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42
1 Litha/Lammas, Fev.2013, Edição n° 07. Gratuita.

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1

Lith

a/La

mm

as, F

ev.2

013,

Edi

ção

n° 0

7. G

ratu

ita.

Page 2: prova7

2

Chegamos á sétima edição da Revista BTW, e é com grande satisfação, que após vários dias de dedicação, apresentamos mais um exemplar desta revista.

Então, que possamos aproveitar o momento para celebrar esta alegria, junto com o calor e riso do Verão. E que neste tempo de purificação, e renovação de nós mesmos, seja possível reconhecer as possibilidades para auxiliar aqueles que nos pedem auxílio, esclarecer sobre a Wica e também de preservar a Arte.

É tempo de dançar, cantar e fazer amor... e nesse clima, desejamos aos nossos amigos leitores um ótimo Verão!

EDITORIALLorenna Escobar

16 de Janeiro de 2013

Page 3: prova7

3

índice

Iniciação e Colheita ...............pg.06

Coven ...........................................pg.14

Litha ..............................................pg.19

O Mito dos Reis........................pg.28

Page 4: prova7

4

“Cada ramo do conhecimento humano, se rastreados até

sua fonte e princípios finais, desaparece no mistério”.

Arthur Machen

Page 5: prova7

5

Mario Martinez

Lorenna Escobar

Simone Abraços

Giulia

Equipe BTW

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6

Por Mario Martinez

Quando nos aprofundamos

nos mitos antigos, percebemos que

muitos deles referem-se exatamente

ao processo iniciatório. Em diversos

mitos antigos, podemos verificar que

a morte antecede sempre à fertilidade

da natureza. Morte e renascimento

também são aspectos essenciais dos

ritos de iniciação desde a antiguidade

e especificamente na Arte dos Wica

entramos em contato com o mistério,

morrendo e renascendo como

Iniciados, ou seja, aquele que passou

pelo mistério e renasceu como uma

alma imortal.

Não é por acaso que a Arte

gira em torno do mito da Roda do Ano.

Desde a antiguidade que as antigas

nações civilizadas vêem a mudança das

INICIAÇÃO E COLHEITA

Aubrey Beardsley

Page 7: prova7

7

estações com o crescimento e declínio

da natureza como eventos ligados aos

deuses, à religião e conseqüentemente

à iniciação. Nesses ritos antigos, o

movimento físico da natureza estava

ligado com a própria vida dos deuses,

onde sua morte era lamentada e

chorada e cuja ressurreição era

comemorada com ritos dramáticos.

Todos esses ritos visavam assegurar

a renovação vital, o renascimento

primaveril, a multiplicação dos animais,

após os meses de pranto e morte do

inverno.

Claro que esses ritos não estão

limitados aos nossos antepassados.

Eles nos foram legados através dos

séculos, não porque tenham sido

copiados de religiões mais antigas,

mas justamente devido ao fato de que

eles retratam claramente um mistério

que se tornou fundamental dentro

dessas religiões e, particularmente,

herdado pela Bruxaria européia.

A concepção do Deus

que morre e renasce, bem como

todos os rituais que mostram essa

transformação e evolução, está

viva na Arte dos Wica hoje em dia.

Assim sendo, se formos estudar,

por exemplo, o mito de Deméter e

Perséfone, cujo documento mais

antigo onde ele aparece é o belo Hino

a Deméter homérico, poderemos

verificar a existência de um paralelo

entre o mito e o processo de iniciação

e elevação nos graus.

O mito nos conta que a jovem

Perséfone estava colhendo flores em

um prado luxuriante, quando a terra se

abriu e o Senhor dos Mortos levou-a

para ser sua noiva no sombrio mundo

subterrâneo. Na verdade, acredito

que essa seja a condição de todo ser

humano comum, que passa sua vida

INICIAÇÃO E COLHEITA

Page 8: prova7

8

brincando nos alegres e luxuriantes

prados do mundo, desconhecendo a

si mesmo e aos mistérios profundos.

Estamos passando por

Lammas, a primeira colheita da

Roda do Ano, e portanto uma época

bastante propícia para iniciações e

elevações de grau. Um dos textos

poéticos nos diz:

“Bem-aventurado é o mortal

que viu tais coisas, mas aquele que

não houver participado delas em vida

jamais será feliz na morte quando

tiver baixado às trevas do túmulo.”

Passar pelos Mistérios e

renascer como um Iniciado significa

ter passado pela morte, significa ter

descido às profundezas do submundo

e renascido, assegurando assim a sua

sobrevivência como uma alma imortal.

Isso é bem claro no mito de Deméter,

quando após a descida de Perséfone

ao submundo, toda a terra se torna

árida e estéril para depois, quando por

fim ela retorna à luz do dia, os campos

da planície eleusiana tornarem-se

dourados com os cereais.

O candidato à iniciação

passa pela morte ritualística, desce

ao submundo e renasce. Os campos

de sua alma eram estéreis, sua

compreensão vazia e árida, mas após

ter passado pelos Mistérios e ter

renascido, a vida novamente brota

nos campos, agora imortais.

No Egito antigo, a lenda de

Ísis e Osíris retrata muito bem esse

Mistério. Osíris é morto, despedaçado

e seus pedaços espalhados pelo Egito,

mas renasce. No homem comum,

perdido no nevoeiro denso da alma, o

caminho na direção do indispensável

movimento da vida foi perdido. Nos

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9

John Clowder

dias de hoje, os problemas e aflições

a respeito do significado da vida

decorrem principalmente da falta

de consciência do verdadeiro ritmo

existencial. O verdadeiro propósito

dos Mistérios é o de modificar a

qualidade da alma do postulante,

elevar sua consciência a um nível

super-humano e transformá-lo numa

alma imortal.

Desse modo, todos os rituais

de nossos antepassados, no Egito,

na Grécia e no Oriente Próximo,

representam morte e ressurreição,

para que o iniciado possa vivenciar

simbolicamente um estado acima

do nível humano e a vida eterna, e

conseqüentemente uma vitória do

homem sobre o seu medo da morte.

Através da morte iniciatória o novo

iniciado saberá que não precisa temer

a morte e que doravante está salvo

porque foi iniciado. Contudo, muita

gente, aliás milhões de pessoas no

mundo, não estão totalmente em seus

corpos, ficam negando certas partes e

por isso vivem parcialmente. Poucas

pessoas sentem seu corpo realmente

vivo. Somente aquele que passou pelos

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10

An

toin

e W

atte

au

Mistérios e renasceu pode amar de

verdade. O amor é quase impossível

no estado comum da mente humana.

O homem comum, o não

iniciado vive uma vida de lutas. Contudo

não há nenhuma necessidade de lutar

porque nenhum problema pode ser

resolvido pela luta. Os que estão

tentando resolver seus problemas

mundanos estão se movendo numa

falsa direção: desde que todos os

problemas são existenciais e todas

as soluções são produtos da mente,

com o tempo as respostas se

desgastam e os problemas voltam à

superfície. Aquele que passou pelos

Mistérios e transcendeu, cresceu

sem os problemas, cresceu além dos

problemas, porque eles nunca podem

ser resolvidos: eles podem ser

dissolvidos.

Quando a pessoa passa pelos

Mistérios e colhe os frutos dessa

transcendência, tudo simplesmente

cai por terra. Todo o esforço dos

Altos Sacerdotes é o de trabalhar

com o iniciado existencialmente

e não filosoficamente. Ninguém

está tentando resolver problemas

ou encontrar soluções. A Filosofia

tentou isso inutilmente, porque ela

não pode transformar ninguém já

que permanece no nível mental,

intelectual. Iniciação é um despertar,

uma colheita. A realidade brotou das

profundezas da terra e agora pode

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11

ser colhida. Mas essa colheita só está

à disposição daquele que morreu e

renasceu.

Voltando ao mito de

Eleusis, Deméter representa a

colheita madura do ano e Perséfone

representa a semente que foi semeada

para reaparecer na primavera. A

descida de Perséfone significa então

a visão mítica da semeadura e seu

ressurgimento na primavera. Esse

despontar do novo cereal nos campos

representa a elevação espiritual do

novo iniciado que transcendeu suas

limitações. O postulante representa

a semente, o potencial que poderá ou

não desabrochar e florescer. Ele tem

que descer ao submundo, passar pelo

Reino da Morte e ressurgir como

a planta madura, o significado da

iluminação. O mito é iniciatório por

excelência. Analogias semelhantes

foram levadas da Grécia antiga para a

Europa e assimiladas pela Bruxaria.

Com esse paralelo entre

colheita e iniciação, percebemos

que a finalidade da iniciação é a

de proporcionar um estado de

preparação para o renascimento,

através de um conjunto de testes

e provas, que determinam se o

candidato é digno de elevação a uma

posição religiosa superior. Após a

morte e renascimento, ou seja, após a

transcendência espiritual do candidato

em novo iniciado, o conhecimento

pode ser disponibilizado. Mas

somente após o iniciado ter passado

pelos estados emocionais de medo,

ansiedade, morte e finalmente do

renascimento e do êxtase.

Muita gente pensa que

iniciação é um incremento do

conhecimento, um enriquecimento

da mente. Tenho observado que a

iniciação se torna mais fácil quando a

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12

pessoa é jovem. Quanto mais velha é a

pessoa, mais presunçosa ela é, quanto

mais velha a pessoa mais ela acha que

sabe e nada satisfaz tanto o ego como

o conhecimento.

A analogia da semente se

aplica muito bem aqui, quando vemos

os jovens como potencialidade. Os

mais velhos geralmente ficam olhando

para algum lugar no futuro, aonde

serão melhores e por consequencia

serão felizes. Na verdade, o Iniciado

abandonou o futuro completamente.

Não se trata de manter uma idéia

de que é possível melhorar a si

mesmo, porque essa é uma das

causas da neurose. Uma pessoa que

está tentando se tornar melhor

ficará neurótica. As sementes estão

lá, dentro da pessoa e assim sendo a

colheita virá.

A morte precisa acontecer.

A morte de toda a velharia

que a pessoa mantém dentro de si, de

todo o passado que deve ser jogado

para fora. E isso só é possível quando

uma iniciação formal é realizada.

A única possibilidade de colheita é

quando o jardineiro cuida do jardim.

A própria semente não pode, em

hipótese nenhuma, romper essa casca

sozinha. Isso seria um suicídio.

Quase ninguém pode ver

que a morte é apenas uma porta,

uma abertura para uma nova vida.

E a iniciação é uma porta para o

The birth of VênusGustave Moreau

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13

renascimento, e os Iniciados podem

ver isso por si mesmos, podem

ver que uma vida verdadeira está

esperando, uma vida mais elevada,

mais alta. Então é possível encontrar

dentro de nós alguma coisa que não

pode morrer e desse modo o medo

simplesmente desaparece.

O crescimento é sempre uma

coisa arriscada. O postulante sempre

tem que perder aquilo que conhece

em troca daquilo que desconhece.

Tem que abrir as mãos e entregar

o que está segurando em troca do

que ainda não conhece. É por isso

que eu digo que religião é para os

corajosos, os fortes. Religião não é

para os negociantes. Os negociantes

estão sempre procurando proteger

o que já tem, pensando em ganhar

mais e mais. Entretanto, na vida não

existe nenhuma segurança. Imaginem

se a semente se recusasse a romper a

casca ? Não haveria crescimento, não

haveria iniciação.

Desse modo, iniciação é um

abandono do velho, do antigo, da

estagnação. Iniciação acontece agora,

neste momento. O real é o que está

acontecendo agora. E conforme

podemos observar, apesar da grande

exposição e divulgação da Arte nos

últimos anos, os Mistérios ainda

mantém um poder que permanece

inalterado. Isso proporciona que os

iniciados tenham o sentimento do que

Gerald Gardner chamava de “inicial

sentido de maravilhamento.”

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14

Um Coven é uma organização

mantida para o encontro de bruxos,

uma comunidade destinada ao tra-

balho ritual. O número máximo de

membros em um coven é de 13 pes-

soas que de uma forma peculiar sobre

suas crenças vivenciam os mistérios

da vida, morte e renascimento através

dos símbolos existentes e representa-

dos nas passagens das estações e nos

ciclos naturais.

As leis dentro do Coven são

alicerçadas por uma estrutura hie-

rárquica existente e remanescente

da tradição, e através dos juramen-

tos feitos por cada integrante. Alguns

iniciados dizem que a organização do

Coven reflete a ordem cósmica dos

Deuses Antigos, a Alta Sacerdotisa re-

presenta a Deusa e o Alto Sacerdote

representa o Deus de Chifres dentro

do círculo mágico.

A reunião dos membros de um

Coven, ocorre geralmente nas festi-

vidades da Roda do Ano conhecido

como Sabás , como também em Esbás.

Os membros do Coven não podem

revelar o nome dos outros membros,

assim como a localização do encon-

Por Lorenna Escobar

COVEN

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15

tro entre elese só serão revelados aos

seus participantes.

É importante salientar que não

existe nenhum tipo de cobrança, de

qualquer quantia de dinheiro, para o

aprendizado em um Coven ou para

iniciações.

Segundo modernos estudiosos

da feitiçaria inglesa, a importância má-

gica dos Covens é secundária já que

a magia, quando praticada, requer to-

tal concentração, porém sabemos que

um grupo de pessoas juntas atingido

um estado de presença específico é

capaz de gerar um campo de energia

de grande intensidade.

No entanto sabemos que o tra-

balho em grupo apresenta inúmeras

adversidades e que devem ser dire-

cionadas para o conhecimento e para

a construção da própria sabedoria, o

que serve de auxílio para a libertação

da consciência coletiva em seu estado

normal de dominação da mente, ha-

bilitando o corpo de modo a sentir a

Vida dentro dele.

Para entrar em um Coven, é

preciso ser convidado por algum Ini-

ciado integrante, ou se apresentar

formalmente a um Iniciado que leva-

rá a solicitação para o grupo analisar

a adesão; Entretanto será necessária

uma pequena avaliação de compatibi-

lidade, pois para entrar em um círculo

mágico com os demais Iniciados mais

que um ideal de perfeito amor e per-

feita confiança será preciso.

Quando alguém procura um

Coven, é porque já existe alguma

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16

abertura para o aprendizado, é prova-

velmente alguém que está pronto para

dar um mergulho no desconhecido, é

alguém que busca algo além da com-

preensão e que em um nível profun-

do entende que é esse o caminho que

deve percorrer. Quando se é atraído

por um Coven de Bruxaria é porque

já existe presença suficiente para a

travessia, pois os Altos Sacerdotes são

considerados como “A Ponte”, e por

isso é preciso unir-se a Eles e também

por isso que não existem Bruxos soli-

tários.

O despertar para aqueles dese-

joso para serem transformação pela

Magia dos Bruxos é como um acon-

tecimento, algo descrito como um

“impulso que nasce das profundezas

da alma”. Sendo assim aquele que re-

almente é apropriado a Arte irá en-

contrar seu lugar e poder assim en-

contrar os Deuses.

Geralmente uma pessoa que

é aceita pelo Coven é considerada

como um Dedicado(a), que fica dis-

ponível para o conhecimento da Arte,

mesmo que superficial, mas que po-

dem dar maiores condições de reco-

nhecer realmente que se trata de algo

do qual o postulante se dirigiu. Após o

período de “dedicação” (de um ano e

um dia)o suplicante poderá ser apre-

sentado aos portais da Iniciação e en-

tão ser formalmente aceito no grupo

como um Bruxo e Sacerdote da Arte,

sendo conhecido como um Iniciado

de 1ºgrau.

Infelizmente existe apenas um

Coven de Wica Tradicional no Brasil,

pois provavelmente o conhecimento

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17

da Bruxaria, como um sistema mágico

religioso que busca a transcendência

divina e que cultuam uma Deusa e um

Deus como o Casal Divino, não seja

considerada como importante sobre

as comparações da vida cotidiana, e

então se apresentam como pessoas

não apropriadas a Arte.

A Wica não é uma religião de

massa ou de seguidores, é necessário

passar por todo treinamento estabe-

lecido no grupo, seguindo os princí-

pios da tradição, obter o conhecimen-

to dos preceitos da Arte, seus dogmas,

teologia e liturgia, para então poder

ser apresentado aos portões de aces-

so ao conhecimento dos mistérios da

Arte, dos quais são veladas e transmi-

tidas por um Alto Sacerdote ou Alta

Sacerdotisa. Devemos considerar que

apenas um Homem devidamente ini-

ciado pode iniciar uma Mulher e ape-

nas uma Mulher devidamente iniciada

pode iniciar um Homem.

Quando falamos de Wica esta-

mos nos referindo à Tradição de Mis-

térios Iniciática difundida por Gardner,

na década de 50, e suas Alta Sacer-

dotisas. Tradição é a transmissão de

práticas ou de valores espirituais de

geração em geração, o conjunto das

crenças de um povo, algo que é segui-

do conservadoramente e com respei-

to através das gerações.

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18

Um Coven pode ser considera-

do como uma família, são laços que

transformam e que nos tornam seres

mais conscientes e conectados com

o Todo, são células da tradição que

manteêm os ensinamentos dos Anti-

gos ainda vivos .

O caminho do iniciado é um

caminho sem volta, é um salto no

abismo, é conhecer a morte antes de

morrer, é compreender alguns dos

mistérios da Vida, da Morte e do Re-

nascimento, é o tomador do conhe-

cimento da alquimia, é o conhecedor

dos poderes da Magia, da Comunhão,

da Felicidade e do Amor.

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19

Por Simone Abraços

LITHA

Litha, também conhecido por

Midsummer, é um Sabá celebrado no

Solstício de Verão. Por ser um evento

astronômico, não possui uma data fixa

e pode variar entre os dias 20 e 24 de

dezembro no hemisfério sul e entre

os dias 20 e 24 de junho no hemisfé-

rio norte.

O Solstício de Verão é o dia

em que o hemisfério em questão, fica

mais próximo do Sol e mais tempo ex-

posto a sua luminosidade e, por isso,

temos o dia mais longo do ano com

mais de 12 horas de duração. Nesse

dia, o zênite solar marca o seu apo-

geu e, de acordo com a sua trajetória

na esfera celeste, ele alcança o ponto

mais alto no céu. É o auge do poderio

solar, o dia de maior incidência de luz

Page 20: prova7

20

e, com seu o seu poder fertilizador, a

Natureza se encontra em abundância

e plenitude.

Nossos antepassados acredita-

vam que a noite do Solstício de Verão

era um momento muito propício para

a colheita de ervas e plantas com pro-

pósitos mágicos de cura, fertilidade e

proteção. Eles descobriram isso atra-

vés de muitos anos de observação e

experimentação, mas hoje nós sabe-

mos a razão que os levaram a afirmar

que essa noite é mágica : o Sol.

Naturalmente, durante o dia

mais longo do ano, as Ervas e as Plan-

tas ficam expostas à luz solar mais

tempo que o normal ( o dia do último

Solstício durou quase 14 horas ) e as-

sim, seus princípios ativos, tanto me-

dicinais quantos ocultos, são desper-

tados, potencializados e multiplicados

pelo poder do Sol.

Na verdade, elas não são colhi-

das durante a noite, mas nas primei-

ras horas. Ao anoitecer, as ervas e as

plantas se encontram no máximo do

seu potencial porque estão impregna-

das de energia solar. Uma faca espe-

cial deve ser utilizada e elas devem ser

cortadas em um só golpe para que os

seus princípios ativos não sejam com-

prometidos.

Como uma das Ervas mais co-

lhidas nessa noite, podemos citar o

Hipérico ( Hypericum perforatum L.

) também conhecido como “Erva-de-

-São-João”. O nome “Hipérico” deriva

do grande Titã Hipérion, um Titã So-

lar primitivo que, na Mitologia Grega,

era o pai do Deus Hélios ( o Sol ), da

Deusa Selene ( a Lua ) e de Eos ( a

Aurora ).

O Hipérico é um pequeno ar-

busto com flores amareladas e mui-

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21

to aromáticas. Como todas as plantas

amarelas, elas são regidas pelo Sol e,

naturalmente, suas propriedades fi-

cam mais ativas durante o dia quando

estão expostas à luz solar. Seu nome

popular “Erva-de-São-João” é em ho-

menagem ao dia do nascimento de

São João Batista – dia 24 de junho, a

“Noite de São João”, onde, muitas ve-

zes, coincide com a data do Solstício

de Verão no hemisfério norte. Segun-

do o mito, São João é aquele que re-

presenta a luz e luta para afastar as

trevas.

Uma outra planta colhida no

Solstício e muito conhecida na Bru-

xaria, principalmente nos Festivais So-

lares na Península Ibérica, é a Verbena

(Verbena officinalis). Uma planta má-

gica por excelência, com muitas pro-

priedades terapêuticas e ocultas. Por

esse motivo, a Verbena sempre está

entre as Ervas que são jogadas nas fo-

gueiras de Litha.

O Rosmaninho ( Lavandula

stoechas da Família do Alecrim, o

Rosmarinus officinalis), também co-

nhecida por “Erva-de-São-João madri-

lenha”, é uma erva poderosa, regida

pelo Sol e que não pode faltar nas fo-

gueiras do Solstício de Verão.

Uma lenda muito conhecida

seria a das Samambaias (Dryptoteris

filix-mas), também considerada uma

planta joaneira. Tida por muitos como

uma planta masculina, acreditava-se

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22

que à meia-noite do Solstício de Ve-

rão, elas floresciam e espalhavam suas

sementes, e aqueles que as colhes-

sem com um pano feito de cânhamo

ou linho, receberiam poderes e co-

nhecimentos miraculosos. Segundo

Andrés Laguna de Segóvia (Médico e

Farmacologista espanhol) : “Algumas

velhotas endemoniadas andaram per-

suadindo o povo que na noite de São

João, à meia-noite em ponto, a samam-

baia cresce e floresce e, se o homem

não estiver ali naquele momento para

colhê-la, sua semente cai e se perde”.

A Azinheira (Quercus ilex , da

mesma Família do Carvalho, o Quer-

cus robur) é uma grande protagonista

no Solstício de Verão para propósi-

tos de cura. Na região da Catalunha,

na Espanha, várias pessoas ainda se

reúnem ao redor da grande e velha

Azinheira. Todas elas ajudam a abrir

um buraco no tronco, suficientemen-

te grande para o doente entrar e atra-

vessar, enquanto todos dizem “Tren-

cat t’el dono” (“avariado o entrego”)

o doente atravessa para o outro lado,

e então, todos dizem “Curat t’el preng

(“curado o recebo”).

Assim como as bolotas do Carvalho,

as bolotas da Azinheira , devidamente

preparadas e de acordo com a Botâ-

nica Oculta, são usadas como podero-

sos amuletos.

Muitos dizem que, tradicional-

mente, a Vara Mágica deve ser feita

com um galho de Aveleira (Corylus

avellana), a Árvore do Conhecimento

HazelColl, Aveleira

Page 23: prova7

23

ou a Aveleira da Feiticeira, e que deve

ser cortado na noite do Solstício de

Verão. Uma das propriedades mágicas

e ocultas desta vara, era o da adivinha-

ção e profecia, onde se acreditava que

tesouros (metais preciosos como o

ouro) e água (mananciais escondidos)

poderiam ser encontrados.

As flores Malva-Rosa (Alcea

rosea) e Alteia (Althaea officinalis,

também conhecida por Malvarisco ou

Malva-branca), com grandes proprie-

dades analgésicas, deveriam ser colhi-

das antes do amanhecer para ter seus

princípios conservados durante todo

o ano.

Os Celtas colhiam o raríssimo

Visco do Carvalho, também conheci-

do por Agárico, apenas nos Solstícios.

Uma planta lendária cercada por mui-

to mistérios e histórias, e com mui-

tas propriedades medicinais, princi-

palmente no tratamento da epilepsia

(Visco quer dizer “aquilo que tudo

cura”).

Para colhê-lo, um grande ritu-

al era realizado e apenas os Druidas

poderiam estar presentes. A planta

era cortada com uma pequena foice

cerimonial de ouro e colocada sobre

um pano virgem de linho. Logo após a

colheita, dois bois brancos eram imo-

lados aos pés do grande Carvalho.

O Carvalho, uma árvore sagra-

da e símbolo de imortalidade e lon-

gevidade, pode atingir 40 metros de

altura e durar facilmente 400 anos.

Um velho ditado dizia : “O Carvalho

leva 300 anos para crescer, 300 anos

para se tornar adulto e 300 anos para

morrer".

As Ervas e Plantas jogadas nas

fogueiras de Litha podiam variar con-

forme a região, mas as mais comuns

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24

eram, além das ervas já mencionadas,

o Gerânio, a Camomila, a Calêndula,

a Arruda, a Cinco-Folhas, folhas de

Carvalho e de Azinheira, entre outras

mais – geralmente, ervas e plantas do

Elemento Fogo e regidas pelo Sol. Um

costume muito antigo no Solstício de

Verão, é atravessar a fumaça exalada

pelas fogueiras, para todos, inclusive

animais de criação, serem agraciados

pelo seu poder de cura, de proteção,

de banimento de males e doenças e

de fertilidade. Muitos levam as cinzas

da queima das madeiras – tradicional-

mente, uma tora de Carvalho - e os

gravetos que restaram.

Nessa época, como um rito

muito antigo de fertilidade, muitas

mulheres dançavam nuas, montavam

em suas vassouras, corriam e pulavam

no meio das plantações para que elas

crescessem saudáveis e em abundân-

cia. Quanto mais elas pulassem, mais

alto as plantações cresceriam.

Mas como tudo que nasce,

cresce a atinge sua plenitude, também

declina e morre. Após o Solstício de

Verão - o auge da estação, da lumino-

sidade, do calor e do poder solares

– inicia-se o período de declínio e de

marés vazantes, ou seja, é o início do

Ano Decrescente.

O Deus de Chifres - dentro do

Ciclo de Vida, Morte e Renascimento

da Roda do Ano - encontra-se em seu

momento de maior plenitude e matu-

ridade – o auge do seu Poder. Após o

dia mais longo do ano, assim como o

Sol e as forças da Natureza, o Poder

do Deus Cornífero começa a declinar.

Daí em diante, os dias ficarão grada-

tivamente mais curtos, mais escuros

e mais frios. É o começo do fim do

Verão (uma estação marcada pela far-

tura, abundância e fertilidade) o pre-

Page 25: prova7

25

núncio de dias mais difíceis.

A troca entre os períodos de

fartura e luminosidade e, os períodos

de escassez e escuridão, o verão e o

inverno, sempre marcaram a vida do

ser humano. A natureza, entre seus

ciclos de florescimento e abundân-

cia da vida e, a inevitável morte que

segue, reflete a dualidade que gera o

movimento do universo. É a força do

Deus de Chifres como Senhor da Vida

e Senhor da Morte, é a luta entre os

Reis do Carvalho e do Azevinho, é o

espírito da natureza, o Greenman e o

Horned Hunter, que dão a vida a par-

tir da morte e cuja vida irá

inevitavelmente voltar a morrer. Ao

longo da história, diversas culturas,

religiões e artes mágicas reconhece-

ram essa dualidade, traduzindo-a em

mitos, costumes e rituais.

Observando uma roda em mo-

vimento vemos que, enquanto um

lado sobe, seu oposto irá, inevitavel-

mente, descer. A força do movimento

de declínio dando o impulso para a

ascensão no lado oposto. Um homem

que trabalha o dia inteiro irá ficar can-

sado e, à noite, irá dormir para recu-

perar suas forças, acordando renova-

do para um novo dia. O reinado de

um homem irá ver seu envelhecimen-

to. Um rei, que é a fonte da força de

seu povo, enfraquecido é como se a

própria terra perdesse sua vitalidade.

Sua restauração só é possível através

de sua morte e sucessão por um novo

rei, jovem e cheio de vitalidade - seu

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26

filho que, em essência, representa o

próprio rei. O mesmo rei que mor-

re e renasce a cada geração. Uma se-

mente só irá germinar de dentro da

terra escura, do subsolo, a partir do

apodrecimento de sua casca, alimen-

tando-se da decomposição de vidas

passadas, o humo que é a fonte de sua

vitalidade. A morte alimenta a vida, a

vida que caminha sempre em direção

à morte...

O tema onde dois aspectos de

uma força masculina (Verão / Inverno,

Luz / Sombra, Noite / Dia, Pai / Filho,

Vida / Morte, etc.) lutam pela supre-

macia ao final de um ciclo é recorren-

te e representa a renovação cíclica do

universo. O princípio é quase sempre

visto como masculino, pois sua natu-

reza é uma de força e de movimento.

É aquele que fertiliza e aquele que cei-

fa, o que remete à força masculina da

ação e transformação. É o poder do

falo, a força bruta. Já o princípio femi-

nino é um de constância, mais etéreo.

Ela é a própria natureza, sua alma, é

o útero e o céu noturno, a lua que é

sempre a mesma, embora mostrando

diversas faces.

O princípio de que a vida e a

morte são interdependentes e, que

um leva ao outro, é a base para esses

mitos. Um ciclo só pode ser renovado

com o fim do anterior. Assim como,

um período de expansão é sempre

seguido de um período de retração e,

vice versa. Um só existe a partir do

Page 27: prova7

27

outro. Da troca entre as grandes eras

astrológicas ou eons, à alternância en-

tre o verão e inverno, ou do estado

de alerta ao do sono, de estar vivo ou

morto, o princípio é sempre o mes-

mo.

Essa observação encontra re-

flexos em costumes, mitos e ritos

tanto de sucessão entre pai e filho

(o novo que substitui o velho e que,

por sua vez, será substituído por seu

próprio filho), ou de uma geração pela

outra, quanto no revezamento entre

forças antagônicas (personagens que

representam as forças de luz e expan-

são, versus personagens das sombras

e retração). Também podemos ver o

mesmo princípio na relação entre o

homem e a natureza, o caçador e a

caça, o plantio e a ceifa.

O ano solar pode ser dividido

em duas partes de fundamental im-

portância para todos os seres vivos.

O verão, período de expansão e de

crescimento de luz solar, que atua do

Solstício de Inverno até o Solstício de

Verão. E, o inverno, período de ama-

durecimento das

colheitas e, de retração rumo à escas-

sez e escuridão. Este começa a partir

do ápice em abundância da luz solar,

o Solstício de Verão, indo até o ponto

mais escuro do inverno, o Solstício de

Inverno, a partir do qual, a luz irá len-

tamente começar a retornar.

Em diversos mitos ao longo da

história, encontramos figuras arquetí-

picas que representam estes dois pe-

ríodos. Duas figuras que lutam de seis

em seis meses pela supremacia.

Page 28: prova7

28

A troca entre os períodos de

fartura e de escassez, de luminosida-

de e escuridão, o verão e o inverno,

sempre marcaram a vida do ser hu-

mano. A natureza, entre seus ciclos de

florescimento e abundância da vida e,

a inevitável morte que segue, reflete a

dualidade que gera o movimento do

universo. É a força do Deus de Chi-

fres como Senhor da Vida e Senhor

da Morte, é a luta entre os Reis do

Carvalho e do Azevinho, é o espírito

da natureza, o Greenman e o Hor-

ned Hunter, que dão a vida a partir da

morte e cuja vida irá inevitavelmente

voltar a morrer. Ao longo da história,

diversas culturas, religiões e artes má-

gicas reconheceram essa dualidade,

traduzindo-a em mitos, costumes e

rituais.

- A essência do mito:

Observando uma roda em mo-

vimento vemos que, enquanto um

lado sobe, seu oposto irá, inevitavel-

mente, descer. A força do movimento

de declínio dando o impulso para a

ascensão no lado oposto. Um homem

que trabalha o dia inteiro irá ficar can-

sado e, à noite, irá dormir para recu-

perar suas forças, acordando renova-

do para um novo dia. O reinado de

um homem irá ver seu envelhecimen-

to. Um rei, que é a fonte da força de

seu povo, enfraquecido é como se a

Por Giulia JB

O MITO DOS REIS

Page 29: prova7

29

própria terra perdesse sua vitalidade.

Sua restauração só é possível através

de sua morte e sucessão por um novo

rei, jovem e cheio de vitalidade - seu

filho que, em essência, representa o

próprio rei. O mesmo rei que mor-

re e renasce a cada geração. Uma se-

mente só irá germinar de dentro da

terra escura, do subsolo, a partir do

apodrecimento de sua casca, alimen-

tando-se da decomposição de vidas

passadas, o humo que é a fonte de sua

vitalidade. A morte alimenta a vida, a

vida que caminha sempre em direção

à morte...

Um ciclo só pode ser renovado

com o fim do anterior. Assim como,

um período de expansão é sempre

seguido de um período de retração e,

vice versa. Um só existe a partir do

outro. Da troca entre as grandes eras

astrológicas ou Eons, à alternância en-

tre o verão e inverno, ou do estado

de alerta ao do sono, de estar vivo ou

morto, o princípio é sempre o mes-

mo.

O tema onde dois personagens

representando forças antagônicas

(Verão/Inverno, Luz/Sombra, Noite/

Dia, Pai/Filho, Vida/Morte, etc.) lutam

pela supremacia ao final de um ciclo

é recorrente e representa a renova-

ção cíclica do universo. O princípio é

quase sempre visto como masculino,

pois sua natureza é uma de força e

de movimento. É aquele que fertiliza e

aquele que ceifa, o que remete à for-

ça masculina da ação e transformação.

É o poder do falo, a força bruta. Já o

princípio feminino é um de constância,

mais etéreo. Ela é a própria natureza,

sua alma, é o útero e o céu noturno,

a lua que é sempre a mesma, embora

mostrando diversas faces. Mesmo em

mitos onde uma mulher representa

uma dessas forças, vemos uma influ-

Page 30: prova7

30Portia St Luke

caça, o plantio e a ceifa.

- Reis do Carvalho e Reis do

Azevinho:

O ano solar pode ser dividido

em duas partes de fundamental im-

portância para todos os seres vivos.

O verão, período de expansão e de

crescimento de luz solar, que atua do

Solstício de Inverno até o Solstício de

Verão. E, o inverno, período de amadu-

recimento das colheitas e de retração

rumo à escassez e escuridão. Este co-

meça a partir do ápice em abundância

da luz solar, o Solstício de Verão, indo

até o ponto mais escuro do inverno, o

Solstício de Inverno, a partir do qual,

a luz irá lentamente começar a retor-

nar. Também encontramos exemplos

onde o ponto de mudança se encon-

tra em outras datas. Um exemplo se-

ria no Dia de Maio, também conhecido

como Beltane (conforme o calendário

no Hemisfério Norte).

ência masculina como a força por trás

da ação (como no mito do rapto de

Persephone, onde seu retorno para o

lado de Demeter representa o lado

luminoso, aqui, Zeus é aquele que in-

tervém na ação).

Essa observação encontra re-

flexos em costumes, mitos e ritos

tanto de sucessão entre pai e filho

(o novo que substitui o velho e que,

por sua vez, será substituído por seu

próprio filho), ou de uma geração pela

outra, quanto no revezamento entre

forças antagônicas (personagens que

representam as forças de luz e expan-

são, versus personagens das sombras

e retração). Também podemos ver o

mesmo princípio na relação entre o

homem e a natureza, o caçador e a

Page 31: prova7

31

existe uma batalha pela mão de uma

mesma mulher. O conflito é solucio-

nado por uma força maior que desig-

na para cada, um período de tempo

em que a noiva ficaria ao seu lado

ou, que atua como um intermediário

em batalhas periódicas. O casamento

com a mulher (a terra) simbolizando

o reinado de cada um. Um tema pre-

sente na história galesa de Gwyn ap

Nudd, Gwythyr ap Greidawl e, Crei-

ddylad (uma dama na corte do Rei Ar-

thur conhecida como a mais bela das

Ilhas Britânicas).

Em diversos mitos ao longo da

história, encontramos figuras arquetí-

picas que representam estes dois pe-

ríodos. Duas figuras que lutam de seis

em seis meses pela supremacia. Estes

aspectos representam, em essência, a

mesma figura, um princípio masculino

divino que nasce, fecunda a terra (ou

uma figura feminina representativa do

divino feminino) e morre ou é morto,

para então renascer, ou retomar seu

reinado, seis meses depois. Na meta-

de em que a luminosidade é crescen-

te, momentos de fertilidade e de plan-

tio, de vida, reinam os arquétipos do

Rei do Carvalho. Na metade escura

do ano, o inverno, momentos de es-

cassez e incertezas, de morte, reinam

os arquétipos do Rei do Azevinho.

A figura feminina também está

presente e representa a própria natu-

reza. Aparece como mãe, noiva, aman-

te, esposa, ou até irmã. Muitas vezes,

Page 32: prova7

32

Creiddylad era amada pelos

dois. Gwythr aparece em alguns con-

tos como seu noivo, onde Gwyn se-

ria seu irmão, que a rapta de Gwythr.

Em outras versões, Gwythr a rapta

da casa de seu pai Lludd Silver Hand

(Lludd Mão de Prata) e em resposta,

Gwyn a rapta de Gwythr. Em ambos

os casos, após violentas batalhas, Ar-

thur intervêm e, a cada Dia de Maio

(1 de Maio) eles lutariam pela mão de

Creiddylad, que fica com seu pai até

a última batalha no Dia de Julgamen-

to, quando seu destino seria decidido

de acordo com o vencedor. Gwyn ap

Nudd está fortemente associado ao

submundo e aparece como o líder da

Caçada Selvagem e, senhor do mundo

dos mortos, conhecido como Annwn.

Arthur, aparecendo em mitos

galeses anteriores às lendas contadas

pelo clérigo Geoffrey de Monmouth,

como uma figura mítica, líder de um

grupo de guerreiros com poderes so-

bre humanos e, que defendia seu rei-

no de ameaças sobrenaturais como

bestas mágicas. Nesse caso, ele pode

ser visto como uma autoridade supe-

rior, o Rei, ou até como uma divinda-

de superior similar à posição de Zeus,

na mitologia grega.

Este mito já foi associado ao

mito grego do rapto de Persephone

(deusa da primavera). O conflito en-

tre os guerreiros, paralelo ao conflito

entre Hades (deus do submundo) e

a mãe de Persefone, Demeter (deu-

sa dos cereais e da fertilidade da ter-

ra). Também um mito que fala de um

conflito que determina as mudanças

entre o verão e o inverno. Demeter

e Gwythr (personagens que repre-

sentam a luz), versus, Hades e Gwyn

(ligados à morte e ao submundo, a es-

curidão).

Page 33: prova7

33

Outro mito galês que mostra

a batalha entre os arquétipos do Rei

do Carvalho e do Rei do Azevinho é

aquele que conta a história de Lleu

Llaw Gyffes e sua esposa Blodeuwedd.

Lleu Llaw Gyffes, filho de Arian-

rhod que nele colocou três determi-

nações/feitiços (tynghedau), privando-

-o de um nome, de armas e de uma

esposa. Junto com a ajuda de seu tio

Gwydion, Lleu consegue enganar sua

mãe a dar-lhe um nome e armas. E,

com flores da giesta, da filipêndula e

do carvalho, Gwydion, com a ajuda do

rei Math fab Mathonwy, fez Blodeu-

wedd, a esposa de Lleu. Assim o herói

passa pelos três desafios (ou inicia-

ções) e torna-se um homem.

Porém, em dia em que Lleu es-

tava fora, Blodeuwedd vê um cervo

cansado sendo perseguido por um

caçador e seus cães, este era Gronw

Pebr, senhor de Penllyn (o cervo, re-

presentando o próprio Lleu e, os cães

de Grown e o fato deste caçar o cer-

vo, o indicam como tendo ligações ao

submundo, o Líder da Caçada Selva-

gem). Eles se apaixonam e conspiram

para matar Lleu. Porém, como Blo-

deuwedd descobre, Lleu só pode ser

morto por uma flecha forjada durante

um ano durante as horas do sacrifício

aos domingos (a missa), com um pé em

um caldeirão e o outro em um bode,

ao cair da noite. E, assim os amantes

o fazem. Quando a flecha atinge Lleu,

Alan Lee 1984

Page 34: prova7

34

ele se transforma em uma águia e voa

para o alto de um carvalho.

Ao ouvir a história, Gwydion

sai a procura de seu sobrinho. No

caminho, hospedado na casa de um

vassalo, ouve um caso em que uma

porca foge todo dia de manha e que

ninguém sabe para onde. No dia se-

guinte, Gwydion segue a porca, que

para ao lado de um carvalho, comen-

do vermes e insetos que caem de uma

águia empoleirada no pico da árvore.

Gwydion percebe que a águia é, na

verdade, seu sobrinho e transforma-

-o de volta à sua forma original. Lleu

volta muito fraco e depois de um ano

se recuperando, desfia Gronw em um

duelo onde ele vence. Blodeuwedd,

fugindo, é transformada em uma águia

por Gwydion (o que sugere a face da

sabedoria do divino feminino, repre-

sentado por Blodeuwedd).

(Obs: A presença da porca e dos ver-

mes pode sugerindo conceitos simila-

res aos dos Thesmophoria, rituais em

homenagem a Demeter para promo-

ver a fertilidade dos campos, lembran-

do o tempo em que Demeter lamenta

o rapto de sua filha, fazendo com os

campos fiquem estéreis (inverno). A

participação era exclusiva de mulhe-

res casadas. Durante os rituais, porcos

eram colocados em buracos na terra

junto a cobras. Os restos dos porcos

do ano anterior eram misturados aos

grãos para serem plantados. Os sim-

bolismos sugerem, novamente, a vida

e fertilidade que nasce da podridão e

Alan Lee 1984

Page 35: prova7

35

da morte.)

No conto, encontramos temas

da transformação e iniciação de Lleud

Llaw Gryffes. Primeiro através dos de-

safios impostos por sua mãe e, depois

pela experiência da morte e ressurei-

ção por magia. E também, o tema da

rivalidade entre as forças da vida e da

morte. A transformação de Lleu em

uma águia e a árvore de carvalho são

simbolismos claros de sua associação

como uma face do divino masculino

expansivo, o Rei do Carvalho.

- O Carvalho, o Visco e o Sacrifício:

O Carvalho, uma árvore de

grande porte, com raízes e troco for-

tes, tem sido uma árvore simbólica da

perenidade, força e vitalidade, sagra-

da a aos deuses que traziam a ferti-

lidade com a chuva e o trovão. É um

dos símbolos religiosos mais antigos

e está presente em mitos por toda a

Europa. Entre os gregos, era um sím-

bolo de Zeus, pai de deuses e homens,

que com seus raios e chuva fertiliza a

terra. Seus muitos contos de *escapa-

das* amorosas não são à toa e, muito

mais do que falarem de um deus que

gostava de romance, seu papel nestes

contos é condizente com seu aspecto

de fertilidade. O próprio raio poden-

do ser visto como o deus que descia

para fertilizar a terra, o feminino. Ve-

mos estes mesmos aspectos ligados a

divindades em outras culturas, onde

o carvalho aparece como sinalizador

desse poder. Na mitologia nórdica,

Thor era o deus dos trovões e da fer-

tilidade. Seu pai, Odin, deus da sabe-

doria, magia e da morte.

Um dos feitos de Odin foi ter

sido pendurado na árvore do mundo,

Yggdrasil, por nove dias e nove noites,

ferido por sua própria lança. Um ato

de auto sacrifício para que pudesse

Page 36: prova7

36

uma pequena foice. o que sugere um

formato ligado à Lua e o papel femini-

no como constante nos mitos. Como

se trouxesse o nascimento do Rei que

trás a ceifa e morte, tanto quanto o

nascimento do Rei que trás a fertilida-

de. Como foi argumentado no livro de

Robert Graves, The White Goddess,

este ato simboliza a castração do an-

tigo rei, no caso, o Rei do Carvalho.

O visco era usado como um potente

agente para a cura e fertilidade e, era

um símbolo fálico por natureza, assim

como o carvalho em si. Sua morte ou

castração era uma forma de garantir

a renovação da terra e seu futuro re-

nascimento.

Os exemplos de culturas em

que o regicídio era comum ou até

sistemático são abundantes. Entre al-

guns dos mencionados no livro The

Golden Bough, de James Frazer, estão

os Khazars no sul da Rússia, em que

obter sabedoria dos nove mundos. O

que, curiosamente, lembra em muito

a experiência de morte do herói Lleu

Llaw Gyffes, quando este pousa em

um enorme carvalho como uma águia,

vermes e insetos caindo dos galhos.

Em ambos, a experiência de morte é

um portal para a sabedoria (que no

conto de Lleu seria sinalizado pela

transformação de Blodeuwedd em

uma coruja). O que nos mostra, no-

vamente, o processo de morte como

uma fase para o crescimento. No caso

de Odin, vemos ainda seu papel como

o pai de muitas divindades, incluindo,

notadamente, Thor. Uma dinâmica que

se repete no caso de Zeus, cujo pai,

Cronus, está ligado à ceifa e a colheita.

Em um rito dos povos celtas,

realizado pelos druidas, o visco que

crescia em carvalhos era colhido no

Solstício de Verão com uma pequena

faca em forma de lua crescente, como

Page 37: prova7

37

Junto a isso, a morte do rei representa

o sacrifício divino, a colheita, sua mor-

te trás a fertilidade à terra, alimenta

a terra. Tanto que, em diversos ritos

de sacrifício do rei (ou de seus repre-

sentantes), o ato simbólico ou real de

consumir seu corpo é comum.

Porém, nem sempre o rei, pro-

priamente dito, era morto de fato. Na

antiga Babilônia, durante o festival da

Sacaea um rei postiço reinava durante

cinco dias e, no final de seu termo, era

flagelado e morto. Porém, o fato des-

te ter direito a deitar-se com as con-

cubinas do rei verdadeiro, sugere que

o costume era levado muito a serio,

sendo o rei temporário visto como

um rei, de fato. Em outros casos, o

rei colocava-se sob risco mortal, per-

mitindo que fosse atacado, em alguns

desses casos, quem o matasse seria

seu sucessor. Em outros casos ainda,

o sacrifício do rei foi substituído pelo

os reis eram mortos ao final de um

período, ou caso alguma calamidade

demonstrasse o enfraquecimento de

seu poder. Entre os escandinavos o

período de reino de cada rei teria sido

de nove anos, antes sua morte, diver-

sos exemplos no continente Africano,

entre muitos outros. Por trás desses

costumes estava a crença de que o Rei

seria como a encarnação do poder

divino, o pai e consorte da terra. Se

fosse permitido seu enfraquecimento,

assim também a terra perderia sua vi-

talidade. Sendo morto antes que isso

acontecesse (como o visco que era

colhido em seu auge), este se tornaria

imortal, sua força sempre renovada.

Page 38: prova7

38

sacrifício humano, animal ou vege-

tal. No caso dos animais, os de pelo

branco ganham destaque, em especial

o touro branco. Em Creta, o mito do

minotauro, a quem jovens atenienses

seriam sacrificados, é provavelmente

a descrição de ritos sacrificiais para a

renovação da força do rei Minos.

- Conclusão:

O Solstício de Verão é o dia de

maior incidência de luz solar do ano.

É o auge que parte o momento de

plantio do momento de amadureci-

mento, colheita e morte, a partir do

qual um novo ciclo poderá renascer.

Na natureza, muitos animais e plan-

tas nascem e morrem logo após se

reproduzirem. A continuidade da vida

garantida, voltam para a terra através

da transformação de seus corpos pela

decomposição, que por sua vez, será

o berço da nova vida. É uma imagem

que pode parecer dura, ou estranha à

sensibilidade moderna, tão distante de

sua própria natureza, mas que foi (e é)

reconhecida por aqueles que obser-

vam sem restrições ao mundo em que

vivem. O sacrifício do rei divino, visto

como parte do ciclo, algo necessário

para que roda da existência pudesse

continuar girando. Os ritos não eram

simbólicos, mas vistos como atos par-

ticipativos na continuidade dos ciclos

da vida, morte e renascimento do uni-

verso. Os mitos, ecos que nos falam

da sabedoria de seus criadores.

Page 39: prova7

39

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40

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Gardneriana e mostrar que os ensinamentos

de Gerald Gardner ainda estão vivos e

florescendo no seio dos covens tradicionais.

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41

Esta revista é aberta a comunidade em geral,

caso desejem publicar algum artigo ou mensagem. Basta

nos mandar o texto para [email protected] ,com o

assunto “artigo”.

Participe da seção Carta do Leitor e envie suas

opiniões, dúvidas e sugestões. É só enviar para o endereço

[email protected] com o assunto “carta do leitor”.

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*Imagens cuja fonte não foram atribuídas, favor entrar em contato com a revista para que possamos dar os devidos créditos.

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