psicologia - pais prisões e identidade - capítulo 3

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Capítulo 3: Os presidiários e a paternidade: uma exploração da pesquisa estabelecida uma série de fatores pessoais, interpessoais e contextuais que podem inibir ou restringir a interação de um pai com seus filhos. O capítulo a seguir examinará como estes fatores acontecem nas relações dos presos como pais, dentro de uma realidade irlandesa e internacional. A primeira parte irá revisar dados que fornecem um perfil sócio e criminológico dos presos irlandeses, para ilustrar o contexto de seus relacionamentos como pais. Esses dados mostrarão um nível significante de fragilidade dentro dos relacionamentos dos presos como pais. Uma pesquisa irlandesa que examina as experiências dos presidiários como pai explora as restrições existentes no papel de pai dentro do contexto da prisão e a diversidade e como os presos percebem a interferência da prisão em seus papéis de pais. (Looney, 2001). Uma pesquisa do Reino Unido e dos Estados Unidos irá ilustrar uma série de fatores pessoais e interpessoais, os quais tentarão explicar essa diversidade a qual não é citada na pesquisa irlandesa. Esses fatores incluem a importância da correlação, da boa vontade dos presos de serem abertos e aceitar seu status e bem estar emocional. Devido aos altos níveis de vícios entre os presos irlandeses, o impacto da dependência de drogas na boa vontade e relações interpessoais de seus usuários será explorado para enfatizar os desafios encontrados nas relações interpessoais dos presos. A paternidade dentro do Sistema de prisão irlandês O sistema irlandês de prisão contém uma média diária de 3,200 presos, localizada entre quatorze prisões dentro do estado, a grande maioria (97%) que são homens (serviço irlandês de prisão 2005). Os dados do status parental dos presos não estão disponíveis apesar da introdução em 2001

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Psicologia - Pais Prisões e Identidade

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Page 1: Psicologia - Pais Prisões e Identidade - Capítulo 3

Capítulo 3: Os presidiários e a paternidade: uma exploração da pesquisa

Há estabelecida uma série de fatores pessoais, interpessoais e contextuais que podem inibir ou restringir a interação de um pai com seus filhos. O capítulo a seguir examinará como estes fatores acontecem nas relações dos presos como pais, dentro de uma realidade irlandesa e internacional. A primeira parte irá revisar dados que fornecem um perfil sócio e criminológico dos presos irlandeses, para ilustrar o contexto de seus relacionamentos como pais. Esses dados mostrarão um nível significante de fragilidade dentro dos relacionamentos dos presos como pais.

Uma pesquisa irlandesa que examina as experiências dos presidiários como pai explora as restrições existentes no papel de pai dentro do contexto da prisão e a diversidade e como os presos percebem a interferência da prisão em seus papéis de pais. (Looney, 2001). Uma pesquisa do Reino Unido e dos Estados Unidos irá ilustrar uma série de fatores pessoais e interpessoais, os quais tentarão explicar essa diversidade a qual não é citada na pesquisa irlandesa. Esses fatores incluem a importância da correlação, da boa vontade dos presos de serem abertos e aceitar seu status e bem estar emocional. Devido aos altos níveis de vícios entre os presos irlandeses, o impacto da dependência de drogas na boa vontade e relações interpessoais de seus usuários será explorado para enfatizar os desafios encontrados nas relações interpessoais dos presos.

A paternidade dentro do Sistema de prisão irlandês

O sistema irlandês de prisão contém uma média diária de 3,200 presos, localizada entre quatorze prisões dentro do estado, a grande maioria (97%) que são homens (serviço irlandês de prisão 2005). Os dados do status parental dos presos não estão disponíveis apesar da introdução em 2001 do Sistema de registro de informação de presos, para registrar uma série de informações demográficas relacionadas aos presos (Serviço irlandês de prisão, 2001). Uma ilustração disponível vem do estudo de O’ Mahony (1997) sobre os presos de Mountjoy, o qual estimou que aproximadamente 72% dos presos eram pais. Se aceitarmos que três quartos dos presos irlandeses são pais, logo isto é como se a informação disponível reflete as circunstancias dos que são pais. Esse perfil pode também nos ajudar a entender o histórico contra os que criam relações como pais e companheiros.

Perfil sociológico dos presidiários de O’ Mahony

Um estudo de O’ Mahony em Mountjoy (1997) enfatizou os níveis significantes das desvantagens sociais e econômicas entre os presos irlandeses. Os presos foram encontrados predominantemente nos grupos mais baixo sócio e economicamente falando da classe trabalhadora de Dublin. Uma proporção significanteteve um primeiro grau de parentesco (irmãos ou pais), os quais

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estiveram também na prisão e apenas menos da metade passou por um rompimento familiar decorrente da morte dos pais ou rompimento dos pais. Muitos presos tiveram níveis baixos de educação e mínima ou nenhuma experiência de emprego, enquanto mais de um quarto tiveram problemas de alfabetização. Uma grande proporção tem histórico de vicio em drogas, e o consumo de opiláceos na prisão foi generalizado entre o exemplo. (O’ Mahony, 1997).

Estudos recentes envolvendo uma mais ampla visão dos presos irlandeses, confirmaram esse perfil de desvantagens e vício (Long et al, 2001, Morgan e Jett, 2003, Murphy et al, 2003, Seymour e Costello, 2005 e O’ Donnell, 2006.) Níveis muito altos de dependência de drogas, particularmente heroína, também foram confirmados em estudos recentes (Allwright et al 1999, Hannon et al, 2000, Dillion 2001). Devido a grande prática do uso de drogas intravenosas dentro e durante o período de aprisionamento, as taxas de HIV e Hepatite C estão dez vezes mais altas entre os presos do que entre o resto da população. (Long et al, 2001).

Um perfil criminológico dos presidiários irlandeses do sexo masculino

Mais informações sobre as características criminológicas dos presos irlandeses estão disponíveis no comitê anual da prisão. Em 2005, de 4,686 presos do sexo masculino, encarcerados nas prisões irlandesas, a grande maioria tinha idade entre 21 e 40 anos (veja tabela 4). Quase dois terços recebiam sentenças de seis meses ou menos, enquanto a maioria era condenada por crimes menos graves, como por exemplo, crimes contra propriedades que não envolviam violência, crimes de trânsito ou “outras” ofensas. Mais de dois terços dos presos encarcerados continham o endereço de Dublin, Cork ou Limerick (Serviço irlandês de prisão, 2005). Embora os números de estrangeiros dentro da população irlandesa estejam crescendo como um reflexo do crescimento da imigração nos últimos anos, a proporção global permanece pequena. (IPS, 2005). O sistema irlandês de prisão é caracterizado por um grande número de presos relativamente jovens vindos predominantemente das áreas urbanas da Irlanda, os quais cumprem penas relativamente pequenas na prisão.

Tabela 4: Perfil dos presidiários das prisões irlandesas

∙ 68% dos presos têm idades entre 21 e 40 anos.

∙ 57% recebem sentenças de seis meses ou menos.

∙ 60% estão encarcerados por crimes inferiores “grupo quatro”, envolvendo drogas, crimes de trânsito ou “outros” crimes.

∙ Dois terços possuem endereços das áreas de Dublin, Cork ou Limerick.

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Todos os dados foram coletados do Serviço de Prisão Irlandês, relatório anual, 2005.

Embora os números de presos que recebem curtas sentenças sejam altos, e flutuam dentro e fora do sistema, deve-se lembrar de que as prisões irlandesas contêm uma grande parte dos presos que cometeram crimes mais sérios e que estão cumprindo sentenças mais longas. A conta anual de presos mostra que os presos quesão acumulados dentro do sistema é muito provável que cumpram sentenças entre 1 e 10 anos direto. (Veja a tabela 5 abaixo).

∙ 51% são mantidos em custódia por grupo 1 e 2 crimes, os quais são crimes que envolvem violência.

∙ 64% estão cumprindo sentenças entre um e dez anos direto.

NB: Todos os dados foram coletados do Serviço de Prisão Irlandês, relatório anual, 2005.

Altos níveis de reincidência

Enquanto as estatísticas oficiais não são coletadas das sentenças anteriores cumpridas pelos presos da população, uma pesquisa prévia de O’ Mahony (1993) também enfatizou os altos níveis de reincidência (reincidência que leva à prisão) entre a população irlandesa encarcerada. O’ Mahony (1993) descobriu que muitos dos presos em sua pesquisa, entraram na prisão quando jovens e cumpriram muitas sentenças. Uma pesquisa recente não publicada de O’Donnell (2006) confirmou que a reincidênciaé maior entre os presos, particularmente aqueles que tendem a cometer crimes que não envolvem violência, como crimes contra propriedades, infrações de trânsito e inadimplências.

A fragilidade dos relacionamentos dos presidiários

Integralmente, este perfil sócio e criminológico sugere que os presos irlandeses são mais propensos a experimentar um número significante desafios em manter o papel e a responsabilidade da paternidade, além das restrições do ambiente da prisão. Para alguns, frequentes ou longos períodos na prisão, problemas sérios com drogas e desemprego vão sem dúvidas, causar uma tensão e prejudicar as habilidades de manter relações de longa duração com companheiros e filhos dos presos.

Dadas essas circunstâncias, dificilmente surpreende o fato de que os altos níveis de fragilidade têm sido vistas dentro dos relacionamentos dos presos em relação a um número grande de fatores. O estudo de O’ Mahony (1997) encontrou taxas de casamento muito baixas. Quase metades dos pais, em seu estudo, haviam coabitado com alguém, comparado a isso, menos de um quinto

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tinham sido casados (O’ Mahony, 1997). Aproximadamente 15% dos pais tinham filhos dentro de múltiplos relacionamentos, enquanto 16% dos pais no estudo de O’ Mahony (1997) categorizavam-se como pais “solteiros”, sugerindo que eles eram pais não residentes anterior às suas sentenças. Além disto, O’ Mahony (1997) descobriu que dois terços dos presos que já estiveram em um relacionamento formal anterior à sua prisão considerara-se permanentemente separados de seus filhos e não pretendiam viver como uma família após sua soltura (O’ Mahony, 1997). Estes níveis de fragilidade tendem a crescer na sociedade irlandesa em relação à coabitação, separação e paternidade não residencial explorada no capítulo anterior. No entanto, enquanto a separação e a paternidade não residencial refletem a minoria das experiências familiares dentro da sociedade irlandesa, esses indicadores de fragilidade parecem dominantes dentro da população carcerária.

Provisão para contato com a família dentro do serviço de prisão irlandês

Em muitos aspectos, qualquer política de família está em conflito com o objetivo principal de prisão, que é para a contenção segura de grande número de infratores, isto depende da isolação da família e da sociedade como forma de punição (O’ Mahony, 2002). Embora os relacionamentos entre pais e seus filhos não são especificamente relacionados ao serviço de política da prisão, isto parece amplamente aceito que a manutenção do relacionamento da família apoie a boa vontade, reintegração e reabilitação dos presos. O Serviço de Estratégias da Prisão Irlandesa (2001), por exemplo, afirma um compromisso com a manutenção da ligação entre os presos e suas famílias como o “valor central”. O contato familiar é visto como um “fator crítico” (Serviço irlandês de prisão, 2001, p15) em sustentar os presos durante suas sentenças e para a reabilitação dos mesmos.

O contato familiar é facilitado pelo serviço prisional através da combinação de visitas, ligações de telefone e cartas. Presos convictos têm a permissão de uma visita de 30 minutos por semana e uma visita especial adicional de 15 minutos, ambas concedidas a critério do diretor da prisão (IPS, 2006, McDermott, 2000). Devido às preocupações com tráfico de drogas, o contato físico é proibido durante as visitas (Looney, 2002). Não há limites estabelecidos para o número de crianças que podem visitar, no entanto, todas as crianças devem estar acompanhadas por um adulto (IPS, 2006). As visitas acontecem às 16h00min horas, o que permite as crianças ir à escola e fazer a visita. A fim de receber uma visita aos finais de semana, o preso deve reservar os 30 minutos da visita especial adicional para o Sábado, sendo as visitas adicionais restritas aos finais de semana (Looney, 2002). Presos irlandeses têm também a permissão para fazer uma ligação por dia com a duração limitada e o preço de tudo isso é bancado pelo estado (McDermott, 2000). Ainda assim, presos que mantêm a paternidade ou família, podem ter 45 minutos de contato face a face por semana para manter seus relacionamentos como companheiros, com

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os filhos e membros mais próximos da família, tendo ainda um total de 35 minutos de ligações telefônicas. E ainda os presos podem ter algumas saídas (TR) para pequenas visitas à casa da família. (Looney, 2002).

Pesquisa irlandesa sobre os presidiários como pais

A pesquisa irlandesa que analisou as experiências dos presos como pais são limitadas. Um estudo feito pelo Centro de Pesquisa Sócio e Educacional (CPSE), o Instituto de Tecnologia de Dublin (2002) analisou as experiências dos pais dentro da prisão de Mountjoy. As visões dos pais encarcerados eram inclusas à visão dos que cuidavam da família, filhos de presos e equipe da prisão. As experiências dos pais, em sua grande parte têm sido fundidas com as experiências das mães neste estudo (CSER, 2002). Como explorado no capítulo anterior, as expectativas dos pais em relação as suas responsabilidades são muito diferentes das que as mães têm e para evitar distorção, as experiências precisam ser reportadas separadamente. No entanto, um estudo explorou as experiências dos pais especificamente.

A pesquisa de Looney

A pesquisa de Looney (2001), uma tese de doutorado não publicada é o único estudo irlandês que se concentra exclusivamente nas perspectivas dos presos como pais. As experiências de 25 presos foram colhidas usando a estrutura de entrevistas com participantes selecionados das prisões tanto de Mountjoy quanto de Wheatfield. Semelhantemente a O’ Mahony (1997), a pesquisa de Looney traz altos níveis de fragilidade familiar entre os relacionamentos dos presidiários. Por exemplo, Looney (2001) descobriu que um terço dos presidiários tinha filhos de vários relacionamentos e mais de dois terços de todos os relacionamentos teriam terminado. A grande maioria dos homens na pesquisa de Looney teve alguma forma de contato com seus filhos ou através de visitas, ou através de ligações telefônicas ou por cartas, contudo, isso varia muito entre contatos regulares e não regulares. Uma pequena proporção dos presos teve um contato pleno com seus filhos.

Dificuldades na pesquisa irlandesa com visitas

Todos os métodos de contato incluindo os métodos entre os presos e suas famílias foram tidas como problemáticos; particularmente devido à falta de privacidade (Looney, 2001). No entanto, as visitas (métodos de contato que oferece a maior oportunidade de interação), foram também tidas como difíceis na pesquisa de Looney (2001) por uma série de motivos. Visitas à antiga prisão de Mountjoy são muito mais desconfortáveis que visitas a mais recente prisão de Wheatfield, devido às lotadas, não higiênicas e difíceis instalações para visitas. De fato, uma das principais conclusões a surgir a partir da pesquisa do Centro de Pesquisa Social e Educacional (2002) foram a péssima qualidade das condições de visitação na maioria das prisões masculinas de Mountjoy, em

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comparação às muito superiores condições encontradas nas prisões femininas e modernas de Mountjoy. No entanto, através do exemplo, dificuldades similares com visitas surgem em termos de falta de privacidade dentro da área de visitas, o curto tempo da visita, a falta de instalações para crianças e falta de oportunidade para expressar afeto físico, os quais são enfatizados como problemas para os presidiários. Looney (2001) argumentou que essas condições produzem um ambiente “artificial” de visitas e débil interação entre os presos e suas famílias.

Dificuldades com visitas nas prisões do Reino Unido

Dificuldades similares com visitas foram enfatizadas por McDermott e King (1992) em sua pesquisa nas prisões do Reino Unido nos fim dos anos oitenta. Essas condições levaram McDermott e King (1992) a concluir que a interação familiar era tão inibida entre o ambiente carcerário que os presidiários eram removidos da realidade de vida de seus filhos e família. Isto torna seus relacionamentos familiares débeis e a integração com a família mais difícil quando são libertos (McDermott e King 1992). Em resposta a essas preocupações sobre a erosão dos laços familiares, aproximadamente 90 das 138 prisões do Reino Unido agora têm jogos para as crianças (Pugh, 2004, citado em Clarke et al, 2005). Algumas prisões incluíram também um programa de visitas para pais e crianças que dão aos presos à oportunidade de interagir com seus filhos durante um tempo maior que o tempo das visitas regulares e em um espaço menos restritivo (Clarke, 2005, Boswell e Wedge, 2002). No entanto, informações concretas sobre a extensão desses programas não estão disponíveis, pois são particularmente vulneráveis a um encerramento devido às preocupações com a segurança e financiamento (Boswell e Wedge, 2002).

Uma análise nos diferentes regimes de visitas

Estes regimes mais flexíveis e interativos foram incluídos em dois dos estudos mais recentes do Reino Unido para analisar as experiências dos presidiários como pais. Tanto Boswell e Wedge (2002) quanto o estudo mais recente de Clark et al (2005) incluíram prisões de alta segurança, restrições nas visitas como as encontradas no regime irlandês e também uma visita familiar mais longa e interativa, como discutido acima. Semelhantemente a descoberta de Looney (2001) nas prisões irlandesas, dentro dos dois estudos as experiências de “visitas comuns” foram tidas como negativas tensas e estressantes para os presidiários e suas famílias (Clarke etal, 2005, Boswell e Wedge, 2002). Ao contrário, as visitas familiares mais interativas e flexíveis eram mais positivas em termos de comunicação, dar oportunidades para brincar e uma interaçãomais familiar entre os presos e suas famílias (Clarke et al, 2005, Boswell e Wedge, 2002). No entanto, enquanto a maioria dos homens mostrou a uma atitude positiva com as visitas familiares, Clarke et al (2005) descobriu que alguns presos acharam essas visitas muito intensas, muito longas e “para

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a maioria muito diferente sua rotina de família pré prisão” (Clarke et al, 2005, p234). Os benefícios do regime de visitas mais flexíveis vão depender dos padrões do ambiente previamente estabelecido entre o grupo familiar e não irão fortalecer os relacionamentos familiares automaticamente.

Limitações no papel de pai

Devido às limitações inerentes do aprisionamento, Looney (2001) descobriu que o comportamento dos presos era muito restrito como pais. Atividades que fornecem disciplina e suporte financeiro, afeição física e compartilhamento de ocasiões especiais na vida da criança eram todas vistas como papeis paternais importantes, os quais eram geralmente constrangidos pelo ambiente da prisão. Os presidiários sentiam-se restritos a pais envolvendo comunicação verbal, como fornecer conselhos durante as visitas e atividades cognitivas, como passar tempo pensando ou se preocupando sobre seus filhos. Uma série de comportamentos, os quais poderiam ser considerados como envolvimento, em termos de “comportamentos que promovem interação e refletem um comprometimento com a criança.” (Ihinger- Tallman et al 1995), que poderia ser esperado dentro de uma “instituição total” (Groffman, 1961) de sua natureza, eram razoavelmente limitados através do aprisionamento.

Reações divergentes à angústia da prisão

Uma forte temática no estudo de Looney (2002) era o predomínio dos sentimentos e da angustia emocional, tais como o desamparo, frustração e culpa nas restrições dos presidiários em seus relacionamentos como pais. No entanto, apesar a dominância desses sentimentos negativos, as dificuldades das visitas descritas acima e as limitações colocadas em seu papel, os presos divergem bastante em como eles percebem que suas identidades foram afetadas pelo ambiente. Alguns decidem se afastar do ambiente por causa de suas inabilidades para lidar com este estresse emocional. Outros sentiram que suas identidades como pais não eram relativamente afetadas pela sua prisão devido ao seu vinculo com seus filhos ou por que seus status biológicos como pais não se mantiveram inalterados. Alguns, que tendem a expressar seus sentimentos de arrependimento ou decidem uma mudança pessoal futura, expressavam que suas identidades como pais tinhas se tornado tudo de mais importante para eles como resultado de seus aprisionamentos.

O estudo de Looney (2001) focou primeiramente na influência do contexto carcerário, em como os presidiários percebiam e promulgavam seus papéis como pais. Enquanto o contexto carcerário é importante, o mesmo tem sido explorado nas literaturas de paternidade, no compromisso dos pais e o envolvimento subsequente pode também ser influenciado por uma série de fatores pessoais e interpessoais, incluindo sua boa vontade e seu status de relacionamento como responsável. Embora isso tenha começado pois as mães tinham um papel importante em determinados níveis de contato entre os

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presidiários e seus filhos, não estava claro, por exemplo, que os presos que escolhem renunciar seus papéis tinham seu acesso negado ou tinham mais experiências conflituosas em seus relacionamentos como parceiro, como poderia ser esperado nas experiências paternas não residentes. (Lunt, 1987, Doherty et al, 1996, Corcoran, 2005).

A importância de um responsável facilitando o contato

Pesquisas de outras jurisdições mostraram alguns aspectos da influência interpessoal do envolvimento dos presidiários como pais. Um estudo no Reino Unido dos pais na prisão (Clarke et al, 2005) focou particularmente na influênciadas relações dos presos como responsáveis em relação às suas experiências na paternidade. De acordo com Clarke et al (2005), os presos eram particularmente dependentes das mães para facilitar seus relacionamentos com seus filhos e a qualidade do relacionamento com algum responsável de forma positiva, eram muito mais propensos a ver seus filhos regularmente, enquanto homens que classificaram seus relacionamentos mais negativamente, viam seus filhos com menor frequência (Clarke et al, 2005)

Com o tempo, o esforço e custo gasto para viajar para a prisão à visita e o desconforto da experiência de visitação, mencionado acima, manter contato regular através de visitas, talvez demandem certo nível de compromisso com o relacionamento para o responsável. Presidiários que veem seus relacionamentos de um ponto positivo e veem seus filhos regularmente, talvez sintam que seus relacionamentos estão sendo mantidos pelo seu companheiro. De fato, uma série de estudos (Ardetti et al, 2005, Boswell e Wedge, 2002), perceberam, assim como McDermot e King (1992) descrevem, como o contato familiar ajudou os presos a lidar com suas sentenças e “forneceu um senso de história e esperança para uma vida futura além de atrás dos muros” (McDermot e King, 1992, p51).

As ligações entre um relacionamento negativo com o responsável (do lado de fora da cadeira) e um controle maternal, em relação aos pais divorciados ou não residentes foram citadas no capítulo anterior. (Corcoran, 2005, Lunt, 1987).

Em relação aos presidiários, uma série de estudos tem esclarecido como o conflito com o responsável ou o controle maternal são frequentemente citados como uma razão para a falta de acesso às crianças (Nurse, 2001, Boswell e Wedge, 2002, Ardetti et al, 2005). Em todos esses estudos, os presos que tinham vivenciado essas dificuldades expressaram sentimentos de raiva, ressentimento e impotência sob o controle ou relacionamento nessas circunstancias (Nurse, 2001, Boswell e Wedge, 2002, Ardetti et al, 2005, Clarke et al, 2005). Ainda, o estresse da situação de estar preso e o estresse do conflito talvez oprimam o desejo de envolvimento do presidiário e o leva ao isolamento. De fato, na pesquisa de Nurse (2001) do Reino Unido, quando presos encontram dificuldades em lidar com ambas pressões, a da vida dentro

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da cadeia e a pressão familiar, eles frequentemente se isolam do contato com o mundo fora dos muros da prisão.

Relacionamentos com co-responsáveis e as pressões do encarceramento

Relacionamentos conflituosos com o corresponsável são altamente ligados a baixos níveis de contato entre os presidiários e seus filhos quando seus relacionamentos como pais são particularmente vulneráveis. Ainda se o relacionamento com o co-responsável intacto antes da prisão, o processo de aprisionamento exercerá uma série de pressões. O estigma do aprisionamento talvez cause estresse em um relacionamento e leve ao conflito entre o presidiário e seu companheiro (Richards, 1992), ainda assim, isto depende da atitude do corresponsável diante do crime. A renda familiar talvez seja reduzida e o corresponsável talvez se sinta isolado e desamparado (Richards, 1992).

Longos períodos de separação trarão diferentes pressões. O estudo de Nurse (2001) mostrou como a vida dentro da prisão era dominada por uma cultura de desconfiança para com as mulheres. Essa desconfiança era vista como um medo para os presos em seus relacionamentos e em relação à infidelidade de suas parceiras e freqüentemente levaram a conflitos e à separação (Nurse, 2001). Clarke et al (2005) notou que os relacionamentos precisavam ser fortes para sobreviver às pressões do encarceramento e que os relacionamentos de pessoas que coabitam ou são casadas mostraram maiores níveis de comprometimento no começo da sentença e que com os problemas e pressões que surgiram, ainda assim sobreviveram à pressão do encarceramento com mais sucesso. Em um evento de conflito entre os pais, o relacionamento se quebra e perde o acesso. Os relacionamentos dos presos são feitos de forma mais complexa pelo fato de que eles são geralmente considerados “indesejados” como membros da sociedade e como pais (O’ Mahony, 1993, Ferguson e Hogan, 2004). Dado o estigma do status do presidiário, os grandes números de pais solteiros sem direitos entre a população carcerária e a percepção negativa que o sistema mantém de muitos pais, citados no capítulo anterior, continuam. Os presos parecem ser menos propensos a procurar acesso às suas crianças através da corte. Entre todos os pais não residentes, os presos são particularmente os que correm o risco de estranhamento maior com suas crianças.

Medo da “descoberta” como uma tensão no relacionamento

Uma tensão maior ainda pode surgir para os pais com seus filhos quando os mesmo tomam consciência da prisão dos pais. No estudo de Nurse (2001) no Reino Unido, os presos freqüentemente sentiam vergonha durante as visitas, principalmente quando seus filhos mais velhos se atentavam às suas situações. De fato, em ambos os estudos irlandeses, ficava claro que os presos irlandeses normalmente enganam ou mentiam para seus filhos sobre suas prisões (Looney, 2001, CSER, 2002).

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O capítulo anterior mostrava como tradicionalmente os pais preenchiam uma “autoridade moral” na família, fornecendo disciplina e guia moral para seus filhos. Embora a autoridade absoluta do pai tenha mudado a expectativa de que os pais forneçam disciplina continua forte. De fato, prover disciplina era um dos papéis no estudo de Looney (2001) que foi tido como importante para os prisioneiros irlandeses, mas era constrangido e impedido pelo fato de suas prisões. Há uma tensão inerente na posição moral que se requere para passar disciplina e o status de prisioneiro, que é conhecido popularmente como alguém que cometeu um crime. É possível que a consciência do encarceramento de seus pais talvez debilite a autoridade dos pais e seus status de relacionamento com seus filhos, de fato uma “perda da autoridade paterna” foi um dos âmbitos mencionados no estudo da CSER (2002) como uma das experiências dos pais irlandeses aprisionados.

Morris (1967) notou a tendência dos presos em enganar seus filhos, como um esforço para preservar a imagem positiva e porque eles têm medo da rejeição pelas crianças. A decepção pode ser real quando as crianças pequenas se desenvolvem e se tornam mais conscientes de seu ambiente, principalmente visitando seus pais regularmente na cadeia. É possível também que alguns presos desencorajem o contato e talvez até o isole para evitar o desconforto e a explicação que acompanhará a tal “descoberta”. O apoio de um co-responsável para explicar e manter uma percepção positiva do pai, pode ajudar a minimizar as repercussões negativas dessa descoberta, mostrando o que foi discutido acima, como um pai pode se sentir com um suporte positivo de um co-responsável em seu relacionamento com seu filho.

O afastamento como uma “evidência de cuidado”

Alguns presos se preocupam com o impacto negativo do contato com seus filhos e tentam desencorajar as visitas e até se isolam de seus papéis como pais. Através de uma série de estudo, algumas preocupações comuns são citadas como razões para desencorajar as visitas e tomar o isolamento como atitude. Mais comumente, os presidiários se preocupam com a aflição que as crianças passam pela pressão emocional por conta das visitas (Boswell e Wedge, 2001, Looney, 2001, Clarke et al, 2005). Outra preocupação comum é o fato de que seus filhos terão facilidade em aceitar a prisão e um comportamento criminal, devido à exposição ao ambiente. Um tema menos comum é quando um presidiário se descreve como uma influencia negativa para a criança. O que surgiu no estudo de Ardetti et al (2005), em relação aos presos viciados em drogas. Alguns pais desencorajam o contato como uma evidencia de seu cuidado com seus filhos (Ardetti et al, 2005).

As emoções das visitas

A revolta emocional pelo contato emerge em dificuldades particulares para os presos e suas famílias dentro de uma série de estudos (Boswell e Wedge,

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2002, Looney, 2001, Ardetti et al, Clarke et al, 2005). Enquanto a preocupação com o impacto dessa dificuldade em seus filhos tem sido discutida, as vezes os presos são incapazes de cooperar com essa situação e citam essa como a razão para se isolar ou minimizar o contato (Boswell e Wedge, 2002, Ardetti et al, 2005). A reação é similar à dos pais divorciados ou separados discutida no capítulo anterior, (Lunt 1987). Lunt (1987) observou que os pais que se isolam do contato eram incapazes de resolver sentimentos complexos que surgem com a separação. E fica claro que a habilidade dos presos para lidar com o drama emocional da separação é um fator crucial para determinar a continuação desse envolvimento durante a prisão. Dado o aspecto negativo entre a população carcerária, ficam claro que o histórico de vício dos presos e o status terão uma influência significante em seu envolvimento como pais.

A falta de exploração da toxicodependência e da paternidade

O impacto do vício nos relacionamentos de um presidiário como pai tem recebido muito pouca atenção dentro das pesquisas irlandesas e também das internacionais. Referencias limitadas tem surgido em alguns estudos, por exemplo nos estudo de Looney (2001) e de Clarke et al (2005), alguns presos expressaram o desejo de maior e melhor envolvimento com seus filhos como um resultado da pausa com as drogas e participação em programas de reabilitação.Também, como explorado acima, o vício das drogas surgiram no estudo de Ardetti (2005) como a razão para o isolamento. Dadas as ligações entre a dependência, envolvimento criminal e encarceramento (Connolly, 2006a, Keogh, 1997, Dillion, 2001), é possível que muitos dos presos envolvidos em uma série de pesquisas irlandesas e internacionais discutidas acima, eram tóxicos dependentes e suas experiências têm surgido com uma série de dificuldades, pelas quais eles passam como pais.

Toxicodependência entre os presos irlandeses

Como descoberto na pesquisa entre os presos irlandeses, os números de presos com um histórico de vicio são muitos altos entre a população irlandesa (O’ Mahony, 1997 e 2002), Allwright et al, 1999, Dillion, 2001). Também muitos estudos mostraram que os presidiários irlandeses continuam a usar uma série de drogas ilegais dentro da prisão; no entanto, o uso da heroína é o que prevalece (O’ Mahony, 1997, Allwright et al, 1999, Dillion, 2001). Um indicador da seriedade da dependência da heroína é o grande número de presidiários que recebem um tratamento a base de metadona na prisão. Metadona é uma forma sintática da heroína, a qual supre o desejo e bloqueia os efeitos psicológicos do isolamento (Falkowski, 2000). Este é um dos suportes primários oferecidos dentro de prisão para dependentes, de fato, acordo com o serviço irlandês de prisão, diariamente uma média de 200 presidiários recebe metadona na prisão de Mountjoy (IPS, 2005). Devido à prevalência de uso prévio de heroína entre os presidiários, essa discussão focará nas dificuldades

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particulares, as quais podem surgir da dependência da heroína entre os pais na prisão.

O impacto da dependência disfuncional das drogas

O uso de drogas alcança dos níveis mais ocasionais “experimentais” ou “recreacionais” até o nível mais crônico “disfuncional” e sério do uso (Brill, 1981). Embora muitos usuários de drogas tenham o menos dos níveis, a grande maioria de viciados na prisão cometeu crimes para financiar seus vícios (Dillion, 2001) e podem ser considerados como tendo uma experiência “disfuncional” ou crônica do nível de dependência.

O uso crônico da heroína é associado com uma série de problemas físicos, psicológicos e mudanças de comportamento (Falkowski, 2000). No estado da dependência crônica e física, aquisição regular e consumo da droga se tornam compulsivos. Obrigações pessoais e familiares são ignoradas e devido aos sintomas do isolamento, os viciados podem passar por mudanças severas de humor. Milhares de dificuldades sociais, familiares, de emprego, de saúde e pessoais podem surgir dessa compulsão (Falkowski, 2000). Para alguns usuários crônicos a necessidade constante de adquirir uma quantidade crescente de heroína pode resultar em um comportamento criminal, aprisionamento, falta de moradia e relacionamentos quebrados (Dillion, 2001). É reconhecido que a maioria dos viciados usa drogas como uma isolação contra problemas sociais e emocionais. Episódios de relapsos podem ser freqüentes e os usuários podem retornar às drogas como um mecanismo copioso em momentos de dificuldades pessoais ou emocionais. (Brill, 1987).

Alguns usuários da heroína que podem financiar sua dependência através de meios legais mantêm um estilo de vida relativamente convencional, portanto o crime não é sempre uma rota automática. (Merchants Quay Project, 2007). Obviamente a natureza legal da droga significará riscos de acusação aos usuários se forem pegos em possessão de drogas. Relacionamentos quebrados talvez não seja uma rota automática também, por exemplo, um estudo irlandês mostrou que muitas usuárias da heroína tendiam a usar com seus companheiros (Moran et al, 2001). Ainda assim, em relacionamentos onde a droga é consumida, isso pode criar uma tensão se um dos dois parceiros tenta se reabilitar e o outro parceiro continua a usar.

Pais como usuários da heroína

Apesar do interesse crescente na paternidade nos últimos anos, há uma mínima atenção prestada ao status de pais viciados em drogas, ou analise de como o uso da droga influencia no envolvimento ou comportamento paterno especificamente (McMahon e Rounsaville, 2002). Um estudo irlandês (Hogan e Higgins, 2000) examinou o impacto do consumo de opiláceos nas crianças filhas de pais dependentes. Ainda assim, as visões das mães e dos pais têm

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surgido dadas a escassez das pesquisas nessa área, suas descobertas serão inclusas nesta discussão.

Pesquisas sobre os pais como usuários de drogas

Hogan e Higgins (2000) compararam experiências de pais usuários de drogas e de pais não usuários nas mesmas condições socioeconômicas em Dublin.

A grande maioria dos pais é usuário de heroína. As descobertas deste estudo revelaram muito dos pontos levantados por Falkowski (2000) e trouxeram também como a droga pode debilitar a estabilidade familiar. Por exemplo, como resultado do tempo gasto adquirindo e consumindo drogas, os pais que são usuários apresentaram episódios de dificuldades financeiras juntamente com períodos de falta física e emocional de seus filhos. Muitos pais usuários de drogas descreveram níveis crescentes de ansiedade e intenso desconforto físico durante a abstinência, os quais aumentavam a irritabilidade com seus filhos. Alguns pais sentiram que eles poderiam apenas funcionar “normalmente” como pais se a droga tivesse sido consumida. No entanto, para muitas famílias, uma estabilidade maior vinha da prática de apoio e cuidado físico fornecido pelas famílias e através da manutenção e uso da metadona (Hogan e Higgins, 2000). Foi dito ainda que, pais usuários de drogas normalmente tinham altos níveis de ansiedade e culpa sobre o impacto da sua dependência das drogas na família.

Os autores enfatizaram algumas diferenças nas tarefas alocadas entre mães usuárias de drogas e pais. Os pais usuários de drogas eram muito mais ausentes da vida de seus filhos do que as mães (Hogan e Higgins, 2000). Isso foi atribuído a uma série de razões relacionadas a como o uso de drogas poderia levar à prática de crimes, tratamento de drogas residencial ou hospitalização. Quando os dois são usuários de drogas, as mulheres freqüentemente dependem de seu parceiro para fornecer as drogas (Hogan e Higgins, 2000). As tarefas essencialmente mostraram-se presentes pela divisão do trabalho doméstico associado à uma vida de uma família tradicional.

Pais irlandeses usuários de drogas

Como explorado no capítulo anterior, expectativas dos pais contemporâneos como os que nutrem a família e são chefes dela, são geralmente altas, embora isto possa variar dependendo do contexto cultural e famílias (Doherty et al, 1996). A partir do que foi dito acima, o vicio diminuirá a habilidade de um pai quando se trata em contribuir com recursos para sua família ou até mesmo o pai se tornará quem irá drenar os recursos da família. Dependendo das expectativas de sua parceira, ela pode muito bem causar maior pressão em seu relacionamento com um parceiro usuário de drogas (Niolon, 2007).

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Para completar o papel de pai em sua família, este deve equilibrar-se entre comportamentos positivos e encorajadores e controle de comportamento (Baumrind 1966 citado em Mosley e Tompson, 1995). A saúde psicológica é um fator importante no apoio deste equilíbrio (Doherty et al, 1996) e as mudanças de humor, desejos físicos e a culpa associadas ao vicio disfuncional serão a melhor prevenção para uma interação positiva, e terão o pior resultado em um comportamento errante e disfuncional como pai (Niolon, 2007, Hogan e Higgins, 2000). Além disso, como as expectativas sociais ideais na paternidade cresceram (Pleck, 1987), McMahon e Rounsaville, (2002) enfatizam que os pais que falham em alcançar essas expectativas devem experimentar crescentes sentimentos de impotência, culpa e vergonha, os quais podem exacerbar uma angustia e levar a um uso crescente das drogas.

É claro que essa discussão focou-se no nível “disfuncional” de vício da heroína.

Similar aos fatores que foram encontrados que geralmente influencias o envolvimento dos pais, no capítulo anterior (Doherty et al, 1996), McMahon e Rounsaville, (2002) afirmaram que o envolvimento dos pais usuários de drogas pode ser mitigado por uma série de fatores interativos. Isso inclui o relacionamento com um co-responsável, seus níveis de angústia psicológica, os apoios sociais disponíveis e seus históricos de tratamento (McMahon e Rounsaville, 2002). Como descoberto por Hogan e Higgins (2002), com apoio e recursos muitos viciados serão capazes de administrar as responsabilidades da paternidade e da vida da família.

A complexidade da paternidade na prisão dentro do vício

Pesquisas anteriores mostraram os desafios que os presos podem vir a encarar quando mantêm seus relacionamentos como pais dentro da prisão (Ardetti et al, 2005, Clarke et al, 2005, Looney, 2001, Nurse 2001, Boswell e Wedge, 2002). No entanto, nos parece claro que a luta dos presidiários com o vício enfrentará problemas que são de natureza psicológica, comportamental e física que vêm de problemas sérios de dependência e uso de drogas ilícitas dentro de um ambiente seguro e controlado. Presos que continuam usando drogas ilícitas dentro da prisão têm menos recursos para financiar seu vício e podem chegar a pedir às suas famílias recursos adicionais. Dependendo das expectativas e da atitude de sua parceira com respeito ao uso de drogas, o uso contínuo pode aumentar os conflitos em seu relacionamento.

Como todos os meios de contato com a família são discricionários (IPS, 2002, McDermott, 2000) os presos pegos em possessão ou em uso de drogas ilícitas dentro da prisão, podem também ter o contato interrompido como uma forma de punição. (Connolly, 2006b).

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O impacto psicológico do uso de drogas (Falkowski, 2000) pode inibir a habilidade do preso de lidar com angústia emocional causada pela separação, culpa e aprisionamento. É possível que alguns dos presidiários talvez se sintam com vergonha tanto de estar preso, quanto de seu vício, sua influencia como pai está esmagadoramente fraca. Se em relacionamento conflituoso, que não aprova e tem dificuldade de acesso com um co-responsável, o preso talvez sinta que é melhor para os mesmos e para seus filhos o isolamento e falta de contato, no entanto, foi descoberto que tanto para os pais usuários de drogas, quanto para os pais não usuários, isso pode depender do apoio que eles têm dentro do relacionamento com suas parceiras (Doherty et al, 1996, McMahon e Rounsaville, 2002). Como enfatizado acima, como resultado de seu aprisionamento, alguns presidiários podem desenvolver um desejo pela reabilitação de drogas, mudança pessoal e renovo nos relacionamentos familiares (Looney, 2001, Clarke et al, 2005).

Acesso a tratamento dentro da prisão

Um preso que opta por procurar reabilitação das drogas pode enfrentar um número de barreiras no acesso ao tratamento nas prisões irlandesas. Como relatado acima, a manutenção da metadona é fornecida para diminuir e inibir a dependência da heroína, no entanto psicoterapia intensiva é também necessária para lidar com problemas emocionais, os quais levaram a esse alto nível de consumo de drogas (Brill, 1987). Devido a problemas financeiros, o acesso à metadona e a psicoterapia são fornecidos em uma base limitada nas prisões irlandesas (IPS, 2005). Por exemplo, apenas presos com 26 meses ou menos podem usufruir disto durante sua sentença ou uma pedir por uma data de revisão judicial, mas só depois de mais 26 meses; Esses podem candidatar-se a qualquer um dos dois programas de desintoxicação de drogas oferecidos na prisão de Mountjoy (Dillion, 2002). Também, apenas os que já estão presos podem continuar a receber o tratamento na pris ã o4 (Dillion, 2001). Portanto, presos com longas sentenças a cumprir ou sem nenhum apoio no uso da metadona antes de entrar na prisão pode ser forçado a desintoxicar independentemente.

O sucesso na reabilitação de drogas depende de uma série de fatores, incluindo a extensão da tentação presente por drogas ilícitas dentro do ambiente prisional (Dillion, 2001), estágio particular de vicio e seus níveis de motivação para obterem sucesso (O’ Mahony, 2002).

Como relatado acima, umas das poucas áreas da pesquisa sobre vícios que tem crescido, é a de como o relacionamento dos presidiários com seus filhos é apontado como uma fonte de motivação para a continuidade na reabilitação de drogas (Clarke et al, 2005, Looney, 2001, Dillion, 2001). Paradoxalmente, enquanto o vício inibe e debilita o relacionamento de um pai com sua parceira e

❑4 Segundo Dillion, (2001), presidiários portadores de HIV fornecidos com metadona têm o tratamento independentemente desta regra

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filhos, esse relacionamento parece fornecer uma série de motivações para alcançar a liberdade das drogas para alguns dos presos.

Conclusão

Está claro que os presidiários enfrentam uma série de desafios em sustentar seus relacionamentos como pais. Uma revisão dos dados ilustra o perfil dos presos irlandeses e mostram a fragilidade de seus relacionamentos como pais. No entanto, o único estudo irlandês que diz sobre os presidiários como pai mostrou que a grande maioria dos presos mantém alguma forma de contato com a família (Looney, 2001). A pesquisa de Looney (2001) enfatizou também como o contexto prisional inibe a comunicação familiar e restringe a forma como um presidiário vai continuar seu papel como pai enquanto se encontra dentro da prisão. Apesar dessas dificuldades, Looney (2001) identificou uma diversidade significante de formas nas quais os presos perceberam que seu papel como pais foi afetado pelo ambiente da prisão.

Em uma pesquisa do Reino Unido (Clarke et al, 2005) afirma que a qualidade do relacionamento do presidiário com sua parceira tem grande potencial tanto para apoiar e impulsionar quanto para debilitar seu relacionamento com seus filhos. Embora fatores adicionais, tais como a percepção do presidiário de como o contato influenciará seus filhos, sua habilidade de lidar com a perda de autoridade, a qual pode resultar de uma “descoberta” de seu status como presidiário e geralmente seu bem estar emocional também influenciarão seu envolvimento com seus filhos. Considerando uma dependência contínua de drogas entre os presos irlandeses e os danos vindos de uma dependência “séria” a boa vontade emocional e os relacionamentos, nos surpreende que o vício não tenha recebido atenção maior entre as questões de pesquisa sobre os presidiários como pais. Este capítulo mostrou que um presidiário com problemas de dependência pode encarar uma série de desafios emocionais e práticos em como sustentar seus relacionamentos como pai e como parceiro, principalmente quando está cumprindo uma pena de longo tempo.