho da Comissão para2008, por nos opomos veementemente a toda e qualquer iniciativa UE para criar uma BaseTributária Consolidada Comum do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas(BTCCIRC). Congratulamo-nos com o facto de a Comissão não tencionar propor legislaçãosobre esta matéria no seu programa para o próximo ano.

A concorrência fiscal é vital para promover o crescimento, atrair investimento e possibilitaraos Estados-Membros, e especialmente aos da zona euro, gerir a respectiva economia. OBCE define as taxas de juro e o Pacto de Estabilidade e Crescimento prescreve requisitos deempréstimos e inflação para a zona euro; a política fiscal é por isso um dos mais importantesinstrumentos que o Tratado deixa aos Estados-Membros da zona euro, e é precisosalvaguardá-la.

Os deputados do Fine Gael entendem que uma BTTCIRC-UE levaria ulteriormente à criaçãode uma taxa de imposto única na Europa e opõem-se fortemente a isso.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − Votámos contra esta resolução dado que nãoforam acolhidas as propostas em que manifestávamos a nossa profunda preocupação coma aceleração do processo de liberalização e de desregulamentação que ocorre em muitossectores, o qual põe em perigo o emprego, a qualidade dos serviços prestados e o futurodos serviços públicos na UE. O que se mantém é um preconceito contra o Estado comofornecedor de serviços de interesse geral, insistindo na liberalização.

Também a política monetária e fiscal na UE tem sido restritiva, tendo como objectivosupremo a estabilidade dos preços e a consolidação orçamental, em conformidade com oPacto de Estabilidade e de Crescimento, apesar de ser conhecido que o processo deconvergência nominal teve um impacto negativo no crescimento económico e no emprego,na coesão económica e social, na convergência real entre os Estados-Membros da UE e noinvestimento público.

Igualmente insiste na estratégia neo-liberal de Lisboa, que tem sido o principal instrumentoutilizado na UE para promover a liberalização e a privatização dos serviços e das instalaçõespúblicas, a flexibilidade e a adaptabilidade dos mercados laborais, a moderação dos saláriose a abertura aos interesses privados do grosso das disposições em matéria de segurançasocial, incluindo as reformas e a saúde.

Lidia Joanna Geringer de Oedenberg (PSE), por escrito . − (PL) Senhora Presidente, oprograma de trabalho para 2008 assenta numa abordagem complexa, destinada a transmitiruma visão da Europa que se coadune com as expectativas dos cidadãos em relação aofuturo. As grandes prioridades da Comissão Europeia para o próximo ano são acçõesdestinadas a promover o crescimento económico e o emprego, o desenvolvimentosustentado e a gestão dos fluxos migratórios. Também serão privilegiadas as áreas decombate às alterações climáticas, da energia e do futuro alargamento da UE, bem comoiniciativas no plano externo.

É importante sublinhar que o programa de trabalho foi elaborado à luz de discussõesdetalhadas com outras instituições, como o recente debate sobre a globalização, realizadona reunião informal do Conselho em Lisboa. O programa também contempla iniciativas

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no âmbito das comunicações, que representam um novo passo da Comissão para levar ainformação sobre a UE aos cidadãos da Europa.

Congratulo-me com o anúncio de um novo entendimento da aplicação do princípio desubsidiariedade e de uma avaliação independente dos efeitos da legislação proposta, comvista a evitar erros no futuro. Considero muito positivas as propostas legislativas destinadasa melhorar a situação das mulheres, designadamente no que respeita à conciliação dasexigências da vida familiar e de trabalho, pois representam um passo importante paracombater o declínio das taxas de natalidade na Europa.

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − Entre os muitos aspectos que justificariamum comentário crítico relativamente a este tema, detenho-me sobre uma das prioridadespara 2008, apontada pelo Presidente da Comissão como uma das mais significativas: aratificação da proposta de tratado da União Europeia.

A maioria do PE "aplaude o compromisso da Comissão em apoiar a ratificação do TratadoReformador", "insta a Comissão a (...) intensificar os seus esforços para desenvolver uma política decomunicação mais eficiente, a fim de conseguir, por parte dos cidadãos, uma melhor compreensãoda acção da UE (...), assim como de preparar a ratificação do Tratado Reformador e as eleiçõeseuropeias em 2009" e "solicita à Comissão que especifique claramente o modo como tenciona pôrem prática o conteúdo das prioridades (...), nomeadamente a que se refere ao Tratado de Reforma".

Tendo em conta o inadmissível papel da Comissão aquando da realização dos referendosà dita "constituição europeia" realizados em 2005, tais intenções, desde há muitoproclamadas e agora reafirmadas, representarão, se concretizadas, uma autêntica ingerêncianos processos de ratificação que caberão a cada Estado-Membro.

Que grande contradição do Presidente da Comissão que, quando questionado sobre oprocesso de ratificação, responde que cabe a cada Estado-Membro decidir, mas que apontacomo uma das suas prioridades, precisamente, se imiscuir nessa decisão!

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − Uma vez que não foi possível assegurar ofinanciamento privado para, como originalmente previsto, completar o financiamento doprojecto "Galileu", a União Europeia "decidiu" que este seria assegurado apenas com capitaispúblicos, nomeadamente, a partir do orçamento comunitário.

É este o mote para a alteração do Acordo Interinstitucional (AII) - que estabeleceu o QuadroFinanceiro Plurianual para 2007-2013 -, que aumenta os limites máximos das dotaçõesde autorizações no âmbito da sub-rubrica 1a (competitividade e crescimento) para os anosde 2008 a 2013 num montante total de 1.600 milhões de euros, a preços correntes, à custada sub-orçamentação e sub-execução das verbas da rubrica 2 ("gestão e preservação dosrecursos naturais", isto é, agricultura, pescas e ambiente) no ano de 2007.

Com esta revisão do AII e com a mobilização do Instrumento de Flexibilidade, a UE asseguraa concretização desta sua grande "prioridade" garantindo o seu financiamento. Fica, ainda,por esclarecer se uma vez concretizado o projecto "Galileu" - e, saliente-se, a partir definanciamentos públicos -, este não venha a ser posteriormente "oferecido" ao capitalprivado, por exemplo, a partir de uma qualquer parceria público-privada, suportando aparte pública os custos e ficando os lucros para o capital privado.

Marian Harkin (ALDE), por escrito . − (EN) Não sou a favor da criação de uma BaseTributária Consolidada Comum do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas.

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Page 72: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Monica Maria Iacob-Ridzi (PPE-DE), por escrito . − (RO) Sou a favor da adopção doprograma legislativo da Comissão Europeia para o próximo ano e acho que reflecte muitobem as prioridades políticas da União Europeia. No entanto, as propostas legislativas quea Comissão está a preparar relativamente à legislação de empresas privadas e pequenas emédias empresas não devem afectar as políticas dos Estados-Membros que contribuíramsignificativamente para o crescimento económico no decurso dos últimos anos, como ataxa do imposto único.

Além disso, a recente comunicação da Comissão Europeia relativamente ao "Exame deSaúde" da Política Agrícola Comum é uma boa base de negociação interinstitucional. Comeste propósito, a Comissão Europeia deve suspender propostas legislativas quefundamentalmente corrijam disposições da Comissão Europeia até à conclusão dos debatesentre as instituições europeias e Estados-Membros.

Por fim mas não menos importante, lamento a ausência de iniciativas legislativas no campoda política comum de vistos, no que se refere à reciprocidade de garantias de livremovimentação de pessoas entre países da União Europeia e países terceiros. Lembro àComissão Europeia que 12 Estados-Membros, representando mais de 100 milhões decidadãos da União Europeia, ainda estão excluídos do Programa de Isenção de Visto paraos Estados Unidos da América.

- Proposta de resolução: Acordos de parceria económica (B6-0497/2007)

Genowefa Grabowska (PSE), por escrito . − (PL) Enquanto membro da AssembleiaParlamentar ACP-UE, desejo manifestar o meu apoio aos resultados da cimeira UE-Áfricarealizada na semana passada em Lisboa. Na última sessão da Assembleia Parlamentar deKigali defendemos a prudência e advertimos contra a elaboração apressada de maisregulamentação na esfera das relações entre a União Europeia e o continente africano. Comefeito, a Estratégia Conjunta UE-África deve considerar os interesses de ambas as partes eevitar que a cooperação se estabeleça em detrimento de uma das partes.

O facto de a União Europeia ser o maior parceiro económico dos países africanos, e de amaioria da ajuda a África ser prestada pela Europa, impõe à UE uma responsabilidadeespecial. Isto mesmo foi deixado claro na Declaração Conjunta dos Parlamentos Europeue Pan-Africano, que faz um apelo ao maior envolvimento de ambos na definição das futurasrelações entre os dois continentes. O Parlamento Europeu afirmou claramente o seu apoioà Declaração de Kigali, de 22 de Novembro de 2007, na qual se defende o alargamento doprazo para a conclusão das negociações de um novo acordo comercial ACP-UE. ADeclaração recomenda que este acordo seja prudente e defende a necessidade de reduziras rigorosas exigências da OMC. É positivo que as prioridades definidas até à próximacimeira de 2009 incidam não apenas na paz, segurança, direitos humanos, energia,alterações climáticas e migração, mas também no combate à pobreza através do emprego,bem como no investimento nos cuidados de saúde e na educação.

Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. − Se dúvidas existissem quanto às reais intençõesda UE relativamente aos acordos de comércio livre que pretende estabelecer com os paísesdo Grupo ACP (África, Caraíbas e Pacífico), denominados "acordos de parceria económica"(APE) - que tão em evidência estiveram na recente Cimeira UE-África, pela recusa da suaassinatura por parte de países africanos - bastaria a leitura da resolução agora aprovadapara as esclarecer.

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No entanto João Cravinho, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperaçãode Portugal, enquanto Presidente do Conselho, já o havia feito na Assembleia ParlamentarConjunta ACP-UE, em Kigali, a 21 de Novembro.

Embora obrigada a recuar (momentaneamente), a UE procura contornar as resistênciasavançando com uma "abordagem de negociar" os EPA's "em duas fases, começando pelo comérciode bens" e passando posteriormente "a incluir outras áreas, como os serviços e o investimento",ao mesmo tempo que acena com milhões e milhões de euros com que pretende hipotecara soberania e independência (económica, logo política) dos países ACP. Tal é o sentido dadecisão do Conselho "Assuntos Gerais e Assuntos Externos" de 17 de Novembro de 2007.

A maioria do PE aplaude e apoia. Quanto a nós, denunciamos e combatemos tais intençõese políticas com que a UE procura recolonizar economicamente os países ACP.

Karin Scheele (PSE), por escrito. – (DE) Congratulo-me com a larga percentagem deapoios do Parlamento Europeu ao conteúdo da Declaração de Kigali, sobre a revisão dasnegociações dos Acordos de Parceria Económica (APE), conjuntamente formulada noRuanda por membros dos Parlamentos dos países da Europa, África, Caraíbas e Pacífico.Fico, no entanto, desapontada por um texto negociado conjuntamente e aprovado pordeputados do Parlamento Europeu e por parlamentares dos países ACP na assembleiaACP-UE de Kigali, ter sido subitamente rejeitado pelos grupos do PPE-DE e dos Liberais,em Estrasburgo. Estou firmemente convencida de que, deste modo, se está a enviar amensagem errada no contexto das negociações sobre um tema da maior importância paraos países ACP.

Margie Sudre (PPE-DE), por escrito. - (FR) Os APE não devem resumir-se a simples acordosde comércio livre no sentido da OMC, e sobretudo não devem colocar em dificuldades aseconomias já frágeis das colectividades ultramarinas.

Esses acordos devem representar uma verdadeira parceria, que permita organizar um novoquadro económico e comercial, favorável ao desenvolvimento do conjunto dos territóriosenvolvidos.

Agradeço aos senhores deputados do Parlamento Europeu terem aprovado a minhaalteração, que recorda que as colectividades ultramarinas estão no centro desses acordospreferenciais e recíprocos com os países ACP. A situação específica das RUP temimperativamente de ser tida em conta de forma mais coerente no âmbito desta negociação,nos termos do n.º 2 do artigo 299.º do Tratado. Além disso, os PTU vizinhos dos paísesACP têm também de ser objecto de uma atenção especial, no respeito dos acordos deassociação que os ligam já à União, nos termos do n.º 3 do artigo 299.º do Tratado.

Embora as discussões actuais sejam difíceis, nomeadamente no que respeita à protecçãodos mercados locais e à lista dos produtos sensíveis, solicito à Comissão que estabeleçacompromissos respeitadores dos interesses específicos das RUP e dos PTU envolvidos.

(A sessão, suspensa às 13H50, é reiniciada às 15H00)

8. Correcções de voto: ver acta

PRESIDÊNCIA: ROTHEVice-presidente

9. Aprovação da acta: Ver Acta

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10. Composição dos grupos políticos: Ver Acta

11. Cimeira UE-China - Diálogo sobre os direitos humanos UE-China (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre a CimeiraUE-China.

Benita Ferrero-Waldner, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, congratulo-mecom o debate de hoje sobre o diálogo UE-China em matéria de direitos humanos. Comosabe, a questão dos direitos humanos foi levantada e debatida na cimeira, muito recente,de Pequim e a declaração conjunta também lhe faz referência explícita.

Penso que é justo reconhecer que, embora subsistam preocupações sérias, que é precisoter em conta, a China fez também progressos notáveis no campo dos direitos humanos aolongo do último ano. Isto é particularmente verdade no campo dos direitos sociais eeconómicos, mas também é verdade em algumas outras áreas.

Há movimentos em curso para reformar o sistema da “reeducação pelo trabalho”. Nestaparticular, congratulamo-nos com a nova iniciativa legislativa que está em estudo eesperamos também que em breve sejam postas em prática reformas concretas. É umprincípio fundamental de direitos humanos não privar o indivíduo da sua liberdade semprocesso regular e justo.

China está também a trabalhar para aplicar as recomendações do Relator Especial sobre aTortura das Nações Unidas. Por exemplo, o Ministério da Justiça deu recentementeinstruções aos tribunais no sentido de não considerarem a confissão, por si só, como provasuficiente de culpa, dado que as confissões podem por vezes resultar de tortura aplicadapela polícia ou pelo pessoal carcerário. Analogamente, a China está a iniciar providênciasespecíficas de treino dirigidas a estes grupos de pessoal de ordem pública.

Notamos também com satisfação o progresso que consiste em o Supremo Tribunal Popularexercer agora o poder de revista de todas as condenações a pena de morte pronunciadaspor tribunais inferiores. Supomos que daí resulte redução no número de condenaçõesefectivas à morte e de execuções, o que é motivo de regozijo para a União Europeia. Comosabe, esta tem sido desde há muito uma área de intervenção prioritária.

Não obstante – e agora, naturalmente, tenho também algumas coisas negativas a dizer –a Comissão continua preocupada com a situação dos direitos humanos na China, em gerale, mais especificamente, no campo dos direitos civis e políticos. Temos em vistaparticularmente a liberdade de expressão, de religião e associação e a protecção dos direitosdas minorias, por exemplo no Tibete e na província de Xinjiang.

Neste contexto, a repressão dos defensores dos direitos humanos continua a ser umapreocupação-chave. Exercer o direito de falar livremente expõe muitas vezes aespancamentos, prisão domiciliária ou até penas de prisão. O acesso à Internet – o direitode informação – é vigiado de perto e restringido e aqueles que, por exemplo, se manifestamem favor de maior autonomia para o Tibete recebem penas de prisãodesproporcionadamente longas. O uso de legislação sobre segredo de Estado, bem comode outras normas penais de definição imprecisa, facilita a perseguição judicial de quemfalar ou publicar livremente.

A Comissão exorta por isso o Governo chinês a que permita expressões de todas as formasde opinião. Isto é também, pensamos nós, um factor muito importante do modo como o

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público internacional vê a China, particularmente no próximo ano, na preparação dasOlimpíadas, quando todos os olhos estarão fixados na China. A História mostra que permitira liberdade de expressão leva, a longo prazo, a uma sociedade muito mais estável. Todosnós sabemos isso.

Todas estas questões são regularmente abordadas no diálogo UE-China sobre direitoshumanos. Por isso, congratulamo-nos com o facto de o último diálogo, que se realizouem Outubro em Pequim, ter facultado uma troca de pontos de vista sincera e aprofundadasobre todos os tópicos do nosso interesse, tendo alguns debates dado lugar a acções deseguimento. É importante reconhecer que este diálogo proporciona um fórum importante,no qual ambas as partes podem falar abertamente das suas preocupações genuínas, aomesmo tempo que contribui para compreender melhor as nossas diferenças – e as nossasdiferenças continuam a ser notáveis.

Neste contexto, lamentamos a decisão chinesa de se retirar do Seminário sobre direitoshumanos de Berlim por causa da participação de duas ONG; e lamentamos que, por razõesda mesma ordem, não tenha sido possível realizar o seminário em Berlim. Consideramosque a sociedade civil tem um papel muito importante a desempenhar, e que o Seminárioproporciona o foro apropriado para as ONG darem as suas valiosas contribuições. Confioem que seremos capazes de encontrar uma solução de mútuo acordo, de maneira que nofuturo esta importante experiência continue o seu caminho de sucesso, atestado pelacimeira UE-China.

Permita-se-me concluir, referindo que há mais duas questões importantes de direitoshumanos que, como matérias de alta prioridade, regularmente ventilamos com a partechinesa. Uma é a ratificação pela China do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis ePolíticos; a outra é a libertação das pessoas que foram presas quando das manifestações daPraça Tiananmen, ou que, mais tarde, comemoraram os eventos de 1989. Uma acçãodecisiva em ambos os pontos daria um claro sinal positivo e seria muito bem-vinda.

Edward McMillan-Scott, em nome do Grupo PPE-DE . – (EN) Senhora Presidente, gostariade agradecer à Senhora Comissária Ferrero-Waldner esta declaração.

Considero de extrema importância, depois da Cimeira UE-China – e particularmente dodiálogo UE-China em matéria de direitos humanos –, que os deputados desta Assembleiatenham a oportunidade de analisar o seu resultado. Não pretendo debruçar-me sobre aCimeira. Quero deter-me no diálogo sobre os direitos humanos, porque foi isso que melevou a Pequim no passado mês de Maio, altura em que, juntamente com a senhora deputadaHélène Flautre, estava a elaborar um relatório sobre a reforma da Iniciativa Europeia paraa Democracia e os Direitos Humanos.

Esta tarde, quero falar por aqueles que não podem fazê-lo por si próprios. Estes,evidentemente, são a vasta maioria do povo chinês, que desejam mudanças e reformas.Mas esse movimento é liderado, entre outros, por Gao Zhisheng, um advogado cristão quedesapareceu de sua casa em Pequim, onde se encontrava sob prisão domiciliária, nasequência da sua condenação, por esta altura no ano passado, por “subversão”.

Embora esteja ciente de que o seu nome foi um dos evocados no diálogo, penso que umdos problemas com que nos deparamos nesta Assembleia se prende com o diálogo. Emboraregiste que a Senhora Comissária afirma que se tratou de um intercâmbio de opiniõessincero e profundo – e estou certo de que assim foi por parte dos europeus –, não estouconvicto de que tenha sido esse o caso da parte dos chineses. A minha experiência – desde

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o tempo em que fui relator UE-China em 1997, há 10 anos, quando o processo começou– diz-me que nada se produziu em termos de direitos humanos na China no sentido deuma melhoria da vida das pessoas, da libertação dos detidos, da erradicação da tortura, oudas detenções maciças, de que nos deu conta Harry Wu da Fundação Laogai. Este estimaque existam hoje 6,8 milhões de pessoas detidas, de uma ou outra forma, na China, muitasdelas por convicções religiosas – e penso aqui especialmente nos seguidores do Falun Gong,que, sem culpa, são torturados, e muitos deles mortos, pelas suas crenças.

Gostaria ainda de reflectir sobre a iminência dos Jogos Olímpicos. Não deveríamos esquecerque o artigo 1º da Carta Olímpica refere que os países deverão impor “o respeito pelosprincípios éticos fundamentais e universais”. Isso só tem um significado: que a China nãopode ser considerada como anfitriã adequada para estes Jogos, especialmente tendo emconta que, fundamentalmente, nada mudou desde 2001. Espero que a totalidade dos gruposapoie a resolução comum, que exorta a uma avaliação pelo COI do grau de cumprimento,por parte da China, das condições acordadas em 2001. Receio que se encontrem falhas.Entendo que os Jogos Olímpicos deveriam ser transferidos doravante para Atenas epermanecer nessa cidade para sempre.

Hannes Swoboda, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhora Presidente, para ir direito aoassunto, eu entendo que os Jogos olímpicos devem realizar-se na China por que temos,assim, uma excelente oportunidade para usar precisamente este evento no sentido de forçarum diálogo com a China. Este ponto encontra-se na declaração conjunta, Senhor DeputadoMcMillan-Scott, e se o senhor mantém a opinião que manifestou, nesse caso está contra adeclaração conjunta.

Senhora Comissária Ferrero-Waldner, uma das suas homólogas, Madeleine Albright,observou, quando era Secretária de Estado do EUA, que era naturalmente muito mais difícillevantar questões de direitos humanos na China do que na Birmânia, pois na China osfactores geopolíticos faziam parte da equação. É um facto que precisamos da China comoparceiro, na busca de solução para muitos problemas à escala global. Esse aspecto, contudonão pode impedir-nos de levantar a questão dos direitos humanos e de a discutir emprofundidade, embora não necessariamente em tom de mestre-escola ou de quem já sabetudo. Fico muito satisfeito por a Carta dos Direitos Fundamentais ter sido assinada hoje,dado que muito oradores se referiram ao facto de não termos o direito de abordar questõesde direitos humanos a menos que nós próprios tenhamos um bom registo nessa matériade respeito pelos direitos humanos. É do interesse da China não espezinhar os direitoshumanos, estamos convencidos disso, será melhor para este país respeitá-losconvenientemente.

A China quer estabilidade e como vai manter-se estável se esta questão não for levantadaum pouco mais energicamente? Não queremos que a China colapse; não faz sentidoquerermos reconstruir a Europa ao mesmo tempo que procuramos destruir a China, masefectivamente, o não respeito pelo direitos humanos coloca a estabilidade da China emrisco. Queremos que a China seja governada de acordo com os princípios da justiça social,no contexto do processo de crescimento gigantesco, ao qual o Senhor Presidente Barrosoaludiu, a única forma de salvaguardar a estabilidade é tendo em conta os factores sociais.No entanto, é impossível que os direitos sociais sejam respeitados quando as pessoas nãopodem formar sindicatos ou lançar iniciativas de cidadania.

Queremos que a China se concentre mais aturadamente nas questões ambientais, pois oambiente constitui um bem importante à escala global. Sabemos que muitas iniciativas

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estão a ganhar forma na China com a finalidade da realização de um protesto em massacontra a violação das normas ambientais mínimas. Seria bom para a China se escutasseestas vozes, estaria a dar um passo em frente.

Por estas razões, creio que não se trata de arrogância europeia, mas de protegermos osnossos interesse comuns. No interesse da China, vamos levantar a questão dos direitoshumanos e os políticos chineses esclarecidos fariam bem em escutar, dando ouvidos a estaresolução, pois seria algo no seu interesse, além de promover o seu avanço, algo que lhevai ser difícil a menos que respeite os direitos humanos.

Graham Watson, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhora Presidente, admiro muitoa contribuição da China para o desenvolvimento da civilização mundial. Em matéria detecnologia, sociedade e cultura, a China contribuiu provavelmente mais do que qualqueroutro país para o desenvolvimento da Humanidade.

Lamento que a crescente maturidade económica da China não seja acompanhada por umamaturidade política crescente. Mas lamento também que a União Europeia não pressionea China na direcção correcta.

Há dois dias, no 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Uniãoproclamou o seu compromisso para com a “promoção e protecção dos direitos humanosem todo o mundo como pedra angular da nossa política de acção externa”.

E, no entanto, há duas semanas, José Manuel Barroso e José Sócrates deixaram a Cimeiramais cedo, depois de assegurados os interesses económicos da Europa, deixando aosfuncionários a tarefa de negociar as conclusões – conclusões que, sem surpresa, poucareferência faziam aos direitos humanos, apoiavam o levantamento do embargo aoarmamento e se opunham à proposta de adesão de Taiwan às Nações Unidas. Fizerammuito para enfraquecer as palavras cuidadosamente escolhidas por Javier Solana no mêsanterior.

Pergunto-me para onde caminhará o mundo quando a União Europeia, a auto-proclamadadefensora dos direitos humanos universais, interdependentes e indivisíveis, se exime de sepronunciar claramente contra um dos priores violadores de direitos humanos do mundo.

Suspeito que tanto os chineses como outros possam vir a lamentar a decisão de fazer dacidade de Pequim anfitriã dos Jogos Olímpicos. As próprias autoridades chinesasprometeram um maior clima de liberdade e abertura. E, no entanto, alguns membros daorganização Human Rights Watch sugerem que as violações aumentaram nos últimos seteanos. A China não só continua a executar mais pessoas do que o resto do mundo no seuconjunto, como, para além disso, reforçou drasticamente a repressão dos dissidentesinternos e da liberdade dos meios de comunicação social no período que antecede os Jogos.

Estes factos violam o espírito da Carta Olímpica. Contrariam directamente os compromissosassumidos pelas próprias autoridades de Pequim no contrato relativo à cidade organizadora,que assinaram com o Comité Olímpico Internacional.

Este contrato não foi tornado público. Porquê? Porque, se o mundo se desse conta do totale completo divórcio entre as promessas chinesas e as práticas chinesas, não teria qualqueroutra opção que não fosse boicotar Pequim da mesma forma como boicotou a África doSul do apartheid.

Não acredito em boicotes. Sempre defendi que entabular relações com uma Chinaempenhada em fazer reformas e a permitir a abertura seria mais frutífero do que ameaças

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vãs. Mas o Presidente Hu Jintao tem de aceitar que um acordo é um acordo. O contrato deobrigações assinado como Cidade Organizadora dos Jogos, a cláusula relativa aos direitoshumanos na Constituição chinesa, a Declaração Universal dos Direitos Humanos – estassão promessas feitas aos cidadãos chineses. Se a China quer que os Jogos Olímpicos provema sua legitimidade e credibilidade aos olhos do mundo, então, em contrapartida, tem dedemonstrar estar disposta a honrar os seus compromissos em matéria de direitos humanos:melhorando a liberdade dos meios de comunicação social, em conformidade com aspromessas olímpicas, suspendendo a pena de morte, em consonância com as exigênciasdas Nações Unidas, pondo fim ao seu apoio a ditadores militares da Birmânia a Darfur epermitindo eleições por sufrágio universal directo em Hong Kong. É assim que a Chinapoderá conquistar o seu lugar no coração da comunidade internacional.

Konrad Szymański, em nome do Grupo UEN . – (PL) Senhora Presidente, a RepúblicaPopular da China é um país que consta de todas as listas de violações dos direitos humanos,quer se trate de liberdade de expressão e associação como de abortos forçados,desaparecimentos, tortura, atentados contra a liberdade religiosa ou ameaças de agressãoa Taiwan.

A China continua a perseguir fiéis da igreja católica. Um relatório de David Kilgour, antigoSecretário de Estado do governo canadiano para os assuntos asiáticos, revela que um dosgrupos mais reprimidos desde 1999 é o Falun Gong. Alguns dos seus membros foramvítimas de roubo de órgãos em campos de trabalho chineses. Pessoas cujo único crimeconsistiu num encontro com um vice-presidente deste Parlamento, o senhor deputadoMcMillan-Scott, desapareceram recentemente sem deixar rasto.

Enquanto isto, as nossas relações comerciais estão florescentes. A China está a estender asua influência ao continente africano e vai acolher em breve milhões de pessoas nos JogosOlímpicos. Não posso compreender que não tenha sido dada até hoje a este país a respostamais evidente: o mundo livre deve boicotar os Jogos Olímpicos de 2008.

Hélène Flautre, em nome do grupo Verts/ALE . - (FR) Senhora Presidente, estamos hoje adiscutir com a Senhora Comissária Ferrero-Waldner, facto com que me congratulo. Ditoisto, a União Europeia, na 10.ª Cimeira UE-China, que se realizou em Pequim em 28 deNovembro, estava representada pelo seu Presidente, pelo Comissário responsável pelocomércio externo e pelo Comissário responsável pelos assuntos económicos e monetários.

É um facto que, desde 2000, as trocas comerciais entre a União Europeia e a Chinaaumentaram 150% e que, infelizmente, é muito mais difícil elaborar estatísticas sobre oagravamento da situação dos direitos humanos na China. Não existe qualquer tabu emdiscutir questões ligadas aos direitos humanos em simultâneo com as ligadas ao comércio.É fácil verificar a relação que existe entre estas últimas e, por exemplo, a liberdade sindical,a capacidade de os trabalhadores na China se mobilizarem, de reivindicarem melhorescondições de trabalho. Esta atitude global é lamentável, tanto mais que está a fazer-nosperder o comboio, quando a decisão de 2001 prometia a abertura da China e progressosno domínio dos direitos humanos e da democracia. A população chinesa está à espera daconcretização dessa promessa, que nos tem pedido insistentemente.

A sua aspiração à abertura graças à organização dos Jogos Olímpicos é negada, deixandoum profundo amargo de boca. Não só os Jogos não passaram, até agora, de uma ocasiãopara reforçar uma política de repressão que está a intensificar-se, como, pior ainda, a própriaorganização dos jogos implica efeitos perversos e é pretexto para graves violações. Estoua pensar nas expropriações forçadas ou na exploração da mão-de-obra dos migrantes. O

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que não é nada de espantar quando se sabe, pelo dissidente Hu Jia, que é o chefe do Gabinetede Segurança de Pequim quem está encarregue da organização dos Jogos Olímpicos emPequim.

Talvez venhamos a dispor enfim de meios para nos espantarmos e denunciarmos a situaçãoquando as medidas de intimidação e de repressão visarem ainda mais drasticamente osjornalistas estrangeiros, o que já começou, pois já estão a ser impedidos de trabalhar. Adetenção, por exemplo, de dois jornalistas da Agência France-Presse, em 12 de Setembro,mostra que a regulamentação criada em Janeiro de 2007 só ocasionalmente é aplicada, eapenas na medida em que os assuntos tratados não são embaraçosos para o regime. Oscompromissos assumidos pela China ficaram na gaveta e os seus esforços para os infringirvão até ao estabelecimento de listas negras. Existe neste momento uma lista negra com 42categorias de pessoas consideradas como persona non grata durante os Jogos Olímpicos,do Dalaï Lama a Falun Gong, passando pelos dissidentes do regime.

Este ano, em Janeiro, foi iniciada a negociação de um novo acordo-quadro UE-China.Congratulamo-nos com o facto, pois um novo acordo significa uma nova cláusula "direitoshumanos e democracia" Significa um novo espaço de intercâmbios sobre os direitoshumanos com as autoridades chinesas. Dito isto, 2007 foi também o ano que assistiu àanulação do seminário jurídico que prepara o diálogo "direitos humanos", pois asautoridades chinesas recusaram a participação de duas organizações não governamentaiscomo a ONG, bem conhecida, de Sharon Hom, militante pelos direitos humanos. A firmezada União nessa altura era absolutamente salutar. Ao mesmo tempo, evidentemente, colocaa questão do prosseguimento desse tipo de seminários. A nossa posição é a de que devemosfazer ambos. É importante prosseguir a organização de seminários jurídicos.Simultaneamente, não podemos aceitar as imposições das autoridades chinesas sobre aparticipação nesses seminários.

Koenraad Dillen (NI). - (NL) Senhoras e Senhores Deputados, nas últimas décadas, estaCâmara tem sido palco de muitas declarações inflamadas sobre os direitos humanos. Aproclamação da Carta dos Direitos Fundamentais veio, uma vez mais, obrigar-nos a centraras nossas atenções na essência do que é verdadeiramente a Europa. Somos uma comunidadede valores que assenta na solidariedade, na tolerância e no respeito dos direitos humanos.

Pelo menos, é essa a teoria; mas a realidade é bastante diferente. E o lema da União Europeiasobre os direitos humanos deveria mesmo ser bastante diferente. Nas últimas semanasficou bem claro que aqueles que estão fartos de ouvir falar nos direitos humanos são quasesempre os mesmos que aplicam aquele outro princípio da Realpolitik, nomeadamente oerst das Fressen, dann die Moral, ou seja “primeiro a comida e depois a moral”, como diriaBertolt Brecht.

Em Paris, Nicolas Sarkozy, a troco de contratos lucrativos, vai estender a passadeira vermelhaa um assassino em massa que, ainda há poucos dias, tentou legitimar o terrorismo,vangloriando-se de que não desperdiçava palavras a falar acerca dos direitos humanos noseu país. Em Lisboa, um tirano sanguinário como Mugabe é recebido com todas as honras,porque temos de olhar pelos nossos interesses comerciais também em África.

Na China, estamos a seguir pelo mesmo caminho. No ano passado, a Amnistia Internacionaldivulgou que Pequim está a ficar para trás em questões fundamentais como a pena demorte, os procedimentos judiciais, a liberdade de imprensa e a liberdade de circulação dosactivistas dos direitos humanos. Entretanto, segundo a Amnistia Internacional, a capitalchinesa está a ser objecto de uma remodelação sofisticada. A reeducação através dos

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trabalhos forçados e do encarceramento sem uma acusação formal está agora a ser utilizadapara punir delitos como a afixação não autorizada de cartazes, a condução de táxis semlicença e a mendicidade, para referir apenas alguns.

Os activistas dos direitos humanos irão ser silenciados, mas, no próximo ano, os estádiosirão estar resplandecentes, Senhoras e Senhores Deputados. Irão ser muitas as figuras dedestaque europeias a puxar os cordelinhos para obterem lugares na primeira fila nacerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. E quando chegarem a casa irão, certamente,continuar a lutar contra o extremismo na Europa. É verdadeiramente repugnante.

Laima Liucija Andrikienė (PPE-DE). – (LT) É impossível negar que desde 1998, quandose iniciaram as cimeiras entre a China e a Europa, as relações entre a UE e a China – a nívelpolítico, económico, comercial e de investigação científica – têm-se desenvolvidointensamente e evoluíram para uma parceria estratégica. No entanto, as parceriasestratégicas, como as entendemos, baseiam-se em valores comuns, respeito pela democraciae pelos direitos humanos.

O respeito pelos direitos humanos foi sempre e continua a ser o alicerce da construção daEuropa. Não é uma declaração circunstancial, como claramente demonstra a história demais de meio século da UE. Chegou o momento de todos os países, os parceiros da UE,compreenderem que existem coisas de que a UE nunca abrirá mão e nunca abandonará.Como tal, gostaria de referir que há várias horas atrás, nesta mesma sala, foi assinado umdocumento histórico – a Carta Europeia dos Direitos Fundamentais.

E aproveito para mencionar que certas questões têm um impacto negativo nodesenvolvimento das relações UE-China e que a chave para resolver estes problemas namaioria dos casos está nas mãos das autoridades chinesas.

Durante as nossas conversações com as autoridades chinesas, mesmo durante as negociaçõessobre os acordos de cooperação económicos e de comércio, nós recordámos sempre enunca esqueceremos que na China as pessoas continuam a sofrer nas prisões devido àssuas opiniões políticas e à sua religião e pertença a grupos étnicos minoritários, e por crimeseconómicos, tais como a evasão fiscal, são condenadas à pena de morte.

Nos últimos anos, com a aproximação dos Jogos Olímpicos de Pequim, tivemosconhecimento de outros “desenvolvimentos” tais como o facto do alojamento das pessoasestar a ser demolido sem lugar a indemnização, para libertar terreno para a construção dasestruturas olímpicas, e a existência de uma lista de 42 categorias de pessoas a quem nãodeverá ser permitido assistirem aos Jogos Olímpicos, incluindo o Dalai Lama, os seusseguidores e os defensores dos direitos humanos.

Só posso dizer uma coisa: é algo que está absolutamente em contradição com a tradiçãoe com o espírito dos Jogos Olímpicos. A minha sugestão seria por isso cancelar estas listas,que não ajudam a China em nada, e assegurar que em honra dos Jogos Olímpicos todosos prisioneiros políticos e de consciência serão libertados e será declarada uma moratóriana pena de morte.

Lamento que a reunião da cimeira UE-China em Pequim tenha falhado em tornar-se umacontecimento histórico e que os participantes não tenham sido o tipo de políticos capazesde revolucionar as relações UE-China. Faltou apenas uma coisa: maior consideração erespeito pelas pessoas e pelos seus direitos.

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Glyn Ford (PSE). - (EN) Senhora Presidente, intervenho neste debate sobre a CimeiraUE-China e sobre o diálogo entre a UE e a China em matéria de direitos humanos, emboraa julgar pelas resoluções apresentadas por alguns dos grupos políticos nesta Assembleia,a primeira parte deste debate pareça não ter existido.

É absolutamente correcto que interpelemos a China quanto à questão dos direitos humanos.A situação dos direitos humanos na China está longe de ser aceitável. A China continua arecorrer à pena de morte, como a Senhora Comissária Ferrero-Waldner afirmou na suaintervenção de abertura. Reprime as organizações que defendem a autonomia do Tibete,os grupos religiosos, à excepção de um número muito pequeno de grupos oficialmenteautorizados, assim como outros grupos que defendem as suas religiões, promovem aliberdade de imprensa e tentam organizar sindicatos. Encontramos ainda a barreiraintransponível das centenas de milhões de trabalhadores migrantes que, na China, tentamorganizar-se para pôr fim à exploração e promover normas laborais decentes.

No entanto, nesta Assembleia são muitos os que se negam a reconhecer quaisquer dosprogressos feitos pela China ao longo das últimas duas décadas. A situação dos direitoshumanos na China, a meu ver, embora longe de aceitável, está bem melhor do que nosdias da Praça Tiananmen. Como a Senhora Comissária referiu, a pena de morte, porexemplo, exige agora a confirmação por parte do Supremo Tribunal Chinês. A minhaprópria experiência diz-me que existe hoje na China um elevado grau de liberdade depensamento, mas não de liberdade de organização, pois esta continua a ser a condição sinequa non no que toca àquilo que a China e as autoridades chinesas efectivamente proíbem.

É preciso que continuemos a pressionar a China a este respeito, mas uma recusa emreconhecer quaisquer progressos desencorajará decisivamente as forças progressistas eliberais que, de dentro do próprio regime, tentam fomentar a mudança, porque não verãoreconhecidos os esforços que já desenvolveram.

A China é hoje uma potência económica, industrial e política mundial. A UE necessita demanter relações críticas que censurem devidamente a China nos casos em que ageincorrectamente, em que deve progredir, e que, ao mesmo tempo, envolvam o país numdiálogo sobre a forma de abordar o aquecimento global, os impactos negativos daglobalização, o desenvolvimento de África e a luta contra o terrorismo.

Dirk Sterckx (ALDE). - (NL) Senhora Presidente, congratulo-me vivamente com umaparceria estratégica com a China. É com grande satisfação que verifico que temos,presentemente, mais do que apenas laços económicos e que os intercâmbios culturais entrenós, por exemplo, têm registado um enorme desenvolvimento nos últimos anos. Estoumuito feliz por constatar que está a ser prestada tanta atenção à dimensão política e passoa citar um exemplo.

África: temos de manter a nossa relação com a China relativamente à sua política em Áfricae agora dispomos de um fórum onde podemos fazê-lo. Estou muito satisfeito por o SenhorComissário Michel ir em breve a Pequim para tratar deste e de outros assuntos. E parece-memuito bom o facto de estarmos cada vez mais a trabalhar em conjunto em questões denatureza económica. Mas estou muito preocupado com os desequilíbrios da nossa relaçãoeconómica.

Por exemplo, não encontro qualquer referência ao facto de que deveríamos fazer mais paratransmitir a nossa experiência do nosso mercado único aos chineses que, desse modo,poderiam melhorar consideravelmente o seu próprio mercado. O mesmo se passa com a

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política regional, no que diz respeito à eliminação das diferenças regionais. Temosexperiência nestes domínios. Já aprendemos algumas lições. Mas não me parece que oschineses estejam muito dispostos a ir por esse caminho.

O senhor Comissário Mandelson afirmou que existe alguma incerteza no que respeita ainvestir na China e que isto prejudica as nossas exportações para esse país e prejudicatambém o crescimento económico chinês. Acho que tem razão. Para que a economia possaprosperar, é necessário o Estado de direito, é necessária certeza. É necessário nas questõesde propriedade intelectual, na segurança dos produtos ou na gestão de capitais. Mas tambémprecisamos, obviamente, do Estado de direito no domínio dos direitos humanos individuais.Isso é tão ou mais importante.

Congratulo-me com o facto de irmos ter um relatório sobre o diálogo acerca dos direitoshumanos. Penso que isso deveria acontecer sempre. Tal como a Senhora Comissária, vejosinais de esperança, mas o Parlamento Europeu tem de manter a tónica em um ou doispontos que ainda não foram resolvidos: a liberdade de expressão, a política relativa àsminorias, os trabalhos forçados que, lamentavelmente, ainda continuam, o abuso de poderque, lamentavelmente, ainda ocorre com demasiada frequência e a pena de morte quecontinua a existir. Nós, enquanto Parlamento Europeu, temos de continuar a insistir sobreestes aspectos e devemos fazê-lo incessantemente.

Helga Trüpel (Verts/ALE). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,creio que nos defrontamos mais uma vez com a questão de encontrar a forma certa delidar politicamente com a China. O senhor deputado Sterckx acabou acertadamente dereferir a parceria estratégica. Creio que esse é um objectivos bastante desejável, mas temosde ser realistas, pois, manifestamente, ainda não nos encontramos a esse nível nestemomento: não temos uma base de valores partilhados – direitos humanos, tratamentojusto das minorias, rejeição da pena de morte – sobre a qual possamos construir umagenuína parceria.

Creio – e digo-o como deputada alemã pelos Verdes – que foi absolutamente correcto ofacto de a Chanceler Angela Merkel ter recebido o Dalai Lama, pois tal demonstra queestamos conscientes do que estamos a dizer quando falamos em direitos humanos.

Por outro lado, há algo que não considero correcto. Quando o Presidente Sarkozy aquifalou recentemente, disse-nos que os direitos humanos deviam ser a marca da UniãoEuropeia, mas dali a três semanas viajou para a China e lá não falou em direitos humanos.Temos duplicidades europeias que não devíamos tolerar.

Acredito fervorosamente que o nosso diálogo com a China, que apoio e que devíamos tera vontade política de prosseguir, não pode ser só conversa, pois tem de incluir algumaconfrontação. Se combinarmos estes factores e abordarmos a China, também seguros denós próprios, vamos ter de manifestar abertamente algumas críticas. Também no contextodos Jogos Olímpicos, os chineses terão de atingir os objectivos que estabeleceram para sipróprios e nós, europeus, temos de ser corajosos e sinceros e criticá-los, se for caso disso.

Tunne Kelam (PPE-DE). - (EN) Senhora Presidente, há algumas horas, o Presidente doParlamento Europeu assinou a Carta dos Direitos Fundamentais e declarou que “temosuma obrigação moral e política de defender a dignidade humana. Isso aplica-se a qualquerser humanos deste mundo”. E o senhor Primeiro-Ministro português afirmou que “a Cartafaz parte da política externa da UE”.

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Permitam-me que regresse à China. Entendemos que, ao converter-se no país anfitrião dosJogos Olímpicos, a China se comprometeu a respeitar escrupulosamente, quer o idealolímpico da dignidade humana, quer os direitos humanos internacionalmente garantidos.

O Parlamento Europeu tem agora de concluir que se registou ultimamente um aumentodo número de perseguições políticas directamente relacionado com os Jogos Olímpicos.Para além disso, o número de pessoas executadas na China é superior ao total das execuçõesdo resto do mundo – cerca de 10 000 por ano.

Continuam a ser detidos defensores da dignidade humana, e praticamente sete milhões depessoas são torturadas nos conhecidos campos de Laogai.

Que deveremos nós fazer? Penso que a resposta foi dada aqui, ontem, por Salih MahmoudOsman, laureado com o Prémio Sakharov, que nos disse que exercêssemos mais pressãosobre os governos em causa: que fizéssemos algo em concreto. Compreendemos o que épecar por omissão – a responsabilidade por não termos feito aquilo que poderíamos terfeito. Não basta expressar a nossa preocupação; é tempo de aplicar o princípio dacondicionalidade e declarar, como o nosso colega Graham Watson referiu: um acordo éum acordo.

A única forma de obrigar os ditadores comunistas da China a respeitarem mais os seuscidadãos é enviar um sinal de que levamos suficientemente a sério os nossos valores dasolidariedade e da dignidade humana para fazer com que os ditadores sintam na pele opreço dos seus abusos e da sua arrogância.

Józef Pinior (PSE). - (PL) Senhora Presidente, o Parlamento Europeu tem denunciadofrequentes vezes a violação dos direitos humanos na China e a falta de democracia nestepaís. São factos evidentes. Ainda ontem, ao discutirmos o relatório de direitos humanosda União Europeia relativo ao ano passado, falámos na situação de direitos humanos naChina bem como da inexistência da democracia e do estado de direito neste país.

Por outro lado, não me parece justo ignorar as mudanças positivas que estão a ocorrer naChina. A União Europeia deve aproveitar ao máximo o próximo ano, em que se realizamos Jogos Olímpicos, para pressionar as autoridades chinesas no sentido da liberalizaçãodo país, democratização, defesa do estado de direito e libertação dos prisioneiros políticos.

No dia 20 de Novembro, uma delegação do Parlamento Europeu à Subcomissão de DireitosHumanos da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque avistou-se com Liu Zhenmin,o representante da China na ONU. Considero que foi um encontro positivo. A parte chinesadeu sinais de abertura e mostrou-se sensível às pressões relativas aos direitos humanos eà democracia, facto que também foi sublinhado por representantes da Human Rights Watche da Amnistia Internacional num encontro com a delegação do PE.

István Szent-Iványi (ALDE). - (HU) Senhora Presidente, Senhor Comissário, milharesde milhões de pessoas aguardam o dia 8 de Agosto de 2008, a abertura dos Jogos Olímpicos,com grande interesse. Irão assistir não apenas os amantes do desporto mas também aquelesque esperam progressos por parte da China na área dos direitos humanos. Infelizmente,não podemos estar satisfeitos com os progressos até à data. O Partido Comunista chinêspode congratular-se, pois deve ter conseguido grande sucesso na legitimação do poder.Mas também nós, temos a oportunidade de aproveitar ao máximo o período que antecedeos Jogos Olímpicos e de seriamente exigir uma explicação pela impunidade existente naárea dos direitos humanos. O diálogo União Europeia-China sobre os direitos humanosexiste há 24 anos. Infelizmente, o seu balanço não é nada positivo. Existe algum progresso,

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por exemplo na área da aplicação da pena de morte, mas em muitas áreas há uma fortesensação de recuo, tais como a liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdadecibernética. Para que nós consigamos provocar a mudança temos de mudar igualmente odiálogo sobre direitos humanos.

Primeiro, temos de dizer que o diálogo sobre direitos humanos não é o único fórum parasuscitar este tipo de problemas. Cada um dos Estados-Membros está igualmente obrigadoa agir de forma rigorosa e firme relativamente a estas questões no âmbito das relaçõesbilaterais.

Segundo, tem de se assegurar a presença de organizações civis e a transparência nasnegociações. A transparência é muito importante para conseguirmos acompanhar o queaí está a acontecer. Visto que o diálogo não é um objectivo em si, só é significativo se derum bom contributo para a melhoria da situação dos direitos humanos na China.

Por último, gostaria de abordar a situação da minoria Uyghur. Fala-se pouco deles e sãouma minoria esquecida. Não são apenas afectados pela opressão em geral na China massão igualmente vítimas de discriminação étnica, religiosa e linguística. Eu insto-os a agiremigualmente no seu interesse. Obrigado.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE). – (ES) Senhora Presidente, gostaria de aproveitaresta oportunidade para deixar dois avisos aos governos europeus.

O primeiro tem a ver com o tantas vezes falado levantamento do embargo de armas àChina. Gostaria de assinalar que esta Câmara insistiu com frequência em que essa proibiçãosó devia ser levantada quando se registassem progressos verdadeiros e significativosrelativamente à situação das pessoas que foram detidas na sequência dos acontecimentosque tiveram lugar na Praça Tiananmen em 1989, não progressos em termos gerais, masespecificamente em relação a esta matéria, pois é isso que esperamos das autoridadeschinesas neste momento: progressos significativos que nos permitam dar esse passo.

Até lá, penso que o levantamento de um embargo – que, repito, foi imposto, na altura, porrazões muito específicas que ainda não foram de todo esclarecidas – seria não só prematuro,como transmitiria também uma mensagem totalmente errada e uma imagem muito negativada União Europeia.

A segunda mensagem que gostaria de deixar – referendando, também, a opinião da minhacolega Helga Trüpel - é que é inaceitável que certos países europeus se submetam, e porvezes sucumbam, à pressão exercida pelas autoridades chinesas no sentido não se reuniremformalmente com personalidades chinesas importantes, em alguns casos dissidentes ourepresentantes como o Dalai Lama, em troca da garantia de relações comerciais com aChina.

Especialmente hoje, que assinámos a Carta dos Direitos Fundamentais, isto é totalmentecontrário aos princípios éticos fundamentais que procuramos impor na União Europeia.

Ana Maria Gomes (PSE). - Na Cimeira a Europa falou claro sobre como a China perverteregras da OMC, desrespeitando direitos laborais, exportando produtos nocivos para asaúde, pirateando tecnologia e dificultando o acesso europeu ao mercado chinês. Osdirigentes chineses não estavam habituados a ouvir a UE falar tão francamente e retaliaram,retendo por uns dias a declaração conjunta, mas a liderança europeia lamentavelmentenão se aguentou no balanço, não só fez concessões inaceitáveis sobre o referendo emTaiwan, que não contradiz a "One China Policy", como se absteve de confrontar Pequim

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com graves problemas de direitos humanos. Porque não houve tempo, disse o PresidenteJosé Sócrates a jornalistas portugueses, talvez se fale nisso ao jantar.

Pena de morte, libertação de presos desde o massacre de Tianamen, uma das razões porqueeste Parlamento defende a manutenção do embargo de armas à China. Detenções ejulgamentos arbitrários, corrupção e despejos forçados, perseguição e repressão dejornalistas e utilizadores da Internet, repressão de tibetanos e de minorias, responsabilidadesnas tragédias do Darfur e da Birmânia. Nenhuma destas questões fundamentais esteve naordem do dia da Cimeira. Claro que não é só a UE que tem que pedir contas a Beijing porrealizar os Jogos Olímpicos de 2008. Se o Comité Olímpico Internacional mede como estáa qualidade do ar, porque não avalia Beijing quanto ao respeito pela ética olímpica face aosseus cidadãos e aos estrangeiros? Ninguém, e muito menos o Conselho e a Comissão daUE, podem continuar a secundarizar a luta pelas liberdades e os direitos humanos na China.Essa é uma maratona que o enquadramento olímpico de 2008 só irá estimular. Ela nãoafecta apenas milhões e milhões de chineses, mas terá consequências para toda aHumanidade.

Milan Horáček (Verts/ALE). - (DE) Senhora Presidente, há onze anos que o diálogosobre os direitos humanos entre a UE e a China se realiza duas vezes por ano à porta fechadae, ainda assim, nada fez para melhorar a situação dos direitos humanos na China. As notíciassobre execuções, tortura nas prisões e nos campos de trabalho, bem como a opressão dostibetanos mostram claramente que nós, os europeus, não estamos à altura da nossaresponsabilidade.

Os Jogos Olímpicos estão à porta e constituem uma boa razão para a China provar o seuverdadeiro empenho no processo de reforma. Ao mesmo tempo, nós também não devemospraticar uma política de dois pesos e de duas medidas. Considero muito positivo o factode a Chanceler federal Angela Merkel ter recebido o Dalai Lama apesar das fortes críticas.Seria uma atitude lógica os dirigentes da Bélgica, de França e de outros países seguirem oseu exemplo. A UE é conhecida mundialmente por ser a voz dos direitos humanos e já émais do que tempo de actuarmos de forma coerente em qualquer contexto, incluindo nonosso diálogo com a China.

Alexandra Dobolyi (PSE). - (EN) Senhora Presidente, realizamos hoje um debate sobrea Cimeira UE-China, que teve lugar há dez dias, e sobre a 24ª Ronda do Diálogo UE-Chinasobre os Direitos Humanos, que teve lugar há dois meses.

Especialmente hoje, permitam-me que comece pela segunda. O respeito pelos direitoshumanos e pelas liberdades fundamentais é um princípio essencial da UE e das suas políticase algo que apoiamos e nos é, a todos nós, muito caro. Porém, sou daquelas que pensamque a UE deveria seguir uma abordagem orientada para os resultados na promoção dorespeito pelos direitos humanos, em vez de uma abordagem assente meramente nosprincípios e, mais importante ainda, que pensam que temos de aceitar que as melhoriassó se produzirão passo a passo. Isso não significa que a UE deva hesitar em expressar assuas críticas e em utilizar o seu poder para insistir nas reformas democráticas.

Sou igualmente daquelas que se preocupam com um elevado nível de segurança dosprodutos que afectam 550 milhões de cidadãos europeus; que se preocupam com odesequilíbrio comercial, com um acesso efectivo ao mercado, com os direitos de propriedadeintelectual e as políticas internacionais da concorrência que afectam milhares de empresaseuropeias e milhões de trabalhadores europeus; e que se preocupam com a cooperação e

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a protecção do ambiente, a governação internacional do ambiente e as alterações climáticasque afectam toda a população da Terra.

Porque nos preocupa tudo o que acabo de expor, apoiamos com veemência a Comissão,o Conselho e a Presidência por abordarem, negociarem e salientarem continuamente cadauma destas questões no diálogo regular que mantêm com a China. Uma leitura simplesdas 18 páginas da declaração conjunta da última cimeira UE-China é suficiente paracompreender que a complexidade, sensibilidade e importância da cooperação entre a UEe a China...

(O Presidente retira a palavra à oradora)

Benita Ferrero-Waldner, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, este debatemostra uma vez mais que as mudanças sociais levam tempo, e penso que temos semprede ter presente de onde vem a China. Considero também que devemos reconhecer umcerto progresso, como disse no início. Porém, ao mesmo tempo, é verdade que a Chinaainda não está onde gostaríamos de a ver.

Por conseguinte, entendo que o Diálogo sobre Direitos Humanos – acompanhamos tambémpelo seminário das ONG – continua a ser a pedra angular para abordar com a China asnossas preocupações em matéria de direitos humanos.

Penso, no entanto, que temos de ser determinados, mas igualmente realistas. Determinadosem convencer a China que é do seu próprio interesse respeitar cabalmente os direitoshumanos em todos os domínios. Realistas, porque é preciso que reconheçamos que sóatravés do envolvimento e dos esforços de longo prazo poderemos, de facto, esperarconseguir verdadeiras reformas na China. Neste contexto, gostaria igualmente de dizerque realização contínua do seminário das ONG é de interesse mútuo, quer para a China,quer para a União Europeia. É também isso que a Cimeira acaba de confirmar.

Creio, portanto, que existem boas hipóteses de, sob Presidência eslovena, conseguirmosretomar, a par do próximo Diálogo sobre Direitos Humanos, este seminário da sociedadecivil.

Quanto a uma série de outras questões, permitam-me que diga apenas que os direitoshumanos também foram evocados na declaração conjunta, e referirei apenas as primeiraslinhas. “Ambas as partes reiteram o seu compromisso para com a promoção e protecçãodos direitos humanos, continuando a conferir um elevado valor ao Diálogo sobre DireitosHumanos UE-China, incluindo o seminário legal paralelo”. Como vêem: aí está. Salientama importância de passos concretos no campo dos direitos humanos e afirmam o seucompromisso de continuar a reforçar o diálogo, etc.

Gostaria ainda de dizer que há alguns aspectos concretos, salientados neste debate,relativamente aos quais queremos ver progressos, como a questão do Falun Gong. Asituação dos seguidores do Falun Gong sujeitos a repressão devido às suas crenças, continuaa ser motivo de preocupação para nós. Levantámos estas questões por diversas vezes e,mais especialmente, por ocasião das sessões do diálogo sobre Direitos Humanos. Exortámos,e continuamos a fazê-lo, as autoridades Chinesas a porem fim ao tratamento severo quereservam aos seguidores do Falun Gong.

Quanto à pena de morte, Já disse anteriormente que esta questão possui elevada prioridadena nossa agenda, e neste contexto temos instado a China – e continuaremos a fazê-lo – areduzir o âmbito de aplicação da pena capital, com vista acabar por aboli-la.

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Um primeiro passo seria a imposição de uma moratória à sua aplicação. Posteriormente,como disse nos meus comentários iniciais, proceder-se-ia a uma revisão das sentenças depena de morte por parte do Supremo Tribunal, com uma monitorização contínua.

Considero que o debate mostrou muito claramente um retrato misto da China: existemprogressos, mas há ainda muito a fazer, e quero apenas dizer que continuaremos o nossorelacionamento com a China com vista a encorajar o país a avançar. Entendo que os JogosOlímpicos serão uma boa oportunidade para que a China mostre ter realizado maisprogressos.

Presidente. - Recebi seis propostas resolução (1) , apresentadas nos termos do n.º 2 doartigo 103.º do Regimento.

Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

12. Combater o crescimento do extremismo na Europa (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre o combate aocrescimento do extremismo na Europa.

Franco Frattini, Membro da Comissão . − (IT) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, em primeiro lugar, permitam-me que manifeste a minha grande preocupaçãopessoal com o aumento, na Europa, de actividades que se atribuem necessariamente agrupos e organizações extremistas e violentas.

Por conseguinte, na minha opinião, o debate de hoje é extremamente importante, porquenão é só o extremismo que conduz a actos terroristas – extremismo de que temos faladovariadíssimas vezes nesta Assembleia – são também aquelas actividades e fenómenos quedevem ser vistos mais adequadamente como racismo, anti-semitismo, xenofobia,extremismo nacionalista, islamofobia, todas essas formas de intolerância que, como disse,são preocupantemente comuns na Europa e que, na minha opinião, são absolutamenteincompatíveis e contrárias aos valores da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais queproclamámos esta manhã. Não há dúvida alguma de que o extremismo, pela sua próprianatureza, divide e conduz à violência.

Daí que, na minha opinião, o primeiro objectivo seja um objectivo político. Isso leva-meobviamente a mencionar medidas que têm mais a ver com segurança e policiamento;contudo, confrontados com o problema do extremismo e as suas origens, precisamos maisuma vez de promover uma União Europeia que esteja mais perto dos cidadãos e, porconseguinte, apta a passar mensagens de tolerância, solidariedade e respeito pela Cartaque, a partir de hoje, é uma das pedras angulares vinculantes para os Estados-Membros ecidadãos.

Creio que não pode haver qualquer justificação para o extremismo; ainda que o tenhamosdito muitas vezes em relação ao terrorismo, precisamos também de o dizer quando falamos,por exemplo, de racismo, de xenofobia. Contudo, importa também explorar as origensprofundas do extremismo e da violência. Temos necessariamente de o fazer, porque temosa obrigação de introduzir medidas políticas europeias que possam contribuir não só paracombater como para prevenir e erradicar os fenómenos e as actividades extremistas.

(1) Ver Acta.

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Gostaria de referir alguns exemplos que, na minha opinião, mostram que uma políticaeuropeia poderá ser verdadeiramente útil e bem mais, se é que posso dizê-lo, do que umapolítica exclusivamente nacional. Do ponto de vista da participação dos cidadãos na vidapolítica da Europa, é muito importante que esse programa – e não é por acaso que aComissão Europeia financia um programa sobre direitos fundamentais e cidadania –contenha políticas e medidas que incentivem os cidadão a ter um papel mais activo na vidapolítica, na vida das instituições e, por conseguinte, em actos como por exemplo as eleiçõeseuropeias. 2009 oferece uma excelente oportunidade para promover um debate que resultenuma grande afluência às urnas como sinal de participação real na vida das instituições.

Não obstante, está claro que a outra medida política que esperamos da Europa e que aEuropa faz questão de promover envolve educação, em especial das gerações mais novas.Na minha opinião, isso reveste-se igualmente de uma enorme importância – uma políticaque mantenha viva as memórias de tragédias passadas no espírito das pessoas e que o façaentre as gerações jovens de hoje, entre estudantes e entre os adolescentes, mesmo os muitosnovos. Por exemplo, todos os programas que apoiamos e que creio ser nosso dever encorajarainda mais, programas que mantenham viva a recordação das vítimas de todas as ditaduras,de todos os regimes totalitaristas que devastaram a Europa no passado, são, penso eu,instrumentos que podem ser postos ao serviço da erradicação do extremismo e do racismo;ao relembrar a história dos campos de concentração, por exemplo, podemos tirar umalição para os jovens de hoje para que esse tipo de tragédias jamais volte a suceder, não sóna Europa como em parte alguma do mundo.

Há ainda outra medida política que, a meu ver, devemos e podemos ter presente: essasmedidas que promovem mais em geral a tolerância e o diálogo entre diferentes culturas e,obviamente, entre diferentes religiões. Temos duas grandes oportunidades este ano, a saber,o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades – e pensamos rever as iniciativas que tiveramlugar durante o ano – e outra no próximo ano, em 2008, que é o Ano Europeu para oDiálogo Intercultural, o diálogo entre diferentes culturas e entre civilizações. Na minhaopinião, a revisão de 2007 e o programa de 2008 oferecem uma oportunidade de ouropara tornar as pessoas, e insistiria uma vez mais, os jovens, mais conscientes de um espíritode diálogo que enriquece, um diálogo que permite um crescimento em conjunto.

Sem dúvida que é importante que a consciência da opinião pública se mantenha viva sobreo significado da promoção dos direitos e da erradicação do extremismo, violência eintolerância. Nesta questão, a Agência Europeia para Direitos Fundamentais tem umafunção a cumprir, que vai ao encontro do que queremos e que este Parlamento apoioufortemente; tal como o Observatório de Viena contra o racismo, a xenofobia e oanti-semitismo foi no passado um instrumento para um sector muito importante, a lutacontra o anti-semitismo, a Agência para os Direitos Fundamentais também virá a ser uminstrumento útil. A Agência, como principal protagonista neste domínio, terá um papelde grande relevo a desempenhar. Como sabem, está em preparação o quadro plurianualque temos debatido em estreita colaboração com o senhor deputado Cashman, e pensamosque o quadro programático plurianual da Agência nos proporcionará instrumentos úteispara a nossa acção comum com vista à prevenção do extremismo.

Acima de tudo, importa reagir: embora todas estas políticas de prevenção sejam importantes,também precisamos de reagir. Bati-me pessoalmente, no Conselho de Ministros também,por uma lei europeia – e alcançámos um acordo no passado mês de Abril – por uma leieuropeia ao abrigo da qual os actos motivados por racismo e xenofobia pudessem ser

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punidos e que os autores de tais actos fossem punidos da mesma forma em qualquer paísda União Europeia.

Não é só o acto físico, é também a incitação concreta, a difusão do ódio, das mensagensque realmente não podem ser confundidas com liberdade de expressão, um direito sagradopara todos nós. Aqui, estamos a falar de incitação concreta a actos de violência. Essadecisão-quadro foi apoiada pelos Estados-Membros em Abril último. Pensem nessashorríveis manifestações de racismo: nos eventos desportivos, durante os jogos de futebolem que as pessoas aproveitam a oportunidade para gritar slogans neo-Nazis, esses são otipo de actos que a decisão-quadro – que quisemos verdadeiramente e acordámos com aPresidência alemã – punirá. Digo punirá, no futuro, porque infelizmente, e isto é um apeloà vossa sensibilidade, entre Abril e hoje, as reservas dos parlamentos nacionais de algunsEstados-Membros não foram retiradas, sendo que, consequentemente, o processo queconduz à entrada em vigor desta lei europeia destinada a punir o racismo e a xenofobiaestá bloqueado.

Digo isto com total respeito pelos parlamentos nacionais; contudo, como o Governo quedetém a Presidência do Conselho de Ministros deu o seu acordo, creio que deveria fazerdiligências junto do seu próprio parlamento, por forma a que a reserva seja retirada, o maisdepressa possível, e a podermos finalmente assegurar que a decisão-quadro entre em vigorapós três anos e meio de prolongadas discussões.

A terminar, Senhoras e Senhores Deputados, nós já possuímos legislação noutros sectoresque penaliza a discriminação com base na raça ou etnia, sendo que essa legislação seráseguramente respeitada com a supervisão, se é que posso pôr as coisas assim, da ComissãoEuropeia que é responsável por garantir o cumprimento da legislação comunitária. Remeto,por exemplo, para a recente directiva relativa aos serviços audiovisuais “sem fronteiras”que estabelece muito claramente, desde a sua entrada em vigor, que os serviços audiovisuaisnão podem conter qualquer incitação ao ódio com base na orientação sexual, raça, religiãoou nacionalidade.

No entanto, para conseguir tudo isto não bastam as medidas de natureza policial, o direitopenal, a incriminação: o que falta é uma cultura profundamente enraizada dos direitos doindivíduo, do valor da pessoa humana! O que dissemos esta manhã ao celebrar a Carta dosDireitos Fundamentais! Creio que esta é uma das políticas, numa altura em que nospreparamos para ratificar o Tratado de Lisboa, através da qual a Europa pode dar ao mundouma lição sobre como erradicar estes crimes hediondos contra a pessoa humana.

PRESIDÊNCIA: MARTÍNEZVice-presidente

Manfred Weber, em nome do Grupo PPE-DE. – (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário, Senhoras e Senhores Deputados, é realmente incrível. Há quatro ou cincosemanas, fui convidado a participar numa acção de protesto contra uma manifestaçãoorganizada por partidos da extrema-direita na minha região. Havia apenas 30 extremistasmanifestantes, aos quais se opunha uma grande multidão de mais de mil pessoas reunidasem protesto contra os extremistas. Nessas alturas, quando estamos frente a frente comesses extremistas de direita, só conseguimos pensar que é realmente incrível. Como é quealguém, depois daquilo que a Europa viveu no século passado, pode voltar a ser extremistae andar por aí a pavonear-se cheio de ódio e arrogância e a causar agitação contra os outros?

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Page 90: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

O debate que estamos a realizar hoje é positivo e importante. O extremismo é um cancrona nossa sociedade. Nós, os políticos, estamos sempre a apelar à coragem moral das pessoas,para que se insurjam e protestem contra o extremismo. Creio que também já é altura dedarmos graças por essa coragem moral existir em abundância e por tantas pessoas seerguerem em protesto. O que é o extremismo? Quero salientar que, quando se fala emproibir partidos políticos, em proibir a expressão pública de opiniões e posições, é óbvioque essas medidas não podem basear-se em juízos políticos. Têm de basear-se num critérioobjectivo. Hoje definimos aqui que esse critério objectivo é a Carta dos DireitosFundamentais, que estabelece a essência dos nossos valores básicos. Se os partidos oupolíticos atacarem esses valores, competirá aos tribunais decidir se as suas acções são ilegaise, se for caso disso, decretar uma proibição.

O que fazer se os candidatos de partidos extremistas forem eleitos e se esses partidosganharem assentos parlamentares? Em primeiro lugar, não pode haver qualquer cooperaçãocom esses partidos, e agradeço aos senhores deputados socialistas por terem expulsado opartido eslovaco do seu grupo por este cooperar com extremistas. Em segundo lugar, nãonos devemos esquecer de que esses sucessos eleitorais têm origem na insatisfação doscidadãos e a nossa reacção não deve ser a de insultar os eleitores, mas antes a de tentarresolver os problemas que motivaram essa insatisfação. Em terceiro lugar, quero sublinharque, até mesmo no panorama partidário, o extremismo começa muitas vezes com pequenospassos, e devemos estar cientes disso. Por isso, a minha mensagem é a seguinte: "Combatamo mal pela raiz!"

O extremismo político existe tanto à esquerda como à direita e ambos são igualmentemaus. Este é um facto que importa sublinhar. A Europa viveu o extremismo e a Europasofreu com o extremismo. Têm-se realizado progressos na luta contra o extremismo. Estaé uma luta que vale a pena e é uma luta que acabaremos por vencer.

Kristian Vigenin (PSE) — (BG) Senhor Presidente, Senhor Comissário Fratini,agradeço-lhe a compreensão e a apresentação das intenções da Comissão. Afigura-se-mesimbólico que, justamente hoje, quando foi assinada a Carta dos Direitos Fundamentais,estejamos a abordar um tema que está directamente relacionado com aquele documento.Porque o extremismo crescente, a influência cada vez maior dos partidos e das organizaçõesde extrema-direita constituem uma ameaça directa à existência da União Europeia.

Talvez soe muito forte, mas a nossa União baseia-se em princípios claros e a sua existênciaé possível graças ao facto de que a paz, a solidariedade, a tolerância, o respeito mútuo entrecomunidades étnicas e religiosas e a coexistência pacífica das nações predominam naEuropa há 50 anos. Hoje, a extrema-direita ataca precisamente estes princípios - ataca ocoração da União Europeia - sem os quais não poderia existir. Mas a nossa União não éuma construção abstracta; não é simplesmente mais um nível administrativo de governação.É uma união cuja missão é defender e proteger os valores que são a base do mundo inteiro.

Queiramos ou não, estejamos ou não preparados, temos de entender que há, em todo omundo, pessoas privadas dos direitos fundamentais, que são vítimas de represálias políticas,oprimidas por regimes não democráticos ou que são discriminadas em razão da raça, daorigem étnica e da religião. E em todas as partes do mundo é alimentada a esperança deque a União Europeia as apoiará e de que o espírito de tolerância, a garantia dos direitoscivis e a segurança social também possa chegar aos seus países. Podemos ser poderosos econvincentes no mundo externo se não conseguimos fazer frente aos problemas no nossopróprio território? Como podemos explicar àqueles que depositaram as suas últimas

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Page 91: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

esperanças em nós que os imigrantes morrem devido unicamente à sua origem, que asminorias étnicas são alvo de discriminação sistemática, que certas ideologias partidáriasse opõem à igualdade das mulheres ou que definem a homossexualidade como uma doença?Como podemos explicar que empreendemos o caminho de esquecer as páginas mais negrasda nossa história e que há jovens que louvam Hitler e que o anti-semitismo está aconverter-se na moda actual? Não posso aceitar isto, como não podem os meus colegassocialistas.

Penso que não existe nenhum grupo político neste Parlamento que fique indiferente peranteo facto de que o extremismo da direita, o racismo e a xenofobia estejam a ganhar terreno.Não fomos testemunhas hoje de como um marco histórico no desenvolvimento da UniãoEuropeia foi desonrado de uma forma vulgar por uma minoria ruidosa que pode voltarmais forte, mais agressiva e mais bem organizada em 2009? Sob o pedido hipócrita de umreferendo, desafiou não unicamente a Carta dos Direitos Fundamentais, como os própriosdireitos. É este comportamento, que vemos também em muitos parlamentos nacionais,que instiga os extremistas que recorrerão a outra acção punitiva amanhã, inspirada poreste circo político. Devemos identificar os problemas de forma muito clara e procurar,juntos, soluções. Por conseguinte, não deixaremos nunca de inscrever este tema na ordemdo dia do Parlamento. Porque o extremismo é um desafio que afecta toda a Europa e queexige um esforço concertado a nível europeu, nacional, regional e local.

Se a Comissão Europeia é a guardiã dos Tratados da UE, o Parlamento Europeu é o guardiãodos valores, e penso que, juntos, poderemos oferecer resistência a uma vaga que se levanta,e que nos lembra o passado recente. E que a deteremos, sem violar os direitos fundamentais,como o direito à liberdade de expressão, o direito de associação e a liberdade de imprensa.Porque só se pode defender a democracia com as regras da democracia. Infringir estasregras significa que o extremismo venceu. Obrigado.

Ignasi Guardans Cambó, em nome do Grupo ALDE. – (ES) Senhor Presidente, há poucassemanas, no metropolitano de Madrid, morreu apunhalado um jovem, de nome CarlosPalomino, na sequência de um confronto com indivíduos da extrema-direita. Pouco tempoantes, no metropolitano de Barcelona, as câmaras de vídeo-vigilância haviam captadoimagens de um louco espancando uma jovem por esta ser imigrante, simplesmente devidoà cor da sua pele – segundo ela afirmou –, que desconhecia que estava a ser filmado e queas imagens das suas acções iriam ser difundidas por todo o mundo.

Casos iguais ou semelhantes a este repetiram-se em diversos pontos da Europa.Frequentemente, com um sentido de responsabilidade por vezes exagerado, nós e todosos políticos preocupados com este fenómeno, tentamos minimizar a importância dessesataques: nada de alarmes, dizemos; ao fim e ao cabo, isto são casos isolados, os loucos quepor aí andam não são assim tantos, não devemos exagerar, não é um problema grave.

Assim, classificamos estes ataques como incidentes menores, pois temos medo dereconhecer que, na melhor das hipóteses, estes não são de facto incidentes menores. Efazemo-lo, entre outras coisas, porque, como a resolução que vamos votar amanhã diz, ebem, muitas destas organizações neonazis e de extrema-direita estão exacerbar ossentimentos de medo que já existem na nossa sociedade e que nós não podemos esconder.

Por conseguinte, condenar não basta; temos de abrir os olhos, temos de agirresponsavelmente e de encarar de frente algo que não é apenas um fenómeno isolado; semcausar alarme, temos de reconhecer a sua verdadeira escala, a sua verdadeira dimensão. Odia em que assinámos a Carta dos Direitos Fundamentais é certamente um bom dia para

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Page 92: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

relembrar que a União Europeia tem um papel a desempenhar e que tem responsabilidadesnesta área.

Não há subsidiariedade quando se trata de defender a dignidade das pessoas ou de denunciaro racismo, a xenofobia e a intolerância. É necessária acção a nível europeu, em primeirainstância por parte da Comissão e da Agência dos Direitos Fundamentais, a fim examinarque tipo de ramificações e de redes estão por trás de tudo isto – se as houver - e que ligaçõesexistem entre os diferentes movimentos de extrema-direita, a fim de podermos aplicar alei, de podermos contribuir com políticas de educação e apoiar os educadores que ensinamo respeito pela diversidade, e, quando necessário, denunciar com veemência os responsáveispolíticos, sociais, desportivos, etc., que, de forma activa ou passiva, possam estar por trásdestas acções.

Bogusław Rogalski, em nome do Grupo UEN. – (PL) Senhor Presidente, a subida doextremismo na Europa é um facto, e precisamos de o reconhecer. O Senhor Comissárioreferiu-se bastante a este tema, mas em termos gerais e relativamente a questões secundáriascomo o racismo nos jogos de futebol. Urge discutir factos que são reveladores doextremismo político que existe neste momento na União Europeia.

No dia de ontem, Senhor Presidente, o líder do NPD, um partido neo-fascista, apareceu nocanal público ARD da televisão alemã a exigir que a Polónia devolva de imediato à Alemanhaa Pomerânia e a Silésia. Declarou que Kaliningrado, Gdańsk e Wrocław (Bratislava) sãocidades alemãs e afirmou que as mesmas devem ser submetidas à jurisdição alemã. Disseainda que aquelas cidades e territórios, situados na Polónia, devem ser devolvidos deimediato à Alemanha.

Referimo-nos a algo que aconteceu na Alemanha, um dos principais Estados-Membros daUnião Europeia. Há já alguns anos que fascistas alemães do NPD reclamam a revisão dasfronteiras, repudiando os tratados internacionais que puseram fim à Segunda GuerraMundial, e exigindo a redefinição das fronteiras. Senhor Comissário, não podemos admitiristo. Impõe-se uma resposta firme. Não podemos permitir que o serviço público de televisãode um Estado-Membro, neste caso a Alemanha, ofereça a neo-fascistas e nazis aoportunidade de alardearem posições revisionistas e apelos a uma nova guerra.

Não se trata de um fenómeno marginal, Senhoras e Senhores Deputados. Trata-se de umarealidade concreta. O partido em causa encontra-se representado em sete parlamentosregionais. Isto não pode ser tolerado na Europa de hoje, tal como é intolerável que osprincípios democráticos, a liberdade de discordar e a liberdade de expressão sejamdesvirtuadas como o foram hoje pelo senhor deputado Cohn-Bendit e pelo senhor deputadoWatson, que, referindo-se às divergências de opinião sobre a Carta dos DireitosFundamentais – aliás, não tanto sobre a Carta dos Direitos Fundamentais como sobre oTratado Reformador da UE – apelidaram de idiotas os deputados que lhe são contrários.Isto é inadmissível. Não é esta a visão da democracia e da União Europeia actual quedevíamos transmitir aos nossos jovens. Mostremo-nos unidos na diversidade.

Jean Lambert, em nome do Grupo Verts/ALE . – (EN) Senhor Presidente, creio que parteda questão que estamos a analisar se prende com o seguinte: como podemos nós combatero que todos nós vemos como extremismo, este receio do outro, este desejo de proteger asua própria cultura como se fosse a única cultura, como se esta nunca tivesse mudado,como se nada se tivesse alterado na vida? No entanto, basta que retrocedamos 50 ou 60anos para ver as enormes mudanças que se produziram, inclusivamente no nosso própriocontinente.

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Page 93: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Creio que este desejo de protecção provém, frequentemente, de um sentimento de medode que, de uma ou outra forma, nós e a ideia que fazemos de nós mesmos desapareceremose, assim, projectamos a nossa força contra os demais, negando-lhes a sua existência.

Penso que todos nós sentimos orgulho pelo que somos, orgulho no país ou na região deque somos originários e no nosso património. Mas a maioria de nós não espera que issoapenas se transmita pela linhagem e por uma via de forte ligação ao território, mas, dealguma forma, por via da cidadania, da lei e dos nossos direitos.

Como já outros referiram, a assinatura aqui, hoje, da Carta dos Direitos Fundamentaisconstituiu um importante símbolo, particularmente quando relacionado com este debate.

Porém, quando assistimos à eleição de partidos extremistas, que apenas admitem umavisão como sendo a certa – a sua –, penso que estamos perante uma legitimação da violência,do discurso do ódio, das acções contra os outros vistos como diferentes.

Lembro-me do tempo em que, há vários anos, ouvimos falar da eleição de um únicomembro do Partido Nacional Britânico para uma assembleia municipal em Londres. Onível de violência racista aumentou nessa área.

(Gritos de “Bravo!”)

Não é razão para gritar “Bravo!” É vergonhoso! Como podem dizer isso e estar sentadosnuma Assembleia em que se dizem democratas?

A violência racista deve ser condenada. E penso que, quando analisamos o extremismo,devemos ter a consciência de que ainda não enterrámos o sexismo e a misoginia.

Contudo, a eleição desse tipo de partidos aumenta o receio, e, por conseguinte, é precisoreflectir sobre a forma como nos relacionamos com esse facto. Reagimos, assegurando-nostambém de que as nossas acções defendem os direitos humanos e os valores que nos sãocaros. Devemos ter o cuidado de não aprovar leis que, ao procurar resolver um exemplode extremismo, venham, na realidade, a ajudar essa gente ou a levar o medo ao coração deoutras comunidades.

Recomendo a aprovação da resolução comum, hoje, à Assembleia e agradeço a todos oscolegas que tanto trabalharam na sua elaboração.

Giusto Catania, em nome do Grupo GUE/NGL. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, gostaria de agradecer ao Vice-Presidente Frattini e a todos os deputadosque trabalharam comigo, bem como aos proponentes, na elaboração desta resolução.

As manifestações de racismo e xenofobia aumentaram nos últimos anos, como ocorroboram os relatórios do Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia. Esteaumento está intimamente ligado ao crescimento e proliferação de forças políticas que,na Europa, interpretaram os problemas levantados pela imigração de uma forma aberrante,para divulgar com frequência slogans que defendem a raça e a identidade, e inflamarsentimentos de auto-preservação contra os que entram na Europa, descrevendo-os comoperigosos terroristas ou criminosos, ou mesmo rotulando-os com denominaçõesantropológicas inaceitáveis e slogans xenófobos e racistas.

Os partidos e movimentos que nos últimos anos manifestaram fortes inclinaçõesnacionalistas anti-europeístas estão a aumentar. A sua propaganda política inspira-se nainsegurança social e tenta acrescentar peças ao mosaico da guerra de civilizações. Essa

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Page 94: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

propaganda é agora inserida no debate político e institucional e, nalguns casos, parece sera mensagem que emerge dos governos ou que resulta das actividades destes.

Amanhã votaremos uma resolução sobre extremismo, um título provavelmente um poucovago. Lenine disse que o extremismo é a doença infantil do comunismo; poderíamosparafrasear Lenin e dizer que o extremismo é uma doença infantil provavelmente de todosos projectos políticos, religiosos, económicos e ideológicos. O senhor deputado Webertem razão: há extremismos de esquerda e há extremismos de direita, mas não há sóextremismo de esquerda e de direita, há extremismo neo-liberal, extremismo católico,extremismo muçulmano, extremismo ecológico e extremismo anarco-insurrecionalista.

No entanto, a questão na Europa é o crescimento do extremismo de direita e os problemasque estão a provocar a proliferação do extremismo de direita. Nos últimos anos,consolidaram-se na Europa forças e movimentos políticos neo-nazis e neo-fascistas quemanifestamente actuaram contra a integração europeia fazendo disso a sua política – vimosisso em Itália, em França, na Áustria, nos Países Baixos, na Bélgica, no Reino Unido, naAlemanha, na Dinamarca e na Suíça; são reflexos da crise que levou um intelectual comoAlfio Mastropaolo a descrever a ofensiva da nova direita como a vaca louca da democracia.

A legitimação democrática de certas forças políticas favoreceu a difusão de ideias perigosasno corpo da sociedade europeia, alimentando inclinações reaccionárias. Uma doençaperigosa, e nalguns casos subestimada, que se alimenta de inclinações etnocêntricas,frequentemente oculta e escondida, em certas situações mascarada de actos aparentementedemocráticos e legítimos. Por conseguinte, temos de questionar as nossas escolhas e asnossas iniciativas políticas.

Há uma ênfase crescente na necessidade de estabelecer e consolidar uma cultura e umaidentidade europeias comuns. Creio que uma identidade e cultura europeias têm de serconstruídas com base no diálogo e no contacto com culturas diferentes daquelas que, nosúltimos anos, promoveram e abriram o caminho à difusão e ao crescimento de uma ideia,de uma cultura europeia.

Há que travar uma grande batalha cultural, e essa é a minha conclusão. Não bastam asactividades de polícia ou de segurança pública; há que fazer um gigantesco esforço culturale só dessa forma conseguiremos assegurar que 2008 seja de facto o Ano Europeu doDiálogo Intercultural, porque a Europa tem de se basear em princípios interculturais.

Ignasi Guardans Cambó (ALDE). – (ES) Senhor Presidente, agradecer-lhe-ia que exercessea autoridade que lhe assiste enquanto Presidente desta sessão para chamar à ordem umconjunto de deputados que parecem pensar que estão num circo e não no Parlamento eque, com os seus gracejos e as suas aclamações, estão a comprometer a qualidade destedebate.

Presidente. – Estamos a aproximar-nos do fim do ano, uma época em que é normaltomar refeições em que se bebe um pouco a mais, ou pelos menos mais do que é normal.O melhor que há a fazer nessa situação é ir fazer uma sesta e não perturbar um debate ondeo respeito pelo orador deve prevalecer em todas as circunstâncias.

Agradeço o seu apelo, Senhor Deputado, mas, como eu disse, o melhor que alguém tema fazer quando bebe um pouco a mais à refeição é ir dormir uma sesta depois, e nãointerromper os nossos debates com insolências e falta de respeito pelas boas maneirasparlamentares.

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Page 95: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Derek Roland Clark, em nome do Grupo IND/DEM . – (EN) Senhor Presidente, detestoo extremismo tanto como outra pessoa qualquer. Os britânicos detestam-no – há séculosque o combatemos.

Se quisermos combater o crescente extremismo que se verifica na Europa, é preciso queolhemos para as suas causas, antes de nos precipitarmos a aprovar nova legislação queapenas serve para restringir; esta alimenta o extremismo. Analisemos o momento alto doextremismo europeu, o dos fascistas da década de 1930. No Reino Unido, as marchas deSir Oswald Mosley eram protegidas por lei, as políticas áridas e odiosas, assim expostas àluz do dia, foram rejeitadas pela população. Em toda a Europa, os líderes fascistas foramvilipendiados e travados. O próprio Hitler foi encarcerado – e assim ele próprio, comooutros, acabou por ganhar o poder.

Esta manhã, assistimos ao recrudescimento do extremismo nesta Câmara com a assinaturada Carta dos Direitos Fundamentais, parte da Constituição para a Europa que será votadaamanhã e relativamente à qual foi prometido um referendo nacional em sete países. Doisdeles disseram que sim, dois disseram que não – mas foram ignorados –, havendo outrosque aguardam. No Reino Unido, o nosso Governo fez uma promessa por escrito, que agoranega. E tanto se fala nesta Assembleia em ouvir os cidadãos!

Pois a UE encarna o extremismo de hoje, procurando impor a sua vontade por via destedocumento distorcido. Foi escrito deliberadamente para que ninguém consiga lê-lo, salvoos advogados altamente experientes, com os seus parágrafos numerados retirados doTratado original e dos Tratados existentes, mas que não têm correspondência num e noutrodocumento. A numeração será alterada para a assinatura e alterada, de novo,posteriormente, para eliminar toda a possibilidade de os europeus a entenderem.

E é esta a distorção pseudo democrática que sub-repticiamente se vai impor aos britânicos!Não obrigado – já dispomos dos nossos direitos, consagrados na grande e maravilhosaMagna Carta de 1215, complementada pela Declaração de Direitos (Bill of Rights) de 1689.Quem pensam que são para subverter estas medidas democráticas criadas para nós, masabertas a que outros as sigam?

A História ignorada converte-se em História repetida. Ao longo dos séculos ignoraram anossa liderança e pagaram-no caro! Ignorem o nosso exemplo agora e encontrarão ocaminho para a perdição.

(Aplausos do grupo)

Bruno Gollnisch (NI). - (FR) Senhor Presidente, eis mais um relatório sobre a pretensaescalada do extremismo na Europa. Conselho, Comissão, grupos políticos: todos vieram,todos cá estão. Como é costume, esta retórica é intelectualmente nula, politicamenteescandalosa e moralmente perversa.

Intelectualmente nula porque todas as ideias novas - em religião, o Cristianismo, de quealguns de vós ousam reclamar-se, em política, o liberalismo ou o socialismo, em ciência,ideias hoje em dia tão evidentes como a de que a Terra é redonda e gira em torno do Sol -foram consideradas extremistas, heréticas, subversivas e inadmissíveis. Não basta atribuirum carácter diabólico a uma opinião para a desacreditar, é preciso dizer porque é que éfalsa.

O escândalo político, são os senhores que o suscitam, os senhores que estão no poder eque, em vez de resolverem os problemas, apresentam um programa de combate à oposição.

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Page 96: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Revelam assim a vossa incapacidade para resolver o problema da imigração-invasão, deque são deliberadamente, ou por cobardia, colaboradores repugnantes. Os senhoresconfessam aqui o vosso fracasso económico, o vosso fracasso social, o vosso fracassocultural, o vosso fracasso moral, o vosso fracasso educativo e, em vez de mudarem a vossacatastrófica política, só pensam na eliminação daqueles que protestam ou vos criticam.

Mas é moralmente que a vossa atitude é repugnante. Os senhores assimilamfraudulentamente os actos violentos ou terroristas à legítima reacção dos povos da Europacontra a destruição da sua identidade. São uns Tartufos! Pretendem açaimar os povos eprivá-los de representação política: são os fariseus da democracia! Como dizem as escrituras:sepulcro branco não passa de pintura branca no exterior! Os senhores falam dos direitoshumanos, da liberdade de expressão, dos valores europeus, da tolerância, mas, no interior,é só cadáver e podridão. Esses direitos de que falam à boca cheia, recusam-nos àqueles quenão pensam como os senhores. Tudo isso seria odioso, se não grotesco. As geraçõesvindouras julgá-los-ão como aos bárbaros que entregaram Roma: possam os bárbaros,pelo menos, tratá-los como merecem!

Roberta Alma Anastase (PPE-DE). - (RO) Senhoras e Senhores Deputados, o assuntoque estamos a debater esta tarde tem a máxima importância para o futuro da União Europeiae para a segurança dos cidadãos e dos nossos valores.

Nos últimos anos, o extremismo tem sido um fenómeno cada vez mais frequente na vidapública dos países europeus, um fenómeno que fez tocar muitos sinais de alarme e levantoumuitas questões no que se refere ao seu combate. Embora tenham sido várias as causascom origens diferentes que contribuíram para o alastramento deste fenómeno, gostariade insistir num aspecto essencial do debate criado sobre o tema do extremismo,nomeadamente a imigração.

Os grupos extremistas identificam a imigração como o mal supremo nos países europeus,por ser um tema que podem utilizar para explicar as alterações indesejadas nas suassociedades. No entanto, como todos bem sabemos, a imigração é um elemento vital paraas economias dos países europeus e favorece o crescimento económico.

Os seus efeitos indesejáveis, resultado da inadaptação de imigrantes às sociedades que osrecebem, deviam ser resolvidos por métodos específicos da União Europeia. De outraforma, corremos o risco de modificar os valores mais básicos da construção europeia.

Não podemos, portanto, aceitar que os partidos extremistas alterem a agenda dos partidostradicionais.

Se usarmos esse tipo de estratégia na tentativa de reduzir o risco e os perigos despertadospor esses grupos e os impedirmos de obter os votos dos nossos cidadãos, só estaremos adar legitimidade às suas ideias e métodos. Não podemos permitir que mensagens de naturezaextremista sejam adoptadas e promovidas como lei nos Estados-Membros. Uma acçãosemelhante significaria a destruição da perspectiva de uma Europa multicultural emultiétnica.

A crise provocada pela questão dos romanichéis e as manifestações extremistas em Itálianão devem criar um precedente perigoso para os princípios fundamentais da União Europeiarelativamente à liberdade de circulação de bens, serviços, capitais e pessoas. Temos deexplicar aos nossos cidadãos que uma tal atitude seria prejudicial, quer para as suassociedades quer para a União Europeia em geral.

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Page 97: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Os resultados das eleições para o Parlamento Europeu na Roménia poderia ser disto umexemplo. Nenhum partido extremista conseguiu atingir o patamar de votos necessáriospara enviar representantes seus para o Parlamento Europeu.

Bárbara Dührkop Dührkop (PSE). – (ES) Senhor Presidente, gostaria de tomar maisalguns segundos para além do tempo que me foi atribuído apenas para citar aos colegasque ali atrás, à direita, um ditado tradicional castelhano que diz: “A palabras necias, oídossordos – A palavras loucas, orelhas moucas”. Continuarei agora a minha intervenção eminglês.

(EN) Hoje, que assinámos com muito orgulho a Carta dos Direitos Fundamentais da UniãoEuropeia, faz mais de meio século que a Europa foi testemunha do mais hediondo doscrimes de xenofobia e racismo – o Holocausto.

Milhões de pessoas foram mortas devido à sua religião, origem étnica e convicções políticas.Por conseguinte, é mais necessário do que nunca ter presente a História, vivendo o nossopresente e preparando o futuro.

Temos de estar alerta e vigilantes; ter cuidado com os ovos da serpente, como IngmarBergman nos ensinou. Como o Senhor Comissário Frattini hoje confirmou, há umrecrudescimento dos actos de violência de origem racista e xenófoba nos nossosEstados-Membros.

Mas, para mim, o que é ainda mais preocupante é o facto de serem cada vez mais os jovensenvolvidos. Por isso, é absolutamente essencial que lhes ensinemos os valores da cidadaniae lhes expliquemos em que consiste o racismo.

São cada vez mais os partidos de extrema-direita, que assentam a sua ideologia e práticaspolíticas na intolerância e na exclusão, eleitos para os nossos Parlamentos nacionais.Encontram aí uma excelente plataforma para a sua mensagem política de ódio. Deveríamosestar conscientes disso e tentar actuar para contrariar essa mensagem.

O racismo e a xenofobia constituem as mais directas violações dos princípios da liberdadee da democracia e dos nossos direitos fundamentais. Por isso, as Instituições europeias enós próprios, deputados do Parlamento, temos a obrigação de reafirmar a nossadeterminação em defender por meio da lei as liberdades fundamentais e em condenar ecombater qualquer manifestação de racismo e xenofobia.

Mais do que nunca, é necessária tolerância zero no combate ao racismo e à xenofobia. Maisdo que nunca é preciso que sejamos beligerantes na defesa dos nossos valores, usando ereforçando os instrumentos que a União Europeia e os seus Estados-Membros têm à suadisposição.

Jamais algum cidadão deveria sofrer perseguição por causa da sua raça, religião, género,situação social, língua, nacionalidade ou orientação sexual. A erradicação do racismo e daxenofobia, o direito a viver em paz, é um desafio moral para todos os democratas, e a defesaos direitos civis é o dever de qualquer democrata.

Viktória Mohácsi (ALDE). - (HU) Muito obrigada, Senhor Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados. Ontem, falámos durante quase duas horas sobre a lutacontra o aumento do extremismo e sobre o texto final da resolução que se baseia eminiciativas liberais mas, claro, na qual tivemos sempre em consideração as ideias e pedidosde todos os grupos. Eu estou optimista e confiante que conseguiremos uma posição comumneste tópico de importância dramática.

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Page 98: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Pessoalmente, lamento profundamente que em 2007, o ano da igualdade de oportunidades,ainda tenhamos de combater as sombras das ditaduras derrotadas do século XX queperiodicamente reemergem. Sabemos que neste domínio nenhum Estado-Membro éexcepção. Apenas para nomear alguns: Pospolitos na Eslováquia, os Jovens Nacionalistasna República Checa, a Nova Direita na Roménia, O Partido Nacional Democrático Alemãona Alemanha e a Aliança Nacional na Itália, mas em termos gerais enfrentamos o mesmoextremismo.

Relativamente ao meu próprio país, para mim é inaceitável que todos os dias sejam emitidasdeclarações por partidos extremistas e organizações como o Movimento para uma HungriaMelhor ou a Guarda Húngara, nas quais explicam a criminalidade conceptualmente absurdados ciganos através de razões genéticas e, em vez de integrarem os ciganos na sociedadeexigem a segregação e os guetos enquanto marcham de uniforme preto emTatárszentgyörgy, e na Sexta-feira em Kerepes. Relacionado com isto gostaria de uma vezmais chamar a atenção dos Membros para o facto de tantos locais onde estão instaladosciganos na Europa continuarem, ainda hoje, a ser alvo dos extremistas.

E, para terminar, gostaria de dar-vos algumas notícias. O Provedor de Justiça, o Presidenteda República e o Governo húngaros condenaram oficialmente a Guarda Húngara e oMovimento para uma Hungria Melhor. Gostaríamos que todos os governos europeusresponsáveis fizessem o mesmo perante o extremismo nos seus próprios países. Em todoo caso, para o conseguir é necessário que tantos quanto possível dos Membros votem simamanhã relativamente à posição do Parlamento na luta contra o aumento do extremismo.Obrigada.

Eoin Ryan (UEN). - (EN) Senhor Presidente, hoje, formos testemunhas da proclamaçãoda Carta dos Direitos Fundamentais, e estamos agora a discutir o recrudescimento doextremismo na Europa. A meu ver, há uma linha clara entre ambos os momentos. A AgênciaEuropeia dos Direitos Humanos foi, até há pouco tempo, conhecida como ObservatórioEuropeu do Racismo e da Xenofobia. Não podemos combater o extremismo sem abordaras questões do racismo e da xenofobia, demasiado presentes na Europa de hoje. Oextremismo alimenta o extremismo, e nós, na Europa, corremos o perigo de sermosapanhados num verdadeiro ciclo vicioso se não formos céleres a enfrentar e erradicaralgumas das suas raízes.

Ouvi há pouco o senhor deputado Gollnisch, chamar bárbaros aos deputados destaAssembleia e a outros. Não apresentou uma única ideia credível, nem uma única ideiapositiva, sobre a forma como poderemos enfrentar este problema na Europa, a não ser assuas habituais diatribes. Pretende, juntamente com o seu líder, Le Pen, deslocar-se à Irlandapor causa do Tratado. Uma coisa posso dizer com toda a segurança: este tipo de ideiasextremistas não seriam, nem serão, toleradas no meu país, nem por sombras. Por isso,venham, e poderemos ter a certeza de que o Tratado será aprovado quando perceberem otipo de Europa continental que pretendem criar e o tipo de ideias que defendem. Estádemonstrado que as atitudes que tornavam receptivos os trabalhadores...

(Interrupção do senhor deputado Gollnisch)

Sabemos bem o que representa, Senhor Deputado Gollnisch, e ouvimo-lo já tantas vezes,a si e ao seu líder.

Ficou demonstrado que as atitudes que tornavam os trabalhadores receptivos ao populismode extrema-direita incluíam o preconceito contra os imigrantes, o autoritarismo, o domínio

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social e a fraqueza política, sendo que o preconceito contra os imigrantes era o principalfactor entre todos os outros. Nos países em que estão disponíveis mecanismos de denúncia,o motivo mais referido para a discriminação é frequentemente a religião. Se abordarmosa eliminação desses preconceitos e dessa discriminação, teremos dado um passo considerávelno combate ao extremismo.

Por isso, exorto a totalidade dos deputados a encorajar o debate e o intercâmbio sobrequestões como a desigualdade social, a origem, a raça, a religião e o impacto das mudançassociais e económicas a nível local, nacional e europeu, e a abster-se de utilizar umalinguagem emotiva, chamando bárbaros aos colegas. Para esse fim, apraz-me que, comoparte do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, o Parlamento Europeu tenha convidadosua santidade, o Papa Bento XVI, o Presidente da União Africana, o Dalai Lama, oSecretário-Geral das Nações Unidas, o Rabino-Chefe do Reino Unido e o Grande Mufti deDamasco a dirigir-se ao Parlamento Europeu durante o ano de 2008. Congratulo-me comeste tipo de iniciativas.

(O Presidente retira a palavra ao orador)

Koenraad Dillen (NI). - (NL) Com o devido respeito, Senhor Presidente, gostaria queme explicasse porque é que os membros do seu próprio grupo e as pessoas que representamuma linha de pensamento manifestamente mais próxima da sua têm muito mais tempopara usar da palavra e não são tão abruptamente interrompidos, ao passo que as pessoascom quem o Senhor Presidente claramente não concorda vêem as suas intervençõesinterrompidas ao fim de apenas dez segundos. Está a aplicar aqui uma duplicidade decritérios, o que não é aceitável.

Presidente. – Antes de mais, parece-me, Senhor deputado Dillen, que o Presidente conduzo debate de acordo com os seus próprios critérios e não de acordo com os critérios de sejaquem for que ocupe o lugar 777.

Não tenho qualquer explicação a dar-lhe. Todos os oradores, incluindo aqueles queestiveram a falar entre si, obtiveram mais tempo do que o que lhes cabia.

De qualquer modo, gostaria de pedir a todos os colegas o favor de se dirigirem ao Presidentee à Câmara e de não endereçarem os seus comentários a outros colegas, a fim de evitarintervenções e interrupções que perturbam a ordem dos trabalhos.

Eva-Britt Svensson (GUE/NGL). - (SV) Senhor Presidente, todos reparámos que oextremismo está a crescer na União Europeia. Penso que nos devemos perguntar porquê.Por que razão estão a aumentar a xenofobia e outras atitudes extremistas? Estou convictade que a exclusão e a falta de participação na sociedade são um terreno fértil para oextremismo e para a xenofobia. Valorizar igualmente todos os seres humanos é um princípiofundamental numa sociedade civilizada, o que faz ser nosso dever ajudar a combater asforças xenófobas que discriminam pessoas com diferentes antecedentes étnicos, orientaçãosexual ou género ou ainda com incapacidades funcionais.

Estes grupos usam violência e ameaças. No meu país até já assistimos a homicídios depessoas que defendiam os direitos humanos. Vemos o assassínio de jovens com antecedentesétnicos diferentes, meramente devido aos seus antecedentes. Não se deve permitir que estetipo de coisas volte a acontecer.

Nós, que promovemos a igualdade de todos os seres humanos, não nos podemos deixarsilenciar. Mas sabemos que isso não basta. Grupos xenófobos e extremistas usam jovens

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em situação de exclusão económica e social para criar mais medo, intranquilidade e ódiocontra outros grupos. A luta contra o extremismo deve, portanto, estar associada àconstrução de uma sociedade justa baseada na solidariedade.

Bernard Wojciechowski (IND/DEM). - (EN) Senhor Presidente, a resolução em apreçoé mais um exemplo de ignorância e hipocrisia. Refere, entre outras coisas, que algunspartidos e movimentos políticos, incluindo os que estão no poder numa série de países ourepresentados a nível local, nacional ou europeu, colocaram deliberadamente a intolerânciae a violência com base na raça, origem étnica ou nacionalidade no centro da sua agenda.

Refere também que este Parlamento condena veementemente todos os ataques racistas exenófobos e insta todas as autoridades a fazerem tudo o que está ao seu alcance para castigaros responsáveis.

Nesta Câmara em que aprovamos este tipo de resoluções, um dos nossos colegas utilizouuma linguagem abusiva e ofensiva de propaganda desonesta – o mesmo tipo de linguagemque é frequentemente utilizado por extremistas, o mesmo tipo de linguagem que assentaem calúnias e que é considerado um ataque xenófobo. Este deputado deu a entender queeu não poderia repetir Dachau. Bem, permitam-me que o esclareça: primeiro, Dachau eraum campo de extermínio alemão; segundo, Dachau é na Alemanha, e eu não sou alemão.E afirmou mesmo que, depois de uma visita de quatro dias à Polónia, conhecia melhor omeu país do que eu, e que eu não faço parte da Polónia – mas Dachau aparentemente faz.

Este tipo de discurso do ódio é frequentemente citado, repete-se com frequência e é usadopor demasiados políticos. Os mesmos políticos que querem dar-nos a todos lições dedemocracia, enquanto, eles próprios, demonstram pouco respeito pela democracia e pelaigualdade de tratamento perante a lei. Parece que hoje, na Europa – tal como George Orwellescreveu há anos atrás – alguns animais são mais iguais do que outros. Alguns podemesconder-se atrás do privilégio da imunidade, outros podem mesmo evitar a justiça e atéos mandados de detenção europeus. Os criminosos comunistas são, de alguma forma,mais bem tratados do que os cidadãos comuns, e enquanto falamos aqui contra gruposextremistas, alguns políticos alemães apoiam abertamente os movimentos políticosrevisionistas. Caros colegas, a Europa da nossa resolução é muito diferente da Europa danossa realidade.

Jana Bobošíková (NI). – (CS) Senhoras e Senhores Deputados, consolámo-nos, maisuma vez, com o facto de o aumento do extremismo reflectir uma deterioração da situaçãoeconómica e o desemprego. Receio que este tipo de avaliação já não seja válido. Aseconomias de muitos Estados-Membros da UE cresceram, o desemprego diminuiu, mas oextremismo, não. Pelo contrário, o número de crimes com motivação racial aumentou;estão a surgir guardas nacionais com espírito nacionalista; os veteranos das SS marchamatravés de alguns Estados-Membros da UE e os políticos que se referem aos judeus e aosromanichéis como “úlceras” da sociedade são glorificados. A política e o exército estão aser infiltrados por neonazis e por racistas. O Primeiro-Ministro da República Checa, o meupaís natal, incluiu a retórica neonazi no seu vocabulário. Por último, mas não menosimportante, a UE tornou-se um destino de migração de pobres e parece que ninguém saibacomo lidar com isso, o que também desempenha um papel nesta situação.

Senhoras e Senhores Deputados, não há resolução, nem palavras que possam apagar asuástica marcada recentemente na anca de uma rapariga de 17 anos, em Mittweida, naAlemanha. À luz do dia, ignorados por transeuntes indiferentes, os neonazis na Saxóniaalemã marcaram a suástica no corpo de uma rapariga, porque ela defendeu uma menina

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russa. Estou firmemente convencida de que o extremismo só pode ser evitado por actosdiários dos cidadãos, pela oposição declarada publicamente da elite política, por umainterpretação aberta e abrangente, em particular, da história do século XX e, sobretudo,pela polícia e pelos tribunais, que não podem fechar olhos a racistas, pessoas xenófobas eneonazis, mas devem actuar imediatamente para punir tal comportamento.

Péter Olajos (PPE-DE). - (HU) Obrigado, Senhor Presidente. Pronuncio-me enquantoum dos autores da declaração escrita n.º 93. A declaração, que apresentei juntamente comos Membros, os senhores deputados Tabajdi, Szent-Iványi, Vigenin e Amezaga, condenaas operações de grupos extremistas paramilitares no seio da União, que são uma das formasmais óbvias de extremismo.

Na minha experiência constato que apesar de muitas pessoas sentirem uma obrigaçãomoral e política de impedirem que tais ideias extremistas ganhem terreno, muitas nãochegam a condená-las especificamente numa declaração escrita ou de alguma outra forma.E há muitas justificações. Uma delas, por exemplo, é que quando tentamos publicitar estasideias, a lista nunca está completa e nunca é exacta. Isto desencoraja muitos a fazê-lo. Noentanto, devemos estar conscientes que a lista nunca estará completa e os conceitos edefinições nunca serão exactos. Exactamente, por esta razão temos de eliminar o extremismoe as ideias extremistas pela raiz.

Hoje o dia é de celebração nesta Câmara mas a Carta dos Direitos Fundamentais não foiassinada em circunstâncias pacíficas. A Carta sintetiza em 50 parágrafos todos os valorese direitos que respeitamos e que queremos proteger na União. Esta Carta é a cartaanti-discriminação, a carta das liberdades de expressão, religião e reunião, a carta daigualdade e a carta da protecção dos indivíduos, dados, jovens e idosos. Não podemosescolher apenas as partes que nos interessam, colocar certos grupos primeiro que os outrosou utilizá-la para os nossos objectivos de política interna de curto prazo. Todos devem serrespeitados e protegidos igualmente porque é isto que garante a dignidade humana e nós,enquanto membros do Parlamento, jurámos fazê-lo. Os opositores à soma de todas asideias e direitos aqui formulados são o que designamos de extremistas, independentementeda idade, sexo, religião ou nacionalidade da pessoa em causa. Neste espírito gostaria depedir aos Membros para apoiarem a declaração n.º 93. Obrigado.

Martine Roure (PSE). - (FR) Senhor Presidente, os actos e crimes racistas estão a aumentarna Europa. Os Romanichéis, os migrantes e todos aqueles que são diferentes continuam aser objecto de discriminações múltiplas em matéria de emprego, educação e habitação.

Queremos uma União Europeia baseada em valores humanistas de tolerância e de protecçãodos direitos fundamentais: nunca é de mais recordar. Neste contexto, a decisão-quadrorelativa à luta contra certas formas de racismo e xenofobia através do direito penal, que onosso Parlamento aprovou por larga maioria no passado dia 29 de Novembro, é sem dúvidanecessária. Poderemos assim combater as declarações racistas e de ódio sempre da mesmamaneira, em toda a União Europeia.

Os partidos extremistas exploram o medo do outro, o medo do estrangeiro, para poderemoferecer uma resposta fácil aos desafios colocados pela globalização. E aqueles quepretendem impor a preferência nacional para encontrarem respostas para tudo sãoirresponsáveis. A verdadeira resposta aos desafios da globalização passa pela tomada emconsideração global dos desafios da humanidade de hoje. Virarmo-nos sobre nós própriossignifica caminhar para o precipício, não tenhamos medo de dizê-lo.

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Vălean, Adina-Ioana (ALDE). - (EN) Senhor Presidente, assistimos na Europa a umconstante aumento dos movimentos extremistas, nacionalistas e populistas, que põem emperigo o nosso sistema democrático.

Num mundo ideal, a democracia é o governo do povo pelo povo e para o povo. Com efeito,a democracia ainda é o sistema político “menos mau”, sempre que conte com os pesos econtrapesos adequados. No entanto, o paradoxo da democracia é que ela própria contéma possibilidade da sua própria morte, ao permitir a expressão de opiniões extremistas epopulistas que corroem o próprio sistema democrático.

Em muitos países europeus, existem partidos que conseguiram posicionar-se no coraçãoda vida política com discursos populistas e demagógicos. A História europeia demonstraque os partidos extremistas, vestidos com roupagens democráticas e utilizando propagandapopulista e nacionalista, conseguiram frequentemente conduzir a democracia para aditadura.

A melhor forma de combater a intolerância é manter-nos firmes, defender os nossos valorese instituições democráticos, defender os direitos individuais, a justiça, a igualdade deoportunidades e a diversidade, mas também sancionar qualquer discurso que instigue aoódio, à segregação ou a discriminação.

Como o afirmou Robert Kennedy, “o que é perigoso nos extremistas não é o seu extremismo,mas sim a sua intolerância. O mal não é o que dizem da sua causa, mas sim o que dizemdos seus opositores”.

As democracias saudáveis carecem de cidadãos activos. A democracia só pode funcionarse os seus cidadãos forem conscientes e exercerem os seus direitos e deveres cívicos.Precisamos de reinventar a cidadania. Precisamos de novas formas de aprendizagem dademocracia. Precisamos de assegurar que os nossos sistemas de ensino promovam odesenvolvimento de uma cidadania activa, crítica e empenhada. Num mundo global, temosa necessidade imperiosa de uma cidadania que celebre a diversidade e promova acompreensão e a tolerância.

Wojciech Roszkowski (UEN). - (PL) Senhor Presidente, não sei se o extremismo políticoestá em alta ou não, só sei que deve ser combatido e condenado, tanto pelas ideias queprofessa como pelos métodos que utiliza. No entanto, a Carta dos Direitos Fundamentais,que hoje saudámos com tão grande solenidade, não constitui a resposta para o problemae pode até tornar-se ela própria uma fonte de novas dificuldades.

O Artigo 21º Carta dos Direitos Fundamentais proíbe a discriminação em razão de opiniõespolíticas ou outras – repito, ou outras opiniões – entre as quais se incluem opiniõesextremistas como as manifestadas recentemente na televisão pública alemã pelo dirigentedo NPD que apelou à mudança da fronteira com a Polónia.

As redundâncias tendem virar-se contra aqueles que as proferem. Perguntaria assim aosapoiantes da Carta dos Direitos Fundamentais de que forma tencionam combater oextremismo político ao mesmo tempo que o querem defender.

Kyriacos Triantaphyllides (GUE/NGL). - (EL) Senhor Presidente, seria uma falha daminha parte se não começasse por manifestar a minha preocupação com o uso generalizadoque é dado à palavra “extremismo”, sem qualquer definição e sem uma condenação específicados actos extremistas, ou seja, de qualquer forma extrema de uso ilegítimo da violência.Seria igualmente um erro não mencionar as tentativas de “acordar” os cidadãos para os

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perigos da radicalização, e a criação em simultâneo de categorias flexíveis para os eventuaiscriminosos.

Gostaria de lembrar que na história contemporânea, naqueles períodos em que, em nomeda segurança, do policiamento e do controlo rigoroso, se reprimiram liberdades e direitose se permitiram perseguições com base em estereótipos, assistiu-se a uma intensificaçãodo sectarismo ideológico, do racismo e da xenofobia e cometeram-se crimes abomináveis.Hoje em dia, semelhantes derrapagens poderiam levar à proibição de partidos políticos esindicatos, o que seria um verdadeiro golpe para a democracia, o Estado de direito e asliberdades cívicas. Devemos, portanto, zelar por que a democracia não se transforme numamera cortina de fumo para a adopção de medidas punitivas; ao mesmo tempo, devemosconcentrar os nossos esforços na mitigação das verdadeiras causas dos actos extremistasviolentos, que por definição ultrapassam os limites da liberdade de expressão e aviltampor completo a dignidade humana.

É nosso dever assumir a luta contra a pobreza, o desemprego, as privações, a exploraçãodos trabalhadores e a marginalização social, e zelar por que as gerações futuras, através deum ensino e uma educação adequados, se mantenham afastadas de organizaçõesagressivamente nacionalistas e fascistas que promovem a prática de actos extremistas comoforma de expressão.

Irena Belohorská (NI). – (SK) Obrigada, Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados. Na minha opinião, é essencial adoptar uma resolução comum sobre o combateao extremismo, que se tem tornado, ultimamente, cada vez mais evidente. Há um certosimbolismo no facto de este debate ter lugar no dia em que os Presidentes do ParlamentoEuropeu, da Comissão e do Conselho Europeu confirmaram com as suas assinaturas ocompromisso legal da UE na Carta dos Direitos Fundamentais.

Não podemos permitir que indivíduos ou organizações extremistas ataquem cidadãoscujos direitos têm de ser garantidos numa sociedade civilizada. A história da Europa mostrouas formas que o extremismo, o nacionalismo militante e o radicalismo ideológico podemassumir. É nosso dever monitorizar de forma consequente o território europeu no que dizrespeito a quaisquer actividades deste grupos ou indivíduos e tomar medidas vigorosascontra as mesmas.

Tenho de acrescentar, lamentavelmente, que o extremismo parece ter crescido sobretudoentre os jovens na Europa, o que reflecte um certo fracasso da parte dos políticos. Éimportante recordar que muitos políticos, por falta de temas positivos e profissionais,procuram promover o seu próprio apoio e capital político provocando as camadas depúblico menos experientes e menos informadas. É por isso que a adopção de uma legislaçãomais rigorosa e de medidas mais vigorosas, enquanto é tempo, constitui uma questão euma responsabilidade que todos nós temos de assumir.

PRESIDÊNCIA: MAUROVice-presidente

Pilar del Castillo Vera (PPE-DE). – (ES) Senhor Presidente, Senhor Comissário, nestafase do debate, já se disse quase tudo o que é possível dizer sobre esta matéria. No entanto,gostaria de me deter na chamada de atenção que o Comissário fez aqui em relação ànecessidade de reflectir sobre as causas mais profundas do extremismo.

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Eu julgo que o problema do extremismo não é o facto de haver uma série de grupos quecometem ataques violentos. O terrorismo é um problema, mas um problema que tem deser atacado por via da lei, e os responsáveis têm de ser processados, etc. O problema surgequando essa violência e as intenções que estão por trás dela são repetidas e podem atingirum amplo sector da população ou certos sectores da população. Do ponto de vista políticoe social, o problema surge quando a violência assume proporções preocupantes. Quantoà forma de o evitar, penso que há três factores fundamentais.

Em primeiro lugar, o Comissário referiu um conhecimento da História – e eu, pessoalmente,acredito que isso é realmente muito importante para conhecermos as tragédias, paraconhecermos os êxitos e, em última análise, para nos conhecermos a nós próprios enquantohumanos. Porém, penso que devemos ter o cuidado de não utilizar a História como umaarma contra terceiros para retirar dividendos políticos imediatos, como actualmenteacontece em alguns países – entre os quais o meu, a Espanha, devo dizer.

Em segundo lugar, penso que há outros dois aspectos fundamentais que neste momentosão muito subestimados.

O primeiro é a educação. Já perdemos, e continuamos a perder, ou pelo menos a corroer,valores como o trabalho, a disciplina, a autoconfiança, ou seja, todos aqueles valores quefazem das pessoas bons cidadãos quando atingem a idade adulta.

Por último, no âmbito da União Europeia, o que importa é não destruirmos esse contextoem que nós, europeus, podemos enfrentar em conjunto as redes criadas pela globalização.O que temos agora, e o que tivemos noutros momentos da história europeia do século XX,é uma grande incerteza, um certo desespero, uma certa falta de perspectivas, e aquilo queprecisamos de fazer é dar esperança, incutir um espírito positivo e uma forte liderança paraque todos se sintam parte da União Europeia.

Józef Pinior (PSE). - (PL) Senhor Presidente, o continente europeu e os países da UniãoEuropeia registam hoje casos de xenofobia, nacionalismo extremo, anti-semitismo, racismoe islamofobia. O que falta hoje na Europa é o consenso liberal democrata do período quese seguiu à Segunda Guerra Mundial. Falta aos políticos europeus verdadeira vontadepolítica de enfrentar estes problemas.

Combater as manifestações de racismo, islamofobia, anti-semitismo e xenofobia é umdever comum que incumbe à educação na Europa, aos órgãos de comunicação social, àsigrejas, ao desporto e, acima de tudo, aos políticos. Sentimo-nos com frequência indefesosperante formas tão extremas de activismo político. Mais grave ainda, muitos políticos epartidos servem-se de movimentos extremistas ou populistas para atingirem os seuspróprios fins.

Não desejo usar este debate para marcar pontos políticos no Parlamento Europeu, maspoderia apontar vários exemplos. O importante agora é estabelecer uma política comuma nível da União Europeia, no campo da educação, sobretudo, e também no desporto, nacultura e na política, para combater o extremismo.

Sarah Ludford (ALDE). - (EN) Senhor Presidente, há oito anos, o partido de Jörg Haider,que odeia os imigrantes, conseguiu fazer parte de um governo de coligação na Áustria. Osgovernos da UE não tinham a menor ideia do que fazer. Como resultado dessa confusão,introduziu-se o artigo 7º no Tratado da União Europeia. Nunca foi utilizado, e é evidenteque os Estados-Membros têm um problema cultural quando chega o momento de secriticarem mutuamente. Mas é preciso que disponhamos de uma política mais pró-activa

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de revisão pelos pares, sempre que os Estados-Membros pedem contas a outros, porque,se partidos extremistas e intolerantes chegam ao governo de um dos países da UE, isso émotivo de preocupação para a UE.

O direito penal tem um papel sólido a desempenhar na condenação do incitamento aoódio, para além das disposições que ilegalizam a discriminação. A lei pode ajudar a mudaras atitudes, bem como os comportamentos. A sociedade marca os limites do aceitável, emparte, através daquilo que proíbe ou permite. Razão pela qual fiquei extremamentedecepcionado com o facto de a Comissão, aparentemente, ter considerado que a decisãodo Governo italiano de deportação de romenos, na sua maioria romanichéis, e a retóricaque a acompanhou estão em conformidade com a legislação da UE em matéria de livrecirculação e de luta contra o racismo. Pessoalmente, não estou de acordo.

Porém, a lei só pode e deve ir até certo ponto. Por exemplo, a questão da pertinência dacriminalização da negação do Holocausto é controversa na Europa. A nova legislação daUE que proíbe o incitamento ao ódio racial e religioso faz bem, a meu ver, em deixar essaopção a cada um dos Estados-Membros. A tradição e preferência do meu país é deixar quepessoas como David Irving se condenem a si próprias pelo carácter absurdo e anti-históricodas suas posições e sejam refutadas num debate vigoroso.

Nós que pertencemos aos principais partidos não devemos sentir-nos intimidados pelosrufias e os capangas da extrema-direita, da extrema-esquerda ou por qualquer tipo defundamentalistas. Os liberais democratas – e uso o termo com um “l” minúsculo – de todosos partidos mostram tanta confiança e paixão no que respeita ao seu compromisso paracom uma visão generosa e inclusiva da Europa como a que eles mostram na sua intolerânciamesquinha. Não deixemos nunca de o manifestar.

Leopold Józef Rutowicz (UEN). - (PL) Senhor Presidente, o extremismo é um fenómenoalimentado por políticos que exploram o racismo, o nacionalismo e a xenofobia no seupróprio interesse, e o extremismo recorre com frequência ao terrorismo para alcançar osseus objectivos.

O extremismo não agrega as pessoas e os grupos sociais. Divide-os. É inimigo da sociedadedemocrática e contrário aos valores essenciais da União Europeia, uma comunidade querejeita o ódio e uma guerra provocada por fascistas e nacionalistas que vitimou dezenasde milhões de seres humanos na Europa do século 20.

A maior organização terrorista, a al-Qaeda, fundada no extremismo e no uso do terrorismopara fins políticos, tem hoje capacidade para destruir democracias fragilizadas e conquistarpoder político.

Apoio a resolução, que visa mobilizar as instituições europeias para o combate ao terrorismoe ao extremismo.

Diamanto Manolakou (GUE/NGL). - (EL) Senhor Presidente, a ascensão de grupos eorganizações racistas de extrema-direita na Europa não acontece por acaso. É o resultadoda política antipopular, reaccionária e imperialista da União Europeia. Esta política, quetem como único princípio orientador a maximização dos lucros dos monopólios europeus,através da acumulação de uma imensa riqueza à custa da exploração selvagem da classetrabalhadora, está a fazer alastrar a pobreza, a desigualdade e a marginalização, a agravarde forma dramática a situação das famílias das classes populares e a agudizar os problemasda classe trabalhadora.

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Nestas circunstâncias, há sectores marginalizados da sociedade ou estratos sociais comum nível reduzido de consciência e experiência políticas em que as ideias de extrema-direitae fascistas, que são promovidas sob a capa do populismo e da demagogia, encontramterreno fértil. Hoje em dia, há condições mais propícias para a criação e o desenvolvimentodesses grupos, devido à histeria anticomunista, à tentativa de reescrever a história, à tentativadescarada de apagar o enorme contributo da URSS para a vitória sobre o fascismo e deequiparar o comunismo ao nazismo e ao fascismo. Vemos isto, por exemplo, noreconhecimento e na legitimidade que os governos dos países bálticos concedem aosgrupos fascistas locais, aos colaboradores dos SS e dos nazis que ali estabeleceram as suasbases durante a Segunda Guerra Mundial.

O fascismo, o racismo e a xenofobia são faces da mesma moeda. São fruto e produto dosistema capitalista, que cria, mantém e alimenta estes grupos fascistas. É justamente essaa razão por que consideramos hipócritas as alegadas preocupações com a ascensão deorganizações de extrema-direita e paramilitares na Europa, e rejeitamos toda e qualquertentativa de identificar a luta de classes, as lutas dos trabalhadores e o movimento populare a ideologia comunista com as ideologias extremistas, como uma tentativa inaceitável deatemorizar os povos.

Nickolay Mladenov (PPE-DE). — (BG) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o dia de hoje é um testemunho de que o Parlamento Europeu garante os direitos,não exclusivamente da maioria, mas também daqueles que têm uma opinião diferente.Porque se os nacionalistas nesta Câmara alcançassem os seus objectivos, nenhum de nósteria o direito de manifestar uma opinião diferente, oportunidade que eles tiveram. Devemossobrepor-nos à intolerância e ao extremismo com argumentos e não com emoções, comfactos e não com ruído. Lamentavelmente, quando falamos de factos, não há ninguémpara os ouvir. É um facto lamentável.

No entanto, espero que os nossos apoiantes, os nossos eleitores nos Estados-Membrosouçam muito atentamente o que o Senhor Comissário Frattini salientou. Em primeirolugar, a intolerância e o extremismo provêm do esquecimento do passado. Devemosrecordar o passado e as duas grandes ditaduras de que a Europa foi vítima. Por conseguinte,insto a Comissão e todos nós: recordemos a história da Europa e dêmos mais oportunidadesaos programas da Comissão Europeia para financiar projectos que preservem a nossamemória. Em segundo lugar, devemos recordar a participação de cidadãos no processopolítico.

Senhoras e Senhores Deputados, somos em parte responsáveis pelo nacionalismo e pelaxenofobia na Europa. Muitos de nós começaram a falar como burocratas, e não comopolíticos. Esqueceram a língua que os eleitores entendem e falam a língua das instituições.Devemos ser fortes neste debate para ultrapassar o problema, que afecta em particular osnovos Estados-Membros. Chamemos os problemas pelo seu nome e façamos-lhes frentequando existem. Porque acontece com muita frequência que os partidos políticos ganhamas eleições prometendo uma coisa e fazendo outra e, depois, ficam surpreendidos com aexistência de extremismos e de pessoas descontentes. É responsabilidade comum de todosos deputados ao Parlamento Europeu oporem-se também ao extremismo e à intolerânciaque aumentam no leste da União Europeia, que representa um perigo para todos nós.Obrigado.

Csaba Sándor Tabajdi (PSE). - (HU) Senhor Presidente, geralmente não é suficientecombater o extremismo. Todos têm de agir contra as tendências nacionalistas e extremistas

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emergentes nos seus próprios países. Antes de mais, todos devem condenar os nacionalistasextremistas e distanciarem-se deles nos seus próprios países. Esta é uma condiçãoextremamente importante e o actual debate demonstra igualmente que o extremismo temde ser combatido utilizando simultaneamente instrumentos directos e indirectos.

Os instrumentos directos devem ser utilizados para punir o discurso que incita ao ódio.Há quem refira a liberdade de expressão e diga que isto não pode ser condenado utilizandoos instrumentos do direito penal mas eu penso que ainda não conseguimos o equilíbriocorrecto. As forças democráticas devem dar o exemplo, sobretudo à ala direita, e a aladireita democrática tem grande responsabilidade em se distanciar do fenómeno deextrema-direita que prolifera na Europa.

Simultaneamente, alguns dos meus colegas falaram da necessidade de também reagirmosutilizando instrumentos indirectos, uma vez que a razão de muitos incidentes extremistasreside na incerteza social ou relativa à identidade nacional. O debate actual é muitoimportante e considero que o Senhor Comissário Frattini, a Agência dos DireitosFundamentais e o Parlamento Europeu devem acompanhar de perto todos os incidentesextremistas. Obrigado pela vossa atenção.

Sophia in 't Veld (ALDE). - (NL) Senhor Presidente, existem extremistas em todos oslados, mas nos últimos anos eles têm vindo a ditar o tom e o conteúdo da agenda política.Os partidos democráticos tradicionais são demasiadamente lentos a distanciarem-se dosextremistas porque temem perder votos, e o resultado é uma aceitação política camufladado extremismo e da intolerância.

E ainda há outra coisa. Ao racismo e ao nacionalismo junta-se também o extremismocontra as mulheres e os homossexuais, por exemplo – algo de que ainda não falámos hoje– um extremismo frequentemente baseado em fés religiosas. Fico horrorizada quando vejopartidos no governo, com poderes para governar, ou partidos representados no parlamento– e isso também acontece no meu país – a promover a discriminação contra as mulheres,os homossexuais e pessoas de outras religiões.

Por fim, uma ou duas palavras que podem gerar alguma controvérsia, Senhor Presidente.Com o devido respeito pelas declarações do senhor deputado Ryan, não sou, pessoalmente,a favor de convidar os líderes das principais crenças religiosas para se dirigirem ao nossoplenário, a menos que estejam dispostos a renunciar às suas visões discriminatórias dasmulheres e dos homossexuais.

Jan Tadeusz Masiel (UEN). - (PL) Senhor Presidente, uma das formas de combater oextremismo e reduzir o eleitorado dos partidos extremistas consiste em ouvir maisatentamente os cidadãos sobre matérias que lhes dizem directamente respeito, bem comoem analisar as causas que alimentam este fenómeno.

Se os cidadãos da Europa votam em partidos extremistas é, entre outras razões, porqueuma grande parte da sociedade não sente que os governantes acolham as suas preocupações.Não estou a defender o extremismo, mas este fenómeno não surge por acaso. Em França,Nicholas Sarkozy compreendeu-o. Ao tratar de forma honesta e corajosa questões comoa imigração e a adesão da Turquia, conseguiu enfraquecer os partidos extremistas.Convidaria a Comissão Europeia a seguir o exemplo francês.

Adrian Severin (PSE). - (EN) Senhor Presidente, um presidente de Câmara protestacontra os imigrantes, afirmando que a imigração é uma fonte de insegurança; um outropresidente de Câmara declara que a sua cidade é livre de estrangeiros; um Chefe de Estado

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fala do Parlamento como um grupo de criminosos, instiga as pessoas a amotinar-se contraos legisladores e glorifica uma democracia sem oposição e sem partidos.

Hoje, um grupo de deputados, com atitudes de verdadeiros hooligans, exorta à chamada“democracia popular” que substituiria as eleições por referendos. Um conhecido líderpúblico expressa o seu apoio a grupos violentos que assaltaram o edifício do Parlamentode um Estado democrático e exigiram a revisão dos Tratados de paz.

Uma série de jornalistas manifestam diariamente – por vezes até num vocabuláriopoliticamente correcto – opiniões xenófobas, antiparlamentares, antipluralistas,anti-romanichéis, anti-islâmicas, exclusivistas, intolerantes, discriminatórias e chauvinistas.

Um ministro pede dinheiro à Comissão Europeia para concentrar uma determinadacomunidade étnica indesejável nos países mais pobres da União.

Todos estes são factos, que tiveram lugar na União Europeia e foram cometidos por pessoasconsideradas como membros democráticos dos principais partidos democráticos. Hoje,condenamos aqui partidos extremistas e a sua organização. E isso simplesmente porquesão culpados de intolerância, e a intolerância não deve ser tolerada. Mas, e o que dizer dosque a tornam possível? Os populistas disfarçados de democratas que, ao enfraqueceremas instituições democráticas e relativizando o princípio democrático, criam o ambientemais favorável para os extremistas?

Se continuarmos a falar apenas dos sintomas e dos culpados, permanecendo passivos ouem silêncio quanto às causas e àqueles que favorecem esta intolerância, poremos em causaos nossos valores. Isso não deve acontecer.

Inger Segelström (PSE). - (SV) Senhor Presidente, gostaria de começar por agradecer atodos os partidos esta resolução. Hoje em dia, nenhum país da União Europeia está livrede extremismos de direita, nem mesmo o meu próprio país, a Suécia. Nas últimas eleiçõeslocais em 2006, os Sverigedemokraterna (Democratas Suecos) ganharam lugares em doisterços das autarquias. Podemos imaginar que o seu próximo objectivo seja as eleições parao Parlamento Europeu em 2009 e as eleições para o Parlamento Sueco em 2010. Nós,deputados suecos, precisamos de ajuda para que isso lhes seja mais difícil, da mesma formaque outros países precisam de ajuda para pôr fim à propagação do extremismo de direita,que está a aumentar em toda a Europa.

A Europa precisa de partidos democráticos cujos programas cheguem a toda a gente, nãosó a uns poucos. Nas eleições de 2006, a palavra de ordem dos social-democratas suecosera “Todos estão incluídos”, que se torna ainda mais relevante neste debate, dado que ospartidos e os grupos que estamos a discutir têm programas que não respeitam os valoresfundamentais e de igualdade de todos os seres humanos que a União Europeia defende.Para mim, como membro da Comissão de Liberdades Cívicas, da Justiça e dos AssuntosInternos, a abordagem de matérias da política de asilo e refugiados é absolutamente crucial.Os partidos de extrema-direita opõem-se quer a uma Europa mais aberta quer aodesenvolvimento da União Europeia.

Em vez disso, defendem nações com fronteiras fechadas. É uma ameaça que observo naSuécia e, tal como V. Exas., em toda a União Europeia. Gostaria de fazer mais um comentáriosobre a resolução. A propaganda que grupos extremistas fazem entre crianças e jovensassume a forma de música do poder branco. Os média e as comunicações são a ferramentausada e contornam a escola, a família, o ensino superior e os nossos valores políticos. Éimportante que nós, enquanto representantes eleitos, nos encarreguemos agora do debate.

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Temos de o fazer a partir de hoje mesmo e continuar até às eleições para o ParlamentoEuropeu em 2009. Vamos aplaudir a resolução.

(Aplausos)

Kostas Botopoulos (PSE). - (EL) Senhora Presidente, há uma ameaça que paira sobre ademocracia na Europa, e duvido que todos tenhamos compreendido a sua importância.Essa ameaça não é a propagação de ideias de extrema-direita, mas sim a passagem das ideiasaos métodos da extrema-direita, ou seja, à aceitação da força bruta, como se pode ver naactividade das organizações paramilitares de extrema-direita.

Por isso, cumpre fazer aqui uma importante distinção: por um lado, estamos a combaterideias com as quais não concordamos. Ideias que promovem o nacionalismo na Europa,o racismo, a xenofobia, a opressão das mulheres, a opressão das minorias. Combatemosessas ideias com as nossas próprias ideias e os nossos esforços para combater as causas, ascausas políticas, que residem sobretudo no problema da diversidade – é um facto que oscidadãos europeus não aceitam a diversidade, não aceitam a política que a sustenta e nãoaceitam a própria Europa.

Por outro lado, porém, estamos a travar uma batalha diferente, inclusive com recurso ameios penais, contra a propagação dessas ideias através de actos que conduzem à violência.Deste ponto de vista, penso que esta resolução comum muito equilibrada, subscrita portodos os partidos democráticos desta Assembleia, constitui mais um grande momentopolítico para o nosso Parlamento – especialmente depois do que aconteceu hoje – e sinto-memuito orgulhoso por esta resolução ter tido origem no nosso próprio grupo, o GrupoSocialista.

Ana Maria Gomes (PSE). - No dia 6 de Setembro, foram vandalizadas duas dezenas decampas no cemitério judaico de Lisboa e cruzes suásticas foram inscritas nas lápides. Osdois responsáveis foram presos. São membros da Frente Nacional, uma organização deextrema-direita skin head portuguesa que se declara adepta da guerra racial e de acçõesviolentas pela supremacia da raça branca. Este caso e outros, nomeadamente a vagaantimuçulmana em diversos países europeus e a violência racista que recentemente seabateu sobre a comunidade roma em Itália, demonstra que a xenofobia e o racismo violentoestão entre nós e que não nos podemos dar ao luxo de os minimizar.

No caso português, a tentação inicial das autoridades foi desvalorizar o caso e declarar oanti-semitismo como contrário à natureza supostamente tolerante da sociedade portuguesa.Mas a presença dos Ministros da Justiça e da Administração Interna no cemitério judaicopara a cerimónia da purificação das campas e a visibilidade que esta demonstração desolidariedade teve nos media portugueses servem de lição para outros casos em Portugal enão só. O extremismo na Europa só pode ser combatido de forma eficaz se os representantespolíticos e os media assumirem as suas responsabilidades, dando visibilidade a este tipo decrimes e identificando-os como ataques directos ignóbeis contra a essência da democracia,da Europa e da Humanidade.

Pierre Schapira (PSE). - (FR) Senhor Presidente, caros colegas, perante este temaextremamente preocupante da escalada do extremismo na Europa, o conjunto dasinstituições europeias tem de se mobilizar, com efeito, para travar o desenvolvimentodesses movimentos de extrema-direita, tanto mais perigosos quanto os valores que veiculamsão cada vez mais acompanhados de atentados aos direitos humanos sustentados por umaideologia racista. Tal desvio no próprio seio da União é inaceitável!

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Para ser coerente com o texto da declaração escrita e da resolução do Grupo Socialista noParlamento Europeu apresentados sobre esta questão, a acção da Comissão, em minhaopinião, deve, portanto, ser de dois tipos: uma acção positiva, em colaboração com osEstados-Membros, para a procura das soluções políticas e legais adequadas com vista, porum lado, a condenar as violações dos direitos humanos e, por outro, a actuarpreventivamente, em particular no que respeita aos jovens, sensibilizando-os para osvalores fundamentais da União. Além disso, temos de nos empenhar em garantir quenenhum fundo europeu poderá ser utilizado por uma instituição ou organismo que veiculevalores ou faça declarações de incitamento à violência xenófoba e racista.

Devo, nomeadamente, recordar o caso concreto da Radio Maria, na Polónia, que apresentouum pedido de subsídios europeus quando as suas tomadas de posição não conformes aosprincípios dos direitos humanos são notórias. Aproveito, portanto, a presença da Comissãopara lhe pedir que não sejam concedidas quaisquer dotações europeias a meios decomunicação social que constituam uma plataforma para a difusão de ideias racistas e cujoimpacto na população seja vasto e potencialmente muito perigoso.

Franco Frattini, Membro da Comissão. − (IT) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, considero que o debate de hoje foi de um interesse extraordinário – de grandeinteresse e também de um elevado nível político – pelo que gostaria de agradecer a todosos que usaram da palavra incluindo os que disseram coisas com que não concordo nemposso concordar. Alguns oradores questionaram a necessidade ou importância de levantarsemelhante questão nesta Assembleia; todavia, devo dizer que na minha opinião foi muitoimportante.

Levantou-se uma questão de elevado conteúdo político: estabelecer um equilíbrio entre odireito de expressarmos livremente o nosso pensamento, que é um direito que a Carta dosDireitos Fundamentais reconhece, e outros direitos fundamentais como a dignidade dapessoa humana, igualdade e não discriminação. Permitam-me que diga que aqueles quelevantaram esta questão, considerando que a liberdade de pensamento permite ofender epropagar valores contrários aos direitos fundamentais da pessoa, distorceram o verdadeirosignificado da liberdade de pensamento.

Sempre digo o que penso, mesmo quando as minhas opiniões são contrárias às dos quefalaram antes de mim. Alguém disse: “se, num referendo, os cidadãos votarem contra aCarta dos Direitos Fundamentais, isso será uma manifestação de liberdade”. Não concordo,porque realizar um referendo contra a Carta dos Direitos Fundamentais seria realizar umreferendo contra os cidadãos, uma vez que esses cidadãos são claramente os titulares eprotagonistas dos direitos fundamentais que nos cumpre proteger. Não é porque esseprincípio deva ser refutado, mas porque os que defendem os direitos fundamentais nãosão extremistas, enquanto que aqueles que os violam e recusam, aqueles que gostariam deafirmar o direito de incitar uma multidão ou um grupo de pessoas violentas a destruirsepulcros de judeus são extremistas. Isso não é liberdade de expressão, é violência que temde ser erradicada através de políticas e tem de ser punida por meio de instrumentoslegislativos. Estas são, na minha opinião, as duas medidas que a Europa deverá defendercom absoluta firmeza.

Não devemos minimizar os factos. Não podemos pensar que um acontecimento, singularque seja, pode ser subestimado porque é singular; se esse acontecimento singular for umsintoma de racismo e intolerância, de um profundo desprezo pelos valores humanos, temcabimento preocuparmo-nos com ele, com esse único acto de violência!

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Muitos de vós levantaram uma outra questão extremamente importante: poderá tolerar-sea divulgação de mensagens racistas por parte de forças políticas em nome da liberdade deexpressão e pensamento? Na medida em que são eleitos pelos cidadãos, creio que os políticostêm uma responsabilidade especial e não podem incitar as massas contra outros cidadãosou outras pessoas: é um sentido de responsabilidade pessoal.

Na minha opinião, é difícil, digo isto muito francamente, usar os instrumentos da lei, apolícia ou os serviços secretos para empreender uma investigação de grande alcance desteou daquele partido. Contudo, quando este ou aquele partido afirma publicamente que asua intenção é restaurar a supremacia racial, isso não é liberdade de expressão e pensamento,mas, sim, um ataque às raízes profundas da Europa. Estas razões justificam a acção repressivae não se pode falar de censura ou de ataque à liberdade de expressão.

Defenderei o direito dos que não estão de acordo comigo a dizer o que quiserem dizer,mas não posso defender o direito dos que não estão de acordo comigo a incitar as massasou outras pessoas a atacar, a ferir e a matar. Não há como chamar a isto liberdade deexpressão do pensamento!

Por esta razão, a questão de hoje é uma questão fundamental e utilizarei argumentossemelhantes quando debatermos a terrível forma de extremismo que o terrorismorepresenta, porque não há dúvida de que não há diferença entre a mensagem do ódio raciale a mensagem daqueles que consideram que matar pessoas em ataques terroristas é umaresposta possível aos problemas da sociedade. Ambas são questões que – na minha opinião,através da educação, promovendo a tolerância e fazendo uso dos instrumentos da lei e osdos instrumentos de aplicação da lei – devem ser abordadas a nível europeu. Só poderemosestar satisfeitos quando tivermos a certeza de que não há espaço para racistas, fanáticos eterroristas na Europa.

Presidente. - Nos termos do n.º 2 do artigo 103.º do Regimento, declaro que recebi cincopropostas de resolução (2) .

Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

Glyn Ford (PSE), por escrito. – (EN) Votarei a favor desta resolução com alguma relutância.Aborda um tema importante, no qual tenho trabalhado nesta Assembleia, desde que fuieleito pela primeira vez, em 1984, altura em que tive a honra de presidir à Comissão deInquérito sobre a Escalada do Racismo e do Fascismo na Europa deste Parlamento.

A minha preocupação prende-se com o facto de esta resolução ser tão débil que hojepossam votar a seu favor, e assiná-la, pessoas que, na década de 1980, eram membros departidos neofascistas, como o Movimento Sociale Italiano. Nesse cenário, esta resolução seráforçosamente deficiente.

Lívia Járóka (PPE-DE), por escrito. – (HU) Os movimentos extremistas que estão a ganharforça em toda a Europa são motivo de séria preocupação, visto que as suas actividadespolíticas se baseiam no incitamento ao ódio contra os grupos mais vulneráveis da sociedadee pregam a intolerância e a exclusão social. Tais ideias são incompatíveis com os valores

(2) Ver Acta.

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europeus, a dignidade humana, a igualdade de direitos e as liberdades fundamentaisconstantes dos tratados fundadores da União ou os princípios básicos formulados na Cartados Direitos Fundamentais proclamada exactamente hoje. Tais movimentos e as opiniõesque veiculam são capazes de criar o medo entre as minorias e entre a maioria democráticados cidadãos que cumprem a lei. Devido ao crescente interesse que os meios de comunicaçãosocial dedicam aos grupos extremistas, as falsas generalizações e meias verdades distorcidasque são mais do que nunca amplamente expressas são não apenas inaceitáveis mas tambémextremamente perigosas, visto que reforçam os incidentes ligados aos preconceitos e àdiscriminação negativa e dificultam ainda mais a resolução dos problemas sociais.

Gostaria de, paralelamente, lembrar os incidentes contra os ciganos que também se estãoa tornar cada vez mais frequentes. Existem mais de dez milhões de ciganos na Europa querepresentam a maior minoria étnica e, simultaneamente, a mais vulnerável e indefesa daEuropa, e não é que a sua situação não tenha melhorado nos últimos anos, mas, em muitasáreas, deteriorou-se claramente. É da responsabilidade conjunta da União Europeia e dasorganizações civis encontrarem uma solução para os problemas de desemprego e depobreza extrema e acabarem com a segregação residencial e educacional dos ciganos. Aresolução destes problemas é hoje a questão mais urgente da União Europeia no que respeitaàs minorias.

Magda Kósáné Kovács (PSE), por escrito. – (HU) Os partidos extremistas que têm ganhoassentos em muitos Estados-Membros da União e temporariamente mesmo no PE nãopodem tornar-se aceitáveis na política europeia. A sua supressão é uma questão que dizrespeito a toda a sociedade da Comunidade Europeia, mesmo sabendo nós que o racismoe a xenofobia quotidianos são camuflados por cidadãos que, paralelamente, exigemdemocracia e direitos humanos.

Os jovens, para quem não só o Holocausto como também a queda do muro de Berlim sãoepisódios da história, são especialmente vulneráveis. A Europa sem fronteiras sobrestimaa consciência de se pertencer a uma nação e é fácil difundir as ideias mais surpreendentes.Até agora, a legislação comunitária seguiu as medidas nacionais: não vai mais além e nãoaponta o caminho. No entanto, dado que o problema não exige apenas respostas políticasou jurídicas, a acção não deve surgir apenas nos nossos objectivos mas também nasrespostas das organizações civis e das igrejas que professam os valores europeus edesempenham um papel na vida pública.

Por exemplo, o Papa João Paulo II pronunciou-se muitas vezes contra o racismo e axenofobia e viu como sendo a tarefa da religião servir verdade, paz entre os homens, perdão,vida e amor: por outras palavras, todos os valores que estes grupos radicais não representamou representam apenas de uma forma extrema.

Eu gostaria de pedir ao Presidente do PE e aos membros da Comissão que, durante o diálogoa realizar com as igrejas, peçam a estas que actuem contra o extremismo e que lhe retiremqualquer gesto de apoio.

Katalin Lévai (PSE), por escrito. – (HU) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, as ideias e organizações extremistas tornaram-se um fenómeno alarmante donosso quotidiano e em todo o lado quase sem excepção. O conceito básico para os pais daintegração europeia era a liberdade de pensamento e de opinião. Hoje em dia, são estes osnossos valores fundamentais. A verdadeira democracia também garante liberdade deexpressão que, no entanto, não pode perturbar ou pôr em causa a paz, a vida e a existência;de facto, hoje chegámos lá. Nem podemos permitir que as ideias que no passado incitaram

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ao Holocausto e ao ódio entre nações e povos tenham um fórum e organizações. Em muitossítios, a extrema-direita procura e encontra uma das fontes para as suas soluções para osproblemas sociais com que nos deparamos, na segregação e no incitamento ao ódio, emvez da reconciliação e integração social. A União Europeia, enquanto repositório dosdireitos humanos e da protecção humanitária, deve fazer tudo para que estas ideias eorganizações recuem, e até desapareçam do nosso quotidiano se a sua agressividade queperturba a vida sã da sociedade assim o exigir.

Também recomendo que a União tenha mais espaço para a informação nas suas actividadesde comunicação. Infelizmente, camadas significativas da população são susceptíveis àsmanifestações extremistas e populistas, principalmente devido à ignorância. São sobretudoos mais jovens que correm esse risco, uma vez que não tiveram forma de obter a experiênciahistórica relevante de encontrar o caminho certo. A nossa tarefa é ajudá-los. Se desistirmos,abalaremos os alicerces do nosso futuro.

Daciana Octavia Sârbu (PSE), por escrito. – (RO) A União Europeia deve lutar contraqualquer tipo de extremismo, já que esta actividade é contrária aos princípios de liberdade,democracia e respeito pelos direitos humanos que estão na base da União Europeia. É poressa razão que, ao nível europeu, as acções antiextremistas e antiterroristas não devemafectar os direitos fundamentais dos cidadãos. Os movimentos extremistas de gruposparamilitares, o ultranacionalismo e a xenofobia apelam à violência e os conflitos locaisétnicos e religiosos ameaçam a estabilidade da União Europeia, caracterizada pela grandediversidade cultural e tradicional dos seus Estados-Membros. Estes últimos devem congregaresforços para lutar contra acções extremistas e identificar os instigadores e organizadoresdessas acções. A Agência Europeia dos Direitos Fundamentais terá também um papelimportante a desempenhar na prevenção do racismo e da xenofobia, garantindo um climade segurança no território da União Europeia.

O diálogo, a educação e a informação pública sobre temas relacionados com a promoçãoda tolerância e o combate ao racismo são elementos importantes que contribuem para adivulgação dos princípios da liberdade e da democracia. Os Estados-Membros devemtambém colaborar e envidar esforços para integrar categorias sociais e etnoculturaismarginalizadas, para que a luta contra a discriminação e o incitamento à violência garantauma harmonia étnica e política no seio da União Europeia.

13. Montenegro - Acordo de Estabilização e de Associação CE-Montenegro (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta:

– da declaração da Comissão sobre o Montenegro,

– da recomendação (A6-0498/2007), em nome da Comissão dos Assuntos Externos, sobreuma proposta de decisão do Conselho e da Comissão relativa à conclusão do Acordo deEstabilização e de Associação entre as Comunidades Europeias e os seus Estados-Membros,por um lado, e a República do Montenegro, por outro (COM(2007)0350 - C6-0463/2007- 2007/0123(AVC)) (Relator: Marcello Vernola)

Olli Rehn, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradecer aosenhor deputado Vernola o seu relatório muito sólido, que deverá ser aprovado nummomento extremamente importante das nossas relações com o Montenegro.

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Permitam-me que comece por salientar a perspectiva europeia dos Balcãs Ocidentais. Areunião do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, na segunda-feira,reafirmou que o futuro dos Balcãs Ocidentais reside na União Europeia. Como prova disso,nos últimos dois meses, assinámos um Acordo de Estabilização e de Associação (AEA)com o Montenegro e rubricámos AEA com a Sérvia e a Bósnia e Herzegovina.

Gostaria de agradecer à Presidência portuguesa o seu grande contributo para estes passosencorajadores. Espero que possamos assinar, em breve, os dois últimos acordos, assim queambos os países tenham cumprido as condições necessárias.

O Montenegro fez grandes progressos desde a sua independência, incluindo odesenvolvimento de relações mais fluidas e eficazes com a Sérvia. Foi naturalmente dadoum passo decisivo, em 15 de Outubro deste ano, no percurso europeu do Montenegrocom a assinatura do AEA com o país. Congratulo-me com a ratificação por unanimidade,pouco depois, do AEA por parte do Parlamento montenegrino. O AEA proporciona umquadro estável para o desenvolvimento económico, político e institucional do Montenegroe constitui um passo em frente significativo rumo à integração do país, desde que o Acordoseja devidamente aplicado.

Outro acontecimento positivo, com o qual também me congratulo, foi a adopção daConstituição do Montenegro, escassos dias depois da assinatura do AEA. A novaConstituição, que genericamente está em consonância com as normas europeias, ajuda areforçar as instituições democráticas do país. A sua aplicação cabal exigirá novos esforçose determinação.

O relatório provisório periódico da Comissão, aprovado em 6 de Novembro, salienta estaevolução positiva. Felicita o Montenegro pela estabilização do quadro jurídico e institucionalnecessário na sequência da sua independência. Salienta igualmente os progressos feitospelo Montenegro na preparação da implementação do AEA e o reforço da sua capacidadeadministrativa. O referido relatório salienta ainda alguns desafios cruciais que se colocarãoao Montenegro nos próximos anos. Por exemplo, a capacidade administrativa doMontenegro ainda deixa a desejar, pelo que serão necessárias reformas administrativas atodos os níveis. Na luta contra a corrupção, é necessária uma acção urgente para aconsecução de resultados concretos e tangíveis. O branqueamento de capitais e acriminalidade organizada continuam a suscitar preocupação. Estes são aspectos salientados,com pertinência, no seu relatório.

A nova Constituição reforça a independência do poder judicial, criando um novo órgãoconstitucional, o Conselho Judicial, encarregue da nomeação e demissão dos juízes. OGoverno aprovou igualmente uma estratégia de reforma judicial para o período 2007-2012.A sua aplicação constituirá certamente um grande desafio, porém, é evidente que oMontenegro precisa de garantir a independência, responsabilidade e profissionalismo dosseus juízes e magistrados.

O Montenegro participa activamente na cooperação regional. Tem boas relações com osseus vizinhos. A maioria das questões nas suas relações com a Sérvia, na sequência da suaindependência, foi solucionada. O Montenegro adoptou também uma abordagemconstrutiva relativamente à questão do estatuto do Kosovo, alinhando a sua posição coma da UE.

A atenção deverá agora centrar-se na aplicação cabal do acordo provisório sobre ospreparativos para o AEA na sua totalidade, bem como nas recomendações da parceria

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europeia. É preciso que o Montenegro construa um sólido historial em matéria de aplicaçãoe de reformas. Começou muito bem no que respeita ao processo de estabilização eassociação, e espero que o país consiga avançar com base neste impulso positivo.

Aguardamos com expectativa poder trabalhar mais estreitamente com o Governo, oParlamento, outras instituições e a sociedade civil do Montenegro na sua agenda de reformaeuropeia. Apraz-me poder informar que a nova delegação da Comissão está operacionaldesde 1 de Novembro e está a preparar-se para, oportunamente, de acordo com o previsto,assumir o trabalho desenvolvido até agora pela Agência Europeia para a Reconstrução.Espera-se que o Montenegro receba aproximadamente 100 milhões de euros ao abrigo doinstrumento de pré-adesão durante os próximos três anos, até 2009. Estes fundos ajudarãoo Montenegro em áreas como o Estado de direito, o reforço da capacidade administrativae a aplicação do AEA. O desenvolvimento económico e social e o desenvolvimento dasociedade civil serão seguramente outras prioridades. Por conseguinte, confio em quepossamos contar com o firme apoio do Parlamento Europeu, que, como sempre, é crucial.

Bernd Posselt (PPE-DE). - (DE) Senhor Presidente, este ponto foi anunciado como umdebate ou como declarações do Conselho e da Comissão. Queria apenas perguntar ondeestá o representante do Conselho e se ele voltará a estar presente pelo menos durante oPeríodo de Perguntas ao Conselho ou talvez ainda durante este debate.

Presidente. - Os serviços estão a informar-me que o debate está a ter lugar desta formapor decisão da Conferência dos Presidentes, já que o Conselho está ocupado nos preparativospara a reunião de amanhã do Conselho Europeu de Lisboa.

Marcello Vernola, relator. − (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,hoje em dia, a ideia de que o futuro dos países balcânicos reside na Europa é um dadoadquirido, confirmou-o o Conselho Europeu de Tessalónica em 2003 e nós próprios oapoiámos por várias vezes nesta Assembleia, pondo fim a qualquer novo debate sobre oassunto.

O Montenegro ocupa inquestionavelmente uma posição privilegiada no caminho para aintegração na União Europeia, como o demonstram os factos: a seguir à independênciado Montenegro em 2006, que pôs fim à União com a Sérvia e foi declaradademocraticamente após um referendo regular e devidamente acordada com o Governosérvio, as negociações para um Acordo de Estabilização e de Associação do país foramreabertas e concluídas em pouco mais de dois meses. Os acordos tiveram início em 15 deMarço de 2007 mas, infelizmente, surgiram alguns problemas técnicos que fizeram abrandaro processo, ainda que o fim já esteja à vista. O Senhor Comissário acaba de anunciar quejá foi aberto um gabinete em Podgorica – como havíamos recomendado – e que agoraestão reunidas as condições para a ratificação do acordo.

O progresso do Montenegro durante o ano passado, os compromissos que assumiu perantea Comunidade Europeia e o processo de reformas em curso, mesmo nos últimos dias,levam-nos a subscrever, sem hesitação, a conclusão do acordo. Obviamente que esta nãoé a meta final, é simplesmente um ponto de partida.

O Montenegro tem agora de se centrar na implementação de todas as medidas necessáriaspara completar o processo de reformas em curso e, desse modo, cumprir os compromissosassumidos no Acordo de Estabilização e de Associação. Desse ponto de vista, há queassinalar o bom clima de cooperação que se vive entre o Parlamento Europeu e o Parlamentodo Montenegro, com o qual nos reunimos por várias vezes e onde seremos recebidos na

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próxima semana em Podgorica. O Montenegro tem tudo o que precisa para levar a bomporto, e de forma célere, este processo, a começar pelo seu estatuto de candidato à adesão.

A economia do Montenegro tem continuado a crescer nos últimos anos, o que contribuiupara atrair avultados investimentos estrangeiros, em parte graças às suas políticas fiscaisfavoráveis às empresas. Consequentemente, o desemprego caiu a pique, de 33% para 12%.

Há uns meses atrás, foi adoptada a nova Carta Constitucional, o que mostra claramenteaté que ponto o país tem fortalecido as prerrogativas democráticas que o caracterizam naregião dos Balcãs. As autoridades montenegrinas têm-se esforçado por chegar rapidamentea uma situação conforme às normas europeias. As notícias mais recentes levaram-nos aapresentar cinco alterações para ter em contas estes últimos desenvolvimentos.

Nos últimos dias, foi assinado um acordo de cooperação com o Tribunal Penal Internacionalpara a ex-Jugoslávia com o objectivo de regular a assistência técnica com respeito a esseTribunal. Impõe-se ter presente que a cooperação incondicional com este tribunal ad hocna Haia é de extrema importância para todos os Estados que emergiram dodesmembramento da Jugoslávia. Há que ter presente também que o Montenegro nuncase furtou às suas obrigações internacionais e, em boa verdade, sempre foi elogiado pelaeficácia da sua cooperação com as autoridades legais e estrangeiras.

O Montenegro precisa de envidar mais esforços para combater e pôr termo ao crimeorganizado no domínio do tráfico ilegal transfronteiriço. O Parlamento Europeu tambémconsidera que a corrupção na administração pública e no poder judicial precisa de sercombatida: o país está a responder positivamente às autoridades europeias e podem ver-sesinais disso mesmo na nova Constituição que introduz mecanismos para proteger aautonomia e a independência do poder judicial.

A capacidade da classe dirigente também se desenvolverá através da participação nosprogramas comunitários de geminação e dos intercâmbios com os Estados-Membros.Alguns destes programas promoverão o desenvolvimento de jovens e investigadores. Apromoção da livre circulação das pessoas, em especial estudantes e investigadores, é umameta que se tem em vista, entre outras, simplificando o procedimento de emissão de vistosde curta estadia, para os quais se assinaram acordos específicos em Setembro último coma União Europeia; o objectivo último é liberalizar por completo os vistos a fim de tornara liberdade de circulação efectiva, um outro ponto de extrema importância do Acordo deEstabilização e de Associação, e abrir canais que contribuam para o crescimento e aeducação. Consideramos que se deverá dar grande espaço às instituições de carácter cultural,promovendo, por exemplo, o sector voluntário e protegendo os representantes da sociedadecivil. A liberdade de pensamento terá de ser assegurada tal como o direito à informação.

O ambiente merece uma atenção especial: a Constituição anterior definia a República doMontenegro como uma República ecológica, a primeira no mundo a rotular-se dessa forma.A Natureza tem sido generosa para com o país, desde o seu maravilhoso litoral até à Baíanatural de Kotor e ao maciço montanhoso de Durmitor, que faz parte do património dahumanidade da UNESCO. Esse património tem de ser salvaguardado por meio de legislaçãoespecífica, que em muitos casos já figura no seu ordenamento jurídico mas que não érigorosamente aplicada, muitas vezes por falta de recursos financeiros.

O país recebe consideráveis receitas do turismo, mas infelizmente o próprio turismo poderáter um impacto adverso no ambiente, dado que as instalações disponíveis não possuemsistemas adequados para gerir, de um ponto de vista ecológico, a grande afluência de

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turistas. Por essa razão, solicitámos ao Senhor Comissário Rehn, num outro fórum, quecentrasse a atenção da Comissão na promoção de políticas ambientais, em particular noque respeita a fontes de energia renováveis, gestão de resíduos e água e protecção costeira.O Montenegro está ciente do problema e continua a trabalhar com vista a uma gestãoadequada dos recursos naturais. Recentemente foi aprovado um plano de ordenamentoterritorial que regulamenta as obras de construção de modo a não degradar a paisagemcosteira.

Doris Pack, em nome do Grupo PPE-DE. – (DE) Senhor Presidente, em nome do GrupoPPE-DE, congratulo-me naturalmente com os progressos que o Montenegro realizou desdea declaração da sua independência e que permitiram concluir com muita celeridade oAcordo de Estabilização e de Associação.

Como é óbvio, os montenegrinos não devem agora cruzar os braços, mas sim aplicarplenamente o acordo que assinaram. Devem seguir as linhas directrizes por si estabelecidase criar condições para que a administração possa aplicar a legislação adoptada. Devemgarantir o bom funcionamento do sistema judicial e a tomada de medidas para combatera corrupção, especialmente ao nível da administração e da justiça.

Tenho perfeita consciência de que a situação especial que prevaleceu na região durante adécada de 1990 foi propícia à corrupção e que agora é muito difícil erradicá-la, mas o factode o nome do país continuar a ser associado ao contrabando, à corrupção e aobranqueamento de capitais não é nada favorável à reputação do Montenegro junto dospaíses da União Europeia. Os políticos montenegrinos têm de fazer tudo o que estiver aoseu alcance para mudarem esta imagem. Afinal, os cidadãos da União Europeia,supostamente, devem um dia acolher o Montenegro no seu seio. Por esse motivo, éimperativo que o desenvolvimento da democracia e de uma economia de mercado noMontenegro tenha lugar num quadro verdadeiramente transparente.

Não é minha intenção debater cada um dos pontos que hoje aqui foram ou ainda serãosuscitados, nem tão-pouco pretendo fazer referência a tudo o que está incluído na nossaresolução. Todavia, não quero deixar de salientar que a paisagem montenegrina é uma jóiae que se exigem medidas especiais para preservar as suas características únicas. Isso significa,como disse o senhor deputado Marcello Vernola, que a cláusula inscrita na novaConstituição, que declara que o Montenegro é um Estado ecológico não pode ser apenasuma vã promessa. Importa proteger a costa e o interior do país e impedir projectos deinvestimento megalómanos. As características naturais e os locais de interesse cultural ehistórico têm de ser preservados, a fim de assegurar que o Montenegro não desperdice asua atracção turística singular. Na Europa Ocidental, temos maus exemplos suficientesdesse tipo de profanação.

Há que impedir a venda ao desbarato da costa e do interior do país; na ordem do dia estãoo desenvolvimento sensato do turismo e a utilização prudente da terra. É premente evitara pressão urbanística no litoral e combater a especulação fundiária e imobiliária. Agrada-meconstatar que agora parece existir um plano de ordenamento do território para aquelazona. Saúdo a cooperação com o Tribunal Penal Internacional para a Antiga Jugoslávia eespero que possa, um dia, levar à detenção de Karadžić.

Também desejo profundamente que o Montenegro crie finalmente a agência nacional queirá permitir aos seus estudantes e formandos participar nos programas de educação Erasmuse Leonardo.

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Na próxima semana, teremos um encontro com uma delegação de deputados do Parlamentomontenegrino e iremos encorajá-los a apoiar o seu governo nos esforços de convergênciacom a União Europeia e no combate a todos os abusos que aqui foram referidos.

Vural Öger, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhor Presidente, na Cimeira Europeia deSalónica, em Junho de 2003, os Chefes de Estado e de Governo reiteraram a suadeterminação de apoiar o desenvolvimento de uma perspectiva europeia nos BalcãsOcidentais. O Montenegro é o mais jovem país sucessor da antiga Jugoslávia, tendodeclarado a sua independência da Sérvia em 2006.

Desde então, o Montenegro tem vindo a aprofundar as suas relações com a União Europeiae optou claramente por seguir a rota europeia. Congratulo-me, de um modo particular,com a celebração do Acordo de Estabilização e de Associação, em 18 de Outubro, queconstitui um marco nas relações entre o Montenegro e a UE. Proporciona inúmerasvantagens àquele pequeno país dos Balcãs, sobretudo em termos económicos e comerciais,uma vez que prevê a criação de uma zona de comércio livre e facilita o investimento e acooperação empresarial.

Em 19 de Outubro de 2007, pouco mais de um ano após a declaração de independência,foi concretizado outro objectivo fundamental, quando o Parlamento montenegrino aprovoua primeira Constituição do país, a qual irá desempenhar um papel particularmenteimportante na formação da identidade desta jovem nação. A Constituição define oMontenegro como Estado de direito democrático, liberal e ecológico, o que representa umgrande êxito. O Montenegro ainda tem um longo caminho pela frente até se tornar membroda UE, mas os obstáculos subsistentes estão a ser progressivamente eliminados.

Ainda são necessários progressos, em especial no combate à economia informal e àcorrupção. O funcionamento de um sistema judicial livre e independente, a cooperaçãocom o Tribunal Penal Internacional para a Antiga Jugoslávia e, acima de tudo, os processosde reforma nos domínios da democratização, dos direitos humanos e da protecção dasminorias são indispensáveis para o Montenegro e para o seu futuro na UE. A primeiraprioridade tem de ser a boa execução das reformas previstas no Acordo de Estabilizaçãoe de Associação.

Em 1 de Janeiro de 2008, a Presidência do Conselho da União Europeia será assumida pelaEslovénia, outro dos países sucessores da Jugoslávia. Regozijo-me por uma das prioridadesda Presidência eslovena visar precisamente os Balcãs Ocidentais. A segurança e a estabilidadedos Balcãs Ocidentais são de primordial importância para a própria região e para toda aEuropa.

Um Montenegro democrático e estável poderá e deverá desempenhar um papel importantena prossecução destes objectivos. Gostaria de concluir salientando que a perspectiva de oMontenegro um dia aderir à UE, ainda que num futuro longínquo, é o principal motor paranovos processos de reforma. O Parlamento Europeu deverá apoiar o Montenegro no seucaminho rumo à UE.

Jelko Kacin, em nome do Grupo ALDE. – (SL) Há mais de cem anos, o Montenegro eraum reino no mapa político da Europa. Era reconhecido e valorizado cultural e politicamente.

Parte da costa da Baía de Kotor fazia parte integrante do território austro-húngaro e, nessetempo, dava acesso ao mar em conjunto com a actual Herzegovina. O Montenegro já fezparte da Europa moderna e está agora a preparar-se para a plena cooperação e adesão àUnião Europeia.

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Desde Maio de 2006, quando se tornou um novo país europeu, o Montenegro fez progressosanimadores no que se refere à implementação da agenda europeia. Merece parabéns pelaassinatura do Acordo de Estabilização e Associação e pelas novas leis adoptadas emOutubro. A capital, Podgorica, merece também ser reconhecida pela sua colaboração como Tribunal de Haia e pelo seu papel e contribuição positivos para a estabilidade duradourada região.

No entanto, de hoje em diante, a nossa União Europeia será diferente, dado que, há poucashoras, presenciámos, nesta Câmara, um acontecimento histórico quando foi assinada aCarta dos Direitos Fundamentais. Os nacionais do Montenegro também merecem maisdemocracia, mais respeito, maior diversidade e maior segurança jurídica. Os principaisdesafios que se põem a este jovem país estão associados à luta contra o crime organizadoe a corrupção, áreas em que se pode e deve fazer mais. Gostaria de pedir às autoridadescompetentes que sejam mais proactivas na luta contra a corrupção, o crime organizado eo tráfico de pessoas, armas e drogas.

Nesse contexto, aplaudo o firme quadro legislativo. No entanto, salientaria que aimplementação da legislação na prática é um processo que exige também recursosadministrativos e políticos adequados. Ainda me preocupa muito a falta de transparênciae de cultura política a nível das estruturas políticas e económicas. É isso que está a impediro Montenegro de desenvolver uma sociedade democrática e um mercado livre.

O Montenegro deve fazer mais em termos de liberdade, pluralidade e profissionalismo dosmeios de comunicação. Deve executar plenamente as reformas adoptadas e garantir aindependência da rádio e da televisão do país.

Lamento ainda não haver resultados na investigação do caso do jornalista assassinadoDuško Jovanović que, na altura, estava a publicar uma série de artigos sobre o crimeorganizado no Montenegro.

Os jornalistas e a sociedade civil desempenham um papel importante no desenvolvimentoda democracia, especialmente quando chamam a atenção para problemas sociais sensíveis.Gostaria, por conseguinte, de pedir ao Governo que seja mais activo na resolução destesproblemas e envolva e consulte a sociedade civil, proporcionando-lhe melhores condiçõesde trabalho.

Gisela Kallenbach, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, querotransmitir os meus sinceros agradecimentos ao senhor deputado Vernola pelo seu relatórioe pela sua boa cooperação com a Comissão dos Assuntos Externos. Mas é com maiorgratidão ainda que felicito os nossos colegas montenegrinos e a Comissão, que provaram,uma vez mais, que a perspectiva europeia estimula o desenvolvimento da democracia, oEstado de direito e a estabilidade.

Na prática, porém, eu considero que o processo está a avançar demasiado lentamente. Poresse motivo, apelo a ambas as partes - começando por nós próprios, as Instituições europeias- para que se lembrem de que o Montenegro e, com efeito, toda a região dos BalcãsOcidentais fazem parte da Europa. É do nosso próprio interesse que a paz e a democraciaprevaleçam de forma duradoura naquela região. Devemos reforçar o nosso compromissopara com toda aquela região. A nossa proposta para uma agenda específica com vista auma estreita parceria económica e ambiental com os Balcãs Ocidentais deve ser aprovada.O regime de isenção de vistos deve ser introduzido, o mais rapidamente possível.

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Peço ao Montenegro para assegurar que os relatórios de progresso deixem de fazerreferência, como nos anos anteriores, a esforços insuficientes na luta contra a corrupçãoe o crime organizado e à falta de capacidades nas instituições públicas. O país tem deredobrar os seus esforços para pôr em prática os valores europeus, nos quais se inclui umambiente de abertura que seja verdadeiramente propício à actividade da sociedade civil eonde a liberdade de imprensa seja um dado adquirido.

Por último, o Montenegro tem de assumir um papel mais proeminente como agenteconstrutivo na região, inclusivamente na resolução do problema do estatuto do Kosovo.Talvez possa também reconsiderar algumas das medidas que conduziram à dependênciaem relação a países não europeus em certos domínios. Essas medidas incluem não só aassinatura do acordo bilateral de imunidade com os Estados Unidos, como também alegislação que permite uma especulação fundiária e imobiliária pouco saudável, a qualcompromete os esforços de protecção do ambiente e impede um verdadeirodesenvolvimento sustentável da lindíssima costa do Montenegro.

A recente adopção de objectivos de ordenamento do território constitui um passoimportante. Quero, uma vez mais, dar os meus parabéns e encorajar o país a realizar novosprogressos na via da adesão à União Europeia.

Helmuth Markov , em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário, em 1918, o Montenegro independente tomou uma decisão voluntária de seunir com os países vizinhos da Sérvia, Croácia, Bósnia e Herzegovina e Eslovénia. Após acisão da Jugoslávia, o eleitorado montenegrino decidiu democraticamente, em 2006, quenão pretendia manter a união com a Sérvia. O Montenegro tornou-se, assim, o 49.º Estadoindependente da Europa, um Estado cuja população é maioritariamente eslava, exceptonas regiões de fronteira com a Albânia e o Kosovo, onde predomina a etnia albanesa.

Em termos de política quotidiana, é importante que o Montenegro não se torne um localde abrigo para estrangeiros que querem pagar menos impostos e branquear rendimentosilícitos. O Montenegro tem de encontrar soluções para o problema da poluição ambientale para o drama dos refugiados de longa duração originários da Sérvia e do Kosovo.

É necessário recuperar as linhas férreas e combater o contrabando. O meu grupocongratula-se por a Comissão dos Assuntos Externos ter aceitado as nossas alteraçõesrelativas às condições de vida e de trabalho dos refugiados. As pessoas que não sãoactualmente cidadãos de nenhum país não podem permanecer apátridas para sempre, e oMontenegro tem de respeitar a orientação do Conselho da Europa sobre esta matéria.

Foi igualmente aprovada a nossa proposta relativa ao restabelecimento da ligação ferroviáriaà cidade de Nikšić, na fronteira com a Bósnia, e à cidade albanesa de Shkodër. São necessáriasmedidas urgentes para pôr termo à negligência da ligação ferroviária norte-sul e paracorrigir o desequilíbrio causado pela decisão de apostar unicamente no transporte rodoviáriopor automóvel, autocarro e camião.

Também saudamos o facto de o relator não ter repetido o apelo, que lançara no seu anteriorrelatório sobre o Montenegro, no sentido de uma rápida adesão do país à NATO. A adesãoà NATO não pode ser imposta como condição para a admissão como futuro candidato àadesão à UE.

Outro aspecto positivo do relatório é que não volta a exigir que o Montenegro adopte umtipo de política económica neoliberal que iria ainda mais longe do que aquela que temosactualmente na União Europeia. O Montenegro tem a oportunidade de vir a ser um

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Estado-Membro da UE. Isso é importante, não apenas para o Montenegro, mas tambémpara os outros Estados da antiga Jugoslávia que desejam de igual modo a adesão.

Bastiaan Belder, em nome do Grupo IND/DEM. – (NL) Senhor Presidente, o relator, senhordeputado Vernola, salienta, com toda a razão, que o futuro do Montenegro está na UniãoEuropeia. Mas o caminho rumo à integração não é um mar de rosas. Existem motivos parapreocupação face ao modo como este jovem Estado dos Balcãs está a desenvolver-se. OMontenegro pode, teoricamente, ser esplendidamente “verde” e estar a desenvolver-se deforma ideal, mas Podgorica tem de manter esta situação a longo prazo. E as práticas actuaisparecem estar fortemente enraizadas.

Um dos perigos é, por exemplo, a subida instável dos preços dos imóveis na “Costa deOuro” em redor de Kotor. Além disso, o crescimento rápido e por vezes ilegal da construçãoestá a submeter os sistemas de saneamento e abastecimento de água do país a um esforçoexcessivo. O senhor deputado Vernola refere esse facto, mas não tão energicamente comoum problema desta gravidade exigiria.

O enorme potencial de crescimento do turismo montenegrino também tem a sua facetaobscura. Embora a costa adriática deste pequeno Estado esteja a atravessar um rápidodesenvolvimento, o desemprego no norte já atinge mais de 20% e a pobreza é superior àmédia nacional.

A herança da guerra continua a ser evidente. As infra-estruturas são mínimas, e em algumaslocalidades a população tem de fazer face à escassez de água e de electricidade. Osmontenegrinos ainda não estão a investir de forma suficientemente produtiva num futurocom uma economia sólida. Para poder desenvolver-se, com vista a uma integração europeia,o Montenegro necessita de uma estratégia de crescimento devidamente planeada para todoo país. Não há lugar para acções irreflectidas na criação de uma nova “Costa de Ouroeuropeia”.

PRESIDÊNCIA: McMILLAN-SCOTTVice-presidente

Alojz Peterle (PPE-DE). - (SL) É com prazer que apoio o consentimento dado à conclusãodo Acordo de Estabilização e de Associação entre a União Europeia e o Montenegro, queé um dos actos importantes e positivos que ocorreram no Sudeste Europeu nos últimosmeses. Este Acordo é o reconhecimento do trabalho feito pelo Montenegro e, ao mesmotempo, uma obrigação contratual de continuar o trabalho em curso até à adesão plena,segundo o espírito da perspectiva de Salónica.

O Acordo define claramente as prioridades fundamentais nos campos políticos eeconómicos e noutros. Nesse sentido, congratulo-me com a relação clara do Acordo comas prioridades de desenvolvimento na área do turismo, da protecção ambiental, dostransportes e da produção de energia. Todas estas prioridades estão estreitamenteinterligadas e, por conseguinte, é também importante que o Montenegro execute ou procedaà reforma administrativa pela qual possa garantir um rápido desenvolvimento e ocumprimento das condições para atingir o estatuto de candidato. Desejo verdadeiramenteque o Montenegro tenha sucesso nesta matéria, uma vez que a implementação, que osoradores precedentes salientaram, depende disso.

Estou convicto de que, sob a Presidência eslovena, a União Europeia dará conta de qualquerprogresso do Montenegro no cumprimento das suas obrigações contratuais. O progresso

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do Montenegro é, evidentemente, de especial interesse para o Sudeste Europeu e, portanto,também para toda a União Europeia.

Hannes Swoboda (PSE). - (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, o Montenegro é um país admirável por vários motivos. A sua paisagemé admirável, da mesma maneira que é admirável o modo como foi conduzido o processode separação da Sérvia, em que tanto o Montenegro como a Sérvia agiram de forma muitoresponsável. Também devo expressar a minha admiração pela política que o país adoptouem relação às minorias, cujo resultado é que estas tendem em geral a sentir-se em casa noMontenegro. Esta e muitas outras coisas merecem certamente a nossa admiração.

Mas também existem aspectos menos positivos, que constituem para mim motivo degrande preocupação e já aqui foram referidos por outros oradores. Um deles é a actividadedos investidores estrangeiros, sobretudo oriundos da Rússia. Não tenho nada contra oinvestimento russo no Montenegro ou em qualquer outro país. Mas os montenegrinosdevem ter cuidado para que não haja um desequilíbrio que os torne dependentes de umúnico país - e eu diria a mesma coisa relativamente à dependência de qualquer outro país,e não apenas da Rússia. Alguns destes investimentos já estão a pôr em risco os sítios debeleza natural e as paisagens pitorescas do Montenegro.

O que continua a entristecer-me profundamente é a prevalência da corrupção a que algunsdeputados já fizeram referência. Dispomos de muitas notícias divulgadas por meios decomunicação social que podemos considerar de confiança, já que tentam noticiar de formabastante imparcial. Os casos de corrupção maciça relacionados com o contrabando decigarros e outros casos de que temos tido conhecimento são situações que pensávamospertencer ao passado. Eu peço à Comissão que dê prioridade a estas questões. Se a corrupçãofosse o único critério, não deveríamos hoje ou nos próximos dias aprovar o Acordo deEstabilização e de Associação. No entanto, iremos aprová-lo - e aqui incluo o Grupo dosSocialistas - porque queremos ajudar o país no seu processo de reforma.

Escusado será dizer, porém, que esperamos que a Comissão e o próprio Montenegroenvidem todos os esforços necessários para acabar com a corrupção, a qual se estende aoscírculos políticos, e isso é muito triste. Pelo menos têm-se generalizado as acusações decorrupção feitas aos políticos. À semelhança do senhor deputado Kacin, gostaria de salientarque o assassínio de Duško Jovanović continua por resolver. Pergunto-me se será meracoincidência o facto de ele e os seus colegas terem escrito bastante sobre o crime organizado.Espero que seja mesmo só coincidência e que não haja qualquer correlação com o homicídio.De qualquer forma, desejo que as autoridades montenegrinas resolvam este casorapidamente e se esforcem bastante mais por combater a corrupção no seu país.

Ewa Tomaszewska (UEN). - (PL) Senhor Presidente, a recomendação relativa à conclusãodo Acordo de Estabilização e de Associação entre as Comunidades Europeias e a Repúblicado Montenegro diz respeito a uma situação particular. É a primeira vez que lidamos comum país que se tornou independente por meio de um referendo.

Fui observadora nas primeiras eleições legislativas realizadas no Montenegro após oreferendo, enquanto representante da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa.Tanto a delegação do Conselho da Europa como a OCDE confirmaram o carácterdemocrático das eleições. Fiquei impressionada com o civismo que marcou o processoeleitoral. Em todas as comissões eleitorais que visitámos, estavam presentes representantesde organizações não governamentais bem como delegados da Comissão Nacional deEleições. Era evidente o empenho de todos os envolvidos no correcto cumprimento do

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acto eleitoral. Importa assinalar igualmente que o Montenegro adoptou o euro como moedalegal.

Tendo em conta os progressos alcançados por este país no sentido da integração na UniãoEuropeia, apoio a recomendação relativa à conclusão do Acordo. Espero que o processode adaptação ajude o Montenegro a melhorar as condições de vida dos seus habitantes.

(O Presidente retira a palavra à oradora)

Jaromír Kohlíček (GUE/NGL). – (CS) Senhoras e Senhores Deputados, as relações entrea UE e os Balcãs constituem uma questão delicada, em parte porque os maioresEstados-Membros da UE, através das suas políticas sob o lema “dividir para reinar”,contribuíram significativamente para o desmembramento da antiga Jugoslávia, a qual tinhasido um factor estabilizador decisivo em toda a região, desde a Primeira Guerra Mundial.Com excepção da Eslovénia, o que caracteriza todos estes Estados são a instabilidade, astensões étnicas, problemas de migração, elevados níveis de corrupção e de desemprego,um Estado fraco e influência limitada dos parlamentos eleitos. Este ambiente constitui umsolo fértil para o comércio ilegal e o tráfico de armas, de pessoas, de drogas, de álcool e deprodutos do tabaco. Num ambiente destes, é difícil fazer planos para os transportes, aenergia e o desenvolvimento económico. É igualmente difícil proteger o ambiente. Nãodeveria constituir uma surpresa para nenhum dos senhores deputados encararmos estesfenómenos, que também predominam no Montenegro, como questões globais urgentesque se colocam à Terra. Uma resolução não passa de um fraco substituto para aquilo quedeveríamos fazer em ordem a libertarmo-nos da culpa que vários membros sentemrelativamente ao presente estado das coisas nesta região. O Parlamento tem consciênciadisso?

Georgios Georgiou (IND/DEM). - (EL) Senhor Presidente, o nosso colega, o senhordeputado Vernola, fez-nos uma descrição excelente – vívida, diria mesmo – do Montenegro,que é o canto mais encantador dos Balcãs. Nas lendas balcânicas, houve sempre contossobre este reino antigo, que conseguiu viver com cinco países vizinhos. Tantos vizinhos!O Montenegro partilha fronteiras com a Bósnia, a Croácia, a Sérvia, a Albânia e ainda como Kosovo, que agora poderá tornar-se um problema para o Montenegro, porque, pelo quese lê nos jornais e pelo que dizem alguns colegas, o Kosovo está prestes a declarar a suaindependência, unilateralmente!

Isto poderia constituir um problema para o Montenegro, onde actualmente residemnumerosos albaneses. Na minha opinião, a assinatura do acordo de adesão, para início dasnegociações, é muito positivo, e vai contribuir para a reforma da administração pública edo sistema judicial, mas acima de tudo vai ajudar a combater a corrupção, e tenho esperançade que este mesmo acordo sirva para conter eventuais tendências entre a populaçãoalbanesa.

Jacek Protasiewicz (PPE-DE). - (PL) Senhor Presidente, há muito que a situação políticanos Balcãs é um tema de particular interesse para o Parlamento Europeu. Sentimo-nosfelizes com o facto de a paz e a cooperação entre nações caracterizarem hoje a vida destaregião, após um longo período de conflitos sangrentos.

Mesmo as questões mais delicadas, como as declarações de independência dos novosEstados, têm decorrido, ou tido a possibilidade de decorrer, num clima de respeito pelasnormas internacionais mais exigentes. É esta a tendência que tem caracterizado a evoluçãopolítica dos Balcãs, tendência que permite alcançar o objectivo estratégico da maioria dos

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países da região, designadamente em termos de fortalecimento da cooperação com a UniãoEuropeia, com vista à adesão.

O Montenegro é um caso emblemático. Após declarar a sua independência, manteve boasrelações com os vizinhos mais próximos, incluindo a República Sérvia, à qual estiveraanteriormente associada no seio de uma federação. Iniciou de imediato intensas negociaçõespara um Acordo de Estabilização e Associação, que culminaram na respectiva assinaturaem 15 de Outubro deste ano. Concluiu em paralelo um acordo de comércio livre com aUE, que entrará em vigor em Janeiro.

No decurso deste breve período de tempo, de apenas ano e meio, o Montenegro registouum progresso apreciável. Merecem particular destaque as mudanças introduzidas na políticafiscal e tributária, bem como as iniciativas para a criação de uma economia de mercado,baseada na concorrência e na livre circulação de capitais.

Ainda há muito a fazer, em particular nos domínios da política social e do emprego, energiae protecção ambiental, assim como nas esferas da segurança e dos direitos cívicos. Ocombate à corrupção e ao crime organizado e uma cooperação plena com o TribunalInternacional de Haia são outras das tarefas urgentes que incumbem ao Governomontenegrino.

O Montenegro não é, no entanto, o único país que enfrenta estes problemas. Todos ospaíses dos Balcãs que pretendem aderir à União Europeia se encontram perante os mesmosdesafios. O Montenegro é um dos países que encabeça o processo e gostaria de formularvotos de que se mantenha nesta posição. A União Europeia está disposta a integrar no seuseio os países dos Balcãs. Se, e quando, isso poderá acontecer depende, acima de tudo, davontade das camadas dirigentes e da sensatez dos políticos dos Balcãs.

Libor Rouček (PSE). – (CS) Senhor Comissário, Senhoras e Senhores Deputados, oMontenegro fez progressos visíveis durante a sua curta existência. Foram lançados osalicerces para um novo Estado e foi adoptada uma nova Constituição. A economia do paísregista um forte crescimento de 8% e o investimento estrangeiro, este ano, ascendeu a 700milhões de euros. Foi assinado o Acordo de Estabilização e de Associação e o Montenegrodeu os primeiros passos no seu caminho para se tornar membro de pleno direito da UE.No entanto, se o Montenegro quer que o seu caminho para aderir à UE seja tão curto erápido quanto possível, Podgorica terá de tomar algumas decisões fundamentais. Énecessário reforçar o funcionamento do Estado de direito e garantir, entre outras coisas,a independência dos tribunais. É igualmente necessário combater a corrupção – com maisconvicção do que no passado – e aumentar a transparência dos processos de tomada dedecisão nas estruturas políticas e económicas, com a vista a garantir o funcionamentodemocrático e justo da economia de mercado. O turismo reveste-se de importânciafundamental para a economia do Montenegro. A sua sustentabilidade tem de ser garantidaatravés da adopção de um quadro legislativo único para a protecção do ambiente naturale da zona costeira.

Senhoras e Senhores Deputados, o processo de adesão do Montenegro e dos seus vizinhosfacilita muito o maior desenvolvimento da cooperação regional. Estou convencido de quea cooperação regional no contexto da CEFTA também ajudará a resolver muitos problemaspolíticos, económicos e sociais em toda a região. Gostaria de terminar a minha intervençãoexortando a Comissão a ajudar o Montenegro e outros Estados dos Balcãs Ocidentais adesenvolver uma cooperação regional, sobretudo nas áreas da energia, dos transportes edo ambiente.

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Ryszard Czarnecki (UEN). - (PL) Senhor Presidente, o senhor deputado Swobodamencionou há pouco, oportunamente, a corrupção generalizada no Montenegro. Comefeito, e no mesmo sentido, gostaria de citar dados divulgados pela Transparency International,que indicam que numa escala de zero a dez (na qual dez equivale à inexistência decorrupção), o Montenegro se situa nos 3.3., ou seja, entre os países onde a corrupçãorepresenta um problema grave.

Acrescentaria que o contrabando é outro problema dramático para o Montenegro. Nestecontexto, podemos dizer que o país não tem fronteiras. Foi recentemente introduzida umaproposta da proibição de fumar nos espaços públicos, quando, ao mesmo tempo, sãovendidos no centro da capital milhares de maços de cigarros de contrabando. Neste domínio,o Montenegro tem muito caminho a percorrer até poder aderir à União Europeia.

Por outro lado, o país deve ser encorajado a cumprir o mais rapidamente possível os critériosda União Europeia. Congratulo-me com o facto de, na esfera judicial, por exemplo, ou dofuncionamento da administração, terem sido alcançados progressos concretos. Devemosreconhecer os resultados que o Montenegro tem conseguido obter, desde o momento emque declarou, algo inesperadamente, a sua independência, na sequência de um referendo.

Considero que a União Europeia deveria enviar um sinal claro de que, uma vez que seencontrem cumpridos os critérios relevantes, será facilitado o caminho da adesão doMontenegro à União Europeia. Devemos oferecer a este país uma perspectiva real de adesão.Não se trata, como é óbvio, de estabelecer um prazo de dois, três ou quatro anos, mas deoferecer à sociedade montenegrina um incentivo concreto no sentido do cumprir as normaseuropeias.

Bernd Posselt (PPE-DE). - (DE) Senhor Presidente, o Montenegro é não só um dos maisbelos países do mundo, como também o país dos Balcãs com a mais antiga tradição deindependência da era moderna. Quando foi fundada a Bélgica, o Montenegro já eraindependente há séculos e possuía as características de um Estado. Sublinho isto porqueo Montenegro é sempre mal julgado como minúsculo país supérfluo, que subitamente setornou independente por um golpe de sorte.

Senhor Deputado Markov, permita-me esclarecê-lo de que o Montenegro foi anexado peloseu aliado sérvio após a Primeira Guerra Mundial. Naquela altura, não se tratou certamentede uma união voluntária. Realizou-se uma votação parlamentar como pro forma, mas nadamais do que isso. Durante a década de 1920 e no início da de 1930, houve um enormemovimento de libertação no Montenegro. O General Tito veio depois restabelecer aindependência do Montenegro no seio da Jugoslávia e conferiu-lhe um direito de secessãoao abrigo da Constituição jugoslava. Porém, quando o Montenegro tentou exercer essedireito, foram-lhe colocados obstáculos no caminho. Hoje, o Montenegro é um paísindependente a caminho da adesão à União Europeia.

Temos de apoiar as forças democráticas no país. Como já foi referido, o tratamento dasminorias é um exemplo para muitos outros países da região, e foi por isso também que asminorias apoiaram a independência. Mas o país continua a precisar de um sistema deeducação independente mais sólido, como aquele promovido pelo centro escolarfranciscano em Tuzi, perto de Podgorica. As iniciativas de educação privadas são necessáriaspara libertar o país da sua rigidez.

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Insto o Governo a prosseguir com determinação nesta via conducente ao pluralismo, nãoapenas na economia, mas também na educação e nas estruturas constitucionais edemocráticas do país.

(Aplausos)

Józef Pinior (PSE). - (PL) Senhor Presidente, não restam dúvidas de que o Montenegroconstitui um exemplo de desenvolvimento positivo nos Balcãs em termos da estrutura doEstado, Constituição, Estado de direito, entrada no mercado global e criação de umaeconomia de mercado. Deste modo, o Acordo de Estabilização e de Associação entre asComunidades Europeias e a República do Montenegro deve merecer um apoio sem reservasdo Parlamento Europeu.

Ao mesmo tempo, porém, importa sublinhar que o Montenegro ainda tem muito a fazer,em particular no que respeita ao Estado de direito e à luta contra a corrupção. Notaria aindaque, em Abril de 2007, o Montenegro assinou um acordo bilateral com os Estados Unidosque concede aos cidadãos norte-americanos imunidade perante o Tribunal PenalInternacional de Haia. Infelizmente, este acordo é contrário à posição comum e princípiosbasilares da União Europeia. O Tribunal Penal Internacional é uma instituição muitoimportante para a política europeia, o que faz daquele documento um entrave à perspectivade um acordo com a União Europeia.

Não o afirmo com a intenção de criar qualquer má vontade do Parlamento Europeu emrelação ao Montenegro. Pelo contrário, julgo que a Comissão Europeia e todas as instituiçõesda UE deveriam empenhar-se neste momento em ajudar o país a preparar-se para oestreitamento das suas relações com a União Europeia, designadamente na luta contra acorrupção, no reforço do Estado de direito, na criação de uma economia de mercado e nocombate ao mercado negro.

Paul Rübig (PPE-DE). - (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, o exemplo do Montenegro mostra-nos o quão importante pode ser umreferendo. Compreendo, por isso, que hoje tenham aqui sido levantados tantos cartazes aexigir um referendo, pois o próprio Tratado de Lisboa prevê naturalmente a opção depropormos um tal referendo ao povo europeu. Considero importante envolver os cidadãosem geral no processo de consulta e dar-lhes uma oportunidade para exprimirem os seusdesejos.

Creio que o Montenegro também precisa de melhorar as suas estruturas económicas. Comoo senhor deputado Posselt já referiu, os estabelecimentos e programas de educação daUnião Europeia são particularmente importantes neste contexto. Além disso, o domínioda energia, a eficiência energética e as energias renováveis constituem não só um enormedesafio para o Montenegro, como também proporcionam oportunidades completamentenovas.

No que diz respeito ao sector das telecomunicações, seria desejável que o Montenegrotranspusesse a directiva relativa ao roaming para o seu direito interno, pois isso contribuiria,naturalmente, para uma melhor comunicação com os nossos países europeus, a preçosmais razoáveis.

Escusado será dizer que o ambiente é um dos principais desafios, constituindo a gestãodos resíduos e o tratamento das águas residuais um problema especial. Já que estamos afalar de uma magnífica beleza natural intocada, temos todas as razões para aí aplicar as

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mais modernas normas existentes. A União Europeia dispõe de quadros de apoio nodomínio ambiental, os quais devem ser implementados o mais rapidamente possível.

Justas Vincas Paleckis (PSE). – (LT) Muito obrigado ao relator que teve a honra de, nesterelatório, apresentar um país europeu simultaneamente novo e antigo. Depois do “divórciode veludo” da Sérvia, foi dada ao Montenegro a oportunidade de demonstrar o potencialilimitado de um pequeno e orgulhoso país. Por outro lado, o Montenegro deverá liderarno desenvolvimento da cooperação regional, continuando a aumentar os direitos dasminorias e contribuindo para a conversão da região dos Balcãs de um barril de pólvoranum jardim de nações.

À semelhança dos outros países cujos nomes só recentemente surgiram no mapa, oMontenegro enfrenta vários desafios difíceis: corrupção enraizada, negócios ilegais, mercadonegro, etc. É lamentável que alguns investidores estrangeiros, especialmente os oriundosda Rússia, sejam atraídos para este jovem país sobretudo porque oferece formas fáceis derealizar negócios financeiros ilegais. A decisão de não entregar os trabalhadoresnorte-americanos ao Tribunal Penal Internacional em troca de assistência militar põe emcausa a credibilidade do Montenegro no que respeita à sua vontade de cooperarpacificamente com os seus vizinhos e até à sua dedicação aos objectivos europeus.

Hoje, das sombras do seu passado, o Montenegro, à semelhança de alguns dos países seusvizinhos, é atraído pela perspectiva de se tornar membro da União Europeia. A simplesperspectiva de se tornar um Estado-Membro encoraja o desenvolvimento da democracia,dos direitos humanos e uma vida melhor para os cidadãos. A aplicação do Acordo deEstabilização e de Associação deverá fazer soprar o vento da Europa nas velas das reformasdo Montenegro. O país pode aprender com a experiência acumulada na via para a adesãoà UE pelo seu país vizinho, a Eslovénia, e por outros países que aderiram à UE no novomilénio.

A iniciativa do Montenegro de se declarar uma república ecológica é louvável; no entanto,o caminho para atingir uma aplicação credível poderá ser longo.

É bom que se tenha rasgado a cortina de isolamento que rodeava os vistos para oMontenegro e para outros países dos Balcãs. A Comissão Europeia e o Conselho nãodeveriam demorar-se a meio caminho mas continuar a demolir este obstáculo, juntamentecom os obstáculos financeiro e burocrático, mantendo simultaneamente um elevado nívelde protecção contra os criminosos e os infractores da lei.

Olli Rehn, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, gostaria de começar poragradecer aos senhores deputados um debate muito substancial e útil e ao senhor deputadoVernola por ter estimulado esse debate.

A maioria dos deputados salientou, e bem, a necessidade absoluta do combate à corrupçãoe à criminalidade e da garantia de reforço do Estado de direito no Montenegro. Não poderiaestar mais de acordo: o Estado de direito tem uma importância fundamental para todosos sectores da sociedade, estando subjacente ao funcionamento de todos os seus sectorese da economia. É precisamente essa a razão por que a Comissão insiste tanto na reformado sistema judicial, desde o início do processo de pré-adesão no Montenegro, bem comonoutros países dos Balcãs Ocidentais. Este é um dos mais importantes critérios políticospara a adesão, devendo ser considerado o primordial.

O senhor deputado Vernola e muitos outros deputados salientaram igualmente aimportância da ecologia e do ambiente. A Comissão está a ajudar este antigo reino a

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tornar-se uma república ecológica no jardim das nações, como o referiu o senhor deputadoPaleckis, reforçando a capacidade administrativa do Montenegro, que, por seu turno, tornao país mais capaz de aproximar a sua legislação da nossa, por exemplo, no campo da gestãode resíduos e do tratamento das águas.

No entanto, esta questão também está relacionada com a corrupção, e gostaria de citaraqui o relatório provisório da Comissão. “Não se regista qualquer melhoria nas actividadesdestinadas a limitar a corrupção política ... A gestão dos bens públicos levanta sérias reservas.Existe uma considerável margem de manobra para a corrupção, especialmente nos casosda construção e do planeamento da utilização dos solos, privatização, concessões econtratação pública.” Esta é uma questão muito grave e a razão pela qual é necessário queo Montenegro aborde a questão da corrupção como uma das suas prioridades.

Permitam-me também que informe os senhores deputados de que a Comissão tencionaaprovar uma comunicação no início do próximo ano – provavelmente em Março – naqual faremos um balanço da evolução desde Salónica, e de Salzburgo no ano passado, edaremos indicações para o futuro. Uma das questões a tratar será a da liberalização dosvistos, referida por muitos dos oradores, e com toda a razão. A Comissão entabulará umdiálogo sobre o modo de conseguir a isenção de vistos para as deslocações, o que deveráajudar os países dos Balcãs Ocidentais a fazerem progressos com vista a cumprirem osrequisitos, a fim de que os seus cidadãos deixem de necessitar de vistos para viajarem paraa União Europeia.

No entanto, quero salientar que esta questão não faz parte das competências da Comissão,está sim nas mãos dos governos nacionais dos Estados-Membros da União Europeia, e osprincipais actores, neste caso, são os ministérios e os ministros da Administração Interna.Por conseguinte, unamos as nossas forças e exerçamos uma pressão eficaz sobre os ministrosda Administração Interna, bem como junto dos países em causa nos Balcãs Ocidentais,porque temos de nos certificar de que todos os requisitos de segurança, como a emissãode documentos e os controlos nas fronteiras, estejam perfeitamente em ordem antes de sepoder dar o passo rumo à liberalização do regime de vistos.

Por último, apraz-me ouvir que existe uma cooperação parlamentar satisfatória entre oParlamento do Montenegro e o Parlamento Europeu. Estou ciente de que isso é muitoimportante – faz parte de uma verdadeira integração política –, e está a ajudar a desenvolverinstituições no Montenegro de uma foram muito louvável. Confio em que possamoscolaborar para reforçar as instituições democráticas e a capacidade administrativa doMontenegro. Apraz-me muito que estejamos de acordo quanto ao futuro desenvolvimentodo Montenegro rumo à União Europeia.

(Aplausos)

Presidente. - Declaro que recebi uma proposta de resolução para encerrar o debate sobrea declaração da Comissão (3) .

Está encerrada a discussão conjunta.

As votações da proposta de resolução e do relatório Vernola terão lugar da quinta-feira,dia 13 de Dezembro de 2007.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

(3) Ver Acta.

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Bogdan Golik (PSE), por escrito. – (PL) Senhor Presidente, enquanto membro doParlamento Europeu, é com muito gosto que manifesto o meu apoio à celebração doAcordo de Estabilização e de Associação entre as Comunidades Europeias e os seusEstados-Membros e a República do Montenegro.

Acredito que a cooperação entre a União Europeia e a República do Montenegro serámutuamente vantajosa no futuro, especialmente através do estabelecimento gradual deuma zona de comércio livre bilateral. Também me congratulo sinceramente com osprogressos alcançados pela República do Montenegro em termos de respeito pelasobrigações impostas pela União Europeia.

Gostaria, no entanto, de fazer uma breve alusão a domínios nos quais, de acordo com asrecomendações da Comissão, o Montenegro deve intensificar esforços para se aproximarmais da União Europeia. A tarefa mais urgente consiste em fortalecer o Estado de direitoatravés da reforma da administração pública, de modo a reforçar as instituições a todos osníveis e a combater eficazmente a politização das mesmas. Neste contexto, reconheço eaprecio os esforços levados a cabo pelo Montenegro no âmbito legislativo, mas é essencialque as instituições adquiram gradualmente mais peso concreto. As autoridadesmontenegrinas também devem assegurar uma maior transparência em matéria de controloorçamental, gestão de fundos públicos e concursos públicos.

Julgo que o cumprimento pela República do Montenegro de todas as recomendações daComissão Europeia tornará possível um sólido progresso do país num caminho directopara a adesão.

14. 1 de Dezembro, Dia mundial de luta contra a sida (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre o dia 1 deDezembro de 2007, Dia mundial de luta contra a sida.

Markos Kyprianou, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, uma vez maistemos a oportunidade de discutir aqui neste Parlamento esta séria ameaça para a saúde.Há escassos meses, tivemos a oportunidade de discutir o Plano de Acção Comunitáriorelativo a esta ameaça à saúde. A nossa preocupação, evidentemente, não se prende apenascom a Comunidade Europeia, mas também com todo o mundo.

Preocupa-nos o aumento das infecções, o número de pessoas afectadas que vivem com oVIH em todo o mundo, e 33 milhões de pessoas é, para nós, um número demasiado elevado.Por conseguinte, queremos agir dentro da União Europeia, mas também queremoscoordenar a nossa acção com todos os outros actores internacionais fora da UE, paraenfrentar esta questão a nível mundial. Esta perspectiva corresponde igualmente à da novaEstratégia de Saúde da Comunidade Europeia, que inclui um papel para a União Europeiaa nível internacional na área da saúde.

Áreas em que podemos concentrar-nos: antes de mais, evitar a infecção – isso é muitoimportante. Ao mesmo tempo, temos de nos certificar de que estejam disponíveis, ondenecessário, análises, tratamento e cuidados. Para conseguir tudo isso, é preciso aumentara consciencialização, e este é um factor de extrema importância; é algo em que estamosatrasados – voltarei a esta questão mais adiante. Mas há também o estigma social. Esta éuma das nossas principais preocupações, e de certa forma, trata-se de um círculo vicioso,pois o estigma social impede as pessoas de se submeterem a análises para saberem se estãoou não infectadas e, por conseguinte, infectam outras. Não procuram tratamento e não

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fazem análises, com todos os efeitos negativos que daí advêm. Esta situação é ainda maispreocupante entre os jovens, que são a nossa principal preocupação e o nosso principalalvo.

Os nossos estudos e sondagens mostram que, entre os jovens, existe uma verdadeira faltade conhecimento – poderia dizer-se que há ignorância no que respeita às ameaças para asaúde. Por isso, é muito importante que lhes digamos, de uma forma equilibrada, de umaforma que apresente a informação sem criar pânico, mas que, por outro lado, não conduzaà complacência, que se trata de uma doença grave, que não tem cura, mas que podemproteger-se – e podemos ensiná-los a fazê-lo – e, ao mesmo tempo, que não devem termedo dos seus concidadãos infectados ou afectados pela doença.

O Eurobarómetro mostra-nos dois extremos. Alguns jovens pensam que não há razãopara preocupações: tomam-se mais antibióticos e fica tudo bem. Por outro lado, acreditamque só por tocarem em pessoas infectadas, por partilharem um copo, ou através de umbeijo, podem contrair a doença. Por isso, estamos perante duas visões extremas, no querespeita a esta ameaça à saúde, e nenhuma delas corresponde efectivamente ao nossoobjectivo, que é controlar a disseminação e propagação das infecções.

O Dia Mundial da SIDA é uma data importante e dá-nos a oportunidade para discutir otema e sensibilizar a população; não deveríamos, contudo, limitar-nos a este dia, e essa éa razão por que me congratulo com o facto de, pelo menos na União Europeia, a discussãodestas questões ser constante. Porém, no que respeita aos jovens, é preciso não esquecermosque fizemos campanhas muito activas, muito eficazes e muito agressivas na década de1980, que tiveram êxito na sensibilização a nível mundial, mas que, depois, interrompemoso esforço e esquecemo-nos de que uma geração jovem, uma nova geração, se tornousexualmente activa depois do final dessas campanhas. Com efeito, alguns deles nascerampouco antes do fim dessas campanhas e não beneficiaram das iniciativas deconsciencialização que tinham lugar na altura, daí os resultados que acabo de referir.Sabemos que, através de mensagens simples, métodos simples, modelos, celebridades,líderes de opinião, que constituam bons exemplos e expliquem a situação, poderemosconseguir a sensibilização que pretendemos.

Este ano, a nossa iniciativa passou por propor aos ministros da Saúde da União Europeiaque fôssemos todos, simultaneamente, às escolas debater estes problemas com os jovensno Dia Mundial da SIDA, para verificar o que sabem e proceder a uma troca de impressões.Obtivemos uma resposta muito positiva: mais de metade dos ministros dosEstados-Membros acolheram essa abordagem.

Fomos às escolas – eu também – e foi uma revelação: os debates e discussões com os jovens,começando por perceber o que eles sabem ou não sabem acerca da doença, e ainda algunsproblemas concretos. Por exemplo, sabem que a utilização de preservativos é a melhorprotecção, mas, ao mesmo tempo, não sabem como podem obtê-los. Têm demasiadavergonha, estão demasiado preocupados, ou são demasiado tímidos. Por isso, vemos algunsefeitos práticos que nunca nos ocorreu que pudessem ser problemas, nunca nos ocorreuter de enfrentar na Europa. Mas que persistem.

Para além disso, porque queremos falar aos jovens numa linguagem que eles compreendam,a Comissão tomou, este ano, a iniciativa de produzir um novo spot televisivo sobre aprevenção da transmissão do VIH. Para isso, organizou um concurso entre jovens, e foiescolhido o melhor. O vencedor foi o trabalho de um estudante polaco. Produzimo-lo efoi difundido em vários canais televisivos e utilizado em visitas às escolas. Esta é uma

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importante estratégia que devemos seguir: temos de falar aos jovens na linguagem que elescompreendem.

Porém, como disse há pouco, os desafios decorrentes do VIH e da SIDA estão presentesmuito para além das fronteiras da União Europeia. É verdade que, em todo o mundo, seregistaram alguns progressos positivos no que respeita aos serviços relacionados com oVIH, especialmente nos países de rendimentos médios. Hoje em dia, cerca de 95% daspessoas infectadas com o VIH vivem nesses países.

Graças a um aumento sem precedentes nos financiamentos internacionais nesses países,o número de pessoas que recebem tratamento aumentou significativamente, de 100 000,em 2001, para 2,5 milhões de pessoas, em 2007. São valores impressionantes; no entanto,mais de 70% das pessoas que precisam de tratamentos anti-retrovirais (ARV) nesses paísesnão os obtêm ou não têm acesso a eles. Isso mostra que temos ainda um longo caminhoa percorrer.

A acção europeia é financiada através de um amplo leque de instrumentos financeiros anível nacional e mundial, como o Fundo Mundial, por exemplo. Existem também outrosmecanismos de financiamento através de parceiras público-privadas. Foram conseguidosprogressos através destes esforços conjuntos com a comunidade internacional, mas ocaminho a percorrer é ainda muito longo e exige uma forte cooperação entre as Instituiçõeseuropeias.

Como disse no início, o nosso principal objectivo é reduzir o número de novas infecçõespor VIH e trabalhar na procura das melhores soluções possíveis em matéria de apoio,tratamento e cuidados para os que já vivem com o VIH/SIDA. Por conseguinte, gostariade salientar, uma vez mais: lutar contra o estigma – a exclusão social, a discriminação dadoença e das pessoas que sofrem ou estão afectadas pela mesma – é muito importante, ese não o fizermos jamais conseguiremos controlar a situação. Para o efeito, é precisoorganizar campanhas de consciencialização e aumentar o seu número.

Essa a razão por que o lema da Comissão Europeia nesta acção contra a SIDA é “Rememberme” (“Lembrem-se de mim”), porque se trata de uma doença esquecida a todos os níveis,ou, pelo menos, tornou-se uma doença esquecida. Agora teremos de a trazer novamentepara primeiro plano; mas não se destina apenas aos cidadãos, para os lembrar da existênciadesta doença, destina-se também aos decisores políticos, para nos certificarmos de que adoença volte a ser colocada no topo da agenda política e se empreendam todas as acçõesnecessárias. A este respeito, conto – e estou certo de que o terei – com o apoio do ParlamentoEuropeu.

John Bowis, em nome do Grupo PPE-DE . – (EN) Senhor Presidente, está tanto por fazer.Permitam-me que comece por aquilo que o Senhor Comissário já salientou no seu discurso,que é o efeito nas crianças, porque uma das campanhas deste ano é, naturalmente, StopAIDS in Children (Travar a SIDA nas crianças). Sabemos que a cada minuto do dia nasceuma criança portadora do VIH; sabemos que 2,3 milhões de crianças no mundo vivemcom VIH; sabemos que apenas uma em cada 10 das que precisam de tratamentoanti-retroviral o recebe; sabemos que se estima que, na ausência de tratamento, um terçodas crianças morre no seu primeiro ano de vida e metade morre até ao segundo aniversário;sabemos que 15,2 milhões de crianças com menos de 18 anos perderam um ou ambos osprogenitores por causa da SIDA; e sabemos que, até 2010, o ano mágico, mais de 20milhões de crianças terão ficado órfãs devido à SIDA.

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É esta a história das crianças, é este o desafio das crianças, mas, evidentemente, esta étambém uma história de adultos. Conhecemos os números relativos aos nossos países noque respeita às pessoas diagnosticadas e às pessoas que vivem com VIH: todos estes valoresestão em alta, e a estatística assustadora é o facto de uma em cada três pessoas desconhecerque está infectada.

É este o desafio, mas existem desafios específicos que, penso, deveremos salientar este ano,e o Senhor Comissário já apontou alguns. O nível de conhecimento de base tem vindo, naverdade, a diminuir nos últimos cinco anos: o nível de consciencialização entre o públicoé menor do que já foi. Os mitos e os mal-entendidos estão a crescer. Uma em cada cincopessoas não sabe que o VIH pode ser transmitido em relações sexuais sem preservativo.Menos de metade de todas as pessoas sexualmente activas usa sempre preservativo comum novo parceiro sexual.

Sabemos que o número de pessoas diagnosticadas triplicou desde 1997; sabemos que oscomportamentos sexuais de risco estão a aumentar; sabemos que um quarto de todas asmortes relacionadas com o VIH se fica a dever a um diagnóstico tardio, e que um terçodessas mortes é evitável. E sabemos, especificamente, que os requerentes de asilo a quemo pedido é negado e que vivem com VIH, frequentemente, não são elegíveis para tratamentogratuito do VIH e, por isso, não se podem permitir cuidados vitais, podendo vir a infectaroutras pessoas. Sabemos igualmente que a taxa de VIH entre os detidos do sexo masculinoé 15 vezes superior à da população em geral.

Sabemos tudo isso, assim como conhecemos também os sinais esperançosos dainvestigação. Recentemente, no Ruanda, vi em primeira mão a investigação, os ensaiosclínicos em curso e a necessidade de testar em África vacinas para os africanos.

Mas tudo isto carece de urgência, e 2010 é a meta; 2010 está bem próximo. Em 2010,Senhor Comissário, V. Exa. e eu chegamos ao fim do nosso mandato. Não quero que nosescondamos atrás desse facto, deixando tudo para os nossos sucessores. Quero quepossamos dizer, em 2009, quando eu e o Senhor Comissário terminarmos os nossosmandatos, que, pelo menos, cumprimos esta promessa.

Jan Marinus Wiersma, em nome do Grupo PSE. – (NL) Senhor Presidente, felicito aComissão pelos esforços desenvolvidos, que o Senhor Comissário acaba de descrever.Gostaria de insistir hoje na importância do Dia Mundial de Luta Contra a SIDA e na nossaresponsabilidade conjunta no combate a esta doença. Porque é um desastre que se está amanifestar em todo o mundo, ao qual não estamos a dedicar a atenção que merece.

O meu grupo congratula-se, por isso, com o facto de estarmos hoje a debater esta questãoem Estrasburgo. Os números falam por si. Existem em todo o mundo 33 milhões de pessoasem estádio terminal da SIDA ou que são seropositivos e 25 milhões já morreram emresultado da doença.

Mas são muitas as pessoas que agem como se a SIDA não existisse. Porque a SIDA éassociada ao sexo, muitas pessoas preferem não falar disso. E, como o Senhor Comissárioafirma, isso torna mais difícil informar as pessoas sobre a doença. A geração mais jovemdos nossos dias está a pagar um preço alto por essa atitude. Metade de todas as novasinfecções por VIH ocorre em pessoas com menos de 25 anos. Durante o tempo que demoroa dizer isto, mais seis jovens terão sido infectados com o vírus e três crianças terão morridode SIDA. Estamos a falar de uma geração que não conheceu um mundo sem SIDA.

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A calamidade não está limitada à África. Nos últimos anos, o número de infecções por VIHna Europa e na Ásia central duplicou, passando de 1,25 para 2,4 milhões. Já é mais do quetempo de a União Europeia fazer alguma coisa. Esta terrível doença, que destrói a vida demilhões de famílias em todo o mundo, pode ser prevenida. A SIDA pode ser combatidaatravés de informação eficaz, de uma disponibilização mais pronta de preservativos e demedicamentos a preços acessíveis.

O Senhor Comissário salienta, com toda a razão, que permitimos que a SIDA se tornasseuma doença esquecida no nosso próprio continente. Os jovens europeus de hoje aindanão tinham nascido quando tiveram lugar as grandes campanhas de sensibilização públicada década de 1990. Temos de agir energicamente se não quisermos que a situação naEuropa escape ao nosso controlo.

Por isso, em parte como acto simbólico e em parte porque pensamos que se trata de umainiciativa verdadeiramente importante, o meu grupo lançou, no mês passado, umacampanha a favor de uma redução para 5% do imposto sobre os preservativos em toda aUnião Europeia. O facto de a taxa de IVA sobre os preservativos apresentar uma variaçãotão grande – em alguns países chega a ser de 25% – demonstra que nós, na Europa, nãotemos uma abordagem comum a este problema comum ou que, pelo menos, não estamosa fazer o suficiente nesta matéria.

A Presidência portuguesa já manifestou o seu apoio firme à nossa campanha e esperamostambém que o Senhor Comissário Kovács nos dê um aval positivo quando lançar o debatesobre o sistema europeu de IVA no final do próximo ano.

Holger Krahmer, em nome do Grupo ALDE. – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, "A tua fiel companheira SIDA", foram estas as palavrasque li num cartaz alusivo ao Dia Mundial de Luta contra a SIDA, comemorado há cerca deduas semanas. A mensagem veiculada é que a SIDA pode ser tratada, mas não tem cura.Muitas pessoas, sobretudo os jovens, esquecem-se disso ou preferem ignorar esse facto.As taxas de infecção, que foram mencionadas pelos oradores precedentes, falam por si. Aeducação é a única forma de prevenir o VIH e a SIDA e congratulo-me por a Comissãopartilhar dessa opinião.

Porém, a educação não pode limitar-se a campanhas em cartazes ou a visitas de ministrosàs escolas. Este tipo de iniciativas atrai por pouco tempo as atenções e pode até merecerdestaque nos meios de comunicação social, mas não altera os comportamentos,especialmente entre os jovens.

Noutros tempos, a SIDA e o VIH eram o tema de histórias de terror da vida real publicadasna imprensa. Muitas pessoas sentiam-se inseguras e tinham medo, porque ninguém sabiao quão perigoso o vírus era realmente. Não tenho saudades nenhumas desse tempo, masà medida que nos começámos a habituar à existência do HIV/SIDA e os tratamentos seforam tornando cada vez mais seguros, o problema também deixou automaticamente decaptar o mesmo nível de atenção pública.

Muitas pessoas habituaram-se a estas mensagens e algumas até estão cansadas de as ouvire de serem confrontadas com elas. Isso é irracional, mas é um facto. A educação tem deser adaptada de molde a levar em conta esta alteração de circunstâncias. A educação temde alcançar as pessoas e captar a sua atenção; tem de personalizar as mensagens dirigidasa grupos-alvo específicos, expressando-as no vernáculo próprio dos destinatários. Existemjovens que interpretam mal o VIH como sendo um risco negligenciável, e é muito

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importante chegarmos a eles, colocando-nos ao seu nível cognitivo e levando-os a reflectirsobre as consequências de uma infecção.

Muitas pessoas continuam a pensar nas consequências, mas infelizmente começam afazê-lo demasiado tarde, nomeadamente quando um médico ou um assistente social osinforma de que a sua análise deu positivo. Nessa altura, a doença, que até então era umconceito vago e distante, torna-se subitamente muito real. Só se conseguirmos fazer comque as pessoas pensem no VIH antes de ser tarde demais, é que teremos realizado algumprogresso.

Para atingir esse objectivo, é necessário um esforço paciente e duradouro. São necessáriasinstalações, serviços e projectos à medida dos grupos-alvo - quanto mais diferenciados epróximos da experiência pessoal, melhores serão os resultados. As organizações de caridadepara a SIDA, como sejam as associações AIDS-Hilfe na Alemanha, podem continuar adesempenhar um papel importante, desde que estejam dispostas a aceitar este novo desafio.Infelizmente, isso não acontece em todo o lado.

Hoje em dia, os seropositivos têm boas hipóteses de ter uma vida longa, pelo menos naEuropa Ocidental. Noutras regiões do mundo, como em África, a situação é diferente. Masesta nossa situação confortável não deve dar azo à acomodação.

Vittorio Agnoletto, em nome do Grupo GUE/NGL. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, como médico que trabalha com o problema da SIDA há vinte anos,gostaria de dizer muito francamente que esperava propostas bem mais pormenorizadas epragmáticas por parte da Comissão. Na União Europeia, as relações sexuais são o principalcanal de transmissão. Para ser mais específico:

1) A Comissão tem instado os Estados-Membros a organizar cursos de educação sexualnas escolas?

2) A Comissão tem instado os Estados-Membros a introduzir controlos do preço dospreservativos, que são actualmente a única forma de bloquear a transmissão por via sexual?

Na Europa, o segundo maior canal de transmissão é o intravenoso, especialmente entre osconsumidores de drogas. Que diligências tem a Comissão feito para exortar osEstados-Membros a implementar estratégias de redução dos danos, que são as únicascapazes de reduzir a transmissão por via intravenosa entre aqueles que não conseguem,não podem ou não querem abandonar as drogas?

No que respeita ao resto do mundo, esperava que a Comissão viesse aqui e nos dissesse:após oito meses de braço de ferro com o Parlamento, tomamos nota de que o Parlamentovotou a favor da alteração do artigo 6.º do Acordo TRIPS e, muito embora isso não tenhaconduzido a qualquer alteração, a Comissão compromete-se a lutar para alterar as normasda OMC. Actualmente, as normas TRIPS permitem que as multinacionais detenham aspatentes durante vinte anos, o que faz com que os medicamentos não cheguem a África.Não ouvimos falar em nada disso! Se essas normas não mudarem, falar de África não passade palavras ocas!

Por último, como é possível, quando toda a gente fala do combate à SIDA, que haja umComissário Mandelson a escrever cartas solicitando ao Governo tailandês que não aproveleis que viabilizem a distribuição de genéricos e, nessas suas cartas ainda, promovendo ereferindo empresas como a Sanofi-Avensis? Na minha opinião, a Comissão teránecessariamente alguma coisa a dizer sobre isto!

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Françoise Grossetête (PPE-DE). - (FR) Senhor Presidente, sim, a SIDA faz demasiadasvítimas. Fez demasiadas vítimas, continua a fazer e continuará no futuro. Infelizmente,muitas crianças serão contaminadas antes do nascimento. Os números são alarmantes, jáforam citados e não voltarei a eles.

Infelizmente, a SIDA não pára de crescer nos Estados-Membros da União Europeia, mastambém nos países terceiros, e, para combater esta nova vaga da epidemia, é indispensávelreforçar a prevenção, os tratamentos e os cuidados médicos, assim como a ajuda,desenvolvendo igualmente as parcerias, que são absolutamente indispensáveis.Paralelamente à prevenção, há que facilitar o acesso à informação, ao aconselhamento,aos tratamentos e aos serviços sociais. Há que atenuar o impacto negativo da doença, pois,infelizmente, continua a ser uma doença tabu de que não ousamos falar livremente. Assim,para o conseguir, há que mobilizar os recursos e a investigação, coordenar os esforços,financiar projectos específicos. Só poderemos contribuir de forma significativa e sustentávelpara acabar com a epidemia se o conjunto dos actores trabalhar concertadamente para acriação de uma parceria eficaz.

O mais chocante é que os jovens europeus de hoje não acompanharam as campanhas deprevenção eficazes que desenvolvemos nos anos oitenta. As sociedades europeias têm deassumir as suas responsabilidades, de transmitir aos jovens as informações indispensáveissobre o VIH e a SIDA. Com efeito, as últimas sondagens de opinião mostram que entre osjovens há um desconhecimento incrível da doença. Cinquenta e quatro por cento dosjovens dos antigos Estados-Membros da União Europeia pensam que podemos contrair oVIH bebendo do mesmo copo que uma pessoa contaminada, o que realça a necessidadede reforçar a sua sensibilização, de investir na prevenção e na informação sobre a utilizaçãodo preservativo. E a que custo, esse preservativo? Mostra também que não devemos pararpelo caminho, esquecer essa velha doença. Devemos dispor de boas mensagens desensibilização. Mensagens seguramente mais bem adaptadas. Estamos a desenvolveresforços nesse sentido. Temos de difundir mensagens mais modernas, que permitam tocarrealmente os jovens. Ainda recentemente, por razões essencialmente de ordem ética, oaconselhamento e a despistagem do VIH fazia-se, antes de mais, por iniciativa do paciente.Graças a algum recuo, podemos hoje em dia constatar que esse método esbarrou, por umlado, contra a fraca disponibilidade dos serviços e, por outro, contra o medo daestigmatização e da discriminação. Nos países pobres, o carácter voluntário da despistagemrepresenta um obstáculo sério à luta contra a pandemia. Qual é a capacidade real depacientes desfavorecidos, pouco instruídos, formularem um consentimento esclarecido?Como é que uma pessoa que nunca ouviu falar de vírus pode dar esse consentimento?

Por fim, qual é o interesse para um indivíduo de fazer a sua própria despistagem quandovive num país que não dispõe de protecção social? Segundo sondagens recentes realizadasna África Subsariana, apenas 12% dos homens e 10% das mulheres fizeram um teste dedespistagem e receberam os respectivos resultados. Não podemos baixar a guarda, pois operigo continua a espreitar!

Pierre Schapira (PSE). - (FR) Senhor Presidente, caros colegas, a SIDA continua a ser umdos flagelos do século XXI, apesar da excepcional mobilização da comunidade internacionaldesde há vinte anos a esta parte, apesar de, por vezes, termos baixado a guarda.

Quero recordar que, na lista dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM),adoptada em Setembro de 2000 na ONU, o sétimo ponto consistia em travar e fazer invertera tendência da propagação da SIDA até 2015. Ora, a situação actual nos países em

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desenvolvimento e, em particular, em África, onde o número de mortes por SIDA continuaa aumentar, impõe que redobremos esforços para atingir esse objectivo.

A este respeito, a intervenção europeia pode orientar-se em torno de diversos eixos. Emprimeiro lugar, o reforço das cooperações, nomeadamente com as autoridades locais dohemisfério sul, que são as únicas capazes de propor soluções perenes para o acolhimentodos doentes, para a prevenção, para o fornecimento dos medicamentos, para a realizaçãode acções de informação e de prevenção e para a gestão global dos serviços de saúdeadaptados às necessidades das populações locais.

Em segundo lugar, devem ser propostas soluções destinadas a fazer face à falta de pessoalde saúde nos países pobres. A Europa tem de intervir através de programas concretosdotados dos fundos necessários para permitir a esses profissionais exercerem a sua profissão,no seu país, em condições e em estruturas adequadas, dotadas de material e medicamentosessenciais.

Por fim, uma acção a longo prazo contra a SIDA é indissociável de um compromisso firmepara facilitar a distribuição de medicamentos acessíveis aos doentes dos países emdesenvolvimento. Neste momento em que inúmeros pacientes dos países do sul jádesenvolveram resistências às primeiras gerações de tratamentos que receberam, éindispensável prever mecanismos para a disponibilização das últimas terapias na versãogenérica nesses países pobres. Eis a razão por que me permito interpelar muitoconcretamente a Comissão sobre as negociações em curso de acordos bilaterais e regionais,em particular acordos de parceria económica, para que ela não integre neles nenhumadisposição susceptível de limitar a capacidade de os países do Sul utilizarem todas asflexibilidades previstas no acordo TRIPS e na declaração de Doha de 2001, protegendoassim os seus doentes com SIDA.

E vou terminar. A situação inaceitável desses milhões de pessoas que morrem todos osanos de SIDA impõe que a União Europeia assuma as suas responsabilidades. Temosefectivamente de passar da palavra aos actos.

Markos Kyprianou, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, serei breve, porquecompreendo que estamos pressionados pelo tempo.

Desejo apenas tecer três ou quatro comentários. Em primeiro lugar, este é um problemaque afecta toda a população e é essa a mensagem que tentamos passar. Este já não é umfenómeno de grupos de risco, com o qual o resto da população não precisa de se preocupar:é uma questão que diz respeito à população em geral – aos jovens, às mulheres. Temos,por isso, de aumentar a sensibilização, e a mensagem política deve também ser transmitida.

Em particular – porque foi referida – quanto à questão dos imigrantes, temos umaabordagem especial. A Presidência portuguesa incluiu o tema da saúde e da imigração nasua agenda, e o acesso ao tratamento, as análises e a prestação de tratamento e cuidadosde saúde aos imigrantes – mesmo aos ilegais – é uma questão importante. Isso é algo queestamos a debater, não apenas para a sua protecção e pelo aspecto dos direitos humanosque a questão comporta, que, evidentemente, são uma prioridade, mas também para aprotecção da sociedade no seu conjunto.

As questões levantadas, tais como a possibilidade de troca de seringas para ostoxicodependentes, a promoção do uso do preservativo, a educação sexual nas escolas, osproblemas nas prisões, todos estes aspectos fazem parte da nossa discussão com osEstados-Membros e a sociedade civil. Dispomos de um grupo de reflexão onde todos estão

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envolvidos: promove debates e intercâmbios de boas práticas e experiências. Mas,naturalmente, no seio da União Europeia damo-nos conta de que não dispomos dascompetências necessárias: cumpre aos Estados-Membros a aplicação dessas políticas. Porconseguinte, elevamos a visibilidade ao nível político, mantemos discussões a nível técnico,mas, no fim de contas, a responsabilidade por iniciativas específicas cabe aosEstados-Membros.

Quanto às outras questões levantadas pelo senhor deputado Agnoletto, registei com grandeinteresse a questão do TRIPS. Registei e tomei nota também dos efeitos que teria no acessoaos medicamentos nos países em desenvolvimento. Registei igualmente todas as outrasquestões relativas às relações com os países terceiros. Levantarei estas questões junto dosmeus colegas que têm responsabilidade nestas áreas e informá-los–ei dos aspectos referidospelos senhores deputados.

Por último, no que se refere ao acesso ao tratamento anti-retroviral na União Europeia,estamos a apoiar para começar – e depois esperamos que seja possível alargar a outrasáreas – a iniciativa da Presidência alemã, após a Conferência de Bremen, destinada aconseguir o acesso a um tratamento anti-retroviral económico para todos os pacientes quedele carecem. Temos já um primeiro êxito, se assim podemos chamá-lo: a Bulgária. Mas,evidentemente, vamos prosseguir esse esforço com a Presidência, com o apoio da Comissão,e esperamos que, uma vez estabelecido o modelo, possamos alargar esta abordagem forada União Europeia. É essa a nossa meta.

Uma vez mais, gostaria de agradecer aos senhores deputados um debate extremamenteinteressante, e registei todas as questões aqui levantadas.

Presidente. - Está encerrado o debate.

15. Poluição causada pela maré negra nos mares Negro e de Azov (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre a poluição causadapela maré negra nos mares Negro e de Azov.

Markos Kyprianou, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, antes de mais,gostaria de dizer que o meu colega, o Senhor Comissário Dimas, lamenta não poder estaraqui presente hoje para este debate mas, como sabem, está numa Conferência sobre oaquecimento global, na qual tem de representar a Comunidade.

Esta é uma questão muito importante. Sabemos que, em Novembro, se produziram fortestempestades na região do Mar Negro, que causaram a perda trágica de vidas e danosmateriais e, evidentemente, danos no ambiente, com o derrame, segundo se estima, de1 300 toneladas de crude e o afundamento de navios que transportavam enxofre. Nostermos de um acordo bilateral, a Comissão enviou uma equipa de especialistas da UE, aosquais se juntaram representantes da Comissão e do Programa da ONU para o Ambiente.Os especialistas da UE encontraram as operações de limpeza na Ucrânia já em curso.Considerou-se que as tecnologias e os recursos disponíveis localmente eram suficientes, ea Ucrânia não manifestou a necessidade de equipamento de emergência adicionais. Osprincipais resultados da missão serão apresentados às autoridades ucranianas, em Kiev,em 14 de Dezembro. Durante essa reunião, os debates centrar-se-ão também num maiorreforço da cooperação com vista a melhorar a vigilância e a qualidade do ambiente no MarNegro.

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De acordo com as estatísticas internacionais relativas aos derrames de petróleo, esta fugapoderá ser considerada de dimensão média, não se prevendo que se venha a converter numdesastre ambiental. Evidentemente, isso não significa que estejamos menos preocupados,em particular, porque há sempre a possibilidade de poluição secundária. A densidade daspressões sobre o ambiente, a presença de espécies vulneráveis no estreito, a sensibilidadepolítica da zona e o risco de outros acidentes semelhantes no futuro põem em evidênciaa necessidade de avaliar a situação de uma forma mais abrangente. A Comissão Europeiaestá, por isso, a ponderar fazer um acompanhamento através de outros instrumentos,como as missões de avaliação dos danos, pelo que aguardo com expectativa o debate sobreesta questão.

Stanisław Jałowiecki, em nome do Grupo PPE-DE. – (PL) Senhor Presidente, aoportunidade que nos é dada hoje de debater a catástrofe ocorrida a semana passada noMar Negro é muito bem-vinda, concretamente por dois motivos.

Primeiro, relativamente a muitos países, incluindo a Rússia, o Parlamento Europeu temum papel a desempenhar enquanto representante da opinião pública. Imagine-se o queaconteceria nos meios de comunicação social europeus se uma catástrofe deste tipoocorresse, digamos, no Báltico. A televisão divulgaria até à exaustão imagens da destruiçãocausada à flora e à fauna. Veríamos uma sucessão de peritos explicar as consequências dacatástrofe. Na Rússia, porém, os media guardam silêncio. Só com grande dificuldade temsido possível obter algumas escassas informações, sobretudo de fontes ucranianas. A nossavoz assume, deste modo, uma importância extrema neste contexto.

A segunda razão prende-se com a tomada de consciência por parte da Europa em relaçãoa regiões às quais temos até hoje dedicado pouca ou nenhuma atenção, como o Mar Negro,que faz parte integrante do nosso continente, não apenas do ponto de vista geográfico mastambém em termos de natureza, ecologia, economia e cultura. Devemos ter consciênciade que somos parcelas de um todo, que têm influência umas nas outras.

Esta consciência deve reforçar o nosso sentido das responsabilidades, que deve incluir aregião do Mar Negro. A nossa responsabilidade confere-nos o direito de exigir que a baciado Mar Negro seja alvo de maior protecção. Importa assinalar, aliás, que já no passadorecente a bacia do Mar Negro sofreu diversos desastres de menor dimensão.

Neste contexto, assumem particular relevo as seguintes exigências: primeiro, e acima detudo, um acompanhamento da situação no Mar Negro, agora, passado um mês sobre acatástrofe, mas também no futuro mais distante.

Em segundo lugar, é indispensável que os países vizinhos da União Europeia comecemfinalmente a modernizar as suas frotas, e em especial os seus petroleiros. O Mar Negro estácada vez mais negro, não devido aos fenómenos naturais a que deve o seu nome, mas àcor do petróleo bruto derramado. O Mar Negro corre o risco de se transformar numgigantesco depósito de petróleo. Os países vizinhos da UE devem ser pressionados a decretaruma proibição imediata da utilização de petroleiros obsoletos de casco único.

Apelo deste modo à Câmara para que adopte a proposta de resolução apresentada, na qualpedimos ao Conselho e à Comissão que reforcem a cooperação com os Estados ripáriosnão pertencentes à UE. Fechar uma fronteira terrestre é relativamente fácil, mas o mesmonão se pode dizer das fronteiras marítimas. Uma vez que não vamos construir barragens,a acção proposta também é do nosso interesse.

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Silvia-Adriana Ţicău, em nome do grupo PSE . – (RO) Senhor Presidente, na sequênciadas violentas tempestades que recentemente se abateram sobre o Mar Negro, quatro naviosafundaram e sete ficaram danificados, entre os quais dois petroleiros.

Os acidentes ocorreram no Estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov econstitui e principal via de exportação de petróleo russo para a Europa.

Foram derramadas no mar 2 000 toneladas de fuelóleo e os navios que se afundaramtransportavam mais de 7 toneladas de enxofre. O Mecanismo Comunitário no domínioda Protecção Civil enviou uma equipa de sete peritos ao terreno para avaliar os efeitos eidentificar as acções necessárias.

Como relatora do parecer favorável da Comissão da Indústria, da Investigação e da Energiado Parlamento Europeu relativamente à Comunicação da Comissão sobre a Sinergia doMar Negro, pedi à União Europeia que assumisse a liderança na promoção dos princípiosde uma política marítima comum e no desenvolvimento de rotas de navegação marítimana região.

O pacote legislativo sobre transportes marítimos é importante para a região do Mar Negro.A Directiva relativa ao controlo portuário e a Directiva 65/2005 sobre segurança portuáriairão aumentar a segurança dos transportes marítimos na região.

Em 2006, ao abrigo do Memorando de Acordo sobre o Mar Negro, foram efectuadas maisde 4 650 inspecções de navios que navegavam sob 83 diferentes bandeiras. No seguimentodas inspecções efectuadas pelas autoridades da Bulgária, Geórgia, Roménia, FederaçãoRussa, Turquia e Ucrânia, verificou-se que 69,39% dos navios tinham deficiências e cercade 6% foram aprisionados. Do conjunto dos navios aprisionados, 8,7% eram navios decarga, 2,9% navios de passageiros, 2,7% navios que transportavam substâncias químicase 0,5% petroleiros. Estes aprisionamentos ficaram a dever-se a deficiências nos sistemasde segurança de navegação, ausência de equipamento de salvamento e falhas deequipamento e estruturas necessárias à estabilidade do navio.

Além disso, os países nas margens do Mar Negro, como a Geórgia, figuram na lista negrado Memorando de Acordo de Paris e os outros 5 países nas margens do Mar Negro figuramna lista cinzenta.

Penso que a União Europeia deveria fazer mais para melhorar a segurança dos transportesmarítimos na região.

A Agência Europeia da Segurança Marítima, em conjunto com o Secretariado doMemorando de Acordo de Paris e os Estados-Membros, financiarão estudos e programaspara melhorar a segurança dos transportes marítimos. A partir de 2007, a Agência apoiaráos Estados-Membros, ajudando na preparação de capacidades para prevenir e combater apoluição marítima por substâncias tóxicas.

A Comissão já criou, através do orçamento das RTE-T, projectos para o desenvolvimentode vias marítimas na região do Mar Báltico, do Mar Mediterrâneo e dos mares da EuropaOcidental. Apelo a que a Comissão realize um estudo semelhante também para a regiãodo Mar Negro e apelo também a que use o serviço CleanSeaNet, desenvolvido pela Agência– que permite a detecção de derrames de petróleo e a vigilância das águas europeias –,também no Mar Negro.

Roberts Zīle, em nome do Grupo UEN. – (LV) Obrigado, Senhor Presidente, SenhorComissário. Gostaria de começar por agradecer ao senhor deputado Costa, que apresentou

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a proposta de resolução sobre o tema em debate em nome da Comissão dos Transportese do Turismo. Do ponto de vista político, porém, eu desejaria uma reacção muito maisrápida do que o mero sublinhar da necessidade de o Conselho não atrasar a adopção deuma posição sobre as sete propostas legislativas do pacote sobre segurança marítima. Emminha opinião, isto nada resolve relativamente aos mares interiores ecologicamenteperigosos, como o Mar Negro e o Mar Báltico, que estão rodeados pelos Estados-Membrose pela Rússia, enquanto Estado costeiro. Face ao nível dos preços do petróleo e ao nível delucros em causa, as exportações de petróleo da Rússia por via marítima irão aumentarmuito rapidamente no futuro. Isto corresponde à política de transportes russa: exportarpetróleo através dos seus próprios portos, mantendo simultaneamente os oleodutos nosterminais petrolíferos da UE, em Ventspils e Būtingė, encerrados. É de esperar um aumentoda procura destes petroleiros, e a frota de petroleiros da Rússia irá receber o investimentonecessário para acabar com a utilização de petroleiros e navios de casco simples, com 40anos de existência, concebidos para utilização fluvial? Não me parece. A principal motivaçãopara o potencial transporte de petróleo por mar será que os acidentes sairão o mais baratopossível. Creio que se for apenas a União Europeia a manter medidas de segurança marítimarigorosas, isso não salvará o ambiente nos mares adjacentes à UE, a menos que consigaaplicar regras internacionais. Obrigado.

Péter Olajos (PPE-DE). - (HU) Nas últimas décadas, temos assistido a um crescimentoexplosivo em muitos domínios mas nada se compara ao crescimento do comércio mundiale, ligado a este, do transporte de mercadorias. O transporte marítimo tem desempenhadoum papel importante neste crescimento vultoso, já que 90% do comércio externo da UniãoEuropeia se processa nesta área. Dado que este é o principal meio de transporte, penso queas pessoas têm razão em esperar que este meio de transporte de pessoas e mercadorias sejaigualmente seguro e limpo para que diminua o risco de acidentes no mar e de poluiçãocausada pelos navios.

No último mês, ocorreram três graves desastres cuja escala total equivale à poluição causadapelo Exxon Valdez em 1989, daí que isto deva puxar as pessoas de volta à razão. Tem deser chamada a atenção quanto à importância da tomada de medidas de prevenção eficazes.O dano ambiental causado por acidentes como estes não termina nas fronteiras de umpaís ou dois, ou de um continente, mas coloca em perigo e irá acabar por destruirirrevogavelmente os nossos valores comuns e os nossos tesouros naturais comuns. Impõe-sepois, urgentemente, uma coordenação internacional mais eficaz do que a que existeactualmente, e importa desempenhar um papel importante na prevenção activa e nostrabalhos de reparação após os acidentes. É igualmente necessário rever sem demora alegislação internacional neste domínio, a fim de colmatar as lacunas, proibir os naviosconcebidos para tráfego fluvial de navegarem no mar e aplicar de forma efectiva o princípiodo "poluidor-pagador". A União Europeia tem o dever primordial de exercer pressão nosentido da adopção de medidas que visem um transporte marítimo seguro a nívelinternacional, tal como já se verifica na União Europeia. Obrigado.

Daciana Octavia Sârbu (PSE). - (RO) Senhor Presidente, o incidente ocorrido emNovembro causou danos ecológicos tanto no Mar Negro como no Mar de Azov, provandoque os mares não têm fronteiras e que os derrames de petróleo causados por acidentes queocorrem fora do espaço europeu podem afectar os ecossistemas costeiros dosEstados-Membros.

Os navios afundados que causaram a poluição do Mar Negro foram concebidos paranavegação interior e não para navegação marítima, causando, assim, o derrame de toneladas

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de petróleo no mar e afectando os habitats naturais marítimos. Mais de 15 000 aves egolfinhos ficaram cobertos de fuelóleo e foram destruídas várias espécies raras de flora efauna, da costa e do fundo do Negro, e serão necessários esforços significativos pararecuperar a integridade do ecossistema do Mar Negro.

A degradação da vida aquática está repleta de consequências negativas, dado que teminfluência sobre a segurança ecológica e a qualidade de vida e a saúde da população. Agrave redução da biodiversidade do Mar Negro é preocupante devido à contínua degradaçãodo ecossistema, à pesca ilegal e à sobreexploração de recursos naturais, contribuindo osderrames de petróleo para o agravamento da situação ambiental nesta região, que se calculaser a mais poluída do mundo.

Os Chefes de Estado e de Governo da União Europeia assumiram o compromisso de pôrfim à redução da biodiversidade até 2010, devendo estes objectivos ser alcançados tambémno sector marítimo.

Na União Europeia, temos de garantir que os transportes marítimos se processem emcondições de segurança, e que as fronteiras marítimas sejam protegidas tão eficazmentequanto possível de ameaças transfronteiriças. Além disso, o novo Livro Verde sobreinstrumentos de mercado para fins da política ambiental e de políticas conexas visa umamelhor aplicação do princípio do "poluidor-pagador" e espero que venha a ter umainfluência positiva nos métodos de prevenção deste tipo de desastre ecológico.

Nickolay Mladenov (PPE-DE). – (BG) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,o Mar Negro é não apenas uma fronteira externa da União Europeia, na sequência da adesãoda Bulgária e da Roménia, mas também um mar com um enorme potencial económicopara o desenvolvimento da nossa União. Se considerarmos o Mar Negro e o Mar Cáspiocomo uma única região, o seu mercado tem um potencial para o comércio externo superiora 200 milhões de euros e uma população de mais de 350 milhões de habitantes.

Permitam-me que relembre, brevemente, o debate de Setembro na sequência das grandesinundações e dos incêndios na Europa. Debatemos nessa altura a necessidade de uniresforços para ajudar os Estados-Membros a fazer frente às catástrofes naturais como asque assolaram o nosso território este ano. Uma necessidade similar poderia ser identificadaagora na região do Mar Negro. Em primeiro lugar, insto a Comissão Europeia e, obviamente,os Estados-Membros, em particular a Bulgária e a Roménia, a iniciarem um estudo prioritáriosobre a necessidade de criar um centro regional de salvamento para a região do Mar Negrocuja missão seria a de ajudar os países a fazer frente a situações graves como aquelas a queassistimos há escassos meses. Em segundo lugar, deverá fazer-se uma análise exaustiva dascausas fundamentais destas catástrofes e de todas as que afectam a região do Mar Negro,a fim de retirar ensinamentos e fazer recomendações para a nossa política na região. Emterceiro lugar, é chegado o momento de estabelecer um centro regional de informaçãosobre a navegação para o Mar Negro, que contribuirá para a segurança das rotas detransporte e, de uma forma genérica, da navegação na região.

A tragédia no Estreito de Kerch é algo que temos de aceitar e a que temos de fazer frenteno mais curto prazo possível, especialmente aqueles de entre nós cujos países delimitama região do Mar Negro. Aproveitemos, no entanto, esta tragédia para procurar tanto razõescomo oportunidades para a cooperação entre os Estados-Membros, a Comissão e os outrospaíses que fazem fronteira com o Mar Negro, com vista a melhorar a segurança destaimportante rota europeia. Obrigado.

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Roberta Alma Anastase (PPE-DE). – (RO) Senhoras e Senhores Deputados, na minhaqualidade de relatora para a cooperação regional na zona do Mar Negro, congratulo-mecom o início deste debate, embora lamente profundamente que o tema da nossa discussãoseja, na verdade, o reconhecimento de que o Mar Negro ainda não tem a necessária atençãopor parte da União Europeia nem um nível satisfatório de implementação das acçõesplaneadas.

Gostaria, porém, de relembrar que, desde que a Bulgária e a Roménia aderiram à UniãoEuropeia, o Mar Negro passou a ser, em parte, um mar interior e não podemos ignorar asua importância estratégica para todo o mundo.

A região do Mar Negro tem a maior importância do ponto de vista da política energéticae da política de transportes da União Europeia, o que nos obriga a desenvolver uma estratégiaglobal e coerente para toda a região, uma estratégia que vise garantir a segurança e odesenvolvimento sustentável e uma integração criteriosa dos aspectos de protecçãoambiental. Mais do que isso, para promover uma verdadeira política a nível regional, énecessário o esforço conjunto de todos os países da costa do Mar Negro, excedendo assimo âmbito nacional e bilateral.

Congratulo-me, por conseguinte, com o lançamento em 2007 da Sinergia do Mar Negro,reiterando, porém, um aspecto essencial do meu relatório: a necessidade de dar passosconcretos e decididos no sentido de desenvolver e realizar esta iniciativa de cooperação,quer na região em si quer entre a região e a União Europeia.

A tragédia da maré negra de 11 de Novembro de 2007 provou a todos nós que, nestamatéria, temos de conjugar esforços. A União Europeia deve desempenhar um papel centralem todos os aspectos, quer aumentando o seu envolvimento no desenvolvimento daSinergia do Mar Negro quer estimulando os seus vizinhos e parceiros nesta direcção. É aúnica maneira de podermos responder eficazmente às expectativas e exigências dos nossoscidadãos que enfrentam hoje as consequências directas do desastre de 11 de Novembro.

Rumiana Jeleva (PPE-DE). — (BG) Antes de mais, desejo manifestar a minha satisfaçãopelo facto de a Comissão ter apresentado este parecer. Este debate revela que o Mar Negroé agora o ponto focal da política europeia e dos políticos europeus. Congratulo-me poresta abordagem e penso que beneficiará todos os cidadãos da União Europeia. Como já foidito, deveria fazer-se muito mais em prol da protecção da região do Mar Negro. A questãoé como prevenir catástrofes como a registada no Estreito de Kerch. Porque as catástrofesnunca podem ser completamente evitadas, mas as suas causas podem ser minimizadas.

Existem duas formas de assegurar uma melhor protecção dos nossos mares. A primeira écontinuar a fomentar a cooperação regional. A segunda, juntamente com a cooperaçãoregional, consiste em dispor de melhores políticas em matéria de navegação. As medidassugeridas no terceiro pacote da política marítima vão na direcção certa e devem serimplementadas da melhor forma possível. A sua aplicação é imprescindível para evitaracontecimentos como o do Estreito de Kerch na região do Mar Negro. Uma vez que oParlamento Europeu e a Comissão manifestaram o seu apoio ao pacote de medidas há jáalgum tempo, é chegado o momento de o Conselho adoptar uma atitude mais activa e daros passos necessários para a introdução deste pacote. A aplicação eficaz das medidascontempladas no pacote conjuntamente com o reforço do nível de cooperação regional,através, por exemplo, da Cooperação Económica do Mar Negro e da iniciativa DABLASpara a protecção do ambiente, poderiam dar uma contribuição significativa para a segurança

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dos nossos mares e, simultaneamente, garantir um aumento da competitividade do nossosector naval.

Penso que este desastre prova, mais uma vez, a importância do tema relacionado com asnossas bacias e a necessidade de políticas adequadas para evitar este tipo de acidentes epara proteger o ambiente. Por conseguinte, penso que chegou efectivamente a hora de oterceiro pacote de medidas no âmbito da política marítima se converter em realidade eentrar em vigor. Obrigado.

Gabriele Albertini (PPE-DE). - (IT) Senhor Presidente, Senhor Presidente em exercíciodo Conselho, Senhor Comissário, Senhoras e Senhores Deputados, em nome da Comissãodos Transportes e do Turismo, gostaria de explicar por que apresentamos esta propostade resolução sobre os naufrágios no Estreito de Kerch no Mar Negro. Expressamos a nossasolidariedade às vítimas da catástrofe!

Convidamos o Conselho e a Comissão a acompanhar de perto a situação no Mar Negro ea adoptar medidas concretas para reduzir o impacto ecológico da catástrofe. A Europa nãopossui ainda a panóplia de normas necessária para evitar a repetição de acidentesextremamente graves como o que ocorreu no Mar Negro; entre outros elementos, essasnormas deverão impor aos Estados a responsabilidade pela segurança dos navios quearvoram o seu pavilhão e a obrigatoriedade de levar a tribunal, incluindo através deprocessos civis, os responsáveis por tais catástrofes ambientais.

Embora o Parlamento Europeu tenha adoptado o Terceiro pacote relativo à segurançamarítima em primeira leitura, em Abril de 2007, não foi ainda aprovado na íntegra peloConselho, que o mantém inexplicavelmente bloqueado, apesar do compromisso assumidopela Presidência portuguesa nesta matéria perante a Comissão dos Transportes e do Turismoe o Parlamento. O pacote, que consiste em sete propostas legislativas, é extremamentecompleto: reforça as normas de segurança marítima, protege os passageiros, reduz osdanos ambientais em caso de acidente, prevê obrigações e responsabilidades para os Estados,as empresas transportadoras e armadores. Fragmentando a discussão e dando prioridadea alguns aspectos em detrimento de outros, o Conselho demonstra que não está interessadoem abordar a questão da segurança com seriedade e que quer pôr entraves ao conjunto dopacote de medidas.

A segurança marítima é um assunto demasiado importante para ser objecto de movimentostácticos e também demasiado grave como o demonstram as experiências que já tivemos:Erika, Prestige, mais recentemente Segesta Jet, no Estreito de Messina, e Sea Diamond emSantorini! Tendo em conta os acidentes que já ocorreram e dado o aumento do tráfegomarítimo na Europa e no mundo, é de pensar que os riscos poderão ser maiores no futuro.

Este o motivo por que o Parlamento Europeu considera que as sete propostas, que a seguirenunciarei, devem ser aprovadas o mais depressa possível, antes que haja uma outracatástrofe ambiental com perda de vidas humanas: harmonizar os tipos de classificação,obrigar os Estados a controlar os navios que arvoram o seu pavilhão, garantir a inspecçãodos navios nos portos e acompanhar os seus movimentos, prever as modalidades deintervenção em caso de acidente e verificar e gerir responsabilidades quer em relação aterceiros, quer em relação a passageiros. Por conseguinte, instamos o Conselho a não fecharos olhos a esta trágica advertência do Mar Negro.

Markos Kyprianou, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, vejamos algumasquestões. Em primeiro lugar, no que se refere à Rússia, que aqui foi mencionada por diversos

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oradores, começaria por salientar que o mecanismo de protecção civil da Comunidadeapenas pode ser activado a pedido de um país afectado. Foram enviadas cartas oficiais aoferecer ajuda tanto à Ucrânia como à Federação Russa e, enquanto a Ucrânia respondeupositivamente, pedindo ajuda, a Rússia declinou a oferta.

Relativamente à questão geral da segurança marítima, o meu colega, Vice-Presidente Barrot,dirigiu-se por escrito em 10 de Dezembro ao seu colega Igor Levitin, Ministro dosTransportes russo, transmitindo-lhe estas preocupações e sublinhando a importância dereforçar a cooperação entre a UE e a Rússia no mar Negro bem como no mar Báltico, a fimde melhorar a segurança marítima.

Abordar os problemas do meio ambiente marinho a nível regional é uma das pedrasangulares da estratégia da União Europeia para o meio marinho e, mais concretamente,da proposta relativa à Directiva "Estratégia Marinha" em relação à qual o Conselho e oParlamento chegaram a acordo em segunda leitura. Tratou-se, em minha opinião, de umpasso em frente muito positivo.

A Comissão expôs os seus pontos de vista sobre uma estratégia para a região na suacomunicação "Sinergia do Mar Negro - uma nova iniciativa de cooperação regional". Aprotecção apresenta uma iniciativa que centraria a atenção política ao nível regional. Denotar que os recentes acidentes no mar Negro envolveram uma categoria especial de navios,os chamados petroleiros marítimos/fluviais, cuja navegação em alto mar está sujeita adeterminadas restrições.

De um modo mais geral, a Comissão está preocupada com a possibilidade de os naviosdesta categoria navegarem por outras zonas marítimas da União Europeia ou vizinhas daUE, nomeadamente o mar Báltico. Na UE, temos regras rigorosas sobre a segurança marítimae a condição dos navios, mas também nos preocupa o que acontece nas águas internacionais,não só porque facilmente a União Europeia pode ser afectada mas também porque nospreocupamos com o ambiente marinho em todo o mundo. Daí que estes acidentes tambémponham em evidência a importância de exercer pressão no que respeita às questões desegurança marítima, tanto a nível da UE como a nível internacional.

Neste sentido, e tal como já o assinalaram o Parlamento e alguns senhores deputados,importa acelerar a análise das sete propostas do "terceiro pacote marítimo" relativo àsegurança marítima.

Por último, sobre a questão da resposta, a Comissão também se comprometeu a reforçarcontinuamente os instrumentos de resposta da Comunidade, a fim de garantir uma respostarápida e eficaz no caso de tais acidentes se voltarem a repetir no futuro. Isto também implicacooperar com os vizinhos da UE, como os países do mar do Norte e, naturalmente, outrospaíses terceiros.

Agradeço aos senhores deputados este debate e não deixarei de transmitir aos meus colegasas questões interessantes que aqui foram suscitadas.

Presidente. - Recebi uma proposta de resolução (4) , apresentada nos termos do n.º 2 doartigo 103.º e do n.º 5 do artigo 108.º do Regimento.

Está encerrado o debate.

(4) Ver acta.

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A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

(A sessão, suspensa às 19H30, é reiniciada às 21H00)

PRESIDÊNCIA: KRATSA-TSAGAROPOULOUVice-presidente

16. Composição das comissões e das delegações: ver Acta

17. Sistemas de garantia de depósitos (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0448/2007) do deputado ChristianEhler, em nome da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, sobre os sistemasde garantia de depósitos (2007/2199(INI)).

Christian Ehler, relator. − (DE) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, é para mim um prazer poder hoje apresentar-lhes um relatório quefoi aprovado por unanimidade pela Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários.Antes de o relatório ser votado em comissão, o futuro dos sistemas de garantia de depósitosfoi objecto de um intenso debate, sobretudo à luz dos problemas regionais específicosexistentes e da recente crise no mercado imobiliário norte-americano.

No final de 2006, a Comissão apresentou uma comunicação sobre o reexame da Directivade 1994 relativa aos sistemas de garantia de depósitos. Antes de elaborar a sua comunicação,a Comissão levou a cabo um processo de consulta. Com base nos resultados empíricosobtidos, podemos concluir que os objectivos da directiva foram globalmente atingidos eque não existe qualquer necessidade de intervenção legislativa neste momento.

Mas a crescente integração transfronteiras das estruturas do mercado financeiro na Europaexige da nossa parte um maior enfoque na cooperação entre os diversos sistemas de garantiade depósitos na Europa. Na sua comunicação, a Comissão identificou as áreas em que asmedidas de auto-regulação ou um tratamento diferente das bases legais poderiam trazernovas melhorias no interesse dos consumidores.

Em nosso entender, esta abordagem deve ser prosseguida. Acreditamos que o processo dedebate dinâmico que envolve a Comissão, os Estados-Membros e o EFDI, o Fórum Europeude Fundos de Garantia de Depósitos, assume um papel muito positivo para nos podermosadaptar o mais rapidamente possível às novas circunstâncias.

O problema Nordea não justifica a exigência de uma nova alteração onerosa da directivano momento actual. Agradeço, por isso, à Comissão por ter deixado absolutamente claroque o problema Nordea, que se prende essencialmente com o reembolso de contribuições,tem de ser resolvido pelos Estados-Membros.

Os responsáveis pelos sistemas de garantia de depósitos nos países escandinavos e asrespectivas autoridades de supervisão têm de decidir autonomamente se as contribuiçõesdevem ser reembolsadas ou se as garantias de depósitos naqueles países devem ser tratadascomo apólices de seguros, não dando direito a reembolso. Trata-se de um problemafundamental, mas é fundamentalmente um problema dos Estados-Membros.

Basicamente, o relatório pode dividir-se em três partes. A primeira parte consiste na análisedo estudo levado a cabo pela Comissão e na adopção de uma posição relativa às suasconclusões, como sejam o montante da garantia mínima. A segunda parte debruça-se sobre

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a questão de saber até que ponto os diversos sistemas de garantia de depósitos existentesna Europa causam distorções da concorrência inaceitáveis. A terceira parte trata da futuragestão de crises e de riscos.

Em relação à primeira parte do meu relatório, vou ser muito breve, uma vez que não gerougrande controvérsia e reflecte os resultados do processo de consulta sobre os sistemas degarantia de depósitos. Creio que a nossa declaração relativa ao nível de cobertura mínimo,que deve ser adaptado à inflação aquando da próxima modificação da directiva, estabeleceum equilíbrio entre os interesses dos novos Estados-Membros e os dos antigos. Gostariade realçar que todos os Estados-Membros e todos os garantes de depósitos já têm a opçãode exceder o nível mínimo estabelecido a nível europeu para a garantia de depósitos.

Outro aspecto importante que está patente no relatório é o exame da questão de saber seos diversos sistemas de garantia de depósitos e os vários métodos usados para os financiarcausam distorções na concorrência. A Comissão expôs o seu ponto de vista e apresentouum estudo que, caso as suas recomendações fossem aplicadas, iria resultar numaharmonização do financiamento em determinados Estados-Membros.

Se quiséssemos agora pedir aos Estados-Membros com sistemas ex post para realizaremuma completa reestruturação dos seus sistemas de garantia de depósitos, com todos oscustos que isso envolve, conviria analisar primeiro se a diversidade dos sistemas e asconcomitantes distorções inaceitáveis e onerosas do mercado são sequer justificáveis nomercado interno. Essa análise ainda não foi feita e constitui, por isso, uma importantetarefa para o futuro.

A terceira parte do relatório analisa a gestão de riscos e de crises. O mercado interno e ocrescente grau de integração transfronteiras exigem que avaliemos se a gestão de riscos ede crises transfronteiras está a funcionar bem. É urgente realizar um debate aprofundadosobre esta questão com todas as partes interessadas. Neste contexto, devem também serabordadas questões de longa data, como sejam o problema dos especuladores e o riscomoral.

Estou convencido de que são imprescindíveis estudos empíricos que analisem a gestão dascrises e dos riscos, se quisermos elaborar acordos viáveis relativos à partilha deresponsabilidades numa situação de crise transfronteiras e estabelecer métodos comunspara a detecção precoce de riscos ou desenvolver um sistema para a introdução decontribuições com base no risco. Esses estudos devem depois determinar o conteúdo dosdebates subsequentes.

Perante este pano de fundo, rejeito também completamente a alteração do PSE, que postulaa existência de distorções no mercado, embora não existam actualmente quaisquer provasnesse sentido. Acreditamos que o processo actual constitui a abordagem correcta.

Charlie McCreevy, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, antes de mais, osmeus sinceros agradecimentos à Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, e emespecial ao relator, senhor deputado Christian Ehler, por apoiarem a política consignadana nossa comunicação.

Subscrevo inteiramente o ponto de vista do relator de que, neste momento, não sãonecessárias novas propostas legislativas. Algumas questões podem ser melhoradas atravésda regulamentação existente, sem grandes implicações em termos de custos e através dacooperação com o Fórum Europeu de Fundos de Garantia de Depósitos (EFDI). A recenteturbulência financeira pôs em evidência a importância crucial de manter os depósitos e a

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confiança durante uma crise financeira. Quanto aos sistemas de garantia de depósitos(SGD), dois elementos se afiguram fundamentais: um nível de cobertura adequado e umprazo de reembolso curto. Se souberem que os seus depósitos estarão cobertos e se sentiremconfiantes de que os depósitos garantidos serão reembolsados dentro de um curto prazo,os depositantes não sentirão a necessidade de se juntarem a uma eventual fila à porta dobanco.

A directiva existente tem-se revelado flexível e permite aos Estados-Membros aumentar acobertura em função da sua própria situação económica. Os Estados-Membros podemadoptar medidas imediatas se verificarem que o seu nível de cobertura é inadequado. Oreembolso atempado dos depósitos de garantia pode efectivamente ser melhorado. Segundoa directiva, os reembolsos não deveriam normalmente exceder três meses, mas isto reflectea tecnologia de que se dispunha em 1994. Pedimos, por esta razão, ao EFDI que identificasseos obstáculos a um reembolso rápido.

Os depositantes também devem ser informados da protecção que têm à sua disposição.As actuais obrigações de informação, previstas na directiva, são aplicadas de forma diferentenos diferentes países da Europa. Solicitámos, pois, ao EFDI que identificasse as boas práticasa fim de melhorarmos a divulgação dessas informações aos depositantes. Em relação auma eventual situação de crise transfronteiras, partilho a opinião do Parlamento quantoà necessidade de clarificar a questão da partilha de responsabilidades e as interacções entretodas as partes envolvidas antes da ocorrência de uma tal crise. As conclusões do ECOFINde 9 de Outubro são claras a este respeito. Tomei nota da sugestão no sentido de o EFDIparticipar nas discussões sobre a partilha de responsabilidades em geral. Permitam-mesublinhar que apenas um escasso número de sistemas tem competências que vão além domero reembolso aos depositantes. Os seus fundos também cobrirão apenas uma fracçãodos montantes afectados numa situação de crise transfronteiras de grande dimensão. Porconseguinte, não posso apoiar a sugestão de incluir o EFDI nos debates gerais sobre apartilha de responsabilidades.

O relatório também põe a tónica na importância de eliminar possíveis distorções demercado. Tal como solicitado, iremos estudar o assunto. Contudo, neste momento, nãonos parece que o elevado custo de harmonizar totalmente o actual quadro regulamentar,estimado em 2,5 mil milhões a 4,5 mil milhões de euros, seja justificado. Estão já a seranalisadas algumas questões relacionadas com a necessidade de assegurar condiçõesequitativas de concorrência. Por exemplo, devemos facilitar os acordos de coberturacomplementar ou "topping up", nos termos dos quais uma sucursal deve poder oferecerno país anfitrião um nível de protecção superior ao que é oferecido no país de origem. Noentanto, os acordos entre os sistemas nos diferentes Estados-Membros nem semprefuncionaram na prática, pelo que apoiamos os esforços do EFDI no sentido de conseguirum acordo-modelo voluntário. Alguns Estados-Membros já ajustam as contribuições paraos seus SGD de acordo com o risco individual dos bancos. Gostaríamos de ajudar osEstados-Membros interessados, já que isto contribuiria para criar condições de concorrênciaequitativas para os bancos com perfis de risco similares.

Em conclusão, a Europa necessita de sistemas de garantia de depósitos que garantam aconfiança dos depositantes em caso de crise financeira. Com as melhorias contempladas,acredito que nos aproximaremos desse objectivo.

Piia-Noora Kauppi, em nome do grupo PPE-DE . – (EN) Senhora Presidente, quero começarpor agradecer a todos, porque este é um tema muito oportuno.

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Todos sabemos que a actual turbulência financeira veio pôr em evidência a importânciada gestão de crises transfronteiras, e a decisão do ECOFIN de Outubro de incrementar acoordenação ex ante entre os Estados-Membros e, em especial, os sistemas de supervisão,não poderia ser mais bem-vinda.

Os bancos ocupam um lugar central no sistema de pagamentos e lidam com as poupançasde consumidores comuns, que não são profissionais das finanças. Por conseguinte, ocorrecto funcionamento dos sistemas de pagamento e do sistema de compensação eliquidação é uma questão particularmente delicada. São muitos os bancos que hoje operama nível transfronteiras. Um quadro regulamentar nacional disperso não é suficiente.Actualmente, nem sequer os tipos de conta cobertos pelos requisitos dos sistemas degarantia de défice são os mesmos em todos os Estados-Membros.

Não devemos permitir que isto se converta num problema dos depositantes. O relator,senhor deputado Ehler, fez um bom trabalho em torno do relatório e demonstrou umagrande vontade de transigir. Em especial, o relatório sublinha, acertadamente, a importânciade eliminar as distorções de concorrência. Como o Senhor Comissário observou, é muitoimportante garantir condições de concorrência equitativas.

Contudo, lamento que o relatório não aborde, afinal, a questão dos sistemas de garantiade depósitos (SDG) ex ante. Embora os Estados-Membros que dispõem de SGD ex posttenham argumentado que este é um problema específico aos mercados escandinavos enórdicos, não é o caso. Na realidade, trata-se de uma situação anticoncorrencial para todoo mercado interno, em grande escala. Aliás, a maioria dos sistemas na Europa são ex ante.Se as regras relativas à capacidade de reembolsar ou transferir os montantes pagos a estessistemas não forem harmonizadas, distorce-se a possibilidade de optar entre modelos desucursal e filial no país de origem, o que leva a distorções de concorrência. Como tal, é desaudar que a Comissão se esteja a debruçar sobre esta matéria, analisando se existemdistorções da concorrência e tornando possíveis futuras recomendações neste domínio,sobretudo em termos de capacidade de reembolso e transferência de garantias de depósitoex ante já pagas em dinheiro.

Acolho, pois, a iniciativa da Comissão bem como o relatório do senhor deputado Ehler,mas ainda há trabalho a fazer.

Pervenche Berès, em nome do grupo PSE . - (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário,agradeço ao relator o texto que nos propôs. Por uma vez sem exemplo, partilho uma grandeparte das observações da senhora deputada Piia-Noora Kauppi. Começámos a análise destetexto antes do Verão e creio que aqueles que pensavam que ele chegava na altura idealficaram satisfeitos com o que se passou no Verão.

O que se passou nessa altura levou a que se colocasse a questão dos sistemas de garantia.Não podemos viver num sistema em que muitos actores do mercado são actorestransfronteiriços, nem viver com mecanismos de garantia dos depósitos que não estejam,pelo menos, harmonizados ou, no mínimo, elaborados numa mesma base, e isso devidoà concorrência, mas também por razões de confiança nos mecanismos do mercado.

Com efeito, fiquei muito chocada, por ocasião das minhas diversas deslocações deste Verão,que não abrangeram apenas os países nórdicos, com esta questão do sistema de garantiaque me foi sistematicamente colocada como uma questão crucial. Evidentemente queconheço a resposta dos serviços do Senhor Comissário, que consiste em dizer: "mas afinal,se adicionarem todos os sistemas de garantia à escala europeia, apenas terão um montante

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mínimo das somas necessárias para fazer face às crises". Não é argumento suficiente paradar resposta às deficiências em termos de concorrência e de confiança nos mecanismosdo mercado, tanto mais que provoca efeitos perversos na estratégia das empresas queaproveitam para proceder ao arbítrio entre filiais e sucursais com base em razões que nãosão as melhores.

A partir de todos estes elementos, pedi o apoio do meu grupo. O meu grupo apresentouuma alteração pedindo à Comissão que acelerasse o seu trabalho e que tivesse em contaas expectativas dos cidadãos, que não sentem tratar-se de um pedido prioritário e forte,mas que pretendem ser tranquilizados sobre os mecanismos dos mercados financeiroseuropeus e o seu modo de intervenção. Um bom sistema de garantia dos depósitos à escalaeuropeia só contribuiria para isso.

Creio, Senhor Comissário, que é da sua responsabilidade avaliar o estado de confiança ounão no funcionamento dos mercados financeiros à escala europeia. Parece-me que, a esterespeito, não podemos apenas ficar à espera de novos estudos. O senhor deve provocar ascoisas de forma a que andem mais depressa e que possamos avançar numa base maisharmonizada, com uma leitura mais transparente e mais clara dos mecanismos de garantiados depósitos tal como funcionam à escala da União Europeia.

Wolf Klinz, em nome do Grupo ALDE. – (DE) Senhora Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, como já foi dito, os sistemas de garantia de depósitosvoltaram, uma vez mais, a estar no centro das atenções nas últimas semanas. O caso dobanco Northern Rock, cujas sucursais foram inundadas por centenas de clientes quepretendiam levantar as suas poupanças, e a questão da indemnização dos investidores emcaso de falência do banco ainda estão vivos na nossa memória.

Isto ilustra muitíssimo bem que a integração global dos mercados financeiros tambémimplica desafios para a Europa. O aumento da consolidação transfronteiras no sectorbancário suscita questões relativas aos poderes de supervisão, ao nível de coberturaadequado dos sistemas de garantia de depósitos e à cooperação transfronteiras entre essessistemas. Como sabemos, o nível de cobertura mínimo está fixado em 20 000 euros naEuropa, mas na prática é bastante mais elevado em muitos Estados-Membros. Ofinanciamento dos sistemas de garantia é, no entanto, uma matéria da competência dosEstados-Membros e as estruturas dos sistemas são bastante diferentes.

Por essa razão, importa esclarecer, e rapidamente, os seguintes aspectos: a medida em queos sistemas de garantia de depósitos têm de ser harmonizados, o seu financiamento e autilização proactiva dos recursos ex ante para fins de prevenção de danos.

No caso das instituições transfronteiras, as atenções concentram-se, na eventualidade deuma crise, na estrutura de supervisão, em especial no caso da supervisão de grupo, e napartilha de responsabilidades. Se uma subsidiária exerce a sua actividade numEstado-Membro de acolhimento e pertence ao sistema de garantia de depósitos desse país,mas está sujeita à autoridade de supervisão do Estado-Membro de origem em virtude doprincípio da supervisão de grupo, é criado um hiato entre o sistema de supervisão e osistema de garantia de depósitos, o que é, sem dúvida, inaceitável e contrário aos interessesdos investidores.

Não obstante, apoio a linha seguida pelo relator. Antes de adoptarmos medidas legislativas,os Estados-Membros devem primeiro eliminar as deficiências que ainda existem nos seussistemas de garantia de depósitos. Simultaneamente, a Comissão deve, o mais rapidamente

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possível, realizar estudos específicos sobre a gestão de riscos transfronteiras e uma análisedetalhada dos meios de financiamento dos diferentes sistemas. Com base nos resultadosassim obtidos, pode depois ponderar-se seriamente a adopção de medidas legislativas, casovenham a revelar-se pertinentes e necessárias.

Gunnar Hökmark (PPE-DE). - (EN) Senhora Presidente, agradeço ao relator a tónicaque coloca na necessidade de realizar estudos e análises bem como a conclusão a quechegou de que, se existem distorções no mercado, haverá que fazer algo para conseguircondições de concorrência equitativas. Creio que é importante chegarmos a essa conclusãoneste debate.

Se há distorções, podemos ter diferentes opiniões – se elas de facto existem. Mas se elasexistem, algo tem de ser feito. Temos de o fazer, porque – e penso que todos estamos deacordo – queremos mais concorrência transfronteiras, e também queremos proteger osinteresses dos consumidores.

É pertinente debater a diferença entre os diferentes sistemas, pois, se nalgunsEstados-Membros temos sistemas ex ante e noutros temos sistemas diferentes ex post, o quena realidade pressupõe que o Estado pode ser fiador de bancos que não podem pagar aosseus clientes, temos uma distorção.

A minha opinião é que, dadas as diferenças de opinião que temos, já existe uma distorção.A distorção é ainda mais grave se se baseia no pressuposto de que o Estado deve ajudar osbancos que não podem pagar aos seus clientes.

Creio que uma conquista positiva deste relatório do senhor deputado Ehler é o facto determos chegado a essa conclusão. Considero importante que a Comissão dê resposta a estaquestão nas suas acções futuras.

Temos porventura diferenças de opinião quanto à situação actual. Mas estamos de acordoquanto à necessidade de tomar medidas se os estudos que irão ser realizados demonstraremque existem distorções.

Quero agradecer ao relator esse facto e também pedir à Comissão que responda ao mesmocom acções.

Antolín Sánchez Presedo (PSE). – (ES) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, gostaria de agradecer ao senhor deputado Ehler o seu trabalho, que chega dezanos após a transposição da Directiva de 1994 relativa aos sistemas de garantia de depósitos,num período de turbulência financeira em que a melhoria do mercado europeu dos serviçosfinanceiros está a ser discutida.

Neste momento há uma acentuada disparidade entre as posições adoptadas pelosEstados-Membros e existem questões importantes a resolver. Embora a maioria dosEstados-Membros aplique o sistema baseado num fundo ex ante, continuam a existir fortesdisparidades no que se refere ao nível das garantias, à dimensão dos fundos e ao métodode financiamento dos mesmos.

Passo a referir dois exemplos: o montante garantido no Estado mais protector é oito vezessuperior ao que é garantido no Estado menos protector, sendo que o fundo de garantianum só Estado representa 40% do total europeu. Esta situação gera uma distorção daconcorrência. O sistema ex post ameaça a estabilidade financeira nacional e europeia emmomentos de crise.

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Também os grupos bancários transfronteiriços estão a ter problemas. A consolidação defundos de diferentes sistemas coloca dificuldades práticas. A concentração de garantiasnum único sistema só pode ser realizada mediante uma proliferação de regulamentos e deacordos entre Estados, o que fragmenta o sistema e o torna mais vulnerável a umaacumulação indevida de riscos. Há fortes interrogações quanto aos objectivos do sistemade garantia de depósitos: a harmonização dos níveis de cobertura, os contributos baseadosno risco, a utilização de fundos para assegurar liquidez, a repartição de encargos, a gestãode crises transfronteiriças, a liquidação de instituições e a cooperação entre as autoridades.

Os sistemas de garantia de depósitos deveriam prover uma rede de segurança baseada norisco capaz de proteger os depositantes, assegurar uma concorrência eficiente e justa,proporcionar estabilidade aos mercados financeiros e contribuir para uma repartiçãoequitativa dos encargos em situações de crise.

Por conseguinte, extrair todas as possibilidades do quadro vigente não deveria impediruma reforma ambiciosa e profunda, assim que os necessários estudos tiverem sidoefectuados.

Mariela Velichkova Baeva (ALDE). — (BG) Senhoras e Senhores Deputados, observoque as crises financeiras não são um fenómeno novo; são indicadores de uma assimetriaentre o sector financeiro e a economia real. A crise do crédito hipotecário nos EstadosUnidos levou recentemente os especialistas financeiros a afirmar que as economias e osmercados financeiros estão interligados e que é preciso um debate a uma escala alargadapara melhorar a gestão do risco.

A ideia contida na proposta de resolução do relatório Ehler para avaliar e melhorar asmedidas de alerta prudencial e precoce da União Europeia com vista a assegurar aestabilidade dos mercados financeiros, e a questão da garantia dos depósitos como formatradicional de poupança na Bulgária, o meu país, é realmente oportuna. Neste contexto,desejo salientar que a responsabilidade dos bancos de organizar cuidadosamente a suacarteira e de administrar eficazmente os recursos dos aforradores se reveste de umaimportância crucial. Naturalmente, o maior conhecimento dos cidadãos sobre as formasde utilizar sistemas flexíveis, a diversificação das formas de depósito e os mecanismos,como sejam os fundos de garantia de depósitos, contribuem para aumentar a confiança efavorecem a estabilidade financeira.

Charlie McCreevy, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, desejo agradeceraos senhores deputados os seus contributos. A terminar, gostaria de fazer duas observaçõesfundamentais.

Não nos parece adequado, neste momento, introduzir alterações regulamentares. A directivaresistiu bem à prova do tempo. É capaz de se adaptar à evolução das circunstâncias. Alongo prazo, será crucial, na perspectiva da estabilidade financeira, que os sistemas degarantias positivas contribuam para uma gestão fluida das crises, num ambiente bancáriocada vez mais pan-europeu.

Quaisquer novas medidas rumo a sistemas mais harmonizados na União Europeiadependem agora, por conseguinte, dos resultados do trabalho mais alargado que está a serdesenvolvido no contexto da gestão da crise.

Relativamente aos problemas focados tanto pela senhora deputada Kauppi como pelosenhor deputado Hökmark, o reembolso das contribuições a um banco que abandona osistema, por qualquer razão que seja, não se encontra coberto pela actual directiva e,

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portanto, é da competência da legislação dos Estados-Membros. A harmonização à escalaeuropeia exigiria a harmonização total do método de financiamento.

Gostaria de agradecer ao relator, senhor deputado Ehler, bem como à Comissão dosAssuntos Económicos e Monetários a sua abordagem altamente construtiva.

Presidente. - Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

18. Gestão de activos II (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0460/2007) do deputado WolfKlinz, em nome da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, sobre a gestão deactivos II (2007/2200(INI)).

Wolf Klinz, relator. − (DE) Senhora Presidente, desde a adopção da Directiva OICVM,em 1985, os mercados europeus de fundos registaram um crescimento meteórico. Desdeentão, a directiva foi actualizada duas vezes para atender às novas evoluções do mercado,e a próxima modernização já figura no topo da agenda do ano que vem.

O actual projecto de reforma da Comissão foi, entre outros, motivado pela primeiraresolução sobre a gestão de activos (Gestão de Activos I) adoptada pelo Parlamento Europeuem Abril de 2006, que definiu os principais elementos do pacote de reformas. Agradeçoà Comissão por ter aceitado estas recomendações e pela sua intenção de as implementarnum instrumento legislativo no próximo ano.

A proposta de resolução em apreço, intitulada Gestão de Activos II, pretende de formasemelhante preparar o caminho para futuras iniciativas da Comissão. Com esse intuito, aproposta prevê inúmeras medidas que vão para além do conteúdo do pacote de reformasprevistas para o próximo ano, mas que consideramos necessárias para aumentar acompetitividade do sector de fundos europeu. Eis os principais aspectos:

Em primeiro lugar, a Comissão deve considerar alargar os activos elegíveis por forma aabranger os fundos imobiliários e os fundos "hedge". Ambos os produtos ajudam adiversificar a exposição ao risco das carteiras e oferecem rendibilidades atractivas. Paraalém da possibilidade de adicionar estes produtos às carteiras, também deve ser consideradaa introdução de um passaporte de depositário europeu, que daria aos investidores privadosacesso directo a esses produtos. Congratulamo-nos com a criação, por parte da Comissão,de um grupo de peritos sobre os fundos imobiliários abertos (FIA) e com a sua decisão derealizar um estudo sobre os fundos não harmonizados dirigidos aos pequenos investidores.

Em segundo lugar, não só os pequenos investidores como também os intermediáriosprofissionais e os investidores institucionais devem poder beneficiar plenamente do mercadoúnico europeu. Estes grupos, que na prática não precisam dos mecanismos tradicionaisde protecção dos consumidores, nunca tiveram a possibilidade de operar a níveltransfronteiriço sem para o efeito terem de observar processos de notificação públicos.Um regime europeu de investimento privado pode remediar esta situação. Este regimedeverá ser concebido de forma a não limitar os sistemas existentes nos diversosEstados-Membros, alguns dos quais são muito liberais. A fim de garantir esta flexibilidade,o Parlamento está a propor que a CERVM, a Comissão Europeia de Regulamentação deValores Mobiliários, formule recomendações para a organização de um tal regime. O passo

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seguinte implicaria então uma análise para ver até que ponto as recomendações sãosuficientes ou se existe necessidade de adoptar uma directiva universalmente vinculativa.

Em terceiro lugar, a panóplia de produtos de investimento dirigida aos pequenosinvestidores está a aumentar constantemente, mas a informação disponível sobre osprodutos não permite uma comparação das vantagens relativas dos produtos. Isso deve-se,em parte, à enorme fragmentação do quadro regulamentar na Europa. Se queremos queos investidores individuais tomem decisões informadas, os requisitos de informação e asobrigações de transparência devem estabelecer um certo grau de comparabilidade entreos produtos concorrentes. As diversas indústrias devem poder competir em igualdade decircunstâncias e segundo as mesmas regras. Por esse motivo, pedimos à Comissão quereveja o quadro regulamentar existente para as diferentes categorias de produtos e apresentepropostas tendentes à melhoria da situação.

O objectivo não consiste em tornar os produtos completamente comparáveis. As apólicesde seguro de vida, os certificados e os fundos têm um estatuto legal e uma estruturaintrinsecamente diferentes. O objectivo consiste antes em estabelecer requisitos deinformação equivalentes. Mas por maior que seja a transparência, ela de nada servirá se osinvestidores não tiverem pelo menos um nível mínimo de conhecimentos sobre os diversosprodutos financeiros e sobre o seu modo de funcionamento. Compete, por isso, aosEstados-Membros promover iniciativas educativas neste domínio.

Em quarto lugar, os investidores devem poder beneficiar não apenas de uma ampla gamade produtos, mas também de custos reduzidos. Actualmente, porém, o panorama dosfundos europeus é extremamente fragmentado, o que se traduz numa ineficiência relativae em custos excessivos, especialmente em comparação com os países concorrentes. AComissão prevê criar, no próximo ano, um quadro regulamentar aplicável às fusões defundos, uma medida com a qual nos congratulamos. Mas a Comissão está a esquecer-sede um dos principais obstáculos às fusões transfronteiras, nomeadamente a tributação.Assim, solicitamos que, para efeitos fiscais, as fusões transfronteiras sejam tratadasexactamente da mesma forma que as fusões nacionais. Por outras palavras, não devemimplicar quaisquer responsabilidades fiscais adicionais para os investidores. Não estamosa pedir que sejam tomadas medidas em relação às taxas de impostos ou afins. Queremossimplesmente que as fusões transfronteiras não sejam tratadas de forma diferente das fusõesdomésticas.

Em quinto lugar, o Parlamento irá elaborar um relatório separado em que avaliará a eventualpertinência de um quadro regulamentar europeu para os fundos "hedge" e as participaçõesprivadas. Ainda assim, a Comissão deve estar preparada para participar activamente nosdebates internacionais sobre esta matéria.

Por último, gostaria de agradecer aos meus colegas da comissão, especialmente aosrelatores-sombra dos outros grupos, pela sua boa colaboração. Espero que a Comissão, àsemelhança do que fez da primeira vez, volte a acolher as nossas propostas para quepossamos proporcionar as oportunidades do mercado único europeu na sua plenitudeaos investidores e à indústria de fundos.

Charlie McCreevy, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, gostaria de felicitara Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários e, em especial, o relator, senhordeputado Klinz, pela elaboração deste relatório de iniciativa e pelo grande trabalho investidono mesmo. Quero igualmente aproveitar a oportunidade para agradecer ao ParlamentoEuropeu a sua valiosa contribuição para o debate sobre a gestão de activos. O anterior

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relatório do Parlamento sobre a gestão de activos constituiu igualmente um excelentecontributo para o nosso trabalho em torno da Directiva OICVM.

Através de um longo processo de análise e consulta conseguiu-se, cremos, criar um forteconsenso sobre o que tem de ser feito e como. Não devemos sobrecarregar a nossa agenda,mas não estamos cegos em relação a outras questões e outros problemas. O relatório dehoje é testemunho do amplo leque de outras questões com que se confronta o sector dosfundos europeu. Já começámos a trabalhar em muitas das áreas destacadas no presenterelatório. O objectivo é criar um conjunto sólido de provas sobre o qual se possam basearas futuras decisões. Apraz-nos comprovar que um processo prudente, baseado na avaliaçãode impacto, conta com o apoio do Parlamento. Na Comissão, acreditamos fortementenesta abordagem, que garantiria que as iniciativas futuras respondessem a verdadeirasnecessidades e fornecessem soluções efectivas. Também estamos a aplicar esta abordagemno nosso trabalho sobre o investimento privado em valores. É nossa intenção apresentar,até Maio de 2008, uma comunicação da Comissão que avaliará a necessidade e a viabilidadede um regime europeu de investimento privado em valores.

O relatório que hoje nos é apresentado apela à adopção de soluções rápidas a fim de facilitara criação de um passaporte transfronteiras para os fundos a retalho não harmonizados. AComissão também está a estudar cuidadosamente esta importante questão, sobre a qualvoltaremos ao contacto do Conselho e do Parlamento no Outono de 2008. Fazemos votosde que o relatório em análise traga uma base empírica a esta complexa discussão.

Ao escutar este debate, pode por vezes ficar-se com a impressão de que se identificam assoluções ainda antes do problema ter sido devidamente especificado. Recomendamos quenão haja pressa em alargar o quadro de fundos de retalho da UE. A Directiva OICVM jápermite uma ampla gama de estratégias inovadoras, incluindo alguns tipos de investimentosalternativos. Devemos ter claro o que é possível actualmente, e saber se os controlos dagestão de riscos em todo o sector estão à altura das circunstâncias, antes de ponderar umalargamento adicional do quadro de fundos a retalho da UE. Compreendemos o desejo dosector dos fundos europeu de explorar a sua liderança na inovação e na criatividadefinanceira, mas não poderá fazê-lo à custa da confiança do consumidor na marca OICVM.

Tomamos nota das preocupações suscitadas no relatório em relação aos requisitos legaisdivergentes aplicáveis à distribuição de produtos de substituição, e sublinhamos que aComissão mantém uma atitude aberta quanto à questão de saber se existe efectivamenteum problema de fundo que carece de resolução. As respostas ao pedido de provas lançadoem Outubro permitir-nos-ão avaliar até que ponto o actual mosaico regulamentar geraum risco real e significativo em detrimento dos investidores. À luz das respostas e doposterior trabalho de seguimento, a Comissão emitirá uma comunicação no Outono de2008 sobre a necessidade de adoptar medidas à escala da UE.

Acolhemos com satisfação o facto de o relatório reconhecer o contributo positivo dosfundos de cobertura ou fundos hedge para o funcionamento dos mercados e para a eficiênciadas empresas. Algumas iniciativas recentes impulsionadas pelo sector no sentido dedesenvolver normas voluntárias de boas práticas são uma resposta bem-vinda eproporcionada aos apelos a uma maior transparência. Registamos com apreço o facto detambém o Parlamento defender a necessidade de respostas de âmbito internacional nestasactividades económicas altamente globalizadas.

Em suma, muito se tem conseguido no domínio da gestão de activos mas ainda há umlongo caminho a percorrer. Surgem constantemente novos desafios neste ramo de negócio

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em rápida evolução. Contudo, não lucraremos nada em optar por respostas precipitadase mal preparadas. Apraz-nos constatar que a Comissão tem, no Parlamento, um valiosoparceiro que trabalha para conseguir o mesmo objectivo, isto é, um mercado de fundoseuropeu integrado e eficiente, capaz de oferecer resultados tanto ao sector como aosinvestidores.

Astrid Lulling , em nome do grupo PPE-DE. - (FR) Senhora Presidente, relativamente a esteimportante relatório de iniciativa sobre o Livro Branco da Comissão relativo aos fundosde investimento, e no que nos diz respeito, decidimos de comum acordo concentrar-nosnos elementos não legislativos, uma vez que a proposta legislativa para a revisão da DirectivaOICVM III só chegará no início de 2008. No entanto, os temas que abordámos possuemuma importância crucial para os Organismos de Investimento Colectivo em ValoresMobiliários.

O alargamento do campo de aplicação dos activos elegíveis para os fundos imobiliáriosabertos e para os fundos de fundos alternativos corre o risco de prejudicar a excelentereputação mundial dos produtos OICVM e de possuir efeitos negativos sobre a distribuiçãodesses produtos na União Europeia e para os países terceiros. Para evitar qualquer incidêncianegativa sobre a indústria dos fundos de investimento na Europa, o Parlamento convidoua Comissão a realizar um estudo aprofundado sobre as eventuais consequências da inclusãodesses fundos a retalho não harmonizados entre os activos elegíveis para os OICVM.

Os investimentos nos produtos OICVM são da ordem dos biliões de euros e representamcerca de 80% do mercado dos fundos de investimento na Europa. O sector espera a revisãoda Directiva OICVM com impaciência. No entanto, para evitar qualquer atraso inútil econtraproducente dessa revisão, o Parlamento estabeleceu claramente que só deverá serfeita qualquer extensão dos activos elegíveis após conclusão da reforma legislativa daDirectiva OICVM. Em nome do meu grupo, tenho reivindicado sistematicamente esseprocedimento, e quero saudar o sentido do compromisso do relator.

O relatório apela também à criação de um quadro harmonizado para os investimentosprivados no seio da União. Apoio integralmente as recomendações do relatório sobre esteponto.

Por fim, o regime de investimento privado deve basear-se numa definição clara do investidorqualificado, como prevê a Directiva DMIF. Os investidores esclarecidos e qualificadoselegíveis para proceder ao investimento privado não devem, em caso algum, estar sujeitosa uma sobrecarga burocrática imposta por regulamentações normativas tão supérfluascomo contraproducentes.

Pronuncio-me contra a alteração socialista que, no contexto do campo de aplicação doregime de investimento privado, apela a uma equivalência dos sistemas de regulamentaçãoe supervisão entre os Estados, a qual autorizaria um acesso recíproco aos seus mercados.Essa equivalência é pura e simplesmente irrealista a nível europeu.

Apesar de tudo, quero também salientar um ponto sobre o qual o meu grupo, e eu próprio,não estamos de acordo com o relator. Refiro-me ao n.º 19, que aborda a questão de pseudos"fundos garantidos". O próprio conceito de tais fundos é controverso, e tentámos denunciara sua definição errada. Espero que possamos rejeitar esse número. Dito isto, quero mesmoassim felicitar, também eu, o relator pela qualidade do seu trabalho, que nos permitiupreparar bem o terreno para a proposta legislativa. Podemos assim abordar os trabalhosdo próximo ano com serenidade.

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Harald Ettl, em nome do Grupo PSE. – (DE) Senhora Presidente, gostaria de dizer à senhoradeputada Astrid Lulling que não deve sempre partir do princípio de que as propostas dossocialistas são insustentáveis. Começo por agradecer calorosamente ao relator, senhordeputado Klinz, pelo seu relatório equilibrado. Devo dizer ao Senhor Comissário que nãoprecisa de estar sempre tão receoso de sobrecarregar a agenda.

É perante o pano de fundo da crise financeira e hipotecária dos EUA que estamos agora atratar do relatório sobre a gestão de activos. Nem sequer o Banco Central Europeu é capazde avaliar a dimensão total dos danos que esta crise causou ao sistema financeiro europeue aos bancos europeus. E muito poderá e, aliás, está ainda para acontecer. O mercadofinanceiro global já está tão estreitamente interligado que não existe qualquer forma deproteger a União dessas jogadas especulativas, pelas quais todos nós teremos de pagar, emúltima análise. Os executivos bancários gananciosos, que só se importam com o valor poraccionista, continuam a gozar de grande prestígio e as agências de notação norte-americanascontinuam a fazer grandes negócios e a ludibriar-nos. Uma legislação irreflectida eprecipitada, porém, nunca é adequada. Mas não deixa de haver muito a fazer neste domínio,e a Comissão não pode esperar que o problema se resolva sozinho ou que o mercado seauto-regule.

A mensagem que quero destacar deste relatório é que uma maior informação e transparênciacontribuem para aumentar a protecção e a segurança dos consumidores. Isso é um pontode partida muito sensato. Outro aspecto positivo é o facto de o relatório fazer referênciaaos fundos "hedge" e às participações privadas, porque cada vez mais gestores de activosestão a investir em produtos de investimento alternativos. Os fundos "hedge", os fundosimobiliários abertos e os outros produtos dirigidos a investidores privados devem, porisso, ser incluídos na Directiva OICVM III – uma tarefa que ainda temos pela frente.

Em meu entender, o próprio conceito de gestão de activos implica um desenvolvimentocontínuo, quer através de certificados de investimento, de fundos de pensões, de companhiasde seguros de vida, de bancos ou de gestores privados de activos. Desde 2003 que temosuma directiva relativa ao abuso de informação privilegiada e à manipulação de mercado.A sua transposição tem sido completamente insatisfatória. Sobretudo a indústria dosfundos recusa-se a alargar as suas regras de transparência e de responsabilidade invocandosempre os custos e o excesso de regulamentação.

Neste domínio, precisamos de um sistema claramente estruturado que garanta segurançajurídica, Senhor Comissário. Alegra-me que a minha proposta de melhoria da cláusularelativa à governação das sociedades tenha sido aceite, mas lamento a rejeição da minhaproposta relativa ao regime comunitário de supervisão dos mercados financeiros. Nóspoderíamos e, provavelmente, teremos de pensar também um pouco mais nesse sentido,Senhor Comissário.

Ainda assim, é gratificante ter sido possível alcançar um compromisso transpartidárionesta questão dos fundos de garantia. Afinal de contas, nós devemos e temos de envidartodos os esforços para garantir uma limitação da especulação por parte dos gestores deactivos e evitar que o Parlamento, a Comissão e o Conselho primem pela inércia colectiva.Senhor Comissário, esta mensagem dirigia-se a si. Ponha mãos à obra, e faça-o bem!

Margarita Starkevičiūtė , em nome do Grupo ALDE. – (LT) Gostaria de assinalar que esterelatório, apesar de equilibrado e em termos gerais aceitável, não reflecte de facto averdadeira realidade. O problema é que a maioria das instituições financeiras, como parece

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ser o caso, a julgar pela informação fornecida, não estão a aderir às regras e regulamentosque recomendámos.

O problema principal parece ser o abuso das discrepâncias existentes entre estesregulamentos. Por essa razão, temos de analisar o relatório no contexto dos outros relatóriose documentos, como a Directiva DMIF, com o objectivo de encontrar algum tipo decompatibilidade. Outro aspecto que gostaria de sublinhar é que eu apoio a posição dasenhora deputada Lulling: os OICVM têm bom nome e, por isso, temos de ser muitocuidadosos quanto à inclusão de novos produtos na carteira.

E porquê? Porque não conhecemos estes produtos. Lamento mas, neste documento, bemcomo na proposta da Comissão, as carteiras e interesses de um investidor de retalho e uminvestidor profissional e institucional parecem estar ligeiramente misturados. Osinvestidores de retalho devem ter definições e regulamentos claros. No entanto, quandotemos simultaneamente OICVM e fundos de investimento alternativos, a realidade é que,como por exemplo no meu país, eles são misturados e apresentados ao investidor deretalho, que, assim, não percebe em que é que está a investir.

É por isso que temos de ter definições mais claras e um documento que seja estruturadode forma inequivoca. Espero sinceramente que, no próximo ano, a Comissão elabore umdocumento que esteja estruturado com maior clareza. Temos realmente de proteger osinvestidores a retalho. Claro que os investidores privados devem ter mais direitos, masestes devem ser definidos separadamente. Não devemos aconselhar as pessoas a investirem fundos alternativos que ainda nem sequer foram definidos. Hoje em dia, no meu país,qualquer fundo é designado de alternativo.

Piia-Noora Kauppi (PPE-DE). - (EN) Senhora Presidente, começo por agradecer aorelator, senhor deputado Klinz, o seu relatório de iniciativa bem como o facto de ter tomadoem consideração todas as propostas e opiniões dos outros grupos.

A harmonização do enquadramento que rege a gestão de activos e os produtos no mercadode fundos pode trazer enormes benefícios à economia europeia, como o prova também aDirectiva OICVM de 1985.

A Directiva OICVM tornou-se uma importantíssima marca global. Vende-se bem noestrangeiro. Os OICVM representam a base de um sólido mercado de fundos na Europa,e tornam a economia mais dinâmica ao contribuírem para o reforço da estabilidade e oreinvestimento produtivo das poupanças.

Contudo, o tema do relatório em apreço não é a revisão da Directiva OICVM, que terá lugarproximamente e que acolhemos com satisfação. Do que o relatório trata, sim, é dos fundosa retalho não harmonizados, que não se inscrevem no âmbito de aplicação da DirectivaOICVM e exigem uma série de medidas importantes.

Gostaria de saudar em particular o regime de investimento privado, que também aqui foifocado pelo Senhor Comissário. A iniciativa é um factor determinante para conseguir ummercado europeu de fundos não harmonizados.

Em segundo lugar, a transparência dos encargos, um objectivo que há muito devia estarassegurado e que tem sido subestimado, é indispensável a uma maior informação dosinvestidores. O relatório contém ainda outras medidas que vão na direcção certa econtribuem para eliminar as distorções de mercado.

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No entanto – e voltando ao êxito dos OICVM –, não devemos ser demasiado ambiciososnem misturar as coisas precipitadamente. Refiro-me, naturalmente, ao debate sobre oalargamento do âmbito de aplicação da Directiva OICVM a novas categorias de activos,como os fundos imobiliários abertos ou os fundos de fundos hedge. Não me parece queeste seja o momento indicado para discutir estas questões delicadas. Poderíamos acabarpor ficar com um regime mais rígido, e provavelmente daríamos por nós num ambientediferente em termos de mercado financeiro.

Também penso ser deveras importante discutir o papel dos fundos garantidos. Isso defundos garantidos é uma coisa que não existe. O nosso grupo pretendia alguma flexibilidadea este respeito. Não cremos que o facto de haver um mecanismo de adequação dos fundospróprios irá resolver o problema. Os fundos garantidos não existem, e este tipo de conceitodeveria ser excluído do regime. Foi por isso que ambos apresentámos uma proposta emnome do Grupo PPE-DE.

Pervenche Berès (PSE). - (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário, agradeço aorelator o seu texto. É um documento em que se abordam temas recorrentes. Por exemplo,que barreiras existem entre os investidores institucionais, profissionais, e o investidorprivado? Há quem pense que existe uma espécie de "Grande Muralha da China" entre osdois. Não acredito nisso, e os recentes acontecimentos demonstram-nos como as inovaçõesfinanceiras se propagam de classe em classe e acabam por atingir o aforrador final. Assim,a ficção de uma legislação inteiramente construída com base na existência de dois tipos deinvestidores – investidores esclarecidos e profissionais, por um lado, e, por outro,investidores que seriam pequenos aforradores - é, em minha opinião, perigosa. Existe umdeslizamento progressivo dos produtos, como sabemos muito bem. Esta noção podeexistir, mas temos de lidar com ela com lucidez.

A segunda questão que eu gostaria de levantar, e que podemos encontrar também noutrostextos relativos aos mercados financeiros, é a da informação dos investidores. Evidentementeque é essencial. Está tudo por fazer nesta matéria, uma vez que a complexidade da inovaçãofinanceira constitui um elemento novo que, até ao momento, não foi ainda tido em contanem enfrentado. Mas tal informação não é suficiente, não pode substituir a responsabilidadedos colocadores de produtos, facto que tem de ser recordado.

Terceira observação, Senhor Comissário: penso que o senhor falhou na articulação entrea aplicação da Directiva DMIF e a Directiva OICVM. Será normal a directiva DMIF ter sidoposta em prática nos Estados-Membros antes ainda de conhecermos o seu modo dearticulação com a Directiva OICVM? Penso que estaríamos mais equilibrados se não tivessesido assim.

No que respeita à fiscalidade, o relator referiu os desafios em termos de fusão dos fundos.Penso que também não devemos esquecer os desafios em termos de colocação dos produtos,a qual pode ser perturbada por obstáculos de natureza puramente fiscal.

Por fim, gostaria de me debruçar agora sobre a alteração socialista, pois a realidade domercado desses produtos não é a mesma consoante nos dirigimos a um país produtor detais produtos, a um país consumidor ou a um país simultaneamente produtor e consumidor.Introduzimos a ideia de uma reciprocidade que não se aplicaria apenas à abertura ou aoacesso dos mercados, mas também à natureza da regulação e da supervisão. Penso tratar-sede um elemento absolutamente essencial, pois a ideia de que um país situado fora da UniãoEuropeia e exclusivamente produtor de tais produtos poderia aceder aos nossos mercados,seja em que condições for, porque também nós temos acesso ao seu mercado, quando este

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não interessaria a nenhum consumidor europeu, não me parece realista, ou parece-me umargumento teórico sem qualquer admissibilidade.

O relator afirma por vezes que a reciprocidade seria contrária às regras da OMC. Mas então,Senhor Comissário, não foi isso que nós fizemos quando reconhecemos regras deequivalência com os Estados Unidos? É isso exactamente que está a pedir-nos que utilizemosaqui. Por fim, não seria realista porque não teríamos uma harmonização no seio da UniãoEuropeia. Pois bem, justamente, se a negociação de equivalência com alguns países terceirosnos incentivasse a definirmos um nível comum de regulação e supervisão no seio da UniãoEuropeia, penso que teríamos feito grandes progressos.

Zsolt László Becsey (PPE-DE). - (HU) Obrigado, Senhora Presidente. Espero ser breve.Enquanto europeu de leste, oriundo de uma área pobre em capital, não estou impressionadopelo facto de estarem todos agora a roer as unhas para ver o que acontecerá aos fundos derisco ou às participações privadas quando se alargar os OICVM, porque isto não afectaminimamente a nossa região ou, pelo menos, não irá afectar durante uns bons anos mais.Porventura, até vivenciaremos algo de parecido, do ponto de vista humano, com os fundosimobiliários. Mas o que eu talvez aqui sublinhasse, enquanto europeu de leste, é o queespero da auditoria. Uma das coisas é que os bancos, que frequentemente agem comodistribuidores no contexto deste mecanismo e recebem avultadas quantias, devem ser dealguma forma investigados, uma vez que o custo de venda representa actualmente 60%dos custos totais, e verifico que na minha região os bancos são, desta forma, incrivelmentelucrativos. Se conseguirmos alguma coisa neste âmbito, teremos dado um passo em frente.

A segunda coisa é que o caso dos incentivos DMIF não abona muito a favor da transparênciados custos, visto que, por exemplo, se um banco tem o gestor do fundo e o vendedor, nósnão sabemos o que se passa no acordo interno, e o que é interessante é que nem sequerestes acordos internos têm sido capazes de decompor os diferentes preços de venda.

Em terceiro lugar, porém, alguns Estados-Membros estão a fazer muito na aplicação dedisposições que virtualmente asseguram que o depositário, o gestor do fundo e a suaadministração mantêm os pés no chão. No meu país, ou nos nossos países, há muitíssimosjovens capazes que sabem desempenhar actividades de gestão, por exemplo, a um bompreço e com elevada qualidade, se tiverem essa possibilidade, e penso que a relocalizaçãovai no interesse de todos para que eles possam entrar no mercado livre.

Por último, a defesa do consumidor. Reconheço que a formação é muito importante mas,simultaneamente, temos de sublinhar as questões tributárias. Não é aceitável que, se euquiser subscrever um OICVM noutro país, acabarei numa situação pior do que se o fizesseno meu próprio país. Muito obrigado.

Gay Mitchell (PPE-DE). - (EN) Senhora Presidente, os meus agradecimentos ao senhordeputado Klinz pelo seu relatório. O sector dos fundos europeu deu grandes passos emfrente nos últimos anos, e a Directiva OICVM teve um papel determinante a esse nível.Todavia, mesmo tendo registado um rápido crescimento, a verdade é que o sector dosfundos ainda pode crescer muito mais. Este potencial pode ser libertado através do aumentoda concorrência e da mobilidade no sector, a nível da UE.

Gostaria de tecer algumas observações acerca do relatório. Posso ver vantagens narecomendação de alargar o âmbito de aplicação da Directiva OICVM de modo a englobaros investimentos em fundos imobiliários abertos e fundos de fundos hedge mas, em minhaopinião, esta questão deveria ser tratada numa directiva ou num instrumento legislativo

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distinto. Também vejo vantagens nas propostas que visam o reforço do regime europeude investimento privado em valores, e concordo que a definição de quem é elegível parainvestir é crucial. Importa ter em conta que, embora as definições constantes na DirectivaDMIF e na Directiva "Prospectos" constituam um bom ponto de partida, pode haver diversasoutras questões que ainda têm de ser tratadas.

No que respeita à política de investimento e à gestão de riscos, quero recordar ao Parlamentoque, embora a CERVM esteja a proceder a uma análise da forma como os requisitos doprocesso de gestão de riscos da Directiva OICVM são aplicados nos diferentesEstados-Membros, não é intenção da CERVM harmonizar tais requisitos. Poderia explorar-sedeterminadas áreas-chave onde existem práticas divergentes, a fim de introduzir umaabordagem mais harmonizada. Os fundos garantidos devem ser sustidos por requisitos deadequação de fundos próprios e a abordagem a adoptar, a este respeito, deve ser no sentidode apenas permitir que os fundos sejam apelidados de "garantidos" se forem apoiados porum mecanismo de garantia adequado. Tenho reservas em relação a qualquer proposta decriação de um passaporte de depositário que se traduzisse no estabelecimento do depositárionum Estado-Membro diferente do do OICVM. Isto daria azo a uma lacuna regulamentar,pois o OICVM e o seu depositário ficariam sujeitos a regimes regulamentares distintos, oque, na eventualidade de dificuldades no seio da sociedade de gestão, poderia suscitarquestões jurídicas complexas.

Agradeço ao meu colega o relatório em apreço, que é de grande utilidade, e espero que oSenhor Comissário possa responder às questões que aqui levantei.

Charlie McCreevy, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, o relatório doParlamento mostra que as abordagens adoptadas por ambas as nossas Instituições emrelação ao caminho a seguir no domínio da gestão de activos têm muito em comum.Também necessitamos que as futuras decisões se baseiem numa análise exaustiva dasconsequências.

Ambos queremos mercados eficientes que respondam às necessidades e expectativas dosector dos fundos europeus e dos investidores europeus. Têm sido empreendidosimportantes esforços nesse sentido. Temos pela frente esforços ainda mais importantes.Estamos empenhados em oferecer resultados, mas devemos ser prudentes. Impõe-sepreservar as reformas e a reputação da marca OICVM. Temos de despender o temponecessário para envolver e consultar todas as partes interessadas, e devemos evitar umaintervenção desnecessária que poderia distorcer o mercado sem trazer benefícios visíveis.

Só quando todas estas condições se encontrarem preenchidas poderemos ter confiança deque as nossas decisões estão à altura do desafio. Esperamos que as nossas Instituiçõescontinuem a cooperar neste importante domínio.

Presidente. - Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

19. Cooperação entre a Agência dos Direitos Fundamentais e o Conselho da Europa(debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0443/2007) do deputado AdamosAdamou, em nome da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos,sobre uma proposta de decisão do Conselho relativa à conclusão de um Acordo entre a

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Comunidade Europeia e o Conselho da Europa de cooperação entre a Agência dos DireitosFundamentais da União Europeia e o Conselho da Europa (COM(2007)0478 -C6-0311/2007 - 2007/0173(CNS)).

Franco Frattini, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, gostaria de agradecerao Parlamento e, em particular, ao relator, senhor deputado Adamou, a sua colaboraçãoconstante e construtiva bem como o apoio dado com vista à consecução deste tãoimportante acordo de cooperação.

A criação da Agência dos Direitos Fundamentais representou um grande êxito para apromoção e o respeito dos direitos fundamentais na União Europeia. Também em termosde cooperação interinstitucional foi um passo bem-sucedido. Sempre me empenhei emassegurar que esta importante iniciativa contasse com o total apoio das três Instituições.Uma boa cooperação entre a União Europeia e o Conselho da Europa é crucial para garantiro êxito da Agência.

O projecto de decisão do Conselho reflecte este objectivo. Configura a vontade genuínadas duas organizações de trabalhar em conjunto, e apraz-me ver que as negociações comvista ao acordo foram céleres e conduzidas de uma forma muito construtiva por ambas aspartes.

Este importante acordo permitirá à Agência trabalhar aproveitando ao máximo as suascapacidades. Aliás, para tornar a Agência plenamente operacional, já foram tomadas umasérie de medidas e outras há, ainda, na calha. Este acordo contribuirá para fomentar umquadro de cooperação abrangente. Ajudará a proporcionar uma plataforma estrutural paraambos os organismos, tornando mais viáveis e mais eficazes o diálogo mútuo e a acçãocomum.

Ajudará também a evitar a duplicação de trabalho entre os dois organismos. O acordoprevê contactos e reuniões regulares entre funcionários da Agência e do Conselho daEuropa, bem como a troca regular de informações. A nomeação de uma pessoaindependente que terá assento nos conselhos de administração e executivo da Agênciafomenta o intercâmbio de pontos de vista e a cooperação.

Por último, este acordo reforça o nosso objectivo comum de promover e proteger osdireitos fundamentais na União Europeia.

Adamos Adamou, relator. − (EL) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Caros Colegas,gostaria de começar por manifestar a minha satisfação com a excelente cooperação quetem havido até este momento entre a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeiae o Conselho da Europa, especialmente no que toca à conclusão de um acordo que satisfazambas as partes. Espero que a sua cooperação no futuro prossiga sem dificuldades nestamesma base.

Não obstante as discussões e consultas prolongadas com os relatores-sombra sobre oconteúdo substancial do relatório, fomos informados pelo Tabling Office (serviço de entregade documentos) de que o n.º 7 do artigo 83.º e o n.º 2 do artigo 51.º do Regimento nãopermitem alterar o texto do Acordo e que o próprio relatório só poderia ser objecto dealterações de natureza processual, uma circunstância que levou uma série de membros daComissão LIBE a votar o relatório sob protesto. Assim, o meu relatório limita-se a aprovara conclusão do Acordo entre o Conselho da Europa e a Agência dos Direitos Fundamentais.

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O sistema de princípios da UE em matéria de protecção dos direitos fundamentaisdesenvolveu-se principalmente através da jurisprudência do Tribunal de Justiça Europeue foi confirmado pelo seu reconhecimento explícito no texto dos Tratados da UE. Noentanto, é particularmente importante garantir que esse sistema de protecção seja aindamais reforçado, salvaguardando em simultâneo princípios básicos como a nãodiscriminação, a não exclusão, o respeito pela liberdade de expressão e de religião, pelaliberdade de pensamento, e pelos direitos sociais e económicos.

A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia poderia oferecer essas salvaguardasàs instituições, organismos, gabinetes e agências relevantes da Comunidade e dos seusEstados-Membros quando procedem à implementação do direito comunitário. Importareconhecer que foi o Conselho da Europa quem desenvolveu, através dos seus trabalhosavançados neste domínio, um sistema abrangente de normas e instrumentos jurídicos ejudiciários para a protecção e promoção dos direitos humanos e do Estado de direito, ereuniu uma vasta experiência nestas matérias. Consequentemente, o objectivo comum daprotecção dos direitos fundamentais, partilhado pela Agência dos Direitos Fundamentaise pelo Conselho da Europa, tem de ser alcançado de maneira significativa e positiva, evitandoduplicações e qualquer risco de fragilidade no bem estabelecido sistema judiciário e nãojudiciário instituído pelo Conselho da Europa para a protecção dos direitos humanos edos direitos individuais. Temos de usar de cautela para garantir que não serão postos emcausa o precedente jurídico e o conteúdo substancial da protecção dos direitos humanostal como estabelecidos pelo Conselho da Europa, uma organização com 47Estados-Membros.

Também gostaria de realçar a necessidade de evitar eventuais riscos de duplicação decompetências e procedimentos para que não haja qualquer confusão relativamente aosobjectivos e responsabilidades dos dois organismos e para que possamos assegurar umacooperação harmoniosa entre eles. Isso deve reflectir-se, acima de tudo, no programa detrabalho anual da Agência, bem como no reforço da coesão e da complementaridade entreas duas instituições.

No que respeita ao intercâmbio de informações entre o Conselho da Europa e a Agênciados Direitos Fundamentais, é extremamente importante que, na medida do possível, esseintercâmbio se desenrole em condições de absoluta confidencialidade observada pelasduas partes. A Agência dos Direitos Fundamentais e o Conselho da Europa deverão chegara acordo sobre regras mais específicas relativamente à aplicação do artigo 15.º do Acordo,nos termos do qual a Agência concede subvenções ao Conselho da Europa, por forma aassegurar total transparência e evitar qualquer insinuação sobre uma excessivainterdependência entre as duas instituições.

É igualmente essencial aplicar o artigo 7.º do Acordo de uma maneira que permita às duasinstituições partilhar, por mútuo consentimento, o máximo de informação possível, como devido respeito pelos seus regulamentos internos, na medida em que as regras deconfidencialidade em vigor o permitam. Essa informação não deverá ser utilizada poroutras instituições que não estejam directamente envolvidas na apreciação das questõesem jogo, nem deverá ser disponibilizada a instituições ou agências de países terceiros quenão dêem garantias nem permitam um controlo quanto à sua utilização.

Como já referi, a cooperação entre a Comissão e o Conselho da Europa durante asnegociações do Acordo revelaram-se frutíferas, e espera-se que as duas instituiçõescontinuem no futuro a trabalhar eficientemente em conjunto, no mesmo espírito decooperação, transparência e complementaridade. No entanto, é extremamente importante

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que o Parlamento Europeu participe neste processo, através de relatórios periódicos, e queo Conselho da Europa seja convidado a emitir a sua opinião sobre todas as análises eavaliações levadas a cabo, com vista a assegurar a complementaridade, a não duplicaçãode trabalho, e a transparência do funcionamento das duas instituições.

Kinga Gál, em nome do Grupo PPE-DE . – (EN) Senhora Presidente, é de bom grado quehoje intervenho na qualidade de relatora-sombra do Grupo PPE-DE sobre este relatóriorespeitante à conclusão de um Acordo entre a Comunidade Europeia e o Conselho daEuropa de cooperação entre a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia e oConselho da Europa.

Houve longos debates e muitas perguntas em torno da questão de saber se é necessáriauma Agência, se o Conselho da Europa a pode aceitar, se haverá uma cooperação real eútil entre ambos os organismos.

O tempo todo, tanto o Parlamento como a Comissão afirmaram claramente que sim, quea Agência é necessária, que faz sentido a criação desta instituição e que prevêem uma boacooperação entre o Conselho da Europa e a Agência.

Acolho, pois, com satisfação o facto de, agora que temos este Acordo, podermos falar deuma cooperação institucionalizada. Por outro lado, lamento que realmente não tenhamospodido melhorar o texto da proposta alterando determinados aspectos, pois eu teriasublinhado a necessidade de ter em linha de conta, sempre que a Agência lida com questõesconcretas, toda a experiência e conhecimentos especializados acumulados pela AssembleiaParlamentar do Conselho da Europa, com o seu sistema de informação e comunicação nassuas várias comissões, por exemplo, na Comissão dos Assuntos Jurídicos e dos Direitosdo Homem, que possui uma excelente especialização e experiência no tratamento destasquestões.

Mas apesar disso estou satisfeita, pois a conclusão deste Acordo assinala a necessidade deeste organismo, a Agência, iniciar quanto antes o seu trabalho. A Agência foi oficialmenteinaugurada em 1 de Março mas, por enquanto, a sua estrutura funcional e de gestão aindanão está criada. É imperioso seguir em frente e melhorar a situação, a fim de se poderavançar.

Este é um dossiê que tenho acompanhado desde o início do meu mandato e em relação aoqual me tem sido dado testemunhar as enormes dificuldades em definir o seu âmbito deactuação, a sua esfera de competências e as suas estruturas de decisão, a contento de todosos actores envolvidos.

Todos somos partes interessadas, pois a Agência irá recolher e compilar informações eelaborar recomendações às Instituições no seu domínio de actuação, competências estascujos limites são difíceis de definir, já que são de natureza horizontal e afectam todas aspolíticas comunitárias.

Só poderemos ficar satisfeitos se criarmos uma Agência credível e responsável à qual sejamconfiadas competências suficientes e um orçamento adequado para dar resposta a essatarefa. Este Acordo poderá ajudar nesse sentido.

Faremos por garantir que seja evitada qualquer sobreposição de tarefas e qualquer duplicaçãode esforços. Façamos votos de que a proclamação solene, hoje, da Carta dos DireitosFundamentais represente uma face, e a Agência a outra face, da mesma moeda: um primeiro

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passo prático rumo a uma futura política da União em matéria de direitos humanos eliberdades fundamentais.

Genowefa Grabowska, em nome do Grupo PSE. – (PL) Senhora Presidente, o que hojeestamos a discutir é um procedimento atípico, já que o Parlamento Europeu está apronunciar-se sobre o fundamento de um acordo de cooperação entre a União Europeiae o Conselho da Europa. Não temos qualquer possibilidade de intervir neste acordo, apenasoportunidade de o avaliar e de manifestar a nossa opinião.

O Conselho da Europa é a mais antiga organização europeia dedicada aos direitos humanose à defesa da democracia. Todos sabemos que a cooperação entre o Conselho da Europa ea União Europeia − e anteriormente as Comunidades Europeias – existe desde sempre. Aadesão de um país à União Europeia é condicionada ao seu respeito por valores que seencontram inscritos no Estatuto do Conselho da Europa: Estado de direito, democracia e,acima de tudo, respeito pelos direitos humanos.

É por isso positivo que estas duas instituições, as Comunidades Europeias − hoje UniãoEuropeia − e o Conselho da Europa, cooperem uma com a outra e se envolvam em acçõescomuns, e não apenas por se sentarem lado a lado em Estrasburgo. O acordo que hojedebatemos não é muito original nem representa algo de novo, tal como a Agência dosDireitos Fundamentais não é uma instituição completamente nova.

Como sabemos, a Agência dos Direitos Fundamentais substituiu o Observatório Europeudo Racismo e da Xenofobia, sediado em Viena, e o Observatório já tinha um acordo decooperação com o Conselho da Europa. Esse acordo, celebrado em 1999, contemplavaambas as partes e permaneceu em vigor até agora, ou seja, até ao momento em que oObservatório foi substituído pela Agência dos Direitos Fundamentais.

No entanto, existindo agora um novo órgão da UE, devemos analisar o novo acordo decooperação com o Conselho da Europa para garantir a cooperação entre duas instituiçõesda mesma natureza e evitar duplicações.

Devo acentuar que este acordo foi negociado de forma rápida mas correcta. Não temosgrandes reservas quanto ao seu conteúdo, nem poderíamos ter. O mesmo estabelece umquadro de cooperação, prevê contactos regulares e, sobretudo, cria vínculos pessoais, jáque estipula o recurso pelo Conselho da Europa a um representante externo – e ao seurespectivo vice-representante – que terá assento no conselho de administração e na comissãoexecutiva da Agência. Tudo isto me leva a dar o meu inteiro apoio à proposta e à aprovaçãodeste acordo, que será muito útil para as duas instituições.

Irena Belohorská (NI). – (SK) Senhoras e Senhores Deputados, obrigada pela oportunidadede usar da palavra. O relatório debruça-se sobre possíveis conflitos de interesses entre aAgência dos Direitos Fundamentais da União Europeia e o Conselho da Europa. Em minhaopinião, esta questão é secundária. A dificuldade real coloca-se entre o Tribunal Europeudos Direitos do Homem, em Estrasburgo, e o Tribunal de Justiça Europeu, no Luxemburgo.

Estes dois tribunais têm autoridade para actuar na área da violação de direitos humanos,existindo algumas decisões em que os dois organismos se contradizem um ao outro. Amaioria destes casos está relacionada com os artigos 6.º e 8.º da Convenção Europeia paraa Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais e dizem respeito aprocedimentos de infracção das regras da concorrência, tal como aconteceu nos casos queenvolviam a National Panasonic, a Hoechst AG, a Niemetz, etc.

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Afinal, a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia e a Convenção Europeia paraa Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, aprovada pela UniãoEuropeia, constituem dois documentos semelhantes, mas distintos. As competências daAgência dos Direitos Fundamentais da União Europeia concentram-se na monitorizaçãoe no apoio. Por isso, é necessário saudar o Acordo concluído nos termos do artigo 300.ºdo Tratado que institui a Comunidade Europeia, que esclarecerá as competências específicas.Também é necessário saudar o facto de o Conselho da Europa ter um representante noconselho de administração da Agência.

Sendo as competências da Agência limitadas, creio que as suas actividades irão completaras do Conselho da Europa, e não competir com as mesmas. De qualquer modo, teremosde continuar o debate sobre este tema, à luz das mudanças do estatuto jurídico da Cartados Direitos Fundamentais.

Panayiotis Demetriou (PPE-DE). - (EL) Senhora Presidente, Senhor Comissário, nosúltimos meses, a União Europeia deu quatro passos decisivos no sentido da promoção eprotecção dos direitos humanos. Em primeiro lugar, foi criada a Agência especial dosDireitos Fundamentais. Em segundo lugar, foram incluídas no Tratado Reformador umacláusula sobre a natureza juridicamente vinculativa da Carta dos Direitos Fundamentais euma cláusula sobre a adesão da União Europeia à Convenção Europeia dos Direitos doHomem de 1950. Em terceiro lugar, a Carta dos Direitos Fundamentais foi hoje solenementeassinada no Parlamento e, com a sua proclamação oficial, passa a integrar o acervo europeu.Um código moderno dos direitos humanos! Em quarto lugar, a conclusão – hoje em debate– do acordo entre a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia e o ConselhoEuropa, que representa exactamente aquilo que a União Europeia defende – a promoçãodos direitos humanos – e mostra que este elemento é fundamental para qualquer sociedademoderna, para qualquer Estado moderno.

Não vemos qualquer subordinação, qualquer duplicação, qualquer substituição do papeldo Conselho da Europa, que tem o seu lugar seguro como guardião internacional dosdireitos humanos. Pelo contrário, deu-se início a uma nova fase de cooperação, não deantagonismo. Por isso, concordo com o meu compatriota, o relator, concordo com tudoo que ele disse sobre esta questão, subscrevo inteiramente o seu relatório, e felicito-o porno-lo ter apresentado.

Sou membro honorário da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, o que é paramim uma honra; mas hoje também me sinto muito orgulhoso e satisfeito porque as duasinstituições, a União Europeia e o Conselho da Europa, estão a inaugurar a sua cooperaçãonesta área, e espero que este século conquiste o seu lugar na História mundial como oséculo dos direitos humanos.

Sylwester Chruszcz (NI). - (PL) Senhora Presidente, a Agência dos Direitos Fundamentaisda União Europeia em Viena é mais uma instituição dispendiosa que, além do mais, searroga o direito de fiscalizar e tutelar, entre outros assuntos, o cumprimento pelosEstados-Membros da Carta dos Direitos Fundamentais.

Dificilmente se resiste à sensação de que o dinheiro dos contribuintes europeus está a serinvestido em mais um programa destinado a reforçar os poderes das autoridades de Bruxelase do Estado Europeu em formação. O Conselho da Europa e a OSCE são instituições quejá existiam antes, para tratar dos mesmos assuntos a nível internacional, mas não a umnível supranacional. Aquilo a que estamos a assistir é a uma duplicação de instituições,que aumenta os poderes da União Europeia e da burocracia da UE.

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Os países da Europa, incluindo o meu, a Polónia, estão obrigados a defender e a promoveros direitos humanos através, entre outros, do cumprimento da Convenção Europeia deDireitos Humanos. A Agência dos Direitos Fundamentais, em contrapartida, bem comooutras agências que vêm sendo criadas a um ritmo impressionante, não é apenas umdesperdício de dinheiro mas mais uma iniciativa de carácter duvidoso, para não dizernocivo, de Bruxelas.

Roberta Alma Anastase (PPE-DE). - (RO) Senhoras e Senhores Deputados, esta sessãoplenária foi marcada por várias acções europeias na área dos direitos humanos, bem comopela possibilidade de realizar a sua avaliação relativamente ao ano de 2007.

Por ouro lado, com a criação da Agência para os Direitos Fundamentais e a proclamaçãoda Carta dos Direitos Fundamentais, a decisão de concluir o acordo de cooperação entrea referida Agência e o Conselho da Europa faz parte dos esforços da União Europeia paraconsolidar o seu desempenho e o seu papel como promotora dos direitos humanos, a nívelinterno e externo. Gostaria de salientar dois aspectos que considero importantes nestedomínio.

Em primeiro lugar, congratulo-me com a intenção de dar cumprimento a um duploobjectivo com este acordo, nomeadamente, a eficácia e a consolidação da política europeiaem matéria de direitos humanos, por um lado, e, por outro lado, a coerência e o cuidadode evitar duplicações. É a única forma de podermos continuar a promover o respeito dosprincípios fundamentais estabelecidos pela Convenção Europeia dos Direitos Humanos ecomplementados pela Carta dos Direitos Fundamentais, incluindo a consolidação dosnossos próprios mecanismos com este propósito.

Em segundo lugar, congratulo-me com a intenção de consolidar a cooperação nos projectosespecíficos lançados pelo Conselho da Europa no domínio da protecção dos direitoshumanos. Este tipo de interacção irá permitir-nos contribuir mais para melhorar a situaçãodos direitos humanos, actuando em casos específicos, a nível interno e externo. Gostariade chamar a atenção para o facto de essa cooperação dever ser especialmente promovidanos países europeus limítrofes da União Europeia, tendo em vista criar uma verdadeiraárea de democracia na fronteira externa da União Europeia.

Na minha qualidade de relatora para a cooperação regional na zona do Mar Negro, peçoàs instituições europeias que apoiem os projectos de cooperação regional. Considero ainiciativa de criar uma Euro-região do Mar Negro para promover a democracia a nívelregional, lançada pelo Conselho da Europa, um bom ponto de partida nesse sentido, econvido a Comissão a manifestar o seu pleno apoio para que sejam coroados de êxito.

Presidente. - Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

20. Obrigações de alimentos (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0468/2007) da deputada GenowefaGrabowska, em nome da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos AssuntosInternos, sobre uma proposta de regulamento do Conselho relativo à competência, à leiaplicável, ao reconhecimento, à execução das decisões e à cooperação em matéria deobrigações alimentares (COM(2005)0649 - C6-0079/2006 - 2005/0259(CNS)).

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Page 167: QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007€¦ · QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007 PRESIDÊNCIA: PÖTTERING Presidente 1. Abertura da sessão (A sessão tem início às 9H00) 2. Preparação

Franco Frattini, Membro da Comissão . − (EN) Senhora Presidente, o proposto instrumentorelativo às obrigações alimentares tem por objectivo melhorar a situação precária de pessoasque dependem da pensão de alimentos para conseguir suprir as suas necessidadesquotidianas.

Na União Europeia, onde é cada vez maior a mobilidade das pessoas, os credores dealimentos – em especial os menores – não deveriam ter de se confrontar com obstáculospara obterem dinheiro que lhes é devido, sobretudo quando o devedor, por exemplo umprogenitor, parte ou se muda para o estrangeiro.

Gostaria de agradecer à senhora deputada Grabowska, na sua qualidade de relatora, osesforços que empreendeu para dar voz a partes interessadas, como as organizações nãogovernamentais que ajudam os credores de alimentos, na importante audição pública de11 de Setembro.

Saudamos nas suas linhas gerais o relatório da senhora deputada Grabowska, que apoia aproposta da Comissão nos seus aspectos essenciais.

Tenho apenas algumas observações a fazer em relação a algumas das alterações propostas.Em primeiro lugar, no que se prende com a base jurídica. A nossa opinião é que oinstrumento actual se relaciona com aspectos do direito da família. No entanto, compreendoas preocupações do Parlamento, dado o enquadramento jurídico existente. Daí o termosconvidado o Conselho, numa comunicação adoptada ao mesmo tempo que o regulamentoproposto, a decidir – nos termos do n.º 2 do artigo 67.º do Tratado – que o presenteinstrumento seja adoptado segundo o procedimento de co-decisão. É esta a minha opinião,e continuarei a pedir ao Conselho que actue em resposta a esse convite.

No que respeita às outras alterações, relativas às regras sobre a legislação aplicável, o quetenho a dizer é o seguinte. No mês passado, no quadro da Conferência de Haia de DireitoInternacional Privado, foram concluídas com êxito as negociações para uma convençãosobre a cobrança internacional de pensões de alimentos.

Face aos resultados satisfatórios em torno da referida convenção e do protocolo que aacompanha, sobre a legislação aplicável, a Comunidade e os seus Estados-Membrosgostariam de aderir a essas regras internacionais. Por conseguinte, as regras do regulamentoe as alterações propostas em relação às mesmas deveriam ser revistas, por forma a assegurara coerência com as regras internacionais.

O relatório propõe que os tribunais sejam autorizados a aplicar a sua própria lei quandolhes são apresentados casos e quando isso puder contribuir para acelerar a resolução dolitígio. Se bem que reconheçamos o interesse em acelerar a resolução do processo, somosde opinião que a solução proposta não oferece suficiente segurança jurídica, havendo operigo de não servir os interesses dos credores de alimentos, que devem ser protegidospela aplicação do mesmo Direito material, qualquer que seja o tribunal que julga o caso.

Por último, o Parlamento está agora prestes a votar o seu relatório. Tornou-se clara aexistência, aqui, de um contexto jurídico internacional. Tenho a firme esperança de queeste projecto seja retomado a toda a velocidade em 2008. Confio deveras em que o Conselholhe dará a máxima prioridade nos próximos meses.

Genowefa Grabowska, relatora. − (PL) Senhora Presidente, permita-me começar pormanifestar o meu profundo agradecimento à Comissão Europeia pela sua excelentecooperação. Agradeço igualmente à Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos

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Assuntos Internos e aos relatores-sombra, e em especial à Comissão dos Assuntos Jurídicose à senhora deputada Diana Wallis, que elaborou o respectivo parecer, a sua excelentecooperação a todos os níveis. A senhora deputada Wallis assumiu o pesado encargo deconvencer a Comissão da necessidade de introduzir alterações na base jurídica.

Devo talvez começar pela base jurídica, uma vez que a resolução proposta nos foi remetidano âmbito de um procedimento que não é aceitável para o Parlamento. Queríamos que oregulamento fosse adoptado em conformidade com o procedimento de co-decisão, e nãode consulta. Fiquei assim satisfeita com o que nos disse a Senhora Comissária, e estou cienteda Comunicação ao Conselho que convida este último a conceder-nos essa oportunidade.Acrescentaria apenas um ponto às palavras da Senhora Comissária.

Não questiono o facto de as obrigações alimentares decorrerem do direito da família.Argumentaria, no entanto, que, consideradas no seu todo, as pensões de alimentos têmum carácter híbrido. O facto de terem a sua origem no direito da família não significa quetais obrigações se reduzam aos limites daquele direito, pois produzem efeitos no mercadocomum e na situação económica de ambas as partes, ou seja, na situação do credor dealimentos e na do devedor. Temos assim o direito de separar as obrigações alimentares dassuas raízes no Direito da família e de vincular o cumprimento das mesmas, não a esteúltimo, mas a áreas nas quais o Parlamento Europeu exerce competências, designadamenteo mercado comum, a assistência à família e os direitos humanos. Assim sendo, julgo quenão deveria haver dificuldade em alterar o procedimento.

Considero, deste modo, que a presente proposta merece não apenas a atenção do Conselhomas também a sua aprovação. Ao preparar este regulamento, organizámos audições queforam, na realidade, um lamento ininterrupto. Mulheres, sobretudo, descreveram-nos osproblemas que enfrentam quando tentam fazer cumprir obrigações alimentares para filhoscujo progenitor vive noutro país e não se mostra interessado em participar na educaçãodo filho nem em contribuir para o seu sustento.

São utilizadas as artimanhas mais diversas. Não vou mencioná-las mas dar apenas umexemplo. Basta alterar uma única letra no apelido para desaparecer na Europa praticamentesem deixar rasto, e as obrigações alimentares se desvanecerem juntamente com o devedor.Com este regulamento, pretendemos impedir que um devedor de obrigações alimentaresna Europa sinta que, para escapar ao pagamento, lhe basta abandonar o país onde deixouo filho e mudar-se para outro Estado-Membro da União Europeia. Neste momento emparticular, que os novos Estados-Membros vão aderir dentro de poucos dias ao espaçoSchengen, não podemos permitir que isto acabe por beneficiar aqueles que não assumemas suas responsabilidades familiares.

Permita-me referir as duas medidas que considero as mais importantes e inovadoras nestaresolução. Uma ordem de pagamento emitida no país da residência habitual do credor nãoterá de ser confirmada no país de residência do devedor. O regulamento propõe, destemodo, a abolição do procedimento de ‘exequatur’. Compreendo que é uma medida nova,mas devemos dar este passo se desejamos garantir a efectiva execução das obrigaçõesalimentares. Se mantivermos o ‘exequatur’, todo o esforço para assegurar o cumprimentoefectivo terá sido feito em vão.

Sei que devemos agir no respeito por todas as disposições adoptadas no quadro daConvenção da Haia, mas o sistema internacional funciona muito devagar, e a ratificaçãode acordos na esfera do direito internacional privado pode demorar anos. A União Europeiadeve avançar e garantir o sustento das crianças que são esquecidas pelo pai ou pela mãe.

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Este regulamento deve assim ser aplicado o mais depressa possível para proteger as crianças.Além de acautelar a situação dos menores, o regulamento protege o credor. Deste modo,agradecendo à Presidência portuguesa todo o trabalho que dedicou à preparação do texto,deposito o assunto nas mãos da Presidência eslovena, na plena confiança de que levará otexto à sua conclusão e de que obteremos um bom regulamento.

Diana Wallis, relatora de parecer da Comissão dos Assuntos Jurídicos . − (EN) SenhoraPresidente, obrigada ao Senhor Comissário pela sua declaração tão positiva. Agradeçoigualmente à senhora deputada Grabowska a sua maravilhosa colaboração nesta questão.

Esta é uma daquelas propostas que poderia fazer da Europa uma realidade para aquelesque servimos; que poderia acrescentar valor prático às suas vidas em alturas difíceis. Perdia conta às vezes que, enquanto deputada eleita ao Parlamento Europeu, fui contactada porconstituintes a braços com dificuldades em conseguir obter alimentos de alguém que seencontrava noutro Estado-Membro. Demasiadas vezes não me foi possível dar-lhes umaresposta prática e positiva.

Com este regulamento, espero que na maioria das circunstâncias possamos dar uma melhorresposta. A proposta tem potencial para permitir à UE ir muito mais longe do que os Estadoso podem fazer através do processo da Conferência de Haia, já aqui mencionado. Devemos,realmente, poder ir mais longe. Afinal, se encorajámos os nossos cidadãos a deslocarem-selivremente através de antigas fronteiras nacionais dentro da UE, deveríamos ser capazesde lhes dar uma resposta, consubstanciada num bom sistema judicial, simples e funcional,quando eles se confrontam com tempos difíceis por casamentos ou relações que sedesfazem. Acima de tudo, devemos ser capazes de oferecer ajuda às crianças que sofremas consequências económicas de uma situação de ruptura matrimonial. Esta propostadar-nos-ia um processo simplificado de uma só etapa, em lugar do actual pesadelo de apelara um tribunal para, de seguida, ter de passar mais ou menos pelo mesmo processo numtribunal estrangeiro. Isto é demasiado para pessoas que estão a passar por momentos devulnerabilidade e desespero na sua vida.

A Comissão dos Assuntos Jurídicos apoiou de bom grado a maior parte da proposta,procurando ao mesmo tempo introduzir algumas melhorias de ordem técnica. Nesteaspecto, estou muito grata ao meu colega, senhor deputado Casini. No entanto, àsemelhança da relatora, não podemos aceitar a escolha da base jurídica. O procedimentoaplicável deve ser o de co-decisão, não o de consulta. Creio que os Estados-Membros forammuito pouco razoáveis, tanto em termos do conteúdo da legislação como no que respeitaàs consequências para os nossos cidadãos. Espero que respondam ao apelo da Comissão.

Falando em nome do meu grupo, não queremos ver minada a eficácia deste sistema deuma só etapa. Naturalmente que temos de respeitar os direitos da defesa – o devedor porforça de uma sentença –, mas isto deve aplicar-se ao tribunal de origem. Não devemospermitir a reabertura do processo no tribunal de execução, sob pena de destruirmos ospróprios benefícios que estamos a procurar garantir. Queremos, pois, ver suprimida aalínea a) do artigo 33.º, e temos sérias dúvidas quanto ao artigo 61.º, que continua a deixara porta demasiado aberta.

Por último, quero fazer alguns comentários enquanto deputada britânica e este Parlamento.A opção do Reino Unido de se auto-excluir deste instrumento, ou a sua incapacidade deaderir ao mesmo, é uma má notícia para muitos cidadãos de outros Estados-Membros daUE que hoje habitam no Reino Unido, e é também uma má notícia para muitos britânicoscujo cônjuge ou companheiro se mudou para outro Estado-Membro. Na verdade, há toda

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uma série de situações em que o "opt-out" irá criar caos e confusão. As pessoas serãocidadãos de segunda em relação ao sistema de justiça de que dispõem.

Contudo, o que mais lamento é a incapacidade do Governo britânico de compreender aposição insustentável dos deputados britânicos nestas questões. Será que deveríamos estara trabalhar, a falar – ou, mais importante ainda, a votar – sobre propostas relativas a coisasque, como é o caso neste momento, não terão qualquer utilidade para aqueles que noselegeram? Ouros começam a questionar a legitimidade da nossa posição. Estasauto-exclusões são democraticamente insustentáveis e destrutivas para a coerência dosistema de justiça civil da UE. Esta atitude de escolher só o que convém, de "opt-in" e"opt-out", só afecta os mais vulneráveis e os que mais precisam da protecção da lei.

PRESIDÊNCIA: BIELANVice-presidente

Panayiotis Demetriou, em nome do Grupo PPE-DE. – (EL) Senhor Presidente, primeiroque tudo, gostaria de felicitar a relatora, a senhora deputada Grabowska, pela sua iniciativade suscitar esta questão e pela visão muito positiva que expressou aqui esta noite.

Caros Colegas, a ronda de consultas da Conferência da Haia iniciada há sete anos está achegar ao fim. Levanta-se agora esta questão: que progressos foram feitos sobre a questãodo reconhecimento mútuo e da execução de sentenças no direito privado internacional?Onde está a declaração de que o princípio do reconhecimento mútuo e da execução desentenças é a pedra angular da cooperação policial e judiciária na criação de um espaço deliberdade, segurança e justiça? A resposta é que não se registaram grandes progressos nessadirecção. O Programa da Haia de 2004 não foi promovido como deveria ter sido, nãoobstante os esforços e iniciativas empreendidos pelo Comissário responsável, FrancoFrattini.

Infelizmente, a invocação abusiva da soberania nacional por parte de algunsEstados-Membros constitui um obstáculo à harmonização das legislações, não só emmatérias substantivas mas também em questões processuais. Estas observações gerais nãopõem em causa, como é óbvio, o valor e a importância da proposta que estamos a discutir.Pelo contrário, põem em evidência a necessidade da adopção de novas propostas deregulamentos do Conselho, que abranjam toda a área do direito da família: divórcio,separação, obrigações de alimentos e questões de propriedade. O Regulamento (CE)n.º 2201/2003 do Conselho relativo à competência, ao reconhecimento e à execução dedecisões em matéria matrimonial e em matéria de responsabilidade parental carece de umareforma radical e de modernização. É verdade que essa carência está a ser suprida em largamedida através da proposta de alteração ao regulamento, mas, infelizmente, apenas noque respeita às obrigações de alimentos. Ainda subsistem as diferenças no direito substantivodos Estados-Membros, no âmbito do capítulo vital da justiça. Há ainda um longo caminhoa percorrer. Também aqui, nos aspectos em que há margem para uma convergência, épreciso avançar com esta harmonização do direito.

As alterações propostas pelo Parlamento Europeu preenchem muitas das lacunas que aproposta apresenta e melhoram o seu conteúdo. Acima de tudo, eliminam numerososobstáculos que impedem a execução de decisões relativas às obrigações de alimentos emqualquer parte da União Europeia, e limitam a possibilidade de o progenitor ou cônjugedevedor escapar à justiça mudando-se para outro Estado-Membro da UE. É justamente esteponto que é tratado na alteração que apresentei ao artigo 33.º, alínea a), na qual procuro,

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em primeiro lugar, não deixar uma margem ilimitada para a não execução de uma decisãosob o pretexto de uma alteração das circunstâncias e, em segundo lugar, permitir uma certalatitude para lidar com a situação desta forma quando se verifiquem circunstânciaspertinentes graves, verdadeiramente graves, que dêem ao tribunal precisamente o direitode rever a sua posição.

Andrzej Jan Szejna, em nome do Grupo PSE. – (PL) Senhor Presidente, começo poragradecer calorosamente à relatora, senhora deputada Grabowska, o trabalho que dedicoua este regulamento e ao relatório que nos apresenta. Este excelente resultado não mesurpreende, já que a Professora Grabowska é uma das maiores especialistas polacas emdireito europeu.

Considerando o aumento do número de divórcios e de separações na União Europeia,assume cada vez maior importância o problema dos entraves legais ao reconhecimento eexecução de decisões em matéria de obrigações alimentares. Além disso, o grau de integraçãodos Estados-Membros, bem como o grande número de instrumentos juridicamentevinculativos no seio da União Europeia, tornam essencial a criação de um ordenamentojurídico avançado.

Não vigora presentemente na União Europeia um sistema harmonizado. Sou, por estemotivo, a favor do regulamento, que contém propostas muito pertinentes em relação aosproblemas que estamos a debater. Vale a pena sublinhar que se trata do resultado de umprograma de trabalho de longo prazo, o Programa da Haia para o reforço da liberdade,segurança e justiça na União Europeia. Concordo que a efectiva execução de obrigaçõesalimentares melhorará as condições de vida e educação de muitas crianças, que são asprimeiras credoras de prestações alimentares. Esta é uma questão muito importante paraos socialistas europeus.

O regulamento proposto não só responde a certos problemas da sociedade actual comopode contribuir para melhorar o funcionamento do mercado interno, nomeadamente aoremover barreiras à livre circulação de pessoas que poderiam ser prejudicadas em resultadodas diferenças existentes entre as legislações dos Estados-Membros sobre execução dedecisões em matéria de obrigações alimentares.

A bem de todos os cidadãos da União Europeia, devemos esforçar-nos por alcançar a rápida,e se possível gratuita, execução das prestações alimentares. No momento actual, asinstituições são por vezes obrigadas a recorrer a medidas drásticas para fazer cumprir opagamento, enquanto os credores vivem muitas vezes com dificuldades.

Também concordo com a ideia de que as decisões judiciais devem ter a mesma força queno Estado-Membro da sua emissão, sem quaisquer outras formalidades.

Por fim, sublinharia a necessidade de um maior envolvimento do Parlamento Europeu naadopção de decisões sobre matérias tão relevantes para o futuro funcionamento da UniãoEuropeia e do mercado interno.

Carlo Casini (PPE-DE). - (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, afinalidade do relatório que hoje analisamos é eliminar a maioria dos obstáculos que secolocam à recuperação das prestações alimentares na Europa, permitindo a criação de umquadro jurídico conforme às expectativas legítimas dos credores de alimentos.

O ponto de partida mais relevante prende-se com o facto de, na grande maioria dos casos,o credor de alimentos ser a parte mais fraca e, por conseguinte, carecer de uma forte

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protecção, para além da evidência de que o principal problema reside nas condições defacto dos devedores da obrigação de alimentos. No entanto, é aconselhável fazer pelomenos o possível, quer dizer, eliminar toda e qualquer burocracia desnecessária e determinara lei aplicável, estabelecer a preferência pela legislação do lugar de residência do credor edar efeito imediato à decisão judicial segundo a qual a pensão de alimentos tem de ser paga,mesmo em países que não o país em que a decisão foi pronunciada.

A Comissão dos Assuntos Jurídicos, chamada, mediante o procedimento de cooperaçãoreforçada, a emitir um parecer sobre a jurisdição, lei aplicável e execução das decisões emmatéria de obrigações de alimentos, teve um papel relevante na redacção do texto,conseguindo um importante acordo de compromisso entre os principais grupos políticos,pelo que gostaria de agradecer publicamente à senhora deputada Wallis. Os principaisobjectivos das alterações apresentadas pela Comissão dos Assuntos Jurídicos consistemem dar uma definição clara de obrigações de alimentos, alargar o campo de aplicação,proteger as partes mais vulneráveis e simplificar o texto proposto.

Foi necessário encontrar uma definição sem ambiguidades do conceito de obrigação dealimentos e incluir no âmbito do regulamento todas as ordens relativas a pagamentos dequantias forfetárias. Prestou-se particular atenção – como disse – às partes mais vulneráveise, neste aspecto, o texto do regulamento precisa ainda de ser simplificado. A terminar,visto que o meu tempo de palavra chegou ao fim, quero dizer que o Grupo PPE-DE darátodo o apoio a esta decisão.

Tadeusz Zwiefka (PPE-DE). - (PL) Senhor Presidente, o lamentável aumento no númerode casamentos desfeitos, associado à crescente mobilidade dos habitantes da União Europeia,conduz inevitavelmente ao aumento do número de conflitos transfronteiriços relativos aobrigações alimentares. No momento actual, executar um pedido relativo a um devedorde prestações alimentares que reside noutro Estado-Membro implica recorrer aos tribunaisdo Estado em que a decisão deve ser executada. Infelizmente, isto nem sempre produzresultados, o que demonstra a necessidade de estabelecer regras detalhadas de jurisdiçãorelativas aos pedidos de cobrança de créditos alimentares.

O projecto de resolução visa reduzir as formalidades necessárias para que a decisão de umtribunal seja transmitida a qualquer Estado-Membro, e garantir a efectiva execução damesma. Ao entrar em vigor, o novo regulamento permitirá ao credor obter uma ordemde execução vinculativa em qualquer país da União Europeia. Também simplificará eintegrará o sistema de execução. Embora me congratule com as medidas adoptadas pelaConferência da Haia, concordo plenamente com a opinião da relatora de que osregulamentos de aplicação nesta matéria na União Europeia devem ser mais progressistase de aplicação mais célere.

A mobilidade crescente dos cidadãos da UE conduz a um aumento do número de casaisem que os cônjuges têm nacionalidades distintas e vivem em países diferentes, ou residemnum Estado-Membro que não é o da nacionalidade de nenhum dos dois. Quando cônjugesque não partilham a mesma nacionalidade decidem divorciar-se, podem, com efeito, invocarlegislações diferentes. O âmbito lato do regulamento, em termos subjectivos e objectivos,é justificado pela taxa assustadoramente baixa de execução de créditos alimentares nalgunsEstados-Membros da UE. No meu próprio país, a Polónia, por exemplo, é de apenas 10%.

O regulamento também permitirá que uma mãe solteira reclame ao pai da criança opagamento de custos associados ao período da gravidez e ao parto. No momento actual,

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em muitos Estados-Membros, pedidos desta natureza não são reconhecidos como pedidosde alimentos, o que dificulta consideravelmente a sua fundamentação.

Antes de o meu país aderir à União Europeia, todos os anos entravam nos tribunais maisde um milhar de pedidos de alimentos do estrangeiro. Na sequência da abertura dasfronteiras, todas as previsões apontam para um aumento drástico do número destes pedidos,tanto na Polónia como noutros países. A abertura das fronteiras e dos mercados de trabalhopode conduzir alguns progenitores a procurar fugir das suas obrigações de alimentos, e asprincipais vítimas seriam as crianças. Não podemos admitir que isto aconteça.

Franco Frattini, Membro da Comissão. − (IT) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, serei muito breve. Gostaria de agradecer a todos aqueles que usaram da palavra,à relatora e aos senhores deputados que participaram neste trabalho. Creio que nos próximosmeses teremos três objectivos em vista, e espero que a Presidência eslovena os possa levara bom porto.

São eles, em primeiro lugar, convencer o Conselho de que, se considerarmos ser útil alteraruma base jurídica ao abrigo do artigo 67.º do Tratado, o fazemos para dar uma basedemocrática melhor a uma iniciativa que, objectivamente, protege os grupos de pessoasvulneráveis, em especial os menores, na sequência da dissolução da unidade familiar.

O segundo objectivo é assegurar que os credores recebem a mesma protecçãoindependentemente do lugar em que a acção foi posta nos tribunais: seria muito estranhose o critério do chamado lex fori implicasse uma diferença substancial na protecçãoconcedida aos credores. Por conseguinte, um outro objectivo essencial é tentar harmonizaras normas.

O terceiro objectivo em relação ao qual, em minha opinião, é preciso continuar a trabalharé o da execução efectiva: em muitos casos, afirmamos o princípio da protecção dos credoresem questões familiares, mas depois não asseguramos a sua execução, ou permitimos queo processo seja reaberto quando se deveria dar seguimento a uma ordem de pagamento.Isso não funciona no caso da obrigação de alimentos porque, se assim for, a medida ficaráprivada de qualquer significado.

Elaborámos propostas bastantes inovadoras: congelar temporariamente uma parte daconta bancária se o devedor não quiser pagar, ou emitir uma ordem de execução periódicasobre os bens do devedor correspondente à soma que este deve pagar. Como sabem, estaquestão suscitou divergências e oposição por parte da maioria dos Estados-Membros noConselho, porque é isso que faz a diferença num regulamento: ou a medida podeefectivamente ser executada, ou é inútil continuar a afirmar a importância de proteger osfilhos ou os cônjuges separados que são credores de alimentos!

Teremos de trabalhar nestas três questões durante os próximos meses e obviamente que,neste caso mais do que noutros, a Comissão e o Parlamento estão de acordo e teremos depersuadir o Conselho de que este é o caminho correcto a seguir.

Presidente. - Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

Marian-Jean Marinescu (PPE-DE), por escrito. – (RO) Por agora, não há um único sistemaeuropeu que reconheça e imponha a obrigação legal de concessão de alimentos em países

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estrangeiros. As disposições comunitárias na matéria são instrumentos insuficientes paraprocessar devedores que tentam fugir às suas obrigações de pagamento de prestaçõesalimentares.

Nos termos do regulamento em apreço, qualquer sentença relativa a pensões de alimentosproferida num Estado-Membro deve ser rápida e correctamente executada em qualqueroutro Estado-Membro.

Assegurou-se, assim, a simplificação da vida dos cidadãos, nomeadamente, a recuperaçãode prestações de alimentos devidas por um progenitor ou outros devedores quando estaspessoas residem num país diferente do da criança, a implementação de um dos direitosfundamentais da União Europeia, o direito à vida privada e familiar e à protecção da criança,a homogeneização e simplificação das normas legais europeias em todo o território daUnião e a construção do espaço europeu de liberdade, segurança, justiça e a facilitação deoperações do mercado interno.

Penso que os tribunais notificados devem confirmar o estatuto de independência e decompetência de consultadorias legais e ter em consideração a situação das partes duranteo processo. O credor de alimentos deve beneficiar das disposições legais no país deresidência, as litigações nesta área devem ser resolvidas a mais baixo custo e a procura dajurisdição mais favorável deve ser evitada.

21. Identificação electrónica dos ovinos e caprinos (debate)

Presidente. - Segue-se na ordem do dia o relatório (A6-0501/2007) do deputadoFriedrich-Wilhelm Graefe zu Baringdorf, em nome da Comissão da Agricultura e doDesenvolvimento Rural, sobre uma proposta de regulamento do Conselho que altera oRegulamento (CE) n.º 21/2004 no que diz respeito à data de introdução da identificaçãoelectrónica dos ovinos e caprinos (COM(2007)0710 - C6-0448/2007 - 2007/0244(CNS)).

Markos Kyprianou, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, como todos sabem,a rastreabilidade é um elemento fundamental para garantir normas rigorosas em matériade saúde animal e segurança alimentar.

Tivemos recentemente, na União Europeia, experiências com certas doenças, como a febreaftosa e a febre catarral dos ovinos, ou língua azul, o que mais uma vez pôs em evidênciaa importância de sistemas de identificação eficazes. A identificação individual não podefuncionar adequadamente sem a identificação electrónica.

Foi pedido à Comissão que confirmasse ou alterasse, no seu relatório, a data de introduçãoda identificação electrónica, não que questionasse os princípios do regulamento. Daítratar-se de um relatório técnico sobre os vários métodos e tecnologias envolvidos.

O relatório da Comissão centra-se apenas na melhor forma de aplicar a identificaçãoelectrónica. Contudo, para elaborar um relatório, precisámos de dados e de contributospor parte dos Estados-Membros, em especial daqueles Estados-Membros que já estão atrabalhar no sistema. Os estudos e ensaios necessários para a elaboração do relatóriolevaram muito mais tempo do que inicialmente fora previsto, o que explica o atraso naapresentação do relatório.

Registamos com apreço e agradecemos sinceramente ao Parlamento o facto de concordarem tratar este assunto com urgência. Isso irá evitar uma situação de incerteza jurídica emJaneiro de 2008.

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O relatório conclui que foram cumpridas as condições técnicas para a identificaçãoelectrónica de ovinos e caprinos, mas que os Estados-Membros necessitam de um prazorazoável para preparar a introdução da identificação electrónica.

Concordamos com, e aceitamos, a posição do Parlamento no que respeita a fixar uma datapara a introdução do sistema. Por outro lado, não podemos aceitar as outras alteraçõespropostas, que poriam em causa os princípios do próprio regulamento, já que agora aquestão é saber qual deve ser a data de introdução do sistema.

Gostaria, uma vez mais, de agradecer ao relator o trabalho célere que realizou e aoParlamento por ter aceitado tratar este assunto com urgência.

Friedrich-Wilhelm Graefe zu Baringdorf, relator. − (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário Kyprianou, nós acatámos o seu pedido para que esta matéria fosse tratada comceleridade. Trata-se de um assunto urgente que, por isso, justifica a nossa presença aqui auma hora tão tardia.

Resta saber, naturalmente, como surgiu esta situação urgente. O Senhor Comissário já sepronunciou sobre isso. Enquanto eu lia a documentação, deparei-me com o regulamentoque pretendemos alterar hoje e que data de 17 de Dezembro de 2003. Este regulamentoestabelece que "a partir de 1 de Janeiro de 2008, é obrigatória para todos os animais aidentificação electrónica de acordo com as orientações referidas no n.º 1". Prevê ainda umaou duas derrogações, que agora vou omitir, e prossegue depois nos seguintes termos: "Até30 de Julho de 2006, a Comissão deve apresentar ao Conselho um relatório sobre aaplicação do sistema de identificação electrónica, acompanhado de propostas adequadas,sobre as quais o Conselho deliberará por maioria qualificada".

Ou seja, esta questão já tem vários anos. É evidente que o relatório da Comissão nunca foiapresentado ao Conselho e também não houve nenhuma reacção por parte do Conselho.V. Ex.ª está a fazer-me sinal? Se a Comissão apresentou o relatório, tanto melhor, mas nãohouve qualquer resposta por parte dos Estados-Membros. E depois ficaram muito aflitos,porque se aperceberam de que não era possível cumprir o prazo. Para piorar as coisas,vieram então propor que, em vez de fixarmos talvez um novo prazo, deveríamos antesdeixar que a data fosse fixada no processo de comitologia. Por outras palavras, a decisãoquanto ao prazo caberia à Comissão. Mas, nesse caso, todo este esforço não teria valido apena. Por isso, a comissão parlamentar decidiu que a disposição relativa à identificaçãoelectrónica obrigatória deverá entrar em vigor em 31 de Dezembro de 2009 e ser aplicávela partir de 1 de Janeiro de 2010, ou seja, dois anos depois do previsto no regulamentoinicial. Seja como for, o importante é que temos uma data. A comissão estipulou, alémdisso, que deve ser apresentado um relatório sobre esta matéria.

O problema da sua proposta, Senhor Comissário, é que a Comissão está a recorrer cadavez mais ao processo de comitologia para a tomada de decisões, tal como o fez com oregulamento inicial, de 17 de Dezembro de 2003, em que as disposições e as regras deexecução do regime de identificação electrónica foram delegadas na Comissão através doprocesso de comitologia. Na altura, também estava prevista a apresentação de um relatórioao Conselho mas não ao Parlamento. Em consequência desta prática de sujeitar tudo àcomitologia, o Parlamento é destituído dos seus direitos de decisão e dos seus poderes decontrolo. Por isso, só mais tarde viemos a constatar que as obrigações não foram cumpridas.

Se a Comissão não tivesse agora apresentado estas alterações e solicitado a aplicação doprocesso de urgência por estar sob pressão para cumprir o prazo, teríamos pensado que

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estava tudo bem. Mas não está! Isto deve ser um aviso para o Parlamento, que não devedelegar demasiado na Comissão, mas sim continuar a exercer os seus poderes de controlo.

Foram apresentadas algumas alterações, que o Senhor Comissário afirma não poder aceitar.A comissão parlamentar estipulou que as regras devem ser vinculativas. Com efeito, issojá estava estabelecido no regulamento de base que, como muito bem sabem, não está a serrevogado mas apenas alterado. Agora temos aqui alterações apresentadas pelo senhordeputado Stevenson – uma delas em conjunto com a senhora deputada McGuinness – quevisam tornar o sistema voluntário. Bem, se o tornarmos voluntário, então podemos àpartida esquecer todo este assunto. Afinal, o que nos restaria ainda prescrever? Poderíamosresignar-nos ao facto de que, à noite, todos os gatos são pardos. Por isso, considero quedevemos insistir nas regras vinculativas e que essas regras devem, inclusivamente, fixaruma data e prever a apresentação de um relatório ao Parlamento Europeu.

Este relatório servir-nos-á de lição na medida em que nos fez tropeçar, mais ou menos poracaso, neste modo de proceder verdadeiramente incomum por parte da Comissão e doConselho.

Senhor Comissário Kyprianou, espero não ter sido demasiado duro nas minhas críticasmas, como deve imaginar, enquanto elaborava o relatório e me preparava para o debatedesta noite consultando a documentação pertinente, tive de esfregar os olhos quando medeparei com todas estas coisas que podem acontecer nas nossas Instituições europeias.Tanto o Parlamento como a Comissão – e também nós enquanto indivíduos, pelo menospela parte que me toca – têm certamente interesse em garantir que este tipo de coisas nãovolte a acontecer e não se torne hábito.

Struan Stevenson, em nome do Grupo PPE-DE . – (EN) Senhor Presidente, se me permite,começo por responder a uma questão que me foi colocada pelo senhor deputado Graefezu Baringdorf. Perguntou-me por que razão as alterações que apresentei visam tornar estesistema voluntário. Posso responder muito rapidamente ao senhor deputado Graefe zuBaringdorf por que razão procuro tornar o sistema voluntário.

Na semana passada, na minha circunscrição eleitoral, na Escócia, as ovelhas de reposição– para as pessoas presentes no hemiciclo não familiarizadas com os temas agrícolas (nãohá tanta gente assim no hemiciclo), trata-se de ovelhas fêmeas mais velhas – estavam a servendidas a duas libras esterlinas a cabeça. Há um ano eram vendidas a 60 libras por cabeça;este ano, a 2 libras por cabeça. Pergunto ao relator: como podemos esperar que umagricultor que só recebe duas libras por cabeça pelas suas ovelhas instale microchips ecompre scanners e leitores dispendiosos compatíveis com um sistema de identificaçãoelectrónica obrigatório? Este é o problema económico.

A proposta inicial da Comissão defendia, com razão, a consulta das partes interessadasbem como a realização de estudos de impacto económico e análises de custo-benefício.Não vi todos os números. Desconheço qual seria a intenção para os ovinicultores no meucírculo eleitoral. Cumpre-me recordar aos deputados desta Assembleia que o Reino Unidotem o maior rebanho de ovelhas em toda a Europa – de longe o maior. Com a situaçãoeconómica que hoje temos, o impacto desta medida seria catastrófico. Na realidade,significaria – se o sistema se tornar obrigatório e cumprirmos as datas estabelecidas pelaComissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural na sua votação de segunda-feira, efixarmos como data de introdução o dia 31 de Dezembro de 2009 – que todo um grupode ovinicultores no Reino Unido fecharia as suas portas e iria à falência. As zonasmontanhosas e as colinas, que durante séculos foram cuidadas pelos produtores de gado

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ovino e onde durante séculos as ovelhas pastaram, virarão zonas de vegetação selvageme, nessa altura, as pessoas dar-se-ão conta do mal que foi feito.

Enquanto infligimos este prejuízo a um rebanho que já tem a melhor rastreabilidade naEuropa – actualmente, temos absoluta garantia de rastreabilidade no Reino Unido e osovinicultores não entendem por que razão queremos impor um novo sistema deidentificação electrónica quando já dispõem de uma rastreabilidade de elevada qualidade–, estamos a importar para a UE carne de borrego vinda do exterior, de países que nãorespeitam os nossos níveis de higiene e bem-estar animal nem os rigorosos regulamentosque aplicamos aos nossos ovinicultores.

Tenhamos, pois, um pouco de sensibilidade. Espero que, quando amanhã votarmos, ossenhores deputados entendam as razões por que pedimos um sistema voluntário e quenão se fixe ainda uma data obrigatória para a introdução da identificação electrónica.

Rosa Miguélez Ramos, em nome do Grupo PSE. – (ES) Senhor Presidente, eu sou alguémque escuta sempre com muita atenção as intervenções do senhor deputado Stevenson, efaço-o já há muitos anos, mas este discurso surpreende-me, pois é um discurso que deveriater sido feito em 2003 e não em 2007, ou quase em 2008, aliás.

O senhor deputado Graefe zu Baringdorf disse-o muito bem: este é um regulamento de2004, um regulamento que nós debatemos no Parlamento em 2003, e o regulamentoestabelece que a data de entrada em vigor do sistema de identificação electrónica de ovinose caprinos será 1 de Janeiro de 2008.

Por conseguinte, Senhor Deputado Stevenson – não tenho a menor dúvida de que há ovinose caprinos na sua circunscrição, tal como na minha –, os cinco Estados-Membros com amaior concentração de gado ovino e caprino são, para além do seu e do meu, a França, aItália e a Grécia. Pois bem, estes quatro Estados-Membros já realizaram essa tarefa, queaparentemente tanto o repugna, de convencer os seus agricultores a marcarem o seu gadoovino e caprino, uma vez que nos foi dito que o regulamento dizia que o sistema deidentificação electrónica iria ser obrigatório a partir de 1 de Janeiro de 2008.

Enquanto deputada a este Parlamento, eu compreendo isto perfeitamente. Compreendotambém que há Estados-Membros – como o seu, e daí eu ter estado a ouvi-lo – que nãocumpriram os seus deveres, e foi com isso em mente que voluntariamente propus umadata – que foi além do mais aceite pela Comissão da Agricultura – que dilata ligeiramenteesse prazo, mas, como V. Exa. sabe, enquanto os agricultores na sua circunscrição poderãoreceber duas libras por animal, na minha recebem apenas uma.

Neste momento, com os problemas das doenças animais que prevalecem na Europa, pensoque um sistema como este representa uma garantia e uma forma de valorizar aquilo queos nossos agricultores produzem. É um sistema de identificação que nos permite conhecera proveniência de qualquer animal que transite no território da Comunidade e ter a certezade que ele está de boa saúde; é uma garantia para os consumidores, que deve também serboa para os agricultores, visto que eles irão receber mais pela sua carne.

Se eles não passarem a receber mais pela sua carne, nesse caso ficamos precisamente namesma situação em que estamos agora, com a língua azul, a febre aftosa e o mosquitochikungunya. Se assim for, não nos restam esperanças. Assim, por favor, comecemossimplesmente a trabalhar, sejamos coerentes e leiamos e examinemos o regulamento queo senhor deputado Graefe zu Baringdorf mencionou – que é, repito, um regulamento de2004 –, leiamo-lo com atenção, reconheçamos que ele prevê algumas derrogações, mas

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isto não pode ser deixado à vontade de cada um, pois a data não pode ser facultativa. E nãopode ser facultativa porque esta Câmara, a Comissão e o Conselho decidiram que ela eraobrigatória.

Por outras palavras, eu não posso fazer o calendário recuar três anos e dizer aos meusagricultores que todos os esforços que fizeram até agora são totalmente inúteis porque osbritânicos se esqueceram de pedir aos seus agricultores para fazerem o mesmo. Será queme entende, Senhor Deputado?

O que lhe peço, portanto, é que leia atentamente a minha alteração. O meu grupo rejeitaterminantemente a ideia de questionar a obrigatoriedade do sistema, já que isso iria geraruma situação de discriminação ilícita entre os Estados-Membros e dentro da própria UniãoEuropeia, se bem que não me surpreendesse – e não estou a referir-me a si, Senhor DeputadoStevenson – que aqueles que tiveram o descaramento de hoje rejeitar a Carta dos DireitosFundamentais neste Parlamento tivessem o mesmo descaramento, ou ainda maior, derejeitar a identificação de ovinos e caprinos.

A situação é esta, portanto: eu penso que temos um regulamento, que a Comissão Europeianos fez uma proposta razoável, que nós também fizemos uma proposta razoável àComissão, e que, por isso mesmo, devemos tentar encerrar este assunto na manhã de hojesem demasiados prejuízos para nenhuma das partes.

Neil Parish (PPE-DE). - (EN) Senhor Presidente, intervenho para apoiar energicamenteo que o senhor deputado Stevenson acaba de dizer e também o que a Comissão está aprocurar fazer. Penso que nos devemos dar conta da escala da produção de gado ovino edo número de animais envolvidos. Estamos a falar de 25 milhões de ovelhas no ReinoUnido, 8,5 milhões em França, 3 milhões na Irlanda e números significativos em Espanhae outros países. O sistema tem de ser correcto. Se vamos introduzir um sistema electrónico,tem de ser funcional e rentável e os agricultores têm de poder utilizá-lo de uma formaprática. Como o senhor deputado Stevenson afirmou, com razão, a ovelha é um animalque não tem um valor por aí além, de modo que tudo isto não vai ser feito por veterinários.Uma grande parte deste trabalho vai ter de ser feito pelos próprios agricultores, que, naaltura de lerem estas etiquetas, vão precisar de poder fazê-lo de uma forma prática, já quese encontrarão algures na encosta de uma montanha, em condições húmidas e outras quenão são fáceis.

Tenho visto muitos destes sistemas electrónicos em funcionamento em quartos de hotelquando as pessoas passam pelas diferentes portas, e dizem que não há contradição entreas diferentes etiquetas. Também se pretende um sistema em que, quando um camiãocarregado de ovelhas chegue a um mercado, seja possível, em condições ideais, fazer aidentificação electrónica de cada ovelha naquele camião. É o sistema ideal. O que vos tenhoa dizer, muito claramente, é que não vale a pena avançar para um sistema electrónicoenquanto não dispusermos de um sistema prático, rentável e pronto a utilizar. Porconseguinte, acho que tem toda a razão quando diz "Voltem no final de 2009 para vermosem que pé estão as coisas". Como o senhor deputado Stevenson acertadamente afirmou,este é um sistema que deveria ser utilizado numa base voluntária quando osEstados-Membros estiverem preparados, quando houver uma grande movimentação degado ovino, e quando tivermos um sistema funcional. Por favor, não o introduzamdemasiado cedo, antes de estarmos preparados.

James Nicholson (PPE-DE). - (EN) Senhor Presidente, eis-nos aqui reunidos, uma vezmais, para debater sobre o sistema de identificação das ovelhas. Tudo o que posso dizer é

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que é deveras lamentável que a Comissão não nos tenha dados ouvidos logo no início, jálá vai muito tempo, quando questionámos o que estavam a propor e os aconselhámos.Diria à senhora deputada Miguélez Ramos que, sim, fizemos efectivamente estes discursos,há muito tempo, quando se começou a discutir a questão da identificação dos ovinos. Sóque, infelizmente, as nossas palavras caíram em saco roto, mesmo quando dissemos queaquilo que propunham era inviável.

Portanto, avisámos-vos, sim, mas não nos escutaram. A verdade é que os criadores deovelhas jamais poderiam comportar o custo da identificação electrónica, pois recebemhoje menos pelos seus cordeiros do que há vinte anos atrás! Digam-me se conhecem algumaparte de qualquer outro negócio em qualquer outro sector que se veja obrigada a fazerdespesas tremendas e acabe por receber pela sua produção, hoje, menos do que recebia hávinte anos. É o que se passa neste caso, e sei-o por experiência própria.

O sistema que temos neste momento é suficiente. Como tal, deixemos esta questão parao futuro. Aceito que voltemos a analisar o assunto em 2009. É possível que, até lá, atecnologia de identificação electrónica, que neste momento é demasiado cara, se torne,como tantas outras áreas da tecnologia, mais acessível, com uma conjugação de custosmais baixos e uma melhor rentabilidade para o produtor. Aí, poderemos voltar a analisartudo isto.

O grande desafio para a ovinicultura é conseguir ser rentável. A partir daí, poderemosavançar com confiança. Devo dizer que foi muito interessante para mim ouvir a senhoradeputada Miguélez Ramos e o senhor deputado Stevenson a trocar pontos de vista sobreas ovelhas, já que, habitualmente, as suas trocas de opiniões são sobre os peixes, um tematotalmente diferente – e porventura ainda mais polémico do que o das ovelhas, que hojeos ocupa.

Seja como for, para os ovinicultores, receber tão baixa recompensa pelo seu árduo trabalho,como aqui foi assinalado pelo senhor deputado Parish, faz desta uma actividade muitodifícil. Há milhares de ovelhas no topo das montanhas durante todo o Verão. Tentemapanhá-las; tentem colocar-lhes a etiqueta; tentem segui-las. Tenho a dizer o seguinte aoSenhor Comissário: quem me dera que enviasse alguns dos seus funcionários que elaboramestes planos a esses sítios, para eles se aperceberem daquilo que os criadores de ovelhastêm de suportar, daquilo por que têm de passar. Depois talvez perceba como nos sentimose por que expressamos estas opiniões.

Sim, façamo-lo numa base voluntária. Façamo-lo quando estivermos preparados.Avancemos a um ritmo adequado e assumamos o sistema à medida que pudermos fazerface a essa despesa.

Markos Kyprianou, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, serei breve, dadoo adiantado da hora. Gostaria de recordar aos senhores deputados que o que estamos adiscutir é a data de introdução do sistema. Foi tomada, acertadamente, a decisão deintroduzir o sistema mas a data foi deixada em aberto ou, antes, foi fixada uma data que,conforme se decidiu, deveríamos posteriormente alterar ou confirmar.

Os dados recebidos de uma série de Estados-Membros mostraram duas coisas. Primeiro,que a aplicação do sistema era viável, tanto do ponto de vista técnico como do ponto devista económico – como se afirma no relatório –, segundo, que os Estados-Membrosnecessitavam de mais tempo para introduzir o sistema, por outras palavras, que se impunhaestabelecer uma data mais realista.

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A verdade é que a Comissão propôs efectivamente fixar esta data para uma fase posterior.Posso assegurar-vos de que não houve qualquer intenção de contornar o Parlamento e daí,precisamente, o termos escolhido esta forma de proceder – ter este debate, em lugar deinserir um artigo no regulamento, o que nos teria permitido tomar uma decisão unicamentecom o Conselho.

Nunca houve qualquer intenção da parte da Comissão de não incluir ou não envolver oParlamento nestas decisões. A fixação de uma data foi considerada uma questão de ordemtécnica. Uma vez que o princípio já havia sido adoptado, pensámos que esta questão técnicapoderia ser adoptada mediante o procedimento de comitologia e, reiterando o que jáanteriormente afirmei, não temos qualquer problema em aceitar a alteração que fixa umadata específica, a qual, creio, dá aos Estados-Membros tempo suficiente – dois anos – parase prepararem.

No entanto, temos dificuldade em aceitar sistemas voluntários, posto que o regulamentodiz respeito à rastreabilidade, e a rastreabilidade tem de ser efectiva e aplicada por igual emtodos os Estados-Membros. Ela constitui igualmente um reflexo específico da situação dasaúde animal na União Europeia. Podemos considerar os custos directos do sistema talqual mas, se tivermos em conta os benefícios a longo prazo das economias geradas pelaredução a nível das perdas e das doenças animais, estamos convictos de que o sistemaacabará por ser benéfico do ponto de vista económico.

Seja como for, estamos dispostos a aceitar a alteração apresentada pelo Parlamento, que,cremos, será igualmente adoptada pelo Conselho na próxima semana.

Presidente. - Dou a palavra ao senhor deputado Graefe zu Baringdorf para uma invocaçãodo Regimento.

Friedrich-Wilhelm Graefe zu Baringdorf, relator. − (DE) Permita-me dirigir mais umapergunta ao Senhor Comissário. Senhor Comissário Kyprianou, eu apresentei uma alteraçãoque prevê certas derrogações, as quais não devem ser aplicadas a título voluntário; aliás, oinstrumento original também permite uma variação, uma actualização, se for feita deacordo com o disposto no n.º 4 do artigo 9.º. Em determinadas circunstâncias - e estas nãopodem incluir acordos voluntários, que tornariam todo este exercício escusado - poderíamostalvez reflectir um pouco sobre a melhor forma de responder, na prática, às preocupaçõesmanifestadas pelos senhores deputados. Isto é apenas uma sugestão e uma pergunta sobrea qual talvez possa querer reflectir.

Presidente. – Não se tratou de uma invocação do Regimento, mas o Senhor Comissárioestará na disposição de responder?

Markos Kyprianou, Membro da Comissão . − (EN) Senhor Presidente, como já referi,temos dificuldade em aceitar alterações que afectarão os princípios e os aspectos principaisdo regulamento.

Analisaremos novamente a sugestão do senhor deputado mas, como digo, é uma questãoque nos preocupa.

Presidente. - Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, dia 13 de Dezembro de 2007.

Declarações escritas (Artigo 142.º)

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Mairead McGuinness (PPE-DE), por escrito. – (EN) Não creio que tenha sido fornecidasuficiente informação sobre a eficiência e a eficácia da identificação electrónica (IDE) dosovinos e caprinos. Além disso, em minha opinião, haverá que dispor de uma avaliaçãoeconómica, concretamente, de uma análise custos-benefícios do impacto nos produtores,antes de fixar uma data para a introdução da IDE.

Não vejo qualquer justificação para fixar uma data para a introdução deste sistema até tersido avaliado o impacto da IDE, sobretudo no que respeita à rastreabilidade e ao controlode doenças.

Na Irlanda, a ovinicultura está em declínio, com muitos produtores a abandonar o sector,pelo que é muito má altura para estar a impor estas medidas e estes custos a este sector.

Se existir uma justificação legítima para a identificação electrónica neste sector, osprodutores reagirão positivamente e tratarão eles próprios de introduzir o sistema numabase voluntária. Se e quando este sistema IDE for introduzido, deverá sê-lo numa basevoluntária, não numa base obrigatória.

Além disso, se a IDE for introduzida, deverá aplicar-se unicamente aos animais nascidosapós uma determinada data, e não ao gado já existente.

22. Ordem do dia da próxima sessão: Ver Acta

23. Interrupção do período de sessões

(A sessão é suspensa às 23H25)

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