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1 PROTESTOS NO BRASIL EM 2013: UMA BREVE ANÁLISE ACERCA DAS REFERIDAS MANIFESTAÇÕES À LUZ DO SISTEMA NORMATIVO FRANCISCO RONES ARAÚJO FARIAS FILHO 1 POLIANA OLIVEIRA BORGES 2 CAROLINA PARENTE NOGUEIRA 3 FRANCISCO VICTOR VASCONCELOS 4 Resumo: O presente artigo tem por finalidade trazer à baila uma análise sobre os pressupostos fundamentais, no cenário da própria Constituição Federal e dos diplomas internacionais dos quais o Brasil é signatário, que garantem, explicitamente, o direito à liberdade de expressão, ou seja, a possibilidade que cada cidadão dispõe de expor livremente a manifestação de seu pensamento. Discorrendo a respeito do fato que na mesma medida em que tal prerrogativa é de fundamental importância e assegurada pela Constituição e pelos demais diplomas vigentes no país, há limites impostos ao exercício dessa liberdade, também protegidos pelo nosso ordenamento jurídico. Debatendo a importância no cenário político brasileiro das manifestações populares que marcaram o ano de 2013. Palavras-chave: Constituição. Liberdade de expressão. Manifestações. INTRODUÇÃO Em 2013, uma série de manifestações populares ocorreu nas ruas de centenas de cidades brasileiras, deixando perplexas as autoridades diante do renascimento dos movimentos populares de uma sociedade que há tempos mostrava-se inerte frente ao descrédito e à corrupção dos políticos brasileiros. Segundo um levantamento realizado pela ONG Artigo 19 (2014, p. 111) em um relatório intitulado de Protestos no Brasil 2013, de janeiro a dezembro de 2013, houve no Brasil 696 1 Aluno regularmente matriculado no 10° semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: [email protected] 2 Aluna regularmente matriculada no 10° semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: [email protected] 3 Aluna regularmente matriculada no 10° semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: nina- [email protected] 4 Orientador, Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no Curso de Mestrado Interinstitucional com a Faculdade Luciano Feijão; Graduado em Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú em 2008; Professor Titular de Processo Civil IV e Sucessões na Faculdade Luciano Feijão. E-mail: [email protected]

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PROTESTOS NO BRASIL EM 2013: UMA BREVE ANÁLISE ACERCA

DAS REFERIDAS MANIFESTAÇÕES À LUZ DO SISTEMA

NORMATIVO

FRANCISCO RONES ARAÚJO FARIAS FILHO 1

POLIANA OLIVEIRA BORGES 2 CAROLINA PARENTE NOGUEIRA 3

FRANCISCO VICTOR VASCONCELOS 4

Resumo: O presente artigo tem por finalidade trazer à baila uma análise sobre os pressupostos fundamentais, no cenário da própria Constituição Federal e dos diplomas internacionais dos quais o Brasil é signatário, que garantem, explicitamente, o direito à liberdade de expressão, ou seja, a possibilidade que cada cidadão dispõe de expor livremente a manifestação de seu pensamento. Discorrendo a respeito do fato que na mesma medida em que tal prerrogativa é de fundamental importância e assegurada pela Constituição e pelos demais diplomas vigentes no país, há limites impostos ao exercício dessa liberdade, também protegidos pelo nosso ordenamento jurídico. Debatendo a importância no cenário político brasileiro das manifestações populares que marcaram o ano de 2013. Palavras-chave: Constituição. Liberdade de expressão. Manifestações.

INTRODUÇÃO

Em 2013, uma série de manifestações populares ocorreu nas ruas de centenas de cidades

brasileiras, deixando perplexas as autoridades diante do renascimento dos movimentos populares

de uma sociedade que há tempos mostrava-se inerte frente ao descrédito e à corrupção dos

políticos brasileiros.

Segundo um levantamento realizado pela ONG Artigo 19 (2014, p. 111) em um relatório

intitulado de Protestos no Brasil 2013, de janeiro a dezembro de 2013, houve no Brasil 696

1 Aluno regularmente matriculado no 10° semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: [email protected] 2 Aluna regularmente matriculada no 10° semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: [email protected] 3 Aluna regularmente matriculada no 10° semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: [email protected] 4 Orientador, Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no Curso de Mestrado Interinstitucional com a Faculdade Luciano Feijão; Graduado em Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú em 2008; Professor Titular de Processo Civil IV e Sucessões na Faculdade Luciano Feijão. E-mail: [email protected]

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manifestações. Tal levantamento baseia-se em registros e reportagens veiculados no jornal “Folha

de S. Paulo”, no site do Movimento Passe Livre (MPL) e da Associação Brasileira de Jornalismo

Investigativo (ABRAJI) (ARTIGO 19, 2014, p. 28). Se considerarmos a extensão territorial do

país, bem como o fato de que nem todas as manifestações ocorridas nesse período alcançaram

uma cobertura pela grande imprensa, podemos estimar que o número real de manifestações

ocorridas no país em 2013 tenha sido superior a 700.

Com os protestos contra o aumento das tarifas do transporte coletivo urbano, a

população incorporou temas pouco discutidos na sociedade, mas que refletiam diretamente na

vida das pessoas, tais como: saúde, educação, segurança, política, corrupção etc. Do comodismo

do sofá ao ativismo social, a sociedade brasileira mais uma vez mostrou sua força ao exercer um

direito fundamental assegurada pela Constituição Federal de 88, a Liberdade de Expressão e, no

exercício da mesma, o Direito ao Protesto. Direito esse que deu margem para o acontecimento de

vários fatos que marcaram a história do país, como bem salienta o relatório anteriormente

mencionado da Artigo 19 (2014, p. 13):

Amplas mobilizações populares não são novidade no cenário político brasileiro. Na história recente do país, movimentos de massa tomam as ruas desde os anos finais do regime militar. Destacam-se, por exemplo, as dezenas de manifestações pelas eleições diretas (Diretas Já!), que levaram milhares de pessoas às ruas de várias capitais em 1984, estimando-se que em algumas delas (como no Rio de Janeiro e em São Paulo) participaram mais de um milhão de pessoas. Ou ainda as mobilizações contra o governo do presidente Fernando Collor em 1992, cuja expressão máxima foram os caras pintadas –: estudantes que pintavam os rostos de verde e amarelo nas manifestações – e que também levaram milhares de pessoas às ruas em várias manifestações pelo país, contribuindo para a renúncia do presidente, seguida por um impeachment decretado pelo Senado Federal.

Inicialmente, as Jornadas de Junho – nome pelo qual também ficaram conhecidos os

protestos de 2013 – fazia-se presumir um movimento totalmente pacífico, mas, infelizmente,

raros não foram os momentos em que as ruas se tornaram palco de atuações vandálicas de

criminosos, que com o fito de aproveitarem-se da situação de euforia, infiltraram-se entre os

manifestantes, vindo muitos a serem identificados posteriormente.

Em um dado momento, a mídia generalizou a situação afirmando que os manifestantes

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eram verdadeiros vândalos e que tais manifestações nem mesmo deveriam acontecer, visto que

apenas tumultuavam a vida da população. Pouco tempo depois e após uma grande repercussão na

internet contra vários veículos de comunicação – com o mínimo de bom senso – a imprensa

mudou de discurso, passando a enxergar que, naquele presente, o movimento foi necessário e

símbolo de mais uma legítima expressão do povo, que há muito se mostravam inerte e alheio às

decisões tomadas no alto escalão dos Poderes Executivo e Legislativo. E que apenas uma minoria

presente nas ruas deveria ser alvo de críticas, por aproveitar-se de modo inescrupuloso para

misturarem-se à grande massa, chegando, inclusive, a causar depredação ao patrimônio público e

privado, agindo, assim, de modo desvirtuado e torto em relação ao objetivo das manifestações.

Interessante se faz trazer à baila a assertiva de Alexandre de Moraes (2007, p. 141):

A liberdade de expressão constitui um dos fundamentos essenciais de uma sociedade democrática e compreende não somente as informações consideradas como inofensivas, indiferentes ou favoráveis, mas também as que possam causar transtornos, resistência, inquietar pessoas, pois a Democracia somente existe baseada na consagração do pluralismo de idéias e pensamentos, de tolerância de opiniões e do espírito aberto ao diálogo.

Segundo Jónatas Eduardo Mendes Machado (2002, p. 61):

A liberdade de expressão, devidamente reforçada por outras prioridades constitucionais, como a generalização da instrução pública e do direito de sufrágio, é vista como uma das peças principais de um governo republicano. Não admira, pois, que a liberdade de expressão tenha um lugar de destaque na feitura das primeiras constituições.

É lúcido ressaltar que, quem estava de modo “saudável” nas manifestações – vale dizer,

pacificamente –, em busca da real efetivação de seus direitos, não estava contra a lei, mas de

acordo com ela, possuindo, tais ações, respaldo constitucional. Afinal, as pessoas encontravam-se

em busca de melhorias para a própria sociedade, por meio de um instrumento assegurado às

mesmas e amparado pelo ordenamento jurídico nacional e internacional, posto ser o direito de

protestar um dos mais fortes e expressivos demonstrativos de uma estrutura democrática, em que

o povo, de modo direto, age.

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O DIREITO AO PROTESTO

A Constituição Federal de 88, ápice das normas de nosso ordenamento, carrega em seu

bojo os mais importantes princípios que visam proteger a dignidade da pessoa humana,

resguardando diversos direitos inerentes a ela. Não é de se surpreender que no referido diploma

legal se encontrem tão importantes direitos como o de expressão, que pode ser exercido por meio

de manifestações, protestos; além do direito fundamental de reunião.

A propósito, Edilsom Farias (2004, p. 63) descreve que:

Múltiplas são as razões arroladas para justificar o enorme prestígio conferido a liberdade de expressão e comunicação. Boa parte dos cultores do Direito (e de outras ciências humanas afins) considera a liberdade em questão como uma das estrelas mais reluzentes da constelação dos direitos fundamentais amparados na constituição do Estado democrático de Direito.

O autor retro assevera que boa parte dos cultores do direito rechaça qualquer concepção

monista sobre liberdade de expressão, devendo esta ser analisada numa concepção dual,

sintetizando seu raciocínio em duas perspectivas:

(...) (i) na perspectiva subjetiva, apresentam-se as teorias que consideram a liberdade de expressão valor indispensável para a proteção da dignidade da pessoa humana e livre desenvolvimento da personalidade; (ii) na perspectiva objetiva, reúnem-se as teorias que julgam a liberdade de expressão e comunicação valor essencial para a proteção do regime democrático, na medida em que propicia a participação dos cidadãos no debate público e na vida política. (FARIAS, 2004, p. 64).

O direito à liberdade de expressão, considerado fundamental e inalienável, essencial a uma

sociedade pautada na democracia, pode dar-se pelo direito de manifestação, possuindo

fundamento constitucional no art. 5º, incisos IV, VIII e IX, unido ao direito de ir e vir e ao direito

de reunião, estes últimos também previstos no art. 5º, incisos XV e XVI, além do disposto no art.

220 e seu § 2º.

Para Jean-Jacques Israel (2005, p. 579):

(...) a manifestação é um meio de expressar suas opiniões da mesma forma que a associação e a reunião. Ela é analisada, mais especificamente, como um meio de expressar uma reivindicação em relação aos poderes públicos ou como um protesto.

A manifestação pode ser definida como um grupo de pessoas que utiliza a via pública para expressar uma vontade coletiva (...).

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O mesmo autor define as manifestações como sendo liberdades coletivas inerentes ao

homem em sociedade, vejamos:

As liberdades coletivas do homem em sociedade são as que podem ser exercidas apenas quando várias pessoas (critério objetivo) estão de acordo com seu exercício (critério subjetivo do consentimento mútuo ou partilhado).

Trata-se essencialmente de três liberdades clássicas que são:

a liberdade de associação;

a liberdade de reunião; e

a liberdade de manifestação.

Essas três liberdades, ou seja, modos de intervenção do indivíduo em sociedade, apresentam o ponto comum de constituir modalidades de expressão da opinião. (ISRAEL, 2005, p. 39).

Vale dizer que há limites a todos os direitos, pois não há direito absoluto. Nesse sentido,

André Ramos Tavares (2010, p. 528) preceitua:

Não existe nenhum direito humano consagrado pelas Constituições que se possa considerar absoluto, no sentido de sempre valer como máxima a ser aplicada nos casos concretos, independentemente da consideração de outras circunstâncias ou valores constitucionais. Nesse sentido, é correto afirmar que os direitos fundamentais não são absolutos. Existe uma ampla gama de hipóteses que acabam por restringir o alcance absoluto dos direitos fundamentais.

Assim, tem-se de considerar que os direitos humanos consagrados e assegurados: 1º) não podem servir de escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas; 2º) não servem para respaldar irresponsabilidade civil; 3º) não podem anular os demais direitos igualmente consagrados pela Constituição; 4º) não podem anular igual direito das demais pessoas, devendo ser aplicados harmonicamente no âmbito material.

Aplica-se, aqui, a máxima da cedência recíproca ou da relatividade, também chamada ‘princípio da convivência das liberdades’, quando aplicada a máxima ao campo dos direitos fundamentais.

Direito fundamental algum pode ser usado como proteção para a prática de atos ilícitos.

Os direitos fundamentais só resguardam seu titular se este atuar na seara dos atos lícitos, visto

que seria contraditório classificar como um direito e um ilícito uma mesma conduta. Dessa

maneira, ao manifestar-se, faz-se necessário a comunicação às autoridades competentes para que

seu direito não possa ser tolhido ou repreendido por ninguém, bem como que o seu direito não

afete o direito de manifestar-se de outros cidadãos ou não enseje em alguma prática delituosa, por

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exemplo, sob pena de se responder penalmente pelo excesso no exercício do direito à liberdade

de expressão.

PANORAMA LEGISLATIVO NACIONAL E INTERNACIONAL A liberdade de expressão como um direito fundamental e universal é reconhecido por

organismos da comunidade internacional – dos quais se torna imprescindível citar a Organização

das Nações Unidas (ONU) – e pela própria Constituição da República Federativa do Brasil,

somada aos tratados, convenções e declarações das quais o Brasil é signatário.

Constituição Federal de 88, artigo 5º, IV, VIII, IX, XVI e artigo 220, § 2º:

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[…]

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

[…]

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

[…]

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

[…]

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

[…]

Art. 220 A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

[…]

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§ 2º – É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Declaração Universal dos Direitos Humanos5, Artigo 19°, Artigo 20°, 1:

Artigo 19° – Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20° – 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.

Declaração de Princípios Sobre Liberdade de Expressão6 Item 1, Item 2 e Item 6:

1. A liberdade de expressão, em todas as suas formas e manifestações, é um direito fundamental e inalienável, inerente a todas as pessoas. É, ademais, um requisito indispensável para a própria existência de uma sociedade democrática.

2. Toda pessoa tem o direito de buscar, receber e divulgar informação e opiniões livremente, nos termos estipulados no Artigo 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Todas as pessoas devem contar com igualdade de oportunidades para receber, buscar e divulgar informação por qualquer meio de comunicação, sem discriminação por nenhum motivo, inclusive os de raça, cor, religião, sexo, idioma, opiniões políticas ou de qualquer outra índole, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

[…]

6. Toda pessoa tem o direito de externar suas opiniões por qualquer meio e forma.

Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos7, Artigo 19.º:

1. Ninguém pode ser discriminado por causa das suas opiniões.

2. Toda a pessoa tem direito à liberdade de expressão; este direito compreende a liberdade de procurar, receber e divulgar informações e ideias de toda a índole sem consideração de fronteiras, seja oralmente, por escrito, de forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo que escolher.

3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 deste artigo implica deveres e responsabilidades especiais. Por conseguinte, pode estar sujeito a certas restrições, expressamente previstas na lei, e que sejam necessárias para:

a) Assegurar o respeito pelos direitos e a reputação de outrem;

5 Adotada e proclamada pela Resolução nº 217-A, da (III) Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10/12/1948 e ratificada pelo Brasil na mesma data. 6 “o documento, sem embargo da inexistência de ratificação oficial pelo governo brasileiro, é, sem dúvida alguma, um instrumento de orientação principiológica, apresentando valor jurídico [...]” (DELGADO, 2014, p. 06). 7 Aprovado pela Resolução nº 2.200-A, na (XXI) Assembleia Geral das Nações Unidas, em 16.12.1966, ratificado pelo Brasil em 24/01/1992.

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b) A proteção da segurança nacional, a ordem pública ou a saúde ou a moral pública.

Depreende-se facilmente da leitura dos diplomas retromencionados que a liberdade de

expressão é uma das pedras angulares de qualquer sociedade democrática e, por isso mesmo,

constitui cláusula pétrea na Carta Magna brasileira.

Sob uma análise jurídica, o ser humano é livre para pensar, inexistindo alguma lei – e

sendo inviável a existência da mesma – que regulamente o pensamento ou obrigue o indivíduo a

pensar desta ou daquela maneira, “Proibir a livre manifestação do pensamento é pretender

alcançar a proibição ao pensamento e, consequentemente, obter a unanimidade autoritária,

arbitrária e irreal” (MORAES, 2006, p. 207). Sendo, pois, impossível proibir que o ser humano

pense livremente, forme suas crenças, adote posturas e defenda suas convicções.

De acordo com Manoel Gonçalves Ferreira Filho (1984, p. 297):

[…] é preciso distinguir duas faces da liberdade de pensamento: a de consciência e a liberdade de expressão ou manifestação do pensamento. A primeira é de foro íntimo e enquanto não manifesta, é condicionável por vários meios. Ainda assim continua sendo livre, já que ninguém poderá ser obrigado a pensar deste ou daquele modo.

Para Marcelo Alkmin (2009, p. 362-363):

O pensamento, em si, é absolutamente livre, constituindo um direito da pessoa, de foro íntimo, inviolável e indevassável. O interesse jurídico no pensamento, nesse sentido, não reside no seu exercício e na sua expressão íntima e pessoal, mas sim na sua manifestação. Assim, somente a manifestação do pensamento tem relevância para o Direito e passa a merecer a tutela constitucional.

Num contexto geral, a liberdade de expressão “não é mais um direito, mas, em todo caso,

um dos primeiros e mais importantes fundamentos de toda a estrutura democrática”

(GARGARELLA apud WIVIURKA, 2012. p. 318), sendo essa uma das razões que fazem

merecer a prevalência do direito de se manifestar sobre os demais direitos.

AS MANIFESTAÇÕES DE 2013

A onda de protestos partiu do descontentamento da população com o anúncio do

aumento nas tarifas do transporte público de algumas capitais do país, como em São Paulo, Rio

de Janeiro e Porto Alegre.

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Não precisou de muito tempo para que em redes sociais como o Facebook e,

principalmente, o Twitter, se disseminassem essas informações. Por meio dessas redes, brasileiros

de todas as partes do país – e até os que se encontravam fora – engajaram-se nos protestos contra

o aumento no preço das passagens. No entanto, o horizonte dos objetivos dessas manifestações

fora bem mais extenso do que o reajuste de R$ 0,20, novas causas e antigos problemas foram

inseridos nas reivindicações, a exemplo: a luta pela reforma política e o fim da corrupção em

todas as esferas do poder público – aí inseridos o Legislativo, Executivo e o Judiciário; a melhoria

na qualidade da educação das escolas públicas de ensino e no Sistema Único de Saúde (SUS); a

indignação com o alto custo dos estádios construídos para a realização da Copa do Mundo FIFA

de 2014™; o arquivamento da PEC 37 e do Projeto de Decreto Legislativo 234/11, que ficou

popularmente conhecido como “Cura Gay”; entre outros temas.

Além de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, em pouco tempo as manifestações se

espalharam por todo o território nacional, e as demais capitais como Brasília, Fortaleza, Natal,

Salvador, Manaus, Belo Horizonte e Recife tiveram rapidamente suas ruas lotadas por milhares de

pessoas clamando por seus direitos.

AUMENTO NAS TARIFAS DO TRANSPORTE PÚBLICO

Em São Paulo, as primeiras manifestações foram organizadas por representantes do MPL,

depois do reajuste de R$ 0,20 nos preços das passagens dos ônibus municipais, que subiram de

R$ 3,00 para R$ 3,20. Desde janeiro de 2011, o preço das tarifas dos ônibus municipais da aludida

cidade era de R$ 3,00.

O referido movimento foi alastrando-se, ganhando a adesão da coletividade e tornou-se,

inicialmente, – mesmo que por um curto tempo, visto que logo foram incorporados vários outros

temas na pauta de insatisfações – a centralidade de toda a mobilização popular.

No dia 06 de junho de 2013 foi convocado pelo MPL o Grande Ato contra o aumento das

passagens, contando, segundo os organizadores, com cerca de 6.000 manifestantes, segundo a

Artigo 19 (2014, p. 20). Outros “Grandes Atos” foram realizados nas semanas subsequentes, e na

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semana de 17 de junho de 2013 o aumento da tarifa do transporte coletivo foi revogado em São

Paulo (ARTIGO 19, 2014, p. 23), bem como em várias cidades do país – sendo essa, a primeira

de tantas outras importantes vitórias conquistadas pela sociedade brasileira em tais manifestações

populares.

Após a revogação do aumento nas tarifas do transporte urbano, o MPL parou de

convocar manifestantes para protestarem e os demais protestos seguintes passaram a expressar as

mais diversas insatisfações sociais da população, tais quais a péssima qualidade dos serviços

públicos oferecidos no país.

PROJETO “CURA GAY”

“Cura Gay”, assim ficou conhecido o projeto do deputado federal João Campos (PSDB –

GO) que teve uma grande repercussão nacional. Dentre vários motivos ensejadores de tamanha

repercussão, podemos citar o envolvimento do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente

da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), polêmico por no passado ter feitos

afirmações racistas e homofóbicas.

O Projeto de Decreto Legislativo 234/11 do aludido Deputado visava sustar a aplicação

do parágrafo único do art. 3º e o art. 4º da Resolução nº 1/99 do Conselho Federal de Psicologia

(CFP), que proibiu os profissionais de realizarem terapias para a alteração da opção sexual,

estabelecendo limites de atuação para os psicólogos em relação à homossexualidade (RAMOS,

2013). A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1990 regulamentou que a homossexualidade

não é uma doença, entretanto, com a referida revogação seria atribuído caráter patológico – de

doença – à homossexualidade e autorizaria assim, os profissionais da área à fazerem terapia com

o intuito de procederem a alteração da orientação sexual de um indivíduo.

O conselheiro Censo Tondim, em nome do Conselho Federal de Psicologia (CFP)

declarou: “Não há nada que impede o psicólogo de atender homossexuais ou falar em público

sobre homossexualidade. O que não se pode é oferecer cura para aquilo que não é doença”

(HUPSEL FILHO, 2013).

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PEC 37

A PEC 37 foi uma Proposta de Emenda à Constituição apresentada em 2011 pelo

deputado Lourival Mendes (PT do B – MA) que almejava exclusivizar o poder de investigação

criminal para a Polícia, retirando essa função do Ministério Público (MP), argumentando, para

tanto, que as “investigações próprias do MP ferem os direitos dos investigados por não terem

regras claras e porque os investigados não têm acesso aos autos” (G1, 2013).

A população brasileira, sabendo da inércia da polícia nos casos de corrupção, dentre

outros fatores, foi às ruas exigir que os Deputados não aprovassem a PEC, e por 430 votos

contra 9, a Proposta de Emenda à Constituição foi derrubada. Henrique Alves (PMDB – RN), à

época Presidente da Câmara, justificou a derrubada da PEC com a seguinte frase: “o povo

brasileiro quer cada vez mais combate à corrupção” (ESTADÃO, 2013).

CONCLUSÃO

O real impacto na cultura política brasileira das manifestações populares que marcaram o

ano de 2013 encontra-se ainda em processo de debates e análises por estudiosos, no entanto, é

facilmente perceptível que tais manifestações conquistaram feitos louváveis, como a revogação do

aumento das tarifas de transporte público de várias capitais, bem como o arquivamento da PEC

37 e do Projeto de Decreto Legislativo 234/11, popularmente conhecido como “Cura Gay”.

Conforme é preceituado nos incisos do art. 5º da Constituição Federal de 1988 citados ao

longo deste trabalho, é livre e independe de autorização o exercício de manifestar-se, sendo

exigido apenas o prévio aviso às autoridades competentes quanto às reuniões públicas. Sendo

oportuno salientar que há limites ao exercício do referido direito, visto não haver em nosso

ordenamento jurídico direito absoluto.

À guisa de conclusão, pode-se verificar que manifestar-se nada mais é que o exercício de

um direito garantido pela Constituição Federal – alicerçado também nos tratados internacionais

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dos quais o Brasil é signatário –, é a própria personificação do direito à liberdade de expressão,

fundamento básico que repousa no manto de todas as estruturas democráticas. Fazendo-se

imprescindível reafirmar a legitimidade dessas manifestações que se sucederam no país ao longo

do ano de 2013.

2013 PROTESTS IN BRAZIL: A BRIEF ANALYSIS ABOUT

THE DEMONSTRATIONS IN THE LIGHT OF THE NORMATIVE

SYSTEM

Abstract: This study proposes a dialogue about the fundamental assumptions according to Federal Constitution and the international legislation which Brazil is a signatory which safeguard the freedom of speech, which means the right of each civilian to express your opinion. Discussing on the fact that this prerogative has critical importance and is guaranteed by the Federal Constitution and by the others international laws which Brazil is a signatory, there are limits imposed on the exercise of the freedom of expression that also have the Brazil’s law protection. Discussing on the importance of the Brazil popular protests and demonstrations in 2013 in the Brazilian policy scenery. Keywords: Constitution. Freedom of speech. Protests.

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Recebido em 04/08/2017. Aprovado em 31/10/2017.