qual a contribuição de sócrates para a reflexão filosófica moral

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Qual a contribuição de Sócrates para a reflexão filosófica moral? A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo, isto é, torna-te consciente de tua ignorância, como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio influenciando e persuadindo o individual em suas reflexões morais. Pra Sócrates, moral, é a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. ENFOQUES TEÓRICOS: ZETÉTICA E DOGMÁTICA A palavra zetética vem de zetein , que significa perquirir, investigar. Por outro lado, a palavra dogmática vem de dokein , que significa ensinar, doutrinar. No enfoque zetético, predomina a função informativa da linguagem; enquanto, no dogmático, essa função combina-se com a diretiva, ganhando, esta, grande importância. A zetética é mais aberta, pois suas premissas são dispensáveis. Ou seja, elas podem ser substituídas, se os resultados não forem satisfatórios. Portanto, as interpretações devem conformar sempre as premissas aos problemas. Ao contrário, a dogmática é mais fechada, pois está presa a conceitos previamente fixados, obrigando-se a interpretações capazes de conformar os problemas às premissas. O enfoque zetético procura saber o que é uma coisa (o que é algo? ); enquanto que o dogmático preocupa-se em possibilitar uma decisão e orientar a ação (como deve-ser algo? ). Na zetética, não se questionam certos enunciados quando esses são admitidos como verificáveis e comprováveis ; na dogmática, as premissas não são questionadas porque elas foram estabelecidas (por um arbítrio, por um ato de vontade ou de poder) como inquestionáveis. Por conseguinte, ao contrário das questões zetéticas, as questões dogmáticas são finitas, porquanto esbarram em um dogma, em um ponto de partida. Contudo, essa limitação teórica não deve ser associada a posicionamentos cognitivos demasiado restritivos, formais, intransigentes, cegos ao fenômeno jurídico. Ao contrário, consoante Ferraz Jr. (2003:49): O jurista, ao se obrigar aos dogmas, parte deles, mas dando-lhes um sentido, o que lhe permite certa manipulação. Ou seja, a dogmática jurídica não se exaure na afirmação do dogma estabelecido, mas interpreta sua própria vinculação, ao mostrar que o vinculante sempre exige interpretação, o que é função da dogmática. Sofistas Podemos reconhecer os seguintes méritos aos sofistas: Iniciaram uma reflexão sistemática sobre os problemas humanos, ao invés das questões naturais e cosmológicas dos filósofos pré-socráticos; - Aperfeiçoaram a dialética e a discussão crítica sobre as limitações e o valor do conhecimento; - Destacaram o caráter diverso e relativo das leis, próprias de cada cidade enfatizando a contraposição entre natureza (physis), lei (nómos) e pacto (thésis), em que se baseiam o Direito Natural e o Direito Positivo; - Defenderam o conceito de natureza comum a todos os homens, o que serviu para fundamentar a lei de modo mais igualitário e universalista; - Desenvolveram princípios educativos para o ensino de gramática e retórica, formando os jovens para o debate público. Este direito natural, que acompanhou os sofistas em toda sua filosofia, aparece como crítica ao direito inquestionável (positivo), e passaram eles a interrogar se

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Page 1: Qual a contribuição de Sócrates para a reflexão filosófica moral

Qual a contribuição de Sócrates para a reflexão filosófica moral?

A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo, isto é, torna-te consciente de tua ignorância, como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio influenciando e persuadindo o individual em suas reflexões morais. Pra Sócrates, moral, é a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica.

ENFOQUES TEÓRICOS: ZETÉTICA E DOGMÁTICA

A palavra zetética vem de zetein, que significa perquirir, investigar. Por outro lado, a palavra dogmática vem de dokein, que significa ensinar, doutrinar. No enfoque zetético, predomina a função informativa da linguagem; enquanto, no dogmático, essa função combina-se com a diretiva, ganhando, esta, grande importância. A zetética é mais aberta, pois suas premissas são dispensáveis. Ou seja, elas podem ser substituídas, se os resultados não forem satisfatórios. Portanto, as interpretações devem conformar sempre as premissas aos problemas. Ao contrário, a dogmática é mais fechada, pois está presa a conceitos previamente fixados, obrigando-se a interpretações capazes de conformar os problemas às premissas. O enfoque zetético procura saber o que é uma coisa (o que é algo?); enquanto que o dogmático preocupa-se em possibilitar uma decisão e orientar a ação (como deve-ser algo?). Na zetética, não se questionam certos enunciados quando esses são admitidos como verificáveis e comprováveis; na dogmática, as premissas não são questionadas porque elas foram estabelecidas (por um arbítrio, por um ato de vontade ou de poder) como inquestionáveis.Por conseguinte, ao contrário das questões zetéticas, as questões dogmáticas são finitas, porquanto esbarram em um dogma, em um ponto de partida. Contudo, essa limitação teórica não deve ser associada a posicionamentos cognitivos demasiado restritivos, formais, intransigentes, cegos ao fenômeno jurídico. Ao contrário, consoante Ferraz Jr. (2003:49):O jurista, ao se obrigar aos dogmas, parte deles, mas dando-lhes um sentido, o que lhe permite certa manipulação. Ou seja, a dogmática jurídica não se exaure na afirmação do dogma estabelecido, mas interpreta sua própria vinculação, ao mostrar que o vinculante sempre exige interpretação, o que é função da dogmática.

Sofistas

Podemos reconhecer os seguintes méritos aos sofistas:

Iniciaram uma reflexão sistemática sobre os problemas humanos, ao invés das questões naturais e cosmológicas dos filósofos pré-socráticos; - Aperfeiçoaram a dialética e a discussão crítica sobre as limitações e o valor do conhecimento; -Destacaram o caráter diverso e relativo das leis, próprias de cada cidade enfatizando a contraposição entre natureza (physis), lei (nómos) e pacto (thésis), em que se baseiam o Direito Natural e o Direito Positivo; - Defenderam o conceito de natureza comum a todos os homens, o que serviu para fundamentar a lei de modo mais igualitário e universalista; - Desenvolveram princípios educativos para o ensino de gramática e retórica, formando os jovens para o debate público.

Este direito natural, que acompanhou os sofistas em toda sua filosofia, aparece como crítica ao direito inquestionável (positivo), e passaram eles a interrogar se o que era justo, segundo a lei dos homens, era igualmente justo, segundo a natureza.

O grande jurista, Bonavides (2004, p. 401), explana que: “O sofista parte da ‘injustiça essencial das leis’, que tem sempre por fundamento o interesse daqueles que as elaboram”.

No Direito, portanto, os sofistas criticam àquilo que veio após ser conceituado como direito positivo, ou seja, o conjunto das leis humanas que não se fundamentava na natureza racional do ser humano e sim em sua natureza passional e instintiva.Ainda, observando a estrutura do modo de pensar dos sofistas, mestres na técnica de argumentar (persuadir), percebe-se que há a utilização de padrões lógicos, e, ao mesmo tempo, há recursos a dogmas e crenças, os quais são assumidos no discurso. Daí decorre que o próprio Direito possui, em si, fundamentos axiológicos, que passam por critérios racionais, para assumir a forma da razão discursiva, momento em que valores e razões estão em conflitos, exatamente por isso, não desaparece do mundo do Direito.

Pre- socráticos

Primeiramente, os pré-socráticos, também chamados naturalistas ou filósofos da physis (natureza - entendendo-se este termo não em seu sentido corriqueiro, mas como realidade primeira, originária e fundamental¹, ou o que é primário,fundamental e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado e transitório²), tinham como escopo especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-ontológico, e buscavam o princípio (ou arché) das coisas.

Posteriormente, com a questão do princípio fundamental único entrando em crise, surge a sofística, e o foco muda do cosmo para o homem e o problema moral.