pucrs saúde nº 22

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ABRIL DE 2013 – N º 22 Novas tecnologias trazem mais qualidade para o diagnóstico e o tratamento de doenças Avanço promissor Patch Adams conhece o HSL PáGINAS A 12 14 PáGINAS A 6 8 FOTO: BRUNO TODESCHINI FOTO: GILSON OLIVEIRA

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Revista do Hospital São Lucas da PUCRS - Porto Alegre/RS - Brasil

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A B R I L D E 2 0 1 3 – N º 2 2

Novas tecnologias trazem mais qualidade para o diagnóstico e o tratamento de doenças

Avançopromissor

Patch Adams conhece o HSL

P á G I N A S A12 14

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e d i t o r i a l

Novas pág inas da vida são desenha-das a cada dia em

um hospital. A cura de uma doença, a solução para um problema, a dor amenizada renovam as esperanças de um futuro melhor. Para que esse ciclo não termine, profissionais de saúde, pro-fessores e estudantes não podem parar. Por isso, a revista PUCRS Saúde volta

a circular em 2013 para registrar cada momento marcante do Hospital São Lucas da PUCRS, seja um avanço na pesquisa, seja a vinda de um convi-dado internacional, como o médico norte-americano Patch Adams, que estimu-lou reflexões sobre amor, humanização e amizade. A publicação apresenta novo visual e novas seções

para abranger os aconte-cimentos de um ambiente tão diversificado, voltado ao ensino, à pesquisa e à assistência.

No universo das pessoas que constroem a história do HSL, é preciso render-se à disposição daqueles que se doam diariamente para proporcionar o bem-estar àqueles em situação mais fragilizada. Com bom hu-

mor e carinho, o time de voluntários desafia-se a cada visita para conquistar mais e mais sorrisos. Esta edição traz ainda importan-tes investimentos feitos na modernização de tecnolo-gias, essas também fonte de esperança por propor-cionarem tratamentos mais avançados e melhor quali-dade de vida.

Boa leitura!

Renovada

reitor: Joaquim Clotet Vice-reitor: Evilázio Teixeira

Hospital São lucas da PUCrS diretor-geral e administrativo: Leomar Bammanndiretor administrativo-adjunto: Lauri Heck diretor técnico e clínico: Plínio Vicente Medaglia Filhodiretor acadêmico: Marlow Kwitkodiretor financeiro: Ricardo Minotto

PUCrS Saúdeeditora: Angela Vencatorepórter: Jeniffer Caetanoestagiária: Juliana PratoFotógrafos: Bruno Todeschini e Gilson Oliveirarevisão: Antônio Dalpicolarquivo fotográfico: Analice Longaray e Camila Paes KepplerConselho editorial: Fábio Etges, Lauri Heck, Magda Achutti, Marlow Kwitko, Raquel Martins, Ricardo Minotto e Salvador Gullo Netoimpressão: Epecê-Gráficaeditoração eletrônica: PenseDesign

A revista PUCRS Saúde é editada pelo núcleo de Imprensa do Hospital São Lucas da PUCRS – Avenida Ipiranga, 6.690 – 2º andar – CEP: 90.610-000 – Porto Alegre (RS) – Fone: (51) 3320-3445 – Fax: (51) 3320-3401

[email protected]

www.hospitalsaolucas.pucrs.br

S U m á r i o

3 Palavra da Direção

4 Acontece recorde muito bem-vindo

5 Acontece Hospital oferece tratamento menos invasivo da estenose aórtica

6 Capa tecnologias em prol da saúde

10 Pesquisa tecnologia preventiva

11 Humanização alegria para as crianças

12 Especial Humor e amizade na luta pela cura

15 Voluntariado eles fazem a diferença

16 Entrevista mário Juruena – marcas do passado

18 Residência destaque mundo afora

19 Residência reforço na equipe

20 Integra assistência e aprendizado lado a lado

22 Segurança agilidade que salva vidas

23 Viva melhor delícias benéficas à saúde

24 Diagnóstico Crescimento indesejado

26 Planejamento estratégico ricardo minotto – Caminhos traçados

27 Bastidores Fonte de vida

28 Curtas

29 Trajetória José mário de Carvalho – Satisfação pelo trabalho bem-sucedido

30 Crônica Charles Kiefer – Uma silenciosa lição

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O Hospital São Lucas (HSL) da Pontifícia Universidade Cató-lica do Rio Grande do Sul foi

criado com a missão de desenvolver integradamente assistência, ensino e pesquisa. Nesse contexto, está dire-cionado à adoção de estratégias que potencializam esses três propósitos. A Faculdade de Medicina, ocupando posição reconhecida em avaliações externas de seus programas de gra-duação e pós-graduação, destaca o corpo clínico do Hospital como referência em variadas especialidades médicas.

Da mesma forma, a presença das Faculdades de Enfermagem, Nutri-ção, Fisioterapia, Odontologia, Psico-logia, Farmácia, Serviço Social, Física Médica e Educação Física tem con-tribuído para a diferenciação do HSL, com iniciativas inovadoras, como a Residência Multiprofissional. Em uni-dades de saúde onde há geração sis-temática de conhecimento e ensino formando profissionais, desenvolve-

saúdeQualidade e percepção de custos em

L E O M A R B A M M A N N , d i r e t o r - g e r a l e a d m i n i s t r a t i v o

Foto: GilSon oliVeira

Pa l a V r a d a d i r e ç ã o

se uma atividade assistencial qualifi-cada, enriquecida pela presença de docentes, pesqui-sadores e alunos.

Por outro lado, muito se tem de-batido sobre sus-tentabil idade do setor saúde. Os prestadores de serviços, espe-cialmente hospi-tais e planos de saúde públicos e privados, preci-sam demonstrar à sociedade que uma assistência quali-ficada, com profissionais capacitados e recursos adequados, tem um custo expressivo, que exige financiamento compatível.

Nesse sentido, espera-se que as instituições públicas e operadoras de planos de saúde revejam suas

estratégias. É preocupante constatar que muitas entidades privadas ofer-tam planos com preços inferiores ao custo de serviços assistenciais com qualidade. Essa equação precisa ser reavaliada e reajustada, para que se possam viabilizar os serviços que a população necessita.

Gostaria de agradecer profundamente os cuida-dos prestados ao meu pai, Paulo Baldin, durante sua permanência, em setembro de 2012, na UTI Coronariana, Centro Cirúrgico, pós-operatório cardíaco e 7º Norte. A toda a equipe de enfer-magem e médicos, obrigada pela competência e dedicação.

Graziela Baldin

Só tenho que agradecer a todos pelo atendimen-to que foi dado à minha mãe, durante o período em que ela esteve internada pelo SUS no 5º andar. Foi muito bom, com muito carinho e dedicação de todos. Muito obrigada!

Marieta da Silva de Santana

A G R A D E C I M E N T O S

Só tenho a agradecer por tudo. Meu filho entrou no HSL com crises epiléticas, que já duravam 19 anos, e sai sem nenhuma crise. Glorifico a Deus por tudo e peço a Ele para continuar orientando a todos e que o Espírito Santo de Deus esteja sempre neste Hospital. Obrigada a toda a equipe!

Sandra Nunes Tomelin

Eu quero deixar meu agradecimento aos médicos que foram incansáveis no meu tratamento. Dr. André Zanela foi rápido e preciso no diagnóstico, me dando todo o apoio e orientação na hora mais difícil! À equipe de cirur-gia, que foi perfeita. Dra. Gabriela Gonçalves da Costa, obrigada pelo carinho e atenção a mim dedicados!

Amarina R. Castro

4

a C o n t e C e

muito bem-vindoN ú M E R O D E T R A N S P L A N T E S R E A L I Z A D O S E M 2 0 1 2 F O I O M A I O R R E G I S T R A D O N O H S L

O Programa de Transplante do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) tem motivo para come-

morar: em 2012, foram realizadas 106 cirurgias para implante de rim, maior número desde o início do programa, em 1978. A marca supera o recorde obtido em 2011, quando foram aten-didos 88 casos. O sucesso deve-se a fatores como as campanhas de conscientização e a mudanças na regulação dos pacientes, realizada pela Secretaria Estadual da Saúde; a estruturação do HSL, com equipe médica e ambulatório dedicados à área; e ao trabalho de captação de doadores, impulsionado com a cria-ção das Organizações de Procura de Órgãos (OPOs), em 2011. O chefe do Serviço de Nefrologia, o nefrologista Carlos Eduardo Poli de Figueiredo, cita ainda a maior agilidade na ava-liação de pacientes para inserção na lista de espera. “A expectativa para 2013 é de bater novo recorde”, diz.

Na avaliação do chefe do Serviço de Transplante, o cirurgião Marcelo Hartmann, o Hospital tem condições de dobrar o número de cirurgias, mas é preciso ter órgão disponível, o que pode vir de uma pessoa falecida ou não. Em relação ao doador vivo, o HSL tem uma vantagem: a retirada do rim é feita por videolaparoscopia, que per-mite recuperação mais rápida e reduz a dor e as complicações no pós-ope-ratório. Hartmann explica que o acrés-cimo de transplantes com doador vivo beneficia a todos que necessitam de um rim, pois contribui para diminuir o tempo de espera pelo órgão.

Nesse processo, trabalho funda-mental é realizado pelas OPOs. No

RecordeEstado, há sete organizações, sob coordenação da Central de Transplantes. Uma delas está alocada no HSL e responde por 18 hospitais da Capital, Região Metropolitana e do Litoral Norte. Entre as atribuições estão abor-dar a família do possível doador e acompanhar o processo até a liberação do corpo, além de trei-nar profissionais para identificar doadores, e intermediar o contato com a Central. O coordenador da OPO no São Lucas, Leonardo Kroth, destaca que, em 2011, foi reativado o sistema de busca ativa de córneas na Instituição, resul-tando em 27 captações em 2012.

POR ETAPAS

A doação de órgãos de uma pessoa morta só é possível após confirmação da morte cerebral. Quando isso ocorre, a Central de Transplantes do Estado é notificada. Nos hospi-tais integrantes da OPO do HSL, houve 94 notificações em 2012. Após a autorização da família e a verificação do estado de saúde do doador, é feita a cirurgia de retirada dos órgãos e a Central identifica um ou mais receptores compatíveis. O passo seguinte é o implante. O diagnóstico da morte ce-rebral é rigoroso e exige dois testes clínicos, feitos por um neurologista e um médico intensivista, e exame de imagem.

A lista de espera para transplantes é regionalizada, sem diferenciar pacientes do Sistema único de Saúde, de convê-nios ou particulares. Os órgãos podem vir de qualquer parte do Brasil, desde que haja receptor compatível. Para receber o rim, são listados todos os que fazem hemodiálise ou diálise peritoneal. As principais causas de falência renal são hipertensão e diabe-tes e as doenças próprias do órgão.

organização de Procura de Órgãos realizou campanha no HSl para incentivar doações

Foto: anGela VenCato

Organização de Procura de Órgãos – OPO 2

• Av. Ipiranga, 6.690, 7º andar, sala 748• (51) 3320-3261

Transplantes de rim no HSL

2012 106

2011 88

2010 64

2009 48

2008 59

2007 69

Fonte: Serviço de Nefrologia

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Hospital oferece tratamento menos invasivo da

HSL cria Serviço de

Uma das três instituições do Es-tado, certificadas para oferecer o tratamento menos invasivo

da estenose aórtica, é o Hospital São Lucas da PUCRS. O cardiologista Paulo Caramori, chefe do Centro de Diagnóstico e Terapia Intervencionista (CDTI), foi habilitado para realizar o Implante Transcateter de Valva Aórtica (Tavi). A doença causa a calcificação da válvula aórtica, que precisa ser trocada, pois dificulta a circulação sanguínea. Os sintomas são dor no peito, falta de ar e desmaios.

As opções de tratamento são ci-rurgia convencional e Tavi, este sem a necessidade de abrir o tórax do pa-ciente. O implante é feito por meio de um tubo longo e flexível (cateter) inse-rido através da artéria femoral (na vi-

rilha) ou por uma pequena incisão no peito. Por ser menos invasivo, p ropo rc i ona recuperação mais rápida e atende aos p a c i e n t e s com alto ris-co para a ci-rurgia.

A estenose aórtica atinge idosos acima de 75 anos e pode levar à mor-te se não for tratada. O aumento da expectativa de vida, devido à melhora nas condições socioeconômicas da população, tende a elevar o número de pessoas afetadas pela doença, que é diagnosticada por meio de

exame clínico. Es-tima-se que, em 2020, cerca de 330 mil brasileiros sofram do proble-ma. Na avaliação

de Caramori, ape-sar das vantagens,

o Tavi ainda precisa ser melhor difundido. “Temos equi-

pes treinadas e centros de exce-lência; agora precisamos aprimorar

o acesso ao tratamento”, destaca. O procedimento ainda não foi incluído no Sistema único de Saúde (SUS), mas é realizado via convênios ou de forma particular. O CDTI localiza-se no 3º andar do Hospital. Informações pelos telefones (51) 3320-3494 e 3320-3379.

O Hospital São Lucas da PUCRS conta com um setor próprio de Densitometria Óssea. A Instituição adquiriu o equipamento instalado no local e passou a fornecer

o serviço, antes oferecido por empresa terceirizada. O exame está disponível para pacientes do Sistema único de Saúde (SUS), de convênios e particulares e pode ser agendado pelo telefone (51) 3320-3426.

A densitometria óssea funciona como um raio-x compu-tadorizado, que mede a densidade de diferentes tecidos do corpo humano. Ela permite diagnosticar a osteoporose, identificar alterações de massa em qualquer faixa etária e avaliar e quantificar o grau de gordura de cada paciente. “O HSL comprou um equipamento de ponta com todos os softwares disponíveis, inclusive o pediátrico, que permite o atendimento de crianças e adolescentes. Com ele, além dos tradicionais exames focados na coluna lombar e no fêmur proximal, podem-se realizar avaliações de antebraço, corpo inteiro, coluna lateral e altura das vértebras, que determinam se existe alguma fratura”, ressalta Rodolfo Schneider, chefe dos serviços de Densitometria Óssea e de Geriatria.

estenose aórtica

Densitometria Óssea

a C o n t e C e

equipamento de densitometria óssea

Foto: JeniFFer Caetano

66666

C a Pa

I N V E S T I M E N T O S M O D E R N I Z A M S E R V I ç O S E P R O P O R C I O N A M M E L H O R Q U A L I D A D E N O A T E N D I M E N T O

Para acompanhar as inova-ções tecnológicas na área da Medicina, o Hospital São

Lucas da PUCRS (HSL) investiu R$ 13 milhões em 2012 na aquisi-ção de equipamentos e em refor-mas físicas. As novidades trazem mais segurança e agilidade no diagnóstico de doenças e ampliam as opções de tratamento, além de reforçarem a vocação para a alta complexidade dos serviços. Entre as áreas beneficiadas estão Ra-dioterapia, Hemodinâmica, Res-sonância Magnética, Urologia e Ecocardiografia.

“A direção esforça-se no sen-tido de proporcionar a melhor condição a pacientes e a equipes médicas e de enfermagem, para que possam desenvolver seu trabalho”, ressalta o ginecologista Plínio Vicente Medaglia Filho, di-retor técnico e clínico. A preocu-

pação em prestar uma assistência com qualificação contínua alinha-se ao Planejamento Estratégico da Instituição e, nesse sentido, os investimentos continuarão em 2013.

A expectativa é seguir crescen-do de forma sustentável, amplian-do a produção e qualificando a assistência. “As mudanças na sala de recuperação, com o aumento de 15 leitos na unidade; o acrésci-mo no número de salas cirúrgicas; o novo Laboratório de Patologia Clínica e a reforma na Emergência são algumas das obras previstas para o próximo ano”, informa Ri-cardo Minotto, diretor financeiro. Segundo os diretores, a conjuga-ção de pessoas, conhecimento e infraestrutura fazem parte dos ideais do HSL, dentro da missão de integrar assistência, ensino e pesquisa.

Tecnologias em prol da saúdeFoto: GilSon oliVeira

Chefe da radioterapia, aroldo Braga Filho, ao lado do acelerador nuclear

REVOLUçãO NO TRATAMENTO CONTRA O CâNCER

O Serviço de Radioterapia renova-se para atender ao crescimento da procura pelo tratamento contra o cân-cer. O principal avanço é a aquisição de um acelerador nuclear de última geração, acompanhado de capacita-ção da equipe no Brasil e no exterior e de reformas no espaço físico. De acor-do com o radioterapeuta e chefe do Serviço de Radioterapia, Aroldo Braga Filho, o investimento coloca o HSL em igualdade com os principais centros do País. “O momento é de satisfação em poder oferecer tratamentos con-temporâneos aos nossos pacientes,

com melhor qualidade de vida, redu-ção dos efeitos colaterais indesejáveis e melhora das taxas de controle local dos tumores”.

O Clinac iX, da empresa Varian, é equipado com tecnologias que per-mitem realizar procedimentos mais precisos e seguros. A Radioterapia com Intensidade Modulada (IMRT) protege órgãos ou estruturas próxi-mas ao tumor, diminuindo as compli-cações e os efeitos que a radiação pode produzir. A IMRT traz benefícios em tumores de várias localizações, entre eles os de mama, próstata,

sistema nervoso central, pulmão, ca-beça e pescoço.

A Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT) possibilita verificar, em tempo real, o lugar onde estão sendo feitas as aplicações, oferecendo mais precisão, e o MV Repositioning faz a correção automática da radiação se houver mo-vimentação do paciente. Para comple-tar, a radiocirurgia estereotáxica com microlâminas e cones trata lesões cra-nianas e extracranianas, concentrando a dose em áreas muito reduzidas, ou seja, lesões a partir de quatro milíme-tros de diâmetro.

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Tecnologias em prol da saúdeFotoS: diVUlGação

equipamento de hemodinâmica proporciona mais precisão nos procedimentos

O MELHOR NA áREA CARDIOVASCULAR

Uma das áreas que mais se de-senvolveu nos últimos anos é a da tecnologia do uso de imagem asso-ciada ao cateter, tubo flexível inserido em uma artéria para identificar e tratar os problemas simultaneamente e de forma menos agressiva. É o que ocorre no Centro de Diagnóstico e Tratamento Intervencionista do HSL, o CDTI, que passará a contar em bre-ve com um equipamento de ponta. O Artis Zee, da Siemens, recentemente adquirido, permite realizar procedi-mentos cardiovasculares minima-mente invasivos com maior definição de imagem.

Além disso, possibilita reconstruir estruturas do coração e da circulação de maneira tridimensional, proporcio-nando ao médico mais precisão para realizar o diagnóstico. “A maior capa-cidade de processamento de imagem

tem um impacto significativo para os pacientes, trazendo mais eficácia e segurança aos procedimentos”, ex-plica o cardiologista Paulo Caramori, chefe do CDTI.

O investimento e aprimoramento da aparelhagem e dos profissionais da Instituição refletem-se no atendi-mento. Por ser vo l tado, pr in-c ipalmente, a pessoas com problemas car-díacos, o Artis Zee beneficiará um grande vo-lume de pacientes. Nos últimos anos, a Instituição assumiu papel de des-taque nessa área, estando entre os hospitais do Estado que mais fazem intervenções cardiovasculares, com o Instituto de Cardiologia, de Porto Ale-

gre, e o Hospital São Vicente de Pau-lo, de Passo Fundo. Em 2012, foram realizados cerca de 4 mil cateterismos cardíacos e 1,2 mil angioplastias co-ronarianas no HSL.

As inovações, aliadas a um grupo de profissionais capacitados, trazem mais qualidade para esse grande

número de pro-cedimentos. “É importante que três pilares se-jam solidamente estabelecidos: investimento em tecnologia; em

treinamento de pessoal; e na logísti-ca de fazer o sistema funcionar com excelência. É necessário gerar um sistema de saúde de qualidade que atraia os pacientes por sua eficiência e segurança”, completa Caramori.

Comparação entre a imagem gerada pelo novo equipamento (acima) e a atual

Doenças como infarto e angina, que têm apresentado

grande crescimento entre a população, terão um

tratamento mais refinado

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C a Pa

RECUPERAçãO MAIS RáPIDA DIAGNÓSTICO EM

EVOLUçãOO Serviço de Urologia adquiriu dois equipamentos com tecnologia a laser para o tratamento mais eficiente e rápido dos pacientes. Ambos são da marca American Medical System (AMS) e estão disponíveis para clien-tes particulares e de alguns convê-nios. O Green Light HPS é utilizado em casos de volume aumentado da próstata. A vantagem desse trata-mento em relação ao outro méto-do utilizado, ou seja, a ressecção endoscópica elétrica, é a redução do tempo de internação, que cai de três dias para apenas 24 horas, dos riscos de sangramento, de in-toxicação hídrica e de desequilíbrio hidroeletrolítico. O fato de poder ser aplicado em pacientes que utilizam medicação, como anticoagulantes, é outro benefício, além de proporcionar mais segurança.

No início de 2013, chegou ao HSL um equipamento de ultrassom cardíaco capaz de fornecer imagens em três di-mensões (3D) em tempo real. O Philips IE 33 fornece ainda cortes em 2D, muito precisos e com alta resolução, e realiza o exame transesofágico tridi-mensional, que gera imagens semelhantes às obtidas pela visão do cirurgião durante o ato operatório para correção de doenças nas válvulas car-díacas.

O exame, que também é conhecido como ecocardio-grafia, consiste em avaliar a integridade das válvulas, sua capacidade de bombeamento e esvaziamento, as artérias e veias conectadas através dos ecos refletidos pelo coração. Inicialmente, as imagens obti-das eram em uma dimensão e, posteriormente, passaram para duas (2D), aumentando em muito a qualidade do exa-me e a quantidade de informa-ções geradas.

Por se tratar de uma nova tecnologia, há amplo terreno que pode ser explorado e os profissionais do HSL esperam fazer parte dessas desco-bertas. “O equipamento trará grandes avanços no diagnós-tico das doenças cardiovascu-lares, beneficiando em muito nossa população. É uma tec-nologia em desenvolvimento, por isso esperamos que a PUCRS, como um centro universitário e de excelência, ajude a desenvolvê-la por meio da pesquisa”, ressalta o cardiologista Flavio Velho, chefe do Laboratório Cardio-pulmonar.

O Stone Light é empregado no trata-mento de cálculo urinário e outras pato-logias urinárias, estreitamentos de uretra e ureter e divertículos de cálices renais. Segundo o urologista Jorge Noronha, chefe do Serviço de Litotripsia e Urologia, o equipamento traz diversas vantagens. “Como é pequeno, facilita o acesso e a fragmentação dos cálculos em qualquer altura do organismo, já que possuímos aparelhos de visualização por dentro do trato urinário”, afirma.

Para extrair o máximo das novidades, o Serviço precisou se ajustar. Mudanças estruturais e capacitações foram feitas para atender às necessidades. “O HSL adequou-se em alguns critérios de exi-gência técnica e a AMS responsabilizou-se pelo treinamento do pessoal. Além disso, temos acompanhamento do técni-co da empresa em cada procedimento”, explica Noronha.

Chefe da Urologia, Jorge noronha (ao centro), acompanha procedimento com o Green light HPS

Foto: GilSon oliVeira

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MAIS AGILIDADE PARA ATENDER

O aumento da efici-ência e da velocidade na realização de proce-dimentos médicos tem um impacto direto no dia a dia da população, que ganha agi l idade no atendimento. Um exemplo disso pode ser visto no Serviço de Ressonância Magnética do HSL. Está em fase final de instalação um aparelho que permitirá ampliar em até 40% a capacidade de atender pacientes.

Essa melhora ocor-re porque o Opt ima MR450w 1.5T, da GE, possui um sistema que diminui o tempo de uti-lização do equipamen-to e aumenta a preci-são da imagem obtida. Características únicas, como a transmissão digital das imagens com melhor qual idade de sinal e o exame de di-versas partes do cor-po simultaneamente, também são essenciais para alcançar esse alto nível de eficiência. A união dessas funções possibilita agendar mais de um procedimento por paciente para o mesmo horário, evitan-do novo deslocamento até o hospital.

Além de aumentar a produtividade e a qua-lidade do serviço pres-tado, o aparelho é um dos mais modernos dis-poníveis mundialmente, sendo o primeiro dessa geração a ser instala-do na América Latina. O seu design permite realizar exames em pa-

cientes obesos e diminui a sensação de claustrofobia e de desconforto. As novas bobinas flexíveis, que se ajustam à anato-mia do usuário, o menor nível de ruído e a maior velocidade também colaboram para aumentar a comodidade. Outra vantagem é a realização de angiografias com ou sem o uso do contraste.

“Visando sempre à humanização do atendimento ao usuário, a nova aquisição oferece maior conforto e precisão e am-plia o acesso da comu-nidade a tecnologias de ponta, mantendo o objetivo na educação de novos médicos e radiologistas e fo-cando no futuro, fo-mentando o desen-volvimento de novas possibilidades tera-pêuticas e de diag-nóstico”, enfatiza o radiologista João Rubião Hoefel Filho, chefe do Serviço de Ressonância Magné-tica e Tomografia.

A ressonância mag-nética é um aparelho es-sencial para os hospitais atualmente. Ela é indica-da para o reconhecimento de múltiplas doenças e pode ser usada em todo o corpo. Por isso, diver-sas áreas da Instituição serão beneficiadas. Algumas das es-pecialidades que sent i rão esse impacto são neu ro log i a , por permit ir a va l i ações mais preci-sas de pa-tologias como acidente vascular cerebral (AVC) e neoplasias; cardio-logia, com desta-

Foto: diVUlGação

Conforto e precisão de imagem são características da nova ressonância

que para o diagnóstico de is-quemia, viabilidade miocárdica e avaliação exata da função miocár-dica; cirurgia vascular, por meio de estudos angiográficos, dotados de alta resolução espacial; oncologia e ortopedia.

Tecnologia

E S T U D O É R E A L I Z A D O P A R A E V I T A R I N C I D ê N C I A D E D O E N ç A E M P A C I E N T E S S U B M E T I D O S A C A T E T E R I S M O

Pesquisa inédita no Brasil é rea-lizada no Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) para evitar a

Nefropatia Induzida por Contrastes (NIC), uma complicação que pode ocorrer em quem realiza o cateterismo cardíaco, exame que diagnostica a presença de obstruções nas artérias do coração. Ela é provocada pelo contraste utilizado para a realização do procedimento e pode causar com-prometimento da função renal do pa-ciente. Desde 2002, o Hospital está ativamente envolvido na avaliação de novos tratamentos para reduzir o risco da NIC, com diversos trabalhos nessa área publicados na literatura nacional e internacional.

Atualmente, a principal medida re-comendada para prevenir a doença é a adequada hidratação de quem realiza o cateterismo, buscando eliminar rapidamente o contraste do organismo. No projeto desenvolvido na Instituição, utiliza-se o dispositivo RenalGuard para fazer o balanço exato e em tempo real entre o volu-me de entrada do soro responsável por essa hidratação e a saída de diurese (fluxo urinário), deixando o processo mais preciso e eficaz. Com isso, evitam-se efeitos adversos, como a hiper-hidratação, que pode levar o paciente a apresentar edema agudo de pulmão; ou que a pessoa receba menos volume de soro que o necessário.

Liderada pelo cardiologista Vitor Gomes, integrante da equipe do Centro de Diagnóstico e Tratamen-

preventivaFoto: GilSon oliVeira

P e S q U i S a

10

to Intervencionista (CDTI) do HSL, chefiado pelo cardiologista Paulo Caramori, a pesquisa já teve início e a expectativa é apresentar os resul-tados em aproximadamente um ano. O projeto incluirá um total de 180 pacientes do CDTI com maior risco de desenvolver nefropatia por con-traste. Trabalho similar foi realizado na Itália e teve resultados promissores. No entanto, é a primeira vez que um estudo com esse novo dispositivo é feito no Brasil.

A NIC ocorre em aproximadamente 3% dos pacientes que realizam cate-terismo cardíaco. Gomes explica que

aparelho é utilizado para prevenir a nefropatia induzida por contraste

esse número pode subir para 15% caso a pessoa apresente algum tipo de fator de risco prévio, como dia-betes ou doença renal pré-existente. Apesar de ser transitória na maioria das vezes, a nefropatia pode causar dano renal que, em alguns casos, torna-se crônico. Além disso, estudos demonstraram que sua ocorrência está associada a um risco aproxi-madamente três vezes maior de o paciente apresentar outras doenças cardiovasculares no futuro. Por isso, a preocupação com a sua prevenção é algo tão importante e discutido entre os especialistas na área.

Alegria para as

P R O J E T O D A P E D I A T R I A O F E R E C E B R I N C A D E I R A S E L I T E R A T U R A A O S P A C I E N T E S

Ninguém gosta de ficar doente e de ser internado no hospital, especialmente as crianças.

Para tentar diminuir o trauma e melho-rar o astral delas, o Serviço de Pedia-tria do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) realiza atividades pedagógicas, lúdicas e artísticas. O trabalho envol-ve pintura, brincadeiras, jogos, leitura e encenação de histórias. “Os resulta-dos positivos são constatados diaria-mente”, enfatiza Paulo Pitrez, médico da Pediatria.

Coordenada, desde 1999, pela pedagoga Juliana Pierdona, a Tia Ju, a recreação socializa e diverte.

Localizada no 5º andar, funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h e das 14h às 17h. A pedagoga conta que, apesar de ter um cronograma de atividades, os pequenos têm a voz de comando. “Este é um espaço deles. Na maior parte das vezes, o hospital é um local onde não podem dizer não para nada, mas aqui eles têm o direito de escolher o que querem fazer”, destaca.

Desde 2007, Tatiane Oteiro de Oliveira frequenta a Pediatria com sua filha. Para ela, as atividades são essenciais para a melhora da saúde e do astral da pequena. “Ela fica muito

abatida nos dias em que não há re-creação, pois é uma alegria que exis-te aqui dentro. O trabalho realizado tem uma participação na recuperação dela”, ressalta.

As ações de humanização são constantes e envolvem todos os setores. Médicos, enfermeiros, fisio-terapeutas e psicólogos valorizam e apoiam as iniciativas. “A importância dada pelos profissionais ao trabalho de humanização e como ele é integra-do ao tratamento são aspectos essen-ciais para a boa evolução das crianças durante a hospitalização”, destaca Matias Epifanio, médico da Pediatria.

crianças

Semanalmente, o projeto Literatura infantil e medicina pediátrica: uma aproxi-mação de integração humana traz alunos bolsistas de iniciação científica, gradu-andos em Letras e voluntários, para narrar histórias. Criada em 1997, a iniciativa é uma parceria entre a Faculdade de Letras (Fale) e o Serviço de Pediatria, que inclui a organização da Biblioteca Infantojuvenil da Internação Pediátrica, com 2.800 títu-los, e a promoção da Feira do Livro Infantil, realizada desde 2004 no HSL.

Além das crianças, os familiares são convidados a participar das atividades para conscientizá-los sobre a importância da literatura no mundo infantil. Fernanda Garcia conta que o hábito adquirido pelo filho durante a internação é mantido até hoje. “Quando ele estava internado, a biblioteca foi muito importante. A leitura es-timulava a imaginação dele e o tirava do ambiente difícil”, ressalta.

Em novembro de 2012, foi anunciado o projeto para elaborar e lançar o livro científico No mundo hospitalar, história também tem lugar, em comemoração aos 15 anos da iniciativa da Fale. A ideia é trazer relatos, com metodologia para organizar uma biblioteca e fazer contação de histórias em ambientes hospita-lares, e relacionar o projeto com outras áreas, como Medicina, Fisioterapia e Nutrição. A obra deve ser lançada em 2013 e será organizada pela criadora do projeto e Pró-Reitora Acadêmica (Proacad), Solange Ketzer; pela diretora de Pós-Graduação da Proacad, Maria Eunice Moreira, e pelo professor Celso Sisto.

tia Ju, entre duas crianças, acompanha sessão de autógrafos da Feira do livro infantil 2012

Foto: BrUno todeSCHini

HORA DO CONTO

H U m a n i z a ç ã o

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Realmente, é inegável o efeito que Patch tem sobre qualquer lugar. Sua chegada promove alegria generalizada. A visita às unidades de internação do HSL foi uma prova disso. Apenas a sua entrada nos quartos da Pediatria e do 6º andar foi suficiente para proporcionar alegria e conforto aos pacientes. Sempre acompanhado pelos Doutorzinhos – voluntários que realizam um trabalho inspirado nele dentro do Hospital –, brincou, cantou Elvis Presley, divertiu-se com

funcionários, tirando fotos com mé-dicos e a equipe de Enfermagem, e ensinou a tecnologia do “Dr. Fart”, equipamento capaz de imitar o pum da vovó. Tudo isso em apenas dois dias na cidade. Essa conexão ins-tantânea, segundo ele, não requer

nenhuma técnica avançada. É possível por meio do cui-dado e da atenção ao próximo. Por isso, o paciente ideal é aquele que procura não apenas um médico, mas uma amizade pessoal com ele. “Nada do que faço precisa de estudo. É muito fácil”, afirma.

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e S P e C i a l

P A T C H A D A M S M O S T R A Q U E O C A R I N H O E A D I V E R S ã O P O D E M A J U D A R O S A V A N ç O S D A M E D I C I N A N A B U S C A P E L A S A ú D E

Remédios, soro, macas. Nariz de palhaço, peixe de brinquedo e dentadura de borracha. Acredite: todos esses equipamentos são essenciais para um bom

atendimento em qualquer hospital do mundo. É isso que defende o norte-americano Patch Adams. O médico, que visitou o Hospital São Lucas da PUCRS nos dias 12 e 13 de dezembro, acredita que o bom cuidado não abrange apenas técnicas avançadas, mas engloba o carinho, o afeto e a atenção no trato diário. Alto, com longos cabelos brancos e azuis, e utilizando sempre roupas coloridas e estampadas, é impossível ignorar a presença avassaladora desse convi-dado especial. O médico está o tempo todo pronto para o trabalho, ou seja, para realizar palhaçadas e conectar-se com as pessoas ao seu redor. Segundo ele, isso melhora qualquer ambiente e ajuda a passar uma mensagem de amor. “Se eu estiver vestido de clown, consigo abraçar 99% das pessoas que estão em volta de mim. Isso não é incrível?”, questiona.

Humor e amizade

“Não existe nada que prove que ser sério é bom para a

saúde, mas muitas pesquisas mostram o que a alegria faz”

na luta pela cura

P O R J E N I F F E R C A E T A N O

Os efeitos do carinho e da alegria nos pacientes que ele visita são perceptíveis. Os sorrisos e o ânimo renovado comprovam que a tese de Patch tem resultados concretos. “Todos podem ter uma experiência ruim com o amor, por exemplo, mas não com o humor. Não existe nada que prove que ser sério é bom para a saúde, mas muitas pesquisas mostram o que a alegria faz. Então, mesmo que você odeie risadas, como pode odiar exercícios, faça pelo seu bem”, explica.

Essa energia esteve presente nos workshops do norte-americano em Porto Alegre, realizados no HSL e na PUCRS. As iniciativas trouxeram aos presentes muitas risadas e diversão, mas tam-bém conhecimento e inspiração que serão apli-cados no dia a dia do HSL. “Patch Adams dedica

sua vida a divulgar e incentivar a humanização na saúde, ressaltando a importância do afeto no tratamento dos pacientes. Essas características estão presentes nos valores maristas, que norteiam as ações em nossa Instituição. Sua passagem por aqui foi intensa e de muito brilho. Ele va-lorizou muito o trabalho realizado pela nossa equipe assistencial e pelos voluntários”, enfatiza o cirurgião Salvador Gullo Neto, assessor da Dire-ção Técnica e Clínica, que acompanhou o visitante durante os dois dias.

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“O amor pode ser ensinado e você pode ser ótimo nele”

REVOLUçãO DO AMOR

Todas as viagens – Patch passa 300 dias por ano longe de casa palestrando – e todos os projetos desenvolvidos têm como objetivo conscientizar mais e mais pessoas e ten-tar mostrar que é essencial mudarmos a forma de encarar o mundo. Segundo ele, “não estamos preocupados apenas com rios sujos ou crianças morrendo de fome, mas com toda a humanidade. Nada me faz acreditar que sobrevive-remos a este século. Para mudar esse sistema, precisamos de compaixão e generosidade. Nenhuma escola ensina nada sobre amor em seus 13 anos letivos”.

A importância do amor é uma das grandes ban-deiras do norte--americano e a palestra Qual é a sua estratégia de amor? é uma das mais conhecidas. “Temos estraté-g ias para tudo na vida, mas não temos para uma das coisas mais importantes. Para mim, as forças do poder e do dinheiro querem que você ache que amor é um

Por onde passa, Patch adams interage com os pacientes

abraço coletivo promovido durante palestra no Hospital

sentimento, ao invés de algo inteligente. O amor pode ser ensinado e você pode ser ótimo nele”, avalia.

No entanto, mesmo crítico ao sistema de saúde, econômico e político da sociedade, ainda luta e acredita que existe esperança. “Não acho que seja tarde demais. Você pode ser essa revolução de amor. Pode decidir hoje ser legal com todo o mundo para o resto da sua vida e também pode monitorar você mesmo. Seja uma pes-soa expansiva e radiante e isso funcionará como ter um

f i lhote em uma sala. Automati-camente, todos f icam mais do-ces. Isso tem um impacto no am-biente da mes-ma fo rma que os seus o lhos brilhando, o seu sorriso ou a sua alegria. Para mim, amar é a coisa mais importante da vida. Nessa tarde, recebi todo o tipo de amor. Se i que é po r isso que estou tão energizado”, declarou duran-te a palestra no HSL.

FotoS: BrUno todeSCHini

Nos dois dias em que visitou o Hos-pital São Lucas da PUCRS, em 12 e 13 de dezembro, o médico nor-

te-americano Patch Adams conheceu o trabalho de humanização desenvolvido e transmitiu sua mensagem de amor e soli-dariedade. A vinda a Porto Alegre foi fru-to do convite feito pelo voluntário do HSL Mauricio Perondi Bagarollo, o “Dr. Zinho”. Ele inspirou-se no médico para criar a organização não governamental Doutorzinhos, com atuação em hospitais, entre eles o São Lucas, onde as ações estão inseridas no Projeto Alegria, do Voluntariado.

No primeiro dia, Patch visitou a Pediatria e realizou a pa-lestra Humor e Saúde aos funcionários, abordando sua his-tória na medicina e a importância do bom humor para uma vida saudável. O segundo dia começou com um encontro com voluntários do Hospital e de instituições convidadas,

proporcionando a troca de experiências, e o plantio de uma árvore no jardim em frente à entrada do 2º andar, marcando sua passagem pela Instituição. Visitou ainda o 6º andar, onde levou conforto e carinho a internados.

À tarde, ministrou a palestra Vivendo uma vida de alegria para cerca de 500 pessoas no teatro do prédio 40 da PUCRS. Além

de interagir com a plateia, respondeu a perguntas e ouviu histórias. Para encerrar a viagem, ganhou uma festa de confraternização organizada pelos voluntários do HSL. “Em 1998, iniciei um projeto para a realização de um sonho inspirado no Patch Adams e, há seis anos, nasceu o Dr. Zinho, ‘médico-palhaço’. A vinda dele serviu para mostrar a todos que sonhos podem virar realidade. Realidade que as pessoas podem acreditar. Acreditar que a amizade, sim, é o melhor remédio”, declara Bagarollo.

M É D I C O P A T C H A D A M S

D I S S E M I N A S U A S I D E I A S S O B R E

S O L I D A R I E D A D E N O H S L

marcantePresença

Plantio de árvore deixou registrada visita

QUEM É PATCH ADAMS?

O norte-americano Patch Adams, 67 anos, nasceu durante a Segunda Guerra Mundial. Filho de militar, viveu os primeiros anos fora do País. Após a morte do pai, retornou aos Estados Unidos e ingressou em uma escola onde era proibida a entrada de alunos negros. Ao deparar-se com a injustiça, sentiu-se decepcionado e entrou em depressão. Tentou três vezes o suicídio e foi internado em uma clínica, na qual percebeu que seu papel no mundo podia ser muito maior. “Disse para mim mesmo: não se mate, seja um revolucionário! Então, decidi servir a socie-dade como médico, ajudando as pessoas de graça, e pensei em como poderia ser um instrumento de mudança”, explica.

Cursou a Faculdade de Medicina e abriu uma clínica de atendimento gratuito junto com colegas. Para aumentar a visibilidade da causa, aceitou contar a história da sua vida no filme Patch Adams, o amor é contagioso, estrelado pelo ator Robin Williams, que o ajudou a tornar o trabalho conhecido e possibilitou que viajasse ao redor do mundo realizando palestras. Com o dinheiro arrecadado nas visitas, pretende con-cretizar um dos grandes projetos de vida: construir

um hospital, na cidade de West Virginia, onde os pacientes tenham o melhor que a me-dicina pode oferecer, gratuitamente, e com tratamento atencioso e humanizado. Junto à estrutura, seria construído um centro educacional. “Va-mos ensinar, além de medicina, outros assuntos, como culinária e poesia. Será um lugar em que os nossos interesses poderão ser alimentados”, ressalta.

Foto: BrUno todeSCHini

e S P e C i a l

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“dr. zinho” em ação no HSl

Voluntárias do aBa com chefe da Uti neonatal, renato machado Fiori

Foto: GilSon oliVeira

Foto: JeniFFer Caetano

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V o l U n ta r i a d o

Eles fazem a

M A I S D E C E M V O L U N T á R I O S D E D I C A M S E U T E M P O L I V R E P A R A A T U A R N O H O S P I T A L

Receber um abraço, apren-der algo novo, dar uma boa gargalhada ou ape-

nas conversar pode transformar um momento difícil. Trazer esse conforto é o objetivo do Núcleo de Voluntariado do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL). São essas pessoas, que doam seu tempo livre, as responsáveis por mudar o humor de pacientes e funcionários diariamente. O gru-po tem aproximadamente cem participantes, distribuídos em 15 projetos. Os integrantes são ca-dastrados na Associação do Volun-tariado e da Solidariedade (Avesol) e passam por treinamentos antes de iniciarem a caminhada na Instituição.

Com atuação em todas as uni-dades do Hospital, atingiram cerca de 500 mil pessoas em 2012. “Eles são de suma importância no pro-cesso de acolhida, aconchego e, até mesmo, distração durante o pe-

diferença

ríodo em que os clientes se encon-tram no Hospital. Frequentemente, recebemos retornos positivos e relatos da importância do trabalho desenvolvido”, destaca Raquel Martins, coordenadora da Gerência de Relacionamento do HSL e responsável pelo voluntariado na Instituição.

As ações incluem o recolhimento de doações e o fornecimento de refeições, passagens, enxovais, próteses, perucas e outros artigos para os mais carentes. Em 2012, foram distribuídos 184 mil itens. Tanto empenho já é reconhecido exter-namente, seja por meio de prêmios, seja como referência a outras organizações (nas quais os voluntários realizam palestras e capacitações) como a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e os colégios maristas Rosário e Champagnat.

EXEMPLOSO grupo de apoio Amigos dos

Bebês Apressados (ABA) recebeu o prêmio Top Cidadania, concedido pela Associação Brasileira de Re-cursos Humanos no Rio Grande do Sul, por sua atuação junto à Unida-de de Terapia Intensiva Neonatal do HSL. Desde 2005, o ABA oferece acolhimento, orientação e donativos às famílias carentes dos recém-nascidos internados, ajudando a fortalecer o vínculo e o afeto entre a mãe, o pai e o bebê.

O fundador da ONG Doutorzi-nhos, Maurício Bagarollo, o “Dr. Zinho”, foi reconhecido com o Troféu Solidariedade 2012, homenagem concedida pela Câmara Municipal de Porto Alegre, por meio do gabine-te do vereador Luiz Braz. Os home-nageados são escolhidos por reali-zarem atividades de benemerência. Os voluntários da ONG vestem-se de palhaços para levar alegria e cari-nho aos hospitais, entre eles o HSL.

A coordenadora do núcleo de voluntários, Iára Claudio, usa uma citação do livro Teresa de Calcutá: A força eterna do amor para exemplifi-car o que move o grupo. “‘Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota’. Essa frase repre-senta a importância que atribuímos ao nosso trabalho. A missão é bem maior do que nós, mas é preciso fazer a nossa parte e de forma com-partilhada”, diz.

Voluntariado HSL

• Av. Ipiranga, 6.690, 2º andar, sala 226• (51) 3320-5070

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Marcas do

passadoe n t r e V i S ta – m á r i o J U r U e n a

P O R A N G E L A V E N C A T O

O impacto do adoecer no desenvol-vimento infantil e as repercussões na vida adulta nortearam a edição

de 2012 do evento Temas de Psiquiatria, promovido pelo Centro de Estudos de Psiquiatria Integrada (Cenespi). A atividade celebrou os 20 anos da psiquiatria infantil no Hospital São Lucas da PUCRS e con-tou com a participação de profissionais de outras instituições, como os professo-res Mário Juruena, da Universidade de São Paulo (USP); Lu-crécia Maria Scherer Zavaschi e Cláudio Osório, da Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul; e o psicanalista e escritor Celso Gutfreind, da Sociedade Brasilei-ra de Psicanálise de Porto Alegre.

O tópico Estresse na infância e na ado-lescência: depressão e transtorno de personalidade na vida adulta foi apresentado por Juruena, que concedeu entrevista à PUCRS Saúde. Formado na PUCRS e PhD em Psiquiatria pela Universidade de Londres, coordena o Programa de Assistência, Ensino e Pes-quisa em Estresse e Doenças Afetivas do Hospital das Clínicas da USP, em Ribeirão Preto, leciona na Faculdade de Medicina

da mesma instituição e é professor honorário no Instituto de Psi-quiatria do King’s College London. A seguir, fala sobre a importância de atentar para situações traumáticas na vida precoce a fim de evitar doenças no futuro.

QUAIS SãO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAúDE MENTAL E QUAL A INFLUêNCIA DA INFâNCIA E DA ADOLESCêNCIA NA OCORRêNCIA DELES?

As doenças mentais mais frequentes e incapacitantes são trans-tornos depressivos, de ansiedade, bipolares e de personalidade e,

quando chegam para o profissional de saúde mental, na idade adulta, há limitações para recuperar essas pessoas. O estresse precoce, na infância e na adolescência, são situações como maus-tratos ou quando os pais ou o cuidador abusam física, sexual ou emocional-mente. Abusar emocionalmente é, por exem-plo, depreciar uma criança, dizer que é pior que os seus irmãos, que tem limitações. Isso traz consequências que podem gerar quadros de depressão, desesperança e, até mesmo, de ideação suicida na vida adulta. Traz também consequências para doenças físicas, pois terão mais risco de ter doença cardíaca e de morrer disso. Mas isso não ocorre com todos. Há pes-soas que sofrem situações muito traumáticas e

chegam à fase adulta sem nada. Não são vulneráveis e acabam sendo resistentes, resilientes, os chamados “casca grossa”.

O QUE LEVA A ESSA DIFERENçA ENTRE AS PESSOAS?Questões são levantadas ligadas à genética. Uma pessoa terá

maior risco de desenvolver a dependência ao álcool porque herdou geneticamente dos pais, dos avós. No entanto, se não estiver ex-posta à bebida, mesmo herdando a tendência, não vai desenvol-ver. E outras (pessoas) têm fatores protetores. Se não têm ninguém

“A nossa vida é como um filme: tem início, meio e fim. Coisas que aconteceram muito no início, quando o cérebro ainda está em formação, repercutem nas fases posteriores de desenvolvimento”

P S I Q U I A T R A F A L A S O B R E C O M O O E S T R E S S E N A I N F â N C I A E A D O L E S C ê N C I A P O D E R E P E R C U T I R N A V I D A A D U LT A

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mário Juruena

tipo de situação. Na unidade do Hospital das Clínicas que coordeno, buscamos mapear famílias com maior risco. Se um pai sofreu, quando era criança, abusos e maus-tratos, tende a repetir nos filhos, que vão repetir nos filhos deles. Existem ciclos transgeracionais. Se conseguirmos ver as famílias, trata-se não o paciente que foi trazido, mas o filho dele, que está com 18 anos, também abusando de álcool e drogas, sem trabalho e comportamento antissocial. Esse tipo de situação pode ser prevenido se for abordado na adolescência. É mui-to melhor que na idade adulta. Se puder detectar isso numa criança, o prognóstico, não só da família, mas da sociedade toda, será melhor.

QUAL O PAPEL DA ESCOLA E DOS PROFESSORES NA IDENTIFICAçãO DO AMBIENTE DE ESTRESSE?

A primeira pessoa a detectar é a professora na sala de aula. A escola terá papel de diagnóstico. Temos trabalhado de forma integrada com serviços, institui-ções, escolas e universidades. Em geral, os pais não detectam isso, pois adoecem junto. Para esses tipos de patologias, ensinamos a pacientes, familiares e co-munidade em geral o que é esse tipo de quadro, como progride e como podemos prevenir. O primeiro sintoma na infância e na adolescência é a quebra de rendimen-to, maior dificuldade de aprendizado, de progressão. Eles trazem o conflito para o relacionamento interpes-soal nas escolas. Na fase da adolescência, envolvem-se com brigas, uso de álcool e drogas, comportamen-tos ilegais; têm uma postura mais violenta ou, às vezes, podem desenvolver comportamentos introspectivos. Chamam-se os pais e começa-se a ver que existe uma disfunção familiar que está tendo reflexo. A criança é um sinal de que alguma coisa errada está acontecen-do. Em casos de abusos físicos, aparecem marcas, fraturas, e isso requer uma intervenção precoce.

QUAL O AMBIENTE ADEQUADO PARA OFERECER UM BOM DESENVOLVIMENTO PARA A CRIANçA?

É o ambiente onde há harmonia, carinho, compreen-são, no qual os pais ou o cuidador, ao invés de depreciar a criança, dão apoio emocional e estímulo para desenvolver-se, são receptivos. Na sociedade atual, os pais saem de manhã cedo, voltam à noite e a criança é cuidada por terceiros. Esse tipo de situação leva a uma privação do apoio emocional. Mesmo que não maltratem, se, quando estão em casa priorizam a televisão ou o computador, isso se reflete na falta de atenção e fará falta no processo de desenvolvimento. Mesmo dedicando-se ao trabalho e ao estudo, se puder, no momento disponível, oferecer a presença de qualidade, com atenção, diálogo, sem dúvida modifi-cará a tendência. Isso traz saúde mental. Prevenir que a doença mental se desenvolva, estimulando a saúde mental, é o nosso objetivo.

na família que se deprimiu, mesmo vivendo situações muito estressantes ao longo da vida, não desenvol-vem a depressão. São fatores ligados às vivências traumáticas, a situações ambientais adversas, a even-tos de vida adversos na infância e na adolescência, que predispõem a esses quadros na idade adulta. É uma equação mapeada por vulnerabilidades biológi-cas, psicológicas e sociais. O estresse precoce, os maus-tratos e a depressão são fatores independentes de doença cardíaca, colesterol, diabete, mas se es-tiver deprimido, tem um risco grande de desenvolver uma doença na idade adulta. Além disso, se a pessoa teve situações traumáticas em sua vida precoce, desenvolverá uma gravidade maior de depressão, de transtornos afetivos bipolares e de transtornos de personalidade, além de ter mais resistência ao trata-mento, de não responder facilmente à psicoterapia e a medicamentos. Estudos nossos mostram que essas pessoas terão muito mais tentativas de suicídio. Isso traz consequências em saúde pública, que impactam na previdência e aposentadoria.

O QUE É FEITO PARA ATENDER A ESSAS CRIANçAS E ADOLESCENTES QUE SOFREM ESTRESSE?

Na USP temos um programa de avaliação de crianças e adolescentes para poder prevenir esse

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mundo aforaR E S I D E N T E S F O R M A D O S E M C I R U R G I A T O R á C I C A A T U A M E M I M P O R T A N T E S I N S T I T U I ç õ E S D O E X T E R I O R

Destaquer e S i d ê n C i a

O programa de residência em Cirurgia Torácica do Hospital São Lucas da

PUCRS (HSL) tem-se desta-cado pela formação de profis-sionais que passaram a atuar em instituições de referência no exterior, como a Universida-de de Toronto, no Canadá. Lá estão Marcelo Cypel, Mauricio Pipkin e Pedro Reck dos Santos e é para onde deve ir Giancarlo Murari Munaretto, que está em tratativas para atuar como pes-quisador. Também está fora do País Maria Teresa Ruiz Tsuka-zan, fellow em cirurgia torácica no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York (Estados Unidos), referência mundial no tratamento de cân-cer.

No depoimento dos ex-alu-nos, chama a atenção o estímu-lo que receberam do chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do HSL, José Antônio Figueiredo Pinto, para continuar a formação em instituições estrangeiras. “O incentivo do meu mentor, Dr. Figueiredo Pinto, foi fundamen-tal. Ele sempre apoiou o cres-cimento do conhecimento dos seus residentes”, destaca Maria Teresa. O professor diz que se espelha na própria experiência de especialização nos Estados Unidos para estimular os alunos e intermediar o intercâmbio.

Entre os diferenciais da re-sidência em Cirurgia Torácica, criada em 1983, está a dedica-

ção em tempo integral do chefe do Serviço e dos membros da equipe – o cirurgião Jayme Rios e o anestesista Jayme Heck. Santos acrescenta como pon-tos fortes a exposição às mais diversas situações clínicas, a integração com a anestesia, as discussões com outras es-pecialidades e o aprendizado ético. Para Pipkin, a residência trouxe-lhe a capacitação profis-sional para trabalhar em hospi-tais de Porto Alegre e conseguir a especialização no exterior.

Para os que buscam aper-feiçoamento na Universidade de Toronto, Cypel tem sido uma referência, por atuar na instituição desde 2005. Em fevereiro de 2013, a convite do Ministério da Saúde do Brasil, auxiliou na aplicação da técnica de ventilação extracorpórea nos sobreviventes do incêndio na boate Kiss, de Santa Maria (RS), que vitimou 241 jovens e deixou mais de cem feridos. Sobre a experiência, diz que ficou contente ao perceber o excelente cuidado que os inter-nados estavam recebendo nas unidades gaúchas. Em relação à formação obtida no HSL, destaca: “Ele (Figueiredo Pinto) conseguiu ensinar-me algo que talvez seja uma das maiores dificuldades no ensino médico: como avaliar um quadro clínico, pensar em todos os ângulos e tomar a melhor decisão para o paciente”.

QUEM SãO ELES

MARCELO CYPELDiretor do programa

de suporte pulmonar extracorpóreo da Uni-versidade de Toronto. Está no Canadá desde 2005 e planeja conti-nuar na instituição.

MARIA TERESA RUIZ TSUKAZANFellow em cirurgia

torácica no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York (EUA) desde dezembro de 2012. Espera retor-nar ao HSL.

MAURICIO PIPKINClinical fellow na Uni-

versidade de Toronto desde julho de 2011. Deseja retornar ao HSL após terminar a forma-ção, em 2014.

PEDRO RECK DOS SANTOS Research fellow no

Latner Thoracic Surgery Laboratories e aluno de mestrado do Institu-te of Medical Scien-ce da Universidade de Toronto desde maio de 2011. Fará clinical fellow e depois pretende retornar ao Brasil.

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residentes de Geriatria realizam atendimento

Foto: GilSon oliVeira

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O Programa de Residên-cia Multiprofissional e em área Profissional

da Saúde (Premus) chega à 6ª edição com novidades. A partir de 2013, o número de vagas ofertadas passa de 12 para 23 e sobem de oito para nove os cursos abrangidos. A inserção da Física Médica torna o pro-grama o primeiro em instituição privada do País e o único da re-gião Sul nessa área, com bolsas financiadas pelo Ministério da Saúde. Para a coordenadora do Premus, Mara Regina Knorst, “o grande sucesso da residência multiprofissional oportunizou a ampliação do projeto, com novas vagas, e a maior integra-ção e ampliação das equipes multidisciplinares”. A iniciativa é coordenada pela Faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia (Faenfi) da PUCRS e desenvolvida em parceria com o Hospital São Lucas (HSL), no qual ocorre a prática clínica.

A diretora da Faenfi, Beatriz Sebben Ojeda, destaca a dedicação exclusi-va dos residentes nos 24 meses de duração do Premus. “São 60h sema-nais para especializarem-se e apro-fundarem o conhecimento atrelado à prática. É a educação em serviço”, diz. As vagas são divididas em oito subprogramas: Apoio Diagnóstico e Terapêutico; Saúde da Criança e do Adolescente; Saúde do Idoso; Ur-gência; Saúde Bucal; Radiodiagnós-tico; Radioterapia e Medicina Nuclear. A diretora da Faculdade de Física e chefe da Física Médica no HSL, Ana Maria Marques da Silva, explica que, para atender à ampliação do parque tecnológico, o Ministério da Saúde convidou, em 2012, instituições de

Reforço

ensino, como a PUCRS, a proporem residências nessa especialidade para ampliar o número de profissionais qualificados.

Os físicos médicos atuam nas á reas de diagnóstico e tratamento de pacientes, assegurando, por exem-plo, que a radiação empregada esteja de acordo com a prescrita pelo mé-dico, proporcionando qualidade, efi-cácia e segurança aos procedimen-tos. Para tanto, além da formação acadêmica, possuem treinamento clínico. Eles trabalham para que haja a correta utilização de equipamentos que usam radiação, como os de tomograf ia computa-dorizada, mamografia, radiografia, ressonância magnética e ultrassom, entre outros.

Além da Faenfi, o pro-grama, criado em 2006,

envolve as Faculdades de Educação Física e Ciências do Desporto, Far-mácia, Física, Odontologia, Psicologia e Serviço Social. “A implantação do Premus trouxe acréscimo expressivo e valioso ao universo da Residência em Saúde no Hospital São Lucas”, afirma o médico Marlow Kwitko, dire-tor acadêmico do HSL. Ele destaca que, a partir de 2013, a totalidade dos cursos da área da Saúde da PUCRS está presente no Hospital, tanto em nível de graduação como no das especializações, contribuindo significativamente para o cumprimen-to da missão institucional.

Informações

• Faenfi – Av. Ipiranga, 6.681, prédio 12, 8º andar• (51) 3320-3646• www.pucrs.br/educacaocontinuada

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i n t e G r a

I N I C I A T I V A A P R I M O R A R E L A ç ã O E N T R E H O S P I T A L E A C A D E M I A P A R A G E R A R B O M A T E N D I M E N T O E E N S I N O D E Q U A L I D A D E

A integração entre a assistência e o ensino faz parte da missão do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL). Transmitir e gerar conhecimen-

to, formar novos profissionais e, ao mesmo tempo, cuidar bem dos pacientes são valores que fazem parte da essência da Instituição. Mas, com tantas pessoas envolvidas no dia a dia de uma empresa tão grande, nem sempre essa relação é simples. Para melhorar esse processo, o HSL e a Pró-Reitoria Aca-dêmica (Proacad) instituíram o Programa de Integra-ção Ensino-Serviço, o Integra. Inaugurado na década de 1970, o HSL surgiu para atender à demanda da Faculdade de Medicina da PUCRS. Ao longo dos anos, outros cursos da área da saúde foram criados e passaram a usufruir da mesma estrutura. Hoje, a Instituição recebe aproximadamente 2 mil alunos, dis-tribuídos em cerca de 100 cursos, entre graduação, especialização e extensão.

Com esse aumento, o trabalho integrado tornou-se um desafio cada vez mais complexo. Por isso, criou-se, em 2011, o Integra, com o objetivo de avaliar e reorganizar o acolhimento dos estudantes e articular todos os envolvidos para que essa engrenagem seja eficiente. “Hoje temos muitos profissionais envolvidos e precisamos ter um suporte e um alinhamento entre todos para que funcione harmonicamente. Esse diá-logo faz com que se usufrua o melhor que o Hospital pode oferecer”, afirma Valéria Corbellini, coordenado-ra de Programas Especiais/Proacad.

Para colocar a iniciativa em prática e mantê-la em pleno desenvolvimento, formou-se uma equipe com profissionais do Hospital e das Faculdades da área de Ciências da Saúde. Os oito integradores do serviço (HSL) e os dez do ensino (PUCRS) representam cada uma das áreas profissionais e de ensino atuantes na Instituição e trabalham em conjunto para visualizar os problemas, propor soluções e aumentar a sintonia entre as áreas.

Assistência e aprendizado lado a lado

AçõESO Programa Integra é desenvolvido em dois módulos. O

primeiro contempla o acolhimento. Nessa etapa, estão inse-ridos os aspectos administrativos, como a formalização dos estágios no HSL, o cuidado com a legislação e a implantação de um sistema informatizado para solicitação e oferta de es-tágios; institucionais, com a recepção aos estudantes em seu primeiro ingresso no HSL; de serviços assistenciais, visando distribuí-los de forma harmônica nos meses, dias da semana, turnos, horários e andares mais adequados; e ainda de infra-estrutura.

No segundo módulo, o objetivo é a melhoria contínua da inserção dos alunos nos processos assistenciais do Hospital. A integração interdisciplinar e o desenvolvimento de compe-tências pedagógicas, capacitando os docentes e profissionais

Foto: GilSon oliVeira

Kwitko e Valéria apresentaram resultados e perspectivas do integra para 2013

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Assistência e aprendizado lado a lado

do HSL para refletir sobre o papel do educador na integração ensino-servi-ço, são as preocupações.

“Com o projeto implantado, espera-se alcançar maior eficiência, tanto no aprendizado quanto no atendimento aos pacientes. Para isso, como par-te do Integra, serão desenvolvidas ações em parceria entre Faculdades e Hospital. A elaboração de proto-colos assistenciais, que garantam a segurança e a qualidade dos pro-cessos de atendimento, a promoção de eventos científicos e pesquisas, a criação em conjunto do plano de atividades dos estudantes durante o período na Instituição, entre outros, são alguns exemplos”, destaca o médico Marlow Kwitko, diretor acadê-mico do HSL.

Em 2012, algumas dessas estra-tégias foram colocadas em prática. Durante o ano, ocorreram atividades de Acolhimento Institucional, com des-taque para o Round de Integração, e o Diagnóstico Situacional do 6º andar, no qual 246 docentes, alunos e pro-fissionais foram entrevistados e apon-taram os pontos positivos e os que precisam ser melhorados. Além disso, foram realizadas três oficinas pedagó-gicas com os integradores, com o ob-jetivo de melhorar a didática de ensino. Os resultados permitirão traçar novas metas e aperfeiçoar o projeto.

Para 2013, a expectativa é evoluir ainda mais. Entre as iniciativas previs-tas estão a implantação do projeto His-tórias para contar e viver, da Faculdade de Letras, e realizado no 6º pavimento

do HSL; a inserção do Curso de Ho-telaria no Integra; o ingresso de três subprogramas em Física Médica na Residência Multiprofissional e em área Profissional da Saúde (Premus); e a re-alização de oficinas de desenvolvimen-to pedagógico, envolvendo docentes e profissionais do 6º andar, com a par-ticipação da Coordenadoria de Ensino e Desenvolvimento Acadêmico (Ceda) da Proacad. “Para o Hospital, desde a sua criação, a presença do ensino tem aportado um valioso diferencial na qualidade da assistência prestada. Nesse sentido, o Integra não surgiu para instituir a integração e, sim, para favorecer a sua melhoria contínua, bem como para abrir portas a outros cursos da Universidade que aqui ainda não atuam”, enfatiza Kwitko.

Foto: BrUno todeSCHini

RoUNd DE INTEGRAçãO Receber os novos estudantes de forma acolhedora e or-

ganizada é um dos grandes objetivos do Integra. Por isso, o Round de Integração foi um dos primeiros eventos criados dentro do programa. A atividade busca apresentar aos alunos, que estão em fase de estágio ou prática profissional assistida de diferentes cursos, a Instituição e a importância do trabalho desenvolvido por eles dentro do HSL. Durante o encontro, co-nhecem a filosofia e a estrutura do local e ouvem as experiên-cias dos profissionais, que esclarecem as dúvidas dos jovens.

A iniciativa proporciona ao grupo a chance de saber um pouco mais sobre o dia a dia de quem já passou por essas ex-periências. A relevância do trabalho interdisciplinar, do contato com o paciente e do comprometimento, da responsabilidade e da postura adequada dentro do Hospital são alguns dos tópicos abordados. Além de falar sobre a rotina da Instituição, os funcionários destacam a importância da experiência para o futuro das suas carreiras.

que salva vidas P R O T O C O L O P A R A I D E N T I F I C A ç ã O D E S E P S E T E M O O B J E T I V O D E D I M I N U I R A M O R T A L I D A D E

Considerada a principal causa de morte nos pacientes inter-nados em Unidades de Tera-

pia Intensiva (UTIs), a sepse tornou-se uma das principais preocupações da medicina contemporânea. Atento ao problema, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) desenvolveu um protocolo institucional que possibilita acompanhar o atendimento ao pos-sível portador da doença. O projeto foi elaborado por uma equipe mul-tidisciplinar, formada pelo chefe da UTI Geral, o cardiologista Fernando Suparregui Dias; pelo assessor da Direção Técnica e Clínica, o cirurgião Salvador Gullo Neto; pela enfermeira gestora da UTI Geral, Kátia Stein; e

Agilidade

O PROTOCOLOVisando a aumentar a precisão e a velocidade

do diagnóstico, o HSL implantou, em junho de 2011, um protocolo para identificação e

tratamento da doença. O instrumento cria um padrão de conduta para que, no

momento em que o diagnóstico seja estabelecido, a ação seja instantâ-nea. “O protocolo tem como obje-tivo fazer com que a infecção seja

descoberta precocemente e, com isso, o tratamento comece mais rápido,

trazendo maior chance de cura. A velocidade é essencial para salvar a vida”, afirma Fernan-da, enfermeira do Escritório da Qualidade.

Ao chegar à Emergência, o paciente passa por triagem realizada pela equipe de

enfermagem, na qual se verificam os sinais vitais. Caso apresente dois ou mais critérios que se encaixem nos padrões definidos em decor-rência de infecção, entra no protocolo de sepse.

S e G U r a n ç a

Passa por avaliação clínica e realiza exames laboratoriais. Se confir-mado o diagnóstico, são iniciadas as práticas para o tratamento da sepse grave.

Atualmente, o protocolo é utiliza-do na Emergência, mas a intenção é expandi-lo gradativamente a todo o Hospital. A UTI Geral será a pró-xima a empregar a orientação. Para isso, são capacitadas diversas áre-as, buscando tornar o atendimento uniforme nos setores. Além de dimi-nuir a taxa de mortalidade, a equipe do HSL espera alcançar outros ganhos. A partir da descoberta e do tratamento precoce, prevê-se a di-minuição no tempo de permanência hospitalar, o que reduz o risco de complicações.

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pela enfermeira do Escritório da Quali-dade, Fernanda Boaz.

A sepse é uma inflamação gene-ralizada do organismo em resposta a uma infecção. As defesas do paciente reagem de forma exagerada, o que pode levar a um choque circulatório (crise aguda de insuficiência cardiovas-cular) e disfunção de órgãos. Segundo dados de um estudo epidemiológico brasileiro, aproximadamente 400 mil pacientes apresentam sepse grave anualmente e ocupam 17% dos leitos das UTIs do País. Além disso, gera custos hospitalares em torno de R$ 17 bilhões por ano.

No HSL, a UTI Geral tem uma média de 550 admissões por ano. Aproxima-

damente 50% dos pacientes são internados por sepse e 35% deles entram com choque séptico, a for-ma mais grave da doença. A morta-lidade nesse estágio chega a 65%, enquanto a da sepse grave é de 32%. Quanto maior o tempo para se estabelecer o diagnóstico, menores são as chances de sucesso.

A dificuldade no tratamento co-meça pela identificação da enfer-midade. “O início da doença pode passar despercebido. Estudos mostram que 81% dos médicos conseguem reconhecer o choque séptico. No entanto, só 27% identifi-cam a sepse sem disfunção orgâni-ca”, explica Dias.

V i V a m e l H o r

Delícias benéfi cas à

A L I M E N T O S F U N C I O N A I S P O S S U E M S U B S T â N C I A S Q U E M E L H O R A M O E S T A D O N U T R I C I O N A L D O O R G A N I S M O

O estresse e a correria afetam diariamente a qualidade de vida da sociedade moderna. No

entanto, a incidência de morte devido a acidentes cardiovasculares, câncer, acidente vascular cerebral, arterioscle-rose e enfermidades hepáticas, entre outros, pode ser minimizada por meio de bons hábitos alimentares. Uma das armas para alcançar esse objetivo são os alimentos funcionais. Eles contêm in-gredientes que, além de nutritivos, cola-boram com algumas funções do corpo.

As substâncias biologicamente ativas encontradas podem ser classificadas nos grupos: probióticos (micro-orga-nismos encontrados em iogurtes e leite fermentado) e prebióticos (fi bra alimen-tar); alimentos sulfurados e nitrogenados (vegetais, como repolho e brócolis, que protegem contra o câncer); pigmentos e vitaminas; compostos fenólicos; ácidos graxos poli-insaturados (ômega 3 e 6) e fi bras. Além disso, os alimentos funcio-nais contêm naturalmente substâncias chamadas de fi toquímicos, que contri-buem para uma excelente saúde, seja como prevenção, seja como tratamento de doenças.

Também são benéfi cos os produtos enriquecidos com vitaminas e minerais. Essa adição pode ser de até 100% da dose diária recomendada para esse nutriente. Muitas vezes, a fortifi cação é obrigatória por lei e serve para suprir os nutrientes perdidos durante o proces-samento do alimento. São exemplos itens de panifi cação, com a adição de vitamina B; iogurtes, com substâncias que favorecem o funcionamento do intestino; e margarinas, com fi toesteróis, o que diminui a absorção do colesterol.

saúdeBONS HáBITOS

Os alimentos funcionais, contudo, não agem sozi-nhos. Para que o efeito seja alcançado, é necessário o consumo regular associa-do a uma dieta equilibrada. “Caso a pessoa esteja uti-lizando um alimento para o controle do colesterol, so-mente alcançará resultados positivos se a ingestão estiver associada a uma dieta pobre em gordura saturada e coles-terol. Além disso, é necessá-rio aliar o consumo a um estilo de vida saudável, levando em consideração a alimentação como um todo e a prática re-gular de uma atividade física”, ressalta Maria Lucia Oliveira Rossés, nutricionista do Hos-pital São Lucas da PUCRS. É importante ainda seguir as ins-truções de consumo indicadas no rótulo.

A principal dica, contudo, é aumentar a ingestão de vege-tais, frutas e cereais integrais na dieta diária, pois grande parte dos componentes ativos encontra-se nesses alimentos. Outra indicação é substituir, em parte, o consumo de carne bovi-na, embutidos e outros produtos à base de carne vermelha por soja e derivados (especialmen-te carne de soja e isolados proteicos de soja) ou peixes ricos em ômega 3.

Dica�• A soja deve ser cozida para garantir

melhor digestão proteica. O molho de soja e o óleo de soja não contêm isofl avonas, composto que diminui o colesterol LDL, previne contra o câncer e a osteoporose, e reduz sintomas da menopausa.

• As fontes de licopeno (tomate e cenoura) oferecem maior absorção ao organismo se cozidas. A substância reduz o risco de câncer.

• Entre os compostos funcionais mais conhecidos estão a lignina, obtida na linhaça; o cálcio, encontrado em laticínios; os probióticos, dos leites fermentados; e o resveratrol, contido na uva e em seus derivados.

• O azeite de oliva ajuda a diminuir o colesterol LDL e a aumentar o HDL, considerado o “colesterol bom”.

• O ácido graxo ômega 3 é encontrado em peixes de água fria (salmão, arenque, sardinha, atum e haddok), e no óleo de linhaça.

importante ainda seguir as ins-truções de consumo indicadas

A principal dica, contudo, é aumentar a ingestão de vege-tais, frutas e cereais integrais na dieta diária, pois grande parte dos componentes ativos encontra-se nesses alimentos. Outra indicação é substituir, em parte, o consumo de carne bovi-na, embutidos e outros produtos à base de carne vermelha por soja e derivados (especialmen-te carne de soja e isolados proteicos de soja) ou peixes

O azeite de oliva ajuda a diminuir o colesterol LDL e a aumentar o HDL, considerado o “colesterol bom”.

• O ácido graxo ômega 3 é encontrado em peixes de água fria (salmão, arenque, sardinha, atum e haddok), e no óleo de linhaça.

Foto: StoCK.XCHnG

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médicos, nut r ic ion is tas,

fisioterapeutas, psicó-logos, enfermeira e assistente

social, além de equipe administrativa. Eles acompanham os processos do pré ao pós-operatório. Com isso, cer-ca de 80% dos pacientes alcançam os resultados esperados.

Apesar da eficiência, a operação é de alta complexidade e, por isso, todos os cuidados são necessários. Antes de escolher onde realizar o tratamento, o paciente deve informar-se sobre o histórico do médico e escolher grupos interdisciplinares especializados. “Pro-cure cirurgiões ligados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica Meta-bólica, registrados e com um grupo formado. É preciso ter essa estrutura completa e fazer a operação em hos-pitais com qualificação para cirurgias de alta complexidade”, ressalta Mottin.

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PUCRS (HSL). Diabetes, coles-terol alto, câncer e doenças car-diovasculares, como hipertensão arterial, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca são al-gumas das possíveis consequências da obesidade.

Uma das alternativas de tratamen-to é a cirurgia bariátrica, que tem di-ferentes métodos. O mais comum é a gastroplastia com derivação intesti-nal, usado em 90% das operações, inclusive pelo Sistema único de Saú-de (SUS). Consiste em “grampear” o estômago, destinando uma pequena parte para receber o alimento e uma porção maior responsável por pro-duzir o suco gástrico. A técnica é a mais utilizada no COM, onde são rea-lizados cerca de dez procedimentos desse tipo por semana. Reconhe-cido internacionalmente, o Centro é formado por 37 profissionais, entre

2424

d i a G n Ó S t i C o

C E R C A D E 2 M I L H õ E S D E G A ú C H O S E S T ã O C O M E X C E S S O D E P E S O

A obesidade é uma doença que vem crescendo no Brasil e no mundo e tornou-se um desafio

para governos e autoridades médi-cas. Segundo o Ministério da Saúde, 50% da população brasileira está com excesso de peso. No Rio Grande do Sul, são 19,6%, o que representa cer-ca de 2 milhões de pessoas. O gasto com o tratamento da doença e dos problemas associados gera elevado custo à sociedade. Por isso, a criação de estratégias de prevenção e trata-mento é cada vez mais necessária.

A definição da obesidade é feita por uma série de critérios. O mais popular é a medição do Índice de Massa Cor-poral (IMC) que, por meio de uma fór-mula matemática (peso dividido pela altura ao quadrado), determina se o peso do paciente é compatível com a altura. O saudável é até 24,9 quilos por metro quadrado (kg/m²). Também são levados em consideração dados como nível da diabetes, colesterol, triglicerídeos, gordura corporal e exis-tência de problemas cardíacos.

Entre as causas do problema estão maus hábitos alimentares, sedentaris-mo e fatores genéticos. “A obesidade quase sempre significa doença. Há indivíduos jovens com índice de mas-sa de 40/45 sem problemas aparen-tes; porém, estes já estão se desen-volvendo. Existe o que se enxerga e o que não se enxergou ainda”, afirma o cirurgião Claudio Mottin, diretor técni-co e coordenador cirúrgico do Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica (COM) do Hospital São Lucas da

Crescimentoindesejado

COMO CONTROLAR O PESO• Fazer seis refeições diárias• Tomar, no mínimo, dois litros de água diariamente• Não beber refrigerante, inclusive light, diet ou zero• Comer três ou quatro porções de fruta por dia• Ingerir entre duas e três porções

de verduras e legumes diariamente • Comer proteínas• Evitar açúcar e gorduras• Comer devagar e mastigar bem• Realizar atividade física• Respeitar o “balanço calórico”

(energia que entra X energia que sai)

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PASSO A PASSO

Para realizar a cirurgia ba-riátrica, o paciente é avaliado por profissionais de diversas áreas, que analisam o IMC, as doenças associadas que já se manifestaram, os hábi-tos alimentares e a condição psicológica. Também são informadas as mudanças no estilo de vida após a ope-ração, como reeducação alimentar, atividade física e introdução de suplementos alimentares e polivitamínicos. Esses detalhes são importan-tes para definir, de forma con-junta, se esse procedimento é a alternativa mais adequada para a pessoa.

A cirurgia é uma das eta-pas do tratamento, mas não o passo final. “Muitos che-gam com a ideia de que, depois da operação, nunca mais terão que vir até a nu-tricionista. Pelo contrário, é o momento mais importante, em que começamos a trabalhar a mudança de hábito alimentar. O procedimento é o mecanismo que vai auxiliar a seguir isso”, ressalta Daniela Casagrande, nutricionista do COM. “O objetivo não é a balança, mas a modificação

do estilo de vida da pessoa. A cirurgia responde por resul-tados entre 20% e 30%. Se não focar em um projeto com reeducação e introdução da atividade física, vai voltar a ser obeso mesmo com o procedimento”, explica Mottin.

O acompanhamento multidisciplinar é levado a sério por Elda Bonadiman, 52 anos. A dona de casa submeteu-se à cirurgia no COM há mais de quatro anos e, desde então, procura não faltar às consultas de acompanhamento. Para isso, viaja da cidade de Garibaldi a Porto Alegre semestral-mente. São as conversas com nutricionistas, endocrinolo-gistas e cirurgiões que orientam sobre as melhores con-dutas no período pós-operatório. “Além de mastigar mais devagar, hoje, preciso comer mais feijão, frutas, legumes e verduras para me manter saudável”, explica Elda que, com 1,60 metro de altura, pesava 118 quilos antes do procedi-mento. Agora, sente-se melhor com 80 quilos. “Antes eu não conseguia nem lavar os meus pés. Agora, posso até fazer as minhas unhas”. A prevenção ainda é o melhor ca-minho na luta contra o problema. Realizar atividades físicas regularmente, conhecer o que se come no dia a dia e o que o corpo necessita são aspectos essenciais.

Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica (COM)

• Centro Clínico da PUCRS• Av. Ipiranga, 6.690, sala 302, Porto Alegre (RS) • Fone: (51) 3336-0890• Site: www.centrobesidademetabolica.com.br

EM DESTAQUE Em 2012, o COM e o HSL receberam a certi-

ficação de Centro de Excelência Internacional em Tratamento da Obesidade Grave pela Surgical Review Corporation (SRC), dos Estados Uni-dos. Entre os itens verificados estão protocolos operacionais, recursos físicos (cadeiras, macas, banheiros e balanças adequadas), estrutura de alta complexidade, número de cirurgias, baixo índice de complicações e mortalidade, e o banco de dados dos pacientes operados. Além disso, é necessário apresentar prontuários de pacientes, comprovando a aplicação desses processos no atendimento. Criado em 2000, o Centro atendeu a mais de 2 mil pessoas e apresenta crescimento médio anual de 30%. O COM recebe pacientes de convênios, particulares e do SUS, que devem ser encaminhados pelo posto de saúde.

elda Bonadiman (à esquerda) faz acompanhamento após cirurgia

Foto: GilSon oliVeira

Ações de saúde, formação de profissionais e geração de conhecimento, alinhadas à epi-demiologia, são as principais referências da sociedade ao desenvolvimento das estraté-gias. Em relação à mantenedora, no exercício da missão marista, os principais requisitos têm sido o atendimento às demandas de saúde e conhecimento da comunidade, a viabilização de espaços para ensino e pes-quisa na área da saúde, e o desenvolvimento

de ações de promoção e prevenção em saúde. Em todos esses aspectos, há forte compromisso com a qualidade, produtividade e sustentabilidade econômi-ca.

Na formulação e imple-mentação das estratégias, estão definidos 17 objetivos, desdobrados em 48 iniciati-vas e 42 planos, projetos e programas, sustentados no modelo do gerenciamento

da rotina das 75 Unidades Funcionais e dos 51 Serviços Médicos, como pilares do sis-tema de gestão HSL. O método e a filosofia de gestão observam o Modelo da Excelência da Gestão do Programa Gaúcho de Quali-dade e Produtividade, alinhado à Fundação Nacional da Qualidade. A partir de 2013, os movimentos devem ser ampliados para modelos internacionais, alinhados à visão de futuro da Instituição: ser reconhecida inter-nacionalmente, até 2015, como referência em gestão, assistência, ensino e pesquisa em saúde. O sucesso das estratégias está associado à liderança, ao conhecimento do negócio e ao método. Essa é a perspectiva e diretriz do nosso trabalho.

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P l a n e J a m e n t o e S t r at é G i C o

D O C U M E N T O O R I E N T A A ç õ E S D O H O S P I T A L P A R A O P E R Í O D O D E 2 0 1 1 A 2 0 1 5

No contexto do empreendi-mento saúde e conheci-mento, o Hospital São Lu-

cas da PUCRS (HSL), inaugurado em 29 de outubro de 1976, atua com a missão de ser um hospi-tal universitário qualificado pela integração assistência, ensino e pesquisa. É orientado por valores humanos, pela atuação interdis-cipl inar e pelo comprom isso com a saúde da comunidade. Os valores insti-tucionais estão fundamentados nas pessoas e ações desenvol-vidas.

O P l a n e j a -mento Estraté-gico da Institui-ção, referente

ao período 2011-2015, está centrado em opções estratégicas re-lativas à manutenção da oferta de serviços com qualidade, aos dife-rentes sistemas de saúde, às necessidades relacionadas ao ensino e à pesquisa, à ampliação progressiva do perfil cirúrgico e da oferta de Serviços de Apoio em Diagnóstico e Tratamento (SADTs) espe-cializados, e à autossustentação, com diversificação das fontes de financiamento.

No desenvolvimento da estratégia, as principais partes interessadas relacionadas ao Hospital e seus requisitos são demonstradas por segmento. No caso dos clientes usuários, os requisitos são o acesso aos serviços médico-hospitalares, a satisfação no recebimento dos serviços, a resolubilidade assistencial e o acesso aos campos de prática para o ensino e a pesquisa. Para o corpo clínico e a equipe de trabalho, são referências a disponibilidade de infraestrutura e de tecnologias para o exercício profissional e a valorização, o desenvolvi-mento e a estabilidade profissional.

Caminhos

“Em termos de segurança e qualidade do processo assistencial, a adoção de sistema de auditoria e acreditação é prática para a melhoria dos resultados do HSL como um todo”

traçados

R I C A R D O M I N O T T O , d i r e t o r f i n a n c e i r o d o H S L

Foto: GilSon oliVeira

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B a S t i d o r e S

Fonte deB A N C O D E S A N G U E F O I C R I A D O H á 2 5 A N O S P A R A S U P R I R A D E M A N D A D O S P A C I E N T E S

O s hospitais precisam dispor de reservas de sangue para atender aos pacientes que ne-cessitarem e o São Lucas da PUCRS tem

estrutura própria para a coleta do material. Criado há 25 anos, o Banco de Sangue conta com 34 profis-sionais, entre técnicos, auxiliares administrativos e de enfermagem, médicos, enfermeiros e auxiliares de higienização. Para suprir a demanda, são neces-sárias entre 750 e 800 doações por mês; número, contudo, nem sempre alcançado. Por isso, a quan-tidade de doadores espontâneos precisa crescer.

A cada coleta são obtidos 450 mililitros de sangue, que passa por exame sorológico e pelo processo de centrifugação, para fracionar seus componentes. São eles os glóbulos vermelhos, utilizados em casos de anemia, hemorragias e doenças crônicas; plaquetas, usadas em pacien-tes submetidos à quimioterapia e radioterapia; e plasma, indicado a pacientes com problemas de coagulação. Cada componente tem períodos dife-rentes de validade e, quando algum deles não é uti-lizado, é oferecido a outros hospitais. O chefe do Serviço de Hemoterapia, o hematologista Marco Antônio Winckler, explica que o contato com outras instituições é constante, tanto para solicitar material quanto para oferecer exceden-tes. Quando o paciente necessita de um volume grande de sangue, é solicitado aos familiares que reponham o estoque.

vida

REQUISITOSAs mulheres podem doar até três vezes por ano, com

o intervalo mínimo de 90 dias; e os homens, até quatro vezes, com pausa de 60 dias. Entre os principais requisi-tos estão idade entre 16 e 67 anos (menores de 18 anos com autorização de pais/responsáveis); pesar, no mínimo, 50 quilos; ter boa saúde e portar documento de identida-de oficial com foto. Antes de fazer a coleta do sangue, o candidato cadastra-se e passa pela triagem, que consiste em responder a um questionário e submeter-se a exame clínico para verificar pressão arterial, temperatura corporal, frequência cardíaca e anemia. Essas medidas garantem que não haja risco no procedimento, tanto para o doador quanto para o receptor.

em cada coleta são obtidos 450 ml de sangue

SAIBA MAIS

• A coleta dura, no máximo, 15 minutos e é feita com kit descartável;

• Pode-se buscar o resultado do exame realizado no material coletado;

• A transfusão de sangue, quando não for caso de emergência, pode ser feita no local, de acordo com agendamento. Também são realizadas aféreses terapêuticas, procedimentos utilizados no tratamento de algumas doenças autoimunes e rejeição de órgãos transplantados, entre outros;

• O Banco de Sangue localiza-se no 2º andar do Hospital (Av. Ipiranga, 6.690 – Porto Alegre) e o horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h30min, e sábado, das 8h às 12h (exceto feriados). O telefone é (51) 3320-3455;

• No site www.hospitalsaolucas.pucrs.br, no link Banco de Sangue, há mais informações sobre a doação.

Foto: GilSon oliVeira

O cirurgião plástico Carlos Uebel (na foto, à direita), preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica, assumiu a presidência da Inter-national Society of Aesthetic Plastic Surgery (Isaps), para o biênio 2012/2014. A cerimônia ocorreu em Genebra (Suíça). Uebel é membro do Serviço há 17 anos e doutor em Cirurgia pela PUCRS.

A chefe do Serviço de Ginecologia e sócia-diretora do Fertili-tat – Centro de Medicina Reprodutiva, Mariangela Badalotti, é a nova presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) para o biênio 2013/2014. A posse ocorreu durante o 25º Congresso Brasileiro de Reprodução Humana, realizado em São Paulo.

A Administração Superior da PUCRS para o período 2013-2016 tomou posse no dia 7 de dezembro. Foram reconduzidos ao cargo o Reitor, Joaquim Clotet, e o Vice-Reitor, Evilázio Teixeira. Também tomaram posse Pró-Reitores, assessores da Reitoria, diretores de Faculdades, institutos, órgãos suplementares, entre outros. No Hospital São Lucas foram reconduzidos ao cargo o diretor-geral e administrativo, Leomar Bammann (na foto, à direita); o diretor administrativo-adjunto, Lauri Heck; o diretor técnico e clínico, Plínio Vicente Medaglia Filho; o diretor acadêmico, Marlow Kwitko; e o diretor financeiro, Ricardo Minotto. Na Faculdade de Medicina, as-sumiu como diretor o cirurgião Jefferson Luis Braga da Silva.

NO COMANDO

ADMINISTRAçãO SUPERIOR

Com o objetivo de manter médicos, enfermeiros e outros pro-fissionais bem informados sobre os avanços na área da saúde, o Hospital São Lucas da PUCRS promove o curso de Atualização em Neonatologia. As aulas ocorrem um sábado por mês, de 27 de abril a 30 de novembro, das 9h às 16h, totalizando 43 encontros. A 7ª edição da iniciativa abordará o processo de atendimento ao recém-nascido e revisará a assistência ao parto e as orientações padrões para o cuidado dos bebês em alojamento conjunto e na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal, entre outros temas.

Os tópicos são apresentados de forma teórica e prática, pro-porcionando um aprendizado mais próximo da realidade que será encontrada pelos profissionais. Apoiado pela Sociedade de Pedia-tria do Rio Grande do Sul, o evento confere pontos pelo Conselho Nacional de Acreditação (CNA), necessários para que os especia-listas em pediatria e neonatologia mantenham seu título, e é pro-curado por profissionais de diversas cidades e estados do País. As inscrições podem ser feitas pelo site www.pucrs.br/educon. Mais informações no link www.hospitalsaolucas.pucrs.br/curso.NEO.

Em 2012, o Hospital ganhou uma nova área para a realização de eco-grafias. Situada no Centro de Diag-nóstico por Imagem (CDI), no térreo, a Ultrassonografia, como passou a ser denominada, dispõe de sete salas de exame, quatro dedicadas à ultrasso-nografia geral, duas à ecocardiografia e uma à ginecologia e obstetrícia, além de salas de apoio. Para atender à estrutura, foram adquiridos cinco sonógrafos. Os modelos de última geração permitem a execução de alguns dos exames mais avançados da área, como a elastografia teci dual – novo método para o diagnóstico diferencial de nódulos sólidos – e o exame em 4D para a cardiologia.

CURSO DE ATUALIZAçãO EM NEONATOLOGIAS

NOVIDADES NA ECOGRAFIA

Foto: arqUiVo PeSSoal

Foto: GilSon oliVeira

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C U r ta S

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pelo trabalho bem-sucedidoJ O S É M á R I O D E C A R V A L H O R E L E M B R A O S G R A N D E S M O M E N T O S D A C A R R E I R A D E M A I S D E 5 0 A N O S

A aposentado-ria, o fim de uma carreira,

parece algo triste. Mas, para alguns, ela é um prêmio e o cirurgião do apa-relho digestivo José Mário de Carvalho, 81 anos, é um des-ses sortudos. Na-tural de Itaqui, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, sempre teve a me-dicina como uma escolha clara. For-mado em 1958, iniciou sua trajetória em Viadutos, distrito da cidade de Marcelino Ramos, no interior do Esta-do. Durante cinco anos, foi o médico do pequeno município.

A parada seguinte foi na Região Metropolitana de Porto Alegre. Traba-lhou e integrou a direção do Hospital São Camilo, em Esteio, do Grupo Hospitalar Conceição e do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas, ambos na capital, até ser convidado

Satisfação

TEMPO DE LAZERApaixonado e orgulhoso da carreira, o entusiasmo com a aposentadoria

é quase tão grande quanto o da profissão. Pai de cinco filhos, enxerga o momento como uma gratificação, em que a responsabilidade foi substituída pelo lazer e pela liberdade. “Costumo dizer que aconteceram duas coisas ótimas na minha vida: a primeira foi ter sido médico, pois esses 50 anos de trabalho foram extraordinários. A segunda foi me aposentar, pois também é incrível deixar a profissão com a satisfação de ter feito uma boa carreira. É muito bom poder me dedicar àquelas coisas que, muitas vezes, fui adiando durante a vida”, completa. Em dezembro de 2012, Carvalho recebeu uma placa dos integrantes do Serviço de Cirurgia Geral do HSL em homenagem ao trabalho na Instituição. Carvalho (ao centro) recebe homenagem do HSl

Foto: anGéliCa lUCCHeSe (arqUiVo PeSSoal)

a integrar o Serviço de Cirurgia Geral e do Aparelho Diges-tivo do Hospital São Lucas da PUCRS. Nesta Ins t i tu ição, participou da forma-ção de residentes e estudantes da Facul-dade de Medicina, foi chefe de serviço por 12 anos e pionei-ro na realização da cirurgia bariátrica no Rio Grande do Sul.

Carvalho aprendeu a técnica com o médico Arthur Garrido, um dos intro-dutores do procedimento no Brasil.

Reconhecido pelos esforços na área de cirurgia do aparelho digestivo, cursou a especialização após dez anos de profissão, quando estudou e trabalhou por dois anos na Uni-versidade de Cornell, em Nova York (Estados Unidos). A experiência é destacada como uma das mais belas e proveitosas da carreira. “O fato de não ter saído da Faculdade e ido di-

retamente para o exterior enriqueceu esse momento. Geralmente, quando tu já tens mais conhecimento, sabes melhor o que queres e como tirar pro-veito daquilo”, destaca.

Carvalho conta que o início da carreira era como clínico geral, para depois buscar especialização. “Tí-nhamos uma experiência de médico total. Atendíamos aos pacientes em casa, no consultório e a qualquer hora da noite. Era algo desgastante, mas muito satisfatório”, lembra. Outro pilar importante, em sua opinião, é o aspecto humano, um dos elementos indispensáveis da relação com o pa-ciente, mas que não pode ficar restrito ao consultório. “Com o desenvolvi-mento da tecnologia, o grande desafio é não perder o humanismo. Muitos dizem que os médicos se esquecem de enxergar o resto da sociedade e só veem as pessoas como pacientes. Essa é uma visão muito estreita. Não adianta sermos humanos apenas com os nossos pacientes e agirmos de forma diferente com o resto das pessoas”, diz.

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t r a J e t Ó r i a

Foto: GilSon oliVeira

Uma silenciosa

lição

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C r Ô n i C a

C H A R L E S K I E F E R , e s c r i t o r

Dentre as muitas certezas que se pode ter na vida, uma delas é que um dia passaremos por alguma

internação hospitalar. E o que parecia uma coisa terrível, pode converter-se numa experiência iluminadora. E se não for uma experiência de arrebatamento com anjos, trombetas e anunciações, poderá ainda ser uma experiência de humanização, já que pelo andar da carruagem, ou pela velocida-de dos bites, estamos todos nos conver-tendo em máqui-nas, com horários pré-fixados, índices de produtividade pré-estabelecidos e roteiros de per-curso já sinalizados de antemão.

Assim, uma in-ternação hospita-lar, por mais grave que seja, pode vir a ser uma necessá-ria parada reflexiva. Afinal, no que é que nos transformamos? Já que costumamos desafiar a natureza, levando nossos corpos a limites perigosos, às vezes a própria natureza se rebela e somos forçados a diminuir o ritmo. Já que não queres passar umas férias, te mandei um colapso, ela nos diz, e troquei a cama de hotel de praia, que podias ter usufruído, pela cama do hospital.

E agora, diante da contingência, as per-guntas embaraçadoras pipocam diante dos nossos olhos. Por que me dedico tanto ao trabalho e tão pouco à família? Por que temo

tanto o futuro e com isso deixo de viver o presente? Por que, em nome da competitividade, abandonei os valores da solidariedade, da compaixão e do amor ao próximo?

Há alguns anos, assim como um dia acontecerá contigo, fiz uma intervenção cirúrgica, que se complicou, e o que era para ser um passeio virou uma maratona, que corri entre a vida e a morte. Como o leitor há de perceber, desta última me safei ou não estaria aqui, escrevendo este texto. O único defunto-autor que deu certo foi o memorável Brás Cubas, do romance de Machado de Assis.

Fiquei quase duas semanas hospitalizado. Além da solidarieda-de dos médicos, atendentes e enfermeiros, recebi uma silenciosa

lição. Certa madrugada, dois dias antes de receber a alta, fui visitado por uma velha senhora. No princípio, não a reconheci. Supus que fosse mais uma enfermeira, que viera aplicar-me outra injeção, obrigar-me a tomar mais um anti-inflamatório ou analgé-sico. Apertei o botão à minha direita e o leito subiu, deixando-me quase sentado. O quarto estava mal iluminado pela luz inau-gural e a manhã reproduzia a metáfora de Homero, desgastada por milênios de uso, da aurora com seus dedos rosados. A ja-nela abria para um grande estacionamento, e os primeiros ruídos da Avenida Ipiranga já

começavam a reverberar nos meus ouvidos. Mexi as pernas e a dor surgiu, espalhando-se dos quadris às

pontas dos dedos dos pés. Estou vivo, pensei, e senti uma alegria intensa. As coisas, desde o momento em que deixei o Centro de Tratamento Intensivo do Hospital São Lucas da PUCRS, adquiriam outro significado. Eu mentiria se lhes dissesse que as sentia como novas – não eram. Exceto a dor e a náusea, nada indicava em mim alguma transformação. Pensei em Maíra, Sofia e Marta. Às três mulheres, agregaram-se Armando, Priscila, Osmar, Lorena, Nilza, Lola, Douglas, Osmar Júnior e Leonardo, seus parceiros, e meus amigos, e meus alunos, um vastíssimo universo. O mundo alargava-se, expandia-se, e – o mais importante –, continuava em incessante movimento. Não, eu não estava morto, como imaginei

“Já que costumamos desafiar a natureza, levando nossos corpos a limites perigosos, às vezes a própria natureza se rebela e somos forçados a diminuir o ritmo”

Charles Kiefer

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Não sei quanto tempo ficamos nos olhando naquela manhã espectral – eu, retornado do Estige, por onde nadara por algumas horas; e ela, expulsa por alguns se-gundos do Hades, de onde não deveria ter saído. Ela não falou, mas falei eu. Disse-lhe mais algumas coisas, que hoje não consigo recordar. Até que minha voz despertou Marta, que se ergueu do sofá e perguntou:

– O que foi? No mesmo instante, Vilma desapareceu. Esse evento levou-me a não duvidar de mais nada e a

compreender o que quis dizer Shakespeare quando disse que há mais entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia.

Eu tinha 14 anos. Minha avó Vilma contou-me que na noite em que sua própria mãe havia falecido em Cachoei-ra do Sul, muito distante de Três de Maio, o espectro da velha aparecera, sorrindo, na varanda da casa. Quando Vilma, a filha, abriu os braços e perguntou: “Mãe, o que fazes aqui?”, o fantasma sumiu.

E eu, irreverente, arrogante e maldoso, passei anos brincando com a minha avó, dizendo-lhe que uma católi-ca e apostólica como ela não devia mentir.

Minha avó, magoada com a brincadeira, abaixava os olhos.

Hoje, diante de ti, leitor, eu abaixo os meus.

ao acordar-me diante do sorriso enorme de um en-fermeiro, que foi meu primeiro contato com o mundo dos vivos, depois do colapso hemorrágico. Faço esta separação platônica porque, de alguma forma, compreendo hoje que visitei o mundo dos mortos, ou imaginei tê-lo visitado, ou fui visitado por eles, ou criei a fantasia de ter recebido a sua visita. Confesso, entre tantas outras coisas, não ter mais certeza de nada. A physis, aquilo que não pode deixar de ser, e a metafísica, que a ultrapassa, são mais complexas que a minha arrogância e o meu desejo. Nunca fui capaz de pensamento sistemático. Li o Ser e Tem-po e o ser e o nada e outros tratados de filosofia e nenhum deles me convenceu. Talvez por isso eu tenha optado pela literatura, pelos fragmentos, pela desordem, pela emoção. E pela incoerência. Entre as verdades absolutas dos filósofos e as descaradas mentiras dos escritores, preferi as últimas.

A velha moveu-se em silêncio e aproximou-se de meu leito. Então, com o semblante a outra luz, e mais próxima de mim, pude reconhecê-la.

Era Vilma, minha avó materna. – Por que vieste me visitar com esse vestido? –

perguntei, com a vergonha típica dos tolos que as-cenderam socialmente. Usava o mesmo vestido de riscado com que me acostumei a vê-la na infância, vestido que usava para lavar roupas, fazer comida e ir à roça, ao final da tarde.

Ela sentou-se na borda da cama. Recordei-me, sem espanto, que estava morta há mais de um ano. Meu cérebro, que se acostumara a buscar sempre uma resposta plausível, fundamentada nos pressu-postos do pensamento lógico-racional, encontrou uma rápida explicação para o fenômeno – aquilo era uma reação química, produzida pela anestesia, somada à culpa que eu sentia.

– Perdão – tentei me explicar. Minha avó morrera em Três de Maio, cidade onde

nasci, e que está a 500 quilômetros de Porto Alegre, onde vivo desde 1982. Quando minha mãe comu-nicou-me o falecimento, ainda antes de desligar o telefone decidi não ir. Hoje sei que não tive coragem de vê-la transformada nesse boneco de cera que é o corpo sem vida.

Agora, diante dela, ou de meu delírio, depois de eu próprio ter regressado da morte, arrependia-me da indelicadeza. Ela, no entanto, sentada próxima às minhas coxas, apenas sorria, e nos seus olhos eu não encontrava um traço sequer de condenação. Vilma fitava-me com o mais doce e carinhoso dos olhares de que tenho notícia em minha vida. Se a paz e a ternura tivessem tradução, se uma metá-fora pudesse transportar o significado desses dois termos, tão ausentes no mundo dos vivos, eles ali estavam.

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