qualidade do ensino superior 1 parte

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Página 1/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews (www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de Administração de Empresas (autoria: Prof. Flavio Farah, e-mail: [email protected]). Reprodução parcial autorizada mediante citação de autoria. QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR: OS CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS 1ª PARTE – DIAGNÓSTICO Flavio Farah* 1. INTRODUÇÃO O propósito deste trabalho é analisar a qualidade do ensino superior de um ponto de vista centrado nos cursos de Administração de Empresas. Não é finalidade deste estudo, porém, focalizar o aluno e suas condições de aprendizagem, mas sim, as condições de ensino, ou seja, o lado do professor. Esta primeira parte – Diagnóstico – compreende o seguinte conteúdo: no item 2, destacamos um certo fator determinante da qualidade do ensino superior e justificamos a escolha desse fator para estudo. No item 3, analisamos o ensino superior como profissão. No item 4, examinamos a PGES – pós-graduação estrito senso – como formadora de docentes universitários e no item 5, os cursos de pós-graduação lato senso em magistério do ensino superior. No item 6, escrutinamos as condições em que se realiza a prática docente e no item 7, alinhamos as conclusões pertinentes. Daqui por diante, usaremos a sigla IES em substituição à expressão instituições de ensino superior. 2. O FATOR DETERMINANTE DA QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR Não constitui preocupação deste trabalho conceituar a qualidade do ensino superior de modo amplo, mas sim, destacar e estudar um particular fator que determina essa qualidade. Qual é, pois, o fator determinante da qualidade do ensino superior para os fins do presente estudo? Na Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI, da UNESCO, a qualidade em educação superior foi definida da seguinte forma: “A qualidade em educação superior é um conceito multidimensional que deve envolver todas as suas funções e atividades: ensino e programas acadêmicos, pesquisa e fomento da ciência, provisão de pessoal, estudantes, edifícios, instalações, equipamentos, serviços de extensão à comunidade e o ambiente acadêmico em geral. Uma auto-avaliação interna transparente e uma revisão externa com especialistas independentes, se possível com reconhecimento internacional, são vitais para assegurar a qualidade. Devem ser criadas instâncias nacionais independentes e definidas normas comparativas de qualidade, reconhecidas no plano internacional. Visando a levar em conta a diversidade e evitar a uniformidade, deve-se dar a devida atenção aos contextos institucionais, nacionais e regionais específicos. Os protagonistas devem ser parte integrante do processo de avaliação institucional.”(1) Esse conceito é demasiadamente amplo para os propósitos do presente estudo, pois abrange todas as atividades inerentes a uma universidade. O que interessa discutir aqui não é a qualidade da educação superior em geral, mas tão somente a qualidade do ensino. Vamos, então, formular um outro ponto de partida para estreitar o foco. Toda organização é criada com um propósito, ou seja, é criada para alcançar certos objetivos, para produzir determinados resultados. Pode-se considerar que qualquer organização é constituída dos seguintes elementos: - Quadro de agentes. É o conjunto dos membros da organização com suas respectivas qualificações; - Infra-estrutura física. Constituída pelos prédios, instalações, máquinas, equipamentos, ferramentas e instrumentos de trabalho utilizados pelos membros da organização; - Estrutura organizacional. É o conjunto de atividades – denominado papel organizacional – que cada membro da organização desempenha;

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Pgina 1/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR:OS CURSOS DE ADMINISTRAO DE EMPRESAS 1 PARTE DIAGNSTICOFlavio Farah* 1. INTRODUO Opropsitodestetrabalhoanalisaraqualidadedoensinosuperiordeumpontodevista centradonoscursosdeAdministraodeEmpresas.Nofinalidadedesteestudo,porm, focalizar o aluno e suas condies de aprendizagem, mas sim, as condies de ensino, ou seja, o lado do professor. Esta primeira parte Diagnstico compreende o seguinte contedo: no item 2,destacamosumcertofatordeterminantedaqualidadedoensinosuperiorejustificamosa escolha desse fator para estudo. No item 3, analisamos o ensino superior como profisso. No item 4,examinamosaPGESps-graduaoestritosensocomoformadoradedocentes universitriosenoitem5,oscursosdeps-graduaolatosensoemmagistriodoensino superior. No item 6, escrutinamos as condies em que se realiza a prtica docente e no item 7, alinhamosasconclusespertinentes.Daquipordiante,usaremosasiglaIESemsubstituio expresso instituies de ensino superior. 2. O FATOR DETERMINANTE DA QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR Noconstituipreocupaodestetrabalhoconceituaraqualidadedoensinosuperiordemodo amplo,massim,destacareestudarumparticularfatorquedeterminaessaqualidade.Qual, pois, o fator determinante da qualidade do ensino superior para os fins do presente estudo? NaDeclaraoMundialsobreEducaoSuperiornoSculoXXI,daUNESCO,aqualidadeem educao superior foi definida da seguinte forma: Aqualidadeemeducaosuperiorumconceitomultidimensionalquedeveenvolvertodasas suasfuneseatividades:ensinoeprogramasacadmicos,pesquisaefomentodacincia, provisodepessoal,estudantes,edifcios,instalaes,equipamentos,serviosdeextenso comunidadeeoambienteacadmicoemgeral.Umaauto-avaliaointernatransparenteeuma reviso externa com especialistas independentes, se possvel com reconhecimento internacional, sovitaisparaasseguraraqualidade.Devemsercriadasinstnciasnacionaisindependentese definidasnormascomparativasdequalidade,reconhecidasnoplanointernacional.Visandoa levar em conta a diversidade e evitar a uniformidade, deve-se dar a devida ateno aos contextos institucionais,nacionaiseregionaisespecficos.Osprotagonistasdevemserparteintegrantedo processo de avaliao institucional.(1) Esseconceitodemasiadamenteamploparaospropsitosdopresenteestudo,poisabrange todas as atividades inerentes a uma universidade. O que interessa discutir aqui no a qualidade da educao superior em geral, mas to somente a qualidade do ensino. Vamos, ento, formular um outro ponto de partida para estreitar o foco. Todaorganizaocriadacomumpropsito,ouseja,criadaparaalcanarcertosobjetivos, paraproduzirdeterminadosresultados.Pode-seconsiderarquequalquerorganizao constituda dos seguintes elementos: -Quadrodeagentes.oconjuntodosmembrosdaorganizaocomsuasrespectivas qualificaes; -Infra-estruturafsica.Constitudapelosprdios,instalaes,mquinas,equipamentos, ferramentas e instrumentos de trabalho utilizados pelos membros da organizao; - Estrutura organizacional. o conjunto de atividades denominado papel organizacional que cada membro da organizao desempenha; Pgina 2/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. - Processo. um conjunto de papis organizacionais, integrado segundo certas normas que determinam o modo como esses papis devem ser desempenhados. Qualquer organizao possui vrios processos. Os membros da organizao usam a infra-estrutura fsica para colocar em marcha os processos e,assim,produzirosresultadosesperadospelaorganizao.EmumaIES,pode-sedizer que o principalprocessooensino,quetemaaprendizagemcomoresultadoprincipalesperado.Os docentes de uma IES usam a infra-estrutura fsica da instituio para operar o processo de ensino com o objetivo de produzir aprendizagem. Disso resulta que a aprendizagem condicionada por trs fatores: (a) infra-estrutura fsica da instituio; (b) qualificao formal de seus docentes, aqui entendidacomotitulaoe/ouexperinciaprofissional;e(c)qualificaomaterialdosmestres, isto , pela competncia no uso de mtodos e tcnicas de ensino. Dentreessestrsfatores,oqueserdiscutidonopresenteestudotosomenteoterceiro: mtodos e tcnicas de ensino. Por que esse fator e apenas esse? Pelos seguintes motivos: 1.A UNESCO declara que para atingir e manter a qualidade nacional, regional ou internacional, certoscomponentessoparticularmenterelevantes,principalmenteaseleocuidadosaeo treinamento contnuo de pessoal, particularmente a promoo de programas apropriados para oaperfeioamentodopessoalacadmico,incluindoametodologiadoprocessodeensinoe aprendizagem ....(2) 2.Em 2006, do total de matrculas nos cursos de graduao presenciais, 61% eram do perodo noturno.Essendiceeradecercade70%e75%nasIESprivadaseparticulares, respectivamente.Emoutraspalavras,cercadetrsquartosdosalunosdasinstituies particulares estudam noite. Coloca-se como hiptese que uma das principais caractersticas do aluno que estuda noite e trabalha durante o dia(3) a menor disponibilidade de tempo e a menor disposio para realizar, de forma autnoma, atividades de estudo fora da sala de aula. Por esse motivo, o aluno do perodo noturno, para aprender, depende fortemente de sua interaocomoprofessor.Emtaiscondies,osmtodosetcnicasdeensinoassumem, paraoestudantedoperodonoturno,importnciamaiordoqueainfra-estruturafsicada instituio. 3.DentreosestudantesqueparticiparamdoENADE2006,73%declararamqueamaioriade seusprofessoresutilizaaaulaexpositivacomotcnicadeensinopredominante.Parase entenderoqueistosignificaemtermosdequalidadedoensino,precisorecordarque, historicamente, a didtica passou por trs grandes etapas: 1) ensino verbalista;2) ensino intuitivo;3) ensino ativo. O ensino verbalista, tambm chamado de ensino pela palavra, foi o primeiro estilo de ensino de toda a Histria do homem e vem sendo praticado h milhares de anos. Esse estilo ainda usado,sendohojerepresentadopelasaulasexpositivas.Oensinoverbalistabaseia-sena ideia de que ensinar significa transmitir conhecimentos, como se o professor pudesse conectar umcaboentreseucrebroeocrebrodosestudantesedespejartudoqueelesabenas mentesdosalunos.Seissoforverdade,entoosestudantesnoprecisarofazernada, bastar que fiquem atentos, permanecendo em posio passiva: o professor fala e os alunos escutam. Transmisso deconhecimentos,porm,noexiste.umengano. Oprocesso de aprendizagemmuitodiferente.Apedagogiamodernajdemonstrouque,parahaver aprendizagem, necessrio que o aluno atue sobre o contedo. Em outras palavras, s existe aprendizagemquandooalunorealizaumaatividadearespeitodotemaqueestsendo lecionado. Atualmente, existe um certo consenso de que as aulas expositivas so adequadas apenas em certas circunstncias bem especficas. Isto nos leva terceira etapa da didtica, o chamado ensino ativo. Praticar o ensino ativo significa reduzir ao mnimo a parte expositiva e Pgina 3/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. aumentar ao mximo as atividades realizadas pelos alunos, tais como exerccios e estudos de caso.Dentrodaperspectivadoensinoativo,umaboaaulaaquelaemqueosalunos trabalham e o professor orienta. Alm de mais eficaz, o ensino ativo bem mais interessante e agradvel para os alunos do que as aulas passivas, nas quais eles no fazem nada. Conclui-se,pois,que,ajulgarpeloqueresponderamosparticipantesdoENADE2006,a maioria dos professores utiliza, predominantemente, uma tcnica de ensino pouco eficaz. 4.Nofinalde2002einciode2003,foifeitaumapesquisacomumaamostrade283alunos evadidosdeumaIESsituadanaRegioSuldoBrasil.(4)Osentrevistadosdeclararamquais osaspectosdefuncionamentodainstituioqueprecisavamsercorrigidosparamelhorara qualidade.OitemmaiscitadopelosestudantesfoiMetodologiadasaulas,com48%de menes,vindoaseguirComunicaointernaeexternaeCorpodocente,amboscom 46% de citaes cada um. No mesmo estudo, os alunos tambm declararam quais os elementos que contribuem para a boaqualidadedeumcursodegraduao.OmaiscitadofoiContarcomprofessorescom grandecapacidadedetransmissodeconhecimentos,por76%dosentrevistados.Oitem seguintefoiPossuirtimainfra-estruturadelaboratrios,equipamentosebiblioteca,com 50%decitaes,eSerreconhecidonomeioacadmicocomoumcursodeboaqualidade, mencionado por 39% dos entrevistados.(5) Os entrevistados declararam ainda as razes pelas quais se evadiram. As trs mais importantes foram, pela ordem: questes pessoais, problemas financeiros e deficincia didtico-pedaggica dos professores.(6) Os dados, portanto, sugerem que:(a)osalunospercebemadeficinciadidtico-pedaggicadosprofessores,sendoessa deficincia uma causa importante de evaso; b) para os entrevistados, os mtodos e tcnicas de ensino so mais importantes do que as instalaes fsicas da instituio; (c) quanto piores foremosmtodos/tcnicasdeensino,tantomenorserosacrifciofinanceiroqueos estudantes estaro dispostos a fazer para continuar os estudos. 5.Foirealizadoumestudocom16cursosde graduaoemCinciasContbeisoferecidospor IES situadas no norte de um dos estados do Sul do Pas.(7) O objetivo do estudo era aferir a qualidade do ensino de Cincias Contbeis, considerando-se os resultados do ENC Exame NacionaldeCursos(posteriormenteENADE)edoESExamedeSuficinciainstitudo peloCFC(ConselhoFederaldeContabilidade).Oautordoestudoformuloutrshipteses, dentre as quais: Hiptese2Osmotivosdaqualidadeinsuficientedoensinocontbilsoaformao acadmica, a formao profissional e o regime de trabalho (horista) do corpo docente. Em relao a essa hiptese, as concluses do autor foram as seguintes: A Hiptese 2 foi confirmada parcialmente. Nos doze cursos que no alcanaram conceitos AeBemnenhumadasduasediesdoENC/ENADEequetambmobtiveramndicesde reprovao de mais de 40% no ES, todos os respectivos docentes possuem ps-graduao. O mesmo foi verificado quanto formao profissional, pois 60% dos professores que atuam nos referidoscursospossuemoutrasatividadesprofissionaisalmdadocncia.Aformao acadmicadocorpodocente,bemcomosuaexperinciaprofissional,portanto,noforam suficientes para assegurar uma boa qualidade do ensino. O autor, ento, concluiu que a causa maissignificativadoproblemaoregimedetrabalhodosprofessores. Noexplicou,porm, como chegou a essa concluso. O fato de o autor no fornecer dados sobre o regime de trabalho dos docentes sugere que ele nobuscouessesdados.Senoosbuscou,desesuporqueelenoconsiderava importante esse fator. Em outras palavras, o autor esperava que a baixa qualidade de ensino dos cursos pesquisados fosse explicada pela falta de formao acadmica ou de experincia profissionaldosprofessores.Elesupsque,seocorpodocentefossetituladooupossusse Pgina 4/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. experinciaprofissionalnarea,istodeveriasersuficienteparagarantirumasatisfatria qualidadedeensino,mastalnoseverificou.Porque,ento,oautorsupsqueacausa deveria ser o regime de trabalho dos professores se, no texto do estudo, no constam dados sobreessefator?Talvezeletenhasidoinfluenciadopelaopiniodoscoordenadoresdos cursos.Emoutrapartedotrabalho,oautorbuscouaopiniodoscoordenadoressobreas causasdosmausresultadosobtidospelosalunos.Dosdezesseisgestores,cinco(33%) citaram o regime de trabalho dos docentes como causa desses resultados. Acausadoproblemadoscursosde graduaoemCinciasContbeispoderiaseroregime horistadetrabalhodosrespectivosprofessoresmaspoderiasertambmsuafaltade competnciapedaggica,apesardeseremtituladosedeexerceremprofissionalmentea atividadecontbil.Essahiptesenofoicontempladapeloautordotrabalhoemquesto,o que sugere que esse fator talvez esteja sendo negligenciado pelos estudiosos da qualidade do ensino superior. Concluso Consideramosqueaqualidadedoensinodepende:(a)dainfra-estruturafsicadaIES;(b) da qualificaodeseusdocentes,entendidacomotitulaoe/ouexperinciaprofissional;e(c) de sua capacidade no uso de mtodos e tcnicas de ensino. Dentre esses trs fatores, destacamos o ltimo para estudo porque: a)oaperfeioamentodametodologiadoprocessodeensinoeaprendizagemfoiconsiderado particularmente relevante pela UNESCO; b)colocamos como hiptese que o aluno que estuda noite, e que constitui a maioria, depende fortemente de sua interao com o professor para aprender. Em tais condies, o processo de ensino-aprendizagem assume importncia maior do que a infra-estrutura fsica da instituio; c)amaioriadosprofessorescontinuaautilizar,comotcnicadeensinopredominante,aaula expositiva, um mtodo didtico adequado apenas em umas poucas situaes; d)as pesquisas sugerem que, para os alunos: (a) o fator que mais contribui para a boa qualidade de um curso de graduao a competncia pedaggica dos professores; (b) uma das maiores deficincias das IES, seno a maior, est na metodologia de ensino; (c) depois das questes pessoais (decepo com o curso, por exemplo) e dos problemas financeiros, o principal motivo de evaso do estudante universitrio est na deficincia didtico-pedaggica dos professores; e)as pesquisas sugerem que nem a titulao do docente nem o fato de este exercer a atividade que leciona garantem a qualidade do ensino; f)a possvel falta de competncia pedaggica dos docentes um fator que talvez esteja sendo negligenciado pelos estudiosos da qualidade do ensino superior. Essas so as razes pelas quais, ao falarmos da qualidade do ensino universitrio, concentramo-nosnosmtodospedaggicoscomofatordeterminantedessaqualidade.Falaremmtodose tcnicaspedaggicas,porm,impe-nosaobrigaodeexaminaraformaodoprofessor universitrio. 3. DOCENTE DO ENSINO SUPERIOR: UMA PROFISSO? Aoabordaraformaodoprofessoruniversitrio,aprimeiraperguntaaserfeita:oprofessor universitrio precisa formar-se? Em outras palavras, professor universitrio uma profisso? Pgina 5/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. Profisso qualquer atividade remunerada exercida habitualmente por uma pessoa. Existem duas grandescategoriasdeprofisso:a)tcnica;b) notcnica.Atividadetcnicaaquelaque demanda a aplicao de mtodos especializados. A atividade tcnica envolve a aplicao de uma metodologia rigorosa, ou seja, o uso de procedimentos formais que no fazem parte do corpo de conhecimentoscomunsnemsoensinadosnoscursosregularesdoensinofundamentalou mdio,devendoseradquiridoseminstituiesprpriaspormeiodecursosespecializados.A atividade tcnica consiste na operacionalizao do conhecimento cientfico, permitindo aplicaes prticasquedecorremdeumateoria.Oindivduoexercentedeumaatividadetcnicapeem prticamtodosqueestoorganizadosdeformasistemticaequesebaseiamem conhecimentos cientficos. O ofcio de professor universitrio envolve a execuo de atividades tcnicas que consistem na aplicao de mtodos e tcnicas didticas derivados de conhecimentos contidos em cincias, tais como a Psicologia da Aprendizagem, ou seja, a docncia de nvel superior envolve a aquisio e a aplicaodeconhecimentoscientficos.Istonoslevaaconcluirqueprofessoruniversitrio umaprofisso,eumaprofissotcnicadenvelsuperior.Emtaiscondies,paraexercera docncia, o professor universitrio precisa formar-se. Esclarecidaanaturezatcnico-profissionaldaatividadedoprofessoruniversitrio,apergunta seguinte : o ensino de nvel superior uma profisso regulamentada? Profisso regulamentada aquela regida por uma legislao prpria que, em geral: define o nome oficial da profisso; estabelece as atribuies e prerrogativas do profissional; institui um rgo de fiscalizao do exerccio profissional; defineospr-requisitosparaoexercciodaprofisso,entreelesapossedodiploma profissional e a inscrio no rgo citado no item anterior; fixa as penalidades administrativas pelo exerccio ilegal da profisso. Asprofissesregulamentadas,emgeral,tambmpossuem,cadaqual,umCdigodeticaque regulaosdevereseproibiesaqueosmembrosdarespectivaprofissoestosujeitos.Esse Cdigo costuma ser editado pelo rgo que fiscaliza o exerccio da profisso. Faceaessascaractersticas,conclui-sequeaprofissodeprofessoruniversitriono regulamentada, pois: no h legislao especfica que regule o exerccio do magistrio superior; a profisso no possui nome oficial; noexistecursoqueconfiraodiplomadeprofessoruniversitriooudedocentedoensino superior,noseexigindo,comoconsequncia,oreferidodiplomaparaoexerccioda profisso; no existem rgos de fiscalizao do exerccio profissional; no existem pr-requisitos fixados em lei para o exerccio da profisso; no existem penalidades pelo exerccio ilegal da profisso. Assim,considerandoque,porumlado,osprofessoresuniversitriosprecisamformar-separa exerceradocnciaemnvelsuperiore,poroutro,quenohcursosqueconfiramodiploma correspondente,perguntamos:Comopodem,ento,essesdocentesformarem-secomotais?A nossover,existemtrscandidatosaopostodeformadoresdedocentesdenvelsuperior:a) o curso de Pedagogia; b) a PGES ps-graduao estrito senso; c) o curso de ps-graduao lato sensoemmagistriodoensinosuperior.Destes,descartamoslogodesadaoprimeiroporter foconaeducaobsica.Restaanalisarosdoisltimos.Noprximoitem,portanto,ser examinada a PGES como formadora de professores universitrios. Pgina 6/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. 4.AFORMAODOSPROFESSORESUNIVERSITRIOSEAPS-GRADUAOESTRITO SENSO Neste item, vamos tentar responder duas questes: 1) a finalidade da PGES formar professores universitrios? 2) Independentemente de sua razo de ser, a PGES forma, de fato, docentes para o ensino superior? Para responder a primeira pergunta, vamos investigar a legislao pertinente. 4.1 A legislao da ps-graduao estrito senso ALDBLeideDiretrizeseBasesdaEducaoNacional(Lei9394/96)nodistingueentre graduao e ps-graduao quando trata do ensino superior. Em seu art. 43, a Lei dispe sobre as finalidades da educao superior: Art. 43. A educao superior tem por finalidade: I-estimularacriaoculturaleodesenvolvimentodoespritocientficoedopensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes reas de conhecimento, aptos para a insero em setores profissionais e para a participao no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formao contnua; III-incentivarotrabalhodepesquisaeinvestigaocientfica,visandoodesenvolvimentoda cinciaedatecnologiaedacriaoedifusodacultura,e,dessemodo,desenvolvero entendimento do homem e do meio em que vive; IV-promoveradivulgaodeconhecimentosculturais,cientficosetcnicosqueconstituem patrimniodahumanidadeecomunicarosaberatravsdoensino,depublicaesoudeoutras formas de comunicao; V-suscitarodesejopermanentedeaperfeioamentoculturaleprofissionalepossibilitara correspondenteconcretizao,integrandoosconhecimentosquevosendoadquiridosnuma estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada gerao; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar servios especializados comunidade e estabelecer com esta uma relao de reciprocidade; VII-promoveraextenso,abertaparticipaodapopulao,visandodifusodas conquistasebenefciosresultantesdacriaoculturaledapesquisacientficaetecnolgica geradas na instituio. O artigo 43 define genericamente as finalidades da educao superior sem fixar especificamente os fins da PGES. Por outro lado, as modalidades de educao superior so fixadas no art. 44 da LDB: Art. 44. A educao superior abranger os seguintes cursos e programas: I-cursossequenciaisporcampodesaber,dediferentesnveisdeabrangncia,abertosa candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituies de ensino; II - de graduao, abertos a candidatos que tenham concludo o ensino mdio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; Pgina 7/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. III-deps-graduao,compreendendoprogramasdemestradoedoutorado,cursosde especializao,aperfeioamentoeoutros,abertosacandidatosdiplomadosemcursosde graduao e que atendam s exigncias das instituies de ensino; IV - de extenso, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituies de ensino. Oart.44,caput,dispequeaeducaosuperiorabrangecursoseprogramas,definindo,em seu inciso III, que a ps-graduao compreende programas de mestrado e doutorado. A pouco clararedaodaLDBdeixadvidassobreostatusdaPGES:seumcursoouumsimples programa. Qual seria, porm, a diferena entre ambos? Nombitodoensinosuperior,cursoumconjuntodedisciplinasdeformaoprofissionalque levamobtenodeumdiplomaqueestsujeitoaregistronosrgosdefinidosemlei.Os cursossuperiorestmcargahorriamnima,estoabertosacandidatosqueatendamaos requisitospr-estabelecidosnalegislaoeestosujeitosaprocessosdeautorizao, reconhecimento e renovao de reconhecimento, com procedimentos especficos que garantam a qualidadedoensino.Nocasodoscursosdeps-graduao,osrespectivoscandidatostmsua admissocondicionada possedeumdiploma degraduao.Emresumo,cursosuperiorum tiporegulamentadodeensino,enquantoprogramadeeducaosuperiorumamodalidadede ensino no regulamentada cuja qualidade no se pode garantir. A distino entre ambos, portanto, relevante. No obstante a dvida deixada pelo art. 44 da LDB, a Cmara de Educao Superior do Conselho Nacional de Educao baixou a Resoluo CNE/CES n 1, de 3 de abril de 2001, que estabelece normasparaofuncionamentodecursosdeps-graduao.Essaresoluo,emseuart.1, caracteriza a PGES como um curso que compreende programas de mestrado e doutorado. Continuando a anlise da LDB, seu art. 66 dispe: Art.66.Apreparaoparaoexercciodomagistriosuperiorfar-se-emnveldeps-graduao, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Oart.66definequeafinalidadedomestradoedodoutoradoprepararparaomagistrio superior.Comredaoimprecisa,esseartigonoafirmacategoricamentequeafinalidadedo mestrado e do doutorado formar professores universitrios. Ademais, de acordo com o referido dispositivolegal,apreparaodosdocentesnohdeserfeitaexclusivamentenessescursos, massim,prioritariamente.Istosignificaqueoutroscursospodemserviraopreparode professores para o magistrio superior. Outro preceito da LDB, o art. 52, dispe: Art.52.Asuniversidadessoinstituiespluridisciplinaresdeformaodosquadros profissionais de nvel superior, de pesquisa, de extenso e de domnio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: I (...)IIumterodocorpodocente,pelomenos,comtitulaoacadmicademestradoou doutorado; III (...) Ocaputdoart.52defineosfinsdasuniversidades,mencionandoexplicitamenteaformaode profissionaisdenvelsuperioredepesquisadores.Surpreendentemente,porm,dentreas finalidades das instituies universitrias, no consta, de modo explcito, a formao de docentes para o ensino superior. Pgina 8/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. O inciso II do mesmo art. 52 estabelece que as universidades devem possuir no mnimo um tero docorpodocentecomdiplomademestradooudoutorado.Istosignificaquedoisterosdos professoresdessasinstituiespodemserconstitudosdedocentessemqualquerttulodeps-graduao,isto,deprofessoressimplesmentegraduados,portantosemformaodocente especfica.Nocasodasinstituiesnouniversitriasdeensinosuperior,aLDBaindamais leniente, no exigindo nenhum tipo de formao pedaggica para seu quadro de professores. Concluso Anossover,asimprecises,omisseseindecisesdaLDBvistasacimadeixamemsituao incerta a formao de professores universitrios, pois a lei no colocou categoricamente a PGES como formadora de docentes para o ensino superior. 4.2 Os cursos de mestrado e doutorado SeaLDBnoafirmaclaramentequeoscursosdePGESdevemformarprofessores universitrios,cabeperguntar:oscursosdePGESformam,defato,pesquisadoresedocentes paraoensinosuperior,apesardasdeficinciasdalei?Vamostentarresponderessapergunta analisandooscursosdePGESemAdministraodeEmpresasdetrsrenomadasinstituies paulistas. 4.2.1 Instituio A Mestrado OcursodemestradodaInstituioAtemporobjetivopreparardocentes,pesquisadorese profissionaisreflexocientficasobretemasatuaisdaAdministrao,estimulandoodomnio dessa cincia e de suas ferramentas analticas. O curso, que tem durao mxima de 2,5 anos (5 semestres), apresenta as seguintes disciplinas obrigatrias: Mtodos de pesquisa; Mtodos quantitativos de pesquisa; Teoria das organizaes; Estratgia. Na relao acima, salta aos olhos a completa ausncia de disciplinas pedaggicas. Em relao reademetodologiacientfica,adisciplinaMtodosdePesquisaexplicitaalgunsdos procedimentos quantitativos de pesquisa mais utilizados nas cincias sociais, de modo a fornecer aosalunosinstrumentosqueosajudemaelaborar seusprojetosdedissertao.Poroutrolado, MtodosQuantitativosdePesquisa,naverdade,umadisciplinadeestatsticadestinadaa desenvolver a capacidade de anlise estatstica de dados. Considerandoque,atofinaldo3semestre,oalunotemqueapresentarsuapropostade dissertao,conclui-seque,provavelmente,anicapesquisaqueelefarduranteocurso,se fizer, ser aquela relativa dissertao. Doutorado O curso de doutorado, por sua vez visa preparar profissionais para a reflexo cientfica sobre os temasatuaisdaAdministrao,estimulandoodomniodessacinciaedesuasferramentas analticas, com um diferencial: a nfase na atividade de pesquisa e o direcionamento busca de novas contribuies para o conhecimento. Nodoutoradotambmnoexistemdisciplinaspedaggicas,eanicadisciplinametodolgica obrigatriaMtodosQualitativosdePesquisa,quetemporobjetivooaprofundamentoda discussosobrequestesreferentesaousodapesquisaqualitativanocampodascincias Pgina 9/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. sociais.Nessecurso,quetemduraomximade4,5anos(9semestres),oalunotemque apresentar sua proposta de tese at o final do 5 semestre. O processo seletivo da Instituio A consta de duas etapas: 1) teste ANPAD; 2) apresentao de documentos e entrevista com a banca de seleo. Como no existem critrios pr-definidos para abancadeseleojulgaroscandidatos,oprocessotorna-senotransparente,noexistindo, assim, garantia de que seja justo. Outra observao quanto ao processo seletivo que, dos candidatos ao doutorado, no se exige nenhumdocumentoquecomprovequalificaoparaadocncianemselhesaplicaalgumteste prtico de didtica. Isto significa que qualificao para a docncia no um critrio de avaliao dos candidatos a esse curso. A concluso a que se chega que, nos cursos de mestrado e doutorado da Instituio A, o aluno no adquire formao docente, pela absoluta ausncia de disciplinas pedaggicas. Considerando-se, ainda, que as disciplinas metodolgicas so tericas, e que o aluno, logo aps iniciar o curso, v-seobrigadoamergulharnaelaboraodadissertao/tese,somosforadosaconcluir tambm que esses cursos no formam pesquisadores habilitados. 4.2.2 Instituio B Mestrado OCursodeMestradoemAdministraodeEmpresasdaInstituioBtemporobjetivoformar professorescomhabilidadesnautilizaodametodologiacientfica,motivadosainvestigar fenmenosefatosdarealidadedaAdministrao,comvisoestratgicaeintegradora,que busquem o auto-aprendizado contnuo. As disciplinas obrigatrias so:Anlise de Decises Financeiras; Elementos do Comportamento Organizacional; Estudos e Anlise Organizacional; Metodologia do Trabalho Cientfico; Planejamento Estratgico. Nota-se igualmente a ausncia de disciplinas pedaggicas, bem como a presena de uma nica disciplina metodolgica, denominada Metodologia do Trabalho Cientfico. Por outro lado, estranho que o objetivo desse curso seja formar professores com habilidades nautilizaodametodologiacientfica.Quemdeveriaterhabilidadesemmetodologiacientfica soospesquisadores.Poroutrolado,seoobjetivodocursoformarprofessores,entoas habilidades pertinentes deveriam ser as didtico-pedaggicas. A impresso que se tem a de que existeumaindecisosobreoqueprivilegiar:formaodeprofessoresxformaode pesquisadores. Doutorado OCursodeDoutorado,porsuavez,temcomoobjetivoformarpesquisadorescomprofundae excelentebasecientfica,comprometidoscomagerao,atransmissoeafacilitaodo processodeaprendizagemdenovosconhecimentossobreastecnologiasavanadasdegesto empresarial, visando contribuir para o desenvolvimento econmico do pas. As disciplinas obrigatrias so: Competitividade Empresarial; Pgina 10/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. Ensino em Administrao; Epistemologia e Trabalho Cientifico; Mtodos Qualitativos de Pesquisa em Administrao; Mtodos Quantitativos de Pesquisa em Administrao. Percebe-seumacertaincoernciaentreosobjetivosdoscursoseasrespectivasdisciplinas.O mestradodeclaraserseuobjetivoaformaodeprofessores,masnocontmdisciplinas pedaggicas.Jodoutoradoenfatizaaformaodepesquisadores,masincluiumadisciplina pedaggica denominada Ensino em Administrao. deseressaltaradeclaraodaInstituiodequeoobjetivododoutoradoformar pesquisadores(...)comprometidoscoma gerao,atransmissoea facilitaodoprocessode aprendizagem de novos conhecimentos (...). Essa declarao sugere que a Instituio B acredita noserdifcilformarcientistascapazesdelecionaroconhecimentocomamesmacompetncia com que o produzem. Oprocessoseletivodocursodedoutoradoincluiumaprovadehabilidadesemprojetosde pesquisa,na qualocandidatorecebeum temanalinhadepesquisa queescolheu,parao qual terquedesenvolverumpr-projetodepesquisaquecumpraopadrodeumdoutorado.Isto significa que, no processo seletivo, o candidato deve demonstrar proficincia em metodologia de pesquisa.Masissonodeveriaserpr-requisitoparaadmissoaocurso,umavezque capacitaoempesquisa,supostamente,constituioprprioobjetivodocurso.Outroparadoxo queoprocessoseletivododoutoradodaInstituioBexigedoscandidatosumahabilidadeem pesquisa que no fornecida pelo mestrado da mesma instituio. Oprocessoseletivotambmincluiumaentrevistaquetempesoiguala30%nanotafinaldos candidatos.Trata-seigualmentedeumaetapacujoscritriosdeavaliaosodesconhecidos. Novamente,noseexigedoscandidatosaodoutoradonenhumdocumentoquecomprove qualificao para a docncia nem se lhes aplica algum teste prtico de didtica. Qualificao para a docncia, portanto, nada significa em termos de avaliao dos candidatos a esse curso. Concluso:naInstituioB,ocursodemestradonoformaprofessoresnempesquisadores.O cursodedoutoradotambmnoformapesquisadores,poisorespectivoprocessoseletivo configurado de tal forma que so admitidos apenas candidatos j proficientes em metodologia de pesquisa, mas cuja proficincia no pode ser adquirida no mestrado da instituio. 4.2.3 Instituio C Mestrado OcursodemestradodaInstituioCtemporobjetivoiniciaraformaodeseusalunosnas atividades de pesquisa e docncia em Administrao. As disciplinas obrigatrias so: Metodologia de Pesquisa Aplicada Administrao I; Didtica do Ensino em Administrao; Monitoria Didtica I. Existe uma disciplina pedaggica nesse curso: Didtica do Ensino em Administrao. Quando se inspeciona o plano da disciplina, porm, constata-se vrios aspectos questionveis: 1) o programa compe-se de apenas doze aulas, a serem ministradas em trs meses, sendo que, das doze aulas, seis correspondem a seminrios e seis a sesses de microensino. Parece claro, portanto,quesetratadeumprogramainsuficienteparaformarumprofessordotadode competncias didtico-pedaggicas;Pgina 11/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. 2)ousodoseminriocomoestratgiadeaprendizagemdecaptulosdoprogramaparece incoerente, pois, em uma disciplina de didtica, a tcnica do seminrio deveria ser exatamente um dos tpicos a serem ensinados aos alunos; 3)Osobjetivosdeclaradosdadisciplinasopossibilitarqueoaluno:a)incorporeconceitos fundamentaisemDidticadoEnsinoSuperior;b)conheaasestratgiasbsicasdeensinoe saiba escolher entre elas em momentos de necessidade na prtica; c) passe por um treinamento didticoprticoquepossarevelar-lhesuasprincipaispotencialidadescomoprofessor.Parece, pois,queoobjetivodadisciplinanopermitirqueoalunoadquiracompetnciasdidtico-pedaggicas, mas apenas revelar-lhe suas principais potencialidades como professor. No campo metodolgico, consta a disciplina Metodologia de Pesquisa Aplicada Administrao I. Emboraorespectivoprogramasejabastantecompleto,aduraodocursolimitadaaum semestre letivo. Doutorado O curso de doutorado, por sua vez, tem por objetivo aprofundar a formao de seus alunos nas atividades de pesquisa em administrao. As disciplinas obrigatrias so: Metodologia de Pesquisa Aplicada Administrao I; Didtica do Ensino em Administrao; Monitoria Didtica II. As disciplinas so as mesmas do mestrado? Sim e no. As duas primeiras so oferecidas apenas paraalunosdedoutoradoquenopossuamottulodemestre.Odoutorandoquejformestre cursar apenas a disciplina Monitoria Didtica II. Outro paradoxo: embora o objetivo do curso seja aprofundar a formao dos alunos em pesquisa, aparentementenoexistenenhumadisciplinadeaprofundamento,querdentreasobrigatrias, quer dentre as eletivas. O processo seletivo, tanto para o mestrado quanto para o doutorado, consta de trs etapas, todas eliminatrias: 1) provas; 2) avaliao da documentao do candidato pela comisso de seleo; 3) entrevista. A documentao a ser apresentada pelo candidato na segunda etapa consta de: currculo Lattes; histricoescolardocursodegraduao(paraomestrado)etambmdocursodeps-graduao (para o doutorado); projeto da dissertao de mestrado (mestrado) ou da tese de doutorado (doutorado); cpias de publicaes. Aprimeiraobservaoquenoexistemcritriospr-definidos,querparaclassificara documentao apresentada na segunda etapa, quer para classificar os candidatos por ocasio da entrevista. No sendo o processo transparente, no se pode verificar se justo. A segunda observao que se exige do candidato ao mestrado a apresentao prvia do projeto dadissertao.Mas,emsetratandodeumtrabalhoacadmicodeps-graduao,noseria objetivodocursoexatamentecapacitaroalunoaelaborarumtaltrabalho?Seistoforverdade, por que exigir do candidato uma habilidade que ele no tem obrigao de possuir? A terceira observao que se exige do candidato ao doutorado a apresentao prvia do projeto de tese, que deve prever obrigatoriamente um teste de hiptese. Mas, pelo que foi visto at aqui, Pgina 12/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. pouco provvel que o candidato tenha adquirido capacitao em pesquisa no mestrado. Assim, a menos que o pretendente tenha adquirido essa capacitao por outro meio, no se compreende como ele conseguir elaborar e apresentar um projeto de tese aceitvel. Aquartaobservao que,novamente,no seexigedoscandidatosaodoutoradodocumentos que comprovem qualificao para a docncia nem se lhes aplica algum teste prtico de didtica. Qualificao para a docncia, portanto, aqui tambm no critrio de avaliao dos candidatos a esse curso. 4.2.4 Concluso De todo o exposto, a julgar pelas instituies examinadas, conclui-se que os cursos de PGES no formam docentes para o ensino superior, pois sua grade curricular fraca no tocante formao pedaggica.Eamaneiracomotaiscursossoprojetadoscomrespeitosuaconfiguraoe mododeacessolevaapensarqueexiste,porpartedascitadasinstituies,umacerta indiferena, ou at mesmo menosprezo, em relao formao de professores universitrios. Percebe-se tambm, pela configurao dos processos seletivos do doutorado, o favorecimento a candidatosquejsejampesquisadores.Istosignificaque,emboraosupostoobjetivodetais cursos seja a formao de cientistas, as instituies examinadas, de modo incoerente, privilegiam oingressodeacadmicosjexperientesempesquisa,deixandoemclaradesvantagemos demais, principalmente quando se considera que os cursos de mestrado desses mesmos centros de ensino no proporcionam o domnio da metodologia cientfica. A impresso que se tem que asinstituiesnodesejamadmitiralunos,massim,pesquisadoresjformadosparaintegrar seus quadros. Como causas dessas distores, colocam-se as seguintes hipteses. 1)Ahistricadesvalorizaodaatividadedocente.Umdosindicadoresdodesprestgiodo magistrio a questo do registro profissional. O art. 317 da CLT, em sua redao original, de 1943, estabelecia que, para exercer o magistrio em escolas particulares, o professor deveria registrar-senoMinistriodoTrabalho.Oregistrodependiadaapresentaodosseguintes documentospeloprofessor:a)certificadodehabilitaoparaoexercciodomagistrio, expedidopeloMinistriodaEducao;b)cduladeidentidade;c)atestadodeantecedentes criminais; e) atestado de iseno de doena infecto-contagiosa. O art. 61 da antiga LDB (Lei n 4.024/61) estabelecia que, para lecionar no ensino mdio, os professoresdeveriamestarregistradosnorgocompetente.ALein5.692/71,quefixou Diretrizes e Bases para o ensino fundamental e mdio, manteve a exigncia em seu artigo 40, fixandoqueoregistroprofissionaldeveriaserfeitoemrgodoMinistriodaEducaoe Cultura.Oart.317daCLTtevesuaalteraoalteradaesimplificadapelaLein7.855/89, passandoadisporapenasqueosprofessoresdeveriamregistrar-senoMinistrioda Educao.Finalmente,anovaLDB(Lein9.394/96),aorevogar tanto aantigaLDBcomo a Lein5.692/71,aboliuaexignciaderegistro.Poroutrolado,emrelaoaosdocentesdo ensino superior, nunca se lhes foi exigido qualquer tipo de registro profissional. Pelo contrrio, o art. 69 do Decreto n 5.773/06 estipula que O exerccio de atividade docente na educao superior no se sujeita inscrio do professor em rgo de regulamentao profissional. Outroindicadordedesvalorizaodadocnciasoossalriospagosaoprofessor.Os docentesbrasileirosemescolasdeensinofundamentaltmumdospioressalriosmundiais dacategoria.Nomundotodo,dentre73cidades,apenas17pagamaosdocentessalrios inferiores aos de So Paulo, entre elas Nairobi, Lima, Mumbai e Cairo.(8) No Brasil, o salrio mdiodeumprofessordaredepblicacomcursosuperiorecom,nomnimo,15anosde experincia(US$15,4mil)nochegaametade(48,5%)daremuneraodosdemais profissionais (US$ 31,7 mil).(9) Pgina 13/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. 2)A crena de que o indivduo competente na produo do conhecimento tambm competente paracomunic-lo.Ditodeoutromodo:supe-sequeapessoamaisindicadaparatransmitir um conhecimento seria aquela que o produz. De acordo com essa crena, a comunicao do saber seria o resultado automtico de sua produo. Esse modo de pensar leva s seguintes concluses:a)nosepodeadmitiraexistnciadeumdocentequenosejatambm pesquisadorevice-versa;b)aformaodosestudantesdemestradooudoutoradono precisaincluiraaquisiodecompetnciapedaggica;bastaqueosalunosadquiram capacidade de investigao cientfica. Atondevaioconhecimentodoautordestetrabalho,noexistemevidnciascientficasa demonstrarqueosindivduoscompetentesnaproduodoconhecimentotambmtm capacidadedelecion-lo.Tambmparecenohaverevidnciasdequeaquelequetem interesseempesquisatambmtem,automaticamente,omesmograudeinteressepela docncia e vice-versa. Em sentido contrrio, veja-se o caso histrico de Kant. Immanuel Kant (1724-1804), um dos maiores pensadores de todos os tempos, reconheceu humildemente sua dificuldadedecomunicaoepediuaosexcelenteshomensquetoafortunadamente equilibram a perfeita sabedoria com o talento da exposio lcida que assumissem a tarefa de elevar a minha obra muito falha neste particular a maior perfeio.(10) Quer isto dizer queKantpediuajudaparadivulgarsuaobraquelesqueacompreendessemeque possussem competncia didtica. Serverdadequetodobomcientistanecessariamenteumbomdocente?Aparentemente no,poisasaptides,interesses,conhecimentos,habilidadeseatitudes necessriosa quem pesquisaparecemserdiferentesdaquelesnecessriosaosquelecionam.Parecequeh poucasdvidasdequeapesquisarequercompetnciasequalidadesprofissionais completamente diferentes das exigidas pelo ensino (...). Elas podem apresentar-se todas nas mesmaspessoas,obviamente;porm,frequenteencontrarexcelentespesquisadoresque so professores medocres (ou no se comunicam bem, ou utilizam um tipo de discurso muito elevadoecomplexo,oumantmrelaesconflituosascomseusestudantes,ounotm temposuficienteparaprepararaaula,ouestomaisenvolvidoscomoscontedosque explicam do que com a forma como seus estudantes os decodificam e assimilam etc.)(11) Tambm parece que o ambiente em que um pesquisador exerce seu ofcio substancialmente diverso daquele em que o professor exerce o seu. Durante o curso de mestrado, o autor deste trabalhomaisdeumavezouviuqueixasecomentriosdecolegassobreprofessoresque eram obrigados a lecionar e que eram pssimos docentes porque no tinham pacincia para o ensinoequenofaziamsegredodeque,sepudessem,dedicariamtodooseutempo pesquisa. Tambm durante o mestrado, este autor teve dois professores que, em vez de lecionarem um contedogeralemsuasrespectivasdisciplinas,abordaramexclusivamenteostemasobjeto das estreitas linhas de pesquisa que eles estavam seguindo, linhas nas quais este autor no tinha interesse. Ofatodeosprofessoreslimitaremseuensinoaostemasqueestopesquisandopode produzirefeitosnegativos,jquetaisquestesconstituiroapenasumsegmentoreduzidoe muito especializado da disciplina que esto lecionando.(12) A hiptese que se coloca que, medida que o tempo passa e quanto mais um pesquisador se aprofunda em uma certa rea de conhecimento, tanto mais se reduzem sua capacidade e suadisposiodecomunicarseuconhecimentoaindivduosmaisleigosdoqueeleetanto maissereduzsuadisposiodelecionaroutroassuntoquenosejaodesuareade investigao.(13) Pgina 14/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. 3)A legislao. O artigo 65 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional) dispe que aformaodocenteincluirprticadeensinode,nomnimo,trezentashoras,excetoparaa educao superior. A conseqncia que, ao no exigir prtica de ensino nem qualquer outro requisito pedaggico para a formao de docentes para o ensino universitrio, a lei deixou sua preparao ao acaso. 4)O enorme status acadmico concedido pesquisa e o quase desprezo devotado ao ensino. O quenormalmenteavaliadonosconcursosdeingressoepromoosoosmritosdas pesquisas;oqueosprofessoreseseusdepartamentostendemapriorizarporcausados efeitoseconmicosedostatussoasatividadesdepesquisa;odestinoprioritriodos investimentos para formao do pessoal acadmico, em geral, orientado principalmente para aformaoempesquisa(...).Issofazcomque(...)adocnciasetransformeemuma atividademarginaldosdocentes(gg.doa.).Narealidade,somuitos(...)osquedefendem que,paraserumbomprofessoruniversitrio,omaisimportanteserumbompesquisador. Elesentendemquepesquisarconstituiumnveldedesenvolvimentointelectualsuperior (...).(14) As evidncias nesse sentido so as seguintes: a)OprincipalrequisitoestabelecidoparaconclusodoscursosdePGESeconsequente titulao dos alunos a aprovao de sua defesa de dissertao ou tese. Essa aprovao significaoreconhecimento,porpartedainstituio,daproficinciadoestudanteem metodologia cientfica bem como do domnio da rea de concentrao escolhida. Nenhuma demonstraodeproficincia,porm,exigidanocampopedaggico;este simplesmente ignorado. b)Os critrios adotados pela CAPES para avaliao dos cursos. A avaliao da CAPES est totalmente voltada para os aspectos ligados pesquisa. Ao julgar as atividades formativas, porexemplo,aCAPESnoavaliaaestruturacurriculardopontodevistadaformao pedaggicadosalunos,limitando-seaverificaraadequaodasdisciplinasministradas emrelaosreasdeconcentraodocursoesrespectivaslinhaseprojetosde pesquisa. No tocante ao corpo docente, a CAPES avalia principalmente sua titulao, tipo de vnculo com a instituio e regime de trabalho, passando ao largo de sua competncia pedaggica. J em relao aos produtos dos cursos, so avaliadas a produo cientfica e a produo de dissertaes e teses. A CAPES no investiga a competncia pedaggica adquirida pelos alunos. c)O prestgio de uma IES no depende da qualidade de seu ensino, mas apenas dos cursos deps-graduaoquemantmedaspesquisasquepromove.Emconsequncia,nas instituiesfortesempesquisa,oensinotendeasertratadocomoatividadedeterceira classe, como subproduto sem valor, como mal necessrio. Na rea educativa, os resultados dessas distores so a no formao de docentes habilitados e a ausncia de pesquisas em pedagogia do ensino superior. Noprximoitem,examinamososcursosdeps-graduaolatosensoemmagistriodoensino superior como formadores de docentes universitrios. 5.OSCURSOSDEPS-GRADUAOLATOSENSOEMMAGISTRIODOENSINO SUPERIOR Vrias IES oferecem cursos de ps-graduao lato senso em magistrio do ensino superior. Ao se examinar,porm,osobjetivoseagradecurriculardealgunsdessescursos,constata-seque quase todos possuem natureza exclusivamente terica, mesmo no mbito de uma disciplina como DidticadoEnsinoSuperior.Aessepropsito,veja-se,porexemplo,ametodologiaqueum Pgina 15/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. professorpropeparaessadisciplina:a)exposiodialogada;b)seminrios;c)trabalhos individuais e em grupo; d) produo de textos.(15) A metodologia proposta no prev atividades que faam os estudantes exercitarem a prtica docente. A amostra examinada sugere que tais cursos no permitem a aquisio de habilidades didticas pelosalunos.Emtaiscircunstncias,odocentespoderiaadquirirtaishabilidadesse encontrassenasprpriasIESumambientedeaprendizagemsemelhanteaodasempresas privadas, um ambiente que lhe permitisse transformar sua prtica pedaggica em um processo de melhoriacontnua,comodocentesendoorientadopormestresqueministrassemensinode qualidade,realizandoumapermanenteexperimentaoeaprendendopelaexperincia.Esse ambiente, porm, no existe, como veremos a seguir. Tambm difcil que o docente assuma um processodemelhoriacontnuadeformaautnoma,semorientaodeterceiros,porforadas condies em que exerce o magistrio. Concluso Aconclusoaquesechegaque,noimportaatitulaododocente(Especialista,Mestre, Doutor),provavelmenteelenoterformaopedaggicaou,seativer,estaseraltamente deficiente. 6. PODEM OS PROFESSORES EVOLUIR? A PRTICA DOCENTE Se os cursos de ps-graduao no formam docentes para o ensino superior, ento poder-se-ia esperar que esses professores aperfeioassem sua prtica pedaggica com o passar do tempo? Arespostano.Paraseentenderomotivo,precisoexaminarascondiesemqueos docentes exercem seu ofcio. A anlise que segue aplica-se s IES privadas, concentrando-se no ensino em nvel de graduao. 6.1 O ambiente das IES 6.1.1 Estrutura Organizacional das IES A estrutura organizacional das IES se biparte em duas subunidades estruturais bem ntidas, que funcionam de modos completamente distintos: de um lado, a estrutura administrativa, que executa asatividades-meiodainstituio;deoutro,aestruturadocenteoudeensino,querealizaas atividades-fim.OorganogramadasIES,emgeral,compe-se,comligeirasvariaes,deuma Reitoria/DiretoriaGeral,qualestosubordinadosumPr-ReitorAcadmico/Pr-Reitorde Gradua-o/DiretordeUnidade(DiretordeFaculdade,DiretorAcadmicoouChefede Departamento) e um Pr-Reitor/Diretor Administrativo, da seguinte forma: Reitor ______________|_____________ | | Pr-Reitor AcadmicoPr-Reitor Administrativo AestruturadocentedirigidapeloPr-ReitorAcadmico/Pr-ReitordeGraduao/Diretorde Unidade, ao qual se subordinam os coordenadores de cursos (tambm chamados de gestores de cursos), e os professores: Pgina 16/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. Pr-Reitor Acadmico ______________________________|___________________________ ||| CoordenadorCoordenadorCoordenador de cursode cursode curso ||| Professores ProfessoresProfessores Poroutrolado,aestruturaadministrativa, queaglutinaasreasdeapoiodaIES,dirigidapelo Pr-Reitor/Diretor Administrativo: Pr-Reitor Administrativo ____________________|__________________ | || Administrao Finanas Gesto de Pessoas Aestruturaadministrativa,dirigidapeloPr-Reitor/DiretorAdministrativo,funciona,emlinhas gerais, de modo anlogo ao das empresas privadas, com empregados contratados no regime da CLTtrabalhandoemperodointegral.Essesfuncionrioscompemumaestruturahierrquica tradicional, isto , uma estrutura em forma de pirmide que molda as costumeiras relaes chefe-subordinado.Osindivduosquecompemaestruturaadministrativainteragemcontnuae principalmente com outros funcionrios administrativos e, em menor escala, com os integrantes da estruturadocente.Essaconfiguraoapresenta,comoresultados,acriaoemanutenode vnculos fortes entre os funcionrios administrativos e entre estes e a IES. Emcomparao,aestruturadeensino,dirigidapeloPr-ReitorAcadmico/Pr-Reitorde Graduao/Diretor de Unidade, compe-se geralmente de docentes dos quais a maioria trabalha apenasumoualgunsdiasporsemana,recebendoporhora-aula.Essesprofessorescostumam seradmitidosnoregimedaCLT,quandoseudestinoagraduao,oucontratadoscomo autnomos, se forem chamados a lecionar em programas de menor procura, como os cursos de ps-graduaoedeextenso.Osprofessoresinteragemcontnuaeprincipalmentecomos alunos,principalpblicoexternodasIESe,emmenorescala,comosintegrantesdaestrutura administrativa.comumqueosintegrantesda estruturadocente,isto,professorese gestores de cursos, vinculem-se a mais do que uma IES (nesse aspecto, eles se assemelham aos mdicos doshospitaisprivados,quetendemamanterempregosemvriasinstituiesdesade).O resultadodessearranjoaexistnciadevnculosfrgeisentreosintegrantesdaestrutura docente e entre estes e a IES. Na realidade, os docentes universitrios tendem a ser vistos como profissionaisautnomos,mesmoquandocontratadosnoregimeceletista.Essavisotem consequnciasnasprticasdegestodepessoasadotadaspelasIESemrelaoaseus professores. 6.1.2 Processo seletivo Emgeral,cabeaosgestoresaseleodedocentesparaoscursosquecoordenam.SeasIES encaramosprofessoresuniversitrioscomoprofissionaisautnomos,entooprocessode contrataotendeaserbaseadonaintenodecontratarumprofissionalqualificado,ondeo termo qualificado significa profissional pronto para produzir. Isto quer dizer que, quando estiver conduzindoumprocessoseletivo,umgestordecursonuncaolharoscandidatoscomo profissionaisemdesenvolvimentoouadesenvolver,massemprecomocandidatosque,para seremconsiderados,devemestarprontos,poisaIESnolhesofereceumambientede aprendizagem.Assim,oscandidatosquenoapresentaremessacaractersticafundamental tendero a ser rejeitados. Orequisitodaprontidosetraduznaexignciadequeoscandidatosaumavaganoquadro docentedaIESpossuamdomniodocontedodarespectivadisciplina,prticaprofissional, experincia (tempo de militncia) no magistrio superior e, talvez, diploma de mestre ou doutor, se Pgina 17/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. aIESestiverpressionadaacontratarcandidatostitulados.Se,poroutrolado,ainstituio contratantetivertradioempesquisa,osrequisitosmudam.Nessecaso,ocritriodeseleo tendeaserbaseadonatitulao,naexperinciacomopesquisadorenostrabalhoscientficos publicados pelo candidato. A formao pedaggica e as habilidades didticas do pretendente no sero requisitos para admisso, ou seja, seu mrito como professor no ser considerado. Como oscandidatosadmissonasIESso,emsuagrandemaioria,docentessemformao pedaggica,idnticacaractersticaserverificadaentreoscontratados.Oresultadoquea bagagemdosrecm-admitidosdificilmenteajudarnamelhoriadoensinodainstituio contratante.Eventualmente,oprocessoseletivopoderincluiraobrigaodeocandidato ministrar uma aula-teste para o gestor-selecionador. Mesmo nesse caso, porm, a correta aferio das habilidades didticas do pretendente depender da capacidade pedaggica do prprio gestor e de seu conhecimento acerca da disciplina objeto do teste. 6.1.3 Remunerao As IES tendem a remunerar o pessoal da estrutura administrativa com salrios fixos e os docentes comsalriovarivel,isto,porhora-aula,querestesltimossejamcontratadospelaCLT,quer sejamadmitidoscomoautnomos.Osprofessoresrecebemtambmumpercentualsobreo salrio-basedenominadohora-atividade,pararemuneraodeatividadesextra-classecomo preparao e correo de provas e trabalhos, preparao de aulas, pesquisa ou participao em reunieseemoutroseventos.NoEstadodeSoPaulo,opercentualdahora-atividadede apenas 5% nas instituies privadas. Em tais condies, as atividades extra-classe tendem a ser vistas pelo docente como no compensadoras. Assim, a forma de remunerao dos integrantes da estrutura de ensino atua no sentido de estimular o professor a reduzir ao mximo as atividades nomagisteriais,restringindo-seapenasetosomentedocncia,econtribuindoparamanter fracos seus vnculos com a instituio. Emgeral,osistemaadotadopelasIESpararemunerarseusprofessoresodaremunerao funcional, isto , a remunerao baseada no cargo. A esse respeito, comum existir nas IES um quadrodecarreiraconstitudo,porexemplo,deumasrieinicialcompostapeloscargosde ProfessorAssistenteI,IIeIII,queincluemdocentesdetentores,respectivamente,dosttulosde Especialista,MestreeDoutor,sendoacarreiracompletadacomoscargosfinaisdeProfessor AdjuntoeProfessorTitular.Costuma-seatribuirumvalorfixoderemuneraoacadacargo.O acesso(promoo)aoscargosiniciaisdependedatitulaoe,aoscargosfinais,dependedo tempodeservioedodesempenho.Odocenterecm-contratadoenquadradoemumdos cargosiniciaisdacarreiradeacordocomseuttulo.Osacrscimosderemunerao,portanto, dependem de promoo. 6.1.4 Treinamento AtendnciadasIESnocriarprogramasdeaperfeioamentoparaseusprofessores.Vrios fatorescontribuemparaisso:afragilidadedovnculoprofessor-instituio;avisodosdocentes como profissionais autnomos, portanto os nicos responsveis por seu prprio desenvolvimento; a considerao dos professores como profissionais prontos e, mais do que isso, como prontos e acabados,isto,dotadosdeumcertoconjuntodehabilidadesfixas;acrenadequeo magistriosuperiorsejaumaatividadenopassveldeaperfeioamento;e,talvez,adisposio denoinvestir.Seumdocente,porsuaprpriainiciativa,seinscreveremumprogramade treinamento, essa participao no exercer nenhuma influncia na remunerao que ele recebe da Instituio onde leciona. 6.1.5 Avaliao de desempenho Muitas IES utilizam instrumentos de avaliao de desempenho dos professores. Em geral, esses instrumentosassumemaformadequestionriosdemltiplaescolhacontendoitensgenricos, taiscomoaqualidadedocontedolecionado,domaterialdidtico,daexposioetc.,queso preenchidospelosestudantesaofinaldocursooudosemestre.Podemessesinstrumentos Pgina 18/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. avaliativos contribuir de alguma forma para o aperfeioamento dos docentes e para a melhoria da qualidade do ensino? A primeira observao a fazer que o fato de a avaliao ser realizada sempre ao final do curso ou do semestre, portanto em prazos pr-definidos, e por meio de um instrumento formal como o questionrio,indicaqueessasavaliaesnosedestinamaorientarodesenvolvimentodo docente,massim,tmnaturezaexclusivamentedecisria,ouseja,destinam-seunicamentea permitir que a IES decida se mantm o docente ou se o demite. Emsegundolugar,deveserobservadoqueaentrevistadefeedbacknoumaprtica institucionalizada nas IES. Em consequncia, muitos docentes tendem a ser demitidos sem saber a razo. A terceira observao que, em geral, a avaliao feita exclusivamente pelos alunos, ou seja, pelos clientes. O gestor do curso, que o chefe imediato do professor, no o avalia, nem pode fazer isso observando diretamente seu desempenho, pois no assiste suas aulas. O gestor toma decises em relao ao docente baseado apenas no que dizem os alunos. Em quarto lugar, o questionrio preenchido pelos alunos fornece apenas um instantneo, isto , umafotografiaimprecisaeincompletadodesempenhododocente.ComoaIESencarao professor como um profissional pronto, a instituio no sabe e, em geral, no tem interesse em saber, se ele est evoluindo ou no, se est fazendo algum esforo para melhorar seu magistrio, qual o seu potencial, qual o seu grau de interesse pela docncia e assim por diante. Esse conjunto muito mais completo de informaes seria o filme do professor, que a IES no tem. Aquintaobservaoqueasavaliaes,porteremcarter genricoeserem feitasporalunos, no detalham, de um ponto de vista pedaggico, quais as condutas corretas do docente e quais os aspectos que ele precisa melhorar. Portodosessesmotivos,os questionriosdeavaliaodedesempenho preenchidosporalunos pouco podem ajudar no tocante ao aperfeioamento dos professores. 6.1.6 Reteno de talentos AsIEStendemanorecompensarosmelhoresmestreseanoreconhecerosesforosde desenvolvimento pessoal que seus professores porventura fizerem. O desempenho e o potencial dos integrantes do quadro docente so, talvez, de conhecimento exclusivo dos gestores de curso. Nas IES no existem, portanto, estratgias destinadas reteno de talentos. 6.1.7 Desligamento OsprofessorescontratadospelasIESsosupostosqualificadosemvirtudedesuaexperincia. De fato, considerando-se a maneira como seu desempenho avaliado, os docentes tendem a ser demitidosporrazesadministrativas(porexemplo,excessodefaltasoudeatrasos)ouseseu desempenho for considerado gritantemente ruim por parte dos alunos. 6.1.8 Nmero de alunos por classe Nos cursos de Administrao das instituies privadas, comum que o professor seja obrigado a lecionarparaumaturmadeoitentaoucemalunos.Emumaclassedessetamanho,torna-se difcil,senoimpossvel,utilizarmtodosdidticoseficazes;aaulatendeaassumirumafeio pesadamenteexpositiva.Emtaiscondies,mesmoqueodocentefossecapazdeministrar ensino de qualidade, ele encontraria srios obstculos para faz-lo. Pgina 19/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. 6.1.9 Nmero de disciplinas lecionadas EmsetratandodocursodeAdministrao,aestruturaorganizacionaldasIESestimulaos professoresaassumirvriasdisciplinasdereasdeconcentraodiferentes.Essaestrutura organizacional tambm torna difcil que os docentes partilhem suas experincias. Os professores que lecionam uma mesma disciplina tendem a permanecer isolados e a no trocar ideias entre si. Amaneiracomoaestruturaorganizacionalproduzesseefeitoaseguinte.Foivistoquea estrutura docente das IES dirigida pelo Pr-Reitor Acadmico ou Diretor de Unidade, ao qual se subordinam os coordenadores de cursos e os professores: Pr-Reitor Acadmico ______________________________|___________________________ ||| CoordenadorCoordenadorCoordenador de cursode cursode curso ||| Professores ProfessoresProfessores Nesse tipo de estrutura, compete aos gestores a seleo de docentes a serem contratados para oscursosquecoordenam.Suponhamos,porexemplo,queumadeterminadaIESpossuaum curso de graduao em Administrao, um de graduao em Cincias Contbeis e um curso de tecnologia em Gesto Empresarial, cada qual com seu respectivo gestor, da seguinte forma: Pr-Reitor Acadmico ______________________________|___________________________ ||| Gestor do curso de Gestor do curso deGestor do curso de Administrao Cincias ContbeisGesto Empresarial Ostrscursosprovavelmentepossuiro,emsuagradecurricular,porexemplo,umadisciplina comoGPGestodePessoas.Nestascondies,provvelqueostrscoordenadores contratemtrsprofessoresdiferentesparalecionaressamesmadisciplinaemseuscursos.O coordenadordocursodeAdministrao,provavelmente,nodaratenoaofatodeexistirem professoresdeGPnosoutrosdoiscursos,evice-versa.EostrsprofessoresdeGP provavelmentenuncachegaroatercontatoentresiporquesesubordinamacoordenadores diferentes. E esse contato se tornar ainda mais improvvel se os trs cursos forem ministrados em campi ou prdios diferentes. Ogestorresponsvelpelosucessodeseucurso,cabendo-lheselecionarosrespectivos professores.SeaIESnotiverpolticaseprocedimentosdeadmissodedocentesedeixaros gestores sem suporte e entregues prpria sorte, a tendncia ser estes ltimos adotarem uma postura defensiva, tentando constituir corpos docentes exclusivos para seus respectivos cursos e no colaborando entre si. O resultado ser, por um lado, a contratao de professores diferentes para a mesma disciplina em diferentes cursos e, por outro, a atribuio de disciplinas de reas de concentrao diferentes ao mesmo professor. Supondoque,noexemploacima,ostrscursospossuamasdisciplinasdeGestodePessoas (GP),GestodeMarketing(MKT)eGestoFinanceira(FIN),atendnciaocorreraseguinte situao: Pgina 20/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. Pr-Reitor Acadmico ______________________________|___________________________ ||| Curso de AdministraoCurso de Cincias ContbeisCurso de Gesto Empresarial Professor 1 leciona Professor 2 leciona Professor 3 leciona trs disciplinas diferentes:trs disciplinas diferentes:trs disciplinas diferentes: GP, FIN e MKTGP, FIN e MKT GP, FIN e MKT poressarazoqueaestruturaorganizacionaldasIESestimulaosdocentesaassumirvrias disciplinasdereasdeconcentraodiferentes.Nessetipodeestrutura,professoresque lecionamemcursosdiferentes,aindaqueministremumamesmadisciplina,tendemanoter contatoentresieanopartilharexperinciaspedaggicasrelativassuadisciplinacomum. medida que aumenta o nmero e a variedade de disciplinas lecionadas e medida que aumenta o isolamento do docente, diminui a possibilidade de que ele melhore seu magistrio. 6.1.10 Atribuio de disciplinas Aatribuiodedisciplinasaosprofessorescompeteexclusivamenteaosgestoresdecurso.Em geral,nosefixamcritriosparadecidirquaisdocentesdevemreceberquaisdisciplinas.Isto aumentaosriscosdequeumadeterminadadisciplinasejaatribudaaumprofessorqueno estejacapacitadoalecion-laedequeosdocentesquesesentiremprejudicadosfiquem insatisfeitos. 6.1.11 O contedo das disciplinas Emgeral,cabeaosgestoresdecursoaelaboraodarespectivagradecurricular.Issoincluia escolha de quais disciplinas faro parte da grade, bem como, para cada disciplina, a escolha do respectivo nome, objetivos, ementa e bibliografia bsica e complementar. Em geral, o gestor habilitado em uma determinada rea de concentrao. Como consequncia, em se tratando de um curso de Administrao, pouco provvel que ele esteja familiarizado com todas as disciplinas do curso. Em tais condies, ao elaborar a ementa de cada disciplina, ele ter dificuldadeemavaliarocontedoquepossvellecionaremumsemestre.Oresultadoa frequentecriaodeementassuper-sobrecarregadas,cujocumprimentoafigura-sevirtualmente impossvel. Vejamos um exemplo. Um curso de graduao em Administrao tem a seguinte ementa para a disciplina de Estatstica, que lecionada em um semestre, com carga horria de 60h: Ementa:Conceitosfundamentaisdeestatstica.Divisodaestatstica:EstatsticaDescritivae EstatsticaInferencial.Organizaoeapresentaodosdados.Distribuiesdefrequncias. Anlise Grfica. Medidas de tendncia central e de variabilidade, assimetria e curtose. Noes de probabilidadesedistribuiesdeprobabilidade.Tcnicasdeamostragemprobabilsticaeno probabilstica. Estimao por intervalo de confiana. Testes de hipteses. Anlise de Correlao e Regresso Linear. Utilizao de software estatstico / planilha eletrnica. AementaabrangeosdoisramosdaEstatstica:DescritivaeInferencial.Todavia,qualquer professor consciencioso e minimamente familiarizado com essa disciplina sabe que impossvel lecionardecentementeocontedoacimaemapenasumsemestre.Emtaiscondies,ouo professor no cumpre a ementa, ou cumpre-a e o ensino da disciplina ter pssima qualidade. 6.1.12 Gesto do conhecimento pedaggico AsIESnopossuemumsaberpedaggicoinstitucionalizado.Esseconhecimento,seexistir, estarapenasetosomentenasmentesdosprofessores.Istosignificaque,quandoalgum docentedeixaainstituio,elelevaconsigotodooconhecimentoquepossui,inclusiveoque Pgina 21/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. adquiriu em seu trabalho na IES que acabou de deixar. As IES no criam, adquirem, registram ou transferemoconhecimentopedaggiconemusamesseconhecimentoparaaperfeioaras atividades de ensino. 6.2 A situao prpria dos professores SeasIESnooferecemumambientequepossibiliteoaperfeioamentodaprticapedaggica dosprofessoresuniversitrios,osdocentes,poroutrolado,tambmnotmcondiesde melhorar a qualidade de seu magistrio por iniciativa prpria. Osdocentesnopodemevoluirporque,primeiro,nosabemqueseuensinoruim.NoBrasil, em geral, apenas os cursos de licenciatura incluem disciplinas pedaggicas em seus currculos. A finalidadedetodososoutroscursosformarprofissionais,sempreocupaocomsua competnciaparaomagistrio.Aquelesquenoconhecempedagogia,porm,nosabemque elanecessria;supem,equivocadamente,queodiplomadoexperienteemsuaprofisso tambm,automaticamente,umprofessorqualificadodessaprofisso.Assim,profissionais contratadosparaomagistriosuperiorimaginampossuircompetnciaparaessemisterapenas por serem competentes em sua profisso de origem. Acresce-seaesseequvocoofatodequeaconvicosobreaprpriacompetnciaeaauto-confianadaresultantecrescemmedidaqueosanospassameodesempenhododocente nuncaquestionado.Assim,quantomaistempodemilitnciaumprofessortiversemcrticas, menos ele aceitar a ideia de que seu ensino deficiente. A certeza do valor como educador, o orgulhoeaforadoshbitosadquiridos,farocomqueoquestionamentorepentinodeseus mtodossejainsuportvelparaodocenteno-iniciante.Elesesentirinsultadocomamera sugesto de um aperfeioamento. Um professor maduro, com mtodos pedaggicos cristalizados, usados repetidamente durante anos, ter grande dificuldade em encarar processos de mudana. Osdocentestambmnopodemevoluirporque,mesmoquesoubessemqueseuensino deficiente,nosaberiamoquefazerparamelhorar,poisnopoderiamcontarcomoapoiodas instituies onde lecionam, instituies que no oferecem programas de aperfeioamento a seus professores e muito menos realizam pesquisas em pedagogia do ensino superior. Outra razo que impedeosdocentesdeevoluirqueelesnopartilhamsuasexperinciasenodispemda refernciademestresqueministremensinodequalidade.Osprofessoresquelecionamuma mesma disciplina tendem a permanecer isolados e a no trocar ideias entre si. Mesmoquequisessemmelhoraresoubessemoquefazerparaalcanaresseobjetivo,muitos professores universitrios de instituies privadas encontrariam um obstculo adicional: o nmero dedisciplinasquelecionam.Noraroencontrarprofessoresquelecionamvriasdisciplinas diferentes. Em tais circunstncias, torna-se mais difcil para o professor aperfeioar a qualidade de seu magistrio. Muitos professores assumem disciplinas de reas de concentrao diferentes, mesmo em campos de conhecimento com os quais no esto familiarizados. Por que isso acontece? Podem-se supor vriasrazes.Umadelasseriaaideiadequenohmalnenhumnofatodeumprofessor lecionar disciplinas dspares em termos de reas de conhecimento; outra razo seria uma crena maisoumenosgeneralizadadequeaprticapedaggicaalgoesttico,isto,noh conscincia de que o professor pode e deve melhorar seus mtodos de ensino continuamente. Se a prtica pedaggica imutvel, ento o docente no precisa gastar tempo para refletir sobre ela eparamelhor-la.Umterceiromotivoseriaaremuneraoporhora-aula,quefazcomqueo docenteaceitelecionarqualquerdisciplinacomoobjetivodeaumentaroumanterseus rendimentos.Umquartomotivoquetalvezodocentepenseque,serecusar-seaassumir qualquer disciplina que lhe for oferecida, ficar mal visto pelo coordenador de seu curso. Porfim,deve-semencionarosprofessoresquelecionamemperodonoturnoeexercemoutra atividadeprofissionalemperododiurno,trabalhandosvezes10ou12horaspordia.Estes Pgina 22/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. dificilmenteterotempoedisposiopararealizar,acadasemestre,umtrabalhoderevisode contedos,derevisodemtodosetcnicasdidticas,depesquisa,dereflexoede experimentao, enfim, para realizar esse rduo trabalho que vital melhoria de seu magistrio. 7. CONCLUSO O fator determinante da qualidade do ensino superior so os mtodos e tcnicas pedaggicas. Os professores universitrios, porm, via de regra, no dominam tais mtodos e tcnicas. Os motivos dessa deficincia podem ser agrupados nas categorias seguintes. 7.1 Falta de formao pedaggica Os professores do ensino superior, via de regra, no possuem formao pedaggica. Os motivos dessa deficincia so os seguintes: 1.Emboraoofciodeprofessoruniversitrioseja umaprofisso,trata-se deumaprofissono regulamentada.Comoconsequncia,nenhumrequisitoimpostoaoexercciodadocncia superior de modo a garantir a qualidade da formao dos que nela atuam. 2.APGESumamodalidadedeeducaoqueseriacandidatanaturalaoencargodeformar professoresuniversitrios.Todavia,asimprecises,omisseseindecisesdaLDBcolocam esseramodeensinoemumaposiofrgilcomoformadordedocentesparaoensino superior. 3.Se,porumlado,aLDBnoafirmaclaramentequeoscursosdePGESdevemformar professores universitrios, por outro, a julgar pelas instituies examinadas, a PGES tambm no forma de fato professores universitrios porque sua grade curricular fraca em relao s disciplinas pedaggicas. 4.Os cursos de ps-graduao lato senso em magistrio do ensino superior so outro candidato ao posto de formador de docentes universitrios. A amostra examinada desses cursos, porm, sugerequeelespossuemnaturezaexclusivamenteterica.Arespectivametodologiano prevatividadesquefaamosestudantesexercitaremaprticadocente.Taiscursos, portanto, no permitem a aquisio de habilidades didticas pelos alunos. 5.Para aprovao dos alunos de mestrado ou doutorado, no se exige nenhuma demonstrao de proficincia no campo pedaggico. 6.O artigo 65 da LDB dispe que a formao docente incluir prtica de ensino de, no mnimo, trezentas horas, exceto para a educao superior. Isto significa que a lei no exige prtica de ensinonemqualqueroutrorequisitopedaggicoparaaformaodedocentesparaoensino universitrio. 7.AoavaliaroscursosdePGES,aCAPESnoverificaseelesproporcionamcompetncias pedaggicas aos alunos. 8.O 5 do art. 1 da Resoluo CNE/CES n 1, de 3 de abril de 2001, que estabelece normas para o funcionamento de cursos de ps-graduao, estabelece, como condio indispensvel paraaautorizaodeumcursodePGES,acomprovaodaprviaexistnciadegrupode pesquisaconsolidadonamesmareadeconhecimentodocurso.Istosignificaquea resoluo impede uma IES de criar um curso de mestrado ou doutorado exclusivamente para formar professores universitrios. Pgina 23/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. 7.2 Inexistncia de ambiente de aprendizagem nas IES Osprofessoresuniversitriosnoencontram,nasIES,umambientedeaprendizagemquelhes permitaaperfeioarsuaprticadocente,emvirtudedosseguintesfatores,prpriosdasIES privadas. 1.Os vnculos entre os docentes e entre estes e a IES so frgeis. 2.Mesmo quando contratados no regime celetista, os docentes universitrios tendem a ser vistos como profissionais autnomos, o que significa que eles no so vistos como profissionais em desenvolvimentoouadesenvolver,massemprecomocandidatosque,paraserem considerados, devem estar prontos para produzir. 3.Aformaopedaggicaeashabilidadesdidticasdoscandidatosaumavaganoquadro docente da IES no so requisitos para admisso, ou seja, seu mrito como professor no testado. 4.Em razo do baixo percentual recebido a ttulo de hora-atividade, as atividades extra-classe tendem a ser vistas pelo docente como no compensadoras. 5.Os acrscimos de remunerao do docente dependem exclusivamente de promoo. 6.AtendnciadasIESnocriarprogramasdeaperfeioamentoparaseusprofessores.Por outrolado,seumdocente,porsuaprpriainiciativa,seinscreveremumprogramade treinamento,essaparticipaonoexercernenhumainfluncianaremuneraoqueele recebe da Instituio onde leciona. 7.Viaderegra,asIESnopossuemprocessosformaisdeavaliaodedesempenhodos docentes. 8.AsIEStendemanorecompensarosmelhoresmestreseanoreconhecerosesforosde desenvolvimento pessoal que seus professores porventura fizerem. 9.Os docentes tendem a ser demitidos apenas por razes administrativas (por exemplo, excesso de faltas ou de atrasos) ou se a maioria dos alunos exercer uma presso insuportvel sobre o gestor do curso. 10. NoscursosdeAdministrao,comumaexistnciadeclassescommuitasdezenasde alunos, o que dificulta a utilizao de mtodos didticos eficazes. 11. EmsetratandodocursodeAdministrao,aestruturaorganizacionaldasIESestimulaos professoresaassumirumnmeroexcessivodedisciplinasdereasdeconcentrao diferentes. Essa estrutura organizacional tambm torna difcil que os docentes partilhem suas experincias.Osprofessoresquelecionamumamesmadisciplinatendemapermanecer isolados e a no trocar ideias entre si. 12. Aatribuiodedisciplinasaosprofessorescompeteexclusivamenteaosgestoresdecurso. Em geral, no se fixam critrios para decidir quais docentes devem receber quais disciplinas. 13. NocasodocursodeAdministrao,frequenteaexistnciadedisciplinascomementas super-sobrecarregadas, cujo cumprimento afigura-se virtualmente impossvel. 14. As IES no criam, adquirem, registram ou transferem o conhecimento pedaggico nem usam esse conhecimento para aperfeioar as atividades de ensino. Pgina 24/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. 7.3 Impossibilidade de melhoria autnoma difcil aos docentes engajar-se, de forma autnoma, em um processo de melhoria contnua, em virtude dos seguintes fatores. 1.Os docentes no sabem que seu ensino ruim. 2.Comonuncaforamavaliados,osdocentesnoiniciantessesentiroofendidoscomamera sugestodeumaperfeioamentoeterograndedificuldadeemencararprocessosde mudana. 3.Mesmoquesoubessemqueseuensinodeficiente,osdocentesnosaberiamoquefazer para melhorar, pois no poderiam contar com o apoio das instituies onde lecionam. 4.Os professores universitrios no partilham suas experincias e no dispem da referncia de mestres que ministrem ensino de qualidade. 5.Muitosdocentesuniversitrioslecionamumnmeroelevadodedisciplinasdiferentesna mesma rea de concentrao e mesmo disciplinas de diferentes reas de concentrao. 6.Osprofessoresnotmconscinciadequepodemedevemmelhorarseusmtodosde ensino continuamente. 7.Osprofessoresquelecionamemperodonoturnoeexercemoutraatividadeprofissionalem perododiurnointegralnotmtemponemdisposiopararevisarcontedos,mtodose tcnicas didticas. 7.4 Resultado Oresultadodetodosessesfatoresumbloqueioaoaperfeioamentodosmtodosetcnicas pedaggicas. Assim, a possibilidade de os estudantes dos cursos superiores serem contemplados com um ensino de qualidade depender da existncia de mestres apaixonados pela docncia e: a) que sejam dotados de aptides pedaggicas inatas que os faam, instintivamente, lanar mo de mtodos didticos eficazes, ou; b) que queiram evoluir e que consigam faz-lo sozinhos apesar de todos os obstculos que enfrentam. NOTAS (1)UNESCO.DeclaraoMundialsobreEducaoSuperiornoSculoXXI:VisoeAo. Disp. em:http://www.interlegis.gov.br/processo_legislativo/copy_of_20020319150524/20030620161930/20030623111830/(2) UNESCO. Idem.(3) Dentre os estudantes que participaram do ENADE 2005, 60% estudam em perodo noturno e 75% trabalham regularmente. (4)PEREIRA,FernandaC.B.Determinantesdaevasodealunoseoscustosocultospara asinstituiesdeensinosuperior:UmaaplicaonaUniversidadedoExtremoSul Catarinense. Florianpolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. pp. 125-126. Disp. em: http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/6936.pdf(5) Idem. pp. 126-127. (6) Idem. pp. 134-135. Pgina 25/25 Artigo publicado no Portal ProfessorNews(www.professornews.com.br). Qualidade do Ensino Superior: os cursos de AdministraodeEmpresas(autoria:Prof.FlavioFarah,e-mail:[email protected]).Reproduoparcial autorizada mediante citao de autoria. (7) NASCIMENTO, Claudinei de Lima. Qualidade do Ensino Superior de Cincias Contbeis: Um Diagnstico nas Instituies Localizadas na Regio Norte do Estado do Paran. Base RevistadeAdministraoeContabilidadedaUnisinos,2(3):155-166,setembro/dezembro2005. pp. 11-12. Disp. em:www.fecap.br/PortalNovo/Arquivos/Extensao_Desenvolvimento/pqd/ART_005.pdf (8) Salrio de professor no Pas est entre os piores do mundo. Disp. em: http://noticias.terra.com.br/educacao/salario-de-professor-no-pais-esta-entre-os-piores-do-mundo,22ac42ba7d2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html (9) Professor brasileiro ganha menos que metade do salrio dos docentes dos pases da OCDE. Disp. em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/10/01/professor-brasileiro-ganha-menos-que-metade-do-salario-dos-docentes-dos-paises-da-ocde.htm (10) PASCAL, Georges. O pensamento de Kant. 6 ed. Petrpolis: Vozes, 1999. p. 7. (11) ZABALZA, Miguel A. O ensino universitrio: seu cenrio e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 155. (12) ZABALZA, Miguel A. Idem. pp. 120-121. (13)Aesserespeito,leia-seaprimeirapartedemeuartigoOautordeverespeitaroleitor. Disponvel em: http://www.centrorefeducacional.pro.br/autrelei.htm(14) ZABALZA, Miguel A. Idem. pp. 154-155. (15) ALCANTARA, Paulo. Didtica do Ensino Superior: Plano da Disciplina. Disponvel em: http://www.esmape.com.br/downloads/didatica_ensino_superior-paulo_alcantara.pdf (*)FlavioFarahMestreemAdministraodeEmpresaseProfessorUniversitrio.Oautor leciona disciplinas como Gesto de Pessoas, Comportamento Organizacional, Relaes Humanas e tica.E-mail: [email protected].