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PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: TORCIDAS ORGANIZADAS CAMILA BARROS EUGÊNIA AGUIAR VINICIUS GUANDELINE CENTRO DE CIÊNCIAS BIÓLOGICAS E DA SAÚDE PSICOLOGIA

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PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: TORCIDAS ORGANIZADAS

CAMILA BARROS EUGÊNIA AGUIAR

VINICIUS GUANDELINE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIÓLOGICAS E DA SAÚDE PSICOLOGIA

TÍTULO DO TRABALHO: Subtítulo do Trabalho, se Houver

LONDRINA 2014

CAMILA BARROS EUGÊNIA AGUIAR

VINICIUS GUANDELINE

PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: TORCIDAS ORGANIZADAS

Trabalho de Psicologia apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção de média bimestral na disciplina de Psicologia Comunitária. Orientador: Professor Marcio AlessandroNeman do Nascimento

LONDRINA

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os que nos cederam entrevista, contribuindo

ricamente para este trabalho, principalmente aos senhores Marcelo Benini de Souza

e Marcelo Fuentes, respectivamente, presidente e vice-presidente da torcida

organizada Falange Azul, que, assim como todos os demais com os quais tivemos

contato, nos receberam tão aberta e carinhosamente, concordando prontamente em

colaborar.

Agradecimento especial ao amigo Luís Ernani, que é parte integrante deste,

fazendo a filmagem e fotografias da entrevista completa com o presidente e vice-

presidente; e à sua filha Ana Cláudia Fernandes, que, além de, assim como pai, ser

fanática pelo LEC, nos acompanhou e introduziu à Falange Azul.

Agradecemos também ao professor Márcio Alessandro Neman do

Nascimento, que nos abriu os horizontes através do olhar da Psicologia Comunitária,

nos lançando um desafio, sem nunca nos desamparar, e nos deu tão grande

oportunidade de adentrar mais profundamente ao “mundo real” da Psicologia.

Obrigado!

C

SUMÁRIO

1. RESUMO ................................................................................................................. 5

2. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6

2.1 PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA LATINO-AMERICANA E CONCEITO DE

COMUNIDADE ..................................................................................................................................7

2.2 TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL ....................................................................... 11

2.2.1 Torcidas Organizadas E Violência ..................................................................................... 12

2.2.2 Torcida Organizada E Identidade ...................................................................................... 14

3. OBJETIVO ................................................................................................................................... 18

4. FALANGE AZUL ................................................................................................... 19

4.1 A TORCIDA .............................................................................................................................. 19

4.1.1 História ............................................................................................................................... 20

4.1.2 Ideologia ............................................................................................................................. 28

4.1.3 Mandamentos.................................................................................................................... 29

4.1.4 Diretoria Administrativa .................................................................................................... 29

4.1.5 Processo Para Associar-se A Torcida........................................................................... 30

4.1.6 Direitos e deveres ............................................................................................................. 30

4.1.7 Benefícios Dos Sócios ..................................................................................................... 32

4.1.8 Patrocinadores .................................................................................................................. 33

4.1.9 Marketing ........................................................................................................................... 33

4.1.10 Financeiro E Prestação De Contas ............................................................................. 33

4.1.11 Comando Feminino ........................................................................................................ 35

4.1.12 Parcerias Com Outras Torcidas ................................................................................... 37

4.2 TONS DE VOZES DISTINTOS, UM SÓ CORO ............................................................. 41

4.2.1 A Violência ............................................................................................................................. 43

5. MÉTODO ............................................................................................................... 46

6. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO .......................................................................... 47

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 48

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49

ANEXOS ................................................................................................................... 50

ANEXO A. DVD EDITADO............................................................................................................ 50

ANEXO B. ESTATUTO.................................................................................................................. 51

1.RESUMO

Em clima de copa do mundo e sob tensão do risco de manifestações

populares contra o governo, este trabalho busca, através do olhar da Psicologia

Comunitária Latino-Americana, conhecer melhor o mundo das torcidas

organizadas de times de futebol, que são tantas vezes rodeadas por temores,

tanto da população e frequentadores ocasionais dos estádios, quanto do

governo e policiamento, em vista de seu grande poder e força de mobilização

popular. Este trabalho apresenta uma breve introdução ao que é a Psicologia

Comunitária Latino-Americana, ao conceito de comunidade e de como isso se

relaciona com as torcidas organizadas. Discorre também sobre o curso de

evolução das torcidas de times de futebol no Brasil e sua ligação com a ideia

de violência.Afim de contextualizar palpavelmente as informações trazidas,

apresenta um estudo de caso da torcida organizada do Londrina Esporte

Clube, a Falange Azul, através da situação histórica e constitucional da torcida

e também de uma reflexão acerca do que foi relatado pelos torcedores

participantes e, portanto, co-autores, deste trabalho.

2.INTRODUÇÃO

Por se tratar de um trabalho que aborda o tema das torcidas

organizadas no Brasil através do olhar da Psicologia Comunitária Latino-

Americana, se fazem necessárias introduções a ambos os temas. Sendo

assim, esta introdução será dividida em duas partes: Introdução Geral, da

breve explanação a respeito da Psicologia Comunitária; e Introdução

Específica, pontuando a visão a partir da qual Torcida Organizada Falange

Azul será observada neste trabalho.

2.1 PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA LATINO-AMERICANA E

CONCEITO DE COMUNIDADE

A Psicologia Comunitária Latino-Americana nasceu de uma cisão com

a Psicologia Social Comunitária Norte-Americana e Europeia, na década de 70.

Com a chamada “crise da Psicologia Social”, os psicólogos da época,

questionando suas próprias práticas, começaram a se perguntar sobre qual

estava sendo seu papel interventor e quais eram as suas contribuições para o

desenvolvimento da população. Concomitantemente, os movimentos

antimanicomiais se fortaleciam e a concepção de saúde mental mudava para

uma perspectiva de intervenção preventiva (LANE, 1996).

As práticas psicológicas utilizadas até então pareciam não adequadas

à realidade brasileira, enquanto país de terceiro mundo, com grande parte de

sua população carente e com grandes necessidades específicas e diferentes

daquelas encontradas na população estadunidense e europeia. De acordo com

Pereira, Reis e Carvalho et al (2007), a chamada Psicologia Social Comunitária

da época tinha como foco a adequação dos indivíduos às exigências da

ideologia capitalista e o desenvolvimento destes, através de uma prática que

favorecesse que estes se tornassem “pessoas melhores”; partindo, portanto, de

um princípio de medição desenvolvimentista baseado nas lógicas capitalista e

meritocrática. A crença principal era de que o progresso seria resultado da

modernização cultural e econômica, através tanto das reformas agrária e

industrial como dos valores e atitudes da população (Sawaia, 1996). O contexto

social, nessa linha de pensamento, era influenciado pela Gestalt, que trazia

para o contexto da análise a noção de ambiente, porém, sob a perspectiva da

percepção individual, e conceituava que os grupos eram um conjunto de

indivíduos e que eram esses indivíduos quem davam o tom ao grupo, sem

lançar um olhar para a relação dialética entre grupo e indivíduos, pois entendia

que a multidão, por não possuir um sistema nervoso central único, seria um

ambiente vazio para estudo, pois quem pensa e age é o indivíduo que está

inserido na multidão. Dessa forma, a Psicologia Social Comunitária existente

na época, vinda dos Estados Unidos (EUA) e da Europa, era uma psicologia do

indivíduo, visto como alguém que, mesmo sendo integrante de uma

comunidade e partilhando suas percepções com essa comunidade, era visto

como ser indivisível, isolado, plenamente responsável pelo seu contexto e

situação. Essa concepção teórica era caracterizada por uma postura

individualizante, paternalista e psicologizante, com a qual a Psicologia Social

Comunitária Latino-Americana rompe, montando seus próprios moldes de

pensamento e forma de entender o sujeito.

O processo do repensar as práticas psicológicas vigentes na época foi,

sobretudo, prático, progredindo na medida em que trabalhos eram feitos nas

comunidades, e também marcado por importantes acontecimentos históricos

no Brasil, dentre os quais pode-se ressaltar a Ditadura Militar (Lane, 1996).

Frente a um quadro de uma população sem recursos financeiros, sem acesso a

redes de assistência (quando essas existissem) ou infra-estrutura, com grande

desgaste físico e psicológico, formada em grande parte por imigrantes que

haviam passado, ou estavam passando, pela perda de sua identidade cultural,

sob forte ação da transmissão da ideologia de uma sociedade de massa e de

consumo, através dos meios de comunicação, e sem liberdade para pensar e

discutir sua situação de vida e contexto histórico e rumo futuro, em função da

repressão militar que cerceava a organização popular, a Psicologia Social

Comunitária no Brasil definiu seu objetivo de forma distinta ao objetivo da

Psicologia Social Comunitária Estadunidense e Europeia, que era de

“desenvolver” seus “indivíduos”. Como principal objetivo, pautou o

favorecimento à tomada de consciência a partir da própria população,

colocando o psicólogo sempre no papel de facilitador ou dinamizador, e nunca

de líder ou condutor. Essatomada de consciência da população, para a própria

população, se daria “através da participação dos indivíduos em grupos, que os

levariam a superar o individualismo e a se unirem em atividades que visassem

mudar o seu cotidiano” e tem como objetivo principal a independência e

autonomia do grupo, a partir da assunção ao papel de autor de sua própria

história a caminho, a partir da consciência dos fatores que influenciam, e da

forma com a qual influenciam, suas vidas e da realização de atividades

comunitárias cooperativas e organizadas. Nessa prática, a atuação do

psicólogo tem como fim maior, se tornar obsoleto ao grupo.

Góis (1990 appud Lane 1996), define a prática da Psicologia

Comunitária como:

“Fazer psicologia comunitária é estudar as condições

(internas e externas) ao homem que o impedem de ser sujeito e as

condições que o fazem sujeito numa comunidade, ao mesmo tempo

que, no ato de compreender, trabalhar com esse homem a partir

dessas condições, na construção de sua personalidade, de sua

individualidade crítica, da consciência de si (identidade) e de uma nova

realidade social.”

A Psicologia Social Comunitária Latino-Americana, como passou a ser

chamada em função da semelhança de contexto entre os países Latino-

Americanos, tem, portanto, um caráter explicitamente militante, negando a

noção de neutralidade e aderindo abertamente a uma concepção teórica crítica

de interpretação do mundo com a finalidade de transformá-lo. Essa

transformação é entendida enquanto mudança social de uma sociedade

exploradora através de uma revolução socialista ou cidadã (Sawaia, 1996),

sendo que todo o movimento de mudança é feito pela própria comunidade, com

base em suas necessidades, sentidas e percebidas através do olhar própria

comunidade, sem os ditames do psicólogo. A prática do psicólogo é sempre

construída a partir da relação estabelecida com a comunidade na qual está

inserido e com a qual tem um vínculo.

Tendo como base a noção acima sobre a Psicologia Social

Comunitária Latino-Americana, doravante chamada apenas de Psicologia

Comunitária, pode-se lançar olhar sobre o que é entendido como comunidade.

Muito se fala a respeito de comunidade e esse termo se tornou tão

amplo e genérico que uma operacionalização mais concreta do termo se faz

altamente pertinente a este trabalho. Comunidade diz respeito a um meio

ambiente, um local, de relacionamento baseado no sentimento subjetivo de

pertencimento, ligados pelo parentesco, lugar, ideias ou ideais, unidos pela

camaradagem e construídos sobre a base do trabalho e crença comuns

(Sawaia, 1996). Com base nesse entendimento, é facilmente entendível a

diferença entre comunidade e sociedade, na qual os sujeitos não estão

vinculados entre si, mas se relacionam através do consenso racional por um

compromisso firmado por interesses mútuos, “com base no mercado, na troca

e no dinheiro”.

Comunidade não é um local de consenso e harmonia, mas uma

realidade em construção e desenvolvimento, que faz tanto a si mesma quanto

a outros fenômenos. Dessa forma, não representa uma unanimidade, nem,

tampouco, uma massa anônima, mas, sujeitos relacionados entre si, por meio

relações afetivas. Desse modo, não é negada a individualidade aos sujeitos da

comunidade, posto que a comunidade é o ambiente onde o amadurecimento e

desenvolvimento das potencialidades humanas nos espações particulares do

cotidiano é permitido, fazendo ponte de passagem universalidade ética humana

para o viver individual, através das experiências sociais vividas como realidade

individual partilhada intersubjetivamente, criando formas de subsídio coletivo

para a luta pelo bem comum e individual. Em comunidade, as ideias comuns

não são apoiadas por um consenso fechado ou imposição de necessidades,

mas, sim, é incentivado o debate através da “comunicação livre, onde todos

participam com igual poder e competência argumentativa no processo de

ressignificação da vida social”, atribuindo a todos os membros a capacidade de

defender as próprias necessidades, mediante o respeito às necessidades dos

outros (SAWAIA, 1996).

Conforme Sawaia (1996), nessa relação dialógica-democrática, onde

as individualidades, de cada sujeito histórico envolvido, se relacionam e as

subjetividades se conectam e trocam entre si percepções e identidades, o

“consenso”, que tantas vezes, e de tão errada maneira, é muitas vezes

atribuído à comunidade, floresce como o nascer do “nós”. Não é o consenso

comumente pensado, imaginado como a ausência de conflito, mas sim, o

consenso construído através da comunicação, prática, trabalho, relação e

respeito entre cada participante da comunidade, que, ao interiorizar os valores

comunitários como projeto individual, parte para a ação em prol desses valores,

que deixam de ser antagônicos à sua necessidade pessoal e passam a ser

parte de seus desejos subjetivos individuais. Neste ponto, são dirimidos os

muros que separam esfera coletiva e individual.

É sobre este preâmbulo que o presente trabalho busca conhecer a

comunidade da torcida organizada do Londrina Esporte Clube (LEC), a Falange

Azul, não com a finalidade de aplicar sobre ela a fôrma de uma teoria

psicológica pré-definida, mas de conhecer os significados próprios que essa

comunidade traz de si mesma e aprender, com ela, quem ela é.

2.2 TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL

Para contextualizar brevemente a visão pela qual esse trabalho olha as

torcidas organizadas, será usada como base a tese de mestrado apresentada

por Luccas (1998) ao Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Sociedade do

Programa de Estudos Pós Graduação em Psicologia Social da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Sendo praticamente impossível abarcar o tema de Torcidas

Organizadas de Futebol sem pensar em violência, nota-se necessária a

problematização a respeitodaestigmatização em torno das torcidas

organizadas. Esta, por vezes tão maciça, que deixa quase um tom de sinônimo

entre as duas coisas. Afim de que essa relação tão sólida seja permeabilizada,

o tema da violência será tratado em um tópico a parte, abaixo.

2.2.1 Torcidas Organizadas E Violência

Diante da repercussão da mídia e da produção literária atual a respeito

do tema de torcidas organizadas de times de futebol no Brasil, parece que as

torcidas se formaram quando o futebol se consagrou como esporte difundido

entre as massas, contudo, enquanto expressão da realidade das comunidades

onde se praticava, desde sempre, foi acompanhado por torcedores e como

jogo, pode ser entendido como um momento de experiência de conflito entre

dois lados opostos. Conflito este que, naturalmente, gera expectativas,

expressas de alguma forma, por alguém.

A caracterização das torcidas organizadas como associação violenta e

perigosa foi instaurada a partir da atenção focal da mídia sobre este aspecto e

é mantida através da escassez de pesquisas que apontem os outros aspectos

dos grupos das torcidas organizadas, posto que a esmagadora maioria dos

pesquisadores voltam sua atenção para essas comunidades nos momentos

nos quais existem os acontecimentos trágicos. Essa hooliganização das

torcidas organizadas no Brasil cristalizam e naturalizam a violência como sendo

o traço mais forte e intrínseco a elas, sem espaço de diálogo ou reflexão a

respeito.

Os Hooligans, de onde vem o termo utilizado acima, na década de 60,

ficaram conhecidos mundialmente por suas manifestações de violência,

especialmente vinculadas ao futebol – por ser um esporte de massa e em vias

de se tornar centro mundial de atenções em função da Copa do Mundo –, e

passaram a ser um termo sinônimo de jovens organizados em gangues. Sua

origem foi da associação de grupos proletários – skinheads, mods,

rockerseteddy-boys –, que queriam protestar contra as instituições públicas

inglesas, e que vislumbraram na visibilidade do futebol um meio para

ascenderem suas críticas, e torcedores de futebol.

Descontextualizando essa realidade, trabalhos acadêmicos realizados

na Inglaterra, caracterizam o hooliganismo como um fenômeno originário e

comportamento típico da classe operária masculina. Tal conceito largamente

incentivado por parte da mídia, por conta da atenção dispensada a ele, faz com

que grupos de jovens tenham suas imagens associadas aos grupos

nacionalistas e xenófobos. Essa caracterização é tão maciça que

“os estádios de futebol ingleses se transformaram em verdadeiras

fortalezas, separando o públicocom grades e mantendo forte vigilância,

até mesmo com o uso de gravações em vídeo dos torcedores”.

Tornaram a violência como uma particularidade restrita e natural das

torcidas organizadas, reduzindo a violência um assunto simples e negando a

ela sua complexidade enquanto relação e fator constituinte das relações

humanas e do próprio ser humano, e se esquecem dos diversos níveis em que

ela pode existir, e existe, mesmo num contexto de análise tão restrito quanto

uma partida de futebol:

“[...] a violência praticada por crianças contra a autoridade

constituída dos árbitros de futebol, passando pelos confrontos entre as

torcidas que expressam uma rivalidade dentro do campo e,

principalmente, fora dele, até a violência exercida pela polícia militar

contra os jogadores.”

Esse reducionismo, que vem atribuindo às torcidas organizadas a

autoria e a responsabilidade pela cultura de violência que durante anos

dominou o esporte e, que ainda hoje se vê manifesta nos estádios, leva ao

pensamento de uma política para a extinção das torcidas organizadas para o

futebol profissional, como solução para o problema, e coloca um separador

antagônico e excludente entre as características das vítimas (sociedade

pacífica) e dos vilões (torcedores organizados). Esta separação é feita com

oesquecimento de que se trata de um fenômeno social muito mais amplo e

próprio das relações humanas e de grupo, a partir do prisma que a união de um

grupo é mais forte quando há um inimigo contra o qual lutar, seja em guerra

declarada ou velada. Essa consideração dá à violência um caráter mais

universal e comum, descaracterizando-a como algo inerente e provocado por

torcidas organizadas, e também traz a reflexão da existência, também, de uma

violência velada existente no próprio ato da atribuição da responsabilidade

exclusiva da violência às torcidas organizadas.

Outro aspecto extremamente prejudicial da abordagem das torcidas

organizadas apenas pelo viés da violência (como se a estigmatização indevida

e descontextualizada acima não fosse suficiente), é a desconsideração de que

elas são uma das diversas formas de grupos humanos, que, ao se unirem, o

fazem não pelo pretexto à violência, como pode ser pensado por alguns, mas,

sim pela identificação de outros valores, instituições, identidades e crenças

comuns presentes no futebol, e que são muito mais amplas do que o espaço

delimitado pela violência.

2.2.2 Torcida Organizada E Identidade

O início das torcidas organizadas no Brasil é vinculado ao contexto

histórico da época, assim como outros movimentos sociais, e também ao

desenvolvimento do futebol, e ocorreu, com visibilidade, basicamente nas

cidades de São Paulo (entre 1939 e 1940) e Rio de Janeiro (1942).

O objeto primeiro era acompanhar e incentivar os times de futebol nos

campeonatos de maior visibilidade. Sua forma era diferente da atual, sendo de

torcedores vinculados ao time e, portanto, subordinados e fiéis a ele. Esses

torcedores ficaram conhecidos como torcedores-símbolo e até hoje são

referenciados de forma saudosista e romântica, pela mídia, quando se trata de

paixão pura do torcedor pelo futebol. Esses torcedores chamavam a atenção

nos estádios, pois era comum homens vestirem-se de terno e mulheres e

vestido para irem assistir aos jogos, e eles destoavam desse padrão ao mesmo

tempo que criavam um grupo com um novo padrão de vestimenta: a camisa

com as cores e a simbologia do time para o qual torciam.

Com o passar dos anos, as mudanças sociais e os processos de

industrialização, as formas de torcer também se transformaram. A

profissionalização e a dimensão dos campeonatos e da rivalidade entre os

times se intensificaram, o que não poderia deixar de ser refletido através das

torcidas, posto que elas se tornaram parte integrante do esporte. Esse reflexo

se deu não só na intensificação da rivalidade, mas também na

profissionalização dos torcedores que, passando dos torcedores-símbolo para

as torcidas organizadas, deram espaço para os chefes de torcida, não tão

carismáticos para o grande público, mas que mantém a personificação da

torcida.

As torcidas organizadas passaram a ter normas e formas aceitáveis

para torcer para o time ao qual são vinculadas e passam a exercer não só o

papel de apoiadoras, mas também de fiscalizadoras de condutas e cobradoras

dos resultados e êxito do time e, em função de sua grande força por conta da

capacidade aglutinadora de pessoas, ganham expressiva condição de

pressionadoras políticas dos times. Os torcedores passam a ter importância

como de membro constituinte do time, são profissionais fora dos gramados.

Contudo, a vinculação das torcidas organizadas à violência, conforme

abordado no tópico anterior, levou à marginalização desse movimento, o que

constitui um fator preocupante, visto que os grupos e a paixão pelos times não

morrem pelo fato de serem marginalizados, mas, como qualquer movimento

social, integrantes da sociedade, passam a refletir a marginalização que

recebem, por vezes, via manifestações de violência. Violência não-gratuita,

portanto, se contextualizada amplamente.

Definindo brevemente as torcidas organizadas, Luccas propõe:

“O que marca e define uma torcida organizada, em sua

essência, é a manipulação de um determinado instrumental simbólico,

com a finalidade de extravasar sua paixão por um time de futebol.

Alguns elementos de destaque compõem este instrumental e também

definem todo um estilo de vida para seus associados. Fazem parte

deste as camisas, os símbolos, os mascotes, as bandeiras (em seus

mais diversos tamanhos), as faixas, a bateria, a coreografia, os cantos

e os xingamentos.”

Por “manipulação”, leia-se que a torcida possui as condições para viver

esses simbolismos, essa subjetividade, essa paixão.

Sobre os símbolos, afirma que:

“Além de representar a qualidade da paixão pelo time, os

símbolosdevem servir como modelo de identificação para o torcedor.

Este deve sempre procurar identificar-se com as qualidades inerentes

ao símbolo escolhido. Deve identificar-se com aquilo que lhe é

diferente de sua vida comum. Os torcedores, então, têm por símbolos

coisas que lhes significam bravura, coragem, heroísmo, malandragem,

força, apetite, liberdade, etc. Características humanas e animais

sempre exaltadas em quase todos os discursos românticos e liberais,

principalmente aqueles relativos às batalhas, às conquistas, à

sobrevivência e à justiça. Valores altamente exaltados por nossa

cultura, mas raramente concretizados. Caracteres que os torcedores

desejam associados a eles próprios e aos seus times. Eles querem ver

seus jogadores em campo, lutando para vencer a batalha.”

Cada um dos instrumentos simbólicos utilizados pelos torcedores,

citados acima, possui características e funções específicas, sendo que as

camisas têm, sobretudo, a função de dar a unidade ao grupo, não importando o

que cada um “é” ou qual cargo ocupam na sociedade. Ali, uniformizados,

passam a fazer parte de um grupo de iguais, importando, acima de todas as

coisas, o fato de estarem juntos. As bandeiras e o número de bandeiras

representam de maneira diretamente proporcional o prestígio da torcida, assim

como o bandeirão. As faixas mostram a delimitação dos espaços ocupados por

cada torcida dentro dos estádios e, ainda que mais discretas, indicam a

presença do grupo. A bateria é o coração da torcida e dá o suporte sonoro que

marca o ritmo dos coros, gritos de guerra e hinos entoados nas arquibancadas.

Essas manifestações verbais são, por sua vez, caracterizadas pela

“criatividade, ofensividade, ironia, graça e sátira”, ocorrem em diversos

momentos, entre os quais, Luccas destaca o coro feito nas ruas, pelo caminho

de ida e volta da torcida até o estádio, e que pode ter significações distintas: de

incentivo ao time ou a algum(ns) jogador(es); de protestos diversos (não só ao

time, mas também de cunho político ou social); intimidadores; ou de auto-

afirmação, de força. Todas as modalidades, entretanto, traduzem componentes

da sociedade moderna: relações de poder, conflitos, oposição de interesses

das instituições sociais, etc.

O pertencimento a uma torcida organizada, portanto, é muito mais do

que somente torcer para um time de futebol. É uma forma de identidade, de

organização do eu, de localização no mundo. Essa identificação vem sendo

cada vez mais dificultada por conta da globalização que vem calcando as

relações em um nível principalmente econômico e que individualiza todas as

questões, reduzindo todo o contexto de vida ao próprio sujeito, sem levar em

conta fatores históricos ou ambientais. Nesse contexto, ambientes que

oferecem possibilidade de organização, como as torcidas organizadas, ganham

espaço, pois, lá, podem ser supridas necessidades que foram deixadas em

aberto pelo grupo familiar ou social do sujeito.

3. OBJETIVO

O presente trabalho tem como objetivo conhecer a comunidade

Falange Azul, vislumbrando as significações e subjetividades de seus membros

filiados e simpatizantes, afim de saber mais sobre a realidade de uma torcida

organizada de um time de futebol no Brasil. Não é objetivo desmistificar ou tirar

estigmas, mas sim lançar um olhar sobre as relações que acontecem no

contexto da torcida organizada e captar algo mais verdadeiro a respeito deste

grupo – que, por ser uma torcida organizada, pode ser tão admirado ou tão

temido – do que aquilo que é oferecido pela grande mídia ou pelo senso

comum com o passar dos anos.

Com a escolha pela Torcida Organizada Falange Azul, do time

Londrina Esporte Clube, Londrina/PR, este busca conhecer de perto quais

atividades ocorrem dentro da torcida organizada, quem pode ser membro da

torcida, quais os valores do grupo, como a Falange Azul e relaciona com outras

comunidades – outras torcidas organizadas e comunidades em geral, através

de ações sociais – e, também, o levantamento sobre a visão a respeito de

violência, tão ligada comumente ao conceito de torcidas organizadas.

A partir dos dados levantados, este estudo fará uma proposta de

intervenção, uma interface de comunicação entre a Psicologia Comunitária e a

realidade vivida pela torcida, afim de facilitar o desenvolvimento das atividades

dessa comunidade e dinamizar as relações para um maior fortalecimento de

todos os membros da torcida, dentro deste grupo.

4. FALANGE AZUL

Chamada Falange Azul, a torcida organizada do LEC, é um

personagem bem presente e integrado à sociedade londrinense. É possível ver

diversas pessoas passeando pelas ruas vestindo as camisetas do time e

também há um grande apoio geral para o LEC. Neste tópico, a Falange Azul

será apresentada.

4.1 A TORCIDA

4.1.1 História

Em 05 de fevereiro de 1992, na cidade de Londrina, Paraná, Brasil, era

fundado o Grêmio Recreativo Torcida Organizada Falange Azul, pelos

amigos Marcelo Aparecido Fuentes, Ronaldo Cezar, Rogério Batista e

IvoncleySepe.

Na época da nova torcida, o Londrina Esporte Clube foi campeão

Paranaense de 1992, vice-campeão Paranaense em 1993 e 1994. Campeão

da Taça Cidade

de Curitiba de 1994. E assim foram os primeiros anos da nova torcida,

ao lado do Londrina.

Nos anos seguintes o Londrina Esporte Clube deixou de repetir as

boas campanhas do início da década. Más administrações do comando

alviceleste, venda de patrimônio do clube, penhoras, brigas na justiça,

resultando em péssimas apresentações dentro de campo, o que ocasionou um

grande desinteresse por parte de inúmeros torcedores. Neste momento a

torcida vivia dias difíceis, pois contava com pouquíssimos integrantes. A

postura como torcida aos poucos voltava a ser de um grupo de amigos.

Neste meio tempo, mas precisamente em 1995 uma nova torcida foi

fundada em Londrina, era a Mancha Azul, formada por jovens torcedores,

alguns que deixaram a maior e mais antiga torcida do Londrina, a Sangue Azul,

por não concordar com a postura e forma como era conduzido aquela torcida.

Jovens de uma nova torcida que mais tarde teria um papel fundamental

para os rumos da Falange Azul.

Em 1997 o Londrina ia de mal a pior e isso refletia diretamente nas

arquibancadas e nas torcidas, por essa razão foi proposto uma união das três

torcidas organizadas do Londrina, a Falange Azul, Sangue Azul e Mancha Azul.

Foi acordado que, era melhor ter apenas uma torcida forte e unida do que três

em péssimas condições e dificuldades, era o que pensava as diretorias da

Falange e Mancha. Uma reunião foi marcada para definir o futuro das três

organizadas. No final, Falange e Mancha estavam unidas e a Sangue, pelo

conflito de ideias e ideais, seguia sua vida por conta própria, o que acabaria

anos mais tarde acarretando sua própria extinção.

Primeira sede social.

O nome e a logomarca da Falange Azul foram mantidos com a união.

Pois era uma torcida mais antiga, com bons contatos e uma história. Além do

que, já existia no país outra torcida chamada Mancha Azul, sem contar os

inúmeros derivados de Mancha. A nova diretoria aclamada era a mescla de

ambas as diretorias, tendo como presidente o Fernando Cesar Pereira (até

então presidente da Mancha) e vice-presidente o Marcelo A. Fuentes (até

então presidente da Falange).

Mesmo com os altos e baixos do LEC (sigla do Londrina Esporte

Clube), a atual e renovada diretoria passou a trabalhar forte e se empenhar ao

máximo em benefício da torcida, desenvolvendo assim uma mentalidade cada

vez maior a respeito de torcida organizada. Fazia-se necessário ter uma sede

própria, onde pudesse reunir os associados, cuidar das questões

administrativas, guardar os materiais da torcida e promover eventos. E foi num

acordo com a então diretoria do LEC que duas salas localizadas abaixo das

arquibancadas descoberta do VGD era a nova casa da Falange Azul.

Antiga foto com integrantes da Falange Azul.

Neste período, a torcida foi conquistando inúmeros novos adeptos,

confeccionando e adquirindo novos materiais para estádio, materiais para os

sócios e organizando eventos. Foram adotadas todas as quartas-feiras

(atualmente as quintas-feiras), como um dia para reunir os associados para

uma confraternização, onde a integração, lazer e muita diversão é a ordem.

A atuação nas arquibancadas sempre presente, seja em casa ou fora,

mesmo que várias vezes em pequeno número, porém sempre o apoio ao

Tubarão (apelido dado ao Londrina Esporte Clube). E isso ficou muito mais

evidente em 1998, o rebaixamento para a segunda divisão do campeonato

estadual e na alegria e frustração de ter realizado uma boa campanha pela

série B do brasileiro, ficando a uma vitória de chegar à elite do futebol nacional.

E em 1999, quando o LEC voltou para a elite do futebol paranaense, contou

com total apoio da Falange Azul, na qual se fez presente em todos os jogos

dentro e fora de casa.

Ainda em 1999, foi lançado o primeiro website da torcida, sendo a

Falanage uma das pioneiras neste sentido. Era a Torcida Falange Azul na

grande rede.

Já no século XX, a Falange Azul já podia ser considerada uma das

torcidas mais atuantes e a uma das maiores do interior do sul do Brasil.

Bandeirão.

Em 2000 foi realizada a primeira festa de aniversário da torcida (8

anos), dois anos mais tarde, em 2002 outra muito maior foi organizada, a festa

de 10 anos. Em ambos os eventos a torcida contou com a presença de várias

outras torcidas do país. Mostrando o respeito e amizade conquistada em todos

estes anos.

Neste período foi projetado um novo bandeirão para o VGD, com 40

metros de comprimento por 20 metros de largura.

Em 2002 a diretoria da Falange já planejava a mudança, mas era

preciso encontrar um novo local. Além disso, o Londrina Esporte Clube

estudava a possibilidade de utilizar o espaço da antiga sede para a construção

de alojamentosinterno.

Um acordo foi celebrado entre Falange Azul e LEC que cedeu um

terreno, anexo ao VGD (Estádio Vitorino Gonçalves Dias), que estava

completamente abandonado, servindo como depósito de entulhos.

Fachada da nova sede em 2003.

Com recursos e mão de obra própria, ao longo de 2002, a futura nova

sede foi sendo construída no espaço de aproximadamente 400m².

Em 2003, com a sede quase pronta, a mudança para a nova casa foi

realizada. Agora a torcida possui uma estrutura física muito maior que conta

com várias salas para patrimônio, reunião e secretaria, além de bar, banheiros

masculino e feminino, depósito e uma ampla área livre.

O ano de 2004 é um ano que o torcedor do Londrina, se pudesse,

gostaria de esquecer. O clube após quase 20 anos disputando o Campeonato

Brasileiro da Série B acabaria rebaixado.

Apesar do duro golpe e ainda baqueada com o rebaixamento no ano

anterior, a torcida buscou se fortalecer em 2005. Uma nova diretoria, do clube,

estava composta. Era hora de muito trabalho e apoio ao clube e ainda motivar

todo o pessoal. E assim foi ao longo do ano.

Uma enorme variedade de eventos foram organizados pela torcida,

objetivando a integração social e união. Em jogos, presente em bom número e

realizado festas no VGD.

A partir dai a abalada estrutura do Londrina começava a ruir. Fora das

divisões nacionais, inúmeros problemas internos e financeiros, dificuldades

para montar bons elencos e captar patrocinadores resultavam em pífias

campanhas em campo e isso tudo também abalava diretamente a estrutura da

Falange Azul, que com muitas dificuldades tentava seguir a sua caminhada.

Em 2007 o Londrina teve uma sobre vida com a chegada de um novo

gestor. Não conseguiu passar da primeira fase no campeonato estadual, mas

se sagrou vice-campeão da Copa Paraná no segundo semestre. Em 2008

novamente foi mal no estadual, mas dessa vez conquistou o título da Copa

Paraná, assegurando assim as vagas na Série D em 2009 e Copa do Brasil em

2010.

Apesar da torcida bastante enfraquecida continuava apoiando o clube

nas arquibancadas e tudo ficou ainda mais difícil com o rebaixamento no

estadual em 2009 e a intervenção trabalhista que aconteceu no fim deste

mesmo ano afastando assim toda cúpula diretiva do clube. Os meses seguintes

foram negros e a torcida neste momento ficava estagnada no tempo e os

muitos problemas internos e financeiros engessavam toda estrutura.

O início de uma nova era. Mas antes, em 2010, com a intervenção

judicial, o clube passou a ser gerido por um grupo de forasteiros, que prometeu

novos rumos, mas que por muito pouco não levou o Londrina ainda mais fundo

no poço.

Neste período uma espécie de Conselho Representantivo, liderado

pelo advogado Carlos Scalassara, trabalhava para buscar uma solução para os

muitos problemas do Londrina. Sabendo desse movimento, o vice-presidente

Marcelo Benini e diretor Rafael Pio, foram em busca de informações.

Visita ao Ministério Público, contatos diversos, até que por fim

conseguiram incluir a Falange Azul neste conselho.

A partir daí a torcida passou a fazer parte da renovação do Londrina.

Trabalhou na reformulação do estatuto social do clube, inclusive conquistando

duas cadeiras definitivas no Conselho Representativo, participou da elaboração

e aprovação do contrato de gestão com a SM Sports (empresa gestora do

Londrina Esporte Clube) e atuando diretamente na nova diretoria do clube

eleita no fim de 2010. Tendo o vice-presidente Marcelo Benini e o diretor Rafael

Pio, como primeiro secretário e secretáio adjunto na mesa diretiva do conselho,

além dos diretores Marcelo Fuentes e Guilherme Belarmino como integrantes

direto deste conselho.

Em 2011 já com a gestão da SM Sports o Londrina conquistou o título

da Divisão de Acesso. Em 2012 foi o quinto na classificação geral do estadual.

E a torcida, sempre lá, apoiando na arquibancada e trabalhando na estrutura

interna do clube.

Torcida Falange Azul no Estádio do Café.

Apesar de respirar outros ares a torcida continuava engessada, eram

os mais diferentes problemas internos. E no meio de 2012 um grupo formado

por diretores, ex-diretores e sócios deu início a um trabalho de recuperação,

em especial, administrativa e financeira da torcida.

Dívidas foram pagas, reforma e readequação da sede social, reforma

estatutária e diretiva, eventos, construção da loja, renovação da bateria e

materiais, recadastramento e etc. Isso tudo é apenas o começo dos trabalhos

do grupo formado em 2012 que acabou assumindo a diretoria da Falange nas

eleições do início de 2013, tendo como presidente Marcelo Benini e vice-

presidente Marcelo Fuentes.

4.1.2 Ideologia

“COM O LONDRINA ATÉ APÓS A MORTE!”éum dos primeiros lemas

da Falange Azul e princípios ideológicos tem alicerce neste lema, mas em

outras palavras, apoio total e incondicional ao Londrina Esporte Clube a única

razão da existência.

Os princípios vão muito além de apenas apoiar o clube na

arquibancada, reservam ao direito de participar de forma ativa e direta na vida

política e administrativa do clube. Cada vez mais integrantes estão se tornando

sócios do clube. Além disso, uma de das lutas e conquistas foi o direito a ter

duas cadeiras no Conselho de Representantes independente de eleição.

Portanto, acompanhando, observando as atitudes dos dirigentes, simples

mandatários de do clube, e aplaudindo, cobrando, colaborando, criticando e

orientando quando atende aos interesses do Londrina.

Na arquibancada, é fazendo a melhor festa, inovando e fazendo a

diferença. Fora dela é lutar por pessoas fortes no comando do clube, que

busquem medidas administrativas para modernizar, fortalecer e estruturar a

base do clube.

Se preciso, protestar, mas jamais um falange vaia durante um jogo,

nunca as faixas e camisetas estarão de ponta cabeça.

A torcida todaé obrigada a respeitar o estatuto, porém, ninguém é

obrigado a concordar com os posicionamentos da torcida e decisões da

diretoria, por outro lado é obrigação respeitar. É uma instituição organizada,

pessoa jurídica de direito, onde existem lideranças e o respeito é fundamental

para que haja harmonia e evolução da torcida.

Aqueles que não tenham a capacidade, mesmo não concordando, de

respeitar, não só as decisões, mas também os demais associados e a torcida

como um todo, não se encaixa na ideologia de uma instituição organizada

como a Falange Azul.

4.1.3 Mandamentos

1) Amar e respeitar o Londrina Esporte Clube e a Torcida Falange Azul;

2) Zelar pelo patrimônio do Londrina Esporte Clube;

3) Zelar pelo patrimônio da Torcida Falange Azul;

3) Respeitar os verdadeiros torcedores do Londrina Esporte Clube e

principalmente os demais integrantes da Torcida Falange Azul;

4) Apoiar, incentivar e lutar pelo Londrina Esporte Clube; na bancada,

90 minutos sem parar;

5) Participar dos eventos, ações sociais e festas organizadas pela

Torcida Falange Azul;

6) Respeitar o estatuto, regras e hierarquias da Torcida Falange Azul;

7) Honrar as cores do Londrina e da Falange;

8) Participar e ajudar na organização, antes e após cada jogo;

9) Ter atitude ordeira e de paz dentro e fora dos estádios;

10) Pelo Londrina, com o Londrina, nas vitórias, nas derrotas, hoje,

amanhã e sempre.

4.1.4 Diretoria Administrativa

Presidente: Marcelo Benini de Souza

Vice-Presidente: Marcelo Fuentes

Administrativo/Financeiro:Flávia Navarro, Ana Cláudia Souto, Sheila

Victor.

Relações Públicas: Vinícius Ramos

Jurídico: Rafael Pio

Patrimônio - Material/Sede:Rômulo de Oliveira Neves, Marcos Reis da

Silva (Migrão), Rafael Bernardo.

Arquibancada: Alexandre Gomes, Otávio Benis Lessa.

Colaboradores:Francisco Melatti, Sérgio Raimundo, Matheus Borini,

Éder Augusto.

4.1.5 Processo Para Associar-se A Torcida

Comparecer na sede munido dos seguintes documentos:

Cópia do RG

Cópia do CPF

Cópia do comprovante de residência (água, luz, telefone ou outro

com no máximo 3 meses)

Autorização para menores *

* Para associação de menores de 18 anos é necessário levar a

autorização para menores devidamente assinada e com firma

reconhecida pelos pais ou responsável legal.

4.1.6 Direitos e deveres

Conforme o Estatuto Social da Torcida:

CAPÍTULO II

DOS DIREITOS DOS SÓCIOS

Art. 8o. São direitos de todos os sócios com a mensalidade em dia:

a) Encontrando-se em igualdade de condições, todos os sócios têm o

direito de votar e ser votado, respeitadas as condições fixadas neste Estatuto;

b) Frequentar as dependências da TORCIDA FALANGE AZUL e

participar de todas atividades por ela promovida;

c) Nenhum dos sócios poderá ser impedido de exercer seu direito ou

função que lhe tenha sido legitimamente conferido pela diretoria;

d) Acompanhar as reuniões da diretoria;

e) Propor, por escrito ao Presidente, quaisquer medidas que julgar do

interesse da TORCIDA FALANGE AZUL;

f) Demitir-se do quadro social;

g) Participar e constituir assembleia geral.

CAPÍTULO III

DOS DEVERES DOS SÓCIOS

Art. 9o. São deveres de todos os sócios:

a) Os sócios deverão ser exclusivamente torcedores do LEC (Londrina

Esporte Clube), nos termos deste estatuto;

b) Cumprir fielmente todas as disposições estatutárias, dos

Regulamentos e Regimentos internos, bem como a deliberação e determinação

dos diretores da TORCIDA FALANGE AZUL;

c) Zelar pelo bom nome e patrimônio da TORCIDA FALANGE AZUL;

d) Cultivar e incentivar a amizade entre os sócios da TORCIDA

FALANGE AZUL, mantendo um relacionamento humano, franco, harmonioso,

sincero ou informal com os demais sócios;

e) Desempenhar com fidelidade e honestidade as atividades que lhe

forem atribuídas;

f) Responsabiliza-se, individualmente, por seus atos praticados

isoladamente, dentro ou fora das dependências da TORCIDA FALANGE AZUL,

estádios e excursões;

g) efetivar, na época própria, as contribuições, taxas e outras

obrigações pecuniárias a que estiver sujeito;

h) Respeitar as hierarquias da TORCIDA FALANGE AZUL, bem como

seus diretores, conselheiros e sócios;

i) Respeitar e cumprir as decisões da Assembleia Geral;

j) Acatar as determinações dos sócios investidos em qualquer função

administrativa, assim como de seus representantes, quando no exercício de

suas atribuições;

k) Indenizar a TORCIDA FALANGE AZUL por qualquer prejuízo

material que, mesmo involuntariamente, o sócio, seus dependentes ou

convidados, tenham causado ao patrimônio do TORCIDA FALANGE AZUL.

Parágrafo único - Fica vedado a qualquer pessoa, sócio ou não, usar

ou exibir nas dependências da TORCIDA FALANGE AZUL vestimentas ou

emblemas alusivos a qualquer outro clube de futebol profissional que não seja

a do Londrina Esporte Clube.

4.1.7 Benefícios Dos Sócios

Todos os sócios da Falange Azul em dia com suas mensalidades, além

dos direitos estatutários, têm outros inúmeros benefícios, veja alguns:

Descontos de até 25% nos produtos da loja da Falange;

Desconto nos eventos organizados pela Falange;

Descontos nas excursões organizadas pela torcida;

Participar da promoção "Sócio em dia ganha prêmio";

Descontos nas empresas parceiras da Falange;

Possibilidade de contratar o plano Sócio-Falange do Londrina

Esporte Clube;

Entre outras ações organizadas pela torcida.

4.1.8 Patrocinadores

Feito levantamento sobre os patrocinadores da torcida, o vice

presidente, Marcelo Fuentes comentou que os patrocínios que são fornecidos

para a Falange Azul são para campanhas de venda de rifas ou brindes para

custear reformas, ações beneficentes, material para a torcida no estádio ou até

mesmo instrumentos para a escola de samba.

4.1.9 Marketing

O marketing é feito pelo representante de relações públicas, e através

dos próprios torcedores filiados da torcida. Todo o material confeccionado pela

torcida é vendido e com o lucro revertido para as contas e melhorias na sede

da torcida. E só são feitos pela própria torcida, não existe representantes da

marca fora da sede.

4.1.10 Financeiro E Prestação De Contas

A parte financeira e de prestação de contas da torcida fica a caráter do

setor financeiro. O mesmo leva em pauta em toda a reunião dos associados da

torcida e expostos em edital.

Painel com a prestação de contas, exposto na sede.

4.1.11 Comando Feminino

Como meio de conhecer essa parte da Falange Azul, segue abaixo na

íntegra, a entrevista concedida ao blog Rabisco Londrinense, de Arthur

Montagnini, pelas integrantes do Comando Feminino:

“1-Quando e como surgiu o comando feminino da falange?

O Comando Feminino existe na comunidade do Orkut desde fevereiro

de 2006 e com algumas meninas desde então, mas a primeira reunião oficial

foi em janeiro de 2009, com a formação atual e oficialmente o CD. Feminino

TFA reconhecido pela diretoria.

2- Qual é o lema das meninas falangeiras?

É o lema londrinense: Atitude e Tradição.

3- Vocês sentem algum tipo de preconceito, quando estão no estádio

torcendo pro LEC?

Nenhum preconceito, pois nos impomos no estádio, sempre estamos

fazendo a nossa parte nas arquibancadas.

4- Como você vê, hoje em dia, a inclusão da mulher nos estádios de

futebol?

Hoje estamos sendo muito mais aceitas no mundo do futebol. Ainda

existem alguns preconceitos e barreiras, mas encaramos como um desafio,

pois é um universo masculino que invadimos e temos que além de embelezar

as arquibancadas torcer e ajudar nosso LEC sempre.

5- Como faz para se tornar uma integrante do comando feminino?

1º Amar o LEC como único clube, 2º Se associar na torcida e começar

a participar cada vez mais. Não tem segredo para entrar pra nossa Família

TFA.”

4.1.12 Parcerias Com Outras Torcidas

Em um diálogo com o atual presidente da torcida, Marcelo Benini, o

mesmo comentou que as amizades foram se criando por acaso, muitas vezes,

conhecia a pessoa, depois que foram saber que essa pessoa fazia parte de

uma torcida organizada, e com os mesmos princípios e ideias, acabavam

fazendo alianças. E por intermédio da torcida que faziam alianças, acabavam

fazendo mais alianças com torcidas que já eram aliadas das novas amizades

da Falange.

Hoje a Falange Azul conta com mais de 4 torcidas organizadas como

aliadas, entre elas:

Os Fanáticos – Atlético-PR.

Esquadrão Vilanovense – Vila Nova – GO.

Falange Grenal – Caixias do Sul – RS

4.2 TONS DE VOZES DISTINTOS, UM SÓ CORO

Conforme o conceito já exposto de comunidade, pode-se notar que a

Falange Azul contém em si todos os predicados de tal título. Como

comunidade, ela também é um grupo, mas, para que isso possa ser melhor

compreendido, é necessária uma definição do conceito grupo. Grupo é quando

se tem existência ou não de relações, a partir do momento em que há algum

interesse em comum, alguma relação pessoal, ai se tem um determinado

grupo. Segundo Alves, “os grupos sociais são uma reunião de duas ou mais

pessoas, associadas pela interação, e, por isso, capazes de ação conjunta,

visando atingir um objetivo comum”. (Alves, p.10)

Os grupos são divididos em primários e secundários, onde grupos

primários são aqueles que têm relações mais pessoais, um exemplo seria a

família, amigos, vizinhos. Os grupos secundários são os mais complexos como

a Igreja e o Estado, onde se tem uma relação mais distante.

Além desses dois modelos de grupos, temos também os

Intermediários, onde há uma alternância entre o primário e o secundário. Nesse

contexto de grupo podemos encontrar as Torcidas Organizadas, aqui

encontramos vários tipos de vínculos dos mais íntimos, ou seja, o primário até

os mais formais, os secundários, onde cada sócio tem deveres e obrigações

para com o grupo.

Os grupos de torcedores são formações coletivas com um fim

específico, porém cada pessoa cumpre um papel diferente na organização e dá

um sentido especial à sua própria participação. As causas da adesão e

permanência podem ser de diversas ordens, como por exemplo, amor pelo

time do coração, por uma questão de tradição familiar (aí estão incluídos

fatores como orgulho, virilidade, aceitação, amor a um ente querido), disputas

físicas, ideológicas, econômicas, rivalidades regionais, reconhecimento social,

identificação pessoal e grupal etc.

A partir desse breve contexto a respeito de grupos, podemos citar a

torcida organizada Falange Azul, que não é apenas um grupo, mas uma

organização sem fins lucrativos, onde seus membros, sócios, têm relações

interesses em comum, apoiar a Londrina Esporte Clube em primeiro lugar.

As relações estabelecidas na Falange primeiramente são hierárquicas,

onde se tem toda uma diretoria, sendo constituída de forma democrática, assim

como toda ação estabelecida na torcida. A também um estatuto com deveres e

obrigações para serem seguidas por cada membro, essas são as relações

secundarias que envolvem os membros. Já a relação primaria, envolvem a

paixão pelo esporte, a amizade e o companheirismo que se tem um pelo outro.

Podemos perceber na Falange Azul que eles são mais que um grupo

com um interesse em comum, eles são um grupo de amigos apaixonados pelo

mesmo time, com vontade de ajudar a comunidade que envolve esse time. As

relações entre muitos deles não se estreitam apenas na sede Falange Azul, vai

muito mais além, tornando vínculos de amizade e irmandade. Passando a

fronteira de apenas companheiros de torcida por amigos para a vida.

Sabemos que não é possível estabelecer um perfil exato desse grupo,

A Falange Azul, pois é um grupo heterogêneo, pessoas das mais diversas

idades, segmentos sociais, dos mais variados interesses integram. Porém, na

medida em que o jogo começa, essas diferenças se dissipam, ainda que por

instantes, e o que prevalece é basicamente a vontade de ver seu time à frente

da tabela. Essa coesão torna o grupo homogêneo por algunsinstantes.

A Falange Azul conta ainda com um comando feminino, que participam

ativamente dos eventos em que a torcida está envolvida. Elas fazem um

trabalho social bastante ativo, comando eventos sociais e festivos importantes.

Além disse o comando feminino sempre está junto com a torcida os estádios,

muitas delas jovens senhoras, que levam seus filhos e o ensinam a torcer e

amar seu time.

A Torcida Organizada Falange Azul anima as multidões nos estádios

de futebol e empolgam a festa, empurram o time, contagiam a torcida e servem

também como demonstrações de autoafirmação dentro e fora dos gramados.

Os gritos de guerra, hinos, as palavras de ordem, as canções, as rimas são

elementos importantíssimos na constituição e atuação da Falange e funcionam,

muitas vezes, como fatores determinantes na condução da partida, como

também no comportamento coletivo.

4.2.1 A Violência

É possível admitirmos que muitas das aproximações entre violência e

torcidasorganizadas pudessem estar vinculadas à ideia da construção de uma

“masculinidade agressiva”, principalmente entre os jovens, masculinidade essa

construída cultural e historicamente pelas sociedades.

Monteiro (2003) comenta essas demonstrações de superioridade entre

as torcidas e delega as manifestações de violência praticada por esses

integrantes como construtos de um “Etos Guerreiro”, que ele descreve como

um tipo de comportamento que privilegia o confronto violento, a agressividade

viril e a demonstração de superioridade física sobre o outro.

Tal fato não ocorre, porém, de forma linear. Esses indivíduos possuem

formas diferentes de lidarem com os sentimentos advindos dos embates, nas

rixas violentas e nas experiências lúdicas grupais. Essas maneiras são ditadas

por meio de uma série de ações cotidianas relacionados à idade e à própria

construção de gênero dos participantes. Por isso, o simbólico encontra-se tão

presente nas representações dos sujeitos.

Inúmeros são os fatores constitutivos das grupalidades, que ganham

maior complexidade quando compostas por jovens e adolescentes. Em se

tratando dessa realidade não podemos trabalhar com uni causalidades para

compreender a violência entre os jovens membros da torcida.

A questão da violência, dentro e fora dos grupos, surge a partir de

múltiplos fatores. Um dos fatores que podem desembocar nesses confrontos

são as provocações que, por diversas vezes, são “plantadas” em outros

cenários, e não, necessariamente, nos estádios e seus arredores. O simples

fato de um azulino circular nas proximidades da torcida pode ser motivo da

explosão de atos violentos.

Há um consenso entre os sociólogos que estudam os fenômenos

esportivos, particularmenteos que pesquisam o fenômeno dos grandes grupos,

que muitos praticantes de delitos estão infiltrados nas torcidas pela prática de

tais ilicitudes. Outro grande problema no que concerne à imagem da torcida

perante a sociedade está em como as informações são transmitidas pela

imprensa. Informações esta que transmitem uma imagem distorcida do grupo,

fazendo com que os integrantes sofram preconceitos generalizados referente a

violência.

A torcida Falange Azul trabalha em prol da não violência nos estádios,

sempre que há jogos de grande importância à diretoria da torcida, o batalhão

da Polícia Militar e a CMTU se reúnem para discutir os procedimentos

necessários para evitar maiores transtornos. Essa iniciativa veio da própria

torcida, onde seu maior intuito é ir ao estádio torcer pela Londrina e não se

envolver em brigas.

Não podemos ocultar que a violência, ela existe e muitas vezes se faz

presente na Falange, mas como citado acima, muitas dessas brigas são

causadas por torcedores que não são membros da organização, causando

uma imagem errada da torcida, que trabalha em prol da sociedade e colabora

para que não ocorra a violência em jogos de grande escalão.

5. MÉTODO

O método utilizado para este trabalho é qualitativo, pois se trata das

relações estabelecidas entre as Torcidas Organizadas, em especial a Falange

Azul.

O ponto de partida para realização da pesquisa foi a inserção a

comunidade Falange Azul, estabelecendo o primeiro contato com os

presidentes da associação de maneira informal conhecendo sua história, seus

vínculos afetivos e profissionais, sua ideologia e os aspectos psicossociais.

Após o primeiro contato e conhecendo um pouco mais das suas

ideologias, fizemos uma observação mais cautelosa identificando os problemas

e as ações sociais da comunidade. Com isso através de entrevistas com o

presidente Marcelo Benini e o vice-presidente Marcelo Fuentes, conhecemos

mais a fundo o trabalho social que a torcida Falange Azul realiza para

comunidade e discutimos a questão da violência nos estádios. Contamos ainda

com a participação de alguns torcedores, dando depoimentos a respeito do que

é fazer parte de uma torcida organizada e realizar essas ações sociais em prol

da comunidade.

6. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Após conhecer e observar a realidade da comunidade Falange Azul,

suas ações sociais em prol da sociedade londrinense, podemos então pensar

em uma proposta de trabalho com a mesma.

A partir dos estudos, pensamos em uma intervenção coletiva, voltada

para o bem comum da comunidade, realizações de grupos de estudo para que

as ações sociais realizadas por eles tenham uma magnitude maior, envolvendo

todos da torcida, não apenas uma minoria. Realizações de dinâmicas de grupo,

para um envolvimento e um crescimento mais positivo da Falange, onde todos

possam se sentir necessários para a organização que está integrada.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do contato que tivemos com os membros da Torcida

Organizada Falange Azul, foi possível observar na prática os conceitos teóricos

de comunidade expostos na introdução deste trabalho. É notória a união,

camaradagem e sentimento de pertença dos membros do grupo.

É importante, conforme aponta Sawaia (1996), que em função dessa

característica unida da comunidade, em prol de um objetivo comum, não se

caia no apelo ao reducionismo, que deixa de olhar a comunidade enquanto

individualidades intersubjetivadas e passa a trata-la como massa que tem

respostas a uma só voz. A comunidade, neste trabalho, a Torcida Organizada

Falange Azul, é um belo e complexo relacionamento de sujeitos com diferentes

necessidades e construções psicológicas, ligados por fortes laços de afeto e

crenças, e que devem sempre ser respeitados e ouvidos enquanto sujeitos

únicos.

De grande cunho enriquecedor foi também conhecer que a Falange

Azul não se ocupa unicamente do futebol, mas que também tem uma

preocupação social, além do fato de poder ser debatido mais acerca do

famigerado tema de violência entre as torcidas organizadas.

REFERÊNCIAS

________. FALANGE AZUL. Disponível em: <www.falangeazul.com.br>.

Acesso em: 07/06/2014.

________. COMANDO FEMININO. IN: Rabisco Londrinense. 2009. Disponível

em:

<http://rabiscolondrinense.blogspot.com.br/2009/05/entrevistas-comando-

feminino-falange.html>. Acesso em: 08/06/2014.

PEREIRA, William Cesar Castilho, Nas trilhas do trabalho comunitário e

social: teoria, método e pratica. Belo Horizonte: Vozes: PUC Minas, 2001

SANTOS, Amanda Farias.Torcidas Organizadas e a Sociabilidade Juvenil. Maceió, 2013. GUARESCHI, Pedrinho A.Relações Comunitárias, Relações de Dominação. SAWAIA, Bader B. Comunidade: A apropriação científica de um conceito tão antigo quanto a humanidade. In: CAMPOS, Regina Helena de Freitas (Org.). Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 35-53.

LANE, Dilvia T. M. Histórico e fundamentos da psicologia comunitária no Brasil. IN: CAMPOS, Regina Helena de Freitas (Org.).Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 17-34. PEREIRA, Anderson, REIS, Bruno de A., CARVALHO, Bruno P. et al.Psicologia em Comunidades: Um olhar a partir da perspectiva Latino-Americana. IN: Revista da Rede de Ensino FTC. Ano 5, n 10. 052007.

LUCCAS, Alexandre Nicolau. Futebol e Torcidas: Um estudo psicanalítico

sobre o vínculo social.São Paulo/SP. 1998.

ANEXOS

ANEXO A. DVD EDITADO

ANEXO B. ESTATUTO