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PROPRIEDADES BIOQUÍMICAS E FUNCIONAIS DE UMA PROTEÍNA LIGANTE À QUITINA PURIFICADA DE SEMENTES DE Moringa oleifera
LAMARCK
JULIANA MENEZES GIFONI
FORTALEZA-CEARÁ
2009
ii
PROPRIEDADES BIOQUÍMICAS E FUNCIONAIS DE UMA PROTEÍNA LIGANTE À QUITINA PURIFICADA DE SEMENTES DE Moringa oleifera
LAMARCK
JULIANA MENEZES GIFONI
TESE SUBMETIDA À COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA, COMO REQUISITO PARCIAL PARA
OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM BIOQUÍMICA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FORTALEZA-CE
DEZEMBRO - 2009
iii
Esta tese foi apresentada como parte dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Doutor em Bioquímica, outorgado pela Universidade
Federal do Ceará, e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca
de Ciências e Tecnologia da referida Universidade.
A citação de qualquer trecho desta tese é permitida, desde que seja feita
de acordo com as normas da ética científica.
Juliana Menezes Gifoni
TESE APROVADA EM:
Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira
Universidade Federal do Ceará Depto. de Bioquímica e Biologia Molecular
Dra. Ana de Fátima F. U. de Carvalho
Universidade Federal do Ceará Depto. de Biologia
Dra. Ana Cristina de O. Monteiro Moreira
Universidade de Fortaleza Centro de Ciências da Saúde
Dra. Valdirene Moreira Gomes
Universidade Estadual do Norte Fluminense
Centro de Biociências e Biotecnologia
Dra. Ilka Maria Vasconcelos
Orientadora
Universidade Federal do Ceará Depto. de Bioquímica e Biologia Molecular
iv
DEDICATÓRIA
A Deus;
Aos meus Pais;
Aos meus Irmãos;
Aos meus grandes amores Gontran, Júlia e Gontran Luís,
Dedico, com amor e gratidão.
v
AGRADECIMENTOS
À Dra. Ilka Maria Vasconcelos, pela orientação e ensinamentos, pelas
observações valiosas e, principalmente, pela paciência e confiança
depositadas e pela amizade que cresceu. Agradeço, de coração, por tudo.
Ao Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira, por sua contribuição para a
realização deste trabalho, por meio de sugestões e explicações; pela
dedicação ao ensinar o manuseio dos aparelhos e o entusiasmo ao discutir os
resultados.
À Dra. Ana de Fátima F. U de Carvalho, por disponibilizar seu
laboratório para alguns experimentos e por participar da comissão examinadora
desta tese.
À Dra. Ana Cristina de O. Monteiro Moreira, pela disponibilidade em
participar da comissão examinadora desta tese.
À Dra. Valdirene Moreira Gomes, pela colaboração com nosso
laboratório e pela contribuição através da participação da comissão
examinadora desta tese.
A todos os professores deste Departamento que, de alguma forma,
colaboraram para a realização deste trabalho: seja na disponibilização de seus
laboratótios, no empréstimo de reagentes e equipamentos ou nos
conhecimentos transmitidos durante as aulas.
À Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e
Biologia Molecular, na pessoa da Dra. Norma Maria Barros Benevides.
A todos os funcionários do Departamento.
À Dra. Maria Fátima Grossi de Sá, pela acolhida em seu laboratório na
Embrapa CENARGEN, Brasília, quando não mediu esforços, providenciando
tudo possível para o andamento dos experimentos.
Aos amigos do Laboratório de Toxinas Vegetais: Andréa, Dani,
Henrique, Handerson, Adelina, Daniel, Hellen, Raque l, Mirella,
Hermógenes, Janne e, em especial, à minha amiga Geórgia , que sempre me
ajudou e apoiou em tudo.
vi
Aos demais colegas do Departamento, com destaque especial para
aqueles que sempre se dispuseram a me ajudar, disponibilizando material e
conhecimento: Hélio, Darcy, Fredy, Cristina, Luana, Ariévilo, Éri ka, Thiago,
Camila e Davi.
À minha família : meus pais , por todo o amor, carinho, confiança e
dedicação que resultaram numa sólida formação humana, religiosa e científica,
que levarei comigo para sempre; meus irmãos , tão importantes para mim, pelo
amor, amizade, compreensão e convivência nos momentos de alegria e
dificuldade; meu esposo amado, Gontran , minha força, meu exemplo, meu
estímulo, minha alegria: o grande incentivador desta minha caminhada
científica; aos frutos de nosso amor, que vieram durante esse doutorado, para
encher nossas vidas de felicidade plena: Júlia e Gontran Luís. Amo vocês!
A Deus , por tudo que tenho e tudo que sou.
MUITO OBRIGADA!
vii
Este trabalho foi realizado graças ao auxílio dos seguintes Órgãos Institucionais:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pela concessão da bolsa de Doutorado à autora deste trabalho e
pelo auxílio à pesquisa através do projeto: “Proteínas de Sementes: Aspectos
Moleculares, Funcionais e Potencial Biotecnológico” (N° do Processo: 0015/01-
6 PROCAD/CAPES).
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e T ecnológico
(CNPq), por concessão de auxílio à pesquisa através dos projetos: 1) Moringa
oleifera: Uma fonte alternativa de proteínas como aditivo em ração em
substituição ao milho e/ou soja no setor produtivo avícola (N° do Processo:
503426/2003-2 CT-Agronegócio/MCT/CNPq/MESA 01/2003); 2) Recuperação
e Otimização da Infra-Estrutura do Laboratório de Toxinas Vegetais (N° do
Processo: 412497/2003-4 CNPq); 3) Bioquímica, Biologia Molecular e
Fisiologia de Plantas (N° do Processo: 620231/2004- 1 MCT/CNPq/PADCT) e
4) Proteínas Envolvidas nos Mecanismos de Defesa das Plantas Contra
Herbívoros e Fitopatógenos (N° do Processo: 301060/ 1995-9 CNPq).
Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular , do Centro de
Ciências da Universidade Federal do Ceará, em cujos laboratórios foi realizada
esta pesquisa.
viii
SUMÁRIO
Página
LISTA DE FIGURAS xiii
LISTA DE TABELAS xvi
ABREVIATURAS E DEFINIÇÕES xvii
RESUMO xviii
ABSTRACT xix
1 - INTRODUÇÃO 1
2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5
2.1 - Moringa oleifera Lamarck 6
2.1.1 - Considerações Gerais 6
2.1.2 - Relação Filotaxonômica 7
2.1.3 - Descrição Morfológica 7
2.1.4 - Aspectos Culturais e Sócio-Econômicos 8
2.1.5 - Aspectos Bioquímicos e Farmacológicos 11
2.1.6 - Aspectos Nutricionais 14
2.2 - Fungos Fitopatogênicos 16
2.3 - Proteínas Vegetais de Defesa 19
2.3.1 - Proteínas Ligantes à Quitina 20
3 - OBJETIVOS 27
4 - MATERIAIS 29
5 - MÉTODOS 32
ix
5.1 - Preparação da Farinha de Sementes de Moringa oleifera 33
5.1.1 - Obtenção da Farinha 33
5.1.2 - Delipidação da Farinha 33
5.2 - Purificação das Proteínas Ligantes à Quitina de M. oleifera 33
5.2.1 - Extração de Proteínas 33
5.2.2 - Obtenção das Frações Albumina e Globulina 35
5.2.3 - Concentração da Fração Albumina 35
5.2.4 - Cromatografia de Afinidade em Coluna de Quitina 35
5.2.5 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna Resource S acoplada a um
Sistema de FPLC 36
5.2.6 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de CM-Celulose 36
5.2.7 - Cromatografia de Exclusão Molecular em Coluna de Sephadex G-50 38
5.2.8 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna de Fenil-Sepharose 38
5.2.9 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C-18 acoplada
a HPLC 38
5.2.10 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C2-18 acoplada
a HPLC 39
5.2.11 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna Resource S Acoplada a um
Sistema de FPLC 39
5.3 - Caracterização Bioquímica de Mo-CBP3 40
5.3.1 - Determinação de Proteínas 40
5.3.2 - Determinação da Massa Molecular por Eletroforese em Gel de
Poliacrilamida 40
x
5.3.3 - Determinação da Massa Molecular por Cromatografia de Exclusão
Molecular 42
5.3.4 - Determinação do Ponto Isoelétrico (pI) de Mo-CBP3 43
5.3.5 - Avaliação da Mo-CBP3 em Eletroforese sob Condições Nativas 44
5.3.6 - Detecção de Glicoproteína em Gel 44
5.3.7 - Determinação de Carboidratos 45
5.3.8 - Determinação da Sequência NH2-terminal de aminoácidos 45
5.3.9 - Determinação da Atividade Hemaglutinante 46
5.3.10 - Determinação da Atividade de Quitinase (CH; EC 3.2.1.14) 47
5.3.11 - Determinação da Atividade de β-1,3-glucanase (GLU E.C. 3.2.1.6) 48
5.3.12 - Determinação da Atividade Coagulante 48
5.4 - Ensaios Biológicos 49
5.4.1 - Avaliação da Atividade Antifúngica 49
Cultivo dos Fungos 49
Obtenção dos Esporos 50
Ensaio de Inibição da Germinação dos esporos de Fusarium solani 50
Ensaio de Inibição do Crescimento Micelial 51
5.4.2 - Estudos do Mecanismo de Ação 52
Determinação da Natureza da Ação Antifúngica: Atividade Fungicida
x Fungistática 52
Ensaio de Inibição da germinação de esporos e do crescimento do
Oomiceto Pythium oligandrum 53
Ensaio de Inibição da Acidificação do Meio, Induzida por Glicose 53
xi
6 - RESULTADOS 55
6.1 - Purificação da Proteína Ligante à Quitina Mo-CBP3 56
6.2 - Caracterização Bioquímica de Mo-CBP3 58
6.2.1 - Massa Molecular de Mo-CBP3 por Eletroforese em Gel de
Poliacrilamida na Presença de SDS 58
6.2.2 - Massa Molecular de Mo-CBP3 por Cromatografia de Exclusão
Molecular 62
6.2.3 - Ponto Isoelétrico (pI) de Mo-CBP3 62
6.2.4 - Comportamento de Mo-CBP3 em Eletroforese Nativa 62
6.2.5 - Presença de Carboidratos Covalentemente Ligados a Mo-CBP3 62
6.2.6 - Sequência NH2-terminal de Mo-CBP3 66
6.2.7 - Atividade Hemaglutinante 66
6.2.8 - Atividade de Quitinase (CH; EC 3.2.1.14) 66
6.2.9 - Atividade de β-1,3-glucanase (GLU E.C. 3.2.1.6) 69
6.2.10 - Atividade Coagulante 69
6.3 - Ensaios Biológicos 69
6.3.1 - Atividade Antifúngica 69
Inibição da Germinação dos esporos de Fusarium solani 71
Inibição do Crescimento Micelial 71
6.3.2 - Estudos do Mecanismo de Ação 75
Natureza da Ação Antifúngica: Atividade Fungicida x Fungistática 75
Efeito Inibitório de Mo-CBP3 sobre a Germinação de Esporos e o
Crescimento do Oomiceto Pythium oligandrum 75
Inibição da Acidificação do Meio, Induzida por Glicose 78
xii
7 - DISCUSSÃO 81
8 - CONCLUSÃO 96
ANEXO I 98
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 104
xiii
LISTA DE FIGURAS
Página
1 - Árvore da Moringa oleifera Lamarck. 9
2 - Esquema de obtenção do extrato total das proteínas das sementes
de M. oleifera. 34
3 - Esquema geral de purificação das proteínas ligantes à quitina (PNAG
e PAC) a partir do extrato total. 37
4 - Esquema da purificação de Mo-CBP3 a partir da fração protéica
Retida em matriz de quitina e eluída com N-acetil-D-glucosamina
0,1 M (PNAG). 41
5 - Cromatografia de afinidade em coluna de quitina. 57
6 - Cromatografia de troca iônica em coluna Resource S, acoplada a
um sistema de FPLC. 59
7 - Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) sob condições
desnaturantes (PAGE-SDS), na ausência e presença de
β-mercaptoetanol. 61
8 - Cálculo da massa molecular de Mo-CBP3 por cromatografia de
exclusão molecular em coluna Superose 12 HR 10/30, acoplada a
um sistema de FPLC. 63
9 - Eletroforese bidimensional em gel de poliacrilamida (15%) de
Mo-CBP3. 64
10 - Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) para proteínas
xiv
básicas, sob condições nativas. 65
11 - Eletroforese de Mo-CBP3 em gel de poliacrilamida (15%) na
presença de SDS. 67
12 - Atividade de coagulação de matéria em suspensão de Mo-CBP3. 70
13 - Fotomicrografia do ensaio de inibição da germinação dos
esporos de Fusarium solani. 72
14 - Avaliação do efeito de Mo-CBP3 sobre o crescimento de hifas
jovens de Fusarium solani. 73
15 - Avaliação do efeito inibitório de Mo-CBP3 sobre o crescimento
das hifas jovens de Fusarium solani. 74
16 - Avaliação da atividade fungicida x fungistática de Mo-CBP3
sobre a germinação dos esporos de sobre os esporos de Fusarium
solani 76
17 - Avaliação da recuperação da capacidade de germinação dos
esporos de Fusarium solani quando retirados da presença de
Mo-CBP3. 77
18 - Efeito de Mo-CBP3 sobre a germinação dos esporos dePythium
oligandrum. 79
19 - Alteração no pH do meio induzida por glucose 0,5 M sobre esporos
de Fusarium solani na presença da proteína Mo-CBP3. 80
20 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de DEAE-Celulose. 98
21 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de CM-Celulose. 99
22 - Cromatografia de Exclusão Molecular em Coluna de Sephadex G-50. 100
xv
23 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna de Fenil-
Sepharose. 101
24 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C-18
acoplada a HPLC. 102
25 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C2-18
acoplada a HPLC. 103
xvi
LISTA DE TABELAS
Página
1 - Composição química de sementes de Moringa oleifera. 17
2 - Famílias de Proteínas Relacionadas à Patogênese (PR-Proteínas). 21
3 - Teores protéicos das diferentes frações resultantes do processo
de obtenção de Mo-CBP3. 60
4 - Alinhamento da seqüência NH2-terminal de Mo-CBP3 com outras
proteínas vegetais apresentando seqüências similares. 68
xvii
ABREVIATURAS E DEFINIÇÕES
Ac-AMP Peptídeos Antimicrobianos de Amaranthus caudatus
BSA Albumina Sérica Bovina
DMAB p-dimetilaminobenzaldeído
Ee-CBP Euonymus europaeus “Chitin Binding Peptide”
FPLC “Fast Protein Liquid Chromatography”
GAFP Peptídeo Antifúngico de Gingko biloba
GlcNac N-acetil-D-glucosamina
HEMOCE Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará
HM30 Proteína de Hydrangea macrophylla com massa molecular
de 30 kDa
HPLC “High Performance Liquid Chromatography”
Mo-CBP Moringa oleifera “Chitin Binding Protein”
NAG N-acetil-D-glucosamina
NKat Nanokatal: 1 nmol de N-acetil-D-glucosamina liberado por
segundo
PAGE-SDS Eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS
PAS Ácido Periódico de Schiff
PDA “Potato-Dextrose Agar“
Pn-AMP Peptídeos Antimicrobianos de Pharbitis nil
PR-proteína Proteína relacionada à patogênese
PTH-aminoácidos Derivados feniltioidantoína-aminoácidos
PVDF Difluoreto polivinilideno
RIPs Proteínas Inativadoras de Ribossomos
SDS Dodecil Sulfato de Sódio
TEMED N, N, N’, N’-tetrametiletilenodiamina
Tris 2-amino-2-hidroximetilpropano-1,3-diol
UDA Lectina de Urtica dioica
USDA “United States Department of Agriculture”
WGA Lectina de Triticum vulgaris
xviii
RESUMO
Moringa oleifera Lam. é uma planta originária do Noroeste da Índia, bem
adaptada às regiões tropicais. De suas sementes foi isolada uma nova proteína ligante
à quitina, a Mo-CBP3, com propriedades coagulantes e atividade antifúngica contra o
fitopatógeno Fusarium solani. As proteínas foram extraídas da farinha delipidada de
sementes com o tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo NaCl 0,15 M. O teor médio
de proteína da farinha correspondeu a 216,44 mgP/gF. O extrato total foi fracionado
em albuminas e globulinas por diálise contra água seguida de centrifugação. As
albuminas foram concentradas com sulfato de amônio a 90% de saturação. A F0-90%
foi submetida à cromatografia de afinidade em coluna de quitina, previamente
equilibrada com o tampão de extração. Foram obtidos um pico não retido e dois picos
retidos, correspondentes às proteínas ligantes à quitina (CBP). O primeiro destes foi
eluído com solução de N-acetil-D-glucosamina 0,1 M (PNAG), e o segundo, com ácido
acético 0,05 M, pH 3,0 (PAC). PNAG foi aplicado em coluna de troca catiônica, Resource
S, acoplada a um sistema de FPLC, equilibrada com tampão acetato de sódio 0,05 M,
pH 5,2. Dos picos obtidos, o terceiro correspondeu à proteína Mo-CBP3 - eluída com
0,5 M de NaCl no tampão de equilíbrio. O teor protéico médio calculado para a
proteína purificada Mo-CBP3 foi de 1,17 mgP/gF, representando um rendimento final
de 0,54% das proteínas do extrato total. A massa molecular aparente por SDS-PAGE
foi de 18,0 kDa sem o agente redutor e, de 9,0 kDa, na presença deste. O resultado
sugere que Mo-CBP3 seja uma proteína dimérica formada de subunidades idênticas,
unidas por pontes dissulfeto. A massa molecular de Mo-CBP3, por cromatografia de
exclusão molecular, foi de 14,34 kDa, e o pI de 10,8. Trata-se de uma glicoproteína
com 2,5% de carboidratos, que não apresenta atividade hemaglutinante ou quitinásica.
Sua seqüência NH2-Terminal obtida foi CPAIQRCCQQLRNIQPPCRCCQ, com 22
aminoácidos, confirmando sua característica básica. Mo-CBP3 mostrou-se tão eficiente
quanto o AlK(SO4)2 na capacidade de coagular matéria em suspensão na água. Mo-
CBP3 foi fungicida para esporos de Fusarium solani a 0,1 mg/mL. O aquecimento da
proteína a 98 °C, por 1 h, e a pré-incubação com o açúcar N-acetil-D-glucosamina,
não reverteram sua ação. Mo-CBP3 mostrou-se capaz de retardar o crescimento
micelial do fungo ainda na menor dose testada, 0,05 mg/mL. Mo-CBP3 é inativa contra
o oomiceto Pythium oligandrum, que apresenta celulose no lugar da quitina na parede
celular. A proteína foi, ainda, capaz de inibir cerca de 80% da acidificação do meio, por
esporos de F. solani, induzida por glicose, o que sugere a influência de Mo-CBP3
sobre as bombas de prótons (H+ATPases) presentes na membrana celular dos
esporos deste fungo.
xix
ABSTRACT
Moringa oleifera Lam. is native from Northwest India, well adapted to tropical
regions. From its seeds it was isolated a new chitin binding protein, Mo-CBP3, which
has coagulant properties and antifungal activity against the phytopathogen Fusarium
solani. Proteins were extracted from defatted seeds flour by 0.05 M Tris-HCl buffer, pH
8.0, containing 0.15 M NaCl. The average protein content of the flour was 216.44
mgP/gF. The crude extract was fractionated in albumins and globulins by dialysis and
centrifugation. Albumins were concentrated by 90% ammonium sulfate saturation. This
fraction was applied into a chitin column, previously equilibrated with the same buffer.
An unadsorbed and two adsorbed peaks were obtained. The first adsorbed peak was
eluted with 0.1 M N-acetyl-D-glucosamine (PNAG), and the second one, with 0.05 M
acetic acid, pH 3.0 (PAC). PNAG was applied into a cation exchange column, Resource
S, equilibrated with 0.05 M sodium acetate buffer, pH 5.2. The third peak corresponded
to Mo-CBP3 – eluted with 0.5 M NaCl in equilibrium buffer. The protein content of Mo-
CBP3 was 1.17 mgP/gF. It represents a final yield of 0.54% of crude extract proteins.
Apparent molecular mass by SDS-PAGE was 18.0 kDa in the absence of β-ME, and
9.0 kDa, in its presence. Results suggest that Mo-CBP3 is a dimeric protein, made of
identical subunits, linked by disulfide bonds. By molecular exclusion chromatography,
calculated molecular mass was 14.34 kDa, pI 10.8. Mo-CBP3 is a glycoprotein with
2.5% of carbohydrates, which has not hemagglutinating or chitinase activities. Its NH2-
terminal sequence was CPAIQRCCQQLRNIQPPCRCCQ, with 22 amino acids,
conffirming its basic character. Mo-CBP3 was as efficient as AlK(SO4)2 in the capacity
of coagulating suspended material in water. Mo-CBP3 (0.1 mg/mL) was fungicide to
Fusarium solani spores. Heat treatment of the protein at 98 °C, du ring 1 h, and pre
incubation with N-acetyl-D-glucosamine, did not reverse its action. Mo-CBP3 was able
to retard the mycelial growth of the fungus even at the lowest tested dose of 0.05
mg/mL. Mo-CBP3 was inactive against the oomycete Pythium oligandrum, which has
cellulose in spite of chitin in cell wall. Protein was also able to inhibit about 80% of
medium acidification, induced by glucose, by F. solani spores, that suggests the
influence of Mo-CBP3 over the proton pumps (H+ATPases) present in cellular
membranes of F. solani spores.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
1
11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
2
Um terço de toda a produção agrícola mundial é perdido, a cada ano, devido
ao ataque de pestes e doenças (BAJWA et al., 2003; CHAPAGAIN et al., 2007).
Bilhões de dólares são gastos anualmente na agricultura mundial com manejo e
controle químico de insetos-praga e fungos fitopatogênicos. No entanto, apenas
cerca de 7% dos prejuízos são reduzidos pela ação do controle químico, o qual,
além de se mostrar pouco eficiente, vem causando profundo impacto ambiental e
desequilíbrios ecológicos. A despeito do surgimento contínuo de novos fungicidas,
estima-se que as perdas causadas por fungos fitopatogênicos, no mundo todo,
chegam a 12% do potencial de produção de grãos (LEE et al., 2003). As perdas
podem ocorrer no campo e após a colheita, no transporte, industrialização e
armazenamento. Essas perdas agravam a demanda cada vez maior de alimentos,
necessários para o suprimento mínimo da população mundial, que cresce
geometricamente. Especialmente o fungo filamentoso Fusarium solani causa graves
prejuízos na agricultura, danificando várias espécies de plantas de interesse
econômico no Brasil. Bergamin e colaboradores (1995) atribuem a este fungo a
podridão vermelha da raiz que acomete culturas importantes, como feijão, soja,
ervilha, batata, maracujá e pimenta-do-reino. Esta doença resulta no aparecimento
de murcha na parte aérea da planta infectada, tornando-a inviável.
Uma estratégia promissora para driblar a enorme capacidade de adaptação
dos predadores é a produção de plantas transgênicas expressando proteínas que
lhes conferem resistência; a potencialização dos sistemas defensivos endógenos
das plantas quer seja através da manipulação da expressão de suas próprias
proteínas de defesa, ou daquelas obtidas de vegetais taxonomicamente próximos.
Porém, para que isso seja viável, é fundamental o conhecimento prévio detalhado
sobre as propriedades moleculares, estruturais, biológicas e fisiológicas das
proteínas envolvidas nos sistemas de defesa vegetal.
Dentre as muitas proteínas supostamente envolvidas na proteção das plantas
encontram-se as proteínas ligantes à quitina, as quais merecem um destaque
especial, pois a quitina é o segundo polímero mais abundante na natureza, ficando
atrás apenas da celulose (AUNPAD e PANBANGRED, 2003). Trata-se de um
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
3
biopolímero insolúvel, linear, composto por subunidades de N-acetil-D-glucosamina
unidas por ligações β-(1,4) (RAIKHEL e LEE, 1993). Juntamente com β-1,3-
glucanos, a quitina é o principal constituinte da parede celular de fungos,
fitopatogênicos ou não, estando também presente no exoesqueleto e membrana
peritrófica de insetos e na cutícula de nematóides (ZEKINS e SCHREMPF, 1995;
ASENSIO et al., 2000). A quitina existe, ainda, como polímero extracelular de
algumas bactérias (KUPIEC e CHET, 1998).
Algumas dessas proteínas envolvidas na defesa de plantas contra
fitopatógenos e herbívoros são capazes de afetar negativamente o crescimento de
tais organismos através da degradação da quitina (agindo como quitinases), ou
mesmo por sua interação como proteínas ligantes, acarretando perda das
propriedades estruturais e funcionais da quitina neles presentes (WANG e
GRANADOS, 2000; ZAREIE et al., 2002).
Moringa oleifera L., uma espécie pertencente à família Moringaceae,
originária do noroeste da Índia, parece apresentar um importante arsenal protéico de
defesa contra predadores, uma vez que é bastante resistente a doenças, sendo
afetada por poucas espécies de insetos (RAMACHANDRAN et al., 1980) e capaz de
inibir o crescimento de várias espécies de bactérias e fungos (NWOSU e OKAFOR,
1995). Gomes (2002) verificou a presença de proteínas ligantes à quitina em
extratos aquosos de sementes de moringa e Gifoni (2005) observou que frações
contendo tais proteínas foram capazes de inibir a germinação de esporos de cinco
espécies de fungos fitopatogênicos: Aspergillus niger, Colletotrichum
lindemuthianum, C. gloeosporioides, Fusarium solani e Rhizoctonia solani, bem
como de retardar o tempo médio de desenvolvimento do inseto Callosobruchus
maculatus.
Em conseqüência destas várias propriedades de interesse biotecnológico,
muitas tentativas foram realizadas no intuito de caracterizar essas frações bioativas.
No entanto, a complexidade do material e a conseqüente irreprodutibilidade dos
resultados impossibilitaram sua caracterização à época. Tais fatos nos levaram a
crer que, ao contrário dos resultados obtidos por eletroforese, o material em estudo
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
4
não era puro o suficiente para permitir sua caracterização. Logo, surgiram os
questionamentos:
1) Quão heterogênea é a fração composta por proteínas ligantes à quitina em questão;
2) É possível a purificação de uma proteína específica responsável pela atividade
antifúngica desta fração;
3) Caso seja possível sua purificação, sua caracterização bioquímica possibilitará a
compreensão do seu mecanismo de ação antifúngica?
Com base nestes questionamentos, foram formuladas as seguintes hipóteses
de trabalho:
1) “As proteínas ligantes à quitina, presentes em s ementes de M. oleifera ,
representam um grupo de proteínas distintas entre s i, com propriedades
específicas, responsáveis pela alta resistência da planta a fitopatógenos, em
particular, fungos”.
2) “É possível a purificação de, pelo menos, um des tes componentes protéicos
responsáveis pela atividade antifúngica e este poss ui características
específicas que corroboram com tal propriedade”.
Para testar tais hipóteses, foi realizado um estudo bioquímico de purificação,
isolamento e caracterização de uma proteína ligante à quitina, proveniente das
sementes de moringa, mostrado detalhadamente a seguir.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
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22.. FFUUDDAAMMEENNTTAAÇÇÃÃOO TTEEÓÓRRIICCAA
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
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2.1 - Moringa oleifera Lamarck
2.1.1 - Considerações Gerais
Moringa oleifera Lamarck (sinônimo: Moringa pterygosperma Gaertner) é
uma planta originária do Noroeste da Índia, da região do sub-Himalaia
(RAMACHANDRAN et al., 1980; JAHN et al., 1986; MAKKAR e BECKER,
1997; BEN SALEM e MAKKAR, 2009). De lá se difundiu pelo mundo por ser
bem adaptada às regiões tropicais (JAHN, 1989; CÁCERES et al., 1991;
BHUPTAWAT et al., 2007), sendo hoje encontrada em países da África, como
Egito e Nigéria, da Ásia, como Afeganistão, Filipinas, Jamaica, Malásia,
Paquistão, Singapura e Tailândia, bem como das Américas do Norte, Central e
do Sul (RAMACHANDRAN et al., 1980; MAKKAR e BECKER, 1997; ANWAR e
BHANGER, 2003; BEZERRA et al., 2004; BHATTI et al., 2007). No Brasil, onde
foi introduzida por volta dos anos 1950, é encontrada na região Nordeste,
principalmente nos estados do Maranhão, Piauí e Ceará.
Moringa oleifera é uma espécie perene pertencente à família
Moringaceae, a qual engloba quatorze espécies em apenas um gênero:
Moringa (JAHN et al., 1986; RASHID et al., 2008). Esta família de plantas é
bastante conhecida e estudada, particularmente pelo fato de sementes de
algumas de suas espécies apresentarem propriedades floculantes ou
coagulantes, sendo utilizadas em diversos países como um método natural,
eficiente e econômico de purificação de água (GASSENSCHMIDT et al., 1995;
OKUDA et al., 2001a; KATAYON et al., 2006). Dentre as espécies do gênero
Moringa, sobressai-se a M. oleifera, devido à sua utilização na alimentação
(frutos, folhas, flores, raízes e sementes comestíveis), na indústria e na
medicina, à sua propriedade coagulante, além de sua resistência a pragas e
doenças, facilidade de cultivo e rapidez no crescimento (RAMACHANDRAN et
al., 1980; CÁCERES et al., 1991; MAKKAR e BECKER, 1997; OLIVEIRA et al.,
1999; ANWAR e BHANGER, 2003; SIDDHURAJU e BECKER, 2003;
BEZERRA et al., 2004; BHATTI et al., 2007; BHUPTAWAT et al., 2007). Além
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disso, M. oleifera é a mais disseminada das espécies de seu gênero, pois se
desenvolve plenamente ainda que em solos pobres e com baixa umidade, bem
como em áreas isoladas de montanhas a 1200 m de altitude (JAHN, 1991;
SUTHERLAND et al., 1994; NDABIGENGESERE et al., 1995). Por tudo isso,
esta planta é, certamente, uma das mais úteis do mundo para o homem, tanto
que é conhecida como “a planta multifuncional” ou, em inglês, “the
multipurpose tree”. Uma característica que demonstra sua enorme importância
e popularidade é a infinidade de nomes vernaculares, de acordo com o país ou
região.
2.1.2 - Relação Filotaxonômica
M. oleifera é classificada taxonomicamente conforme descrito a seguir
(USDA):
• Reino: Plantae
• Sub-reino: Tracheobionta
• Superdivisão: Spermatophyta
• Divisão: Magnoliophyta (Angiosperma)
• Classe: Magnoliopsida (Dicotiledônea)
• Ordem: Brassicales
• Família: Moringaceae
• Gênero: Moringa
• Espécie: Moringa oleifera
2.1.3 - Descrição Morfológica
M. oleifera é conhecida como “drumstick” ou “bastão de tambor”, devido
ao formato de seus frutos, ou ainda como “horseradish tree” ou “raiz-forte”,
devido ao sabor picante de suas raízes (MAKKAR e BECKER, 1997; BHATTI,
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et al., 2007; CHUMARK et al., 2008). No nordeste brasileiro, inclusive no
Ceará, onde é cultivada como planta ornamental e medicinal, é conhecida
como lírio-branco, quiabo de quina, rabanete-de-cavalo ou, simplesmente,
moringa (LORENZI e MATOS, 2002).
Esta espécie apresenta-se em forma de arbusto ou árvore de pequeno
porte (FIGURA 1A), sendo bem menor no Brasil do que na Índia, possuindo
caule grosso, muitas vezes único, e uma copa aberta, em forma de sombrinha
(LORENZI e MATOS, 2002). O seu crescimento é bastante rápido (1,5 cm por
dia), podendo a planta atingir cerca de doze metros de altura (CÁCERES et al.,
1991; MAKKAR e BECKER, 1997; CHUANG et al., 2007). A moringa é uma
planta alógama (de fecundação cruzada) e sua propagação se dá por
sementes e estacas (LORENZI e MATOS, 2002; BEZERRA et al., 2004)
Na casca da moringa é verificada a presença de látex. Na medula
central há ocorrência de uma grande quantidade de mucilagem, rica em
arabinose, galactose e ácido glucurônico. As folhas são decíduas, alternadas,
pecioladas e compostas. O mesófilo foliar contém cristais de cálcio (CÁCERES
et al., 1991; MAKKAR e BECKER, 1997). As flores são diclamídeas, ou seja, o
perianto divide-se em cálice e corola. São, ainda, monoclinas, perfumadas, de
cores creme ou branca, estando agrupadas em inflorescências terminais do
tipo cimosa, as chamadas panículas. Em lugares onde o índice pluviométrico é
maior do que 600 mm/ano, as árvores estão sempre floridas; caso contrário,
somente há florescência na estação chuvosa. O androceu apresenta
estaminóides e estames. O gineceu é sincárpico, tricarpelar, uniloculado,
pluriovulado, com ovário súpero, e apresenta placentação parietal. O fruto,
deiscente, é uma cápsula, apresentando três faces e aspecto de vagem.
Geralmente, apresenta de 20 a 30 cm de comprimento. As sementes (FIGURA
1B e 1C) estão presentes em grande número por fruto, sendo trialadas e
oleaginosas (LORENZI e MATOS, 2002). Estas são gobulares e possuem uma
massa média de 3,0 a 4,0 g. A árvore é diplóide com 2n = 28 (PATEL e
NARAYANA, 1937; RAMACHANDRAN et al., 1980).
2.1.4 - Aspectos Culturais e Sócio-Econômicos
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FIGURA 1 - A) Árvore da Moringa oleifera. B) Sementes aladas. C) Sementes
destegumentadas (amêndoas).
A B
C
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Sementes de moringa representam uma fonte rica de óleo, o qual pode
ser utilizado para as mais diversas finalidades: 1) cozinha; 2) produção de
cosméticos (como fixador de odores voláteis em perfumes); 3) lubrificante e 4)
combustível (assim como a madeira do caule) (MORTON, 1991; BEZERRA et
al., 2004).
Estas, bem como as sementes de outras espécies do mesmo gênero,
apresentam uma propriedade que é, certamente, a mais explorada atualmente:
a de coagulação de matéria em suspensão. Diversos estudos têm sido
conduzidos na tentativa de melhor se conhecer o(s) fator (es) coagulante(s)
presente(s) nas sementes de moringa, com a finalidade de viabilizar a
utilização destas sementes no tratamento de água (OKUDA et al., 2001b).
Muitos países em desenvolvimento têm usado as sementes desta planta como
uma alternativa viável de coagulação para tratamento de água em pequena
escala (NDABIGENGESERE et al., 1995). O uso de sementes trituradas de
moringa para purificação da água, a um custo de apenas uma pequena fração
do tratamento químico convencional, é uma alternativa da mais alta
importância. Isto possibilitaria a substituição de agentes coagulantes usados
atualmente (sulfato de alumínio, por exemplo), muitas vezes prejudiciais à
saúde humana e animal (MAKKAR e BECKER, 1997). A prática de utilização
de farinha de sementes de moringa para a purificação de água, em pequena
escala, já é adotada por nativos em áreas rurais do nordeste do Brasil desde
1987 (GERDES, 1997).
De acordo com Goh (2005) apud Katayon e colaboradores (2006), o
custo de produção de 1 kg de sementes de M. oleifera, o que representa cerca
de 3400 sementes, é de US$ 2,00. Apesar de ser mais caro do que 1 kg de
alumen (sulfato de alumínio e potássio), que custa cerca de US$ 1,00, é muito
mais vantajoso e benéfico para as comunidades utilizar a moringa como
coagulante para tratamento de água, tanto em relação à saúde quanto à
economia. Isto acontece porque muitos produtos úteis podem ser extraídos da
semente antes da obtenção da fração coagulante. Como exemplo, tem-se o
óleo, o qual possui um grande valor comercial, sendo utilizado para diversos
fins, como alimentício, medicinal e industrial. Adicionalmente, os resíduos
sólidos servem como ração animal e fertilizante. O resultado de tudo isso é a
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obtenção do coagulante a um custo extremamente baixo, ou zero
(GHEBREMICHAEL et al., 2005).
Há relatos mostrando que cerca de 30 a 200 mg de farinha de sementes
de moringa por litro são necessários para transformar água turva em água
potável, após uma a duas horas de tratamento (MADSEN et al., 1987;
CÁCERES et al., 1991; OLIVEIRA et al., 1999). Segundo Jahn e colaboradores
(1986), a purificação da água é devida à presença de polipeptídeos que agem
como coagulantes primários, os quais, após isolamento, foram capazes de
coagular completamente uma suspensão de partículas de sílica na
concentração de 50 mg/L, com doses de apenas 0,01 a 0,05 mg/L.
2.1.5 - Aspectos Bioquímicos e Farmacológicos
As sementes de M. oleifera contêm quantidades significantes de uma
série de proteínas de baixa massa molecular, solúveis em água e de carga
líquida positiva. Tais proteínas agem como polieletrólitos catiônicos, que se
ligam predominantemente a partículas carregadas negativamente, como argila
e algumas bactérias, durante o tratamento de água turva (KWAAMBWA e
MAIKOKERA, 2007). Estudos preliminares sobre os componentes ativos
coagulantes de M. oleifera sugeriram que se tratam de peptídeos catiônicos de
massa molecular variando de 6,0 a 16,0 kDa e ponto isoelétrico em torno de
10,0 (GASSENSCHMIDT et al., 1995; NDABIGENGESERE et al., 1995).
Muitos relatos descrevem tais coagulantes como proteínas diméricas,
catiônicas (com carga líquida positiva), solúveis em água, com massa
molecular de 12,0 a 14,0 kDa e ponto isoelétrico (pI) entre 10,0 e 11,0
(NDABIGENGESERE et al., 1995; GHEBREMICHAEL et al., 2005).
Gassenschmidt e colaboradores (1995) isolaram uma proteína floculante
de sementes de moringa, cuja massa molecular aparente determinada por
SDS-PAGE é de 6,5 kDa. Esta proteína é rica em resíduos de glutamina,
arginina e prolina e possui ponto isoelétrico igual a 10,0. Segundo estes
autores, a atividade coagulante poderia ser explicada pela baixa massa
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molecular, associada à alta densidade de cargas, características da proteína.
Broin e colaboradores (2002) clonaram o cDNA codificante dessa proteína e o
introduziram em células de Escherichia coli. Ensaios com a proteína
recombinante purificada demonstraram sua capacidade de coagular, além de
matéria em suspensão, bactérias gram-positivas e gram-negativas. Mais
recentemente, em 2005, Ghebremichael e colaboradores verificaram que
frações enriquecidas de proteínas coagulantes de sementes de moringa
permaneceram ativas após tratamento por 5 horas a 95 °C e foram capazes de
agregar e inibir o crescimento de E. coli (D31), Bacillus thuringiensis (Bt7 e
Bt75) e Pseudomonas aeruginosa (nesta não houve agregação), mostrando-se
mais eficiente que a cecropina A, um peptídeo antimicrobiano (4,0 kDa) de
elevado pI. De acordo com Lorenzi e Matos (2002), tal propriedade coagulante
se deve à atividade de glicoproteínas.
Santos e colaboradores (2005) isolaram e caracterizaram uma lectina
acídica de sementes de moringa, contendo carboidrato, solúvel em água,
termoestável, com massa molecular de 20,0 kDa. Katre e colaboradores (2008)
isolaram por gel-filtração, em Sephadex G-100, uma proteína capaz de
hemaglutinar eritrócitos humanos e de coelhos que se constitui em um dímero
de 14,0 kDa o qual, na presença de β-mercaptoetanol, apresentou-se em uma
banda de 7,1 kDa em PAGE-SDS. Tal proteína, denominada MoL, é uma
glicoproteína que contém 1,5% de açúcares neutros e apresenta pI igual a 10,0
e seqüência N-terminal APGIMYRVQR.
A moringa é conhecida, também, por suas propriedades farmacológicas,
tendo sido utilizada nos mais diversos tratamentos: reumatismo, picadas
venenosas, hipercolesterolemia, melhoramento das funções cardíacas, etc.
(ANWAR e BHANGER, 2003; CHUMARK et al., 2008). Cáceres e
colaboradores (1991) demonstraram que os principais usos medicinais desta
planta são no tratamento de falta de apetite e doenças do sistema digestório
(dores de estômago, diarréia), do trato respiratório (gripes, febres), bem como
de doenças infecciosas da pele e mucosas (queimaduras, manchas, erupções).
Há relatos recentes de pessoas, na China e em Taiwan, que utilizaram, com
sucesso, sementes de moringa no tratamento de dermatoses fúngicas como
“pé-de-atleta” e “tinea” (CHUANG et al., 2007). Usos similares já foram
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relatados na Índia, Paquistão e Sudão (DASTUR, 1977; RAMACHANDRAN et
al., 1980; JAHN et al., 1986). De acordo com estudos realizados por Chuang e
colaboradores (2007), células do dermatófito Trichophyton rubrum, tratadas
com extrato etanólico de sementes de M. oleifera, após 24 horas apresentaram
uma ruptura na membrana plasmática e danos nos componentes intracelulares,
com conseqüente morte celular.
As propriedades medicinais da moringa têm sido atribuídas a todas as
partes da planta. As sementes cruas têm atividade antimicrobiana e podem ser
maceradas e usadas topicamente em ferimentos infectados e na cicatrização
de feridas (LORENZI e MATOS, 2002). Além disso, possuem muitos
compostos bioativos que lhes conferem, ainda, atividades antipirética (BEN
SALEM e MAKKAR, 2009) antiinflamatória, antitumoral e antifúngica (MAKKAR
e BECKER, 1997; MANI et al., 2007). O óleo, extraído das sementes, pode ser
usado para tratamento da gota, dores reumáticas e doenças cardiovasculares
(MANI et al., 2007). Cáceres e colaboradores (1992) observaram que a infusão
de sementes em água quente apresenta atividades antiespasmódica,
antiinflamatória e diurética. Há vários relatos mostrando que as folhas possuem
propriedade hipotensiva, antimicrobiana e abortífera (JAHN et al., 1986;
CÁCERES et al., 1992; UDUPA et al., 1994; FAISI et al., 1995; MARLES e
FARNSWORTH, 1995). Taihliani e Kar (1999) sugeriram que extratos de folhas
de moringa podem ser usados, inclusive, para regulação de hipertireoidismo.
Em outro estudo, o extrato etanólico de folhas de moringa foi capaz de
apresentar atividade antiviral contra o HSV-1 (vírus Herpes simplex tipo 1). O
extrato inibiu o desenvolvimento do vírus in vitro, em ensaio de formação de
placas, e, também, retardou o desenvolvimento de lesões de pele, prolongou o
tempo médio de sobrevivência e reduziu a mortalidade de camundongos
infectados com o HSV-1 (LIPIPUN et al., 2003). As flores, que são comestíveis,
são diuréticas e usadas para aumentar o fluxo biliar (ROY et al., 2007).
Recentemente, foi verificado que suas raízes possuem compostos que podem
ser responsáveis pelas atividades antiviral, antiinflamatória, antiartrítica e
analgésica (ROY et al., 2007; SASHIDHARA et al., 2009).
Têm sido relatadas ainda atividades antiepilética, antiulcerativa e
hipoglicemiante para diversas partes da planta (CÁCERES et al., 1992; SINGH
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e KUMAR, 1999; MORIMITSU et al., 2000; KAR et al., 2003).
A moringa caracteriza-se por ser bastante resistente a doenças, sendo
afetada por poucas espécies de insetos (RAMACHANDRAN et al., 1980). É
bastante provável que componentes de natureza protéica possam estar
envolvidos na defesa da planta. Cáceres e colaboradores (1991), estudando
quatro partes da planta (raízes, casca, sementes, folhas secas e extrato de
folhas frescas), verificaram que extratos de folhas frescas e de sementes foram
capazes de inibir o crescimento de Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus
aureus. Extratos de sementes, obtidos a 56 oC e a 37 oC, e extrato de folhas
frescas, preparado a 25 oC, inibiram o crescimento de P. aeruginosa. O
crescimento de S. aureus foi, também, inibido pelo extrato de sementes
preparado a 56 oC. A extração realizada a temperatura superior a 56 °C não
mostrou atividade inibitória frente às bactérias testadas. Por outro lado,
nenhuma das partes vegetais avaliadas foi ativa contra Escherichia coli,
Shigella flexneri, Streptococcus pyogenes, Candidas albicans e, ainda, contra
seis fungos dermatófitos patogênicos e ovos de Ascaris lumbricoides. Atividade
antifúngica foi, também, detectada em extratos de moringa contra os seguintes
agentes patogênicos: Basidiobolus haptosporus, B. ranarum, Trichophyton
rubrum e T. mentagrophytes (NWOSU e OKAFOR, 1995). Em adição à
atividade antifúngica apresentada pela moringa, Hoan e Davide (1979)
observaram a ação nematicida das raízes da planta contra Meloidogyne
incognita, uma praga do tomate. Os únicos relatos na literatura sobre a
atividade de proteínas de sementes de moringa sobre fungos fitopatogênicos
são os trabalhos de Gomes (2002) e Gifoni (2005).
2.1.6 - Aspectos Nutricionais
A moringa se destaca, também, por sua grande importância na
alimentação. Seus frutos são comestíveis, assim como as folhas, flores e
sementes (MAKKAR e BECKER, 1997; ANWAR e BHANGER, 2003;
SIDDHURAJU e BECKER, 2003; BEZERRA et al., 2004).
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Nas regiões secas, o cultivo da moringa é vantajoso uma vez que suas
folhas podem ser colhidas quando nenhum outro vegetal fresco está disponível.
Na Índia e África, a moringa é encontrada crescendo em áreas próximas à
cozinha e em quintais, onde as folhas são colhidas diariamente para uso em
sopas, molhos e saladas (MATOS, 2002).
Um estudo da composição química das folhas de moringa revelou uma
quantidade razoável de proteínas (aproximadamente 8,1%), carboidratos
(14,1%), minerais e vitaminas (JAHN, 1992). Tais folhas são, particularmente,
ricas em vitamina A, B, C e E, cálcio, ferro e fósforo (PALADA, 1996; MAKKAR
e BECKER, 1997; OLIVEIRA et al., 1999; SHANKER et al., 2007; BEN SALEM
e MAKKAR, 2009), constituindo-se numa boa fonte de antioxidantes naturais
(SIDDHURAJU e BECKER, 2003). A concentração de vitamina A detectada
nas folhas corresponde, em média, a 23 mil UI/100 gramas, destacando-se de
fontes reconhecidas por possuírem altos teores de vitamina A, como brócolis
(5,0 mil UI), cenoura (3,7 mil UI), couve (2,2 mil UI), espinafre (1,9 mil UI) e
alface (1,0 mil UI) (SILVA e KERR, 1999; BEZERRA et al., 2004). Em alguns
países, é recomendado o consumo de folhas de moringa para combater a má
nutrição em crianças (BEN SALEM e MAKKAR, 2009).
As flores podem ser utilizadas, também, na nutrição humana/animal.
Todavia, elas devem ser consumidas cozidas ou misturadas a outros
alimentos. Similarmente, os frutos verdes são muito nutritivos, contendo todos
os aminoácidos e são preparados de forma similar às ervilhas verdes,
possuindo um sabor próximo ao dos aspargos. As raízes são tuberosas e fonte
de condimentos picantes (OLIVEIRA et al., 1999; RICHTER et al., 2003).
O óleo extraído das sementes, conhecido comercialmente por “Ben oil”
ou “Behen oil”, é rico em esterol, tocoferol e flavonóides. Além disso, 72,2% de
seus ácidos graxos correspondem ao ácido oléico, igualando-se ao óleo de
oliva (RASHID et al., 2008). A este percentual de ácido oléico seguem-se 7,5%
de ácido esteárico e, 7,0% de palmítico (ANWAR e BHANGER, 2003). Mais de
80% de seu conteúdo são de ácidos graxos insaturados (BHUPTAWAT et al.,
2007).
A TABELA 1 mostra os dados da composição centesimal de sementes
de moringa. Os resultados obtidos mostram que as sementes possuem
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elevados teores de proteína, chegando a ser maiores do que os valores
calculados para leguminosas de importância na alimentação humana, cujas
sementes, em geral, contêm cerca de 18 a 25% do peso seco de proteínas
(SINGH e SINGH, 1992). Nesta tabela, as variações encontradas nos
componentes determinados podem ser justificadas por diferenças no clima e
solo das regiões de onde foram coletadas as sementes.
Determinação da análise elementar de sementes de moringa, realizada
no Laboratório de Nutrição Animal da Embrapa Tabuleiros Costeiros, revelou
teores de 26% de óleo, 27% de proteína e 44% de digestibilidade. Para o
resíduo das sementes após a extração do óleo, o teor de proteína subiu para
34% e a digestibilidade para 56%. Estes resultados foram considerados
promissores tendo em vista a possibilidade de uso do resíduo das sementes na
nutrição animal. Entretanto, ratos em crescimento alimentados com uma dieta
cujas proteínas (10%) provinham unicamente da farinha de sementes de
moringa sofreram sérios distúrbios no crescimento, hiperplasia do intestino e
atrofia de vários órgãos chaves (OLIVEIRA et al., 1999). Efeitos indesejáveis
foram, também, observados em tilápias quando alimentadas com dietas
artificiais contendo 20% e 30% de folhas de moringa liofilizadas. Estes
incluíram, sobretudo, diminuição significante do crescimento (RICHTER et al.,
2003).
2.2 - Fungos Fitopatogênicos
Diversas espécies de fungos são capazes de causar prejuízos às
plantas (AGIZZIO et al., 2003). Cerca de 20% das perdas anuais na produção
agrícola mundial são devidos a doenças causadas por fungos fitopatogênicos
(CHAPAGAIN et al., 2007). Estes são organismos heterotróficos, eucariotos,
aclorofilados, portadores de esporos, que podem viver como parasitas ou
simbiontes em associação comensal com outros organismos. Suas estruturas
somáticas são, na maioria, constituídas de filamentos ramificados, cujas
paredes contêm quitina (SIQUEIRA e FRANCO, 1988; MENEZES e OLIVEIRA,
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TABELA 1 - Composição química de sementes de Moringa oleifera
Componente Percentual (A) Percentual (B) Percentual (C)
Proteína bruta 38,4 33,3 29,4
Óleo 34,7 41,2 40,4
Carboidrato 23,7 21,1 23,6
Minerais 3,2 4,4 6,6
Fonte: (A) RAMACHANDRAN et al. (1980).
(B) OLIVEIRA et al. (1999).
(C) ANWAR e BHANGER (2003).
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18
1993). A parede celular deve ser relativamente rígida para proteger a célula
das pressões externas e do próprio turgor, bem como, suficientemente
maleável para permitir o crescimento do fungo (THEIS e STAHL, 2004; De
GROOT et al., 2005). A síntese da parede celular se dá no ápice de cada hifa,
em uma complexa seqüência de montagem (SELITRENNIKOFF, 2001).
Basicamente, a parede celular de fungos é composta por quitina, glucanos,
lipídios, peptídeos e uma matriz protéica, variando a proporção, concentração e
disposição desses elementos entre as espécies, ou entre fases do ciclo de vida
da mesma espécie (HARDHAM e MITCHELL, 1998; LIPKE e OVALLE, 1998;
SELITRENNIKOFF, 2001; De GROOT et al., 2005).
A quitina é um biopolímero insolúvel, linear, composto por subunidades
de N-acetilglucosamina unidas por ligações β-(1,4). É o segundo polímero mais
abundante na natureza, ficando atrás apenas da celulose (AUNPAD e
PANBANGRED, 2003). Juntamente com o β-1,3-glucanos, a quitina é o
principal componente da parede celular de fungos (ZEKINS e SCHREMPF,
1995). A inibição da síntese de quitina em leveduras e fungos filamentosos
resulta na biogênese anormal da parede celular (WANG e GRANADOS, 2000).
A parede confere proteção à célula fúngica ao mesmo tempo em que permite o
transporte de nutrientes, água e minerais. Diante disso, pode-se inferir que a
quitina desempenha um importante papel funcional. A degradação desse
polímero por quitinases, ou mesmo sua interação com proteínas ligantes,
podem alterar ou destruir a estrutura da parede celular. Justamente por causa
disso, esse polissacarídeo torna-se o alvo principal de muitas proteínas de
defesa de plantas.
Para que a infecção da planta pelo fungo aconteça é necessário o
desenvolvimento de uma maquinaria física e química especializada, de acordo
com a seguinte seqüência de eventos: primeiro, há a liberação de moléculas
adesivas para a fixação do fungo à superfície da planta; em seguida, ocorre a
secreção de enzimas hidrolíticas que lisam a parede celular vegetal e outros
componentes, possibilitando a penetração e a nutrição do fungo; por último,
ocorre a diferenciação de estruturas de infecção especializadas para dar
continuidade à colonização (HARDHAM e MITCHELL, 1998).
Como já mencionado, a espécie F. solani causa graves prejuízos na
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agricultura, danificando plantas de feijão, soja, ervilha, batata, maracujá e
pimenta-do-reino, acometendo-as da podridão vermelha da raiz, que resulta na
murcha na parte aérea da planta infectada, tornando-a inviável. Pelos prejuízos
causados, principalmente, às culturas de soja e feijão, plantas estudadas em
nosso laboratório, e pela praticidade de manuseio e cultivo, escolheu-se este
fungo para os estudos da atividade antifúngica de uma proteína de sementes
de M. oleifera, cujo isolamento e caracterização são descritos neste trabalho.
2.3 - Proteínas Vegetais de Defesa
As plantas acumulam muitos tipos de proteínas de defesa nos seus
tecidos mais vulneráveis. A síntese de algumas destas proteínas é induzida por
agentes bióticos ou abióticos específicos; outras são expressas
constitutivamente (VAN DEN BERGH et al., 2002). Muitos dos mecanismos de
defesa vegetal concentram-se nas sementes, uma vez que elas são o veículo
de propagação e sobrevivência da espécie. Seus tecidos podem acumular,
constitutivamente ou após indução, uma vasta gama de compostos defensivos,
que conferem resistência contra predadores fitófagos e nematóides, bem como
infecção por vírus, bactérias e fungos (CARLINI e GROSSI-DE-SÁ, 2002).
Várias são as proteínas de planta que estão supostamente envolvidas
na defesa vegetal. Exemplos bem conhecidos são as lectinas, as proteínas
inativadoras de ribossomos (RIPs dos tipos 1 e 2), os inibidores de enzimas
proteolíticas e as glico-hidrolases (BOWLES, 1990; CHRISPEELS e RAIKHEL,
1991; PEUMANS e VAN DAMME, 1995; KOIWA et al., 1997). Outras proteínas
envolvidas são as arcelinas, a canatoxina e formas modificadas de proteínas
de reserva (CARLINI e GROSSI-DE-SÁ, 2002). Há também um grupo particular
de proteínas de defesa composto por pequenos peptídeos ricos em cisteína
com propriedades antimicrobianas. Este grupo, chamado AMP (“antimicrobial
peptides”), compreende diferentes famílias de proteínas, tais como tioninas,
defensinas, proteínas de transferência de lipídios, peptídios tipo heveína e tipo
knotina (VAN DEN BERGH et al., 2002).
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
20
Durante os anos 1990, muitas proteínas de plantas capazes de inibir o
crescimento de fungos in vitro foram isoladas e caracterizadas, mas, nenhuma
delas de Moringaceae. Dentre essas proteínas, genericamente chamadas de
proteínas antifúngicas (AFPs), encontram-se glucanases, quitinases, proteínas
tipo taumatina, muitas famílias de peptídeos básicos ricos em cisteína,
proteínas ligantes à quitina, RIPs e inibidores de proteinases (GIUDICI et al.,
2000; LI e CLAESON, 2003).
Existe um grande grupo de proteínas de defesa vegetal conhecido como
PR-Proteínas ou proteínas relacionadas à patogênese. Este termo foi
primeiramente utilizado para descrever numerosas proteínas extracelulares que
se acumulavam em plantas de fumo (Nicotiana tabacum) infectadas com o
vírus do mosaico do tabaco (TMV) (VAN LOON e VAN KAMMEN, 1970;
GIANINAZZI et al., 1970). Essas plantas se mostraram resistentes ao ataque
de fungos. As PR-proteínas apresentam algumas características físico-
químicas e imunológicas comuns; isto permitiu que elas fossem reunidas em
diferentes grupos, de acordo com o grau de similaridade (STINTZI et al., 1993).
Atualmente, as PR-proteínas estão classificadas em 17 grupos, conforme
mostrado na TABELA 2. Muitas PR-proteínas possuem tanto atividade
antifúngica como atividade antibacteriana in vitro. Algumas delas encontram-se
expressas constitutivamente nas plantas, embora em baixos níveis; entretanto,
quando o vegetal é submetido a condições de estresse, seus níveis são
significativamente elevados. Outras, não são detectadas em condições
fisiológicas normais, porém, em condições de estresse, têm seus genes
correspondentes ativados (CHRISTENSEN et al., 2002).
2.3.1 - Proteínas Ligantes à Quitina
No presente trabalho daremos destaque especial às proteínas ligantes à
quitina, uma vez que a proteína antifúngica isolada de sementes de M. oleifera
e caracterizada aqui, se enquadra neste grupo.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
21
TABELA 2 - Famílias de Proteínas Relacionadas à Patogênese (PR-Proteínas)*
Família Membros Atividades
PR-1 Fumo PR-1a Antifúngico, anti-oomicetos
PR-2 Fumo PR-2 Β-1,3-glucanase
PR-3 Fumo P, Q Quitinase
PR-4 Fumo R Quitinase (Classe I)
PR-5 Fumo S Thaumatina-like
PR-6 Tomate Inibidor I Inibidor de protease
PR-7 Tomate P69 Endoproteinase
PR-8 Quitinase pepino Quitinase
PR-9 Peroxidase formadora de lignina/fumo
Peroxidase
PR-10 Salsinha PR-1 Ribonuclease-like
PR-11 Quitinase classe V fumo Quitinase
PR-12 Defensinas Antifúngico
PR-13 Tioninas Antifúngico
PR-14 LTP4 cevada Proteína transferidora de lipídio
PR-15 OxOa cevada Oxalato oxidase
PR-16 OxOLP cevada Oxalato oxidase-like
PR-17 PRp27 fumo Desconhecida
*VAN LOON et al. (2006).
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
22
Muitas proteínas de plantas são capazes de se ligar à quitina, um
biopolímero de resíduos de N-acetilglucosamina (GlcNac) unidos por ligação β-
1,4, e/ou a seus oligômeros (ASENSIO et al., 2000). Todas as proteínas
ligantes à quitina, cuja seqüência aminoacídica é conhecida, contêm um motivo
estrutural comum de 30 a 43 resíduos de aminoácidos, com muitas cisteínas e
glicinas em posições conservadas, conhecido como domínio de ligação à
quitina ou domínio heveínico (RAIKHEL e LEE, 1993; ASENSIO et al., 2000;
TRINDADE et al., 2006).
Estudos têm sugerido que essas proteínas desempenham um papel na
defesa de plantas (COLOMBO et al., 2005). Tal proposição é devida a dois
fatos: o de nunca ter sido encontrada quitina em vegetais superiores (RAIKHEL
e LEE, 1993) e o de algumas dessas proteínas afetarem negativamente o
desenvolvimento de fungos e insetos, uma vez que polissacarídeos
constituídos por GlcNac estão presentes na constituição desses organismos
(RAUSCHER et al., 1999; ASENSIO et al., 2000; ZAREIE et al., 2002;
COLOMBO et al., 2005).
As proteínas ligantes à quitina podem ser divididas em diferentes
grupos: peptídeos do tipo heveína, lectinas, quitinases e peptídeos do tipo Ac-
AMP (Peptídeos Antimicrobianos de Amaranthus caudatus) (HUANG et al.,
2000). As lectinas ligantes à quitina têm sido bastante estudadas. Destas, a
melhor caracterizada é a lectina de germe de trigo (WGA) (MIRELMAN et al.,
1975). Ela consiste de quatro domínios heveínicos in tandem e não apresenta
atividade antifúngica (YANG e GONG, 2002). Outra proteína é a heveína, uma
merolectina monomérica de 5 kDa encontrada no látex da seringueira (Hevea
brasiliensis), possuindo 43 resíduos de aminoácidos e um único domínio de
ligação à quitina (VAN PARIJS et al., 1991; ASENSIO et al., 2000; COLOMBO
et al., 2005); ela toda é conhecida como domínio heveínico. Outras lectinas
com afinidade por quitina têm sido estudadas, como aquelas encontradas em
sementes de Chelidonium majus, Phytolacca americana, Urtica dioica (UDA),
Oryza sativa, Triticum aestivum, Solanum tuberosum, Lycopersicon
esculentum, dentre outras (RAIKHEL e LEE, 1993; CARLINI e GROSSI-DE-SÁ,
2002; TRINDADE et al., 2006).
Experimentos com preparações purificadas, livres de quitinases,
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
23
demonstraram que a maioria dessas lectinas não tem atividade antifúngica
(BROEKAERT et al., 1992). Apenas um pequeno número exibe tal propriedade,
como exemplo, a heveína e os Ac-AMPs (VAN PARIJS et al., 1991). De acordo
com esses autores, heveína em altas concentrações (500-2000 µg/mL) inibe o
crescimento de hifas do fungo Pyrenophore triticirepentis, assim como sua
germinação. Além das proteínas citadas, as lectinas de S. tuberosum e U.
dioica (UDA) também inibem o crescimento e desenvolvimento de fungos,
perturbando a síntese e/ou deposição de quitina na parede celular
(BROEKAERT et al., 1989). Como conseqüência, a morfologia do micélio é
afetada. Entretanto, a UDA não chega a ter ação fungicida (VAN PARIJS et al.,
1992).
Outro grupo bastante estudado de proteínas ligantes à quitina é o das
quitinases. Essas são enzimas que hidrolisam a quitina (CHEONG et al., 2000;
YE e NG, 2005). Elas pertencem à família III de PR-proteínas ou PR-3 e têm
sido agrupadas de acordo com suas características estruturais e seqüências de
aminoácidos (SELITRENNIKOFF, 2001). As enzimas da Classe I (hoje
conceituadas como quimerolectinas) possuem 39 a 42 resíduos de
aminoácidos N-terminais (domínio heveínico), apresentando alta similaridade
com os domínios de ligação à quitina presentes na heveína, UDA e WGA. As
quitinases da Classe II, por não possuírem esse grupamento N-terminal, não
são capazes de se ligar à quitina (YE e NG, 2005). Ambas, porém, apresentam
atividade quitinásica, pois a ação do sítio catalítico da enzima independe do
sítio de ligação a carboidratos. As da Classe III não se assemelham
estruturalmente com os outros tipos e apresentam atividade lisozímica. As
outras classes incluem: Classe IV, cujas enzimas apresentam alta similaridade
com as da Classe I (SANTOS et al., 2004); Classe V, tendo como característica
o fato de seus membros possuírem dois domínios de ligação à quitina
(GOMES, 2002) e Classe VI, cujos componentes são similares a algumas
quitinases bacterianas (SANTOS et al., 2004). Atividade contra fungos tem sido
detectada em algumas quitinases. Quitinases de folhas de feijão inibem o
crescimento de alguns fungos in vitro (SCHLUMBAUM et al., 1986). Yamamoto
e colaboradores (1995) isolaram duas isoformas de quitinase (CH-1 e CH-2) de
células do mesófilo de Wasabia japonica, sendo essas capazes de inibir o
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24
crescimento do fungo T. hamatum. Além disso, plantas transgênicas “super
expressando” quitinases mostraram aumento de resistência a diversos
patógenos quitinosos (VAN SCHELTINGA et al., 1994).
Além de lectinas e quitinases que se ligam à quitina, outras classes de
proteínas com afinidade a este polímero são bastante estudadas. Huang e
colaboradores (2000) purificaram um peptídeo antifúngico ligante à quitina de
folhas de Ginkgo biloba, o GAFP, que possui massa molecular de 30 kDa e
apresenta atividade quitinásica. O peptídeo foi capaz de inibir o crescimento de
Pellicularia sasakii, Alternaria alternata, Fusarium graminearum e F.
moniliforme. No entanto, não teve efeito sobre o crescimento de Phytophthora
boehmeriae. Van den Bergh e colaboradores (2002) descreveram um novo
AMP tipo heveína, isolado da casca de Euonymus europaeus. Tal peptídeo
ligante à quitina, denominado Ee-CBP, caracteriza-se pela presença de 10
resíduos de cisteína ligados por pontes dissulfeto e por apresentar forte
atividade antifúngica. Ensaios de difusão em ágar demonstraram que Ee-CBP
foi capaz de inibir o crescimento dos fungos fitopatogênicos Botrytis cinerea e
Neurospora crassa em concentrações tão baixas quanto 5 µg/mL, e dos fungos
Alternaria brassicicola e Fusarium culmorum em concentrações de 10 µg/mL.
Ensaios comparativos em placas de microtitulação mostraram que Ee-CBP
exibiu uma atividade antifúngica mais forte do que Ac-AMP2, para a maioria
dos fungos testados. Note-se que esse peptídeo (Ac-AMP2) é considerado
como um dos polipeptídeos antifúngicos do tipo heveína mais potentes (VAN
DEN BERGH et al., 2002). Os mesmos pesquisadores verificaram um efeito
severamente deletério de Ee-CBP sobre a morfologia dos esporos de A.
brassicola e N. crassa.
Yang e Gong (2002) purificaram e caracterizaram uma proteína ligante à
quitina, induzida por etileno, com atividade antifúngica, de folhas de Hydrangea
macrophylla. Tal proteína foi denominada HM30 e sua massa molecular
aparente determinada por SDS-PAGE foi de 33,0 kDa. Apesar de se ligar à
quitina, HM30 não apresentou níveis detectáveis de atividade quitinásica nem
de atividade hemaglutinante. Quando testada contra dez fungos
fitopatogênicos, HM30 exerceu potente efeito inibitório sobre o crescimento de
oito destes. Além disso, inibiu a germinação de esporos de Aspergillus niger e
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25
Alternaria alternata, sem, no entanto, afetar o crescimento de A. niger.
Lee e colaboradores (2003) verificaram que dois peptídeos ligantes à
quitina de Pharbitis nil, denominados de Pn-AMP1 (41 resíduos de
aminoácidos) e Pn-AMP2 (40 resíduos), exibiram atividade antifúngica contra
um largo espectro de patógenos. É interessante notar que esses peptídeos
interagiram tão fortemente com a quitina, que a eluição requereu aquecimento
do complexo com SDS a 100 oC, por 3 minutos. Mesmo após esse tratamento,
os peptídeos inibiram o crescimento de B. cinerea. Por outro lado, quando
reduzidos por DTT, os peptídeos foram incapazes de se ligar à coluna e de
apresentar atividade contra fungos. Os autores verificaram, ainda, que o fato de
os Pn-AMPs se ligarem à quitina não estava relacionado à atividade
antifúngica, pois, Phytophthora capsici, que não possui quitina na parede
celular, foi também afetado pelos Pn-AMPs. Os resultados indicam que quitina
na parede celular não é um requerimento para o efeito antifúngico dos Pn-
AMPs. No entanto, as pontes dissulfeto são essenciais tanto para a ligação à
quitina, quanto para a atividade antifúngica.
Li e Claeson (2003) descobriram uma proteína “PR-like” rica em cisteína
e glicina. Trata-se de uma pequena proteína ligante à quitina do tipo heveína,
presente em sementes de aveia, designada avesina A, representando a
primeira proteína do tipo heveína isolada de grãos de cereais.
De uma forma particular, as proteínas ligantes à quitina, propriamente
ditas, poderiam agrupar-se na família IV de PR-proteínas, ou PR-4. Esta família
caracteriza-se por reunir proteínas de pI básico, baixa massa molecular,
variando de 3,1 a 20 kDa (THEIS e STAHL, 2004), capazes de se ligar à
quitina, mas que não apresentam atividade hemaglutinante ou quitinásica.
Tem sido proposto que o mecanismo de ação antifúngica das proteínas
que se ligam à quitina esteja relacionado ao tamanho dessas moléculas, visto
que lectinas de gramíneas com massa molecular de 36 kDa não apresentam
atividade antifúngica, enquanto que a UDA (8,5 kDa) e a heveína (5 kDa)
apresentam atividade comprovada (HUANG et al., 2000). Talvez, o pequeno
tamanho da proteína seja necessário para a entrada pelos poros e interação
com a parede celular dos fungos (RAIKHEL e LEE, 1993). Money (1990),
analisando o fungo Achyla bisexualis, mostrou que proteínas com massas
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moleculares maiores que 15-20 kDa não eram capazes de passar através dos
poros da parede celular.
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33.. OOBBJJEETTIIVVOOSS
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3.1 - Objetivo Geral
Purificar e caracterizar físico-química e biologicamente uma proteína
antifúngica, ligante à quitina, presente em sementes de Moringa oleifera
Lamarck.
3.2 - Objetivos Específicos
� Purificar uma proteína ligante à quitina presente em sementes de
moringa;
� Caracterizar físico-quimicamente a proteína;
� Avaliar a atividade antifúngica in vitro da proteína sobre Fusarium solani
por meio de ensaios de inibição da germinação de esporos e do
crescimento micelial;
� Avaliar o mecanismo de ação da atividade antifúngica da proteína.
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44.. MMAATTEERRIIAAIISS
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4.1 - Sementes
Sementes de Moringa oleifera Lamarck foram coletadas de árvores
situadas na Avenida Mister Hull e no Campus do Pici, da Universidade Federal
do Ceará (UFC), na cidade de Fortaleza, Ceará, durante o último trimestre de
cada ano, de 2005 a 2008.
4.2 - Eritrócitos
Eritrócitos utilizados nos ensaios de aglutinação foram obtidos de
amostras de sangue de coelho albino adulto (linhagem Nova Zelândia),
mantido no biotério do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da
UFC, bem como de sangue humano, dos tipos A, B e 0, proveniente do
HEMOCE (Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará).
4.3 - Modelo Experimental
Fungo
O fungo fitopatogênico Fusarium solani e o oomiceto Pythium
oligandrum foram obtidos da coleção mantida no Laboratório de Proteínas
Vegetais de Defesa, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da
UFC.
4.4 - Reagentes Químicos
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Acrilamida, ácido sulfúrico, albumina sérica bovina (BSA), bisacrilamida,
“Coomassie Brilliant Blue” G e R, p-dimetilaminobenzaldeído (DMAB), glicerol,
glucoronidase (Tipo HP-2, 132.000 Unidades/mL), N-acetil-D-glucosamina,
guaiacol, marcadores de massa molecular, persulfato de amônio, quitina,
quitina coloidal, quitinase e TEMED foram obtidos da Sigma Chemical Co., St.
Louis, EUA. β-mercaptoetanol e dodecil sulfato de sódio foram obtidos da
Merck, Darmstadt, Alemanha. Os demais reagentes utilizados foram de grau
analítico e obtidos comercialmente.
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55.. MMÉÉTTOODDOOSS
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5.1 - Preparação da Farinha de Sementes de Moringa oleifera
5.1.1 - Obtenção da Farinha
Sementes de M. oleifera Lam. foram destegumentadas manualmente. As
amêndoas foram trituradas em liquidificador e, posteriormente, em moinho
elétrico para café.
5.1.2 - Delipidação da Farinha
A farinha obtida foi tratada com n-hexano, na proporção 1:10 (m/v), sob
exaustão de capela à temperatura ambiente, até a completa remoção dos
lipídios. Após delipidação, a farinha foi deixada sobre papel de filtro até a
evaporação total do solvente. Uma vez delipidada, a farinha foi acondicionada
em frascos hermeticamente fechados e conservada a 4 °C.
5.2 - Purificação das Proteínas Ligantes à Quitina de M. oleifera
5.2.1 - Extração de Proteínas
O esquema de extração das proteínas presentes na farinha das
sementes de moringa está mostrado na FIGURA 2. A farinha delipidada (30 g)
foi posta em contato com o tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo NaCl
0,15 M, na proporção de 1:10 (m/v) e deixada sob agitação contínua por 4 h,
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34
FIGURA 2 - Esquema de obtenção do extrato total das proteínas das sementes
de M. oleifera.
FARINHA DE SEMENTE DE
MORINGA DELIPIDADA
Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo NaCl 0,15 M
4 h sob agitação, 4 oC
Filtração em pano de trama fina
RESÍDUO FILTRADO
Centrifugação 15 000 x g, 30 min, 4 oC
RESÍDUO SOBRENADANTE
EXTRATO TOTAL
Filtração em papel
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a 4 °C. Em seguida, a suspensão foi filtrada em pano de trama fina. O resíduo
obtido foi descartado. O filtrado foi centrifugado a 15.000 x g, 30 minutos, 4 °C;
o precipitado foi descartado e o sobrenadante obtido foi filtrado em papel e
denominado de Extrato Total.
5.2.2 - Obtenção das Frações Albumina e Globulina
O extrato total foi dialisado exaustivamente contra água destilada, 4 ºC,
sob agitação, em membranas de poro de 12 kDa, com o objetivo de separar as
albuminas e globulinas. A suspensão obtida foi centrifugada a 15.000 x g, por
30 minutos, 4 ºC. O precipitado (globulinas) foi descartado e o sobrenadante
(albuminas) utilizado para prosseguimento da purificação.
5.2.3 - Concentração da Fração Albumina
Para a obtenção das proteínas ligantes à quitina, a fração albumina foi
concentrada por precipitação com sulfato de amônio, 90% de saturação. Após
um tempo de contato de 12 h, tal suspensão foi centrifugada a 15.000 x g, 40
minutos, 4 ºC. O precipitado foi ressuspenso em tampão de extração (vol.
aprox. 20 mL), dialisado contra o mesmo tampão (para a retirada do sulfato de
amônio) e utilizado na etapa cromatográfica posterior.
5.2.4 - Cromatografia de Afinidade em Coluna de Quitina
A matriz de quitina (Sigma), cujo volume era 93 mL, foi equilibrada com
tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo NaCl 0,15 M. A fração albumina
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(835 mgP) foi centrifugada a 8.000 x g, 5 minutos, 4 oC e aplicada na coluna
(31,0 x 3,0 cm). As proteínas não retidas foram eluídas com o mesmo tampão
de equilíbrio; já a fração retida na coluna foi eluída, primeiramente, com N-
acetil-D-glucosamina 0,1 M (PNAG) e, em seguida, com ácido acético 0,05 M
(PAC). As frações eluídas foram monitoradas por leitura de absorbância a 280
nm (espectrofotômetro tipo Novaspesc II, Pharmacia). O material não retido na
coluna foi descartado, enquanto que PNAG e PAC foram dialisados contra ácido
acético 0,1 M (para a retirada de carboidratos) e água destilada, liofilizados e
acondicionados em frascos hermeticamente fechados, a 4 oC. O esquema
geral de obtenção das proteínas ligantes à quitina pode ser visualizado na
FIGURA 3.
5.2.5 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de DEAE-Celulose
A matriz de DEAE-Celulose (Sigma), cujo volume era 21,6 mL, foi
equilibrada com tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0. PNAG (5 mg) diluído em 2 mL
do mesmo tampão foi aplicado na coluna. O material não retido foi eluído com
o mesmo tampão de equilíbrio. O retido foi eluído com um gradiente linear de 0
a 1 M de NaCl adicionado ao tampão de equilíbrio. As frações eluídas foram
monitoradas por leitura de absorbância a 280 nm (espectrofotômetro tipo
Novaspesc II, Pharmacia). O resultado pode ser visto no Anexo.
5.2.6 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de CM-Celulose
A matriz de CM-Celulose (Sigma), cujo volume era 21,6 mL, foi
equilibrada com tampão acetato de sódio 0,1 M, pH 4,5. PNAG (5 mg) diluído em
2 mL do mesmo tampão foi aplicado na coluna. O material não retido foi eluído
com o mesmo tampão de equilíbrio. O retido foi eluído com gradiente linear
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37
FIGURA 3 - Esquema geral de purificação das proteínas ligantes à quitina
(PNAG e PAC) a partir do extrato total.
EXTRATO TOTAL
Diálise exaustiva em água destilada (poro de 12 kDa) Centrifugação 15.000 x g, 30 min, 4 oC
SOBRENADANTE PRECIPITADO
ALBUMINA GLOBULINA
MATERIAL NÃO RETIDO
MATERIAL RETIDO
Precipitação a 0-90% (NH4)2SO4
Centrifugação 15.000 x g, 40 min, 4 °C Diálise em Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo NaCl 0,15 M Cromatografia em coluna de Quitina
Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo NaCl 0,15 M
PAC
Eluição com N-acetil-D-glucosamina 0,1 M
Eluição com ácido acético 0,05 M
PNAG
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de 0 a 1 M de NaCl adicionado ao tampão de equilíbrio. As frações eluídas
foram monitoradas por leitura de absorbância a 280 nm (espectrofotômetro tipo
Novaspesc II, Pharmacia). O resultado pode ser visto no Anexo.
5.2.7 - Cromatografia de Exclusão Molecular em Coluna de Sephadex G-50
A matriz de Sephadex G-50 (Sigma), cujo volume era 188 mL, foi
equilibrada com tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0. PNAG (5 mg) diluído em 2 mL
do mesmo tampão foi aplicado na coluna, cujo void era de 60,5 mL. O material
foi eluído com o mesmo tampão de equilíbrio. As frações eluídas foram
monitoradas por leitura de absorbância a 280 nm (espectrofotômetro tipo
Novaspesc II, Pharmacia). O resultado pode ser visto no Anexo.
5.2.8 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna de Fenil-Sepharose
A matriz de Fenil-Sepharose (Sigma), cujo volume era 20 mL, foi
equilibrada com tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo Sulfato de amônio 1
M. PNAG (10 mg) diluído em 2 mL do mesmo tampão foi aplicado na coluna. O
material não retido foi eluído com o mesmo tampão de equilíbrio. O retido foi
eluído em step wise, com concentrações decrescentes de sulfato de amônio, a
saber: 0,8, 0,6, 0,4, 0,2 e 0 M. Em seguida, a coluna foi lavada com água e
etanol 70%. As frações eluídas foram monitoradas por leitura de absorbância a
280 nm (espectrofotômetro tipo Novaspesc II, Pharmacia). O resultado pode
ser visto no Anexo.
5.2.9 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C-18 acoplada a
HPLC
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39
A coluna de C-18 foi equilibrada com ácido trifluoracético (TFA) 0,1%.
PNAG (300 µg) diluído em 50 µL de TFA 0,1% foi aplicado na coluna. O material
não retido foi eluído com a mesma solução de equilíbrio. O retido foi eluído em
gradiente de 0 a 100% de acetonitrila. As frações eluídas foram monitoradas
por leitura de absorbância a 280 nm. O resultado pode ser visto no Anexo.
5.2.10 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C2-18 acoplada a
HPLC
A coluna de C2-18 foi equilibrada com ácido trifluoracético (TFA) 0,1%.
PNAG (1 mg) diluído em 100 µL de TFA 0,1% foi aplicado na coluna. O material
não retido foi eluído com a mesma solução de equilíbrio. O retido foi eluído em
gradiente de 0 a 100% de acetonitrila. As frações eluídas foram monitoradas
por leitura de absorbância a 280 nm. O resultado pode ser visto no Anexo.
5.2.11 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna Resource S Acoplada a um
Sistema de FPLC
A coluna (1 mL) foi previamente equilibrada com o tampão acetato de
sódio 0,05 M, pH 5,2. A 15 mg de PNAG foram adicionados 2 mL do mesmo
tampão e, após solubilização, a amostra foi centrifugada a 15.000 x g por 15
minutos, a 4 °C (centrífuga refrigerada de bancada eppendorf). O sobrenadante
foi aplicado à coluna e o material não retido eluído com o tampão de equilíbrio.
As proteínas retidas na matriz foram eluídas em step wise pela adição de
concentrações crescentes de NaCl ao tampão de eluição. A princípio, foram
testadas as concentrações de 0,1 a 1 M de NaCl, aumentando em 0,1 a
molaridade. O resultado deste teste revelou que os materiais retidos eram
eluídos com 0,4, 0,5, 0,6 e 0,7 M de NaCl no tampão. As frações eluídas foram
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
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monitoradas por leitura de absorbância a 280 nm. O esquema de purificação
das proteínas ligantes à quitina de M. oleifera, denominadas Mo-CBP, é
mostrado na FIGURA 4.
5.3 - Caracterização Bioquímica de Mo-CBP3
5.3.1 - Determinação de Proteínas
Para determinação de proteínas do extrato total, da fração albumina e
dos picos cromatográficos foi utilizada a metodologia descrita por Bradford
(1976). A 100 µL de amostra, em diferentes concentrações, foram adicionados
2,5 mL do reagente de Bradford. A mistura foi agitada e após 10 minutos em
repouso foram feitas leituras das absorbâncias a 595 nm (espectrofotômetro
tipo Novapesc II, Pharmacia). A concentração protéica foi estimada através de
uma curva padrão obtida a partir de concentrações conhecidas de albumina
sérica bovina (BSA).
5.3.2 - Determinação da Massa Molecular por Eletroforese em Gel de
Poliacrilamida
O perfil eletroforético das frações resultantes do processo de purificação
foi analisado segundo a técnica de Laemmli (1970), adaptada para o uso de
placas medindo 10,0 x 8,0 cm. O gel de aplicação encerrava 3,5% de
acrilamida e 1,0% de SDS, preparados em tampão Tris-HCl 0,5 M, pH 6,8; o de
separação, 15,0% de acrilamida e 1,0% de SDS, em tampão Tris-HCl 3,0 M,
pH 8,8.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
41
FIGURA 4 - Esquema da purificação de Mo-CBP3 a partir da fração protéica
retida em matriz de quitina e eluída com N-acetil-D-glucosamina
0,1 M (PNAG).
PNAG (Proteínas Ligantes à Quitina eluídas com N-acetil-D-glucosamina)
Diálise em ácido acético 0,1 M e água destilada Liofilização Ressuspensão em tampão acetato de sódio 0,05 M, pH 5,2 Centrifugação 15.000 x g, 15 min, 4 °C Cromatografia de troca iônica em Resource S – FPLC, equilibrada com tampão acetato de sódio 0,05 M, pH 5,2
Tampão de equilíbrio
P1 (Mo-CBP1)
P2 (Mo-CBP2)
Tampão de equilíbrio contendo NaCl 0,4 M
Tampão de equilíbrio Contendo NaCl 0,5 M
P3 (Mo-CBP3)
P4 (Mo-CBP4)
Tampão de equilíbrio Contendo NaCl 0,6 M
P5 (Mo-CBP5)
Tampão de equilíbrio Contendo NaCl 0,7 M
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
42
As amostras foram dissolvidas, na concentração de 1 mg/mL, em
tampão Tris-HCl 0,0625 M, pH 6,8, contendo SDS 1,0%, na presença ou não
de β-mercaptoetanol 1,0%. Em seguida, as amostras foram aquecidas a 100
°C, por 10 minutos, e centrifugadas a 10.000 x g, 5 minutos, a 10 °C. Aos
sobrenadantes, foram acrescentados cristais de sacarose e azul de bromofenol
a fim de conferir densidade e cor às amostras, respectivamente. Alíquotas das
amostras foram aplicadas no gel, o qual foi submetido a uma corrente de 20
mA, durante 2 h. As bandas protéicas foram visualizadas por coramento com
“Coomassie Brilliant Blue” R-250 0,05%, dissolvido em uma solução de
metanol, ácido acético e água (1,0:3,5:8,0 v/v/v), por um período de 2 h. Em
seguida, foi procedido o descoramento do gel com solução de metanol, ácido
acético e água (1,0:3,5:8,0 v/v/v). Como marcadores de massa molecular foram
usados: fosforilase B (97,0 kDa), albumina sérica bovina (67,0 kDa), albumina
do ovo (45,0 kDa), anidrase carbônica bovina (29,0 kDa), inibidor de tripsina de
soja tipo Kunitz (20,1 kDa) e α-lactalbumina (14,2 kDa). Comparação das
mobilidades das bandas protéicas em relação àquelas dos marcadores foi
empregada para o cálculo da massa molecular aparente das proteínas em
análise.
5.3.3 - Determinação da Massa Molecular por Cromatografia de Exclusão
Molecular
Uma alíquota de 100 µL de Mo-CBP3 (2 mg/mL), preparada em tampão
acetato de sódio 0,05 M, pH 5,2, contendo NaCl 0,15 M, foi filtrada em
membrana de 0,45 µm (Millipore) e submetida à cromatografia de exclusão
molecular em coluna de Superose 12 HR 10/30, equilibrada com o mesmo
tampão. O processo cromatográfico foi desenvolvido em sistema FPLC (coletor
Pharmacia LKB FRAC-100) e monitorado por meio de leituras de absorbância a
280 nm. Antes da corrida com a amostra, a coluna foi calibrada com os
seguintes marcadores de massa molecular: álcool desidrogenase (150,0 kDa),
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
43
albumina sérica bovina (67,0 kDa), ovalbumina (45,0 kDa), tripsinogênio (24,0
kDa) e citocromo C (12,4 kDa). A massa molecular de Mo-CBP3 foi calculada
relacionando-se os volumes de eluição e massas moleculares dos marcadores
com o volume de eluição da proteína.
5.3.4 - Determinação do Ponto Isoelétrico (pI) de Mo-CBP3
Para determinação do ponto isoelétrico, a proteína Mo-CBP3 foi
submetida à eletroforese bidimensional, utilizando-se um aparelho Multiphor II
(Amersham Pharmacia Biotech), seguindo as instruções do fabricante e
modificações feitas por Görg et al. (2000). Na primeira parte do experimento,
uma tira de gel do tipo “immobiline dry strip” (13 cm, pH 3-10) foi reidratada
com 200 µL de uma solução de reidratação contendo a proteína (0,25 mg/mL).
A focalização isoelétrica (corrida de primeira dimensão) foi realizada de acordo
com o seguinte programa: 1 h a 200 V; 1,5 h a 500 V; 2,5 h a 5.000 V e 10.000
V até atingir 18.000 Vhs. Na segunda parte do experimento, foi realizada a
eletroforese em presença de SDS. Para a corrida em segunda dimensão, foram
utilizadas placas medindo 18,0 x 16,0 cm e gel de separação encerrando 15%
de acrilamida. Depois de corrida a primeira dimensão, a tira de gel foi colocada
em contato com o gel, sendo a segunda corrida realizada a uma corrente
constante de 50 mA, por 6 h. Como marcadores de massa molecular foram
usados: fosforilase B (97,0 kDa), albumina sérica bovina (67,0 kDa), albumina
do ovo (45,0 kDa), anidrase carbônica bovina (29,0 kDa), inibidor de tripsina de
soja tipo Kunitz (20,1 kDa) e α-lactalbumina (14,2 kDa). O gel foi então corado
com “Coomassie Brilliant Blue” R-250 0,05% dissolvido em uma solução de
metanol, ácido acético e água (1,0:3,5:8,0 v/v/v), por um período de 2 h. Em
seguida, procedeu-se o descoramento do gel com solução de metanol, ácido
acético e água (1,0:3,5:8,0 v/v/v) até a visualização das bandas. Os discos
foram analisados por medições segundo variação de pH da tira, utilizando-se o
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
44
programa ImageMaster 2D Platinum v6.0 (Amersham Biosciences). O
procedimento foi ainda refeito, utilizando-se uma tira de pH de 6,0 a 11,0.
5.3.5 - Avaliação da Mo-CBP3 em Eletroforese sob Condições Nativas
Os experimentos de eletroforese nativa para proteínas básicas foram
conduzidos de acordo com o método descrito por Reisfeld et al. (1962) e
adaptado para géis em placas. O gel de aplicação, encerrando uma
concentração de 3,5% de poliacrilamida, foi preparado em tampão acetato de
potássio 0,25 M, pH 6,8. O gel de separação foi preparado na concentração de
15% de poliacrilamida em tampão acetato de potássio 1,5 M, pH 4,3. A solução
utilizada nas câmaras catódica e anódica foi o tampão β-alanina-ácido acético
0,35 M, pH 4,5. A proteína liofilizada foi dissolvida em tampão acetato de
potássio 0,25 M, pH 6,8 (2,5 mg/mL). A amostra foi centrifugada a 7000 x g, por
3 minutos. Em seguida, foram adicionados ao sobrenadante obtido 2 mg de
sacarose e 2 µL de fucsina básica, e aplicados de 10 a 20 µL por poço. As
condições estabelecidas para a corrida foram 160 V e 30 mA. A corrida durou
cerca de 5 h, a 4 °C. Ao término da corrida, o gel foi corado em solução corante
“Coomassie Brilliat Blue” 1%, durante 2 h e descorado em solução de ácido
acético, água destilada e metanol (1:8:3,5, v/v/v).
5.3.6 - Detecção de Glicoproteína em Gel
A determinação da natureza glicídica de Mo-CBP3 foi avaliada por meio
de eletroforese na presença de SDS, cujo gel foi revelado pelo método do
Ácido Periódico de Schiff (PAS), descrito por Zacharius e colaboradores (1969).
Os géis e a amostra foram preparados como descrito no item “5.3.2”, bem
como as condições de corrida utilizadas. Ao término da corrida, o gel foi
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
45
embebido em uma solução fixadora de ácido acético a 7,5% e, após 1 h, foi
transferido para uma solução de ácido periódico a 0,2%, na qual permaneceu
por 45 minutos, a uma temperatura de 4 °C. Em segui da, o gel foi corado com
o Reagente de Schiff (Sigma), a 4 °C, por mais 45 m inutos. O descoramento foi
feito com uma solução de metabissulfito de potássio 0,5% em HCl 0,05 M.
5.3.7 - Determinação de Carboidratos
O conteúdo de carboidratos totais neutros de Mo-CBP3 foi determinado
pelo método fenol-sulfúrico descrito por Dubois et al. (1956), tendo glucose
como açúcar padrão, adaptado para o uso de placas de microtitulação
(MASUKO et al., 2005).
5.3.8 - Determinação da Sequência NH2-terminal de aminoácidos
A seqüência de aminoácidos NH2-Terminal de Mo-CBP3 foi determinada
através do método de degradação de Edman, utilizando-se um seqüenciador
automático de proteínas (Shimadzu, modelo PPSQ). Para tanto, uma amostra
da proteína (2 mg/mL) foi submetida à eletroforese em gel de poliacrilamida
contendo SDS (LAEMMLI, 1970) e, em seguida, eletrotransferida (sistema
“trans blot”, Multiphor II Pharmacia-LKB) para membrana de polivinil difluoreto
(PVDF). A eletrotransferência foi conduzida a 50 V, 150 mA, por 90 minutos. Ao
término, a membrana foi saturada com metanol 100%, para retirada do excesso
de glicina e, em seguida, lavada com água grau milli-Q e corada com
“Coomassie Brilliant Blue” R-250 0,1% em metanol 50% e ácido acético 1%,
por 15 minutos. Decorrido esse tempo, a membrana foi descorada com uma
solução de metanol 50% e ácido acético 1%, a qual foi trocada várias vezes até
a visualização das bandas protéicas. As regiões da membrana
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
46
correspondentes às bandas foram cortadas com uma lâmina de bisturi e, após
serem totalmente descoradas em tubos do tipo eppendorf, foram lavadas
exaustivamente com água grau Milli-Q e submetidas à determinação da
seqüência de aminoácidos NH2-terminal. Os derivados feniltioidantoína dos
aminoácidos (PTH-aminoácidos) foram detectados a 269 nm, após separação
em uma coluna de fase reversa C18 (4,6 x 2,5 mm), conduzida sob condições
isocráticas de acordo com as instruções do fabricante. A seqüência obtida foi
submetida ao alinhamento automático com outras sequências já depositadas
em banco de dados por meio do sistema NCBI-BLAST.
5.3.9 - Determinação da Atividade Hemaglutinante
O ensaio de atividade hemaglutinante foi realizado seguindo a
metodologia descrita por Moreira e Perrone (1977). As amostras a serem
dosadas foram submetidas a diluições seriadas em tubos de ensaio na
presença de NaCl 0,15 M (1/2, 1/4, 1/8, 1/16 etc). A 100 µL de cada diluição, foi
adicionado igual volume de uma suspensão de hemácias (2%), tratadas ou não
com a enzima proteolítica tripsina. Foram utilizados sangue de coelho e sangue
humano dos tipos A, B, AB e O. A amostra foi também testada na presença de
cátions divalentes Ca++ e Mn++ (0,005 M). Os tubos foram incubados a 37 °C,
por 30 minutos e, posteriormente, deixados em repouso por mais 30 minutos, à
temperatura ambiente, sendo, então, centrifugados a 3.000 x g, 30 segundos. A
visualização dos aglutinados foi feita a olho nu e os resultados foram expressos
em unidade de hemaglutinação (UH), definida como o inverso da maior diluição
da amostra ainda capaz de aglutinar hemácias.
A técnica utilizada para tratamento enzimático dos eritrócitos foi a
descrita por Lis e Sharon (1972). Inicialmente, as amostras de sangue foram
lavadas três vezes com NaCl 0,15 M. Em seguida, foi adicionada a enzima
tripsina na proporção de 0,1 mg para 10 mL da suspensão de eritrócitos 2%.
Essa suspensão foi incubada por 1 h, 4 °C, sob agitações ocasionais e
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
47
centrifugada a 3.000 x g, 5 minutos. Os eritrócitos tratados foram novamente
lavados com NaCl 0,15 M (6 vezes) e o "pellet” de células resultante suspenso
em um volume de NaCl 0,15 M para obtenção de hemácias a 2%.
5.3.10 - Determinação da Atividade de Quitinase (CH; EC 3.2.1.14)
As atividades endo- e exoquitinolíticas foram determinadas segundo o
método colorimétrico descrito por Boller (1993), usando como parâmetro a
liberação de N-acetil-D-glucosamina (NAG) a partir da ação hidrolítica das
enzimas sobre a quitina coloidal. Inicialmente, a atividade quitinolítica total foi
determinada por incubação de 250 µL da amostra com 250 µL da quitina
coloidal (BOLLER, 1992), a 37 °C, durante 2 h e, em seguida, fervidos em
banho-maria por 5 minutos. Os tubos, após resfriamento, foram centrifugados a
10.000 x g, 25 °C, por 10 minutos, e alíquotas de 300 µL foram retiradas e
incubadas com 10 µL da solução de glucoronidase (EC 3.2.1.31), a 37 °C, por
1 h. A solução de glucoronidase usada nos ensaios foi preparada por diálise da
preparação bruta de Helix pomatia (Tipe HP-2, 132.000 Unidades/ml) com
tampão acetato de sódio 0,05 M, pH 5,2, e diluição (10 vezes) com o mesmo
tampão de reação. Nas atividades exoquitinolíticas, apenas 250 µL da amostra
foram incubados com 250 µL da quitina coloidal, a 37 °C, por 2 h e, após esse
tempo, os tubos foram fervidos por 5 minutos. Para avaliar a liberação de NAG,
em ambos os ensaios, 310 µL do hidrolisado foram misturados com 190 µL de
acetato de sódio 0,05 M, pH 5,2, e 100 µL de tetraborato de sódio e potássio
0,6 M. Os tubos foram novamente fervidos por 5 minutos, resfriados e a estes
acrescentados uma solução de p-dimetilaminobenzaldeído (DMAB), preparada
dissolvendo-se 10,0 g de DMAB em 100 mL de ácido acético glacial contendo
12,5% (v/v) de ácido clorídrico 11,5 M. As leituras foram realizadas a 585 nm
(espectrofotômetro tipo Novapesc II, Pharmacia). Para cálculo da quantidade
de açúcar liberado na reação, uma curva padrão construída com
concentrações variadas (100 a 500 µM) de N-acetil-D-glucosamina foi utilizada
(REISSIG et al., 1955). A atividade quitinolítica foi expressa em nKat/mgP,
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
48
onde 1 nKat equivale a 1 nmol de N-acetil-D-glucosamina liberado por
segundo.
5.3.11 - Determinação da Atividade de β-1,3-glucanase (GLU E.C. 3.2.1.6)
A atividade de β-1,3-glucanase foi avaliada de acordo com o método
descrito por Boller (1993), pelo qual se detecta a glucose liberada no meio
reacional como conseqüência da hidrólise da laminarina, usada como
substrato. A solução de laminarina (2 mg/mL), diluída em tampão acetato de
sódio 0,05 M, pH 5,2, foi aquecida a 60 °C, por 10 minutos, e exaustivamente
dialisada contra o mesmo tampão para remoção de glucose livre. Alíquotas de
100 µL da amostra Mo-CBP3 (2 mg/mL) foram incubadas com 900 µL da
solução de laminarina, a 50 °C, por 30 minutos. Em seguida, foi adicionado 1
mL da solução “D” (1 mL da solução “B” + 25 mL da solução “A”) e a mistura
incubada a 100 °C, por 20 minutos. A solução “A” co ntinha 25 g de carbonato
de sódio + 25 g de tartarato de sódio e potássio + 20 g de bicarbonato de sódio
+ 200 g de sulfato de sódio anidro + H2O grau Milli-Q q.s.p. 1000 mL. A solução
“B” continha 15 g de sulfato de cobre pentahidratado + 20 µL de ácido sulfúrico
concentrado + H2O grau Milli-Q, q.s.p. 100 mL. Após resfriamento dos tubos, foi
adicionado 1 mL da solução “C” (3 g de arseniato de sódio heptahidratado +
H2O grau Milli-Q q.s.p. 25 mL), e estes agitados até a completa remoção de
gases sendo, então, deixados em repouso por 5 minutos. As leituras de
absorbância foram feitas a 520 nm. Para cálculo da quantidade de açúcar
liberado na reação foi utilizada uma curva padrão construída a partir de
concentrações variadas de glucose (7,5 a 240 µg/mL), preparadas em tampão
acetato de sódio 0,05 M, p H 5,2. A atividade de β-1,3-glucanase foi expressa
em nKat/mgP, onde 1 nKat equivale a 1 nmol de glucose liberado por segundo.
5.3.12 - Determinação da Atividade Coagulante
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
49
A Determinação da atividade coagulante de Mo-CBP3 foi realizada de
acordo com o protocolo descrito por Ghebremichael e colaboradores (2005),
com algumas modificações. Uma suspensão de argila (obtida da lagoa do
Porangabussu) em água, na concentração de 5 g/100 mL, foi preparada sob
agitação contínua por 15 minutos. Em seguida, a suspensão foi deixada em
bancada, à temperatura ambiente, overnight, para sedimentar o excesso de
partículas. A absorbância a 500 nm (OD500) do sobrenadante foi de 1,296. A 2
mL do sobrenadante, em cubetas de plástico de 3 mL, foram adicionados 10 µL
de uma solução de Mo-CBP3, a 10 mg/mL, resultando numa concentração final
de 50 mg/L. O mesmo foi válido para o controle, que consistiu de uma solução
de sulfato de alumínio e potássio; este reagente é usado comercialmente para
precipitar matéria em suspensão na água durante seu tratamento para torná-la
potável. Foram feitos ainda um segundo controle, que consistiu da adição de
10 µL de água aos 2 mL de água barrenta, e um terceiro, com BSA. Após a
adição da amostra teste e controle, os sistemas foram agitados e deixados
sedimentar naturalmente, em bancada, enquanto procedidas as leituras das
absorbâncias de cada cubeta, a 500 nm. As absorbâncias foram lidas antes e
imediatamente após a aplicação das amostras, seguindo-se a cada 5 minutos,
por 2 h. Todos os testes foram feitos em triplicata. Um gráfico comparativo de
absorbâncias foi gerado a partir dos dados resultantes. Os resultados também
podem ser visualizados por fotografias no tempo final do experimento.
5.4 - Ensaios Biológicos
5.4.1 - Avaliação da Atividade Antifúngica
Cultivo dos Fungos
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
50
As culturas foram mantidas em meio ágar batata-dextrose (PDA), à
temperatura ambiente. O meio de cultura consistiu em 39 g de ágar batata-
dextrose (Difco) dissolvidos em 1 L de água grau Milli-Q, q.s.p., preparado sob
banho-maria com água em ebulição, sendo este meio autoclavado por 20
minutos, a 120 oC, 1,5 kgf/cm2 (14,71 x 104 Pa) e distribuído (20 mL) em placas
de Petri com 10 cm de diâmetro, nas quais o fungo foi repicado. Os “pellets”
repicados do meio de cultura foram colocados no centro das placas de Petri,
que foram fechadas sob condições estéreis em capela de fluxo laminar.
Obtenção dos Esporos
Após os fungos terem tomado todo o diâmetro da placa de Petri,
aproximadamente doze dias do repique (cultura fresca), essas foram abertas
em câmara de fluxo laminar e adicionados 5 mL de água grau Milli-Q. Com o
auxílio de uma alça de Drigalski, manuseada suavemente sobre a superfície da
cultura, os esporos foram retirados deixando-os suspensos em água. A
suspensão contida em cada placa foi filtrada em malha de nylon para a
remoção das hifas. A concentração dos esporos foi ajustada para 2,0 x 105
esporos/mL após contagem em câmara de Neubauer, ao microscópio óptico
(Olympus System Microscope BX 60), com aumento de 400 x.
Ensaio de Inibição da Germinação dos Esporos de Fusarium solani
O efeito in vitro da proteína sobre a germinação de esporos foi
determinado usando-se placas de Petri de poliestireno com depressões
(Prolab), seguindo metodologia adaptada por Ji e Kué (1996), como descrito a
seguir. 10 µL de uma suspensão de esporos de F. solani (2 x 105 esporos/mL)
foram adicionados por célula. 10 µL da solução de Mo-CBP3, nas
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
51
concentrações de 0,1, 0,075, 0,05 e 0,025 mg/mL (1, 0,75, 0,5 e 0,25 µg), em
água, foram adicionados às células contendo a suspensão de esporos.
Também foram testadas as amostras nas concentrações anteriores pré-
incubadas com o açúcar N-acetil-D-glucosamina 0,15 M, por 30 minutos, ou
pré-aquecidas a 98 °C por 1 h. Para fins de control e, foram utilizados água
destilada, peróxido de hidrogênio 0,1 M e N-acetil-D-glucosamina 0,15 M. Cada
tratamento e controle foram realizados em triplicata. As placas foram deixadas
em recipiente contendo papel de filtro embebido em água destilada e
incubadas no escuro, à temperatura ambiente, sendo a análise monitorada a
partir de 24 h em microscópio óptico (Olympus System Microscope BX 60).
Esporos foram considerados germinados caso apresentassem tubo germinativo
de, ao menos, duas vezes o seu comprimento.
Ensaio de Inibição do Crescimento Micelial
O ensaio de inibição do crescimento fúngico foi conduzido
essencialmente como descrito por Mauch et al. (1988) e Broekaert et al. (1989),
adaptado para o uso de placas de microtitulação (JI e KUÉ, 1996). Foi utilizada
a mesma espécie de fungo. 200 µL de ágar batata-dextrose (Difco Lab.) foram
adicionados aos poços das placas. Após a solidificação do meio, 10 µL de uma
suspensão de esporos na concentração de 2,0 x 105 esporos/mL foram
adicionados a cada poço. Os esporos foram postos para germinar no escuro, à
temperatura ambiente. Doze horas depois, foram adicionadas as amostras de
Mo-CBP3 dissolvidas em água grau Milli-Q estéril (solução filtrada em
membrana de 0,22 µm, Millipore) nas concentrações finais de 0,5, 0,1 e 0,05
mg/mL. Cada tratamento foi conduzido com três repetições. Os controles
utilizados foram água grau Milli-Q e H2O2 0,1 M. O crescimento fúngico foi
monitorado visualmente.
Para avaliar mais detalhadamente o efeito de Mo-CBP3 sobre as hifas
jovens de F. solani, um novo protocolo experimental foi desenvolvido. 40 µL da
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
52
suspensão de esporos a 2 x 105 esporos/mL foram colocados em tubos do tipo
“eppendorf” e deixados germinar no escuro, à temperatura ambiente. Ao final
de 24 h, os tubos foram centrifugados a 5.000 x g, por 1 minuto, para que as
hifas se depositassem no fundo do tubo e o excesso de água fosse retirado. O
“pellet” foi transferido para placas de Petri com meio PDA. 20 µL das amostras
e controles foram adicionados às hifas somente no meio de cultura. As placas
foram vedadas e o resultado visualizado após 48 h, sendo monitoradas por
uma semana. Para quantificação dos dados, os micélios formados em cada
tratamento e controle, tiveram seus raios medidos com o auxílio de um
paquímetro (Vonder) a cada 24 h, por cinco dias.
5.4.2 - Estudos do Mecanismo de Ação
Determinação da Natureza da Ação Antifúngica: Atividade Fungicida x
Fungistática
Para melhor compreender o tipo de ação antifúngica que Mo-CBP3
desempenha sobre os esporos de F. solani, foi desenvolvido um protocolo
experimental que atendesse às necessidades de elucidação de nossas
perguntas. O ensaio foi procedido em condições estéreis, tendo sido as
amostras filtradas em membrana de 0,22 µm e tudo manuseado em câmara de
fluxo laminar. 40 µL da suspensão de esporos a 2 x 105 esporos/mL foram
colocados em tubos do tipo “eppendorf” e, em seguida, adicionados 40 µL de
uma solução de Mo-CBP3 em água, nas concentrações finais de 0,1 e 0,05
mg/mL. Os tubos foram levemente agitados em vortex e deixados em repouso,
no escuro, à temperatura ambiente, por 24 h. As amostras foram também
testadas após tratamento a 98 °C, por 1 h ou depois de incubação com N-
acetil-D-glucosamina 0,15 M, por 30 minutos, a 37 °C. Os controles utilizados
foram água, peróxido de hidrogênio 0,1 M e N-acetil-D-glucosamina 0,15 M.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
53
Tratamentos e controles foram feitos em triplicata. Ao final de 24 h, os tubos
eppendorf foram centrifugados a 5.000 x g, por 1 minuto, para que os esporos
se depositassem no fundo do tubo. Com o intuito de se retirar o excesso de
proteína da presença dos esporos, e de saber se, sendo estes transferidos de
volta para um ambiente adequado ao seu desenvolvimento seriam ainda
capazes de crescer, ou não, foram desprezados, com a ajuda de uma pipeta,
60 µL do sobrenadante. Em seguida, foram acrescentados 20 µL de água e
seguiu-se nova agitação e centrifugação. 20 µL do sobrenadante foram
desprezados e o material restante precipitado foi homogeneizado com uma
pipeta e transferido para placas de Petri contendo meio de cultura ágar-batata-
dextrose (PDA), solidificado. As placas foram vedadas com filme plástico e o
resultado foi visualizado após 48 h.
Ensaio de Inibição da Germinação de Esporos e do Crescimento do Oomiceto
Pythium oligandrum
Para saber se a ação de Mo-CBP3 envolve sua interação com a quitina
da parede celular, os experimentos descritos nos subtópicos do tópico “5.4.1”
foram realizados também com o oomiceto Pythium oligandrum, o qual não
apresenta quitina na parede celular, mas sim, celulose.
Ensaio de Inibição da Acidificação do Meio, Induzida por Glucose
Este ensaio foi conduzido para avaliar a influência de Mo-CBP3 sobre as
bombas de prótons (H+ATPases) presentes na membrana celular do esporo do
fungo F. solani. O influxo de glucose para o interior da célula resulta num efluxo
de H+ para o meio externo, e, conseqüente acidificação do meio, em condições
normais. O experimento foi realizado como descrito por Agizzio e
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
54
colaboradores (2003), tendo sido modificado para o uso com F. solani. O
cultivo do fungo e a obtenção dos esporos se deram como descritos
anteriormente. A 3.990 µL de uma suspensão de esporos (2 x 105 esporos/mL)
em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,2, foram adicionados 10 µL de diferentes
quantidades de Mo-CBP3 dissolvida no mesmo tampão, de modo que as
concentrações finais fossem de 0,1 e 0,05 mg/mL. No controle, os esporos não
entraram em contato com a proteína. Após um período de incubação de 2 h,
em frascos de vidro de 10 mL, sob agitação (barra de 6 mm) e à temperatura
ambiente, o pH do meio foi medido. Em seguida, foi adicionado 1 mL de uma
solução de glucose 0,5 M, sempre sob agitação e, imediatamente depois, foi
novamente medido o pH do meio e a cada 5 minutos, por 1 h. Os testes foram
feitos em triplicata e os resultados representados como percentual de
acidificação em relação ao controle, considerado 100% de acidificação.
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55
66.. RREESSUULLTTAADDOOSS
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56
6.1 - Purificação da Proteína Ligante à Quitina Mo-CBP3
O protocolo de extração e purificação da proteína ligante à quitina
presente nas sementes de Moringa oleifera, Mo-CBP3, está sumarizado nas
FIGURAS 2, 3 e 4, mostradas em “Métodos”. O teor médio de proteína extraída
da farinha de sementes correspondeu a 216,44 mgP/gF. As albuminas
representaram 144,71 mgP/gF e a fração 0-90% apresentou um teor médio de
proteínas de 122,33 mgP/gF, representando, assim, 56,52% das proteínas do
extrato total.
A F 0-90% (835 mgP) quando submetida à cromatografia de afinidade em
coluna de quitina, previamente equilibrada com tampão Tris-HCl 0,05 M, pH
8,0, contendo NaCl 0,15 M, resultou na obtenção de um material protéico não
retido, retirado em um único pico com o tampão de equilíbrio, e de duas outras
frações protéicas retidas. Parte dessas proteínas adsorvidas à quitina foi eluída
com solução de N-acetil-D-glucosamina 0,1 M, e a outra pelo tratamento da
coluna, em seguida, com ácido acético 0,05 M, pH 3,0. As siglas PNAG e PAC
foram arbitrariamente adotadas para designar as frações protéicas eluídas com
N-acetil-D-glucosamina e ácido acético, respectivamente, e serão, doravante,
empregadas neste trabalho (FIGURA 5). O teor médio de proteína obtido para
PNAG (fração utilizada para dar prosseguimento à purificação de Mo-CBP3) foi
de 6,5 mgP/gF. O rendimento protéico em relação ao extrato total
correspondeu a 3,0%.
Na tentativa de avançar na purificação da fração PNAG, várias matrizes
cromatográficas foram utilizadas, sem êxito: troca iônica (DEAE-celulose, CM-
celulose e Resource S acoplada a FPLC), exclusão molecular (Sephadex G-
50), interação hidrofóbica (Phenil-Sepharose e C-18 e C2-18 acopladas a
HPLC). Os gráficos de tais cromatografias encontram-se no Anexo. No entanto,
a cromatografia realizada em Resource S possibilitou a purificação do material
de interesse. A fração PNAG (15 mgP) aplicada à coluna de troca catiônica,
Resource S (Pharmacia Biotech), equilibrada com tampão acetato de sódio
0,05 M, pH 5,2 foi fracionada em um pico não retido (Mo-CBP1) e em mais
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57
FIGURA 5 - Cromatografia de afinidade em coluna de quitina. Amostra (835
mg) da fração albumina concentrada com sulfato de amônio (F0-
90%), obtida a partir do extrato total de farinha de sementes de
Moringa oleifera, foi aplicada em coluna de quitina (31,0 x 3,0 cm)
equilibrada com tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 8,0, contendo NaCl
0,15 M. Pico 1 (P1) representa o material não retido eluído com
tampão de equilíbrio; Picos 2 (PNAG) e 3 (PAC) correspondem às
frações protéicas eluídas com N-acetil-D-glucosamina 0,1 M e
ácido acético 0,05 M, respectivamente. Fluxo: 60 mL/h; Frações:
3,5 mL.
0
1
2
3
0 50 100 150 200 250 300
Ab
s 2
80
nm
Frações (3,5 mL)
Glc-Nac0,1 M
Ác. Acético 0,05 M
P1
PNAG
PAC
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58
quatro outros picos retidos (Mo-CBP2 a Mo-CBP5) (FIGURA 6). Este padrão de
fracionamento obtido permitiu responder ao primeiro dos três questionamentos
formulados no início do trabalho. Das frações retidas na Resource S, aquela
eluída com o tampão de equilíbrio contendo NaCl 0,5 M se apresentou pura e
ativa contra F. solani. Assim sendo, essa proteína passou a ser chamada de
Mo-CBP3, sendo submetida às etapas de caracterização bioquímica e
funcional. O teor protéico médio calculado para a proteína purificada Mo-CBP3
foi de 1,17 mgP/gF, representando um rendimento final de 0,54% das proteínas
do extrato total (TABELA 3).
6.2 - Caracterização Bioquímica de Mo-CBP3
6.2.1 - Massa Molecular de Mo-CBP3 por Eletroforese em Gel de Poliacrilamida
na Presença de SDS
A FIGURA 7 mostra o perfil eletroforético da fração PNAG e de Mo-CBP3
sob condições desnaturantes (presença de SDS). A massa molecular aparente
da proteína foi em torno de 18,0 kDa, na ausência do agente redutor β-
mercaptoetanol, e 9,0 kDa, na presença deste. A comparação dos perfis
eletroforéticos na presença e ausência de β-mercaptoetanol sugere que Mo-
CBP3 é uma proteína oligomérica, porém, formada de subunidades idênticas.
Estas, provavelmente, estariam unidas por pontes dissulfeto, uma vez que o
tratamento com o agente redutor resultou numa única banda protéica. É
bastante provável que essas proteínas predominem na forma oligomérica nas
sementes, já que, durante o procedimento de purificação, as amostras obtidas
em cada etapa foram exaustivamente dialisadas em sacos com poros de
exclusão igual a 12 kDa, o que acarretaria a saída de proteínas com massas
moleculares menores ou iguais a esta para o meio.
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59
FIGURA 6 - Cromatografia de troca iônica em coluna Resource S, acoplada a
um sistema de FPLC. A fração retida na matriz de quitina e eluída
com N-acetil-D-glucosamina (PNAG; 15 mg), oriunda de sementes
de Moringa oleifera, foi aplicada na coluna (1,0 mL) de Resource
S, equilibrada com tampão acetato de sódio 0,05 M, pH 5,2. Mo-
CBP1 representa o material não retido eluído com tampão de
equilíbrio; Mo-CBP2, Mo-CBP3, Mo-CBP4 e Mo-CBP5
correspondem aos picos eluídos com adição de 0,4, 0,5, 0,6 e 0,7
M de NaCl ao tampão, respectivamente. Fluxo: 1 mL/min; Frações:
2,0 mL.
0
20
40
60
80
100
120
0
0,03
0,06
0,09
1 11 21 31 41 51 61 71 81
Per
cent
ual d
e N
aCl 1
,0 M
no
tam
pão
(%)
Abs
280
nm
Frações (2,0 mL)
Mo-CBP1
Mo-CBP2Mo-CBP3
Mo-CBP4
Mo-CBP5
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60
TABELA 3 - Teor protéico e rendimento das diferentes frações resultantes do
processo de obtenção de Mo-CBP3
Amostras
Teor Protéico
(mgP/gF) a Rendimento (%) b
Extrato total 216,44 ± 4,72 100,0
Albuminas 144,71 ± 1,74 66,63
F 0-90% 122,33 ± 2,04 56,52
PNAGc (Quitina) 6,50 ± 0,38 3,00
Mo-CBP3d (Resource S) 1,17 ± 0,07 0,54
Os resultados representam a média e o desvio padrão de seis experimentos
similares. a Valores calculados pelo método de Bradford (1976). Quantidade total de
proteína recuperada (mg), em cada etapa de purificação, a partir de 1 g de
farinha de Moringa oleifera. b Recuperação da proteína em cada etapa de purificação (extrato bruto igual a
100%). c Proteína ligante à matriz de quitina eluída com N-acetil-D-glucosamina 0,1 M. d Proteína ligante à quitina eluída da Resource S com tampão acetato de sódio
0,05 M, pH 5,2, contendo 0,5 M de NaCl.
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PNAG s/β c/β
FIGURA 7 - Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) sob condições
desna
mercaptoetanol. As proteínas foram coradas com
Brilliant Blue” R
Marcadores de massa molecular
ausência e presença de
Mo-CBP
presença de
Marcadores de massa molecular. C) PAGE
1: marcadores de massa molecular (diferentes fragmentos de
globina d
Raia 2:
A
- 18,0 kDa
9,0 kDa -
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Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) sob condições
desnaturantes (PAGE-SDS), na ausência e presença de
mercaptoetanol. As proteínas foram coradas com
Brilliant Blue” R-250 a 0,05%. A) PNAG (10 µg). Raia 1
Marcadores de massa molecular; Raias 2 e 3
ausência e presença de β-mercaptoetanol, respectivamente. B)
CBP3 (10 µg). Raias 1 e 2 – Mo-CBP
presença de β-mercaptoetanol, respectivamente
Marcadores de massa molecular. C) PAGE-SDS (17,5%). Raia
1: marcadores de massa molecular (diferentes fragmentos de
globina de coração de cavalo. A proteína inteira tem 16,9 kDa).
Raia 2: Mo-CBP3 em condições redutoras.
B
18,0 kDa
Mo-CBP3
s/β c/β
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61
Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) sob condições
SDS), na ausência e presença de β-
mercaptoetanol. As proteínas foram coradas com “Coomassie
(10 µg). Raia 1 -
; Raias 2 e 3 - PNAG na
, respectivamente. B)
CBP3 na ausência e
mercaptoetanol, respectivamente; Raia 3 -
SDS (17,5%). Raia
1: marcadores de massa molecular (diferentes fragmentos de
e coração de cavalo. A proteína inteira tem 16,9 kDa).
1 2
C
Mo-CBP3 c/β
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62
6.2.2 - Massa Molecular de Mo-CBP3 por Cromatografia de Exclusão Molecular
Relacionando-se os volumes de eluição e massas moleculares dos
marcadores ao volume de eluição da proteína, por cromatografia de exclusão
molecular, a massa molecular calculada de Mo-CBP3 foi de, aproximadamente,
14,34 kDa (FIGURA 8).
6.2.3 - Ponto Isoelétrico (pI) de Mo-CBP3
Após análise do disco obtido através da eletroforese 2D de Mo-CBP3
(ImageMaster 2D Platinum v6.0 - Amersham Biosciences), o ponto isoelétrico
determinado para a proteína foi de, aproximadamente, 10,8 (FIGURA 9).
6.2.4 - Comportamento de Mo-CBP3 em Eletroforese Nativa
Dada a natureza extremamente básica de Mo-CBP3, sua visualização
em gel de poliacrilamida, sob condições nativas, só foi possível utilizando-se
um protocolo para gel ácido, apropriado para proteínas básicas. Em condições
nativas, a proteína se comporta como sendo de cadeia única e não tem a
mobilidade muito alterada em relação ao gel com SDS. O resultado pode ser
observado na FIGURA 10.
6.2.5 - Presença de Carboidratos Covalentemente Ligados a Mo-CBP3
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63
FIGURA 8 - Cálculo da massa molecular de Mo-CBP3 por cromatografia de
exclusão molecular em coluna Superose 12 HR 10/30, acoplada a
um sistema de FPLC. Uma amostra (200 µg P) de Mo-CBP3 foi
aplicada na coluna (24 mL) equilibrada com tampão acetato de
sódio 0,05 M, pH 5,2, contendo NaCl 0,15 M, previamente
calibrada com as proteínas de massas moleculares conhecidas.
Fluxo: 0,3 mL/min. Frações: 1,5 mL/tubo.
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0 5 10 15 20 25
Ab
s 2
80
nm
Frações (1,5 mL)
Mo-CBP3
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64
FIGURA 9 - Eletroforese bidimensional em gel de poliacrilamida (15%) de Mo-
CBP3 (100 µg). A massa molecular e o ponto isoelétrico (pI)
calculados foram 14,3 kDa e 10,8, respectivamente.
pH 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 kDa
97,0
67,0
45,0
Mo-CBP3 14,3 kDa
pI 10,8
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FIGURA 10 - Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) para proteínas
básicas, sob condições nativas.
condições aplicadas foram 160 V e 30 mA, por 5 h, a 4 °C. Ao
término da corrida, o
Blue” R
ácido acético, água destilada e metanol (1:8:3,5, v/v/v).
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M
Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) para proteínas
básicas, sob condições nativas. Mo-CBP
condições aplicadas foram 160 V e 30 mA, por 5 h, a 4 °C. Ao
término da corrida, o gel foi corado com “Coomassie Brilliant
Blue” R-250 a 1,0%, durante 2 h e descorado em solução de
ácido acético, água destilada e metanol (1:8:3,5, v/v/v).
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65
Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) para proteínas
CBP3 (20 µg). As
condições aplicadas foram 160 V e 30 mA, por 5 h, a 4 °C. Ao
“Coomassie Brilliant
250 a 1,0%, durante 2 h e descorado em solução de
ácido acético, água destilada e metanol (1:8:3,5, v/v/v).
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66
Eletroforese na presença de SDS, revelada pelo método do Ácido
Periódico de Schiff (PAS) (FIGURA 11), mostrou que Mo-CBP3 trata-se de uma
glicoproteína. O teor de carboidratos, analisado segundo Dubois (1956), foi de
2,5% de açúcares neutros.
6.2.6 - Sequência NH2-terminal de Mo-CBP3
Uma vez confirmada, através de PAGE-SDS, a pureza de Mo-CBP3,
esta foi usada para a determinação da seqüência de aminoácidos NH2-
terminal. A seqüência NH2-terminal obtida foi CPAIQRCCQQLRNIQPPCRCCQ,
com 22 aminoácidos (TABELA 4). Ao ser submetida ao alinhamento automático
com outras seqüências já depositadas em banco de dados (NCBI/BLAST), a
seqüência de Mo-CBP3 apresentou 84% de identidade com uma proteína
recombinante com atividade floculante-coagulante de sementes de M. oleifera
(BROIN et al., 2002). Ao mesmo tempo, apresentou 73% de identidade com
outras três proteínas coagulantes de moringa isoladas por Gassenschmidt e
colaboradores (1995).
6.2.7 - Atividade Hemaglutinante
Mo-CBP3 (2 mg/mL) não foi capaz de aglutinar eritrócitos de coelho nem
de humanos, quer do tipo A, B, AB ou 0, mesmo quando tratados com tripsina
e na presença de cátions divalentes (Ca++ e Mn++).
6.2.8 - Atividade de Quitinase (CH; EC 3.2.1.14)
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67
FIGURA 11 - Eletroforese de Mo-CBP3 (10 µg) em gel de poliacrilamida (15%)
na presença de SDS. O gel foi revelado pelo método do Ácido
Periódico de Schiff (PAS), no qual as glicoproteínas são coradas.
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68
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
69
Nas condições testadas, Mo-CBP3 não apresentou atividade quitinolítica,
apesar de ter, pelo menos, um sítio de ligação à quitina.
6.2.9 - Atividade de β-1,3-glucanase (GLU E.C. 3.2.1.6)
Seguindo o procedimento descrito no item “5.3.11”, Mo-CBP3 não
apresentou atividade β-1,3-glucanásica.
6.2.10 - Atividade Coagulante
Durante todo o tempo do experimento, os controles que continham água
e BSA adicionados à suspensão de argila permaneceram com a absorbância
(500 nm) praticamente inalterada, sendo lenta a sedimentação. O controle
positivo com sulfato de alumínio e potássio apresentou queda constante na
absorbância, desde os primeiros minutos do experimento, até atingir
absorbância igual a zero dentro de 2 h. Mo-CBP3 comportou-se de maneira
similar ao AlK(SO4)2, na mesma concentração, mostrando-se tão eficiente
quanto este na capacidade de coagular matéria em suspensão na água. Um
gráfico comparativo de absorbâncias (FIGURA 12) foi gerado a partir dos
dados obtidos.
6.3 - Ensaios Biológicos
6.3.1 - Atividade Antifúngica
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70
FIGURA 12 - A) Atividade de coagulação de matéria em suspensão de Mo-
CBP3. 10 µL de uma solução de Mo-CBP3 (10 mg/mL) foram
adicionados a 2 mL de uma suspensão de argila em H2O
destilada (50 mg/mL), cuja absorbância inicial, a 500 nm, foi
1,296. Como controle negativo e positivo, respectivamente,
foram utilizados albumina sérica bovina (BSA) e sulfato de
alumínio e potássio [AlK(SO4)2], ambos na mesma concentração
de Mo-CBP3. H2O destilada foi também usada como controle
negativo. A atividade foi medida por meio de monitoramento da
Abs500 nm a cada 5 minutos, por 2 h. B) Fotografia ilustrativa das
cubetas que continham 2,0 mL de suspensão de argila, após 2 h
da adição dos controles e amostra-teste. Cubeta 1 – Água;
cubetas 2, 3, 4 e 5 - Suspensão de argila adicionada de água
destilada, Mo-CBP3, AlK(SO4)2 e BSA, respectivamente.
0
0,4
0,8
1,2
1,6
2
Abs
500
nm
Tempo (min)
Argila
AlKSO4
Mo-CBP
BSA
1 2 3 4 5
A
B
3
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71
Inibição da Germinação dos Esporos de Fusarium solani
O efeito in vitro de Mo-CBP3 sobre a germinação de esporos de F. solani
está mostrado na FIGURA 13. O ensaio durou 48 h, desde o contato dos
esporos com as amostras. Foram testadas as concentrações de 0,1, 0,075,
0,05 e 0,025 mg/mL da proteína pura. A menor concentração utilizada capaz de
causar inibição da germinação dos esporos foi 0,05 mg/mL, sendo total a
inibição (100% dos esporos testados). Na concentração de 0,025 mg/mL, todos
os esporos germinaram. Para avaliar a termoestabilidade da proteína, esta foi
aquecida a 98 °C durante os intervalos de tempo de 10, 20, 30 e 60 minutos. O
aquecimento da proteína a 98 °C, por 1 h, não foi s uficiente para desestabilizar
a molécula, mantendo sua atividade antifúngica mesmo nestas condições. Ao
ser pré-incubada com o açúcar N-acetil-D-glucosamina por 30 minutos, a 37
°C, Mo-CBP3 não teve sua ação revertida, mantendo-se ainda capaz de inibir a
germinação dos esporos.
Inibição do Crescimento Micelial
O resultado do ensaio em placas de microtitulação foi observado 48 h
após a adição dos controles e tratamentos. Mo-CBP3 não inibiu o crescimento
micelial de F. solani nas condições do ensaio. Contudo, a avaliação da inibição
do crescimento das hifas jovens pela medição do raio micelial (FIGURAS 14 e
15) mostrou que Mo-CBP3 não pára o crescimento do fungo, mas o inibe por
meio do retardo deste crescimento e que, o retardo é tanto maior quanto maior
for a dose administrada. A proteína pré-aquecida a 98 °C por 1 h ou pré-
incubada com N-acetil-D-glucosamina 0,15 M não inibiu o crescimento das
hifas jovens de F. solani, nas condições do experimento.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
72
FIGURA 13 - Fotomicrografia do ensaio de inibição da germinação dos
esporos de Fusarium solani. A) H2O destilada. B) Mo-CBP3
0,05 mg/mL (0,5 µg/2000 esporos). C) Mo-CBP3 (0,05
mg/mL) após aquecimento 98 °C, por 1 h. D) Mo-CBP3 (0,05
mg/mL) pré-incubada com o açúcar N-acetil-D-glucosamina
0,15 M. Visualização em microscópio óptico com 48 h.
Aumento de 400 x.
A B
C D
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
73
H2O NAG 0,15 M
Mo-CBP3 0,1 mg/mL
FIGURA 14 - Avaliação do efeito de Mo-CBP3 sobre o crescimento de hifas
jovens de Fusarium solani. 48 h após a germinação dos
esporos, o excesso de H2O foi retirado da presença do fungo
por meio de centrifugação a 5000 x g, 1 min, desprezando-se o
sobrenadante. Após homogeneização, as hifas foram
transferidas para placas de Petri contendo meio de cultura
ágar-batata-dextrose (PDA), com o auxílio de uma pipeta.
Foram adicionadas as amostras-teste e controle aos fungos já
no meio de cultura. O resultado foi visualizado 48 h após a
transferência. As diferentes amostras avaliadas foram: 1) H2O;
H2O2 0,1 M; Mo-CBP3 0,1 mg/mL e Mo-CBP3 0,05 mg/mL. 2)
NAG 0,15 M; Mo-CBP3 (0,1 mg/mL) 98 °C, 1 h; Mo-CBP3 (0,1
mg/mL) + NAG 0,15 M.
1 2
Mo-CBP3 0,05 mg/mL
H2O2 0,1 M
Mo-CBP3 0,1 M, 98°C, 1 h
Mo-CBP3 0,1 M, + NAG 0,15 M
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
74
FIGURA 15 - Avaliação do efeito inibitório de Mo-CBP3 sobre o crescimento
das hifas jovens de Fusarium solani. O monitoramento do
crescimento do micélio foi feito a cada 24 h por meio da medição
do raio micelial. P0,1 e P0,05 correspondem à proteína Mo-CBP3
nas concentrações de 0,1 mg/mL e 0,05 mg/mL,
respectivamente. Em azul é mostrado o desenvolvimento normal
do fungo na ausência da proteína.
0
5
10
15
20
25
30
35
72 96 120
Ra
io d
o m
icé
lio
(m
m)
Tempo (h)
água
P 0.05
P 0.1
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
75
6.3.2 - Estudos do Mecanismo de Ação
Natureza da Ação Antifúngica: Atividade Fungicida x Fungistática
O objetivo deste experimento foi verificar se os esporos de F. solani
ainda seriam capazes de voltar a germinar após serem transferidos do meio
hostil na presença de Mo-CBP3 para um ambiente com condições ideais para a
germinação como o meio de cultura PDA livre de proteína. Analisando as
FIGURAS 16 e 17, o tipo de ação antifúngica que Mo-CBP3 (0,1 mg/mL)
exerceu sobre os esporos de F. solani foi fungicida, uma vez que, retirados da
presença da proteína e de volta às condições favoráveis à sua germinação, os
esporos não mais foram capazes de se desenvolver. Entretanto, quando na
concentração de 0,05 mg/mL, os esporos conseguiram germinar, porém, com
um considerável retardo em relação ao controle com água. Quando os esporos
foram tratados com a proteína (0,1 mg/mL) aquecida a 98 °C, por 1 h, ainda
assim tiveram sua germinação inibida em 100% (FIGURA 13 C). No entanto,
ao serem devolvidos a condições ideais de germinação, na ausência da
proteína aquecida, se desenvolveram normalmente. A pré-incubação de Mo-
CBP3 (0,1 mg/mL) com N-acetil-D-glucosamina 0,15 M não reverteu a atividade
da proteína e a germinação dos esporos se manteve inibida mesmo depois da
transferência para a placa com meio de cultura.
Efeito Inibitório de Mo-CBP3 sobre a Germinação de Esporos e o Crescimento
do Oomiceto Pythium oligandrum
Para saber se Mo-CBP3 age no fungo por meio da interação com a
quitina da parede celular, os experimentos descritos nos subtópicos do tópico
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
76
H2O NAG 0,15 M
Mo-CBP3 0,05 mg/mL
FIGURA 16 - Avaliação da atividade fungicida x fungistática de Mo-CBP3
sobre a germinação dos esporos de Fusarium solani. 48 h
após a inibição (ou não) da germinação dos esporos, o
excesso de amostra foi retirado da presença do fungo por meio
de centrifugação a 5000 x g, 1 min, desprezando-se o
sobrenadante. O precipitado foi ressuspenso em H2O (20 µL) e
transferido para placas de Petri contendo meio de cultura ágar-
batata-dextrose (PDA). O resultado foi visualizado 48 h após a
transferência. As diferentes amostras avaliadas foram: 1) H2O;
H2O2 0,1 M; Mo-CBP3 0,1 mg/mL e Mo-CBP3 0,05 mg/mL. 2)
NAG 0,15 M; Mo-CBP3 (0,1 mg/mL) 98 °C, 1 h; Mo-CBP3 (0,1
mg/mL) + NAG 0,15 M.
1 2
Mo-CBP3 0,1 mg/mL
H2O2 0,1 M
Mo-CBP3 0,1 M, 98°C, 1 h
Mo-CBP3 0,1 M, + NAG 0,15 M
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FIGURA 17 - Avaliação da recuperação da capacidade de germinação dos
esporos de Fusarium solani quando retirados da presença de
Mo-CBP3. O monitoramento do crescimento do micélio foi feito a
cada 24 h por meio da medição do raio micelial. P0,1
corresponde à proteína Mo-CBP3 na concentração de 0,1
mg/mL, quantidade que foi capaz de matar, completamente, os
esporos do fungo. P0,05 corresponde à Mo-CBP3 na
concentração de 0,05 mg/mL. Em azul, é mostrado o
desenvolvimento normal do fungo na ausência da proteína.
0
5
10
15
20
25
30
35
72 96 120
Ra
io d
o m
icé
lio
(m
m)
Tempo (h)
água
P 0,05
P0,1
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
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“5.4.1” foram realizados também com a espécie de oomiceto Pythium
oligandrum, que não apresenta quitina na parede celular, mas sim, celulose.
Mo-CBP3 não apresentou nenhum efeito inibitório sobre os esporos ou hifas da
espécie (FIGURA 18), quando testada nas mesmas condições e concentrações
utilizadas para a espécie F. solani.
Inibição da Acidificação do Meio, Induzida por Glicose
Como mostrado na FIGURA 19, Mo-CBP3 foi capaz de inibir cerca de
80% da acidificação do meio, por esporos de F. solani, induzida por glicose, o
que sugere a influência de Mo-CBP3 sobre as bombas de prótons (H+ATPases)
presentes na membrana celular dos esporos deste fungo.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M
FIGURA 18 - Efeito de
esporos de
incapaz de causar efeito inibitório sobre os esporos ou hifas
do oomiceto. A) H
µg/2000 esporos). Fotografia em tamanho real.
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Efeito de Mo-CBP3 (0,1 mg/mL) sobre a germinação dos
esporos de Pythium oligandrum. Após 48 h: a proteína foi
capaz de causar efeito inibitório sobre os esporos ou hifas
do oomiceto. A) H2O destilada. B) Mo-CBP
µg/2000 esporos). Fotografia em tamanho real.
A B
Mo-CBP3
0,1 mg/mL
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(0,1 mg/mL) sobre a germinação dos
. Após 48 h: a proteína foi
capaz de causar efeito inibitório sobre os esporos ou hifas
3 0,1 mg/mL (1
µg/2000 esporos). Fotografia em tamanho real.
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80
FIGURA 19 - Alteração no pH do meio induzida por glucose 0,5 M sobre
esporos de Fusarium solani na presença da proteína Mo-CBP3.
Os esporos (2,0 x 105/mL) foram incubados com a proteína (50
µg/mL) num volume final de 4 mL em Tris-HCl 0,005 M, pH 7,2,
por 2 h. 1 mL de glucose 0,5 M foi adicionado ao meio e o pH
foi medido a cada 5 minutos por 1 h. O ensaio foi feito em
triplicata.
0
20
40
60
80
100
Controle Mo-CBP3
Per
cent
ual d
e A
cidi
ficaç
ão d
o M
eio
(%)
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
81
77.. DDIISSCCUUSSSSÃÃOO
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
82
Este trabalho relata a purificação, bem como a caracterização físico-
química e biológica, de uma proteína ligante à quitina, isolada de sementes de
Moringa oleifera Lam., denominada de Mo-CBP3 (Mo: M. oleifera e CBP: “Chitin
Binding Protein”). A designação “3” é proveniente do fato de que a proteína em
estudo, Mo-CBP3, é eluída no terceiro pico da cromatografia em coluna de
Resource S, que compreende uma etapa crucial em seu processo de
purificação.
O procedimento de extração de proteínas da farinha de sementes de
moringa resultou na obtenção de quantidade considerável de proteína, tendo o
extrato total apresentado teor médio de 216,44 ± 4,72 mgP/gF. Este resultado é
condizente com os elevados teores de proteína encontrados por
Ramachandran et al. (1980), Oliveira et al. (1999) e Anwar e Bhanger (2003),
mostrados na TABELA 1. Os resultados obtidos nesses estudos mostraram
que as sementes de moringa possuem um teor de proteína capaz de elevá-las
ao patamar de algumas leguminosas e cereais de grande importância na
alimentação humana, como a soja (MAEHLER et al., 2003) e o feijão comum
(MESQUITA et al., 2007). Gifoni (2005) encontrou um teor médio de proteínas
do extrato total de sementes de moringa igual a 75,74 ± 5,85 mgP/gF. O atual
teor calculado, cerca de 2,8 vezes (ou 190,5%) maior para o mesmo extrato,
pode ser explicado pela diferença no local e na época do ano em que a coleta
das sementes foi realizada, juntamente com um maior rigor no procedimento de
extração.
Após a etapa de separação das frações albumina e globulina, o teor
médio de proteínas da primeira fração foi calculado como sendo de 144,71 ±
1,74 mgP/gF, o que resultou em um rendimento de 66,63% de albumina em
relação ao extrato total. O processo de concentração acarretou uma pequena
perda de proteína, em torno de 15,5%, passando a ser de 122,33 ± 2,04
mgP/gF o teor médio calculado para a F 0-90%.
A cromatografia de afinidade da fração F 0-90% em coluna de quitina
mostrou que existe diferença na intensidade de interação com a matriz, entre
as frações PNAG e PAC. PNAG foi eluída da coluna por meio da competição pelo
sítio de ligação da proteína entre o açúcar e a matriz. Entretanto, PAC parece
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
83
interagir mais fortemente com a coluna, pois N-acetil-D-glucosamina, na
concentração 0,1 M, não foi forte o suficiente para desprendê-la. Sua eluição
foi possível apenas através da adição de uma solução bastante ácida (ácido
acético 0,05 M, pH 3,0). Somente o abaixamento do pH foi capaz de eluir PAC
da matriz, provavelmente, devido à conseqüente desnaturação da proteína,
abrindo sua estrutura tridimensional e alterando a conformação do sítio de
interação. O procedimento de diálise exaustiva das proteínas ligantes à quitina
(CBP; “Chitin Binding Proteins”), após serem eluídas da coluna, contra água
destilada, deve ter sido capaz de promover a renaturação das proteínas, devido
à “normalização” do pH, voltando estas à sua forma nativa.
Considerando juntas, as frações PNAG e PAC, pode ser afirmado que as
proteínas ligantes à quitina de sementes de M. oleifera correspondem a pouco
mais de 30% das proteínas do extrato total, bem como a 53,58% (ou seja, mais
da metade) das proteínas presentes na F 0-90%. Este resultado mostra que as
proteínas ligantes à quitina estão presentes em abundância nas sementes de
moringa, em relação às demais. Isoladamente, PNAG perfaz 5,31% das
proteínas da fração F 0-90%, enquanto PAC, 48,27%. A quantidade de proteína
obtida pelo tratamento da coluna com ácido acético é cerca de nove vezes
maior do que aquela retirada por competição com o monossacarídeo N-acetil-
D-glucosamina.
A fração escolhida para dar prosseguimento à purificação de Mo-CBP3
foi PNAG, por se tratar de um material eluído estritamente por afinidade –
portanto, mais puro – uma vez que para a eluição foi utilizado o monômero da
quitina, o monossacarídeo N-acetil-D-glucosamina, e não, a alteração de pH
referente ao segundo pico.
Ao ser aplicada em coluna de troca catiônica, Resource S, a fração PNAG
(15 mgP) resultou em um pico não retido (contendo proteínas de carga
negativa nas condições da corrida) e quatro picos retidos (FIGURA 6), dos
quais o segundo correspondeu à proteína Mo-CBP3, eluída com 0,5 M de NaCl
no tampão de equilíbrio. Eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS
(PAGE-SDS), de Mo-CBP3 revelou que a proteína purificada possui uma única
subunidade protéica de massa molecular aparente de cerca de 18,0 kDa em
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84
condições não redutoras e de 9,0 kDa na presença do agente redutor β-
mercaptoetanol. Uma explicação plausível para este fato seria a preservação,
em condições não redutoras, de possíveis pontes dissulfeto, por ventura
presentes na estrutura da proteína e/ou entre cadeias. Isto pode ser reforçado
pela grande proporção de cisteínas presentes na seqüência NH2-terminal da
proteína mostrada no item “6.2.8”. A comparação dos perfis eletroforéticos da
proteína na ausência e presença de β-mercaptoetanol, sugere que Mo-CBP3
seja uma proteína oligomérica, formada de subunidades idênticas que,
provavelmente, estão unidas por pontes dissulfeto (formando dímeros), uma
vez que o tratamento com o agente redutor resultou numa única banda
protéica, apresentando em torno de metade da massa apresentada pela banda
em condições não redutoras. Ademais, visto que, a cada etapa do processo de
purificação da proteína, as frações foram exaustivamente dialisadas em sacos
com poros de “cut off” de 12,0 kDa, e Mo-CBP3 foi recuperada, é bastante
provável que tal proteína predomine na forma oligomérica nas sementes.
Ainda com relação à massa molecular da proteína, os resultados dos
experimentos de cromatografia de exclusão molecular em coluna Superose 12
HR 10/30 (FIGURA 8), revelaram que Mo-CBP3 se trata de uma proteína com
massa molecular de 14,34 kDa, o que difere da massa molecular aparente
sugerida pelo ensaio de PAGE-SDS mostrado (FIGURA 7), que seria de cerca
de 18,0 kDa e 9,0 kDa na ausência ou presença, respectivamente, do agente
redutor β-mercaptoetanol. Uma explicação para tal fato pode ser a presença de
uma porção glicídica na estrutura da proteína Mo-CBP3, o que é constatado
pelo resultado mostrado na FIGURA 11. Por não sofrer desnaturação, e
geralmente apresentar ramificações, a porção de carboidratos de uma
glicoproteína dificulta sua mobilidade na malha do gel de poliacrilamida,
causando retardo que pode ser interpretado como uma massa molecular mais
elevada, depois de revelado o gel. A proteína que deveria aparecer na altura da
banda de 14,2 kDa (α-lactalbumina) no gel, aparece mais acima, próximo a
18,0 kDa. Uma vez que na cromatografia de exclusão molecular a proteína
corre intacta, não dependendo de desnaturação, tem-se como resultado a sua
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
85
massa molecular real. Sendo assim, as cadeias formadoras do dímero devem
apresentar massa molecular em torno de 7 kDa.
O conteúdo de cisteína pode ser considerado de grande relevância no
estudo das frações protéicas ligantes à quitina, visto que Mo-CBP3 mostrou
perfis eletroforéticos distintos quando tratada ou não com β-mercaptoetanol. A
presença do aminoácido cisteína em Mo-CBP3 é compartilhada com a WGA
(MIRELMAN et al., 1975) e com a heveína (VAN PARIJS et al., 1991). Acredita-
se que ele seja responsável pela ligação dessas proteínas à matriz de quitina.
Esse mesmo padrão também foi encontrado em proteínas com afinidade à
quitina de batata (Solanum tuberosum) (ALLEN et al., 1978), Chelidonium
majus (PEUMANS et al., 1985) e Datura stramonium (BROEKAERT et al.,
1987).
Ao final do procedimento de eletroforese bidimensional (item “6.2.3”) foi
possível calcular o ponto isoelétrico (pI) de Mo-CBP3, sendo este de,
aproximadamente, 10,8. Isto demonstra que Mo-CBP3 é uma proteína
extremamente básica, devendo ser formada, em sua estrutura primária,
predominantemente pelos aminoácidos arginina (R), lisina (K) e histidina (H). A
própria seqüência de aminoácidos NH2-terminal da proteína, explicitada no item
“6.2.6”, confirma esta hipótese, pois a predominância é de carga positiva a pH
7,0: dos 22 aminoácidos, três são arginina (carga positiva), sete são apolares
(sem carga) e doze possuem cadeia lateral polar não carregada. Por causa
dessa característica bastante básica de Mo-CBP3, só foi possível realizar
eletroforese nativa utilizando-se um protocolo especial com gel ácido,
adequado às proteínas básicas, como descrito no item “5.3.5” e visualizado na
FIGURA 10. Mo-CBP3 se apresenta com uma única banda, aparentemente
mantendo a mesma mobilidade que no gel desnaturante.
Seguindo a caracterização de Mo-CBP3, amostras (2 mg/mL) da proteína
não foram capazes de aglutinar eritrócitos de coelho ou de humanos (A, B, AB
e 0), mesmo quando tratados com tripsina e na presença dos cátions
divalentes Ca++ e Mn++. A ausência de atividade hemaglutinante em níveis
detectáveis nas amostras estudadas demonstra que, apesar de interagir com
quitina, a proteína pode não ser uma “lectina verdadeira” ou hololectina.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
86
Entretanto, o fato de Mo-CBP3 não se comportar como hololectina pode ser
devido ao não reconhecimento de carboidratos presentes na superfície dos
eritrócitos estudados, ou por possuir apenas um sítio de ligação, não
possibilitando a hemaglutinação direta. Isto poderia ocorrer se, quando na
forma dimérica, uma das subunidades tivesse seu sítio de ligação a carboidrato
impedido estericamente, por exemplo, ficando apenas um disponível. È
possível, também, que a proteína apresente uma preferência de ligação a
oligossacarídeos em relação a mono, di ou trissacarídeos. De acordo com a
classificação de lectinas mais aceita atualmente, por apresentar ao menos um
sítio não catalítico de interação com carboidrato, Mo-CBP3 pode ser
considerada uma merolectina, que é incapaz de aglutinar células ou precipitar
glicoconjugados, devido à presença de um único sítio de ligação a carboidrato
(PEUMANS e VAN DAMME, 1995). Por outro lado, Mo-CBP3 poderia ser
considerada uma proteína “lectin-like”, como, por exemplo, os peptídeos Ac-
AMPs (BROEKAERT et al., 1992) e a heveína (VAN PARIJS et al., 1991), pois
possuem apenas um sítio de reconhecimento a carboidrato, ligam-se à quitina
e não possuem a capacidade de aglutinar eritrócitos.
Amostras (2 mg/mL) de Mo-CBP3, quando avaliadas segundo a
metodologia de Boller (1993), não apresentaram atividade de quitinase.
Existem na literatura alguns relatos de proteínas ligantes à quitina destituídas
de atividade hemaglutinante e quitinásica, como, por exemplo, a HM30, uma
proteína de folhas de Hydrangea macrophylla ligante à quitina que, mesmo
sem essas propriedades, possui atividade antifúngica (YANG e GONG, 2002).
O alinhamento automático da seqüência NH2-terminal de Mo-CBP3 com
outras seqüências já depositadas em banco de dados (NCBI/BLAST) revelou
84% de identidade com uma proteína recombinante com atividade floculante-
coagulante de sementes de M. oleifera (BROIN et al., 2002). Ao mesmo tempo,
Mo-CBP3 apresentou 73% de identidade com outras três proteínas coagulantes
de moringa isoladas por Gassenschmidt et al. (1995). Diante disso, foram
realizados novos experimentos para caracterizar Mo-CBP3, na busca de saber
se ela também apresentava as propriedades das outras proteínas identificadas
e descritas acima. Mo-CBP3 apresentou atividade coagulante de argila em
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87
suspensão em água barrenta tão potente quanto a do sulfato de alumínio e
potássio [AlK(SO4)2] na mesma concentração, composto que é usado
comercialmente para a purificação da água (FIGURA 12). De fato, Sutherland
et al. (1994) relataram que um extrato de sementes de M. oleifera apresentou
performance comparável ao alumen [AlK(SO4)2] em um estudo de coagulação
para tratamento de água corrente barrenta, em Malawi. Outros autores também
já fizeram observação semelhante (NDABIGENGESERE e NARASIAH, 1998;
BROIN et al., 2002). Vários relatos mostram que, de forma amadora, as
sementes de moringa são utilizadas para a purificação da água, transformando-
a em potável, em diversas regiões do mundo, principalmente nos continentes
africano e asiático, como no Malawi, na Nicaragua e na Índia (SUTHERLAND
et al., 1994; TAUSCHER, 1994; MAKKAR e BECKER, 1997).
Acredita-se que o mecanismo de coagulação da moringa consiste da
adsorção e neutralização das cargas coloidais (NDABIGENGESERE et al.,
1995). Estudos mostram que proteínas positivamente carregadas se ligam a
superfícies de partículas negativamente carregadas, como argila e bactérias,
por exemplo, através de interações eletrostáticas. Isto leva à formação de
partículas maiores, com cargas positivas e negativas em sua superfície, as
quais colidem entre si e se neutralizam, formando flocos maiores que decantam
(BROIN et al., 2002). Muitos autores já identificaram algumas proteínas que
apresentam esta propriedade (OKUDA et al., 2001a; BROIN et al., 2002).
Alguns relatos descrevem as proteínas coagulantes de moringa como proteínas
catiônicas diméricas, com massa variando entre 12,0 e 14,0 kDa e pI entre 10,0
e 11,0 (NDABIGENGESERE et al., 1995; GASSENSCHMIDT et al., 1995;
GHEBREMICHAEL et al., 2005). Mo-CBP3 apresenta características bastante
semelhantes a estas, enquadrando-se neste rol, no entanto, sua seqüência
NH2-terminal é diferente. Na realidade, as diferentes proteínas com
propriedade coagulante extraídas de sementes de moringa são bastante
semelhantes, quase idênticas entre si. As seqüências da proteína isolada por
Broin e colaboradores (2002) e a MO2.1 (GASSENSCHMIDT et al., 1995)
diferem entre si por dois resíduos de cisteína. As três proteínas isoladas por
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
88
Gassenschmidt e colaboradores (1995) diferem entre si por apenas um resíduo
de aminoácido em cada.
Independentemente destas diferenças, Mo-CBP3 e as demais proteínas
descritas acima tornam-se uma alternativa ao sulfato de alumínio e potássio, já
que coagulantes naturais apresentam a vantagem de ser biodegradáveis,
produzirem volume bem menor de resíduo sedimentado e também de não
causarem danos ao meio ambiente (NDABIGENGESERE et al., 1995;
KATAYON et al., 2007). Além disso, em muitos países subdesenvolvidos ou
em desenvolvimento, coagulantes químicos como alúmen e polieletrólitos
sintéticos não estão disponíveis, ou estão a um custo bastante elevado
(SUTHERLAND et al., 1994). Destaca-se, ainda, a vantagem de se utilizar um
composto orgânico natural (como os das sementes de moringa) para o
tratamento da água frente aos riscos à saúde humana trazidos pelos
compostos inorgânicos e orgânicos sintéticos utilizados comercialmente, além
do fato do tratamento com moringa propiciar a descontaminação bacteriana da
água por coprecipitação destas com a argila (BROIN et al., 2002; KWAAMBWA
e MAIKOKERA, 2007). Alguns estudos comprovaram que o alumínio pode
induzir a doença de Alzheimer (CRAPPER et al., 1973; OKUDA et al., 1999) e,
a acrilamida, polímero orgânico sintético, também utilizado para tratamento de
água em alguns países, apresenta neurotoxicidade e forte propriedade
carcinogênica (McCOLLISTER et al., 1964; OKUDA et al., 1999). No entanto,
vale ressaltar a importância de se realizarem testes acerca dos efeitos de Mo-
CBP3 em mamíferos, principalmente humanos, para que se avalie a viabilidade
de seu uso para o tratamento de água para a ingestão.
Um dos grandes objetivos desse trabalho foi purificar e caracterizar
físico-química e biologicamente uma proteína antifúngica de sementes de M.
oleifera, daí encontrou-se Mo-CBP3. Como modelo experimental foi
selecionada a espécie de fungo fitopatogênico Fusarium solani, responsável
por perdas severas na agricultura mundial em diversas espécies vegetais,
principalmente soja e feijão. Esta espécie é de fácil manuseio e rápido
desenvolvimento, tornando-se ideal para ensaios in vitro.
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89
Primeiramente, a proteína foi testada com relação ao seu efeito sobre a
germinação de esporos do fungo (FIGURA 13). O ensaio, descrito no item
“5.4.1”, durou 48 h, desde o contato dos esporos com a proteína. Na
concentração de 0,05 mg/mL, Mo-CBP3 foi capaz de inibir a germinação de
100% dos esporos testados. Essa atividade não foi perdida mesmo após o
aquecimento da proteína a 100 °C, por 1 h, o que mo stra uma estabilidade
estrutural merecedora de atenção. Esta estabilidade pode ser atribuída, pelo
menos em parte, à proporção do aminoácido cisteína na seqüência de Mo-
CBP3. As pontes dissulfeto formadas entre os radicais de duas cisteínas
conferem estabilidade crescente à proteína, à medida que o número de
interações aumenta. Porém, outros fatores como a posição destas pontes na
estrutura terciária da proteína são também responsáveis pela estabilidade da
molécula. Tomando-se como base a seqüência NH2-terminal de Mo-CBP3, com
22 resíduos de aminoácidos, os resíduos de cisteína perfazem 27,3% do total.
Ao ser pré-incubada com o açúcar N-acetil-D-glucosamina por 30
minutos, a 37 °C, Mo-CBP3 não teve sua ação inibitória da germinação de
esporos revertida. Algumas razões podem ser enumeradas para tentar explicar
este fato. De início, poder-se-ia pensar que a quantidade de açúcar e/ou o
tempo de incubação não foram suficientes para a ocupação dos sítios de
ligação e a reversão da atividade. Uma vez que Mo-CBP3 mostrou-se incapaz
de aglutinar eritrócitos, apesar de interagir com quitina, a mesma comporta-se
como uma merolectina que, portanto, apresenta apenas um sítio de ligação
disponível a carboidratos. Assim sendo, pode-se considerar que 1,0 mol do
açúcar interage com 1,0 mol da proteína. Nessas condições, a quantidade de
N-acetil-D-glucosamina utilizada (0,15 M) foi mais que suficiente para
neutralizar os sítios reativos. Quanto ao tempo de incubação, o mesmo se
aplica, pois o contato entre as moléculas foi de 30 minutos sob agitação
contínua (tempo necessário para os eritrócitos serem aglutinados por uma
lectina, por exemplo). Uma hipótese que parece plausível é a de que o sítio de
ligação à quitina, ou a N-acetil-D-glucosamina, não deve ser o mesmo sítio
ativo responsável pela atividade antifúngica, já que a inibição do primeiro não
faz com que a atividade seja perdida. No entanto, a presença de quitina na
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
90
parede do esporo do fungo parece ser primordial para que a proteína possa
exercer sua atividade, uma vez que o fungo oomiceto Pythium oligandrum, o
qual não tem quitina na sua parede celular, mas sim, celulose, não sofreu
qualquer ação por parte de Mo-CBP3 (FIGURA 18). No entanto, o que parece
mais lógico, é que a proteína tenha uma maior afinidade pela quitina ou seus
oligossacarídeos presentes na parede celular dos esporos de F. solani, sendo
capaz de substituir o monossacarídeo da pré-incubação por estes.
Uma vez que a proteína exerceu tão forte atividade sobre a germinação
dos esporos de F. solani, foi verificada também sua ação sobre o crescimento
micelial do fungo. Neste ensaio, conduzido como descrito no item “5.4.1”, foram
utilizadas as concentrações de 0,5, 0,1 e 0,05 mg de Mo-CBP3 por mL. Mesmo
na maior concentração utilizada, Mo-CBP3 não inibiu o crescimento micelial de
F. solani nas condições do ensaio. Isto pode ser explicado pela diferença na
constituição da parede celular do fungo em seus diferentes estágios de
desenvolvimento (HARDHAM e MITCHELL, 1998). De alguma forma, quando
em desenvolvimento após a germinação, o fungo não é mais susceptível à
ação de Mo-CBP3, por uma mudança na concentração, localização ou
qualidade de seus constituintes da parede celular.
Procurou-se então compreender um pouco o efeito causado por Mo-
CBP3 sobre o fungo F. solani. Para tanto, foi desenvolvido um protocolo (item
5.4.2) que pudesse responder se a ação exercida pela proteína sobre os
esporos do fungo era de natureza fungicida (irreversível) ou fungistática (que
paralisa, mas deixa o fungo se desenvolver se for retirada do meio). O objetivo
deste experimento foi verificar se os esporos de F. solani ainda seriam capazes
de voltar a germinar após saírem da presença hostil de Mo-CBP3 e serem
transferidos para um ambiente com condições ideais para a germinação como
o meio de cultura PDA. Como mostrado pelos dados das FIGURAS 16 e 17, o
tipo de ação antifúngica que Mo-CBP3 (0,1 mg/mL) exerceu sobre os esporos
de F. solani foi fungicida, uma vez que não mais foram capazes de se
desenvolver. Na dose de 0,05 mg/mL os esporos conseguiram germinar
depois, porém, com um considerável retardo em relação ao controle com água.
Isto nos leva a crer que Mo-CBP3 atua de forma dose-dependente.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
91
Ainda de acordo com os resultados, ao ser aquecida a 98 °C por 1 h, a
proteína continuou inibindo 100% da germinação dos esporos, mas, diferente
do ocorreu com a proteína não aquecida e na mesma concentração, ao serem
retirados da presença da proteína e devolvidos a condições ideais de
germinação, os esporos voltaram a germinar. O aquecimento a 100 °C não foi
suficiente para desnaturar completamente a proteína, porém, parece ter
causado alguma modificação estrutural, ainda que pequena, a qual resultou
numa alteração da atividade, passando de fungicida a fungistática. A pré-
incubação de Mo-CBP3 (0,1 mg/mL) com N-acetil-D-glucosamina 0,15 M não
reverteu a atividade da proteína, efeito este que se manteve mesmo depois da
transferência para a placa com meio de cultura. Isto mostra que a interação
prévia da proteína com o açúcar em nada altera sua atividade, que deve ser,
provavelmente, exercida por outro sítio da molécula.
Tomando-se a idéia deste experimento, foi desenvolvido um protocolo
similar para verificar com mais detalhes se Mo-CBP3 realmente não atuava
sobre as hifas jovens de F. solani. As FIGURAS 14 e 15 mostram que Mo-
CBP3 não pára o crescimento do fungo, mas o retarda. Seu efeito é tanto maior
quanto maior for a dose administrada. O ensaio, nestas condições, mostrou-se
mais adequado que o primeiro (em placas de microtitulação) para avaliar a
atividade de Mo-CBP3 sobre o crescimento micelial de F. solani, por permitir
uma visualização comparativa mais nítida e indubitável, bem como a
mensuração dos raios miceliais. Ao contrário do que causou nos esporos, a
proteína pré-aquecida a 98 °C por 1 h ou pré-incuba da com N-acetil-D-
glucosamina 0,15 M não exerceu qualquer efeito sobre o crescimento das hifas
jovens de F. solani, nas condições do experimento. Mais uma vez é reforçada a
hipótese de que a diferença na constituição molecular da parede celular entre
esporos e hifas do mesmo fungo resulta na diferença de atividade de Mo-CBP3,
já que, na presença da proteína tratada termicamente, os esporos não
germinam, mas as hifas já crescidas continuam a se desenvolver.
Quanto à pré-incubação com o açúcar N-acetil-D-glucosamina, foram
formuladas algumas hipóteses para a explicação de seus efeitos. É possível
que durante o período pré-germinativo o sítio de ligação à quitina não seja
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
92
primordial ou ainda, necessário, para a ação de Mo-CBP3 sobre o esporo. Isto,
porque mesmo estando este sítio bloqueado pelo carboidrato, a proteína
continua exercendo sua ação fungicida sobre o esporo, como visto na FIGURA
13. No entanto, a quitina deve estar presente na constituição do fungo para que
a proteína atue, já que esta não inibiu a germinação do oomiceto Pythium
oligandrum, o qual não tem quitina na parede celular, mas sim, celulose. Já na
fase germinativa, os resultados mostram que o sítio de ligação à quitina deve
estar livre para que a proteína possa atuar sobre o fungo (hifas), pois a
proteína livre retardou o desenvolvimento micelial de F. solani, mas a mesma
“bloqueada” não mais exerceu este efeito. A necessidade da presença de
quitina na parede celular fúngica para que Mo-CBP3 possa agir se confirma na
não inibição do crescimento micelial do oomiceto P. oligandrum.
Diante do exposto pode então ser sugerido que, quando Mo-CBP3
reconhece e se liga ao açúcar N-acetil-D-glucosamina – seja na quitina
presente no fungo, seja disperso em solução – sofre mudança conformacional
que a deixa apta para atuar de forma inibitória sobre o fungo. Esta atuação
pode ser dada diretamente na própria quitina ou em outra molécula da parede,
causando um desarranjo em sua estrutura, com conseqüências várias como
perda de solutos e nutrientes, perda do turgor, e até a morte celular. Pode
ainda ocorrer que a proteína seja internalizada (dada à baixa massa da
molécula) e interfira na deposição ou síntese de novos polímeros de quitina,
desta vez, pela membrana celular, impedindo a germinação do esporo ou
retardando o crescimento da hifa.
A necessidade da ligação ao N-acetil-D-glucosamina, para que haja uma
mudança conformacional na estrutura da proteína e, então, ela possa exercer
sua atividade, explicaria porque a proteína se comporta de acordo com os
dados mostrados:
1. Tem ação sobre o esporo de um fungo que tem quitina na parede –
primeiramente, ela se ligaria à quitina do fungo e sofreria a mudança,
agindo sobre este;
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
93
2. Tem ação sobre o esporo do fungo mesmo quando pré-incubada com o
carboidrato - ligando-se previamente ao açúcar, sofreria a mudança
conformacional que a deixaria apta a agir sobre o esporo;
3. Não atua sobre fungo que não tem quitina - pois sem se ligar ao açúcar,
não sofreria a mudança conformacional e não atuaria.
Com relação ao crescimento micelial de F. solani, Mo-CBP3 precisaria
se ligar à quitina do próprio fungo para poder agir e mostrar sua atividade, não
conseguindo fazê-lo quando ligada previamente ao N-acetil-D-glucosamina
livre. A diferença estrutural da parede que existe entre as fases do fungo
poderia ser a responsável por essa diferença de atividade que há no esporo e
na hifa. Talvez a estrutura da hifa cause um impedimento estérico para a
proteína acoplada ao açúcar e por isso se torne inativa (ao contrário do que
ocorre com o esporo).
Buscando alguns dados que norteassem o entendimento sobre o
mecanismo de ação de Mo-CBP3, foi realizado um ensaio para avaliar a
influência de Mo-CBP3 sobre as bombas de prótons (H+ATPases) presentes na
membrana celular do esporo do fungo F. solani. Mo-CBP3 (FIGURA 19) foi
capaz de inibir cerca de 80% da acidificação do meio, por esporos de F. solani,
induzida por glicose, nas condições do ensaio. Isto sugere que Mo-CBP3
poderia atravessar a parede celular do esporo e interagir diretamente com as
bombas de prótons (H+ATPases) presentes na membrana celular, ou ainda,
agir indiretamente, causando um desarranjo da membrana e/ou da parede que
culminasse com o prejuízo do funcionamento da bomba de prótons e até a
morte celular.
A atuação de proteínas vegetais contra fungos fitopatogênicos ganhou
repercussão com o trabalho de Mirelman et al. (1975), que observaram que a
WGA, uma lectina isolada do germe de trigo específica para quitina, inibia a
germinação dos esporos e o crescimento dos fungos Trichoderma viride e
Fusarium solani. Segundo Melo et al. (2001), na tentativa de entender o
mecanismo de ação desta lectina nos fungos, tais autores sugeriram que a
ligação da WGA às hifas provocava um efeito na síntese e deposição de nova
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
94
quitina, prejudicando o crescimento e desenvolvimento fúngico. No entanto,
Schlumbaum et al. (1986) demonstraram que a inibição do fungo T. viride era
causada por quitinases contaminantes, e não pela WGA. Anos depois,
Ciopraga et al. (1999) demonstraram que a WGA pura é ativa contra Fusarium
graminearum e F. oxysporum.
Broekaert et al. (1989) demonstraram que a UDA, lectina quitina
específica isolada do rizoma de Urtica dioica, livre de contaminação por
quitinase, inibia o crescimento de vários fungos. Embora o mecanismo de ação
fungistática não tenha sido elucidado, certamente a atividade não foi devida à
quitinase. Outra proteína de ligação à quitina com reconhecida atividade
antifúngica é a heveína, uma merolectina isolada do látex de Hevea
brasiliensis, possuindo apenas 43 resíduos de aminoácidos (VAN PARIJS et
al.,1991).
De acordo com Lee e colaboradores (2003), o mecanismo preciso de
inibição da germinação e crescimento fúngicos por proteínas ligantes à quitina
sem atividade quitinásica não é claro. Especula-se que o mecanismo de ação
antifúngica das proteínas que se ligam à quitina esteja relacionado ao pequeno
tamanho dessas moléculas, visto que lectinas de gramíneas com massa
molecular de 36 kDa não apresentam atividade antifúngica, enquanto que a
UDA (8,5 kDa) e a heveína (5 kDa) apresentam atividade comprovada (HUANG
et al., 2000). Realmente, Money (1990) mostrou que proteínas com massas
moleculares maiores que 15-20 kDa não foram capazes de passar através dos
poros da parede celular do fungo Achyla bisexualis.
Raikhel e colaboradores (1993) afirmaram que o pequeno tamanho da
proteína seria necessário para a entrada pelos poros e interação com a parede
celular dos fungos. Vários autores sugerem que o pequeno tamanho dessas
proteínas seja suficiente para penetrarem através da parede celular dos fungos
e alcançarem a membrana plasmática, onde poderiam afetar sítios ativos da
morfogênese da parede celular (VAN PARIJS et al., 1992; RAIKHEL et al.,
1993; HUANG et al., 2000; VAN DEN BERGH et al., 2002). Isso está de acordo
com Wang e Granados (2000), que afirmaram que a inibição da síntese de
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
95
quitina em leveduras e fungos filamentosos resultava na biogênese anormal da
parede celular.
O efeito da proteína ligante à quitina Mo-CBP3 sobre o fungo
fitopatogênico F. solani está, possivelmente, relacionado à inibição da
germinação dos esporos e do desenvolvimento das hifas, pela interação desta
proteína com a parede celular, danificando-a de alguma maneira. Entretanto,
estudos mais aprofundados devem ser conduzidos para verificar se a proteína
inteira ou suas subunidades de massa molecular aparente de 9,0 kDa são,
também, capazes de penetrar pelos poros da parede dos esporos e atingirem a
membrana celular, ocasionando transtornos na síntese e deposição de quitina
na parede celular. Para confirmar as explicações aqui mostradas, são ainda
necessários estudos mais aprofundados acerca das características de Mo-
CBP3, como a determinação de sua seqüência completa e de sua estrutura
tridimensional, por exemplo. De toda forma, Mo-CBP3 mostra-se como uma
ferramenta com potencial bioativo para uso no estudo de combate a
fitopatógenos que atacam culturas de interesse econômico. Mostra-se, ainda,
valiosa em estudos de purificação de água, merecendo estudos de
biossegurança.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
96
88.. CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
97
8.1 - Resumo dos Resultados
� Mo-CBP3 é uma nova glicoproteína ligante à quitina, presente em
sementes de Moringa oleifera, com massa molecular aparente de 14,34
kDa e pI 10,8;
� Apesar da interação com a matriz de quitina, não se trata de uma
quitinase nem de uma hololectina;
� Em relação à função, Mo-CBP3 exibiu uma potente atividade antifúngica
frente ao fitopatógeno Fusarium solani, sendo este efeito fungicida,
termoestável, não inibido pelo açúcar N-acetil-D-glucosamina;
� Esta proteína interfere com a bomba de H+/ATPase, impedindo a
acidificação do meio gerada pela internalização de glucose;
� Mo-CBP3 apresentou uma apreciável atividade coagulante e se mostrou
tão eficaz quanto o sulfato de alumínio e potássio na capacidade de
coagular matéria em suspensão na água.
8.2 - Conclusão
Mo-CBP3 é uma proteína ligante à quitina, presente em sementes de
Moringa oleifera, responsável, pelo menos em parte, pela atividade antifúngica
apresentada pela planta. Por conseguinte, é possível que esteja envolvida na
resistência da planta frente a patógenos.
Sua ação antifúngica parece estar relacionada à interação com as bombas
de H+ ATPase na membrana dos esporos, prejudicando a ingestão de açúcar e
ocasionando a morte celular.
Propriedades Bioquímicas...
ANEXO – Gráficos das cromatografias testadas na tentativa de purificar
FIGURA 20 - Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de
aplicada na coluna (12 x 1,8 cm) equilibrada com tampão
8,0. O material não retido foi eluído com o
retido foi eluído com um
tampão de equilíbrio.
Propriedades Bioquímicas...
Gráficos das cromatografias testadas na tentativa de purificar Mo-CBP
Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de DEAE-Celulose
aplicada na coluna (12 x 1,8 cm) equilibrada com tampão Tris
O material não retido foi eluído com o mesmo tampão de equilíbrio. O
etido foi eluído com um gradiente linear de 0 a 1 M de NaCl adicionado ao
tampão de equilíbrio. Fluxo: 35 mL/h. Frações: 5 mL.
Gifoni, J. M.
98
CBP3, sem êxito.
Celulose. PNAG (5 mg) foi
Tris-HCl 0,05 M, pH
mesmo tampão de equilíbrio. O
gradiente linear de 0 a 1 M de NaCl adicionado ao
Propriedades Bioquímicas...
FIGURA 21 - Cromatografia de Troca
na coluna (12 x 1,8 cm) equilibrada com tampão
material não retido foi eluído com o
eluído com um
equilíbrio. Fluxo: 35 mL/h. Frações: 5 mL.
Propriedades Bioquímicas...
Cromatografia de Troca Iônica em Coluna de CM-Celulose. PNAG (
na coluna (12 x 1,8 cm) equilibrada com tampão acetato de sódio 0,1 M
material não retido foi eluído com o mesmo tampão de equilíbrio. O r
eluído com um gradiente linear de 0 a 1 M de NaCl adicionado ao tampão de
Fluxo: 35 mL/h. Frações: 5 mL.
Gifoni, J. M.
99
(5 mg) foi aplicada
acetato de sódio 0,1 M, pH 4,5. O
mesmo tampão de equilíbrio. O retido foi
gradiente linear de 0 a 1 M de NaCl adicionado ao tampão de
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
100
FIGURA 22 - Cromatografia de Exclusão Molecular em Coluna de Sephadex G-50. PNAG (5 mg)
foi aplicada na coluna (94 x 2 cm) previamente equilibrada com tampão Tris-HCl
0,05 M, pH 8,0. Void: 60,5 mL. Fluxo: 15 mL/h. Frações: 1 mL.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0 50 100 150 200
Ab
s 2
80
nm
Frações (1 mL)
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
101
FIGURA 23 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna de Fenil-Sepharose. PNAG (10
mg) foi aplicada na coluna (20 mL) equilibrada com tampão Tris-HCl 0,05 M, pH
8,0, contendo Sulfato de amônio 1 M. O material não retido foi eluído com o
mesmo tampão de equilíbrio. O retido foi eluído em step wise, com
concentrações decrescentes de sulfato de amônio, a saber: 0,8, 0,6, 0,4, 0,2 e 0
M. Em seguida, a coluna foi lavada com água e etanol 70%. Fluxo: 35 mL/h.
Frações: 2 mL.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
0
0,2
0,4
0,6
1 30 59 88 117 146
Co
nce
ntr
açã
o d
e s
ulf
ato
de
am
ôn
io (
M)
Ab
s 2
80
nm
Frações (2 mL)
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
102
FIGURA 24 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C-18 acoplada a HPLC. PNAG
(300 µg) foi aplicada na coluna. O material não retido foi eluído com ácido
trifluoracético (TFA) 0,1%. O retido foi eluído em gradiente de 0 a 100% de
acetonitrila. Fluxo: 1 mL/min.
Minutes0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
Abs
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Per
cent
0
20
40
60
80
100Detector A - 1 (216nm)PAC_c3PAC_c2003
B.CONCJu_SP1.met
Detector A - 2 (280nm)PAC_c3PAC_c2003
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
103
FIGURA 25 - Cromatografia de Interação Hidrofóbica em Coluna C2-18 acoplada a HPLC. PNAG (1
mg) foi aplicada na coluna. O material não retido foi eluído com ácido
trifluoracético (TFA) 0,1%. O retido foi eluído em gradiente de 0 a 100% de
acetonitrila. Fluxo: 0,5 mL/min.
Propriedades Bioquímicas... Gifoni, J. M.
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