qualidade fortalece intercâmbio com o exterior · 2015. 4. 14. · truturas de semicondutores, de...

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D urantecerca de 30 anos, pesquisadores e alunos dos quatro departa- mentos do Instituto de Física Gleb Wataghin, na Unicamp, enfrentaram sérias di- ficuldades de trabalho. A falta de investimentos na manutenção dos laboratórios fez acumular uma sé- rie de problemas, como a obsoles- cência da rede elétrica. ''A Infra-Es- trutura dos laboratórios não tinha acompanhado a evolução tecnoló- gica das últimas décadas': afirma Carlos Rettori, coordenador do Grupo de Propriedades Opticas e Magnéticas dos Sólidos do Depar- tamento de Eletrônica Quântica. Era necessário garantir, no mínimo, con- dições adequadas de funcionamen- to de equipamentos computadori- zados, propiciando boa estabilidade de temperatura e de energia. A atualização dos laboratórios exigiu um investimento alto e con- Qualidade fortalece intercâmbio com o exterior Instituto de Física da Unicamp investe em instalações Departamento de Eletrônica Quântica incorporou novas tecnologias tou com o apoio do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP.Durante o período de obras, tudo teve de ser desligado, acarretando prejuízos para o andamento das pesquisas e a Ofldna.de Criogenia No ano passado, o Instituto de Física da Unicamp consumiu mais de 28 mil litros de gás hélio líquido. Boa parte das pesquisas exige baixíssimas temperaturas. No caso dos supercondutores, por exemplo, a temperatura mínima necessária é de 130 graus Kelvin, o equivalente a cerca de 140°C abai- xo de zero. Assim, o líquido refri- gerante (criogênico) é usado para manter esses materiais suficiente- mente frios, condição fundamental para que exibam a superconduti- PESQUISA FAPESP vidade. "Sempre que algum grupo adquire um sistema que requer resfriamento com hélio líquido, nosso consumo aumenta consi- deravelmente': explica Maria José Pompeu Brasil, coordenadora do Centro de Criogenia. Os registros do centro mostram que, ano a ano, o consumo vem aumentando. O apoio do centro é crucial para o andamento das pesquisas em la- boratórios, como os de Heteroes- truturas de Semicondutores, de Materiais Magnéticos e de Super- conclusão das teses dos alunos. Mas, segundo Rettori, valeu a pena espe- rar. "Hoje temos instalações adequa- das, tanto do ponto de vista da quantidade de energia como da se- condutores. Para reduzir os gas- tos com a compra de gás hélio, o Centro de Criogenia reaproveita o gás utilizado pelos laboratórios. Para dar conta da demanda, a ofi- cina teve de passar por uma gran- de reforma, que permitiu ampli- ar a área e readequar as redes elétrica e hidráulica. Foi preciso também adquirir novos equipa- mentos, como um liquefator de hé- lio. Segundo a coordenadora, a aprovação dos projetos pelo Programa de Infra-Estrutura foi fundamental para manter o setor em atividade e expandir a produ- ção de líquidos criogênicos. 9

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Page 1: Qualidade fortalece intercâmbio com o exterior · 2015. 4. 14. · truturas de Semicondutores, de Materiais Magnéticos ede Super-conclusão das teses dos alunos. Mas, segundo Rettori,

Durantecerca de 30 anos,

pesquisadores e alunosdos quatro departa-mentos do Instituto deFísica Gleb Wataghin,

na Unicamp, enfrentaram sérias di-ficuldades de trabalho. A falta deinvestimentos na manutenção doslaboratórios fez acumular uma sé-rie de problemas, como a obsoles-cência da rede elétrica. ''A Infra-Es-trutura dos laboratórios não tinhaacompanhado a evolução tecnoló-gica das últimas décadas': afirmaCarlos Rettori, coordenador doGrupo de Propriedades Opticas eMagnéticas dos Sólidos do Depar-tamento de Eletrônica Quântica. Eranecessário garantir, no mínimo, con-dições adequadas de funcionamen-to de equipamentos computadori-zados, propiciando boa estabilidadede temperatura e de energia.

A atualização dos laboratóriosexigiu um investimento alto e con-

Qualidade fortaleceintercâmbio com o exteriorInstituto de Física da Unicamp investe em instalações

Departamento de Eletrônica Quântica incorporou novas tecnologias

tou com o apoio do Programa deInfra-Estrutura da FAPESP.Duranteo período de obras, tudo teve de serdesligado, acarretando prejuízospara o andamento das pesquisas e a

Ofldna.de CriogeniaNo ano passado, o Instituto de

Física da Unicamp consumiumais de 28 mil litros de gás héliolíquido. Boa parte das pesquisasexige baixíssimas temperaturas.No caso dos supercondutores, porexemplo, a temperatura mínimanecessária é de 130 graus Kelvin, oequivalente a cerca de 140°C abai-xo de zero. Assim, o líquido refri-gerante (criogênico) é usado paramanter esses materiais suficiente-mente frios, condição fundamentalpara que exibam a superconduti-

PESQUISA FAPESP

vidade. "Sempre que algum grupoadquire um sistema que requerresfriamento com hélio líquido,nosso consumo aumenta consi-deravelmente': explica Maria JoséPompeu Brasil, coordenadora doCentro de Criogenia. Os registrosdo centro mostram que, ano a ano,o consumo vem aumentando. Oapoio do centro é crucial para oandamento das pesquisas em la-boratórios, como os de Heteroes-truturas de Semicondutores, deMateriais Magnéticos e de Super-

conclusão das teses dos alunos. Mas,segundo Rettori, valeu a pena espe-rar. "Hoje temos instalações adequa-das, tanto do ponto de vista daquantidade de energia como da se-

condutores. Para reduzir os gas-tos com a compra de gás hélio, oCentro de Criogenia reaproveitao gás utilizado pelos laboratórios.Para dar conta da demanda, a ofi-cina teve de passar por uma gran-de reforma, que permitiu ampli-ar a área e readequar as redeselétrica e hidráulica. Foi precisotambém adquirir novos equipa-mentos, como um liquefator de hé-lio. Segundo a coordenadora, aaprovação dos projetos peloPrograma de Infra-Estrutura foifundamental para manter o setorem atividade e expandir a produ-ção de líquidos criogênicos.

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• FíSICA

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gurança, com bom aterramento eproteção contra raios': diz. Foi o fimdo caos que se instalava nos dias detempestade, quando os raios chega-vam a queimar várias máquinas ecomputadores. O sistema de nobreakacabou com os freqüentes apagões, quedesligavam equipamentos e destruí-am o trabalho de várias semanas. Nafase de preparação de amostras, porexemplo, os materiais geralmenteprecisam passar por um tratamentotérmico de uma semana. "Quandoisso é interrompido, volta-se à estacazero': explica Rettori. Já na etapa deanálise, a medição das propriedadesfísicas dos materiais é feita em equi-pamentos automatizados, previa-mente programados de acordo como tipo de experimento e que precisafuncionar 24 horas por dia. "Se eleentra em colapso, nós perdemos to-das as medições:'

Os recursos do programa tam-bém permitiram a instalação de umsistema de ar-condicionado centralque garantiu o bom funcionamento

Tecnologia doplasma

O Laboratório de Plasma In-dustrial desenvolve aplicações in-dustriais do plasma térmico. Oplasma é obtido com o aqueci-mento de gases a mais de 3.000graus centígrados. Experiênciasem temperaturas tão elevadas erauma tarefa impossível no anti-go laboratório, instalado numdos edifícios do Instituto de FísicaGlebWataghin, da Unicamp. "Nósprecisávamos de um local maisadequado", diz Aruy Marotta.Nos experimentos com plasma, apotência mínima exigi da nosexperimentos é de 10 quilowatts(kW), enquanto os demais labora-tórios consomem no máximo 1kW. Além disso, o laboratóriotem alto consumo de água e de

e conservação adequada dos equi-pamentos. "Temos máquinas muitosofisticadas e sensíveis às variaçõesde temperatura': diz Rettori. É o ca-so do espectrômetro de ressonânciaparamagnética eletrônica para me-didas por microondas, equipamen-to de US$ 1 milhão recentementeadquirido num projeto temático fi-nanciado pela FAPESP. "Um equi-pamento desse porte não poderiaser instalado se não tivéssemos umaboa Infra-Estrutura."

Hoje, os laboratórios operam apleno vapor, desenvolvendo pesqui-sas tanto na análise como no desen-volvimento de novos materiais se-

micondutores, que têm diversasaplicações em tecnologia eletrônicae óptica, e supercondutores.

Parcerias - O intercâmbio com insti-tuições no exterior está cada vezmais fortalecido. O grupo desenvol-ve projetos em conjunto com equi-pes importantes, como a de Los Ala-mos National Laboratory, no NovoMéxico; Florida State University, emTallahassee, Flórida; San Diego StateUniversity, em San Diego, Califór-nia; Rattgers University, Nova [ersey;Ames Laboratory, de Iwoa; Universi-dad Del Pais Vasco, Bilbao, Espanha;e Instituto Balseiro, em Bariloche,

Argentina.A competitividade do

grupo no cenário internacio-nal, segundo Rettori, se deveem boa parte aos recursosdo Programa e aos sucessi-vos projetos temáticos quegarantiram a continuidade eo financiamento das pesqui-sas nos últimos 12 anos. •

chado de água para re-frigeração do laborató-rio, com capacidadepara 55 metros cúbi-cos por hora, sistema degases criogênicos e dear comprimido, a cen-tral de gases e de exaus-tão e até um sistema desegurança com câme-ras, já que o novo labo-ratório fica em local

isolado e sujeito a roubos. Foraminstalados dois transformadores,sendo um de 500 kVAe 440 voltssó para a tocha de plasma. Hoje,Marotta desenvolve projeto emparceria com a Villares MetalsS.A.para a aplicação de uma tochade plasma na produção de aço. Osistema atualmente usado naVillares Metals propicia uma va-riação muito grande na tempe-ratura do metal, o que compro-mete a qualidade do produto.

Instalações especiais para aplicações de plasma

gases, o que requer um sistema deexaustão adequado para evitarriscos de intoxicação. " Sem insta-lações especiais não poderíamosdar prosseguimento ao trabalho,diz Marotta.

A Unicamp solucionou partedo problema cedendo terreno erecursos para a construção deum novo prédio. A outra parteficou por conta do Programa deInfra-Estrutura, que financiou aconstrução de um circuito fe-

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