Protestos em So Paulo e o que a Constituio Federal tem sobre isso

Autor: Luiz Guilherme Natalio de Mello

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Referente a notcia http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/06/ministro-da-justica-ve-excesso-da-policia-paulista-durante-protesto.htmlProtestos em So Paulo, a Constituio Federal, o poder, a democracia e o que temos a ver com tudo isso.http://p2.trrsf.com.br/image/fget/cf/600/600/images.terra.com/2013/06/14/spprotestoaumentopassagempasselivreterra1.jpg

Desde o incio da semana quando foi anunciado o aumento das passagens de nibus e de metr, tal fato desencadeou uma srie de comentrios no Facebook de pessoas que ora apoiavam a polcia e ora declaravam-se a favor dos manifestantes, sendo que cada plo passou a ter seus lados extremos.Os protestos em So Paulo que seguem os moldes da mais recente manifestao ocorrida na Turquia, apenas sublinham o estigma da populao brasileira quanto a reivindicao de melhorias em mais setores alm dos transportes. Fato que com o apoio das redes sociais vrias manifestao tem atingido amplitudes bastante altas, atraindo os holofotes necessrios e possibilitando a qualquer usurio a informao estrita sobre dado fato, embora esta informao possa estar pendendo para um lado ou outro.Diversas questes paralelas so levantadas e se colidem, tendo em vista que a partir de uma posio a polcia militar recebe ordens, todavia (e paralelamente) abusa do poder para defender interesses do Estado, estes que se pressupem que sejam vontades de todo o povo. Mas que vontades so essas? De quais lugares se originam? Do lado alheio temos a prpria parcela do povo, mostrando antigas feridas cicatrizadas surgidas anos atrs e pelos dias da atualidade traduzidas na carncia de determinados programas sociais, uma quantidade inexplicvel de dinheiro pblico sendo posta nas mos de empreiteiras privadas para a construo de obras cujos valores so controversos, casos de corrupo e outros. Direitos esto sendo revistos. inegvel que grandes manifestaes renam uma parcela de indivduos cujo bom senso quanto ao protesto que participam parece no existir, ficando evidenciados os atos exacerbados de falsos protestos em casos de depredao aos bens pblicos, vandalismo e reao contra a ordem pblica, ao passo que o Estado por intermdio da autoridade policial possui argumentos para intervir nestes protestos alegando a proteo de propriedades, vias e demais bens de interesse pblico. Acabou se criando um paradigma de que aquele orelho ou ponto de nibus no um bem do povo, mas sim um bem do governador, prefeito e de outros polticos que alm de tudo usam como escudo a polcia militar de So Paulo. Ora, estes polticos no foram eleitos espontaneamente e o que ocorre neste momento delicado na histria do Brasil uma reviso do nosso engajamento como cidado neste Estado Democrtico. A populao brasileira est indo para as ruas, declarando sua insatisfao com um regime de poder obsoleto quanto aos moldes atuais.Desta maneira, passados 25 anos desde a Constituio Federal de 1988 que anunciava um sonho da famigerada democracia (art. 1 CF), ainda custamos em entender o significado dela ao qual tampouco compreendemos a aplicao deste termo, contudo no necessrio hesitar que determinados princpios constitucionais deveriam ser respeitados por aquelas pessoas que integram um pas que defende direitos fundamentais.

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Art. 5 IV livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato.Art. 220 . A manifestao do pensamento, a criao, a expresso e a informao, sob qualquer forma, processo ou veculo no sofrero qualquer restrio, observado o disposto nesta Constituio.

O Ministro da Justia Jos Eduardo Cardozo afirmou que houve excesso por parte dos policiais que, diante de manifestantes, desfrutaram de meios desnecessrios perante a situao (segundo notcias).http://p2.trrsf.com.br/image/fget/cf/600/600/images.terra.com/2013/06/15/dfcardozovalter-campanatoabr.jpg

Na noite de ontem (quinta), tivemos uma situao que, evidentemente, no podemos aceitar. Pelo que vi, houve excessos e situaes de violncia policial que considero inaceitveis. No acho correto que a polcia pudesse atingir as pessoas como mostram as imagens.O problema que se tem em mos compreender os limites de determinados atos, ou seja, at que ponto uma ao de um manifestante guardada por um direito e a partir de qual momento esta mesma conduta pode tornar-se exagerada a fim de colidir contra os direitos do Estado que na teoria deveria representar o povo, embora na prtica isso nem sempre fique claro.

O Movimento Passe Livre e at membros militantes de determinados partidos que simbolizam a nova gerao da populao brasileira vem trazendo novos assuntos em debate, ficando evidenciado pela capacidade que estamos adquirindo em interpretar a nossa Constituio. bobagem pensar que o Brasil corrupto e que continuar assim. Mesmo quando desconhecamos parcialmente a essncia de nossos direitos, os caras pintadas provocaram a sada de Fernando Collor da presidncia.

E os vndalos?

Em todos os grandes movimentos populares h uma classe extremista que busca o poder nas armas, desconhecendo seus direitos fundamentais e inclusive o poder de eleger ou no um candidato. A Histria nos prova isso desde a guilhotina dos jacobinos. O argumento que se tem criado diante dos protestos de que estes geram vandalismo, contudo a finalidade das manifestaes seria esta? No podemos justificar atos de depredao em um protesto cujo foco outro. Protestos sempre foram cabveis de casos de vandalismo. Para diferenciar um indivduo do outro que por si s j um fator bvio, cabe a ns verificar, principalmente, a finalidade e os alicerces de determinado protesto.E a polcia?

Como os prprios participantes dos protestos, a polcia militar apenas cumpre ordens. A justificativa por mais rude, pouco sutil e curta a maior verdade que rodeia os membros da corporao, principalmente policiais de hierarquias baixas, mandados para os fronts dos protestos. O grande questionamento que se faz no a presena da polcia para acompanhar os protestos, mas sim os meios que utiliza para paralis-los.E o que eu tenho a ver com tudo isso?Uma das frases que mais venho lendo de terceiros neutros a clssica justificativa de que no tenho nada a ver com isso.

A Constituio Federal traz como base a soberania popular, ou seja, detemos o poder de por exemplos colocar e tirar polticos. uma mediocridade em demasia pensar que no temos quaisquer relaes com os protestos que vem ocorrendo em diversas cidades do pas, visto que ns consolidamos a Constituio. Os direitos no mais se destinam para aquele que tem mais renda, mais terras ou at para aquele sujeito com mais fora fsica. Isto pode ser estranho para alguns, no entanto isto o sabor do Estado Democrtico: a possibilidade de ter e usufruir direitos para consolidar a democracia e incluso nisto a permisso de poder eleger representantes bem como tir-los.Michel Foucault j descrevia o significado desta palavra em sua obra Microfsica do Poder. A inrcia da populao brasileira durante estes anos se deu pela crena de que o poder de decidir atos para o povo e no pelo povo estavam nas mos daqueles que ns elegamos. A mediocridade que citei anteriormente novamente se reflete aqui quando a poltica tornou-se algo to repudiado nas conversas do dia a dia.No s no Brasil, mas em pases cujos ideais so aparentemente diferentes do nosso como a Turquia, j foi percebido que a soberania se concentra no povo. A mdia por vezes coloca impasses sobre este assunto, designando o heri ou o vilo como se estivssemos tratando de um filme.O convite que venho a fazer-lhes para olharmos nossos direitos com mais ateno, alm de, no momento de cada eleio, lembrar o que os parlamentares fizeram em seus respectivos mandatos. No quero criticar os manifestantes e os membros da polcia militar de So Paulo. Todos sabem, ou deveriam saber que o verdadeiro causador de tudo est bem longe de qualquer holofote.H, na corrupo dos que chegam por acaso ao poder, algo grosseiro e vulgar que a torna contagiosa para a multido....Mas roubar o tesouro pblico, ou vender a preo de dinheiro os favores do Estado, coisa que o primeiro miservel compreende e pode gabar-se de fazer igual, chegando a sua vez.Democracia na Amrica de Alex de Tocqueville.