quando o corpo é voz emoção

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  • 8/6/2019 Quando o corpo voz emoo

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    28 psique cincia&vida

    Psiquismo

    Cada vez mais profissionais de sade descobrem a relevncia da psicossomtica psicanaltica

    como instrumento paracompreender a dinmica do paciente, seu contexto e seus sintomas

    28 psique cincia&vida

    qand crp avoz da emoo

    28 psique cincia&vida

    shutterstock

    Rose Campos jrnalta e ecreve

    bre Pclga.

  • 8/6/2019 Quando o corpo voz emoo

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    psique cincia&vida 29

    Por Rose Campos

    Oestudo da psicossomtica ganhou

    ora a partir da dcada de 1950,especialmente a partir dos estudosconduzidos por Pierre Marty, em-

    bora no tenha sido ele o criador deste termo.Na literatura mdica, consta que o termo psi-cossomtica oi introduzido em 1918, apesarde as razes deste conceito serem muito maisantigas. J na Grcia de Hipcrates, Plato eAristteles, o ser humano era considerado poresses flsoos uma unidade indivisvel. E a psi-cossomtica atual nos remete a uma viso hols-tica do homem, ou seja, na perspectiva de sua

    integralidade, unindo seus aspectos psquicose biolgicos e considerando a interao dessasduas dimenses na manuteno da sade e nagnese das doenas. De certo modo, a psicos-somtica representa tambm deixar para trs aviso cartesiana (proposta por Ren Descartes,1596-1650) de separao entre mente e corpo,que hoje est no centro no s da lgica da me-dicina como de todo o campo da sade.

    Esse resgate histrico da interao cor-po-mente j havia sido eito por Freud, ao

    sistematizar o conhecimento da Psicanlise.Agora a psicossomtica psicanaltica se co-loca em continuidade e amplia toda a teoriae toda a clnica psicanaltica. Eu acho que aespecifcidade daquilo que psicossomticapsicanaltica o ato de tratar e cuidar de ma-niestaes que o prprio Freud dizia que noestava ao alcance da Psicanlise, afrma o psi-canalista e psicossomatista Rubens MarceloVolich, proessor do Curso de Psicossomticado Instituto Sedes Sapientiae, de So Paulo.

    Segundo explica Volich, Freud dizia que a

    Psicanlise se dedica essencialmente ao trata-mento das psiconeuroses. Haveria, no entanto,uma outra categoria que Freud descrevia comoneuroses atuais, entre as quais esto a hipocon-dria, a neurose de angstia etc., e que ele afr-mava que a Psicanlise no poderia tratar. Foi apartir de Ferenczi e vrios outros autores suce-dneos de Freud que se sugeriu que a base, isto, a teoria psicanaltica e os conceitos psicana-lticos, so, sem dvida, importantes, mas que,no entanto, era preciso azer uma modifcao

    na tcnica teraputica a fm de poder tratar

    desses casos que no respondiam Psicanliseclssica, evidentemente, por causa das difcul-dades mesmo da organizao psquica dessespacientes. Ento, existe uma continuidadeentre a psicossomtica psicanaltica mais atual,mais moderna, e a prpria teoria psicanaltica.Na verdade, a psicossomtica moderna sempreteve uma inspirao psicanaltica. Ocorre que,depois, vrias correntes se aastaram da Psican-lise, mas os primeiros autores da psicossomticaeram todos psicanalistas ou estavam prximosda psicanlise: Ferenczi, Groddeck, Alexander,

    que oi presidente da IPA (Associao Psicanal-tica Internacional), conclui Volich.

    A psicanalista Snia Maria Rio Neves, es-pecialista em Psicologia Clnica, que tambmmembro do Departamento de Psicanlise doInstituto Sedes Sapientiae e proessora e co-ordenadora do Curso de Psicossomtica desteInstituto, chama a ateno para o ato de a tc-nica ser uma questo importante dentro da psi-cossomtica psicanaltica. E lembra que Martyj havia apontado que toda terapia, mesmo de

    um paciente com queixas basicamente som-ticas, conorme or evoluindo, acaba revelan-do o quanto o paciente poderia se benefciarde uma psicanlise, embora nem sempre issoocorra na prtica. Da Psicanlise para a Psi-cossomtica, alguns conceitos se mantm ouapresentam um oco maior. Conceitos liga-

    dos ao aparelho psquico, ao pr-consciente,tm um oco dierenciado, mas apresentam omesmo conceito, ela compara.

    Basicamente aquilo que a psicossomticapsicanaltica revelou que esses pacientes queapresentam maniestaes somticas, que tmsintomas orgnicos, tm tambm uma ragi-

    EmoesreprimidasDe acordo com

    o mdico Jose Mo-

    romizato, o corpo

    reflete o que as

    pessoas pensam e

    sentem. Quando

    reprimimos nossasemoes, elas vo

    se acumulando

    at o ponto que

    nos machucam

    proundamente.

    S que a represacheia extravasa

    por algum lado, e

    explode em algum

    rgo mais sen-

    svel. Moromizato

    notou que, muitas

    vezes, as mols-

    tias sanadas nassalas de cirurgia,

    como lceras, por

    exemplo, voltavam

    a incomodar os

    pacientes, passadoalgum tempo.>>,

    m oco

    A PSICOSSOMTICA ATUAL UNE ASPECTOSPSQUICOS E BIOLGICOS, EM UMA VISO

    HOLSTICA DO HOMEM, DE SUA INTEGRALIDADE

    DiVuLGAo

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    Psiquismo

    que um mobilizador desses recursos regressivos.Na psicossomtica, utiliza-se principalmente a

    posio ace a ace, na poltrona. Existem algumastcnicas especfcas que oram desenvolvidas nasltimas dcadas, como tcnicas de relaxamentopsicossomtico; algumas tcnicas psicodramti-cas tambm so empregadas, acrescenta Volich.Esses recursos so utilizados para tentar mobili-zar um uncionamento mais primitivo, mas commais continncia do que uma tcnica analticaclssica propicia. Outra caracterstica que essespacientes apresentam uma ligao muito orteao presente, ao atual. E muitas vezes no tm ca-pacidade de lembrar do passado e se projetar no

    uturo. E tudo isso so recursos que normalmen-te a tcnica psicanaltica clssica exige.

    No trabalho com esses pacientes, a ques-to da presena, aquilo que Pierre Marty cha-mou de uno materna do terapeuta, algomuito relevante. Na prtica do tratamento,signifca que comum o terapeuta precisarincitar o paciente a alar, az-lo lembrar-se decoisas, e ajud-lo a preencher aquilo que soos seus vazios de representao. So tcnicas,portanto, que buscam mobilizar e promover

    esses uncionamentos mais primitivos.PreseNTe Nos HosPiTais

    Um dos locais onde a psicossomtica bastanteaplicada no ambiente hospitalar. Quem trabalhaem hospital, tanto o psiclogo hospitalar quantoo mdico, benefcia-se desse conhecimento. Nocomo tcnica, mas como orma de compreensoda doena, que envolve o todo, no apenas o tipode pessoa, suas caractersticas psquicas, mas tam-bm o contexto no qual est inserida.

    A psicloga line Batistella proessora do

    Instituto Sedes Sapientiae e tambm atua comopsicloga do Hospital Dante Pazzanese. Hoje, elacoordena o trabalho da Psicologia na Enermaria,que presta assistncia ao paciente internado, que vaipassar por cirurgia, e atende tambm os amiliaresdesses pacientes, alm de dar suporte para a equipe.Com os pacientes, o trabalho o de apresentar oservio de Psicologia e azer um aconselhamento.O profssional se coloca disposio desses pacien-tes e az um tipo de triagem, a fm de verifcar se necessrio o atendimento psicolgico.

    UM DOS OBJETIVOS DO TRABALHO TIRAR O PACIENTE DA POSIO PASSIVA. OTRATAMENTO BUSCA A APROPRIAO DE SI

    lidade em sua organizao psquica. essaragilidade que, de certa maneira, pode expli-

    car por que num momento de crise, de umadifculdade, em vez de apresentarem um sin-toma mental, uma maniestao mental, tmum sintoma que passa pela via do compor-tamento, uma descarga do comportamento.Ou, pela prpria somatizao, uma doenaorgnica, completa Rubens Volich.

    Justamente por apresentar essa ragilidade douncionamento psquico, esses pacientes no sno tm como se benefciar de uma anlise cls-sica que requer a livre associao, que trabalha

    com o div, e que supe uma capacidade de con-tato com movimentos regressivos do psiquismo, como esse contato pode at mesmo ser pre-judicial, pois a pessoa no tem os mecanismos,

    as unes que poderiam estar aproveitando daregresso que se observa na anlise e que contri-buiriam na superao de conflitos. Ento, porexemplo, no se recomenda a utilizao do div,

    Deve-se deixar odiv de lado, por ser

    um mobilizador dosrecursos regressivos eoptar pela escuta facea face, na poltrona

    fotos:shutterstock

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    A questo que o paciente muitas vezes az adissociao entre seu problema clnico e seu esta-

    do psquico, por isso no costuma trazer tona assuas questes emocionais. So, ento, as intercor-rncias clnicas que propiciam ao psiclogo hos-pitalar intervir. Ns levantamos a discusso decaso entre os profssionais. E muitas vezes atende-mos as angstias da prpria equipe, diz line.

    Uma coisa que esses profssionais procuramevitar a defnio de um perfl de pacientepara cada tipo de adoecimento. Apesar disso,fca claro que o ato de adoecer do corao traz tona determinadas angstias, por ser este umrgo vital e em decorrncia de a doena abar-

    car o risco de morte. Tradicionalmente, e nosenso comum, o corao visto como a sededas emoes. Por isso, o adoecimento mobilizamuito e desestrutura a parte emocional do pa-ciente cardiopata. Outro aspecto ressaltado pelapsicloga hospitalar diz respeito dependnciaque esse tipo de adoecimento costuma gerar.

    Um dos objetivos do trabalho com o pa-ciente cardaco, no por acaso, tir-lo daposio passiva, que muito reqentemente seatribui ao paciente. O tratamento caminha na

    direo da apropriao de si, relata line. Parao profssional de sade, a ormao em psicos-somtica tambm az dierena. O trabalho daPsicologia deve ser mais intenso nas situaesem que o paciente est entregue doena.

    nesse momento tambm que a orma-o do proissional em psicossomtica podeazer grande dierena, uma vez que intererediretamente no modo como ele ir enxergaro paciente, determinando tambm uma con-duta dierenciada no tratamento. s vezes,o mais importante a uno materna. Apro-

    ximamo-nos mais do modelo me-beb, paracriar um campo simblico propcio expres-so do paciente, explica line.

    Outro aspecto primordial que a psicosso-mtica ajuda a promover a compreenso dasdeesas do paciente. Desse modo, o profssio-nal jamais ataca de rente essas deesas. Eletem de compreender em nome de que essasdeesas se erguem, do que o paciente est sedeendendo, de quais angstias ele parte. Opsiclogo, ento, comea a agir pelas bordas.

    O psicanalista rancs Pierre

    Marty nasceu em Paris, em 1918,

    e reconhecido como pioneiro

    da psicossomtica. Apesar de no

    ter sido o criador do termo psi-

    cossomtica, oi ele o primeiro a

    distinguir esse conhecimento da

    Medicina e da Psicanlise. Marty

    via o homem em sua integrali-

    dade, abrangendo seus aspectos

    psquicos, biolgicos, sua histori-cidade e a dimenso social na qual

    est inserido. Foi dessa orma que

    passou a observar os enmenos

    da somatizao.

    Para Pierre Marty, a melhor

    deesa contra as doenas do or-

    ganismo o uncionamento men-

    tal. Assim, aqueles indivduos que

    apresentam bom uncionamento

    mental so mais ortalecidos e

    esto, portanto, menos sujeitosa contrair doenas graves. Por

    outro lado, aqueles que possuem

    um esprito negativista e ego rgil,

    ou ainda, que reprimem suas re-

    presentaes mentais, tm maior

    tendncia a adquirir enermidades

    severas. Em 1962, Marty undou,

    ao lado de Michel Fain e de outros

    pares, a Escola de Psicossomtica

    de Paris. Segundo o psicanalista, o

    prprio sujeito tem participao

    ativa na ecloso da sua doena, e,por conseqncia, interage com

    seus prprios processos e me-

    canismos de deesa. A undao

    da Escola permitiu a criao de

    um corpo teraputico e tcnico

    psicanaltico, levando em conta o

    seu campo de aplicao. Em 1968,

    Pierre Marty criou tambm um

    centro de consultas, que se trans-

    ormaria mais tarde, em 1972, no

    Instituto de Psicossomtica de

    Paris. O Instituto oerece aos psi-

    canalistas a ormao em clnica,

    teoria e prtica psicossomtica

    de orma a utilizarem teraputi-

    cas e tratamentos baseados em

    psicoterapias psicanalticas. Marty

    estudou uma grande variedade

    de doenas psicossomticas, comespecial empenho na pesquisa do

    cncer, da doena de Crohn, das

    colites ulcerosas, das doenas do

    sistema osteoarticulatrio, da hi-

    pertenso arterial e da asma.

    O hospital que hoje leva seu

    nome oi undado pelo prprio

    Pierre Marty, em 1978, batizado

    ento como Poterne des Peupliers.

    Alm da preveno e tratamento

    de doenas somticas de adultos

    e crianas, a instituio tambmpromove a pesquisa e ormao

    tcnica de profssionais em psi-

    cossomtica. Pierre Marty morreu

    em 1993 na mesma cidade onde

    nasceu, a capital rancesa.

    Fonte: MARTY, P. In Infopdia. Porto:

    Porto Editora, 2003-2007. Disponvel em

    http://www.infopedia.pt/$pierre-marty

    Pierre Marty,

    um pioneiro

    Para Marty, o prprio sujeito tem

    participao na ecloso de sua doena

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    Psiquismo

    A ao da amlia, j se sabe, muito relevante no tratamen-

    to. Mas ela pode tanto atrapa-lhar quando ser undamentalno processo de recuperao. E,muitas vezes, tem papel deses-truturante para o paciente.

    Pouco esPaoPara o Psicolgico

    Apoiada em sua experinciacomo psicloga hospitalar, queteve incio em 1994, line Ba-tistella observa que pacientes e

    amiliares no costumam ser re-ratrios a este tipo de servio.

    No entanto, o sentido de pensar o psicolgicohoje menor. A Psicologia vem muito mais

    numa lgica analgsica, imediatista, ela anali-sa. Da o ato de muitas vezes no se aproun-darem para descobrir o que, de ato, se passapsiquicamente e que tem a ver com a manies-tao da doena e com sua evoluo.

    O profssional de sade, por outro lado,a tem surpreendido. Pois muito prontamen-te a maioria deles adquire a noo de que oaspecto emocional interere no quadro. Essanoo, ela observa, est mais presente na or-mao dos mdicos. s vezes eles mesmostrazem essa questo. Esto mais abertos. Ape-

    nas ainda so muito inbeis para lidar com asituao. Saber o que azer com isso ainda

    Alergia a intolerncia do organismo

    a dados produtos sicos, qumicos ou bio-

    lgicos, aos quais reage de orma exage-

    rada. Trata-se de uma reao anormal a

    uma ou mais substncias aparentemente

    inocentes que, quando apreendidas peloorganismo (inaladas, ingeridas, ou em

    contato com a pele) causam irritabilida-

    de. A alergia , ento, uma intolerncia do

    organismo a alguma circunstncia exter-

    namente determinada. Isso pode perei-

    tamente servir de analogia, em Psiquiatria,

    com nossas reaes vivenciais anormais,

    diante das vivncias consideradas trau-

    mticas. As vivncias so contecimentos

    representados particularmente por cada

    um de ns que causam sentimentos va-

    riados: ansiedade, medo, alegria, angstia,raiva, apreenso. As reaes vivenciais so

    reaes de nosso psiquismo s vivncias,

    tal como as reaes alrgicas so reaes

    de nosso organismo aos estmulos que

    nos sensibilizam.

    Assim como as reaes alrgicas pro-

    duzem alergia, as reaes vivenciais pro-

    duzem sentimentos. As reaes alrgicas

    produzem tipos dierentes de alergia nas

    variadas pessoas: tambm as

    reaes vivenciais determi-

    nam diversos sentimentos

    nas dierentes pessoas, distin-

    tos quanto ao tipo e quanto

    intensidade. As reaes vi-venciais (os sentimentos) se-

    ro sempre proporcionais ao

    signifcado que os atos tm

    para as pessoas, dependero

    daquilo que os atos repre-

    sentam para cada um.

    Os atores psicolgicos associados s

    doenas alrgicas no costumam ser es-

    tudados com a merecida reqncia. En-

    tre as doenas alrgicas, a asma brnquica

    uma das mais estudadas e tem sido re-

    qentemente relacionada ansiedade e adepresso. Em geral, seus sintomas come-

    am ou so "provocados" por algo que

    agride os pulmes (ou a pessoa?). Estes

    agentes so denominados desencadean-

    tes da asma. H muitas classes destes de-

    sencadeantes, os quais podem ser desde

    vrus, alergias, at outras partculas do ar.

    Devido a esta variedade de causas, pode

    ser muito dicil deduzir o que, exatamen-

    te, tem provocado os ataques de asma

    brnquica. Inclusive pode-se chegar a

    pensar que estes ataques no acontecem

    sem que alguma coisa os provoque.

    A relao psicossomtica entre

    asma e a ansiedade deve-se constata-o de que os estados de mobilizao

    emocional ou de estresse possam acen-

    tuar os sintomas da asma, os quais por

    sua vez, geram mais ansiedade, com-

    pletando assim uma espcie de crculo

    vicioso. Assim, a asma no um trans-

    torno primrio da ansiedade, mas sim

    desencadeada e agravada por ela.

    Fonte: PsiqWeb

    Alergia e emoo

    Pessoas somticascostumam apresentar

    fragilidade em suaorganizao psquica

    Os sentimentosdiante das vivnciaspodem sensibilizarnosso organismo

    fotos:shutterstock

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    O PROFISSIONAL TEMDE COMPREENDER ASDEFESAS DO PACIENTE,EM NOME DE QUE ELAS

    SE ERGUEM, DO QUEO PACIENTE EST SEDEFENDENDO, DE QUAISANGSTIAS ELE PARTE

    o mais dicil. Embora j tenha presenciadocasos em que o que o paciente precisava era

    do apoio concreto do mdico. E o mdicoouvia, estava disponvel, constata. A ormao psicossomtica pode ser

    undamental para os proissionais de sadeaprenderem a lidar, emprimeiro lugar, com aprpria angstia. O pri-mordial nessa ormao,portanto, que ela incluaos aetos. extremamen-te til aprender a lidarcom os aspectos transe-

    renciais presentes na rela-o com o paciente.

    aMPliar a escuTaOutra via do atendi-

    mento em psicossomti-ca o encaminhamento,eito pelo mdico, parao atendimento psicolgico em consultrio,quando ele percebe que h algo mais a sereito alm do tratamento medicamentoso.

    Mas tambm pode acontecer de as prpriaspessoas chegarem ao consultrio com suasqueixas. Isso ocorre se o paciente se d con-ta de que aquela doena ou aquele sintomatem a ver com alguma coisa do seu uncio-namento psquico, explica Snia Neves.

    Alm disso, ela levanta outras possibili-dades interessantes. Snia se lembra de tertido, em 2006, uma aluna nutricionista nocurso de ormao em psicossomtica quecoordena no Instituto Sedes Sapientiae . Umproissional como esse procura um curso de

    psicossomtica porque comea a compreen-der que apenas prescrever uma dieta e tentarmudar os hbitos alimentares muitas vezesno suiciente. O isioterapeuta outrotipo de proissional que, ao lidar com o cor-po do paciente, acaba esbarrando tambmem causas de outra natureza para os malesproduzidos no corpo. em situaes comoessas que a psicossomtica mostra toda a suaamplitude e uncionalidade. O recurso estdisponvel no apenas a psiclogos e psico-

    terapeutas das mais variadas abordagensou a mdicos. Outros proissionais de

    sade, e at mesmo proissionais da reade educao, podem ter a psicossomti-ca como erramenta. Uma questo im-portantssima a ampliao da escuta.

    prprio da essn-cia do pensamentopsicossomtico, dis-pensando a recorren-te simpliicao dacausalidade. Uma dascoisas mais impor-tantes que desenvol-

    vemos em nosso gru-po de psicossomticapsicanaltica resga-tar a historicidade. A doena, seja qualor, de maniestaosomtica ou psquica,acontece no contexto

    de uma trajetria de vida e de relaesque as pessoas tm com amlia, comtrabalho etc. A gente busca justamen-

    te ampliar a escuta dos proissionais desade, acrescenta Rubens Volich.

    Nutricionistasentendem queno basta apenasprescrever dietas

    para mudar hbitosalimentares

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    Psiquismo

    criana melhora. A criana melhora porque pas-sa a existir, na me ou nos pais, uma outra repre-sentao daquilo que est acontecendo com ela.Como Snia alerta, essa dinmica amiliar que se

    observa no nega a influncia de atores genti-cos ou constitucionais. Apenas esses atores noexcluem a intererncia da dinmica amiliar.

    Se possvel pensar em um ideal para otrabalho da psicossomtica, os especialistasentrevistados apontam que seria a ao pro-fltica e justamente com crianas. Alm depoder ser usada com grande utilidade e ef-ccia nos atendimentos em hospitais e am-bulatrios. Rubens Volich, de certo modo,resume esse conhecimento, j comprovadopor meio de vrias pesquisas: A gente sabe

    que o trabalho psicoteraputico adjuvante aotrabalho mdico ou mesmo interveno ci-rrgica um recurso que melhora bastante otempo de recuperao, diminui o tempo dehospitalizao de pacientes com doenas gra-ves. Quem trabalha em hospital conhece issomuito bem. As equipes mdicas, que so maissensveis ao trabalho da Psicologia hospitalar,sabem os benecios que isso traz para os pa-cientes, inclusive nos aspectos de reduo derecidiva e de tempo de hospitalizao.

    O objetivo, nesses casos,no transormar o profssio-

    nal de sade em psicanalista,mas instrument-lo a fm deque possa descobrir outrossignifcados para um sinto-ma. Nesse sentido, capacita-o a compreender a extensode um problema nutricional,por exemplo. Ou ainda, en-tender que uma contraomuscular no se restringe aum problema mecnico, maspode ter relao com a his-

    tria de vida daquela pessoa.Como sou otimista, achoque os educadores tambmpodem se benefciar, por-que quem trabalha comcriana vive a psicossom-tica, enatiza Volich.

    Pelo prprio uncionamento da criana, queainda est em desenvolvimento, ela est muitomais suscetvel de responder de uma maneirasomtica, de responder com o corpo inclusive

    porque o aparelho psquico est se desenvolven-do e a criana ainda no conta completamentecom os recursos psquicos para lidar com as no-vidades, com a quantidade de estmulos que avida lhe proporciona. O beb, pode-se dizer, aprpria evidncia da relao psicossomtica. Eleno tem recursos para maniestar o que quer eo que sente. Verbalmente ele no ala ainda, e muito reqente adoecer justamente por noconseguir encontrar essas representaes.

    E, j se sabe, as intervenes na inncia,alm de necessrias, podem ter papel profltico.

    Isso pode ter incio j na relao me-beb. Essaseria inclusive nossa esperana, afrma Volich.Mes mais sensveis, que pudessem sintonizarmelhor com as necessidades das crianas, enten-der o que elas tm e entender qual a parte delas;mes naquilo que a criana est vivendo parasuperar essas difculdades. Na prtica, ele des-creve, isso muitas vezes ocorre. A criana podeestar em atendimento. Mas no momento emque a me, por exemplo, comea uma terapia ouos pais participam de uma terapia amiliar, que a

    >> Para Moromizato

    desde a ase intra-

    uterina, todos os

    eventos so proces-sados pela mente.Os atos so

    interpretados pelo

    consciente como

    positivos ou negati-

    vos e memorizados

    pelo inconsciente.

    A sobrecarga az

    a pessoa fcar

    nervosa, agres-

    siva, e at adoecer,

    alerta o especialista,

    ponderando que

    tambm podemexistir outras causas

    que determinam

    estas doenas. Mas,

    de acordo com os

    meus estudos, e com

    base em anlises

    cientfcas, afrmo

    que entre 80 e

    90% de tudo o que

    ocorre no nosso

    corpo e no nosso

    comportamento conseqncia dos

    atos negativos quefcam gravados em

    nosso inconsci-

    ente. De acordo

    com Moromizato,

    o acmulo de

    inormaes nega-

    tivas pode gerar

    quatro situaes:

    choro, nervosismo

    ou agressividade,

    dependnciade substncias

    ou doenas.

    34 psique cincia&vida

    comum bebssomatizarem eventosao redor. Se os paisfazem terapia, amelhora logo vista

    fotos:shutterstock

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    psique cincia&vida 35psique cincia&vida 35