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A luta é gigante, porque a pers- crutação e decifração dos mysterios da natureza, se levantam o nivel in- tellectual da humanidade terrena, ferem o prestigio das classes, cujo poderio se baseia somente na igno- rancia e fanatismo das massas. O tempo dos milagres incompre- hensiveis e inexplicáveis passou ; boje a sciencia, aprofundando tudo, acha na applicação das leis natu- raes a solução simples c racional de todos os phenomenos ,que enchiam nossos pais de supersticioso terror e que, pela grandeza sublime de sua simplicidade, causam em nós pas- mo e admiração. Nem, por isso, se diga que a sciencia moderna pretende, em sua louca e pretenciosa presumpção, negar a Divindade, advogando a causa do màterialismo athcu. Tudo no mundo é regido pelas leis eternas e absolutas estabeleci- das pelo Creador, motivo pelo qual podemos dizer sem medo que nada acontece sem o consentimento de Deus, que nem um cabello na nossa cabeça cahirá sem a sua von- tade. O magnetismo, esse fluido mara- vilhoso que liga em um todo a creação inteira, essa alavanca pode- rosa de progresso que o Omnipo- tente poz á nossa disposição, para nos elevarmos todos auxiliando-nos reciprocamente, está hoje fazendo verdadeiros milagres, curas espan- tosas que,pelo facto de conhecermos o meio empregado, não são menos dignas de admiração quo as cffcc- tuadas pelos antigos, que não conheciam o recurso de que lan- cavam mão, que admittiam uma intervenção divina, sem curar do modo por que se cumpria tal inter- venç.ão. Vem a propósito fallarmos de um facto acontecido ultimamente em Castellamarc, perto de Nápoles, do qual se occupa o Messager de Liegc, com a epigraphe Milagre c Magno- lismo. Vivia nessa cidade um joven de nome Paolo Conte, destinado por sua familia ao estado ecclcsiastico, e que desde criança soffria de hor- riveis ataques de epilepsia. Um dia em um de seus momentos de alluçi- nação, como diz a gente da moda, de desprendimento espiritual, como dizemos nós, viu elle a figura de Pio IX que lhe disse: « Curaras, se tocares um dos meus autographos.» Voltando a si, foi o joven ter com o Sr. Sarnelli, bispo de Castella- maré, que sem demora apresentou- lhe uma carta do fallecido pon ti- fice; e de repente todos os sympto- mas do mal desapparcceram. Tratou logo o clero de divulgar o milagre, fortalecendo a sua narra- tiva com nttestadosdos médicos,que desde criança tinham acompanhado á enfermidade de Conte. Toda a po- pulação de Castcllamare estava ex- tasiada diante do prodígio, e o pro- prij Leão XIII não reccheu-o com maus olhos. Deu-se, porém, um contratempo serio, o mal reappareceu com maior intensidade, c d'esta vez a familia do joven Conte confiou-o aos cuida- dos do Dr. Catello Fusco, que ou- rou-o pelo magnetismo. São incríveis os despropósitos, os actos de loucura praticados então pelos fanáticos do romanismo contra a pessoa do pobre moço; o bispo fel-o despir a sotaina como indigno d'clla por ser um possesso, um serro de Saianaz, ( oh ! caridade christan onde te escondes hoje ?) homens do povo ignorante e fanático atacaram Conte nas ruas, insultaram-n'o atrozmente, maltrataram-no com pancadas c ameaçarani-n'o com a morte, se não sahisse d'ali. Os culpados estão respondendo perante a sexta secção do tribunal correcional de Nápoles. Teve o joven de retirar-se para uma cidade perto da Torre, Annue- ziata, mas nem ahi foi poupado pela sanha de seus perseguidores; na rua foi elle ainda atacado e esbofe- teado. Deixemos porém, de parte essas scenas tão tristes, e que nada mais são que combustíveis lançados im- previdentemente pelo próprio clero romano, na fogueira que o tem de devorar. Nosso fim ó estudar o facto á luz da razão e da sciencia. «Se tiverdes fé,disse Jesus, trans- portareis montanhas.» A levanta nosso espirito ás altas regiões que nos circumdain e ahi,com o auxilio de nossos protectores invisíveis, por Deus incumbidos de nos auxi- liarem em nossa marcha para a per- feição, colhe fluidos puros, fluidos não viciados pelas emanações ter- renas, com as quaes elle consegue dar alivio ás penas que lhe que- brantam o organismo. O homem, porém, é ainda atraza- do, c precisa de uma imagem ma- terial em que fixe o seu pensa- mento, para ir ao longe colher esses fluidos de que tem necessidade. Os fetiches dos selvieolas da África, os Ídolos dos bárbaros, as imagens inntimcraveis que ador- nam os templos dos idolatras mo- demos, não são mais que meios in- directos para despertar no homem a fé, para levantal-o até os invisi- veis encarregados de auxilial-o em sua perigrinação terrena. Quantas vezes a presença de um certo e determinado medico produz grande parte da cura do enfermo que elle visita. São factos de ipso- magnetismo. O enfermo sentindo-se auxiliado por uma pessoa ou um ob- jecto, em cuja influencia benéfica elle confia, attrahe a si os fluidos próprios para produzir a cura do seu organismo. Cremos que realmente foi o espi- rito do pontifico Pio IX que mani- festou-se ao joven Conte, cuja educação visava toda a vida eccle- siastica, c cuja sympathia pela sua memória elle conhecia, afim de por esse modo dar-lhe a confiança de que precisava para elevar-se a Deus. Com o desapparecimcnto dos symptomas do mal, a crença, que era ncllc toda artificial e de mo- mento, arrefeceu, c a moléstia que ainda não estava debelada, voltou. Foi então que o Dr. Catello Fus- co tentou a cura pelo magnetismo, o conseguiu-o. Conhecedor da sei- encia magnética, este poude em- pregar os fluidos próprios para ex- pellir os princípios mórbidos e restabelecer o equilíbrio nesse or- ganismo enfraquecido por tão pro- longada enfermidade. Findava ahi o desenvolvimento do thema que nos propozemos dis- cutir;como, porém,possam os nossos leitores ter alguma curiosidade de saber como isso terminou em rela- ção ao joven Conte, diremos que, deu-se um facto ultimo que, de forma nenhuma, deve ter agra- dado aos seus inimigos- Achava-se em Caslellamarc, em companhia de sua mãi, uma joven franceza, Mlle. Jenny Bonnu, que tocada das desditas de Conto de que as folhas se oecupavam, desejou vcl-o;d'ahi nasceu a sympathia en- tre elles, resultou um casamento que trouxe ao pobre perseguido uma fortuna de cinco milhões e oi- tocentos mil francos, augmentada ainda dias depois com mais trez mi- lhões que um tio de sua mulher legou-lhe em seu testamento. FEasrsA-üviEisrTO Feliz o homem que vive com o pensamento cm Deus! Feliz o que se desenfastia dos labores da vida pensando no Senhor creador de todas as cousas ! Feliz o que canta em seu louvor, segue seus preceitos e conserva-sc fiel á sua lei. Dos Veda.s < ' X Yl x -¦y ¦ ¦-¦: 0 Yfe < > ¦:.

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PUBLICAÇÃO QUINZENA!

%mm si fwiiif» 11*111f i BiixaniiAnno IV BBrazil — Rio de Janeiro — 18SO — BVvcrciro — 15 N. 98

B5XPEDIB3NBEBiT nosso correspondente

em S. Paulo o nosso confradeo Sr. Santos Cruz Júnior,queestá autorisado a tratar detodos os negócios conccrnen-tes ao <r REFORMADOR. i>

ESTUDA QUE HAS DE CRER

Já vão longe os tempos cm quo,por falta de luzes, o homem aceita-va as imposições da fé cega, sem

pensar, som buscar a razão, umaexplicação scientifica e racional d'a-

quillo cm que lhe mandavam crer.Hoje, devorado pela sedo ardente

de tudo estudar e comprehender,elle investiga, servindo-se dos re-cursos todos que Deus poz a seu ai-cance, para entrar no conhecimentoda verdade, pondo assim em praticaa sentença do Christo : Nada ha deoceulto que não deva ser descober-to e proclamado ao mundo.

A luta é gigante, porque a pers-crutação e decifração dos mysteriosda natureza, se levantam o nivel in-tellectual da humanidade terrena,ferem o prestigio das classes, cujopoderio se baseia somente na igno-rancia e fanatismo das massas.

O tempo dos milagres incompre-hensiveis e inexplicáveis passou ;boje a sciencia, aprofundando tudo,acha na applicação das leis natu-raes a solução simples c racional detodos os phenomenos ,que enchiamnossos pais de supersticioso terror eque, pela grandeza sublime de suasimplicidade, causam em nós pas-mo e admiração.

Nem, por isso, se diga que asciencia moderna pretende, em sualouca e pretenciosa presumpção,negar a Divindade, advogando acausa do màterialismo athcu.

Tudo no mundo é regido pelasleis eternas e absolutas estabeleci-das pelo Creador, motivo pelo qualpodemos dizer sem medo que nadaacontece sem o consentimento deDeus, que nem um só cabello nanossa cabeça cahirá sem a sua von-tade.

O magnetismo, esse fluido mara-vilhoso que liga em um só todo a

creação inteira, essa alavanca pode-rosa de progresso que o Omnipo-tente poz á nossa disposição, paranos elevarmos todos auxiliando-nosreciprocamente, está hoje fazendoverdadeiros milagres, curas espan-tosas que,pelo facto de conhecermoso meio empregado, não são menosdignas de admiração quo as cffcc-tuadas pelos antigos, que nãoconheciam o recurso de que lan-cavam mão, que só admittiam umaintervenção divina, sem curar domodo por que se cumpria tal inter-venç.ão.

Vem a propósito fallarmos de umfacto acontecido ultimamente emCastellamarc, perto de Nápoles, do

qual se occupa o Messager de Liegc,com a epigraphe Milagre c Magno-lismo.

Vivia nessa cidade um joven denome Paolo Conte, destinado porsua familia ao estado ecclcsiastico,e que desde criança soffria de hor-riveis ataques de epilepsia. Um diaem um de seus momentos de alluçi-nação, como diz a gente da moda,de desprendimento espiritual, comodizemos nós, viu elle a figura dePio IX que lhe disse: « Curaras, setocares um dos meus autographos.»

Voltando a si, foi o joven ter como Sr. Sarnelli, bispo de Castella-maré, que sem demora apresentou-lhe uma carta do fallecido pon ti-fice; e de repente todos os sympto-mas do mal desapparcceram.

Tratou logo o clero de divulgar omilagre, fortalecendo a sua narra-tiva com nttestadosdos médicos,quedesde criança tinham acompanhadoá enfermidade de Conte. Toda a po-pulação de Castcllamare estava ex-tasiada diante do prodígio, e o pro-prij Leão XIII não reccheu-o commaus olhos.

Deu-se, porém, um contratemposerio, o mal reappareceu com maiorintensidade, c d'esta vez a familiado joven Conte confiou-o aos cuida-dos do Dr. Catello Fusco, que ou-rou-o pelo magnetismo.

São incríveis os despropósitos, osactos de loucura praticados então

pelos fanáticos do romanismo contraa pessoa do pobre moço; o bispofel-o despir a sotaina como indigno

d'clla por ser um possesso, um serrode Saianaz, ( oh ! caridade christanonde te escondes hoje ?) homens dopovo ignorante e fanático atacaramConte nas ruas, insultaram-n'oatrozmente, maltrataram-no compancadas c ameaçarani-n'o com amorte, se não sahisse d'ali.

Os culpados estão respondendoperante a sexta secção do tribunalcorrecional de Nápoles.

Teve o joven de retirar-se parauma cidade perto da Torre, Annue-ziata, mas nem ahi foi poupado pelasanha de seus perseguidores; narua foi elle ainda atacado e esbofe-teado.

Deixemos porém, de parte essasscenas tão tristes, e que nada maissão que combustíveis lançados im-

previdentemente pelo próprio cleroromano, na fogueira que o tem dedevorar. Nosso fim ó estudar o factoá luz da razão e da sciencia.

«Se tiverdes fé,disse Jesus, trans-

portareis montanhas.» A fé levantanosso espirito ás altas regiões quenos circumdain e ahi,com o auxiliode nossos protectores invisíveis,

por Deus incumbidos de nos auxi-liarem em nossa marcha para a per-feição, colhe fluidos puros, fluidosnão viciados pelas emanações ter-renas, com as quaes elle conseguedar alivio ás penas que lhe que-brantam o organismo.

O homem, porém, é ainda atraza-do, c precisa de uma imagem ma-terial em que fixe o seu pensa-mento, para ir ao longe colher essesfluidos de que tem necessidade.

Os fetiches dos selvieolas daÁfrica, os Ídolos dos bárbaros, asimagens inntimcraveis que ador-nam os templos dos idolatras mo-demos, não são mais que meios in-directos para despertar no homem afé, para levantal-o até os invisi-veis encarregados de auxilial-o emsua perigrinação terrena.

Quantas vezes a presença de umcerto e determinado medico produzgrande parte da cura do enfermo

que elle visita. São factos de ipso-magnetismo. O enfermo sentindo-seauxiliado por uma pessoa ou um ob-

jecto, em cuja influencia benéficaelle confia, attrahe a si os fluidos

próprios para produzir a cura doseu organismo.

Cremos que realmente foi o espi-rito do pontifico Pio IX que mani-festou-se ao joven Conte, cujaeducação visava toda a vida eccle-siastica, c cuja sympathia pela suamemória elle conhecia, afim de poresse modo dar-lhe a confiança deque precisava para elevar-se a Deus.

Com o desapparecimcnto dossymptomas do mal, a crença, queera ncllc toda artificial e de mo-mento, arrefeceu, c a moléstia queainda não estava debelada, voltou.

Foi então que o Dr. Catello Fus-co tentou a cura pelo magnetismo,o conseguiu-o. Conhecedor da sei-encia magnética, este poude em-pregar os fluidos próprios para ex-pellir os princípios mórbidos erestabelecer o equilíbrio nesse or-ganismo enfraquecido por tão pro-longada enfermidade.

Findava ahi o desenvolvimentodo thema que nos propozemos dis-cutir;como, porém,possam os nossosleitores ter alguma curiosidade desaber como isso terminou em rela-

ção ao joven Conte, diremos que,deu-se um facto ultimo que,de forma nenhuma, deve ter agra-dado aos seus inimigos-

Achava-se em Caslellamarc, emcompanhia de sua mãi, uma jovenfranceza, Mlle. Jenny Bonnu, quetocada das desditas de Conto de

que as folhas se oecupavam, desejouvcl-o;d'ahi nasceu a sympathia en-tre elles, resultou um casamentoque trouxe ao pobre perseguidouma fortuna de cinco milhões e oi-tocentos mil francos, augmentadaainda dias depois com mais trez mi-lhões que um tio de sua mulherlegou-lhe em seu testamento.

FEasrsA-üviEisrTO

Feliz o homem que vive com o

pensamento cm Deus! Feliz o quese desenfastia dos labores da vida

pensando no Senhor creador detodas as cousas ! Feliz o que cantaem seu louvor, segue seus preceitose conserva-sc fiel á sua lei.

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% UEFORllADOR — 1880 — Fevereiro — 15

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PUBLICA-SE MOS DIAS 1 E 18

ASSIGN ATURASAnno

PAGAMENTO ADIANTADO

8$000

Toda a correspondência deve ser diri-gida a

A. Elias da Silva120 RUA DA CARIOCA 120

—«:»—

Os trabalhos de reconhecido interessegeral serão publicados gratuitamente.

AA'.

A terra atravez dos tempos

ÉPOCA DE TRANSIÇÃO

1Como vimos, durante a época pri-

raitiva a temperatura era muito ele-vada, para que a vida orgânica se

podesse manifestar na superfície daterra. As trevas de uma noite cerradacobriam o berço do mundo; a atmos-phera excessivamente carregada devapores impedia que os raios do sol lhetrouxessem a luz e a fecundidade; osolo, porém, continuando a resfriar-sepela irradiação, o furor dos elementosrevolucionados se foi apasiguando, a.ságuas tiveram maior estabilidade, osterrenos de sedimento deixaram de sercontinuameute alterados e modifica-dos polas erupçõos das rochas igneãse, no meio d'essa calma relativa, avida appareceu.

Bem de pressa nos terrenos sedi-mentarios descobertos estendeu-se umverde tapete formado pelas maissimples acotyledonias, as quaes, apo-drecendo, deram nascimento ao húmusnecessário para fertilisar as terras.Carregada de ácido carbônico, a atmos-phera estava nas condições de alimen-tar a respiração das plantas, e o soloembebido d°agua nas de fornecer-lhesos elementos para o seu desenvolvi-mento.

Os primeiros terrenos sedimenta-rios, os que nos parecem mais antigossão os da camada laürenciaiia que séencontra nas visinhanças do rioS.

"Lourenço, na America Sptentrio-

nal, e que correspondem a certas for-mações gneissicas da Bohemia e donorte da Escossia.

Ella constitue ao norte do dictorio uma vasta agglomeracão de peda-ços de rochas christalinas de gneiss,micaschisto, quartzito e calcareo, at-tingindo, ás vezes, uma espessura de10:000 metros e oecupando uma áreade 324 kilometros quadrados. A estacamada seguem-se a huróniana e ataconiana na America, correspondeu-do k cambriana, da Inglaterra, ecompostas de schistos alternados coraareias, na perte inferior, e de rochasmicaceas e schistos negros, na supe-rior, caracterisada por glóbulos pe-treos ou pisolitos.

O terreno siluriano, posterior aoscitados, se subdivide em três andares,caracterisados: o primeiro por cama-das arenaceas, schistos cinzentos, grése comglomerados; o segundo porschistos e um grés duro, atravessadopor leitos de conglomerados e depoispor ura grés calcareo avermelhado;e o terceiro por um calcareo argillosoe um grés micaceo, amarellado e de-pois avermelhado e duro.

Os terrenos devonianos, que são osque se seguem, se compõem, no começo, de pudingues aos quaes suece-dem logo grés, offerecendo diversasalternâncias e cobertos por grés schis-tosos, mais ou menos finos, schistos devarias espécies e calcareos, no meiodos quaes se encontrara camadas deauthracito.

A parte superior do terreno devo-niano é oecupada por ura grupo des-ignado com o nome de velho grésvermelho, em razão de sua riqueza emoxydo de ferro.

O tecido frouxo e facilmente ataca-vel pelos agentes atmosphericos dasprimeiras plantas que surgiram nasuperfiçie terrena, deu lugar a quecTellas desapparecessem todos os ves-tigios, de modo que estes só se nosvenham apresentar no período devo-niano. Os vegetaes eram então repre-sentados por cryptogamas,plantas daconstituição mais elementar: algas,lichens, musgos e cogumellos ; aosquaes depois se associaram outros deestruetura menos simples, como owipiiselum sismondee. Não se deu omesmo com os animaes, cujas partesduras resistiram melhor á acção de-componente dos agentes exteriores.

Com o terreno cambriano começoua fauna, a que verdadeiramente po-demos dar o epitheto de primordial eque se continua no período siluriano.

Tudo indica que n'esse tempo onosso planeta achava-se, era grandeparte, coberto por mares de uma tem-peratura assaz uniforme, nos quaes osanimaes marinhos se desenvolviamrapidamente, a julgarmos pelo grandenumero de espécies e gêneros que oterreno siluriano encerra.

Annelides e crustáceos de um typopouco elevado apparecem no cara-briano inferior; bryozoarios e outrospequenos seres encerrados em cellulaspétreas, como polypos, graptolitltos,pteropodos e brachiopodos, que podemser considerados como os precursoresdas classes assim denominadas.

Essa fauna primordial é sobretudocaracterisada por certos gêneros datribu dos trüobüas, crustáceos que nãomais se mostram nos períodos poste-riòres, mas que continuaram a vivernos segundo e terceiro períodos daépoca geológica inicial. Foram osprimeiros animaes dotados de orgamde visão. Elles se multiplicara singti-larraente nas formações mais altas dosiluriano inferior, mostrando-nos queos crustáceos podem viver em águasmais salgadas, que as que os peixes eos molluscos podem supportar. Osmares de então eram mais salgadosque os de hoje.

Ao lado dos trilobitas viviam zoo-pintos, echinodermas e molluscos deuma estruetura bizarra, chamadosorlhoceratites e hyppurites.

Quando se depositaram as ultimascamadas do terreno siluriano, abun-davam nos mares terrenos os coraes,os gasteropodos e os brachiopodos,bem como os cephalopodos, a classemais elevada do ramo dos molluscos.

Os echinodermas, representados pe-los echinidos no período cambriano,apresentam typos muito variados, nosandares que se lhe suecederam.

Entre os grandes polypos que ca-racterisam o siluriano superior, é no-tavel o cyalhopliylon-turbinatum, bemcomo o coral a que damos o nome decatenipora cscliaroiid.es.

. Os peixes começaram com o períodosiluriano, quando o mar cobria grandeparte da Europa e das duas Aineri-cas, e eram representados por indivi-duos cartilaginosos, de corpo e focinhoalongados.

No período devoniano as espéciesichthyologicas se multiplicara, appa-recendo as dos peixes ganoides, deesqueleto ossoso, familia que tem hojeo seu representante no bicher do Nilo.

Depois vão surgindo novas varie-dades, e os typos primitivos desappa-recém.

Do seio do vasto oceano, habitadopor molluscos, polypos, actiuozoarios,echinodermas e calceolos, levantaram-se ilhas no período devoniano, oudecomeçou a vida dos insectos, queentão nos mostram ura typo gigan-tesco da familia dos ephemerines.

Essas ilhas cobriram-se logo de uma

vegetação vigorosa de fetos arbore-dentes, calamitas, equisetaceas, lyco-podiaceas e coniferas, de dimensõesextraordinárias, formando immensasflorestas que, submergidas por novoscataclysmos ou arrastadas depois desua queda, foram sepultadas sobnovas camadas de sedimento.

Absorvendo o ácido carbônico do ar,as plantas tornavam a terra própriapara nella poderem viver os animaesde uma organisação mais elevada.

O período carbonifero snecede a essaprimeira idade da vida do nosso pia-neta, ligando-se sua producção à de-voniana por uma formação de calca-reo authracitoso.

As condições climatericas dessestempos que já vão tão longe de nôs,nos fazem comprehender os caracte-res que distinguem essa vegetaçãoprimitiva.

Chuvas continuas, intenso calor euma luz fraca, velada por nevoeirospermanentes, engendravam essa floratoda especial, na qual vãmente se bus-cará alguma analogia com a dos nos-sos dias.

(Continua).

O. liaria R. da ConceietloKaplis.a

Com a idade de 65 annos, depois delongo padecimento, legou á terra ao i° docorrente o instrumento de progresso qued'ella recebera, D. Maria Balbina da Con-ceição Baptista, sogra do nosso distinetoconsocio, o Sr. Elias da Silva,indo receberna morada dos felizes o prêmio que Deusreserva aos trabalhadores de boa vontade.

Spirita-convicta, teve a dita de ver todaa sua familia abraçar as sublimes idéias dasanta doutrina que o Christo, ha desenoveséculos, trouxe ao mundo; c partiu com aconsohidora certeza de poder entrar emrelação com seus parentes e amigos, eguial-os com seus conselhos nos aítlictivostranses da vida terrena.

Era sócia fundadora da Federação Spi-rita Brasileira, que commemorará seupassamento amanhã, iG,com uma sessãomagna para a qual são convidados nossosamigos e irmãos em crença.

O .EnsaioE' o titulo de um periódico semanal,

litterario e scientifico, publicado peloLyceu de S. Cliristovão,cu)o primeiro nu-mero appareceu a 3o do passado.

Pequeno no formato, o Ensaio é grandeno pensamento que dirige a sua publi-cação, na elevação dos themas que discutec no modo brilhante porque o faz.

Não podemos deixar de comprimentarao digno director d'essc conhecido estabe.lecimento de instrucção por sua incansávelactividade em promover por todos osmodos o desenvolvimento intellectual emoral de seus aluirmos.

Agradecemos o exemplar com que fomosmimoseados, e pedimos permissão para apermuta.

Alninnak do Spiritismo

Recebemos e agradecemos esse impor-tante trabalho publicado pela SociedadeSpirita Fraternidad de Buenos Ayres. E'um volume de oitocentas e tantas paginas,contendo, além de esplendidos artigos emprosa e verso, os retratos dos Srs. Allan-Kardec, V. Hugo, E. Çastelar, C. Flamma-rion e Visconde de Torres Solanot.

N'elle vemos que o numero dos spiritasque na visinha republica freqüentam associedades e grupos, sobe a 8.000, segundoo recenseamento feito ultimamente.

La VeritéE' o titulo de um novo periódico se-

manai, dedicado á propaganda do spiri-ritismo,quc acaba de apparecer em Buenos

Ayres, sob a direcção do Sr. P. Rastouil.Traz artigos em francez e em hespanhol

cm que as novas idéias são sustentadas comrigorosa iogica e sublime elevação de pen«samento e de linguagem.

Fazemos votos para que encontre floridae plana a estrada, que o conduzirá á satis-facão do seu nobre c grande desideratum.

Agradecemos os números que nos foramrcmettidos, e pedimos licença para per-mu tar.

Conferências escolares

A 3o do passado começaram as Confe-rendas Escolares no Lyceu de S. Christo-vão, oecupando a tribuna o nosso amigo,o Sr. Dr. Ewerton Quadros, que por maisde uma hora discorreu sobre o mundo si-deraí.

O auditório selecto c numeroso não re

gateou-lhe applausos.

Les -Esprits Professem*»

E' o titulo do novo trabalho publicadoultimamente em França pela distineta eincansável propagandista, Mme. Antoi.nette Bourdin, que tanto tem já enrique-cido a litteratura Bourdin, que tanto temjá enriquecido a litteratura spirita.

Compõe-se a nova obra de uma serie decontos moraes, medianimicamente obtidospela auetora e escriptos em linguagemamena e clara.

Sentimos discordar da opinião da illustreescriptora na sustentação do seguintethema :

« O perdão d'aquelle que recebeu umaoffensa, apaga toda a culpa do offensor.

Não concordamos com essa idéia, quenos conduziria á negação da justiça divina.

Supponhamos que dous indivíduos A. eB. tenham feito a mesma offensa a dousoutros C. e D.; mas que C, sendo virtuosoe conhecedor das fraquezas do próximo,perdoe e abra os braços a A.; ao passoque D., sendo rancoroso, nunca perdoe aB. o mal que lhe fez ; se as faltas desappa-recém com o perdão do offendido, temosahi dous espiritos igualmente criminosos,um limpo de culpas e outro carregandocom as suas, sem que isso tenha provindode seus esforços, do seu merecimento ; eentão onde a justiça?

Para nós, o perdão das injurias só apro-veita ao que perdoa.

Os sorTrimcntos tendo por fim não casti-gar-nos pelas faltas que commettemos,mas sim regenerar-nos, impossibilitar areincidência, continuam até que o espiritotenha expellido de si, todos os germens desentimentos ruins que o impelliram áqueda.»

Pedimos desculpa, e só por sabermosque a distineta auetora é spirita convictae muito acima das pequeninas vaidadesda Terra, nos arriscamos a emittir umaopinião contraria á sua.

Aos nossos leitores aconselhamos o cs-tudo d'cssa obra, onde encontrarão leituraamena, substancial e muito instruetiva.

De coração agradecemos o exemplarcom que fomos mimoseados.

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ICONFERÊNCIA ESPIRITA

FEITA NA

FEDERAÇÃO SPIRITA BRAZILEIRA

Em 24 de rDe$embro de 188O

PELO

IDPl. CASTSO LOPES

11

0 espiritismo admitte como base im-

prescindivel a existência de Deus,motor inicial e unicodo universo: nellese resumem todas as perfeições levadasao infinito, elle é eterno, onmipotente.

Ninguém neste mundo cabalmenteo conhece, mas todos estão sujeitos ássuas leis.

Nosso desenvolvimento intellectual,por mais sábios que sejamos, não podecomprehender a noção grandiosa daDivindade, mas todos para ella tende-mos, como a phalena pWra luz.

O Deos austero da Biblia, implaca-velmente rancoroso, e vingativo, cas-tigaudo com penas eternas ligeirasfaltas de um momento, o feroz Jeho-vali, que ordenava a jugulação dos

que nelle não acreditavam, não é oDeos, que o espiritismo reconhece evenera.

O Deos, era quem elle crê, se nosmostra corno a expressão perfeita detoda a sciencia, e de toda a virtude :sua intelligencia se revela em suasobras; sua bondade na lei da reincar-nação, que nos permitte resgatar porexpiacões suecessivas nossas faltas, eelevar-nos até a infinita magestadede sua divina hypostasis.

O Deos, que nós espiritistas amamose veneramos, é o archetypo da infinita

grandeza, do infinito poder, da iníi-nita bondade, da infinita justiça I

E' a iniciativa creadora por excel-lencia; é a força incalculável,é a bar-monia universal 1

O Deos, que nós espiritistas adora-mos, paira por sobre a creação, envol-ve-a no infinito de sua vontade; pene*tra-a com sua razão: é por Elle que osuniversos se formam; que à* massascelestes rolam seos brilhantes esplen-dores nas profundezas do vácuo; é porElle que os planetas gravitam no es-

paço, formando resplendentes aureolasem torno dos soes!,....

Deos é a vida immeiisa, eterna, in-definivel; é o começo, e o fim; é o ai-

pha, e o oraega 1Deos é, como disse o Cardeal Ousa,

litteralmente imitado por Pascal, umcirculo, que tendo o centro em todasas partes, não tem a ci reuni fer encia li-mitada em parte alguma !...

O espiritismo nos ensina também aexistência da alma, isto é, do eu cons-ciente, immortal, e creado por Deos.O espiritismo ensina que Deos creouiguaes, simples, e ignorantes todos osespíritos, dotando-os de faculdadesiguaes para attingirem ao mesmo fim,á felicidade 1 O espiritismo crê que aconsciência, e o livre arbítrio nos fo-ram dados, a fim de que podessemapressar mais ou menos nossa evoluçãopara destinos superiores.

E' o m consciente, que adquire porsua vontade todas as sciencias, e todasas virtudes, que lhe são indispensáveispara se elevar na escalla dos seres:

O selvagem Hottentot, os Neros, osCaligulas, e os Attillas, attingirão pelofiltro de sucessivas reinCarnações, ograu de homem civilisado, e a perfei-ção moral de um Antônio de Padua,de um Francisco de Assis 1

Todos os homens são filhos de Deos,

que os creou para serem felizes; e anenhum desherderá da opulenciade seos thesouros, que éa virtude, e asabedoria.

A creação não se limita ao que po-dem alcançar nossos fracos instrtimen-tos; ella é infinita em sua immensi-dade 1 Não seremos exclusivosinquilinos deste globo ainda pequeno,mas cidadãos do universo,e habitantes

d'esses milhões de mundos, por' ondeperegrinaremos, como neste viajamospelos diversos paizes, que o consti-tuein.

0 espiritismo prega a mais puramoral, a moral do Christo; condemnao egoísmo; proclama a caridade, 0amor do próximo; e preceitua que nin-guem poderá ser feliz, si não amar aseus irmãos, a todos os homens semdistineção alguma de classe,condição,e pátria, si os não ajudar a progredirmoral, e materialmente.

Nunca philosophia alguma, comomuito bem observa Delanne, se elevouá tão alta concepção da vida universalpregando ao mesmo tempo unia moralmais pura...

Possuidores d'esta sublime verdade,apresentemol-a ao mundo, e a esses(pae, á nós se queiram unir,mostrando-lhes alem de tudo que ella se firma nasbases inabaláveis da observação phy-sica.

Eu vos assegurei que a victoria eracerta ; mas seródia; tomei até a liber-dade de vos aconselhar uma espera pa-ciente, tanto mais fácil de supportar,quanto a nova doutrina tem relativa-mente progredido por toda a parte deum modo rápido, e insólito nas gran-des conquistas do espirito; mas nemhoje,em que a lueta está travadaynemmesmo depois de alcançada a victoria,não façaes do espiritismo, eu vos peco,mais do que uma opinião philosophica.Lembrae-vos das palavras do grandefundador do cliristianismo: elle nãocessava de repetir que não tinha vindopara reformar alei referindo-se á lei deDeos, e não á lei disciplinar de Eoysésentão dominante, que essa elle não

perdia oceasião de verberar e pro.ster-gar: elle não cessava de repetir quenão tinha vindo para derribar, mas

para confirmar a lei isto é, lei de Deos,o decalogo.

Si o espiritismo é, como não _ soffreduvida, a pura doutrina do Christo,si-gamos a ordem do Mestre; e o mundoOfficial que continue a se emmaranharno erro, inventando e pervertendoaquella sublime doutrina, até que pelaacção poderosa do tempo, e natural

progresso (i«í> cousas, sem violências,nem mesmo as da discussão, a todoschegue c ülumine a luz da verdade.

Lembrae-vos de que foi a propagamda do cliristianismo, formada pelascongregações dos seos sectários, quedeo origem ao que hoje se chama —Igreja— a qual monopolisando a fa-cuidado de interpretar essa doutrinausurpou por muiios séculos, e preten-de ainda manter o direito exclusivo den-overnar os homens, e até as consci-Dencias.l

mTalvez vos pareça singular o meomodo de pensar, querendo que umaidéa de enraize, e floresça, evitandoa formação de núcleos, de associações,de corpos collectivos cotn caracter dog-matico; mas eu vou justificar o meu

pensamento.Quandosurgio o movimento christão

o mundo vivia sob o domínio de idéasdiametralmente oppostas: o christia-nismo pregava a humildade, a cari-dade, a immórtalidade da alma, aigualdade entre todos os homens, aexistência de um só Deos; e todos estespontos eram outros tantos paradoxos,segundo a opinião que então dominavao inundo.

Era preciso vencer pela palavra, epelo exemplo; crear proselytos; final-mente converter o gentil istiio nocliristianismo: d'ahi a necessidade doapostolado, da creação, ein diversospontos da terra, d'essas asssociações,a que se deo o nome genérico de igrejaqualiíicando-as, conforme se acharamem tal, ou tal região.

Mas si por uma parte, este modo depropaganda produzio o salutar effeitode vulgarisar, e implantara doutrinado Christo, por outro lado, essesmesmos núcleos, essas mesmas asso-ciações parciaes, que nos tempos pri-mitivos professavam com maior*pureza

o ensino do Jesus, foram com o correrdos séculos alterando, modificandoesse ensino, e assumindo prerogativas,(que nunca pela mente do Christo pas-saram) até que teve tudo isso comoresultado final a Igreja romana comam chefe, cesses outros schismas, em(pie se dividiu, e subdividio o chris-tianismo.

O próprio Christo, vidente,como eratinha dicto que elle não viera paratrazer a paz mas a espada. \

E' que o Nazareno bem sabia que asua doutrina, pregada por numerosascorporações, embora formadas de se-etários do seo ensino, se abastardaria,degeneraria, pelas dissidências maisou menos profundas entre seus pro-prios propagadores.

().sapóstolos Pedro, e Paulo foram o.sprimeiros a dar o exemplo de diver-"•encia em questão doutrinai.

Hoje as circuinstancias mudaram;o.s tempos são outros ; a idéa christanestá vulgarisada, ha quasi dous milannos; mas a arvore plantada no Cal-vario não produzio ainda todos os ex-c.ollentes fruetos, que pôde, e ha deproduzir; porque seos cultores lheteem inoculado nocivos enxertos.

Aquelle porém, que está sempre vi-

gilante, efaz opportunamente appare-cer o movei necessário para se cum-prirem os grandes fins de sua inson-davel sapiência, permittio que na ul-tinia metade do século actual, nãomais em uma província, como a Judéa,tributaria de um império já decadente,mas em um paiz de vigorosa inicia-tiva, na capital da America do Norte,se ínanifestassem os primeiros signaesda nova sciencia, cujo fim providencialé retemperar, e resliluir d primitivapureza o ensino, e a doutrina do mar-tqr do Gqlgolha.

O progresso em quasi todos os ramosde sciencia attinge no momento actuala um grau elevado ; as intelligeuciasestão suílicientemente preparadas ; oabastárdamentü,e degeneraeão da idéachristan, causados pelo catholicismo,e pelos difterentes schismas, e seitasreligiosas, deram nascimento á sub-versiva invasão do materialismo deBukner e Moleschott; do positivismode Augusto Comte, e á descrençao*eral : melhor não podia ser a oppor-tunidade do apparecimento do Espi-ritismo '. Como a chuva salvadora daseara, e inevitável conseqüência doscalores do estio, o Espiritismo surgeno momento, em que devia surgir!

Em taes circumstancias, não ha ne-cessidade de apostolado ; o livro vale

por mil apóstolos; a imprensa é umavoz, que contra todas as leis da açus-tica sem ter timbre, sem ser o resul-tado da vibração do ar, percorre omundo inteiro, e é ouvida,sem que oseo som jamais se possa extinguir, aténos mais recônditos ângulos da terra !

Não é pois necessário que se formemcorporações para propagar o Espiri-tismo : nada que tenha apparencia deconfrarias, irmandades, synagogas, eigrejas : nada de ritos, nada de insi-

gniãs, nada de formulas, amuletos, ta-lisíhans, relíquias ; nada de culto ex-terno. Adore-se a Deus em espirito, everdade, como nos aconselha Jesus,

que por único culto, por únicas for-mulas, por unicos ritos, dizia: « Amara Deus, e ao próximo como a nósmesmos, eis toda a lei, e os Pito-PHETA.S, »

() Espiritismo portanto deverá sersempre tido e mantido como uma opi-nião, uma doutrina pliilosophica; a

qual formará de cada homem, con-vido pelas provas experimentaes, c

por aqnellas que theoricamente tiveradquirido nos livros respectivos, umchristão no verdadeiro sentido da pa-lavra.

As formulas, os ritos, os cultos es-péciaes, as associações de caracter re-ligioso só podem trazer para o Espi-ritismo o inconveniente, que resultasempre, era todas as cousas, da repe-tição de actos ; repetição, que cons-

tittie o habito, isto é, um modo de pro-ceder quasi automático e inconsciente.

Esses conciliabulossão quasi sempreos focos, onde germina o fanatismo, ed'onde nascem schismas, e dissideu-cias.

Senhores, eu devo dizer a verdadeinteira. Já mostrei quaes eram ospriucipaes inimigos do Espiri tismo;mas cumpre-me ainda fazer-vos notar• pie além da vaidade, que enfatúa aquasi todos os homens de sciencia ;além do interesse de uma corporaçãopoderosa, tão amante das trevas, queaté da cor das trevas se veste ; alémdas massas apedentas ; além do nu-mero avultadissimo dos que podendo,não querem absolutamente ler, e men-tem quando dizem que tem lido obrassobre Espiritismo ; além de todos estesobstáculos, ba o medo infantil dasalmas do outro mundo!! O homem,ainda mesmo velho, é sempre a criançagrande. Muitos, que por seo tempera-mento, sua profissão, sua idade, vosparecera talvez ser isentos de supersti-ções, e d'esses terrores, com que nainfância foram embalados, conservamainda os mesmos preconceitos, e sópor pejo é que os não confessara. Bemdisse o poeta :

V-

ci O medo é natural a toda a ^ente;Sabêl-o distarçar é ser valente. »

Mas,senhores, oceorre-me repentina-mente neste instante um pensamento,uma idéa, que tem toda a ligação como assunipto, de que tenho tratado;idéa, que levar-me-hia a discorrerquasi interminaveluiente : entretantoconheço que não vos devo fatigar.

Senhores, o dia de hoje marca amaior das datas na historia da huraa-n idade.

No dia de hoje se completam 19 se-culos menos três lustros, em que umdos mais puros espíritos, um enviadode Deus, como elle próprio se denomi-nava, veio ensinar ao inundo a únicae verdadeira doutrina, a mais santamoral, a mais elevada de todas as phi-losophias !

O dia de hoje é o ànniversario da-quelle varão, que foi o archetypo dahumildade, da doçura, da mansidão ;o exemplar nunca excedido do amordo próximo 1 O dia de hoje é o dia na-

- talicio do amável Jesus 1...Qué esta circumstancia solemne im-

prima nas toscas palavras, que vostenho dirigido, a força de uma con-vicção penetrante 1

E já que vos recordei o glorioso dianatal, (que a igreja catholica errada-mente commemora amanhã) vou fazer-vos dous pedidos.

Em primeiro logar, erguei-vos, er-"•uei-vos todos que me honraes com avossa attenção; erguei-vos ; (todo oauditório se levantou immediata-mente) e com o pensamento em Deus,e seguindo ainda o exemplo de Jesus,faxei mentalmente fervorosas precespor todos os que soffrera,e por aquelles,<pie voluntária ou involuntariamentelaborando era erro,não abraçaram aindao Espiritismo, e lhe são adversos.

Em segundo logar, eu vos convidoa lançar no gazophilacio, como ou-tr'oraera Jerusalém a pobre viuva,umòbolo, um óbolo somente para ajudara redempção dos captivos ; porque nodia, em que nasceo Jesus, nasceo tam-bem para o mundo a liberdade 1...

Rio de Janeiro, 24 de Dezembro de1885.

Dr. Castro Lopes

I7J31srS^\-2vZCElSrTO

Não vos consumaos na louca pro-cura das riquezas terrenacs,que a po-dridao corrompe c os vermes podemdestruir; buscai os thesouros de sen-

timentos nobres c elevados que não

morrem c vos seguirão na eterni-

dade.

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Do &Biieidio

As folhas publicas desta capitalderam noticia ultimam ente do sui-cidios que, como quasi sempreacontece, se suecederam uns apósoutros.

A Imperial Academia dó Medi-cina no louvável empenho de, im-pedir a propagação do mal, cujacausa attribuc a uma morbidez doorganismo, manifestou o desejo de

que o jornalismo fluminense nãopublicasse noticias circumstancia-das sobre suicídios; c um acreditadoorgam de publicidade tratou desteassumpto em artigo principal e combastante proficiência, opinando que,sendo o suicídio uma enfermidademoral, não devo a imprensa limi-tar-se á não divulgação do facto,mas sanear a atmosphera physicapara impedir o viciamento do or-ganismo humano.

Não seremos nós, sem duvida,quem venha combater o sentimentohumanitário revelado por aquellesbeneméritos e illustrados cidadãos ;ao contrario, ante tão desusada at-titude curvamos-nos reverentes enão poderemos melhor expressarnossa sincera adhesão por estacausa commum do (pie expondoaqui as sublimes verdades revê-ladas pelos Espiritos acerca do sui-cidio; conciliando assim o dever dejustificar o titulo desta folha coma intima satisfação de concorrercom um fortíssimo contingente paraevitar a repetição do mal.

Nunca com o fim de entreter dis-cussões.

Antes, porém, de o-fazermos pe-dimos venia para expender simplesconsiderações sobro algumas apre-ciações feitas acerca do assumpto,visto que, a nosso ver, estão emdesaccordo com os factos que temosnotado, quer no meio social, quernas manifestações espirituacs.

Em primeiro lugar não podemosdeixar igualmente de cpndemnai' afalta de caridade com que a Igrejarecusa ao suicida sepultura no re-cinto consagrado aos fieis; mas esteacto não surprehcnde por estar deharmonia com a multidão de aiia-themas por ella lançado contraaquelles que mais necessitam damisericórdia divina. A civilisaçãòcaminha e a tolerância entre o poderecclcsiastico o o poder civil <'• provaevidente de que os povos já nãosupportam cadáveres pútridos e, in-sepultos de suicidas, nem a salga decadáveres de conspiradores, ou asfogueiras para a queima de infiéis !

Não aceitamos, entretanto, aopi-nião emittida de que << na anligui-dade o suicídio chegou a ser heróicoforque significava uma virtude, c quemodernamente elle o não pôde nerporque exprime apenas uma debili-dade ».

O exemplo citado do indivíduoseminentes, cujos nomes a histo-ria antiga consigna e que sui-cidaram-se por não poderem sobre-viver á victoria das idéas contrariaspor elles julgadas iníquas, significapara nós apenas que os homensestavam muito maisatrazados morale intellectualmente, c que, o suici-dio attingindo então indivíduos dotodas as classes sociaes, só menteaquelles e outros factos foram re-gistrados em virtude da posiçãoque oecupavam. seus protogonistas.

Em taes condições o suicídio pódcconstituir heroicidade, devido aosfeitos anteriores do suicida, pelos

a

quaes elle se fizera horóe para asua pátria., mas a resolução tio darcabo da vida para não se verames-quinlíado diante do vencedor de-nota sem duvida, pronunciado or-gtilho e selvagem covardia.

Se possuíssemos estatísticas dossuicídios daquelles tempos, coracerteza veríamos a semelhança re-lativa dos casos, de modo que entãocomo hoje, o suicídio não poderásignificar uma virtude, mas sigiú-ficará sempre Uma debilidade, sejade ordem physica seja de ordemmoral.

Por outro bulo se Catão de JJticae Marco Junio Bruto foram herdesporque se suicidaram naquellas.con-dições,também em iguaes o, talvezmais aprociavis, outros indivíduoscontemporâneos preferiram ma-tar-se: pelo facto de oecuparem po-sição inferior não tratará delleshistoria.

Na guerra do Daraguay, porexemplo, houve casos em que ossoldados de Lopes aprisionados noardor do combate, não podendomatar, mataram-se.

E' certo que os padres tinliampregado que aquelle que morresse,em defeza da pátria ressuscitariaem Assumpção -. mas não ,sc podoaffirmar que tal crença fosse geral-monte seguida.

Ha pouco tempo um joven abo-liciohista, exaltado, propugnadoi-da lei formulada pelo gabineteDantas, acreditando perdida a cs-perança de êxito feliz para a suacausa, suicidou-se.

Agora mesmo acaba de suici-dar-se em Lavras, Minas, um ei-dadão chefe de partido, por ter ca-bidò a victoria das eleições paradeputados tio candidato contrarioao seu.

Estes indivíduos, não oecupandoalta posição, mantinham um certográo de civismo, embora a seumodo.

Factos isolados, portanto, nãopodem contribuir para a conclusãocm absoluto de que nos tempos dopaganismo eram causas de certaordem elevada que levavam cida-dadãos virtuosos a tentarem contraseus dias e que, nos tempos moder-nos, devido á perversão de meio emque vivemos, os suicidas são arras-tados por sentimentos menos lou-vaveis.

O suicida, quando não ó reco-nhecidnmento louco, é sempre uminfeliz que sueeumbe por não ter aforca necessária para resistir aoschoques das vicissitud.es terrenas ccomo tal é merecedor de, compaixão.Cobrir :t sua memória de baldões eapplaúdir o suecesso como desfechodigno das circumstanciás em quese achou o autor (scinindo fez umafolha hebdomadária) é uma missãoerrada e opposta áqncila que devemseguir os que se dirigem ás massasmenos instruídas.

As causas predisponentes ao sui-cidio, sobretudo aos que se produ-zem com um caracter que, pi da re-producção do facto, passou a serdenominado—epidemia ou por imi-tação— devem ser examinadas forado campo da luta e em vez detornar a perversão da sociedade res-pons.avel por este crime, em voz deencarar o suicida como victimadessa sociedade, consideremos quecada um é o único responsável dosactos bons ou máos que praticapara com seu semelhante ou paraconsigo mesmo, e que a humani-

a perda üdigenoia,

dade, pi'on'i'cdindo sempre, a ovo-lução pára o bem vae. se operandolentamente, ile, modo que é impôs-sivel haver Hoje sociedade cwilisadamais atrasada do que as que exis-tiram nos tempos anteriores aosnossos e cm qualquer ponto do pia-neta ¦ acharemos então que o at.razonão é da sociedade, mas do indivi-duo qne delia busca eliminar-so pormeio do crime por não poder subor-dinaros acontecimentos ao caprichode sua vontade para consecução, amaior parte das vezes, de uma ie-liçidáde illusoria.

Ascmitrariedados da vida, as do-ehças, as perseguições e injustiças,

Ias pessoas amadas, a. iu-o ócio, emfim todas as

dores physicas e. moraes (pie cons-tituein o sorifímento, são outrostantos elementos do progresso.Taes elementos foram de todos ostempos cm nosso planeta; elles nãoconduzem o homem á perdição eao aniquilamento mas á perfeição eá felicidade, porque immcnso é onumero dos que soffrem o propor-cionalmcnte limitadíssimo o nu-mero dos que succumbcin na luta.

O suicida, voluntário, isto é,aquelle que hão é victima de uniuaífecção mental, busca quasi sem-pre fugir a esse, sofírimento, e pensaque, acabando com o corpo, escapaa seus desgostos.

Infeliz! Como se engana.Acccitar sem murmurar todos

esses males; perdoar aquelles (pienos fazem soifrer; abençoar mesmotal soffri monto, eis o que é dillicilcomprehender e muito mais prati-car pelas nossas imperfeições. En-tretanto, superados esses tranzes,abatido o orgulho, abolida a ambi-ção o o egoismo c vencidas todas asmás paixões não mais se darão sui-cidios.

Beinavcnturados aquelles quepodem tudo isso conseguir em ai-gramas énòarnacões.

Transcrevemos abaixo em resu-mo o que diz ;t doutrina revelada eque se acha comprovada pelas com-ínunicações daquelles que puzeremtermo á vida por falta d(

a sua falta pela intenção, mas nempor isso deixa de commettel-a.

«—O que tira a vida a si mesmona esperança do chegar mais cedo auma outra melhor, faz igualmentemal; faça o bem que mais certoestará de lá chegar; retarda assima suaentrada mu um mundo melhore elle, próprio pedirá para vir aca-bar esta vida que cortou por umafalsa idéia.

«— O sacrifício da vida para sal-var a de, outrem ou para ser util aseus semelhantes é sempre mérito-rio, não é um suicídio; mas nãodeve haver nisso interesse ou or-

coragemsulliciente para supportal-a.

«— As contrariedades são prova-ções ou expiações que Deus nosOfferece para attingirmos de novo asimplicidade e pureza em quefomoseivados afim de tocarmos a porfec-tibilidàdc pelo mérito próprio.

«— Os que levaram o infeliz nosuicídio soffrerão as conseqüênciasporque têm de, responder como porum assassinato.

«-—O homem que luta com as ne-eessidades e que se deixa morrer dedesespero é um suicida, mas aqucl-les (pie foram a causa ou que teriampodido obstar, são mais culpadosque elle. Não acrediteis que elleseja inteiramente absolvido se foipor falta de firmeza.

"Desgraçados

principalmente daquelles cujo de-sespero nasce do orgulho, isto é,que se envergonham de dever a vidaao trabalho das suas mãos e quepreferem morrer de fome antes doque renunciarem ao que chamamsua posição social!

«—O suicida que tem por obje-cto fugir da vergonha de uma máacção não destroe a falta,eoinmettcduas em logar de uma.

«— Aquelle que se, suicida com ofim de obstar a que a vergonha re-caia sobre seus filhos ou sobre, a fa-milia não faz bom, mas elle o pensae Deus lhe levará cm conta. Attcnua

gulho.«— O homem que morre victima

do abuso de paixões que sabe queha de apressar-lheo seu termo,com-mcttc um suicídio moral c c dupla-niente culpado.»

«— Quando alguém abrevia osseus soffrimentos com uma mortevoluntária por ver diante de si umamorte inevitável o terrível torna-seculpado por não esperar o termomarcado por Deus.

<{—Demais estará elle bem certo((tte esse termo seja chegado apesardas apparcneias, e não se poderáser soecorrido inesperadamente noultimo momento ?

«— Por esta falta de resignaçãoterá de soffrcr uma expiaoão pro-porcionada á gravidade da falta;como sempre, conforme as circums-tancias.

«— Aquelles que se matam coma esperança de se unirem ás pos-soas que lhe são caras, cuja perdanão podem supportar, não conso-guem o seu fim; o resultado paraelles é inteiramente difíerente d'a-quclle que elles esperam, c cm vezde se reunirem ao objecto de suasafíoiçõcs,afastam-se por muito maistempo d'cllo, porque Deus não poderecompensar um acto de covardia eo insulto que lhe é feito duvidandode sua providencia.

«—¦ Ei n ai mente, as consequen-cias do suicídio são mui diversas;não ha penas fixas, c em todos oscasos são sempre relativas ás cau-sas que o levaram a commcttcr ocrime; mas uma conseqüência áqual o suicida não pode escapar é odesapontamento.

«— Alem de que a sorte não o amesma para todos: depende das eir-cumstancias; alguns expiam assuas faltas immcdiatamente, outrosom uma nova existência que será

peior que aquella cujo curso ellesinterromperam.»

A oração c um halsamo santd

para todas as feridas d'alma; porcila esquecidos das penas o contra-riedades da vida terrena, nosso es-

pirito entra em relação com seus

protectores invisíveis e d'elles re-

bece da parte de Deus a força par-j,reagir, a resignação c o conforto.

A morte c o comece da vidaeterna, da vida rival do espirito, deixando na terra despedaçados osgrilhões qu0 o prendiam ás miso-rias da vida corporal.

Tjy. r. do Hospício, 147

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PUBLICAÇÃO QUINZENAL

01-611 M Fl§IIMÍf Üilf 1 filillllillAbbbbo IV Uvar.il — Rio de Janeiro — 1880 — EevereÍB*o — 15

EXPEDIENTEE* IIOSSO eoB>B*e.s|>ondente

Cbbi H. Paulo o biomno confradeo .Sb*. NaBBtos Cfl*iflz .lunioi-.qiieestá antoi*isado a tratar detodos os iBCgoeios concenicii-tes no a IlIJ OIKHAlftOlC. d

ESTUDA QUE HAS DE CRER

Já vão longe os tempos cm que,por falta de luzes, o homem aceita-va as imposições da fé cega, sempensar, sem buscar a razão, umaexplicação sciontifica o racional d'a-quillo cm que lho mandavam crer.

Hoje, devorado pela sôdo ardentede tudo estudar o comprehender,elle investiga, servindo-se dos re-cursos todos que Deus poz a seu ai-cance, para entrar no conhecimentoda verdade, pondo assim em praticaa sentença do Christo : Nada ha deoceulto que não deva ser dcscohcr-to e proclamado ao mundo.

A luta ó gigante, porque a pers-crutação c decifração dos mysteriosda natureza, se levantam o nivcl in-tellectualda humanidade terrena,ferem o prestigio das classes, cujopoderio se baseia somente na igno-rancia e fanatismo das massas.

0 tempo dos milagres incompre-hensiveis e inexplicáveis passou ;hoje a sciencia, aprofundando tudo,acha na applicação das leis natu-raes a solução simples e racional detodos os phenomenos ,que enchiamnossos pais de supersticioso terror eque, pela grandeza sublime de suasimplicidade, causam cm nós pas-mo e admiração.*

Nem, por isso, se diga que asciencia moderna pretende, em sualouca e pretenciosa presumpção,negar a Divindade, advogando acausa do materialismo atheu.

Tudo no mundo é regido pelasleis eternas e absolutas estabeleci-das pelo Creador, motivo pelo qualpodemos dizer sem medo que nadaacontece sem o consentimento deDeus, que nem um só cabello nanossa cabeça cahirá sem a sua von-tade.

O magnetismo, esse fluido mara-vilhoso que liga em um só todo a

N. 98

creação inteira, essa alavanca pode-rosa de progresso que o Omnipo-tente poz á nossa disposição, paranos elevarmos todos auxiliando-nosreciprocamente, está hoje fazendoverdadeiros milagres, curas espan-tosas que,pelo facto de conhecermoso meio empregado, não são menosdignas de admiração que as cffcc-tuadas pelos antigos, que nãoconheciam o recurso de que lan-cavam mão, que só admittiam umaintervenção divina, som curar domodo por que se cumpria tal inter-venção.

Vem a propósito fallar mos de umfacto acontecido ultimamente emCastellamarc, perto de Nápoles, doqual se oecupa o Messager de Liege,com a cpigraphc Milagre e Magne-tismo.

Vivia nessa cidade um joven denome Paolo Conte, destinado porsua familia ao estado ccclcsiastiçp,c que desde criança soffria de hor-ri veis ataques de epilepsia. Um diaem um de seus momentos de allaci-nação, como diz a gente da moda,de desprendimento espiritual, comodizemos nós, viu elle a figura dePio IX que lhe disse: « Curaras, sotocares um dos meus autographos.»

Voltando a si, foi o joven ter como Sr. Sarnelli, bispo de Castella-maré, que sem demora apresentou-lhe uma carta do fallccido ponti-lice; e de repente todos os sympto-mas do mal desapparcccram.

Tratou logo o clero de divulgar omilagre, fortalecendo a sua narra-tiva com attestados dos mcdicos,quedesde criança tinham acompanhadoá enfermidade de Conte. Toda a po-pulação de Castellamarc estava ex-tasiada diante do prodígio, c o pro-prij Leão XIII não recebeu-o commaus olhos.

Deu-se, porém, ura contratemposerio, o mal reappareceu com maiorintensidade, c d'esta vez a familiado joven Conte confiou-o aos cuida-dos do Dr. Catello Fusco, que eu-rou-o pelo magnetismo.

São incríveis os despropósitos, osactos de loucura praticados entãopelos fanáticos doromanismo contraa pessoa do pobre moço; o bispofel-o despir a sotaina como indigno

d'ella por ser um poxsesso, um nervode Satanaz, ( oh ! caridade christanonde te escondes hoje ?) homens dopovo ignorante c fanático atacaramConte nas ruas, insultaram-n'oatrozmente, maltrataram-no compancadas e amcaçaram-n'o com amorte, se não sahisse d'ali.

Os culpados estão respondendoperante a sexta secção do tribunalcorrecional de Nápoles.

Teve o joven de retirar-se parauma cidade perto da Torre Annue-ziata, mas nem ahi foi poupado pelasanha de seus perseguidores; narua foi elle ainda atacado e esbofe-teado.

Deixemos porém, de parte essasscenas tão tristes, e que nada maissão que combustíveis lançados im-previdentemente polo próprio cleroromano, na fogueira que o tem dedevorar. Nosso fim é estudar o factoá luz da razão e da sciencia.

«Se tiverdes fé,disse Jesus, trans-portareis montanhas.» A fé levantanosso espirito ás altas regiões quenos circumdam e ahi,com o auxiliode nossos protectores invisíveis,por Deus incumbidos de nos auxi-liarem em nossa marcha para a per-feição, colhe fluidos puros, fluidosnão viciados pelas emanações ter-renas, com as quaes elle conseguedar alivio ás penas que lhe que-brantam o organismo.

O homem, porém, é ainda atraza-do, o precisa de uma imagem ma-terial em que fixe o seu pensa-mento, para ir ao longe colher essesfluidos de que tem necessidade.

Os fetiches dos selvicolas daÁfrica, os Ídolos dos bárbaros, asimagens innumcraveis que ador-nam os templos dos idolatras mo-dernos, não são mais que meios in-directos para despertar no homem afé, para levantal-o até os invisi-veis encarregados de auxilial-o cmsua perigrinacão terrena.

Quantas vezes a presença de umcerto e determinado medico produzgrande parte da cura do enfermoque elle visita. São factos de ipso-magnetismo. O enfermo sentindo-seauxiliado por uma pessoa ou um ob-jecto, cm cuja influencia benéficaelle confia, attrahe a si os fluidos

próprios para produzir a cura doseu organismo.

Cremos que realmente foi o espi-rito do pontifico Pio IX que mani-festou-se ao joven Conte, cujaeducação visava toda a vida eccle-siastica, o cuja sympathia pela suamemória elle conhecia, afim de poresse modo dar-lhe a confiança deque precisava para elevar-se a Deus.

Com o desapparecimcnto dossympto mas do mal, a crença, queera nelle toda artificial e de mo-mento, arrefeceu, e a moléstia queainda não estava debelada, voltou.

Foi então que o Dr. Catello Fus-co tentou a cura pelo magnetismo,e conseguiu-o. Conhecedor da sei-eucia magnética, este poude em-pregar os fluidos próprios para ex-pellir os princípios mórbidos erestabelecer o equilíbrio n'esse or-ganismo enfraquecido por tão pro-longada enfermidade.

Findava ahi o desenvolvimentodo thema que nos propozemos dis-cutir;como, porém,possam os nossosleitores ter alguma curiosidade desaber como isso terminou em rela-ção ao joven Conte, diremos que,deu-se um facto ultimo que,de forma nenhuma, deve ter agra-dado aos seus inimigos.

Achava-se cm Caslellamarc, emcompanhia de sua mãi, uma jovenfranceza, Mllc. Jenny Bonnu, quetocada das desditas de Conte deque as folhas se oecupavam, desejouvcl-o;d'ahi nasceu a sympathia en-tre elles, resultou um casamentoque trouxe ao pobre perseguidouma fortuna de cinco milhões e oi-tocentos mil francos, augmentadaainda dias depois com mais trez mi-lhões que um tio de sua mulherlcírou-lhe em seu testamento.

Feliz o homem que vive com opensamento cm Deus ! Feliz o quese desenfastia dos labores da vidapensando no Senhor creador detodas as cousas ! Feliz o que cantacm seu louvor, segue seus preceitose conserva-se fiel á sua lei.

Dos Vedas

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Toda a correspondência deve ser diri-gidn a

A. BUias da Silva

120 RUA DA CARIOCA 120—«:»—

Oa trabalhos de reconhecido interessegeral serão publicados gratuitamente.

A terra atravez. dos tempos

ÉPOCA DE TRANSIÇÃO

1Como vimos, durante a época pri-

mitiva a temperatura era muito ele-vada, para que a vida orgânica sepodesse manifestar na superfície daterra. As trevas de uma noite cerradacobriam o berço do mundo; a atmos-phera excessivamente carregada devapores impedia que os raios do sol lhetrouxessem a luz e a fecundidade; osolo, porém, continuando a resfriar-sepela irradiação, o furor dos elementosrevolucionados se foi apasiguanlo, aságuas tiveram maior estabilidade, osterrenos de sedimento deixaram de sercontinuamente alterados e modifica-dos pilas ernpçõos das rochas ignease, no meio d'essa calma relativa, avida ap pareceu.

Bem de pressa nos terrenos sedi-mentarios descobertos estendeu-se umverde tapete formado pelas maissimples acotyledonias, as quaes, apo-drecendo, deram nascimento ao húmusnecessário para fértilisar as terras.Carregada de ácido carbônico, a atmos-phera estava nas condições de alimen-tar a respiração das plantas, e o soloerabebido d°agua nas de fornecer-lhesos elementos para o seu desenvolvi-mento.

Os primeiros terrenos sedimenta-rios, os que nos parecera mais antigossão os da camada laurenciana que seencontra nas visinhanças do rioS. Lourenço, na America Sptentrio-nal, e que correspondem a certas for-mações gneissicas da Bohemia e donorte da Escossia.

Ella constitue ao norte do dictorio uma vasta aggloraeracão de peda-ços de rochas christalinas de gneiss,micaschisto, quartzito e calcareo, at-tingindo, ás vezes, uma espessura de10:000 metros e oecupando uma áreade 324 kilometros quadrados. A estacamada seguem-se a huroniana e ataconiana na America, correspondeu-do á cambriana, da Inglaterra, ecompostas de schistos alternados coraareias, na perte inferior, e de rochasmicaceas e schistos negros, na supe-rior, caracterisada por glóbulos pe-treos oupisolitos.

O terreno siluriano, posterior aoscitados, se subdivide em três andares,caracterisados: o primeiro por cama-das arenaceas, schistos cinzentos, grése comglomerados; o segundo porschistos e um grés duro, atravessadopor leitos de conglomerados e depoispor um grés calcareo avermelhado;e o terceiro por ura calcareo argillosoe ura grés raicaceo, amarellado e de-pois avermelhado e duro.

Os terrenos devonianos, que são osque se seguem, se compõem, no começo, de pudingues aos quaes suece-dera logo grés, oferecendo diversasalternâncias e cobertos por grés schis-tosos, mais ou menos finos, schistos devarias espécies e calcareos, no meiodos quaes se encontram camadas deanthracito.

A parte superior do terreno devo-niano é oecupada por um grupo des-ignado com o nome de velho grésvermelho, em razão de sua riqueza emoxydo de ferro.

O tecido frouxo e facilmente ataca-vel pelos agentes atmosphericos dasprimeiras plantas que surgiram nasuperfície terrena, deu lugar a que(Tellas desapparecessera todos os ves-tigios, de modo que estes só se nosvenham apresentar no período devo-niano. Os vegetaes eram então repre-sentados por cryptogamas, plantas daconstituição mais elementar : algas,lichens, musgos e cogurnellos ; aosquaes depois se associaram outros deestruetura menos simples, como oceguisetüm sismondee. Não se deu omesmo com os animaes, cujas partesduras resistiram melhor á acção de-componente dos agentes exteriores.

Com o terreno cambriano começoua fauna, a que verdadeiramente po-demos dar o epitheto de primordial eque se continua no período siluriano.

Tudo indica que n'esse tempo onosso planeta achava-se, em grandeparte, coherto por mares de uma tem-peratura assaz uniforme, nos quaes osanimaes marinhos se desenvolviamrapidamente, a julgarmos pelo grandenumero de espécies e gêneros que oterreno siluriano encerra.

Annelides e crustáceos de um typopouco elevado apparecem no cam-briano inferior; bryozoarios e outrospequenos seres encerrados em cellulaspétreas, como polypos, graptolithos,pteropodos e brachiopodos, que podemser considerados como os precursoresdas classes assim denominadas.

Essa fauna primordial é sobretudocaracterisada por certos gêneros datribu dostrilobitas, crustáceos que nãomais se mostram nos períodos poste-riores, mas que continuaram a vivernos segundo e terceiro períodos daépoca^ geológica inicial. Foram osprimeiros animaes dotados de orgamde visão. Elles se multiplicara sihgu-larraente nas formações mais altas dosiluriano inferior, mostrando-nos queos crustáceos podem viver em águasmais salgadas, que as que os peixes eos molluscos podem supportar. Osmares de então eram mais salgadosque 03 de hoje.

Ao lado dos trilobitas viviam zoo-pintos, echinodermas e molluscos deuma estruetura bizarra, chamadosorthoceratites e hgppurites.

Quando se depositaram as ultimascamadas do terreno siluriano, abun-davam nos mares terrenos os coraes,os gasteropodos e os brachiopodos,bem como os cephalopodos, a classemais elevada do ramo dos molluscos.

Os echinodermas, representados pe-los echinidos no período cambriano,apresentam typos muito variados, nosandares que se lhe suecederam.

Entre os grandes polypos que ca-racterisam o siluriano superior, é no-tavel o cyathopliylon-turbinatum, bemcomo o coral a que damos o nome decatenipora escliaroiides.

Os peixes começaram com o períodosiluriano, quando o mar cobria grandeparte da Europa e das duas Ameri-cas, e eram representados por indi vi-duos cartilaginosos,de corpo e focinhoalongados.

No período devoniano as espéciesichthyologicas se multiplicara, appa-recendo as dos peixes ganoides, deesqueleto ossoso, família que tem hojeo seu representante no bicher do Nilo.

Depois vão surgindo novas varie-dades, e os typos primitivos desappa-recém.

Do seio do vasto oceano, habitadopor molluscos, polypos, actiuozoarios,echinodermas e caíceolos, levantaram-se ilhas no período devoniano, ondecomeçou a vida dos insectos, queentão nos mostram um typo gigan-tesco da familia dos ephemerines.

Essas ilhas cobriram-se logo de uma

vegetação vigorosa de fetos arbore-eentes, calamitas, equisetaceas, lyco-podiaceas e coniferas, de dimensõesextraordinárias, formando immensasflorestas que, submergidas por novoscataclysmos ou arrastadas depois desua queda, foram sepultadas sobnovas camadas de sedimento.

Absorvendo o ácido carbônico do ar,as plantas tornavam a terra própriapara nella poderem viver os animaesde uma organisação mais elevada.

O período carbonifero snecede a essaprimeira idade da vida do nosso pia-neta, ligando-se sua produecão á de-voniana por uma formação'de calca-reo authracitoso.

As condições climatericas dessestempos que já vão tão longe de nos,nos fazem comprehender os caracte-res que distinguem essa vegetaçãoprimitiva.

Chuvas continuas, intenso calor euma luz fraca, velada por nevoeirospermanentes, engendravam essa floratoda especial, na qual vãmente se bus-cará alguma analogia com a dos nos-sos dias.

(Continua).

IB. IBnria BB. da ConceiçitoBBaptisfa

Com a idade de 65 annos, depois delongo padecimento, legou ;i terra ao if> docorrente o instrumento de progresso quedelia recebera, D. Maria Balbina da Con-ceição Baptista, sogra do nosso distinetoconsocio, o Sr. Elias da Silva,indo receberna morada dos felizes o prêmio que Deusreserva aos trabalhadores de boa vontade.

Spirita-convicta, teve a dita de ver todaa sua familia abraçar as sublimes idéias dasanta doutrina que o Christo, ha desenoveséculos, trouxe ao mundo; e partiu com aconsoladora certeza de poder entrar emrelação com seus parentes e amigos, eguial-os com seus conselhos nos aíflictivostranses da vida terrena.

Era sócia fundadora da Federação Spi-rita Brasileira, que commemorará seupassamento amanhã, i6,com uma sessãomagna para a qual são convidados nossosamigos e irmãos em crença.

BB EnsaioE' o titulo de um periódico semanal,

litterario e scientilico, publicado peloLyceu de S. Christovão,cu\o primeiro nu-mero appareceu a 3o do passado.

Pequeno no formato, o Ensaio é grandeno pensamento que dirige a sua publi-cação, na elevação dos themas que discutee no modo brilhante porque o faz.

Não podemos deixar de comprimentarao digno director d'esse conhecido estabe.lecimento de instrucção por sua incansávelactividade em promover por todos osmodos o desenvolvimento intellectual emoral de seus alumnos.

Agradecemos o exemplar com que fomosmimoseados, e pedimos permissão para apermuta.

.llinaiiak do Spiritismo

Recebemos e agradecemos esse impor-tante trabalho publicado pela SociedadeSpirita Fraternidad de Buenos Ayres. E'um volume de oitocentas e tantas paginas,contendo, além de esplendidos artigos emprosa e verso, os retratos dos Srs. Allan-Kardec, V. Hugo, E. Castelar, C. Flamma-rion e Visconde de Torres Solanot.

N'elle vemos que o numero dos spiritasque na visinha republica freqüentam associedades e grupos, sobe a S.ooo, segundoo recenscamento feito ultimamente.

La Veri téE' o titulo de um novo periódico se«

manai, dedicado d propaganda do spiri-ritismo,que acaba de appareeer em BuenosAyres, sob a direcção do Sr. P. Rastouil.

Traz artigos em francez e em hespanholem que as novas idéias são sustentadas comrigorosa lógica e sublime elevação de pen-samento e de linguagem.

Fazemos votos para que encontre floridae plana a estrada, que o conduzirá d satis-facão do seu nobre e grande desideratum.

Agradecemos os números que nos foramremettidos, e pedimos licença para per-mutar.

Conferências escolares

A 3o do passado começaram as Confe-rencias Escolares no Lyceu de S. Christo-vão, oecupando a tribuna o nosso amigo,o Sr. Dr. Ewcrton Quadros, que por maisde uma hora discorreu sobre o inundo si-dcral.

O auditório selecto e numeroso não regateou-lhe applausos.

lucs flüsprits B*rofessenrs

E' o titulo do novo trabalho publicadoultimamente em França pela distineta eincansável propagandista, Mme. Antoi.nette Bourdin, que tanto tem já enrique-cido a litteratura Bourdin, que tanto temjá enriquecido a litteratura spirita.

Compõe-se a nova obra de uma serie decontos moraes, medianimicamente obtidospela auetora e escriptos em linguagemamena e clara.

Sentimos discordar da opinião da illustreescriptora na sustentação do seguintethema :

« O perdão d'aquelle que recebeu umaoíTensa, apaga toda a culpa do offensor.

Não concordamos com essa idéia, quenos conduziria d negação da justiça divina.

Supponhamos que dous indivíduos A. eB. tenham feito a mesma offensa a dousoutros C. e D.; mas que C, sendo virtuosoe conhecedor das fraquezas do próximo,perdoe e abra os braços a A.; ao passoque D., sendo rancoroso, nunca perdoe aB. o mal que lhe fez ; se as faltas desappa-recém com o perdão do oflendido, temosahi dous espíritos igualmente criminosos,um limpo de culpas e outro carregandocom as suas, sem que isso tenha provindode seus esforços, do seu merecimento; eentão onde a justiça?

Para nós, o perdão das injurias só apro-veita ao que perdoa.

Os soffrimentos tendo por fim não casti-gar-nos pelas faltas que commettemos,mas sim regenerar-nos, impossibilitar areincidência, continuam até que o espiritotenha expellido de si, todos os germens desentimentos ruins que o impelliram áqueda.»

Pedimos desculpa, e só por sabermosque a distineta auetora é spirita convictae muito acima das pequeninas vaidadesda Terra, nos arriscamos a emittir umaopinião contraria á sua.

Aos nossos leitores aconselhamos o es-tudo d'essa obra, onde encontrarão leituraamena, substancial e muito instruetiva.

De coração agradecemos o exemplarcom que fomos mimoseados.

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CONFERÊNCIA ESPIRITAFEITA NA

FEDERAÇÃO SPIRITA BRAZILEIRA

Em 24 de TDeijembro de rSSÇ

eia.o

XXR- CASTBO LOPES

II

ss-IS

0 espiritismo admitte como base im-

prescindivel a existência de Deus,motor inicial e único do universo: nellese resumem todas as perfeições levadasao infinito, elle 6 eterno, omnipotente.

Ninguém neste mundo cabalmenteo conhece, mas todos estão sujeitos ássuas leis.

Nosso desenvolvimento intellectual,por mais sábios que sejamos, não podecomprehender a noção grandiosa daDivindade, mas todos para ella tende-mos, como a phalena para luz.

O Deos austero da Biblia, im placa-velmente rancoroso, e vingativo, cas-tigando com penas eternas ligeirasfaltas de um momento, o feroz Jeho-vali, que ordenava a jugulação dos

que nelle não acreditavam, não é oDeos, que o espiritismo reconhece evenera.

O Deos, em quem elle crê, se nosmostra como a expressão perfeita detoda a sciencia, e de toda a virtude :sua intelligencia se revela em suasobras; sua bondade na lei da reincar-nação, que nos permitte resgatar porexpiações suecessivas nossas tal tas, eelevar-nos até a infinita magestadede sua divina hypostasis.

O Deos, que nós espiritistas amamose veneramos, é o archetypo da infinitagrandeza, do infinito poder, da infi-nita bondade, da infinita justiça !

E' a iniciativa creadora por excel-lencia; é a força incalculável,é a liar-monia universal!

O Deos, que nós espiritistas adora-mos, paira por sobre a creação, envol-ve-a no infinito de sua vontade; pene*tra-a com sua razão: é por Elle (pie osuniversos se formam; que as' massascelestes rolam secs brilhantes esplen-dores nas profundezas do vácuo; é porElle que os planetas gravitara no epaço, formando resplendentes aureoiaem torno dos soes 1...

Deos é a vida immensa, eterna, in-definivel; é o começo, e o fim; é o ai-pha, e o omega!

Deos é, como disse o Cardeal Cusa,litteralmente imitado por Pascal, umcirculo, que tendo o centro em todasas partes, não tem a circumferencia li-mitada em parte alguma !...

O espiritismo nos ensina também aexistência da alma, isto é, do eu cons-ciente, iramortal, e creado por Deos.O espiritismo ensina que Deos creouiguaes, simples, e ignorantes todos osespíritos, dotando-os de faculdadesiguaes para attmgirem ao mesmo fim,â felicidade 1 O espiritismo crê que aconsciência, e o livre arbítrio nos fo-ram dados, a fim de que pudessemapressar mais ou menos nossa evoluçãopara destinos superiores.

E' o eu consciente, que adquire porsua vontade todas as sciencias, e todasas virtudes, que lhe são indispensáveispara se elevar na escalla dos seres:

O selvagem Hottentot, os Neros, osCaligulas, e os Attillas, attingirãopelofiltro de sucessivas reincarnáções, ograu de homem civilisado, e a perfei-ção moral de um Antônio de Padua,de um Francisco de Assis 1

Todos os homens são filhos de Deos,

que os creou para serem felizes; e anenhum desherderá da opulenciade seos thesouros, que é a virtude, e asabedoria.

A creação não se limita ao que po-dem alcançar nossos fracos instrumen-tos; ella é infinita em sua immensi-dade 1 Não seremos exclusivosinquilinos deste globo ainda pequeno,mas cidadãos do universo,e habitantes

iVesses milhões de mundos, por' ondeperegrinaremos, como neste viajamospelos diversos paizes, que o consti-tiiem.

O espiritismo prega a mais puramoral, a moraldo Christo; cóndemuao egoísmo; proclama a caridade, oamor do próximo; e preceitua que uin-guein poderá ser feliz, si não amar aseus irmãos, a todos os homens semdistineção alguma de classe,condição,e pátria, si os não ajudar a progredirmoral, e materialmente.

Nunca philosophia alguma, comomuito bem observa Delanne, se elevouá tão alta concepção da vida universalpregando ao mesmo tempo uma moralmais pura...

Possuidores (Testa sublime verdade,apresentemol-a ao inundo, e a essesque, á nós se queiram unir,mostrando-lhes alem de tudo que ella se firma nasbases inabaláveis da observação pliy-sica.

Eu vos assegurei que a victoria eracerta ; mas seródia; tomei até a liber-dade de vos aconselhar uma espera pa-ciente, tanto mais fácil de supportar;quanto a nova doutrina tem relativa-mente progredido por toda a parte deum modo rápido, e insólito nas grau-des conquistas do espirito; mas nemhoje,ém (pie a lueta está travada,nemmesmo depois de alcançada a victoria,não façaes do espiritismo, eu vos peço,mais do que uma opinião pliilosophica.Lembrae-vos das palavras do grandefundador do christiaiiismo: elle nãocessava de repetir que não tinha vindopara reformar alei referindo-se á lei deDeos, e não á lei disciplinar de Moysésentão dominante, que essa elle nãoperdia oceasião de verberar e pro.ster-gar: elle não cessava de repetir quenão tinha vindo para derribar, maspara confirmar a lei isto é, lei de Ocos,o decalogo.

Si o espiritismo é, como não soffreduvida, a pura doutrina do Christo, si-gamos a ordem do Mestre; e o mundoofficial que continue a se emniaranharno erro, inventando e pervertendoaquella sublime doutrina, até que pelaacção poderosa do tempo, e naturalprogresso dajj cousas, sem violências,nem mesmo as da discussão-, a todoscheque e illumine a luz da verdade.

Lembrae-vos de que foi a propagamda do cliristianismo, formada pelascongregações dos seos sectários, quedeo origem ao que hoje se chama —I,rreja— a qual monopolisando a fa-Culdade de interpretar essa doutrinausurpou por muiios séculos, e preten-de ainda manter o direito exclusivo degovernar os homens, e até as consci-Dencias 1

Talvez vos pareça singular o raeomodo de pensar, querendo que umaidéa de enraize, e floresça, evitandoa formação de núcleos, de associações,de corpos collectivos com caracter dog-rnaticp; mas eu vou justificar o meupensamento.

Qüáhdõsürgio o movimentochristãoo mundo vivia sob o domínio de idéasdiametralmente oppostas: o christia-nismo pregava a humildade, a cari-dade, a immórtalidade da alma, aigualdade entre todos os homens, aexistência de um só Deos; c todos estespontos eram outros tantos paradoxos,segundo a opinião que então dominavao mundo.

Era preciso vencer pela palavra, epelo exemplo; crear proselytos; final-mente converter o gehtilismo aóchristia nismo: dahi a necessidade doapostolado, da creação, em diversospontos da terra, d'essas asssociações,a que se deo o nome genérico de igrejaqualificando-as, conforme se acharamera tal, ou tal região.

Mas si por uma parte, este modo depropaganda produzio o salutar effeitode vulgarisar, e implantar a doutrinado Christo, por outro lado, essesmesmos núcleos, essas mesmas asso-ciações parciaes, que nos tempos pri-mitivos professavam com maior pureza

o ensino de Jesus, toratn com o correrdos séculos alterando, modificandoesse ensino, e assumindo prerogativas,(que nunca pela mente do Christo pas-saram) até que teve tudo isso comoresultado final a Igreja romana comum chefe e esses outros schismas, emque se dividio, e subdividiu o chris-tiáuismo.

O próprio Christo, vidente,como eratinha dicto que elle não viera paratrazer a paz mas a espada.

E' que o Nazareno bem sabia que asua doutrina, pregada por numerosascorporações, embora formadas de se-etários do soo ensino, se abastardaria,degeneraria, pelas dissidências maisou menos profundas entre seus pro-prios propagadores.

Os apóstolos Pedro, e Paulo foram os

primeiros a dar o exemplo de diver-géncía cm questão doutrinai.

Hoje as circumstáhcias mudaram;os tempos são outros ; a idéa christanestá vulgarisada, ha quasi dous milannos ; mas a arvore plantada 110 Cal-vario não produzio ainda todos os ex-Cellentes fruetos, que pôde, e ha de

produzir; porque seos cultores lheteem iiioculado nocivos enxertos.

Aquelle porém, que está sempre vi-

gilante, efaz opportunamente appare-cer o movei necessário para se cum-prirem os grandes fins de sua inson-(lavei sapiência, permittio que na ul-tinia metade do século actual, naomais em uma província, como a Judéa,tributaria de um império já decadente,mas em um paiz de vig-orosa inicia-tiva, na capital da America do Norte,se manifestassem os primeiros signaesda nova sciencia, cujo fim providencialc retemperar, e resliluir d primitivapureza o ensino, c a doutrina do mar-tyrdoGqlgolha.

O progresso em quasi todos os ramosde sciencia attinge 110 momento actuala um grau elevado ; as intelligenciasestão suílicientemente preparadas ; oabastardamento,e degeneração da idéachristan, causados pelo catholicismo,e pelos differentes schismas, e seitasreligiosas, deram nascimento á sub-versiva invasão do materialismo deBukncr e Moleschotl; do positivismode Augusto Comte, e á descrençageral : melhor não podia ser a oppor-tunidade do apparecimento do Espi-ritismo 1 Como a chuva salvadora daseara, c inevitável conseqüência doscalores do estio, o Espiritismo surgeno momento, em que devia surgir!

Em taes circumstáhcias'; não ha ne-cessidade de apostolado ; o livro vale

por mil apóstolos; a imprensa é umavoz, que contra todas as leis da açus-tica sem ter timbre, sem ser o resul-tado da vibração do ar, percorre omundo inteiro, e é ouvida, seinque oseo som jamais se possa extinguir, aténos mais recônditos ângulos da terra I

Não é pois necessário que se formemcorporações para propagar o Espiri-tismo : nada que tenha apparencia deconfrarias, irmandades, synagogas, eigrejas : nada de ritos, nada de insi-

guias, nada de formulas, amuletos, ta-lisíhans, relíquias ; nada de culto ex-terno. Adore-se a, Véus em espirito, averdade, como nos aconselha Jesus,

for-

titue o habito, isto é, um modo de pro-ceder quasi automático e inconsciente.

Esses cÓnCiliabulossão quasi sempreos focos, onde germina o fanatismo, ed'onde nascem schismas, _e dissiden-cias.

Senhores, eu devo dizer a verdadeinteira. Já mostrei quaes eram osprincipaes inimigos do Espiritismo;mas cumpre-me ainda fazer-vos notarque além da vaidade, que enfatúa aquasi todos os homens de sciencia ;além do interesse de uma corporaçãopoderosa, tão amante das trevas, queaté. da cor das trevas se veste ; alémdas massas apedentas ; além do nu-mero avultadissimo dos que podendo,não querem absolutamente ler, e meu-tem quando dizem que tem lido obrassobre Espiritismo ; além de todos estesobstáculos, ha o medo infantil dasalmas do outro mundo!! O homem,ainda mesmo velho, é sempre a criançagrande. Muitos, que por seo tempera-mento, sua profissão, sua idade, vosparecera talvez ser isentos de supersti-ções, e d'esses terrores, com que nainfância, foram embalados, conservamainda os mesmos preconceitos, e sópor pejo é que o.s não confessam. Bemdisse o poeta :

verdade, como nos iicunscma .^0^0,

que por único culto, por únicas for-mulas, por únicos ritos, dizia : « Amar

e ao próximo como a nosEIS TODA A LEI, E OS PRO-

a Deus,mesmos,PHÉTA-iS, »

O Espiritismo portanto devera sersempre tido e mantido como uma opi-nião, uma doutrina pliilosophica; a

qual formará de cada homem, con-victo pelas provas experimentaes, e

por aquellas que théoricamente tiveradquirido nos livros respectivos, umchristão no verdadeiro sentido da pa-lavra.

As formulas, os ritos, os cultos es-as associações de caracter ro-

podem trazer para o Espi-ritismo o inconveniente, que resultasempre, em todas as cousas, da repe-tição de actos ; repetição, que cons-

<( O medo é natural a toda a gente;Sabel-o disíarçar é ser valente. »

Mas,senhores, oceorre-me repentiua-mente neste instante um pensamento,uma idéa, que tem toda a ligação como assumpto, de que tenho tratado ;idéa, que levar-me-hia a discorrerquasi interminavelmente : entretantoconheço que não vos devo fatigar.

Senhores, o dia de hoje marca amaior das datas na historia da huma-nidade.

No dia de hoje se completara 19 se-culos menos três lustros, em que umdos mais puros espíritos, uni enviadode Deus, como elle próprio se denomi-nava, veio ensinar ao mundo a únicae verdadeira doutrina, a mais santamoral, a mais elevada de todas as phi-losophias1

O dia de hoje é o ànniversario da-quelle varão, que foi o archetypo dahumildade, da doçura, da mansidão ;o exemplar nunca excedido do amordo próximo 1 O dia de hoje é o dia na-

- talicio do amável Jesus 1...Que esta circumstancia solemne im-

prima nas toscas palavras, que vostenho dirigido, a torça de uma con-vicção penetrante 1

E já que vos recordei o glorioso dianatal, (que a Igreja catholica errada-mente commeraora amanhã) vou fazer-vos dous pedidos.

Em primeiro logar, erguei-vos, er-guei-vos todos que me honraes com avossa attenção; erguei-vos ; (todo oauditório se levantou immediala-mente) e com o pensamento em Deus,e seguindo ainda o exemplo de Jesus,fazei mentalmente fervorosas precespor todos osque soffrera,epor aquelles,(pie voluntária ou involuntariamentelaborando em erro,não abraçaram aindao Espiritismo, e lhe são adversos.

Em segundo logar, eu vos convidoa lançar no gazophilacio, como ou-tr'ora em Jerusalém a pobre viuva,umúbolo, uin óbolo somente para ajudara redempção dos captivos ; porque nodia, em que nasceo Jesus, nasceo tam-bem para o mundo a liberdade 1...

Rio de Janeiro, 24 de Dezembro de1885.

Dr. Castro Lopes

peciaes.ligioso so

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Não vos consumaes na louca pro-cura das riquezas tcrrenacs,que apo-dridão corrompe e os vermes podemdestruir; buscai o.s thesouros de sen-

timentos nobres e elevados que nãomorrem g vos seguirão na eterni-dade-

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