psicologia forense

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Psicologia Forense- frequência Livro forense- Carla machado e Rui Gonçalves A psicologia forense deve ser entendida como um campo interdisplinar, cuja especificidade é a interface entre a psicologia e o direito. Blackburn defende que a psicologia forense consiste na aplicação do conhecimento psicológico ao serviço da tomada de decisão judicial. A interface entre a Psicologia e o Direito coloca um ramo do saber ao serviço de outro, acarretando uma série de consequências: ao nível do entendimento e comunicação entre campos do saber, da definição do cliente e dos objetivos da avaliação, da diferenciação e especificidade da psicologia forense quando comparada com outros campos da psicologia e dos cuidados éticos a ter no processo de avaliação. 1. Psicologia e direito: linguagens e comunicações As diferenças entre psicologia e o direito é feita a 4 níveis: - a conceção de verdade - a conceção de causalidade - a linguagem utilizada - e a construção que cada disciplina faz da natureza humana Enquanto o direito tem uma conceção de verdade estabelecida no processo como match- descoberta de algo que corresponde à realidade e que não é questionado, a psicologia tem um processo fit- construção que encaixa nos fatos mas que é apenas uma entre outras verdades possíveis. Enquanto o direito tem uma finalidade de produção de verdades únicas e inquestionáveis, para a psicologia uma dada verdade é apenas uma hipótese, um instrumento que orienta a ação. Enquanto o objetivo do processo penal é determinar a ocorrência de determinados eventos, a participação do arguido nestes e a sua culpa, para a psicologia a causalidade é multifacetada. Qualquer dado comportamento é visto como o produto de uma confluência de cincunstâncias. Para o tribunal, o arguido, a vitima ou a testemunha são tidos como entidades unitárias, existindo dificuldade em entender os

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Page 1: Psicologia Forense

Psicologia Forense- frequência

Livro forense- Carla machado e Rui Gonçalves

A psicologia forense deve ser entendida como um campo interdisplinar, cuja especificidade é a interface entre a psicologia e o direito. Blackburn defende que a psicologia forense consiste na aplicação do conhecimento psicológico ao serviço da tomada de decisão judicial.

A interface entre a Psicologia e o Direito coloca um ramo do saber ao serviço de outro, acarretando uma série de consequências: ao nível do entendimento e comunicação entre campos do saber, da definição do cliente e dos objetivos da avaliação, da diferenciação e especificidade da psicologia forense quando comparada com outros campos da psicologia e dos cuidados éticos a ter no processo de avaliação.

1. Psicologia e direito: linguagens e comunicações

As diferenças entre psicologia e o direito é feita a 4 níveis:

- a conceção de verdade

- a conceção de causalidade

- a linguagem utilizada

- e a construção que cada disciplina faz da natureza humana

Enquanto o direito tem uma conceção de verdade estabelecida no processo como match- descoberta de algo que corresponde à realidade e que não é questionado, a psicologia tem um processo fit- construção que encaixa nos fatos mas que é apenas uma entre outras verdades possíveis. Enquanto o direito tem uma finalidade de produção de verdades únicas e inquestionáveis, para a psicologia uma dada verdade é apenas uma hipótese, um instrumento que orienta a ação.

Enquanto o objetivo do processo penal é determinar a ocorrência de determinados eventos, a participação do arguido nestes e a sua culpa, para a psicologia a causalidade é multifacetada. Qualquer dado comportamento é visto como o produto de uma confluência de cincunstâncias.

Para o tribunal, o arguido, a vitima ou a testemunha são tidos como entidades unitárias, existindo dificuldade em entender os psicólogos. Tal dificuldade acresce pela necessidade de o direito se pautar por uma referência normativa e abstrata do ser humano enquanto a psicologia funciona dentro de uma matriz de referência idiossincrática. O direito é ideográfico enquanto a psicologia é nomotética.

2. Psicologia clinica e psicologia forense

Na clinica o sujeito é individual, na forense o cliente, em ultima instância, é o tribunal ou o sitema judicial.

O psicólogo forense deve atender às necessidades e interesses da justiça e do tribunal.

Características da avaliação psicológica forense:

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a) A falta de confidencialidade quanto aos resultados de avaliaçãob) A participação do cliente que é, pelo menos determinada externamentec) O fato de os objetivos e tempos da avaliação serem também determinados

externamente (pelo tribunal) e não estabelecidos pelo próprio avaliadord) O caracter estático da avaliação, tornando-a um juízo definitivo que o avaliador não

tem possibilidade posterior de monotorizar ou reformulare) A falta de articulação que muitas vezes existe entre avaliação e intervenção f) A necessidade de tradução concetual e de adaptação da linguagem psicológica a um

destinatário externo ao nosso campo do saberg) A exposição externa da avaliação, quer pela possibilidade de o perito ser inquirido e

lhe serem pedidos esclarecimentos, quer pela possibilidade de nomeação de um consultor técnico para seguir o processo de avaliação

A psicologia forense exige um conhecimento razoável do sistema judicial, assim como um domínio concetual e técnico de diversos campos da psicologia.

3. Problemas técnicos na avaliação psicológica forense

A resistência e a mentira são obstáculos. A utilização de estratégias de avaliação multimétodo, a triangulação dos informantes e a despistagem da simulação através dos indicadores que alguns instrumentos e a literatura têm sugerido são cuidados esseciais do psicólogo forense.

A recolha cuidadosa da história de vida, a partir do próprio e dos seus outros significativos, poderá ajudar a valorar o relato e a relativizar o estado atual do sujeito.

Ao risco de faltar validade ecológica À avaliação acresce o frequente viés cultural, especialmente se a peritagem ocprrer no Âmbito de um processo penal. Os arguidos geralmente são sujeitos de meios socioeconómicos desfavorecidose pouco escolarizados, o que enviesa no sentido negativo especialmente as que se dirigem Às aptidões intelectuais. É também de considerar o viés cultural dos técnicos, o que pode gerar dificuldades em perceber o ponto de vista daqueles sobre os alegados crimes. Torna-se fundamental estar atento À formulação de juízos de valor.

O perito deverá utilizar apenas instrumentos estudados e avaliados em Portugal. Os instrumentos de avaliação não especificamente forenses suscitam problemas, já que apesar de uteis na despistagem de construtos psicológicos relevantes raramente correspondem ao que o tribunal que saber.

Um ultimo problema técnico referente à avaliação é o estado mental passado ou futuro do arguido.

Durante os processos judiciais o relato pode ser diversas vezes repetido o que pode levar a um embotamento emocional na referência dos fatos , erroneamente interpretada como sinal de ausência de empatia e de ressonância afetiva.

A dificuldade em confirmar fatos nas situações em que a vitima pretende manter o segredo perante a família, ou a marcada reconstrução narrativa familiar, conduz frequentemente a perspetivas antagónicas e dificilmente conciliáveis nos casos de regulação de poder paternal.

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É importante avaliar qual é a motivação da vitima no processo em curso. Se age-se movida por um desejo de reparação, age por influência ou se pretende vingança ou se se trata de outras motivações. O importante também é avaliar o impacto da vitimação.

4. Questões éticas na avaliação psicológica forense

Fata de confidencialidade. O técnico deve clarificar isto junto do sujeito. O técnico deve restringir a intrusão na intimidade do avaliado ao estritamente necessário. Hess: pode ocorrer uma situação em que o sujeito, mesmo informado sobre a ausência de confidencialidade, continue a relacionar-se com o psicólogo como profissional de ajuda. Isto pode levar a sentimentos de mal estar no técnico, tais como a culpabilidade pelas consequências do seu parecer.

A separação dos papéis de terapeuta e avaliados forense é fundamental, sendo recomendado que o psicólogo jamais aceite produzir um parecer forense sobre alguém que acompanha como terapeuta. Esta minimiza as dificuldades emocionais produzidads pelo trabalho forense. Podem ocorrer em que o psicólogo tem dificuldade em conseguir empatizar com ele o suficiente para perceber o seu ponto de vista.

Os problemas de gestão de empatia são frequentes na avaliação das vitimas podendo levar a uma perturbação emocional e sensação de sobrecarga no técnico.

Estes problemas emocionais são reforçados pelas pressões diretas e indiretas. As diretas podem ser exercidas pelo sujeito avaliado ou pelos representates legais e as indiretas são criadas pelas características de exposição pubkica dos resultados de avaliação.

Estes fatores externos de pressão associados ao problemas de insegurança afetam os técnicos.

5. Dos problemas ao processo.

Recomendações na condução de peritagens psicológicas forenses.

a) Ao nível do pedido:

- aceitar apenas solicitações cuja fonte é o tribunal ou outros órgãos de administração da justiça. É a melhor forma de o psicólogo garantir que a sua ideonidade é respeitada como também de assegurar o conhecimento e o acesso Às diferentes partes processuais.

-consultar o processo ou solicitar o envio da documentação relevante ao caso

-clarificar o pedido junto do Tribunal quando este não inclui quesitos específicos.

b) Ao nível dos procedimentos e condições da avaliação

– defenir o que se pretende avaliar e qual a informação necessária

- dar preferência a medidas menos intrusivas e limitar o uso de testes aos necessários

- evitar questãoes intrusivas ou ofensivas e juízos de valores intrusivos

- usar apenas instrumentos validados

-usar instrumentos concebidos para fins forenses

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-estabelecer com o sujeito avaliado uma relação de neutralidade

-ser celebre na avaliação

-manter um processo completo e organizado

c) Ao nível da preparação do avaliador:

- procurar e obter formação especifica e atualizada

- assumir a responsabilidade técnica pelo processo de avaliação

d) Ao nível da relação com o sujeito avaliado:

- garantir que este foi informado sobre os objetivos da avaliação, caracyeristicas e limiares de confidencialidade

-obter o consentimento

- garantir que o cliente receba informação sobre os resultados formulados numa linguagem adequada

- aceitar que o sujeito tem o dever de não revelar informação que lhe possa prejudicar

e) Ao nível do parecer produzido:

- evitar preconceitos

- formular o relatório numa linguagem acessível

- ser sucinto

- indicar as fontes e os meios de avaliação utilizados

- incluir informação apenas pertinente

- explicar os limites da avaliação, ou seja, destinguir fatos de opiniões e identificar o grau de certeza associado a cada parecer técnico

- indicar as condições que podem afetar o k do avaliado

- incluir informação integrativa, evitando a usual centração nos défices do cliente

Conclusão- Para uma análise critica do relatório forense

Langstrom- questões qie p perito deve formular a si próprio no final do processo:

a) Os construtos que utilizo estão suficiente operacionalizados?b) Estes conceitos são facilmente reconduzidos aos dados, isto é, encontramos com

facilidade os indicadores que os sustentam?c) Que confiança podemos ter nos dados recolhidos?d) Que confiança merecem as nossas fontes?

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e) Levamos em conta os fatores de risco estáticos(experiência) e os dinâmicos (contextos)?

f) Ponderamos e referimos fatores de risco e fatores protetores?

Tanto o código de processo civil como o do processo penal se aplica o regime de verificação da legitimidade que consiste em:

- Se existirem duvidas sobre a legitimidade, o tribunal prossegue às averiguações necessárias e se concluir que a escusa é ilegítima, ordena que seja prestado o depoimento, apresentados os documentos ou prestada outra colaboração que estivesse em causa

- Se concluir que a escusa é ilegítima( que a prestação da colaboração pretendida violária o segredo profissional), será suscitada a intervenção do tribunal superior, que pode decidir que seja prestada com quebra do segredo profissional

- A decisão é tomada depois de ouvido o organismo representativo da profissão relacionada com o segredo profissional em causa

A revelação ilegítima e injustificada de segredo pode fazer incorrer o perito em responsabilidade criminal.

Outra questão é a da obrigatoriedade da denúncia de crimes.

2.5.2 O segredo de jsutiça e a publicidade do processo

O perito está obrigado a respeitar as restrições À publicidade do processo e o segredo de justiça.

O processo civil é publico, mas existem limitações à publicidade nos casos em que a divulgação do seu conteúdo possa causar dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral ou por em causa a eficácia da decisão.

O acesso aos autos é limitado por três considerações distintas:

- a tutela da dignidade e da intimidade das pessoas

- defesa da mural pública

- garantia da eficácia da decisão

O processo é secreto durante a fase de investigação, para o exterior e para os sujeitos e intervenientes processuais. Na fase do julgamento o processo é público.

No que respeita ao direito das crianças e dos jovens há uma grande preocupação em proteger estas dos efeitos para a sua saúde mental e desenvolvimento futuro.

O processo de promoção e proteção é de caracter reservado, o que significa que:

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- o acesso ao processo está limitado à criança, aos pais e ao representante legal e a quem manifeste interesse quando autorizado, pelo presidente da comissão de proteção de crianças

- a única fase publica do processo é a leitura da decisão

- os órgãos de comunicação social podem relatar o conteúdo dos atos públicos do processo, mas não podem identificar os jovens

- para fins científicos, pode a consulta ser autorizada, ficando obrigado ao dever de segredo

O juiz pode restringir a presença do publico nas audiências ou mesmo distitui-la e ainda determinar que a comunicação social não aceda à narração da história.

A violação do segredo de justiça, a violação do segredo do processo de adoção e o não cumprimenro das restrições à publicidade são criminalmente punidas.

Relatórios psicológicos: exercício de aproximação ao contexto forense.

1. Introduão

No contexto forense a avaliação apresenta um campo e liberdade de ação mais restritos, uma autonomia mais limitada, maior risco de ameaça à validade, maior constrangimento temporal e uma menor importância do sujeito avaliado. Esta avaliação faz parte de um processo legal, sujeito a contraditório, isto é, associado à produção de prova e à controvérsia entre acusação e defesa. Knapp e Vandecreek: a verdade e a produção de provas podem ser melhores quando há um confronto entre fatos, objeções, informação e evidência.

Na área do direito penal pode ser justificada qualquer avaliação do estado mental da vitima que o exame dos motivos do agressor. Pode ser socilitada a perícia sobre a personalidade. O consumo de drogas e outras substâncias,reincersão social, o acompanhamento terapêutico e a implementação de estratégias passam por avaliação.

Nos contextos que dizem respeito aos relatórios, o código de processo penal e a lei titular educativa referem:

a) O relatório social- informação sobre a incersão familiar e socioprofissional, com o objetivo de ajudar a conhecer a personalidade do arguido. A avaliação generalista tem por finalidade auxiliar a autoridade judiciária no conhecimento da personalidade do menor, incluída a sua conduta e inserção socioeconómica, educativa e familiar.

b) O relatório social com avaliação psicológica, que constitui uma tarefa obrigatória quando for de aplicar medida de internamento tem de ser realizado por um técnico de reinserção

c) O relatório enviado ao tribunal contém uma analise dos efeitos da pena na personalidade do delinguente do seu enquadramento familiar e profissional e da sua capacidade e vontade de se readaptar à vida social. Isto ajuda a fundamentar o parcer

d) O relatório deve conter os efeitos do tratamento sobre a perigosidade do internadoe) O relatório pericial- constitui um instrumento de assessoria técnica aos tribunais e tem

como finalidade apoiar o juiz na tomada de decisão

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O perito pode pedir escusa com base na falta de condições indispensáveis para a realização da perícia.

Estes relatórios não tem o mesmo valor jurídico e correspondem a regimes processuais diferenciados: o relatório social e o relatório social com avaliação psicológica representam meios de obtenção de prova e o relatório de perícia sobre a personalidade faz meio de prova.

O relatório pericial é o que resulta da perícia efetuada no decorrer do processo judicial.

2. Relatório psicológico forense: definição, objetivos e características

Relatório psicológico forense é: documento técnico que remete para a organização, síntese e integração da informação relevante obtida na avaliação psicológica realizada em contexto legal/forense. Este pode referir-se ao testemunho de um perito cujo papel é ajudar o juiz a encontrar os fatos e a compreender a evidência com o objetivo de determinar a verdade.

O relatório deve conter a metodologia empregue, as técnicas, os resultados, o raciocínio subjacente e a base factual das opiniões e conclusões obtidas.

O relatório constitui uma prova de natureza publica e assume as seguintes fontes de referência:

1. A ciência psicológica2. A ética e a deontologia3. Padrões da prática profissional 4. Lei5. A articulação com outros profissionais

Um relatório forense corretamento elaborado deve:

1. Proporcionar um quadro organizativo inteligível para o testemunho clinico do perito2. Ser claro, conciso e inteligível 3. Ser preciso, rigoroso e completo apoiando-se em evidências cientificas4. Explicar a relação entre os ks e os sintomas e a questão legal subjacente à solocitação

ou pedido de avaliação 5. Dar a conhecer as características, necessidades, défices e aspetos positivos do sujeito

que ajudem o juiz a tomar a decisão6. Ser relevante para a questão legal imediata e estar focalizada em questões prioritárias7. Antecipar objeções legais e criticas de natureza cientifica que podem surgir

O relatório pode ter o caracter de prova pericial.

3. Seccoes do relatório psicológico forense

O conteúdo e a estrutura dos relatórios pesicologicos forenses podem apresentar alguma variabilidade, diferindo de acordo com a natureza da solicitação.

Conjuntos básicos de sessões:

1. Informação demográfica2. Quem solicita a avaliação3. Elementos de identificação do profissional4. Descrição da natureza e objetivos específicos do pedido

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5. Consentimento informado, data das avaliações, documentos analisados6. História relevante7. Resultados8. Impressões clinicas, inferências e conclusões9. Intervenções ou recomendações

Pincipio éticos da psicologia forense

Ética: regras ou princípios que orientam a conduta dos membros de uma dada profissão, procurando regular, educar e inspirar. Estes são baseados nos valores que a sociedade considera importantes. Destacamos o modelo ético biomédico que tem vindo a ser adaptado na psicologia. Este tem quatro princípios básicos:

1. Atonomia2. Não-maleficiencia3. Beneficência4. Justiça

O principio da autonomia surge inserido no principio do respeito pela dignidade e pelos direitos das pessoas.

Código deontológico da OPP- guiar os psicólogos. Tem 5 principios:

1. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa2. Competência3. Responsabilidade;principio4. Integridade e principio5. Beneficencia e não- maleficência

Principios que delineam as regras da conduta ética nas várias áreas e contextos onde estes exercem:

1. Consentimento informado2. Privacidade e confidencialidade3. Relações profissionais4. Avaliação psicológica5. Praticas e intervenções psicológicas6. Ensino, formação e supervisão psicológicas7. Investigações 8. Declarações publicas

Num contexto forense o objetivo não é ajudar o examinado, mas sim o sistema judicial, enquanto o seu cliente, no processo de tomada de decisão- o que pode ou não beneficiar o individuo avaliar.

Cliente: qualquer pessoa, família, grupo, organização e/ ou comunidade com os quais os psicólogos exercam atividades no âmbito dos seus papeis profissionais, científicos e ou educacionais. O cliente pode ser etendido como o sietma de justiça.

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O principio geral de competência salienta a obrigação que os psicólogos tem de exercer a sua atividade de acordo com os pressupostos técnicos e científicos a partir de uma formação e uma constante atualização de forma a atingir os objetivos da intervenção psicológica. A competência do psicólogo forense implica a necessidade de um conhecimento interdisplinar.

Os psicólogos não devem estabelecer uma relação profissional com quem mantenha ou tenham mantido uma relação previa de outra natureza. No contexto da psicologia forense assume-se como importante o conflito de papeis existentes quando um terapeuta é chamado a interagir com o sistema de justiça.

Do psicólogo forense é esperada uma atitude imparcial e objetiva, que contribua para o apuramento de danos, para a determinação de responsabilidades ou para uma avaliação rigorosa de capacidades ou incapacidades do examinado. Este não deve assumir a priori a veracidade de qualquer informação. Um processo de avaliação forense é mais estruturado e delimitado no tempo do que um processo terapêutico.

No que diz respeito ao consentimento informado, os psicólogos devem respeitar a autonomia e a autodeterminação das pessoas com quem estabelecem relações profissionais, de acordo com o principio geral de respeito pela sua dignidade e direitos.

Os indivíduos devem ser informados sobre:

1. Os objetivos 2. A metologia3. O produto final a ser elaborado4. O grau de acesso por parte de terceiros5. As limitações à confidencialidade6. Potenciais benefícios ou prejuízos 7. O grau de participação voluntária do individuo8. Os possíveis efeitos associados à recusa de consentimento de serviços9. Eventuais conflitos de interesse 10. Os custos económicos associados11. A qualificação do psicólogo12. Os direitos legais do individuo

Isto permite o estabelecimento de um clima de confiança.

O perito pode ser responsabilizado penalmente pelo crime de ofensa à integridade física, caso decida, apos recusa proceder à avaliação pericial.

Este deverá ter acesso ao principais elementos constantes do processo judicial.

O enquadramento legal da prova pericial revela diferenças de cordo com a área do direito onde é realizada.

- A prova pericial e o seu vaor

Cpp: a prova pericial tem lugar quando a perceção ou a apreciação dos fatos exigirem expeciais conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos.

CC: refere-se à existência de conhecimentos especiais para apreciação ou perceção de fatos. Refere-se também à necessidade e uma avaliação pericial quando os fatos não devam ser objeto de inpeção judicial.

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A prova pericial tem como objetivo a descoberta da verdade material. No caso da avaliação psicológica revela-se fundamental que o tribunal possa ter uma compreensão mais aprofundada sobre a personalidade, as capacidades ou défices a nível cognitivo, as competências parentais e a sua implicação ou relação direta com os fatos. A perícia, tendo por base o conhecimento cientifico, é um elemento essencial para que o tribunal possa decidir.

A perícia pode relevar a revogação da prisão preventiva, a culpa do agente e a determinação da sanção aplicada. Já em direito civil poderá estar em causa a limitação dos direitos individuais.

A perícia como meio de prova constitui uma exceção ao principio da livre apreciação da prova. Este principio segundo latas implica que o juiz não se encontre sujeito a regras, previas e legalmente fixadas sobre o modo como devem valorar a prova, pelo que, por exemplo, pode reputar mais convincentes as declarações do arguido ou o depoimento de uma única testemunha que todos os restantes depoimentos. Esta não é apreciada segundo as regras da experiencia e a livre convicção das entidades competentes, na medida em que o juízo técnico, cientifico ou artístico pode ser afastado com argumentação igualmente técnica.

Barreiroa afirma que o perito é o juiz dos juízes, pois o juiz fica onerado com o encargo de fundamentar quando divergir da conclusão dos peritos, pois trata-se de presunção elidível, alem de que a cientificidade entra como critério em matéria de apreciação de provas, sendo o estatutp do perito, neste contexto, menos opinativo e mais decisório.

A apreciação da prova pericial produzida no âmbito do processo civil, na medida em que a força probatória das respostas dos peritos é fixada livremente pelo tribunal. Lima e Varela dizem que o tribunal tem legitimidade para se afastar do parecer dos peritps.

- Realização da perícia

Cpp: A perícia é realizada em estabelecimento, laboratório ou serviço oficial apropriado. Pode ser realizada por entidades terceiras desde que não haja conflitos de interesses. Esta ainda prevista a possibilidade de a perícia ser colegial ou interdisciplinar envolvendo mais que um perito, se estiver em causa uma complexidade. A perícia pode ser solicitada mais frequente na fase de inquérito, de forma a auxiliar o ministério publico a fundamentar a decisão de acusar. A perícia pode ser realizada a pedido do arguido na fase de inquérito, de forma auxiliar o ministério publico a fumentar a decisão de acusar. A perícia pode ser realizada a pedido do arguido na fase de inquérito, na fase de instrução bem como na fase do julgamento.

A presença de outras pessoas constitui um contragimento não apenas para efetiva recolha dos antecedentes pessoais como também na aplicação de provas de avaliação instrumental. Nestes casos, pode ficar prejudicar a prestação a colaboração por parte do sujeito. Há ainda que ter em conta que são recolhidos elementos que embora sejam fundamentais para a compreensão do sujeito podem não se relacionar com o objeto de perícia pelo que o perito deve obedecer à confidencialidade.

Cpc: a nomeação só é realizada quando o juiz estiver convicto de que a pessoa possui idoneidade e competência para essa avliação.

Tal como no processo penal, no processo civil está também previsto que o juiz pode assistir à avaliação, com exceção dos casos em que possa haver ofensas para o pudor ou que implique a

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quebra de qualquer sigilo. Ao emitir o despacho que ordena a perícia, o juiz deverá indicar o objeto da perícia e o prazo para a apresentação do relatório pericial.

-Desempenho da função de perito

O perito pode receber a denuncia de um crime sempre que exista o risco de perda de vestígios, devendo comunica-la ao ministério publico, podendo ser responsabilizado criminalmente quando não o faça.

O perito deve desempenhar a sua função com zelo, de forma diligente, respeitando os deveres éticos e deontológicos,. O compromisso diligente é feito mediante compromisso de honra. Os peritos tem de respeitar as normas modelos e metodologias, o que garante o principio de equidade.

-Consultores técnicos e assessores

Apos ter sidp ordenada a perícia, o ministério publico, o arguido, o assistente e as partes civis podem designar para assistir um consultor técnico da sua confiança. É também permitido que o consultor propunha determinada dliligencia e formular observações e objeções que poderam contar no relatório.

O consultor técnico é ouvido como testemunha e, nessa medida, o seu depoimento está sujeito à livre apreciação da prova, o mesmo não acontecendo no caso do perito.

Também no processo civil esta prevista a figura do consultor técnico, com execção dos casos em que possa haver ofensa para o pudor ou estar em causa a quebra de algum sigilo. A existência destes condultores assume-se como forma de assegurar o contraditório no âmbito das avaliações periciais.

Para além deste, há tembém a figura do assessor que pode ser qualquer especialista em determinada matéria que seja nomeado pelo juiz para o auxiliar na análise.

-Esclarecimentos e nove perícia

A entidade judiciária que requereu a perícia ou outros constituintes do processo que o perito preste esclarecimentos adicionais.

4. Especificidade dos diversos tipos de perícia

4.1 Direito penal

4.1.1 Pericia sobre a personalidade

1. Para avaliar a personalidade e a perigosidade pode haver uma perícia sobre as características psíquicas, bem como o seu grau de socialização.

2. A perícia deve ser deferida a serviço a serviçoes especializados, incluindo serviços de reinserção social ou quando isso não for possível a especialistas em criminologia, em psicologia, psiquiatria ou sociologia

3. os peritos podem requerer informações sobre antecedentes criminais do sujeito

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Uma perícia sobre a personalidade não tem como objetivo a avaliação psicopatológica mas sim a compreensão do funcionamento do sujeito e a motivação dos atos praticados.

A perícia deve tentar definir o modo de funcionamento do sujeito em diversos contextos, os mecanismos de defesa e a sua capacidade de controlo. Deve ser avaliado a sua capacidade de integração social e a usa adaptação relacional e/ou institucional, bem como a capacidade de interiorização de normas sociais e valores.

Outro aspeto importante é a avaliação da perigosidade que se refere à repetição de fatos graves.

Millon e everly distingue personalidade de temperamento, em que este ultimo é a parte da personalidade que existe antes da interferência dos fatores ambientais, uma constelação de características inatas. Existem 3 dimensões globais do temperamento: o afeto negativo (raiva, tristeza), a revolta e a capacidade de auto regulação.

Outro conceito que se confunde com a personalidade e o de caracter, onde millon e everly se referem a este como a adesão da pessoa aos valores e costumes da sociedade, refletindo um juízo moral do k. O temperamento e o caracter fazem parte da personalidade.

- Perturbações de personalidade

Anomalias do desenvolvimento psicológico que são resultado de interações complexas de disposições biológicas, aprendizagens desadaptativas e mudanças ambientais stressantes.

Dsm-5 e os critérios de diagonostico das perturbações de personalidade:

1. Padrão duradouro de experiência interna e k que se desvia das expectativas da cultura do individuo. Este padrão é manifestado das seguintes áreas: a)cognição(formas de perceção e interpretação de si próprio, e dos outros); b) afetividadec) funcionamento interpessoald) controlo dos impulsos

2. O padrao duradouro é inflexível e global numa variedade de situações pessoais e sociais

3. O padrão origina sofrimento ou prejuízo na vida social

4. O padrão é estável, o inicio começa na adolescência ou no inicio da vida adulta

5. O padrão não é devido ao efeitos de uma substância ou a um estado físico geral.

O Dsm-5 agrupa as principais perturbações em três clusters:

A: inclui as perturbações paranoide, esquizoide e esquizotica (características bizarras/ excêntricas)

B: perturbação anti-social, bordeline, histriónia enarcisica (dramatismo e a emocionalidade. Surgem frequentemente no contexto forense)

C: perturbações evitantes, dependente e obsessivo-compulsiva (ainsiedade e medo)

As perturbações de personalidade diferenciam-se das perturbações mentais pela natureza duradoura, com manifestações clinicas e comportamentais constantes.

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O DSM-5 identifica ainda Perturbação de personalidade sem outra especificação não reúne os critérios gerais, e a perturbação da personalidade inespecifica onde o sujeito reúne os critérios gerais. Há ainda outra categoria designada por alterações de personalidade devido a outra condição medica que refere as alterações às características de personalidade prévias de um sujeito resultante dos efeitos fisiopatológicos diretos de uma condição medica.

Cada perturbação da personalidade é definida segundo dois critérios.

A: existência de um constrangimento moderado ou severo no funcionamento da personalidade,manifestado por dificuldades em duas ou mais das seguintes áreas:

1. Identidade2. Auto-direção3. Empatia4. Intimidade

B: diz respeito a um ou mais domínios de traços de personalidade patológicos

1. Afetividade negativa (vs estabilidade afetiva)2. Distancionamento (vs extroversão)3. Antagonismo (vs amabilidade)4. Disinibição (vs consciência moral)5. Psicoticismo (vs lucidez)

Escala do nível de funcionamento da personalidade

ICD-10: perturbações de personalidade são distúrbios graves da constituição caracterológica e das tendências comportamentas do individuo, não diretamente imputáveis a uma doença, lesão ou outra afeção cerebral ou a um transtorno psiquiátrico. Estes distúrbios compreendem vários elementos da personalidade como a angustia pessoal e desorganização social e aparecem durante a infância ou adolescência e persistem de um modo duradouro.

- Processo de avaliação

Weiner: destaca as dificuldades em definir a fronteira entre a personalidade dita normal e a perturbação da personalidade, referindo a necessidade de recorrer a um critério externo- quando as pessoas percecionam o k d sujeito como inaqualificável, abusivo e auto-destruitivo e anti-social.

A dificuldade está também relacionada com o facto de o sujeito não considerar as suas características como problemáticas além da frequente desejabilidade social.

Entre as diversas metodologias utilizadas temos:

a) Entrevista clinico-forense- recolha de elementos da biografia do sujeitob) Avaliação instrumental de natureza psicométrica e projetiva- caracterização do seu

processo de desenvolvimento, modalidades e competências de relacionamento interpessoal, mecanismos de defesa. Identificação potencial de fatores de risco e de proteção. O consumo de substâncias e antecedentes criminais. Permite acder mais imediatamente , às características do sujeito.

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c) Avaliação do riscod) Informação colateral

- Prognóstico e avaliação do risco

É importante considerar na avaliação do prognóstico os fatores de risco e proteção entre os quais a existência de comorbilidade psiquiátrica, os tipos de perturbações da personalidade e a sua intensidade, os mecanismos de defesa, a motivação para o tratamento, a existência ou não de suporte familiar, social, de ocupação profissional, etc.

3 modelos de avaliação de risco:

a) Modelo clinico (baseia-se na opinião do profissional)b) Modelo actuarial (fatores predeterminados, com incidência estatística, que permitem

uma tomada de decisão com maior validade e fidegnidade)c) Modelo baseado no juízo profissional estruturado (juízo clinico que se suporta em

fatores cientificamente validados) Este modelo inclui fatores de risco estáticos e os dinâmicos. Os dinâmicos podem sofrer alterações (consumo de álcool, desemprego), os estáticos são fixos e inalteráveis (história previa de abusos, raça).

Miller: Alguns fatores de risco universais e transversais

1. Impulsividade2. Estados emocionais negativos3. Atitudes anti-sociais4. Abuso de álcool5. Relações interpessoais instáveis6. Quadros psicóticos

Os fatores de risco e proteção tem pesos e ponderações diferentes, ou seja, o mesmo fator pode ter pesos distintos em casos diferentes.

4.1.2 Pericia para avaliação da capacidade e dever de testemunhar

A capacidade, também designada de competência, diz respeito à capacidade do sujeito para compreender a natureza do processo judicial, para testemunhar de foema relevante, de ser ou não, capaz de fornecer um testemunho válido e pressupõe a ausência de doença mental, perturbações emocionais graves e perturbações da perceção,memória, pensamento e funcionamento intelectual global.

A credibilidade não deve ser associada às características de personalidade do sujeito, ao seu nível de consciência ou de raciocínio moral. O juízo de credibilidade deve centrar-se na capacidade de um sujeito prestar testemunho.

Com a perícia visa-se determinar o estado de desenvolvimento do menor, especialmente no palno psíquico, o grau e maturidade, em ordem a destacar se possui ou não capacidade para compreender, avaliar e relatar fatos que digam respeiti a si ou a outrem, elementos coadjuvantes dp tribunal, que lhe permitam avaliar a credibilidade que deve ser atribuída ao testemunho prestado ou prestar.

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Dados importantes ao acaso:

- As três atitudes que podem contrinuir para o desacordo no parecer de abuso sexual: sensibilidade (minimização dos erros de falsos negativos), a especificidade (minimização dos erros de falsos positivos) e o ceticismo

-A perícia psiquiátrica alia o saber edico-psiquiátrico do estudo da psicopatologia e da doença mental ao direito, por forma a auxiliar o magistrado na tomada de decisão

- A perícia psiquiátrica visa o apuramento das questões relacionadas com a inimputabilidade e perigosidade em virtude da anomalia psíquica.

Criminologia

A razão de ser da criminologia é tornar inteligíveis estes ks e instituições; descrever, compreender e explicar de que é feito o fenómeno criminal. O numero de furto, de roubos e de casos de tráfico de droga está ligado à abundância de bens, ao anonimato das cidades, à livre circulação de bens e de pessoas e à própria liberdade.

A noção de crime

O crime serve para designar os fatos mais graves.

O delito como desviância

As sociedades estabelecem regras de boa educação, cuja existência se revela no facto de os autores de atos considerados grosseiros merecem reprovação e, em caso de persistência, o ostracismo.

A desviância consiste na transgressão de uma norma social. Os estados e condutas que violam as normas. O individuo que adota do modo prolongado uma conduta desviante tende a ser, ou tornar-se, um marginal: é lançado para as margens do grupo devido Às repetidas transgressões. Desenvolveram as noções de estigmatização ou de etiquetagem para descrever o processo no termo do qual o individuo é definido e marcado como desviante e excluído do grupo. Da corrente da sociologia tiramos duas lições das noções sociológicas de norma e desviância. A primeira diz que cada sociedade confere a si mesma as normas. Daqui deduz-se que o que é desviante ou criminoso varia. A definição social da desviância é relativa. Não é uma propriedade intrínseca ao ato, inscreve-se no contexto normativo em que este ocorre. A segunda quis que as normas e as sanções fazem parte integrante da vida social de onde emergem, muitas vezes à margem de qualquer legislador. Os atores sociais cuja relação tenha uma base estável obrigam-se mutuamente e sancionaram-se em caso de transgressão. Nos seres humanos, a normatividade inerente à vida social preexiste às normas legais.

O delito como infração

Designamos por crime todo o ato punido. Picca entende por crime todo o ato previsto como tal pela lei, dando lugar à aplicação de uma pena por parte da autoridade superior.

A pena prevista e, sobretudo, a pena efetivamente aplicada é um fato social, não apenas jurídico.

O crime como violência e como astúcia

Gassin, esforça-se por distinguir na ação criminal uma especificidade que não reside apenas no contexto da lei, mas também em proibições com valor universal.

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Afirma que o direito das incriminações resulta na produção de crimes artificiais, também sucede que ele tenha origem num dado normativo pré-existente na consciência comum. Este dado é um conjunto de representações comuns de natureza intuitiva que recaem sobre aquilo que é julgado como injusto e que exige ser sancionado. Cabe ao legislador definir uma infração, à qual a opinião publica considera dever impor-se uma proibição e pena. Estes consideram que à lei positiva preexiste uma normatividade espontânea. A questão é se o legislador consegue descobri-la e se a toma em consideração, ou se, pelo contrário, a despreza.

As representações da consciência comum, encontram-se as que constituem valores-fins e as valores-meios. As primeiras variam de época para época e de pais para pais. Os segundos são mais importantes para o direito penal, alguns são protegidos por proibições universais. Qualquer sociedade considera ilegais duas categorias de meios que os indivíduos utilizam para atingir os seus fins: a violência e a astúcia. A violência são atos como o homicídio, as ofensas à integridade física e os atentados. A astúcia são as fraudes, burlas e furtos.

A par das incriminações naturais da violência e da astucia, encontramos os delitos artificiais, atos cujos principio de incriminação procede de uma ideologia totalitária, de uma confusão entre politica e religião. É o caso das blasfémias e os crimes contrarrevolucionários. Estas devem ser julgadas pois são perversões e contrafações. O código penal contém formas marginais, como a prostituição e o uso das drogas. Estas infrações colocam o problema das fronteiras porque nelas é difícil identificar a violência ou a astucia. O direito penal exprime e codifica normas preexistentes fundadas em justiça.

As funções sociais da noção de crime

Sellin e Wolfgang: a gravidade dos delitos depende de cada um.

Seis critérios implícitos de ordenação:

1. A intensidade das ofensas à integridade física2. Os perigos a que o ato expõe os outros3. A violência dos meios4. A importância das perdas pecuniárias5. A vulnerabilidade relativa da vitima6. O dolo (fraude)

Quanto mais um ato ameaça a segurança interna de uma comunidade, maior a probabilidade de ser percecionado como grave.

As ofensas flagrantes ao justo equilíbrio das relações sociais tendem a ser assimiladas a crimes. A agressão perpetuada a um mais fraco é considerada mais grave do que um fraco a um forte.

Gassin: a noção de crime subentende um desequilíbrio evidente entre agressor e vitima.

O jogo social deve fazer-se no respeito pelas regras da justiça e da equidade; dai as normas de ferocidade e de igualdade; dai os princípios de justiça retributiva e distributiva.

O método

Os criminólogos dizem-se empiristas e reivindicam-no ao cultivarem um saber fundado na observação e na experimentação. Exclui-se a especulação, as preposições dedutivas e afirmações normativas que não se relacionam com os fatos.

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A investigação empírica mantem um dialogo constante com o trabalho teórico. Uma teoria pode ser definida como sistema de proposições verificáveis, não contraditórias e compatíveis com os conhecimentos já adquiridos. Serve para descrever um fenómeno, explica-lo e torna-lo inteligível.

O que distingue a criminologia do direito penal é que a primeira é aquela que pretende conhecer a realidade, a outra pretende ordena-la. O direito visa punir os delinquentes e fazer justiça às vitimas e determinar a conduta dos magistrados e da policia. A criminologia propõe-se descrever e explicar os ks destes atores sociais. Procura medir os efeitos das politicas concebidas para fazer face ao crime. Este não despreza nenhum método, nenhum instrumento das ciências sociais: questionário, inquérito, entrevista, observação participante, exame clinico…

O fenómeno criminal

O fenómeno criminal como um processo em 3 etapas:

1. As normas penais são estabelecidas2. São violadas3. E isso provoca uma reação social repressiva

Podemos representa-lo ainda como um drama a três: delinquente- a vitima- e o agente de controlo social e em três atos: a prevenção- a passagem ao ato e a resposta penal.

Há um jogo de influencias reciprocas. Cada um desenvolve estratégias para neutralizar, dissuadir, persuasor ou utilizar os outros.

Os elementos constitutivos do fenómeno criminal estão ligados entre si por relações de dependência mutua.

A criminologia atual dedica-se à dialética. Calcular correlações entre criminalidade e fatores biológicos, psicológicos e económicos que procura agora revelar sobretudo a lógica interna do fenómeno criminal. Esta também concentra a sua atenção sobre a sua causalidade intrínseca.

A criminologia no século XX

O positivismo deixa de brilhar. A criminologia torna-se um campo onde se confrontam teses e paradigmas.

As cinco correntes:

1. A criminologia clinica e o estudo das carreiras criminais. Propõe-se estudar o delinquente enquanto individuo e o desenvolvimento do seu k

2. A tradição durkheimiana. A criminalidade como consequência de uma falha de organização social

3. Os conflitos da cultura4. A reação social à desviância5. A criminologia do ato e a escolha racional. Recai sobre o delito enquanto ato e

enquanto resultado de escolhas e de estratégias.

A criminologia clinica e o estudo das carreiras criminais

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São utilizados dois métodos: o estudo clinico da personalidade dos delinquentes e as comparações sistémicas entre delinquentes e não-delinquentes. O método é empírico. Estuda-se a inclinação para o crime.

- De Greef: Afasta-se dos positivistas. Esforça-se por ver os delinquentes como eles se veem a si próprio: o processo do ato grave e o sentimento de injustiça sofrida do criminoso. Insiste na ideia de que o processo de passagem que ao ato se desenvolve no tempo. Esta processa-se em 3 estádios:

1. Assentimento ineficaz: a ideia que a companheira possa vir a desaparecer infiltra-se no espirito

2. Assentimento formulado: a possibilidade de suprimirem, impõe-se e acabam por aceitá-la. O individuo mete a culpa na vitima.

3. Crise

Processo de reivindicação: o individuo projeta toda a culpa na futura vitima para se sentir autorizado a vingar-se. O homem alimenta todo o tipo de ressentimento dando a si próprio uma justificação. Persuadido de que os seus próprios crimes são atos de justiça.

-Pinatel: Discípulo de Greef. Traços dos delinquentes a quando do ato:

1. o egocentrismo- referir tudo a si mesmo. Convence-se da legitimidade do seu ato.

2. A labilidade- instabilidade de caracter que impede o delinquente de ficar intimidado. Deixa-se levar pelo desejo do momento

3. A agressividade

4. Indiferença afetiva

Características dos delinquentes que os distingue dos não delinquentes:

-Impulsivos

- Agitados

-Extrovertidos

-Egocêntricos

-Temerários

A tradição durkheimiana: a integração social e anomia

4 tipos de suicídio:

1. Suicido egoísta- deficiente integração na sociedade2. Suicídio anímico- enfraquecimento das regulações normativas3. Suicídio altruísta- a sociedade exerce pressão4. Suicídio fatalista- individuo perdeu a esperança

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A teoria do laço de Kirsch: porque é que a maioria das pessoas respeita a lei? Este pensa que os seres humanos estão inclinados a enveredar pelo delito a menos que sejam impedidos pela pressão social. E esta só produz efeito se o individuo estiver vinculado ao seu grupo social. As componentes deste laço seriam:

1. Uma vinculação que motive o individuo a ter em conta as suas expectativas2. O envolvimento do adolescente num projeto académico ou profissional que lhe de

motivos para evitar as faltas que poderiam comprometer a sua realização3. A implicação em atividades que lhe deixem pouco tempo para a ociosidade4. A crença, isto é a convicção de que as leis devem ser respeitadas

A anomia utilizada por Durkheim explica uma serie de fatos relativos ao suicídio. Este aumenta durante as fases de mudança económica brusca e entre os divorciados e os viúvos.

Mais tarde, Merton diz que a anomia é o sobre investimento no sucesso em detrimento do respeito pelas normas

Conflito de cultura e subculturas

Tarde: a imitação-moda consiste na propagação de novos modelos de k a partir de um primeiro exemplo de que todos falam. Veem e há uma tendência a fazer. A imitação-costume consiste na transmissão de tradições e de técnicas criminais do passado ás novas gerações. O mimetismo explica a similitude dos procedimentos empregues pelos malfeitores de uma mesma região e de uma mesma época. A imitação difunde-se do superior ao inferior.

A associação diferencial

Sutherland- descrever o processo pelo qual um individuo se torna delinquente. A sua teoria de associação diferencial sustenta que o k criminal é aprendido através de trocas interpessoais que permitem ao individuo adquirir técnicas de execução, atitudes, racionalização e motivações. O k não pode ser explicado pelas necessidades uma vez que qualquer k visa a satisfação de necessidades.

Sellin- pretende explicar a criminalidade. O crime resultaria de um conflito cultural, ou seja, da oposição entre as prescrições legais de um estado e as normas particulares de um grupo nele inserido. Em situação de conflito cultural, a mera obediência à norma subcultura traduz-se em infração.

Gassin- explica a criminalidade atual pela erosão do consenso em torno dos valores essenciais.

Apreciação

O valor do culturalismo reside mais na descrição do que na explicação. Uma cultura é feita de um conjunto de elementos interligados.

As teorias da reação social à desviância

Os construtivistas e os abolicionistas afirmam que o problema reside no sistema penal. Este gera sofrimento, desigualdades e exclusão. Emergem 3 temas especiais:

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1. A desviância é uma construção social2. A criminalização é uma arma nas mãos dos poderosos3. A estigmatização amplifica a desviância

O penal como instrumento de dominação

O direito, a policia e os tribunais são instrumentos utilizados pelas classes dominantes para fazerem prevalecer a sua conceção particular de bem e do mal e para dominarem os adversários. O grupo de pressão politica procurarão fazer votar leis que criminalizem os métodos empregues pelos seus inimigos.

Estigmatização

É o processo pelo qual a sociedade atribui a alguém a etiqueta de desviante, processo esse que conduz à exclusão, à interiorização de uma identidade negativa e à multiplicação da desviância. Os indivíduos estigmatizados são obrigados a criar soluções que lhes permitam, de algum modo, sobreviver à rejeição. Lemert criou o termo desviante secundário para designar aquele que tem de viver com a estigmatização. Esta conduz ao surgimento de grupos de desviantes. O processo de etiquetagem devolve ao desviante uma imagem de si mesmo negativa e sem esperança.