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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA AGRICULTURA INSTITUTO DO ALGODÃO DE MOÇAMBIQUE PLANO DE GESTÃO E QUADRO DE MONITORIA AMBIENTAL PARA AS REGIÕES ALGODOEIRAS DE MOÇAMBIQUE Elaborado por: 2007

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

INSTITUTO DO ALGODÃO DE MOÇAMBIQUE

PLANO DE GESTÃO E QUADRO DE MONITORIA AMBIENTAL

PARA AS REGIÕES ALGODOEIRAS DE MOÇAMBIQUE

Elaborado por:

2007

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CEE/UP –Plano de Gestão Ambiental para as Regiões Algodoeiras - IAM

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FICHA TÉCNICA

Coordenação:

Prof Doutor António José Cumbane – Faculdade de Engenharia, UEM.

Autores:

Prof Doutor Engº António José Cumbane – Faculdade de Engenharia, UEM.

Engª Amélia Jorge Sidumo – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal, UEM.

Doutor Engº Vasco José da Gama Júnior – Faculdade de Engenharia, UEM.

Maputo, Dezembro de 2007

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CEE/UP –Plano de Gestão Ambiental para as Regiões Algodoeiras - IAM

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho não teria sido possível sem a clarividência e a sensibilidade da Direcção do

Instituto de Algodão de Moçambique (IAM) em relação às questões ambientais do ciclo

produtivo do algodão. Os autores desejam, em nome do Centro de Estudos de

Engenharia – Unidade de Produção, manifestar o seu profundo agradecimento ao IAM

pela confiança depositada na equipa que realizou o estudo e pela contínua colaboração

prestada ao longo do mesmo, em especial as seguintes individualidades:

Engº. Norberto Mahalambe (Chefe do Departamento de Estudos e Projectos do IAM);

eng. Nordino Ticongolo ( Ponto Focal do Ambiente no IAM);

Engª . Licínia Cossa (Chefe do Departamento de Apoio as Associações Camponesas do IAM);

Engª. Eulália Macome (Coordenadora da Unidade de Ambiente do MINAG);

As Delegações do IAM em Montepuez, Beira e Nampula;

Ao Banco Mundial pelo Financiamento do Estudo.

Os agradecimentos são extensivos a todos aqueles que directa ou indirectamente

contribuiram para a realização deste trabalho nomeadamente:

Empresas algodeiras de Moçambique a saber:

o SAN-JFS: Sociedade Algodoeira do Niassa – João Ferreira dos Santos

o PLEXUS: .....

o SANAM: Sociedade Algodoeira do Namialo

o DUNAVANT:.......

o Novos Operadores

o CNA: Companhia Nacional Algodoeira

o EAVZ-GPZ: Empresa Algodoeira do Vale do Zambeze – Gabinete do Plano

do Zambeze

Direcções Distritais de Agricultura, Saúde e Ambiente dos distritos de Cuamba,

Montepuez, Monapo, Meconta, Morrumbala, Mutarara, Maríngue e Mossurize,

Pessoal médico afecto nos hospitais rurais e centros de saúde dos povoados

abrangidos pelo estudo,

Técnicos e extensionistas das empresas algodoeiras que acompanharam a equipa

de consultores nos trabalhos de campo,

Chefes de postos administrativos e líderes comunitários dos povoados abrangidos,

Camponeses que se disponibilizaram a participar no inquérito,

Técnicos do Laboratório de Águas do Ministério da Saúde (MISAU) pelo apoio

prestado na realização de análises de amostras de águas,

Técnicos do laboratório de solos do Instituto Investigação Agrária de Moçambique

e da Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal pela análise de amostras de

solos.

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ÍNDICE DE CONTEÚDOS

FICHA TÉCNICA ................................................................................................................. ii

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... iii

LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... vii

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... viii

ACRÓNIMOS ....................................................................................................................... x

SUMÁRIO EXECUTIVO ..................................................................................................... xi

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1

2. BREVE CARACTERÍZAÇÃO BIOFÍSICA E SÓCIO ECONÓMICA DAS REGIÕES

ALGODOEIRAS ................................................................................................................... 4

2.1. Caracterização Biofísica ........................................................................................ 4

2.1.1. Regiões agro-ecológicas ................................................................................ 4

2.1.2. Aptidão dos solos ........................................................................................... 5

2.1.3 Recursos hídricos ........................................................................................... 8

2.2. Caracterização Sócio-económica .......................................................................... 9

3. PRINCIPAIS CONSTATATAÇÕES NAS REGIÕES DE ESTUDO ............................. 10

3.1. Introdução ........................................................................................................... 10

3.2. Breve descrição das regiões de estudo ............................................................... 13

3.3. Constatações sobre a biofísica das áreas de estudo .......................................... 24

3.3.1. Análise de solos ........................................................................................... 24 3.3.1.1 Textura do solo ..................................................................................... 25 3.3.1.2. Soma de bases ..................................................................................... 26 3.3.1.3. Capacidade de troca catiónica .............................................................. 27 3.3.1.4. Percentagem de alumínio trocável ........................................................ 28 3.3.1.5. Percentagem de sódio trocável ............................................................. 28 3.3.1.6. Condutividade eléctrica ......................................................................... 29 3.3.1.7. Acidez ou pH em água .......................................................................... 29 3.3.1.8. Disponibilidade de Fósforo .................................................................... 30 3.3.1.9. Nitrogénio total ...................................................................................... 31

3.3.2. Erosão e degradação de solos ..................................................................... 32

3.3.3. Avaliação do grau de desmatação ............................................................... 33 3.3.3.1 Perspectiva de produção de algodão na campanha seguinte ............... 34 3.3.3.2. Evolução das áreas de cultivo de algodão ............................................ 34 3.3.3.3. Constatações sobre o grau da desmatação .......................................... 36

3.3.4. Caracterização da poluição dos recursos hídricos ....................................... 38

3.3.4.1. Lavagem do equipamento após pulverização ........................................... 38

3.3.4.2. Caracterização das fontes de água nas regiões de estudo ...................... 39

3.3.5. Impacto sobre o ar ....................................................................................... 41

3.3.5.1. Contaminação ambiental nas unidades de processamento...................... 41

3.4. Constatações sócio-económicas ......................................................................... 43

3.4.1. Contribuição do algodão na economia local ................................................. 43

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3.4.1.1. Razões para a produção de algodão na campanha seguinte ................... 43

3.4.1.2. Contribuição do algodão na renda ............................................................ 44

3.4.1.3. Evolução do capital humano ..................................................................... 45

3.4.1.4. Melhoria nas condições de vida ................................................................ 46

3.4.1.5. Principal actor na produção ...................................................................... 46

3.4.1.6. Decisão sobre a renda .............................................................................. 47

3.4.1.7. Percepção dos Líderes comunitários ........................................................ 48

3.4.2. Problemas de saúde .................................................................................... 49

3.4.2.1. Percepção dos centros/postos de saúde .................................................. 49

3.4.2.2. Sobre o uso de pesticidas nas áreas de estudo ....................................... 52

3.4.2.3. Tipo de pesticidas usados ........................................................................ 52

3.4.2.4. Doenças e sintomas relacionadas com a exposição aos grupos de

pesticidas.....................................................................................................................55

3.4.2.5. Problemas de saúde devido ao uso de pesticidas .................................... 56

3.4.2.6. Principais problemas de saúde ................................................................. 56

3.4.2.7. Distribuição de pesticidas ......................................................................... 57

3.4.2.8. Assistência técnica ................................................................................... 58

3.4.2.9. Equipamento de pulverização ................................................................... 59

3.4.2.10. Frequência de aplicação de pesticidas ..................................................... 60

3.4.2.11. Dosagens aplicadas na preparação de pesticidas .................................... 60

3.4.2.12. Equipamentos de protecção ..................................................................... 61

3.4.2.13. Saúde e segurança ocupacional nas unidades de processamento .......... 62

3.4.3. Práticas culturais .......................................................................................... 64

3.4.3.1. Prática de queimadas após a colheita ...................................................... 64

3.4.3.2. Rotação de culturas .................................................................................. 65

3.4.3.3. Culturas usadas na rotação ...................................................................... 66

4. AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL NO SECTOR DO ALGODÃO ...................... 70

4.1. Convenções internacionais e legislação nacional sobre ambiente e

biodiversidade ................................................................................................................ 70

4.2. Mapeamento dos Impactos Ambientais ............................................................... 71

4.3. Impactos Biofísicos da cultura do algodão .......................................................... 72

4.3.1. Impactos no Solo .......................................................................................... 73 4.3.1.1. Degradação dos solos ........................................................................... 73 4.3.1.2. Erosão dos solos ................................................................................... 73 4.3.1.3. Poluição dos solos ................................................................................ 74

4.3.2. Impacto nos recursos hídricos ...................................................................... 75

4.3.3. Impacto na qualidade do ar .......................................................................... 76

4.4. Impactos Sócio-económicos do algodão ............................................................. 77

4.4.1. Impacto na saúde ......................................................................................... 77

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4.4.1.1 Risco de toxicidade, doenças respiratórias e doenças da pele .................... 77 4.4.1.2. Risco de stress, aspectos ergonómicos e vibração .............................. 77

4.4.2. Impacto económico ...................................................................................... 78 4.4.2.1. Criação do emprego .............................................................................. 78 4.4.2.2. Crescimento da economia local ............................................................ 78 4.4.2.3. Impacto na economia nacional .............................................................. 79 4.4.2.4. Mudança nas fontes tradicionais de geração de rendimentos .............. 80

4.5. Levantamento e avaliação de aspectos ambientais ............................................ 80

4.5.1 Critérios de avaliação ................................................................................... 81

4.6. Medidas de mitigação .......................................................................................... 86

5. PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL DAS ZONAS ALGODOEIRAS ............................ 89

6. MONITORIZAÇÃO E MEDIÇÃO ............................................................................... 93

6.1. Registos .............................................................................................................. 94

6.2. Auditoria do sistema de gestão ambiental ........................................................... 95

6.3. Factores críticos de sucesso ............................................................................... 95

7. PROPOSTA DE PROGRAMAS, PROJECTOS E ACÇÕES ...................................... 97

7.1. Estratégia de consciencialização em HSO no sector do algodão........................ 97

7.2. Programa de gestão de solos .............................................................................. 97

7.3. Programa de gestão de recursos hídricos ........................................................... 98

7.4. Programa de reaproveitamento de subprodutos ................................................. 98

7.5. Programa de gestão de recipientes plásticos ...................................................... 99

7.6. Programa de potenciação de benefícios aos produtores .................................. 100

7.7. Programa de gestão de emissões de poeiras e fibrilha ..................................... 100

7.8. Programa de optimização do consumo de pesticidas ....................................... 101

8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÃOES ................................................................ 102

8.1. Conclusões ........................................................................................................ 102

8.1.1. Sobre os sistemas de produção ................................................................. 102

8.1.2. Sobre o ambiente biofísico ......................................................................... 102

8.1.3. Sobre o ambiente sócio-económico ........................................................... 105

8.2. Recomendações ................................................................................................ 106

9. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 113

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuição das empresas fomentadoras pelas áreas concessionárias…………………………………………………..……...............11

Tabela 2 Lista de povoados abrangidos pelo estudo...................................................22

Tabela 3. Categorias de intervenientes.........................................................................24

Tabela 4. Alguns indicadores de medição do impacto ambiental providos pelas DDA’s ......................................................................................................................35

Tabela 5. Frequência de problemas de saúde nas comunidades................................51

Tabela 6. Principais pragas e medidas de controlo …..................................................52

Tabela 7. Tipo de pesticidas usados nos últimos 5 anos………………….....................53

Tabela 8. Mapeamento dos aspectos ambientais.........................................................68

Tabela 9a. Critérios de avaliação dos impactos ambientais...........................................81

Tabela 9b. Matriz de classificação dos impactos ambientais..........................................81

Tabela 9c. Chave de classificação dos impactos ambientais.........................................82

Tabela 10a. Levantamento e avaliação de aspectos ambientais – Cultivo de algodão ......................................................................................................................83

Tabela 10b. Levantamento e avaliação de aspectos ambientais– Processamento do algodão..........................................................................................................84

Tabela 11a. Objectivos e metas – Cultivo de algodão......................................................86

Tabela 11b. Objectivos e metas – Processamento do algodão........................................87

Tabela 12a. Plano de gestão ambiental – Cultivo de algodão..........................................90

Tabela 12b. Plano de gestão ambiental-processamento do algodão...............................91

Tabela 13a. Plano de monitorização-Processamento de algodão....................................93

Tabela 13b. Plano de monitorização-cultivo de algodão...................................................94

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuição de produção do algodão em Moçambique..................................1

Figura 2. Evolução da produção do algodão em Moçambique de 1931 a 2006............3

Figura 3: Zonas agro-ecológicas de Moçambique (INIA, 2000).....................................5

Figura 4. Aptidão agro-climática para o cultivo do algodão de sequeiro .......................6

Figura 5a. Rendimento das variedade de sementes em uso em Moçambique ............12

Figura 5b. Percentagem produzida das variedade de sementes em uso em

Moçambique.................................................................................................13

Figura 6. Divisão administrativa do distrito de Cuamba...............................................14

Figura 7. Divisão administrativa do distrito de Montepuez...........................................15

Figura 8. Divisão administrativa do distrito de Meconta...............................................16

Figura 9. Divisão administrativa do distrito de Monapo................................................17

Figura 10. Divisão administrativa do distrito de Morrumbala..........................................18

Figura 11. Divisão administrativa do distrito de Mutarara..............................................19

Figura 12. Divisão administrativa do distrito de Mossurize............................................20

Figura 13. Divisão administrativa do distrito de Maríngue..............................................21

Figura 14. Mapeamento dos pontos de recolha de amostras de água e solos..............23

Figura 15. Textura de solos nas regiões de estudo.......................................................26

Figura 16. Soma de bases.............................................................................................27

Figura 17. Capacidade de troca catiónica......................................................................28

Figura 18. Percentagem de Alumínio trocável...............................................................28

Figura 19. Percentagem de Sódio trocável....................................................................29

Figura 20. Condutividade eléctrica.................................................................................29

Figura 21. Acidez ou pH em água..................................................................................30

Figura 22. Disponibilidade de Fósforo em ppm..............................................................31

Figura 23. Nitrogénio total..............................................................................................31

Figura 24 Exemplos de erosão de solos devido a cultura do algodão..........................32

Figura 25 Prevalência da produção de algodão............................................................33

Figura 26 Perspectiva de produção de algodão na próxima campanha.......................34

Figura 27. Evolução de áreas de cultivo de algodão nos últimos 5 anos.......................34

Figura 28. Conservação de espécies nativas nas zonas algodoeiras........................... 36

Figura 29. Percepção dos Líderes comunitários sobre mudanças na vegetação..........37

Figura 30. Percepção sobre mudanças na diversidade faunística.................................37

Figura 31. Caracterização dos locais de lavagem de equipamentos de

pulverização..................................................................................................38

Figura 32. Potabilidade de amostras de água nas zonas de estudo…………………….40

Figura 33. Proporção de amostras dentro dos parâmetros de potabilidade……………41

Figura 34. Contaminação ambiental devido à inceneração de resíduos do

processamento do algodão...........................................................................42

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Figura 35. Porquê da pretensão de produzir algodão na próxima campanha...............44

Figura 36. Contribuição do algodão na renda familiar....................................................44

Figura 37. Evolução do capital humano.........................................................................45

Figura 38. Melhoria nas condições de vida....................................................................46

Figura 39. Principal actor na produção do algodão nas diferentes regiões...................47

Figura 40. Poder de decisão sobre as receitas..............................................................48

Figura 41. Percepção dos Líderes comunitários em relação ao custo dos insumos…..48

Figura 42. Problemas de saúde devido ao uso de pesticidas........................................55

Figura 43. Tipo de problemas de saúde derivados do uso de pesticidas......................56

Figura 44. Esquema de distribuição de insumos nas fomentadoras..............................57

Figura 45. Assistência técnica aos camponeses............................................................58

Figura 46. Tipo de pulverizador usado...........................................................................58

Figura 47. Frequência da aplicação de pesticidas………………………….....................59

Figura 48. Preparação dos pesticidas............................................................................60

Figura 49. Uso de equipamento de protecção durante a aplicação de pesticidas.........60

Figura 50. Aspectos de segurança no trabalho. Inapropriada utilização dos meios de

protecção disponíveis....................................................................................62

Figura 51. Aspectos de segurança no trabalho. Operário sem meios de protecção

adequados.....................................................................................................62

Figura 52. Prática de queimadas após a colheita..........................................................63

Figura 53. Preparação de solos para nova campanha..................................................63

Figura 54. Prevalência da rotação de culturas...............................................................65

Figura 55. Tipo de culturas usadas para a rotação........................................................65

Figura 56. Percepção dos líderes comunitários sobre prática de rotação de culturas...66

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ACRÓNIMOS

CANAM. Companhia Algodoeira de Nampula

CNA. Companhia Nacional Algodoeira

DUNAVANT

EAVZ-GPZ. Empresa Algodoeira do Vale do Zambeze- Gabinete do Plano do Zambeze

DPI Dispositivos de Protecção Individual

HSO Higiene e Segurança Ocupacional

IAM. Instituto de Algodão de Moçambique

MIP Maneio Integrado de Pragas

Mocotex

PLEXUS, Lda

Novos Operadores

PVC Cloreto de Polivinilo

SAAN Sociedade Algodoeira do Alto-Molócue

SANAM Sociedade Algodoeira do Namialo

SAN-JFS. Sociedade Algodoeira do Niassa- João Ferreira dos Santos

MINAG. Ministério da Agricultura

MICOA. Ministério para Coordenação da Acção Ambiental

DDA. Dircção Distrital da Agricultura

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SUMÁRIO EXECUTIVO

Uma avaliação do sistema de produção do algodão caroço em Moçambique foi levada a

cabo com o propósito de estabelecer as bases para elaboração do sistema de gestão e

quadro de monitoria ambiental em Moçambique, uma das competências do Instituto do

Algodão de Moçambique em tanto que instituição credenciada pelo governo pelo decreto

nº 7/91, Artigo 2. O estudo foi encomendado pelo Instituto do Algodão de Moçambique,

tendo como objectivo principal contribuir para a implementação da estratégia do

PROAGRI para endereçamento de aspectos ambientais no desenvolvimento agrário, com

o sector do algodão como piloto. A avaliação foi realizada em oito distritos identificados

dentro das sete províncias potenciais produtoras de algodão em Moçambique

nomeadamente Cuamba no Niassa, Montepuez em Cabo Delgado, Monapo e Meconta

em Nampula, Morrumbula na Zambézia, Mutarara em Tete, Maríngue em Sofala e

Mossurize em Manica.

A elaboração do sistema de gestão e quadro de monitoria ambiental em Moçambique foi

com base na norma ISO 14001, em fase de adopção.

A metodologia de trabalho adoptada com vista a alcançar os objectivos especificados, a

equipa de trabalho subdividiu e implementou 3 fases distintas do estudo, nomeadamente:

(i) revisão bibliográfica e preparação de um relatório sumário das principais constatações;

(ii) recolha de dados e,

(iii) Análise de dados, elaboração dos planos de gestão e monitoria ambiental e

elaboração do relatório.

A fase de revisão bibliográfica e preparação de um relatório sumário das principais

constatações consistiu na recolha da informação existente sobre programas e projectos

do sector do algodão e destinou-se, essencialmente, para familiarizar os consultores com

as características do sector e identificar potenciais problemas. Esta consulta abrangeu os

relatórios existentes sobre as regiões algodoeiras de Moçambique, a estratégia do

desenvolvimento do sector do algodão, as várias convenções internacionais sobre

biodiversidade, mudanças climáticas e uso de pesticidas, a legislação ambiental e o uso

de pesticidas e de recursos hídricos. Ainda nesta fase, a equipa de consultores

desenvolveu inquéritos semi-estruturados para os vários actores envolvidos no ciclo

produtivo do algodão. Assim, nas empresas de fomento foram preparados inquéritos para

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os gestores e os técnicos e/ou extensionistas. Ao nível das instituições do governo foram

desenvolvidos inquéritos para as direcções distritais de saúde, agricultura e coordenação

da acção ambiental e, postos de saúde. Foram também incluidos inquéritos para as

autoridades dos postos administrivos nas regiões abrangidas e produtores a nível familiar

e/ou associativo. Efectuou-se igualmente nesta fase a recolha de mapas cartográficos

para identificação e escolha dos locais de amostragem. Esta fase permitiu, entre outros

aspectos, familiarizar os consultores com as características agrícolas e sócio-económicas

das regiões de estudo bem como com as práticas culturais das populações e o papel das

empresas de produção e fábricas de descaroçamento do algodão. O culminar desta fase

foi a elaboração de um relatório preliminar.

A recolha de dados consistiu na ida ao campo. O trabalho de campo foi realizado pelos

consultores e permitiu o contacto in loco com os vários aspectos relacionadas com as

actividades de produção e processamento do algodão bem como os impactos associados.

Para o trabalho de campo, a equipe foi dividida em 3 brigadas alocadas a 3 regiões, de

acordo com as facilidades de acesso. Assim, houve uma brigada que trabalhou nos

distritos de Cuamba, Meconta, Monapo e Montepuez, uma segunda brigada para os

distritos de Mutarara e Morrumbala e uma terceira brigada para os distritos de Mossurize

e Maríngue.

Os consultores contaram nestes trabalhos com o apoio dos técnicos do IAM, MINAG

afectos nas direcções distritais e/ou provinciais e de técnicos das empresas

fomentadoras. Os trabalhos de campo permitiram observar a ocorrência da erosão de

solos, prática de queimadas descontroladas, problemas de saúde e segurança

ocupacional dos trabalhadores das empresas de descaroçamento bem como nos

produtores a nível familiar, através de entrevistas no sector de saúde sobre incidências de

doenças que podem ser derivadas de agentes activos de pesticidas. No campo, foram

também recolhidos dados sobre o tipo de pesticidas em uso, e amostras de solos em

regiões produtoras e não produtoras de algodão. A recolha de amostras visava

determinação do nível de empobrecimento dos solos quer devido a práticas de queimadas

nos campos ou devido a não rotatividade de culturas que é exigida numa situação de

agricultura familiar. Nesta fase também foram realizados entrevistas com os fomentadores

e produtores bem como com os provedores dos insumos agrícolas.

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Finalmente, na terceira fase, análise de dados e elaboração do relatório, foram colhidos

dados do tipo qualitativo e quantitativos de acordo com a metodologia proposta. Para

análise dos dados foram usados os pacotes informáticos EXCEL e ArcView. Da análise

de dados, foram produzidos gráficos que mostram a distribuição geográfica e o grau de

significância de cada impacto em cada região agro-ecológica. Para os impactos negativos

revelados pelo estudo foram desenvolvidas medidas de mitigação convenientes.

As principais constatações do estudo permitiram notar que o cultivo do algodão estimula o

desenvolvimento económico das regiões rurais e contribui significativamente na economia

nacional. Contudo, esta actividade traz consigo problemas ambientais tais como

degradação e erosão de solos, poluição de solos e de recursos hídricos e problemas de

saúde ocupacional. A avaliação destacou os seguintes aspectos:

a) Quanto aos sistemas de produção:

A produção do algodão caroço em Moçambique é feita maioritariamente por

camponeses do sector familiar a título individual ou organizados em pequenas

associçãoes,

A existência de empresas licenciadas para o fomento da produção do algodão,

com monpólio nas respectivas zonas de influência

b) Impactos positivos

A produção do algodão não contribui para queimadas descontroladas

A não existência de acúmulo de substâncias activas derivadas de pesticidas, e o

uso de pesticidas nas regiões algodoeiras sem substâncias proibidas e com

componentes de fácil degradação

A importante contribuição do algodão na economia nacional como produto de

exportação

A significativa contribuição do algodão na geração de renda, criação de

autoemprego e empreendedorismo nas zonas rurais

c) Impactos negativos

O manuseio de pesticidas sem o uso de dispositivos de protecção individual

A existência de um potencial para o surgimento de problemas ambientais derivados

do manuseio inadequado de recipientes pós-pulverizações e de pilhas

acumuladoras

O uso intensivo de áreas de produção sem obediência às boas práticas tais como

rotação de culturas, conssocição e agricultura de conservação tem conduzido a

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CEE/UP –Plano de Gestão Ambiental para as Regiões Algodoeiras - IAM

xiv

uma acentuada degradação de solos que se manifesta pela perda de fertilidade e

acidez elevada

A inadequada assistência técnica em algumas regiões tem por consequência o

manuseio inapropriado de pesticidas por parte de camponeses

A falta ou o inapropriado uso de DPI nas unidades de processamento cria o cenário

apropriado para o surgimento de problemas de saúde a longo termo

A emissão de poeiras nas unidades de processamento concorre para a poluição do

ar nas comunidades circunvizinhas

O uso intensivo de pesticidas conduz à perda de biodiversidade faunística e

consequente redução de algumas fontes de renda

A deficiente prática de armazenamento e/ou conservação de pesticidas por parte

dos agricultores concorre para problemas de saúde pública. Por outro lado, a má

aplicação de pesticidas como na captura de peixe e homicídios constituem

exemplos flagrantes de impactos negativos associados à aspectos sócio-culturais.

Em relação ao Plano de Gestão e Monitoria Ambiental, o presente estudo permitiu um

melhor conhecimento do meio biofísico e sócio-económico do sector do algodão. Com

base nas constatações produzidas, e usando a metodologia de certificação com base na

norma ISO 14001, foi desenvolvido um Plano de Gestão Ambiental (PGA) no qual estão

identificadas as responsabilidades de cada interveniente desde os produtores, líderes

comunitários, empresas de fomento e associações de produtores. Associado a este PGA

foi desenvolvido um programa de monitoria que será da responsabilidade do IAM/MINAG

em parceria com o MICOA e o Ministério do Trabalho.

Com o objectivo de elevar a consciência dos principais actores na cadeia de produção do

algodão sobre higiene e saúde ocupacional foi elaborada uma estratégia de

consciencialização em HSO no sector do algodão. A minimização de problemas de

empobrecimento de solos é abordada no contexto de um programa de gestão de solos.

Um programa de gestão de recursos hídricos cuida da preservação da qualidade da água

e do problema de contaminação por pesticidas e nitratos. A redução da acidez de solos e

o melhoramento da retenção de nutrientes e o combate da erosão dos solos é abordada

no programa de calagem de solos. Faz ainda parte deste pacote um programa de

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xv

reaproveitamento de subprodutos e resíduos que visa promover o reaprovetamento da

semente do algodão na produção de farinhas de alto valor protéico para alimentação

humana e animal e potenciar o reaproveitamento de resíduos para a criação de produtos

de valor acrescentado. Para implementar uma gestão moderna de resíduos que gere

benefícios e aumente a competitividade das empresas do sector algodoeiro e abra novos

mercados onde a qualidade ambiental é uma vantagem tanto para empresa como para

sociedade foi elaborado um programa de reaproveitamento de subprodutos e resíduos. A

problemática da poluição causada por pilhas e acumuladores é tratada no programa de

gestão de pilhas e acumuladores. Um programa de gestão de emissões de poeiras e

fibrilha contendo planos de monitorização com vista a acompanhar as diferentes fases do

processamento de algodão cuidará da qualidade do ar, qualidade da água, bio-ecologia,

ruído, vigilância da saúde humana, níveis de risco e psicologia social. Finalmente, a

redução do desperdício de materiais plásticos e a reciclagem destes materiais plásticos é

a temática contida no programa de gestão de recipientes plásticos.

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1

1. INTRODUÇÃO

O algodão em Moçambique como em outros países do terceiro mundo revela-se

importante porque é concebido como um produto de exportação e de aprovisionamento

em matéria-prima às indústrias nacionais de téxteis, óleo alimentar e sabões. Nesses

países, o cultivo do algodão é dominado pelo sector familiar principalmente nas zonas

rurais.

Historicamente, aponta-se que antes do século XVI já se semeava algodão em

Moçambique, cuja espécies eram oriundas da Asia (6). Contudo, só a partir de 1930 que o

cultivo de algodão começou a se expandir tendo tido o seu maior incremento entre as decadas

50 a 70. O algodão é produzido com mais proeminência nas províncias de Nampula, Cabo

Delgado e Sofala (Figura 1). Contudo, também é produzido, embora em menor proporções,

nas outras províncias do país, a saber, as províncias de Niassa, Zambézia, Tete, Manica,

Gaza e Inhambane. A cultura é praticamente toda conduzida em sequeiro onde cerca de 75%

da sua produção concentra-se na metade norte do Pais. Os dados de que se dispõem referem-

se à distribuição de produção de algodão referentes ao ano agrícola 2005/2006

Figura 1. Distribuição da produção do algodão em Moçambique na campanha 2005/6

por províncias (5)

-

5,000

10,000

15,000

20,000

25,000

30,000

35,000

40,000

45,000

50,000

C.Delgado Nampula Sofala Tete Niassa Zambézia Manica I'bane

P R O V Í N C I A S

( T

on

ela

da

s )

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2

A figura 1 acima mostra que, de facto, as províncias Cabo-delgado, Nampula e Sofala são

as que mais produzem o algodão. A produção de algodão em Moçambique em 1971 (6)

foi de 106 000 toneladas de algodão-caroço. O que representava 0,4% da produção

mundial. O rendimento médio de algodão-caroço, no mesmo ano, era de 277 kg/ha. Foi em

1973 o ano que se atingiu o maior pico na produção de algodão, tendo se situado em 144 061

toneladas, e o rendimento médio de cerca de 468 kg/ha. A área ocupada pela cultura algodoeira

(330 000 ha) representava 7,3% da área total cultivada no país. Dedicavam-se a esta

cultura 376 007 produtores, ou seja, 24,8% dos 1 504 028 agricultores existentes. Até 1975,

ano da independência, cerca de 7% de fibra do algodão foi utilizada na indústria local e o

remanescente foi exportada. A Figura 2 que se segue, mostra a evolução de produção, em

toneladas, de algodão de 1931 a 2007.

Figura 2 Evolução da produção do algodão em Moçambique de 1931 a 2006

Desta tabela se pode ler que na história de produção de algodão no país, o ano de 1973 foi

o que mais se produziu enquanto o de 1985 o que menos se produziu. As perespectivas de

2007 indicam estar a baixo da produção de 1973.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

1931

1933

1935

1937

1939

1941

1943

1945

1947

1949

1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007(*

)

( A N O S )

( 1000 T

on

s)

+ Alta =144.061

+ Baixa = 5.200

Independência Nacional

= 122. 287 Tons

(*) Estimativa

121.000 Tons

98/99

116.716

Tons

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As estatísticas recentes de 2005 (5) indicam que a produção de algodão caroço em

Moçambique foi de 78 683 toneladas, cultivados numa área de cerca de 185 465 hectares.

O rendimento médio foi de cerca de 420 toneladas/hectares, sendo que toda a fibra de

algodão foi exportada. O número de camponeses envolvidos foi de cerca de 250 204 sendo

94% destes do sector familiar, 5% associações e os restantes produtores autónomos. Em

2006 a produção do algodão foi de cerca de 122 287 toneladas, cultivados numa área de

233 200 hectares e envolvendo cerca de 308 000 famílias o que representa um recorde no

período pós independência.

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2. BREVE CARACTERÍZAÇÃO BIOFÍSICA E SÓCIO ECONÓMICA DAS

REGIÕES ALGODOEIRAS

A descrição das características biofísicas e sócio-económicas é feita de uma forma

meramente restrita e pretende servir de base para o conhecimento da diversidade da

paisagem, dos recursos hídricos e das principais actividades económicas das regiões

abrangidas pelo presente estudo.

As características biofísicas e sócio-económicas, incluindo os culturais, são suportes

fundamentais para se implementar um sistema de gestão e monitoria ambiental do mais

alto valor dado os desequilíbrios ecológicos que tem vindo a sofrer devido à acção

humana.

2.1. Caracterização Biofísica

2.1.1. Regiões agro-ecológicas

Segundo o IIAM (7) o país encontra-se dividido em 10 regiões agro-ecológicas

diferenciadas em função do clima, solos e acesso ao mercado (Figura 3). Das principais

regiões produtoras de algodão, o distrito de Montepuez na província de Cabo Delgado,

grande parte do distrito de Monapo e uma pequena parte do distrito de Meconta em

Nampula, o distrito de Cuamba na província do Niassa, e grande parte do distrito de

Morrumbala na província da Zambézia estão situadas na zona agro-ecológica R7, que é

caracterizada pela altitude situada entre os 200 a 1000m e precipitação anual variando de

1000 a 1400mm. A textura dos solos varia de arenosa a lamacenta. É nestas regiões

onde se produz cerca de 60% do algodão caroço em Moçambique, de acordo com os

dados estatísticos da campanha 2004-2005 (4).

Os distritos de Mutarara em Tete, e parte do distrito de Marringue em Sofala estão

situados na zona agro-ecológica R6, caracterizada por altitudes abaixo de 200m e

precipitação média anual da ordem de 500 a 800mm. Nesta zona, produz-se cerca de

15% da produção nacional do algodão caroço.

Grande parte do distrito de Mossurize em Manica está situada na região agro-ecológica

R4, caracterizada por altitudes médias entre 200 a 1000m; a precipitação média anual

varia entre 1200 a 1400mm. Mais de 60% da área do distrito de Maríngue em Sofala está

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situado na zona agro-ecológica R6.

Figura 3: Regiões agro-ecológicas de Moçambique (7)

2.1.2. Aptidão dos solos

Segue-se a indicação da aptidão agroclimática para o cultivo de algodão em Moçambique

Figura 4 (6).

R10

R2

R3

R1

R5

R5

R4

R4

R10

R7

R6

R6

R7

R10

R8

R7

R8

R9

R10

R7

R8

PembaLichinga

Tete

Quelimane

Nampula

Chimoio

Beira

Inhambane

Xai-Xai

Maputo

Mazeminhama

Umbeluzi

Ricatlha

Maniquenique

Chokwe

Chobela

Mazimechopes

Nhacoongo

Sussundenga

Chemba

Angonia

Mocuba

Nametil

RibaueMutuali

Rio

Limpopo

RioSave

Zambeze

Rio

Ligonha

Rio

Rio Lurio

Lug

enda

Rio

42º38º34º30º

42º38º34º30º

12º

16º

20º

24º

Compilou: Marcos Jossefa Ruco

Z A M B I A M

A L

A W

I

T A N Z A N I A

Z

I M

B A

B W

E

R. A

. S.

SWAZILANDIA

R. A. S.42º38º34º30º

42º38º34º30º

12º

16º

20º

24º

Compilou: Marcos Jossefa Ruco

Z A M B I A M

A L

A W

I

T A N Z A N I A

Z

I M

B A

B W

E

R. A. S.

Scale 1: 8 000 000

MOCAMBIQUE

N

R10

R2

R3

R1

R5

R5

R4

R4

R10

R7

R6

R6

R7

R10

R8

R7

R8

R9

R10

R7

R8

PembaLichinga

Tete

Quelimane

Nampula

Chimoio

Beira

Inhambane

Xai-Xai

Maputo

Mazeminhama

Umbeluzi

Ricatlha

Maniquenique

Chokwe

Chobela

Mazimechopes

Nhacoongo

Sussundenga

Chemba

Angonia

Mocuba

Nametil

RibaueMutuali

Rio

Limpopo

RioSave

Zambeze

Rio

Ligonha

Rio

Rio Lurio

Lug

enda

Rio

42º38º34º30º

42º38º34º30º

12º

16º

20º

24º

Compilou: Marcos Jossefa Ruco

Z A M B I A M

A L

A W

I

T A N Z A N I A

Z

I M

B A

B W

E

R. A

. S.

SWAZILANDIA

R. A. S.42º38º34º30º

42º38º34º30º

12º

16º

20º

24º

Compilou: Marcos Jossefa Ruco

Z A M B I A M

A L

A W

I

T A N Z A N I A

Z

I M

B A

B W

E

R. A. S.

Scale 1: 8 000 000

MOCAMBIQUE

N

R1 - The Inland Maputo and South Gaza Region

R2 - The Coastal Region South of the Save River

R3 - Center and North of Gaza and the West Inhambane Region

R4 - Medium Altitude Region of Central Mozambique

R5 - Low Altitude Region of Sofala and Zambezia

R6 - Semi-arid Region of the Zambeze Valley and Southern Tete Province

R7 - Medium Altitude Region of Zambezia, Nampula, Tete, Niassa and Cabo Delgado

R8 - Coastal Litoral of Zambezia, Nampula and Cabo Delgado

R9 - North Interior Region of Cabo Delgado- Mueda Plateau

R10- High Altitude Region of Zambezia, Niassa, Angonia and Manica

LEGENDA

Laboratorios Provinciais de Veternaria (LPV) ....

Estacao Zootecnica ... ..... .... .... ..... .... .... ..... .... ..... ...

Estacao Agraria ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... ...

Posto Agronomico ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... ..

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Cabo Delgado – Nos Distritos de Ancuabe, Chiúre e regiões de menor altitude de

Namuno, principalmente junto ao rio Lúrio, regiões de média altitude dos distritos de

Montepuez, Namuno e Meluco, a fisiografia dos solos desta região caracteriza-se por

solos aluvionares nos vales dos rios, escuros, profundos, de textura média a pesada,

moderadamente a mal drenados, sujeitos a inundações regulares. Nas encostas

encontram-se solos hidromorfos de textura variada, desde arenosos de cores cinzentas,

arenosas sobre argilas a solos argilosos extratificados de côr escura. Nos topos das

encostas superiores predominam solos vermelhos e alaranjados apresentando textura

média a pesada sendo profundos e moderadamente bem drenados.

Figura 4. Aptidão agro-climática para o cultivo do algodão de sequeiro (6)

Niassa – Nos Distritos de Cuamba, Mecanhelas, Mandimba, até as regiões de média

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altitude de Majune, Maúa e Marrupa; os solos são argilosos vermelhos e profundos, com

uma boa permeabilidade e bem drenados, fertilidade baixa e susceptíveis a erosão. Os

solos predominantes nos vales de rios são predominantemente aluvionais, escuros,

profundos, de textura pesada e média, moderadamente a mal drenados, os de topo e as

encostas são moderadamente bem drenados.

Nampula – Nos Distritos de Nampula, Mecuburi, Muecate, Eráti, Memba, Monapo,

Mossuril, Mongicual, Angoche, Meconta, Mogovolas, Murrupula, Malema e Ribáue (região

7) e Moma (região 8), os solos são arenosos lavados e moderadamente lavados,

predominantemente amarelos a castanho-acinzentados, tanto os da cobertura arenosa do

interior como os das dunas arenosas costeiras e ainda pelos solos da faixa do grés

costeiro, de textura arenosa a franco argiloso arenosa de cor alaranjada.

Zambezia - Em Gilé, Ile, Alto Molócuè e parte norte de Morrumbala, as regiões mais baixas

de Gurue, Milange, Lugela e Namarrói, Mocuba, Maganja da Costa, Pebane e zona mais arida

de Morrumbala, ao longo do vale do Chire; os solos correspondem a um complexo de

características variáveis, com solos vermelhos, alaranjados e cinzentos. Os primeiros

ocupam as cotas mais elevadas, estendendo-se os pardo-acinzentados e os cinzentos pela

zona baixa ao longo dos terrenos dos rios. Os solos pardo alaranjados, pardo-avermelhadas

e amarelas ocorrem na parte intermediárias dos declives e nas encostas apresentando uma

drenagem moderadamente boa.

Tete - Distritos de Mágoe, Cahora Bassa, Macanga, Moatize, Mutarara e Changara.

Esta região apresenta diversos tipos de solos, sendo frequente as formações de solos

vermelhos, variando de arenosos francos a argilosos, intercalados por solos que variam de

ferralíticos, hidromórficos, aluvionares a solos profundos. Estes solos são derivados, na sua

maioria, de rochas metamórficas e eruptivas do pre-cámbrio, em particular do complexo

gneisso-granítico do Moçambique Belt. São solos de textura variável profundos a localmente

pouco profundos, sendo ligeiramente lixiviados, excessivamente drenados e por vezes

localmente mal drenados.

Sofala - Chemba, Caia, Gorongoza, Dondo, Búzi e Maríngue. Os solos desta região

são de textura variável, profundo a muito profundos, localmente pouco profunods, castanho-

avermelhados sendo ainda ligeiramente lixiviados, excessivamente drenados ou

moderadamente bem drenados. Existe também predominância de solos aluvionares e

hidromórficos ao longo de linhas de drenagem natural associados ao vale da bacia do rio

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Zambeze.

Manica - Guro, Tambara, Mossurize, Bárue, Sussundenga e regiões da periferia e mais

baixas de Chimoio. Segundo a carta nacional de solos, predominam nesta região solos

desenvolvidos nas rochas vulcânicas destacando-se os argilosos vermelhos, profundos e

férteis, os basálticos vermelhos de textura argilosa de profundidades variáveis e aptos para a

cultura do algodão e os liticos de textura franco-arenosa, pouco profundos sobre rocha alterada.

2.1.3 Recursos hídricos

A rede hidrográfica do distrito de Cuamba é constituído pelos rios Luleio e Muanda ambos

afluentes da bacia do rio Lúrio. O rio Muanda tem ainda como afluentes os rios

Namutimbua, Ruace, Massequece, Massange, Recuembe e Zicemunda. Estes rios são

de regime periódico e podem ser considerados riachos.

O distrito de Montepuez possui uma rede hidrográfica pouco significativa com a excepção

da bacia do rio Lugenda que serve de fronteira entre este distrito e o de Metarica na

Província do Niassa.

O distrito de Monapo é atravessado por dois importantes cursos de água, o rio Monapo e

o Ampuesse. Existem ainda pequenos rios secundários tais como Natete, Mugica,

Mussinete, Mecuco, Napai, Nicupa, M´pitocuiri e outros.

A rede hidrográfica do distrito de Morrumbala é constituído pelos rios Chire, Lualua,

Lumba, Muelide, Missongue, Thambe, Luó e Bualizo afluentes da bacia do Zambeze. A

maioria destes rios e de regime periódico.

As principais bacias hidrográficas que atravessam distrito de Maríngue são os rios

Nhamapadza, Fudja, Nhamazuanzua, Pundza e Mupa todos localizados no interior do

distrito. Todos os rios são de regime periódico, podendo alguns ser considerados riachos.

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O distrito de Mossurize possui dois importantes rios o Búzi e o Mossurize, para além de

outros rios de importância secundária tais como Chicambue, Dacata, Muchenedzi, Zona,

Chinica, Rupice, Mucurumadzi, Lucite, Mavuaze e Mussassa. Existem ainda pequenos

riachos que são praticamente afluentes dos rios principais.

2.2. Caracterização Sócio-económica

Os tipos de sistema agrícola mais comuns, na região agroecológica R4 são a

conssociação milho/mapira. Verifica-se também nesta região agroecológica o uso

intensivo das margens dos rios para a produção comercial da banana, hortícolas e

fruticultura. Produção pecuária semi-comercial e comercial. A principal cultura nesta

região é a mapira, sendo o algodão a principal cultura de rendimento. Quanto ao uso e

cobertura da terra, o tipo de cobertura predominante são as florestas aberta e fechadas,

sendo o miombo e o mopane os principais ecossistemas. As principais áreas de

conservação destaca-se a reserva de Chimanimani, as coutadas 9, 13 e 18. Os principais

problemas são o alto risco de erosão de solos, sistema de mercados incipiente, incidência

de doenças animais como a mosca tse-tsé, competição entre agricultura, exploração

madeireira, actividades faunísticas e de conservação.

A mapira é a principal cultura nas zonas áridas e nas outras zonas temos outras culturas

como os casos da mexoeira e da mandioca. Nesta região agroecológica o algodão é a

principal cultura de rendimento e é produzido nas zonas médias do Zambeze. Ao longo

dos riachos, produz-se arroz, batata doce e vegetais. Os principais ecossistemas são o

mopane, e floresta fechada. Os principais problemas nesta região agroecológica são as

infraestruturas agrícolas inadequadas, elevada incidência de doenças animais como a

mosca tsé-tsé, a falta de serviços básicos, erosão de solos, competição entre o uso

florestal, faunístico, agrícola, mineiro e actividades de conservação e finalmente, a zona

agro-ecológica R8 cobre também parte das áreas algodoeiras, estando parte das áreas

dos distritos de Meconta e Monapo inseridos nesta zona.

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10

3. PRINCIPAIS CONSTATATAÇÕES NAS REGIÕES DE ESTUDO

3.1. Introdução

O presente estudo foi realizado nas províncias de Niassa, Cabo Delgado, Nampula,

Zambézia, Tete, Sofala e Manica. Nestas regiões designadas para o estudo, são

geralmente caracterizados por boa fertilidade e queda regular de chuvas. A agricultura é a

principal actividade económica nestas regiões e existe uma combinação entre culturas de

rendimento e as alimentares, complementados pela criação de pequenos animais

domésticos tais como galináceos, caprinos e suínos.

O tipo de agricultura mais predominante é a do sector familiar e fundamentalmente virado

para a subsistência. A mão de obra depende basicamente do agregado familiar. Contudo,

verifica-se em algumas regiões grandes agricultores com áreas acima dos 5 ha. Estes

agricultores tem merecido um tratamento diferenciado por parte das empresas

fomentadoras, as quais disponibilizam maquinaria para a lavoura bem como crédito para

financiar o recrutamento de mão-de-obra para a sacha e colheita. Tratamento especial

têm tido também as associações de camponeses em algumas regiões, muito em especial

nas áreas concessionadas à empresa PLEXUS, a qual aplica um preço bonificado aos

agricultores organizados em associações. Nestes casos, a empresa concessionária tem

promovido uma gradual autonomia das associações

De acordo com os dados fornecidos pelo IAM, existem actualmente 12 empresas

fomentadoras cujas áreas concessionárias estão indicadas na Tabela 1. Em Moçambique

estão sendo produzidas seis variedades de algodão, nomeadamente, (i) CA-324, (ii) REMU-

40, (iii) ISA-205, (iv) Chureza, (v) Albar-sz9314 e (vi) STAM-42. A Figura 5a, que se segue,

mostra a percentagem de rendimentos médios por cada variedade de semente e a Figura 5b

percentagem da área cultivada.

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11

Tabela 1 Distribuição das empresas fomentadoras pelas áreas concessionárias

(IAM 2005/6)

Empresa fomentadora Província Distritos

SAN-JFS Niassa Cuamba, Nipepe, e Metarica

Nampula Malema

PLEXUS, Lda Cabo Delgado Montepuez, Ancuabe,

Namuno, Meluco, Balama,

Chiúre, Quissanga e Metuge

Nampula Erati e Namapa

SANAM Nampula Monapo, Meconta

IAM Nampula Memba

CANAM Nampula Ribaúe, Mogovolas,

Malema, Nametil e Memba

Novos Operadores Nampula Meconta

Zambézia Gilé, Alto-Molócue, Mocuba

DUNAVANT-Cottco Zambézia Morrumbala

Tete Mutarara

CNA-Cottco Manica Mossurize

Sofala Maríngue, Chemba

Mocotex Zambézia Mocuba

SAAM Zambézia Alto-Molócue

EAVZ-GPZ Zambézia e Tete Vale do Zambeze

Manica Mossurize

AgriMoz Inhambane Homoíne

Gaza Chibuto

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12

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

CA-324 ISA-205 ALBAR SZ-

9314

REMU-40 CHUREZA STAM-42

To

nela

das/h

a

Figura 5a. Variedade de sementes em uso em Moçambique (IAM 2005/6)

Segundo os dados da campanha 2005/6 as variedades CA-324, STAM 42 e ALBAR SZ

9314, são as que apresentaram os maiores rendimentos. As variedades CA-34 e REMU-

40 representaram cerca de 54% e 25%, respectivamente (veja a Figura 4), da produção

total do algodão, constituindo cerca de 79% do total de variedades de algodão produzido

em Moçambique.

Os sistemas de produção do algodão a nível familiar, para além de conduzir a um rápido

empobrecimento de solos, erosão, caracterizam-se por baixos índices de rendimento por

hectare, o que torna imprescindível a existência de um plano de gestão e monitoria

ambiental do processo de cultivo e processamento de algodão.

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13

54%

13%3%

25%

2% 3%

CA-324

ISA-205

ALBAR SZ-9314

REMU-40

CHUREZA

STAM-42

Figura 5b. Percentagem produzida por variedade de semente (IAM 2005/6)

3.2. Breve descrição das regiões de estudo

Na província do Niassa, o trabalho foi levado a cabo no distrito de Cuamba. Este distrito é

constituído por três postos administrativos nomeadamente Lúrio, Cuamba-sede e Etatara

(Figura 6). No posto administrativo de Cuamba-sede estão em formação algumas

associações de agricultores. Neste distrito, existe uma empresa concessionária para o

fomento da cultura do algodão, a Sociedade Algodoeira do Niassa (SAN) – João Ferreira

dos Santos. A amostragem dos produtores para realizar o inquérito foi feito nos seguintes

povoados: Mokhola e Quimar no posto administrativo de Etatara, Mortuela no posto

administrativo de Lúrio e nos povoados de Nawawane e João 1 no posto administrativo de

Cuamba-sede. Em cada povoado foram entrevistados 5 produtores e um líder

comunitário.

As constatações acima apresentadas indicam que a variedade de semente mais

cultivada actualmente apresenta baixos rendimentos. Há que estabelecer programas

visando o melhoramento da variadade de sementes com rendimentos ao nível dos

obtidos com a variedade ALBAR SZ 9314 de cerca de 970 kg/ha, entretanto

representando apenas 2% da produção total. Esses programas colocariam

Moçambique num patamar semelhante ao de outros países que praticam a agricultura

de sequeiro que apresentam rendimentos de 900 a 1300 kg/ha. Conforme o previsto

no Artigo 2, alínea b) do Decreto nº7/91, cabe ao IAM cooperar com instituições de

investigação na melhoria da qualidade e rendimento da produção.

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14

Figura 6. Divisão administrativa do distrito de Cuamba

Na província de Cabo Delgado, o trabalho foi realizado no distrito de Montepuez. Este

distrito está divido em cinco postos administrativos nomeadamente Mapupulo, Mirate,

Nairoto, Namanhumbir e Montepuez-sede (Figura 7). A empresa concessionária operando

neste distrito é a PLEXUS. A amostragem dos produtores para realizar o inquérito foi feita,

sob recomendação do Delegado do IAM neste distrito em conjunto com o Director de

Operações da PLEXUS. Assim foram recomendados os seguintes povoados: Nceue no

posto administrativo de Namanhumbir, Mapupulo-sede e Nanere em Mapupulo, Namoro

em Nairoto e Nacuca em Mirate.

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15

Figura 7. Divisão administrativa do distrito de Montepuez

Na província de Nampula, o trabalho foi realizado nos distritos de Meconta e Monapo. A

província de Nampula é a maior produtora de algodão ao nível nacional e a que também

apresenta os maiores problemas ambientais. O distrito de Meconta compreende os postos

administrativos de Namialo, Corrane, 7 de Abril e Meconta-sede (Figura 8). O distrito de

Monapo compreende três postos administrativos nomeadamente Itoculo, Netia e Monapo

(Figura 9).

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16

Figura 8. Divisão administrativa do distrito de Meconta

A empresa concessionária para o fomento do algodão no distrito de Monapo é a SANAM,

enquanto que no distrito de Meconta são os Novos Operadores. A selecção dos povoados

para amostragem dos produtores foi feito em Monapo por recomendação da empresa

concessionária enquanto que no distrito de Meconta por recomendação da direcção

distrital em conjunto com um técnico do IAM que acompanhou os trabalhos. Assim, no

distrito de Monapo o trabalho foi realizado em 8 povoados nomeadamente Munhavara-

topuara, Munhavara-Jagaia, Metocheria-Mutauanhe, Metocheria-Nacololo e Metocheria-

Caserna no posto administrativo de Monapo (Canacue) e povoados de Eduardo

Mondlane, Namacopa e Ofensiva no posto administrativo de Itoculo. No distrito de

Meconta o trabalho foi realizado apenas no posto administrativo de Corrane considerado

o maior produtor do distrito, nos povoados de Varua, Mucapera, Metucuro e Metala.

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Figura 9. Divisão administrativa do distrito de Monapo

Na província da Zambézia, o trabalho foi realizado no distrito de Morrumbala. Este distrito

compreende os postos administrativos de Nauela, Megaza, Chire e Derre (Figura 10). A

empresa concessionária e fomentadora do algodão neste distrito é a DUNAVANT. A

selecção dos povoados para amostragem dos produtores foi primeiramente por

recomendação da empresa fomentadora e posteriormente de forma aleatória. Assim,

realizou-se o trabalho nos povoados de Boroma, Muandiua e Morrumbala-sede.

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Figura 10. Divisão administrativa do distrito de Morrumbala

Na província de Tete, o distrito recomendado pelo IAM foi o de Mutarara. Este distrito

compreende os postos administrativos de Nyamayabwe, Doa, Chire e Inhangoma (Figura

11). A empresa concessionária para o fomento de algodão neste distrito é a DUNAVANT.

Para a realização do trabalho, a selecção dos produtores foi por recomendação da

empresa concessionária e posteriormente de forma aleatória. Assim o trabalho foi

realizado nos povoados de Inhangoma e Mafunga em Inhangoma, Sinjal em

Nyamayabwe, Doa-Dzimira em Doa e Chire em Chire.

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Figura 11. Divisão administrativa do distrito de Mutarara

Na província de Manica, o trabalho foi realizado no distrito de Mossurize. Este distrito

compreende os postos administrativos de Chiuraire, Espungaberra (Chikwekwete) e

Dacata (Chirera) (Figura 12). A empresa concessionária para o fomento do algodão neste

distrito é a EAVZ-GPZ. Para a realização do trabalho neste distrito foram seleccionados

os povoados de Chiuraire, Chikuekuete e Chirera, por recomendação do técnico da DDA.

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20

Figura 12. Divisão administrativa do distrito de Mossurize

Finalmente, na província de Sofala, o trabalho foi realizado no distrito de Maríngue. Este

distrito compreende os postos administrativos de Maríngue-sede, Canxixe e Súbue

(Figura 13). A empresa concessionária para o fomento do algodão é a CNA (Companhia

Nacional Algodoeira). Para a realização do trabalho, a selecção dos produtores foi por

recomendação do técnico da DDA, delegação da Beira em coordenação com o técnico da

empresa concessionária. Assim, o trabalho foi realizado nos povoados de Canxixe,

Súbuè, Maringue-sede e Gubalatsai.

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Figura 13. Divisão administrativa do distrito de Maríngue

A Tabela 2 abaixo indicada dá uma descrição resumida das áreas de estudo e o mapa

ilustrado na Figura 14 sua localização.

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Tabela 2- Lista de povoados abrangidos pelo estudo

Província Distrito Posto administrativo

Localidade Povoado

Niassa Cuamba

Etatara Etatara Mokhola

Etatara Quimar

Lúrio Lúrio Mortuela

Cuamba-sede Cuamba-sede Nawawane

Cuamba-sede João 1

Cabo Delgado Montepuez

Mirate Mararanja Nacuca

Mapupulo Mputo Nanere

Mapupulo-sede Mapupulo

Nairoto Nairoto-sede Namoro

Namanhumbiri Namanhumbiri-sede Nceue

Nampula

Meconta Corrane

Corrane-sede Varua

Mucapera

Japir Metala

Mecua Metacuro

Monapo

Ituculo

Muruto Ed. Mondlane

Muruto Namacopa

Muruto Ofensiva

Canacue

Metocheria Nacololo

Munhavara Topuara

Munhavara Jakaya

Metocheria Caserna

Metocheria Mutauanhe

Zambézia Morrumbala Morrumbala

Navela Boroma

Navela Morrumbala-sede

Navela Muandiua

Tete Mutarara

Nhamayabue Sinjal Chirua

Chire Chire Chire

Inhangoma Inhangoma Mafunga

Doa Doa Dzimira

Manica Mossurize

Chiurairue

Inhacufera Mafuia

Chiomo Chiomo

Chiurerue sede Mude

Cita Cita

Chirera (Dacata)

Chinguno Chinguno

Nhatsanga Nhatsanga

Chaiva Chaiva

Chikwekwete (Espungabera)

Chikepe Chikepe

Pande Macuo Pande Macuo

Nhabanga Nhabanga

Macuo 2 Macuo 2

Sofala Maríngue

Súbue

Nhazuazua Nhazuazua

Gueza Gueza

Maneto Maneto

Gravata Gravata

Daimond Daimond

Nhamunho Nhamunho

Gubulatsai

Pangue Pangue

Medge Medge

Maríngue-sede

Marringue

Chowende

Nhamitalala

Nhachire

Mapangapanga

Canxixe Ntacuta Ntacuta

Palame Palame

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Figura 14. Mapeamento dos pontos de recolha de amostras de água e solos.

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24

3.3. Constatações sobre a biofísica das áreas de estudo

A recolha de informação para a avaliação dos impactos biofísicos da produção do algodão

foi feita a diferentes níveis de intervenção. Neste contexto, o presente trabalho distinguiu

cinco categorias de intervenientes como ilustra a tabela 3. Para cada categoria foram

administrados inquéritos específicos preparados pela equipa de pesquisa.

Tabela 3. Categorias de intervenientes

Categoria Interveniente Descrição Nº de inquiridos

1 Produtores de algodão Famílias que se dedicam a

produção do algodão 164

2 Comunidades

Líderes comunitários,

líderes de associações. 30

3 Entidades ligadas á

saúde

Direcções distritais e

postos de saúde locais 7

4

Empresas fomentadoras

da cultura

Empresas fomentadoras 8

Operários 6

Extensionistas 16

5

Instituições

Governamentais ligadas

à produção do algodão,

saúde e ambiente

DDA’s e DDCAAs 7

Os resultados obtidos das entrevistas realizadas com os vários intervenientes bem como

da análise de amostras de solos e água, para a avalição dos impactos biofísicos e sócio-

económicos são apresentados e discutidos de seguida.

3.3.1. Análise de solos

A principal finalidade de uma análise de solos é verificar a condição de fertilidade das

terras, indicando a disponibilidade de nutrientes para as culturas e recomendar a

aplicação racional e económica de correctivos e adubos. Assim, baseando-se no uso de

padrões da terminologia universal para classificação da aptidão de solos (ILACO 1981),

amostras de solos recolhidas nas áreas concessionadas às diferentes empresas

algodoeiras, foram quantitativamente analisadas e comparadas tanto com os padrões

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25

internacionais de aptidão de solos, como entre si para determinação das diferenças

existentes. Para todos os indicadores, o ponto médio é considerado o óptimo em termos

de aptidão de solos para agricultura no geral.

No total 194 amostras de solos foram colhidas e analisadas para os parâmetros de

aptidão, das quais 25 em Montepuez –área de concessão da PLEXUS, 56 em Monapo-

área de concessão da SANAM, 29 em Meconta - área de concessão dos Novos

Operadores, 33 em Cuamba - área de concessão da San-JFS, 15 em Mossurize - área de

concessão da EAVZ-GPZ, e 26 em Marríngue - área de concessão da CNA. Por motivos

de constrangimentos operacionais e de orçamento, amostras colhidas na área de

concessão da DUNAVANT (Mutarrarra e Morrumbala), não foram analisadas.

Os parâmetros analisados incluíram a soma de bases (Na, Mg, K e Ca), capacidade de

troca catiónica (CTC), conductividade eléctrica, acidez em água, disponibilidade de

fósforo, nitrogénio total e textura.

3.3.1.1 Textura do solo

A textura do solo refere-se à proporção da argila, limo e areia do solo. Destas fracções a

argila é a que possue maior superfície específica e por isso é a que caracteriza a

capacidade de adsorção de nutrientes como o fósforo e a troca de catiões. Assim,

dependendo das proporções dos componentes do solo, podem ser classificados como

argilosos, arenosos, franco-argilosos, franco arenosos, franco argilo-arenosos e franco-

arenoso argiloso.

A Figura 15 ilustra as várias características que constituem a natureza de solos das

regiões estudadas.

Foram encontrados nas diferentes zonas textura de solos variando de arenoso a argiloso,

tendo sido a classe textural mais predominante a franco arenoso perfazendo 39.7% dos

solos. Foi mencionado no primeiro capítulo do presente trabalho que a cultura do algodão

se adapta ou se desenvolve satisfatoriamente em solos de textura desde arenoso a

argiloso. Nesse contexto, em termos de textura de solo todas as áreas produtoras

inventariadas reúnem condições de textura de solo aceitáveis para o desenvolvimento da

cultura.

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26

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Monte

puez

Monap

o

Mec

onta

Cuam

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Morr

/Mut

Mar

ingue

Moss

urize

TOTA

L

Textura dos Solos

G-Argiloso GA-Argilo Arenoso FG-Franco Argiloso FGA-Franco Argilo Arenoso A-Arenoso AF-Areia Franca FA-Franco Arenoso F-Franco

Figura 15. Textura de solos nas regiões de estudo

3.3.1.2. Soma de bases

De acordo com Landon (34) e Ilaco (33) denomina-se soma de bases, à soma de bases

trocáveis (Ca, Mg, K e Na). A soma de bases dá uma indicação da acidez do solo bem

como a capacidade de assimilação de nutrientes como o fósforo.

A soma de bases de 81,15% das amostras totais apresentou um valor acima da média,

sendo que 56.1% apresentaram um valor alto e 25.35% com valor muito alto, i.é, acima

de 16 cmol/kg de solo (Figura 16). Apenas 16.5% das amostras totais apresentaram um

intervalo óptimo (médio), em quanto que 2% da amostra apresentaram uma baixa soma

de bases. O destaque em termos de solos com elevada soma de bases foi para as áreas

dos distritos de Maríngue e Mossurize que não apresentaram nenhuma amostra com

níveis médios ou baixos. O distrito de Monapo, área sob concessão da SANAM é a que

maior percentagem de solos com a soma de bases dentro dos padrões requeridos

apresentou, 28.6% das amostras de solo das áreas de concessão desta empresa.

No cômputo geral pode-se afirmar que os solos das regiões algodoeiras estudadas

apresentam uma boa capacidade de assimilação de nutrientes, com a excepção de uma

pequena porção de solos das regiões de Montepuez, Monapo e Meconta, que por sinal

são as maiores produtoras de algodão, apresentando níveis baixos de assimilação que é

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já um indicativo da sua degradação.

0%10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mar

ingu

e

Mos

suriz

eTot

al

Soma de bases (cmol(+)/kg de solo)

>16 muito alto

8-16 alto

4-8 medio

1-4 baixo

<1 muito baixo

Figura 16. Soma de bases de amostras de solos das regiões de estudo

3.3.1.3. Capacidade de troca catiónica

A capacidade de troca de catiões é um indicativo de perda de nutrientes em solos por

lixiviação. No presente estudo, 50% das amostras totais de solos apresentaram uma

capacidade de troca catiónica dentro dos padrões requeridos (CTC entre 4-8cmol/kg de

solo). Dentre os vários distritos, os de Montepuez e Cuamba são os que apresentaram

maior percentagem de solos dentro dos padrões aceitáveis para este parâmetro, 65.7% e

63.3% respectivamente (Figura 17). A área dos Novos Operadores, o distrito de Meconta,

apresentou maior percentagem dos seus solos com baixa capacidade de troca catiónica

(58.5% das amostras) tornando-os susceptíveis à perca de nutrientes por lixiviação,

enquanto que a área da EAVZ-GPZ apresentou 53.3% das suas amostras com elevada

capacidade de troca catiónica. Estes dados estão em consonância com os dados de

soma de bases embora aqui com ligeiro aumento de solos com indícios de degradação.

0%

10%20%

30%40%

50%60%

70%80%

90%100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mar

ingu

e

Mos

suriz

eTot

al

Capacidade de Troca Catiónica (cmol(+)/kg de solo)

> 40 Muito alta

20-40 Alta

10-20 Média

4-10 Baixa

<4 Muito baixa

Figura 17. Capacidade de troca cationíca das amostras de solos das regiões de estudo

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3.3.1.4. Percentagem de alumínio trocável

Em relação a percentagem de alumínio trocável, todos os distritos apresentaram muito

baixa capacidade de troca, 99.5% das amostras colhidas, conforme ilustrado na Figura

18. O Alumínio é um indicativo do aumento da acidez de solos embora não seja o

responsável. Em situações de acidez elevada, o alumínio aparece em solução na forma

de catião Al+3 tornando-se desta forma livre na solução do solo e tornando-se tóxico para

as plantas. Os níveis de alumínio aceitáveis numa análise de solos é até 5%. Das

análises feitas no presente estudo pode-se observar que a presença de Al está abaixo de

níveis de toxidade.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mar

ingu

e

Mos

suriz

eTot

al

Percentagem de Aluminio trocavel

>85 Muito alta

60-85 Alta

30-60 Moderada

5-30 Baixo

<5 muito baixo

Figura 18. Percentagem de Alumínio trocável

3.3.1.5. Percentagem de sódio trocável

O sódio é um dos nutrientes que estimula o crescimento das plantas. A sua abundância é

muito benéfica para a fertilidade dos solos. Assim, do total das amostras colhidas em

todas as áreas de estudo 78,4% apresentaram uma percentagem de sódio trocável muito

baixa, tendo se destacado para este nível os solos do distrito de Montepuez, área de

concessão da PLEXUS e do distrito de Mossurize da EAVZ-GPZ que tiveram cada uma

100% das amostras com muito baixa percentagem de sódio trocável, seguidas dos solos

do distrito de Maríngue área de concessão da C. N. A com 96.55, Cuamba, SAN-JFS com

90.9, Meconta, novos operadores com 75.9%, e finalmente Monapo da SANAM com

44.6% das amostras com muito baixa percentagem de sódio trocável. Apenas 7.73% das

amostras totais apresentaram uma percentagem de sódio trocável dentro dos padrões

recomendados (moderada 10-25% de sódio trocável), tendo se destacado nesta

categoria, os solos da área de concessão da SANAM com 19.6% das amostras, seguidas

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29

da área dos novos operadores, com 13.8% das amostras nesta categoria.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mos

suriz

e

Mar

ingu

e

Total

Percentagem de sódio trocavel

>25 Muito alta

15-25 Alta

10-15 Moderada

5-10 Baixa

<5 Muito baixa

Figura 19. Percentagem de Sódio trocável das amostras de solos da regiões de estudo

3.3.1.6. Condutividade eléctrica

De acordo com alguns autores, existe uma estreita relação entre o rendimento da cultura

do algodão e a conductividade eléctrica dos solos. 194 Amostras de solo foram

analisadas para este parâmetro, tendo todas apresentado uma condutividade eléctrica

muito baixa (CE<2 ds/m). Os resultados são ilustrados na Figura 20.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mar

ingu

e

Mos

suriz

eTot

al

Conductividade electrica (dS/m)

>15 Muito alta

8-15 Alta

4-8 Média

2-4 Baixa

<2 muito baixa

Figura 20. Conductividade eléctrica das amostras de solos das regiões de estudo

3.3.1.7. Acidez ou pH em água

A reacção do solo ao crescimento das plantas é avaliado através do pH determinado em

água ou soluções salinas. O pH condiciona o crescimento das plantas, a actividade dos

microorganismos e a disponibilidade de nutrientes. Em solos ácidos pode ocorrer a

toxidade de Alumínio e Manganésio e os níveis de Cálcio, Magnésio, Fósforo e Potássio

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30

baixos. Em solos alcalinos, surgem deficiências em Fósforo e micronutrientes tais como

Ferro, Zinco, Manganésio e Boro. Das análises conduzidas para apuramento da acidez

dos solos, 44% do total das amostras apresentaram uma acidez neutra (recomendada

para a maioria das culturas). Dentre as diferentes áreas de concessão, as da C.N.A e da

EAVZ-GPZ é que apresentaram maiores percentagens de solos com o pH nesta

categoria, 76.9% e 66.7% respectivamente. A categoria de pH de solos predominante,

após a neutra, foi a de solos moderadamente ácidos com 37.5 porcento das amostras de

todas as regiões. Nesta categoria destacaram-se os solos da SAN-JFS com 51.5% das

amostras, seguida dos solos da área da PLEXUS, com 48% das amostras nesta

categoria. Foram verificados ainda 17.4% das amostras com pH ácido, tendo nesta

categoria mais uma vez se destacado os solos da área de concessão da SAN-JFS

seguidos dos solos da área da PLEXUS, com 27.3 e 24.5 porcento respectivamente.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mos

suriz

e

Mar

ingu

eTo

tal

Acidez ou pH em Água

> 9 Fortemente alcalino

8-9 Alcalino

7.5-8 Moderadamente alcalino

6-7.5 Neutro Muito alta

5.5-6 Moderadamente ácido

5-5.5 Ácido

4-5 Fortemente ácido

<4 Extremamente ácido

Figura 21. Acidez ou pH em água das amostras de solos das regiões de estudo

Estes dados de análises de solos uma vez mais vem corroborar os dados anteriores nos

quais se verificou que os solos da região norte, ou seja Cuamba, Montepuez, Monapo e

Meconta apresentam indícios de degradação devido à cultura do algodão.

3.3.1.8. Disponibilidade de Fósforo

O Fósforo é o segundo nutriente que limita o crescimento das plantas. A disponibilidade

de fósforo é dividida em 3 categorias: alta, média e baixa. Do total das amostras

analisadas, 64.4% apresentaram uma baixa disponibilidade de fósforo, tendo se

destacado os distritos a seguir apresentados em ordem decrescente de baixa

disponibilidade ( Monapo – 83.9%, Montepuez – 77.1%, Meconta – 75.9%, e Cuamba –

70% das amostras). As categorias de alta e média disponibilidade de fósforo foram muito

pouco predominantes, com apenas 24.2% das amostras com alta disponibilidade e 11.3%

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31

das amostras com disponibilidade média. Com alta disponibilidade destacaram-se os

solos do distrito de Maríngue (84.61%) e com disponibilidade média destacaram-se os

solos do distrito de Mossurize (46.7%).

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mos

suriz

e

Mar

ingu

e

Total

Disponibilidade de fosforo ppm (Ohlsen)

> 15 Alta

5-15 Média

<5 Baixa

Figura 22. Disponibilidade de Fósforo em ppm das amostras de solos das regiões de

estudo.

3.3.1.9. Nitrogénio total

O Nitrogénio é um dos nutrientes dos solos assimilado pelas plantas na forma de

amoníaco. Em termos de percentagem de nitrogénio total, 59% do total das amostras de

solos apresentaram muito baixa percentagem de nitrogénio total, onde se destacaram os

solos da área de concessão da SAN-JFS com 93.9%, seguido da PLEXUS com 71.4%, e

da SANAM com 64.3% dos solos nesta categoria. Solos com percentagem de nitrogénio

total moderada perfizeram 14.4% das amostras totais, tendo os solos das áreas da EAVZ-

GPZ e N. Operadores se destacado nesta categoria, com 40% e 35.7% das amostras

nesta categoria.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mos

suriz

e

Mar

ingu

eTo

tal

Nitrogénio Total (%)

>0.30 Muito alta

0.23-0.30 Alta

0.13-0.23 Média

0.10-0.13 Baixa

<0.10 Muito baixa

Figura 23. Percentagem de Nitrogénio total das amostras de solos das regiões de

estudo

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32

3.3.2. Erosão e degradação de solos

A erosão de solos ocorre geralmente quando se cultiva o algodão em áreas com declive

acentuado acima de 12%. Em algumas das localidades, nas regiões de estudo das três

províncias do Norte do país, cultiva-se o algodão em áreas planas daí não haver grandes

problemas de erosão. Entretanto na província de Nampula nos distritos de Meconta e

Monapo foi observada a ocorrência de erosão de solos como ilustrado na Figura 24, bem

como compactação.

Das regiões de estudo, a região de Nampula é a que apresentou problemas graves de

erosão e degradação de solos.

Figura 24 Exemplos de erosão de solos devido a cultura do algodão

Com base nos vários parâmetros analisados pode-se concluir que a cultura do

algodão é levada a cabo em solos recomendados de acordo com a sua textura.

Contudo, devido ao uso intensivo nos últimos anos, alguns solos têm deficiências de

nutrientes tais como Fósforo e Nitrogénio e acidez moderadamente alta. Tais solos

necessitam de medidas correctivas.. Assim, recomenda-se que as empresas

concessionárias implementem programas de gestão de solos. Um programa de

calagem de solos é uma possível solução para a correcção da acidez dos solos. Esta

prática é muito comum em países como o Brazil. A correcção de disponibilidade de

nitrogénio far-se-ia através do uso de matéria orgânica ou da aplicação de um

programa de rotação e/ou consociação de culturas como milho e leguminosas.

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33

Outro aspecto relevante que contribui para a degradação dos solos tem a ver com

práticas culturais, tais como a não observância dos períodos de rotação de culturas.

Como forma de avaliar a intensidade de uso de solos foram incluídas diversas questões

tais como a prevalência do cultivo do algodão nos últimos 5 anos, perspectiva de

produção na campanha seguinte e evolução das áreas de cultivo.

Em relação à prevalência do cultivo de algodão nos últimos 5 anos foi constatado que do

total de entrevistados mais de 70% produz algodão há mais de 5 anos. Nas áreas

concessionadas à EAVZ-GPZ verifica-se menor proporção de produtores com mais de 5

anos e cerca de 50% dos produtores tem menos de 3 anos, tal como ilustrado na Figura

25.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

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e

Mar

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Total

Anos sucessivos de produção de algodão

5 Anos

4 Anos

3 Anos

2 Anos

1 Ano

0 Anos

Figura 25 Prevalência da produção de algodão nos últimos cinco anos nas regiões de

estudo.

3.3.3. Avaliação do grau de desmatação

Como forma de avaliar o grau de desmatamento devido à cultura do algodão, avaliou-se a

perspectiva de produção do algodão na campanha seguinte, a evolução das áreas de

cultivo desta cultura bem como a percepção das direcções distritais de Agricultura e/ou

direcções distritais para Coordenação da Acção Ambiental. Foram colhidas imagens

ilucidativas da situação e também avaliada a percepção dos líderes comunitátios sobre o

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34

efeito da desmatação na alteração da biodiversidade.

3.3.3.1 Perspectiva de produção de algodão na campanha seguinte

Do total de entrevistados, mais de 98 % dos produtores afirmaram que continuariam a

produzir algodão na campanha seguinte à do presente estudo que foi realizado em 2006.

Apenas nas áreas sob concessão da EAVZ-GPZ e CNA é que alguns produtores

afirmaram que não iriam produzir algodão na campanha seguinte. Isto se deve à

introdução nessas áreas de fomento de outras culturas de rendimento como a paprika e

um certo grau de descontentamento dos agricultores com relação a certos procedimentos

das empresas concessionárias, especialmente no que concerne à falta de assistência

técnica.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% de

camponeses por

área

Mon

tepu

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Mon

apo

Mec

onta

Cua

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Mor

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Mar

ingu

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Mos

suriz

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al

Pretende produzir algodão na campanha seguinte

Não vai produzir

Vai produzir

Figura 26 Perspectiva de produção de algodão na campanha seguinte

3.3.3.2. Evolução das áreas de cultivo de algodão

Os resultados são ilustrados na Figura 27. Como pode se observar o distrito de Monapo,

apresenta maiores aumentos de área de cultivo de algodão nos últimos 5 anos. O

aumento na área de cultivo nos últimos 5 anos nas áreas de concessão das diferentes

empresas de fomento variou de 0.5 a 4 hectares, tendo os maiores aumentos sido

verificados nos distritos de Morrumbala de fomento da DUNAVANT, e as maiores

reduções, no distrito de Mossurize, área de fomento da EAVZ-GPZ.

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35

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

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Mon

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Mec

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Cua

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Mor

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Mar

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e

Mos

suriz

eTot

al

Evolução da área de cultivo do algodão

Redução

Manutenção

Aumento

Figura 27. Evolução de áreas de cultivo de algodão nos últimos 5 anos

Como forma de complementar a informação obtida dos produtores, foram feitos inquéritos

aos DDA bem como aos líderes comunitários para obter a percepção destes sobre o

fenómeno de degradação de solos devido ao cultivo do algodão.

Tabela 4. Alguns indicadores de medição do impacto ambiental providos pelas

DDA’s

Distrito

Factores

Desmatamento Mudança

na fauna/flora

Registo de erosão

Problemas de

fertilidade

Contaminação de fontes de

água Montepuez Sim Sim Sim Não Não

Monapo Não Não Sim Sim Não

Meconta Não Não Não Sim Não

Cuamba Não Não Não Sim Não

Morrumbala Sim Não Não Sim Não

Maríngue Não Não Não Não Não

Mossurize Não Não Não Não Não

Na maioria das áreas onde se cultiva algodão pode se observar que a cultura é praticada

em terrenos planos sem risco de ocorrência de erosão. Adicionalmente, a prática dos

agricultores de deixar os restolhos sobre os campos até a campanha seguinte, protege de

certa forma o solo do impacto directo das chuvas, diminuindo desse modo a possibilidade

de erosão dos mesmos, apesar desta prática trazer problemas na perpetuação da lagarta

rosada que fica dormente nos restolhos da cultura até a campanha seguinte.

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Problemas de fertilidade do solo foram reportados em 4 distritos, em que os DDA’s

atribuíram o fenómeno ao cultivo contínuo de culturas. Para minimizar o problema,

algumas DDA’s tem estado a trabalhar com os camponeses em coordenação com o IAM

e com as empresas concessionarias no sentido do introduzir sistemas de poisio, rotação

de culturas e conssociação do algodão com leguminosas para garantir a recuperação dos

solos. Caso concreto dos distritos de Montepuez em Cabo Delgado e Cuamba no Niassa.

3.3.3.3. Constatações sobre o grau da desmatação

A avaliação do grau de desmatação decorrente da cultura do algodão, foi feita à base do

grau de abertura de novas áreas para a produção do algodão. De acordo com análise

anteriormente feita, é nas províncias de Nampula e Zambézia onde se verificou um

aumento das áreas de cultivo do algodão. Em Nampula, o aumento das áreas não está

relacionado com abertura de novas áreas mas sim o aumento das áreas disponíveis para

a cultura do algodão.

O desmatamento segundo os líderes comunitários ocorreu ainda na altura em que a

produção do algodão era feita no sistema empresarial. Um importante aspecto está

relacionado com a preocupação que se teve na conservação de algumas espécies

florestais, conforme ilustrado na Figura 28.

Em relação aos índices usados para medição do impacto ambiental do cultivo do

algodão, a visão da maioria das DDA’s, com excepção de Montepuez e Morrumbala, é

a de que não se pode associar a desmatação ao cultivo do algodão sabido que os

camponeses tendem a usar as mesmas áreas já disponíveis para o cultivo desta

cultura.

Em relação à mudança da fauna e flora, a maioria das DDA’s é de opinião de que

grande parte da mudança na fauna e flora verificada nos últimos anos deveu-se à

guerra. Importa igualmente referir que as DDA’s reconhecem a incidência cada vez

maior de pragas nas culturas agrícolas, em particular na cultura do algodão, que

podem ser causadas pelo desbalanço ecológico da população de pragas e seus

inimigos naturais resultante do uso de pesticidas.

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Figura 28. Conservação de espécies nativas nas regiões algodoeiras

Em relação a mudança na vegetação:

45.2% dos lideres comunitários entrevistados afirmaram ter havido mudança de

vegetação nas suas comunidades devido a abertura de novas áreas para o cultivo.

Porem, afirmaram que a abertura de áreas não foi exclusivamente para o cultivo do

algodão, mas também para o cultivo de outras culturas alimentares e de rendimento.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

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Mon

apo

Mec

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mba

Mor

rum

bala

Mos

suriz

e

Mar

ingu

e

TOTAL

Percepção dos lideres comunitários sobre

mudanças na vegetação

Sem mudanças

Com mudanças

Figura 29. Percepção dos Líderes comunitários sobre mudanças na vegetação

Uma maior percentagem de líderes afirmando observar mudanças foi obtida nos distrito

de Montepuez, enquanto que menores percentagens foram obtidas no distrito de

Mossurize. É preciso contudo ser cauteloso na interpretação destes resultados uma vez

que por exemplo nos distritos de Monapo e Meconta, a mudança ocorreu já á bastante

tempo.

Em relação à mudanças na diversidade faunistica, cerca de 80% dos lideres comunitários

não apontaram haver mudanças devido pratica do cultivo de algodão. Grande parte

afirmou que as mudanças faunisticas que ocorreram foram devido a guerra e não a

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abertura de novas áreas para o cultivo de algodão ou a qualquer actividade relacionada

com o processo produtivo desta cultura.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mos

suriz

e

Mar

ingu

e

TOTAL

Percepção dos lideres comunitários sobre a mudança

na diversidade faunistica

Sem mudanças

Com mudanças

Figura 30. Percepção dos líderes comunitários sobre mudanças na diversidade

faunística

3.3.4. Caracterização da poluição dos recursos hídricos

Para a caracterização da poluição sobre os recursos hídricos foi avaliado o processo de

manuseio de pesticidas incluindo aspectos do treinamento ou assistência técnica

providenciada pelas empresas fomentadoras aos produtores, frequência de aplicação de

pesticidas, dosagens aplicadas, e local de lavagem dos equipamentos de pulverização.

3.3.4.1. Lavagem do equipamento após pulverização

Dos camponeses entrevistados 73.9% afirmaram proceder a lavagem dos equipamentos

após a pulverização, dos quais 22% fazem a lavagem nas margens dos rios, 5.7%

próximo do poço, 4.1% nas margens da lagoa, 51.6% na machamba, 13.95% em casa, e

2.5% em covas abertas para o efeito.

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39

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Pro

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Monte

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Mossu

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Marin

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l

Local de lavagem de equipamentos

Cova

Casa

Machamba

Lagoa

Poço

Rio

Figura 31. Caracterização dos locais de lavagem de equipamentos de pulverização

A percentagem dos camponeses que lavam os equipamentos em casa reflecte a

realidade observada no terreno uma vez que alguns dos campos agrícolas de produção

do algodão estão próximas das zonas residenciais, especialmente nos distritos de

Monapo, Meconta e Cuamba.

3.3.4.2. Caracterização das fontes de água nas regiões de estudo

De maneira simples a contaminação da água pode ser definida como a adição de

substâncias estranhas que deterioram sua qualidade. A qualidade da água se refere à sua

aptidão para usos benéficos, como abastecimento, irrigação, recreação, etc.

As principais fontes de contaminação aquática são as indústrias, a agricultura e os

despejos domésticos. A decomposição natural da matéria orgânica, acumulada em

excesso, causa mudanças drásticas na concentração de oxigênio e nos valores de pH,

que podem ser, às vezes, mortais para os seres vivos.

Várias são as classes de substâncias que podem contaminar a água. Algumas podem

causar turbidez na água (diminuição da transparência), outras aumentar a salinidade ou a

temperatura. Para a caracterização da qualidade da água recorre-se a vários testes tais

como: pH, condutividade, sólidos suspensos, dureza e a cromatografia gasosa.

No total 43 amostras de água foram colhidas nas áreas próximas de áreas de cultivo de

algodão. Destas amostras, 19 foram colhidas em poços e 24 em rios. Para analisar os

níveis de contaminação das águas, as amostras foram submetidas a análise de

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potabilidade e presença de substâncias activas no laboratório do Ministério da Saúde, que

consistiu em determinar: o pH, a condutividade (uS/cm), a turvação (NTU), a cor, a

presença de depósitos, a presença de Nitratos (mg/l de NO3), a presença de Nitritos (mg/l

de NO2), a presença de cloretos (mg/l de Cl), a presença de amoníaco (mg/l de NH4) a

Dureza total (mg/l Ca2CO3) e a presença de pesticidas. 39.53% das amostras analisadas

resultaram em água não potável, enquanto que os restantes 60.47% mostraram ser de

água potável. Contudo, é importante referir que as amostras de água colhidas durante o

trabalho foram menores do que as que se desejaria pelo facto de a colecção de amostras

ter sido conduzida na época seca, em que maior parte das fontes de água se encontrava

seca.

De entre as áreas de concessão das diferentes empresas, o distrito de Cuamba da

empresa San-JFS, Morrumbala e Mutarara da DUNAVANT e Maríngue da CNA, tiveram

todas amostras de água potável, em quanto que os distritos de Montepuez e Meconta

áreas da PLEXUS e Novos Operadores, respectivamente, apresentaram maiores índices

de água não potável, 65% e 55% respectivamente.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

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Mec

onta

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mba

Mor

rum

bala

Mut

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Mos

suriz

e

Mar

ingu

e

TOTAL

Potabilidade das amostras de água colhidas nas

zonas de produção de algodão

Não potável

Potável

Figura 32. Potabilidade de amostras de água nas regiões de estudo

De entre os parâmetros usados para a determinação da potabilidade, os que se

apresentaram mais críticos foram a presença de depósitos, onde 100% das amostras

registou a presença de depósitos.

Para as diferentes amostras houve variação na presença de parâmetros fora do

recomendado, onde para cada um dos parâmetros analisados, as percentagens de

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amostras fora dos padrões foram: 2.33% para o pH fora, 9.3% para a condutividade,

25.58% para a coloração, 25.58% para a turvação, 100% para a presença de depósitos,

0% para a presença de nitratos e nitritos, 4.65% para a presença de cloretos e amoníaco,

e 32.56% para a dureza, o que resultou numa percentagem de potabilidade de 60.47% no

geral.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

PH

Con

duct

ivid

ade

Turv

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3

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tota

l mg/

l...

Pot

abilid

ade

Proporção de amostras dentro dos parametros definidos para

potabilidade

Amostras dentro dos

intervalos admitidos

Amostra for a dos

intervalos admitidos

Figura 33. Proporção de amostras dentro dos parâmetros de potabilidade nas regiões

de estudo

As amostras foram também submetidas à cromatografia gasosa com vista a determinação

da presença de substâncias activas derivados de pesticidas.

3.3.5. Impacto sobre o ar

Os impactos sobre o ar decorrentes da produção do algodão ocorrem na sua maioria

durante o descaroçamento do algodão.

3.3.5.1. Contaminação ambiental nas unidades de processamento

A contaminação ambiental decorrente do acondicionamento do algodão resulta da

Das análises feitas não se detectou a presença de substâncias activas derivadas

de pesticidas. Este facto está em conssonância com os dados relativos ao tipo de

pesticidas em uso nas regiões algodoeiras que se degradam muito rapidamente,

facto que não possibilita a ocorrência de acúmulo.

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emissão de poeiras, e da poluição sonora (Figura 34). O condicionamento do algodão visa

fundamentalmente a separação entre a semente e a fibra, filtrando nisto partículas de

areia e outros contaminantes, fazendo também a selecção de fibras que não satisfazem

os requisitos de qualidade, o que resulta em disperdício.

Figura 34. Contaminação ambiental devido à inceneração de resíduos do

processamento do algodão

Assim, a localização das unidades de processamento deveria ser fora das zonas

residenciais, devido às poeiras que resultam do processamento do algodão. A Figura 33

ilustra uma chaminé de extracção poeiras de uma unidade de processamento de algodão

e mostra poeiras produzidas pela unidade de processamento, e por conseguinte a

poluição atmosférica.

Das visitas realizadas a algumas unidades de processamento foi observado que algumas

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43

unidades não disponibilizam para seus operários os devidos meios de protecção

individual. Contudo em outras unidades onde esses meios são disponibilizados tem se

verificado o seu uso indevido por parte dos operários (desleixo), sem que medidas sejam

tomadas para forçá-los.

3.4. Constatações sócio-económicas

3.4.1. Contribuição do algodão na economia local

Como forma de conhecer a contribuição da cultura do algodão na economia local, foram

incluídos nos questionários perguntas referentes a aspectos sócio económicos cujos

resultados são a seguir analisados.

3.4.1.1. Razões para a produção de algodão na campanha seguinte

Dos entrevistados que responderam positivamente a questão sobre a pretensão de

produção do algodão na campanha seguinte foram questionados sobre as razões para a

produção do algodão. Mais de 90% dos entrevistados afirmaram que iriam produzir

algodão como forma de aumentar a renda familiar, 5% devido à melhoria no preço do

algodão e cerca de 2% devido a baixa renda das outras culturas.

Como forma de ultrapassar problemas de poluição do ar há que incentivar o uso pelas

empresas de meios de retenção de partículas contidas nas emissões como por

exemplo a instalaçao de bag-filters nos extractores de poeiras do processamento

algodão. Em relação à segurança ocupacional dos operários, há que criar programas

de consciencialização de trabalhadores e gestores e treinar os supervisores das linhas

de processamento para monitorar os trabalhadores no uso de dispositivos de

protecção individual.

As empresas devem estar dotadas de pessoal médico treinado para diagnosticar e

tratar problemas de saúde derivados da inalação de substâncias contidas nas poeiras

no ambiente de trabalho. Recomenda-se que nas unidades de processamento se

realizem exames médicos semestrais.

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44

Figura 35. Razão da pretensão de produzir algodão na campanha seguinte.

3.4.1.2. Contribuição do algodão na renda

Para a maioria das famílias, com excepção da área da EAVZ-GPZ, a cultura do algodão é

a que mais contribui na renda familiar, com uma contribuição acima dos 75% conforme

ilustrado na Figura 36.

0%

20%

40%

60%

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100%

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Contribuição do algodão na renda familiar

>75%

50-75%

25-50%

<25%

Figura 36. Contribuição do algodão na renda familiar.

Cerca de 90% da população mostra-se ligada por razões económicas, históricas e

culturais ao cultivo do algodão. Esta importante faixa da população não é

necessáriamente reactiva à volatilidade do preço do algodão nem do das outras

culturas. Estes dados são um importante indicador da importância que a cultura do

algodão desempenha na renda familiar dos camponeses nas regiões produtoras desta

cultura.

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Em todas as áreas visitadas, a prática da cultura do algodão, a venda de animais

domésticos a prática de outras culturas e a carpintaria, apresentadas em ordem

decrescente de importância, constituem as principais fontes de rendimento para as

comunidades. Em algumas comunidades a pesca é outra actividade que garante renda a

família. No grupo das outras culturas praticadas para venda destacam-se o gergelim, o

milho, o amendoim, a mandioca, o girassol, e o tabaco. Contudo, os lideres comunitários

afirmaram que tem enfrentado dificuldades na comercialização das outras culturas e

outros produtos por estes não possuírem um mercado garantido, constrangimento que

não é observado com a cultura do algodão.

3.4.1.3. Evolução do capital humano

No presente estudo, a evolução do capital humano sub-entende a evolução do nível de

escolaridade a membros de um agregado familiar como resultado dos rendimentos desta

cultura. Do total dos entrevistados cerca de 25% não observou evolução do capital

humano como resultado directo dos rendimentos obtidos pela cultura do algodão. Tendo

sido a situação mais grave encontrado nas regiões sob fomento da EAVZ-GPZ com

apenas 20% de evolução e nas regiões da SAN-JFS com cerca de 50%.

0%10%

20%30%40%

50%60%70%

80%90%

100%

Percentagem

de famílias por

área

Plexu

s

Sanam

N. ope

rado

res

San-J

FZ

DUNAVANT

EAVZ-GPZ

C N A

Total

Evolução do capital humano nas famílias dos

camponeses

Não houve

evolução

Houve

evolução

Figura 37. Evolução do capital humano

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3.4.1.4. Melhoria nas condições de vida

Mais de 90% dos entrevistados acredita que a produção do algodão tem contribuído para

a melhoria das condições de vida, reflectidas na construção de habitação melhorada com

cobertura com chapas de zinco, aquisição de meios de locomoção como bicicletas e

motorizadas, roupa e utensílios domésticos. Contudo nas regiões sob fomento da EAVZ-

GPZ 40% dos entrevistados acha que a cultura do algodão não traz benefícios

significativos na sua vida. Estes dados estão em perfeita concordância com as respostas

dadas no tocante à perspectiva de produção do algodão na campanha seguinte, na qual

encontrou-se nestas regiões uma certa proporção de camponeses que não iria produzir o

algodão. Isto pode estar relacionado com a falta de assistência técnica por parte do

fomentador ou outras razões estruturais a serem sanadas por todo sistema, para que a

cultura não seja prejudicada.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% de

familias por

área

Plexu

s

Sanam

N. o

pera

dore

s

San-J

FZ

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C N

ATot

al

Melhoria nas condições de vida das famílias

Não houve

melhorias

Houve

melhorias

Figura 38. Melhoria nas condições de vida

3.4.1.5. Principal actor na produção

60% dos entrevistados afirmaram que o homem é o principal actor na produção do

As constatações acima apresentadas mostram que os camponeses nas zonas

produtoras do algodão usam parte dos rendimentos para o financiamento da

educação dos filhos e, consequentemente, para o desenvolvimento do capital humano

nas regiões algodoeiras. Associado a este aspecto, está também o desenvolvimento

de iniciativas de empreendedorismo alicerçado na cultura do algodão.

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algodão, com particular ênfase no processo de aplicação de pesticidas para o qual

mesmo nas machambas possuídas por mulheres, para as pulverizações sempre solicita-

se a ajuda de um membro de família-homem ou outros camponeses de sexo masculino

para o fazerem.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% p

or

áre

a

Plexu

s

Sanam

N. o

pera

dore

s

San-J

FZ

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C N

ATot

al

Principal actor na produção do algodão

Homem e

MulherTodos

Criaças

Mulher

Homem

Figura 39. Principal actor na produção do algodão nas diferentes regiões

3.4.1.6. Decisão sobre a renda

A decisão sobre os destinos da receita resultante da produção varia de região para

região. Nas regiões de Cabo Delgado e Nampula, na sua maioria o homem é quem

decide sobre o destino dos proveitos. Enquanto que no Niassa, econtramos uma certa

proporção de mulheres que decidem sobre os proveitos. Isto acontece geralmente para

casos em que a mulher é a chefe de família (viúvas).

O uso de mão de obra infantil não é prática comum, mas das entrevistas levadas a

cabo com os líderes comunitários, ficou evidente que as crianças contribuem na

cultura do algodão geralmente no período em que estão de férias ou aos fins de

semana, isto é, quando as crianças não vão à escola, elas ajudam os pais nas

machambas. Contudo, houve relatos de casos em que crianças foram obrigadas a

paralisar a actividade escolar para ajudar na actividade agrícola em especial na época

da colheita. Em algumas regiões, crianças dos 14 a 16 anos têm suas próprias

machambas que produzem algodão e elas próprias fazem a gestão de seus

rendimentos. Neste caso o algodão é modo de vida e de desenvolvimento de

empreendedorismo.

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0%20%40%60%80%

100%

% p

or

áre

a

Plexu

s

Sanam

N. o

pera

dore

s

San-J

FZ

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C N

ATot

al

Poder de decisão sobre as receitas

Todos

Mulher

Homem

Figura 40. Poder de decisão sobre as receitas

3.4.1.7. Percepção dos Líderes comunitários

Em relação a percepção dos líderes comunitários sobre o processo de produção de

algodão nas suas comunidades, várias foram as respostas; tendo se destacado os custos

dos insumos, benefícios da produção de algodão para a comunidade, e apoio prestado

pela empresa concessionaria ou pelo governo aos produtores de algodão. Resultados

sobre a percepção dos líderes comunitários em relação aos custos de insumos estão

representados na Figura 42.

0%

10%20%30%

40%50%60%70%

80%90%

100%

Mon

tepu

ez

Mon

apo

Mec

onta

Cua

mba

Mor

rum

bala

Mar

ingu

e

Mos

suriz

e

TOTAL

Percepção dos lideres comunitários em

relação ao custo dos insumos

Alto

Médio

Baixo

Figura 41. Percepção dos Líderes comunitários em relação ao custo dos insumos.

Dos líderes comunitários entrevistados em todas as áreas de estudo, 53.1% afirmaram

que os custos dos insumos providenciados pelas empresas fomentadoras são bastante

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elevados, chegando em alguns casos a colocar o produtor com dívidas incapazes de ser

cobertas no final da campanha. Casos destes foram reportados em Mapupulo-Montepuez,

na área de concessão da PLEXUS em que alguns produtores foram obrigados pela

empresa a vender outros bens como animais para poder cobrir a divida de insumos para

com a empresa.

Contudo, ao analisar estas constatações com os rendimentos que se verificam nestas

regiões, verifica-se que nas regiões de Maríngue e Mossurize, os rendimentos por hectare

são mais elevados, portanto compensando o esforço feito pelos produtores. Mas por outro

lado, nas regiões de Monapo e Meconta usam uma variedade de semente com

rendimentos baixos, associado com o facto dos solos estarem relativamente esgotados

conforme constatações da análise de solos.

3.4.2. Problemas de saúde

Para a avaliação dos problemas de saúde nas regiões algodoeiras foram realizados

inquéritos aos centros de saúde, às direcções distritais de saúde bem como à percepção

dos produtores e líderes comunitários.

3.4.2.1. Percepção dos centros/postos de saúde

Em relação aos problemas de saúde prevalecentes nas áreas de produção destacam-se:

as diarreias, problemas respiratórios particularmente em crianças, e problemas da pele

(sarnas). Problemas de vista e HIV-Sida, aparecem com uma incidência média, e

finalmente os envenenamentos voluntários resultantes basicamente de problemas sociais.

Neste aspecto, no distrito de Meconta por exemplo foram reportados no ano passado 6

casos de envenenamento que resultaram em óbitos.

É importante referir que na maioria dos casos as doenças mencionadas como

prevalecentes nas áreas produtoras do algodão podem ter outras causas diferentes da

exposição a agrotóxicos usados no processo produtivo.

Para além dos problemas já mencionados, foram reportados casos de mal nutrição nas

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áreas da SANAM, derivados do facto de as terras pertencerem a empresa concessionária

e esta não permitir a produção de culturas alimentares.

Para além da intoxicação com pesticidas, tem se observado em algumas áreas

intoxicação por medicamentos tradicionais, caso de Montepuez. Este aspecto foi

corroborado pelos DDA que também relataram o uso de pesticidas para a captura de

peixe, tendo resultado em alguns casos de intoxicações fatais nos distritos de Cuamba no

Niassa e Mossurize em Manica.

Adicionalmente, foi mencionado nos postos de saúde que os problemas de saúde são

mais relacionados com problemas de saneamento e falta de água. Em algumas

comunidades, como é o caso de Namoro em Montepuez, as senhoras são obrigadas a

percorrer grandes distâncias e a ficar horas nas filas à espera de água. Devido a este

problema, a comunidade tem estado a reunir-se e fazer contribuições com vista a abertura

de poços. Em Nceue por exemplo foi mencionado que as populações tem que percorrer

cerca de 10 km para obter água.

Em algumas regiões, as empresas fomentadoras têm contribuido para a abertura de vias

de acesso para o escoamento da produção. Seria de recomendar que as empresas de

fomento no quadro de suas obrigações socias pudessem contribuir para melhoria da

situação de saúde, através de abertura de furos de água. Isto permitiria o tempo que os

produtores gastam com a procura de água, dedicando-se mais às actividades de

produtivas.

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Tabela 5. Frequência de problemas de saúde nas comunidades

Problemas de saúde (frequência)

Local Diarreias Respiratórios Pele Vista Febres HIV Envenenamentos

Voluntários

Mossurize Alta Baixa Alta Baixa Alta Média Baixo

Marringue Alta Alta Alta Baixa Alta Médio Baixo

Montepuez Alta Alta Alta Baixa Alta Médio Baixo

Meconta Alta Média Alta Baixa Alta Médio Baixa

Monapo Alta Médio Alta Baixa Alta Médio Baixo

Mutarara Alta Média Alta Baixa Alta Médio Baixo

Morrumbala Alta Médio Alta Baixa Alta Médio Baixo

Cuamba Alta Alta Media Média Alta Média Baixa

Causas Falta de água de boa qualidade

Mau manuseio de pesticidas

Falta de água de boa qualidade.

Mau manuseio de pesticidas

Viroses e Mau manuseio de pesticidas

Problemas sociais

Problemas sociais

Soluções aplicadas

Sais de hidratação

Banho diário de hexacloreto de benzeno

Vários antibióticos

Sensibilização Indução de vómito com sabão

Soluções propostas pela equipa

Investimento no saneamento

Educação e consciencialização

Higiene Educação e consciencialização

Cuidados de saúde

Sensibilização Medidas de segurança no uso, armazenamento e manuseio de pesticidas

Nota: frequência baixa (0 a 40%), média (40 a 70%) e alta acima de 70%.

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3.4.2.2. Sobre o uso de pesticidas nas áreas de estudo

Conhecem-se mais de um milhar de espécies de insectos e outras pragas que atacam o

algodão. Cerca de uma centena foram já identificadas em Moçambique (6). Se a maioria

não tern importância de vulto, outras são responsáveis por grandes prejuízos na cultura do

algodão. As principais pragas, além de enfraquecerem as plantas, destroem muitos botões

florais e cápsulas, depreciam a fibra, assim como a semente, cujo teor de óleo e poder

germinativo são muito afectados. Isto significa reduções de produção que se calcula entre 50

e 70% da capacidade potencial do algodão (6), e bem como a desvalorização da fibra, cuja

qualidade é muito prejudicada.

Para o controle destas e de outras pragas, não se deve lançar mão de métodos isolados,

mas sim, utilizar, em conjunto, as diversas estratégias de que se dispõe: a isto se chama

maneio integrado de pragas.

No Maneio Integrado de Pragas – MIP, não se recomenda aplicar piretróides nos

primeiros 70 dias da cultura, visto que, devido à baixa seletividade apresentada por esses

produtos, os mesmos eliminam os inimigos naturais, que são insectos ou aracnídeos

(joaninhas, aranhas, lixeiro, tesourinha, etc.) que se encontram na natureza e atuam

alimentando-se de pragas, parasitando ou devorando os diferentes estágios de seu

desenvolvimento (ovos, larvas, pupas, ninfas ou adultos). Com a eliminação desses

inimigos, as pragas tendem a ter sua população elevada, acima dos níveis de controle

recomendados, aumentando a necessidade de pulverizações.

Segue-se uma indicação e breve descrição das principais pragas, orgaõs da planta que

atacam, medidas de sanidade cultural e produtos químicos recomendados para o seu controlo,

tabela 6. Para cada praga menciona-se o nome vulgar e o nome científico.

3.4.2.3. Tipo de pesticidas usados

Todos os produtores entrevistados mencionaram usar pesticidas, variando o tipo de

pesticidas em função da região e da empresa concessionaria. A tabela 7 descreve de

uma forma sumária o tipo de pesticidas em uso nos últimos 5 anos por empresa

fomentadora.

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De referir que a legislação em vigor em Moçambique recomenda o uso de pestecidas do

grupo toxicológico III (moderadamente tóxicos). A maioria dos pestecidas encontradas

nas zonas algodoeiras pertencem a esta classe toxicológica.

Tabela 6. Principais pragas e medidas de controlo

Nome da Praga Órgão da planta

Medidas de controlo

Grupo de pesticida Vulgar Científico

Nematodos Meloidogyne spp Raízes Rotação Piretroide

Gafanhoto elegante

Zonocerus elegans Folhas Pulverização Piretróides

Siagrus Siagrus spp. Raízes Tratamento pré-sementeira

Piretróides

Formiga branca Microtermes spp. Raízes Tratamento pré-sementeira

Organofosforado

Helopelte Helopeltis schoutedeni Caule e cápsulas

Pulverização Organofosforado

Jassídeo Empoasca facialis Folhas Usar variedades resistentes

Acetamidinas, Organofosforados e piretróides

Afídeo Aphis gossypii Folhas Pulverização Organofosforados e piretróides

Manchadores de fibra

Dysdercus spp. Cápsulas Pulverização Acetamidinas ou piretróides

Percevejos da semente

Oxycarenus spp. Cápsulas Pulverização Acetamidinas ou piretróides

Mosca branca Bemisia tabaci Folha de algodão

Pulverização Organofosforado

Ácaro vermelho Tetranychus spp. Folhas Pulverização Organofosforados

Lagartas Spodoptera littoralis, Xanthodes graellsii

Folhas Pulverização Organofosforados e piretróides

Lagarta vermelha Diparopsis castanea Frutos Pausa cultural Acetamidinas e piretróides

Lagarta americana Heliothis armigera Frutos e flores

Pulverização Organofosforados, piretróides

Lagarta espinhosa Earias biplaga Flores e cápsulas

Pulverização Organofosforado

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Tabela 7. Tipo de pesticidas usados nos últimos 5 anos

Provedor Nome comercial Substancia activa Grupo de pesticida

DUNAVANT

Karate Lambda-Cyhalothrin Piretroide

Fortis xtra Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Volamipride Acetamiprid 222g/l Acetamidine

Endófio 47,5 Endossulfão 35mg/l Organofosforado

Cyper pro Cipermetrina 200g/l Piretroide

Polytrin Cipermetrina 200g/l Piretroide

Dursban Chlorpyrifos 750g/kg Organofosforado

Karate EC Lambda-Cyhalothrin Piretroide

Karate ED Lambda-Cyhalothrin Piretroide

Novos operadores

Volamipride Acetamiprid 222g/l Acetamidine

Fortis c Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Cyper pro Cipermetrina 200g/l Piretroide

Cypermetrina Cipermetrina 200g/l Piretroide

Cyhalon Lambda-Cyhalothrin Piretroide

Karate Lambda-Cyhalothrin Piretroide

Zipper pro Cipermetrina 200g/l Piretroide

Zacanaca Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

SAN/JFS

Monocrofotos 40% Monocrofotos 400g/l Organofosforado

Monopec 40% Monocrofotos 400g/l Organofosforado

Endopec EC Endossulfao 35g/l Organofosforado

Zipper Super 28% EC Cipertrina 30g/l Piretroide

Dimetec 40% Dimetoato 400g/l Organofosforado

Polytrin C440 EC Cypermetrin 4% Organofosforado

Ciclor EC Clorpirifos 600g/l Organofosforado

Volcano cypermethrin 20% EC Cipertrina 125g/l Piretroide

Zipper 20% EC Cipermetrina 200g/l Piretroide

Fortis K 5% EC Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Monosten 25% UL Monocrotofos 250g/l Organofosforado

Volamiprid 22,2% Acetamiprid 222g/l Acetamidine

SANAM

Fortis C Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Fortis K 5% EC Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Volamiprid Acetamiprid 222g/l Acetamidine

Cyper pro Cipermetrina 200g/l Piretroide

Zacanaca 5% Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Karate Lambda-Cyhalothrin Piretroide

PLEXUS

Zacanaca 5% Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Zacanca 10% Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Zacanaca 68,8% Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Zacanaca 8.8% Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Zacanaca 6% Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

C.N.A

Endopec EC Endossulfao 35g/l Organofosforado

Supercal 70% EC Sem informação Sem informação

Volamiprid Acetamiprid 222g/l Acetamidine

Fortis K 5% EC Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

EAVZ-GPZ

Fenikill 20% EC Fenvalerate 200g/l Piretroide

Mospilan Acetamiprid 30g/l Acetamidina

Fortis K 5% EC Lambda Cyhalothrin 50g/l Piretroide

Kerate Lambda-Cyhalothrin Piretroide

Volcano cypermethrin 20% EC Cipertrina 125g/l Piretroide

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3.4.2.4. Doenças e sintomas relacionadas com a exposição aos grupos de

pesticidas

Organofosforados

Organofosfatos são substancias neurotóxicas que reagem de uma forma irreversível com

a enzima acetylcholinesterase, que é responsável por desactivar a acetil colina nas

junções neuromusculares e em algumas synapses no sistema nervoso central e

periférico. Os organofosfatos degradam-se facilmente no ambiente, e por isso seu

acumulo no ambiente é raramente um problema. Não se acumulam nos tecidos dos

animais e por isso a biomagnificação também não constitui problema. Contudo, os

seguintes sintomas podem ser observados em caso de exposição contínua:

• Depressão e insónia • Falta de concentração • Perda de memória • Ansiedade • Irritabilidade • Teratogenicidade (deformação e anomalias do embrião) • Danos no fígado • Efeitos mutagénicos causada por intoxicação aguda • Entorcimento muscular involuntário • Convulsões • Contracção das pupilas dos olhos • Contracção muscular • Dores nas articulações • Fraqueza generalizada • Hipertensão, • Hiper glicemia • Secreção acentuada a partir dos ductos lacrimais, • Transpiração intensa, • Hiper salivação, • Secreções bronqueais acentuadas (cianoses, náuseas, vómitos, dores abdominais

e diareias.

Piretroides

Atacam o sistema nervoso periférico e central, afectando a transmissão de impulsos

eléctricos ao nível do axónio. Inicialmente estimulam as células nervosas a produzir

descargas repetitivas que se traduzem progressivamente em perda de coordenação dos

movimentos, prostração, convulsões e morte.

Acetamidinas

Membros da familia dos neonicotinoides. Agem sobre o sistema nervosa central,

causando um bloqueio irreversível dos receptores de acetil colina nicotinergicos.

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Toxicidade em humanos em caso de exposição contínua pode incluir:

efeitos carsinogénicos,

efeitos na reprodução (má formação do feto),

efeitos no desenvolvimento (Perda generalizada de peso, acompanhada de um

aumento do tamanho do fígado), e

perda de apetite

3.4.2.5. Problemas de saúde devido ao uso de pesticidas

Em relação aos problemas de saúde predominantes nas regiões produtoras de algodão,

os lideres afirmaram que as doenças mais prevalecentes nas comunidades que podem

estar associadas às praticas culturais do algodão são: problemas de pele, irritações à

vista, diarreias, dores de cabeça, para alem dos envenenamentos voluntários devido a

problemas sociais e, envenenamentos involuntários devido a consumo de alimentos

contaminados como é o caso do peixe, em que alguns pescadores usam produtos

químicos para a sua captura.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% de

agricultores

por empresa

Plexu

s

Sanam

N. o

pera

dore

s

San-J

FZ

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C N

ATot

al

Agricultores com problemas de saude causados

pelo uso de pesticidas

Não tem

Tem

Figura 42. Problemas de saúde associados ao uso de pesticidas

3.4.2.6. Principais problemas de saúde

Dos agricultores que afirmaram observar problemas de saúde nas suas famílias devido ao

uso de pesticidas, grande parte, em todas as áreas, reportaram dores de cabeça, enjoos

e tonturas como os que eram observados logo após ou ainda durante a aplicação de

pesticidas. Problemas na pele foi o segundo grande grupo de problemas reportados pelos

agricultores.

Tal como nos centros de saúde, os lideres comunitários afirmaram que as doenças mais

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prevalecentes nas comunidades, que podem estar associadas ao do cultivo do algodão

são problemas de pele, irritações da vista, diarreias, dores de cabeça, para além dos

envenenamentos voluntários devido a problemas sociais e envenenamentos involuntários

devido a consumo de alimentos contaminados como é o caso do peixe.

Figura 43. Tipo de problemas de saúde derivados do uso de pesticidas

Foi difícil relacionar a ocorrência das diferentes enfermidades observadas nas áreas de

estudo, com a exposição à pesticidas. Contudo, através dos sintomas típicos de

intoxicação pelos diversos grupos de pesticidas actualmente em uso na produção do

algodão é possível relacionar a ocorrência de algumas das infermidades predominantes

nas diversa regiões, à utilização destes.

3.4.2.7. Distribuição de pesticidas

Os pesticidas em uso nas regiões algodoeiras variam dependendo do fomentador.

Entretanto a nível nacional, a Agrifocus é a principal importadora de pesticidas, que

depois são vendidas às empresas fomentadores. Alguns fomentadores recebem

agroquímicos da Hygrotech e Agroquímicos. As empresas fomentadores dispõem de

esquema de distribuição de insumos, incluíndo naturalmente os pesticidas, que passa

pelo Director de Operações, Supervisores de área, os Chefes de Zona e no fim os

extensionistas que são os que lidam directamente com os produtores.

Em todas as áreas de estudo, verifica-se a existência de esquema de controlo dos

pesticidas. O único senão que se verifica é o controlo da sua aplicação uma vez nas mãos

dos produtores. Foram relatados casos de agricultores que recebendo quantidades de

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% de familias

por área

Plexu

s

Sanam

N. O

pera

dore

s

San-J

FS

Dun

avan

t

EAVZ-G

PZCNA.

Total

Problemas de saude nas famílas, derivados do

uso de pesticidas

Outros

Pele

Respiratórios

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pesticidas superiores aos necessários para as áreas cultivadas optam por armazenar em

suas casas para uso nas campanhas seguintes. Esta situação resulta em alguns casos da

falsa declaração de área de cultivo e eleva o risco do uso de pesticidas para outros fins.

O presente organigrama (Figura 44) ilustra o circuito de distribuição de insumos e

provimento de treinamento para uso de pesticidas em particular, e a assistência à todo

ciclo produtivo. Este esquema permite que os produtores recebam as quantidades de

pesticidas estritamente necessárias. Acredita-se que devido ao custo dos pesticidas o

sistema não permite que haja acúmulo dos mesmos tanto do lado das empresas

fomentadoras como da dos produtores.

Figura 44. Esquema de distribuição de insumos nas fomentadoras

3.4.2.8. Assistência técnica

Dos camponeses entrevistados 94.3% afirmaram receber assistência técnica das

empresas concessionárias. Os 5.7% que afirmaram não receber assistência técnica

encontram-se maioritariamente na área de concessão da EAVZ-GPZ (61.5% dos

camponeses desta área), havendo contudo uma pequena porção de camponeses que

Director de Operações

Chefes de supervisores

Supervisores

Chefes de supervisores

Chefes de Área

Extensionistas

Produtores

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não recebem assistência técnica nas áreas de concessão dos Novos Operadores (5.3%

dos camponeses desta área) e da SAN-JFS (8% dos camponeses desta área).

0%

20%

40%

60%

80%

100%%

de c

am

po

neses

po

r co

ncessio

nári

a

Plexus

Sanam

N. operadores

San-JFZ

DUNAVANT

EAVZ-GPZ

C N A

Total

Assistencia técnica

Não recebe

Recebe

Figura 45. Assistência técnica aos camponeses

3.4.2.9. Equipamento de pulverização

O equipamento de aplicação de pesticidas usado pelos agricultores é também

influenciado pela empresa fomentadora no local. Contudo, a maioria das empresas

fomentadoras usam a Micro-Ulva, resultando numa percentagem de 92.41% de

produtores que usam Micro-ulva contra apenas 7.59% que usam pulverizadores de dorso.

Os pulverizadores de dorso foram encontrados em Mossurize, nas áreas de fomento da

EAVZ-GPZ.

Percentagem de camponeses em função do

equipamento de aplicação de pesticidas usado

92.41

7.59

0.00

20.00

40.00

60.00

80.00

100.00

Micro-Ulva Pulverizador de dorso

Equipamento

%

Figura 46. Tipo de pulverizador usado

As micro-ulvas para sua operação usam energia fornecida na forma de pilhas secas. As

pilhas normalmente têm um tempo de vida curto e são depois descartadas para o

ambiente. No ciclo produtivo do algodão não existe nenhum programa de recolha destes

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materiais residuais. Sabendo-se que as pilhas na sua composição contém metais

pesados e tóxicos como o chumbo, estas constituem um perigo para a saúde das

comunidades.

3.4.2.10. Frequência de aplicação de pesticidas

Os resultados dos inquéritos mostram claramente dois polos opostos. Enquanto na JFS-

SAN regra geral aplica-se entre duas a quatro vezes, nas áreas concessionadas à

fomentadora EAVZ-GPZ aplica-se pesticidas duas vezes por semana, dando assim cerca

de 28 tratamentos por campanha. Nas áreas sob a jurisdição da SANAM verifica-se uma

certa dispersão com o número de aplicações variando de 3 a 8. Estas variações podem

estar a reflectir o facto de em algumas áreas distribuir-se semente tratada o que reduz a

aplicação de pesticidas logo após a germinação por as sementes estarem protegidas

contra os fungos e sugadores nas primeiras fases.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Plexu

s

Sanam

Nov

os o

perad

ores

San-J

FZ

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C.N

.ATot

al

Frequencia de aplicação de pesticidas28

20

18

15

10

9

8

7

6

5

4

3

2

Figura 47. Frequência da aplicação de pesticidas

Área de acção da EAVZ-GPZ é a mais critica em termos de vezes em que os pesticidas

são aplicados no campo (até 28 vezes por campanha).

3.4.2.11. Dosagens aplicadas na preparação de pesticidas

Em relação a este aspecto, a maioria dos produtores, 89% segue as dosagens

recomendadas nos rótulos dos frascos contendo os pesticidas. Isto pode estar a reflectir

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um aspecto bastante positivo que é a experiência acumulada pelos camponeses na

produção do algodão, conforme mostrado no ponto 3.3.1. Mas este aspecto não deverá

descurar a responsabilidade das empresas de darem assistência técnica no manuseio de

pesticidas, especialmente quando se trata de introdução de novos pesticidas.

Independentemente da concessionária e da dosagem usada, 78.8 % dos agricultores

afirmaram que as quantidades de pesticidas por eles aplicadas nos seus campos são

satisfatórias pois eliminam com sucesso os problemas de pragas que tem enfrentado.

Recomendação sobre dose usada

89.0

7.5 3.4

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

Recomendação

do rótulo

Recomendação

de outros

agricultores

Recomedação

de

extensionistas

% d

e c

am

poneses p

or

cate

goria

Figura 48. Preparação dos pesticidas

3.4.2.12. Equipamentos de protecção

91.7 % dos camponeses entrevistados afirmaram não usar qualquer equipamento de

protecção durante a aplicação de pesticidas. A maioria destes alegam limitação financeira

para aquisição desses mesmos equipamentos. Apenas 8.3% reconheceram usar algum

equipamento, que se resume apenas no uso de mascaras, estando a maioria dos

agricultores deste grupo na área de concessão da DUNAVANT.

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Figura 49. Uso de equipamento de protecção durante a aplicação de pesticidas

3.4.2.13. Saúde e segurança ocupacional nas unidades de processamento

Para a avaliação dos problemas de saúde foram entrevistados operários nas unidades de

processamento. Aspectos sobre horários de trabalho, equipamentos de protecção foram

anotados. Regra geral, na época da comercialização do algodão, as unidades de

processamento operam 24 horas por dia em turnos de 8 horas cada. Devido ao aumento

do volume de trabalho nesta altura, as empresas contratam trabalhadores sazonais.

É aqui onde reside a diferença nas condições de trabalho. Enquanto os trabalhadores

efectivos geralmente tem equipamentos de protecção como botas, uniforme e máscaras.

Os eventuais não dispõem desses meios de protecção. Os maiores perigos para os

operários têm a haver com quedas durante o descarregamento de sacos de algodão,

inalação de poeiras e fibrilha de algodão, manuseio do equipamento de descaroçamento

e fardos.

No processo de acondicionamento do algodão caroço, poeiras e fibrilha são libertados

para o ambiente. Estas partículas do algodão podem ser fonte de doenças pulmonares

para as populações circunvizinhas bem como para os operários quando expostos a

longos períodos, sem uso de equipamentos de protecção como máscaras.

As poeiras podem conter fibras de algodão, fungos, bactérias, areia, pesticidas e outros

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contaminantes. A exposição a partículas do algodão pode causar sérios problemas de

saúde. Os primeiros sintomas são as dificuldades de respiração. Os limites de exposição

médio – também conhecidos como limite de exposição permissíveis – por períodos de 8

horas, estão estimados em 200μg por metro cúbico, de acordo com as normas da OMS.

O processamento da fibra do algodão também pode, por isso, provocar problemas de

saúde ocupacionais devido a não observância de aspectos de segurança e protecção do

trabalhador.

Figura 50. Aspectos de segurança no trabalho. Inapropriada utilização dos meios de

protecção disponíveis.

Assim, nas unidades de processamento visitadas foi possível constatar a existência de

um tratamento diferenciado dos trabalhadores eventuais e efectivos. Regra geral os

trabalhadores efectivos da unidade de processamento dispõem de meios de protecção

como máscaras, capacetes e em alguns casos auriculares.

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Figura 51. Aspectos de segurança no trabalho. Operário sem meios de protecção

adequados.

3.4.3. Práticas culturais

3.4.3.1. Prática de queimadas após a colheita

Regra geral, os camponeses não praticam queimadas descontroladas quer para a

abertura de novas machambas quer para queima de restolhos após a colheita do algodão.

A prática corrente é o corte dos restolhos para depois proceder à queima, conforme ilustra

a Figura 53.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% de

camponeses

por empresa

Plexu

s

Sanam

N. o

pera

dore

s

San-J

FZ

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C N

ATot

al

Queima de restolhos após a colheita

Não queima

Queima

Figura 52. Prática de queimadas após a colheita

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Figura 53. Preparação de solos para nova campanha

Esta prática não está no entanto em sintonia com o previsto na legislação sobre o ciclo

produtivo do algodão. A legislação para o processo produtivo do algodão exige que os

restolhos da cultura sejam queimados logo após a colheita, para quebrar o cilco de

algumas pragas, em particular da lagarta rosada que tem a capacidade de ficar dormente

nos restolhos até a campanha seguinte, podendo servir de reservatório para infestar a

cultura seguinte. Foi observado no campo que o corte e queima dos restolhos é feita

durante a preparação da área para a sementeira seguinte. Esta prática não favorece o

controlo de pragas como a da lagarta rosada.

3.4.3.2. Rotação de culturas

A rotação de culturas além dos benefícios na produtividade, é uma prática que promove a

redução de pragas, tanto no algodão como nas demais culturas que entram no esquema

de rotação, auxilia no controle de ervas daninhas, reduz a erosão e mantém a matéria

orgânica no solo. As culturas que normalmente são usadas em rotação com o algodão

são: gergelim, milho e feijão; soja, amendoim, e sorgo. Exemplos de uma sequência

aconselhável para a rotação: feijão-algodão, milho-algodão, e gergelim ou amendoim-

algodão. O sistema de consociação pode ser vantajoso desde que obsevados os

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aspectos sobre a configuração de plantio a fim de se obter um sistema agrícola eficiente e

mais estável que a monocultura.

Do total de camponeses entrevistados apenas 20% respondeu não fazer a rotação de

culturas, ocorrendo mais nas regiões de Morrumbala e Mossurize onde actuam as

empresas DUNAVANT e EAVZ-GPZ nas quais cerca de 60% dos entrevistados afirma

não fazer a rotação de culturas.

Em Nampula estas práticas foram também observadas em algumas áreas de cultivo que,

pelo Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT), pertencem à empresas

fomentadoras. Nessas áreas a própria empresa autoriza que os camponeses cultivem

apenas o algodão. Caso se verifique baixos rendimentos os camponeses têm de deixar as

áreas em poisio e abrir novas áreas ou explorar as que estavam em poisio, sendo

portanto, esta uma situação lamentável.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

% de

agricultores

por empresa

Plexu

s

Sanam

N. o

pera

dore

s

San-J

FZ

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C N

ATot

al

Rotação de culturas

Não faz Rotação

Faz rotação

Figura 54. Prevalência da rotação de culturas

3.4.3.3. Culturas usadas na rotação

Dentre os agricultores que praticam rotação de culturas, várias são as culturas usadas na

rotação, destacando-se a rotação com cereais nas áreas da EAVZ-GPZ, CNA e PLEXUS.

A mistura de cereais e leguminosas é outra alternativa no processo de rotação, destacada

na área da SAN-JFS. O uso exclusivo de leguminosas nas rotações, é mínimo. Nas áreas

da SANAM e Novos Operadores 65% e 85% dos agricultores, respectivamente, praticam

a rotação usando mandioca.

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67

0%

20%40%

60%80%

100%

% de

camponeses

por área

Plexu

s

Sanam

N. O

pera

dore

s

San-JF

S

Dun

avant

EAVZ-GPZ

C N

ATota

l

Culturas usadas na rotação

Outras culturas e

misturas

Mistura de cereais

e leguminosas

Leguminosas

Cereais

Figura 55. Tipo de culturas usadas para a rotação

Em relação as praticas culturais predominantes na zona, todos os lideres comunitários

afirmaram que as comunidades praticam corte e queima controlada de restolhos após a

colheita do algodão. Também afirmaram não haver registos de queimadas descontroladas

resultantes de abertura de áreas para o cultivo do algodão. As queimadas descontroladas

tem geralmente outros motivos, como a caça e etc.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

PLEXU

S

SANAM

N. O

pera

dore

s

San-J

FS

DUNAVA

NT

EAVZ-G

PZ

C.N

.A

TOTAL

Percepção dos líderes comunitários sobre a

prática da rotação de culturas

Não

Sim

Figura 56. Percepção dos líderes comunitários sobre prática de rotação de culturas

Em relação as rotações, todos os lideres comunitários das áreas da PLEXUS e da San-

JFS afirmaram que as comunidades praticam a rotação de culturas. Contrariamente, os

líderes comunitários da área da DUNAVANT afirmaram que esta pratica não é comum

nesta região.

De seguida é apresentado um resumo das principais constatações dos aspectos

ambientais e sua localização.

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Tabela 8. Mapeamento dos aspectos ambientais

Aspectos ambientais Localização

Cuamba Montepuez Meconta Monapo Morrumbala Mutarara Maríngue Mossurize

Manuseio

de

pesticidas

Poluição de

recursos hídricos

media alta baixa alta media media nulo baixa

Poluição de solos media media media media alta alta alta alta

Assistência

técnica

alta alta baixa alta alta alta baixa baixa

Riscos de doenças médio médio médio médio baixo baixo alto alto

Poluição por

embalagens e

pilhas

sim sim sim sim sim sim sim sim

Cultivo de

algodão

Fertilidade de

solos

média média baixa baixa média média alta alta

Erosão média média média elevada baixa baixa baixa baixa

Queimadas após

colheita

não não não não não não não não

Rotação de

culturas

baixa média baixa baixa média média média média

Degradação da

biodiversidade

média média média baixa baixa baixa média média

Cenário natural Pouco

preservado

perda Pouco

preservado

Pouco

preservado

perda Pouco

preservado

Pouco

preservado

relativa

preservação

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Aspectos ambientais Localização

Cuamba Montepuez Meconta Monapo Morrumbala Mutarara Maríngue Mossurize

Qualidade de

semente

baixa média baixa média baixa baixa alta baixa

Reaproveitamento

de resíduos

não não não sim não não não não

Processam

ento do

algodão

Emissão de

poeiras e fibrilha

rejeitada

sim sim não

existe

sim sim sim sim sim

Uso de DPI fraco fraco fraco fraco médio médio fraco fraco

Aspectos

ergonómicos

sim sim sim sim sim sim sim sim

Problemas de

saúde

ocupacionais

sim sim não sim sim sim sim sim

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4. AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL NO SECTOR DO ALGODÃO

A avaliação do impacto ambiental efectuada neste trabalho tem como principal objectivo

estabelecer procedimentos para a mitigação de impactos ambientais negativos e

potenciar os impactos positivos identificados durante o presente Estudo do Impacto

Ambiental (EIA), assim como identificar as acções, responsabilidades e medidas de

monitoramento de forma a garantir uma maior sustentabilidade no ciclo produtivo do

algodão tanto do ponto de vista ambiental como sócio-económico.

4.1. Convenções internacionais e legislação nacional sobre ambiente e

biodiversidade

O cumprimento de requisitos legais é um dos objectivos essenciais na definição da

política ambiental. O desenvolvimento da estratégia de gestão ambiental para as regiões

de produção de algodão adoptada no presente trabalho baseia-se em acordos e

convenções internacionais. Em primeira instância, são tomadas em conta as

Convenções de Estocolmo e Roterdão. A convenção de Roterdão é particularmente

relevante neste contexto, já que cria oportunidades para que os países sejam informados

da experiência de outros países com produtos químicos perigosos. As ferramentas e os

instrumentos da política para a gestão de risco e os instrumentos da política para a

redução dos mesmos podem ser implementados em Moçambique à luz desta Convenção.

Em Moçambique a questão ambiental começou a ser discutida com mais profundidade

somente a partir de meados da década de 1980. No aspecto legal, Moçambique

estabeleceu desde então legislações ambientais específicas, tratando de assuntos como:

recursos hídricos, recursos minerais, áreas marinhas, pesca e caça, recursos florestais,

turismo, produtos químicos e poluição atmosférica. Criaram-se leis específicas

regulamentando temas como a obrigatoriedade de execução dos EIA (Estudos de

Impacto Ambiental) e dos EAS (Estudos Ambientais Simplificados) através do decreto

45/2004 – Regulamento sobre o Processo da Avaliação do Impacto Ambiental e o

Regulamento sobre Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissões de Efluentes –

Decreto 18/2004 de 2 de Junho. O decreto 45/2004 é particularmente omisso na

categorização das fábricas de processamento do algodão e regula apenas aspectos à

montante e à jusante do objecto do presente trabalho como o fabrico de pesticidas

(inserido no quadro das indústrias químicas) e a pulverização aérea ou no terreno em

áreas, individuais ou cumulativas, superiores a 100 ha. Uma abordagem do programa de

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gestão ambiental virado para o futuro requer a utilização de ferramentas credíveis a nível

internacional como seja o ISO 14001. A série ISO 14001 constitui a pedra basilar deste

trabalho porque não só está em processo de adopção em Moçambique como também

porque constitui a base para obtenção da certificação ambiental a nível internacional que

o IAM terá papel determinante. Conseguir-se-á assim ter empresas com a mais valia de

estarem certificadas e a produzir com qualidade e em conformidade com as regras

ambientais.

A "International Standartization Organization" (ISO) é uma organização, sediada em

Genebra (Suíça), reconhecida e aceite internacionalmente no estabelecimento de normas

técnicas. O INNOQ é o organismo de certificação Moçambicano que lida com a

certificação de sistemas de garantia de qualidade e de produtos no país. Um aspecto

importante salvaguardado na série ISO 14001 refere-se ao facto de o conceito de

qualidade abarcar todas as vertentes da actividade das empresas, entre as quais se inclui

a protecção do ambiente. É importante que o sector algodoeiro Moçambicano se guie por

estas normas porquanto:

as empresas podem encontrar na certificação ambiental um instrumento eficaz

para a melhoria de imagem, para uma melhor integração em termos da

comunidade e da opinião pública e mesmo de acesso a novos mercados;

as empresas certificadas por esta norma a nível internacional solicitarão

seguramente aos seus fornecedores que implementem um sistema de gestão

ambiental ao nível daquele exigido por lei nos seus Países; e

as empresas multinacionais e nacionais voltadas para o mercado externo

introduzem paulatinamente sistemas de gestão ambiental com base na norma

ambiental ISO 14001.

4.2. Mapeamento dos Impactos Ambientais

O cultivo do algodão estimula a economia das regiões rurais bem como a economia

nacional, contudo, tem potencial de trazer consigo problemas ambientais tais como

redução da biodiversidade, degradação e erosão dos solos, poluição dos solos e de

recursos hídricos e problemas de saúde ocupacional das comunidades.

O impacto de uma actividade é uma estimativa do valor que a sociedade atribui aos

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efeitos ou mudanças nas condições ambientais. As várias etapas da produção do algodão

têm um certo potencial de criar diferentes impactos de significância variados. Os impactos

dependem da sensibilidade dos solos locais, o grau de consciencialização dos produtores

bem como dos extensionistas das empresas fomentadoras, a capacidade de monitoria e

da observância dos regulamentos ambientais.

Existem os impactos directos que resultam da própria actividade do algodão tais como o

desmatamento na abertura de novas áreas. Os impactos indirectos são os impactos

gerados pelos impactos directos, tais como a extinção da biodiversidade que existia na

floresta. Os impactos podem ser também cumulativos como os decorrentes do mau

manuseio de pesticidas e consequente acumulação no corpo humano.

Por outro lado, os impactos podem ser reversíveis ou irreversíveis. Os impactos

reversíveis são por exemplo os provocados pelo ruído nas unidades de processamento.

Este impacto termina quando a fábrica não estiver em operação. Os impactos

irreversíveis incluem a extinção da biodiversidade florestal e faunística nas regiões

algodoeiras.

4.3. Impactos Biofísicos da cultura do algodão

Impactos biofísicos são aqueles que afectam o ambiente biofísico. A degradação biofísica

é quase inevitável no cultivo do algodão, contudo, o objectivo deverá ser sempre procurar

minimizar a extensão dos impactos. Na avaliação dos impactos da cultura do algodão no

ambiente biofísico, é importante tomar em consideração que os ecossistemas estão

interligados e não isolados no tempo e no espaço. Por exemplo a pulverização dos

campos de algodão pode resultar na contaminação dos recursos hídricos na vizinhança.

Estes por sua vez são o habitat de mariscos que são a base da alimentação das

populações dessas regiões. A exposição por longo tempo poderá resultar em doenças

tais como crianças com deficiências, mau desenvolvimento psico-motor. Por outro lado a

abertura de áreas de cultivo em terrenos com declive acentuado, acima de 12%, sem

obedecer às curvas de níveis, pode contribuir para erosão acelerada dos solos.

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4.3.1. Impactos no Solo

O cultivo do algodão, abertura de novas áreas, envolve quase que inevitávelmente a

desmatação. A destronca de áreas para o cultivo do algodão, resulta na perda do cenário

natural. E a desmatação está associado com a perda de espécies florestais e faunísticas,

enquanto as florestas contribuem para o equilíbrio dos gases de estufa na atmosfera e o

seu desaparecimento pode resultar no aumento do acúmulo de gases de estufa na

atmosfera contribuindo deste modo para as mudanças climáticas.

4.3.1.1. Degradação dos solos

Impacto normal, negativo, directo e significativo

A desmatação decorrente do preparo dos solos para o cultivo do algodão deixa os solos

expostos. Quando o cultivo do algodão não é feito usando boas práticas, pode resultar na

degradação do solo por perda da fertilidade, devido à quebra do ciclo dos nutrientes bem

como a perda da vegetação e erosão devido às águas pluviais.

De acordo com as constatações no ponto 3 do presente estudo, sobre as práticas

culturais, verifica-se que existe uma grande percentagem, cerca de 50% que não pratica a

rotação de culturas, chegando mesmo a produzir algodão por mais de cinco anos no

mesmo solo. Considerando que os resultados de análise de solos indicam algum nível de

acidez, teores de nitrogénio e fósforo bastante baixos e baixa capacidade de troca de

catiões e conductividade eléctrica, isto poderá de alguma forma, estar associado à

prevalência de práticas culturas nocivos aos solos.

4.3.1.2. Erosão dos solos

Impacto normal, negativo, directo e significativo

A perda de vegetação resultante do cultivo do algodão, deixa os solos expostos aos

agentes de erosão tais como vento e água da chuva. As mudanças na estrutura dos solos

A situação actual deste impacto ambiental nas regiões de estudo é normal, enquanto

a sua classificação é negativa e de efeito directo sobre o ambiente biofísico. O

impacto resultante é significativo.

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devido à perda de vegetação pode aumentar a velocidade de erosão dos solos.

A erosão observada em algumas áreas, com especial ênfase para a região de Monapo

em Nampula, decorre do facto de estes solos terem sido palco a muitos anos sucessivos

de produção de algodão, expondo-os aos agentes de erosão. Como consequência, estes

solos apresentam baixos teores de nitrogénio e fósforo, acidez abaixo de 5.5 e fraca

capacidade de troca de catiões. A acidez elevada contribui para o aumento da velocidade

de lixiviação de nutrientes e consequentemente susceptibilidade a erosão.

4.3.1.3. Poluição dos solos

Impacto normal, negativo, directo e pouco significativo

O cultivo intensivo do algodão pode resultar na necessidade de cada vez maiores

volumes de pesticidas e agroquímicos. Tal aplicação intensiva de pesticidas pode resultar

na contaminação dos solos devido a substâncias residuais e na alteração do pH. Assim,

no presente estudo, observou-se que existe uma alteração da acidez devido ao cultivo do

algodão. As zonas mais afectadas estão localizados nos distritos de Cuamba e

Montepuez onde se verifcam índice de acidez abaixo de pH 6 em mais de 70% de solos.

Cerca de 50% dos solos nos distritos de Meconta e Monapo apresentam índices de

acidez com pH abaixo de 6. Contudo, contráriamente ao que acontence em Monapo em

que foram identificados casos de erosão de solos, os distritos de Cuamba e Montepuez a

situação ainda não se faz sentir na produção.

Esta situação de elevada acidez dos solos está associada ao facto de em algumas destas

regiões não haver práticas de rotação de culturas. A poluição de solos devido a pesticidas

não tem efeito cumulativo tal como referenciado no capítulo 3 devido à natureza dos

pesticidas actualmente em uso que, fácilmente se degradam no meio ambiente, apesar

das práticas de lavagem dos dispositivos de pulverização nas machamabas.

A situação actual deste impacto é normal sendo classificado como negativo, de efeito

directo e significado.

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Para além do aspecto de possível poluição de solos por lavagem de equipamentos de

pulverização existe o perigo de poluição devido aos vasilhames de pesticidas. Sendo

estes fabricados por PVC um material não degradável e perigoso por ser uma fonte de

compostos organoclorados.

O ciclo-de-vida do PVC apresenta uma oportunidade tanto para a formação como para a

descarga de organoclorados e outras substâncias perigosas no ambiente. Quando o ciclo-

de-vida é considerado por inteiro, torna-se claro de que este plástico aparentemente tão

inócuo é um dos produtos de consumo produzido mais perigosos, sob o aspecto

ambiental, por gerar enormes quantidades de organoclorados tóxicos e persistentes,

libertando-os tanto nos espaços internos como externos onde estiverem presentes. O

PVC contribui com uma porção significativa dos níveis mundiais de poluentes orgânicos

persistentes e alteradores do sistema endócrino, incluindo dioxinas e ftalatos, que hoje

estão presentes universalmente tanto no ambiente como nos organismos das populações

humanas. Fora de quaisquer dúvidas, o PVC é causador de consideráveis doenças

ocupacionais e um profundo contaminador dos ambientes locais.

4.3.2. Impacto nos recursos hídricos

Impacto normal, negativo, directo e pouco significativo

O cultivo do algodão contribui para a poluição da água devido à adição de substâncias

activas de pesticidas. Estas substâncias podem contribuir para redução da qualidade da

água, tornando-a imprópria para os seres vivos de que dela dependem. A contaminação

dos peixes por substâncias activas pode se tornar indirectamente num problema de saúde

pública, com sérios impactos sócio-económicos.

Como se pôde constatatar, no presente estudo, o manuseio de pesticidas e alguns

aspectos sócio-culturais constituem um problema de saúde pública. Os casos reportados

em algumas regiões de uso de pesticidas para a captura de mariscos bem como de

Deste modo, pode se considerar que a poluição de solos é causado por vários factores,

desde à alteração do seu pH, o descarte de embalagens de pesticidas e equipamento

de pulverização e também das pilhas usadas como fonte de energia para os

equipamentos de pulverização, sendo sua classificação negativa e com efeito directo.

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envenenamentos voluntários, constituem sérios problemas que devem merecer uma

abordagem que permita reduzir ou eliminar tais práticas através de monitoramento, na

fase de aplicação dos mesmos, de modo a evitar a manutenção de stocks por parte dos

camponeses.

Entretanto, devido à natureza dos pesticidas mais frequentemente usados nas regiões

algodoeiras (a sua rápida degradação no ambiente), não foi possível encontrar vestígios

dos mesmos nos cursos de água na época em que o presente estudo foi levado a cabo.

Contudo foi possível constatar que a maioria das fontes de águas usadas pelos

camponeses não é própria para o consumo humano, o que se reflecte pela dureza dureza

total elevada, o que pode estar relacionado com a degradação dos solos devido a elevada

acidez que leva à lixiviação de catiões e consequente concentração nos lençóis freáticos

e nos rios.

4.3.3. Impacto na qualidade do ar

Impacto normal, negativo, directo e significativo

As unidades de processamento do algodão caroço podem ter uma gama variada de

impactos sobre o ambiente, um dos quais é a qualidade do ar nas redondezas das

unidades fabris. A poluição do ar é originada pela emissão de poeiras e de fibra de

algodão rejeitado. Ambas tem impactos negativos na qualidade do ar e na saúde das

pessoas expostas.

As poeiras e partículas de fibra do algodão com tamanho abaixo dos 10 mm são

particularmente perigosas para a saúde humana uma vez que entram nos alvéolos dos

pulmões afectando a respiração. O efeito das partículas na saúde depende do seu

tamanho, composição química, massa inalada e forma de exposição.

Para além do impacto na qualidade do ar, as unidades de processamento geralmente

quando em operação produzem ruído por vezes de grande intensidade que pode ser

prejudicial para a saúde dos trabalhadores expostos a este impacto.

A situação deste impacto é normal sendo classificado como negativo e de efeito

directo.

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4.4. Impactos Sócio-económicos do algodão

Os impactos do cultivo do algodão no ambiente sócio-económico podem ser positivos e

negativos. Os impactos positivos têm a ver com o aumento da renda familiar, melhoria

nas condições de vida, criação de auto-emprego e emprego formal nas unidades de

processamento. Contudo também origina impactos negativos tais como o aumento do

risco e vulnerabilidade aos problemas de saúde, o uso de mão de obra infantil, a mudança

das formas tradicionais de renda familiar, segurança alimentar e outros. Um dos

objectivos da avaliação ambiental nas regiões algodoeiras é de encontrar soluções para

minimizar os impactos negativos enquanto se optimizam os positivos.

4.4.1. Impacto na saúde

4.4.1.1 Risco de toxicidade, doenças respiratórias e doenças da pele

Impacto normal, negativo, directo/indirecto e significativo

A saúde ambiental se refere à todas as condições do bem estar da população, ou do

ambiente, que é definido por parâmetros tais como características demográficas,

doenças, nutrição, saúde reprodutiva e exposição a substâncias perigosas no ambiente

físico. Por exemplo, o mau manuseio de pesticidas pode causar doenças respiratórias,

doenças de pele e diarreias ou mesmo óbitos. O manuseio de pesticidas sem os devidos

meios de protecção, pode causar doenças nas pessoas que estão expostas a eles.

Conforme foi possivel constatar durante os inquéritos, os agricultores estão expostos aos

pesticidas devido ao não uso de equipamentos de protecção.

Um estudo mais detalhado envolvendo pessoal médico usando metodologias de

diagnóstico directo do efeito de pesticidas na saúde é de se recomendar.

4.4.1.2. Risco de stress, aspectos ergonómicos e vibração

Impacto normal, negativo, directo e significativo

A situação actual deste impacto é normal sendo classificado como negativo e de

impacto directo

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As unidades de processamento tem sempre níveis elevados de perigos tais como ruídos,

calor, movimento de máquinas pesadas e os perigos ergonómicos. Por exemplo na época

da comercialização, a não observância da altura da carga nas viaturas que transportam o

algodão caroço constitui um perigo de acidentes não só para os ajudantes como para os

outros utilizadores das vias públicas.

A falta de consciencialização sobre a importância do uso dos meios de protecção como

máscaras, capacetes, auriculares e luvas para os operários ligados às unidades de

descaroçamento do algodão, constitue perigo na segurança e saúde ocupacional dos

operários.

As fábricas de processamento localizadas próximos das zonas residenciais,

principalmente se não tomam as medidas de precaução necessárias, também constituem

perigo para a saúde pública das comunidades circunvizinhas devido a emissão de

poeiras.

4.4.2. Impacto económico

4.4.2.1. Criação do emprego

Impacto normal, positivo, directo e significativo

O cultivo do algodão tem um grande impacto no emprego, tanto em termos de emprego

para a população local como na atracção de mão-de-obra de outras regiões. A produção

do algodão cria emprego e oportunidades de emprego. Em muitos casos as empresas

fomentadoras oferecem emprego aos locais que não requere nenhuma qualificação e,

consequentemente auferem salários baixos e aos imigrantes de outras regiões com

qualificações específicas, que ocupam posições técnicas ou mesmo de chefia.

4.4.2.2. Crescimento da economia local

Impacto normal, positivo, directo e significativo

A produção do algodão cria oportunidades de emprego temporários e permanentes, o que

O não uso de meios de protecção constitue potencial perigo na saúde e segurança

ocupacional. A situação do impacto é potencial, sendo classificado como negativo e

significativo.

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é benéfico para a economia local. A população local é recrutada e treinada para

desempenhar o papel de extensionistas. Isto permite aumentar o número de pessoas

capacitadas sobre produção agrícola a nível local.

Algumas empresas contribuem para a abertura de vias de acesso para o escoamento da

produção e outras vezes participam na abertura de fontes de água potável contribuindo

deste modo no provimento de infraestruturas básicas às comunidades locais.

O cultivo do algodão muitas vezes cria oportunidades para emergência de negócios de

fornecedores locais de bens e serviços, tais como agroquímicos, factores de produção

(enxadas, catanas e outros). Isto impulsiona a economia local pois garante que o dinheiro

obtido da comercialização do algodão circula a nível local. Cria oportunidade para o início

de pequenenos negócios como lojas e outros. As empresas fomentadoras podem

contratar empresários locais para o transporte do algodão caroço dos campos de

produção para as fábricas de descaroçamento.

4.4.2.3. Impacto na economia nacional

Impacto normal, positivo, directo/indirecto e significativo

A produção do algodão contribui para as exportações o que ajuda na balança de

pagamentos, especialmente para países em desenvolvimento como Moçambique. Deste

modo a produção do algodão joga um papel crucial como actividade básica para o

desenvolvimento e crescimento económico. O cultivo do algodão também pode servir

para motivar o surgimento da indústria téxtil nacional, sector que é reconhecido a nível

global como maior empregador do país, onde desempenhou papel histórico de segunda

fonte de divisas depois do camarão, posição que perdeu nos últimos anos com o

surgimento do alumíno, energia, gás natural e tabaco e o crescimento sector do açúcar.

Mesmo assim matem-se estável entre a quinta e sexta posição ao nível nacional.

O cultivo do algodão tem um impacto directo/indirecto significativo e positivo sobre a

economia nacional.

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4.4.2.4. Mudança nas fontes tradicionais de geração de rendimentos

Impacto normal, positivo, directo e significativo

O cultivo do algodão contribui para geração de rendimentos que não seria fácil obter de

forma segura à base de outras culturas alimentares de rendimento ou mesmo

comercializando produtos naturais. Contudo as comunidades rurais poderão ser

negativamente afectados nos casos em que não praticam a diversificação de culturas, e a

escassez de alimentos os possa afectar, e nesses caso de dependerem totalmente da

cultura do algodão, podem aumentar a sua vulnerabilidade à pobreza.

Para além do sector agrícola, pela natureza do cultivo do algodão exigir elevados níveis

de aplicação de pesticidas, este pode afectar outras actividades como a produção de mel,

devido ao impacto que os pesticidas podem ter sobre a população dos insectos.

4.5. Levantamento e avaliação de aspectos ambientais

A metodologia adoptada para a identificação dos impactos ambientais nas regiões

algodoeiras foi baseada numa análise qualitativa e quantitativa (visitas ao local, recolhas

de amostras para identificação e entrevistas aos stakeholders) e consistiu:

No levantamento de todas as actividades susceptíveis de gerar impactos nos

diferentes meios.

Na identificação dos impactos resultantes de cada actividade.

Para tal, a identificação dos impactos foi efectuada com base no estudo de documentos,

mapas, relatórios e dados recolhidos aquando da fase de estudo de gabinete,

complementados com a fase de estudos de campo, na qual foram recolhidos todos os

elementos e analisados todos os dados que permitiram a identificação dos impactos

ambientais.

Para tanto utilizou-se uma listagem qualitativa e uma matriz bidimensional, que relaciona

acções a serem implementadas com factores ambientais, aos quais foram atribuídas

escalas quantitativas/qualitativas de acordo com a magnitude do impacto no meio

ambiente, bem como a sua significância.

A magnitude se refere à extensão da alteração provocada pela acção sobre o factor

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ambiental e ainda pode apresentar conotações positivas ou negativas. Já a significância

dimensiona a interferência que o factor causa no meio ambiente.

A magnitude e a significância também foram avaliadas considerando-se aspectos como

temporalidade, duração e abrangência dos impactos. A temporalidade é o parâmetro que

regista a relação entre a data da acção dos impactos por ela gerados e se caracteriza

pela acção. A duração avalia o tempo de permanência do impacto, após concluída a

acção que o gerou, caracterizando-se pelos efeitos provocados. Já a abrangência refere-

se à área envolvida pelo impacto.

4.5.1 Critérios de avaliação

Para a avaliação dos impactos ambientais foram considerados os seguintes parâmetros:

situação operacional, classificação de acordo com o efeito, incidência do impacto,

frequência ou probabilidade, severidade e abragência. Estes parêmtros estão resumidos

na Tabela 9a. Para a classificação, foi utilizada uma matriz, apresentada na Tabela 7c,

cuja coordenada da frequência tem cinco categorias, desde “Extremamente remota” até

“Contínua”. A coordenada da severidade, que tem em consideração critérios ambientais,

económicos e de saúde e segurança ocupacional, possuindo quatro categorias, de

“Negligível” a “Alta”. A classificação resultante tem três categorias: Pouco Significativo,

Significativo e Muito Significativo.

Tabela 9a: Critérios de avaliação dos impactos ambientais.

Parâmetro

Descrição

Designaçao

Situação operacional

Normal No

Pontual Po

Emergência E

Classificação Negativo N

Positivo P

Incidência do impacto

Directa D

Indirecta I

Frequência

Contínua -

Frequente -

Ocasional -

Remota -

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Parâmetro

Descrição

Designaçao

Extremamente remota -

Severidade

Negligível -

Baixa -

Média -

Alta -

Abragência

Local -

Regional -

Global -

Significância

Pouco Significativo PS

Significativo S

Muito Significativo MS

Tabela 9b: Matriz de classificação dos impactos ambientais.

Probabilidade Anual Frequência

> 1.0 Contínua

0.1 – 1.0 Frequente

0.01 - 0.1 Ocasional

0.0001 - 0.01 Remota

0.000001 a 0.0001 Extremamente remota

Negligível Baixa Média Alta

Severidade

Tabela 9c: Chave de classificação dos impactos ambientais.

Chave da Classificação

Pouco Significativo

Significativo

Muito Significativo

Os aspectos ambientais mais relevantes resultantes do levantamento efectuado são

apresentados na tabela seguinte:

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Tabela 10a. Levantamento e Avaliação de Aspectos Ambientais – Cultivo do Algodão

Localização Aspecto

ambiental Nº

Impacto ambiental Tipo

Caracterização

Factor

ambiental Situação Classificação Significância

Cam

pos d

e a

lgo

dão

Utilização de

água 1 Biofísico Consumo de recursos hídricos Água No N,D PS

Armazenagem

e aplicação de

pesticidas

2

Bio

físic

o

Contaminação de recursos

hídricos Água Po N,D PS

3 Poluição de solo Solo No N,D PS

4 Ocupação de espaços em

aterros com embalagens Solo No N,D PS

5

Socio

Econó

mic

o Doenças respiratórias,

doenças de pele e diarreias Saúde No N, D S

6 Risco de toxicidade Saúde No N, D & I S

Abertura de

novos campos

de algodão

7

Bio

físic

o

Degradação do solo Solo No N,D S

8 Erosão do solo Solo No N,D S

9 Alteração da biodiversidade Recursos

naturais No N, D S

10 Perda de cenário natural Qualidade

de vida No N, D S

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Tabela 10a. Levantamento e Avaliação de Aspectos Ambientais – Cultivo do Algodão (continuação)

Localização Aspecto

ambiental Nº

Impacto ambiental

Tipo Caracterização

Factor

ambiental Situação Classificação Significância

Cam

pos d

e a

lgo

dão

Cultivo do

algodão

11

Socio

Eco

nóm

ico

Aumento da renda familiar

Qualid

ade d

e v

ida

No P, D S

12 Melhoria nas condições de

vida No P,D S

13 Criação de auto-emprego No P,D S

14

Mudança nas fontes

tradicionais de geração de

rendimentos

No P,D S

15 Biofísico Produção de resíduos sólidos Solo No N, D S

Transporte do

algodao e

insumos

agrícolas

16

Socio

Econó

mic

o

Consumo de combustíveis,

óleos e peças Recursos No N, D S

17 Biofísico Poluição do ar Atmosfera No N, D S

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Tabela 10b. Levantamento e Avaliação de Aspectos Ambientais – Processamento do Algodão

Localização Aspecto

ambiental Nº Impacto ambiental

Tipo Caracterização

Factor ambiental Situação Classificação Significância

Unid

ades d

e p

rocessam

en

to

Processamento do algodão

18

Bio

físic

o

Emissão de poeiras e de fibras de algodão rejeitado

Atmosfera No N, D S

19 Produção de resíduos

Solo e Atmosfera No N, D S

20 Consumo de energia Energia No N, D S

21

Socio

Econó

mic

o Poluição sonora Ambiente sonoro No N; D MS

22 Risco de stress Saúde ocupacional No N, D S

23

Criação de emprego formal

Socioeconómico No P,D S

Movimento de máquinas pesadas

24

Socio

Eco

nóm

ico

Poluição sonora Saúde ocupacional No N,D S

25 Aspectos ergonómicos

Saúde ocupacional No N,D S

26 Vibração Saúde ocupacional No N, D & I S

27

Bio

físic

o Consumo de

combustíveis, óleos e peças

Recursos No N, D S

28 Poluição do ar Atmosfera No N, D S

Utilização de água

29 Biofísico Consumo de recursos hídricos

Água No N,D PS

No – normal, N – negativo, D – directo, S – significativo, PS – pouco sgnificativo, I – indirecto, P – positivo, MS – muito significativo

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4.6. Medidas de mitigação

Após a identificação dos impactos mais significativos, procedeu-se à definiçao de

objectivos e metas a alcançar, de acordo com os requisitos legais e com a política

ambiental, de modo a tornar mais eficaz a utilização dos recursos e a minimizar os

impactos ambientais no processo e cadeia de produção e de valor do algodão.

A definição dos objectivos e metas a atingir no ciclo produtivo do algodão é baseada na

quantificação prévia dos impactos ambientais através da utilização de indicadores

(inicialmente os significativos e, a posteriori, os não significativos). Esta quantificação

possibilitará o acompanhamento e avaliação do cumprimento das metas.

Em termos institucionais, as entidades a envolver na gestão ambiental e socioeconómica

e no monitoramento do cultivo e processamnto do algodão incluem os seguintes

intervenientes:

- Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental a nível Central e Provincial

- Ministério da Agricultura – IAM, DPA e DDA

- Direcções Provincial e Distrital do Trabalho

- Direcções Provincial e Distrital para Coordenação da Acção Ambiental

- Estruturas Administrativas e comunitárias a nível local

Estes intervenientes participarão de forma activa na implementação do Plano de Gestão

Ambiental e nas acções de fiscalização e monitoramento da sua implementação,

conforme as responsabilidades definidas neste estudo e apresentadas na tabela resumo

abaixo detalhada. As actividades descritas nesta tabela sao as que produzem impactos

significativos na cadeia produtiva do algodao.

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TABELA 11a. OBJECTIVOS E METAS - Cultivo do Algodão ACTIVIDADES NO ALGODÃO AMBIENTAL

Nº OBJECTIVO METAS INDICADOR DE DESEMPENHO

Armazenagem e aplicação de

pesticidas

1 Preservar os recursos hídricos

Minimizar os efeitos adversos da contaminação

m3/ha/ano

2 Preservar os solos

Reduzir em 50% a contaminaçao mg/L/ano

3

Reduzir o risco de doenças respiratórias, doenças de pele e diarreias

Minimizar a necessidade de cuidados médicos e poupar recursos

número de casos reportados

4 Optimizar o uso de pesticidas

Maximizar a eficiência das aplicações e poupar recursos

L/ha/ano

5 Reduzir o risco de toxicidade

Criar condições seguras de uso e armazenagem

número de casos reportados

6 Eliminar aterros de embalagens

Reciclar 100% das embalagens de pesticidas

Quantidade/ano

Maneio de Solos

7 Reduzir a degradação do solo

Preservar os solos

ha/ano

8 Reduzir a erosão do solo

Minimizar os efeitos da erosao ha/ano

9 Reduzir a degradação da biodiversidade

Preservar espécies

número de espécies reportado

10 Evitar a perda de cenário natural

Preservar a natureza

número de casos reportados

11

Implementar um modelo de gestao multi-sectorial

Minimizar os efeitos adversos da desmatação

ha/ano

Cultivo de algodão

12

Potenciar o aumento da renda dos produtores

Implementar programas de fomento melhorados

Mt/ano

13 Incentivar o reaproveitamento de resíduos

Implementar a reutilização de resíduos

kg/ano

Transporte do algodão e insumos agrícolas

14

Implementar um modelo eficiente de gestao da frota automóvel

Poupar recursos e evitar danos ambientais

Mt/ano

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TABELA 11b. OBJECTIVOS E METAS - Processamento do Algodão

ACTIVIDADE NO ALGODÃO

Nº OBJECTIVO METAS INDICADOR DE DESEMPENHO

Processamento do algodão

16

Reduzir a emissão de poeiras e fibras de algodão rejeitado

Minimizar a contaminaçao atmosférica

mg/L/ano

17 Reclicar os resíduos

Implementar a reutilização de resíduos

kg/ano

18

Reduzir os problemas de saúde ocupacional

Implementar um programa de conscielizaçao e monitoria

nº de casos reportados

19 Promover a utilização de DPI

Assegurar a utilização em 100% de DPI

nº de trabalhadores usando DPI adequados

20 Optimizar o uso da energia

Maximizar a eficiência do processo produtivo; Implementar auditoris energéticas

kWh/ano

21 Eliminar aterros de resíduos sólidos

Implementar a reutilização de resíduos

Quantidade/ano

22 Reduzir o risco de stress

Implementar métodos de trabalho adequados

nº de casos reportados

23 Melhorar os aspectos ergonómicos

Implementar sistemas de trabalho adequados

nº de casos reportados

Movimento de máquinas pesadas

24 Atenuar os efeitos da vibração

Evitar danos na saúde dos trabalhadores

nº de casos reportados

25

Racionalizar o consumo de combustíveis, óleos e peças

Poupar recursos e evitar danos ambientais

Mt/ano

26 Reduzir a poluição do ar

Reduzir a contaminaçao atmosférica

mg/L/ano

27 Reduzir a poluição sonora

Eliminar o desconforto nos corredores de circulação

dB

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5. PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL DAS ZONAS ALGODOEIRAS

Os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) são uma metodologia construída a partir de

instrumentos de gestão e de actividades ambientais. Têm como objectivo a melhoria

contínua do comportamento ambiental das organizações através da implementação de

acções de prevenção e de remediação de possíveis problemas ambientais, da avaliação

sistemática, objectiva e periódica dos aspectos ambientais da organização, da prestação

de informações ao público e outras partes interessadas, e da participação activa dos

trabalhadores.

A implementação de um SGA é um processo que visa trazer benefícios para as regiões

algodoeiras, dentre esses benefícios se destaca:

poupança de recursos (água, energia, materiais);

redução de custos;

melhoria das condições de higiene e segurança;

prevenção de acidentes ambientais; e

conformidade com a legislação ambiental.

A elaboração do SGA compreendeu as seguintes etapas:

Identificação de aspectos ambientais relevantes e definição de uma política que

estabeleça o compromisso de redução e prevenção dos impactos ambientais.

Análise da legislação vigente aplicável e definição de objectivos e metas. Em

função destes, estabeleceu-se o programa de gestão ambiental, o qual contêm

acções a executar para fazer face aos aspectos ambientais identificados,

salientando as responsabilidades e funções de stakeholders para cada uma das

acções.

A criação do programa nacional para uma sólida gestão ambiental assenta no

desenvolvimento de actividades integradas, ligando todos os aspectos do ciclo de

produção do algodão incluindo preparação dos solos, rotação das culturas, uso de

agroquímicos e seu ciclo de vida que inclui a importação, o armazenamento, o transporte,

a distribuição, o uso e a eliminação dos mesmos, a colheita, transporte, descaroçamento

e condicionamento das fibras e das sementes. Os aspectos ligados à erosão de solos

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devido ao desmatamento, contaminação dos cursos de água e de ambiente bem como

aspectos sócio-económicos serão integrados no plano de gestão ambiental com vista a

garantir a sustentabilidade do ciclo de produção do algodão.

O plano de gestão ambiental toma em conta e particularmente a difícil situação de

Moçambique caracterizada pela:

Falta de informação detalhada de tipos e volumes de pesticidas que estão sendo

trazidos para o país.

Fraco conhecimento por parte dos produtores de algodão sobre como estes devem

ser usados, armazenado e eliminados.

Conhecimento limitado da ameaça que determinados pesticidas representam para

os produtores de algodão.

Ausência de facilidades para a eliminação de pesticidas.

O presente plano de gestão ambiental consiste assim num plano de acção estruturado de

modo a conciliar os objectivos propostos com a sua implementação activa.

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TABELA 12a. PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL - Cultivo do Algodão

OBJECTIVOS METAS ACÇÕES RESPONSABILIDADES ACTIVIDADES PRAZO (TRIMESTRES)

1 2 3 4 5 6 7 8

Preservar os recursos hídricos

Minimizar os efeitos adversos da contaminação por pesticidas

Programa de gestao de recursos hídricos; Plano de formação

IAM; Fomentadores; Produtores; Associações; DPA

Monitoramento dos níveis de contaminação por pesticidas

Preservar os solos Minimizar o empobrecimento de solos

Programa de gestão de solos e calagem

IAM; Fomentadores; Produtores; Associações; DPA

Agricultura de conservação, Rotação de culturas e calagem

Reduzir o risco de doenças respiratórias, doenças de pele e diarreias

Melhoria da qualidade de saúde dos agricultores

Sensibilização e treinamento sobre manuseio adequado de pesticidas

IAM; Fomentadores, DPS

Palestras e/ou cursos de treinamento para os utilizadores

Reduzir o consumo de pesticidas

Maximizar a eficiência das aplicações e poupar recursos

Programa de gestão integrada de pragas

IAM; Fomentadores; Produtores; Associações.

Implementação de programas de maneio integrado de pragas

Eliminar aterros de embalagens, pilhas e equipamentos obsoletos

Reciclar 100% das embalagens, pilhas e equipamentos obsoletos

Programa de gestão de recipientes plásticos e pilhas

IAM; Fomentadores; Produtores; Associações.

Programa de recolha de embalagens, pilhas e equipamentos obsoletos

Reduzir a degradação do solo (compactação)

Evitar a compactação do solo

Programa de desenvolvimento do uso da tracção animal no algodão

IAM; Fomentadores; Produtores; Associações; DPA; DPCOA, e empresas de reclicagem de plasticos

Fomento de tração animal

Reduzir a erosão do solo

Minimizar os efeitos da erosão

Implementar práticas agrícolas anti-erosão

IAM; Fomentadores; Produtores; Associações; DPA; DPCOA

Cultivo em curvas de nível para áreas de declive acentuado, Agricultura de conservação

Evitar a perda de cenário natural

Preservar a natureza

Promover a manutenção de espécies nativas na abertura de novas áreas

IAM; Fomentadores

Programas de consciencialização sobre a importancia da preservação das espécies nativas e ou raras

Potenciar o aumento da renda dos produtores

Implementar programas de fomento melhorados

Melhoria e regulação dos programas de fomento das empresas algodoeiras

IAM; Fomentadores

Melhoria no provimento de insumos, assistencia tecnica aos agricultores e no processo de comercialização

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TABELA 12b. PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL - Processamento do Algodão

OBJECTIVOS METAS ACÇÕES RESPONSABILIDADES Actividades PRAZO (TRIMESTRES)

1 2 3 4 5 6 7 8

Reduzir a emissão de poeiras e fibras de algodão rejeitado

Reduzir a contaminação atmosférica

Implementar o uso de ciclones e filtros de ar

IAM; Fomentadores; Associações; DPCOA

Montagem de ciclones e filtros de ar nas fábricas de descaroçamento

Reduzir os problemas de saúde ocupacional

Utilização em 100% de DPI

Formar quadros nas empresas para a área de saúde ocupacional.

Fomentadores; Associações; DPT

Admissão de pessoal treinado em HST, Estabelecimento de politicas de HST na empresa, Implementar dispositivos legais vigentes

Eliminar aterros de resíduos sólidos (fibra rejeitada)

Reduzir em 100% os resíduos gerados no acondicionamento da fibra

Re-aproveitameto ou incineração da fibra rejeitada

Fomentadores

Identificar mercados para a fibra reciclada, Montagem de esquemas de incineração

Melhorar os aspectos ergonómicos

Implementar sistemas de trabalho adequados

Programa de treinamento e Programa de sensibilização

IAM; Fomentadores; Associações; DPT

Implementação de política de higiene e saúde no trabalho

Incentivar o reaproveitamento de subprodutos

Implementar a reutilização de subprodutos (semente)

Programa aproveitamento de subproductos

IAM; Fomentadores

Construção de unidades anexas de extracção de óleos, produção de farinhas e rações

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6. MONITORIZAÇÃO E MEDIÇÃO

Durante a implementação das acções, é necessário verificar se este processo decorre

conforme o definido e, caso contrário, proceder a acções correctivas. Esta tarefa utiliza a

monitorização, os registos e as auditorias como ferramentas de apoio.

A monitorização dos impactos mais significativos ´no ciclo produtivo do algodao é uma

etapa crucial para o sucesso do Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Para o efeito é

neste trabalho proposto um plano de monitorizaçao sumariamente apresentado na tabela

abaixo.

Tabela 13a. PLANO DE MONITORIZAÇÃO - Processamento do Algodão

OBJECTIVO INDICADOR MÉTODO PERIODICIDADE RESPONSABILIDADE

Reduzir a emissão

de poeiras e fibras

de algodão rejeitado

Unidades de despoeiramento

e de incineração nas

fabricas

Avaliação do

programa Anual IAM, DPCA's

Reduzir os

problemas de saúde

ocupacional

Tecnicos

formados em

HST, Politicas

de HST

Avaliação de

programa Anual IAM, DPT's

Eliminar aterros de

resíduos sólidos

(fibra rejeitada)

Volume de fibra

rejeitada em

aterros

Avaliação do

Programa Anual IAM, DPCA's

Melhorar os

aspectos

ergonómicos

nº de casos

reportados

Avaliação de

programa Semestral

IAM; Empresas de

processamento do

algodão; DPT

Potenciar o

reaproveitamento de

sementes e

subprodutos

Kg/ano Avaliação de

programa Anual

IAM; Empresas de

processamento do

algodão

Uma efectiva implementação dos planos acima propostos tem como pressuposto básico a

criação da necessária competência técnica a nível institucional. Para o efeito está previsto

um plano de treinamento e formação de recursos humanos para a a gestão integrada dos

programas propostos no presente trabalho (ver Capítulo 7).

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Tabela 13b. PLANO DE MONITORIZAÇÃO - Cultivo do Algodão

OBJECTIVO INDICADOR MÉTODO PERIODICIDADE RESPONSABILIDADE

Preservar os recursos hídricos m

3/ha/ano

Análise laboratorial

Semestral IAM; DPA

Preservar os solos Nível de

fertilidade Análise

laboratorial Semestral IAM; Fomentadores

Optimizar o uso de pesticidas L/ha/ano

Avaliação de programa

Semestral IAM; Fomentadores

Reduzir o risco de doenças respiratórias, doenças de pele e diarreias

Número de doentes

registados

Colheita de informação sobre casos

registados nos postos de

saude e na comunidade

Anual IAM; DDS's

Potenciar a utilização de DPI

Trabalhadores usando DPI adequados

Avaliação de programa

Trimestral IAM; Empresas de

processamento do algodão

Eliminar aterros de embalagens, pilhas e equipamentos obsoletos

Volume de material recolhido

Avaliação de programa

Semestral IAM; Empresas de

processamento do algodão

Reduzir o risco de compactação de solos

Número de agricultores praticando

agricultura de conservação e/ou usando

tracção animal

Avaliação de programa

Anual IAM, Fomentadores

Reduzir a erosão de solos ha/ano

Avaliação de programa

Anual IAM; Fomentadores;

Extensionistas

Evitar a perda de cenário natural

Alteração da paisagem

natural e do número de espécies

Avaliação de programa

Anual IAM, DPCA's

Potenciar os benefícios dos produtores Mt/ano

Avaliação de programa

Anual IAM, Fomentadores

6.1. Registos

O funcionamento do Sistema de Gestão Ambiental proposto neste trabalho será baseado

na criaçao de registos de procedimentos, dados de monitorização, resultados de

auditorias, requisitos legais, entre outros documentos. O objectivo destes registos é o de

permitir a verificação da conformidade das actividades de cultivo e processamento do

algodão com os pressupostos estabelecidos no presente trabalho. Neste tipo de sistemas

é frequente a produção excessiva de documentação em papel, que dificulta a sua

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manutenção e controlo dos registos. Por isso, é aqui proposta a utilização de registos

informáticos, sempre que possível.

6.2. Auditoria do sistema de gestão ambiental

As auditorias são a base de um SGA, pois permitem aferir o funcionamento do sistema,

detectar ineficiências e sugerir correcções. Propõe-se neste trabalho um programa de

auditorias que proporcione aos responsáveis do IAM as informações necessárias à

avaliação do comportamento ambiental do sector do algodão e da eficácia do SGA.

Assim, propõe-se a efectivação de auditorias internas pelo menos numa base anual. Para

o efeito, o IAM deve contratar uma empresa externa para a realização da auditoria, ou

solicitar a colaboração de associações de agricultores e de instituições de ensino e

investigação abalizadas. Após a auditoria, deverá ser realizado um relatório onde devem

constar diversas informações sobre a mesma, nomeadamente os aspectos auditados e os

resultados da auditoria. Os resultados destas auditorias deverão ser comunicados às

estruturas provinciais e ao operador e as recomendações implementadas pelo proponente

com base nos requisitos incluídos nos relatórios de auditoria. Propõe-se igualmente que o

IAM proceda ao envio dos relatórios de auditoria, no mínimo, para as seguintes

instituições:

MICOA, MINAG, DPA, DPS, MISAU, ONG´s Ambientais e DDA.

6.3. Factores críticos de sucesso

A actividade agrícola e de processamento do algodão têm uma dimensão espacial e uma

dependência dos factores ambientais intrínseca. Este facto dificulta a implementação e o

controlo de um SGA. No entanto, estas características possibilitam a criação de sinergias

entre as várias actividades, e a resolução de problemas através da sua

complementaridade.

Um dos problemas ambientais básicos da actividade agrícola é a poluição difusa,

causada, entre vários factores, pela contaminação por pesticidas. O controlo destes passa

por capacitação e educação pública. Adicionalmente, esta monitorização pode apenas

mostrar resultados a longo prazo, devido à lenta capacidade de recuperação dos

ecossistemas. Nestas situações, é aconselhável a utilização de indicadores de

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desempenho operacional.

A implementação de um SGA não tem sucesso a longo prazo se os stakeholders não

tiverem consciência da consequência das suas acções e dos motivos de tomar

determinadas medidas. Deste modo, a formação é um factor crítico neste processo,

reforçado pelo facto de, geralmente, a formação dos colaboradores das explorações agro-

pecuárias ser muito baixa.

As questões legais constituem outro aspecto crucial na implementação de um SGA,

constituindo o cumprimento dos requisitos legais um pressuposto base destes sistemas. A

participação activa dos parceiros constitui uma força motriz na implementação de um

SGA, sendo por isso uma condição prévia e um recurso fundamental para uma melhoria

ambiental contínua bem sucedida. A visão comum deste processo, bem como as suas

linhas gerais, deverão ser decididas e conhecidas por todos os stakeholders, para que a

implementação do SGA seja apoiada por todos, e as suas atitudes diárias sejam

coerentes em torno desse objectivo comum.

Outros factores essenciais para o sucesso deste processo são: a confiança entre os

stakeholders (que deve ser estabelecida cedo); tempo (para participar, estabelecer

relações de confiança, aprender, resolver conflitos e gerar soluções); informação efectiva

e de boa qualidade; e comunicação efectiva.

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7. PROPOSTA DE PROGRAMAS, PROJECTOS E ACÇÕES

7.1. Estratégia de consciencialização em HSO no sector do algodão

Objectivo geral

Elevar a consciência dos principais actores na cadeia de produção do algodão sobre HSO

e, assim fazendo, levar os intervenientes a participar activamente na redução de impactos

negativos das actividades de produção e processamento do algodão na saúde humana e

no meio ambiente.

Acções

Potenciar o uso de Dispositivos de Protecção Individual (DPI) quer no manuseio de

pesticidas quer nas unidades de condicionamento do algodão.

Implementar medidas tendentes a melhorar os aspectos ergonómicos nas

unidades de processamento.

Reduzir a poluição sonora e minimizar os impactos do movimento de equipamentos

pesados.

Implementar medidas de segurança no transporte de fardos de algodão.

Adopção de políticas de HST

Educação em matérias de HST

7.2. Programa de gestão de solos

OBJECTIVOS

Os principais objectivos deste programa são os de minimizar os problemas de

empobrecimento de solos, minimizar os problemas de compactação de solos e reduzir a

erosão de solos.

Acções:

Estimular as empresas algodoeiras a incluir nos seus programas de treino e

sensibilização dos agricultores programas de divulgação de boas práticas

agrícolas, como é o caso da rotação de culturas para reduzir o risco de

empobrecimento de solos.

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Potenciar a utilização de planos apropriados de rotação de culturas em função do

tipo de solos.

Calagem de solos para reduzir a acidez

Uso de tração animal para reduzir a compactação de solos

Formação em técnicas de cultivo em curvas de nível para reduzir riscos de erosão

Fomento pecuário

Treinamento no uso da tracção animal na lavoura de campos de cultivo

7.3. Programa de gestão de recursos hídricos

OBJECTIVOS

Preservar a qualidade da água e minimizar o risco de contaminação por pesticidas e

nitratos.

Acções:

Aumentar o nível de conhecimentos sobre os cuidados que os agricultores devem

ter no manuseamento de pesticidas, nomeadamente, local e forma de

armazenagem, local de mistura dos produtos e local de lavagem dos equipamentos

de aplicação e protecção.

Reduzir ou eliminar uso de pesticidas para a captura de peixe.

Melhorar a gestão de pesticidas através de um plano eficiente de armazenagem,

distribuição, uso e controle de pesticidas.

Para as empresas concessionárias, elaboração de um plano mais eficiente de

controlo, e distribuição de pesticidas que garanta o não acúmulo destes a nível dos

agricultores

7.4. Programa de reaproveitamento de subprodutos

OBJECTIVOS

O objectivo deste programa é o de promover o reaprovetamento da semente do algodão

na produção de farinhas de alto valor protéico para alimentação humana (na ausência do

gossipol) e animal.

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Acções:

Implementar programas de inovação e investigação tendentes a aumentar o nível

de conhecimentos sobre a obtenção de subprodutos do algodão tais como farinhas

de alto valor proteico, óleo refinado, torta e farelo.

Reduzir os problemas de malnutrição nas regiões algodoeiras através da inclusão

de farinhas de elevado valor proteico na formulação de pão e outros alimentos, na

ausência do gossipol.

Diversificar os rendimentos do algodão através do reprocessamento de

subprodutos para produtos de elevado valor comercial e protéico.

7.5. Programa de gestão de recipientes plásticos

Objectivo geral:

O sector do algodão implementará programas que visam reduzir o desperdício de

materiais plásticos e reciclar esses materiais na sua totalidade.

Acções:

Criar um sistema de informação dos utilizadores sobre materiais plásticos.

Standardização dos recipientes de plástico para uma única aplicação

As principais responsabilidades dos fomentadores são as seguintes:

Condicionar a disponibilização de insumos à devolução de recipientes da

campanha anterior.

Recolher, condicionar e encaminhar esses materiais plásticos para unidades de

reciclagem

Criar um espaço com condições técnicas e de segurança para recepção e

armazenagem temporária de embalagens de pesticidas e dos resíduos de

embalagens;

Disponibilizar aos produtores sacos de plástico para recolha de embalagens de

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pesticidas e dos resíduos de embalagens;

Receber as embalagens de pesticidas e os resíduos de embalagens provenientes

dos produtores;

Certificar-se de que só as embalagens de pesticidas são recolhidas;

Garantir, tanto quanto possível, que as embalagens recebidas estão limpas e

secas;

Emitir um comprovativo da entrega das embalagens vazias, com identificação do

utilizador final, data e quantidade de resíduos entregues, se solicitado pelo

produtor.

Servir de veículo de comunicação e distribuição de informação ao produtor; e

Prestar informações ao IAM sobre a actividade de recolha de recipientes plásticos

realizada.

7.6. Programa de potenciação de benefícios aos produtores

Objectivo geral:

O principal objectivo deste programa é o de potenciar o aumento da renda aos produtores

Acçoes:

Propor melhorarias e monitorar o sistema de provimento de insumos

Estabelecer padrões de assistência técnica aos agricultores

Estimular o provimento de semente melhorada

Dotar de capacidade humana formada para acompanhamento do processo de

comercialização

7.7. Programa de gestão de emissões de poeiras e fibrilha

Objectivo geral:

Implementar planos de monitorização com vista a acompanhar as diferentes fases do

processamento de algodão. O programa de monitorização a efectuar deverá abranger de

forma interligada a qualidade do ar, qualidade da água, bio-ecologia, ruído, vigilância da

saúde humana, níveis de risco e psicologia social.

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Acções:

Implantar os seguintes sistemas em todas as unidades de processamento do algodão:

Sistema de redução de emissões de Nox;

Sistema de despoeiramento ou retenção de partículas;

Chaminé para emissão dispersiva de gases tratados.

Identificar mercados para a fibra reciclada

Sistemas de incineração de fibrilha.

7.8. Programa de optimização do consumo de pesticidas

Objectivo:

O objectivo principal deste programa é o de implementar técnicas visando o maneio

integrado de pragas e redução do consumo de pesticidas, de modo a aumentar os

rendimentos do cultivo do algodão.

Acções

Optimizar a eficiência das aplicações de pesticidas

Promover a aplicação de pesticidas mais eficientes e mais benignos em relação ao

ambiente

Implementação de programas de maneio integrado de pragas

Monitorar o processo de queima de restolhos no fim de cada campanha.

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8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÃOES

8.1. Conclusões

O cultivo do algodão estimula a economia das regiões rurais bem como a economia

nacional. Contudo, as várias etapas da produção do algodão têm um certo potencial de

criar diferentes impactos de significância variada. Os impactos dependem, de entre outros

factores, da sensibilidade dos solos locais, do grau de conscientização dos produtores

bem como dos extensionistas das empresas fomentadoras, da capacidade de monitoria e

da observância dos regulamentos ambientais e de saude ocupacional.

8.1.1. Sobre os sistemas de produção

O sistema de produção do algodão caroço em Moçambique é caracterizado por uma

produção a nível familiar cobrindo cerca de 95% da produção total, através de fomento

realizado por empresas concessionárias. Existem actualmente 7 empresas fomentadoras

com monopólio nas zonas de influência conforme descrito na tabela 1. Este modus

operandi, está de acordo com o previsto na Estratégia para o Desenvolvimento do

Algodão aprovado pelo Conselho de Ministros em Setembro de 1998.

Da análise dos estatísticos da produção de algodão nas campanhas de 2005/6 pode se

constatar que a qualidade de semente usada apresenta baixos rendimentos. Existe uma

necessidade de se fazer um trabalho de melhoramento da qualidade e variedade da

semente de modo a elevar os índices de produção dos actuais 400 a 500kg/ha para as

médias mundiais de 900 a 1200 kg/ha.

8.1.2. Sobre o ambiente biofísico

Nos campos agrícolas

Os solos das regiões estudadas são adequados para a cultura de algodão, variando a sua

textura desde solos argilosos a solos arenosos. A abertura de novas áreas de cultivo não

obedece a um planeamento específico, resultando daí alguns problemas constatados

quanto à gestão de solos. Das análises de solos realizadas, constatou-se que existe uma

proporção significativa de solos com acidez fora dos padrões recomendados para garantir

um normal crescimento de espécies vegetais. Esta elevada acidez associada ao problema

de não rotações de culturas para a recuperação de nutrientes tem levado a uma

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acentuada degradação de solos caracterizada pela perda de fertilidade e sua

vulnerabilidade à erosão.

A falta de meios adequados para o preparo de solos, especialmente os argilosos, tem

levado a uma acentuada compactação dos mesmos, dificultando deste modo o melhor

desenvolvimento reticular das plantas. Isto tem como consequências baixos rendimentos

devido a incapacidade das plantas de encontrar nutrientes que se encontram mais

profundos. As práticas culturais correntes nas regiões algodoeiras estudadas quer para

abertura de novas machambas quer para remoção de restolhos do algodão, são na base

de queimadas controladas. Contudo observações feitas nas várias regiões, mostram que

tem havido práticas de queimadas descontroladas. As entrevistas aos líderes

comunitários bem como aos DDA indicam que estas práticas estão relacionados com a

caça de animais para alimentação dos camponeses. Há indícios claros de que a prática

de queimadas descontroladas não está relacionada com abertura de novas áreas para a

cultura do algodão.

O uso intensivo de pesticidas, em algumas regiões, tem afectado algumas espécies

faunísticas da mesma família que as pragas que atacam o algodão como o caso de

abelhas.

A actividade algodoeira também provoca impactos negativos sobre os recursos hídricos.

Conforme foi discutido no capítulo 3 sobre locais de lavagem dos equipamentos de

pulverização, algumas das práticas correntes podem provocar a contaminação de

recursos hídricos. A contaminação de recursos hídricos não é decorrente do processo de

pulverização. O maior perigo é o da lixiviação dos minerais das argilas dada a elevada

acidez que foi encontrada poder levar a um aumento de turvação da água tornando-a

imprópria para o consumo. Este aspecto foi detectado na maioria das amostras de águas

analisadas.

Para além do aspecto de lavagem dos equipamentos de pulverização junto aos recursos

hídricos, existe o problema do uso de pesticidas para a captura de peixe relatado em dois

distritos (Cuamba e Mossurize). Fora desta situação, o tipo de pesticidas em uso nas

regiões algodoeiras, são de fácil degradação no ambiente, não constituíndo perigo em

termos de acúmulo a longo termo e sem potencial para impactos ambientais.

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Foi possível constatar no presente estudo que os recipientes são descartados nas

machambas. O mesmo acontecendo com as pilhas usadas nos equipamentos de

pulverização. Tendo em conta os volumes anuais de pesticidas que o sector do algodão

manuseia, é de esperar que haja muitos recipientes e pilhas usadas espalhados nos

campos agrícolas. Estes materiais ao sofrerem a degradação no solo libertam substâncias

perigosas e que a longo termo poderão entrar na cadeia alimentar constituindo perigo

para as populações.

As práticas culturais no que concerne ao tratamento que se dá aos restolhos no fim da

campanha não está de acordo com a legislação e nem com a estratégia de fomento do

algodão. O presente estudo foi realizado no mês de Outubro e nos campos ainda existiam

restolhos o que pressupõe que os restolhos ficaram no campo por mais de três meses

contribuindo negativamente para o maneio de pragas.

Uma das práticas culturais prevista na legislação sobre o fomento do algodão, é o de

incentivar a rotação de culturas como forma de proporcionar o melhor maneio de pragas

bem como uma melhor conservação de solos, reduzindo a sua susceptibilidade à perda

de fertilidade. O presente estudo constatou que em algumas regiões em que os

agricultores não tem o DUAT, as empresa fomentadoras recomendam apenas o poisio,

quando constatam reduções significativas de rendimento.

Nas unidades de processamento

O presente estudo concluiu que as unidades de processamento tem impacto no ambiente

biofísico decorrente da emissão de poeiras e de fibrilha. Estas emissões tem impactos

significativos uma vez que a maioria das unidades de processamento encontram-se

próximo de zonas residencias com uma elevada densidade da população.

As fábricas não dispõe de meios adequados para minimizar o impacto destas emissões

tais como filtros nas chaminés. Para além de que a fibrilha libertada é depositada em

aterros sem as míninas condições de segurança, exposta às chuvas que aceleram a sua

degradação e consequente emissão de mau cheiro. As poeiras podem conter fibras de

algodão, fungos, bactérias, areia, pesticidas e outros contaminantes. A exposição a

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partículas do algodão pode causar sérios problemas de saúde.

8.1.3. Sobre o ambiente sócio-económico

No presente estudo foi possível constatar que a cultura do algodão contribui para a

melhoria da renda e do capital humano das comunidades. O estudo pemitiu concluir

também que a cultura do algodão constitue uma forma de empreendedorismo de jovens

em idade escolar que se envolvem na produção, usando as receitas para auto

financiamento quer na sua educação quer na aquisição de bens pessoais. Tem se

verificado, de forma limitada, o uso de mão de obra infantil na produção do algodão

durante os períodos em que os mesmos não tem actividades escolares.

A distribuição da receita e o principal actor na produção do algodão são factores

associados a aspectos culturais. Nas regiões de Monapo, Meconta, Montepuez e Cuamba

o homem é o principal decisor sobre a renda enquanto nos distritos de Morrumbala,

Mutarara, Maríngue e Mossurize a mulher tem papel na decisão sobre os rendimentos. É

de notar que no caso em que as mulheres são viúvas, elas é que decidem sobre os

rendimentos sem ter que envolver outros membros da família.

Em relação aos problemas de saúde nas regiões produtoras de algodão o presente

estudo constatou que a maioria das doenças são derivadas de saneamento do meio e

falta de água potável. O presente estudo constatou uma má utilização de pesticidas para

resolução de problemas sociais (homicídios voluntários e para uso na captura do peixe).

Quanto ao tipo de pesticidas usados, o presente estudo não constatou o uso de

substâncias proibidas quer pela legislação ambiental nacional quer pelas várias

convecções internacionais de que Moçambique é parte. Devido ao actual sistema de

fomento do algodão, este não permite que haja acúmulo de pesticidas pois os custos de

tal prática incidem directamente sobre a estrutura de custos das empresas fomentadoras.

Um outro aspecto sócio económico importante consiste na abertura de vias de acesso

para o escoamento do algodão, mas de uso generalizado das populações circunvinhas.

Contudo, as empresas fomentadoras não tem contribuído para solução dos problemas

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básicos da população em termos de saneamento do meio e fornecimento de água

potável.

8.2. Recomendações

Nos campos de cultivo

O uso inadequado de áreas para o cultivo do algodão, tem sido referenciado como

principal factor de degradação de solos. Por isso, antes do desbravamento deve-se

proceder a um planeamento racional da capacidade de uso dos solos. Os principais

factores a serem levados em consideração, são: o relevo actual da superfície,

profundidade, drenagem, textura e fertilidade do solo. Deve-se escolher áreas planas e de

relevo não acidentado. Terras com declive acima de 12% devem ser deixadas com sua

vegetação nativa ou exploradas com culturas perenes, pois o algodoeiro é uma das

culturas que mais expõem o solo aos agentes erosivos, sobretudo as águas das chuvas.

Porque o algodão é exigente em nutrientes minerais, a cultura requer solos profundos e

de média a alta fertilidade. Quanto à textura, o algodão se desenvolve satisfatoriamente

em solos a partir dos arenosos até argilosos, desde que existam condições de equilíbrio

entre nutrientes, humidade e aeração. Os solos arenosos são geralmente pobres em

nutrientes e de baixo poder de retenção de água, o que pode ser melhorado com a adição

de matéria orgânica. Os muito argilosos, apesar de ricos em nutrientes, podem prejudicar

o desenvolvimento das plantas, por falta de oxigenação. No entanto, há solos argilosos

bem estruturados, que permitem boa circulação de ar. Isto significa que o algodão pode

ser cultivado em solos de textura variável, porém bem estruturados, com boa drenagem,

fertilidade de média a alta, profundos e relevo plano a pouco ondulado.

Contudo, os de textura mediana, com pH entre de 5,5 e 7,0 são os mais indicados para o

cultivo do algodão, principalmente devido à facilidade de seu maneio. Solos rasos e/ou

com afloramento de rochas, e/ou relevo acentuado (acima de 12%) não devem ser

usados para o algodão, devendo ser ocupados por pastagens, culturas perenes ou

vegetação nativa, de forma que se obtenha o equilíbrio do meio ambiente com a situação

económica da região, visando a proteção ambiental e a sustentabilidade dos sistemas

agrícolas.

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Antes do desmatamento de uma área e, por conseguinte, do preparo do solo, deve-se

efectuar um planeamento racional do uso do solo, para evitar problemas que venham

causar sua degradação. Relevo, pedregosidade, afloramento de rochas, profundidade e

textura do solo são os aspectos que devem merecer mais atenção.

Nas áreas novas, após o desmatamento, destronca e retirada da lenha, os restos da

vegetação cortada devem ser enleirados em nível, com distância de 20 a 30m entre

fileiras. Havendo pedras soltas na superfície, estas poderão ser apanhadas e distribuídas

junto às margens, de maneira que formem muretas de pedra o que deve ser feito,

também, em áreas já trabalhadas. Outras práticas simples de controle da erosão podem

ser usadas como a utilização de terraceamento, que pode controlar mais de 70% da

erosão.

O uso de capinas alternadas e a sementeira de algumas linhas de uma cultura mais

densa (exemplos: gergelim, cana-de-açúcar, capim, sorgo ou feijão) formando faixas de

retenção de água a cada 20m ou 30m, dependendo da declividade, seriam outras

alternativas.

A melhor preparação de solos é aquela que proporciona as melhores condições para

germinação, emergência e desenvolvimento do sistema radicular das culturas, com o

mínimo de operações e sempre conservando o solo. O teor de humidade do solo, no

momento do preparo, é de grande importância. O solo deve ser trabalhado com sua

consistência friável, ou seja, na prática seus torrões podem ser facilmente rompidos em

frações menores, quando comprimidos entre os dedos, sem aderir aos mesmos. Com

esta umidade, qualquer máquina opera com o mínimo esforço, consequentemente

realizando melhores serviços, menos onerosos e com menor risco de compactação do

solo.

O estabelecimento adequado do algodoeiro é a chave do sucesso no empreendimento.

Tarefa das mais importantes, que requer cuidados do qual depende todo o processo

produtivo, compreende a época de sementeira, espaçamento adequado, conssociação

com outras culturas (se for o caso) adubação e sementeira.

A época da sementeira refere-se ao período do ano mais recomendado para se iniciar o

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cultivo de qualquer espécie vegetal, considerando-se que, ao longo do ciclo das plantas, e

em cada estágio de desenvolvimento, devem ocorrer condições ambientais favoráveis.

Assim, se a época de sementeira é determinada directamente pelos fatores climáticos, o

zoneamento determina a época de sementeira. Para o cultivo do algodão, a melhor época

de sementeira é de acordo com o zoneamento sendo muito importante em virtude da

sensibilidade que a espécie possui em relação aos factores ambientais, em especial para

a água, que é o factor mais escasso.

O algodão é uma cultura que não necessita de grandes volumes de água durante seu

ciclo. Deve-se programar a época de sementeira, de forma que a colheita ocorra no

período seco, evitando-se o comprometimento da qualidade da fibra colhida. A época de

sementeira varia de acordo com a região concentrando-se, de Novembro a Maio. O teor

de humidade do solo é de grande significado no momento da sementeira, por facilitar as

operações com o solo, favorecer a germinação das sementes e o desenvolvimento inicial

das plantas, e ainda formar um quadro adequado, razão por que se recomenda a

sementeira nas primeiras chuvas.

Uma prática de importância ímpar é a consciencialização dos produtores de uma mesma

área e dentro de uma mesma região, para que procedam a sementeira na mesma época,

para facilitar o controle de pragas, não devendo ultrapassar 30 dias de uma sementeira

para a outra.

O espaçamento e a densidade de sementeira são aspectos tecnológicos, que definem a

população e o arranjo de plantas, podendo interferir no rendimento e nas operações a

serem realizadas em uma lavoura.

Há contudo necessidade de haver uma conscientização das populações para reduzir

práticas de queimadas.

Das análises de águas realizadas no Laboratório de Água, Higiene e Alimentos do

Ministério da Saúde, não foi detectada a presença de substâncias activas. Contudo existe

uma recomendação da necessidade de realizar uma monitoria durante os períodos de

aplicação de pesticidas como forma de avaliar a quantidade de pesticidas que chegam às

fontes de água.

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Uso de agroquímicos

Muitas vezes, para se obter boa produtividade na actividade agrícola, necessita-se lançar

mão a agroquímicos, seja para o controle de pragas, doenças, plantas daninhas ou para

regular os processos fisiológicos das plantas. Neste caso, deve-se tomar os devidos

cuidados, tanto para comprar, transportar, armazenar como para aplicar esses produtos,

visto que, quando mal manuseados, podem causar graves danos ao ambiente e ao ser

humano. Os principais cuidados que devem ser observados são:

Aquisição - Na aquisição de agroquímicos, o produtor deve consultar um técnico

agrónomo que deverá fazer um diagnóstico adequado e recomendar, se

necessário, o melhor método de controle, modo de aplicação, época, produto e

dosagem necessária, sem danos ao ambiente nem ao homem. Embalagens

danificadas ou com vazamento, não devem ser comercializadas nem adquiridas.

Transporte - Deve ser realizado em camionetas ou tractores mas nunca em carro

fechado e muito menos junto de alimentos, pessoas, animais, medicamentos e

rações.

Armazenamento - Deve ser realizado num edifício próprio para este fim, sinalizado

com placa, com os dizeres “Cuidado, Veneno” , feito de alvenaria , com boa

ventilação e iluminação natural, devendo possuir piso de concreto e ficando

protegido do acesso de crianças e animais.

Manuseio - Após a compra dos produtos, estes devem ser transportados para a

empresa e armazenados em local adequado. A sua aplicação no campo deverá ser

com uso de dispositivos de protecção individual (DPIs), compreendendo,

basicamente, calça e avental impermeáveis, botas de cloreto de polivinilo (PVC),

máscara com carvão ativado para evitar a inalação do produto, óculos para

proteção dos olhos, boné de algodão hidrorrepelente, com abas que protejam o

couro cabeludo e o pescoço, além de luvas de neoprene.

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Aplicação de pesticidas

Na aplicação dos pesticidas há que obedecer às seguintes recomendações:

Vento com velocidade entre 3,2 a 6,5 km/h.

Verificar a ocorrência de vazamentos, bicos entupidos, gastos ou danificados.

Pulverizar na velocidade, com pressão e no horário recomendados pelos

fabricantes.

Utilização de misturas podem ocasionar fitotoxidade, mau funcionamento dos

produtos ou entupimento dos equipamentos.

O desentupimento dos bicos não deve ser feito com a boca. A melhor maneira é

com uma escova de dentes, usada. A utilização de arame pode danificar os bicos.

Após a aplicação, respeitar o intervalo de segurança dos produtos (período entre a

aplicação e a colheita) o que evita a contaminação aos colhedores, assim como o

período de reentrada na área.

Deve-se fazer a lavagem das embalagens três vezes, com vista a possibilitar sua

reciclagem, através de um programa de recolha de embalagens lavadas.

A água a ser utilizada na pulverização, deve ser limpa e de boa qualidade, pois

quando suja pode ocasionar o entupimento dos bicos do pulverizador e prejudicar a

ação dos produtos.

A preparação das misturas (diluição dos pesticidas) deve ser feita em local

específico, com todo cuidado, para evitar derramar o produto no ambiente,

utilizando-se equipamento para dosagem exclusiva para tal fim.

Deve-se exigir, do aplicador, a utilização desses equipamentos, pois em geral

estes não gostam de utilizá-los devido ao desconforto térmico que os

equipamentos proporcionam.

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Antes da compra de pesticidas, deve-se fazer um levantamento dos stocks da

propriedade e consultar um técnico sobre a possibilidade de sua utilização, ao

invés de comprar novos produtos, para evitar a acumulação de produtos que levam

à obsolência destes.

Após a aplicação, lavar os DPls separadamente das roupas da família e tomar

banho logo após a aplicação, com água abundante e sabão.

Parcerias

Com o objectivo de elevar a consciência dos principais actores na cadeia de produção do

algodão sobre higiene e saúde ocupacional foi elaborada uma estratégia de

consciencialização em HSO no sector do algodão. Um possível parceiro para a

implementação deste programa é a Suécia que vem já financiando algumas actividades

deste âmbito na UEM.

A minimização de problemas de empobrecimento de solos é abordada no contexto de um

programa de gestão de solos. Um possível parceiro seria o Fundo Nacional do Ambiente.

Um programa de gestão de recursos hídricos cuida da preservação da qualidade da água

e do problema de contaminação por pesticidas e nitratos. Possível parceiro é o Fundo

Nacional do Ambiente.

A redução da acidez de solos e o melhoramento da retenção de nutrientes e o combate

da erosão dos solos é abordada no programa de calagem de solos. Possível parceiro

Fundo de Fomento Mineiro.

Faz ainda parte deste pacote um programa de reaproveitamento de subprodutos e

resíduos que visa promover o reaprovetamento da semente do algodão na produção de

farinhas de alto valor protéico para alimentação humana e animal e potenciar o

reaproveitamento de resíduos para a criação de produtos de valor acrescentado. Possível

parceiro é a França através do IRD.

Para implementar uma gestão moderna de resíduos que gere benefícios e aumente a

competitividade das empresas do sector algodoeiro e abra novos mercados onde a

qualidade ambiental é uma vantagem tanto para empresa como para sociedade foi

elaborado um programa de reaproveitamento de subprodutos e resíduos. A problemática

da poluição causada por pilhas e acumuladores é tratada no programa de gestão de

pilhas e acumuladores. Um programa de gestão de emissões de poeiras e fibrilha

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contendo planos de monitorização com vista a acompanhar as diferentes fases do

processamento de algodão cuidará da qualidade do ar, qualidade da água, bio-ecologia,

ruído, vigilância da saúde humana, níveis de risco e psicologia social. Finalmente, a

redução do desperdício de materiais plásticos e a reciclagem destes materiais plásticos é

a temática contida no programa de gestão de recipientes plásticos. Possíveis parceiros

são o Fundo Nacional de Ambiente, o Centro Nacional de Produção Mais Limpa e o

Forúm Empresarial para o Meio Ambiente.

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9. REFERÊNCIAS

1. Decreto nº 7/91 de 23 de Abril de 1991

2. Diploma Ministerial nº 91/94, Regulamento para a cultura do algodão

3. Estratégia para o desenvolvimento do algodão, Setembro de 1998

4. Estatísticas 2004 e 2005, Departamento de Estudos e Projectos, Instituto do

Algodão de Moçambique, Maputo.

5. Estatísticas 2005 e 2006, Departamento de Estudos e Projectos, Instituto do

Algodão de Moçambique, Maputo.

6. Carvalho, P.P. Manual do Algodoeiro, Instituto de Investigação Científica Tropical,

Lisboa 1996.

7. Zonas Agro-ecológicas e Sistemas de Produção, IIAM, 2000

8. Avaliação Ambiental Estratégica do PROAGRI, Maputo, Abril de 2004

9. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Cuamba, província do Niassa.

ACNUR/PNUD, Maputo, 1997 e 2005

10. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Montepuez, província de Cabo

Delgado. ACNUR/PNUD, Maputo, 1997 e 2005

11. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Monapo, província de Nampula.

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12. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Meconta, província de Nampula.

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13. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Morrumbala, província da Zambézia.

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14. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Mutarara, província de Tete.

ACNUR/PNUD, Maputo, 1997 e 2005

15. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Maríngue, província de Sofala.

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16. Perfis de desenvolvimento distrital, distrito de Mossurize, província de Manica.

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17. Guidelines for the Environmental Assessment of Coastal Mining, SEACAM,

Maputo, 2003.

18. Viable Options for Smallholder Crop Improvement and Diversification in

Mozambique. Maputo, June 2001.

19. Mozambique Contract Farming and Supply Chain Financing: Issues and

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20. Directrizes para a escolha de uma abordagem participativa de monitoramento

21. Natural Resources Monitoring and Community Based Natural Resource

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22. BEGGS, C. (2002), Energy: Management, Supply and Conservation, Butterworth-

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