qualidade do abastecimento de Água da aldeia meruri - mt

92
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACUDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT ROSÂNGELA MARIA GUARIENTI IRINEU FRANCISCO NEVES A

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Page 1: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACUDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIADEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

ROSÂNGELA MARIA GUARIENTI

IRINEU FRANCISCO NEVES

Cuiabá – Mato GrossoDezembro de 2008

A

Page 2: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACUDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIADEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI-MT

ROSÂNGELA MARIA GUARIENTI

Monografia submetida à Faculdade de

Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da

Universidade Federal de Mato Grosso, como

parte dos requisitos para obtenção do Grau de

Bacharel em Engenharia Sanitária –

Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Irineu Francisco Neves

Cuiabá – Mato GrossoDezembro de 2008

B

Page 3: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOFACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental

FOLHA DE APROVAÇÃO

Título: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI-MT

Autora: ROSÂNGELA MARIA GUARIENTI

Monografia defendida e aprovada em ________ de ______________de 2008, pela banca examinadora:

Prof. Dr. Irineu Francisco Neves

FAET/DESA

(Orientador)

Prof. Dr. Luiz Airton

FAET/DESA

MSc. Neli Assunção Silva

FAET/DESA

C

Page 4: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

DEDICATÓRIA

A Deus por ter me proporcionado todas as graças em minha vida.

Aos meus pais, Osmar e Maria, que fizeram de mim a pessoa que sou hoje.

Ao meu companheiro, Thiago, que sempre está ao meu lado.

iv

Page 5: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais que abriram portas, pra que onde eu citasse seus nomes

fosse bem recebida e por dedicarem sua vida em fazer meu futuro e de

meu irmão.

Ao meu irmão pelo incentivo nos estudos, servindo de exemplo de

esforço, dedicação e empenho.

Ao meu amado Thiago, por ser o responsável pelo meu ingresso na

faculdade e apoio durante todo o curso sendo conselheiro e amigo. Muito

obrigado por tudo que tem feito.

A tia Beth e tio Mario por sempre terem acompanhado meus estudos e

indicarem o curso de Engenharia Sanitária - Ambiental, com o qual tanto

identifiquei.

A comunidade indígena de Meruri que estiveram sempre prontos e

colaboraram com a pesquisa. Pelo fornecimento dos dados e abrindo seus

lares para contribuir no andamento da pesquisa.

A família Salesiana, a qual tenho muito respeito e admiração por seu

trabalho, em especial a Irmã Aurizena, que apoiou a pesquisa.

A Vanusa Ormonde, a quem muito admiro, que doou seu tempo

partilhando seu conhecimento laboratorial.

Ao Prof. Dr. Irineu Francisco Neves, pela paciência e ensinamentos

durante a orientação desta monografia.

E por fim, a todos os outros professores e alunos do DESA-UFMT

(Departamento de Engenharia Sanitária - Ambiental da Universidade

Federal do Mato Grosso) que, direta ou indiretamente, ajudaram em

meus estudos.

v

Page 6: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA.............................................................................................................ivAGRADECIMENTOS....................................................................................................vSUMÁRIO.......................................................................................................................viLISTA DE FIGURAS..................................................................................................viiiLISTA DE TABELAS....................................................................................................ixLISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS..............................................................xRESUMO........................................................................................................................xiABSTRACT...................................................................................................................xii1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................12. OBJETIVOS............................................................................................................3

2.1. OBJETIVO GERAL..........................................................................................32.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................3

3. JUSTIFICATIVA....................................................................................................44. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...............................................................................5

4.1. SAÚDE PÚBLICA............................................................................................54.1.1. Qualidade da Água para Consumo Humano.............................................54.1.2. Vulnerabilidade do Manancial..................................................................5

4.2. CONDIÇÕES AMBIENTAIS...........................................................................64.2.1. pH..............................................................................................................64.2.2. Sabor e Odor..............................................................................................64.2.3. Temperatura...............................................................................................74.2.4. Características Biológicas da Água...........................................................7

4.2.4.1. Contagem do Número Total de Bactérias.........................................74.2.4.2. Coliformes.........................................................................................7

4.3. LEGISLAÇÃO..................................................................................................84.3.1. Órgãos Responsáveis pela Manutenção da Qualidade da Água................84.3.2. Resolução nº 357 de 17 de Março de 2005...............................................94.3.3. Resolução nº 274 de 29 de Novembro de 2000.........................................94.3.4. Portaria nº 518 de 25 de Março de 2004...................................................9

4.4. TRATAMENTOS SIMPLES..........................................................................114.4.1. Desinfecção por Cloração........................................................................114.4.2. Filtração...................................................................................................12

4.5. TÉCNICAS LABORATORIAIS....................................................................124.5.1. Meios de Cultura com Substratos Cromogênico e Fluorogênico............124.5.2. Pour Plate.................................................................................................13

4.6. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA...................................................135. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................22

5.1. ÁREA DE ESTUDO.......................................................................................225.1.1. Aldeia de Meruri......................................................................................225.1.2. Pirâmide Etária da Aldeia de Meruri – MT.............................................245.1.3. Finalidade da Água na Aldeia.................................................................245.1.4. Histórico do Abastecimento....................................................................255.1.5. Pontos de fornecimento de água da aldeia:.............................................265.1.6. Problemas com a Tubulação de distribuição...........................................32

5.2. FREQÜÊNCIA E PONTOS DE AMOSTRAGEM........................................365.3. ANÁLISES E EXAMES A SEREM EFETUADAS......................................37

vi

Page 7: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

6. RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS.......................406.1. PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E BACTERIOLÓGICOS DA ÁGUA DA ALDEIA...............................................................................................................406.2. MORBIDADE NA ALDEIA..........................................................................43

7. CONCLUSÕES.......................................................................................................498. RECOMENDAÇÕES..............................................................................................509. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................5110. APÊNDICES.......................................................................................................53

vii

Page 8: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Resíduo sólido acumulado no quintal.............................................................17Figura 2 - Taxa de internações por Doença Diarréica Aguda em menores de 5 anos de idade - Município General Carneiro - 2000 a 2007.........................................................18Figura 3 - Água armazenada para consumo....................................................................20Figura 4 - Esgoto e resíduos sólidos próximo a moradia................................................21Figura 5 - Área Indígena da Aldeia Meruri no Estado....................................................22Figura 6 - Pirâmide de Faixa Etária da Aldeia de Meruri – 2008...................................24Figura 7 - Rio Barreiro em período de estiagem.............................................................26Figura 8 - Cabeceira - local de captação de água............................................................27Figura 9 - reservatório subterrâneo..................................................................................28Figura 10 - Reservatório de distribuição de água da Cabeceira para a aldeia.................28Figura 11 - Água da Cabeceira utilizada para balneabilidade e demais usos..................29Figura 12 - Reservatório de distribuição da FUNASA...................................................29Figura 13 - Reservatório rompido da FUNASA em abril de 2008..................................30Figura 14 - Reservatório domiciliar................................................................................30Figura 15 - Clorador inativo da rede de distribuição da FUNASA.................................31Figura 16 - Poço artesiano do Projeto AMA...................................................................32Figura 17 - Marcas de pneu próximas a tubulação comprometida..................................33Figura 18 - Precariedade do esgotamento sanitário.........................................................34Figura 19 - Rato morto em frente a uma residência........................................................34Figura 20 - Residência com apenas uma torneira............................................................35Figura 21 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2005............................................44Figura 22 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2006............................................45Figura 23 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2007............................................46Figura 24 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2008 dos Meses de Janeiro à Abril.........................................................................................................................................48

viii

Page 9: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano.......10Tabela 2 - Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI).........13Tabela 3 - Contaminação de água por organismos patogênicos provenientes de fezes via esgoto sanitário (Geldreicj, 1996)...................................................................................15Tabela 4 - Doenças causadas por microrganismos parasitológicas presentes na água....16Tabela 5 - Análise Microbiológica do Rio Barreiro........................................................40Tabela 6 - Análise Microbiológica da Casa Abastecida pela Rede Distribuidora da Missão Salesiana.............................................................................................................40Tabela 7 - Análise Microbiológica do Rio Cabeceira.....................................................41Tabela 8 - Análise Microbiológica do Poço Artesiano da Rede de Distribuição do Projeto AMA...................................................................................................................41Tabela 9 - Análise Microbiológica da Casa abastecida pela Rede da FUNASA............42Tabela 10 - Análise Microbiológica do Bebedouro Escolar...........................................42Tabela 11 - Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2005..............................................................43Tabela 12 - Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2006..............................................................44Tabela 13 - Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2007..............................................................45Tabela 14 - Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2008 dos Meses de Janeiro à Abril...............46

ix

Page 10: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

AISAN Agente Indígena de Saneamento

AMA Assistência Missionária Ambulante

ANA Agencia Nacional das Águas

CID Classificação Internacional de Doenças

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DII Doenças infecciosas intestinais

DIP Doenças infecto-parasitárias

DRSAI Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado

DSEI Distritos Sanitários Especiais Indígenas

FUNAI Fundação Nacional do índio

FUNASA Fundação Nacional de Saúde

MSMT Missão Salesiana de Mato Grosso

MT Mato Grosso

NPM Número mais provável

OMS Organização Mundial de Saúde

PCH Pequena Central Hidroelétrica

SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente

SES Secretaria Estadual de Saúde

SNIS Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento

SUS Sistema único de Saúde

x

Page 11: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

RESUMO

GUARIENTI, R.M. Qualidade do Abastecimento de Água da

Aldeia Meruri-MT. 2008. 64p. Monografia para obtenção do Grau de

Bacharel em Engenharia Sanitária - Ambiental, Faculdade de

Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de Mato

Grosso, Cuiabá, MT, 2008.

Este trabalho sobre a qualidade do fornecimento de água foi desenvolvido na aldeia de

Meruri, localizada na região sul do Estado de Mato Grosso, Brasil. A tribo estabeleceu

moradia fixa na atual localização Meruri desde 1923, devido a maior disponibilidade de

água. Com o tempo de existência da colônia surgiram necessidades secundárias que não

faziam parte do cotidiano dos ancestrais como o cozimento rotineiro de alimentos, o uso

de roupas, louças, banheiros, chuveiro, torneiras, enfim novos costumes foram

agregados a cultura, tornando-se necessário a implantação de um sistema de

abastecimento de água para atender a demanda. Um sistema de abastecimento de água

deve se adequar à população e não o inverso, o sistema deve fornecer: conforto,

quantidade e qualidade, sendo estes três quesitos parcialmente atendidos na aldeia. O

conforto é ameaçado na maioria das residências pela tubulação quebrada ou inexistente,

a aldeia lida com falta de água, o abastecimento não é continuo e a qualidade da água

não esta enquadrada nos padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria 518. É

necessário implantar na aldeia um novo sistema de abastecimento onde atenda com

folga e freqüência toda a população; promover instalação e manutenção das tubulações

e peças hidráulicas das residências e adotar uma forma de tratamento de água que

consiga aceitação de toda a população.

Palavras-chave: abastecimento, contaminação, saneamento, indígena.

xi

Page 12: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

ABSTRACT

GUARIENTI, R.M. Quality of Water Supply's Village Meruri-MT. 2008. 65p.

Cuiabá, MT: 2008. MonograpH to obtain the Degree of Bachelor in

Sanitary Engineering. Federal University of Mato Grosso

This work of research on the quality of water supply was developed in the village of

Meruri, located in the southern state of Mato Grosso, Brazil. The tribe established

housing flat in Meruri current location since 1923 due to increased availability of water.

Over time the existence of the colony were secondary needs that were not part of daily

life in ancient as the routine of cooking food, the use of clothes, tableware, restrooms,

showers, taps, new customs were finally added to culture, making it necessary The

deployment of a system of water supply to meet demand. A water system must fit the

population and not the reverse, the system must provide: comfort, quality and quantity,

with these three questions partially met in the village. Comfort is endangered in most

homes by pipe broken or nonexistent, the village deals with lack of water, the supply is

not continuous and water quality is not framed in patterns of drinking established by

Executive Order 518. It is necessary to deploy a new system in the village where supply

meets slack and often with the entire population, promoting installation and

maintenance of hydraulic pipes and pieces of homes, adopting a water treatment plant

that can take up the entire population.

Keywords: supply, contamination, sanitation, indigenous.

xii

Page 13: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

1. INTRODUÇÃO

A disponibilidade de água é um pré-requisito para a instalação permanente de uma

comunidade. Desde 1902 a tribo indígena da etnia Bororo de Mato Grosso abandonou o

costume nômade, se adaptando a um local conveniente para o consumo de água, caça,

plantio e instalação segura para construção de moradias fixas. Os índios Bororos da

aldeia Meruri se instalaram primeiramente na área denominada Tachos, onde

permaneceram por 21 anos. Com o aumento da população, a água do local se tornou

insuficiente para a tribo, forçando a busca de uma nova área para aldeia. A área

escolhida é próxima a margem direita do rio Barreiro, local onde a tribo está desde

1923, utilizando a água para consumo humano, fins domésticos, balneabilidade, pesca,

dessedentação de animais e para geração de energia.

A construção da aldeia possui uma estrutura planejada, onde a disposição das casas

é pré-estabelecida e ocupada de maneira ordenada pelos Clãs do local (grupo de

pessoas unidas por parentesco e com funções na sociedade pré-estabelecidas). No caso

da aldeia Meruri, as casas formam um grande retângulo o qual circunda uma “casa

central” chamada de “Bororo”, utilizada para reuniões e cerimônias de tradição dessa

etnia. Devido aos laços culturais e a infra-estrutura da aldeia, um índio de Meruri

raramente se muda do local. Com isso, a população vem crescendo e necessitando de

ajustes nas instalações como na rede de abastecimento de água.

A preocupação sanitária com a cultura indígena se dá por existir um consumo

elevado de água por contato físico, como recreação, higiene pessoal, na preparação das

refeições e ingestão da mesma. Geralmente a população consome a água sem nenhum

tipo de tratamento de desinfecção, diretamente da fonte nos corpos d’água ou da água

canalizada proveniente de poços artesianos e reservatórios. O uso de clorador foi

1

Page 14: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

iniciado no ano de 2008, no entanto houve rejeição por parte da população que não se

adaptou ao gosto deixado pelo cloro.

Por longos anos não se teve uma preocupação diante do fato visto que a água

consumida era retirada de uma nascente, sendo que a comunidade acreditava que águas

de nascentes eram necessariamente potáveis. Com o passar dos tempos esta fonte se

tornou temporária, obrigando a população a diminuir a demanda e utilizar a água do rio

quando necessário ou buscar novas fontes, como poços artesianos e canalizar água de

fontes abundantes.

A aldeia não possui coleta, nem destinação adequada para os resíduos sólidos,

também é desprovida de drenagem de águas pluviais e boa parte das residências estão

com a estrutura sanitária comprometida ou interditada. A precariedade da infra-

estrutura associada com o abastecimento de água sem tratamento se torna um problema

se saúde pública para a população.

2

Page 15: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Diagnosticar a qualidade da água consumida na aldeia, confrontando com os

costumes sócio-culturais da população e falta de infra-estrutura sanitária.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para alcançar o objetivo do trabalho foram realizadas as seguintes etapas:

Análises a qualidade das águas de abastecimento nas residências e pontos de

captação.

As formas de consumo de água dos moradores da aldeia, quanto a pontos de

captação e ao tratamento;

Através das entidades competente um diagnostico das doenças relacionadas à

contaminação hídrica notificados na aldeia;

Levantamento das condições de disposição dos resíduos sólidos e esgoto doméstico

e os problemas com a tubulação nas residências.

3

Page 16: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

3. JUSTIFICATIVA

Este trabalho possui a pretensão de demonstrar a grandiosidade do problema da

poluição na água de abastecimento para comunidades indígenas. E preocupa-se

principalmente em ressaltar que o sistema de abastecimento de água deve se adaptar aos

costumes da comunidade, não a comunidade se adaptar ao sistema.

De fato, sabe-se que o problema de poluição das águas existe nas zonas urbanas,

visto que grande parte da população consome água in natura proveniente da

distribuição. Esta água apresenta baixa qualidade graças a precariedade da rede

distribuidora. Porém, na cidade, existe a possibilidade de se obter uma água mineral ou

uma água bem tratada. Nas aldeias como a de Meruri, que se encontra a 40 km da

cidade mais próxima, o desafio é maior. O obstáculo cultural também é um forte

oponente aos moradores, pois há dez anos preocupavam-se apenas com a quantidade de

água e pouco com a qualidade.

A aldeia possui uma peculiaridade socioeconômica que a difere das demais do

estado, pois goza de infra-estrutura semelhante a áreas urbanas, podendo ser

considerada uma vila. Seus moradores usufruem de acesso a tecnologias como antena

parabólica, computadores, eletrodomésticos, eletricidade, telefone, casas de alvenaria e

água encanada.

Com isso, vê-se uma discrepância diante dos costumes sanitários referentes ao

consumo de água . São isoladas as residências que utilizam alguma forma de tratamento

para a água consumida, o que revela uma possível dificuldade de adaptação a

implantação de tratamentos feitos em casa, por gerar custos ou mesmo por se tratar de

um hábito a mais na rotina.

Partindo do princípio que a população indígena em questão está aberta a hábitos

urbanos, podemos concluir que pode ser feito mais uma inclusão em seus costumes, o

tratamento de água para consumo, desde que seja um tratamento onde não lhes tragam

custos, nem novas atividades no lar, nem alteração significativa no sabor da água.

4

Page 17: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. SAÚDE PÚBLICA

4.1.1. Qualidade da Água para Consumo Humano

O termo qualidade para a água quer representar se esta atende o nível de exigência e

necessidade do consumidor. Quando se pensa em qualidade da água para consumo

humano é necessário conhecer, estabelecer, estudar, controlar o conjunto de

características que promovem uma água adequada para este consumo. Para padronizar

estas necessidades foram sugeridos enquadramentos em portarias como a Portaria 518

do Ministério da Saúde intitulada de “Norma de Qualidade da Água para Consumo

Humano” e em resoluções como a 357 do CONAMA que enquadra ás águas de acordo

com sua qualidade para seus devidos usos.

A água é um excelente solvente, porém esta qualidade a torna refém de si mesma.

Em águas naturais são encontradas inúmeras impurezas dissolvidas, partes destas

impurezas são inofensivas ao ser humano e outras extremamente perigosas como vírus,

bactérias, parasitos, substancias tóxicas e até mesmo elementos radioativos.

A preocupação com doenças de veiculação hídrica citada por RITCHER (1995, p.3)

relata que segundo a OMS - Organização Mundial de Saúde, cerca de 80% de todas as

doenças que se alastram nos países em desenvolvimento como o Brasil são

provenientes de água de má qualidade.

4.1.2. Vulnerabilidade do Manancial

A qualidade da água de um manancial vária com o tempo por isso ainda que em

uma determinada análise esta água tenha apresentado índices aceitáveis de qualidade, o

corpo d’água não esta livre de contaminação em outras épocas do ano. Uma chuva, uma

fonte de contaminação pontual muda o quadro do manancial em horas. Por isso a água

coletada para consumo humano deve ser controlada e tratada antes de distribuí-la aos

usuários.

A água e sua qualidade esta diretamente relacionada com a saúde dos

consumidores, segundo TSUTIYA (2006) a água é o principal vetor de transmissão de

5

Page 18: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

doenças infecciosas. Atualmente em todas as sociedades houve redução de taxa de

mortalidade por este tipo de doença, uma das principais causas dessa melhoria na saúde

foi o saneamento ambiental. Além da saúde, proporcionar um abastecimento de água

adequado leva a população oportunidades de higiene, conforto e bem estar.

BATALHA (1977, p.28) recomenda algumas medidas para preservar a qualidade da

água em sistemas públicos de distribuição:

Manutenção de concentração de cloro residual, para garantir a qualidade

bacteriológica da água.

Manutenção de pressão mínima, de forma permanente, no sistema de

canalizações.

Manutenção de certos valores para pH, concentração de CO², etc., para, prevenir

corrosão e evitar concentrações de ferro na água.

Ao chegar até o consumidor a água deve ser límpida, incolor, insípida, inodora, sem

organismos patogênicos, sem substâncias químicas prejudiciais; não deverá provocar

corrosão nem encrostamento nas tubulações e ainda ser protegida por processos que

garantam manter a qualidade do produto final como o cloro residual.

4.2. CONDIÇÕES AMBIENTAIS

4.2.1. pH

Nos sistemas de distribuição pública de água o pH geralmente encontra-se entre 6,5

e 9,5. O pH baixo tende a ser corrosivo e o pH alto tende a produzir incrustações na

tubulação. A corrosão se torna preocupante, pois pode poluir a água com ferro, cobre,

chumbo, zinco e cádmio, que são componentes da tubulação.

4.2.2. Sabor e Odor

São um dos parâmetros mais significativos referentes a aceitação dos consumidores

a água. Estas características são comumente trabalhadas juntas, pois a sensação de

sabor origina-se do odor.

6

Page 19: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

“Alguns sais minerais, entre eles compostos de ferro e

manganês, sulfato e Cloreto de sódio causam sabor. Odores e

sabores poderem ser causados por: a) Gases em dissolução

como o sulfeto de hidrogênio, b) matéria orgânica proveniente

de algas tanto vivas como em decomposição, c) matéria

orgânica em decomposição, d) resíduos industriais, e) o cloro,

como residual ou em combinação (tricloroamina, clorofenóis

etc.)”. (RICHTER e NETTO, 1995 p.287).

4.2.3. Temperatura

A temperatura da água influencia na aceleração das reações químicas, reduz a

solubilidade dos gases e acentua a sensação de sabor e odor.

4.2.4. Características Biológicas da Água

Os agentes microbiológicos que estão presentes na hidrologia são de origem vegetal

constituído por algas (verdes, azuis, diatomáceas) e bactérias (saprófitas e patogênicas)

e de origem animal representado por protozoários e vermes. Os microorganismos

presentes na água podem ser patogênicos e produzir sabor e dor desagradável.

4.2.4.1. Contagem do Número Total de Bactérias

Por meio de técnicas obtém-se o numero de total de bactérias por centímetros

cúbicos ou milímetro da amostra de água.

Um número elevado de bactérias não acusa necessariamente que a água esteja

poluída, pois uma variação brusca nos resultados dos exames pode indicar

contaminação da amostra estudada.

No geral águas poucos poluídas apresentam números baixos de bactérias.

4.2.4.2. Coliformes

7

Page 20: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Os coliformes são um importante indicativo de poluição, pois são bactérias que

normalmente habitam o intestino dos animais de sangue quente (humano, gado, ovelha

e porco), sua presença em águas pode ser atribuída a contaminação da água por esgoto

doméstico ou falta de proteção contra animais no sistema de captação e distribuição de

água. A existência de seres patogênicos na água depende necessariamente de sua

introdução no meio a partir de seus portadores, essa transmissão geralmente é através

de fezes humanas ou de animais.

O coliforme é um parâmetro indicador de contaminação fecal e essa contaminação

pode indicar a presença de organismos patogênicos e outros componentes prejudiciais

provindos de esgotos domésticos. Em média cada ser humano elimina diariamente 200

bilhões de bactérias coliformes. Este grupo é representado em números mais provável

(NPM), que seria a quantidade mais provável de coliformes existentes em 100 mL da

amostra.

Dentre os Coliformes existe um grupo de maior importância para indicador de

poluição que é a Escherichia coli (E. Coli) : bactéria pertencente à família

Enterobacteriaceae. É a única espécie do grupo dos coliformes termotolerantes cujo

habitat exclusivo é o intestino humano e de animais homeotérmicos.

4.3. LEGISLAÇÃO

4.3.1. Órgãos Responsáveis pela Manutenção da Qualidade da Água

No Brasil existem várias Instituições Governamentais que padronizam, sugerem,

promovem ações, fiscalizam assuntos referentes à água e sua proteção para o controle

de qualidade, tais como:

ANA - Agencia Nacional das águas

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária

SEMA – Secretaria Estadual de Meio Ambiente

SES – Secretaria Estadual de Saúde

Estas são algumas Instituições que estabelecem normas através de Leis, Resoluções

e Portarias como manter um abastecimento de água adequado a população e proteger

8

Page 21: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

esta água em seu ambiente para que a mesma seja utilizada de maneira sustentável e

com menos gasto possível em seu tratamento.

4.3.2. Resolução nº 357 de 17 de Março de 2005

Dentre as resoluções, a CONAMA 357 possui grande destaque ela classifica os

corpos de água, trás diretrizes ambientais para o seu enquadramento, estabelecendo as

condições e padrões de lançamento de efluentes. A resolução descreve que para

recreação de contato primário, (contato direto e prolongado com a água), como a

praticada na aldeia no Rio Barreiro e na Cabeceira. A água deve estar enquadrada em

Classe especial, Classe I ou Classe II e para balneabilidade elas serão avaliadas pela

Resolução 274/2000.

4.3.3. Resolução nº 274 de 29 de Novembro de 2000

A Resolução 274/2000 rege que para águas doces destinadas a balneabilidade

(recreação de contato primário) terão sua condição avaliada nas categorias própria e

imprópria. Então para que as águas do rio Barreiro e Cabeceira sejam consideradas

próprias nos resultados das análises microbiológicas não poderão atingir:

Valor obtido na última amostragem superior a 2500 coliformes fecais

(termotolerantes) ou 2000 Escherichia coli por 100 mililitros;

Incidência elevada ou anormal, na Região, de enfermidades transmissíveis por

via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias.

4.3.4. Portaria nº 518 de 25 de Março de 2004

Esta portaria tem a função de Estabelecer procedimentos e responsabilidades

relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu

padrão de potabilidade.

A Portaria 518 que define água potável como água para consumo humano em que

os parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de

potabilidade e não ofereçam riscos à saúde.

9

Page 22: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

E quanto ao Sistema de abastecimento de água para consumo humano a portaria diz

que a instalação, destinada à produção e à distribuição canalizada de água potável para

populações, é responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime

de concessão ou permissão. Como no caso da aldeia onde duas das redes de distribuição

foram construídas e são ministradas pela Missão Salesiana.

A portaria traz parâmetros em que a água deve estar enquadrada para que seja

considerada potável. Em amostras individuais procedentes de poços, fontes, nascentes e

outras formas de abastecimento sem distribuição canalizada, como as águas do rio

Barreiro e da Cabeceira, toleram-se a presença de coliformes totais, na ausência de

Escherichia coli. Porém, nesta situação deve ser investigados a origem da ocorrência

destes organismos e tomar providências imediatas de caráter corretivo, preventivo e

realizar nova análise de coliformes.

Para a água canalizada o padrão desejado é a ausência de microorganismos

indicadores de poluição. Para a água ser potável deve estar em conformidade com o

padrão microbiológico descrito na Tabela 1.

Tabela 1 - Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano

Parâmetro VMP¹

Água para consumo humano²

Escherichia coli ou coliformes termotolerantes³

Ausência em 100mL

Água na saída do tratamento

Coliformes totais Ausência em 100mL

Água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)

Escherichia coli ou coliformes termotolerantes³

Ausência em 100mL

Coliformes totais Sistemas que analisam 40 ou mais amostras por mês:

Ausência em 100mL em 95% das amostras examinadas no mês.

Sistemas que analisam menos de 40 amostras por mês:

Apenas uma amostra poderá apresentar mensalmente resultado positivo em 100mL.

Notas: (1) valor máximo permitido.

10

Page 23: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

(2) água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais como poços, minas, nascentes, dentre outras.(3) a detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada.

FONTE: BRASIL, (2004)

Para a água canalizada a Portaria 518 recomenda que o pH da água seja mantido

na faixa de 6,0 a 9,5.

4.4. TRATAMENTOS SIMPLES

4.4.1. Desinfecção por Cloração

A desinfecção na água destrói parte ou todos os microorganismos patogênicos

contidos nela. A desinfecção através do cloro se faz necessária, pois não há garantias de

remoção total dos microorganismos através dos tratamentos físico-químicos. O cloro é

um dos desinfetantes mais utilizado e por ser facilmente encontrado (gás, líquido ou

sólido), economicamente viável, de fácil aplicação, deixa um residual em solução

(protegendo o sistema de distribuição) e elimina a maioria dos microorganismos

patogênicos.

O Cloro também tem suas desvantagens por ser um gás venenoso e corrosivo, é

necessário precauções ao manuseá-lo e pode causar gosto e odor na água. O gosto e

odor deixado na água são uma das dificuldades enfrentadas na aldeia, pois quando a

água é clorada parte da população rejeita a água fornecida e bebe água de fontes sem o

tratamento.

“O Cloro devido seu poder oxidante pode ser utilizado no

controle de sabor e odor, remoção de sulfeto de hidrogênio,

ferro e manganês, remoção de cor etc.” (RICHTER e NETTO.

1995 P. 287)

O cloro pode ser dosado através de cloradores que são aparelhos responsáveis por

inserir cloro na água possibilitando uma dosagem regulada e uma freqüência de

cloração ao longo da vazão distribuída. Estes aparelhos podem ser de aplicação direta

sob pressão e de solução a vácuo. O clorador a vácuo é seguro, preciso e mais barato

11

Page 24: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

por isso é mais utilizado, nele o cloro é previamente dissolvido em uma corrente

auxiliar de água através de um injetor.

4.4.2. Filtração

Filtração é o processo que remove as impurezas presentes na água bruta (filtração

lenta); na água coagulada ou floculada (filtração rápida direta); ou na água decantada

(filtração rápida) pela passagem destas em um meio granular poroso, geralmente

constituído em camadas de pedregulho, areia e antracito (comum nos filtros rápidos).

A filtração direta tem sua denominação relacionada com a inexistência de unidade

prévia de remoção de impurezas (Pré-Filtração).

Estudos têm demonstrado que a filtração lenta apresenta alta eficiência na redução

da Turbidez, Cor e Coliformes Totais, Demanda Química de Oxigênio, Carbono

Orgânico Total, Substâncias Húmicas, Detergentes, Fenóis, Agro-químicos e diversos

organismos (bactérias, vírus).

A remoção de vírus pela filtração tem sido atribuída a três fenômenos: Predação

microbiológica, adsorção na biomassa ou biofilme e absorção por superfícies não

biológicas.

4.5. TÉCNICAS LABORATORIAIS

4.5.1. Meios de Cultura com Substratos Cromogênico e Fluorogênico

O diferencial destes meios é a praticidade e a rapidez do resultado, fornecendo a

resposta em 24 horas para Coliformes totais e fecais. Eles foram desenvolvidos para a

identificação de microrganismos através da análise de suas enzimas constitutivas,

contendo um substrato hidrolisável como um substrato definido para apenas os

microrganismos alvo que se quer identificar. (coliformes totais e fecais). Essa

tecnologia é denominada auto-análise, porque uma variação de cor é produzida pelo

microrganismo pesquisado, sem nenhuma necessidade de testes confirmativos.

12

Page 25: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

4.5.2. Pour Plate

É um teste laboratorial indicador auxiliar da qualidade da água, ao fornecer

informações adicionais sobre eventuais falhas na desinfecção, colonização e formação

de biofilmes no sistema de distribuição. Proporcionando ambiente favorável para o

crescimento bacteriano nos meios de cultura Plate Count Agar (PCA).

Segundo DOMINGUES et al. (2007) A desvantagem de se utilizar o método Pour

Plate é que o Agar deve ser mantido em banho Maria em 44-46°C e o calor deve ser

controlado, pois ao inocular 1 ml da amostra na placa de petri e sobre a amostra 10 ml

de Agar aquecido parte dos microorganismos podem não resistir a temperatura,

omitindo o numero exato de colônias

Determinado em UFC/mL Apesar da maioria das bactérias heterotróficas não ser

patogênica, pode representar riscos a saúde, como também deteriorar a qualidade da

água, provocando o aparecimento de odores e sabores desagradáveis.

4.6. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA

“As doenças de veiculação hídrica são caracterizadas

principalmente pela ingestão de água contaminada por

microrganismos patogênicos de origem entérica, animal ou

humana, transmitidos basicamente pela rota fecal-oral”.

(DOMINGUES. et al, 2007)

Elas podem ser encontradas nas Doenças relacionadas ao saneamento ambiental

inadequado (DRSAI) como as descritas na tabela 2.

Dessa forma as enfermidades são as doenças infecciosas intestinais (diarréias) e

as helmintíases (verminoses) que têm maior relação com a falta d’água ou água de má

qualidade. Essas enfermidades são endêmicas nas comunidades não atendidas por

sistemas adequados de abastecimento de água e, por isso, representam indicador

importante no planejamento dos serviços de saúde. Portanto, em termos de saúde

pública, a eficiência dos Sistemas de Abastecimento de Água será maior, quanto menor

for a incidência dessas doenças na população.

13

Page 26: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Tabela 2 - Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI)

Categoria Doenças1. Doenças de transmissão feco-oral Diarréias

Febres entéricasHepatite A

2. Doenças transmitidas por inseto vetor DengueFebre AmarelaLeishmaniosesLeishmaniose tegumentarLeishmaniose visceralFilariose linfáticaMaláriaDoença de chagas

3. Doenças transmitidas através do contato com a água

EsquistossomoseLeptospirose

4. Doenças relacionadas com a higiene Doenças dos olhosTracomaConjuntivitesDoenças da peleMicoses superficiais

5. Geo-helmintos e teníases HelmintíasesTeníases

Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde (2007, p.8)

“As enfermidades que podem ser transmitidas pela água

pertencem ao grupo das Doenças Infecciosas e Parasitárias –

DIP, Conforme a classificação Internacional de Doenças – CID

estabelecida pela Organização Mundial de Saúde – OMS. No

Brasil, em 1979, essas doenças representavam 10,26% de todos

os óbitos. Em 1995, elas passaram a representar 4,33%dos

óbitos (DATASUS 2003). Os mais atingidos pelas DIP são as

crianças até 9 anos que são quando as crianças apresentam

baixa resistência orgânica.” (TSUTIYA, 2006 p. 5)

Os Microorganismos que são liberados na água possuem um tempo de

sobrevivência na mesma, podendo ficar dias à espera de um novo hospedeiro.

Di Bernardo e Dantas (2005) apresentam uma série de organismos patogênicos que

contaminam a água proveniente de esgotos sanitários (Tabela 3). A Tabela 4

apresentam as doenças causadas por microrganismos parasitológicas presentes na água.

14

Page 27: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Tabela 3 - Contaminação de água por organismos patogênicos provenientes de fezes via esgoto sanitário (Geldreicj, 1996)

Organismo Quantidade excretadapor indivíduos

infectados/g de fezes

Sobrevivência máxima na água

(dia)

Dosageminfectante

BactériaEscherichia coli 108 90 102 a 109

Salmonella 106 60 a 90 106 a 107

Shigella 106 30 100Campylobacter 107 7 106

Vibrio cholerae 106 30 108

Yersina enterocolitica

105 90 108

Aeromonas - 90 108

Leptospira - - 3VírusEnterovírus 107 90 1 a 72Hepatite A 106 5 a 27 1 a 10Rotavírus 106 5 a 27 1 a 10Norwalk - 5 a 27 -ProtozoáriosEntamoeba 107 25 10 a 100Giardia 105 25 1 a 10Cryotosporidium 100 - 1 a 30Balantidium coli - 20 25 a 100HelmintosAscaris 1.000 365 2 a 5Taenia 1.000 270 1

FONTE: Di BERNADO e DANTAS, (2005. p.10).

A necessidade da água faz o povo bororo refém da qualidade da água local,

como não possuem fonte segura para abastecimento e nem forma de tratamento. Um

dos índios da localidade, Domingos Sávio, desabafa “Os engenheiros chegam aqui na

aldeia falam que nossa água esta contaminada, eles só criticam, não nos dão

alternativa. Essa é a única água que temos para beber.”

A água esta relacionada com qualidade de vida, desde a preocupação com

aspecto, sabor e odor, que quando inadequados trazem intransigências diariamente aos

seus consumidores, a questão de saúde. Ainda que muitas doenças de veiculação

hídrica com tratamento sejam reversíveis e não deixem seqüelas, a falta de tratamento

destas podem levar a morte ou criar um quadro de morbidade para manifestação de

doenças mais graves.

15

Page 28: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

“Ainda que a água esteja intrinsecamente vinculada com a

vida, a vitalidade e a fertilidade, ela está também estreitamente

relacionada com a morte.” (PENA, 2008 p.73)

Tabela 4 - Doenças causadas por microrganismos parasitológicas presentes na água

Microrganismo Doença SintomasAscaris lumbricoidis Ascaridíase Vômitos, organismos vivos nas fezesCryptosporidium muris e parvum

Criptosporidiose Diarréia aguda, dor abdominal, vômito e febre baixa

Entamoeba histolytica Amebíase Diarréia alternada com constipação, disenteria crônica com muco e sangue

Giardia lamblia Giardíase Diarréia intermitenteSchistosoma mansoni Esquistossomose Infecção do fígado e baçoTaenia saginata Teníase Dor abdominal, distúrbios digestivos e

perda de peso

FONTE: Di BERNADO e DANTAS (2005. p.1154)

4.7 SAÚDE PUBLICA

Os hábitos da população precisam estar adequados para que a situação de saúde-

doença não seja um ciclo vicioso onde o paciente recebe tratamento e acabe se

contaminando novamente, necessitando do mesmo atendimento de saúde anterior. As

populações devem seguir boas praticas no manuseio dos alimentos, lavar as mãos antes

das refeições, tomar banho e trocar de roupa regularmente, utilizar utensílios como

copos e talheres de maneira individual, limpar as caixas d’água domiciliares.

A ausência de coleta dos Resíduos Sólidos faz com que a destinação final do

mesmo seja inadequada, pois a população se livra dos resíduos no quintal de sua

residência. O acumulo de lixo nos quintais promove abrigo adequado para crescimento

de vetores transmissores de doenças. Eventualmente os resíduos acumulados são

queimados e raramente enterrados em vala (figura1).

16

Page 29: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Figura 1 - Resíduo sólido acumulado no quintal.

A população da aldeia Meruri é altamente afetada por doenças infecciosas, a

população conta com um posto de saúde com atendimento primário, promoção de

campanhas e distribuição de remédios. O posto de Saúde conta com profissionais

disponibilizados pela UNISELVA que trabalham em sistema de rodízio, 10 dias do mês

na aldeia e o restante em Cuiabá limitando o acompanhamento de caso de um paciente

por um mesmo profissional. Os técnicos de enfermagem da Uniselva que trabalham na

aldeia relatam que nos prontuários do ano de 2008, boa parte da população buscava

atendimento devido o desconforto causado pela diarréia e que estes pacientes

costumavam retornar com o mesmo diagnóstico meses depois. A cada três meses a

equipe de Saúde disponibiliza vermífugo a toda a população, no entanto parte da aldeia

não busca do tratamento.

17

Page 30: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

A taxa de internações no Município de General Carneiro, localidade que atende

Meruri é acima (no mínimo o dobro) da média Regional e estadual (figura 2).

Figura 2 - Taxa de internações por Doença Diarréica Aguda em menores de 5 anos de idade - Município General Carneiro - 2000 a 2007

FONTE: Secretaria Estadual de Saúde (2008)

De acordo com Nota emitida na revista Hydro, levantamento da Organização

Mundial de Saúde (OMS) mostra que a água contaminada mata 28 mil pessoas por ano

no Brasil. Doenças como hepatite A, cólera e Febre Tifóide são responsáveis por 2,3%

das mortes no país.

A Hepatite A é relatada como uma das principais preocupações dos agentes de

saúde da aldeia que informam ter um alto índice de contaminação da doença na

população. A doença é uma inflamação do fígado é típica de áreas menos

desenvolvidas, com más condições de higiene e falta de saneamento básico. A doença é

transmitida pela via chamada fecal-oral, na maioria das vezes com fezes de pacientes

contaminando a água de consumo e os alimentos.

Segundo a FUNASA (BRASIL, 2002), em 2002 foram notificados pelas

equipes multidisciplinares dos DSEIs 614.822 agravos à saúde em todo o Brasil, sendo

que a principal categoria de doenças entre as que demandaram ao serviço foi a das

Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP), correspondendo a 35,8% das consultas. Na

categoria das DIPs as helmintíases prevaleceram sobre as demais, correspondendo a

18

Page 31: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

42,7 de todos os atendimentos. As diarréias contribuíram com 28,8%, representando,

em conjunto com as verminoses, 71,5% de todos os atendimentos por DIP.

De acordo com MARTINS (2000), além da qualidade física, química e

microbiológica da água, outro requisito para uma distribuição de água com qualidade é

a quantidade e frequência com que ela chega aos usuários. Mesmo a disponibilização

de água em quantidade suficiente, por sistemas de abastecimento precários, em termos

de qualidade, no entanto, é melhor do que nada, pois é sabido que muitas doenças,

como as escabioses (sarnas) e dermatofitoses (infecções da pele), por exemplo, podem

ser reduzidas com higiene pessoal constante. Assim, com a expansão do abastecimento

de água, é de se esperar que haja redução das enfermidades relacionadas com a

qualidade ou quantidade de água.

Segundo Heller et, al. (2006) como a existência de reservatório domiciliar, a

intermitência no fornecimento de água e o preparo da água para o consumo são

importantes na manutenção das características microbiológicas da água, influenciando

no risco de transmissão das doenças infecciosas de veiculação hídrica.

Os reservatórios domiciliares são pontos vulneráveis do sistema de

abastecimento de água, pois representam locais prováveis de contaminação da água,

dentro do próprio domicílio, caso não sejam tomadas medidas para garantir a

manutenção da qualidade da água fornecida pelo sistema público, como a existência de

cobertura, a freqüência da limpeza e a conservação da caixa d’água.

Intermitência no fornecimento de água: Outro fator de risco para doenças

transmitidas pela água, nas áreas CACE e CASE, abastecidas pela água tratada pela

concessionária estadual de saneamento, é a interrupção no abastecimento de água, que

influencia tanto a qualidade microbiológica como a quantidade da água para consumo

humano.

A intermitência no abastecimento de água favorece a perspectiva de

contaminação na rede de distribuição. Porém, a alteração na qualidade da água não

ocorre necessariamente sempre que se verifica a interrupção no fornecimento de água.

Por outro lado, a alteração na quantidade de água fornecida relaciona-se com o risco à

saúde, com a diminuição do consumo “per capita”, influenciando as práticas higiênicas,

e com a adoção de fontes alternativas de abastecimento de água que na maioria das

vezes não são seguras.

19

Page 32: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

A não confiabilidade na freqüência do abastecimento de água em quantidades

necessária para os usos domésticos, faz com que os moradores da aldeia armazenem

água em recipientes de maneira desprotegida (Figura 3)

Figura 3 - Água armazenada para consumo.

Outro problema que influencia na contaminação da água da rede de distribuição

é a falta de drenagem pluvial na aldeia. Pois as águas pluviais inundam os lotes

ocorrendo empoçamento, que poderá infiltrar na tubulação com vazamento.

A aldeia ainda possui a fragilidade de contaminação devido a falta de destinação

adequada para os Resíduos Sólidos na tribo. A presença de vetores esta associada ao

acúmulo de lixo e à existência de esgotos a céu aberto. Apesar das moscas e ratos serem

capazes de transportar agentes infecciosos de doenças, tais como a febre tifóide,

salmoneloses, shigeloses, amebíase, giardíase, cisticercose, dentre outras.

As precárias condições ambientais, decorrentes da insalubridade das habitações,

são, potencialmente, favoráveis para o aumento das infecções por parasitas e, algumas

vezes, até contribui para maior intensidade de transmissão, inclusive em áreas

beneficiadas pelo saneamento ambiental. De nada adianta o Tratamento da água em

reservatórios se a contaminação será dada na moradia dos indígenas, devido a

precariedade das moradias. A fotografia abaixo representa bem esta situação, o esgoto

primário do banheiro da residência acumula próximo a moradia juntamente com o lixo

dos moradores (Figura 4).

20

Page 33: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Figura 4 - Esgoto e resíduos sólidos próximo a moradia.

Levar água segura aos domicílios indígenas seja ela superficial, de chuva ou

subterrânea, é uma obrigação do Estado porque esse tema aborda uma dimensão vital e

de saúde humana. No Brasil, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) é responsável

pela saúde ambiental nas Terras Indígenas. Esta atividade envolve a execução de ações

de saneamento básico relacionadas ao abastecimento de água, esgotamento sanitário e

melhorias sanitárias domiciliares, além de outras ações de proteção do ambiente.

As ações de saúde ambiental vêm sendo coordenadas pelo Departamento de

Engenharia de Saúde Pública (DENSP), em articulação com o Departamento de Saúde

Indígena (DESAI) e executadas pelas Divisões ou Seções de Engenharia de Saúde

Pública (DIESP/SENSP) das Coordenações Regionais da FUNASA nos estados, em

articulação com os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI).

A aldeia conta com um AISAN - Agente Indígena de Saneamento o qual reclama da

falta de participação da população. Relata que recomenda aos moradores fazerem a

limpeza da caixa d’água residencial e que sofreu muita reclamação da população contra

a utilização do Cloro na água, obrigando o mesmo a suspender o tratamento.

21

Page 34: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. ÁREA DE ESTUDO

5.1.1. Aldeia de Meruri

A aldeia de Meruri (Figura 5) é atualmente a maior aldeia dos índios Bororo, com

uma população de 483 habitantes (FUNASA, 2008). Localizada no sudeste do estado

do Mato Grosso com área total da reserva de 82,301 ha, que atualmente abriga duas

aldeias, Meruri e a do rio Garças. Foi demarcada em 1976 (Decreto 76.999/76) e

homologada em 1987 (Decreto 94014/87). A área de estudo foi as casas atendidas pela

rede de abastecimento de água da FUNASA e da Missão Salesiana com 415 índios

bororos.

Figura 5 - Área Indígena da Aldeia Meruri no Estado

A tribo abandonou o comportamento nômade em 1902 e estabeleceu moradia fixa,

primeiramente na região denominada de “Tachos” a qual foi substituída em 1923 pela

atual localização Meruri devido a maior disponibilidade de água. Com o tempo de

existência da colônia surgiram necessidades secundárias que não faziam parte do

cotidiano de seus ancestrais como o cozimento rotineiro de alimentos, o uso de roupas,

louças, banheiros, chuveiro, torneiras, enfim novos costumes foram agregados a

cultura, tornando-se necessário a implantação de um sistema de abastecimento de água.

Dos anos de 1940 à 1978 funcionou no local um internato de meninos e meninas

administrados por padres e freiras, criando grande movimento de não índios na aldeia, o

que gerou uma mesclagem de culturas na tribo.

22

Page 35: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Suas terras são cortadas pela rodovia federal BR-70, separada desta rodovia por um

trecho não pavimentado de aproximadamente 5 km, a comunidade tem acesso

relativamente fácil às cidades e lugarejos próximos e, conseqüentemente, fácil

comunicação com a comunidade externa não-índia, bem como acesso a seus bens e

serviços, sendo cerca de 50 quilômetros da cidade de General Carneiro e 120

quilômetros de Barra do Garças, cidade onde são levados os índios com casos graves de

doenças.

A aldeia conta com posto de saúde, igreja e escola. O posto de saúde trabalha com

enfermeiro e técnicos de enfermagem da UNISELVA, que promovem campanha de

vacinação e distribuição de medicamentos e atendimentos simples, atendimentos

complexos ou que necessitem de aparelhagem são feitos na cidade de Barra do Garças.

A igreja é mantida pela Missão Salesiana do estado de Mato Grosso, de religião

católica e a reza segue os rituais da igreja católica, no entanto conta ornamentos da

cultura indígena e missa na língua da tribo. A escola é mantida pela prefeitura

municipal de General Carneiro e pela Missão Salesiana onde 116 alunos e 13

professores desfrutam do Ensino Fundamental. Os índios que se interessam em cursar o

Ensino médio são levados ao vilarejo de Paredão.

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Page 36: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

5.1.2. Pirâmide Etária da Aldeia de Meruri – MT

Figura 6 - Pirâmide de Faixa Etária da Aldeia de Meruri – 2008

Fonte: FUNASA, (2008)

5.1.3. Finalidade da Água na Aldeia

A água na aldeia é utilizada para usos domésticos (alimentação, higiene, limpeza,

recreação e esportes), dessedentação de animais, geração de energia, irrigação,

navegação, aqüicultura (pesca) e a assimilação de esgotos urbanos.

“Apesar de a água ser utilizada também de forma plural

pelas populações indígenas, o seu uso é menos diversificado do

que aquele que ocorre nas sociedades urbano-industriais, pois

nestas últimas a água é usada também para uma grande

diversidade de usos não-domésticos e em larga escala.” (PENA,

2008)

PENA (2008) descreve ainda que em sociedades urbanas e industrializadas a água é

um bem controlado tecnologicamente por meio de estações de tratamento, represas,

bacias de detenção, etc; para os povos indígenas a água dos rios, riachos, lagos,

24

Page 37: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

nascentes “é um bem da natureza, muitas vezes dádiva da divindade, responsável pela

sua abundância ou pela sua escassez. Proveniente da natureza, a água é um bem de uso,

em geral coletivo”

5.1.4. Histórico do Abastecimento

A tribo de índios Bororos ao longo de Sua história sempre teve que se adaptar as

adversidades do fornecimento de água. Mudando freqüentemente de fontes, se

adaptando a novas distâncias ou hábitos diferentes para suprir as necessidades vitais e

de higiene pessoal.

A tribo abandonou o comportamento nômade em 1902 e estabeleceu moradia fixa,

primeiramente na região denominada de “Tachos” e conviveu com problemas de

disponibilidade de água no local. O local era desprovido de rede de abastecimento, os

índios buscavam água em recipientes e armazenavam para o consumo.

A tribo foi em busca de local com maior abundancia em água no ano de 1923. A

área escolhida foi Meruri. A tribo estabeleceu moradia entre o rio Barreiro e um riacho

da Cabeceira.

Por volta de 20 anos atrás a rede de distribuição de água da missão Salesiana foi

instalada em Meruri, coletando água na Cabeceira, acumulando em um reservatório,

que por gravidade mandava a água para outro reservatório o qual abastecia as

dependências dos Salesianos e as casas da aldeia.

Há cerca de 10 anos no centro da aldeia havia uma fonte de abastecimento, era uma

nascente com um acumulo de água em potencial, onde era utilizada para consumo

humano e balneabilidade, hoje a área é seca, obrigou os moradores a abandonar esta

fonte.

Com o aumento da população algumas famílias tiveram que construir suas casas

fora do quadrado oficial da aldeia, abstendo-se da água canalizada. No ano de 1998 o

Projeto AMA, Ação Missionária Ambulante, instalou poço artesiano com

bombeamento por placa solar com rede de distribuição de água para estas famílias. Para

famílias que estavam isoladas das duas redes de distribuição de água o projeto instalou

poços com bombeamento mecânico próximo as famílias isoladas. Hoje na aldeia

existem 4 poços do projeto desativados.

25

Page 38: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

A aldeia contava com energia fornecida por uma PCH instalada no Rio Girigiga da

aldeia, até Setembro de 2007 a energia da aldeia era fornecida exclusivamente pela

PCH. Portanto o consumo de energia elétrica era limitado ao horário de funcionamento

do gerador da usina. Esse problema de energia limitava o funcionamento de bombas

para sucção da água dos poços artesianos. O Projeto AMA instalou em seu sistema

placa solares. O conjunto de bombas da FUNASA funciona com óleo Diesel.

Alternativa que limitou o fornecimento, pois há gastos para adquirir o produto que vai

alem de seu preço, já que a cidade mais próxima esta a 40 km. Depois de setembro de

2008 o projeto “Luz para todos” atendeu a população, no entanto a bomba de adução

não esta adaptada para forma elétrica ainda.

5.1.5. Pontos de fornecimento de água da aldeia:

Atualmente a aldeia conta com três redes de abastecimento distintas: a da

FUNASA, a do rio Cabeceira e de um poço artesiano do projeto AMA (ANEXO 1),

todas sem nenhum tipo de tratamento.

Um rio, nomeado Barreiro (Figura 7), à cerca de 50m da aldeia, atende toda a

comunidade para balneabilidade, pesca, para lavar roupa e consumo de água

esporadicamente.

Figura 7 - Rio Barreiro em período de estiagem.

A rede de distribuição de água da Cabeceira, a qual possui grande vantagem por

ser um sistema de operação praticamente independente, por não necessitar de

26

Page 39: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

bombeamento. A Cabeceira que é o local da captação da água, abastecendo cerca de

80% da aldeia a água captada vai para um reservatório subterrâneo de

aproximadamente 20.000 litros. Este reservatório fornece água para outro reservatório

que se encontra na aldeia o qual distribui água para as casas abastecidas pela rede de

distribuição da Missão Salesiana. A captação possui uma fragilidade além da falta de

controle sobre a pequena vazão do corpo d’água, a tubulação perfurada que capta a

água por vezes é impregnada de folhas, interferindo o fluxo. A captação fica a cerda de

1.500metros da aldeia (Figura 8), a retirada de folhas e objetos que possam estar

interrompendo a captação só acontece quando os moradores percebem diminuição do

fornecimento.

Figura 8 - Cabeceira - local de captação de água.

O reservatório próximo a captação tem a pretensão de acumular água para não

interromper o abastecimento e mandar em vazão necessária para o reservatório situado

na aldeia por gravidade (Figura 9). Embora o reservatório não seja vedado

adequadamente e não possua programas de limpeza, sua estrutura protege a água

acumulada de grandes animais.

27

Page 40: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Figura 9 - reservatório subterrâneo.

A água do reservatório subterrâneo chega direto na aldeia para o reservatório

elevado que distribui água sem nenhum tratamento para maior parte da aldeia (Figura

10).

Figura 10 - Reservatório de distribuição de água da Cabeceira para a aldeia.

A água da Cabeceira fornece ainda outro ponto para balneabilidade e demais

usos para os moradores (Figura 11).

28

Page 41: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Figura 11 - Água da Cabeceira utilizada para balneabilidade e demais usos.

A aldeia conta com um poço artesiano da FUNASA em funcionamento

atendendo parte da aldeia com caixa d’água com capacidade de 30.000litros. O

bombeamento da água deste poço é movido a óleo Diesel, dificultando seu

funcionamento e depende ainda da presença de um responsável para a liberação da água

(Figura 12).

Figura 12 - Reservatório de distribuição da FUNASA.

A rede de distribuição de água da FUNASA abrange toda a aldeia, no entanto

seu funcionamento não é o mais confiável. A população não pode contar com a certeza

29

Page 42: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

do funcionamento da água devido ao não comparecimento do funcionário ou falta de

óleo para o funcionamento da bomba. Durante o ano o reservatório rompeu

interrompendo o abastecimento pela rede FUNASA durante mais de 30 dias (Figura

13).

Figura 13 - Reservatório rompido da FUNASA em abril de 2008.

Do reservatório a FUNASA distribui água para os reservatórios residenciais de

250 litros. Com a falta de distribuição de água da FUNASA, ou falta de pressão em

algumas residências, os banheiros ficam inutilizáveis e a população acaba evacuando

no quintal de casa (Figura 14).

Figura 14 - Reservatório domiciliar.

30

Page 43: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Outra rejeição da população quanto à rede de distribuição da FUNASA foi o uso

de Cloro na água, a dosagem prejudicou o paladar da água significativamente. Parte da

população reclamou de diarréia após o consumo, outra rejeitou a água devido ao

paladar e buscou outras fontes de abastecimento como a Cabeceira e o Rio Barreiro

durante o período. O uso do Cloro foi interrompido por conta da rejeição popular e o

clorador foi inativado (Figura 15).

Figura 15 - Clorador inativo da rede de distribuição da FUNASA.

E uma pequena parte da aldeia mais precisamente 12 casas são atendidas pelo poço

artesiano do projeto AMA que possui funcionamento com placa solar (Figura 16). Esta

pequena rede de distribuição foi construída para atender estes moradores que não

cabiam mais no grande quadrado da aldeia. A rede foi construída em 1998, para as

casas já existentes, hoje ela atende mais 4 casas fora do projeto inicial.

31

Page 44: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Figura 16 - Poço artesiano do Projeto AMA

5.1.6. Problemas com a Tubulação de distribuição

A tubulação da aldeia é antiga e foi instalada com pequena profundidade (Figura

17). Hoje em dia o trajeto da tubulação coincide com o trajeto dos carros. A pouca

profundidade leva a tubulação a total exposição ou a rompimento. Transformando num

ponto de infiltração nos momentos em que o fornecimento de água é interrompido.

32

Page 45: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Figura 17 - Marcas de pneu próximas a tubulação comprometida.

A declividade do terreno e a ausência de drenagem pluvial fazem com que o

esgoto lançado a céu aberto, as fezes evacuadas fora da privada sejam levadas com a

chuva para quintais vizinhos. Caso a tubulação destes quintais atingidos esteja

comprometida esta lama contaminada poderá infiltrar na rede de distribuição de água

transformando a água imprópria para o consumo humano.

Nove casas da aldeia não possuem banheiro na residência. E das casas que

possuem banheiro parte está inutilizável devido a falta de água para a utilização da

descarga, outra parte está sendo usada parcialmente devido a falhas na tubulação. A

figura abaixo mostra que há um vazamento de esgoto do banheiro antes do mesmo

chegar a fossa séptica (Figura 18).

33

Page 46: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Figura 18 - Precariedade do esgotamento sanitário.

Os vazamentos da tubulação provocam outro tipo de problema a aproximação

de animais domésticos e selvagens para beber a água acumulada no terreno. A aldeia é

circundada por mata fechada habitat natural de muitos animais transmissores de

doenças (Figura 19). Para combater a praga de rato alguns moradores colocam veneno

em suas casas, os ratos procuram local com água desprotegida para beber, como caixas

d’água destampadas e tambores de armazenamento, contaminando a água que poderá

ser consumida pelas pessoas.

Figura 19 - Rato morto em frente a uma residência.

34

Page 47: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

A falta da estrutura física para a distribuição de água em algumas casas é

assustadora, na casa abaixo moram 9 pessoas, eles não possuem banheiro e o único

ponto de água da casa é a torneira a 30 cm do chão (Figura 20).

Figura 20 - Residência com apenas uma torneira.

O vazamento na tubulação diminui a pressão dinâmica da rede, prejudicando casas

com pequeno desnível geográfico em relação ao reservatório. Parte da aldeia vivencia

este drama, pois a água não tem “força” para abastecer a caixa d’água, deixando o

banheiro inutilizável.

De acordo com COSTA (2008), entre as possíveis causas para a ocorrência de furos

na tubulação destacam-se:

Material utilizado.

Profundidade inadequada.

Idade da ligação.

Mudança de tráfego.

Tipo do solo e aterro.

Execução e manutenção anteriores.

“É de conhecimento geral que há uma queda de pressão

generalizada nos casos em que ocorrem rupturas de rede, mas,

35

Page 48: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

por outro lado, não é possível estimar-se facilmente a região

onde esta queda de pressão é mais pronunciada ou mesmo se

gera condições de pressão excepcionalmente baixa nos condutos

da rede. A delimitação de regiões de baixa pressão é de grande

relevância para que seja possível identificar os pontos mais

vulneráveis á contaminação na rede, bem como

subseqüentemente mapear o espalhamento da contaminação”.

(VASCONCELOS e KOIDE, 2008, p.29)

5.2. FREQÜÊNCIA E PONTOS DE AMOSTRAGEM

Este trabalho foi realizado através de pesquisas em campo na aldeia Meruri. Foram

realizadas 6 coletas durante o ano de 2008, buscando atender as seguintes

recomendações da Portaria 518 de 25 de Março de 2004:

“A amostragem deve obedecer aos seguintes requisitos:

I - distribuição uniforme das coletas ao longo do período; e

II - representatividade dos pontos de coleta no sistema de distribuição (reservatórios e

rede), combinando critérios de abrangência espacial e pontos estratégicos, entendidos

como aqueles próximos a grande circulação de pessoas ou edifícios que alberguem

grupos populacionais de risco (como a escola.), aqueles localizados em trechos

vulneráveis do sistema de distribuição (pontas de rede, pontos de queda de pressão,

locais afetados por manobras, sujeitos à intermitência de abastecimento, reservatórios,

etc.) e locais com sistemáticas notificações de agravos à saúde tendo como possíveis

causas agentes de veiculação hídrica.”

Nas visitas foram coletadas amostras de água dos seguintes pontos:

P1 - Coleta pontual no Rio Barreiro;

P2 - Casa abastecida pela rede distribuidora da Missão Salesiana, captada na

Cabeceira de um riacho local;

P3 - Coleta pontual na Cabeceira;

36

Page 49: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

P4 - Casa abastecida pela rede distribuidora do Projeto AMA proveniente de

poço artesiano;

P5 - Casa abastecida pela rede distribuidora da FUNASA proveniente de poço

artesiano, sofrendo esporadicamente cloração;

P6 - No bebedouro escolar, proveniente da rede da Missão Salesiana,

submetida a filtração.

Como o foco do trabalho é diagnosticar a qualidade da água consumida pela

população, a coleta foi feita na rede de distribuição, e nos pontos utilizados para

balneabilidade. As amostras de água da rede de distribuição foram coletadas nos pontos

desfavoráveis da rede e as amostras dos cursos d’água nos 2 pontos mais freqüentados

pela comunidade indígena. Outro ponto de coleta foi o filtro escolar por ser uma fonte

onde boa parte da população tem acesso diariamente.

Para a coleta das amostras procurou-se reproduzir de maneira que mais se

assemelhasse a prática dos moradores, ou seja, na rede de distribuição a coleta foi feita

na torneira sem desinfecção e flambagem e coletando o volume necessário sem que a

água escoasse. No rio Barreiro e na Cabeceira foram coletados nos pontos mais

freqüentados pela população, sendo a coleta feita próxima a margem dos corpos d’água.

5.3. ANÁLISES E EXAMES A SEREM EFETUADAS

A determinação da possível contaminação microbiológica das amostras foi

determinada através das técnicas Pour Plate e Técnica do Substrato Definido (Colilert)

sendo contabilizadas as bactérias heterotróficas, coliformes totais e fecais. Foram

realizadas 06 (seis) coletas ao longo do ano de 2008, com a expectativa de atender as

exigências da Portaria 518. Sendo que a água do rio Barreiro e da Cabeceira deverão se

enquadrar em Classe Especial (águas destinadas: ao abastecimento doméstico sem

prévia ou com simples desinfecção; à preservação do equilíbrio natural das

comunidades aquáticas) prevista na resolução 357/05.

Foram aplicados questionários a população e entrevistas com os moradores mais

antigos e administradores locais. O questionário foi realizado com no mínimo 20% das

casas da aldeia, sendo escolhidas de forma aleatória e com o morador mais velho da

casa. A entrevista sobre os tratamentos de água pretendia conhecer o quanto a

37

Page 50: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

população conhecia sobre os tratamentos que podem ser feitos para melhoria da

qualidade da água a ser consumida.

O questionário e a entrevista buscaram colher informações sobre as formas de

abastecimento ao longo do tempo vida na aldeia, demonstrar como foi a mudança de

fonte de abastecimento de água sendo esta mudança por conveniência ou por

necessidade.

Verificou-se o histórico de doenças dos últimos 3 anos (2005, 2006, 2007 e início

de 2008), visando conhecer qual seria o potencial de doenças assimiladas à

contaminação hídrica. Estes dados foram fornecidos pela FUNASA.

A coleta das amostras foi realizada em recipientes assépticos e conservadas em

isopor com gelo para manter temperatura adequada até chegar ao laboratório de

microbiologia da UFMT para análises (tempo inferior a 24 horas).

Para a determinação de coliformes totais e fecais foi utilizada a técnica do Substrato

definido. Retirava-se 100 mL do frasco da coleta por meio de pipeta estéril e colocada

em um frasco onde adicionava o substrato definido agitando até a completa diluição dos

grânulos. Posteriormente a solução foi colocada em uma cartela composta de 49

cúpulas grandes e 49 pequenas, levando a seladora para que a solução fosse distribuída

igualmente. Em seguida as cartelas foram incubadas a 35 ºC em estufa por 24 horas. A

leitura da cartela resumia em positivo para coliforme total se a cúpula mantivesse a

coloração amarela e, para coliforme fecal se apresentasse coloração azul quando

submetida a lâmpada ultravioleta (115 volts, 6hz, 20 AMPS). O teste era negativo com

ausência de coloração. Os resultados foram expressos de acordo com a tabela NMP

(número mais provável em 100 mL de água), onde uma cúpula positiva equivale a uma

bactéria em 100 mL de água.

Conforme descrito por DOMINGUES et al. (2007), a contagem de bactérias

heterotróficas é utilizada como indicador da qualidade de água potável, sendo que os

microrganismos são detectados por propagação em meios não-seletivos como o Plate

Count Agar (PCA).O teste inclui a detecção, inespecífica, de bactérias ou esporos de

bactérias, sejam de origem fecal, componentes da flora natural da água ou resultantes

da formação de biofilmes no sistema de distribuição.Portanto o teste é um indicador

auxiliar da qualidade da água, fornecendo informações adicionais sobre eventuais

falhas na desinfecção, colonização e formação de biofilmes no sistema de distribuição.

38

Page 51: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

A desvantagem de se utilizar o método Pour Plate é que o Agar deve ser mantido

em banho Maria em 44-46°C e o calor deve ser controlado, pois ao inocular 1 mL da

amostra na placa de petri e sobre a amostra 10 mL de Agar aquecido parte dos

microorganismos podem não resistir a temperatura, omitindo o número exato de

colônias.

Determinado em UFC/mL Apesar da maioria das bactérias heterotróficas não ser

patogênica, pode representar riscos a saúde, como também deteriorar a qualidade da

água, provocando o aparecimento de odores e sabores desagradáveis.

39

Page 52: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

6. RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1. PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E BACTERIOLÓGICOS DA ÁGUA DA ALDEIA

O Rio Barreiro é utilizado para balneabilidade, usos domésticos e esporadicamente

para consumo humano. A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos das análises

microbiológicas do rio Barreiro e a Tabela 6 apresenta os resultados de análise

microbiológica da casa abastecida pela rede distribuidora pela Missão Salesiana.

Tabela 5 – Resultados das análises microbiológicas do Rio Barreiro em 2008.

P.1- Rio BarreiroDia da coleta

Hora da coleta

pH T.(°C) Água

T.(°C) Ar

Chuvas (24h)

Coliformes Totais

E.Coli

Bactérias Heterotróficas

5/fev 12:50 7,19 25.3 32,5 sim >2.419,2 0 >5009/abr 08:10 5,79 24 24.3 não 1.076,00 620 -

30/mai 17:30 6,31 26.1 25.9 sim 6.488,00 644 >50025/ago 17:20 6,24 26.2 25.3 não >2.419,2 110 31512/out 08:30 7,68 23,6 23,7 não 1.355,00 265 2705/nov 09:00 7,53 25,8 27,5 sim 3.325,00 708 >500

A Portaria 518 diz que a presença de coliformes totais é tolerável, na ausência

de Escherichia coli e/ou coliformes termotolerantes. Apenas a primeira amostra atende

esta condição, a água do Rio Barreiro é considerada imprópria para o consumo humano

direto sem tratamento, somente com desinfecção. Para que a água seja utilizada para

abastecimento é necessário que seja submetida a tratamento de desinfecção. Para a

balneabilidade a água é considerada satisfatória.

Tabela 6 – Resultados das análises microbiológicas da Casa Abastecida pela Rede Distribuidora da Missão Salesiana em 2008

P2 - Casa abastecida pela rede distribuidora da Missão SalesianaDia da

coletaHora da

coletapH T.(°C)

ÁguaT.(°C)

ArChuvas (24h)

Coliformes Totais

E. Coli

Bactérias Heterotróficas

5/fev 13:00 7,01 28 34.2 sim 1.413,60 16 >5009/abr 08:25 5,37 26 26.5 não 53,80 21,8 -30/mai 17:46 6,47 27 26.2 sim 7,40 0 128

25/ago 17:32 5,81 27.4 26.7 não 290,90 0 13212/out 08:40 7,68 28,3 26,6 não 382,00 20 1275/nov 09:13 7,12 26 28 sim 77,60 30,5 172

40

Page 53: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Sendo assim a água da rede de distribuição da FUNASA foi considerada

Imprópria para consumo humano.

Em duas amostras o pH se encontrava abaixo do padrão estabelecido pela

Portaria 518, que recomenda que o pH da água seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5. A

Tabela 7 apresenta os valores obtidos das análises microbiológicas do Rio Cabeceira

entre os dias 5 de fevereiro a 5 de novembro de 2008.

Tabela 7 – Resultados de análise microbiológica do Rio Cabeceira nos meses de Fevereiro a Novembro de 2008

P3 - CabeceiraDia da

coletaHora da

coleta pHT.(°C) Água

T.(°C) Ar

Chuvas (24h)

Coliformes Totais E. Coli

Bactérias Heterotróficas

5/fev 13:11 7,11 25,2 33.4 sim 686,7 3,1 309/abr 08:37 5,54 26.4 27.8 não 159,70 0 -

30/mai 17:51 6,22 26,3 26,7 sim 1.860,00 97 16025/ago 17:41 5,7 27.9 27.2 não >2.419,2 5,2 17212/out 08:56 8,88 25,3 25 não 909,00 20 1525/nov 09:25 7,48 26.3 28.5 sim >2.419,2 >2.419,2 185

A Portaria 518 estabelece que a presença de coliformes totais é tolerável, na

ausência de Escherichia coli e/ou coliformes termotolerantes. Como em apenas uma

das amostras apresentam estas condições, a água da Cabeceira é considerada imprópria

para o consumo humano. Para que a água seja utilizada para abastecimento é necessário

que seja submetida a tratamento de desinfecção. Para a balneabilidade a água é

considerada satisfatória.

A Tabela 8 apresenta os resultados das análises microbiológica das águas do

poço artesiano da rede de distribuição do Projeto AMA em 2008.

Tabela 8 – Resultados das análise microbiológica do poço artesiano da rede de distribuição do Projeto AMA em 2008

P4 - Rede de distribuição do Projeto AMA proveniente de poço artesianoDia da

coletaHora da

coletapH T.(°C)

ÁguaT.(°C)

ArChuvas (24h)

Coliformes Totais

E. Coli

Bactérias Heterotróficas

5/fev 13:30 7 26.5 34.2 sim 0 0 09/abr 08:51 5,65 26.1 27 não 108.10 2 -

30/mai 18:03 6,32 27.2 26.9 sim 1.0 0 525/ago 17:56 5,8 26.9 27.5 não 0 0 012/out 09:13 8,08 27,4 24,7 não 0 0 25/nov 09:40 7,3 27 28.9 sim 920.00 0 18

41

Page 54: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

A rede de distribuição a rede do projeto AMA foi a que apresentou melhores

resultados. Porém apenas 3 das amostras foram adequadas a Portaria 518 que estabelece

ausência de Coliformes totais e E. Coli para consumo humano. A E. Coli apareceu em

apenas uma das amostras. Em duas amostras o pH se encontrava abaixo do padrão

estabelecido pela Portaria 518, que recomenda que o pH da água seja mantido na faixa

de 6,0 a 9,5.

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos das análise microbiológica da água

coletada em uma casa abastecida pela rede de abastecimento realizada pela FUNASA

em 2008.

Tabela 9 – Resultados das análise microbiológica da casa abastecida pela rede da FUNASA em 2008

P5 - Casa abastecida pela rede da FUNASA proveniente de poço artesianoDia da

coletaHora da

coletapH T.(°C)

ÁguaT.(°C)

ArChuvas (24h)

Coliformes Totais

E. Coli

Bactérias Heterotróficas

5/fev 13:47 6.91 26.7 34 sim 140.3 2.0 279/abr 08:59 5.65 26.3 27.1 não 159.7 0 -30/mai 18:15 6.13 27 26 sim 325.5 13.2 270

25/ago 18:17 6,24 26.8 27.6 não 365.4 4.1 23212/out 09:24 9.25 26.1 25.6 não 190.4 1.0 >5005/nov 09:55 8,1 26 28.2 sim 332.5 57.8 >500

As 6 amostras de água da rede de distribuição da FUNASA apresentaram

contaminação por coliformes totais, e em 5 amostras por E. Coli para 100 mL. E, em 2

amostras o resultado foi superior a 500 UFC (Unidades Formadoras de Colônia) por

100 mL.

Em uma das amostras o pH se encontrava abaixo do padrão estabelecido pela

Portaria 518, que recomenda que o pH da água seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5

Sendo assim a água da rede de distribuição da FUNASA foi considerada

Imprópria para consumo humano.

A Tabela 10 apresenta os resultados das análise microbiológica do Bebedouro

Escolar em 2008

42

Page 55: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Tabela 11 – Resultados das análise microbiológica do bebedouro escolar em 2008

P6 - Bebedouro escolarDia da

coletaHora da

coletapH T.(°C)

ÁguaT.(°C)

ArChuvas (24h)

Coliformes Totais

E. Coli

Bactérias Heterotróficas

5/fev 13:55 7,22 24.1 34.5 sim >2.419,20 2 409/abr 09:07 5.64 25.2 27.1 não 0,00 0 -30/mai 18:22 6.15 24.2 26.8 sim 5.2 0 31

25/ago 18:39 5.68 24.5 27.9 não 0.0 0 712/out 09:39 9.16 25 25.3 não 16.6 0 1305/nov 10:02 7,9 24.3 28.4 sim 0.0 0 2

A água do bebedouro apresenta contaminação por coliformes totais em 50% das

amostras, a contaminação por E. Coli foi detectada em apenas uma das amostras. No

entanto a filtração não esta sendo suficiente para a eliminação das Bactérias. Ainda que

a água do filtro não possa ser considerada como potável, é o melhor resultado de água

para consumo humano da aldeia. Em duas amostras o pH se encontrava abaixo do

padrão estabelecido pela Portaria 518, que recomenda que o pH da água seja mantido

na faixa de 6,0 a 9,5

6.2. MORBIDADE NA ALDEIA

Os dados de morbidade da aldeia Meruri foram fornecidos pelo DESEI de Cuiabá

são apresentados na Tabela 11.

A Figura 21 mostra que as doenças infecciosas então entre as três maiores

morbidades da aldeia durante o ano de 2005. Se considerarmos que cada notificação

corresponde a um paciente, mais da metade dos moradores da aldeia foram atingidos

pelo mal.

43

Page 56: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Tabela 12 – Valores de Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença)

Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2005. Fonte: FUNASA

Descrição Capítulo CID TotalSintomas sinais e achados anormais 523Doenças do aparelho respiratório 406Algumas doenças infecção 275Doenças sistema osteomuscular 183Doenças da pele 168Causa externas 109Doenças do aparelho digestivo 96Doenças do ouvido 37Doenças do aparelho circulatório 28Doenças aparelho geniturinário 25Doenças do olho e anexos 22Doenças sangue 9Doenças do sistema nervoso 6Doenças endócrinas 4Transtornos mentais 4Neoplasias (tumores) 1Gravidez parto e puerpério 1Mal formação congênita deformação 1

Morbidade da aldeia Meruri no ano de 2005

523

406

275

183 168109 96

28 25 22 6 4 4 1 1 1937

0

100

200

300

400

500

600

Sint s

inai

s e

achad

anorm

ais

Doenças

do apar

resp

irató

rio

Algum

as doe

nças

infe

c

Doenças

sist

ost

eomusc

ular

Doenças

da pel

e

Causa e

xter

nas

Doenças

do apar

dig

estiv

o

Doenças

do ouvid

o

Doenças

do apar

circ

ulató

rio

Doenças

apar

gen

iturin

ário

Doenças

do olh

o e a

nexos

Doenças

sangue

Doenças

do sis

tem

a ne

rvoso

Doenças

endócr

inas

Transt

ornos

men

tais

Neoplasia

s (tu

mor

es)

Gravid

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to e

puer

pério

Mal

for c

ong defo

r

Morbidades

Qu

an

tita

tiv

os

Figura 21 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2005

44

Page 57: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

A Incidência (número de casos confirmados por doença) ocorrida na aldeia de

Meruri com a etnia Bororo no ano de 2006 (Tabela 12).

Tabela 13 - Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2006, Fonte: FUNASA

Descrição Capítulo CID TotalDoenças do aparelho respiratório 211Sintomas sinais e achados anormais 207Algumas doenças infecção 156Doenças sistema osteomuscular 109Doenças da pele 89Doenças do aparelho digestivo 70Causa externas 59Doenças do aparelho geniturinário 31Doenças do aparelho circulatório 23Doenças do ouvido 19Doenças do olho e anexos 11Doenças sangue 5Gravidez parto e puerpério 5Doenças do sistema nervoso 3Doenças endócrinas 2Neoplasias (tumores) 1Transtornos mentais 1

Morbidades da aldeia Meruri no ano de 2006

211 207

156

10989

70 59

19 5 5 2 1 12331 3110

50

100

150

200

250

Doenças

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resp

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Figura 22 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2006

45

Page 58: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Novamente a figura 22 mostra que as doenças infecciosas então entre as três

maiores morbidades da aldeia durante o ano de 2006. Mas apresenta uma melhora e

uma redução de cerda de 1/3 das notificações de doenças infecciosas.

A Tabela 13 apresenta os dados da Incidência (Número de Casos Confirmados porDoença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2007

Tabela 14 - Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2007

Descrição Capítulo CID TotalSintomas sinais e achados anormais 166Algumas doenças infecção 115Doenças do aparelho respiratório 109Doenças sistema osteomuscular 100Doenças da pele 64Causa externas 47Doenças do aparelho digestivo 32Doenças sangue 26Doenças do aparelho circulatório 21Doenças do ouvido 15Doenças do aparelho geniturinário 15Doenças do olho e anexos 9Doenças do sistema nervoso 8Doenças endócrinas 4Transtornos mentais 4Gravidez parto e puerpério 3Malformação congênita deformação 2

Morbidades da aldeia Meruri no ano de 2007

166

3221 15 9 8

115109 100

234426

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Figura 23 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2007

46

Page 59: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Em 2007 as doenças infecciosas alcançam a 2º posição nas morbidades da

aldeia.

A Tabela 14 apresenta o número de Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2008 dos Meses de Janeiro à Abril

Tabela 15 - Incidência (Número de Casos Confirmados por Doença) Ocorrida na Aldeia de Meruri com a Etnia Bororo no Ano de 2008 dos Meses de Janeiro à

AbrilDescrição Capítulo CID Total

Sintema sinais e achados anormais 22Doenças do aparelho respiratório 19Doenças da pele 12Doenças do aparelho digestivo 11Doenças sistema osteomuscular 9Algumas doenças infecção 8Doenças do aparelho respiratório 4Causas Externas 3Doenças sangue 3Doenças do olho e anexos 1Doenças do ouvido 1Doenças endócrinas 1Transtornos mentais 1Doenças do aparelho geniturinário 1

47

Page 60: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

Morbidades da aldeia de Meruri mês Janeiro á abril de 2008

19

12

4

1 1 1 1 1

33

8

11

22

9

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10

15

20

25

Sint s

inais e

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Doença

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Figura 24 - Morbidades da Aldeia Meruri na Ano de 2008 dos Meses de Janeiro à Abril

Para os quatro primeiros meses de 2008 as doenças infecciosas estão em 6° lugar

das notificações. No entanto os enfermeiros do local relatam que o dado não é

animador, pois, os períodos de alto índice de doenças infecciosas são os meses

chuvosos e período de férias escolares.

48

Page 61: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

7. CONCLUSÕES

A qualidade microbiológica da água da aldeia esta imprópria para o consumo

humano. O alto índice de doenças de veiculação hídrica é devido as precárias condições

de saneamento do local.

Enquanto algumas comunidades se preocupam em maneiras de economizar água,

promover racionamento por consciência ecológica em prol de campanhas pela mídia

por ONG’s na aldeia estudada, este racionamento é feito de maneira obrigatória.

No intuito de modernizar a cultura Bororo implantou-se um sistema dependente de

recursos e conhecimentos externos, de alto risco ambiental e incapaz de satisfazer as

necessidades mínimas da comunidade. Antes de instalar um sistema deve-se pensar na

manutenção do mesmo, nas possíveis falhas e em comunidades indígenas quanto maior

for a auto-suficiência do sistema melhor, menos falhas humanas ocorrerão.

Partindo do princípio que a população indígena em questão está aberta a hábitos

urbanos, podemos concluir que pode ser feito mais uma inclusão em seus costumes, o

tratamento de água para consumo, desde que seja um tratamento onde não lhes tragam

custos, nem novas atividades no lar, nem alteração significativa no sabor da água.

49

Page 62: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

8. RECOMENDAÇÕES

É necessária a intervenção no sistema de abastecimento da aldeia utilizando uma

metodologia que atinja a aceitação de toda a população de maneira que a água

consumida pelos indígenas seja potável.

Fazer reparos na tubulação de distribuição e a instalação ou reparo de torneiras e

bacias sanitárias.

E ainda investir em conscientização ambiental, para mudar hábitos que prejudicam

a eficiência da rede como, alterar as ligações, não reparar adequadamente as tubulações

comprometidas. E instituir hábitos como a limpeza da caixa d’água com freqüência no

mínimo semestral e o aterro dos Resíduos sólidos (em pequenas valas residenciais).

50

Page 63: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DOMINGUES, V. O.; TAVARES, G. D.; STUKER, F.; ET. al. Contagem de

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35, Outubro. 2008.

52

Page 65: QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT

10. APÊNDICES

Rede do Projeto AMA

Rede do Rio da Cabeceira

Rede da FUNASA

53