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Estudo acercas da espécies de provas no processo penal brasileiroTRANSCRIPT
PROVAS NO PROCESSO PENAL
1. CONCEITO
Prova constitui uma atividade que os sujeitos do processo realizam para
demonstrar a existência de fatos formadores de seus direitos. Tal instituto é
tratado pelo legislador processual penal nos artigos 155 a 157 do Código de
Processo Penal (CPP).
As provas são o meio através do qual as partes que litigam em juízo
almejam o convencimento do julgador. Estão presentes na fase da instrução
processual, onde se utilizam os elementos disponíveis para mostrar a “verdade”
do que se alega. Segundo Nestor Távora, “prova é tudo aquilo que contribui para
a formação do convencimento do magistrado, demonstrando os fatos, atos, ou
até mesmo o próprio direito discutido no litígio”.
Segundo Júlio Fabbrini Mirabete:
“Conceito de prova é procurar produzir um estado de certeza, na
consciência e mente do juiz, para sua convicção, a respeito da
existência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou falsidade
de uma afirmação sobre uma situação de fato, que se considera de
interesse para uma decisão judicial ou a solução de um processo.”
Importante demonstrar que prova é somente aquela que resulta de
procedimento contraditório, em regra produzida perante o juiz e com a
participação dos litigantes. Não são considerados provas os elementos de
informação, documentos e outros registros colhidos em procedimento diverso do
processo judicial, sem a observância atinente ao contraditório, como por
exemplo os colhidos no curso do inquérito civil.
2. CLASSIFICAÇÃO
Moacyr Amaral Santos, acolhendo o sistema proposto por Malatesta,
classifica as provas segundo três critérios: o do objeto, o do sujeito e o da forma:
Quanto ao objeto:
Objeto da prova é o fato a provar-se e, quanto a ele, as provas
são diretas ou indiretas. As diretas são aquelas que referem-se
diretamente ao fato probando, tem como objetivo evidenciar a
afirmação do fato probando; já as indiretas referem-se a um outro
acontecimento que leva ao fato principal, tem o objetivo de negar
que o fato aconteceu, a partir de outro fato que é logicamente
incompatível com aquele que a acusação quer provar, trata-se de
prova contrária. São provas indiretas as presunções e indícios
Quando ao sujeito:
Sujeito da prova é a pessoa ou coisa de quem ou de onde
dimana a prova; a pessoa ou coisa que afirma ou atesta a existência
do fato probando. Real é aquela prova emergente do fato, enquanto
pessoal é a que decorre do conhecimento de alguém em razão do
thema probandum.
Quanto à forma:
Forma da prova é a modalidade ou maneira pela qual se
apresenta em juízo. Em relação à forma a prova é testemunhal,
documental ou material. Prova testemunhal, em sentido amplo, é a
afirmação pessoal oral, compreendendo as produzidas por
testemunhas, declarações da vítima e do réu. Documental é a
afirmação escrita ou gravada. Diz-se material a prova consistente em
qualquer materialidade que sirva de prova ao fato probando; é a
atestação emanada da coisa: o corpo de delito, os exames periciais, os
instrumentos do crime.
3. OBJETO
Objeto da prova é toda circunstância, fato ou alegação referente ao litígio
sobre os quais pesa incerteza, e que precisam ser demonstrados perante o juiz
para o deslinde da causa. São, portanto, fatos capazes de influir na decisão do
processo, na responsabilidade penal e na fixação da pena ou medida de
segurança, necessitando, por essa razão, de adequada comprovação em juízo.
Somente os fatos que revelam dúvida na sua configuração e que tenham alguma
relevância para o julgamento da causa merecem ser alcançados pela atividade
probatória, como corolário do princípio da economia processual.
Nessa esteira, Júlio Fabbrini Mirabete preconiza que:
“o objeto de prova é o que se deve demonstrar, ou seja, aquilo
sobre o que o Juiz deve adquirir o conhecimento necessário para
resolver o litígio. Abrange, portanto, não só o fato criminoso e sua
autoria, como todas as circunstâncias objetivas e subjetivas que
possam influir na responsabilidade penal e na fixação da pena ou
na imposição de medida de segurança. Refere-se, pois, aos fatos
relevantes para decisão da causa devendo ser excluídos aqueles
que não apresentam qualquer relação com o que é discutido e que,
assim, nenhuma influência pode ter na solução do litígio.”
Ou seja, objeto é o que se deve mostrar, aquilo sobre o que o juiz deve
adquirir o conhecimento necessário para resolver a demanda, tudo o que for
fundamental o conhecimento para a viabilização do julgamento.
4. FINALIDADES
Intrínseco ao conceito é a finalidade das provas, qual seja, o
convencimento do julgador. Busca-se o melhor resultado possível, a verdade
viável dentro daquilo que foi produzido nos autos. Por isso a importância de
processos com qualidade, e esta não é obtida por meio de suposições, e sim
através de um escopo probatório sólido.
Pode-se dizer, assim, que a prova tem como finalidade permitir que o
julgador conheça os fatos sobre os quais fará incidir o direito. Esse, aliás, o
objetivo primordial do chamado processo de conhecimento, no âmbito do qual a
parte mais substancial dos atos é voltada à instrução, à produção de provas a fim
de iluminar o espírito do julgador e permitir a ele exercer o poder jurisdicional.
Desse modo, segundo Nucci “a finalidade da prova é convencer o juiz a respeito
da verdade de um fato litigioso.”
5. ÔNUS
O ônus da prova é o encargo atribuído à parte de propor aquilo que alega.
A demonstração probatória é uma faculdade, assumindo a parte omissa as
consequências de sua inatividade.
O art. 156 do Código de Processo Penal (modificado pela Lei n. 11.690/08
de 09 de junho de 2008) estabelece que:
“Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,
porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da
medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre
ponto relevante.”
Assim, do caput do artigo tem-se que o ônus da prova incumbe a quem
alega. A nova redação do art. 156 não alterou a regra sobre ônus da prova, ao
contrário, manteve “a regra de que o ônus de se provar o alegado compete a quem
fizer a alegação. Trata-se de regra em perfeita sintonia com os princípios gerais de
direito, como a boa-fé, a obrigação de dizer a verdade, o esforço para buscar a
verdade real, entre outros. Todavia, o entendimento de que o ônus de provar o
alegado compete a quem fizer a alegação não é unânime na doutrina.
Tourinho filho manifesta-se de forma contrária à doutrina clássica
“cabe, pois, à parte acusadora provar a existência do fato e
demonstrar sua autoria. Também lhe cabe demonstrar o elemento
subjetivo que se traduz por dolo ou culpa. Se o réu goza da
presunção de inocência, é evidente que a prova do crime, quer a
parte objecti, quer a parte subjecti, deve ficar a cargo da
Acusação”.
Todavia, tem prevalecido a posição contrária, distribuindo-se o ônus da
prova entre a acusação e a defesa.
6. HIERARQUIA
No Brasil é adotado o sistema do livre convencimento motivado ou
persuasão racional, é o que se extrai do art. 155, do CPP, verbis:
“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas”
Segundo os ensinamento de Nestor Távora e Rosmar Alencar, a liberdade
do julgador lhe permite avaliar o conjunto probatório em sua magnitude e extrair
da prova a sua essência. Não existe hierarquia entre as provas, cabendo ao juiz
imprimir na decisão o grau de importância das provas produzidas.
Essa liberdade, entretanto, não é sinônimo de arbítrio, cabendo ao
magistrado, fundamentar a decisão, demonstrando com amparo no montante
probatório o porquê do seu convencimento, assegurando o direito das partes e o
interesse social. Trata-se, em verdade, de garantia constitucionalmente, que
permite às partes aferir que a convicção foi realmente extraída do material
probatório carreado aos autos, e que os motivos levam logicamente à conclusão.
7. PROVA EMPRESTADA
Prova emprestada é aquela que é colhida em um processo e, depois,
transportada documentalmente para outro, com a finalidade de, neste, produzir
efeitos. Como as provas em geral, a prova emprestada também submete-se aos
princípios constitucionais que regem a matéria. Dessa forma o primeiro requisito
constitucional de admissibilidade da prova emprestada é o de ter sido produzida
em processo formado entre as mesmas partes ou, ao menos, em processo em que
tenha figurado como parte aquele contra quem se pretende fazer valer a prova.
Isso porque o princípio constitucional do contraditório exige que a prova
emprestada somente possa ter valia se produzida, no primeiro processo, perante
quem suportará seus efeitos no segundo.
Entendimento reiterado na jurisprudência pátria:
“Havendo indícios de que a produção de provas não foi realizada
sob a presidência do Juiz do processo, em ato do qual não
participaram as partes, com patente inobservância do devido
processo legal e do contraditório, a prova emprestada deve ser
qualificada como ilícita, desprovida de qualquer eficácia, eivada
de nulidade absoluta, insusceptível de ser sanada por força da
preclusão” (STJ – REsp – Rel. Min. Vicente Leal – RT 743/589).
“A prova emprestada somente poderá surtir efeito se
originariamente colhida em processo entre as mesmas partes ou no
qual figure como parte quem por ela será atingido. Em hipótese
alguma, por violar o princípio constitucional do contraditório,
gerará efeitos contra quem não tenha figurado como uma das
partes no processo originário” (TJSP – Ap. n° 84.806-3 – 6ª C. – j.
21.11.1990 – Rel. Des. Reynaldo Ayrosa – RT 667/267).
8. PROVA ILEGÍTIMA E PROVAS ILÍCITAS
São provas ilícitas todas aquelas que ferem algum preceito constitucional
ou legal de caráter material, aquelas colhidas infringindo-se normas ou princípios
colocados pela Constituição e pelas leis, frequentemente para a proteção das
liberdades públicas e dos direitos da personalidade e daquela sua manifestação
que é o direito à intimidade. Constituem, assim, provas ilícitas, as obtidas com
violação do domicílio (art. 5°, XI, da CF) ou das comunicações (art. 5°, XII, da
CF); as conseguidas mediante tortura ou maus-tratos (art. 5°, III, da CF); as
colhidas com infringência à intimidade (art. 5°, X, da CF) etc.”
Em resumo, se pode considerar, como um conceito de provas ilícitas,
aquele empregado pela Comissão de Juristas constituída pelo Ministério da Justiça
para a elaboração de propostas de reforma do CPP, ao conferir nova redação ao
art. 157, assim formulada: “Serão inadmissíveis as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas com violação a princípios ou normas constitucionais, e as
delas resultantes”
Diferentemente, as provas ilegítimas são as quais são obtidas mediante
desobediência de norma processual como, por exemplo, um magistrado que
aprecia o processo sendo que o mesmo é incompetente para tal ato, uma
interceptação telefônica feita de forma violadora às condições legais etc.
Ocorrendo obtenção de provas através de meios que possuam vícios
processuais, as mesmas serão nulas e não ilícitas. Em cada caso, especificamente,
deverá ser observado a utilização dos meios de prova, a fim de verificar se os
mesmos obedecem as determinações legais ou as moralmente aceitáveis.
Assim provas adquiridas de meios ilícitos não poderão ingressar nos autos
de um processo penal. Mas, na hipótese de já estar contida no processo, deverá ser
retirada de seu interior para que não influenciem no convencimento do juiz. A
sentença que se fundar em prova ilícita será nula.
9.1 Teoria dos frutos da árvore envenenada
Essa teoria consiste em afirmar que provas obtidas licitamente obtidas
através de informações aproveitadas de outras provas que violem alguma direito
constitucional acabam por serem contaminadas pelas últimas, fazendo com que
não sejam aproveitadas no processo.
Segundo Nestor Távora “Por esta teoria, de origem na Suprema Corte
norte-americana, a prova ilícita produzida (árvore), tem o condão de contaminar
todas a provas dela decorrentes (frutos)”.
Entretanto, nosso tribunais tem decidido que provas colhidas durante o
processo penal não estão contaminadas se a ilicitude instruiu apenas o inquérito
policial.
Uma prova, para ser descartada de um processo penal, deve ser
demonstrada primeiramente o nexo causal entre ela e a prova ilícita, isto é, como
foi indispensável a participação desta para a criação daquela.
9.2 Prova ilícita “pro reo”
A doutrina tem entendido que provas obtidas através de infringência
constitucional mas que beneficiam de alguma forma o acusado podem ser
utilizadas em um processo. Exemplo disso são as escutas telefônicas implantadas
pelo próprio interessado. As mesmas são caracterizadas como legítima defesa,
excluindo desta forma a ilicitude do ato.
9.3 Princípio da Proporcionalidade
É utilizado nos casos em que há o conflito entre dois princípios
constitucionais. O mesmo consiste em ponderar os dois princípios e escolher o
que melhor se encaixa ao caso concreto. A análise feita entre os dois princípios
consiste em verificar primeiramente a hierarquia constitucional entre elas e, em
caso de empate, deverá utilizar-se do balanço axiológico em questão, nos
ensinamentos de Bonfim, “(...) estabelecendo no caso concreto o peso de cada um
dos bens ou valores em jogo, e definindo, ao final, após a aplicação dos dois
primeiros subprincípios da proporcionalidade (adequação e necessidade), qual
deles deverá prevalecer.”
9.4 Relativização da vedação da prova ilícita
Em respeito ao Princípio da Proporcionalidade, os tribunais tem decidido
abrandar a vedação das provas ilícitas, admitindo o seu uso desde que não sejam o
único meio de comprovação ou estejam de acordo com os demais elementos de
prova que compõem o processo.
9. ESPÉCIES DE PROVA NO CÓDIGO PENAL
9.1. Do Exame de Corpo de Delito, e das perícias em geral
Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais deixados pela infração
penal. Já o exame de corpo de delito é a perícia que tem por objeto o próprio
corpo de delito. Pode ser direto, quando os peritos dispõe do próprio corpo para
analisar, ou indireto, quando realizado com a ajuda de meio acessórios,
subsidiários, pois o corpo de delito não mais subsiste para ser objeto do exame.
É o exame realizado por profissional com conhecimentos técnicos, a fim
de auxiliar o julgador na formação de sua convicção. O laudo pericial é o
documento elaborado pelos peritos, resultante do que foi examinado na perícia.
A perícia pode ser realizada na fase de inquérito policial ou do processo, a
qualquer dia e horário (art. 161 do CPP), observando os peritos o prazo de dez
dias para a elaboração do laudo, prorrogável em casos excepcionais (art. 160,
parágrafo único, do CPP). A autoridade que determinar a perícia e as partes
poderão oferecer quesitos até o ato.
Deve ser realizada a perícia por perito oficial, portador de diploma de
curso superior. Poderão ser designados dois peritos, contudo, se a perícia for
complexa, abrangendo mais de uma área de conhecimento especializado, nos
termos do art. 159, § 7º, do CPP. Nota-se que tal designação é excepcional; a
regra é a realização do exame por apenas um perito.
Se não houver perito oficial, será elaborada a perícia por duas pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior e, de preferência, com
habilitação na área em que for realizado o exame (art. 159, § 1º, do CPP), as quais
deverão prestar compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo (art.
159, § 2º, do CPP).
É facultado ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido,
ao querelante e ao acusado de indicar assistente técnico, bem como oferecer
quesitos (art. 159, § 4º, do CPP). Este deve ser admitido pelo juiz e atuará após a
conclusão dos exames e elaboração do laudo pelo perito oficial, sendo as partes
intimadas desta decisão (art. 159, § 4º, do CPP).
Importante salientar que o juiz não está vinculado ao laudo elaborado
pelos peritos, podendo julgar contrariamente às suas conclusões, desde que o faça
fundamentadamente (art. 182 do CPP)
9.2. Do Interrogatório do acusado
O interrogatório é a fase da persecução penal que permite ao suposto autor
da infração esboçar a sua versão dos fatos, exercendo, se desejar, a autodefesa.
Ato em que o acusado é ouvido sobre a imputação a ele dirigida. Tem dupla
natureza jurídica ao interrogatório: é meio de prova, pois assim inserido no
Código de Processo Penal e porque leva elemento de convicção ao julgador; é
também meio de defesa, pois o interrogatório é o momento primordial para que
o acusado possa exercer sua autodefesa, dizendo o que quiser e o que entender
que lhe seja favorável, em relação à imputação que lhe pesa.
O acusado será interrogado sempre na presença de seu defensor. Se não
tiver um, deve ser-lhe nomeado um defensor público ou um defensor dativo,
nem que seja apenas para acompanhar o ato (ad hoc).
9.3. Da Confissão
Segundo Mirabete, “Em termos genéricos, no campo do direito processual,
a confissão é o reconhecimento realizado em Juízo, por uma das partes, a respeito
da veracidade dos fatos que lhe são atribuídos e capazes de ocasionar-lhe
consequências jurídicas desfavoráveis. No processo penal, pode ser conceituada,
sinteticamente, como a expressão designativa da aceitação, pelo autor da prática
criminosa, da realidade da imputação que lhe é feita”.
A confissão não é tida como prova de valor absoluto, de acordo com o art.
197 do Código de Processo Penal, a confissão deve ser avaliada em conjunto com
os demais elementos de prova do processo, verificando-se sua compatibilidade ou
concordância com eles.
A confissão ocorre costumeiramente no ato do interrogatório, mas nada
impede que seja realizada em outro momento no curso do processo. Neste caso,
deverá ser tomada por termo nos autos, conforme dispõe o art. 198 do Código de
Processo Penal. Não existe confissão ficta no processo penal, ou seja, mesmo que
o acusado não exerça a sua autodefesa, não se presumem verdadeiros os fatos a
ele imputados.
Estipula ainda o Código que a confissão será divisível, ou seja, o juiz pode
aceitá-la apenas em parte, e será também retratável, isto é, o acusado pode voltar
atrás na sua admissão de culpa.
Costuma-se apontar duas espécies de confissão:
a) simples, na qual o réu apenas reconhece a prática delituosa, sem
qualquer elemento novo;
b) qualificada, em que o réu reconhece que praticou o crime, mas alega
algo em seu favor, como alguma causa excludente de ilicitude ou de
culpabilidade.
9.4. Do Ofendido
O ofendido é o titular do direito lesado ou posto em perigo, é a vítima,
sendo que suas declarações, indicando a versão que lhe cabe dos fatos, têm
natureza probatória. Sempre que possível o juiz deverá proceder à oitiva do
ofendido, por ser ele pessoa apta, em muitos casos, a fornecer informações
essenciais em relação ao fato criminoso. Regularmente intimado, se não
comparecer poderá ser conduzido coercitivamente.
Será ele indagado sobre as circunstâncias da infração, se sabe quem é o
autor e quais as provas que pode indicar.
O ofendido, que não é testemunha, e não pode ser tratado como tal, não
será compromissado a dizer a verdade, e caso lhe falte com a mesma, não incide
em falso testemunho.
9.5. Das Testemunhas
São as pessoas estranhas à relação jurídica processual, que narram fatos de
que tenham conhecimento, acerca do objeto da causa.
São características da prova testemunhal:
a) oralidade: o depoimento é oral, não pode ser trazido por escrito, muito
embora a lei permita a consulta a apontamentos, conforme o art. 204 do CPP;
b) objetividade: a testemunha deve responder o que sabe a respeito dos
fatos, sendo-lhe vedado emitir sua opinião a respeito da causa;
c) retrospectividade: a testemunha depõe sobre fatos já ocorridos e não faz
previsões.
Estabelece o art. 202 do Código de Processo Penal que toda pessoa poderá
ser testemunha. A essa regra geral, porém, correspondem algumas exceções.
Estão dispensados de depor, o cônjuge, o ascendente, o descendente e os
afins em linha reta do réu. Eles só serão obrigados a depor caso não seja possível,
por outro modo, obter-se a prova (art. 206 do CPP). Neste caso, não se tomará
deles o compromisso de dizer a verdade; eles serão ouvidos como informantes do
Juízo. Também não se tomará o compromisso dos doentes mentais e das pessoas
menores de 14 anos, conforme disposto no art. 208 do Código de Processo Penal.
Estão proibidas de depor as pessoas que devam guardar sigilo em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, salvo se, desobrigadas pelo interessado,
quiserem dar seu depoimento (art. 207 do CPP).
Tecnicamente, testemunha é aquela pessoa que faz a promessa, sob o
comando do juiz, de dizer a verdade sobre aquilo que lhe for perguntado, ou seja,
a que assume o compromisso de dizer a verdade, sob pena de ser processada pelo
crime de falso testemunho. As demais pessoas que venham a depor, sem prestar
referido compromisso, conforme já adiantado anteriormente, são denominadas
informantes do Juízo ou ainda declarantes.
Na audiência, As testemunhas deverão ser ouvidas de per si, de modo que
uma não ouça o depoimento da outra, para que não exista a possibilidade de
influência. Fará ela a promessa de dizer a verdade sobre o que lhe for perguntado,
sob pena de ser processada por crime de falso testemunho. Se o juiz verificar que
a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento,
fará a inquirição por videoconferência e, somente se não for possível, determinará
a retirada do réu da sala de audiências, permanecendo seu defensor. Tudo deverá
constar do termo.
9.6. Do Reconhecimento de Pessoas e Coisas
“É o ato pelo qual uma pessoa admite e afirma como certa a identidade de
outra ou a qualidade de uma coisa” (NUCCI).
Procedimento: primeiro, a pessoa que vai fazer o reconhecimento deve
descrever a pessoa que será reconhecida. Esta será, então, se possível, colocada
ao lado de outras que, com ela, tenham semelhança, para que o reconhecedor
possa apontá-la, tomando-se cuidado, se houver receio, para que uma não veja a
outra. Entende-se que a semelhança deve ser física, não exatamente de
fisionomia, o que poderia tornar impossível a realização do ato. Se forem várias
as pessoas que irão fazer o reconhecimento, cada uma o fará em separado.
Dispõe ainda a lei processual que, em Juízo ou em plenário de julgamento, não
se aplica a providência de impedir que uma pessoa veja a outra no ato do
reconhecimento.
De tudo o que se passou, lavrar-se-á termo, assinado pela autoridade, pela
pessoa chamada para efetuar o reconhecimento e por duas testemunhas. O
mesmo procedimento deve ser observado no que diz respeito e no que couber ao
reconhecimento de coisas que tiverem relação com o delito.
9.7. Da Acareação
É o ato processual em que se colocam frente a frente duas ou mais pessoas
que fizeram declarações divergentes sobre o mesmo fato. Pode ser realizada entre
acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou
testemunha e vítima, ou entre vítimas.
É pressuposto essencial que as declarações já tenham sido prestadas, caso
contrário não haveria possibilidade de se verificar ponto conflitante entre elas. O
art. 230 do Código de Processo Penal dispõe sobre a acareação por carta
precatória, na hipótese de um dos acareados residir fora da Comarca processante.
9.8. Dos Documentos
Nos termos do Código de Processo Penal, consideram-se documentos
quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares (art. 232).
Instrumento é o documento constituído especificamente para servir de prova
para o ato ali representado, por exemplo, a procuração, que tem a finalidade de
demonstrar a outorga de poderes.
O Código adotou o conceito de documento em sentido estrito. No sentido
amplo, podemos dizer que “é toda base materialmente disposta a concentrar e
expressar um pensamento, uma ideia ou qualquer manifestação de vontade do
ser humano, que sirva para demonstrar e provar um fato ou acontecimento
juridicamente relevante” (NUCCI). De acordo com essa interpretação, então, são
considerados documentos: vídeos, fotos, CDs etc.
Os documentos podem ser:
a) públicos: aqueles formados por agente público no exercício da função.
Possuem presunção juris tantum (relativa) de autenticidade e veracidade;
b) particulares: aqueles formados por particular.
Em regra, os documentos podem ser juntados em qualquer fase do
processo (art. 231 do CPP). Dispõe a lei processual, contudo, que não será
permitida a juntada de documentos no Plenário do Júri, sem comunicar à outra
parte com antecedência mínima de três dias (art. 479 do CPP). Se o juiz tiver
notícia da existência de documento referente a ponto relevante do processo,
providenciará a sua juntada aos autos, independentemente de requerimento das
partes. Os documentos em língua estrangeira deverão ser traduzidos por tradutor
público.
A cópia autenticada de documento terá o mesmo valor que o documento
original (art. 232, parágrafo único, do CPP). Os documentos juntados aos autos
poderão ser desentranhados a pedido da parte, se não houver motivo que
justifique sua permanência nos autos (art. 238 do CPP).
9.9. Dos Indícios
O indício é a circunstância conhecida e provada, que tendo relação com o
fato, autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias. Já a presunção é o conhecimento daquilo que normalmente
acontece.
Trata-se de prova indireta, que exige uma ilação para que se chegue à
determinada conclusão, mas nem por isso de menor importância do que as demais
provas, indiretas ou não. Tem valor relativo como todas as demais, podendo
lastrear validamente sentença condenatória ou absolutória.
9.10. Da Busca e Apreensão
A busca consiste na diligência através da qual procura-se em determinado
lugar pessoa ou coisa, ao passo que a apreensão é medida de constrição, para
acautelar, por sob custódia determinado objeto ou pessoa, é a medida que
geralmente sucede à busca, mas nada impede que exista busca sem apreensão e
vice-versa.
Quanto à natureza jurídica, os institutos são tratados como meio de prova,
embora haja entendimento no sentido de que se trata de medida cautelar.
Pode ser realizada antes da instauração do inquérito, durante sua
elaboração, no curso da instrução criminal ou até na fase de execução, para a
prisão do condenado.
O art. 240, § 1°, do CPP dispõe acerca da busca domiciliar, que deve ser
procedida quando fundadas razões a autorizarem, e nas hipóteses taxativamente
previstas no mesmo dispositivo legal, por se tratar de uma medida de exceção,
que fere a liberdade individual.
A busca pessoal, segundo o art. 240, § 2°, será efetuada quando houver
fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos
mencionados nas letras b a f e a letra h do § 1° do mesmo dispositivo legal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 3.ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 17 ed. rev. Atual São Paulo: Atlas, 2005, p. 274.
MOACYR AMARAL SANTOS. “Primeiras Linhas de Direito Processual Civil”. São Paulo: Ed. Saraiva, 9ª ed., 1984. 2° Vol., pág. 331.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 6. ed. rev. atual.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. 3º. Ed. 2007.
TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 9. Ed. rev. e atual. Salvador: JUS PODIVM, 2014.