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  • 7/29/2019 Qual o seu sexo

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    Qual o seu sexo?Antnio ureo Beneti

    Essa pergunta antiga no nosso campo desde seus primrdioscom Fliess e sua teoria imaginria das substancias masculina efeminina.

    Freud tentar uma resposta simblica, falocntrica, mais alm doimaginrio anatmico, considerando identificaes edpicas, comvariedades de solues femininas. Com solues singulares, uma a

    uma, em trs propostas a partir da castrao simblica: inibiosexual ou neurose; complexo de masculinidade e feminilidadenormal.

    As solues freudianas para as mulheres de ontem, hoje encontramobstculos a partir de um contemporneo de declnio do gozo flico.Contudo nos deixa uma certa fenomenologia das figuras do feminino,a partir de seus textos A feminilidadee Observaes sobre o amorde transferncia(onde aparece a figura dasfilhas da natureza :com uma posio de gozo erotmano, onde a interpretao doanalista ineficaz, denunciando um certo fracasso do simblico,determinando um parceiro-devastao. Freud nos diz que socertas mulheres que s entendem a lgica da sopa com bolinhoscomo argumentos e s resta ao analista bater em retirada ou ficarse interrogando como podem funcionar assim... Com Lacan, podemospensar essa figura do feminino no discurso histrico, com a posioerotmana no lugar da verdade, com o sujeito enquanto objetoamado diante da impotncia do Saber do amante, desde que ahistrica goza da impotncia do Saber do Outro).

    Essa pergunta Lacan tentar respond-la operando a partir de um

    mais alm do dipo freudiano. A partir do real, considerando umapoltica da posio sexual subjetiva de cada um, em polos masculinoe feminino ( frmulas da sexuao), a partir do seu conceito degozo, articulando o gozo prprio de cada sexo. Com duas formas degozo distintas que recobrem a experincia do corpo: a fetichista e aerotmana. Com um sexo buscando o outro, ou seja, a forma que seimpe ao outro (objetos fetiche e erotomanaco).

    Assim, nessas frmulas, do lado macho, o gozo essencialmentefinito e localizvel: o gozo flico. Aquele que se pode contar, que se

    apresenta de uma maneira suficientemente elementar para sernumervel. O paradigma a o gozo masturbatrio, auto ertico.

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    Do lado feminino, um gozo infinito, no sentido de ser no-localizvel .

    Frmulas da sexuao, para pensar a sexuao masculina e femininapor fora das identificaes edpicas. Desde que por mais que sedescreva uma psicologia sexual atravs das figuras de mulher e de

    homem necessrio referir-se s estruturas da sexuao, que vomais alm dessa psicologia. S podemos pensar uma repartiosexual, a partir da para definirmos o homem e a mulher, o ladomasculino e o feminino em posies sexuais.

    Do lado mulher, o que se apresenta como um incompleto, como umconjunto marcado por um menos, se revela nestas frmulas como oinfinito. O que aparece como falta de um lado (masculino), se revelado outro como sem-limite. Psicologicamente, o que se apresenta e oque se sente como o inferior, deixa lugar ao ilimitado.

    Do lado homem, sem dvida tem o ser completo, porm se descobresegundo a mesma lgica, como o ser finito, o limitado, ou seja, o serque se instala sempre em relao com seu limite. Enquanto no outrolado, o feminino, encontramos um ser que no tem relao essencial,estrutural, com o limite. A relao deste ser com o limite semprecontingencial. Isso depende a do encontro, do amor. " Aqui, no ladohomem, a relao com o limite de estrutura, enquanto no ladomulher, de amor ( J. A. Miller,Una reparticion sexual, sem. 1/04/98, Curso da Orientao Lacaniana).

    Hoje, com o declnio do simblico, da politica falocntrica emdetrimento do real, uma poltica de gozo, onde o discurso capitalistaemerge com toda onipotncia, encontramos formas clnicascontemporneas. Discurso capitalista que tem o discurso da cinciacomo seu escravo hercleo com sua suposta onipotncia de Saber,centrado na gentica e no anatmico.

    Contemporneo das psicoses ordinrias onde a pergunta dessaplenria uma de suas externalidades.

    Ou, de jovens que nos demandam querendo saber qual seu sexoaps o fracasso de tentar defini-lo via passagens-ao-ato homo ouhetero sexuais. Ou, orientando-se a partir da Internet, enquantoOutro nomeador. Aparentemente neurticos eles e elas ficam unscom outros ou umas com as outras nas baladas, intensamente,muitas vezes contabilmente, at baterem pino... para, logo aps,baterem na porta do analista, porque no aguentam mais tantodesbussolamento gozoso ( chamarei assim).

    So jovens indecisos quanto escolha sexual e, que se permitem

    uma certa aparente bissexualidade .

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    Por outro lado, uma outra figura vem se tornando cada vez maisemergente, ocupando lugar de destaque em vrios setores,sobretudo nas passarelas, nos desfiles de moda, como modelos, emTV como atrizes, etc ...: as transexuais.

    Como Carol Marra, capa da Revista TRIP n. 77, de setembro ltimo. Areportagem interna nos mostra como uma sexuao femininahabita um corpo anatomicamente masculino, a ser retificado pelosujeito, via passagem-ao-ato cirrgica tentando adequar a pele queo habita, via discurso da cincia para mudana de sexo anatmico.

    Carol nos relata a que desde pequena seus pais percebiam que eradiferente e, na rua lhe perguntavam se era menino ou menina...Diz que no se sente vontade presa a um corpo que no reconhececomo seu e, por isso quer fazer a cirurgia para mudana de sexo

    anatmico... faz terapia h 2 anos, e sabe que ser mulher no seresume a ter uma vagina mas, seria mais aceita pelos homens se ativesse e, tambm se aceitaria melhor... e faz uma distino em cimada sexuao quando diz: tem tanto homem que tem pnis e no homem... sou mais feminina que vrias por a ... posso satisfazer umhomem muito bem ... quero ser amada, casar, construir famlia, ...encontrei o homem da minha vida mas ele no me assumiu quandoficou sabendo da verdade (anatmica) ... tive que contar porque eleme apresentou sua famlia.

    No se trata a de ser A feminina, como numa metfora deliranteshreberiana, centrada na forcluso do Nome-do-Pai ... Ela no tentaser A transexual ou A Feminina que falta Humanidade ...

    Carol falaria a partir da posio feminina das formulas da sexuao?Ou teramos a uma psicose ordinria onde o sujeito tentaria aconstruo cirrgica de um corpo adequado sua posio de gozo?O sujeito nos diz que habita um corpo que no seu. Ela no temum corpo ...

    Situaes como essa nos indicam que talvez tenhamos em nossasclnicas esse tipo de sujeito, a partir dessa feminizao docontemporneo.

    Onde, no caso, o sujeito faz um discurso feminino, as if, comose, numa suplncia identificatria macia, que lhe daria umaidentidade sexual feminina, mas, fora das frmulas da sexuao,desde que estas implicam um certo trnsito entre um lado e outro,dialetizvel, e aqui, tem algo estanque ,fixo, com o sujeitoestacionado num s polo (no caso o feminino ou como no caso deThammy G. no masculino). Rigidez psictica com toda convico, oucerteza? Filhas da natureza, contemporneas, onde o imaginriocorporal ocupa lugar central.

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