pt8cdr antonio mota

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(Para)Textos, Língua Portuguesa, 8.º ano Outros textos Oo PT8CDR © Porto Editora 1 Entrevista a António Mota Conte-nos a sua história. Nasci e cresci em Vilarelho, freguesia de Ovil, concelho de Baião, no dia 16 de julho de 1957. Fui o primeiro de três irmãos. Na escola primária fui um aluno razoável. A minha professora era a D. Teresa, que gostava muito de contar histórias que me empolgavam. Com sete anos entrei pela primeira vez na carrinha da Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian que passava todos os meses em Vilarelho. A princípio éramos muitos leitores, depois, com o passar do tempo, os leitores foram minguando. Mas eu continuei. Lembro-me que o primeiro livro que li era da coleção do Noddy. Depois comecei a escolher as histórias tradicionais, Os Meus Amores do Trindade Coelho, e depois muito Camilo Castelo Branco, e por aí fora, numa constante descoberta. Acabada a escola primária, feita com o fatinho da comunhão, fui estudar para a Telescola. E foi giro, apesar de ter de andar a pé 3 km para ir de minha casa para a escola e outros tantos, às 8 da noite. Mas foi bom, porque assim perdi o medo à noite, às bruxas, aos fantasmas e às almas do outro mundo. Fiz o liceu em Penafiel e nessa mesma cidade me formei professor do 1.º ciclo. Tinha então 18 anos. A minha primeira escola ficava numa serra, era a escola de Almofrela. Foi lá que eu aprendi a ser professor de verdade e onde também comecei a escrever histórias para crianças. Mais tarde escrevi novelas para jovens. Tenho dois filhos, continuo a dar aulas na terra onde nasci, ganhei alguns prémios, editei muitos livros e corri o país respondendo a convites para me deslocar a escolas e bibliotecas. Porque decidiu escrever histórias para crianças? É uma pergunta difícil. Sinceramente, não sei responder. Aconteceu, e pronto. Qual foi a história que mais gostou de escrever? Dizem, os que sabem mais que eu, que um livro é como um filho. E eu, como se entenderá, não vou dizer mal dos meus filhos. Qual a personagem dos seus livros de que mais gosta? Neste momento, há alguns que não esqueço: a Manuela de Os heróis do 6.º F e de Nicolau de Pedro Alecrim, o Guilhermino Bicho de Os sonhadores e… (nunca mais terminava…). Onde vai buscar ideias para criar as suas histórias? As ideias, quando surgem, são assim como pequeníssimos cabelos, uma espécie de penugem. Só com trabalho é que consigo, a partir desse cabelo, fazer a cabeleira. E o resto é conversa fiada. Quem esperar pela musa inspiradora, acaba por adormecer. Usa algum método para escrever os seus livros? Onde gosta mais de escrever? Começa por inventar as personagens todas e o enquadramento todo da história ou vai surgindo ao escrever da pena? Com o tempo os métodos vão variando. Antes, apenas escrevia com caneta de tinta permanente, de cor retintamente preta. Começava as histórias a comer uma maçã… Agora escrevo no computador e ouço música clássica. Se não fosse escritor, o que gostava de ser? Não tenho qualquer dúvida: marceneiro! É tão bonito trabalhar com madeiras. Aliás, a madeira está ligada a nós desde o berço ao caixão, passando pela cama, mesa, cadeira… Que conselho daria a alguém que deseje vir a ser escritor? Que leia, leia, leia. Vilarelho, 19 de setembro de 2002 in http://www.gailivro.pt/index.php?go=entrevista (consult. em 14-08-11)

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Page 1: PT8CDR Antonio Mota

(Para)Textos, Língua Portuguesa, 8.º ano Outros textos

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Porto Editora

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Entrevista a António Mota

Conte-nos a sua história.Nasci e cresci em Vilarelho, freguesia de Ovil, concelho de Baião, no dia 16 de julho de 1957.Fui o primeiro de três irmãos.Na escola primária fui um aluno razoável. A minha professora era a D. Teresa, que gostava muito de contar

histórias que me empolgavam.Com sete anos entrei pela primeira vez na carrinha da Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian

que passava todos os meses em Vilarelho. A princípio éramos muitos leitores, depois, com o passar do tempo, os leitores foram minguando. Mas eu continuei.

Lembro-me que o primeiro livro que li era da coleção do Noddy. Depois comecei a escolher as histórias tradicionais, Os Meus Amores do Trindade Coelho, e depois muito Camilo Castelo Branco, e por aí fora, numa constante descoberta.

Acabada a escola primária, feita com o fatinho da comunhão, fui estudar para a Telescola. E foi giro, apesar de ter de andar a pé 3 km para ir de minha casa para a escola e outros tantos, às 8 da noite. Mas foi bom, porque assim perdi o medo à noite, às bruxas, aos fantasmas e às almas do outro mundo.

Fiz o liceu em Penafiel e nessa mesma cidade me formei professor do 1.º ciclo. Tinha então 18 anos.A minha primeira escola ficava numa serra, era a escola de Almofrela. Foi lá que eu aprendi a ser professor de

verdade e onde também comecei a escrever histórias para crianças. Mais tarde escrevi novelas para jovens.Tenho dois filhos, continuo a dar aulas na terra onde nasci, ganhei alguns prémios, editei muitos livros e corri

o país respondendo a convites para me deslocar a escolas e bibliotecas.

Porque decidiu escrever histórias para crianças?É uma pergunta difícil. Sinceramente, não sei responder. Aconteceu, e pronto.

Qual foi a história que mais gostou de escrever?Dizem, os que sabem mais que eu, que um livro é como um filho. E eu, como se entenderá, não vou dizer mal

dos meus filhos.

Qual a personagem dos seus livros de que mais gosta?Neste momento, há alguns que não esqueço: a Manuela de Os heróis do 6.º F e de Nicolau de Pedro Alecrim,

o Guilhermino Bicho de Os sonhadores e… (nunca mais terminava…).

Onde vai buscar ideias para criar as suas histórias?As ideias, quando surgem, são assim como pequeníssimos cabelos, uma espécie de penugem. Só com trabalho

é que consigo, a partir desse cabelo, fazer a cabeleira. E o resto é conversa fiada. Quem esperar pela musa inspiradora, acaba por adormecer.

Usa algum método para escrever os seus livros? Onde gosta mais de escrever? Começa por inventar as personagens todas e o enquadramento todo da história ou vai surgindo ao escrever da pena?

Com o tempo os métodos vão variando. Antes, apenas escrevia com caneta de tinta permanente, de cor retintamente preta. Começava as histórias a comer uma maçã… Agora escrevo no computador e ouço música clássica.

Se não fosse escritor, o que gostava de ser?Não tenho qualquer dúvida: marceneiro! É tão bonito trabalhar com madeiras. Aliás, a madeira está ligada a

nós desde o berço ao caixão, passando pela cama, mesa, cadeira…

Que conselho daria a alguém que deseje vir a ser escritor?Que leia, leia, leia.

Vilarelho, 19 de setembro de 2002 in http://www.gailivro.pt/index.php?go=entrevista (consult. em 14-08-11)