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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Profª. Magali Ribeiro Collega FACULDADE ANHANGUERA DE BAURU Página 1 Direito – 4ª série QUADRO SINÓTICO PONTO N.04 DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS E DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS 1. OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS E ALTERNATIVAS 2. DIREITO DE ESCOLHA 3. DECADENCIA DO DIREITO DE ESCOLHA 4. IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DAS ALTERNATIVAS; DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISIVEIS 1. INTRODUÇÃO 2. OBRIGAÇÕES INDIVISIVEIS 2.1 ESPECIES DE INDIVISIBILIDADE 3. EFEITOS DA INDIVIBILIDADE DA PRESTAÇÃO 3.1 CASO DE PLURIDADE DE DEVEDORES 3.2 CASO DE PLURIDADE DE CREDORES 4. PERDA DA INDIVISIBILIDADE

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Profª. Magali Ribeiro Collega

FACULDADE ANHANGUERA DE BAURU Página 1 Direito – 4ª série

QUADRO SINÓTICO PONTO N.04

DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS E DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS

1. OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS E ALTERNATIVAS

2. DIREITO DE ESCOLHA

3. DECADENCIA DO DIREITO DE ESCOLHA

4. IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DAS ALTERNATIVAS;

DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISIVEIS

1. INTRODUÇÃO

2. OBRIGAÇÕES INDIVISIVEIS

2.1 ESPECIES DE INDIVISIBILIDADE

3. EFEITOS DA INDIVIBILIDADE DA PRESTAÇÃO

3.1 CASO DE PLURIDADE DE DEVEDORES

3.2 CASO DE PLURIDADE DE CREDORES

4. PERDA DA INDIVISIBILIDADE

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DAS OBRIGAÇÕES DIVISIVEIS ALTERNATIVAS

1. OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS E ALTERNATIVAS

Quando a obrigação tem por objeto um só prestação (p.ex.: entregar um veiculo) diz-se que ela é simples. Do mesmo modo sucede quando tem um só sujeito ativo e um único sujeito passivo. Havendo pluralidade de prestação, a obrigação é complexa ou composta e se desdobra, então, nas seguintes modalidades: obrigações cumulativas, obrigações alternativas e obrigações facultativas. Nas obrigações simples, adstritas a apenas uma prestação, ao devedor compete cumprir o avençado, nos exatos termos ajustados. Libera-se entregando ao credor precisamente o objeto devido, não podendo entregar outro, ainda que mais valioso (CC, art.313). Na modalidade especial de obrigação composta, denominada cumulativa ou conjuntiva, há uma pluralidade de prestações e tidas devem ser solvidas, sem exclusão de qualquer delas, sob pena de se haver por não cumprida. Nela há tantas obrigações distintas quantas as prestações devidas. Pode-se estipular que o pagamento seja simultâneo ou sucessivo, mas o credor não pode ser compelido “a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou” (CC, art. 314). A obrigação composta com multiplicidade de objetos pode ser, também, alternativa ou disjuntiva, de maior complexidade que a anteriormente citada. Tem por conteúdo duas ou mais prestações, das quais uma somente será escolhida para pagamento ao credor e liberação do devedor.

Na obrigação cumulativa, também denominada obrigação conjuntiva, as prestações devidas estão ligadas pela partícula ou conjunção copulativa “e”, como na obrigação de entregar um veiculo e um animal, ou seja, os dois, cumulativamente. Efetiva-se o seu cumprimento somente pela prestação de todos eles.

Na obrigação alternativa os objetos estão ligados pela disjuntiva “ou” podendo haver duas ou mais opções. Tal modalidade de obrigação exaure-se com a simples prestação de um dos objetos que a compõem.

Obrigação alternativa é a que compreende dois ou mais objetos e extingue-se com a prestação de apenas um. Segundo KARL LAREKZ, existe obrigação alternativa quando se devem varias prestações, mas, por convenção das partes, somente uma delas há de ser cumprida, mediante escolha do credor ou do devedor.

Nessa modalidade a obrigação recai sobre duas ou mais prestações, mas em simples alternativa, que a escolha vira desfazer, permitindo que o seu objeto se concentre numa delas. Essa alternativa pode estabelecer-se entre duas ou mais coisas, entre dois ou mais fatos, ou ate entre uma coisa e um fato, como, por exemplo, a obrigação assumida pela seguradora de, em caso de sinistro, dar outro carro ao segurado ou mandar reparar o veículo danificado, como este preferir.

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2. DIREITO DE ESCOLHA

Nas obrigações alternativas, tudo se resume no poder da escolha. Quis o legislador pátrio que ela coubesse, em princípio, em primeiro lugar, ao devedor, conferindo a este maiores facilidades para libertar-se da obrigação, entretanto, podem as partes estipular que a escolha se faça pelo credor, ou, se quiserem, por terceiro, por elas indicado. É o que se infere do texto do artigo 252 do CC brasileiro, não podendo, na prestação, confundir-se parte de um dos objetos com parte do outro.

Art.252: Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. §1º: Não pode, o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. §2º: Quando a obrigação for de prestações periódicas a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

Um dos objetos da prestação deve ser prestado por inteiro, porque é indivisível. Assim, se o devedor se obriga a entregar duas sacas de milho ou duas de café, jamais poderá compelir seu credor ao recebimento, por exemplo, de uma saca de milho e uma de café, nem este poderá exigí-lo. Ou bem se entregam as duas sacas de milho ou as duas de café, integralmente, sem qualquer fracionamento. Este o alcance do citado dispositivo legal.

É de ver-se, todavia, que o devedor, que se obriga ao pagamento de prestações anuais, pode, ao cabo de cada ano, optar pelo cumprimento da obrigação que entender, como é o caso de alguém, que se obriga a entregar a outrem, anualmente, tantas ações da companhia “A” ou da “B”. No primeiro ano, pode o devedor optar pela entrega das ações da empresa “A”; no segundo ano, da sociedade “B”, e, assim, sucessivamente, como julgar conveniente, cabendo-lhe a escolha. É o que ensina o parágrafo segundo desse mesmo dispositivo legal.

Isto não querendo dizer que, neste caso de pagamento por prestações periódicas, não se aplique o princípio da indivisibilidade do objeto, contido no preceito do parágrafo anterior, pois, realizada a escolha em prestar ações da companhia “A”, em determinado período, nesse período não poderá o devedor pagar parte em ações da empresa “B”. Renova-se, assim, de ano para ano, a escolha desta ou daquela prestação.

Em suma, feita a escolha do objeto a ser praticado, torna-se simples a obrigação, porque, a partir da mesma, só será devido o objeto escolhido, como se fosse ele único, desde o nascimento da obrigação.

A escolha, que é irrevogável, salvo-se, em contrário, dispuserem as partes, ou a lei, torna, definitivamente, individuado o objeto da prestação.

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Dessa forma indaga-se:

Se o terceiro por qualquer razão, se encontra impossibilitado de efetuar a escolha, ou, mesmo, não deseja realizá-la? A quem caberá escolher?

Neste caso, ver o §2º do art. 252:

ao devedor por força da lei, Escolha como regra geral

(irrevogável

e indivisível)

ao credor havendo convenção das

Obs.: provoca cabe ao terceiro partes, nesse sentido.

a concentração,

como se, sempre,

tivesse sido ao Juiz se o terceiro não puder

simples ou não quiser realizá-la

3. DECADÊNCIA DO DIREITO DE ESCOLHA

Cientificada a escolha, dá-se a CONCENTRAÇÃO. O objeto da obrigação, até então relativamente indeterminado, determina-se de modo definitivo. Concentração é um fenômeno que transforma a obrigação alternativa em obrigação simples.

No capítulo referente ao direito de escolha, surge questão, que deve ser objeto de estudo, nesta oportunidade, qual seja, a de sua decadência. Realmente, não pode o credor ficar, eternamente aguardando que o devedor escolha o objeto da prestação e vice-versa, no caso dessa escolha caber ao credor.

Nosso Código Civil não dedicou um artigo, sequer, especialmente, para a solução do problema; entretanto, a matéria vem exposta no Código de Processo Civil Pátrio, no art. 800 e § §1º e 2º, que merecem transcrição e ligeiro comentário.

Assim, expressa-se o legislador, por esse mencionado art.800

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Art. 800. Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, esse será citado para exercer a opção e realizar a prestação dentro de 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei ou em contrato.

§ 1° Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercer no

prazo determinado. § 2° A escolha será indicada na petição inicial da execução quando

couber ao credor exercê-la. Ve-sê, claramente, que, se o devedor, condenado a optar entre duas ou

mais prestações, não o exerce, passa essa faculdade de exercício para o credor.

4. IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DAS ALTERNATIVAS

Pode ocorrer, entretanto, que apenas um dos objetos da obrigação possa ser prestado. Neste caso, nessa única prestação fica o débito existindo. É o que menciona o art.253 do nosso CC.

Art.253: Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação, ou se tornada inexequível, subsistirá o débito quanto à outra.

O artigo prevê tanto a hipótese da impossibilidade originaria como

superveniente, por causa não inimputável a nenhuma das partes. Aqui, o legislador referiu-se a prestação, que não possa ser objeto de

obrigação, e à que se torne inexequível, sempre tendo em vista uma impossibilidade material de cumprimento de uma das alternativas propostas na obrigação, porque, quanto à impossibilidade jurídica, não pode subsistir qualquer obrigação. Realmente, na impossibilidade material, o sujeito devedor não pode cumprir, fisicamente, seu dever jurídico. Ele está impedido ao cumprimento obrigacional por uma situação de fato. Por exemplo, se o devedor deve entregar alguma mercadoria que desapareceu do mercado, encontra-se impossibilitado, fisicamente, de prestá-la. Todavia, quando a impossibilidade é jurídica, o ato é nulo, todo ele, mesmo que só um dos objetos o seja, em face da iliciedade desse objeto.

Se, desde o seu nascimento, a obrigação se apresentar com

impossibilidade física de cumprimento, por uma de suas prestações, havendo só duas prestações, ela será alternativa por mera aparência, pois, na verdade, sempre existiu um só dos objetos, o que lhe dá a condição de obrigação simples. Havendo, contudo mais de duas prestações, impossível uma delas, a obrigação continuará sendo alternativa com relação às demais.

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Vejam, por exemplo, se alguém se obriga a entregar um fantasma ou uma mesa. Ora, desde o início, a obrigação é simples, embora, aparentemente, alternativa, pois só um dos objetos é possível de prestar-se. Já se alguém se compromete a entregar um fantasma, ou uma mesa, ou um livro, embora impossível o primeiro objeto, subsiste a obrigação alternativa quanto aos demais objetos (uma mesa ou um livro).

de uma de duas obrigação

obrigações simples

“Impossibilidade

(desde o nascimento

da obrigação) de uma de mais obrigação alternativa

de duas prestações quanto às demais

Vejamos, agora, a impossibilidade superveniente, ou melhor, a que surge após a existência da obrigação alternativa.

Se a impossibilidade for de uma das prestações, inexistindo culpa do

devedor, haverá concentração do débito na outra ou nas outras prestações, independentemente da manifestação de vontade das partes.

Exemplificativamente, “A” obriga-se junto a “B” a fazer uma estátua, na

qualidade de escultor, que é, ou a entregar uma coleção valiosa de selos, ou, ainda, uma pedra preciosa. Acontece que “A”, por motivo de saúde, fica impossibilitado de fazer a estátua, concentrando-se seu débito nas prestações remanescentes. Deve, por isso, entregar a referida coleção de selos ou a pedra preciosa.

Se, entretanto, for culpado o devedor, cabendo a ele a escolha poderá

encontrá-la na prestação remanescente; sendo, por outro lado, a escolha do credor, poderá este pedir a prestação que remanescer ou o equivalente em dinheiro relativo à outra, acrescido das perdas e danos.

Neste caso, devendo “A” a “B” uma partida de café, ou uma de trigo, ou

uma de milho, impossibilitando-se as duas primeiras prestações por culpa do devedor, que, vamos dizer, as alienou, cabendo a ele a escolha, poderá cumprir a última prestação, remanescente, entregando ao credor a partida de milho. Tudo porque ao

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devedor cabia a escolha. Poderia este, mesmo que, por sua culpa, não se impossibilitassem às referidas prestações, escolher a terceira.

Tal não ocorre, todavia, se a escolha pertencer ao credor. No exemplo

acima, o credor poderia optar pelo recebimento da prestação subsistente (partida de milho) ou pelo valor em dinheiro de uma das prestações, que se tornaram inexequíveis (partida de café ou de trigo), sempre acrescido das perdas e danos, em face do inadimplemento culposo do devedor.

Nestes termos, propomos o quadro elucidativo:

SEM CULPA concentração do débito

do devedor na(s) remanescente(s)

Impossibilidade art.253

Superveniente escolha pode concentrar

(de uma das do devedor o débito na(s)

prestações art.253) art.253 remanescente(s)

COM CULPA escolha prestação

do devedor do credor remanescente ou

Art. 255 o equivalente em

(1ª alínea) dinheiro das outra(s),

mais perdas e danos

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OBRIGAÇÕES DIVISIVEIS E INDIVISIVEIS

1. INTRODUÇÃO

Viu-se que a obrigação envolve sempre duas partes, com interesses diversos, isto é, o sujeito ativo (credor) e o sujeito passivo (devedor). Todavia, é freqüente surgir na relação jurídica obrigacional mais de um credor, ou mais de um devedor, ou ainda, a hipótese de se apresentarem, simultaneamente, vários devedores e vários credores.

1 CREDOR E 1 DEVEDOR = OBRIGAÇÃO SIMPLES

Isto ocorrendo, dois problemas se propõem, ambos resolvidos pelo

legislador:

O primeiro é o divisibilidade ou indivisibilidade das prestações;

O segundo, o da solidariedade.

Se múltiplos os sujeitos e divisível a prestação, ela se reparte em tantas

obrigações autônomas quantas forem as partes devedoras ou credoras. Esta figura obrigacional está baseada no art.257 do CC.

Art.257: Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores, ou devedores.

Dessa forma, quando, em uma relação jurídica obrigacional, se

apresenta mais de um credor ou mais de um devedor, cumpre indagar se a obrigação se divide ou não em partes. Ordinariamente se estabelece a divisão em tantas obrigações independentes quantas forem as partes, de acordo com a regra, “concursu partes fiunt” (as partes se satisfazem pelo concurso, pela divisão) , p.ex.: se vários são os credores, cada um deles tem direito a receber uma parte da prestação; se, pelo contrário, vários são os devedores, cada um deve pagar uma fração correspondente ao débito, ou seja, procede-se a concurso, segmentando o montante da prestação.

Mas, se for indivisível a prestação, aparecem problemas que a lei deve

resolver.

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Ocorrendo indivisibilidade ou solidariedade, o credor pode exigir, de qualquer um dos devedores, o pagamento integral da prestação; estes, em rigor, não devem o todo, mas apenas parte. Não obstante, em virtude da indivisibilidade ou da solidariedade, são obrigados a pagar integralidade da prestação. Da mesma forma, sendo vários os credores e um devedor, este, na hipótese de indivisibilidade ou de solidariedade, pode pagar integralmente a prestação a um dos credores e, assim procedendo, libera-se da dívida. Em rigor, a pessoa que recebe o pagamento é credora apenas de uma parte, mas, em virtude das circunstâncias aludidas, recebe a prestação por inteiro.

As razões que conduzem à essa solução, que se afasta da regra geral

segundo a qual “concursu partes fiunt”, diferem, conforme se trate de indivisibilidade ou solidariedade.

No caso de indivisibilidade a prestação é exigível por inteiro de um só

dos devedores, em virtude da natureza do objeto da prestação, insuscetível de ser repartido na hipótese de solidariedade, ao contrário, sendo ou não divisível o objeto da prestação, a possibilidade dela ser prestada ou exigida por inteiro advém da lei, que assim o determina, ou a vontade das partes, que assim ajustaram.

O problema da indivisibilidade da prestação, a que se consagra o

presente estudo, só se propõe na hipótese de haver pluralidade de credores, ou de devedores, ou de ambos. Se um é o credor e um é o devedor, é irrelevante indagar se a prestação é ou não divisível, pois, quer seja, quer não seja divisível, deve ser prestada por inteiro, se outra coisa não se convencionou. É a regra do art.314do CC.

Art.314: Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

2. OBRIGAÇÕES INDIVISIVEIS:

A obrigação é indivisível quando indivisível for a prestação. Por conseguinte, poder-se-á ter por base o objeto da prestação, para se

classificar as obrigações em divisíveis e indivisíveis. Já estudamos a noção de coisa indivisível na Parte Geral do CC, pondo ênfase no aspecto econômico do problema, e aqui, no terreno das obrigações, onde o caráter patrimonial sobreleva, maior a importância de tal critério. Em rigor, pode-se chamar indivisível a obrigação quando o fracionamento, do objeto da prestação devida não só altera sua substância, como também representa sensível diminuição de seu valor.

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Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.

Um quadro, uma espingarda, um animal são objetos indivisíveis porque

o seu fracionamento altera a substância da coisa. Por conseguinte, as obrigações de dar tais objetos são, por sua vez, indivisíveis.

Casos há, entretanto, em que a coisa é, por sua natureza, divisível, mas

a divisão implica considerável perda de valor. É o que ocorre com uma pedra preciosa, ou um estabelecimento agrícola, por exemplo. O diamante, embora partível sem alteração de sua substância, talvez não conserve, nos fragmentos resultantes, valor proporcional ao todo; a divisão de uma fazenda, em lotes menores, pode envolver diminuição de valor, por não terem os segmentos, reunidos, o valor que o todo alcançaria. Ainda nestas hipóteses ocorre indivisibilidade e as obrigações que tenham por objeto prestações dessa natureza devem ser consideradas indivisíveis.

A indivisibilidade da prestação que, como vimos, advém ordinariamente

da natureza (material ou econômica) do objeto da prestação pode, excepcionalmente, decorrer da lei ou da vontade das partes. Daí dizer-se que a divisibilidade ou indivisibilidade da obrigação é determinada pela divisibilidade ou indivisibilidade de sua prestação, e não pela divisibilidade ou indivisibilidade da coisa, objeto da prestação. Esta é a regra, pois que a lei ou a vontade das partes podem estipular que uma obrigação seja indivisível mesmo quando o objeto de sua prestação for divisível.

Assim, a indivisibilidade decorre da lei quando esta assim o determina, como no caso das ações de sociedades anônimas em relação à pessoa jurídica ou como no caso da herança até se ultimar a partilha.

Decorre da vontade das partes quando estas convencionarem que uma

prestação, por sua natureza divisível, será considerada indivisível para os efeitos do negócio em questão. Aqui se encontra expediente de que lança mão o credor para aumentar suas garantias. Estipulando, p.ex., a indivisibilidade do crédito em dinheiro (que por sua natureza é divisível) adquire a possibilidade de cobrar a totalidade da prestação de cada um dos co-devedores.

Aliás, a indivisibilidade da obrigação, seja qual for sua origem,

representa sempre vantagem para o credor que, podendo cobrar a dívida de qualquer dos coobrigados, decerto a demandará do mais capaz de saldá-la.

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2.1 ESPECIES DE INDIVISIBILIDADE

Indivisibilidade natural – pela natureza das coisas.

Indivisibilidade legal – decorre de lei. Ex: Servidões prediais.

Indivisibilidade subjetiva ou intelectual – decorre da vontade das partes.

3. EFEITOS DA INDIVISIBILIDADE DA PRESTAÇÃO:

3.1 CASO DE PLURALIDADE DE DEVEDORES:

Art.259: Se havendo dois ou mais devedores de prestação indivisível, cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

Isso advém, como vimos, da natureza do objeto da prestação devida, incapaz de ser prestado por partes. Se dois indivíduos prometeram entregar um reprodutor de raça a um criador de cavalos de corridas, este pode exigir de um ou de outro dos devedores o adimplemento, da obrigação, pois, como é óbvio, nenhum destes se libera oferecendo metade do animal. Se vários negociantes prometem conseguir para um museu determinada estátua, o promissário pode exigir de qualquer dos promitentes a entrega da coisa e nenhum deles se livra da demanda, alegando só ser parcialmente responsável.

Mister observar, nas hipóteses figuradas, duas circunstâncias relevantes:

Cada um dos devedores só deve parte da dívida;

Todavia, em virtude da natureza indivisível do objeto da prestação, pode ser compelido a satisfazê-la por inteiro.

a) A prova da primeira asserção, de que cada devedor só deve parte da dívida

encontra-se na regra do parágrafo único do art.259 do CC, que dispõe caber, ao devedor que paga a dívida, a prerrogativa de sub-rogar-se no direito do credor, em relação aos outros coobrigados. Estabelece-se, portanto, uma relação interna entre os devedores. Aquele que pagou a dívida por inteiro “fica no lugar” do credor original; isto é, passa a ser credor dos demais devedores.

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b) A prova da segunda asserção, de que somente em virtude da natureza indivisível da prestação é que um dos coobrigados pode ser compelido a satisfazer a totalidade da dívida, encontra-se na regra do artigo 263 do CC, que dispõe perder a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.

Para melhor esclarecer voltaremos ao exemplo formulado dos

negociantes que prometeram entregar estátua a um museu. Vimos que tal obrigação era indivisível, por não se poder partir a estátua, sem lhe alterar a substância, de modo que o credor podia exigir, quer de um quer de outro dos devedores, a entrega da obra de arte referida. Se, entretanto, por culpa dos devedores a prestação se tornar impossível, ficam estes sujeitos a reparar as perdas e danos (art.389 do CC), de modo que devem indenizar, em dinheiro, o prejuízo experimentado pelo credor; ora nesse momento, o objeto da prestação que era indivisível (estátua) tornou-se divisível (dinheiro) e, por conseguinte, cada devedor que era responsável pelo total da prestação passa a responder somente pela sua parte, apurada em execução (art.263, §§ 1º e 2º).

3.2 CASO DE PLURALIDADE DE CREDORES

Se, na obrigação indivisível, a pluralidade for de credores, cada um deles poderá exigir a dívida por inteiro. Mas o devedor ou os devedores só se desobrigarão pagando:

a. A todos os credores conjuntamente, ou a um deles, autorizado pelos demais;

b. A um deles, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Na hipótese de um só dos credores receber a prestação inteira, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir daquele em dinheiro, a parte que lhe caiba no total (art.261 do CC.).

Art.261: Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.

A derradeira conseqüência figurada pela lei, em caso de pluralidade de

credores, é o da remissão, transação, novação, compensação ou confusão de dívida, em relação a um dos devedores. Vejamos a hipótese da remissão (= perdão), frisando, contudo, que as regras respeitantes a ela são válidas para as demais (art.262, § único do CC.).

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Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.

Um exemplo ilustrará a hipótese: Figuremos três pessoas credoras de máquina fotográfica e imaginemos

que uma delas abre mão de seu crédito em benefício do devedor (houve remissão por parte de um dos credores = perdão). Os demais podem exigir a entrega do objeto, mas para o fazerem terão que pagar ao devedor a importância correspondente ao crédito remitido.

A remissão corresponde ao perdão da dívida, por parte do credor (arts.

385 a 388). Na transação a dívida desaparece, como o próprio nome indica, em virtude de composição entre as partes (arts. 840 a 850). Na novação uma nova relação jurídica surge para sustituem a anterior (poderá ser uma novação objetiva ou subjetiva – arts. 360 a 367); na compensação duas dívidas se extinguem em virtude das partes serem, reciprocamente, credoras e devedoras uma das outras); e, finalmente, na confusão, desaparece a dívida, por se reunirem na mesma pessoa as condições de credor e devedor (arts.381 a 384).

Note-se, entretanto, desde logo, que se trata de modos de extinção das

obrigações. A expressão “descontada a quota do credor remitente” já constava do

Código Civil de 1916 e era alvo de exacerbadas criticas por ser impossível o desconto no caso de prestação de coisa indivisível. O correto seria dizer: “reembolsando o devedor pela quota do credo remitente”. Ou, como obtempera ALVARO VILLAÇA AZEVEDO, melhor que se fale em indenização em vez de desconto, como ensinam os mestres, pois o desconto pressupõe a existência de coisa divisível, malgrado o termo indenização posso supor a existência do ilícito (ressarcimento de prejuízo ou perdas e danos, por ato ilícito).

Não é absoluta a regra do desconto da quota do credor remitente, sem

restrição alguma, pois a sua aplicação supõe uma vantagem efetiva, da qual se aproveitam os outros credores. Se, porem, não existe beneficio real, ou seja, se os demais credores nada lucraram a mais do que obteriam se não houvesse a remissão, nada há para se descontar ou embolsar.

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Profª. Magali Ribeiro Collega

FACULDADE ANHANGUERA DE BAURU Página 14 Direito – 4ª série

MOURLON, invocado por TITO FULGENCIO, exemplifica, a propósito: “deveis uma servidão de vista a Primus, Secundus e Tertius, comproprietários de uma casa, e Primus voz fez remissão de divida. Os outros credores não vos devem indenização nenhuma, porque a remissão, que vos foi feita pelo concredor não lhes aproveita em coisa alguma. Sejam dois, ou sejam três, ver sobre o prédio serviente, o resultado quanto a estes em nada se mudou”.

Outro exemplo igualmente aclarador, mencionado na mesma obra:

“Caio compromete-se a outorgar a Tício o direito de passagem pelo prédio de Semprônio, e Tício morre, deixando três herdeiros. A remissão de dois desses co-herdeiros não lhe daria direito a exigir coisa alguma do terceiro, que exigisse o cumprimento da obrigação, porque este ultimo, adquirindo o direito de passar por si, nada adquiriu mais do que teria adquirido sem a remissão dos dois credores”.

4. PERDA DE INDIVISIBILIDADE

Dispõe o Código Civil:

Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. § 1º Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. § 2º Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos.

Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos, em caso de perecimento com culpa do devedor. A obrigação que se resolve em perdas e danos passa a ser representada por importâncias em dinheiro, que são divisíveis.