provas no processo penal - ac

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PROVAS NO PROCESSO PENAL 1. CONCEITO Prova constitui uma atividade que os sujeitos do processo realizam para demonstrar a existência de fatos formadores de seus direitos. Tal instituto é tratado pelo legislador processual penal nos artigos 155 a 157 do Código de Processo Penal (CPP). As provas são o meio através do qual as partes que litigam em juízo almejam o convencimento do julgador. Estão presentes na fase da instrução processual, onde se utilizam os elementos disponíveis para mostrar a “verdade” do que se alega. Segundo Nestor Távora, “prova é tudo aquilo que contribui para a formação do convencimento do magistrado, demonstrando os fatos, atos, ou até mesmo o próprio direito discutido no litígio”. Segundo Júlio Fabbrini Mirabete: “Conceito de prova é procurar produzir um estado de certeza, na consciência e mente do juiz, para sua convicção, a respeito da existência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou falsidade de uma afirmação sobre uma situação de fato, que se considera de interesse para uma decisão judicial ou a solução de um processo.”

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Estudo acercas da espécies de provas no processo penal brasileiro

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Page 1: Provas No Processo Penal - AC

PROVAS NO PROCESSO PENAL

1. CONCEITO

Prova constitui uma atividade que os sujeitos do processo realizam para

demonstrar a existência de fatos formadores de seus direitos. Tal instituto é

tratado pelo legislador processual penal nos artigos 155 a 157 do Código de

Processo Penal (CPP).

As provas são o meio através do qual as partes que litigam em juízo

almejam o convencimento do julgador. Estão presentes na fase da instrução

processual, onde se utilizam os elementos disponíveis para mostrar a “verdade”

do que se alega. Segundo Nestor Távora, “prova é tudo aquilo que contribui para

a formação do convencimento do magistrado, demonstrando os fatos, atos, ou

até mesmo o próprio direito discutido no litígio”.

Segundo Júlio Fabbrini Mirabete:

“Conceito de prova é procurar produzir um estado de certeza, na

consciência e mente do juiz, para sua convicção, a respeito da

existência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou falsidade

de uma afirmação sobre uma situação de fato, que se considera de

interesse para uma decisão judicial ou a solução de um processo.”

Importante demonstrar que prova é somente aquela que resulta de

procedimento contraditório, em regra produzida perante o juiz e com a

participação dos litigantes. Não são considerados provas os elementos de

informação, documentos e outros registros colhidos em procedimento diverso do

processo judicial, sem a observância atinente ao contraditório, como por

exemplo os colhidos no curso do inquérito civil.

2. CLASSIFICAÇÃO

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Moacyr Amaral Santos, acolhendo o sistema proposto por Malatesta,

classifica as provas segundo três critérios: o do objeto, o do sujeito e o da forma:

Quanto ao objeto:

Objeto da prova é o fato a provar-se e, quanto a ele, as provas

são diretas ou indiretas. As diretas são aquelas que referem-se

diretamente ao fato probando, tem como objetivo evidenciar a

afirmação do fato probando; já as indiretas referem-se a um outro

acontecimento que leva ao fato principal, tem o objetivo de negar

que o fato aconteceu, a partir de outro fato que é logicamente

incompatível com aquele que a acusação quer provar, trata-se de

prova contrária. São provas indiretas as presunções e indícios

Quando ao sujeito:

Sujeito da prova é a pessoa ou coisa de quem ou de onde

dimana a prova; a pessoa ou coisa que afirma ou atesta a existência

do fato probando. Real é aquela prova emergente do fato, enquanto

pessoal é a que decorre do conhecimento de alguém em razão do

thema probandum.

Quanto à forma:

Forma da prova é a modalidade ou maneira pela qual se

apresenta em juízo. Em relação à forma a prova é testemunhal,

documental ou material. Prova testemunhal, em sentido amplo, é a

afirmação pessoal oral, compreendendo as produzidas por

testemunhas, declarações da vítima e do réu. Documental é a

afirmação escrita ou gravada. Diz-se material a prova consistente em

qualquer materialidade que sirva de prova ao fato probando; é a

atestação emanada da coisa: o corpo de delito, os exames periciais, os

instrumentos do crime.

3. OBJETO

Page 3: Provas No Processo Penal - AC

Objeto da prova é toda circunstância, fato ou alegação referente ao litígio

sobre os quais pesa incerteza, e que precisam ser demonstrados perante o juiz

para o deslinde da causa. São, portanto, fatos capazes de influir na decisão do

processo, na responsabilidade penal e na fixação da pena ou medida de

segurança, necessitando, por essa razão, de adequada comprovação em juízo.

Somente os fatos que revelam dúvida na sua configuração e que tenham alguma

relevância para o julgamento da causa merecem ser alcançados pela atividade

probatória, como corolário do princípio da economia processual.

Nessa esteira, Júlio Fabbrini Mirabete preconiza que:

“o objeto de prova é o que se deve demonstrar, ou seja, aquilo

sobre o que o Juiz deve adquirir o conhecimento necessário para

resolver o litígio. Abrange, portanto, não só o fato criminoso e sua

autoria, como todas as circunstâncias objetivas e subjetivas que

possam influir na responsabilidade penal e na fixação da pena ou

na imposição de medida de segurança. Refere-se, pois, aos fatos

relevantes para decisão da causa devendo ser excluídos aqueles

que não apresentam qualquer relação com o que é discutido e que,

assim, nenhuma influência pode ter na solução do litígio.”

Ou seja, objeto é o que se deve mostrar, aquilo sobre o que o juiz deve

adquirir o conhecimento necessário para resolver a demanda, tudo o que for

fundamental o conhecimento para a viabilização do julgamento.

4. FINALIDADES

Intrínseco ao conceito é a finalidade das provas, qual seja, o

convencimento do julgador. Busca-se o melhor resultado possível, a verdade

viável dentro daquilo que foi produzido nos autos. Por isso a importância de

processos com qualidade, e esta não é obtida por meio de suposições, e sim

através de um escopo probatório sólido.

Page 4: Provas No Processo Penal - AC

Pode-se dizer, assim, que a prova tem como finalidade permitir que o

julgador conheça os fatos sobre os quais fará incidir o direito. Esse, aliás, o

objetivo primordial do chamado processo de conhecimento, no âmbito do qual a

parte mais substancial dos atos é voltada à instrução, à produção de provas a fim

de iluminar o espírito do julgador e permitir a ele exercer o poder jurisdicional.

Desse modo, segundo Nucci “a finalidade da prova é convencer o juiz a respeito

da verdade de um fato litigioso.”

5. ÔNUS

O ônus da prova é o encargo atribuído à parte de propor aquilo que alega.

A demonstração probatória é uma faculdade, assumindo a parte omissa as

consequências de sua inatividade.

O art. 156 do Código de Processo Penal (modificado pela Lei n. 11.690/08

de 09 de junho de 2008) estabelece que:

“Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,

porém, facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção

antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,

observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da

medida;

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir

sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre

ponto relevante.”

Assim, do caput do artigo tem-se que o ônus da prova incumbe a quem

alega. A nova redação do art. 156 não alterou a regra sobre ônus da prova, ao

contrário, manteve “a regra de que o ônus de se provar o alegado compete a quem

fizer a alegação. Trata-se de regra em perfeita sintonia com os princípios gerais de

direito, como a boa-fé, a obrigação de dizer a verdade, o esforço para buscar a

Page 5: Provas No Processo Penal - AC

verdade real, entre outros. Todavia, o entendimento de que o ônus de provar o

alegado compete a quem fizer a alegação não é unânime na doutrina.

Tourinho filho manifesta-se de forma contrária à doutrina clássica

“cabe, pois, à parte acusadora provar a existência do fato e

demonstrar sua autoria. Também lhe cabe demonstrar o elemento

subjetivo que se traduz por dolo ou culpa. Se o réu goza da

presunção de inocência, é evidente que a prova do crime, quer a

parte objecti, quer a parte subjecti, deve ficar a cargo da

Acusação”.

Todavia, tem prevalecido a posição contrária, distribuindo-se o ônus da

prova entre a acusação e a defesa.

6. HIERARQUIA

No Brasil é adotado o sistema do livre convencimento motivado ou

persuasão racional, é o que se extrai do art. 155, do CPP, verbis:

“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da

prova produzida em contraditório judicial, não podendo

fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos

informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas

cautelares, não repetíveis e antecipadas”

Segundo os ensinamento de Nestor Távora e Rosmar Alencar, a liberdade

do julgador lhe permite avaliar o conjunto probatório em sua magnitude e extrair

da prova a sua essência. Não existe hierarquia entre as provas, cabendo ao juiz

imprimir na decisão o grau de importância das provas produzidas.

Essa liberdade, entretanto, não é sinônimo de arbítrio, cabendo ao

magistrado, fundamentar a decisão, demonstrando com amparo no montante

probatório o porquê do seu convencimento, assegurando o direito das partes e o

interesse social. Trata-se, em verdade, de garantia constitucionalmente, que

permite às partes aferir que a convicção foi realmente extraída do material

probatório carreado aos autos, e que os motivos levam logicamente à conclusão.

Page 6: Provas No Processo Penal - AC

7. PROVA EMPRESTADA

Prova emprestada é aquela que é colhida em um processo e, depois,

transportada documentalmente para outro, com a finalidade de, neste, produzir

efeitos. Como as provas em geral, a prova emprestada também submete-se aos

princípios constitucionais que regem a matéria. Dessa forma o primeiro requisito

constitucional de admissibilidade da prova emprestada é o de ter sido produzida

em processo formado entre as mesmas partes ou, ao menos, em processo em que

tenha figurado como parte aquele contra quem se pretende fazer valer a prova.

Isso porque o princípio constitucional do contraditório exige que a prova

emprestada somente possa ter valia se produzida, no primeiro processo, perante

quem suportará seus efeitos no segundo.

Entendimento reiterado na jurisprudência pátria:

“Havendo indícios de que a produção de provas não foi realizada

sob a presidência do Juiz do processo, em ato do qual não

participaram as partes, com patente inobservância do devido

processo legal e do contraditório, a prova emprestada deve ser

qualificada como ilícita, desprovida de qualquer eficácia, eivada

de nulidade absoluta, insusceptível de ser sanada por força da

preclusão” (STJ – REsp – Rel. Min. Vicente Leal – RT 743/589).

“A prova emprestada somente poderá surtir efeito se

originariamente colhida em processo entre as mesmas partes ou no

qual figure como parte quem por ela será atingido. Em hipótese

alguma, por violar o princípio constitucional do contraditório,

gerará efeitos contra quem não tenha figurado como uma das

partes no processo originário” (TJSP – Ap. n° 84.806-3 – 6ª C. – j.

21.11.1990 – Rel. Des. Reynaldo Ayrosa – RT 667/267).

8. PROVA ILEGÍTIMA E PROVAS ILÍCITAS

São provas ilícitas todas aquelas que ferem algum preceito constitucional

ou legal de caráter material, aquelas colhidas infringindo-se normas ou princípios

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colocados pela Constituição e pelas leis, frequentemente para a proteção das

liberdades públicas e dos direitos da personalidade e daquela sua manifestação

que é o direito à intimidade. Constituem, assim, provas ilícitas, as obtidas com

violação do domicílio (art. 5°, XI, da CF) ou das comunicações (art. 5°, XII, da

CF); as conseguidas mediante tortura ou maus-tratos (art. 5°, III, da CF); as

colhidas com infringência à intimidade (art. 5°, X, da CF) etc.”

Em resumo, se pode considerar, como um conceito de provas ilícitas,

aquele empregado pela Comissão de Juristas constituída pelo Ministério da Justiça

para a elaboração de propostas de reforma do CPP, ao conferir nova redação ao

art. 157, assim formulada: “Serão inadmissíveis as provas ilícitas, assim

entendidas as obtidas com violação a princípios ou normas constitucionais, e as

delas resultantes”

Diferentemente, as provas ilegítimas são as quais são obtidas mediante

desobediência de norma processual como, por exemplo, um magistrado que

aprecia o processo sendo que o mesmo é incompetente para tal ato, uma

interceptação telefônica feita de forma violadora às condições legais etc.

Ocorrendo obtenção de provas através de meios que possuam vícios

processuais, as mesmas serão nulas e não ilícitas. Em cada caso, especificamente,

deverá ser observado a utilização dos meios de prova, a fim de verificar se os

mesmos obedecem as determinações legais ou as moralmente aceitáveis.

Assim provas adquiridas de meios ilícitos não poderão ingressar nos autos

de um processo penal. Mas, na hipótese de já estar contida no processo, deverá ser

retirada de seu interior para que não influenciem no convencimento do juiz. A

sentença que se fundar em prova ilícita será nula.

9.1 Teoria dos frutos da árvore envenenada

Essa teoria consiste em afirmar que provas obtidas licitamente obtidas

através de informações aproveitadas de outras provas que violem alguma direito

constitucional acabam por serem contaminadas pelas últimas, fazendo com que

não sejam aproveitadas no processo.

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Segundo Nestor Távora “Por esta teoria, de origem na Suprema Corte

norte-americana, a prova ilícita produzida (árvore), tem o condão de contaminar

todas a provas dela decorrentes (frutos)”.

Entretanto, nosso tribunais tem decidido que provas colhidas durante o

processo penal não estão contaminadas se a ilicitude instruiu apenas o inquérito

policial.

Uma prova, para ser descartada de um processo penal, deve ser

demonstrada primeiramente o nexo causal entre ela e a prova ilícita, isto é, como

foi indispensável a participação desta para a criação daquela.

9.2 Prova ilícita “pro reo”

A doutrina tem entendido que provas obtidas através de infringência

constitucional mas que beneficiam de alguma forma o acusado podem ser

utilizadas em um processo. Exemplo disso são as escutas telefônicas implantadas

pelo próprio interessado. As mesmas são caracterizadas como legítima defesa,

excluindo desta forma a ilicitude do ato.

9.3 Princípio da Proporcionalidade

É utilizado nos casos em que há o conflito entre dois princípios

constitucionais. O mesmo consiste em ponderar os dois princípios e escolher o

que melhor se encaixa ao caso concreto. A análise feita entre os dois princípios

consiste em verificar primeiramente a hierarquia constitucional entre elas e, em

caso de empate, deverá utilizar-se do balanço axiológico em questão, nos

ensinamentos de Bonfim, “(...) estabelecendo no caso concreto o peso de cada um

dos bens ou valores em jogo, e definindo, ao final, após a aplicação dos dois

primeiros subprincípios da proporcionalidade (adequação e necessidade), qual

deles deverá prevalecer.”

9.4 Relativização da vedação da prova ilícita

Page 9: Provas No Processo Penal - AC

Em respeito ao Princípio da Proporcionalidade, os tribunais tem decidido

abrandar a vedação das provas ilícitas, admitindo o seu uso desde que não sejam o

único meio de comprovação ou estejam de acordo com os demais elementos de

prova que compõem o processo.

9. ESPÉCIES DE PROVA NO CÓDIGO PENAL

9.1. Do Exame de Corpo de Delito, e das perícias em geral

Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais deixados pela infração

penal. Já o exame de corpo de delito é a perícia que tem por objeto o próprio

corpo de delito. Pode ser direto, quando os peritos dispõe do próprio corpo para

analisar, ou indireto, quando realizado com a ajuda de meio acessórios,

subsidiários, pois o corpo de delito não mais subsiste para ser objeto do exame.

É o exame realizado por profissional com conhecimentos técnicos, a fim

de auxiliar o julgador na formação de sua convicção. O laudo pericial é o

documento elaborado pelos peritos, resultante do que foi examinado na perícia.

A perícia pode ser realizada na fase de inquérito policial ou do processo, a

qualquer dia e horário (art. 161 do CPP), observando os peritos o prazo de dez

dias para a elaboração do laudo, prorrogável em casos excepcionais (art. 160,

parágrafo único, do CPP). A autoridade que determinar a perícia e as partes

poderão oferecer quesitos até o ato.

Deve ser realizada a perícia por perito oficial, portador de diploma de

curso superior. Poderão ser designados dois peritos, contudo, se a perícia for

complexa, abrangendo mais de uma área de conhecimento especializado, nos

termos do art. 159, § 7º, do CPP. Nota-se que tal designação é excepcional; a

regra é a realização do exame por apenas um perito.

Se não houver perito oficial, será elaborada a perícia por duas pessoas

idôneas, portadoras de diploma de curso superior e, de preferência, com

habilitação na área em que for realizado o exame (art. 159, § 1º, do CPP), as quais

deverão prestar compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo (art.

159, § 2º, do CPP).

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É facultado ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido,

ao querelante e ao acusado de indicar assistente técnico, bem como oferecer

quesitos (art. 159, § 4º, do CPP). Este deve ser admitido pelo juiz e atuará após a

conclusão dos exames e elaboração do laudo pelo perito oficial, sendo as partes

intimadas desta decisão (art. 159, § 4º, do CPP).

Importante salientar que o juiz não está vinculado ao laudo elaborado

pelos peritos, podendo julgar contrariamente às suas conclusões, desde que o faça

fundamentadamente (art. 182 do CPP)

9.2. Do Interrogatório do acusado

O interrogatório é a fase da persecução penal que permite ao suposto autor

da infração esboçar a sua versão dos fatos, exercendo, se desejar, a autodefesa.

Ato em que o acusado é ouvido sobre a imputação a ele dirigida. Tem dupla

natureza jurídica ao interrogatório: é meio de prova, pois assim inserido no

Código de Processo Penal e porque leva elemento de convicção ao julgador; é

também meio de defesa, pois o interrogatório é o momento primordial para que

o acusado possa exercer sua autodefesa, dizendo o que quiser e o que entender

que lhe seja favorável, em relação à imputação que lhe pesa.

O acusado será interrogado sempre na presença de seu defensor. Se não

tiver um, deve ser-lhe nomeado um defensor público ou um defensor dativo,

nem que seja apenas para acompanhar o ato (ad hoc).

9.3. Da Confissão

Segundo Mirabete, “Em termos genéricos, no campo do direito processual,

a confissão é o reconhecimento realizado em Juízo, por uma das partes, a respeito

da veracidade dos fatos que lhe são atribuídos e capazes de ocasionar-lhe

consequências jurídicas desfavoráveis. No processo penal, pode ser conceituada,

sinteticamente, como a expressão designativa da aceitação, pelo autor da prática

criminosa, da realidade da imputação que lhe é feita”.

A confissão não é tida como prova de valor absoluto, de acordo com o art.

197 do Código de Processo Penal, a confissão deve ser avaliada em conjunto com

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os demais elementos de prova do processo, verificando-se sua compatibilidade ou

concordância com eles.

A confissão ocorre costumeiramente no ato do interrogatório, mas nada

impede que seja realizada em outro momento no curso do processo. Neste caso,

deverá ser tomada por termo nos autos, conforme dispõe o art. 198 do Código de

Processo Penal. Não existe confissão ficta no processo penal, ou seja, mesmo que

o acusado não exerça a sua autodefesa, não se presumem verdadeiros os fatos a

ele imputados.

Estipula ainda o Código que a confissão será divisível, ou seja, o juiz pode

aceitá-la apenas em parte, e será também retratável, isto é, o acusado pode voltar

atrás na sua admissão de culpa.

Costuma-se apontar duas espécies de confissão:

a) simples, na qual o réu apenas reconhece a prática delituosa, sem

qualquer elemento novo;

b) qualificada, em que o réu reconhece que praticou o crime, mas alega

algo em seu favor, como alguma causa excludente de ilicitude ou de

culpabilidade.

9.4. Do Ofendido

O ofendido é o titular do direito lesado ou posto em perigo, é a vítima,

sendo que suas declarações, indicando a versão que lhe cabe dos fatos, têm

natureza probatória. Sempre que possível o juiz deverá proceder à oitiva do

ofendido, por ser ele pessoa apta, em muitos casos, a fornecer informações

essenciais em relação ao fato criminoso. Regularmente intimado, se não

comparecer poderá ser conduzido coercitivamente.

Será ele indagado sobre as circunstâncias da infração, se sabe quem é o

autor e quais as provas que pode indicar.

O ofendido, que não é testemunha, e não pode ser tratado como tal, não

será compromissado a dizer a verdade, e caso lhe falte com a mesma, não incide

em falso testemunho.

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9.5. Das Testemunhas

São as pessoas estranhas à relação jurídica processual, que narram fatos de

que tenham conhecimento, acerca do objeto da causa.

São características da prova testemunhal:

a) oralidade: o depoimento é oral, não pode ser trazido por escrito, muito

embora a lei permita a consulta a apontamentos, conforme o art. 204 do CPP;

b) objetividade: a testemunha deve responder o que sabe a respeito dos

fatos, sendo-lhe vedado emitir sua opinião a respeito da causa;

c) retrospectividade: a testemunha depõe sobre fatos já ocorridos e não faz

previsões.

Estabelece o art. 202 do Código de Processo Penal que toda pessoa poderá

ser testemunha. A essa regra geral, porém, correspondem algumas exceções.

Estão dispensados de depor, o cônjuge, o ascendente, o descendente e os

afins em linha reta do réu. Eles só serão obrigados a depor caso não seja possível,

por outro modo, obter-se a prova (art. 206 do CPP). Neste caso, não se tomará

deles o compromisso de dizer a verdade; eles serão ouvidos como informantes do

Juízo. Também não se tomará o compromisso dos doentes mentais e das pessoas

menores de 14 anos, conforme disposto no art. 208 do Código de Processo Penal.

Estão proibidas de depor as pessoas que devam guardar sigilo em razão de

função, ministério, ofício ou profissão, salvo se, desobrigadas pelo interessado,

quiserem dar seu depoimento (art. 207 do CPP).

Tecnicamente, testemunha é aquela pessoa que faz a promessa, sob o

comando do juiz, de dizer a verdade sobre aquilo que lhe for perguntado, ou seja,

a que assume o compromisso de dizer a verdade, sob pena de ser processada pelo

crime de falso testemunho. As demais pessoas que venham a depor, sem prestar

referido compromisso, conforme já adiantado anteriormente, são denominadas

informantes do Juízo ou ainda declarantes.

Na audiência, As testemunhas deverão ser ouvidas de per si, de modo que

uma não ouça o depoimento da outra, para que não exista a possibilidade de

influência. Fará ela a promessa de dizer a verdade sobre o que lhe for perguntado,

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sob pena de ser processada por crime de falso testemunho. Se o juiz verificar que

a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à

testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento,

fará a inquirição por videoconferência e, somente se não for possível, determinará

a retirada do réu da sala de audiências, permanecendo seu defensor. Tudo deverá

constar do termo.

9.6. Do Reconhecimento de Pessoas e Coisas

“É o ato pelo qual uma pessoa admite e afirma como certa a identidade de

outra ou a qualidade de uma coisa” (NUCCI).

Procedimento: primeiro, a pessoa que vai fazer o reconhecimento deve

descrever a pessoa que será reconhecida. Esta será, então, se possível, colocada

ao lado de outras que, com ela, tenham semelhança, para que o reconhecedor

possa apontá-la, tomando-se cuidado, se houver receio, para que uma não veja a

outra. Entende-se que a semelhança deve ser física, não exatamente de

fisionomia, o que poderia tornar impossível a realização do ato. Se forem várias

as pessoas que irão fazer o reconhecimento, cada uma o fará em separado.

Dispõe ainda a lei processual que, em Juízo ou em plenário de julgamento, não

se aplica a providência de impedir que uma pessoa veja a outra no ato do

reconhecimento.

De tudo o que se passou, lavrar-se-á termo, assinado pela autoridade, pela

pessoa chamada para efetuar o reconhecimento e por duas testemunhas. O

mesmo procedimento deve ser observado no que diz respeito e no que couber ao

reconhecimento de coisas que tiverem relação com o delito.

9.7. Da Acareação

É o ato processual em que se colocam frente a frente duas ou mais pessoas

que fizeram declarações divergentes sobre o mesmo fato. Pode ser realizada entre

acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou

testemunha e vítima, ou entre vítimas.

É pressuposto essencial que as declarações já tenham sido prestadas, caso

contrário não haveria possibilidade de se verificar ponto conflitante entre elas. O

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art. 230 do Código de Processo Penal dispõe sobre a acareação por carta

precatória, na hipótese de um dos acareados residir fora da Comarca processante.

9.8. Dos Documentos

Nos termos do Código de Processo Penal, consideram-se documentos

quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares (art. 232).

Instrumento é o documento constituído especificamente para servir de prova

para o ato ali representado, por exemplo, a procuração, que tem a finalidade de

demonstrar a outorga de poderes.

O Código adotou o conceito de documento em sentido estrito. No sentido

amplo, podemos dizer que “é toda base materialmente disposta a concentrar e

expressar um pensamento, uma ideia ou qualquer manifestação de vontade do

ser humano, que sirva para demonstrar e provar um fato ou acontecimento

juridicamente relevante” (NUCCI). De acordo com essa interpretação, então, são

considerados documentos: vídeos, fotos, CDs etc.

Os documentos podem ser:

a) públicos: aqueles formados por agente público no exercício da função.

Possuem presunção juris tantum (relativa) de autenticidade e veracidade;

b) particulares: aqueles formados por particular.

Em regra, os documentos podem ser juntados em qualquer fase do

processo (art. 231 do CPP). Dispõe a lei processual, contudo, que não será

permitida a juntada de documentos no Plenário do Júri, sem comunicar à outra

parte com antecedência mínima de três dias (art. 479 do CPP). Se o juiz tiver

notícia da existência de documento referente a ponto relevante do processo,

providenciará a sua juntada aos autos, independentemente de requerimento das

partes. Os documentos em língua estrangeira deverão ser traduzidos por tradutor

público.

A cópia autenticada de documento terá o mesmo valor que o documento

original (art. 232, parágrafo único, do CPP). Os documentos juntados aos autos

poderão ser desentranhados a pedido da parte, se não houver motivo que

justifique sua permanência nos autos (art. 238 do CPP).

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9.9. Dos Indícios

O indício é a circunstância conhecida e provada, que tendo relação com o

fato, autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras

circunstâncias. Já a presunção é o conhecimento daquilo que normalmente

acontece.

Trata-se de prova indireta, que exige uma ilação para que se chegue à

determinada conclusão, mas nem por isso de menor importância do que as demais

provas, indiretas ou não. Tem valor relativo como todas as demais, podendo

lastrear validamente sentença condenatória ou absolutória.

9.10. Da Busca e Apreensão

A busca consiste na diligência através da qual procura-se em determinado

lugar pessoa ou coisa, ao passo que a apreensão é medida de constrição, para

acautelar, por sob custódia determinado objeto ou pessoa, é a medida que

geralmente sucede à busca, mas nada impede que exista busca sem apreensão e

vice-versa.

Quanto à natureza jurídica, os institutos são tratados como meio de prova,

embora haja entendimento no sentido de que se trata de medida cautelar.

Pode ser realizada antes da instauração do inquérito, durante sua

elaboração, no curso da instrução criminal ou até na fase de execução, para a

prisão do condenado.

O art. 240, § 1°, do CPP dispõe acerca da busca domiciliar, que deve ser

procedida quando fundadas razões a autorizarem, e nas hipóteses taxativamente

previstas no mesmo dispositivo legal, por se tratar de uma medida de exceção,

que fere a liberdade individual.

A busca pessoal, segundo o art. 240, § 2°, será efetuada quando houver

fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos

mencionados nas letras b a f e a letra h do § 1° do mesmo dispositivo legal.

Page 16: Provas No Processo Penal - AC

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 3.ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 17 ed. rev. Atual São Paulo: Atlas, 2005, p. 274.

MOACYR AMARAL SANTOS. “Primeiras Linhas de Direito Processual Civil”. São Paulo: Ed. Saraiva, 9ª ed., 1984. 2° Vol., pág. 331.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 6. ed. rev. atual.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, 

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. 3º. Ed. 2007.

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