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www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depósito legal: 2005-5822 1 Derecho y Cambio Social RESPEITO E DIGNIDADE NA AMÉRICA LATINA A QUESTÃO DO STATUS QUO DOS DIREITOS HUMANOS EM UMA REGIÃO PERMEADA DE DIFERENÇAS Paulo Sérgio de Castro 1 Fecha de publicación: 01/10/2015 SUMÁRIO: Introdução e Justificativa. 1. Referencial Teórico. 2. A Problemática na América Latina. Considerações Finais. Referências RESUMO: Mediante revisão bibliográfica, este artigo trata da questão do status quo dos direitos humanos na América Latina, trabalhando os conceitos de respeito e dignidade como eixo da análise. Em especial, na região a questão étnica deixa os povos à margem dos benefícios socioeconômicos a que estes teriam direito. Indígenas, mulheres, negros, crianças, todos apresentam exemplos antigos e recentes de violação de direitos humanos e a preponderância de uma lógica de desenvolvimento econômica em que o social fica relegado a segundo plano. Além dos desafios da assimetria econômica, a falta de efetividade na justiça, de punição justa/imediata de violações e a persistência de visões estereotipadas são grandes empecilhos ao caminho rumo à consagração dos direitos humanos na região, que sofre ao sabor de tiranias e desmandos. O status quo dos direitos humanos demonstra que respeito e dignidade ainda são palavras bonitas, mas teóricas, que não trazem sua prática para o cotidiano. Palavras-chave: Direitos Humanos; América Latina: Respeito e Dignidade. 1 Doutorado em fase monográfica pela Universidad de Buenos Aires-UBA, em Direito do Trabalho. Especialista em Direito Previdenciário, Direito Educacional e Direito Empresarial. Consultor/avaliador da FUNDAP desde 2013, atuando em avaliação do Prêmio Mario Covas. Professor na UMC-SP em Administração, Direito, Engenharia e Cursos Superiores de Tecnólogos. Advogado inscrito na OAB/SP. [email protected]

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Derecho y Cambio Social

RESPEITO E DIGNIDADE NA AMÉRICA LATINA – A

QUESTÃO DO STATUS QUO DOS DIREITOS HUMANOS EM

UMA REGIÃO PERMEADA DE DIFERENÇAS

Paulo Sérgio de Castro1

Fecha de publicación: 01/10/2015

SUMÁRIO: Introdução e Justificativa. 1. Referencial Teórico.

2. A Problemática na América Latina. Considerações Finais.

Referências

RESUMO: Mediante revisão bibliográfica, este artigo trata da

questão do status quo dos direitos humanos na América Latina,

trabalhando os conceitos de respeito e dignidade como eixo da

análise. Em especial, na região a questão étnica deixa os povos à

margem dos benefícios socioeconômicos a que estes teriam

direito. Indígenas, mulheres, negros, crianças, todos apresentam

exemplos antigos e recentes de violação de direitos humanos e a

preponderância de uma lógica de desenvolvimento econômica

em que o social fica relegado a segundo plano. Além dos

desafios da assimetria econômica, a falta de efetividade na

justiça, de punição justa/imediata de violações e a persistência

de visões estereotipadas são grandes empecilhos ao caminho

rumo à consagração dos direitos humanos na região, que sofre

ao sabor de tiranias e desmandos. O status quo dos direitos

humanos demonstra que respeito e dignidade ainda são palavras

bonitas, mas teóricas, que não trazem sua prática para o

cotidiano.

Palavras-chave: Direitos Humanos; América Latina: Respeito e

Dignidade.

1 Doutorado em fase monográfica pela Universidad de Buenos Aires-UBA, em Direito do

Trabalho. Especialista em Direito Previdenciário, Direito Educacional e Direito Empresarial.

Consultor/avaliador da FUNDAP desde 2013, atuando em avaliação do Prêmio Mario

Covas. Professor na UMC-SP em Administração, Direito, Engenharia e Cursos Superiores

de Tecnólogos. Advogado inscrito na OAB/SP. [email protected]

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RESPECT AND DIGNITY IN LATIN AMERICA - THE

ISSUE OF THE STATUS QUO OF HUMAN RIGHTS IN A

REGION SURROUNDED BY DIFFERENCES

ABSTRACT: Through literature review, this article addresses

the question of the human rights status quo in Latin America,

working the concepts of respect and dignity as the axis of

analysis. The ethnic question in Latin America place people

outside socioeconomic benefits that they are entitled to.

Indigenous people, women, blacks, children, all feature old and

new examples of human rights violations and the preponderance

of an economic development logic in which the social is

relegated to a secondary place. In addition to the challenges of

economic asymmetry, lack of effectiveness in justice/immediate

or just punishment of violations as well as the persistence of

stereotypical views are serious obstacles on the path toward the

human rights establishment in the region, which suffers under

tyranny and excesses. The human rights status quo shows that

respect and dignity are still pretty words, but theoretical, that do

not bring your practice in the daily life.

Keywords: Human Rights; Latin America: Respect and Dignity

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Identidade pode ser uma fonte de riqueza e de

acolhimento, como também de violência e de

terror.

Amartya Sen, 2006

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Respeito e dignidade são palavras intrinsecamente ligadas à questão

dos direitos humanos. O ser humano de qualquer raça, cor, idade, sexo,

crença religiosa, opção política, localização geográfica é, em sua essência,

igual, se tomada a perspectiva universalista de interpretação sobre o

assunto. Sob o ponto de vista do direito, significa que deve ter o mesmo

tratamento, isto é, deve ser respeitado e ter um tratamento permeado pela

dignidade, ainda que diversa seja a sua identidade.

Duas pequenas palavras – respeito e dignidade – que são muito

grandes em sua extensão. Por definição, encontra-se que respeito é um

sentimento que o ser humano tem que leva esta pessoa a tratar outra com

grande (grifos do autor) atenção, ou ainda com o que se designa uma

profunda deferência, consideração e até reverência; dignidade, por sua

vez, está associada à nobreza, ou ao respeito que uma pessoa merece.

Distinção, honra, seriedade também são conceitos associados a essa palavra

de tão grande extensão – dignidade.

Pois é mediante estas duas palavras que este trabalho de pesquisa

tem início. Em um primeiro momento, poder-se-ia perguntar o porquê de

debater tema tão amplo com base nesses dois conceitos. Justamente porque

o que leva o tema a ser polêmico é que o que pretensamente deveria ser

uma igualdade está envolto em seu oposto – a diferença. O ponto focal dos

direitos humanos está em saber respeitar as diferenças. Algo aparentemente

óbvio, mas que historicamente traz, em seu bojo, profundos problemas –

respeitar o que é diferente, o que pensa distintamente, o que age diferente

de mim, o que tem uma identidade diversa da minha. Esse outro, tão ser

humano quanto eu, ao agir ou pensar de forma diversa, pode abalar a

construção tão ‘sólida’ acerca de respeito e dignidade.

Ora, muitos poderiam ser os critérios para estudar esse assunto e sob

essa ótica do respeito e da dignidade. Piovesan (2013b), ao comentar sobre

a internacionalização dos direitos humanos e sua concepção

contemporânea, já observa a presença da “elevada carga axiológica” que

há, no Direito Constitucional ocidental, quanto ao valor da dignidade

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humana. Além desta constatação, a mesma autora complementa que o valor

da dignidade humana reveste-se de primazia inclusive quanto ao Direito de

Estado. Esta dignidade torna-se “[...] paradigma e referencial ético,

verdadeiro superprincípio a orientar o constitucionalismo contemporâneo,

nas esferas local, regional e global, doando-lhe especial racionalidade,

unidade e sentido.” (PIOVESAN, 2013b, p. 44).

Embora haja uma enormidade de temas a permear atualmente a

questão dos direitos humanos, o ponto focal deste trabalho estará sobre os

direitos humanos na América Latina. O motivo desta escolha está no fato

de que esta região é permeada de diferenças – ou assimetrias - não apenas

geográficas, mas de toda natureza socioeconômica.

A América Latina é uma região que vem, há décadas, sendo

objeto de atenção de estudiosos não somente do continente, mas

de outras nações, e que contém, em seus países constituintes, um

caldo cultural que envolve aspectos pré-modernos, modernos e

pós-modernos. Diversas questões instigantes assomam quando

se pensa nessa “América Latina”, um mundo de contradições e

complexidades que desafiam estudiosos, políticos,

administradores a desvendarem o rico e infindável universo em

constante ebulição composto pelas nações constituintes deste

“mundo novo”, se comparado aos séculos de história dos

continentes europeu e asiático. (CASTRO, 2013, ´p. 16).

Ademais, além da complexidade apontada por Castro (2013), que

instiga o pesquisador a estudar essa região tão rica em contradições, outro

ponto direcionou a escolha para o estudo dos direitos humanos na região. A

democracia, forma de governo altamente associada com a questão dos

recursos humanos, também é mais nova e mais frágil na América Latina, o

que leva a uma pergunta de pesquisa sobre como está o status quo dos

direitos humanos na região. Logo, considerando-se o acima exposto,

apresenta-se como pertinente a escolha, considerando-se o objeto de

pesquisa ‘direitos humanos’ com o recorte escolhido.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com Portella (2012, p. 175), direitos humanos são os

denominados “[...] direitos essenciais para que o ser humano seja tratado

com a dignidade que lhe é inerente e aos quais fazem jus indistintamente

todos os membros da espécie humana.” Neste conceito, estão presentes,

direta e indiretamente, as palavras ricas apresentadas na Introdução, sobre

respeito e dignidade, bem como o termo que se refere à igualdade no

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tratamento desses direitos, qualquer que seja a raça, cor, preferência

religiosa, política etc. Mais adiante, o autor reforça:

Dentro dos tratados e documentos internacionais pertinentes,

encontra-se consagrada também a visão de que os direitos

humanos se fundam no reconhecimento da dignidade inerente a

todos os membros da espécie humana. (PORTELLA, 2012, p.

176).

Historicamente, os direitos humanos, que compreendem, entre

outros, os direitos à vida e à liberdade, liberdade de opinião e expressão,

educação e trabalho (ONUBR, 2013), percorreram um longo caminho e, no

dizer de Siqueira e Piccirillo (2013), derivam de lutas e revoluções. São,

analisando-os de maneira profunda, derivados da própria evolução da

humanidade e, portanto, não são anteriores à própria organização da

sociedade, mas sim, são produtos da cultura humana. Portella (2012)

apresenta um breve quadro sinótico dessa evolução histórica o qual, dado o

escopo e objetivos deste presente trabalho, apresenta-se como

complementar, dado que a ênfase será dada na América Latina. No entanto,

cabem algumas observações a respeito.

Em síntese, no começo da era cristã, apresenta-se a chamada ‘noção

de universalidade’, que Bobbio (2004, p. 30) apud Bellinho (2009, p.9),

assim destaca: os direitos humanos nascem como direitos naturais universais,

desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando

cada Constituição incorpora Declaração de Direitos) para

finalmente encontrar a plena realização como direitos positivos

universais.

Na Idade Média, encontra-se o chamado direito à intervenção

humanitária e há um papel importante exercido pela Igreja Católica no que

se refere ao desenvolvimento do que Portella (2012, p. 178) chama de

“patrimônio jurídico comum da humanidade”. Na Idade Moderna,

encontram-se as Constituições nacionais de cada Estado contemplando a

internacionalização dos direitos humanos, assim como sua universalidade

propriamente dita, pois o direito passa a ser de todos os homens, não

apenas de uma classe. No dizer de Perez-Luño (2002, p.23) apud Bellinho

(2009, p. 6), as teorias contratualistas, bem como a laicidade do direito

natural, advindos no período iluminista.

[...] são ingredientes básicos na formação histórica da idéia dos

direitos humanos duas direções doutrinárias que alcançam seu

apogeu no clima da Ilustração: o jusnaturalismo racionalista e o

contratualismo. O primeiro, ao postular que todos os seres

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humanos desde sua própria natureza possuem direitos naturais

que emanam de sua racionalidade, como um traço comum a

todos os homens, e que esses direitos devem ser reconhecidos

pelo poder político através do direito positivo. Por sua vez, o

contratualismo, tese cujos antecedentes remotos podemos situar

na sofística e que alcança ampla difusão no século XVIII,

sustenta que as normas jurídicas e as instituições políticas não

podem conceber-se como o produto do arbítrio dos governantes,

senão como resultado do consenso da vontade popular.

Lentamente, no século XIX pode ser identificada uma humanização

do Direito Internacional, sendo que neste período, como destaca Portella

(2012), há a ação de criar-se tratados para a promoção dos direitos

humanos. Um marco deste período é a criação da Cruz Vermelha, em 1864.

No século seguinte, há uma preocupação internacional com a questão dos

direitos sociais e cria-se a OIT (organização Internacional do Trabalho).

Um ponto de destaque, no século XX, é a “afirmação do papel das

organizações internacionais na proteção dos direitos humanos”

(PORTELLA, 2012, p. 178)

Após a Segunda Guerra Mundial, observa-se um mover de

internacionalização de fato dos direitos humanos. Comenta Bellinho (2009,

p. 9): “Diante das atrocidades cometidas durante a 2ª. Guerra Mundial, a

comunidade internacional passou a reconhecer que a proteção dos direitos

humanos constitui questão de legítimo interesse e preocupação

internacional.” Também merece destaque a realização dos primeiros

tribunais internacionais de direitos humanos, como os de Nuremberg e o

Tribunal Penal Internacional. (PORTELLA, 2012). Reforça Buergenthal

(1988, p. 17) apud Piovesan (2013a, p. 189):

O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um

fenômeno do pós-guerra. Seu desenvolvimento pode ser

atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era

Hitler e à crença de que parte destas violações poderiam ser

prevenidas se um efetivo sistema de proteção internacional de

direitos humanos existisse.

Assim, é proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos

e celebram-se os principais pactos e tratados relativos ao tema, tais como:

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966, ratificado pelo

Brasil em 1992), Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e

Culturais (1966, também ratificado pelo Brasil em 1992), Convenção para

a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948); Convenção

Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação

Racial (1965); Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

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Discriminação contra as Mulheres (1979); Convenção sobre os Direitos da

Criança (1989) e Convenção sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência (2006), que podem ser observados, em sua íntegra, no site da

ONU (ONU, 2013a).

Por fim, cabe ressaltar a importância da Conferência Internacional de

Direitos Humanos de Viena, ocorrida em 1993, na qual

[...] foi definitivamente legitimada a noção de indivisibilidade

dos direitos humanos, cujos preceitos devem se aplicar tanto aos

direitos civis e políticos quanto aos direitos econômicos, sociais

e culturais. A Declaração de Viena também enfatiza os direitos

de solidariedade, o direito à paz, o direito ao desenvolvimento e

os direitos ambientais. (DHNET, 2013, s/p.)

Na América Latina, Reis (2011) faz uma interessante digressão

acerca da história dos direitos humanos na região. Destaca que desde o

início da colonização, o embate sobre direitos humanos já se fazia presente,

com Las Casas e sua defesa da igualdade entre as gentes, sua contundente

luta contra a escravidão do índio. É uma combinação entre concepções

individuais sobre os direitos humanos e as sempre presentes dimensões

sociais e econômicas tão impactantes na história latino-americana. Essas

múltiplas dimensões, contempladas na Declaração de Direitos Humanos de

Viena, acima citada, constituem, no dizer de Piovesan (2013b) um duplo

desafio para a região latino-americana, que é a consolidação do regime

democrático, “com o pleno respeito aos direitos humanos, amplamente

considerados – direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e

ambientais” (PIOVESAN, 2013b, p. 132).

Reis (2011) destaca, ademais, o papel do Haiti, cuja revolução

ocorrida em 1791 e inspirada na Revolução Francesa de 1789, foi um

marco na temática sobre direitos humanos por incluir, em sua constituição,

um artigo que condenava qualquer discriminação que se originasse da raça

de uma pessoa. Nesbitt (2004, p. 20), apud Reis (2011, p. 105), comenta

desta forma o impacto da Revolução Francesa na revolução haitiana e na

história dos direitos humanos:

O evento que iniciou a Revolução haitiana foi também o evento

que iniciou a história dos direitos humanos: a Declaração dos

direitos do homem e do cidadão de 26 de agosto de 1789. Várias

defesas da universalidade dos direitos humanos foram feitas

antes dessa data, o que torna a Declaração Francesa tão

importante é que ela foi a primeira tentativa de implementar e

efetivar esses direitos universais em uma sociedade existente.

Tanto o seu alcance universal (emancipação geral) quanto sua

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estreiteza (abolir a escravidão) foram dramaticamente revelados

na Revolução haitiana.

A Constituição Mexicana de 1917 foi, também, um marco na questão

dos direitos humanos, ao determinar direitos sociais e econômicos com

uma visão pioneira na região, reconhecendo esses direitos como parte do

que se denomina dignidade do ser humano e ao influenciar na constituição

da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Outros

documentos de relevância são o discurso das quatro liberdades, que o

presidente norte-americano Roosevelt realizou em 1941 e, em seguida, a

Carta Atlântica, assinadas por Roosevelt e Churchill, no mesmo ano,

quando Estados Unidos e Inglaterra decidem entrar na Segunda Guerra

Mundial. (REIS, 2011).

Observa-se, na América Latina, que diversos documentos

influenciaram e foram influenciados na estruturação de seu texto sobre

direitos humanos, como, por exemplo, a Declaração Universal dos

Direitos do Homem (1948) que recebeu a influência da Constituição

Mexicana e também influenciou a construção de diversas constituições

latino-americanas.

Carozza (2003), citado por Reis (2011), observa que aspectos como a

universalidade dos direitos humanos, a questão da igualdade de sexos, a

ênfase nos direitos sociais e econômicos e a centralidade da vida em

família foram inseridos ou alterados na Declaração Universal de Direitos

Humanos mediante sugestão de diversos delegados da América Latina que

participaram da convenção sobre os direitos humanos que resultaria,

posteriormente, na citada Declaração Universal de 1948. O resumo da obra

de Reis (2011) leva a uma reflexão sobre a pluralidade do significado ou do

sentido do que se denomina direitos humanos e torna-se importante, neste

presente artigo, para discutir, mais adiante, a problemática dos direitos

humanos na região.

Outro importante documento é a Convenção Americana de Direitos

Humanos, conhecida por Pacto de San José da Costa Rica, assinada na

cidade que dá seu nome em 1969 e vigente desde 1978, com o depósito do

11º instrumento de ratificação (PIOVESAN, 2013b). Essa convenção trata

de direitos civis e políticos, devendo cada Estado-parte adotar as medidas

que forem necessárias para que os direitos e liberdades desta convenção

possam ser assegurados.

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2. A PROBLEMÁTICA NA AMÉRICA LATINA

Os direitos humanos na América Latina passam, como em qualquer outra

região do planeta, por grandes problemáticas – ou desafios – na ordem pós-

moderna. Piovesan (2013b) as discute dividindo-as em sete grandes blocos,

os quais estão aqui reproduzidos em ordem distinta da original, pelos

motivos a seguir expostos: (i) discussões sobre universalismo e relativismo

cultural; (ii) o Estado como laico e os fundamentalismos religiosos; (iii) o

combate ao terrorismo e a preservação de direitos e liberdades públicas;

(iv) o direito da força versus a força do Direito; (v) respeito à diversidade

versus intolerância; (vi) o direito ao desenvolvimento e as assimetrias

globais; (vii) proteção dos direitos socioeconômicos, culturais e ambientais

versus os dilemas da globalização econômica.

Os três últimos desafios, aqui apresentados com as alíneas (v a vii)

são os que mais impacto trazem, contemporaneamente, na América Latina

no que se refere à problemática dos direitos humanos. Estes, cabe lembrar,

a partir da celebração do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos

e do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, no

final dos anos 1960, adquiriram as seguintes dimensões: (i) primeira

dimensão – engloba os chamados direitos de primeira geração – direitos

civis e políticos; (ii) segunda dimensão, que abrange os direitos de segunda

geração – direitos econômicos, sociais e culturais; (iii) terceira dimensão,

comportando os direitos de terceira geração – direitos globais.

(PORTELLA, 2012).

Obviamente, sempre haverá quem discorde e argumente acerca dessa

‘escolha’ feita a respeito dos grandes blocos mencionados anteriormente, e

considere, por exemplo, que a questão da laicidade versus fundamentalismo

religioso é algo importante. No entanto, como afirma Gumucio (2008, p.

73), ao considerar a questão da identidade latina e da integração,

pensamentos totalitários estão sendo superados e “[...] surgem novos

pensamentos que dão espaço ao plural e ao diverso, ao respeito ao outro e à

construção comum resgatando assim o que é mais valioso do humanismo

latino”2 (tradução do próprio autor). Da mesma forma, adiciona-se à

redução desses pensamentos totalitários um processo de respeito à

pluralização do campo religioso na América Latina (GUMUCIO, 2008).

Mariano (2001, p. 65), apud Oro (2008, p. 221) atesta:

2 “[...] y surgen nuevos pensamentos que dan espacio a lo plural y lo diverso, al respeto al outro

y a la construcción común rescatando así lo más valioso del humanismo latino. (GUMUCIO,

2010, p. 73).

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[...] a liberdade religiosa, sancionada pelo Estado, não só se

efetivou plenamente na segunda metade do século XX,

tornando-se um dado indisputável da realidade brasileira, fato

inegável, como se situa na raiz da constituição do pluralismo e

do desenvolvimento de nosso dinâmico mercado religioso.

De igual modo, discussões sobre universalismo e relativismo

cultural; e o desafio do combate ao terrorismo e a preservação de direitos e

liberdades públicas, ou ainda direito da força versus força do Direito,

embora dotados de grande relevância, não são, para o contexto da América

Latina atual, os desafios mais relevantes elencados para serem abordados

neste presente trabalho.

Agora, quanto ao desafio de respeito à diversidade versus

intolerância e ao desafio da proteção dos direitos econômicos sociais,

culturais e ambientais versus os chamados dilemas da globalização

econômica, além do desafio relativo ao direito ao desenvolvimento e as

assimetrias globais, observa-se um fenômeno complexo que envolve várias

dimensões dos direitos humanos, a saber, direitos civis e políticos, em

combinação com direitos sociais, culturais e econômicos. A síntese está em

que em havendo a negação da liberdade econômica, o indivíduo estará

propenso a ter a negação de suas liberdades sociais e políticas, dado que a

pobreza reveste-se de um caráter étnico. (SEN, 199, apud PIOVENSAN,

2013b).

No dizer do Instituto Interamericano de Derechos Humanos (2007, p.

10, em tradução livre do autor):

A pobreza é causa e produto das violações dos direitos humanos,

por isso e por sua extensão é que provavelmente seja o mais

grave dos problemas de direitos humanos nas Américas. Há uma

causalidade recíproca entre a persistência e a acentuação da

pobreza e a violação dos diretos humanos.3

A reportagem a seguir, publicada em novembro de 2013 pela

Agência Brasil na Rede Brasil, corrobora e exemplifica essa afirmação. O

título “ONU diz que povos indígenas têm direitos violados por atividades

econômicas” já demonstra que a questão étnica deixa os povos à margem

dos benefícios socioeconômicos aos quais teriam direito. O subtítulo “Uso

da terra e o deslocamento forçado, além de discriminação no emprego e no

3 La pobreza es causa y producto de las violaciones de los derechos humanos, por ello y por su

extensión es que probablemente sea el más grave de los problemas de derechos humanos en las

Américas. Hay una causalidad recíproca entre la persistencia y acentuación de la pobreza y la

violación de los derechos humanos. (Instituto Interamericano de Derechos Humanos (2007, p.

10).

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acesso a bens e serviços, são desafios enfrentados por nativos”

complementa a questão da “violação dos direitos de povos nativos afetados

pelo extrativismo e pelas atividades dos setores agroindustriais e de

energia”. (AGÊNCIA Brasil, 2013, s/p.).

O presidente do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre a

Questão dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas, Pavel

Sulyandziga, [...] entregou à Assembleia Geral da Organização

das Nações Unidas (ONU) o estudo Direitos Humanos e

Corporações Internacionais e Outras Empresas Comerciais –

disponível no site da ONU, em inglês – no qual informa que os

povos indígenas estão com dificuldade de manter seu modo de

vida tradicional e ainda sofrem discriminação no emprego e no

acesso a bens e serviços. Segundo ele, o uso da terra e o

deslocamento forçado são outros desafios enfrentados por esses

grupos. “Essas perturbações muitas vezes levam a graves

violações dos direitos civis e políticos, com defensores dos

direitos humanos, particularmente, sendo colocados em risco.

Os povos indígenas também são muitas vezes excluídos de

acordos e processos de tomada de decisões que afetam suas

vidas irrevogavelmente”, explicou. (AGÊNCIA Brasil, 2013,

s/p.).

Em 04 de novembro de 2013, camponeses latino-americanos

denunciaram abusos como privatização de sementes, uso de agrotóxicos de

forma exacerbada, acúmulo de terras nas mãos de outros grupos de elite

econômica e ofensivas de multinacionais, apoiadas pelos governos latino-

americanos, contra o trabalho campesino, em clara violação dos direitos

humanos. As denúncias foram compiladas em um estudo denominado

Situação dos direitos econômicos, sociais e culturais (DESC) de

camponeses na América Latina, que foi entregue à Comissão

Interamericana de Direitos Humanos.

Em audiência realizada na sede da Organização dos Estados

Americanos (OEA) as organizações rurais também denunciaram

a criminalização do setor e defenderam a reforma agrária

integral a fim de se alcançar uma verdadeira soberania alimentar

com o uso de sementes nativas. Eles afirmaram que a violação

de direitos humanos contra as populações camponesas da

América Latina e Caribe é "padrão comum do continente” e tem

"relação direta com as corporações transnacionais e o modelo de

agricultura industrial”. (ADITAL, 2013, s/p.).

O próprio documento apontado pela reportagem torna claro o quanto

a pobreza está relacionada à violação dos direitos humanos e observa que a

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pobreza e a indigência concentram-se nas áreas rurais, levando os

camponeses a sofrerem, mais rigorosamente, situações de fome e de

exclusão social. (SITUAÇÃO dos direitos, 2013). No mesmo documento,

encontram-se excertos que exemplificam essas questões que assomam os

desafios elencados para este trabalho.

Os agrotóxicos, por exemplo, produtos adotados em larga escala

pelas grandes corporações, são reconhecidamente danosos ao meio

ambiente e ao próprio ser humano. As mudanças genéticas causam abortos

e outros problemas de saúde para a população campesina que é exposta a

esses produtos. (SITUAÇÃO dos direitos, 2013).4

A ética sustentável passa longe das atitudes adotadas pelas grandes

corporações, que visam ao lucro a qualquer preço. Conforme comenta

SCHETTINI (2013, s/p.)

O conceito de desenvolvimento adotado historicamente pelos

Estados latino-americanos e reproduzido até os dias atuais

vincula-se a uma lógica antidemocrática de exploração da

natureza e de mercantilização dos recursos naturais, justificada

por uma ética produtivista e depredadora.

Tanto o documento Situação dos direitos econômicos, sociais e

culturais (DESC) de camponeses na América Latina5 quanto Schettini

(2013) tocam no mesmo ponto crucial: que a lógica de desenvolvimento

adotada, capitalista, é oposta ao estilo, costume, forma de vida dos povos

indígenas. A terra é, para os camponeses, mais do que um lugar para

4 No original: “La cuestión de las semillas genéticamente modificadas también trae consigo un

problema adicional: muchos de estos cambios en sus códigos genéticos buscan hacer los

productos resistentes a agroquímicos destinados al combate de plagas que los afectan. Sobre

este tema, uno de los casos más estudiados ha sido la aplicación de glifosato sobre plantaciones

que han sufrido dichas modificaciones y los resultados, aunque difieren notablemente unos de

otros, permiten identificar, al menos, la persistencia de riesgos razonables para la vida digna de

las comunidades rurales que habitan cerca de las plantaciones fumigadas.” Fazendo menção ao

glifosato, produto químico largamente utilizado como agrotóxico, o documento aponta que;”Un

reciente estudio de la Universidad de los Andes, en Colombia, concluyó que la exposición a este

producto químico […] producto químico (i) aumenta la posibilidad de sufrir transtornos

dermatológicos, (ii) aumenta el riesgo de abortos y (iii) sus efectos a largo plazo pueden

empeorar las condiciones de salud de los habitantes.” (SITUAÇÃO DOS DIREITOS, 2013,

p.10).

5 No original: Para las y los campesinos la tierra y el agua no son una mercancía. La tierra es el

lugar a donde pertenecen, donde además de producir alimentos, se desarrolla la vida familiar y

comunitaria y se genera el trabajo que la sostiene. Allí tienen lugar sus viviendas, los espacios

de recreación, los cementerios y la historia de la familia, la comunidad y la cultura. Sobre ella se

manifiesta la relación con la naturaleza de la que se es parte. La tierra cumple una función

social, cultural y económica, además de tener una función ambiental. (SITUAÇÃO DOS

DIREITOS, 2013, p.12).

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trabalho, ela tem uma função social, cultural e econômica que não tem sido

respeitada nas políticas de desenvolvimento econômico e estes sofrem,

quando levada a questão à instância jurídica, por sua morosidade e pela

falta de compreensão.

Ao desconsiderarem as especificidades dos povos indígenas e

impedirem sua participação na tomada de decisões que

envolvam seus interesses, as políticas de desenvolvimento

econômico estabelecidas pelos Estados e pelos organismos

internacionais na América Latina excluem os indígenas da

esfera social, política e econômica, submetendo-os à situação de

extrema vulnerabilidade na qual se encontram atualmente.

(SCHETTINI, 2013, s/p.).

A questão da violação dos direitos humanos não se estanca nos

povos indígenas, mas atinge também outras minorias como as mulheres, as

crianças e os negros, preponderantemente, o que remonta ao desafio do

respeito à diversidade versus a intolerância. Algumas considerações serão

feitas neste sentido, tomando por base a questão histórica dos

afrodescentes, por seu impacto e abrangência.

No início de 2013, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência

da República do Brasil demonstrou que a população negra está no topo das

agressões em casos de denúncia de violações aos direitos humanos.

De acordo com a Instituição Global Rights (2008), s/p.):

Na América Latina moram aproximadamente 150 milhões de pessoas de

descendência africana, mais ou menos 30 por cento da população total da

região. Apesar destas cifras, os afro-descendentes regularmente são vítimas

de discriminação racial, exclusão social e pouca representação política.

Também sofrem com o acesso desigual à educação, saúde, emprego e riqueza

e, com frequência, estão em desvantagem dentro do sistema judiciário

nacional. Esta discriminação ameaça o progresso social, bem como os ganhos

econômicos e a democracia duramente conquistada na região.

De igual forma, relatório do PNUD (2011), a população

afrodescendente gira em torno de 20% a 30% da América Latina, e passa

por discriminações das mais diversas, atingindo níveis desproporcionais de

exclusão social e de pobreza.

Apesar da existência de quadros jurídicos nacionais e da criação

de várias instituições para garantir o exercício dos direitos das

populações afro, a implementação de leis e regulamentos é fraca

e há ainda muito a ser feito a esse respeito na região. Em

particular, falta aprofundar o reconhecimento político e cultural

de seus valores, aspirações e estilos de vida, e deixar para trás

uma invisibilidade cultural que potencia a exclusão sócio-

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econômica, criando mais desigualdade, segmentação social e

cidadania incompleta. (PNUD, 2011, s/p.).

Crianças e adolescentes negros lideram os casos de violência com

61% das denúncias. Já entre violações contra idosos, os negros ficam na

frente com 36,2% e entre pessoas com deficiência, 59,3%.

Na experiência vivida pela população brasileira negra, o

principal agente da violação dos direitos é o Estado”, explica

Lucia Xavier, assistente social e coordenadora da ONG Criola,

com sede no Rio de Janeiro, que defende os direitos da mulher

negra. “O racismo esta impregnado em todas as instituições

públicas. Então uma ação importante que nós realizamos é o

acompanhamento legislativo nacional e local. (UNIC RIO,

2011, s/p.).

Tomando por base o caso brasileiro, tão somente para aprofundar o

argumento a seguir, a discriminação racial é histórica e traz em seu bojo

profundas feridas causadas desde a época da escravidão. O Brasil, cumpre

lembrar, foi o último país do mundo a abolir a escravidão, e esta ‘abolição’

não foi seguida de políticas reais de inclusão. É fato que o Brasil vem

adotando políticas inclusivas, as chamadas ações afirmativas, como a

política de cotas ou a Lei 10.639, de 2003, que estabelece como obrigatório

o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira, isto no âmbito da

educação. Assim como ocorre com os indígenas, os negros também

necessitaram de ações legais para garantir seus direitos à propriedade

(Decreto 4887, de 2003, sobre as comunidades quilombolas). Em 2010,

outra medida de peso foi a criação do Estatuto da Igualdade Racial. No

entanto, essas medidas não quebram as atitudes cotidianas e o pensamento

estereotipado acerca de superioridade racial, presente em muito do discurso

informal do brasileiro e, por que não dizer, do próprio latino-americano.

Em 2013, um grupo de trabalho enviado pela ONU, Organização das

Nações Unidas, constatou que ainda há muita desigualdade e discriminação

contra o negro no Brasil. Essa desigualdade estende-se além do campo

educacional, chegando à área do acesso à saúde e ao trabalho, além de

haver mais violência, maior criminalidade e mais violação dos direitos

humanos no caso de pessoas negras, que estão sub-representadas na

estrutura brasileira (ONU, 2013b). Pesquisadoras da ONU comentam:

Estamos conscientes de que, para superar o legado do

colonialismo e da escravidão, os desafios enfrentados pelo

Brasil são de enorme magnitude. As injustiças históricas

continuam afetando profundamente a vida de milhões de afro-

brasileiros e estão presentes em todos os níveis da sociedade

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brasileira. Os negros do país ainda sofrem racismo estrutural,

institucional e interpessoal. [...] porque há um pensamento que

diz que algumas pessoas são superiores a outras (ONU, 2013b,

s/p.)

O que deve ser ressaltado é que a situação dos afrodescendentes no

Brasil não diverge muito do que ocorre em outros países da América

Latina. Concluindo esse elenco de questões relativas aos direitos humanos,

também cabe destacar a violação dos direitos dos presos. Em 2012,

representante da ONU para Direitos Humanos na América Latina apontou

como preocupante o desrespeito aos direitos humanos que vinha

acontecendo em prisões de diversos países latino-americanos como

Argentina, Brasil, Chile e Uruguai. Tirante o período de ditaduras na

América Latina, em que a tortura foi um dos instrumentos mais utilizados

pelos que estavam no poder e um dos mais degradantes do ponto de vista

dos direitos humanos, a situação prisional revela-se como emblemática

dessa violação do direito à dignidade, seja pela superlotação, seja por não

haver condições básicas de higiene nas prisões comuns, seja pela prática da

própria tortura. (ONU, 2012). Os exemplos falam por si sós, sendo que,

ressalte-se, nenhum dos países citados estabeleceu o chamado Mecanismo

Nacional de Prevenção da Tortura (MNP), que é pré-requisito para o

Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura (OP-CAT).

Sobre o Brasil, o Representante do ACNUDH se disse alarmado

com a circulação de um vídeo de três minutos no país, em que

uma mãe mantida em prisão preventiva aparece algemada pouco

após ter dado à luz. A mulher de 32 anos era acusada de ter

furtado xampus e bonecas em São Paulo. De acordo com

reportagem da imprensa brasileira, o uso de algemas durante ou

após o parto foi negada por funcionários da Secretaria da

Administração Penitenciária. A prática, segundo Incalcaterra, “é

uma clara violação dos tratados internacionais de direitos

humanos.” Na Argentina, um prisioneiro morreu após receber

30 golpes na cabeça no complexo de San Martin, em Buenos

Aires e outro foi esfaqueado em Capayán, na província de

Catamarca. Um detento chileno morreu após ser baleado na

cabeça durante uma tentativa de fuga da prisão de Talagante,

perto de Santiago, capital do Chile. No Uruguai, a violência

entre prisoneiros causou um incêndio com três fatalidades na

prisão de Comcar, perto da capital Montevidéu. E uma briga

entre detentos também matou dois prisioneiros na Penitenciária

Nacional de Maracaibo, na Venezuela. (ONU, 2012, s/p.)

Em 2013, houve o caso gritante do desaparecimento do ajudante de

pedreiro Amarildo, que foi torturado pela polícia brasileira e seu corpo

nunca foi encontrado. Até fraude processual houve no evento que envolveu

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25 policiais. (O GLOBO, 2013). Para as mulheres, a situação não é nada

diferente. Estudo da Organização Conectas, em 2012, aponta que na

América Latina, com dados de 2010, havia mais de 74 mil mulheres que

sofriam penas antecipadas, abusos e abandono por parte do Estado

(CONECTAS, 2012). Apenas um exemplo, que consegue demonstrar o

absurdo no que se refere ao tema violação dos direitos humanos: ‘O pai batia na mãe e na filha. A mãe tentou protegê-la

levando-a para um abrigo de crianças. Ao ver as marcas da

violência, fizeram a denúncia à polícia e a mãe, por medo de

enfrentar o agressor, não fez a acusação. Embora fosse um caso

típico e claro de violência de gênero, a mulher foi detida por

abuso contra a sua filha e ficou em prisão preventiva por três

anos. Uma completa falta de sensibilidade do sistema, que fez

com que tanto a mãe quanto a filha fossem vítimas novamente.’

ADC, Argentina. (CONECTAS, 2012, s/p.).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os problemas com os direitos humanos na América Latina não se resumem

a estes escolhidos para o escopo deste trabalho, mas justamente estes, por

suas condições históricas e persistentes, além de sua magnitude, são os

elencados como prioritários para discussão tanto do ponto de vista de

políticas públicas quanto no que se refere a aspectos legais.

Ora, se observado o entroncamento entre (i) intolerância, dilemas da

globalização econômica, assimetrias globais e, de outro lado, (ii) respeito à

diversidade, proteção dos direitos econômicos, sociais, culturais e

ambientais; e direito ao desenvolvimento, pode-se identificar claramente o

imbricamento entre esses direitos (ii) e os impactos causados pelo primeiro

elo (i) deste entroncamento. O impacto social e econômico, seja de uma

medida política, seja de um agente externo como grandes corporações,

afeta profunda e constantemente o que se considera um direito humano,

seja ele de primeira, de segunda ou de terceira gerações.

A pobreza, de fato, gera um ciclo vicioso de abertura para mais

violação dos direitos humanos, pois onde está a pobreza, as condições de

proliferação de violência e de abuso crescem. Pessoas em situação de

extrema pobreza, por exemplo, não podem ter, em geral, seus direitos à

educação, à saúde e à moradia exercidos de forma integral. Nem sequer

podem frequentar uma escola e, se o podem, certamente não será uma

escola da chamada ‘elite intelectual’ porque esta, por sua vez, cobra um

custo inacessível a alguém das camadas inferiores de renda.

Uma pessoa em situação de extrema pobreza não pode ter um plano

de saúde e deverá enfrentar uma fila no SUS ou equivalente, sem qualquer

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garantia quanto a atendimento, menos ainda de qualidade. Emblemático,

aqui, é o caso da menina de dez anos, Adrielly dos Santos Vieira, do Rio de

Janeiro, que foi baleada por traficantes com um tiro na cabeça e veio a

falecer, após 8h de espera para ser atendida na rede pública, porque o

médico de plantão havia faltado. Tampouco pode uma pessoa em situação

de extrema pobreza ter uma moradia decente. Quando muito, se conseguir

um plano de moradia bancado pelo governo, viverá em locais menos

nobres e com uma vizinhança de alto risco.

Em locais nos quais a democracia é uma criança que caminha a

passos claudicantes para seu fortalecimento, um golpe, militar ou não, pode

representar um ruptura violenta não somente política, mas social, e a perda

dos direitos humanos fundamentais, como o direito à vida, à liberdade e à

liberdade de expressão, de um momento para outro. Assim, fazendo uma

retrospectiva da história da América Latina e sua construção de direitos

humanos, pode-se inferir, fazendo uma analogia, que o caminho está sendo

pavimentado paulatinamente, mas ainda há muitos buracos inesperados e

outros já conhecidos nessa estrada rumo à consolidação dos direitos do ser

humano.

Ainda que em geral não se façam citações de terceiros em

considerações desta natureza, não se pode deixar de relembrar Piovesan

(2013b) ao comentar os desafios legais no tocante aos direitos humanos,

em especial no que se refere a questões que vão além de dotação

orçamentária. Envolver mais a sociedade civil à Corte Interamericana, que

é um órgão de proteção dos direitos humanos do sistema interamericano e

envolver os Estados em um compromisso firme com a proteção dos direitos

humanos são duas das medidas que a autora comenta e que, face ao

anteriormente exposto, vão ao encontro de algumas ações que surgem

como essenciais para buscar a modificação do quadro aqui apresentado.

Por outro lado, a falta de efetividade na justiça no tocante à

verificação de necessidade ou não de prisão preventiva, a falta de punição

adequada, justa e imediata de violações aos direitos humanos e a

persistência das visões estereotipadas sobre o semelhante são grandes

empecilhos, ou crateras, na analogia acima citada, na pavimentação do

caminho rumo à consagração dos direitos humanos.

Na América Latina, em especial, as minorias sofrem muito ao sabor

das tiranias e dos desmandos executivos, legislativos (vide o caso

Mensalão, recentemente, no Brasil) e judiciários. As fragilidades

encontradas refletem a própria fragilidade estrutural e preconceituosa que

insistem em minar o respeito pelo outro e trazer o correspondente

tratamento digno que qualquer pessoa, independentemente de sua raça,

etnia, cor, preferência, merece. Em uma região permeada de diferenças das

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mais diversas, como a América Latina, o status quo dos direitos humanos

demonstra que respeito e dignidade, lamentavelmente, ainda são palavras

bonitas, mas teóricas, que não trazem sua prática para o cotidiano. Há mais

de 60 anos, no entanto, fez-se uma declaração de fé na igualdade de direitos

e na dignidade do ser humano. Essa declaração, ainda que venha sofrendo

abalos, tem-se mostrado sólida em sua essência e, quiçá, espera-se que

consiga pavimentar o sinuoso caminho dos direitos humanos tornando real

aquilo que é o ideal comum a todos os povos.

Retomando as duas pequenas grandes palavras que foram objeto da

abertura deste artigo – respeito e dignidade – o que se poderia esperar,

neste início de século tão turbulento, seria um movimento conjunto para o

retorno às regras mais básicas de civilidade e que são uma base importante

para que se possa viver em comunidade – buscar no outro não a fonte da

surpresa ou do terror, mas a expressão da riqueza da diferença que faz, no

mais íntimo, cada ser humano ser igual ao outro no que tem de mais

fundamental: a essência de ser (verbo) humano.

Fonte: GRANT, 2012, s/p. 6

6 No original: Whereas the peoples of the United Nations have in the Charter reaffirmed their

faith in fundamental human rights, in the dignity and worth of the human person and in the

equal rights of men and women and have determined to promote social progress and better

standards of life in larger freedom, […] Now, Therefore THE GENERAL ASSEMBLY

proclaims THIS UNIVERSAL DECLARATION OF HUMAN RIGHTS as a common standard

of achievement for all peoples and all nations, to the end that every individual and every organ

of society, keeping this Declaration constantly in mind, shall strive by teaching and education to

promote respect for these rights and freedoms and by progressive measures, national and

international, to secure their universal and effective recognition and observance, both among the

peoples of Member States themselves and among the peoples of territories under their

jurisdiction.

“Considerando que os povos das Nações

Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua

fé nos direitos humanos fundamentais, na

dignidade e no valor do ser humano e na

igualdade de direitos entre homens e mulheres,

e que decidiram promover o progresso social e

melhores condições de vida em uma liberdade

mais ampla, … a Assembleia Geral proclama a

presente Declaração Universal dos Diretos

Humanos como o ideal comum a ser atingido

por todos os povos e todas as nações…”

(Preâmbulo da Declaração Universal dos

Direitos Humanos, UNITED NATIONS, 1948,

s/p.).

Declaração Universal dos Direitos Humanos

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Camponeses guatemaltecos pedem comida em um centro

de distribuição

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