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ABAPI ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS AGENTES DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL PROPRIEDADE INDUSTRIAL NO BRASIL 50 ANOS DE HISTÓRIA

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Page 1: PROPRIEDADE INDUSTRIAL NO BRASIL · ABPI Associação Brasileira da Propriedade Intelectual Advocacia Pietro Ariboni Custódio de Almeida e Cia. Daniel & Cia. Dannemann, Siemsen,

ABAPIASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS AGENTES DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

PROPRIEDADEINDUSTRIALNO BRASIL50 ANOS DE HISTÓRIA

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRADOS AGENTES DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

1998

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PROPRIEDADEINDUSTRIALNO BRASIL50 ANOS DE HISTÓRIA

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Agradecimentos

A ABAPIagradece a colaboração pela compra antecipada de exemplares que viabilizou a edição desse livro.

ABPIAssociação Brasileira da Propriedade Intelectual

Advocacia Pietro Ariboni

Custódio de Almeida e Cia.

Daniel & Cia.

Dannemann, Siemsen, Bigler & Ipanema Moreira

Gold Star Patentes e Marcas S/C Ltda.

Lilian de Melo Silveira Advogados Associados

Martinez & Kneblewski S/C Ltda.

Momsen, Leonardos & Cia.

Pinheiro, Nunes, Arnaud & Scatamburlo S/C

Tinoco Soares & Filho S/C Ltda.

Vieira de Mello, Werneck Alves Advogados S/C

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1948-1998

A ABAPI - Associação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial, anossa ABAPI, completa, no próximo 4 de novembro, seu primeiroCinqüentenário. Certamente 1998 ficará marcado na nossa história, comoassociados e como profissionais. Este é não só o ano do Cinqüentenário,o que já seria motivo mais que suficiente para uma festiva comemoração,mas também o ano em que, através da Portaria Ministerial 32/98, editadapelo ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo FranciscoDornelles, o exercício da atividade de agente da Propriedade Industrialvoltou a ser reconhecidamente legal, nos termos do Decreto-lei 8.933/46.Lembrando tal ano, queremos que este livro represente, em nossacomunidade, mais do que a comemoração que a data merece, mastambém represente o final de uma grande batalha, o ano de um árduoreconhecimento: a atividade do agente da Propriedade Industrial voltaa ser encarada como instrumento indispensável à fixação dasconquistas tecnológicas, ficando, assim, consagrada como essencialao desenvolvimento do Brasil.Pelo esforço da atividade dos agentes, a concepção de PropriedadeIndustrial no Brasil modernizou-se, atendendo compromissos internacionaise inscrevendo-se, lado a lado, com as nações mais desenvolvidas.Como poderá ser lido, este livro tem uma abordagem da História emque fica claramente demonstrado que a proteção às obras dainteligência, da criatividade e à busca incessante de soluções paratudo que entrava os caminhos da humanidade é o único modo degarantir e estimular o progresso.Desse modo, este livro pode ser tomado como o símbolo das lutashistóricas destes cinqüenta anos de ABAPI.Embora a edição deste livro tenha sido encomendada à equipe doCentro de Produções Editoriais e Culturais dirigido pelo historiadorprofessor Ricardo Frota de Albuquerque Maranhão, a produção gráficatenha ficado a cargo da PW Gráficos e Editores e a coordenação acargo da jornalista Vera Galli e a execução do Projeto Cinqüentenáriotenha sido viabilizada economicamente pelos associados constantesde uma listagem de agradecimento ao final da edição, este livro foiescrito, verdadeiramente, pela luta, pela participação, enfim, pelaprópria história de cada associado nas atividades, profissionais eassociativas, de agente da Propriedade Industrial.Esperamos, finalmente, que este livro seja folheado como o marco de ummomento que ficará inscrito não apenas na história de nossa Associação,mas na própria história do Brasil: cada companheiro da ABAPI é umprotagonista da luta maior em favor do progresso e da civilização.

Lilian de Melo SilveiraPresidente da ABAPI

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ABAPI Associação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial

Diretoria - Biênio 1998/99

Presidente Lilian de Melo SilveiraPrimeiro Vice-Presidente Raul Hey

Segundo Vice-Presidente Gabriel Francisco LeonardosPrimeiro Secretário Gabriel Pedras Arnaud

Segundo Secretário Rodrigo Sérgio Bonan de AguiarTesoureiro Ricardo Pernold Vieira de Mello

Procurador Luiz Edgard Montaury PimentaProcurador-Adjunto Jacques Labrunie

Procuradora-Adjunta Antonella Carminatti

Conselho Fiscal e Consultivo

Presidente Maurício Leonardos

Conselheiros Paulo Roberto Mariano da SilvaLanir OrlandoValério Walter de Oliveira RamosAureolino Pinto das NevesSâmia Amin SantosGustavo de Freitas MoraisRodolfo Humberto Martinez Y Pell Jr.Paulo Roberto Costa Figueiredo

Copyright © 1998 ABAPIAssociação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial

Associação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial.As 849 Propriedade Industrial no Brasil: 50 Anos de História / Associação Brasileira dos

Agentes da Propriedade Industrial; apresentação: Lilian de Melo Silveira; coordenação:Ricardo Maranhão; redação: Carlos A.U. Dias; pesquisa: Gentil Garcia Jr. São Paulo: ABAPI, 1998.128p. il.

Coordenação editorial: Vera Galli.Produção gráfica: PW Gráficos e Editores Associados Ltda.

1. Propriedade industrial - Brasil; Patentes - Legislação - Brasil; 3 - Marcas e Patentes - Brasil; I. Silveira, Lilian de Melo, apres. II. Maranhão, Ricardo, coord. III. Dias, Carlos A.U., red. IV. Garcia Jr., Gentil, pes. V. Título.

CDD (18ª ed) 608.7 (81)609.81

CDU (FID nº 316) 347.77Cutter As 849

Bibliotecária: Tatiana Douchkin CRB 8/586

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SumárioCapítulo IPatentes e marcas no mundo e no BrasilAs marcas e o segredoA origem das patentes no Brasil: fomento à indústriaA primeira patenteA primeira lei brasileira de patentesOs primeiros passos da industrialização no BrasilA primeira lei que tratou das marcasOs acordos internacionais

Capítulo IIPrimeiros tempos do DNPI e dos agentes da Propriedade IndustrialA criação do DGPIA lei de 1923As novas perspectivas abertas pela Revolução de 1930A modernização do Estado pós-1930A fundação do DNPIAs origens do agente da Propriedade IndustrialO acesso ao cargo de agente após 1933A Revista da Propriedade Industrial

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Capítulo IIIA integração dos agentesA fundação da ABAPIO estatutoAtividades recreativasA primeira sede própria da ABAPIO “Mais Um Igual”

Capítulo IVA consolidação da ABAPIna década de 1950A integração da ABAPI com o DNPIA questão da regulamentação da profissãoO anteprojeto de código de ética de 1954 e a autogestãoA crise do DNPI na década de 1950O Memorial para JKA origem da idéia de autarquiaO “velho” Conselho de RecursosO projeto de reforma do Conselho de Recursos na década de1950A crise do Conselho e sua extinção em 1961

Capítulo VA crise dos anos 60 e as reformasO empréstimo de máquinas, funcionários e a prestação deserviços na década de 1960A crise do DNPI nos anos 70O código de ética proposto em 1968A reação diante do Código da Propriedade Industrial decretadoem 1967Conselho de Recursos de 1967 a 1971Campanha para a reformulação do DNPI promovida pelaABAPIA proposta de um simpósio nacional para discutir a crise doDNPIO AI-5 e o Código da Propriedade Industrial de 1969A criação do INPI

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Capítulo VIProblemas da profissãona década de 1970A supressão da exclusividade no procuratórioO parecer apócrifo de 1973O impacto sobre a categoriaO esvaziamento da ABAPIA posição da categoria

Capítulo VIIA reorganização da ABAPI e a luta pelo reconhecimento da profissãoA rearticulação da ABAPIO primeiro anteprojeto de regulamentação da profissão deagente da Propriedade IndustrialA década perdida e a redemocratizaçãoO projeto de Célio BorjaO Primeiro Encontro Nacional dos Agentes da PropriedadeIndustrial, em 1983Os cursos de formação de agentes da ABAPIA nova Constituição e a questão da regulamentação daprofissão de agente

Capítulo VIIIA nova lei de patentes, o reconhecimento da categoria e a ABAPI hojeAs metas da ABAPI no início dos anos 1990A assinatura do TRIPS e a nova lei de Propriedade IndustrialO reconhecimento da profissãoOs cursos de Propriedade Industrial da ABAPI hojeO Projeto Memória da Propriedade Industrial no BrasilABAPI hoje no BrasilWWW.ABAPI.COM.BRA ABAPI no cinqüentenárioO Selo de Qualidade da ABAPIOs novos rumos da ABAPI

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Os artesãos da Idade Médiatransmitiam cuidadosamentesegredos técnicos aos seusfilhos (séc. XIV)

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Capítulo IPatentes e marcas no mundo e noBrasil

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“Durante estes sessenta anos eu vivi, respirei, me relacionei

e atuei só na Propriedade Industrial. Eu sou um produto da

Propriedade Industrial e me orgulho muito disso... Se tivesse que recomeçar,

seria em Propriedade Industrial.”

CUSTÓDIO DE ALMEIDA

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As marcas e o segredoMarcas encontradas em diversos artefatos pré-históricos sãoa maior evidência do quão antiga é a disposição do homemde identificar a sua própria criação, auferindo o prestígio deladecorrente. Com o surgimento da escrita começaram aaparecer os primeiros registros assinalando o nome dosautores das descobertas científicas e das invenções.1

Apesar do reconhecimento social, até o fim da Idade Médiainventores não puderam contar com nenhum tipo demecanismo que lhes assegurasse privilégio. A únicaproteção era um recurso que ainda hoje tem grandeimportância: o segredo. Descobertas e fórmulas eramconservadas no âmbito do clã. Passavam de pai para filho,dentro de rígida disciplina familiar.

Somente após o surgimento da burguesia comercial é que aquestão do direito comercial sobre a exploração dainvenção começou a ser discutida. O conceito de patentetal como é hoje conhecido foi resultado do extraordináriodesenvolvimento comercial vivido pela Europa a partir doRenascimento Comercial e Urbano, no século XII. Osmecanismos de proteção das patentes evoluíram aindamais com a grande Expansão Comercial e Marítima, quecriou o mercado mundial e permitiu diversas práticascomerciais e financeiras, tais como as letras de câmbio, associedades anônimas e os bancos.

As invenções não podiam mais ficar enclausuradas noâmbito familiar. O acelerado ritmo de desenvolvimento exigiaque os segredos fossem disponibilizados para a sociedade.

Foi na Europa, durante o Renascimento Cultural, que surgiua idéia de que os direitos sobre a invenção deveriam serreservados ao criador. A primeira lei de patentes de que setem notícia foi criada em Veneza em 19 de março de 1474.A cidade era então um grande centro comercial.2 O inventorrecebia um título de privilégio que lhe assegurava aexploração do invento.

Mas foi sob a Revolução Industrial que as leis de patentescomeçaram a ser disseminadas por toda a Europa. Com achegada do capitalismo, invenções tornaram-se partefundamental da sistemática produtiva e comercial.

Nesse sentido, a evolução da indústria de fios e tecidos,nos primeiros anos, é muito ilustrativa. Em 1733, John Kayinventou a lançadeira volante, que aumentava acapacidade do artesão de tecer. Logo começaram a faltarfios, fato que estimulou a busca de máquinas para agilizara sua produção. Em 1776, James Hargreaves criou aSpinning Jenny, que permitia um artesão fiar de oito aoitenta fios de uma só vez. Essa máquina foi seguidamenteaperfeiçoada, provocando novo desequilíbrio na produção.

1. Ver Marcelo Dias Varella,“Propriedade Intelectual de Setores Emergentes”, p. 26.

2. Robert, M. Sherwood,“Propriedade Intelectual eDesenvolvimentoEconômico”, p. 26.

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Novamente se investiu nas máquinas de tecer. Erammáquinas que ainda se valiam da força do trabalhador paraserem movidas.

Em 1785, Edmond Cartwright criou um tear mecânicomovido por rodas-d’água. O invento resolvia o problemamas era inconstante. O grande salto técnico foi dado porJames Watt. Fazia quase um século que o francês Papintinha descrito cientificamente o potencial do vapor comoforça motriz. Watt teve o mérito de utilizar o vapor paramover um êmbolo acoplado a um tear mecânico.

Com força motriz independente e constante surgiu então aprodução em série, permitindo volumes de produtos jamaisvistos. Mais uma vez começaram a faltar fios e o espíritoinventivo e o aporte de capitais foram mobilizados para asuperação do problema. O ciclo havia sido estabelecido.

Basta uma rápida olhada pela história desses últimos doisséculos para vermos a sociedade mergulhada numafrenética busca por novos conhecimentos. Enquanto aciência dava grandes saltos em diversos campos doconhecimento, os inventos se multiplicavam. O foco centraldas pesquisas era a procura de novas forças motrizes paramáquinas cada vez mais complexas. Intercalaram-segrandes descobertas e inventos: energia elétrica, motor decombustão interna, energia solar e nuclear, entre outros,

Projeto de helicóptero deLeonardo da Vinci (início doséc. XVI)

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empurraram nesses dois séculos barcos, locomotivas,carros, tratores, aviões, foguetes e as mais sofisticadasmáquinas industriais.

A revolução tecnológica que hoje impulsiona aglobalização é a expressão mais avançada dessabicentenária dinâmica produtiva que incorporou a invençãocomo parte essencial da produção. Hoje, esta revoluçãoatingiu um ritmo frenético. Basta lembrar que, segundoespecialistas, a cada cinco anos os setores produtivos deponta são completamente reestruturados.

Assim, não é um acaso que os primeiros países a elaborarleis de proteção à propriedade intelectual e industrialtenham sido os pioneiros no desenvolvimento industrial,como a Inglaterra, os Estados Unidos e a França.

Em 1623, o Parlamento inglês reservou à Coroa o direitode dar “cartas patentes” à invenção de novas manufaturas.Os americanos formularam sua lei de patentes apenascatorze anos após a sua Independência, em 1790. Ficouconhecida como “Patent Act”. Em seu artigo primeiro(seção 8) autorizava a criação de “sistema nacional depatentes, a fim de dar aos Escritores e Inventores direitoexclusivo, por tempo limitado, sobre seus respectivosEscritos e Descobertas”. Tinha por objetivo promover o“Progresso da Ciência e das Artes Úteis”.3

3. Citado por FranciscoTeixeira, “Tudo o que Você Queria Saber sobrePatentes mas TinhaVergonha de Perguntar”, p. 21.

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Máquina a vapor construídapor James Watt

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Bartolomeu de Gusmãodemonstra sua invençãosob os olhares atônitos dosmonarcas portugueses(1709)

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O padre voador“Senhor. Diz o licenciado Bartolomeu Lourenço que ele temdescoberto um instrumento para se andar pelo ar, e commuita brevidade, fazendo-lhe muitas vezes 200 léguas emais léguas por dias, no qual instrumentos se poderão levaros avisos de mais importância aos exércitos, e às terrasmuito remotas...” Assim começou o pedido de patente queo jesuíta, nascido em Santos, Bartolomeu Lourenço deGusmão pleiteou ao soberano português Dom João V. Eraum projeto pioneiro, o do balão, primeiro aparelho mais leveque o ar. Corria o ano de 1709 e o monarca, após concedera patente, interessou-se em conhecer o invento. Gusmãolevou um protótipo de sua “Passarola” ao Palácio Real.

O acontecimento foi assim descrito por um cronista daépoca: “com efeito, pôs por obra, não logo o principalinvento, mas uma amostra, a qual era uma barcaça pequenade feitio de uma gamela coberta de lona, e com váriosespíritos, quintas essências, e outros ingredientes, meteu-lhe umas luzes por baixo, e na sala das embaixadas,estando presentes Sua Majestade, muitas mais pessoas, fezvoar a dita barcaça, que a pouca altura deu pelas paredes, edepois em terra e, confundindo-se os materiais, pegou fogo,e na queda em que despenhou queimou uma cortina e tudoo que encontrou foi fazendo o mesmo efeito, e SuaMajestade foi tão benigno que não se escandalizou econservou sua graça”.

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A origem das patentes no Brasil: fomento à indústriaDurante o período colonial, Portugal impôs ao Brasilseveras restrições ao desenvolvimento de qualquerindústria ou lavoura de produtos e gêneros que fossemproduzidos na Europa. Tratava-se de medida estratégicadentro da lógica do sistema colonial mercantilistaestabelecido e foi adotada de forma generalizada pelasmetrópoles européias. A restrição permitia a formação demonopólios comerciais que asseguravam a transferênciadas riquezas das colônias para as metrópoles.

As restrições culminaram com o Alvará da rainha DonaMaria I, de 1785, que proibia drasticamente as fábricas,indústrias e manufaturas na Colônia.

Com a vinda da Família Real e a conseqüente transferênciado centro de decisões do Império Colonial Português para oBrasil, em 1808, a questão das patentes se colocou deimediato.4 Ainda naquele ano foi revogado o Alvará de 1785.5

No ano seguinte, através de outro Alvará, foram adotadasdiversas medidas voltadas para o desenvolvimentoindustrial: isenção de direitos à importação de matérias-primas, isenção de direitos à exportação de produtosmanufaturados e, entre outras, a concessão de privilégiosaos inventores e introdutores de novas máquinas, que teriamo direito exclusivo de explorar a invenção por catorze anos.6

4. Alvará do PríncipeRegente no Brasil, DomJoão VI, de 28 de janeirode 1808, que determinou aabertura dos portos àsnações amigas.

5. Alvará de 1 abril de 1808.

6. Alvará de 28 de janeirode 1809.

Alvará de 1785 de Maria Ide Portugal

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Segundo o Alvará, os interessados deveriam apresentar oseu “plano de invenção” à Real Junta do Comércio, órgãocriado no ano anterior. Caso o invento fosse reconhecido,era concedido o privilégio por catorze anos.7

Ainda visando estimular o desenvolvimento industrial, outroAlvará dotou de recursos a Real Junta do Comércio paraconferir prêmios e incentivar as invenções.8 Medidasemelhante foi adotada pela Sociedade de Encorajamento àIndústria e à Mecânica, entidade criada em 1809.

Como pode ser observado nesta seqüência de leis, apatente foi introduzida no Brasil dentro de uma política defomento à indústria. Não se tratava de uma questão deprincípio, ou seja, o reconhecimento do direito àpropriedade intelectual tal como concebemos hoje: o direitoque qualquer cidadão, empresa ou instituição tem sobretudo o que resulta de sua inteligência ou criatividade. Eraantes de tudo um recurso importante dentro das políticasde fomento da época. A Revolução Industrial tinha seiniciado havia cerca de cinqüenta anos e eram poucos ospaíses que garantiam a patente em sua legislação.

7. A Real Junta doComércio foi criada em 23 de agosto de 1808.

8. Alvará de 15 de julho de 1809.

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O Alvará de 1809 que tratou das patentes“Sendo o meio mais conveniente para promover a indústriade qualquer ramo nascente, e que vai tomando maioraugmento pela introdução de novas machinas dispendiosas,porém utilíssimas, o conferir-se-lhe algum cabedal queanima o capitalista que emprehende promover semelhantefábrica, vindo a ser esta concessão um Dom gratuito quelhe faz o Estado: sou servido ordenar, que da LoteriaNacional do Estado, que anualmente quero se estabeleça,se tire em cada anno uma soma de sessenta mil cruzados(...) a favor daquellas manufacturas e artes, particularmentedas de lãs, algodão, seda e fábricas de ferro e aço. E as quereceberem (...) não terão obrigação de o restituir... sendomuito conveniente que os inventores e introductores dealguma nova machina, e invenção nas artes, gozem doprivilégio exclusivo além do direito que possam ter ao favorpecuniário, que sou servido estabelecer em benefício daindústria e das artes; ordeno que todas as pessoas queestiverem neste caso apresentem o plano de seu novoinvento à Real Junta do Commercio; e que esta,reconhecendo a verdade, e fundamento delle, lhes concedao privilégio exclusivo por quatorze annos, ficando obrigadosa publica-lo depois, para que no fim desse prazo, toda aNação goze do fructo dessa invenção...”

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A primeira patenteEm julho de 1822, Luiz Louvain e Simão Clothe, amparadospelo Alvará de 1809, requereram à Real Junta do Comércio oprivilégio de cinco anos para o seu invento, uma “machinapara descascar café, a qual além de ser inteiramente própriada invenção dos suplicantes produz todo o bom resultado (...)pela perfeição com que descasca o café sem lhe quebrar ogrão, ou seja, pela brevidade, e economia, e simplicidade dotrabalho (...) que se bem está construída para ser trabalhadapor hum homem, he suscetível de machinismo próprio paraser movida ou por hum animal, ou por ágoa”.9

9. Apud. Luiz Cláudio Ribeiro,“Ofício Criador: Invento ePatente de Máquina deBeneficiar Café no Brasil”(1870-1910).

Pedido de privilégioindustrial para máquina dedescascar e brunir café(1881)

Terreiro de café em SãoPaulo (final do séc. XIX)

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A primeira lei brasileira de patentesApós a Independência, a questão da patente se colocou nostrabalhos de preparação da primeira Carta Magna do Brasil.A Constituição, outorgada em 1824, trouxe o princípio da“propriedade do inventor”. Também tratou da questão daremuneração, “em caso de vulgarização do invento”.

Seis anos após, em 1830, surgiu a primeira lei brasileira queabordou a proteção aos inventores, a nossa primeira lei depatentes.10 Novamente tratou-se de uma política mais amplade fomento à indústria. A proteção aos inventores estavaassociada a prêmio para quem trouxesse indústria para oBrasil: “concede privilégio ao que descobrir, inventar oumelhorar uma indústria útil e um prêmio ao que introduziruma indústria estrangeira, e regula a concessão”.11

A lei protegia os inventores, assegurando-lhes o uso exclusivoda descoberta por período de cinco a vinte anos. O inventordeveria depositar no Arquivo Público a descrição, planos,desenhos e modelos úteis. A lei assegurava os mesmosdireitos de autor aos que aperfeiçoassem as invenções. Adescrição do invento era publicada ao final do prazo, ouquando o Governo adquirisse o invento. As patentes eramgratuitas, o interessado pagava apenas o selo e o feitio.

Passaram-se trinta anos sem que houvesse qualqueralteração na legislação. Em 1860, um breve decreto alterouapenas o critério utilizado para marcar o início da validadedo privilégio. Antes era considerada a data de expedição dopedido da patente. Com o decreto, passou a ser contada apartir da data de assinatura da concessão da patente.Provavelmente já havia uma certa morosidade natramitação dos pedidos de patentes.12

10. Lei de 28 de agosto de1830. A lei que tratou daregulamentação daspatentes não possuinúmero. Foi referida apenaspela data em que foisancionada. Cf. “Collecçãodas Leis do Império doBrazil de 1830”. R.J.Typographia Nacional, 1876.

11. Lei de 28 de agosto de1830.

12. Decreto nº 2.712, de 22de dezembro de 1860.

Pedido de privilégio do“Balão Brasil” (1873)

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A primeira lei brasileira de patentesLei de 28 de agosto de 1830 - (...) Privilégio ao quedescobrir, inventar ou melhorar uma indústria útil e umprêmio ao que introduzir uma indústria estrangeira, e regulasua concessão.

ARTIGO 1º - A lei assegura ao descobridor, ou inventor deuma indústria útil a propriedade e o uso exclusivo da suadescoberta, ou invenção.

ARTIGO 2º - O que melhorar uma descoberta, ou invenção,tem no melhoramento o direito de descobridor, ou inventor.

ARTIGO 3º - Ao introductor de uma indústria estrangeira sedará um prêmio proporcionado à utilidade e dificuldade daintroducção (...)

ARTIGO 7º - O infractor do direito de patente perderá osinstrumentos e productos, e pagará além disso uma multaigual à décima parte do valor dos productos fabricados e ascustas, ficando sempre sujeito à indenização de perdas edannos. Os instrumentos, e productos e a multa, serãoapplicados ao dono da patente.

ARTIGO 8º - O que tiver uma patente poderá dispor della,como bem lhe parecer, usando elle mesmo, ou cedendo-a aum, ou a mais.

ARTIGO 9º - No caso de se encontrarem dous, ou mais, nosmeios, por que tenham conseguido qualquer fim, ecoincidindo ao mesmo tempo em pedir a patente, esta seconcederá a todos.

ARTIGO 10º - Toda a patente cessa, e é nenhuma:

1. Provando-se que o agraciado faltou à verdade, ou foidiminuto, ocultando material essencial na exposição, oudeclaração, que fez para obter a patente.

2. Provando-se ao que se diz inventor, ou descobridor, quea invenção, ou descoberta se acha impressa, e descripta talque elle a apresentou, como sua.

3. Se o agraciado não puzer em prática a invenção, oudescoberta, dentro de dous annos depois de concedida apatente.

Se o descobridor, ou inventor, obteve pela descoberta, ouinvenção, patente em paiz estrangeiro. Neste caso porémterá, como introductor, direito ao prêmio estabelecido noartigo 3.

Se o gênero manufacturado, ou fabricado, fôr reconhecidonocivo ao público, ou contrário às leis.

Cessa também o direito de patente para aquelles que antes daconcessão della usavam do mesmo invento, ou descoberta.

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Os primeiros passos da industrialização no BrasilApesar de as legislações de 1809 e 1830 estarem voltadaspara o fomento à industrialização do Brasil, elas nãoobtiveram os resultados esperados. Os pesquisadoressituam os primeiros passos da industrialização no Brasil nadécada de 1840, sobretudo após a edição da polêmicaTarifa Alves Branco. O então ministro da Fazenda AlvesBranco baixou severas tarifas alfandegárias visando iniciaro desenvolvimento da indústria nacional. O recurso eramuito utilizado na Europa daquela época.

Embora tivesse curta duração, a Tarifa Alves Branco deuorigem a pequenas manufaturas, sem maior importância nocontexto econômico do país. A indústria continuou bemmodesta até o início da República.

Foi a agricultura do café que estimulou a industrializaçãobrasileira no século XIX. Primeiro foram produtos ligados àsua manipulação: descaroçadoras, manufaturas de sacosetc. Mais tarde, com o decorrente aumento da população ea urbanização, surgiram estimulantes mercados para asindústrias de tecidos e alimentos.

Os registros de patentes concedidas no período confirmamesse quadro. A maior parte deles estava associada à produçãocafeeira e à indústria de roupas e alimentos. Misturavam-secom curiosos inventos, como uma fórmula química queprometia eliminar o potencial explosivo do querosene.

Pedido de privilégio industrialdo “Guarda-chuva” (1909)

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A primeira lei que tratou das marcasUm rumoroso caso de falsificação de marcas conhecido como“Caso Moreira & Cia. x Meuron & Cia.” marcou, em 1874, oinício da discussão sobre a regulamentação das marcas noBrasil. A Moreira & Cia lançou no mercado o Rapé Areia Parda,muito semelhante ao consagrado Rapé Areia Preta produzidopor Meuron & Cia. O jovem advogado Rui Barbosa atuou emfavor desta última. Apesar de todas as evidências favoráveis àMeuron & Cia., o processo foi anulado. Não havia qualquerlegislação que permitisse qualificar o caso como delito.

Foi a gota de água que faltava. No ano seguinte surgiu aprimeira lei que regulou as marcas de fábrica no Brasil:Decreto nº 2.682, de 1875. Veio com 35 anos de atraso emrelação à lei de patentes.

Dentro da característica monárquica, o Decreto nº 2.682assim tinha início: “Hei por bem Sanccionar e Mandar quese execute a seguinte Resolução da Assembléa Geral: éreconhecido a qualquer fabricante e negociante o direito demarcar os produtos de sua manufactura e de seucommercio com signaes que os tornem distinctos dos dequalquer outra procedencia...”.

A lei previa que o interessado podia ser representado pormandatário especial, também denominado como procurador.

A indústria do fumoproliferava no Brasil semlegislação que amparasseas marcas (final do séc. XIX)

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Os acordos internacionaisNa segunda metade do século XIX vivia-se a chamadaSegunda Revolução Industrial, que, impulsionada pelosbarcos e ferrovias a vapor, revolucionava os transportes e ocomércio mundial. A industrialização deslanchava empaíses como Itália, Alemanha e Japão, agora sob a égidedas grandes empresas monopolistas que promoviam oneocolonialismo e remodelavam o mapa-múndi. Surgiamnovos grandes impérios coloniais.

Nesse contexto, sob o reinado de Dom Pedro II - ummonarca sempre atento às inovações e aodesenvolvimento tecnológico de seu tempo,especialmente no que se referia à fotografia -, o Brasilcomeçou a manifestar precoce preocupação com aspatentes no plano internacional. Essa posição sematerializou em diversos acordos bilaterais assinados coma França, a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos,Portugal e a Dinamarca, todos no período de 1876 a 1884.

A primeira convenção internacional sobre marcas epatentes, a Convenção de Paris, em 1883, sistematizou asnormas de proteção às marcas, patentes, desenhosindustriais etc. A partir daí, todas as convenções ficaramconhecidas pelo nome da cidade sede do evento. O Brasilfoi o único país da América do Sul signatário do documentooriginal da convenção.

O país marcou sua presença na Convenção de Berna,realizada em 1900, a principal convenção transnacionalespecificamente voltada para os direitos autorais, queestabeleceu normas mínimas para os países signatários. Aproteção dos direitos autorais passou a ser automática emtodos os países membros.

Alexandre Graham Bell na primeira conversatelefônica (1876)

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Devido ao contínuo surgimento de novas tecnologias evisando bases seguras para a sua disseminação, asconvenções se sucederam ao longo do século XX: 1911,em Washington; 1925, em Haia; 1934, em Londres; 1958,em Lisboa; 1967, em Estocolmo; e o último, o TradeRelated Intellectual Property Rights, conhecido comoTRIPS, realizado em 1994. O Brasil assinou imediatamentetodos os documentos, menos o de Estocolmo, que só foireconhecido em 1990.

No princípio do século XX teve início uma série deconvenções interamericanas. A primeira foi realizada no Riode Janeiro, de 23 a 27 de julho de 1906, ocasião em que foifirmada a Convenção da União das Américas. Estabeleceu-se no encontro a criação de duas secretarias, uma emHavana e outra no Rio de Janeiro, com a função decentralizar o registro de obras literárias e artísticas,patentes, marcas, desenhos e modelos, assegurando aproteção da propriedade intelectual e industrial.

Revista “Rions!” (1908)

Pedido de privilégio industrialdo “Barco Vélez” (1896)

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Capítulo IIPrimeiros tempos do DNPI e dosagentes da Propriedade Industrial

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“Na década de 1930 e 1940 havia uma boa lei com

uma boa regulamentação da profissão,

faltava apenas contornar alguns problemas do cotidiano e foi esse

o propósito da ABAPI, exatamente defender

os interesses da classe.”

OSCAR-JOSÉ WERNECK ALVES

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No fim do século XIX, a industrialização brasileira entrou emuma nova etapa. A produção e a exportação do cafécresciam rapidamente, estimulando o ingresso de algumasdezenas de milhares de imigrantes todos os anos. Ocrescimento transformava as cidades e criava mercadopara o desenvolvimento das indústrias de roupas e tecidos.A propriedade dos inventores e das marcas de fábrica eraassegurada pela Constituição republicana de 1891.

Em 1907, o censo industrial apontou a existência de 3.258estabelecimentos. Pouco mais de dez anos mais tarde, aindustrialização brasileira era realidade. De acordo com o censode 1920, o país já contava com 13.336 estabelecimentos fabris,quatro vezes mais do que o censo anterior.

Na época, o desenvolvimento industrial se insinuava emEstados como Pernambuco, Santa Catarina e Minas Gerais.

“O Tico-Tico” (1916)

“Almanaque Eu Sei Tudo”(1921/22)

Bonde no largo de SãoBento, em São Paulo (1900)

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Mas a industrialização continuava a orbitar em torno docafé. O parque industrial de São Paulo, que era o principalprodutor e exportador, começou a suplantar o do pioneiroRio de Janeiro.

No plano político, no entanto, a hegemonia dos barões do caféentrava em crise. Já em 1917, uma greve em São Pauloconseguiu mobilizar 100.000 trabalhadores. Em 1922 começouo Movimento Tenentista, que questionou militarmente osistema. A exclusão das massas do processo político estavacom os dias contados. Na área cultural, a famosa Semana deArte Moderna de 1922 anunciou os novos tempos. Acrescente complexidade social, cultural, econômica e políticado Brasil deu origem a ampla aliança entre oligarquiasdissidentes, militares de baixa patente e extratos médios dasociedade que desencadeou a Revolução de 1930.

“A Gazeta” (1929)

Tenente Cabanas naRevolução de 1924 em SãoPaulo (primeiro à esquerda)

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13. João da Gama Cerqueira,“Tratado da PropriedadeIndustrial”, p. 52.

14. Durante a ExposiçãoInternacional Comemorativado Centenário daIndependência, ocorrida de16 a 31 de outubro de1922, foi realizado oCongresso Jurídico,promovido pelo Institutodos Advogados Brasileiros.O congresso contou comuma Seção de DireitoIndustrial, presidida peloministro Viveiros de Castro.Durante os trabalhos foramdestacados princípiosapontando para anecessidade de unificaçãodos serviços de marcas defábricas e de comércio quedariam origem à DiretoriaGeral da PropriedadeIndustrial.

15. Decreto-lei nº 16.264, de19 de dezembro de 1923,que criou e regulamentou aDiretoria Geral daPropriedade Industrial.

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A criação do DGPIO ritmo acelerado da industrialização no início dos anos de1920 acabou impondo uma nova discussão na área daPropriedade Industrial: a necessidade de criar um órgãooficial, especializado e centralizado, para cuidar das marcase patentes. O serviço de patentes era então realizado poruma diretoria, enquanto as marcas eram depositadas nasjuntas comerciais.13

A proposta foi apresentada no Congresso Comemorativo doCentenário da Independência do Brasil, realizado no Rio deJaneiro, em outubro de 1922.14 Seguindo a orientação docongresso, o ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeidaelaborou projeto que deu origem à Diretoria Geral daPropriedade Industrial, a DGPI.15

Monumento daIndependência em SãoPaulo (final do séc. XIX)

Cartaz da Exposição doCentenário daIndependência (1922)

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A lei de 1923O Decreto nº 16.264, de 1923, definiu que a Diretoria Geralda Propriedade Industrial teria a seu cargo a concessão deprivilégios de invenção e o registro de marcas de indústriase de comércio. Responderia ainda pelo exame eencaminhamento dos registros de marcas daqueles quequisessem gozar da proteção legal nos países queparticipavam das convenções internacionais.

O quadro funcional teria vinte servidores além do diretor geral:dois chefes de seção, dois primeiros oficiais; quatro segundosoficiais; quatro terceiros oficiais; dois datilógrafos; um porteiro;dois contínuos; três serventes; e dois consultores técnicosencarregados do exame prévio das invenções.

A lei previa também a criação de uma bibliotecaespecializada e da Revista da Propriedade Industrial, que sófoi implementada na década seguinte.

“Almanaque Eu Sei Tudo”(1921/22) “Revista da Semana” (1934)

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As novas perspectivas abertas pela Revolução de 1930A década foi marcada por grande efervescência na áreapolítica: Revolução Constitucionalista em 1932, AssembléiaNacional Constituinte, Intentona Comunista em 1935, golpede estado em 1937 e fracassada tentativa de tomada dopoder pelos integralistas em 1938.

A nova Carta Constitucional introduziu alguns princípiosdemocráticos fundamentais às democracias modernas.Consagrou o voto universal e com ele o direito de voto àsmulheres. Viabilizou o pluripartidarismo e assegurou oingresso das diversas ideologias presentes na sociedade nojogo político institucional. Era o fim da chamada “exclusãodas massas”. A classe média e parte dos segmentospopulares passaram a exercer a cidadania.

Tratou-se, porém, de um rápido ensaio democrático. Em1937, através de golpe de estado, foi instaurado o EstadoNovo. O Brasil viveu os oito anos seguintes sob a ditadurade Getúlio Vargas.

Na área econômica, o período não foi menos conturbado. Agrande crise econômica de 1929, de proporções mundiais,afetou profundamente a economia cafeeira, produzindorecessão nos primeiros anos da década de 1930.

Apesar da crise, a área industrial não foi muito atingida. Em1933, a produção voltou a crescer. Pela primeira vez nahistória do Brasil, os valores movimentados pela indústriaultrapassaram os da agricultura.

Partidários da Revolução de1930 empastelam o jornal“A Gazeta”, ligado aoregime deposto (1930)

“Manual de Campanha doVoluntário Constitucionalista”

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A modernização do Estado pós-1930O novo regime adotado em 1930 tinha como meta aconstrução de um Estado-Nação e o compromisso degarantir o pleno desenvolvimento nacional. A política deGetúlio Vargas visava dotar o Estado brasileiro delegislação, órgãos e agências para garantir essedesenvolvimento.

Exemplo dessa política foi a introdução de princípios queasseguravam direitos trabalhistas na Constituição de 1934,o que mais tarde possibilitou a criação da Consolidaçãodas Leis Trabalhistas. Esta base legislativa complexapassou a regular o mercado de trabalho e foi fundamentalpara minorar a tensão existente entre capital e trabalho nasdécadas seguintes.

Na agenda da modernização ocupava lugar de destaque asubstituição das práticas patrimonialistas que garantiam àselites, desde o período colonial, o monopólio da máquinaestatal. Entre as grandes novidades estavam a adoçãosistemática de concursos para cargos públicos, um recursoestratégico para barrar nomeações e apadrinhamentos quecomprometiam o funcionamento do Estado.

Os concursos - prática comum em diversos paíseseuropeus, apesar de pouquíssimo utilizada no Brasil -incorporaram dois princípios básicos: a garantia de que todocidadão poderia disputar um cargo no poder público e asegurança de que os mais preparados, com conhecimentosespecíficos comprovados, seriam selecionados.

O acesso aos chamados ofícios públicos também foi revistodentro da mesma concepção. Os candidatos tinham depassar no concurso ou apresentar diplomas de nívelsuperior, garantindo a qualificação mínima desejável.

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Revista “A Cigarra” (1931)

Revista “XPA” (1933)

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16. Decreto nº 22.989, de26 de julho de 1933.

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A fundação do DNPIA modernização do Estado na década de 1930 atingiutambém a área da Propriedade Industrial. Em 1933, aDiretoria Geral da Propriedade Industrial ganhou o status deDepartamento e novas funções. O Decreto-lei nº 22.989 criouo Departamento Nacional da Propriedade Industrial, DNPI.16

Como atribuições do novo órgão ficaram estabelecidas “aconcessão de patentes de invenção, de melhoramento, demodelo de utilidade, de desenho ou modelo industrial egarantia de prioridade; o registro de marcas de indústriase de comércio, nome de estabelecimentos, insígnias eemblemas; repressão, dentro da esfera de suasatribuições, da concorrência desleal; a manutenção dabiblioteca e a direção da Revista da Propriedade Industrial;a execução das convenções internacionais de que o Brasilfizer parte, concernentes à proteção da PropriedadeIndustrial na conformidade das leis que as promulgarem eseus regulamentos”.

A lei determinou ainda a transformação do cargo deconsultor jurídico em procurador da Propriedade Industrial.Em seu artigo terceiro estabeleceu que “o exercício dasfuncções de agente official de Propriedade Industrial passaa ter caracter de officio público, em virtude de nomeaçãodo Ministro do Trabalho, Indústria e Commercio, e provasde habilitação prestadas nos termos do regulamento a queallude o artigo primeiro”.

A transformação da antiga Diretoria em Departamento foiacompanhada por significativo aumento no número deservidores, que praticamente triplicou, passando de 21para 59 membros.

Antiga sede do DNPI

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As origens do agente da Propriedade IndustrialDurante o século XIX, diversos países previam em lei apossibilidade de os inventores serem representados juntoàs autoridades através de procuradores. No Brasil, oexercício de fato da profissão antecedeu em muitasdécadas a sua institucionalização. Desde 1882, o escritóriode Jules Géraud, Lecrerc & Cia. tinha como uma de suasespecialidades o serviço de marcas e patentes.

Em 1923, mais uma vez, a lei que criou o DGPI apontou apossibilidade de ser o inventor ou interessado representadopor procurador. O exercício da profissão era reconhecidooficialmente, porém ainda não era regulamentado.

Dez anos mais tarde, acompanhando a nova dimensão daDiretoria transformada em Departamento, a profissão foiregulamentada através do Decreto-lei nº 22.989. Eraintroduzido o “caráter de ofício público”, característicafundamental que marcou a função de agente da PropriedadeIndustrial nos quase quarenta anos seguintes, até 1971.

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Gama Cerqueira e o caso MalzbierNo mundo industrial e comercial moderno, a questão demarcas sempre suscitou diversas divergências. Algumas,quer pela sua abrangência ou pela notoriedade das marcasem disputa, entraram para a história da PropriedadeIndustrial como verdadeiros paradigmas da atuação dosagentes. Um caso ilustrativo foi o da disputa em torno dadenominação “Malzbier”, envolvendo a florescente indústriade cerveja no Brasil. Teve como principal destaque aatuação do renomado jurista João da Gama Cerqueira,autor do célebre Tratado de Propriedade Industrial, livro quese tornou uma verdadeira bíblia dos militantes na área.

Tudo começou em 1936, quando a Companhia Antarcticapleiteou junto ao então Departamento Nacional daPropriedade Industrial o registro de um rótulo que trazia otermo “Malzbier”, ou seja, uma forma de denominar o tipode cerveja ali envasado, uma cerveja escura, de malte. ACervejaria Brahma, que havia conseguido havia alguns anosregistrar o termo como se fosse uma marca, um nomefantasia, contestou o pedido da concorrente.

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O acesso ao cargo de agente após 1933A lei que criou a profissão de agente da PropriedadeIndustrial estabeleceu rigorosas regras para o acesso aoofício. Primeiramente foi assegurado o direito a todos queexerciam a função de “agente de Privilégio de Invenção eMarcas de Indústria e de Comércio há mais de cincoanos, quer pessoalmente, quer como firma individual,sócio ou diretor de firma colectiva ou sociedadeorganizada para esse fim”.

A nova sistemática garantiu aos advogados o direito derepresentação e jurisdição, bastando simplesmente solicitar ainscrição junto ao DNPI. O reconhecimento era automático.

O concurso voltava-se para aqueles que não eramadvogados mas que apresentavam condições para oexercício do cargo. Só podiam requerer a matrícula comoagente oficial de Propriedade Industrial os “brasileiros demaior idade, no gozo dos direitos civis e políticos”.

Os candidatos eram submetidos a exames escrito e oral,abrangendo toda a legislação pertinente à área, bem comoconhecimentos a respeito do expediente cotidiano do cargo.

O concurso visava “uma filtragem”, assegurando que osagentes tivessem condições para um bom desempenho na

Moacir da NóbregaSócio fundador e grandecolaborador

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O caso foi parar no Conselho de Recursos do DNPI. GamaCerqueira - fundador, junto com Sebastião Silveira, de umdos mais atuantes escritórios especializados em PropriedadeIndustrial - Cruzeiro do Sul Patentes e Marcas -, argumentouque a Cervejaria Brahma havia se descuidado e não tinharenovado o registro da marca, o que provocava suacaducidade. O jurista demonstrou também, amparado nonovo Código de Propriedade Industrial de 1933, a ilegalidadede conceder um registro de marca a um termodenominativo.

Uma farta documentação originária de diversos países,com especial destaque aos rótulos que as cervejariasalemãs ostentavam em suas garrafas, comprovava sua tese.Diante de sua implacável argumentação, o colegiado doConselho de Recursos resolveu por bem dar ganho decausa à Companhia Antarctica.

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função. Embora não fossem funcionários públicos, osagentes, incluindo os advogados, estavam sob a autoridadedo diretor do DNPI.

A lei de 1933 trouxe outra peculiaridade. Quem fosseaprovado em concurso era nomeado pelo ministro edepositava caução pecuniária - de cinco contos de réis -que era destinada a garantir as partes na hipótese de umfracasso. Segundo declarou Custódio de Almeida, era somasignificativa e foram precisos três longos anos para queconseguisse reunir tal soma.

Essa regulamentação qualificava o profissional e davaresponsabilidade ao agente. Por outro lado, buscavagarantir os interesses dos representados, uma vez que osagentes estavam sujeitos a processo.

Esse conjunto de medidas visava assegurar o sistemacomo um todo, inclusive os representados.17

A Revista da Propriedade IndustrialAlém de criar o DNPI e definir as regras para o exercício doofício de agente, a lei de 1933 previa a publicação derevista especial para tratar da Propriedade Industrial. Emdezembro do mesmo ano foi publicado o primeiro númeroda revista, em forma de boletim. Em 1934, a Revista daPropriedade Industrial passou a ser editada regularmente eganhou seção autônoma dentro do Diário Oficial da União.

A Revista vinha responder ao crescimento do volume deprocessos que tramitavam no DNPI, justificando a criaçãode uma seção destacada dentro do expediente doMinistério do Trabalho, Indústria e Comércio.

17. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

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Primeiro número da “Revistada Propriedade Industrial”

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Capítulo IIIA integração dos agentes

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“O embate é entre as partes, não entre advogados.

Advogado não briga com outro advogado.

Não há dificuldade nenhuma. Defendem o interesse de

seus clientes. Os clientes é que mitigam.”

LUIZ ANTÔNIO RICCO NUNES

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Pracinhas entram naprimeira cidade italianalibertada pela FEB (1944)

Vista da Fábrica Brasileirade Motores (1944)

“O Cruzeiro” (1943)

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No fim de 1945, pressionado pela onda redemocratizanteapós a Segunda Guerra Mundial, a habilidade política deVargas, que lhe permitiu manter-se durante quinze anos àfrente dos destinos da nação, não foi suficiente paraimpedir a deposição pelos militares. No ano seguinte, sob ocomando do marechal Eurico Gaspar Dutra, era elaboradauma nova Carta Constitucional.A situação confortável da economia era fruto dos lucrosobtidos com o comércio exterior durante a guerra e dospesados investimentos na industrialização de base feitosdurante o governo Vargas. A Usina Siderúrgica de VoltaRedonda entrava em funcionamento; a Fábrica Brasileirade Motores, livre das encomendas militares, preparava-separa abastecer o mercado civil com seus produtos. Oscarros movidos a gasogênio, imposição da economia deguerra, deixavam gradativamente as ruas, enquantomodernos Cadillacs desfilavam ao som de Carinhoso,interpretada soberbamente pelo “Cantor das Multidões”,Orlando Silva.As divisas acumuladas durante a guerra foram gastas semparcimônia, sobretudo com a aquisição de bens deconsumo do exterior. As relações cada vez mais próximasentre o Brasil e os Estados Unidos, de acordo com oespírito da “Política da Boa Vizinhança”, promoveram ainvasão de grandes astros do cinema americano. Carmen

“O Cruzeiro” (1944)“O Cruzeiro” (1946)

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Miranda e os Cariocas contracenavam com os personagensdos desenhos animados de Walt Disney.

Nunca o mercado editorial de revistas vendeu tanto. Ospôsteres de Clark Gable e Tyrone Power tiravam suspirosdas moças, enquanto para os varões a disritmia eraprovocada pela insuperável e misteriosa Greta Garbo.Todos eles emoldurados pelos anúncios de novas marcasque fincavam pés no país, como a Coca-Cola, a lâminaGillete e os cigarros Hollywood.

Nesse mundo do pós-guerra, que se transformavarapidamente, surgiu mais uma vez a necessidade dereformar legislações e instituições. No âmbito daPropriedade Industrial foi preciso fazer modificações paraadequar a legislação aos novos tempos. Sob o regimeVargas, o Decreto-lei nº 7.903, de 27 de agosto de 1945,consagrava novas disposições, como o licenciamentoobrigatório de patentes de invenção.

A reforma do código recebeu grandes elogios, sendoconsiderada por muitos agentes como uma das melhoresleis produzidas no país sobre marcas e patentes: “era bemajustada à realidade, inclusive teve grande expressãointernacional”.18

A modernização dos anos pós-guerra interferiu de talmaneira no mundo da Propriedade Industrial, que foinecessário completa remodelação no Departamento Nacionalde Propriedade Industrial. Com a edição do Decreto-lei nº8.933, de 26 de janeiro de 1946, no governo do marechalDutra, foi ratificado o status dos agentes oficiais daPropriedade Industrial, garantindo as formas de acesso porconcurso preconizadas no antigo Código de 1933.

A necessidade da criação de uma entidade congregando osagentes marcou o fim da década de 1940. Após amplamobilização, em 4 de novembro de 1948 foi criada aAssociação Brasileira dos Agentes da PropriedadeIndustrial, a ABAPI. Logo nos primeiros meses deexistência, a entidade manifestou as metas básicas quemarcariam toda a sua história: a defesa dos interesses dacategoria, a luta para aprimorar o DNPI, a busca doaprimoramento do exercício da profissão com defesaintransigente da ética e a integração da categoria atravésde atividades sociais.

O objetivo de integrar se comprovou de diversas formas:festas e atividades esportivas, solidariedade em torno dagrande seca que atingiu o Nordeste, união em torno daconstrução de sede própria e o “Mais Um Igual”, uma curiosaconfraternização que reunia diversos filiados todos os meses.

18. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

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A fundação da ABAPIA criação da ABAPI foi resultado dos novos contornos que omundo da Propriedade Industrial adquiriu no Brasil dadécada de 1940. Todos os anos, os protocolos de pedido deregistro batiam o recorde do ano anterior. O número deagentes também não parava de aumentar, refletindo oacelerado crescimento da indústria e do comércio. Estastransformações impuseram a necessidade de um interlocutorpara representar a categoria junto às autoridades.

Quando a proposta da criação de uma associação foi feitano fim da década de 1940, a aprovação ocorreu com apoiode um grande número de agentes que participaram dafundação. As autoridades também sentiam a necessidadede criar a entidade e prontamente cederam uma sala nasdependências do DNPI para a instalação da sede.

A importância da entidade foi comprovada na prática. AABAPI não só se tornou instrumento fundamental na defesados interesses dos agentes, como lutou ininterruptamentepelo aperfeiçoamento dos serviços do Departamento.

Um episódio curioso, que desencadeou o processo decriação da entidade, ilustra bem a necessidade de umaassociação representativa para a categoria. Numa tarde demarço de 1948, encontravam-se reunidos Custódio deAlmeida, Moacyr da Nóbrega, Müller Alves e Álvaro Bispono vasto hall do Palácio do Trabalho, onde era sediado oDNPI, quando passou apressadamente Romeu Rodrigues,procurador de São Paulo que tinha viajado ao Rio deJaneiro para participar de importante reunião comFrancisco Coelho, então diretor do DNPI.

Passados alguns minutos, Romeu Rodrigues retornou,desanimado e contrariado. Não era para menos: o encontrohavia sido adiado para data oportuna. Foi nesse momentoque Romeu Rodrigues lançou a idéia da criação de umaassociação dos agentes da Propriedade Industrial.

O grupo se identificou imediatamente com a proposta e deuinício à mobilização da categoria, distribuindo um manifestointitulado “Justificação Preliminar”. O documentoconvocando todos para a criação da entidade era datadode março de 1948 e assinado por Romeu Rodrigues.

Outro importante depoimento sobre a fundação da ABAPI éprestado por Oscar-José Werneck Alves. Segundo ele,grandes escritórios - hoje com tradição de mais de setentaanos - participaram da fundação da entidade. “Eram pais eavós de muita gente que está atuando agora. Eles sentiama necessidade da defesa dos interesses de classe como umtodo e isso estimulou a criação de uma representaçãoclassista junto ao poder público. Era o que hoje sedenomina como interface.”

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A organização corporativa, incentivada pelo governo desdeo início da década de 1930, deu origem a váriasassociações, como a Ordem dos Advogados do Brasil, aOAB, e sindicatos. Em 1937, a criação de um sindicato dosagentes da Propriedade Industrial foi aprovada peloministério. No entanto, a entidade não prosperou.

Havia entre os agentes a convicção de que a organizaçãoem forma de associação teria representatividade parapostular junto ao poder público tudo o que fosse favorávelao exercício profissional e às demandas da categoria edos clientes. Ao longo dos anos, a história mostrou que adecisão dos agentes foi acertada. A ABAPI efetivamentedefendeu os interesses classistas e foi reconhecida pelasautoridades.

“Num primeiro momento, os objetivos mais imediatos eramexatamente contornar os problemas do cotidiano, da vida,daquele contato íntimo que havia entre os funcionários”,conta Werneck Alves. Naquela época, o DNPI era aberto.Além de ter acesso à sala de comunicação dos processos,os agentes podiam falar com todos os funcionários semformalidades. Apenas o diretor geral e o diretor deserviços eram menos acessíveis. Mas muitas vezes haviaproblemas que atingiam a todos e a solução dependiajustamente dos dirigentes.19

19. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

Custódio Cabral de AlmeidaPresidente 1968/69

José Müller AlvesPresidente 1956/59 e 1964/67

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A classe se mobilizaO governo Vargas se notabilizou pela política de incentivo àsindicalização dos trabalhadores. Com o crescente númerode sindicatos, ganhou importância a função arbitraldesempenhada pelo governo, o mediador das divergênciasno mundo do trabalho brasileiro. A função era exercida pelorecém-fundado Ministério do Trabalho, Indústria eComércio. Os agentes oficiais da Propriedade Industrial nãopoderiam ficar fora dessa realidade. Assim, em 18 deoutubro de 1937, o então ministro do Trabalho, Indústria eComércio, o pernambucano Agamenon Magalhães - umgrande promotor da política sindical de Getúlio Vargas -,assinava a carta que reconhecia um novo sindicatobrasileiro: o “Syndicato dos Agentes Officiaes daPropriedade Industrial”.

Álvaro Félix BispoSócio fundador e grande colaborador

Romeu RodriguesSócio fundador e grande colaborador

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Manifesto aos agentes e procuradores de 1948Justificação preliminar

Caro colega,

Urge que nos congreguemos. A forma dessa união -associação, câmara ou ordem - resultará, naturalmente, davontade da maioria. Mas a diretoria única se impõe: unirmo-nos, tendo por base a iniciativa individual, para adotar umaconduta de intercâmbio de idéias, de propósitos, desugestões e de trabalho, sem preconceitos ou preferências,auxiliando-nos e defendendo-nos mutuamente para maiorprestígio de nossa classe e de nossas atividades profissionais.

Há dez anos, no Rotary Club de São Paulo, a que lamentonão pertencer, um cliente e amigo, sr. A.S. Noschese,proferiu conceitos que merecem ser aqui repetidos: “Asrelações profissionais devem ser sempre as mais íntimas,leais e honestas. O profissional que é digno desse nomedeve proceder para com os seus colegas com a máximacordialidade e lisura. Os que vivem na melhor harmonia têmtudo a lucrar, pois não só tornam a própria vida mais amena,como também, em virtude da boa camaradagem, têmoportunidade de trocar impressões, resultando, dessemodo, o maior número de vezes, ensinamentos recíprocos”.

É de meridiana clareza a argumentação. Os membros deuma comunidade, quando divididos, embora honestos, só secausam prejuízos, pois que realizam esforços em sentidosdivergentes. A coletividade dos agentes oficiais daPropriedade Industrial tem compromissos eresponsabilidades para com as forças produtoras do país -de cujo desenvolvimento constituímos valioso elemento - e,conseqüentemente, com a própria pátria. Ainda que entre osnossos componentes se abrigassem preocupações egoístase personalistas (o que, felizmente, não acontece), o nossoespírito público nos levaria à conclusão de que nossa uniãoé uma necessidade e é um dever de patriotismo.

Permito-me encerrar essas considerações justificativas deminha proposta com as palavras finais do orador acimareferido: “Para a execução das grandes tarefas, énecessário que todos se congreguem. Cada qual poderáagir de acordo com as suas convicções e defender as suasidéias. O que, porém, não se pode olvidar é o deversagrado que cada cidadão tem para com a pátria e anecessidade que tem de pôr, acima de tudo, o bem dacoletividade, a união nacional e a grandeza do Brasil”.

Este é o sentido do meu apoio. Iniciemos uma nova era,esquecendo as divergências do passado, somando asenergias do presente para a grandeza do futuro. Avante!

São Paulo, março de 1948.

Romeu Rodrigues

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Carta sindical do“Syndicato dos AgentesOfficiaes da PropriedadeIndustrial” (1937)

Convocação de assembléiapara redação final doestatuto (1949)

Eduardo DannemannSócio fundador e grande colaborador

Richard Paul MonsenSócio fundador e grande colaborador

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O estatutoAlém do principal objetivo da ABAPI, o de “promover adefesa dos interesses da classe dos agentes daPropriedade Industrial”, três outras metas estão no estatutoda entidade: “promover e incentivar o estudo do direito depropriedade industrial e de matérias correlatas, mantendo ointercâmbio com outras associações nacionais ouestrangeiras; criar e desenvolver atividades associativas;prestar, como for possível, assistência e auxílio de quenecessitem os agentes da Propriedade Industrial”.

De acordo com o documento, referendado em 4 denovembro de 1948 por 58 fundadores, podem ser sóciosefetivos os “agentes oficiais da Propriedade Industrial, oscomponentes de sociedade agente oficial da PropriedadeIndustrial e os advogados militantes com vínculos na área”.Os prepostos podem ser sócios aderentes.

O primeiro presidente eleito da ABAPI foi Francisco AntônioCoelho. Tratava-se de uma homenagem ao ex-diretor doDNPI, responsável pelo órgão na época da elevação aDepartamento e pelo regulamento que reconheceu aprofissão de agente, em 1933.

Estatutos da ABAPI (1950)

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Atividades recreativasTanto quanto as associações de amigos que se multiplicaramao longo das décadas de 1940 e 1950 nas grandes cidadesbrasileiras, as associações de profissionais tambémcontribuíram para preencher as lacunas de lazer que a vidaurbana apresentava. Para a ABAPI, as atividades sociais eramconsideradas fundamentais para a integração da categoria.

Organizar atividades sociais foi uma prioridade desde afundação. Campeonatos de futebol, piqueniques echurrascos são apenas alguns exemplos. O time de futebol,criado para competir num campeonato interno do DNPI, fezfama entre os agentes. “Não me lembro de nenhumaderrota daquele time”, afirma Custódio de Almeida.

Além de reunir a categoria, as atividades recreativaspromovidas pela ABAPI sempre significaram umaoportunidade de relaxamento para os agentes. “Os mesmosprofissionais que num dia se digladiavam nos tribunais, nodia seguinte, podiam ser vistos se confraternizando nasatividades de lazer da entidade”.

Pregar a concorrência leal é outra missão da entidade. Poruma peculiaridade da própria profissão, os agentes deProdutos de Industriais acabam se tornando potenciaisconcorrentes uns dos outros. Manter a cordialidade e aconvivência saudável entre os sócios, apesar das rivalidadesdo dia-a-dia, é uma tarefa na qual a ABAPI se empenha.

Um bom exemplo da concorrência leal que a associaçãosempre procurou incentivar é o caso relatado por RicardoVieira de Mello. Seu avô, Júlio Vieira de Mello, tinha a contada tradicional Casa Granado. Na época, seu escritório “nãofazia ação judicial” e seu avô não teve dúvida em entregar ocaso ao escritório de Thomas Leonardos, que defendeu ocliente e obteve vitória.

Francisco Antônio Coelho,primeiro presidente daABAPI (1950/53)

Júlio dos Santos Vieira de MelloSócio fundador e grandecolaborador

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Time de futebol da ABAPI(c. 1950)

Abapianos se confraternizamno auditório do Palácio doTrabalho (c. 1950)

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A primeira sede própria da ABAPIPor quase dois anos, a ABAPI funcionou numa sala do DNPI,cedida pelas autoridades logo após a criação da associação.Mas a necessidade de mais espaço, e também deindependência, fez com que a conquista de uma sedeprópria fosse uma prioridade nos fins da década de 1950.Nem sempre as relações com os dirigentes do Departamentoeram as mais amistosas e a permanência na sala emprestadapodia significar constrangimentos desnecessários.

A campanha para a construção da sede própria caminhouacelerada. A obra foi concluída antes do previsto e foipreciso até conclamar os sócios a assinar um livro de ouropara conseguir quitar as últimas parcelas pendentes com aconstrutora. Um grande número de associados respondeuaos apelos da diretoria.

Em 1958, em meio a grandes festejos, o primeiropresidente da ABAPI, Francisco Antônio Coelho -acompanhado de Olga Werneck Alves, José Müller Alves,Lia Oliveira e Maria Júlia Mellazzi, entre outros -, rompia afita inaugural da sede própria.

Ladeado por Olga WerneckAlves e pelo presidenteJosé Müller Alves, oprimeiro presidente daABAPI, Francisco AntônioCoelho, solta a fita inauguralda sede própria (1958)

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Páginas de introdução do“Livro de Ouro”

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Sócios desfraldam abandeira da ABAPI nainauguração da sede (1958)

Francisco Coelho proferediscurso na inauguração daABAPI (1958)

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20. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

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O “Mais Um Igual”Um grupo de denominação peculiar que se reunia uma vezpor mês para “aparar arestas e bater papo” marcou ahistória da ABAPI: o “Mais Um Igual”. Custódio de Almeidae Rubem Querido eram dois dos entusiasmadosfreqüentadores desses encontros sui generis que deixaramsaudades entre os sócios da entidade.

Nos dias de reunião, os integrantes do grupo tinham odireito de fazer os despachos urgentes pela manhã, até as10 horas, e tirar o resto do dia de folga. Muitas vezes, oencontro começava com uma peladinha antes do almoço.Depois, o grupo seguia para um restaurante à beira-marpara saborear uma refeição paga pelo patrocinador do mês.O papo se estendia tarde afora.

Mas, segundo garantem os integrantes do “Mais Um Igual”,não eram apenas almoços de lazer e confraternização. Osencontros mensais serviram para acabar com eventuaisdesentendimentos entre os sócios e, principalmente, parareforçar a principal característica do grupo da PropriedadeIndustrial: a solidariedade e a amizade.20

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Sócios em excursão nadécada de 1950

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Capítulo IVA consolidação da ABAPI na década de 1950

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“O antigo Conselho de Recursos era a vedete da época. Quando se sabia que iria haver um embate

daquele pessoal, como o dr. Custódio de Almeida,

o dr. Dannemann, o dr. Júlio Vieira de Mello, o dr. Thomas Leonardos,

e outros desse nível, havia magia no ar!”

RICARDO VIEIRA DE MELLO

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Getúlio Vargas em suafazenda em São Borja (c. 1950)

Juscelino Kubitschek,acompanhado por NereuRamos e João Goulart,discursa na cerimônia deposse (Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1956)

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O Brasil rompeu a década de 1950 em desassossego. Eraum país grande, rico e com incrível potencial para o seudesenvolvimento não aproveitado. A experiênciademocrática com o marechal Eurico Gaspar Dutra haviadado resultados pífios em termos de desenvolvimento.

A volta de Getúlio Vargas marcou o início de uma fase degrande instabilidade. Seus opositores, particularmente daUnião Democrática Nacional, a UDN, estavam mais fortes egrande parte da sociedade brasileira recordava-se aindados anos de ditadura. Parte das Forças Armadas viaGetúlio com desconfianças.

Grandes mobilizações populares como a “Campanha doPetróleo É Nosso” ocorriam, enquanto uma oposiçãoferrenha ao governo de Getúlio Vargas se concentrava noCongresso. As crises tornaram-se inevitáveis: militarescontrários à política do ministro do Trabalho João Goulartarticularam o famoso manifesto “Memorial dos Coronéis”,episódio que terminou com sua renúncia e também a doministro da Guerra.

Acuado pela oposição e perdendo o apoio militar, Vargas sevoltou para o operariado, que o tinha como protetor, o “paidos pobres”, numa alusão à série de leis trabalhistas quehaviam sido instauradas nos anos 30 e 40. Ao mesmotempo, Getúlio desenvolvia uma política nacionalista e definanciamento à indústria, trazendo como saldo a Petrobráse o Banco de Desenvolvimento Econômico.

O líder oposicionista Carlos Lacerda não lhe dava tréguas.A fatídica tentativa de assassinato do jornalista, perpetradaa partir dos porões da guarda presidencial, acabouprovocando a grande crise e o suicídio de Getúlio Vargas,em 1954.

A depressão que atingiu o país após a morte de GetúlioVargas logo deu lugar à euforia trazida de Minas Gerais pelonovo presidente, Juscelino Kubitschek. Ex-governador doEstado, ele trazia a esperança em seu largo sorriso, em suafama de bom valsista e, principalmente, em suasrealizações durante o mandato em Minas.

Para o país, o novo presidente tinha metas ambiciosas. Naverdade, 21 metas cuja síntese era a construção da novacapital federal num ermo do Planalto Central de Goiás.Brasília - projetada pelos arquitetos Lúcio Costa e OscarNiemeyer, e construída por milhares de trabalhadores, oscandangos - logo tornou-se realidade.

No campo econômico abriu-se uma fase de crescimentosem precedentes, alimentada pela chegada das indústriasautomobilísticas e eletroeletrônicas estrangeiras. Apesar dasdificuldades vividas no princípio dos anos de 1950, a décadafoi encerrada com saldo de crescimento industrial de 32%.

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Ônibus rumo a Brasília (1960)

“Manchete” (1955)

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Os eletrodomésticos tornaram-se realidade nos lares. Walita eArno rivalizavam para conquistar a simpatia das mulheres “dolar”. A televisão, lançada pelo visionário homem da imprensaAssis Chateaubriand, se firmava no país.

Nessa década de desenvolvimento e crescimentoeconômico, a história da ABAPI foi marcada pela luta pormelhores condições de trabalho. Três problemascentralizavam as atenções da entidade. Sem dúvida, oprincipal deles era a crescente deficiência dos serviçosprestados pelo DNPI.

A conseqüência da precariedade era a multiplicação dosproblemas éticos. Com o agravante de que não havia naépoca um código de ética para controlar o exercícioprofissional dos agentes da Propriedade Industrial.

A princípio, havia uma grande interação administrativaentre a ABAPI e o Departamento. Esforços eram somadostanto na superação dos problemas do dia-a-dia quantona busca de alternativas legislativas para empreenderreformas mais profundas. Anteprojetos de reforma doCódigo da Propriedade Industrial, de reforma doConselho de Recursos e de criação de um código deética para disciplinar o exercício da profissão chegaram aser elaborados. Nenhum deles, entretanto, foiconcretizado.

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“Manchete” (1955)

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“Gazeta de Notícias”(9/9/1949)

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Na segunda metade da década, os problemas no DNPIganharam nova dimensão. Para atender a clientela de formasatisfatória, a ABAPI adotou a política de suprir comrecursos próprios as necessidades do Departamento. Naocasião era preciso emprestar máquinas e até funcionáriospara minimizar as dificuldades.

Entendendo que a solução dos problemas estruturais doDNPI não estavam ao alcance da diretoria da entidade oumesmo do ministério, a ABAPI - que já tinha então tradiçãona defesa dos interesses dos agentes - partiu para umasolução política: enviou o histórico Memorial para opresidente da República Juscelino Kubitschek.

A crise no Departamento se prolongou até o início dadécada de 1960, culminando com a dissolução do primeiroConselho de Recursos. O que não se sabia naquela épocaé que, na verdade, a crise estava apenas começando.

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A integração da ABAPI com o DNPIO rico acervo documental da ABAPI, que remonta ao anode sua fundação, não deixa dúvidas: na década de 1950havia estreito relacionamento entre a entidade e a direçãodo DNPI. A troca de correspondências era cotidiana eabordava desde os problemas mais sérios, como a revisãodo Código da Propriedade Industrial, até questõescorriqueiras. Nem mesmo quando a ABAPI enviou oMemorial ao presidente JK houve qualquer tipo decomprometimento nas relações com o Departamento.

Já no seu primeiro ano de existência, a ABAPI reuniusugestões de seus associados para facilitar o desempenhoda função. A iniciativa deu origem a um documento enviadoao presidente do DNPI. No expediente eram apontadasdiversas falhas verificadas junto ao órgão: “É fatoincontestável que o quadro do pessoal lotado no DNPI,longe de acompanhar o seu crescente desenvolvimento,vem dando causa à maior demora na solução dos assuntosque lhe são cometidos, a despeito do notório esforço dosseus provectos dirigentes e prestimosos serventuários”.Seguiam sugestões de ordem administrativa para tornarmais ágil o serviço, como a inclusão de uma “cópia-carbono” nas oposições, recursos e outros.21

Outro problema relacionado ao Departamento foi parar, nomesmo ano, nas manchetes do jornal Gazeta de Notícias:atraso na publicação dos clichês de marcas no DiárioOficial. Milhares de marcas aguardavam publicação.22

Apesar dos esforços das autoridades, o DNPI era um órgãoburocratizado, moroso, ineficiente - características comunsem vários serviços públicos no período. Havia umdescompasso entre a dinâmica de crescimento daeconomia e o tempo de adequação do serviço público ànova realidade. De modo geral, as medidas adotadas paraenfrentar os problemas eram apenas paliativas.23

21. Correspondência enviadapelo presidente da ABAPI,Francisco Antônio Coelho,ao diretor geral do DNPI, em 27 de junho de 1949.

22. Jornal “Gazeta deNotícias” de 9 de junho de 1949.

23. Vejam-se, por exemplo,os atos expedidos peladireção do DNPI, em 1 deoutubro de 1949, visandoabreviar o andamento dosprocessos.

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Agentes e prepostos emsua sala no DNPI (c. 1950)

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24. Correspondência doDNPI para a ABAPI datadade 5 de agosto de 1949.

25. Relatório da diretoria doDNPI de 10 de abril de1950.

26. Depoimento deCustódio de Almeida, em23 de setembro de 1998.

“O Cruzeiro” (1950)

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A questão da regulamentação da profissãoProblemas não faltavam. Mas o maior deles era certamentea falta de um código de ética rigoroso. A preocupação coma questão ética é revelada pelas correspondências trocadasentre o DNPI e a ABAPI. Falava-se da necessidade deregulamentação mais detalhada para conter abusos.

Em agosto de 1949, o DNPI informou que havia sidoconstituída uma comissão para preparar “um projeto deregulamentação das funções de agente”. Na ocasião, adireção do órgão manifestou a preocupação em aprimorar oprojeto e chegou mesmo a cogitar a publicação no DiárioOficial, a fim de que pudesse receber sugestões.24

No ano seguinte, a diretoria do DNPI assinalou mais uma vezsua preocupação com a elaboração de um “Regulamento doExercício da Profissão”. Levantou-se até a possibilidade deapresentar um memorial denunciando “casos concretos eprovados de ‘zangões’ e falsos procuradores”.25 Na época, otermo zangão era utilizado como sinônimo de rábula. Porém,na carta era empregado com sentido pejorativo, assinalandoa ação de pseudo-advogados.26

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Há tempos, a ABAPI apontava a necessidade de coibir osfalsos prepostos, que representavam advogados nãocredenciados.27 O problema assumiu tal vulto que em 1950o DNPI se viu obrigado a publicar aviso no Diário Oficial eem diversos jornais de grande circulação da capital,“visando coibir a ação de indivíduos não habilitados que,ludibriando a boa-fé de comerciantes e industriais,propunham-se a obter registro de marcas, patentes deinvenção e certidões junto ao Departamento”. O avisolembrou que estava em vigor o Decreto-lei nº 8.933, de1946, e citou explicitamente quem podia apresentar atosperante o Departamento: “os próprios interessados,pessoalmente; os agentes da Propriedade Industrial; e osadvogados, legalmente habilitados”.28

A partir daí, a questão da regulamentação assumiu diversasfacetas. Em julho daquele ano surgiu uma polêmica relativaà portaria ministerial de 8 de fevereiro, que disciplinava oprocesso das prorrogações de registros relativos aoexercício profissional. Para enfrentar a questão, foiconstituída uma comissão que realizou meticuloso estudoda matéria. O resultado do trabalho foi enviado ao DNPI.29

Além das profundas questões da regulamentação profissional,a proximidade entre a entidade e o DNPI permitia também atroca de opiniões sobre “avisos e portarias” corriqueiros -como a forma em que os selos deveriam ser apostos nosdocumentos - e sobre “questões de ordem processual,destinadas a facilitar a juntada das petições”.30

Na prática, a maior parte das decisões do DNPI erarealizada em perfeita harmonia com a ABAPI. Prova disso éque, em outubro de 1950, o DNPI enviou à ABAPI cópia doanteprojeto do Regimento do Conselho de Recursos daPropriedade Industrial, para que a entidade pudesse semanifestar sobre as propostas.31 O Conselho se mostravamoroso, atrasando em anos a apreciação dos processos.

Um ano mais tarde, quando os problemas éticos voltavam apreocupar, o DNPI ameaçou adotar medidas visandoreprimir o exercício ilegal da profissão. Foi a diretoria daABAPI que apontou medidas para minimizar o problema,depois de ter discutido o assunto em assembléia ocorridano final daquele ano.32 A proposta da entidade foi a criaçãode uma carteira de identificação profissional.33

27. Correspondência enviadapelo presidente da ABAPI,Francisco Antônio Coelho,ao diretor geral do DNPI, em27 de junho de 1949.

28. “Diário Oficial da União”de 26 de setembro de1950.

29. Relatório apresentadoao presidente da ABAPI,em junho de 1950.Correspondência enviadapela ABAPI ao DNPI, semdata.

30. Correspondência doDNPI à ABAPI, em 6 desetembro de 1949.

31. Correspondência doDNPI à ABAPI, em 19 deoutubro de 1949.

32. Aviso do diretor do DNPIde agosto de 1951. Ata daassembléia da ABAPI de 7 de novembro de 1951.

33. Ata da reunião dadiretoria de 4 de novembrode 1953.

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O anteprojeto de código de ética de 1954 e a autogestãoApesar dos esforços, o projeto de regulamentação dasfunções de agentes iniciado pelo DNPI em 1949 nãoprosperou. Em 1954, a iniciativa estava com os agentes daPropriedade Industrial. Uma comissão foi formada emjunho, durante uma assembléia, com o objetivo de prepararum anteprojeto de código de ética profissional, entãochamado CEP. A comissão era composta por SebastiãoSilveira, relator, e os agentes Guilherme Gnocchi, AntônioSouza Barros Júnior e Atílio João Fumo.

O anteprojeto, preparado rapidamente, transformou-se numrico documento, no qual as principais preocupações dacategoria estavam registradas. O trabalho começavadestacando a necessidade de estabelecer “normas deconduta profissional obrigatórias aos agentes oficiais eadvogados habilitados”. Afirmava que seu objetivo era a“elevação do nível de dignidade da classe e de todos osenvolvidos na esfera da Propriedade Industrial”.

O documento observava que era conveniente, na reformado Código da Propriedade Industrial, em curso, que fossemalinhadas disposições genéricas sobre a ética profissional ea ordem administrativa. Propunha ainda a inclusão deartigos como: “Os agentes oficiais da Propriedade Industrialserão obrigados ao respeito do Código de ÉticaProfissional, que aprovarem através de suas associaçõesou sindicatos de classe; nos casos de violação dessecódigo próprio, os processos terão curso e julgamentopelos órgãos competentes das referidas associações,segundo regras estabelecidas no mesmo código; asdecisões finais tomadas em tais processos serãocomunicadas, com pormenores, ao diretor geral do DNPI,que as fará cumprir e anotar nas fichas dos agentes”.34

34. Anteprojeto do Códigode Ética Profissionalapresentado em 12 dejunho de 1954.

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Thomas Othon LeonardosPresidente 1954/55 e1970/76

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A crise do DNPI na década de 1950“Maria Candelária é alta funcionária... na terça vai aodentista, na quarta vai ao café, na quinta vai ao florista e nasexta ninguém sabe o que ela é!” Como se pode observarna letra da famosa marchinha, que fez grande sucesso nocarnaval de 1952, os serviços públicos e os funcionárioseram na época alvos de desconfiança e ironia popular. Ospoetas Armando Cavalcanti e Klécius Caldas, de maneirasimples e direta, traduziram em versos o grandedescompasso que havia entre a sociedade que sedesenvolvia e o Estado que mantinha contornosadministrativos ultrapassados.

O fenômeno mostrou-se plenamente nos setores maisdinâmicos, como o de marcas e patentes, que viviafrenético crescimento. A cada dez anos, a demanda quechegava ao DNPI dobrava. No princípio da década de 1940,o Departamento processava pouco mais de 10.000processos por ano. No final da década de 1950, o volumeultrapassava os 40.000 processos por ano. A demandadobrou duas vezes, numa autêntica progressão geométrica,que seria mantida nas décadas seguintes. Mas o mesmonão ocorria em relação à estrutura do órgão.

Era indispensável que o Departamento mantivesse umprocesso contínuo de modernização. E a conseqüência dafalta de investimentos era inevitável: crescente defasagementre a demanda e a resposta do DNPI com progressivoaumento do tempo de tramitação dos processos.

Esse quadro foi descrito de maneira dramática peloscontemporâneos que atuavam junto ao órgão: LuizLeonardos, que em 1955 trabalhava no escritório do pai,conta que o DNPI não tinha condições de trabalho, nemmaterial e nem de pessoal. “Os processos eram empilhadosnuma suposta catalogação, numa seção de arquivos semcatálogo”, lembra. Verificavam-se atrasos no trâmite deprocessos de até vinte anos.35

Foi nessa fase, e nos dez anos seguintes, que a ABAPIassumiu o compromisso de suprir pelo menos em parte asnecessidades do Departamento. Embora o primeirodocumento de empréstimo encontrado seja de 1958, éprovável que anteriormente a entidade já estivesse cedendomáquinas e pagando datilógrafos para o DNPI. Emdezembro de 1958, a ABAPI recebeu carta agradecendo oempréstimo de máquinas de escrever Remington.36

Relatório da diretoria da entidade apresentava os recibosde pagamentos feitos a catorze datilógrafos que prestaramserviços de janeiro a junho daquele ano.37

35. Entrevista de LuizLeonardos, em 18 deagosto de 1998.

36. Correspondênciaenviada pelo diretor geraldo Departamento Nacionalda Propriedade Industrial,Nilton Silva, à ABAPI, em31 de dezembro de 1958.

37. Conforme acorrespondência enviadapelo DNPI à ABAPI, em 31 de dezembro de 1958.Relatório da diretoria daABAPI de 1958.

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Diretor do DNPI agradece àABAPI pelo empréstimo demáquina de escrever (1958)

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O Memorial para JKA crise que atingiu a área da Propriedade Industrial no fim dadécada de 1950 não tinha precedentes. Havia uma grandedistância entre os recursos disponíveis no DNPI e asnecessidades objetivas colocadas pela demanda. E os agentessabiam que o auxílio prestado ao Departamento não passavade paliativo. Para superar a deficiência, era necessário mais doque um bom gerenciamento dos recursos. Era indispensávelbuscar o caminho político para a solução do problema.

Num gesto ousado, a ABAPI elaborou o Memorial que foienviado ao então presidente da República, JuscelinoKubitschek de Oliveira. O documento - um preciosodocumento histórico - foi cuidadosamente redigido,seguindo o protocolo exigido nesses casos. Apresentoudados preciosos sobre o desenvolvimento industrial e oserviço de marcas e patentes no Brasil. Descreveudetalhadamente os problemas enfrentados na área doDNPI, até com certa dose de humor.

Após uma apresentação protocolar, o documento formalizoua principal solicitação: “providências enérgicas e efetivas”,diante da “ameaça de um colapso total e imediato do DNPI”.

O Memorial da ABAPI salientou que, em todos os paísescivilizados, os órgãos responsáveis pela expedição decartas patentes e pelo registro de marcas de indústria e decomércio mereciam do governo atenção especial, com aconcessão de verbas para o seu reaparelhamento eaumento paulatino do número de servidores. E justificava:“A razão para tal postura é muito objetiva, o desempenhoda indústria e do comércio muito depende do bomdesempenho daquela repartição”.

Com riqueza de detalhes, foi relatada ao presidente daRepública a situação de penúria enfrentada peloDepartamento. Apesar da ajuda constante da Associação,que não media esforços e auxiliava em todos e de todos osmodos, em perfeita harmonia com as autoridadesdiretamente responsáveis, as dificuldade haviam atingidoum grau extremo. Por meio do Memorial, os agentesdemonstravam que só a União poderia saná-las,“cumprindo assim com a obrigação do Estado”.

Segundo o documento, a origem do problema estava noacelerado crescimento econômico do Brasil, que fezmultiplicar rapidamente o número de marcas, patentes etc.O texto lembrava que o correspondente aumento donúmero de funcionários e da verba orçamentária nãoocorria, “muito embora tenha havido sensível aumento darenda proveniente dos serviços ali prestados, não só pelamaior quantidade dos mesmos, mas também pela elevaçãodas taxas, anuidades e contribuições”.

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As informações fundamentavam-se em uma tabela denúmeros incontestáveis:

Crescimento do número de funcionários, processos earrecadação do DNPI (1947 a 1957)

Ano de 1948 Ano de 1953 Ano de 1957

Número de funcionários 100 115 194

Número de processos 17.715 26.653 41.469

Renda em Cr$ 5.667.900,70 7.826134,10 18.790.978,20

Dos 194 funcionários contratados naquela ocasião, somente167 estavam no Departamento, sendo que dezoito deles,apesar de estarem envolvidos no trabalho, não tinhamformação específica. Vinte e sete funcionários do DNPIprestavam serviços junto a outros setores da administraçãopública. Havia ainda o problema da má remuneração.

Diante do descompasso entre a demanda e o número defuncionários, era inevitável concluir que o serviço estava seacumulando de ano para ano, em escala ascendente. Em 30de abril de 1958 chegava ao seguinte quadro: 66.000processos de pedido de registro de marcas, títulos, nomescomerciais etc. estavam aguardando a vez de seremsubmetidos à busca de anterioridade; outros 30.000processos de registro seguiam andamento moroso; 12.000processos de patentes não tinham passado por exameprévio; outros 10.000 processos de patente tambémseguiam lentamente. Totalizavam 118.000 processos emtramitação pelo DNPI, que possuía apenas 167 funcionários.

O Memorial da ABAPI ponderava: “Verifica-se assim, Sr.Presidente, que no DNPI a única coisa que não falta éabnegação, seja da maioria de seus funcionários, sejadessa Associação e de seus membros”.

A obtenção de um registro de marca, sem qualqueranormalidade, levava mais de dois anos. Os prejuízos causadosà indústria e ao comércio eram enormes. Não se podia nemmesmo fazer uma busca prévia, pois os fichários doDepartamento estavam atrasados em mais de 15.000 registros.

Por apresentar tantos dados alarmantes, o documento enviadoa JK alcançou grande repercussão. A verba orçamentária doDNPI foi aumentada, mas ficou longe do necessário.

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A origem da idéia de autarquiaCom estrutura de departamento, o DNPI não conseguiriasuperar os seus problemas. Esta era uma convicção dacategoria em 1959. Apesar do constante crescimento dosrecursos arrecadados, a verba que era disponibilizada aoórgão pelo Orçamento da União não acompanha asexigências da demanda.

A alternativa era buscar a autonomia, através datransformação em autarquia. Condições básicas para ostatus não faltavam. Com este entendimento, naquele ano aABAPI constituiu uma comissão para elaborar a propostade transformação do DNPI em autarquia. O projeto acaboutendo de esperar onze anos para ser concretizado.38

38. No “Abapiano” nº 7, dejaneiro de 1960, a diretoriacumprimentava os membrosda comissão que elaborou oprojeto de transformação doDNPI em autarquia.

Agentes e funcionários doDNPI no almoço anual deconfraternização no ClubeGinástico Português, no Riode Janeiro (c.1950)

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O “velho” Conselho de RecursosO “velho” Conselho de Recursos formou um capítulo àparte dentro da história do DNPI e dos agentes daPropriedade Industrial. Criado em 1933, ele se transformouem fórum de recursos de grande destaque dentro do DNPIaté 1961, quando foi desativado.

Originalmente, o Conselho era composto pelo ministro etrês membros. As atribuições do ministro eramsistematicamente transferidas para o diretor geral do DNPI,que era quem presidia de fato o Conselho. Os demaismembros eram funcionários técnicos de carreira ou, muitasvezes, pessoas que vinham de fora, nomeadas pelopresidente da República.

Como órgão colegiado de amplo debate de questõesjurídicas, o Conselho de Recursos tinha grandeimportância. Nas décadas de 1930, 1940 e 1950, muitas desuas decisões transformaram-se em jurisprudência na áreada Propriedade Industrial. Muitas marcas foramconsagradas nesse período, como a marca Sapólio.

Nesse período, o Conselho funcionava como uma escolaonde agentes aprendiam como fazer a defesa de umprocesso. O embate entre dois grandes nomes eraesperado com ansiedade pela comunidade da PropriedadeIndustrial. Os debates mais polêmicos eram publicados emforma de pequenos opúsculos disputados por todos.39

A importância do Conselho de Recursos estava relacionadatambém ao aspecto social, à integração entre osprofissionais envolvidos na Propriedade Industrial. Ele eraum complemento do que se realizava no DNPI, criando umaconvivência necessária e direta entre as pessoas quecontribuíram para a criação da ABAPI.40

39. Entrevista de RicardoVieira de Mello, em 15 deagosto de 1998.

40. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

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Percy DanielSócio fundador e grandecolaborador

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O projeto de reforma do Conselho de Recursos na década de 1950Foi no fim da década de 1940 que o Conselho de Recursoscomeçou a apresentar problemas. Ao lado das discussõeséticas, que sempre surgiam, a principal questão era amorosidade na apreciação dos problemas.

A direção do DNPI era sensível à questão. Em 1952 constituiuuma Comissão de Revisão do Código da PropriedadeIndustrial. Os trabalhos da comissão, com participação derepresentantes da ABAPI, deram origem ao anteprojeto dereforma do Conselho de Recursos apresentado em 1954.

O anteprojeto partiu de um conceito básico, a “bipartição doConselho”. Teve por objetivo contornar uma incongruênciafundamental: juristas votavam sobre questões técnicas etécnicos decidiam sobre questões de alta indagação jurídica.

De acordo com a proposta, um dos conselhos teria comoatribuição “decidir casos de marcas, títulos deestabelecimentos, nomes comerciais e expressões depropaganda”. Seria integrado por “juristas e representantesda repartição e das classes produtoras, como a indústria eo comércio”. O outro conselho responderia pelos “casos deprivilégios de invenção, modelos de utilidade, desenhos emodelos industriais”. Este segundo conselho seriaeminentemente técnico.

A crise do Conselho e sua extinção em 1961Os problemas enfrentados pelo Conselho de Recursos daPropriedade Industrial também foram tema do famosoMemorial enviado ao presidente Juscelino Kubitschek, em1957. O documento destacou as deficiências do Conselho,“a quem cabe o julgamento de todos os recursosinterpostos das decisões definitivas do diretor doDepartamento Nacional da Propriedade Industrial”.

O Memorial fazia ainda as seguintes observações: “O Conselho reunia-se duas vezes por semana paraanalisar quatro processos, no entanto geralmente apenasum era avaliado. Inevitavelmente, os processos seacumulavam”. O texto finalizava de forma arrasadora:“Basta que se diga que presentemente estão sendojulgados recursos interpostos há mais de dez anos atrás”.

Além da lenta sistemática dos julgamentos, outro problemaera o moroso parecer do auditor técnico do DNPI. A verdadeera que o Conselho enfrentava problemas de ordem ética ede ingerência política. Não eram, obviamente, fenômenosespecíficos da Propriedade Industrial. Em maior ou menorgrau, diversos setores do governo eram afetados no período.

Em conseqüência dos problemas relatados, o Conselhoacabou sendo extinto em 1961, marcando o fim de uma fase.

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Capítulo VA crise dos anos 60 e as reformas

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“As leis de caráter técnico-jurídico, como é o caso

da legislação referente às marcas de indústria

e de comércio e às patentes deinvenção, não podem nem devemdesabar de um dia para o outro

sobre a nação, sem um interregno de tempo razoável para ouvir

a opinião de juristas especializados na matéria.”

THOMAS OTHON LEONARDOS

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Talvez nenhuma década tenha sido tão atribulada nahistória da República brasileira quanto a de 1960. Noprincípio havia o sonho de que o Brasil logo estaria entre asmaiores nações do mundo. Uma esperança alimentada pelainauguração de Brasília em 1961, obra monumental empleno centro do país. A construção da nova capital, noentanto, foi acompanhada pelo crescimento da inflação,que corroeu a sociedade nas décadas seguintes.

As dificuldades econômicas vieram somar-se à renúnciadramática e intempestiva de Jânio Quadros e à posse de seusucessor, João Goulart, que era visto com grandes restriçõespor militares, alguns segmentos políticos e sociais.

As contradições se aprofundavam visivelmente.Rapidamente, a oposição cresceu, criando as condiçõespara a deposição do presidente, em 31 de março de 1964.

Os militares assumiram o poder, romperam com a ordemdemocrática constitucional e impuseram um Estado autoritário.Os anos seguintes foram de grandes agitações e incertezas. Aeconomia viveu grande recessão até 1968, quando teve inícioo chamado Milagre Brasileiro, caracterizado por taxas decrescimento do PIB acima de 10%.

Como saldo, a década de 1960 viu aumentar o número deestabelecimentos industriais em 48%. A mão-de-obraempregada no setor saltou de 1.799.376 em 1959 para2.699.969 trabalhadores em 1970, crescimento de poucomais de 50%.41

41. IBGE, “EstatísticasHistóricas do Brasil”, Rio de Janeiro, IBGE, 1990.

Juscelino Kubitschek eJoão Goulart nainauguração de Brasília (21 de maio de 1960)

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Na área da Propriedade Industrial, o período foi de transição.A crise do DNPI iniciada nos anos 50 intensificou-se ealcançou seu ápice no fim da década de 60. Os números nãodeixam margens a dúvidas: em 1970 havia mais de 700.000processos tramitando lentamente no Departamento.

A crise atingiu também o Conselho de Recursos, que foiextinto em 1961, recriado em 1967 e novamente extinto em1971. Como conseqüência, os problemas éticos atingiramescala jamais vista.

O setor passou ainda por três revisões seguidas do Códigoda Propriedade Industrial: em 1967, em 1969 e em 1971.Enquanto o código de 1946 teve longevidade de 21 anos,os de 1967 e 1969 não passaram de dois anos, deixandoevidente a presença de sérios problemas conceituais.

As contradições estavam presentes na origem dos códigoselaborados de forma autoritária. Os dois primeiros foramdecretados, sem que os segmentos sociais maisinteressados pudessem se manifestar. O terceiro, o códigode 1971, produto de um Congresso totalmente manipulado,teve de aguardar a redemocratização para ser revisto.

Durante a conturbada década, a ABAPI apresentou grandeversatilidade e combatividade. Nos primeiros anos continuoua suprir parte das deficiências do Departamento, contratandofuncionários, emprestando máquinas e até prestandoserviços. Diante dos problemas éticos, fez denúncias,solicitou providências do DNPI, exigiu coerência dos seusassociados. Visando encontrar uma solução mais duradoura,elaborou novo anteprojeto de regulamentação da profissão.

A grande campanha empreendida em 1968, que tinha porobjetivo sensibilizar a sociedade brasileira para a grandecrise enfrentada pelo DNPI, contribuiu decisivamente para acriação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial em1970 - uma bandeira que a ABAPI carregava desde 1959.

Foi um gesto ousado, sobretudo considerando que oautoritarismo passava por cima da Constituição, o Estadovoltava-se contra a sociedade e nem mesmo os direitosmais elementares do cidadão estavam sendo garantidos.

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O empréstimo de máquinas, funcionários e aprestação de serviços na década de 1960Durante todos os anos da década de 1960, a ABAPIemprestou máquinas e contratou funcionários para oDepartamento. E muitas vezes ia além. Uma circular de 1962comunicou aos associados que a entidade passava a fazero serviço de distribuição de cópias de oposição e réplica,liberando o pessoal do DNPI para outras atividades.42

Vista a distância, essa política de suprir as deficiências doDNPI com recursos privados poderia parecer ingênua. Osdocumentos, porém, não deixam dúvidas de que haviaautêntico desespero dos profissionais e outros envolvidoscom a Propriedade Industrial. Era preciso colaborar.

Em 1966, a diretoria da Associação preparou um estudoque tinha por objetivo encontrar formas para colaborar naredação das portarias, permitindo maior dinamização dosserviços do DNPI.43 Ainda nesse ano, a ABAPI pagou dezdatilógrafos para prestarem serviços no Departamento.44

No ano anterior, a entidade já havia proposto a criação de um“Fundo da Propriedade Industrial” para dotar o DNPI demaiores recursos, possibilitando seu reaparelhamento.45 Ogoverno foi sensível e em março de 1966 criou o Fundo daPropriedade Industrial. Mas, em outubro daquele ano, suprimiua Lei de Selos. O aumento esperado não se realizou.46

42. Circular da ABAPI, semdata, do período de 1962 a1963.

43. Estudo da diretoria daABAPI de 24 de maio de1966.

44. Lista de pagamento adez datilógrafos contratadospara prestar serviços juntoao DNPI, datada de 6 dejunho de 1966.

45. Correspondência doSindicato dos APIESP àABAPI, datado de 21 dejunho de 1965. O sindicatoinformava que estava deacordo com a criação doFundo da PropriedadeIndustrial.

46. Lei nº 4.936, de 17 demarço de 1966, que criou oFundo da PropriedadeIndustrial, e Lei nº 5.134, de20 de novembro de 1966,que suprimiu a Lei de Selos.

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Fernando dos Santos Vieira de MelloPresidente 1960/61

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A crise do DNPI nos anos 70Uma carta assinada por Custódio de Almeida, entãopresidente da ABAPI, e enviada ao ministro dos Negóciosda Indústria e Comércio, general Edmundo de MacedoSoares, em março de 1968, apresentou um balanço dasituação do DNPI, em 1967.

O documento fazia parte da campanha promovida pelaentidade junto à sociedade e aos órgãos governamentaisvisando a superação da grave crise pela qual passava oDepartamento. Tratava-se de outro precioso documento,que permitiu resgatar com detalhes a situação doDepartamento no período.

De acordo com os dados do balanço, em 1967 forampedidos 53.647 registros de marcas e expedidos apenas22.114 registros. Diferença de 31.533. A informação nãoconsiderou o número de pedidos indeferidos, mascertamente essas ocorrências não alterariamsubstancialmente a grande defasagem verificada entre ademanda e o ritmo de trabalho do DNPI.

Mais grave era o acúmulo de processos dos anosanteriores. Em 1967 estavam sendo despachadosprocessos de fins de 1962. Ou seja: um pedido de marcademorava cerca de cinco anos para ser obtido. Havia umacúmulo de 227.000 processos em tramitação.

Em relação às buscas de anterioridade, a situação era aindapior. Estavam sendo procedidas as solicitações feitas emfevereiro de 1963. Havia 264.495 solicitações em andamento.

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Carteira do associado denº 3 da ABAPI

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O documento revelou ainda uma curiosa relação. Segundorelatório oficial do DNPI, a produtividade obtida pela Seçãode Pesquisa era de cerca de 20.000 consultas por ano.Fazendo uma projeção, seriam necessários treze anos paraprocessar os 264.495 processos “entrados”. Considerando onúmero médio de pedidos que entraram naquele ano, ao finaldesses treze anos, o atraso seria de pelo menos 700.000processos. Na prática, o acúmulo seria bem maior porque onúmero de pedidos crescia substancialmente todos os anos.

A situação dos pedidos de patentes era igualmente crítica.Em 1967 foram depositados 10.148 pedidos e apenas 948patentes foram concedidas. Diferença de 9.200. Os pedidosde patente analisados eram de janeiro de 1963. Havia51.500 pedidos aguardando pronunciamento oficial. Apublicação das patentes na Imprensa Nacional apresentavaatraso semelhante. Outro problema grave eram os 8.000processos que, em 1968, aguardavam a instalação doConselho de Recursos - cujo renascimento havia sidodecretado em fevereiro de 1967.

O DNPI possuía 202 funcionários, dos quais apenas 177exerciam o cargo no Departamento. Destes, diversos nãotinham perfil adequado ao órgão. O fato era observado deforma irônica na carta enviada ao ministro: “um assistente deenfermagem; três técnicos especiais do IRBA; três mecânicosde motores de combustão; sete armazenistas; dez assistentescomerciais; três correntistas; um mestre - não sabemos secuca; 24 auxiliares de portaria, que por certo deve ser imensa;um ascensorista - provavelmente para ajudar ao público asubir escada”. Datilógrafos, no entanto, só existiam seis. Osserventes eram dois. Havia somente quatro engenheiros paraexaminar milhares de pedidos de patentes.

O Departamento apresentava também problemas internos deadministração de pessoal. Num depoimento, Geraldo Saboyaassinalou como principal medida adotada durante sua gestãono DNPI, na primeira metade dos anos 70, a introdução dorelógio de ponto. Justificava: “Os funcionários atrasavam umtotal de 540 minutos por dia”.47 Uma breve comparação entreos números de 1967 e aqueles apresentados no Memorialenviado ao presidente Juscelino Kubitschek, dez anos antes,deixa claro o aprofundamento da crise do DNPI.

Em 1957 havia 118.000 processos em tramitação e 167funcionários. Em 1967, o volume ultrapassava os 550.000processos - incluindo pedidos de marcas, patentes,recursos e busca de anterioridade - e o Departamento tinhaapenas dez funcionários a mais, 177 servidores.

A crise se aprofundou ainda mais nos anos seguintes. Em1970, segundo o então presidente do INPI, capitão-de-fragata Thomaz Thedim Lobo, havia 700.000 processos emtramitação.48

47. Depoimento de GeraldoSaboya, para o vídeo“Projeto de Recuperaçãoda Memória da PropriedadeIndustrial no Brasil”, 1994.

48. Entrevista de ThomazThedim Lobo, para o vídeo“Projeto de Recuperaçãoda Memória da PropriedadeIndustrial no Brasil”, 1994.

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O código de ética proposto em 1968Na década de 1960, as deficiências da legislação e doórgão responsável pelas marcas e patentes levaram a umaumento preocupante dos problemas éticos na profissão. Asituação era de tal modo alarmante que, em 1964, o DNPIcogitou elevar o nível das provas de habilitação para afunção de agente da Propriedade Industrial.

A necessidade da elaboração de um código de ética para acategoria voltou a ser discutida em 1967. Uma novaproposta de regulamentação da profissão de agente daPropriedade Industrial foi elaborada por Guilherme Gnocchi.

O estudo de Gnocchi reproduziu diversas preocupações dadécada anterior e introduziu novas questões, registrando astransformações e os contornos que as questões éticasganharam na década de 70.

Eram condenados os seguintes procedimentos: violação dosigilo sobre processos de sua confiança; propagandatendenciosa visando desviar clientela alheia; proclamarvantagens especiais da própria organização ou deficiênciadas demais; visitar clientes alheios; denegrir os colegas;alardear prestígio ou influência junto às autoridades;vincular-se a organizações não habilitadas.

A proposta previa sanções que deveriam ser aplicadas pelodiretor geral do DNPI. Os acusados poderiam recorrer juntoao ministro da Indústria e Comércio, no prazo de trinta dias.As penalidades eram as seguintes: advertência por escrito,sem publicidade; advertência pública através do DNPI;suspensão por período superior a trinta dias; suspensão dafunções por seis meses; cancelamento definitivo da inscriçãodo agente. O agente, com o cancelamento, poderia requererreabilitação após um ano.49 Assim como o anteprojeto de1954, no entanto, a proposta de Gnocchi não prosperou. Aquestão seria retomada no fim da década seguinte.

49. Circular da ABAPI demarço de 1968.

Paulo Carlos de Oliveira Presidente 1962/63

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A reação diante do Código da PropriedadeIndustrial decretado em 1967Contrariando todas as expectativas, em 1967 o governolançou mão de um decreto para baixar o novo Código daPropriedade Industrial - atitude que surpreendeu a todos.Pouco antes, em 24 de novembro de 1966, o Diário Oficialda União havia publicado um anteprojeto do código “paraefeito de receber sugestões e emendas antes de ser omesmo encaminhado ao Congresso Nacional, através deautoridade competente”.

A disposição de consultar a sociedade tinha sido reiteradapelo então ministro Paulo Egídio Martins, que em relatóriooficial do Ministério da Indústria e Comércio, relativo ao anode 1966, havia proclamado a “revisão completa do atualCódigo da Propriedade Industrial, com fim de atualizá-lopor mensagem ao Congresso Nacional”.50 No entanto, oCódigo da Propriedade Industrial decretado pelo presidenteCastelo Branco, sob o nº 254/67, era bem diferente daquelepublicado pouco antes.51

O código decretado trouxe os primeiros sinais do novorumo da política governamental para a área de marcas epatentes. A reação da sociedade foi a pior possível. Logo, aFederação das Indústrias do Estado de São Paulo, a FIESP,começou a mobilizar diversas entidades em torno danecessidade de imediata revisão desse código.

Um mês após a edição do decreto, a ABAPI realizouassembléia geral ordinária para discutir o assunto. Houveunanimidade diante da necessidade da revisão. Nessesentido foi formada comissão para acompanhar ostrabalhos de elaboração do anteprojeto, que era articuladopela FIESP. A comissão foi constituída por Peter Siemsen,Paulo Carlos de Oliveira e Carlos Henrique Fróes.52

Uma nova assembléia foi realizada pela ABAPI em 2 de abrilde 1967, decidindo que a entidade pleitearia junto aoministério o reexame do código. Entre os argumentosapresentados estava o de que a nova lei era inconstitucionale desvinculada da realidade. A posição era fundamentadaem estudo do jurista Pontes de Miranda. A assembléiaconcluiu que era mais conveniente que o governo tivesseprimeiro reorganizado o DNPI, para depois mudar o código.

Em novembro, a ABAPI enviou correspondência ao ministroda Indústria e Comércio solicitando a reorganização doDNPI e a revisão do Decreto-lei nº 254. Mostrando-seintransigente, o ministro respondeu que o novo códigoestava em processo de implantação e que desaconselhavamodificações em seus dispositivos.53

Em dezembro de 1967, os associados da ABAPI receberamcópias do anteprojeto articulado pela FIESP.54

50. Memorial enviado porThomas Leonardos aopresidente da República,marechal Artur da Costa eSilva, em 10 de janeiro de1969.

51. Decreto-lei nº 254, de28 de fevereiro de 1967.

52. Ata da assembléia geralordinária da ABAPI de 29 de março de 1967.

53. Correspondência daABAPI ao ministro daIndústria e Comércio,Edmundo de MacedoSoares, datada de 11 demarço de 1968.

54. Documento de 21 dejunho de 1967 assinalandoque a comissão articuladapela FIESP elaborava oanteprojeto.

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Conselho de Recursos de 1967 a 1971Após a extinção do Conselho de Recursos em 1961, seguiu-se uma fase em que as decisões estavam a cargo do diretorgeral do DNPI. O sistema causou grande polêmica, umgigantesco atraso no andamento dos processos ereclamações generalizadas. O Conselho de Recursos foientão recriado pelo novo Código da Propriedade Industrial.55

Durante esse período, uma figura exponencial foi oengenheiro Heraldo de Souza Matos, oriundo do InstitutoNacional de Tecnologia e, na ocasião, secretário daIndústria do Ministério da Indústria e Comércio. Foi ele oresponsável pela organização do novo Conselho. Outrapessoa de grande expressão foi Antônio Carlos Amorim,advogado da ABAPI que mais tarde se tornoudesembargador e presidente do Superior Tribunal deJustiça do Rio de Janeiro. No entanto, alguns outrosmembros que integraram o Conselho durante o breveperíodo de funcionamento não tinham grande experiênciana área ou maiores conhecimentos sobre a matéria.

De 1967 a 1971, o órgão enfrentou várias adversidades,começando pela longa demora para sua instalação. Asecretaria - peça fundamental para assegurar agilidadefuncional - apresentou várias deficiências, como ainexperiência e a falta de conhecimentos especializados dediversos funcionários designados para o setor. O volume detrabalho era gigantesco. Persistiu a demora na apreciaçãodos processos que se verificava na fase anterior.

O Conselho teve de enfrentar ainda um problema peculiarque se tornou corriqueiro no período autoritário. Eraconstantemente fiscalizado pelos órgãos de segurança dogoverno.

Sua grande virtude durante esse período foi a lisura. Nãohouve qualquer questionamento no aspecto ético. No entanto,o Conselho não conseguiu apresentar a mesma consistênciaque os anteriores. Faltou base estrutural e funcional.56

Em 1969, o Decreto-lei nº 1.005 reorganizou o Conselho deRecursos. Mas os problemas persistiram e, com a ediçãodo novo Código da Propriedade Industrial em 1971, eleacabou sendo extinto.57

55. Decreto-lei nº 254, de28 de fevereiro de 1967.

56. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves, em 15 de agosto de 1998.

57. Decreto-lei nº 1.005, de 21 de outubro de 1969,e Lei nº 5.772, de 21 dedezembro de 1971.

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Campanha para a reformulação do DNPIpromovida pela ABAPINo fim de 1967, a crise do DNPI era aguda e havia grandeceticismo sobre a possibilidade de superação dosproblemas sem uma ação política enérgica. Comoagravante, um relatório produzido pela diretoria da ABAPIobservou que, em função da aplicação do novo código, oDNPI havia relegado o programa de reformulaçãoadministrativa interna a segundo plano.58

O desânimo foi refletido no discurso que Custódio deAlmeida proferiu na cerimônia de posse, ao assumir apresidência da ABAPI, quando apontou “a impotência doDNPI diante do grande volume de pedidos e registrosoriundos do crescimento econômico e industrial... somenteo Poder Legislativo poderia dar meios ao DNPI paraequilibrar-se”.

Consciente da importância da ação política para superar omarasmo e a inércia, em março de 1968 a ABAPI promoveugrande campanha com pronunciamentos através dosjornais O Globo, Jornal do Brasil e Correio da Manhã. Aentidade conclamava as classes produtoras do país a exigirprovidências a fim de reformular o DNPI. Foram realizadasdiversas palestras, uma delas em Belo Horizonte, naFederação das Indústrias de Minas Gerais, a FIEMG. Aimprensa deu grande espaço para a campanha.59

O envio de dossiês para todas as associações comerciaise federações de indústria dos principais Estados da Uniãoera uma das estratégias da campanha. O documentosolicitava que as entidades se pronunciassem em apoioao movimento. Muitas se solidarizaram, como aConfederação das Associações Comerciais do Brasil, queenviou ofício para o ministro da Indústria e Comérciopleiteando a reorganização do DNPI. O movimento nãodispensou articulações no exterior. Um resumo do novoCódigo da Propriedade Industrial foi enviado a todas ascongêneres estrangeiras.60

A ABAPI enviou também correspondência ao ministro dosNegócios da Indústria, general Edmundo de MacedoSoares. No documento era citada carta do ministro doPlanejamento, Hélio Beltrão, enviada a ThomasLeonardos, presidente do Instituto dos Advogados doBrasil, e publicada no jornal Correio da Manhã de 15 defevereiro daquele ano. Na carta, o ministro reconhecia anecessidade de uma “reorganização profunda” do DNPI ediversas falhas no Código da Propriedade Industrial queestava em vigor. Ele assim definia o código: “por demaiscasuístico e engloba minúcias que, na verdade, deveriamser objeto de decretos reguladores, portarias ministeriais eaté ordem de serviço interna”.

58. Relatório da ABAPI, de 31 de dezembro de 1967.

59. Correspondência deGuilherme Gnocchi à ABAPI.

60. Circular da ABAPI demarço de 1968.

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Outra correspondência foi enviada pela ABAPI a Heraldo deSouza Matos, secretário da Indústria e Comércio do MIC,esclarecendo que a campanha para a reformulação doDNPI não tinha nenhum sentido pessoal. O documentoenfatizava que os agentes “estavam cientes dos esforços,da boa vontade e dos sacrifícios que vinha realizando, masque se tornavam nulos diante dos obstáculos materiais e dafalta de meios para superá-los”.

Por outro lado, o documento registrava a preocupação comos rumores a respeito de um anteprojeto do código, que jáestaria pronto, mais uma vez sem que os segmentosenvolvidos tivessem sido consultados. Em nome da classe,reivindicava a participação de todos na elaboração doprojeto. Os termos da carta eram duros, lembravam que aABAPI tinham aplaudido a indicação de Heraldo de SouzaMattos a secretário da Indústria e Comércio do MIC eesperava que não tivesse que aplaudir a sua despedida.61

61. Carta enviada pelopresidente da ABAPI,Custódio de Almeida, aosecretário da Indústria doMIC em 18 de março de1968.

A ABAPI envia telegramaao presidente da Repúblicapedindo providências(1968)

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A proposta de um simpósio nacional para discutira crise do DNPIEm maio do ano seguinte, 1968, a ABAPI envioucorrespondência aos associados assinalando a intenção derealizar o 1º Congresso Nacional ou Simpósio Brasileiro. Oevento, que deveria ser realizado entre setembro enovembro do mesmo ano, contava com o apoio do Institutodos Advogados do Brasil e da ABPI. O objetivo erapromover debate público e construtivo para estabelecer “asbases necessárias ao planejamento e os meios adequados àreforma administrativa, para que o Instituto da PropriedadeIndustrial no Brasil tenha a indispensável eficiência”.62

Para tanto, os dirigentes da entidade pretendiam realizaruma grande mobilização. O simpósio seria organizado poruma comissão ampla, que contaria com a presença derepresentantes das entidades de apoio, da Confederaçãodas Indústrias e Federação das Associações Comerciaise também autoridades do Ministério da Indústria eComércio e do Planejamento. Esperava-se contar atémesmo com o apoio do “Excelentíssimo SenhorPresidente da República”.

Anexo ao documento enviado aos sócios seguiu um dossiêdenunciando a situação do DNPI: “Os pedidos de patentese de registros de marcas demoram cerca de seis anos paraserem apreciados”. O dossiê observava que “a longaespera causava graves e irreparáveis prejuízos à indústria eao comércio, que ficavam impedidos de recorrerem contraa concorrência desleal e a contrafação exercida porterceiros durante o processamento”.

Em junho, a ABAPI enviou correspondência ao Ministério daIndústria e Comércio apresentando a proposta derealização do simpósio.63 Em resposta ao ofício, JoséFernandes de Luna, chefe de gabinete do ministro daIndústria e Comércio, observou que o ministério nãopoderia se empenhar em tal atividade, visto que seusesforços estavam voltados para a implantação do Códigoda Propriedade Industrial de 1967, que asseguraria adesejada eficiência dos serviços do DNPI, segundo ospropósitos da Reforma Administrativa em andamento.

O chefe de gabinete observou ainda que as dificuldadesenfrentadas pelo MIC se deviam à política governamental decontenção orçamentária e que elas seriam agravadas com arealização do simpósio. Ele destacou que a modificação dalegislação em vigor ainda não tinha sido experimentada naprática, como o custeio de um quadro técnico deespecialistas credenciados e a instalação do Conselho deRecursos da Propriedade Industrial.

62. Circular da ABAPI de28 de maio de 1968.

63. Carta enviada pelopresidente da ABAPI,Custódio de Almeida, aosecretário da Indústria doMIC, em 18 de junho de1968.

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A verdade é que o ministério não via com bons olhos acampanha organizada pela ABAPI, muito menos a tentativa derealização de um simpósio.64 Em 30 de julho de 1968, a ABAPIvoltou à carga, lamentou que “ainda se pretendia impor umalei cujas falhas, controvérsias e erros a tornaram inexeqüível”,comprometendo a eficiência dos serviços do DNPI.

No mês de setembro, numa nova correspondência enviadapela ABAPI ao MIC, foi reiterado que a campanha iniciadapela ABAPI não tinha caráter pessoal, era construtiva evisava alertar o governo para a necessidade doreaparelhamento do Departamento Nacional da PropriedadeIndustrial e da revisão da lei de marcas e patentes.65

A carta apresentou interessante avaliação sobre os fatoresque haviam levado o DNPI àquela situação: “decorre de umprocesso antigo, iniciado no pós-guerra, resultante dodesenvolvimento inusitado do nosso parque industrial, e dointeresse havido pelo nosso mercado interno pelos capitaisinvestidores alienígenas, o que ensejou um caudal imensode pedidos de registro de marcas e de patentes, em talvolume que obstruiu todas as dependências do DNPI”. Oarrazoado transferiu parte da responsabilidade ao PoderLegislativo: “Providências que deveriam ser tomadas peloPoder Legislativo, no sentido de prover os meios adequadosà solução deste estado de coisas, nunca foram efetivadas”.

O documento, um precioso registro das condições precáriasem que se encontrava o Departamento, ressaltou que “aentidade era testemunha dos esforços do ministério, que comparcos meios se empenhava para superar aqueleemaranhado de problemas que diariamente assoberbavam oórgão”. Destacou os principais objetivos alcançados peloDNPI: resolveu milhares de processos pendentes de solução,resultantes do acervo do extinto Conselho de Recursos;empenhou-se para “conseguir oferecer condições mínimas dehigiene, luz e possibilidades de trabalho aos andaresdestinados ao DNPI, no antigo Edifício da A Noite; publicoupela primeira vez as patentes caídas em domínio público;restabeleceu a publicação da Revista da PropriedadeIndustrial; colocou em dia a classificação dos pedidos depatentes pela natureza da invenção e fichamento deprocessos de marcas; publicou o Boletim Informativo;restabeleceu a tradução da classificação internacional dosartigos protegidos nos registros de marcas; reformulou oprotocolo geral de andamento de processos; criou aSecretaria do Conselho; empenhou-se junto ao Ministério daFazenda tendo em vista a liberação de verba necessária aopagamento de técnicos credenciados; e até mesmo a simplesaquisição de relógios de protocolo, com a numeraçãosuficiente ao volume de petições apresentadas, fichas demarcas, arquivo Kardex etc.

64. Correspondência dochefe do gabinete doMinistério da Indústria e doComércio a Custódio deAlmeida, presidente daABAPI, em 20 de junho de1968.

65. Correspondência deCustódio de Almeida,presidente da ABAPI, aosecretário da Indústria doMIC, Heraldo de SouzaMattos, de 13 de setembrode 1968.

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Uma cópia da carta foi enviada ao ministro Edmundo deMacedo Soares, que agradeceu os esclarecimentosprestados a respeito do sentido da campanha que aAssociação vinha desenvolvendo.66 No final daquele ano, aradicalização política polarizou todas as atenções.

66. Correspondência deJosé Fernandes de Luna,chefe de gabinete doministro da Indústria eComércio a Custódio deAlmeida, presidente daABAPI, em setembro de1968.

“Realidade” (1970)

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O AI-5 e o Código da Propriedade Industrial de 1969O ano de 1968 foi marcante na história do Brasil. Quatro anosjá no poder, os militares não davam o menor sinal de estaremdispostos a deixar o controle do país. Não havia qualquerprojeto objetivo para a redemocratização. Ao contrário: ogoverno não seguia nem mesmo a Constituição que haviaoutorgado no ano anterior. Os decretos tudo podiam.

A oposição reagiu de diversas maneiras. Os estudantesrealizaram grandes mobilizações, em vários cantos do país.Operários de Osasco ousaram fazer greve. Parlamentaresrecusaram-se a referendar, subservientemente, os projetosdo Executivo e outros continuaram a denunciar os abusosdo governo. Grupos de esquerda começaram a articularmovimentos de guerrilha. A imprensa, apesar de cerceada,continuava noticiando os desmandos.

“Manchete” (1969)

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A resposta governamental foi a repressão. Cassações demandatos, prisões, tortura, intervenções em sindicatos eentidades estudantis, censura à imprensa etc. No final doano houve a edição do Ato Institucional nº 5, o AI-5, umlibelo do autoritarismo que visava institucionalizar o arbítrio,cerceando os direitos mais elementares previstos naDeclaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1948.Foi o que alguns historiadores mais moderados chamam defechamento do regime.

Nessa conjuntura, a revisão do Código da PropriedadeIndustrial e a reforma do DNPI foram relegadas. Emprincípio de janeiro de 1969, havia grande preocupaçãoentre os sócios da ABAPI sobre os rumos que tomaria opaís após a edição do AI-5. Temia-se, mais do que nunca,que se repetisse o procedimento usado em 1967 para ainstitucionalização do Código da Propriedade Industrial - aedição de um decreto sem qualquer consulta à sociedade.

Nesse sentido, o advogado e agente Thomas Leonardos,então presidente do Instituto dos Advogados do Brasil,externou a preocupação através de carta enviada aomarechal Artur da Costa e Silva, presidente da República. Oadvogado citou artigo do professor Eugênio Gudin, intitulado“A Recuperação Nacional” e publicado no jornal O Globo dodia 23 de dezembro de 1968, onde o eminente economista

O Instituto Brasileiro dosAdvogados e seupresidente, Thomas OthonLeonardos, apóiam aABAPI na luta pela revisãodo Código da PropriedadeIndustrial (1969)

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destacava que a faculdade de legislar por decreto que oExecutivo tinha se outorgado era faca de dois gumes. Porum lado, permitia contornar eventuais pressões estéreis doLegislativo, mas, por outro, era perigosa por exigir epressupor dos membros do governo capacidadeadministrativa, sabedoria e experiência necessária paralegislar. Completando o documento, Leonardos enfatizouque “a legislação pelo Executivo não requer a publicaçãodos projetos de lei, nem oferece oportunidade para seudebate, inspira à nação um sentimento generalizado deinsegurança e de receio de possíveis surpresas”.67

Além do desagravo diante do AI-5, o documento manifestoupreocupação específica com o andamento da revisão doCódigo da Propriedade Industrial e da reorganização doDepartamento Nacional da Propriedade Industrial. Os temoresresultavam de notícia publicada pelo jornal Correio da Manhã,na véspera do Natal de 1968, na qual se informava que oministro da Indústria e Comércio, general Edmundo deMacedo Soares, havia determinado a revisão do código e areorganização do DNPI num prazo de trinta dias.

Para tanto, havia sido organizado um grupo informal detrabalho, integrado pelo secretário da Indústria, o consultorjurídico do DNPI, o diretor do Departamento, o diretor doInstituto Nacional de Tecnologia e o secretário geral da CDI.Não era prevista a participação, ou mesmo a consulta, desegmentos sociais interessados.68

Na carta, Thomas Leonardos relembrou o desfecho doprocesso que antecedeu a edição do código de 1967, quetanto contrariou a opinião pública, “seja pela forma comofoi decretado, seja pelos graves inconvenientes e defeitosque apresentou”. Observou que “leis de caráter técnico-jurídico, como é o caso da legislação referente às marcasde indústria e de comércio e às patentes de invenção, nãopodem, nem devem desabar de um dia para o outro sobrea nação, sem um interregno de tempo razoável para ouvir-se a opinião de juristas especializados na matéria”.69

Diversas outras entidades manifestaram-se no mesmosentido. Os reclamos tiveram, aparentemente, eco junto aogoverno. Em 6 de fevereiro de 1969, a ABAPI recebeu cópiado estudo da reforma do código que era elaborado peloMinistério da Indústria e Comércio. O ministério solicitousugestões num prazo de quinze dias.

67. Memorial enviado porThomas Leonardos aopresidente da República,marechal Artur da Costa eSilva, em 10 de janeiro de1969.

68. Jornal “Correio daManhã” do dia 24 dedezembro de 1968.

69. Memorial enviado porThomas Leonardos aopresidente da República,marechal Artur da Costa eSilva, em 10 de janeiro de1969.

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Tratava-se de medida protocolar. Não havia efetivamente adisposição de escutar ou dialogar com a sociedade. Como erahabitual, em meados de fevereiro, a categoria e os diretores daentidade estavam em férias. Como agravante, a semanaseguinte seria de carnaval. Ou seja: o prazo de quinze dias paraestudar e apresentar propostas era objetivamente inviável.

Na ocasião, Custódio de Almeida, considerando que a épocaera inoportuna e que todas as entidades teriam dificuldadeem se pronunciar, solicitou a José Fernandes de Luna, chefede gabinete do Ministério da Indústria e do Comércio, quefosse concedido um novo prazo, de trinta dias.70

Mais uma vez, no entanto, prevaleceram os métodosautoritários. O novo Código da Propriedade Industrial foidecretado sem que as entidades envolvidas e outrossegmentos sociais interessados pudessem se pronunciar.Novamente estava em descompasso com a realidade domundo da Propriedade Industrial. Na avaliação de PeterSiemsen, foi o pior Código de Propriedade Industrial que oBrasil já teve.71

70. Carta de Custódio deAlmeida, presidente daABAPI, ao chefe degabinete do ministro daIndústria e Comércio, JoséFernandes de Luna, em 10de fevereiro de 1969.

71. Entrevista de Peter DirkSiemsen, em 18 de agostode 1998.

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Peter Dirk SiemsenSócio benemérito e grandecolaborador

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A criação do INPIA reforma da estrutura do DNPI tornou-se inevitável nosúltimos anos de 1960. Dez anos antes, já estava patenteque os problemas enfrentados pelo órgão dificilmenteseriam superados nos limites de departamento, umainstância administrativa que apresenta grande dependênciaem relação ao ministério ao qual se vincula.

O principal entrave era a falta de autonomia tanto para gerirrecursos administrativos quanto financeiros. Por isso, atransformação do Departamento em uma fundação era umavelha reivindicação da ABAPI.

A reivindicação foi finalmente atendida em 1970, com aextinção do DNPI e criação do Instituto Nacional daPropriedade Industrial, o INPI. O setor de marcas epatentes era visto pelo governo militar como peçaimportante na política de desenvolvimento e segurançanacional que fundamentava o Estado autoritário. Emconseqüência, o último diretor geral do DNPI e primeiropresidente do INPI foi um militar, o capitão-de-fragataThomaz Thedim Lobo.

A criação do Instituto representou um grande avanço emrelação ao DNPI. O órgão passou a gerir as verbas quearrecadava, além da dotação orçamentária. Foicompletamente reordenado do ponto de vista funcional eadministrativo, inclusive com aumento do número defuncionários. Mas, apesar dos avanços, havia críticasrelacionadas à concentração de atribuições na figura dopresidente da entidade.

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Capítulo VIProblemas da profissão na década de 1970

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“As autoridades não compreenderam o papel dos agentes,

não compreenderam que são os interessados que dependem de assessoria profundamentequalificada, que os agentes

são uma figura clássica, obrigatória no mundo inteiro.”

PETER DIRK SIEMSEN

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O ano de criação do INPI, 1970, marcou o início do períodomais conturbado da história dos agentes da PropriedadeIndustrial e da ABAPI. Foi reflexo direto do apogeu do regimeautoritário, que entrou na fase de maior arbítrio e intransigência.

No plano econômico, o Brasil vivia o chamado MilagreBrasileiro, com o PIB crescendo cerca de 11% ao ano. Em1973, 14%. A grande disponibilidade de recursosfinanceiros internos e externos favorecia odesenvolvimento. O modelo era extremamenteconcentrador de riquezas.

Naquele ano, o Brasil tornou-se tricampeão de futebol noMéxico. Foi a primeira vez que um país conquistou tal título.Naturalmente, gigantesco entusiasmo tomou conta de todaa nação. Buscando capitalizar politicamente a euforiapopular com a proeza futebolística, o marketinggovernamental tornou célebre o slogan: “Brasil, ame-o oudeixe-o”. Tratou-se de puro maniqueísmo para tentarjustificar a absoluta intolerância do regime com qualquermanifestação contrária às suas decisões políticas.

Radicalizando, o governo “ideologizou” as divergências ereprimiu drasticamente qualquer manifestação. Aintransigência tomou conta até de modestos escalõesgovernamentais. Nenhum segmento social estava a salvodo arbítrio. Nesse período, até mesmo personagens

“Manchete” (1972)

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consagrados como o deputado Rubens Paiva, conhecidopor sua moderação, tornaram-se alvo da repressão. Ojornal O Estado de S. Paulo, tradicional e conservador,publicava receitas de bolo nos espaços cortados pelacensura. Os desmandos não tinham limites.

Os agentes e a ABAPI tiveram de pagar um alto preço pelasdivergências desde a edição do código de 1967. Nacerimônia de posse do presidente da entidade, ThomasOthon Leonardos, em 6 de maio de 1970, a tensão eragrande e se refletiu numa longa discussão entre membrosda Associação e dirigentes do DNPI.72

O quadro complicou-se ainda mais com a política adotadapelo primeiro presidente do INPI, o capitão-de-fragataThomaz Thedim Lobo. Naturalmente, o comandante nãotinha maior familiaridade profissional com o complexomundo da Propriedade Industrial e desde o princípiomanifestou visão totalmente distorcida da exclusividade doprocuratório. Entendia o presidente do INPI que qualquerpessoa poderia exercer representação. Como agravante,mostrou-se avesso ao diálogo com a categoria.

72. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

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“Realidade” (1970)

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A supressão da exclusividade no procuratórioTramitava em 1970 um novo projeto do Código daPropriedade Industrial. Ao contrário de 1967 e 1969,ocasiões em que o governo baixou os códigos através dedecreto, dessa vez optou-se pela tramitação no Congresso.Mas existiam fortes razões para a escolha. O Congressoestava totalmente desfigurado. O governo tinha folgadamaioria, forjada através de casuísmos eleitorais e dezenasde cassações de mandatos de parlamentares.

Os debates legislativos, mesmo sobre matéria tão polêmica,não chegavam ao grande público. Não havia coberturasistemática do Congresso pela mídia, como é feita hoje, e acensura assegurava que as propostas governamentais nãofossem questionadas na imprensa. O governo podiamanobrar à vontade.

Ao longo dos trabalhos legislativos que prepararam o códigode 1971 surgiu pela primeira vez a proposta de supressãoda exclusividade do procuratório. Segundo agentes, a idéiadeve ter partido da direção do INPI.73 Mas proposta acaboutransformada em uma emenda simples que deu margem agrande polêmica: o interessado podia ser representado porum procurador. Em 21 de dezembro de 1971, o projeto docódigo era aprovado pelo Congresso.74

73. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves, em 15de agosto de 1998.

74. Lei nº 5.772, de 21 dedezembro de 1971.

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Parecer da procuradoria doDNPI (1973)

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O parecer apócrifo de 1973O Código da Propriedade Industrial de 1971 não se referiaexpressamente aos agentes e advogados, o que provocougrande controvérsia. A direção da ABAPI entendia queainda estava em vigor o Decreto-lei nº 8.933, de 1946, queregulamentava a profissão. Mas os dirigentes do INPI agiamcomo se a categoria não existisse.Para dirimir as dúvidas, o INPI publicou na Revista daPropriedade Industrial nº 123 um parecer apócrifo,interpretando as exposições do Código da PropriedadeIndustrial de 1971, de forma a concluir pela revogação tácita doregime estabelecido pelo Decreto-lei nº 8.933/46. O documentoenfatizava: “A representação dos interessados perante o INPInão é mais privativa de qualquer classe profissional”.75

Entendendo que o parecer não seria suficiente, a direçãodo INPI foi além. Baixou a Portaria nº 386, notificando osinteressados em pedidos de registros e de privilégiosdepositados até o fim de 1971, bem como os titulares dosmesmos, a apresentarem procuração num prazo desessenta dias.76

Muitos acreditavam que a portaria era uma pá de cal naquestão da exclusividade do procuratório. O tempo, noentanto, mostraria que apenas tinha sido reinstalado o caosno serviço de registros de marcas e patentes. Ironicamente, opaís vivia o chamado Milagre Econômico Brasileiro, outroconhecido slogan cunhado pelo marketing governamental.

75. “Revista da PropriedadeIndustrial” nº 123, de 30 deagosto de 1973.

76. Portaria 386, de 26 de setembro de 1973,publicada na “Revista da Propriedade Industrial”nº 133.

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O impacto sobre a categoriaA categoria dos agentes da Propriedade Industrial foi pegade surpresa pelas decisões do INPI. Não faltavam razõespara tanto: em 1973, o reconhecimento da categoria pelogoverno estava às vésperas de completar quarenta anos, jáhavia toda uma geração de agentes aposentada. Era umaprofissão consolidada, cada vez mais reiterada peloconstante aumento do volume de trabalho e pela crescentecomplexidade que adquiria - reflexos do desenvolvimentoeconômico do país. Mesmo nos marcos de um regimeautoritário, imaginar o fim da exclusividade do procuratório,em 1973, era um contra-senso. A categoria ficou atônita.

Os reflexos da medida foram sentidos imediatamente nocotidiano do trabalho junto ao INPI. Oscar-José WerneckAlves é bem objetivo sobre o assunto: “As portas foramfechadas, aquele convívio informal acabou, nós ficamospara trás do balcão. Os funcionários foram proibidos dedialogar conosco, muitos deixaram de cumprimentar-nos deum dia para o outro, foi uma violência, aquilo foi umaespécie de radicalismo religioso, nós fomos alvo de todasas discriminações”.77

O esvaziamento da ABAPIApesar da presença na presidência da ABAPI de ThomasOthon Leonardos - advogado com currículorespeitabilíssimo que, entre outras, tinha acabado de deixara presidência do Instituto dos Advogados Brasileiros -, asportas do INPI se fecharam para a entidade a partir de1970. Vários contemporâneos acreditam que, a exemplo doque ocorreu com diversos sindicatos no período, asautoridades governamentais só não fecharam a entidadeporque ela era uma associação e não um sindicato. Nãohavia base jurídica para fechá-la. A alternativa foi fechar asportas do INPI para a entidade.78

A direção do órgão seguia uma lógica pragmática. Embora alei previsse a possibilidade da representação, os profissionaisque atuavam na área não constituíam mais uma categoriaprofissional diferenciada e, portanto, não havia com quemdialogar. Aos olhos dos dirigentes do INPI, os agentes nãoexistiam e a ABAPI não tinha qualquer significado.

A entidade se viu diante de um dilema: ou assumia posturapolítica ideológica e partia para o enfrentamento com ogoverno, como fizeram os estudantes, algumas liderançassindicais e políticas, ou assumia posição mais prudente,defensiva, aguardando novos tempos. Prevaleceu asegunda opção.

77. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

78. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

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Dentro desse quadro, o esvaziamento da ABAPI foiinevitável. Antigos associados são unânimes em afirmar quenão houve qualquer tipo de divisão dentro da entidade ouentre os agentes. Pelo contrário. Manteve-se a tradicionalsolidariedade. No entanto, o impacto provocado peloparecer de 1973 foi grande.

A categoria estava sem alternativas para defender seusinteresses profissionais frente ao arbítrio. Situaçãosemelhante se colocou, em maior ou menor escala, diantede todo o movimento sindical e associativo. Atingiuinclusive a ABPI, que seria reativada somente em 1978.

Os efeitos já podiam ser sentidos em fins de 1972: aarrecadação da ABAPI caiu drasticamente. Não foi possívelmobilizar os associados nem sequer para alcançar oquorum mínimo para as eleições que estavam previstasnaquele ano. Segundo informações de antigos sócios, até obispo do Rio de Janeiro foi notificado sobre a situaçãoprecária da entidade. Diante do impasse e acreditando serpreciso resistir, Thomas Othon Leonardos, num gesto dedesprendimento, aceitou permanecer à frente da entidadepor mais dois anos. O gesto teve de se repetir em 1974.79

A posição da categoriaO impasse enfrentado pela categoria foi discutido emoutubro de 1973, quando o Instituto dos Advogados doBrasil realizou o Seminário de Propriedade Industrial, que,entre outras, contou com palestra de Otto de Andrade Gil,sobre o tema: “O exercício profissional do advogado e doagente da Propriedade Industrial ante o Instituto Nacional daPropriedade Industrial”. Tratou-se de uma vasta defesa daprofissão de agente da Propriedade Industrial, com severascríticas ao Código da Propriedade Industrial de 1971 e,particularmente, ao parecer de 30 de agosto de 1973, queconsiderou inexistente a profissão. A palestra proferida porOtto de Andrade Gil tornou-se documento referencial.8

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79. Correspondência deAntônio S. Barros de 27 demarço de 1972.

80. O artigo foi publicadona “Revista do Instituto dosAdvogados Brasileiros”,Ano VIII, nº 46, março,1974.

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Capítulo VIIA reorganização da ABAPI e a lutapelo reconhecimento da profissão

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“A necessidade de uma remodelação da Associação

em sua estrutura é mais imperiosaainda pelo fato de que terá

agora que assumir encargosimportantíssimos, avultando

dentre eles a obtenção de uma leifederal que discipline o acesso e oexercício da profissão de agente daPropriedade Industrial por formas

adequadas à realidade atual...”

MEMORIAL DOS AGENTES DE 1975

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O ano de 1974, quando assumiu a presidência daRepública o general Ernesto Geisel, foi um marco nahistória do Estado autoritário. Geisel reiterava ocompromisso de implementar uma “abertura lenta egradual”. Apesar das pressões da oposição, a transiçãopara a democracia caminhou lentamente nos primeirosanos. Mas foi o suficiente para abrir novas perspectivaspara a sociedade brasileira.

No plano econômico, a crise internacional do petróleo de1973 havia causado alguns transtornos. Em compensação,nos anos seguintes, os países exportadores de petróleopassaram a oferecer os chamados petrodólares, com jurosbaixíssimos. A entrada de grandes financiamentos externospermitiu que a economia se mantivesse aquecida, aomesmo tempo em que a dívida externa do país alcançavanúmeros jamais vistos. Grandes obras, como aTransamazônica, continuavam na agenda governamental. Aindústria e o comércio se beneficiaram. Como reflexo, onúmero de pedidos de marcas e patentes mantinha-se emacelerado crescimento.

“Veja” (1976)

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Os novos ares políticos alcançaram o INPI em 1975, dandoinício a uma nova fase. O presidente do órgão, capitãoThomaz Thedim Lobo, afastou-se do cargo.81 Curiosamente,após a reforma na Marinha, abraçou a profissão de agente,abrindo um escritório de Propriedade Industrial.

Na ocasião, assumiu a presidência do órgão GuilhermeHatab, o primeiro civil. Com uma nova postura, ele deu umaguinada na questão da exclusividade no procuratório. Masno INPI a transição também foi lenta e progressiva, numespelho do processo de transição pelo qual passava o país.

Apesar de lenta, a transformação foi significativa. A grandenovidade foi a disposição do novo presidente em dialogarcom os agentes e com a ABAPI. Na prática, a políticasignificou o reconhecimento da categoria pelo INPI, aindaque não houvesse reconhecimento oficial da exclusividadedo procuratório.

A mudança não foi fruto apenas de uma visão diferenciadada questão. A realidade - a morosidade no andamentodos processos estava de volta - reclamava uma novapostura. O INPI enfrentava diversos problemas criadospela atuação de agentes totalmente despreparados para oexercício da profissão. Também contribuiu para essequadro adverso a elevação das taxas para os registros epatentes em até cerca de 500%, o que pressupunha amovimentação de grandes capitais e quase esmagou ospequenos agentes.

81. Entrevista de Oscar-José Werneck Alves,em 15 de agosto de 1998.

Agentes e o presidente doINPI discutem os rumos daPropriedade Industrial nocomeço da década de 1970(da esq. para dir.: EduardoThomé Saboya e Silva,Tomaz Thedin Lobo, Oscar-José Werneck Alves,Custódio Cabral de Almeidae Thomas Othon Leonardos)

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A rearticulação da ABAPIEm 1976, o país vivia um quadro político bem diferentedaquele do início da década. O arbítrio e a intolerânciahaviam progressivamente perdido espaço. Os estudantesse reorganizaram. Diversos sindicatos, associações e outrossegmentos da sociedade civil logo se reordenaram.

O fenômeno também alcançou os agentes. Antigosassociados da ABAPI se mobilizaram para rearticular aentidade. Oscar-José Werneck Alves que foi procurado pordiversos agentes, muitos deles integrantes dos grandesescritórios, e indicado para encabeçar uma nova diretoria.

Na ocasião, os membros do movimento de rearticulaçãoenviaram memorial a Thomas Othon Leonardos,destacando “seu empenho pessoal, no exercício dessemandato que já conta com cinco anos, com o objetivo depreservar o reconhecimento da nossa profissão, reivindicarcondições mínimas para o nosso exercício profissional juntoao INPI e valorizar a nossa especialidade”.

O documento falava da necessidade de remodelação daAssociação, com vistas à obtenção de lei federal paradisciplinar a profissão de agente da Propriedade Industrial.Com o objetivo de mobilizar os agentes em torno daentidade, o memorial - assinado por 63 agentes82 - sugeriaanistia geral das contribuições vencidas, admissão denovos sócios sem cobrança de quaisquer taxas, entreoutras. As propostas foram prontamente aceitas. Em tornodo nome de Oscar-José Werneck Alves foi organizada umachapa de consenso, integrada por vários agentes novos.

Em julho de 1976 foi realizada a assembléia para a escolhada nova diretoria, conselho fiscal e consultivo. As eleições,que transcorreram tranqüilamente, contaram com apresença de agentes de diversos Estados. A nova diretoriaassumiu a entidade sem nenhuma dívida, que havia sidoquitada pela diretoria anterior, e com recursos próprios.

Abriu-se uma fase totalmente nova. Até o fim da década de1960, a principal meta havia sido o melhoramento doexercício da profissão e o aprimoramento do DNPI. Agora,diante da descaracterização da função de agente daPropriedade Industrial, a missão era resgatar oreconhecimento oficial da categoria, enfrentando posiçãopolítica adversa dentro do governo. Tratava-se de empreenderautêntica cruzada pelo reconhecimento da profissão.

Essa luta marcou a história da ABAPI nas décadasseguintes. Ao longo dos anos, a batalha passou por etapasbem distintas. Foi preciso fazer constantes articulaçõesjunto aos poderes públicos, à imprensa e à sociedade civil.O êxito só veio com a volta da democracia.

82. Abaixo-assinadoenviado a Thomas OthonLeonardos, em 3 deoutubro de 1975.

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“Jornal do Brasil” (26 dejunho de 1976)

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O primeiro anteprojeto de regulamentação daprofissão de agente da Propriedade IndustrialReconhecendo que o fim da exclusividade no procuratóriotinha sido prejudicial ao bom andamento do INPI, o entãopresidente do órgão, Guilherme Hatab, defendia a criaçãode algum tipo de controle sobre o acesso à profissão. E,curiosamente, era contrário a que esse controle fosseexercido pela autarquia. 83

Estavam lançadas as bases para a auto-regulação profissionalda categoria. Os agentes não perderam tempo. Na assembléiaconvocada para a escolha da nova diretoria, em 23 de julho de1976, foi designada uma comissão especial de trabalhos paraa elaboração do anteprojeto de regulamentação. Era integradapor Denis Allan Daniel, Luiz Leonardos, Peter Dirk Siemsen,Pietro Ariboni e Waldemar Álvaro Pinheiro. A elaboração de umtexto inicial para debate na comissão ficou sob aresponsabilidade de Luiz Leonardos.84

O anteprojeto elaborado pela comissão entregava ocontrole do acesso ao cargo de agente e a fiscalização doexercício da profissão à ABAPI. Foi baseado no modeloinglês - onde o controle da profissão de agente daPropriedade Industrial era exercido pelo Chartered Instituteof Patents Agents ou pelo Institute of Trade Marks AgentsLtd - e nos estatutos da OAB.85

83. Carta da ABAPI aUbirajara Quaranta Cabral,presidente do INPI, em 26de maio de 1977.

84. Correspondência daABAPI para GuilhermeHatad, presidente do INPI,de 2 de julho de 1977. Vertambém circular da ABAPIde 15 de julho de 1977.

85. Correspondência deLuiz Leonardos para aABAPI, em 10 de janeiro de1977.

Novos tempos: Gert EgonDannemann, Peter DirkSiemsen e Oscar-JoséWerneck Alves emconfraternização com opresidente do INPI, ArthurBandeira de Mello (quarto,da esq. para dir.), no fim dadécada de 1970

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Em 1º de setembro de 1977, o anteprojeto foi enviado paraa apreciação do INPI.86 Os meses seguintes foram deansiedade para a categoria, que aguardava a manifestaçãodo Instituto. Prevalecia no governo visão contrária àproposta e os dirigentes do órgão preferiram manter osilêncio. O fato levou a categoria a mudar de tática ebuscar aprovação através do Legislativo.

Em 1980, o deputado Célio Borja apresentou o Projeto deLei de Regulamentação da Profissão de Agente daPropriedade Industrial, sob o nº 3.437/80. A grandenovidade era a incorporação do princípio da autogestão, oque transformava a ABAPI em órgão de controle profissionaldos agentes da Propriedade Industrial. O projeto foirapidamente aprovado na Câmara dos Deputados.

86. Correspondência daABAPI para o INPI, em 1 desetembro de 1977.

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“Manchete” (1978)

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A década perdida e a redemocratizaçãoClassificada pelos economistas como a década perdida, osanos 80 foram marcados pela economia estagnada, cominflação centenária e gigantesca dívida pública interna eexterna. O país pagou pelos erros cometidos na décadaanterior. Os números não deixaram dúvidas: em 1970, adívida do Brasil alcançava 5,2 bilhões de dólares; em 1979,era quase dez vezes maior, 49,9 bilhões; em 1983, ano dagrande crise, estava próxima dos 100 bilhões de dólares. Ocrescimento da inflação no período foi igualmente trágico:em 1978, era de 40% anual; em 1980, atingiu os trêsdígitos, 110%; em 1983, passou dos 200%.

O trágico quadro econômico só era compensado pela voltada democracia. Em 1984 chegaram ao fim os governosmilitares, após a fantástica campanha das Diretas Já, quelevou milhares de brasileiros às ruas. Apesar da nãoaprovação das eleições diretas para a presidência daRepública, o movimento criou as condições para que achapa de oposição, formada por Tancredo Neves e JoséSarney, derrotasse Paulo Salim Maluf, candidato da situação.

Começou o governo de transição. Fatidicamente, TancredoNeves não pôde tomar posse em conseqüência da doençaque o vitimou algumas semanas depois, comovendo toda anação. Assumiu o vice-presidente José Sarney, quepermaneceu no cargo por cinco anos.

A transição para a democracia culminou com a realizaçãoda Assembléia Nacional Constituinte e a promulgação daConstituição em 1988. O Brasil voltava à ordemconstitucional democrática 24 anos após o golpe de 1964.Finalmente, no ano seguinte, houve eleição direta parapresidência da República, consagrando o processo.Fernando Collor de Mello saiu vencedor.

Nesse mesmo ano de 1983, para ampliar as atividades dacategoria, criou-se a Associação Paulista da PropriedadeIndustrial (ASPI), reunindo agentes e empresários. Dedicadaa estudos sobre a Propriedade Industrial, a ASPI, sediadaem São Paulo, teve como seu primeiro presidente JoséCarlos Tinoco Soares.

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O projeto de Célio BorjaApesar da rápida aprovação na Câmara dos Deputados, oprojeto de regulamentação da profissão apresentado pelodeputado Célio Borja enfrentou longa batalha no Senado,onde recebeu o número 124/81.87 Surgiram duas propostascontrárias à aprovação do projeto da forma como seapresentava: um parecer do INPI e outro da ConsultoriaJurídica do Ministério da Indústria e Comércio.

Havia na época um forte movimento político contra ocorporativismo, o que complicava a tramitação. Para muitoslegisladores, o projeto era corporativista. Apesar de não setratar de uma visão hegemônica dentro do Congresso, apostura, juntamente com a posição contrária manifestadapor parte das autoridades, contribuiu para que o projetonão conseguisse reunir o apoio necessário para suaaprovação no Senado. Em 1988, ele foi arquivado e a lutapelo reconhecimento da categoria tomou novo rumo.

87. Circular da ABAPI dedezembro de 1980.

88. Ata da assembléia geralextraordinária de 4 denovembro de 1983.

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O Primeiro Encontro Nacional dos Agentes da Propriedade Industrial, em 1983A integração da categoria era a principal meta da ABAPI aoreiniciar as atividades em 1980. O Primeiro EncontroNacional dos Agentes da Propriedade Industrial, no Rio deJaneiro, foi realizado nos dias 14 e 15 de abril de 1983,intercalando atividades sociais com trabalho. O principaltema de debate era a questão da regulamentaçãoprofissional e o andamento do projeto apresentado pelodeputado Célio Borja, que acabou sendo arquivado em1988. Os Encontros tornaram-se uma tradição, repetindo-seanualmente. Neles, são homenageadas pessoas que sedestacaram na profissão.

No mesmo ano da realização do Primeiro Encontro, osestatutos da entidade foram alterados. Uma assembléia geralextraordinária foi convocada para tratar da ampliação doquadro associativo. Mais de quinze anos haviam se passadosem realização de qualquer concurso. E, como a categoriatinha crescido muito, era necessário flexibilizar o acesso àentidade àqueles que vinham exercendo a profissão.Encontrou-se então uma alternativa criativa: a instituição dacategoria de “sócio aspirante”. Nela estariam incluídosengenheiros, químicos, físicos e aqueles que comprovassemo exercício da profissão por mais de dez anos.88

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Os cursos de formação de agentes da ABAPIDurante os anos 80, enquanto ocorriam a elaboração e atramitação do projeto de lei para regulamentar a profissão,os documentos do arquivo da ABAPI evidenciavamcrescente preocupação da diretoria com a multiplicaçãodos problemas éticos. A política adotada pelo INPI em 1973deu margem ao acesso de muitas pessoas desqualificadas.Começaram a surgir diversas práticas antiéticas, como acorrida sem qualquer princípio aos clientes.

O problema maior era a atuação de falsos agentes, quedesvirtuavam a profissão. Esse grupo criou uma práticadesprezível, saindo nas grandes vias comerciais para catare aliciar supostos clientes.89

A categoria vivia situação extremamente contraditóriaporque, para o INPI, os agentes não existiam formalmente.Na sociedade havia certa confusão. Segundo algunsprofissionais, havia um desgaste do termo agente e muitospreferiam denominar-se “profissional especializado emPropriedade Industrial”.90 As empresas, entretanto, sabiam adiferença e procuravam os escritórios especializados emPropriedade Industrial. Companhias estrangeiras traziam doexterior uma cultura tradicional de Propriedade Industrial,onde a profissão de agente é centenária e tem suaimportância reconhecida. Grandes empresários nacionaiscontinuaram a freqüentar os escritórios em que confiavam.

89. Entrevista de LuizLeonardos, em 18 deagosto de 1998.

90. Entrevista de LuizLeonardos, em 18 deagosto de 1998.

Primeiro Encontro Nacionalde Profissionais daPropriedade Industrial (Rio de Janeiro, abril de1983)

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O acesso indiscriminado de pessoas ao exercício daprofissão provocou muitos transtornos. Não era apenas apresença de pessoas sem ética que causava problemas.Havia muitos procuradores de boa-fé que cometiam atosantiéticos por absoluta desinformação. A ABAPI sabia queera preciso tomar providências.

Ainda nos fins da década de 1980, a entidade deu início auma série de cursos voltados para a formação profissionalbásica. Nos anos seguintes, os cursos foram seaprimorando e aprofundando.

Certificado de registro de marca “ABAPI” (maio de1983)

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Convite para coquetel deabertura do SegundoEncontro Nacional deProfissionais da PropriedadeIndustrial (CopacabanaPalace, junho de 1984)

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A nova Constituição e a questão daregulamentação da profissão de agenteA questão do reconhecimento profissional foi recolocadaapós a promulgação da Constituição de 1988. Na ABAPIhavia um consenso de que a nova Carta e o famoso Decreto-lei nº 8.933 resguardavam a existência da profissão deagente da Propriedade Industrial. No entanto, mais uma vez,o INPI pronunciou-se a favor do fatídico parecer de 1973.91

A década de 1990 abriu-se com as atenções divididas nomundo da Propriedade Industrial. Um novo projeto decódigo começou a tramitar. Uma curiosa divisão de tarefassurgiu entre a ABAPI e a ABPI, entidade coirmã criada em1963 que congrega grande parte dos associados da ABAPIe empresários. A fundação da ABPI foi idéia de algunsprofissionais, que regressavam em abril daquele ano deuma reunião da AIPPI realizada em Berlim, e idealizaramuma associação para estudos profissionais.

Os dirigentes da ABPI voltaram seus esforços para aquestão da reforma do Código da Propriedade Industrial,enquanto a ABAPI, com larga tradição, concentrou-se nadefesa dos interesses profissionais. Em diversos episódios,porém, as entidades estavam juntas e se faziam representarnas negociações.92

91. Correspondênciaenviada pelo INPI à ABAPI,em 25 de outubro de 1989.

92. Entrevista de LuizLeonardos, em 18 deagosto de 1998.

Certificado da ABAPIreferente ao SegundoSeminário Nacional dePropriedade Industrial (Rio de Janeiro, agosto de1982)

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Capítulo VIIIA nova lei de patentes, oreconhecimento da categoria e aABAPI hoje

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“Na maioria dos paísesindustrializados e de sólido

sistema de Propriedade Industrial,a profissão de agente da

Propriedade Industrial é não sóregulamentada, como também

respeitada e reconhecida como essencial para a

eficácia da proteção dada aos titulares de direitos de

Propriedade Industrial.”

LILIAN DE MELO SILVEIRA

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O governo Collor de Mello foi marcado por muita agitação: queda nas barreiras alfandegárias anunciando ampla abertura econômica, trágico confisco da poupança pública, processo de impeachment presidencial e posse do vice-presidente Itamar Franco, que introduziu o Plano Real e com ele a estabilidade econômica.

Em 1994, quando assumiu a presidência, Fernando Henrique Cardoso, dando continuidade ao programa de ajuste econômico, a inflação estava abaixo de 5%. A indústria e o comércio, sob a pressão da inserção do Brasil no processo de globalização econômica, passavam por acelerado processo de modernização, enquanto uma reviravolta ocorria na área da Propriedade Industrial no Brasil.

Primeiro foi a assinatura do Trade-Related Intellectual Property Rights, o TRIPS, em 1994, que é atualmente o principal pacto internacional na área de marcas e patentes, congregando 127 países. Dois anos depois, foi a vez do novo Código da Propriedade Industrial, certamente um dos mais avançados que existem hoje no mundo. Finalmente, em março deste ano, foi a vez da volta da exclusividade no procuratório, colocando um termo final ao hiato de 25 anos.

As metas da ABAPI no início dos anos 1990A ABAPI tinha metas bem objetivas no início dos anos 1990. Segundo Ricco Nunes, a principal bandeira continuava a ser a valorização da profissão e, particularmente, seu reconhecimento através do Decreto-lei nº 8.933/46. Buscava-se estreitar o relacionamento com o INPI e fortalecer a Associação através da ampliação do quadro de associados em todo o Brasil. Intensificar a política de aperfeiçoamento profissional, através da promoção de cursos, treinamentos, encontros e divulgação de jurisprudência, era outro desafio.93

93. Entrevista de Luiz Antônio Ricco Nunes, presidente no biênio 1990/91, em 21 de agosto de 1998.

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Luiz Antônio Ricco NunesPresidente 1990/91

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A assinatura do TRIPS e a nova lei dePropriedade IndustrialO Brasil foi um dos primeiros países em desenvolvimento aadotar integralmente o Trade-Related Intellectual PropertyRights (TRIPS), cuja assinatura foi ratificada pelo Congresso em1994. O tratado busca adaptar os direitos de PropriedadeIndustrial ao ritmo frenético da globalização e tentaacompanhar o ritmo vertiginoso com que as novidades sãodisseminadas através da Internet, permitindo instantaneamentea divulgação de uma invenção em todo o mundo.94

Dois anos depois da assinatura do TRIPS, em 1996, oCongresso Nacional aprovou o novo Código daPropriedade Industrial, Lei nº 9.279/96. Ao contrário dastrês primeiras edições decretadas e do código de 1971, quefoi produto de um Congresso manipulado, a nova leiresultou de um debate democrático.

94. Citado por FranciscoTeixeira, “Tudo o que VocêQueria Saber sobrePatentes mas TinhaVergonha de Perguntar”. p. 20.

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Herlon Monteiro FontesPresidente 1992/95

O reconhecimento da profissãoNo bojo dessa ampla redefinição da política nacional para aárea da Propriedade Industrial é que a profissão de agentefoi novamente reconhecida institucionalmente. Desde apromulgação da nova Constituição, a ABAPI havia mudadode tática. Suas articulações estavam voltadas para oExecutivo, visando o reconhecimento da validade doDecreto-lei nº 8.933/46. As negociações, no entanto, haviamsido dificultadas pela grande alternância nos cargos demando aos quais estava submetida a Propriedade Industrial.

Luiz Antônio Ricco Nunes, presidente da ABAPI em 1990 e1991, descreve em linhas gerais esse processo. Ele e PeterSiemsen realizaram diversos entendimentos com o entãoministro Roberto Cardoso Alves, que estava receptível àproposta, mas logo o governo do presidente Sarneyterminou. Sob o governo Collor de Mello, o INPI mudou doMinistério da Indústria e Comércio para o Ministério daJustiça, o que voltou a interromper as negociações.

Assumiu o Ministério da Justiça Bernardo Cabral. Mas,quando a tramitação caminhava para um desfechofavorável, o ministro pediu demissão. O mesmo quadroocorreu na gestão do ministro Jarbas Passarinho. Já seusucessor, Célio Borja, teve suas atenções polarizadas peloprocesso de impeachment do presidente Collor de Mello.

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Na presidência de Itamar Franco, o INPI voltou a integrar oMinistério da Indústria, Comércio e Turismo, ocupado peloministro Andrade Vieira. Foi um período difícil, em que aquestão não conseguiu avançar. O mesmo ocorreu noperíodo da ministra Dorothéa Werneck, já no governo deFernando Henrique Cardoso.

Finalmente, com a chegada ao ministério de FranciscoDornelles é que a tramitação foi coroada com a assinaturada Portaria nº 32, de 19 de março de 1998, e aexclusividade no procuratório foi restabelecida.

A demorada vitória mereceu grande comemoração. Em 5de maio de 1998, no Rio de Janeiro Country Club, adiretoria da ABAPI ofereceu ao ministro Dornelles umagrande recepção, com participação maciça dos agentes.Em seu discurso de agradecimento, a presidente Lilian deMelo Silveira destacou o longo caminho que a classepercorreu para chegar ao desenlace feliz. Recorrendo aogrande teórico Alberto Elzaburu, a presidente destacou aimportância social dos agentes: “uma profissão antiga eilustre... que responde a uma missão social”.

Convite para o coquetel dehomenagem ao ministroFrancisco Dornelles (Rio deJaneiro - maio de 1998)

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A ABAPIASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS

AGENTES DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

TEM O PRAZER DE CONVIDAR V.SA. PARA O COQUETEL EM HOMENAGEM AO SENHOR

MINISTRO FRANCISCO OSWALDO NEVES DORNELLES,COMEMORATIVO DA ASSINATURA DA

PORTARIA MINISTERIAL Nº 32/98, QUE FARÁ REALIZAR NO

RIO DE JANEIRO COUNTRY CLUB À

AV. PRUDENTE DE MORAES, 1597 - IPANEMA, NO DIA 5 DE MAIO DE 1998, DAS 18 ÀS 21 HORAS.

LILIAN DE MELO SILVEIRA

PRESIDENTE

SOLICITA-SE CONFIRMAR A PRESENÇA COM CECÍLIA (021) 262-3198INDISPENSÁVEL A APRESENTAÇÃO DESTE

O reconhecimento da categoriaMinistério da Indústria, Comércio e Turismo - Gabinete doMinistro

Portaria nº 32, de 19 de março de 1998

O Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e doTurismo, no uso de suas atribuições:

Considerando que a plena vigência do Decreto-lei n.º 8.933,de 26 de janeiro de 1946, foi expressamente reconhecidapela Consultoria Jurídica deste Ministério, em parecerconstante do Processo INPI nº 00621/93, aprovado peloMinistro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismoem 14 de dezembro de 1994;

Considerando a necessidade de atualização do cadastrodos Agentes da Propriedade Industrial, a fim de proteger osusuários do sistema de Propriedade Industrial;

Considerando que o Decreto-lei n.º 8.933/46 condiciona odesempenho da função de Agente da Propriedade Industrialà autorização do Ministro de Estado da Indústria, doComércio e do Turismo, resolve:

Artigo 1º - É delegada competência ao Presidente doInstituto Nacional da Propriedade Industrial, INPI, paraconcessão de autorização para o desempenho da função deAgente da Propriedade Industrial, nos termos dos arts. 4º a12 do Decreto-lei nº 8.933/46.

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Coquetel em homenagemao ministro FranciscoDornelles em maio de 1998(da esq. para dir.: Oscar-José Werneck Alves, Liliande Melo Silveira, Raul Hey,Francisco Dornelles, CélioBorja e Peter Dirk Siemsen)

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Artigo 2º - Fica assegurado o direito à habilitação daspessoas físicas que praticaram atos perante o INPI até adata da publicação da presente Portaria, devendo oPresidente do INPI expedir norma fixando prazo para o seucadastramento, sob pena de perda do direito.

Artigo 3º - As sociedades compostas exclusivamente deAgentes da Propriedade Industrial ou advogados (Decreto-lei n.º 8.933/46, arts. 3º, II e III, e 8º) poderão ser inscritas ecredenciadas como Agentes da Propriedade Industrial.

Artigo 4º- Somente poderão ser consideradas habilitadasou inscritas, na forma dos arts. 2º e 3º desta Portaria, aspessoas físicas e jurídicas que atenderem aos requisitosconstantes do Decreto-lei nº 8.933/46, especialmente art.4º, § 2º, e art. 8º.

Artigo 5º - Caberá ao Presidente do INPI expedir normaspara a habilitação ou inscrição futura de pessoas físicas ejurídicas que desejem praticar atos como procuradores deterceiros perante o INPI.

Artigo 6º - Esta Portaria entra em vigor na data de suapublicação.*

Francisco Dornelles

Ministro da Indústria, Comércio e Turismo

* “Diário Oficial” nº 56, de 24 março de 1998, seção 2, p. 33.

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Os cursos de Propriedade Industrial da ABAPI hojeOs cursos da ABAPI, que tiveram início na segunda metadeda década de 1980, na gestão de Pietro Ariboni, tornaram-se um compromisso para a entidade. A décima primeiraedição foi encerrada no Rio de Janeiro. Em São Paulorealizou-se o quinto curso.

Atualmente são oferecidos três módulos: Marcas,Patentes e Ações Judiciárias. Não se trata apenas decursos de formação básica. O último módulo vem sendorealizado em parceria com a Escola de Magistratura doRio de Janeiro e também a Associação dos Magistradosdo Rio de Janeiro.

O XI Curso de Treinamento Profissional em PropriedadeIndustrial apresentou programa reformulado, buscandoadequar o curso à nova legislação e à atual realidade daPropriedade Industrial no Brasil. A palestra deencerramento foi proferida por Gert Egon Dannemann.95

Visando formar especialistas e produzir estudos na área daPropriedade Industrial, a ABAPI está articulando juntamentecom a Universidade do Estado do Rio de Janeiro a criaçãode um programa de pós-graduação.

95. Programa do XI Cursode Treinamento Profissionalem Propriedade Industrial -Rio de Janeiro, 1998.

96. Projeto de Recuperaçãoda Memória da PropriedadeIndustrial no Brasil,elaborado por Beatriz GarciaWerneck Alves e CordéliaMendes Ferreira Costa.

Pietro AriboniPresidente 1986/89

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O Projeto Memória da Propriedade Industrial no BrasilO Projeto Memória da Propriedade Industrial no Brasil,patrocinado pela ABAPI, teve início em 1994. O objetivo centralfoi resgatar os “Cinqüenta Anos da ABAPI” e dispor de umacervo referencial para a reflexão sobre a história da categoria,da entidade e da Propriedade Industrial como um todo.

Uma pesquisa básica, com rigoroso levantamento junto àsfontes, foi realizada na primeira etapa. Com esta finalidade,toda a documentação da ABAPI foi levantada e catalogada.96

Num segundo momento foi iniciado o resgate da memóriaoral, que é fundamental dentro do projeto. Ela foi a primeirafonte utilizada pelos gregos na antiguidade - inclusive porHomero, que baseou seus clássicos, a Ilíada e a Odisséia,nos depoimentos de seus contemporâneos. Na ABAPI,tratou-se de registrar os depoimentos dos agentes maisantigos, daqueles que estiveram à frente da entidade aolongo destes cinqüenta anos, além de ex-funcionários ediretores do INPI. Os depoimentos deram origem a umbanco com mais de oito horas de gravação em vídeo.

O presente livro é a coroação desse processo. Suaprodução gerou ainda um acervo com dez horas de fitas desom gravadas com depoimentos de agentes daPropriedade Industrial.

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ABAPI hoje no BrasilUma meta importante para a ABAPI, desde sua fundação,foi a integração do maior número possível de procuradoresna entidade. Esse objetivo tornou-se prioridade na atualgestão, que conseguiu ampliar significativamente o númerode associados em todo o Brasil.

Só no último ano ingressaram mais de quarenta novosassociados, representando aumento de 20%. E é possívelcrescer ainda mais. Estima-se que atuem pelo menosseiscentos procuradores em todo o país.

Ainda hoje é no eixo Rio/São Paulo que se concentra omaior número de agentes filiados à ABAPI. O Rio de Janeirocontinua sendo a sede do INPI e São Paulo, o principalcentro industrial e comercial do país. Mas existem váriosagentes filiados em diversos Estados do país.

97. Entrevista de Lilian deMelo Silveira, em 15 deagosto de 1998.

Carteira da ABAPI

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WWW.ABAPI.COM.BRPrazo e informação formam binômio essencial no exercícioprofissional dos procuradores. Há algumas décadas, aABAPI vem se aperfeiçoando na prestação de serviços aosseus associados, no sentido de disponibilizar asinformações essenciais que diariamente são produzidas nomundo da Propriedade Industrial.

Já de longa data são editados boletins com ajurisprudência que se forma na área. Agora discute-se aquestão da modernização dessa prestação de serviços. Asperspectivas são fantásticas.

Sob a coordenação do atual vice-presidente da entidade,Raul Hey, foi criada a home page da ABAPI, disponível aosassociados e ao público em geral.97 Um serviço de fax, parasuprir diariamente os associados com informaçõestécnicas, políticas, administrativas - substituindo anecessidade da assinatura do Diário Oficial -, já está emfase de organização.

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A ABAPI no cinqüentenárioOs arquivos da ABAPI guardam centenas de cartas,correspondências, boletins, relatórios e outros documentosque assinalam uma luta incessante em torno dos interessesda categoria, da ética e do aprimoramento dos serviços dosórgãos públicos que responderam pelos registros demarcas e patentes no Brasil.

Exceção feita ao brevíssimo período que se seguiu à ediçãodo parecer de 1973, em todos os demais momentos osdirigentes do INPI e de seu predecessor, o DNPI,reconheceram a mediação da entidade com trabalho, éticae coerência. Ultimamente, a interação com o INPI seestreitou e se aproximou dos padrões de relacionamentonos primeiros anos após a fundação da entidade, quandohavia uma grande proximidade.

Marco nesse sentido foi o período da tramitação da nova Leide Propriedade Industrial. Em diversas ocasiões, membrosdo INPI e diretores da ABAPI eram vistos, ombro a ombro,percorrendo os corredores do Congresso Nacional ou osgabinetes dos deputados e senadores, numa autênticacruzada para subsidiar tecnicamente os parlamentares econseguir que fosse produzida uma boa lei.

A visão de que a harmonia entre o INPI e a ABAPI éessencial voltou a prevalecer. A necessidade decolaboração mútua é novamente consenso. Prova dissosão as freqüentes manifestações que o INPI fazreconhecendo a mediação da ABAPI e consultando aentidade sobre questões administrativas. Ou assegurando àassociação um assento na comissão formada por trêsmembros que está com a incumbência de acompanhar orecadastramento dos agentes.

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O Selo de Qualidade da ABAPICom a volta do reconhecimento da categoria e oestabelecimento de regras objetivas para o acesso aocargo, a preocupação com o exercício da profissão é maisuma vez o centro das atenções. Por isso, a atual gestãobusca inovar, criando um mecanismo de autogestão: o Selode Qualidade da ABAPI.

Trata-se de lançar mão do prestígio construído pela entidade aolongo de cinqüenta anos de história para referendar os seusfiliados e, conseqüentemente, os clientes e o INPI. Asistemática é simples. De acordo com o Regulamento do Selode Qualidade da ABAPI, o uso do nome, da sigla e do logotipoda entidade é direito exclusivo dos associados da entidade.98

O Selo poderá ser estampado nos papéis timbrados,impressos e material de divulgação dos associados, assimcomo em qualquer material relativo ao exercício profissional,e está vinculado à conduta ética no exercício da atividade.Diz o regulamento: “Nenhum associado poderá praticar oupermitir que sejam praticadas faltas éticas no exercício desua atividade profissional, tais como atos de concorrênciadesleal ou atos que caracterizem métodos impróprios naaquisição ou manutenção da clientela”. Punições para osfaltosos, incluindo até mesmo a exclusão dos quadrosassociativos, estão previstas nas regras.

98. Regulamento do Selode Qualidade da ABAPI(adotado pela diretoria econselho da ABAPI em 4 de março 1997).

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Selo de Qualidade da ABAPI

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Os novos rumos da ABAPIPela primeira vez, em 1996 uma mulher foi eleita para apresidência da ABAPI: Lilian de Melo Silveira. Embora acategoria seja relativamente pequena e o número demulheres entre os procuradores seja menor ainda, ao longoda história diversas mulheres se sobressaíram de formamarcante no exercício da profissão. Exemplo notório foiOlga Werneck Alves, que, na conservadora década de1930, quando as mulheres ainda não insinuavam queentrariam em massa no mercado de trabalho, ocupou agerência do prestimoso escritório Momsen, um dosmaiores no período.

Uma mulher na presidência é o marco de uma gestão detransição dentro da história dos agentes e da ABAPI e oprenúncio de novos rumos. Nesse período, a categoria foifinalmente reconhecida, encerrando longo período de 25anos de luta. A rápida informatização dos serviçosprestados aos associados, o desenvolvimento dos cursosde aprimoramento da categoria e o Selo de Qualidade sãosinais incontestáveis de uma entidade preparada para opróximo milênio.

Diretores e conselheiros daABAPI na posse da gestão1996/97, no São Paulo Club,na capital paulista.

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A. Moura BarretoAdahir de Mattos MarcellinoAgustinho Fernandes Dias da SilvaAlcion BubniakAlícia Kristina Daniel-ShoresÁlvaro Loureiro OliveiraAna Lúcia de Souza BordaAna Neri Estevam LopesAndréa RicciAntenor Barbosa dos Santos JúniorAntonella CarminattiAntônio BuiarAntônio Ferro RicciAntônio Maurício Pedras ArnaudAntônio Weber Natividade MilagreArchimedes ParanhosAtílio José Ventura GoriniAureolino Pinto das NevesBeatriz C. de Sá e BenevidesBortolo BazzonCaio Valério G. PessanhaCarla Kristine Nass de AndradeCarla Tiedemann da Cunha BarretoCarlos César Cordeiro PiresCarlos Eduardo Ipanema MoreiraCarlos Henrique de Carvalho FróesCláudia Maria ZeraikCláudio Marcelo ZsabasClésio Gabriel di Blasi Jr.Cleyta Maria de Andrade Ramalho

de MoraesClóvis Vassimon Jr.Custódio Afonso Torres de AlmeidaCustódio Cabral de AlmeidaDaisy Velloso FerriDarci Garcia de Magalhães PaulinoDavid do NascimentoDavid MerryleesDenis Allan DanielDenise Leite de Oliveira DaleEduardo Colonna RosmanEduardo Magalhães MachadoEliana Jodas CioruciElias Marcos GuerraElisabete AloiaElisabeth Edith G. Kasznar FeketeElisabeth SiemsenElza Maria Possinhas PimentelErcy Beatriz Benatti LongoEudes Lopes de CastroFernando Garcia GnocchiFernando Jucá Vieira CamposFernando Pedro Leonardo S.

MarchettiFilipe da Cunha LeonardosFlávio Starling LeonardosFrancisco Carlos Rodrigues SilvaFrank FischerFranklin Siqueira FerriGabriel Francisco LeonardosGabriel Pedras ArnaudGeralda Diniz FerreiraGert Egon DannemannGiancarlo Luciano Conti

Gisela Fischer de Oliveira CostaGustavo de Freitas MoraisGustavo Henrique BückerGustavo José Ferreira BarbosaGustavo Starling LeonardosHélio Fabbri Jr.Henrique Steuer Imbassahy de MelloHenry Knox SherrillHerlon Monteiro FontesHugo Casinhas da SilvaIris Proença MartinsIvan Bacellar AhlertIvan de Castro BragaJacques LabrunieJoachim Carl Ernest DornbuschJoão Cassiano Bairros OyarzábalJoão Luiz D’orey Facco ViannaJoaquim Eugênio G. da S. Goulart

PereiraJorge Knauss de MendonçaJorge Luiz da Silva MonteiroJosé Antonio Barbosa de Lima

Faria CorrêaJosé Carlos de MattosJosé Carlos Tinoco SoaresJosé Carlos Vaz e DiasJosé Eduardo Campos VieiraJosé Henrique Vasi WernerJosé Roberto D’Affonseca GusmãoJosé Ruy LiaJosé Sabino Maciel M. de OliveiraKátia Braga de MagalhãesLaire Feijó da SilvaLanir OrlandoLia de AlmeidaLilian de Melo SilveiraLuiz Antônio de CarvalhoLuiz Antônio Ricco NunesLuiz Armando Lippel BragaLuiz de Alencar Araripe JúniorLuiz Edgard Montaury PimentaLuiz Fernando Ribeiro MatosLuiz Gonzaga Moreira LobatoLuiz Henrique Oliveira do AmaralLuiz LeonardosManfred HellmuthManoel Pestana da Silva NettoMárcia Latini CunhaMárcia Maria V. Gitahi FreireMárcio Ney TavaresMárcio Rodrigues LinbergMarco Antônio KraemerMaria Aparecida FigueiredoMaria Carmen de Souza BritoMaria Célia Coelho NovaesMaria Cristina de AraújoMaria da Graça dos Santos GavioliMaria do Rosário de LimaMaria Edna de O. Carvalho PortinariMaria Inês FuzitaMaria Madalena da Cunha FreireMaria Tereza Mendonça WolffMarilete TangMário Augusto Soerensen Garcia

Mário Oscar Chaves de OliveiraMário Robert ManheimerMaurício LeonardosMauro Ivan Coelho Ribeiro dos

SantosMilton de Mello Junqueira LeiteMilton Leão BarcellosOscar-José Werneck AlvesPaulo de Tarso Castro BrandãoPaulo Maurício Carlos de OliveiraPaulo Parente Marques MendesPaulo Roberto Costa FigueiredoPaulo Roberto Mariano da SilvaPaulo Roberto Toledo CorrêaPaulo ViannaPedro Afonso Vieira BheringPeter Dirk SiemsenPeter Eduardo SiemsenPietro AriboniRafaela Borges Walter CarneiroRaul HeyRegina Célia Querido Lima SantosRegina Gargiulo Neves da SilvaRenata HohlRicardo Fonseca de PinhoRicardo Pernold Vieira de MelloRicardo Velloso FerriRoberto Geraldo Barbosa Vieira de

MelloRoberto Mauro da Cunha FreireRoberto Pernold Vieira de MelloRodolfo Humberto Martinez

Y Pell Jr.Rodrigo Borges CarneiroRodrigo Caiuby NovaesRodrigo Sérgio Bonan de AguiarRonaldo Camargo VeiranoRonaldo Luiz PiresRoner Guerra FabrisRonny Willen De ManRoque Zacarias LicciardiRubem dos Santos QueridoRuymar AndradeSâmia Amin SantosSamir Said MatheusSandra Sanchez MartinsSemir da Silva FonsecaSérgio Antônio Barcellos SoaresSimone de Carvalho PentiadoSônia Carlos AntonioSônia Maria Andrade dos SantosSônia Maria D’ElbouxSônia Maria Nogueira FernandesTannay de FariasTomaz Francisco LeonardosValdir de Oliveira Rocha FilhoValdomiro Gomes SoaresValéria Cristina Barcellos FariaValério Walter de Oliveira RamosVicente NogueiraVladimira Anna Zdenka DanielWagner Alencar DomingosWaldemar Álvaro PinheiroWalter de Almeida Martins

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Associados - pessoa física

Associação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial - ABAPI

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Da esquerda para a direita, Maurício Leonardos,presidente do conselho; Paulo Roberto CostaFigueiredo, conselheiro; Gustavo de Freitas Morais,conselheiro; Gabriel Pedras Arnaud, primeiro secretário;Valério Walter de Oliveira Ramos, conselheiro; PauloRoberto Mariano da Silva, conselheiro; Aureolino Pinto

das Neves, conselheiro; Sâmia Amin Santos,conselheira; Raul Hey, primeiro vice-presidente; Liliande Melo Silveira, presidente; Rodrigo Sérgio Bonan deAguiar, segundo secretário; Luiz Edgard MontauryPimenta, procurador; Rodolfo Martinez Y Pell Jr.,conselheiro; Ricardo Pernold Vieira de Mello, tesoureiro.

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Associados - pessoa jurídica

Agência Moderna de Marcas e Patentes Ltda.Britânia Marcas e PatentesBusco Marcas e PatentesCometa Marcas e PatentesCustódio de Almeida e Cia.Dannemann, Siemsen, Bigler & Ipanema MoreiraGold Star Patentes e Marcas S/C Ltda.Mercúrio Marcas e Patentes Ltda.Momsen, Leonardos & Cia.

Montaury Pimenta, Machado & LioceNascimento AdvogadosOctávio & Perocco S/C Ltda.Paulo C. Oliveira & Cia.Pinheiro Neto AdvogadosRex Advogados Marcas e Patentes S/C Ltda.Trench, Rossi e Watanabe Advogados AssociadosVieira de Mello, Werneck Alves Advogados S/C

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Propriedade Industrial no Brasil50 Anos de História

Coordenação editorial Vera Galli

Produção editorial Centro de Produções Editoriais e Culturais - CEPECCoordenação Ricardo Maranhão

Redação Carlos A.U. DiasPesquisa histórica e iconográfica Gentil Garcia Jr.

Projeto e produção gráfica PW Gráficos e Editores Associados Ltda.Coordenação Eugenio Alex Wissenbach

Projeto gráfico Vivaldo H. TsukumoEditoração eletrônica Paulo Hoshino

Irineu Carvalho SantanaAntonio Carvalho Santana

Ilustrações Acervo da ABAPI, págs. 34, 35, 37, 44, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53,55, 56, 62, 63, 66, 68, 70, 71, 78, 81, 85, 90, 92, 98, 99, 105, 107, 108,112, 113, 114, 116, 117, 118, 120, 121, 122, 123 e 124 - reproduçãode fotos dos ex-presidentes e colaboradores da ABAPI - Lula Rodrigues;“L’Art de Vivre au Moyen Age”, pág. 19; “Crónica de la Técnica”, págs. 13, 14, 15 e 23; “Do Tear ao Computador”, págs. 16 e 23; Prefeitura Municipal de São Paulo - SMC, pág. 18; Arquivo Nacional - fotos de Atila Ribeiro, págs. 18, 19, 21 e 24; “História em Rótulo de Cigarros”, pág. 22; Patrimônio Histórico da Eletropaulo, págs. 26 e 27; DEDOC/Abril, pág, 28; Museu Paulista - USP, pág. 28; “Revista deDireito Industrial”, pág. 32; Museu da Imagem e do Som/SP, pág. 30; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, pág. 30; “Revista em Guardapara a Defesa das Américas”, pág. 40; Acervo CEPEC, pág. 58; ArquivoNacional/Agência Nacional, 58; “Manchete”, 60; Arquivo Público do Distrito Federal/ Novacap, pág. 76; Acervo de Custódio de Almeida, pág. 79.

Fotolitos Bureau BandeiranteImpressão Garilli

Acabamento Hamburg

São Paulo, 1998

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ABAPIASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS AGENTES DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

50 ANOS DE HISTÓRIA

PROPRIEDADEINDUSTRIALNO BRASIL