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UN IÃO_D OS - ESTUDANTES COMUNISTAS , OCTAVIO PATO CA NDIDATO DO PCP COM O PCP PELA. DEM OCRACIA . E O SOCIALISMO A apresentação da minha candidatura, como candidato de um Partido, o Partido Comunista Português, não altera o nosso ponto de vista segundo o qual o Presidente da República não deve realizar uma politica de partido, mas uma politica orientada pela preocupação fundamental de defesa da democracia portuguesa e dos preceit05 e princ lpios consignados na Consti tui ção. É do Interesse do nosso povo e do nosso pafs que as eleições para a Presidência da República constituam um novo passo para a consolidação e prosseguimento da democracia, um factor, não de divisões e confrontos entre sectores e homens que estão com o processo revolucionário, mas da unidade de todas as f orças Interessadas em evitar o regresso ao passado fascista. A promoção pelo PCP da candidatura de um comúnista visa contribuir para essa unidade e essa aliança. Visa contribuir para que sejam respeitados os resultados das eleições para a Assembleia da República, de foma a que nesta se concretize uma maioria de esquerda servindo de bue à formação L---- ...... ... que, pela sua composição, programa ' politi co e base de apoio, possa realizar-uma efectiva politica de esquerda. COM AClASSf OPfRÂRIA PflA lI8fRDADf f ,O SOC I Ali SM O! ANO IV - N." 40 - 2.· SÉRIE, 28 DE MAIO DE 1976 QUINZENAL PREÇO 3$00 PROPRIEDADE DA EDITORIAL .AVA",TE. DIRECTOR INTERINO: St:RGIO COSTA REDACÇÃO E ADMINISTRACÃO: R: SOUSA MARTINS. N.' 8_2.' DISTRIBUiÇÃO: CDL - AV. SANTOS DUMONT, 57-2.° E. Composição e impressão: HESKA PORTUGUESA

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Page 1: PROPRIEDADE DA EDITORIAL .AVA,TE. DIRECTOR … de 1976/1976_05... · É do Interesse do nosso povo e do nosso pafs que as ... DISTRIBUiÇÃO: CDL - AV. SANTOS DUMONT, 57-2.° E

UNIÃO_DOS-ESTUDANTES COMUNISTAS ,

OCTAVIO PATO CANDIDATO DO PCP

COM O PCP PELA. DEMOCRACIA . E O SOCIALISMO • A apresentação da minha candidatura, como candidato de um Partido, o Partido Comunista

Português, não altera o nosso ponto de vista segundo o qual o Presidente da República não deve realizar uma politica de partido, mas uma politica orientada pela preocupação fundamental de defesa da democracia portuguesa e dos preceit05 e princlpios consignados na Const ituição.

É do Interesse do nosso povo e do nosso pafs que as eleições para a Presidência da República constituam um novo passo para a consolidação e prosseguimento da democracia, um factor, não de divisões e confrontos entre sectores e homens que estão com o processo revolucionário, mas da unidade de todas as forças Interessadas em evitar o regresso ao passado fascista.

A promoção pelo PCP da candidatura de um comúnista visa contribuir para essa unidade e essa aliança. Visa contribuir para que sejam respeitados os resultados das eleições para a Assembleia da República, de foma a que nesta se concretize uma maioria de esquerda servindo de bue à formação L----......... ·-~overno que, pela sua composição, programa 'politico e base de apoio, possa realizar-uma efectiva politica de esquerda.

COM AClASSf OPfRÂRIA PflA lI8fRDADf f ,O SOCIAli SM O!

ANO IV - N." 40 - 2.· SÉRIE, 28 DE MAIO DE 1976 QUINZENAL

PREÇO 3$00

PROPRIEDADE DA EDITORIAL .AVA",TE.

DIRECTOR INTERINO: St:RGIO COSTA

REDACÇÃO E ADMINISTRACÃO: R: SOUSA MARTINS. N.' 8_2.' DISTRIBUiÇÃO: CDL - AV. SANTOS DUMONT, 57-2.° E. Composição e impressão: HESKA PORTUGUESA

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PÁG. 2

eu " penso que ...

4)

•• UMA CONFIRMAÇÃO

Gaivão não tem medo da verdade. Se for necessário dizê-Ia, di-Ia. E sem remorsos. É capaz de Ir de caras à verdade. Por isso ele é Gaivão de Metlo. E a autocrítica não s6 é dita pelos revolucionários. Gaivão também é capaz.

CDS" '~=i~)oS há em 9ualquer partido ••. não é um exclusivo do

Não esperávamos. Tanta sinceridade. Gaivão, o senhor surpreende-nos. .

PEDRO VALE estudante

• •• UMA HISTÓRIA INFANTIL

o meu avô contava-me esta história. Quando num jantar encontrou o gen. Gaivão de Mello, e depois

de muita discussão, ele disse: - Sou um democrata natural! E o meu avô respondeu-lhe: - Natural só conheço a laranjada. E ele ficou muito zangado.

JOÃO ALMEIDA estudante

• • 4)

TU VAIS LER O «UEC»

Fiz um auttJcolante, ou melh~r, um papel Com o objectivo de passar a ser um autocolante, pura e simplesmente para vos ajudar. Para contribuir para o vosso jornal que, afinal 'de contas não é só­o vosso jornal - mas o jornal de todos nós. Todos nós desejamos que o nosso jornal " UEC" seja um bom jornal'ao serviço de todos os interesses dos estudantes. '

Aproveito para sugerir uma coisa que podiam fazer: um concurso de desenhos que seriam enviados para aí. Cada concorrente enviaria junto uma pequena soma de dinheiro, por exemplo, 5$00. O prémio podia ser uma assinatura do " UEC".

• ••

Um militante da UEC (Escola Comercial

Olive.ira Martins-Porto) '

SOBRETUDO~ ..

traia-se muito. Promete-se outro tanto. E os problemas mantêm-se. De resto, tornou-se hábito nestes

'dois anos. E chegam a monopolizar a televisão, E,vêm defender mundos e fundos. - Defenderemos sobretudo os interesses das classes desfa-

vorecidas ... - dizia Campinos. . A frase passaria despercebida. Sobretudo, sr. ministro? Descuido? Falta de vocabulário? Talvez. Mas, sobretudo, sr. ministro? Defender sobretuqo, não é defender: é enganar! ' , Os Marxistas não dizem sobretudo. Dizem ou isto OlJ aquilo! As

duas é, sobretudo, difícil. Sobretudo, se forem de interesses antagónicos. Não acha, sr. ministro?

E, sobretudo, pense em Marx.

/

Ferreira Ramos (estudante)

, ,

/

UNIVERSIDADE E LUTA DE· CLASSES

o camarada R. Arismendi, num breve encontro com os estudantes portugueses promovido pela UEC, proferiu na Reitoria da Cidade Universitária uma alocução subordinada ao tema "Universidade e Luta de Classes".

Pela importância de que se reveste a intervenção, não s6 peld significado das suas palavras como também pelo calor revolucionário testemunhado ao 1.° Secretário do PCU, transcrevemos ~reves trechos do seu discurso.

,A REVOLUÇ~O TECNICO-CIENTIFICA

No nosso tempo coincidem a grande revolução social e socialista e a revolução técnico-científica . O homem transformou em milagre a vida quotidíana, venceu as distâncias, desvendou o segredo da matéria, chegou ao cosmos.

Mas esse homem que alargou a figura humana, como disse Marx, até aos astros, que transformou a técnica e a ciência em instrumentos poderosos, capazes de apoderar-se das entranhas da Terra e dos segredos dos astros, que acompanha o capitalismo,

'embora que no imediato subsista a pobreza e a miséria para a imensa maioria da população da Terra.

O capitalismo mostra que a contrad ição entre o desenvolv imento das forças produtivas no momen19 em que a ciência e a técnica oferecem ao homem os meios para acabar com as calamidades milenárias é incapaz de ser resolvida . A revolução técnico-científica aparece simultaneamente como um instrumento capaz de ser utilizado vantajosamente pelo socialismo para a superação das constradições de classe, para superar essa eterna contradição que existe no capitalismo, que, quanto mais avança a ciência mais se acentu a o retrocesso da

AS CONCEPÇÕES "GUERRILHEIRAS"

que, em última instância, supõem a restauração de ideias superadas pe lo próprio processo revolucionário no mundo.

Quando se pensa que um grupo heróico, um sector particular e independente das conjunturas políticas e da acção das massas, pode resolver o problema da revolução, estão-se a reproduzir concepções ideológicas características do período anterior a Marx.

Inonas reso endo o problema da 'revolução nasceu antes de Marx, com as ideias de um grande revolucionário da Comuna, August Blanqui.

Uma minoria armada, num No nosso continente, os anos determinado momento e à margem

sessenta demonstraram que a das conjunturas políticas, não evolução do movimento estudantil p o d e r, e s o I ver o qu e é apresenta diversos fenómenos: exclusivamente obra das massas uma parte, projecta a' urgência ' 'numa conjuntura e numa crise unilateral da guerrilha; outra parte, determinada, isto é, a revolução. i nco rpora a evolução e a As suas concepções vão em i n qu i e t u d e da j u v e n t u d e detrimento da velha ideia de que latino-americana no campo d,a não há movimento revolucionário revolução , com to dos O.S sem teoria revolucionária e a sua elementos contraditórios que conduta, em última análise, prima surgem da sua própria conversão pelos métodos violentos, de de classe. Aumenta o campo da sensacionalismo político, métodos r e v o I u ç ã o , i n t r o d u z a que reproduzem velhos aspectos combatividade juvenil , põe em das concepções anarquistas, do causa violentamente e lutam para bakuninismo, como o terror, a modificação de todos os velhos querendo substituir toda a

Entre Marx e Blanquj, entre as ideias marxistas e o pré-marxismo, coloca-se uma diferença substancial.

Para Marx, a revolução é obra da classe operária, unindo todas as forças revolucionárias que, através d a experiência das próprias massas, num momento determinado de uma conjuntura política, põe em causa o velho mundo, derrubando-o.

continuidade histórica e de transmissores da herança cultural. Através do estudo, o homem acumula os elementos do conhecimento científico, -o seu domínio sobre a natureza, enriquece-se permanentemente.

Para o blanquismo, é a minoria heróica gue se substitui às massas. E o voluntarismo que . substitui a frieza e a determinação.

Vemos assim esta realidade contraditór i a Q9 processo universitário. Por um lado, preparar quadros, preparar os homens da classe dominante para a admin istração do Estado; pelo outro, transmite a ciência , transmite as conquistas da técnica, introduz o conhecimento científico, introduz os elementos de uma concepção do mundo que praticamente, enquanto científica, entra em contradição com a concepção do mundo das classes dominantes.

Inclusive, pode manifestar-se neste processo a acrobacia triste e desgraçada da direcção chinesa no quadro da revolução.

. E s s a a c r o b a c i a que, inicialmente, se manifestou como uma política radical , perante a possibilidade ou não de vias pacíficas num ou outro paí s - uma teorização permanente da luta armada - perante a coexistência e a possibilidade de eclodir uma guerra mundial, 'ataca o status quo e chega à posição actual , reclamando a presença

, f)orte-americana na Europa e em Africa, aliando-se com os agentes

. imperialistas.

/ AS CONTRADiÇÕES NO PROCESSO UNIVERSI1ÁRIO

Na realidade, a universidade vincula-se, em forma dual, aos dois aspectos da base da sociedade. Por um lado, às suas relações de produção, às classes dominantes , às ideias dominantes; por outro, às forças produtivas, às exigências técnico-científicas promovidas pelo grande desenvolvimento, à necessidade de avanço do mundo q e as forças produti as promovem, la solução dos enigmas, aos problemas que o r;:novimento histórico no desenvolvimento cientí fico e técnico, está promovendo.

Muitas vezes, as crises internas d-a universidade reflectem esta contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, manifestadas também na luta de classes.

Neste aspecto , a ciência propriamente não tem um carácter de classe, já que o cientista pode reflectir no segredo do laboratório ' as contradições da luta de classes, na química, na matemática, etc. São antes expressões de classe. Correspondem ao domínio c ientífico do homem sobre a natureza , à relação homem-natureza através dos instrumentos de produção.

UMA "ILHOTA" SOCIALISTA ... ?

Seria utopia , no plano do processo revolucionário, exigir que a universidade, num regime capitalista, seja socialista. Por vezes, o extremismo estudantil quer fazer das universidades uma ilha socialista . Ou então: que venham os operários às universidades! Não há forças,

'-.. durante o capitalfsmo, que façam com que os filhos dos operários saiam da miséria e venham às aulas . Somente uma pequena proporção pode ter acesso ao conhecimento , pode ' chegar à universidade.

Há que modificar as velhas estruturas , a universidade transformar-se-á com a revolução e , coma revolução cultural i ncorporará tumultuosamente, como só a revolução o poderá fazer, os filhos dos operários e dos camponeses , os jovens da . pobreza, do des-&6ke,,,:,Q.iiI_ ,,, humilhação e da alienação.

Claro está que também seria extremismo, não uma concepção dialéctica do processo em todas as suas contradições se pensarmos que dev.emos esperar pela revolução para introduzir modificações na universidade, nos centros de ensino. '

"d eu ses ". Por outro lado, experiência das massas, a unidade introduzem elementos ideológicos dos povos pelas armas na mão.

A universtdade e os centros de \ ensino , cumprem a função de

Há, de imediato, a necessidade que as forças da revolução, as forças avançadas lutem por transformações da universidade, pelo melhoramento das suas qualidades pedagógicas, científico-técnicas , pelo predomínio da realidade democrática e progressista em relação ao reduto do imperialismo; queJutem pela modernização, pela investigação, pela revolução t é c nico - c i e n t í f i c a, p e I a democratização ' da velha universidade.

CATARINA VIVA!

Casas caladas de branco descendo as ruas, por cima aquele sol que viu Catarina ser assassinada; e depois as camionetas, os tractores e a gente que chegava. Bandeiras vermelhas; os braços e, em toda a volta as searas, as searas do Alentejo, que cresc~em . • Crescem trabalhadas pelos braços que conquistam cada dia a terra. A terra pela qual Catarina lutou e morreu. Há vinte e dois anos.

Caras queimadas do vento e do calor, acompanharam o nascer do busto que, agora, no largo principal de Balelzão, lembra a coragem da combatente comunista.

A jornada afirmou que ela continua viva no coração do' Alentejo. "Sim, a Catarina continua viva, ao nosso lado, na Reforma Agrária», dizia um velho trabalhador, «continua, porque lutou e morreu para agora a gente ganhar o pão, semear estas searas, fazer do Alentejo a nossa terra».

Ninguém apagará a vida ~ o exemplo de Catarina. E são os campos alentejanos que o dizem.

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Incansável lutador antifascista, membro do Partido desde os -16 anos, Octávio Pato, nascido Etm 1925, em Vila Franca de Xira, foi designado pelo PCP como candidato às eleiçõ,s para a Presidência da República. Preso pela PIDE durante 9 anos, com larga experiência de trabalho em várias frentes, com relevo para a Juventude (foi um dos fundadores do MUD Juvenil), era em Abril de 1974 membro do Secretariado e da Comissão Executiva- do CC do PCP. O nosso jornal falou com o camarada Octávio Pato e do diálogo ficam estas palavras.

UEC - Em que medida é que a candidatura apresentada pelo PCP contribui para preservar a unidade do povo com as Forças Armadas, sabendo que essa candidatura é de um' civil, membro destacado da direcção do Partido. Não será isso contraditório?

Octávio Pato - O PCP quândo decidiu apresentar uma candidatura independente e autónoma teve em conta várias circunstâncias, que nos indicavam a impossibilidade real de apoiar uma das candidaturas militares.iá anunciadas. Se nós fõssemos apoiar um candidato militar, em detrimento de outros candidatos militares, homens que fazem parte do Conselho da Revolução ou que têm o apoio de certos meios militares, é evidente que, ao apoiarmos um, estávamos a tomar posição contra outros. Daí considerarmos que no contexto da actual situação, seria quase impossível, de momento pelo menos, apoiarmos qualquer dos candidatos militares. Portanto, a designação de um candidato do PCP, para concorrer à Presidência da República, envolve a ideia de, por um lado, nada fazermos que leve à divisão entre as, Forças Armadas e, pela nossa própria acção independente, conduzir a uma convergência de posiçQes do povo em geral, das forças democráticas em geral, dos

próprios militares, para objectivos comuns relacionados com a necessidade de consolidar a democracia portuguesa, para contr i buirmos para a insti tucionalização da vida democrática no pais, e ao mesmo tempo, também, para a salvaguarda das conquistas fundamentais da nossa revolução, designadamente as nac ionalizações, a reforma agrária, o controlo operário, isto é, tudo aquilo que é progressista, democ r ático e que está consagrado na nossa Constituição.

Nesse sentido, estamos convencidos que a nossa candidatura, independente e autónoma, pode, evai, representar um factor positivo.

UEC - É sabido que grupos esquerdistas, que se apresentam, agora, sob uma capa "unitária" apoiam a candidatura de um militar. Até que ponto e porquê, é essa acção divisionista e como deve ser encarada?

OP, - Esses. grupos esquerdistas e, por vezes, avenfureiristas seguem uma prática, ou defendem, certos objectivos que nada têm a ver com a realidade objectiva. E essa é uma das questões fundamentais por que, entre nós e esses grupos há um abismo. É que muitas vezes o palavreado que usam

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«NÓS TEREMOS DE SER CAPAZES II DE MOBILIZAR E UNIR A JUVENTUDE>; II Entrevista do jornal UEC

os ob je ctivos que apregoam, nada têm de comum com a realidade. E entre essa realidade e o que eles pretendem há: na verdade, um abismo. É o caso, por exemplo, de, a determinada altura, os esquerdistas terem apregoado a ideia de um salário mínimo nacional de 6 mil escudos. Isto pouco depois do 25 de Abril. É evidente que se tomássemos o rendimento nacional, este não dava para atribuir essa importância a cada trabalhador. Este é um exemplo concreto de uma reivindicação que nada tinha a ver com .as realidades possíveis. É o caso também de uma outra organização, que se diz muito responsável, o caso concreto da UDP, ' que ainda não há muito tempo apregoava : " há desemprego? t:: muito simples: se os trabalhadores de uma empresa, em vez de trabalharem 8 horas, passam a trabalhar 4, logo, o número de operários passa a ser o dobro .. . " O que eles não disseram é como é que se pagava a esses trabalhadores. Pois é evidente que, se uma empresa que tem 200 operários, passa a ter 400, das duas uma: ou os trabalhadores que lá estavam passavam a ganhar metade para dar aos outros, ou então, se mantêm o mesmo nível de salários, haveria o dobro de encargos salariais. Isto, toma-se claro, é absolutamente incomportável na maioria das empresas . Na prática, isto conduziria à ru ín a, ao encerramento dessas empresas, ao desemprego. .

Isto são apenas dois exemplos, claro, quase anedóticos, para mostrar o abismo que há entre certas consignas irrealistas e até aventureiristas, que no fundo fazem o jogo da reacção. Porque, objectivamente, estas e outras reivindicações não têm nada de comum com a realidade, criam ideias absolutamente falsas, aqui

ou acolá, e na medida em que os próprios trabalhadores vêem a impraticabilidade dessas mesmas reivindicações, isso dá origem ao desânimo, à descrença, eao próprio derrotismo. Por exemplo, durante o fascismo, nós muitas vezes, quand·o certos tra-balhadores reiv'indicavam certos aumentos, que nós considerávamos que era muito difícil de obter, nós dizíamos: - "é pref.erível que em vez de conquistarem dez, conquistem cinco, mas conquistem. Porque a

• conquista desses cinco dava a confiança para conquistar depois mais. Agora, se se exige um determinado aumento que depois não se consegue conquistar, isso dá origem àquilo que já referi atrás. Portanto, nós procuramos em todos os aspectos ser realistas.

Porque é que etes defendem essas posições e contra quem orientam os seus esforços?

O esquerdismo e aventureirismo concentram grande parte dos seus esforços contra o PCP. E não é por acaso. Na medida em que o PCP é o partido da classe operária, é o partido dos trabalhadores, é o partido dos mais vastas camadas populares, é contra este Pártido, que o esquerdismo concentra grande parte dos seus esforços. E não é por acaso que nós

' assistimos, por exemplo, na Assembleia Constituinte, o deputado da UDP levar muito mais tempo a combater o Partido da classe operária, do que a combater o CDS e o PPD. Isto é um facto insofismável. Basta consultar o "Diário da Assembleia". Isto é exemplo concreto do divisionismo dessas forças. Um outro exemplo recente: a manifestação do 1.° de Maio, em que a UDP tentou provocar a divisão ao convocar a sua mini-manifestação, tentando iludir a grande vontade de unidade a que os trabalhadores deram corpo na sequência da derrota eleitoral da direita reaccionária.

UEC - E o caso do PRP? Também é significativo ...

OP - Sem dúvida é bastante elucidativo. Toda a gente sabe que se o PRP não concorreu às eleições para a Assembleia da República, não foi por uma questão de principio. Foi sim por _ saber, que se aparecessé nas eleições, ver-se-ia de urTra forma transparente a sua falta de implantãção nas ma.ssas populares. Portanto, se concorressem sucederia com eles o que sucedeu com outros, como o PRT, a LCI e outros agrupamentos que não conseguiriam eleger ninguém e mostraram bem a sua fraquíssima influência. Não concorreram e apregoaram o voto nulo, alegando que isso é que era "uma posição revolucionária". Se repararmos , esta posição, não difere muito daquela tomada pelo MRPP o ano passado, pois o resultado prático conduz ao mesmo. Esta posição, se tivesse sido seguida iria reverter em favor da direita reaccionária, e neste momento haveria uma Assembleia da Repúblia com uma maioria esmagadora do CDS e do PPD. Era isso que esses agrupamentos apregoavam e o resultado seria um governo reaccionário e a curto prazo a instauração de uma ditadura reaccionária e fascista, no nosso país. Agora, defendem a apresentação de um candidato à Presidência da República. Antes, tratava-se de dividir e alargar a confusão entre os trabalhadores e uma forma prática de lutar contra o PCP. Agora, o problema põe-' se , de certo modo, no mesmo grau. O PRP e os outros agrupamentos ao trabalharem para lançarem a candidatura dum militar, independentemete da opinião )lue dele possamos ter) procuram dividir os trabalhadores, dividir as

forças democráticas e através dessa candidatura procuram lutar, como anteriormente, contra o PCP.

Os objectivos, portanto, continuam a ser os mesmos.

UEC - É sabido da t4,a experiência de trabalho com a Juventude, na Federação da Juventudes Comunistas e depois no MUD Juvenil. Podes dizer alguma coisa sobre essa tua experiência?

OP - É certo que tenho alguma experiência prática no seio da juventude trabalhadora e da juventude estudantil, embora nunca tenha sido estudante. Nunca estudei, mas isso não impediu de participar, de lutar, ao lado dos estudantes, quer na Federação quer no MUD Juvenil.

. Quando vim para funcionário do Partido fui posto em contacto com as organizações de jovens trabalhado-(es e _com os estudantes, teIldo mesmo trabalhado com os estudantes da região de Lisboa. '

UEC - Em quê ano aconteceu isso?

OP - Foi de 1945 até 1947. Passei à clandestinidade em 45 e a partir daí comecei a trabalhar nestes sectores. Depois apareceu o MUD juvenil, sendo até 1949 responsável pelo sector da juventude. Tudo isto deu-me alguma experiência, como é ev idente, e ajudou-me a compreender uma coisa que continua a estar viva. É que, embora os jovens tenham origens de classe diversas, há entre os­jovens, trabalhadores ou estudantes , interesses e aspirações comuns.

Hoje, por exemplo, entre os jovens da UEC e da WC, entre os jovens em geral, há aspirações comuns. Os ideais da democracia, do socialismo, o problema da cultura em geral, do desporto, são problemas comuns para toda a juventude. Daí a necessidade das duas organizações cooperarem. E não se criarem barreiras entre jovens trabalhadpres e estudantes.

Penso que actualmente, uma das questões fundamentais no que toca ao ensino e diz respeito a toda a juventude é: como modificar a actual composição de classe da Universidade.

É sabido que ainda há pouco tempo, as estatísticas indicavam que apenas 4 por cento dos estudantes .universitários , .p rov i n ham das classes trabalhadoras. Esta relação de classe tem de ser modificada, e temos de encontrar meios para a modificar. Claro que tudo isto está ligado à estrutura da sociedade portuguesa, mas há que encontrar meios para modifi~ar este estado de coisas. É evidente que isto não se faz só por decretos, mas há que trábalhar para modificar este panorama.

A Juventude, como Lénine diZia, é a chama mais pura e ardente da revolução e nós teremos de ser capazes com base nos seus problemas _concretos, de a mobilizar e unir. Essa é a tarefa do nosso Partido e das organizações da Juventude comunista.

UEC, - A outra questão que te querlamos pôr é sobre um problema especifico - o problema da droga, como me/o de corrupção da juventude. Na tua opinião, o que poderão fazer, as organizações da juventude comunista, para, de algum modo contribuir para a combater?

- OP - Julgo que é absolutamente justo, que jovens revolucionários olhem para esse problema com preocupação e procurem encontrar os meios de lutarem, para contribuirem para a resolução desse problema. E digo contrlbuirem, porque julgo que tal

como noutras questões, não devemos ter ilusões. O uso da droga é a sua expansão estão ligados à forma como a juventude vive, e até, à falta de perspectivas de vida e de trabalho a que muitos jovens estão sujeitos.

As transformações da sociedade portuguesa já são importantes, mas ainda não permitiram liquidar certas viciações que germinam na nossa sociedade que ainda não é uma sociedade socialista. 48 anos de fascismo, com toda a penetração ideológica da reacção, do imperialismo e da burguesia, através do cinema, de livros e outros meios, tudo isso contribuiu para uma certa degenerescência de certas camadas da população. É natural que atinja duma forma especial a juventude. Mas a luta para a liquidação desta situação, não se faz só.pordecreto,por meios repressivos. Mas seria desejável que por parte das autoridades houvesse medidas concretas contra os traficantes da droga, que a utilizam para ganhar dinheiro sem nada fazerem, desses parasitas, que vivem à custa da

. corrupção da juventude. E para além daqueles que a vendem e traficam, devemos ter em conta a existência de outras forças, que estão interessadas na corrupção política e moral da juventude.

De facto, s6 no socialismo, com a liquidaçao da exploração do homem pelo homem, é que há possibilidade de acabar com a droga e com todas as formas de corrupção.

Não há dúvida, também, que tanto a UJC como a UEC, poder d er ~ =e cooperação, contra o significaoo da utiização da droga.

A UJC e a UEC lançando uma campanha deste tipo, elaborando um plano de acção e luta contra a droga, levando e pre!?sionando as autoridades e o governo, exigindo medidas, muito poderão ajudar no combate à droga.

UEC - Para terminar, o que poderás adiantar quanto às tarefas que neste momento.

~importa desenvolver, neste perlodo de campanha que se aproxima?

OP - Antes de tudo importa lutar pelos objectivos que o nosso Partido aponta, pelos objectivos que levaram o PCP a apresentar um candidato. Esses objectivos já foram divulgados.

Eu creio que para a juventude, para os jovens comunistas, para todos os jovens progressistas, até ao dia da votação, o importante é a mobi/iza~ão das mais vastas camadas da juventude portuguesa, e do povo em geral, mobilização pela luta daqueles objectivos que já foram divulgados e que serão mais explicitados na Declaração a publicar ainda esta semana.

Ou seja, lutar pela consolidação do processo democrático português, lutar pelo reforço da unidade entre o povo e as Forças Armadas, lutar pela defesa e aplicação da Constituição, onde estão consagradas as conquistas fundamentais da nossa revolução.

Se assim fizermos, creio que poderemos dizer que isso vai reflectir-se em todo o procêSso revolucionário português, independentemente do Presidente da República que for eleito.

Podemos dizer, finalmente, que o candidato do PCP é o candidato duma força política que luta de forma clara, sem quaisquer sofismas, pela reforma agrária, pelas nacionalizações, pelo controle operário, pela consol i dação do processo democrático, na luta por uma sociedade que seja encaminhada para o socialismo.

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MOVJMENTO ESTUDANTil Estudantes contra o fascismo~

LICEU P.E ANTÓNIO VIEIRA (L1SBGA) - As actividades de arruaceiros estranhos a este liceu, secundando as provocações de estudantes reaccionários, têm sido combatidas corrffirmeza pelos estudantes antifascistas. Os "célebres" irmãos Baltasar e as arruaças dos meninos das motas (com o seu cortejo de paus e facas) têm sido insistentemente denunciados. A polícia, pressionada a actuar, nada faz, sabendo toâa-a população do liceu quem está oa origem dos acontecimentos. Chega-se ao cúmulo de levar um conhecido guarda-costas do CDS para dentro do liceu.

·Os estudantes antifascistas continuarão a dar combate a tais energúmenos,. porque ninguém quer, nunca mais, a política da mordaça e do cacete. Opor firme resistência é o dever de todo o

• antifascista.

LICEU D. DINIS - -Conta-nos um estudante destêliceu que o ódio anticomunista se manifestou, ultimamente, sob a forma de arremesso de ovos contra a banca dos estudantes comunistas. Adianta o nosso correspondente que o liceu conheceu-a entrada da polícia fascista, para prender estudantes antifascistas que lutavam contra o fascismo. Agora, os estudantes, não permitirão

. que os galináceos neofasçistas continuem as suas provocações.

Eleições

LICEU DE OEIRAS - Irregularidades verificadas durante o período de campanha eleitoral , indicam que as eleições para a Associação de Estudantes vão ser impugnadas. Das quatro listas que se apresentaram à votação, a patrocinada pelos jovens fascistas (PPQ , AOC e CDS), beneficiou das falcatruas denunciadas pela lista unitária. Foram nada menos 200 votos que apareceram a mais nas votações, o que faz pensar que filho de tubarão sabe nadar. Mas os estudantes progressistas não deixarão passar gato po~~ebre.

LICEU CAROLINA MICHAELIS (PORTO) - O número de abstenções verificadas nas eleições da repres~ntação estudantil para o Conselho de Gestão deste liceu foi superior aos votos

. obtidos pela lista vencedora, afecta ao PPD. Apenas duas listas foram permitidas, em face do boicote do Conselho de Gestão, ao não aceitar outras listas. Inclusive o anúncio das eleições foi misturado no "placard" de exames. Tal vai a "democracia" neste liceu ... que deve reforçar a unidade dos. estudantes contra a direita,e contra tais práticas antidemocráticas.

L1CEU -PE ANTÓNIO VIEIRA (LISBOA) - Vitória da lista de unidade antifascista nas éÍeições para a repr~sentação estudantil

. na Gestão. Vitória dos' estudantfls que reafirmaram o seu firme UNNERSIDADE DE COIMBRA _ O repúdio generalizado propósito de não permitirem o regresso do fascismo.

pela reintegração ~ Veiga Simãq é a nota domin nte a o~ iã'):I.,o._ il_ ... SBAGANÇA.-~.:-Jista antifascista -nas generalizada dos estudantes universitários desta cidade. A título eleições para a Associação do liceu local. O resultado finai só de exemplo, na' Faculdade de Ciências e Tecnologia, em-plenário , foi estabelecido em segunda volta, devido às irregularidades -foi vigorosamente denunciada tal medida. Também a UEC, em verificadas. -comunicado, afirma que "a menos que se considere 11 hipótese De salientar, (, bom resultado obtido pelos estudantes aberraRte de que os fascistas possam ajudar a consolidar a progressistas, sabido que foi o clima agitado em toda a democracia ou sequer a respeitem, esta reinteg ração é uma cidade, criado à volta destas eleições. Houve pressões de ofensa ào povo português e um desrespeito pela sua vontade" , toda a ordem, mobilização de influências e caciques e acrescentando que "urge tomar posições firmes, massivas, quanto ameaças de destruição das instalações do liceu. No entanto, aO cas<:>.'.I.eiga Simão~e a outros que se anunciam. os fascistas acolitados na lista CD,S/PPD foram batidos. Um

exemplo este, que saudamos pela combatividade e firm~za AMADORA - Novas provocações dó ' CDS, no liceu desta dos estudantes antifascistas de Bragança.

localidade, foram denunciadas em comunicado do Comité de Luta Antifascista do Liceu da Amadora. Uma-banca dos fascistas e o habitual cortejo de arruaça e caceteiros estiveram na origem do's incidentes. De [lada reslJltou a intervenção policial, a pedido do conselho dírectivo da escola. O CLAF afirma que "o objectivo dos reaccionários era exactamente esse; a desordem, o barulho, o boicote -ao funcionamento da escola. Foi a acção imediata dos ~

- muitos estudantes que permaneciam no local que levou a que o liceu não fosse encerrado",.

TOMAR - Forte mobilização estudantil derrotou uma tentativa de fascização da escola, provinda de um reduzido grupo de professores reaccionários. A pretexto da "indisciplina reinante", estes professores haviam apresentado uma proposta de estatuto interno da escola, de características marcadamente repressivas, que, além do mais, ignorava as disposições contidas no decreto de gestão democrática das escolas. Numa resposta firme e unida os estudantes reuniram-se tendo repudiado o referidO '''estatuto'' e deliberado eleger uma comissão incumbida de estudar os problemas disciplinares da escola.

CALDAS - Constituiu-se recentemente o GLAF - Grupo de Luta Antifascista_ - integrado por estudantes e- professores progressistas do liceu desta localidade. Este grupo publicou já,

'além da sua declaração de princípios, um texto sobre o campó de concentração nazi de Buchenwald. Em perspectiva outras iniciativas de combate ao fascismo. Um exemplo a seguir, camaradas! .

PORTO - As reintegrações de fascistas atingiram nesta cidade a Faculdade de Ciências e Medicina. Nesta última com o consentimento da Associação dominada pelo PPD, e do Conselho Directivo. Urge levantar um grande movimento de opinião é rechaçar as tentativas dos fascistas em regressarem a estas escolas.

Os exames estão à porta

SETÚBAL A exigência de exames por escola e outras medidas pedagógicas, a apresentar ao MEIC, foram ap~ovadas recentemente pelo secretariado distrital das AAEE deste distrito. Esta proposta foi já objecto de aprovação em numerosas escolas.

LISBOA - Em várias escolas deste distrito, foi também aprovada a exigência de exames por escola, sendo objectivo das propostas aprovadas em RGAs, a contribuição para a resolução correcta dos problemas específicos de cada escola, no que diz respeito aos exames, que estão à porta.

Estudantes apoiam a Reforma Agrária

COIMBRA - Um grupo de estudantes progressistas da Escpla de Regentes Agrícolas desta cidade, organizou uma excurs~o a Baleizão, com visita à Cooperativa "Terra de Catarina". E de salientar· esta iniciativa, que resulta do crescente interesse dos estudantes desta escola, para com os problemas da Reforma Agrária.

. SETÚBAL - Por decisão das Associações de Estudantes do distrito está em fase de lançamento uma campanha de apoio' à Reforma Agrária. A compra de um tractor, objectivo central desta

. · campanha, a que aderiram várias associações de juventude e colectividades, faz parte dum vasto programa, que inclui jornadas de trabalho, bancas, exposiçqes e debates sobre a luta pela consolidação da Reforma Agrária. Que este movimento se estenda a outras escolas e regiões do país são os votos do nosso jornal , que acompanhará tais iniciativas.

Actividades culturais e desportivas·

LICEU FILIPA DE LENCASTRE (LISBOA) - Está a decorrer neste liceu um concurso de poesia e prosa, promovido pela UEC, que tem contado com grande participação'. Está ainda programada a visita a uma cooperativa agrícola, na região de Torres Novas.

LICEU D. AMÉLIA - Uma exposição sobre poesia revolucionária do Séc. XX está a ser preparada nesta escola. Espera-se que a "semana" termine com um colóquio sobre o tema.

LICEU D. DINIS - As datas de 30 de Abril e 8 de Maio foram celebradas nesta escola com exposições, cartazes-e gravações. Foram, ainda, passado~ os filmes "Queda do fascismo" e sobre a RDA. .

TORRES NOVAS - Realizou-se um torneio de futebol de 5, por iniciativa da UEC. Á participação elevou-se a duas centenas de jovens, tendo o torneio sido seguido com muito interesse pela população. '

PORTO - Mais de dois mil estudantes participaram no festival de "'jazz" promovido pela Associação de Estudantes de Economia, desta cidade. Realizaram-se ainda, nesta escola, dois colóquios sobre a Reforma Agrária e decorre um ciclo de teatro e cinema, ambos com numerosa assistência.

Não poderá dizer-se que o UEC esteja "na berlinda" pela primeira vez. Ele está na berlinda de facto sempre que sai das rotativas e é lido, criticado, aprovado ou . rejeitado pelos nossos camaradas, pelas massas estudantis. Mas o que não é tão frequente é que sejà sistematicamente analisado e veja equacionados e debatidos os problemas que a sua publicação levanta.

A novidade consistirá hoje no facto de -que o UEC está na berlinda nas suas próprias colunas, pela voz

Este jornal serve ou não?

SÉRGIO - Todos estamos de acordo nisto: o jornal tem de cumprir uma missão informativa, organizadora e de formação ideológica. Mas não só. A experiência da sua publicação conduz à conclusão de que é necessário que seja diversificado e juvenil, abordando questões e temas como a música, o cinema, o teatro, o desporto, incluindo o ' xadrez,.palavras cruzadas, etc.

A primeira pergunta que podemos colocar é esta: o jornal, este jornal está a servir ou não? Está ou não está a

' cumprir o seu papel como órgão central da UEC?

DIOGO - Mais ainda. Nós . falamos no UEC e dizemos: ' ''0 jornal da juventude estudantil". Mas o que é que nos diz a­experiência que temos vindo a recolher? O UEC é o jornal da juventude estudantil?

PORTAS - Eu creio (e _ parece-me que isto correspoQde a uma· opinião generalizada =- e correcta!) que a difusão do UEC entre as massas estudantis está · muito aquém da capacidade da

nossa organização e mais aquém ainda daquilo q!Je seria

. realmente necessário . E mesmo dentro da organização não há, talvez, o hábito de ler o UEC naquele grau em que, por exemplo, poderá existir o de ler o AVAN1:E!. .

Ora, a fase do UEC iniciada neste último ano lectivo pode abrir perspectivas i nteressantes sobre as possibilidades e formas de alargar o circulo dOi leitores, ou seja o campo em que o jornal acaba !,or ser realmente um organizador e. um polarizador da opinião e do movimento estudantil. Mas será só isso? -

O que é que se con_clui desta fase? A questão é esta: mesmo COI)1 um jornal mais diversificado como o actual (ressalvadas -as- deficiê~~ as 8~ páginas, etc.) não me parece que a UEC possa ter (pensando em ter:mos de eficácia - entenda-se) a p e nas u mór 9 ã o de intervenção junto das massas -estudantis.

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dos membros da comissão redactorialcentral: 'SÉRGIO COSTA, ZÉ M. MOREIRA, ZÉ MAGALHÃES, MIGUEL PORTAS, C. LOBATO, ZÉ DIOGO, CHICO MEIRELES, PITACAS e RUI PAULO (que fotografou) .

Tratou-se apenas de abrir um debate-necessário. Para que, recolhendo contribu ições, propostas, -críticas, possamos erguer a ampla e influente imprensa estudantil comunista que todos queremos.

o problema das Ihnitaçõesdo UEC

PITACAS - Eu realçaria mesmo o seguinte aspecto: com o seu número limitado de páginas e como jornal da juventude estudantil, o UEC tem de atingir muitas camadas (e camadas muito heterogéneas) de jovens. O que explica por certo grande parte das dificuldades que temos sentido na programação do seu conteúdo. É uma contradição que temos de resolver. - '

LOBATO - Exacto. E poderí amos constatá-Ia , quanto mais não fosse a partir das reacções da nossa própria organização. Ela abrange sectóres que vão dos 10-12 anos até aos 24-25 anos, com a profunda diversidade de interesses que esta simples referência supõe. O UEC, com as suas características aCfuais, esta muito longe de poder interessar, por exemplo, os estudantes do ensino superior.

E neste caso, as limitações e debilidades (reais) do nosso trabalho são tanto mais nítidas (e até mesmo fáceis de sent ir) quanto exis t em jornais e revistas que, utilizando grandes recursos humanos e financeiros, visam cobrir largas faixas de leitores, nas quais podemos incluir precisamente os eJ)tudantes . É uma pesada ... concorrência, a exigir de nós sérios esforços no sentido de reunir os amplos meios necessários para que possamos ir ao encontro dos

A quadratura do círculo

MOREIRA - O quadro já . traçado em pormenor pelos r

camaradas, talvez pudesse ter um título~ aliás clássico: a quadratura do círculo. Isto é: oito páginas, quarenta e oito colunas, um volume de recursos reduzido, para um campo de actividades muito ~ vasto e muito diversificado ... Sem subestimar as nossas próprias debilidades, a experiência que temos recolhido vai num só sentido: a impossibilidade de, nas actuais condições, satisfazer cabalmente o campo total dos leitores do UEC. Mas não só!

No decurso desta discussão

interesses desta camada estl,ldantil específica, tanto no conteúdo como na própria forma da imprensa através da _qual lhe fazemos chegar 'a nossa voz.

MAGALHÃES - Dizer "são necessários sérios esforços" não dará, talvez, a ' imagem exacta de todos os tipos de dificuldades com que nos deparamos. Trata-se, na verdade, de uma questão financeira. Mas não só. E diria m es-mo: não sobretudo . Q\Jando perguntamos: Que imprensa comunista devemos produzir para o sector universitário? - o que estamos a pôr em questão é, desde logo, a nossa capacidade. de produção, isto é, a profundidade, a extensão, qu-alidade das nossas reflexões, do nosso estudo,

_das nossas perspectivas sobre o vasto leque de matérias que estão hoje em dia nâ esfera de i nteresses dos estudantes universitários do nosso país.

E sobre este aspecto não creio que possamos dizer: estamos bem, temos avançado~muito. É que, na realidade, isso não sucede. É uma limitação, uma questão de fundo a encarar de frente com certa urgência, sem ilusões porém de que a sua resolução seja simples ou imediatamente concretizável sob todos os aspectos. Mas o que é certo é que há que avançar. E para isso há que ,estudar, debater, organizar.

tem vindo a clarificar-se uma questão que considero essencial: ' a necessidade de pensarmos a nova imprensa estudantil comunista como um todo integrado por vários _órgãos adequados aos diversos campos em que a nossa acção se desenvolve.

CHICO MEIRELES - Ou seja, a impossibilidade de o órgão central ser, além de central, único e levar com oito páginas, a nossa voz a toda a parte onde é preciso que ela sejá ouvida e da forma adequada a cada uma dessas partes ...

Os estudantes e a nossa imprensa MAGALHÃ ES - Esse

problema é profundamente s entido pelos diversos sectores da organização. E natural mente cada sector reflecte, nas suas críticas, as caracter í st i cas e as necessidades específicas do seu trabalho. Até há pouco tempo os camaradas do

secundário diziam: "o UEC está pesado, monótono, é um arquivo ... ". Outros caniaradas observam agora: "o jornal d iz - nos pouco, não encontramos analisadas em profundi dade as grandes questões pedagógicas , os grandes problemas teóricos, a revolução democrática no

domínio do ensino e da cultura passa pelas páginas do jomal como gato sobre brasas: .. "

E a verdade é que, em certo sentido, têm razão. Uns -e outros têm razão.

A questão. que essas observações põem a nú é, afinal, a das grandes limitações actuais do nosso trabalho de imprensa.

As críticas e as propostas que surgem de vários lados têm um traço comum e muito positivo: . vão no sentido de alargarmos- e elevarmôs a qualidade do nosso trabalho de imprensa.

SÉRGI O - E - é impossível ignorá-lo - têm ainda outro significado: Tal qual está, o' UEC não serve. Muito há a fazer, há que pensar o problema no seu todo.,.

MOREIRA - Por isso mesmo a questão não será

"acabar com o jornal ". A questão é repensar o papel do UEC no quadro da imprensa necessária. Por exemplo , ninguém deixará de reconhecer o lugar importante que o sector secundário deverá ter nessa imprensa.

PORTAS - Para o secundário é particularmente necessária uma imprensa juvenil. É um espaço ainda não preenchido que pode ser preenchido. Há condições para ' isso , neste momento, seja porq ue na prov,í nc ia por exemplo há uma grande falta de imprensa, seja porque a imprensa associativa no ensino secundário está em geral extremamente pouco desenvolvida (é praticamente inexistente). De onde há uma certa sede de leitura de um jornal que seja actuante e vivo ...

A UEC tem o jornal que merece?

SÉRGIO - Os problemas, . as observações e propostas ~ que aqui têm vindo a surgir, apontam todas para uma questão mais geral, a questão das nossas próprias forças, a questão da UEC que nós somos. Ainda que sejamos a maior, a melhor estruturada das organizações estudantis portuguesas, ainda somos poucos, 'muito poucos, para aquilo que nos é exigido. E em função das características da organização, do seu trabalho, que teremos talou tal imprensa. Por isso é que talvez a ideia de que a organização tem o jomal que merece possa ser justa. - Justa nesta perspectiva.

A questão de uma nova imprensa estudantil tem que ser vista sob 2 ângulos: primeiro - a quem (e como) é dirigida essa imprensa? Isto é: a questão das massas que pretendemos atingir; ' segundo - a questão interna, a questão

_ financeira e outras questões de meios.

Em relação à primeira

questão, devemos pôr o dedo na ferida do próprio MA a nív~1 nacional. Sendo uma força importante (e aqui refiro-me p articularmente ao ensino superior como força mais consolidada, emtíora alguns passos tenham sido dados e estejam a ser dados no ensino secundário), o MA não tem uma imprensa própria, org anizada, actuante e influente no seio das massas estudantis. Podemos contar pelos dedos as revistas, boletins e jomais surgidos em tomo das AAEE do país.

Na actual situação acontece que somos por vezes obrigados, sendo um órgão central partidário, a suprir deficiências informativas do próprio MA. É algo que não nos -cabe em rigor e são incorrectas as concepções que por vezes surgem no sentido de incluirmos umâgama vasta de i n form aç õ es regulare s , pe r iódicas , em c ima do momento. E sê-lo- iam mesmo que tivéssemos um maior número de páginas ...

'. Uma coisa é a imprensa do MA, outra é a imprensa partidária, a imprensa da vanguarda dirigente das lutas das massas estudantis pela conquista dos seus objectivos próprios enquadr.ados na c or re n te popu l ar . Uma imprensa à qual cabe rasgar as grandes perspectivas poIí1icas, conduzir e dar às massas

_ estudantis a sua orientação. É uma distinção de fundo. São dois campos de actuação diferentes. _

DIOGO - Hoje coloca-se realmente esse repto às AAEE, aos nossos camaradas que trabalham no MA e ao MA em geral: a questão da sua imprensa ...

SÉRGIO - No que nos diz respeito, como imprensa partidária e de acordo com as ideias já aqui expostas por outros camaradas, há uma grande constatação inicial- a

PÁG. !

existência a nívél estudántitdE dois 'grandes seCtores, CO" c a r a c t e r í s t i c a,s' , c O" objectivos,- com interesses E mu itas vezes an se i o ! imediatos diferenciados: (

- ensino secundário e b ensine superio r , Não sãe dif e r enciados n as sua! grandes perspectivas pofiticas não na concretização, atrav~ da sua actuação prática, d~ RGDE. No entanto, um joverr de 13, 14, 16, 17 anos terr anseios imediatos diferente! dos oe um estu,dantE universitário.

O noso jomal, amarrado à~ suas características, não dá ae jovem uníversitário aquilo que ~Ie pretende . ler num jomal. mesmo partidãrio. Isto não se colo.ca apenas aos nossos militantes> e simpatizantes. Coloca-se também à massa estudantil em geral.

A organização perante o UEC

DIOGO - E uma questão que urge resolver, Chegam-nos frequentemente propostas de edição de uma revista, de um espaço onde seja possível tratar com a profundidade necessária os mais diversoS"' temas de carácter político, pedagógico, cultural. .. Sim? Não? Como?

Também no que diz respeito às e9ições UEC há um longo caminho a percorrer ...

RUI PAULO - Por outro lado, só de leve é que se falou aqui do proplema da ligação entre a organização e o UEC, da n ec es s id ade de a organ ização estudar os

problemas da sua imprensa­neste caso, do seu jomal - E de participar, portanto, m definição daquilo que ela deVE ser e na concretização m prática dessas ideias suas,

Mais ainda. A questão dé venda. Não acho qUE estejamos a trabalhar berr n este sentido. Há muita~ coisas que podemos fazer pan: cumprirmos a tarefé revolucionária que é levarmos às massas estudantis o nosse jomal... O conteúdo do joma s erve mu itas vezes de desculpa pa ra não no~ empenharmos a fundo nessa tarefa.

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CENTRO CULTURAL DE ÉVORA • Uma - importante experiência - de

descentralização teatral em pleno Alentejo

o Alentejo não é somente a terra da Reforma Agrária. É também a terra pionéira da descentralização cultural no Portugal Democrático depois de 25 de Abril.

Mais precisamente, foi na cidade de Évora que há quase ano e melo se iniciou uma experiência de vanguarda no capítulo da descentralização teatral com a criação do Centro Cultural de Évora (CCE).

A reportagem do "JJEC" que aí se deslocou recentemente, pôde apreciar "in loco" o trabalho que o Centro desenvolve. Desse material recolhido, apresentamos hoje uma parte da entrevista realizada com Luís Varela, director-adjunto do CCE para a Escola de Actores e Fernàndo Mora Ramos do departamento de apoio ao tealro amador, sobre alguns aspectos ligados à criação do Centro e aos problemas do teatro em Portugal.

Em primeiro lugar quisemos saber quais os factos e os objectivos que se pretendia atingir com a criação do CCE. • •

Luí~ Varela (LV) - Pois o CCE foi o primeiro centro cultural criado e está aberto del de Janeiro de 1975. Foi criado pelo Ministéri9 da Comunicação Social e surgiu de um organismo muito "esquisito" que existiu junto do director-geral da Cultura Popular e Espectáculos, a Comissão Consultiva para as Actividades Teatrais que era um conjunto de críticos, de actores, de encenadores que achava que era urgente fazer a descentralização .. Aí, o assunto foi larg amente debatido. Deves calcular que essa tal comissão estava cheia de pessoas de Lisboa, o que é natural porque só em Lisboa havia

. pessoas, quando se começou a agitar um pouco estas questões. Na província flavia o Teatro Experimental do Porto e pouco mais.. . É claro que eram as pessoas de Lisboa, do Monte Cario, como'costuma dizer O" MáfÍo

Barradas, que iam decidir corpo havia de ser a descentralização. E então é claro, houve "pecados" que foram surgindo devido a isso mesmo. Pessoas que faziam uma confusão muito cómoda entre descentralização e itinerância por um lado, pessoas que apareciam com ~urri d i s curso quase g ue r ri lh e iro, outras com um discurso quase missionário à volta da descentralização e. poucas entendiam que a descentralização também é senão sobretudo, o criar numa primeira fase, em certas cidades já com um certo aparelho, companhias profissionais que ·Ientamente fossem fazendo um trabalho de implantação e de animação. De qualquer modo e fel izmente a descentralização começou por aí com uma direcção, que felizmente, tinha essas coisas muito bem arrumadas e clarinhas na cabeça e que foi o-que se1ez.

, "UEC" -, Q~al a razão da escolha de Évora como base de lan~mento do primeiro centty"cultural?

L V - Uma das razões que nos trouxe aqui a Évora foi a pré-existência de boas condições, de um te rre n o bom para experimentar. Isto é, fazer um centro piloto de descentralização, um centro que devia servir de modelo a outros futuros centros. O CCE é experimental por um período de dois anos, É piloto e é experimental. Da no ssa experiência de ' dois anos que term inará em Dezembro deste ano, é que as pessoas vão tirar as lições para a constitúição de novos centros, para introduzir correcções, etc.

Era um bocado dificultar excessivamente a tarefa, escolher um sítio que não reunisse um certo número de boas condições , garantindo algum sucesso.

Évora tinha os festivais de teatro amador promovidos pela Sociedade Operária de Instrução e Recreio, que é uma sociedade francamente progressista vinda dos tempos do fascismo e' que desenvolveu um trabalho cultural

de, resistência muito importante. Do seu trabalho de resistência uma pedra muito importante foram os tr ês~festivais que conseguiu realizar no tempo do ,fascismo. Tinha e tem o seu próprio grupo de teatro. Além disso existe desde 1902 ou 3 ou 4 ou 5, também em Évora a Mocidade Eborense que é agora a Sociedade Recreativa e Dramática Eborense, também com uma 'real tradição teatral, com um grande número de 'associados, o seu público certo e uma actividade muito regular. Conheceram certo número de êxitos tanto a "Joaquim António " como a "Dramática", algumas vezes a nível nacional.

E também não longe daqui havia tradições teatrais. Quando cá c h e g á mos à r e g i ã O v e perguntávamos: "E então grupos de teatro amador?" a resposta era na maior parte dos casos "Houve até há três ou quatro anos" ou "Houve até há dez anos". Parece que realmente a guerra colonial e a emigração deram cabo dessa forte tradição de teatro amador.

"UEC" - Vocês falaram até aqui só de teatro, mas o centro tem também outra actividade. Qual portanto a ~ característica do· centro? É polivalente ou existe digamos uma "hierarquia" de actividades?

L V - Nos estatutos do centro há um artigo que deve ser o primeiro que diz que o núcleo do CCE assenta numa companhia de teatro profissional e que diz depois que dentro das suas possibilidades deve promove r o ut ra's manifestações de tipo artístico. É bem claro nos estatutos que a actividade principal do centro está à volt a do t eatro . Podemos escalonar isso mais ou menos assim: criação teatral à volta de uma companh ia profissional; a n i m ação, fundamentalmente trazendo grupos profissionais e

amadores aqui a Évora e apoio aos grupos de teatro amador, aqui da região . Depois é que surgem outras actividades como música, exposições de pintura, que nos são na sua maioria fornecidas pelo Ministério da Comunicação Social e algumas pela Fundação Gulbenkian. Quer dizer, o que nós temos aqui são especialistas de teatro e não de música, pintura ou bailado. Logo seria petulante, que a gente dedicasse a mesma intensidade de trabalho a essas activ idades que dedicamos ao teatro.

"UEC" - Quais os problemas com que se defrontaram em relação à vossa Implantação no distrito? Isto em dois sentidos. Por um lado em relação à própria adaptação dos elementos do Centro, por outro em relação à população.

Fernando Mora Ramos (FMR) LV - E u n ão co n co rdo - De-facto;"como o lufs-disse11r"Tnle ramente, pelo menos com uma pouco, foram pessoas da cidade maneira possível de entender o que se deslocaram para um outro que tu disseste que era o chegados ponto do país e isso colocou a Évora virarmos quase fatalmente problemas de um certo tipo, a nossa produção . para o nomeadamente no que diz respeito proletariado agrícola. à sua adaptação a um circuito de Isso é verdade e tem sido um dos vída completaménte d iferente, aspectos do n'osso trabalho mas, comoéode uma cidade de campo. só um dos espectos do nosso

Por outro lado a nossa trabalho. Por que há um outro actividade desenvolve-se num aspecto e que me parece que é' dístrito, em que a camada socíal importante e bom pôr em p<illavras, mais importante é o proletariado senão, podemos cair no tal desvio agrícola, embora na cidade já seja missionário ou podemos fazer as um pouco diferente. Há um sector pessoas entenderem que nós de serviços muito forte e uma fizemos um desvio missioná~io da pequen~ .produção e éomércio d e s c e n t r a I i z a ç ã o. A caractenstlCOs. descentralização também é e aqui

A questão da implantação deveria logo de início ser virada, por razões históricas adquiridas do distrito , para o proletariado agrícola. .

É claro que isto colocou imensos problemas de vários tipos, como por exemplo o estabelecimento de um circuito de distribuição dos nossos espectáculos pelas diversas aldeias. Pôs depois, o problema do próprio aparelho teatral nas diversas aldeias e que possibilidades é que se tem de f ,azer determ inados espectáculos .. . é que numa sala de 5 por 4 não se dá uma grande produção.

na prática em Évora é, o retirar a Lisboa ... ou melhor, o implantar na província uma unidade de produção e de animação com características quase cosmopolitas, quase lisboetas. Isto quer dizer que Evora recebe hoje o conjunto Krasnoiarsk, um conjunto de uma República da União Soviética, enorme,espectacular, e recebe-o aqui. É impensável levá-lo, por exemplo a Valverde. Ora se nós praticássemos o desvio missionário o Krasnoiarsk não vinha a Évora. Por isso que fique claro que faz parte do nosso trabalho cultural trazê-lo a Évora ou a Évora e Beja ou a Évora, Beja, I?ortalegre e Montemor.

PEÇAS MONTADAS PELO CCE DESDE A SUA CRIAÇÃO

"O 28 de Setembro" de Richard Demarcy'

"O Soldado Raso" de Luís Valdez

"As duas caras do patrão" de Luís Valdez

" Lucin Tenebris" de Bertold Brecht \

"O proprietário Puntllla e o seu criado MaUi" de Bertold Brecht

"Histórias de Ruzante" de Angelo Beolco, "O Ruzarlte"

(Montagem de: " Carta de-Boas-vindas ao Cardeal FrancescG Cornaro"; "Falatório de Ruzante de volta da guerra':; "Bllora")

"O Preconceito vencido" de Marivaux.

...

«INFERNO»?! NEM VÊ-LO! A "Torre do Inferno" constitui por

si só a síntese daquilo a que se pode chamar o novo cinema holly woodesco~ A negatividade desta fita é transparente.

Desde o uso do super-astro Paul Newman, figura central do filme, o bom, o duro, que no fundo tem um pouco de sentimentalidade, não tendo suportado a morte do amigo e gostando de passar uns dias fora da cidade, até à parada da saudade, o choradinho pequeno-burguês americano da figura de Fred Astaire no papel de velhinho apaixonado . A monumental i dade idiota e desnecessária do filme, já visto noutras produções congéneres, constitui o toque de mestre que os EUA usam para conqu istar a grande audiência destes filmes.

Este filme é um erro dos pés à cabeça. Mais que um erro é uma grande asneira, uma ofensa.

, Mostra-se ao públi~o, que é .levado a ver este filme pela máquina publicitária montada, a técnica pela técnica. A técnica de um grande ed i fício , maravilhosamente equipado e deco r ado, i nestet icamente construído no meio de San Francisco onde abundam bairros pobres, edifício esse que não serve literalmente para nada.

A sua utilidade é a realização (?) pessoal de 2 ou 3 indivíduos que têm desesperadamente de encon trar um meio de se

~ destacarem no meio da corrida de

galgos que é a sociedade americana. '

E que mais resta dize)' do filme? Que aparecem cenas da tão

velha moralidade, como a cena do indivíduo egoísta e exaltado que quer a cadeirinha da salvação para si?

Poder- se-ia aqui transmitir a corrida da v i da a que quotidianamente se assiste nos EUA? Por mim não acredito nisso.

A mediocridade mental dos produtores holly woodianos não lhes permite atingir tais realidades.

E quando as atingem, escondem-nas por detrás aas capas verbais da velha democracia americana.

O e s t e f i I me , e m s uma, transparece a sociedade americana dos contrastes, das figuras célebres que se Vêem entrar no edifício e que escondem por detrás de mil sorrisos a decadência da sua classe.

Deste filme transparece o afundamento, dito ressurgimento de holly wood.

Deste filme , transparece a negatividade.

E, infel izme nte, o público continua a consumir demasiado essa negatividade.

Mais do que um filme a não ver, é um filme a nem sequer pensar em ver.

MIGUEL DO~ALE NJOPN (Núcleo de Jornalisrl)o da Organização do Pedro Nunes)

• Há quem não goste de "topar que ... " , até porque n6s somos muito, vejam s6, "infantis" (sic) . Pois bem, a esses tais que tantos, nós gritamos: "Qu'é'"Que vocês têm contr'á mef')inice! Matulões, é o que vocês ~o!"

• Quando vires um - "matulão" dos de cima grita-lhe: . IN- FAN-TI-CI-DA!! A seguir joga-lhe com estas:

• Tens úm quarto' na Rua Tomás da Anunciação, 50-2.° Dt.O em Campo de Ourique - Lisboa. Reservado a Raparigas (sic). Com roupas .tratadas~O quê? O telefone? Tá bem, é o 6~ 113.

O "Edições UEC" deu um chuto de saída na "FEC-OCMLP". Lá se diz que é um "Grito de Direita' na Revolução Portuguesa". Em Radiografia. Custa 7$50. A UDP também é metida ao barulho, pois pudera!

• Se alguma vez foste fotógrafo do "Luta Popular" e tens mais daquelas do Rosas a tocar tambor ou clarinete, do "Avental" a chupar vinho por uma palhinha, corre, vem ter connosco: também damos direito a 1." pági,na. Vai ser cá um furo!

~ Se quiseres comer bem, barato, ~m boa companhia, café e bagaço - O Bar da UEC está aberto. Em Lisboa. Na Rua Sousa Martins, , 8, R/C. A bica ... olha, a bica não é ao preço do ,Magalhães Mota!

palavras cruzadas& PROBLEMA N.· 6

HORIZONTAIS:1 - ° candidato comunista; 5 -O,contrário de pôr; 8 - É o caminho da vitória (essencial entre comunistas e socialistas para que haja uma verdadeira maioria política de esquerda) ; 10 - Há-de ter (letras invertidas) ; 11 - Colocar (prov,); 12 - Interrompe a marcha; 14 - A tal superfície,. cercada de água por todos os lados (não é nenhum candidato à P.R.) ; 16 -Câmbio; 18 - Rir, em espanhol (letras invertidas) ; 19 - Obra crítica picante, irónica.Jl)ordaz (plural); 20 - Fruto silvestre; 21 - Vírgulas dobradas ou comas.

VE;RTICAIS: 2 - Suporta; 3 -Não refira; 4 - Pátio ou quinteiro; 5 - Proibição; 6 - 'Pratica a retaliação; 7 - "Quando o pão ... , os reaccionários mandarão o pOIlO

comer solas", 9 - Frágil dos nervos; 10 - Inércia; 13 -Roedora (enão só!); 14-Ri (letras invertidas); 15 - TipÇlgrafia onde o UEC é composto e impresso; 17-Face.

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«A 'JUVENTUDE SOVIÉTICA)~ GRANDE EXPOSiÇÃO

Estará patente ' a partir de .18 de Junho, na Galena ~': Arte Modema e Mercado.do Povo, em Lisboa, a grande exposlçao "A Juventude Soviética» que se enquadra no âmbito da cooperação entre os nossos dois povos, pela Paz e a Amizade.

Com o apoio do KMO (organização da juventude da ~~SS) e da Associação de Amizade Portugal-URSS, esta exposlçao que engloba documentos fotográficos; pintura, escultura, artesanato e outros aspectos estará, depois, em vários locais do país.

Atenção, portanto! No Porto estará no Palácio de Cristal a partir de 13 de Julho e em Faro a partir de 3 de Agosto, na Escola Industrial.

SERViÇO cíVICO Criado em Janeiro de 1975, o

S.C.E. foi das poucas medidas revolucionárias tomadas pelo ME 'J< C, tendentes à democratização do ensino e da cultura.

A ligação . dos estudantes ao trabalho produtivo e às realidades sociais do nosso país, a participação dos estudantes ao lado do povo trabalhador I')a imensa tarefa da transformação da nossa Pátria, na construção duma

' democracia rumo ao social ismo, teve o imeaiato apoio dos estudantes progress istas e principalmente dos estudantes comunistas. Era , portanto , necessário passar da sua criação à sua concretização, passar do papel à prática.

Mas tal não sucedeu! Bo icotado e entravado por

sabotadores reaccionários infiltrados no aparelho 60 Estado e secundados pelos grupos estudantis reaccionários, o S.C.E. não se pode concretizar, tendo sido transformado n'um conjunto de iniciativas burocráticas, enfim ... transformado numa autêntica burla anti-estudantil.

Este ano, apesar o da luta dos candidatos ao 1.° ano contra o S.C.-burla, este pouco se alterou.

Tendo num caso ou noutro, experiências a ter em conta (caso das actividades nas cooperativas e hospitais), o actual S.C.E. continua a não ser uma contribuição positiva para o processo revolucionário.

Grande número de candidatos ainda não foi chamado. Dos que

forãm chamados, a maioria participa em iniciativas fastidiosas e fora dum espírito de ligação do ensino à actividade f!lrõdutiva e ' social.

Como a UEC tem defendido, a não concretização dum S.C.E. com tarefas ao serviço do povo, deve-se fundamentalmente à incapacidade do MEIC. i

Entretanto, deve-se tomar em conta, a resolução do Conselho da Revolução, quanto ao S.C.E., considerando·o de "interesse nacional" e como "sinal seguro da vontade de transformação da nossa sociedade" . O C.R. decidiu alterar as estruturas do S.C.E:, de modo a este ser mais eficaz.

Por outro lado, vemos e ouvimos a com issão coordenadora -do S . C . E., através dos órgãos de Comunicação Social, propondo a necessidade de melhorar as estruturas do actual S.C.E.

Será que tai s propostas e resoluções se vão concretizar?

Será que o S.C.E., no seu sentido revolu ci onár io e acompan,hado de transformações profundas no ensino se vai concretizar?

Nós pensamos que a concretização ou não do S.C.E. depende de profundas , transformações no ensino com vista a uma Reforma Geral e Democrática do Ens ino, da evolução do ' processo revolucionário, na construção duma democracia segundo a Constituição, isto é, no caminho do Socialismo.

MRPP~«CHUINGAME»­. ·AMERICANO

o MRPP está tránsformado num "Chuingame". Tanto mastigado, tanto engasgado. Imaginem que o sr. dr. Pedro Palhinha (doutor "honoris causa" d~a Faculdade de Direito) e sua dignissíma esposa, sr.' D. Liliana foram recentemente expulsos "de novum". Mas o Romeu Francês (que tocava

,piano) seguiu-lhes os passos. E a carcassa do Cotrim (desculpem, mas era o Ruivo) pé ante pé suceedeu-Ihes no fado. O Eduardinho (Pinguinhas lhe chamavam) apanhou trolha por se ter pingaClo com umas fotografias do dr. Prof. Anormaldo Matos e do major (calma ... calma ... ). ,

Mas ... agora usemos da deontologia, .. Segundo fontes do' /' maior crédito e geralmente bem informadas, asseguram-nos que o Barroso (Zanaga de apelido e vista) estaria a passear-se em Londres, pelo Buckingham Palace, por merecidas férias de tão exaustivo frabalho no Conselho de Gastão da Faculdade de Direito. .

Ora tomem, qu'é p'ra saberem qu'a Escola Democrática e Popular não convence, ma.s. comR6nsa!

JAZZ: J A .Z Z : UMA M li S I CA SEGREGADA (2)

por Mário Barba (Bohémia)

escuta-se de uma flauta o lamento nostálgico. Faz pena a música, cada nota um soluço .....

HO CFÍlMINH

OBOP A situação de expropriação,

descrita na primeira parte do nosso trabalho, provocou o primeiro grito consciente de rebeldia do jazz genuíno, a criação do BE-BOP (mais tarde chamado simplesmente BOP) nos alvores da década de 1940. O saxofonista Charlie Parker, o pianista Thelonious Monk, o guitarrista Charlie ' Christian , o trompetista Dizzy Gillespie e o baterista Kenny Clarke, entre ' outros, rechaçam b modelo do ambiente - submisso -sorridente. tio Tom, que caracterizou até então a imagem do interprete do jazz tràdicional, a imagem do " bom negro",

· simbolizado perfeitamente pelo ·. riso alegre, os olhos gozões e os trejeitos do já então célebre trompetista Luís Armstrong. Com Charlie Parkere Thelonions Monk impõe-se, pela primeira vez, a imagem do músico negro digno, quer dizer trágico, como o que o músico de jazz de entreteimento e . divertido foi substituído pelo- dO artista incompreendido. Mas, se bem que como alguns àfirmam, o BOP não era compreendido por

· tod os, por out ro lado seria recebjdo , sentido e finalmente aceite, porque nele se manifestava, antes de tudo, a emoção do trágico, do realmente existente.

O BOP, complexo, misterioso e notavelmente pródigo, colhe de surpresa o mercado musical norte-americano, que na época nutria-se de uma música "sem conflitos: ', " feliz", tipificada no melhor dos seus exemplos por um cantor que se tomaria famoso pouco tempo depois: Frank

· Sinatra. Essa música que anuncia os falsos e mutilados "valores de reafização" que a ética burguesa proPge para a "vida feliz". a saber: o amor (em abstrato), o beijo (em abstrato), a felicidade (em abstrato) e tantas outras t r ivialidades por separado (também em abstrato) . Em resumo, a novela adormecedora, cor-de-rosa, levada ao plano musical, das quais temos "bons" exemplos. recentes: Tom Jones e Barry White.

Voltando ao BOP podeiJ1os dizer que a sua vitória mais significativa, desde o ponto de vista da herança das genuínas tradições' da música norte-americana foi , em difinitivo, haver revitalizado os blues mediante a sua modernização melódica e armónica e, sobretudo, mediante o regresso por parte dos músicos às raízes socio-culturais da sua música : Facto de importância, também, neste sentido da herança cultural, pois a inclinação dos jazistas do BOP para 0$ ritmos e instrumentos cubanos que foram incorparadas na linguagem do jazz da época. Com eles o jazz enriquecia-se com um elemento mais próximo da música africana no seu estado original. Género a que os homens do jazz haveriam de retomar um sem número de vezes mais.

O BOP resiste aos intentos de assimilação por parte' da-altura burguesa dominante, por mais de uma década. Mas, já nos fins dos anos quarenta, o BOP e as suas ricas inovações apareciam diluídas e "adoptadas " em novas fal sif icações que encerram significados tanto comercíais como políticos. Vários factores de ordem económica e política , empregam-se para dar um golpe demolidor ' na nova música. Em 1 948 uma recessão económica atinge a Ê!conomia dos EUA; os centros onde o BOP era prática comum, diga-se, a sua base de operações, são fechados ' pelo espaço de .quase um ano. A indústria do disco, salvo pequenas cása especializadas, boicota està . músíca. Stan Kenton, pôr seu lado aparece com o seu chamado "jazz progressivo" (perversão musical

UELA MÚSICA •••

que pretendia levar o jazz para margens "sinfónicas", fazendo-o perder os seus traços essenciais: improvisação, espontaneidade, timbre vocal , herança africana, etc. como havia tentado Whiterman, nos anos vinte, o qual prolifera graças ao apoio de um· importante consócio discográfico (Capitol Records). Todo este tipo .veio a ser . d~nominado de Cool jazz . .

Por esta altura termina a 2." . Guerra Mundial, em cujo saldo há

" u fi pais socialista , v itorioso , robustecido, e um pujante sistema so cialista mundia l que muda radicalmente a correlação de forças a nível internacional. Surge nos EUA ahistéria política que ficou 'conhecida pelo -nome de "macartismo", com as suas perseguições políticas e raciais. Nesta época quando se assassina " legalmente" o casal Rosemberg, através duma falsa acusação de "agentes comunistas". Era usual ler nesta época frases nos jornais norte-americános tais como: "o perigo vermelho", "o perigo negro", etc.

Os comunistas,os intelectuais de esquerda, os negros que não queriam permanecer no "seu lugar" (entre os quais estavam os músicos do BOP) são perseguidos até à exaustão. -

É nessa época obscura H _ tenebrosa, durante a qual se consolida o Coo I jazz, que calha muito bem aos interesses ' e às necessidades de classe da burguesia. Os falsificadores fazem novamente fortuna. Entretanto, a outra face da moeda: Charlie

. Parker, um dos génios musicais deste século, morre na mais absoluta miséria. Thelonious Monk, outro dos gigantes do jazz moderno, passaria dias -inteiros sem ter que comer, numa situação que se prolongará por mais de uma década. Um destino semelhante espera os demais músicos negros no país onde "há oportunidade oara todos".

Finalmente toda a histéria u s u rp ad o ra degenerou em meados dos anos cinquenta no chamado "jazz da Costa do Pacífico" (Pacífic jazz). O modelo original negro continua, assim, sendo falsificadoe o seu conteúdo diluído. No período de 1955-59 os músicos tentam renascer o BOP, sob uma nova forma: o Hard BOP. Esta intenção só tem resultados a ' priori , mas serve como factor aglutinador de identidade. O salto qualitativo que se impõe é .muito maior, a ruptura deve ser total. O homem do jazz organiza o seu desespero criando uma linguagem todavia mais dificil de digerir pela cultura dominante - o Iree jazz -através do qual às últimas consequências as suas contradições existenciais assim como o seu radicalismo musical e político. _

O "FREE JAZZ" A mais substancial precursora,

do "free jazz", foi sem dúvida a

I música que o grupo do contrabaixista Charles Mingus, que desde meados da década de ci nq uenta (50) . antecipou o ambiente de liberdade de execu ção, agressividade, compromisso político e violência revolucionária que anos mais tarde caracterizariam o "free jazz".

Em 1960 o saxofonista Ornette Coleman gravou, com um duplo quarteto - formação inédita até esse momento - uma extensa e insólita obra intitulada "Free Jazz" uma música de improvisação colecti va, cu ja execução se s ituava fora da maiori a dos padrões de jazz a té então conhecidos. a obra comoveu até. quase aos limites do conhecido.

De imediato a obra "Free Jazz" e o sentido que encerravam essas palavras adquiriram o estatuto de manifesto. Uma im petuosa necessidadé - de expressão~ total, imediata e fiel , levou à abolição da distinção da secção rítmica e

melódica, sendo o elemento mais importante, a improvisação, reconstruída e revalorizada.

Baptizada de "Free Jazz", "New Músic " , "Ney Thing" ou

' simplesmente "Black Music" , surgiu, depois, na cena do jazz um

·movimento que é muito mais que um simples estilo na ~scola. Não era apenas uma reconsideração ~ do plano musical, das turmas e estilos, mas a sua acção ultrapassa este níllel estricto para afectar activamente os níveis culturais e ideológico.

Os saxofo ni stas Ornette -Coleman, Albert Ayler, John Coltrane, Archie Shepp e Eric Dolphy; os trompetistas Don Cherry e Bill Dixon; os pianistas Cecil Taylor e Sun Ra e os contrabaixistas Charlie Mingus, Scott Lafaro e Charlie Haden são alguns dos nomes pioneiros deste n~ e radical movimento.

O "free jazz aparece ao mesmo tempo, como resistência à reiterada expropriação do produto musical ao negro norte-americano; como reacção aos . valores da ideologia burguesa do capitalismo monopolista e do imperialismo, como intenção de emancipação cultural que faz eço da luta de classes e como projecto de reconquista de uma cul tu ra espec í fi ca atro- a,mericana, tradi ci onalmente usurpada e

. colonizada pela cultura dol1l inante. Os músicos de jazz tomaram

consciência de qual não podem seguir dependentes dos consócios discográficos, e de espectáculos par~ a sua subsistência. O múltiplo carácter mu scial - polítrco -ideológico do novo jazz fica eloquentemente demonstrado nas palavras de Anchie Shepp: "O jazz é um dos contributos sociais e estêticas mais significativas dos EUA. E muitos o aceitam pelo que é: um contributo .significativo. proflJndo. Está contra a gue~ 'cQntra . a guerra que se travou no Viet'nám, está a favor de Cuba; está a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz. Não é necessário ir bUscar outros. Porque? Pois, porque o jazz é uma música nascida da opressão, nascida da srvidão do meu povo".

xadrez

Problema n.o 5 Mate em 3 lances

Solução do problema n.o 4 1. Tf5.

ENCONTRE As DIFERENÇAS

••• SE FOR CAPAZ!

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.intemacional o MOVJMENTO ESTUDANTIL CONTRA OANAL-FABETISMO

A libertação económica e política dos pov os tem de estar indissoluvelmente ligada à quebra das amarras o dominio cultural.

, Os . povos durante longos élnos submetidos à exploração colonial e à dominação ' imperialista sabem por experiência própria os efeitos da política de rapina no campo educacional: elevadas taxas de analfabetismo, e todo o sistema de ensino orientado no sentido da manutenção do "status quo",

Os números revelados pela Unesco, quanto ao analfabetismo hoje existente no mundo e as regiões onde ele tem maior incidência são a constatação da profundidade deste drama em que vivem milhares de seres humanos: "Ainda que a percentagem do analfabetismo venha baixando progressivamente de 44,3% em 1950 . para 39,3% em 1960 e 34,2% em 1970, o número total de adultos analfabetos no mundo aumentou e situa-se hoje aproximadamente à volta de 800 mUhóes.

Naturalmente que a diminuição destas taxas não surge por acaso, é, também, atinai o resultado dos processos libertadores que em várias regiões do mundo os povos empreenderam, já que uma das principais tarefas a levara cabo após a libertação consiste em elevar o nível de instrução através de programas que têm em conta as condições objectivas existentes, e a realização de grandes campanhas de alfabetização.

"Em 1970, a África e os Estados Árabes -tInham ainda a mlJlor percentagem de analfabetismo na população

adulta, seguidos pela Ásia e logo pela América Latina. As quatro regiões dlmlnuiram esta percentagem, em valores que 'vão de 7 a 9 por cento entre 1960 e .1970. No entanto apesar desta di mi n u i.ç ã o em 1 97.0 o analfabetismo atingia cerca de 24 % na América Latina, e tanto na África como nos Estados Árabes a cifra era ainda superior a 70% e na Ásia apenas a 50%."

No campo de alfabetização são conhecidos exemplos que demonstram de forma líquida, que um povo liberto da exploração e empreendendo a construção da nova sociedade é capaz de vencer todos os obstáculos que 'se lhes coloquem, e neste ponto não se pode passar sem esquecer o grande contributo da juventude, dos estudantes e do seu movimento estudantil democrático e progressista. Todos temos presente a experiência vivida em Cuba onde no espaço de um ano foi possivel erradicar o analfabetismo. Há mais anos, do Vietnam também temos o exemplo. A 8 de Setembro de 1945

·0 Presidente Ho Cni Minh lança um apelo para a luta contra o analfabetismo integrado em três tarefas fundamentais: vencer a fome, vencer a agressão estrangeira e vencer a ignorância. O analfabetismo alcançava então 80 a 90% da população e durante este periodo a alfabetização . estava vinculada à luta de classes e à revolução agrária. Os meios eram em geral muito escassos, mas o engenho dum povo revolucionário conseguiu ultrapassá-los.

Muitos dos manuais foram elaboraqos pelos .alunos das escolas , com a ajuda dos professores, e como as folhas de papel eram coisa rara durante a época da resistência , muitos alunos. valeram-se das folhas dos plátanos. O trabalho que se seguiu onde o analfabetismo tinha sido praticamente eliminádo, era no sentido de dar passos em frente no . ensino de noções de higiene para a preservação, noções científicas na luta contra as superstições e a educação patriótica.

Outros exemplos, menos conhecidos de nós, como o caso da República ' Democrática da Somália na África demonstram também a importância que o movimento estu.dantil pode desempenhar nas tarefas da luta contra o analfabetismo e a ignorância. Uma grande campanha contra o analfabetismo desenvolveu-se a partir de 1973 neste país da África. A primeira fase iniciou-se entre a população urbana. Até Janeiro de 1974, 400000 pessoas ' inscreveram-se nos cursos de aprendizagem..de conhecimentos rudimentares da leitura, da escrita e do cálculo. Cerca de outras 600000 pessoas aprenderam a ler, a escrever e a contar. Os meios que o governo somáfi dispunha eram mode~tos

para uma acção de tal envergadura~ no entanto, uma ampla mobilizaçã dos estudantes, com a consciência da.importância que ã sua participação nesta tarefa teria, assim como um apelo iançado a todos os q!,te podiam ensinar, os que até então foram privados de toda a instrução -criou as condições para que neste pais da África livre menos africanos estivessem dependentes do obscurantismo cultural.

O movimento estudantil de todo o mundo está atento aos

grandes problemas que se colocam perante os povos, a sua força, disponibilidade e desejo ardente de participar na construção da nova sociedade não pode ser desperdiçado. Dos exemplos dados, e muitos outros há, uma conclusã,9 nos é dada tirar: o movimento estudantil democrático e progressista é uma força activa de progresso pronta para as batalhas dos povos pela liberdade, pela democracia e pelo progresso social.

Estes-e-xemplos transportam-nos para a situação existente no nosso país. " A

, democracia e o socialismo não são compatíveis com a existência de mais' de 30% de analfabetos. No entanto dois anos após o 25 de

Abril os passos dados são . praticamente nulos e todos

sabemos que é possível alfabetizar o país no espaço de dois anos" . Afirmava há algumas semanas atrás a camarada Zita Seabra pondo em destaque os problemas que o analfabetismo acarreta ao desenvolvimento da nossa revolução em pontos muito concretos como são o controle operário, a reforma agrária e o fim do obscurantismo secular nos campos.

A nossa juventude e os . estudantes em particular são uma

força.de grande importância não só disponível, mas ansiosa para se engajar numa tar~fa grandiosa como a que é acabar com o analfabetismo no nosso país. Mas

1 '

cabe certamente ao poder polítiço a principal i niciativa na: organização e montagem de uma grande campanha ,nacional de alfabetizaç&o. "Mas \ para isso é preciso vencer toda a resistência da direita, .da reacção do PPD, do CDS, e de outros reaccionários que sabem que esse será um grande passo para o avanço das forças revolucionária~",

A nos s a j u v an t·u de, os estucjante's e as suas organizações progressistas e revolucionárias estão dispostas a travar e ganhar estas batalhas; vencer,a direita e eliminar o analfabetismo no nosso país , seguindo o· exemplo de milhares de jovens que noutras regiões do mundo o fizeram.

SABIAS Q·UE ••• Uma manifestação

estudantil da Faculdade de Medicina, de Taubaté, cidade do Estado' de S. Paulo, foi dispersa com gases lacrimogéneos e à bastonada pela polícia. Os estudantes reclamavam melhores condições para o ensino, e carregavam caixões simbólicos com os nomes das autoridades da Faculdade.

••• , As deSpesas militares da

República Sul_ - Africana aumentaram de 30 % do seu orçamento para 50%. O orçamento de 1976/n para o exército que está a ser discutido no parlarnento' racista, prevê uma maior militarização do país.

As despesas com o o rçamento atingirão 350 milhões de raneis. Planeia-se dlapender ....... parte desses recursos com a compra de material de guerra aos países membros da NATO. As despesas militares aum .entarão consideravelmente o déficit do orçamento do Estado da África do Sul.

Enquanto isto, em Landsfontein, próximo de Joanesburgo, polícias com matracas atacaram uma -m an ifestação de operários africanos despedidos de uma fábrica local. Os 600 operários da empresa foram despedidos depois de terem tentado inutilmente o reconhecimento do seu sindicato. Ao abrigo das leis vigentes na África do Sul, os operários autóctones não têm direito a filiarem-se em sindicatos.

••• Nà República Federal

Alemã, as estatisticas confirmam uma inflação de 37% em relação a 1970. De Março do último ano até ao mês passado, a taxa foi de 5,4 %. Enquanto que o aumento de preços verificava um aumento de 4,5 %.

O Ministério do Trabalho dos EUA dá-nôs também estatísticas semelhantes. O custo dos artigos e dos serviços necessários a uma familla urbana média de 4 pessoas aumentou 8 por cento em relação a 1975, e mais de 20 por cento em relação a 1974. É sÓl?retudo a parte reservada à alimentação, despesas da casa e impostos que pesa particularmente no orçamento familiar dos americanos.

•••

Ao todo, existem na URSS cerca de 6 milhões de' profissionais do sector médico. Os médicos são em· número de 766 mil.

••• Um grupo de estudantes

da Universidade Agrícola Peruana partiu para as zonas rurais com o fim de prestar assistência aos camponeses pobres. Os estudantes auxiliarão os agricultores ensinando-os a servirem-se das máquinas agrícolas e a construírem sistemas de irrigação. Ao mesmo tempo, o trabalho nas aldeias permitirá aos estudantes adquirir conhecimentos práticos para melhor compre.enderem os p r o- R) I e mas que se apresentam à agricultura no Perú,e à reforma agrária, pois para os trabalhadores agricolas a maioria dos quais analfabetos, a organização do trabalho no. canpoa •• ...... ~ ..... _sio tarefas que t e grandes problemas.

Que decorre durante este ano o 30.0 Aniversário da União Internacional dos Estudantes (UIE) .

"Em honra da memória das dezenas de milhar de estudantes que aderiram ao movimento de resistência contra os nazis na Segunda Guerra Mundial, contribuin­do para a derrota do fascis­mo -em 1945, fortalecidos , p'elo rico legado daqueles milhares de estudantes que trocaram os livros pelas espingardas, para lutar valentemente nos campos de batalha, nos destacamentos gu'errilheiros e noutras formas de combate, num esforço popular concertado

. para derrotar o nazismo, estabeleceu-se em Londres um Comité Internacional Preparatório. Na sua sessão de 17 de Novembro de 1945, por ocásiã'o do Dia Internacional .do Estudante, este Comité decidiu convocar para Agosto d. 1946, em Pr;aga, o primeiro Congresso Mundial dos Estudantes. Representantes de 43 organizações estudantis de 39 países, delegados a este congresso constituinte, fundaram a União Internacional .dos Estudantes ' e adoptaram

Cerca de 700 escolas mé- una n i m e m e n t e a sua dicas, médias e 'superiores, C o n st i t ui ção, a qual formaram, no ano de 1974, .' expressava os mais nobres

' maisde173milespecialistas ideais dos estudantes na União Soviética. progressistas do mundo .. " .