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i CAROLINA ASENSIO OLIVA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO TARGET VALUE DESIGN NA GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETO EM EMPREENDIMENTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL CAMPINAS 2014

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CAROLINA ASENSIO OLIVA

PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO TARGET VALUE

DESIGN NA GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETO

EM EMPREENDIMENTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

CAMPINAS

2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO

CAROLINA ASENSIO OLIVA

PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO TARGET VALUE

DESIGN NA GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETO

EM EMPREENDIMENTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Orientador: Prof. Dr. Ariovaldo Denis Granja

Dissertação de Mestrado apresentada a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da

Unicamp, para obtenção do título de Mestra em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, na área de Arquitetura,

Tecnologia e Cidade.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO OU TESE DEFENDIDA PELA ALUNA CAROLINA

ASENSIO OLIVA E ORIENTADA PELO PROF. DR. ARIOVALDO

DENIS GRANJA.

______________________________________

CAMPINAS

2014

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RESUMO

Tradicionalmente, a entrega do produto com maior valor agregado por meio da

elaboração do projeto esbarra nas restrições estabelecidas pelos investidores

(construtoras, incorporadoras), além das dificuldades impostas por um processo de

desenvolvimento do produto altamente fragmentado e onde os interesses individuais das

partes dificultam a possibilidade de colaboração mútua entre todos os envolvidos.

Somando-se a isso, objetivos, meios e restrições mudam naturalmente durante a

definição do projeto até que todos estejam alinhados e mutuamente consistentes entre

si. Essas características fazem com que a aplicação do referencial do Target Value

Design (TVD) possa representar uma importante ferramenta para promover mudanças

na gestão do processo de projeto. O TVD é uma prática de gestão que busca fazer das

restrições de custos do cliente indutores de criatividade de projeto para maior entrega de

valor. Porém, as práticas atuais do processo de projeto no Brasil tendem a ser pouco

colaborativas, fazendo da adoção do TVD nestes contextos bastante desafiadora e um

assunto relevante de pesquisa. Como objetivo, este trabalho almeja desenvolver uma

proposta de aplicação do TVD na gestão do processo de projeto, para empreendimentos

da construção civil no contexto da habitação no Brasil. O método de pesquisa adotado

pode ser dividido em duas etapas: estudo de caso exploratório em construtora e escritório

de arquitetura e na segunda etapa, estudos de casos em duas construtoras. Como

resultado, a pesquisa apresenta um método de integração do TVD em níveis de

colaboração entre os agentes envolvidos no processo. Como principal contribuição,

busca discutir as restrições de custo como indutor de criatividade na gestão do processo

de projeto.

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ABSTRACT

Traditionally, the product delivery with higher benefits, has restrictions imposed by the

investors (building companies, main contractors), in addition to the difficulties imposed by

a highly fragmented product development process where individual interests difficult the

possibility for collaboration between all involved. Furthermore, objectives, means and

restrictions change naturally during design definition until everything is aligned e

consistent between one another. These characteristics point out that the Target Value

Design (TVD) theory can represent an important tool to incentive changes in the design

process management. The TVD is a practice that turn the customer´s restrictions into

triggers for creativity, delivering more benefits for this costumer. Nevertheless, the current

design process practices in our country are low collaborative, making the TVD adoption a

great challenge in these contexts and is worthy a deeper research. As main theme, this

work aims to develop a proposal for TVD integration into the design process management,

for housing products in construction industry in Brazil. The research method is divided into

two phases: exploratory case study in building companies and architecture´s office, and

the second stage: case study in two building companies. As a result, the research

presents a TVD integration method based on levels of collaboration. As main contribution,

this work seeks to discuss cost restrictions as a trigger for creativity in the design process

management.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA................................... 1

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ...................................................................................... 5

1.4 RESULTADOS ESPERADOS .................................................................................... 5

1.5 RESUMO DO MÉTODO DE PESQUISA ................................................................... 6

2. GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETO ................................................................ 9

2.1 GESTÃO TRADICIONAL DO PROCESSO DE PROJETO .................................... 9

2.2 GESTÃO LEAN DO PROCESSO DE PROJETO (LEAN DESIGN

MANAGEMENT) ............................................................................................................ 15

2.2.1 O Lean no desenvolvimento de produtos .............................................................. 15

2.2.2 O Lean no processo de projeto e na construção civil ............................................ 20

3 CUSTEIO-META (TARGET COSTING) e TARGET VALUE DESIGN (TVD) .............. 23

3.1 O CUSTEIO-META................................................................................................... 23

3.1.2 O papel do CM no gerenciamento de custos ........................................................ 26

3.2 FATORES QUE INFLUENCIAM A APLICAÇÃO DO CM ......................................... 28

3.3 O CM NA CONSTRUÇÃO CIVIL .............................................................................. 30

3.3 O TARGET VALUE DESIGN (TVD) ......................................................................... 31

4 CASOS REPORTADOS NA LITERATURA DE CM E TVD ......................................... 37

4.1 ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO CM NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO EXTERIOR ...... 37

4.1.1 Projeto centro atlético do St Olaf College .............................................................. 37

4.2 PROJETOS COM APLICAÇÃO DO TVD ................................................................. 38

4.3 ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO CM NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL ............ 39

5 MÉTODO DE PESQUISA ........................................................................................... 47

5.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA ................................................................................. 47

5.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ............................................................................ 49

5.3 ESTUDO DE CASO NA C/I1 E EA – DESCRIÇÃO DOE STUDO DE CASO 1 E DAS

EMPRESAS CONSULTADAS ........................................................................................ 50

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5.4 EESTUDO DE CASO NA C/I 1 E C/I – DESCRIÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO 2 E

3 E DAS EMPRESAS CONSULTADAS ......................................................................... 53

6 DADOS COLETADOS E ANÁLISE ............................................................................. 55

6.1 COLETA DE DADOS E ANÁLISE – FASE 1 ............................................................ 56

6.1.1 – Análise dos dados – Fase I ................................................................................ 61

6.2. COLETA DE DADOS E ANÁLISE – FASE 2 ........................................................... 63

6.2.1 Análise dos dados – Fase II .................................................................................. 66

6.3 COLETA DE DADOS – MÉTODO DE MATURAÇÃO PARA ADOÇÃO DO TVD .... 72

7. PROPOSTA PARA INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÃO DO PROCESSO DE

PROJETO ...................................................................................................................... 77

7.1 PROPOSTA PILOTO PARA INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÃO DO PROCESSO

DE PROJETO ................................................................................................................ 77

7.2 PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÇAO DO PROCESSO DE

PROJETO EM NÍVEIS DE COLABORAÇÃO ................................................................. 80

7.3 AVALIAÇÃO DA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÃO DO

PROCESSO DE PROJETO ........................................................................................... 84

8. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 89

8.1 LIMITAÇÕES DA PESQUISA .................................................................................. 90

8.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS........................................................ 91

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 93

9. APÊNDICE .............................................................................................................. 97

9.1 QUESTIONÁRIOS REALIZADOS NA EMPRESA- FASE 1 ................................. 97

9.2 QUESTIONÁRIOS REALIZADOS NAS EMPRESAS – FASE 2 ......................... 103

9.2.1 Entrevistas na C/I 1 para o PH 1 ..................................................................... 103

9.2.2 Entrevistas na C/I 2 para o PH 2 ..................................................................... 113

10 ANEXOS............................................................................................................. 127

10.1 PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA” ................................................... 127

10.1.1 Características gerais do Programa .................................................................. 127

10.1.2 Análise e Aprovação dos Empreendimentos ............................................... 129

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que participaram deste trabalho de forma direta ou indireta;

Ao meu marido, por sua compreensão, e aos meus pais por seu incentivo para que eu

realizasse o mestrado e à minha irmã, por ser uma boa ouvinte;

Ao Professor Ariovaldo Denis Granja, pela orientação, compreensão e ensinamentos;

À Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, pela

oportunidade;

À CAPES e à FAPESP, pelo apoio financeiro;

Às empresas e profissionais entrevistados neste trabalho, por seu tempo e informações

compartilhadas;

Aos colegas do grupo de pesquisa do LARGERCON, Joyce de Andrade Ruiz,

Alessandra Yokota e em especial Reymard Sávio de Melo, e todos os demais, pelas

conversas e feedbacks durante este trabalho;

À amiga Jéssica Valejo Franco, pelo compartilhamento de artigos e textos e discussões

sobre os temas deste trabalho;

À Professora Zofia Rybkowski, por todo conhecimento, amizade e ensinamentos

compartilhados e à Texas A&M University por ter me proporcionado uma oportunidade

de aprendizado única;

Aos professores Flávio Augusto Picchi e Márcio Minto Fabrício por suas contribuições

na fase de qualificação,

Aos professores Flávio Augusto Picchi e Luciana Ines Gomes Miron, por seus

importantes insights na banca de defesa,

E todos que auxiliaram de alguma forma e não estão citados aqui, sintam-se incluídos

em meus agradecimentos.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Síntese geral do processo de projeto ................................................................ 9

Figura 2 - Representação gráfica das fases do processo de projeto em edificações ..... 10

Figura 3 - Esquema genérico de um processo sequencial de desenvolvimento de

projeto em edifícios – participação dos agentes ............................................................. 12

Figura 4 - Interfaces do processo de desenvolvimento de produto na construção de

edifícios .......................................................................................................................... 12

Figura 5 Modelo genérico para organização do processo de projeto de forma integrada

....................................................................................................................................... 14

Figura 6 - Categorias de dispersão ................................................................................ 17

Figura 7 - Tripé de sobrevivência, segundo Cooper e Slamulder (1997; 1999) ............. 25

Figura 8 - Zona de Sobrevivência de um produto, segundo Cooper e Slagmulder (1997;

1999) .............................................................................................................................. 25

Figura 9 - Síntese do delineamento da pesquisa ........................................................... 50

Figura 10 - Etapa 1 – Encomenda do Produto (adaptado do manual de boas práticas de

projeto fornecido pela C/I) .............................................................................................. 56

Figura 11 - Etapa 2- Definição do Produto (adaptado do manual de boas práticas de

projeto fornecido pela C/I) .............................................................................................. 57

Figura 12 - Etapa 3 - Identificação e Soluções (adaptado do manual de boas práticas de

projeto fornecido pela C/I) .............................................................................................. 58

Figura 13 - Etapa 4 – Projeto Detalhado (adaptado do manual de boas práticas de

projeto fornecido pela C/I) .............................................................................................. 58

Figura 14 - Proposta piloto para incorporação do CM/TVD na gestão do processo de

projeto ............................................................................................................................ 78

Figura 15 - Níveis de colaboração e relação com os princípios do TVD ........................ 83

Figura 16 – Níveis de colaboração C/I 1 ........................................................................ 85

Figura 17 - Níveis de colaboração C/I 2 ........................................................................ 86

Figura 18 – Síntese para diagnóstico da empresa e direcionamentos para planos de

ação – integração ........................................................................................................... 88

Figura 19 - Trâmite de aprovação de novo empreendimento pelo AF ......................... 130

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Contramedidas que os cinco princípios apresentam contra os desperdícios

durante o desenvolvimento de produtos.................................................................... 19

Quadro 2 - Contramedidas que os cinco princípios apresentam contra os desperdícios

durante o desenvolvimento de produtos.................................................................... 20

Quadro 3 - Síntese dos fatores de influência para aplicação do CM ......................... 28

Quadro 4 - Princípios do TVD segundo Ballard (2011) ............................................. 33

Quadro 5 - Estudo dos empreendimentos ................................................................. 38

Quadro 6 - Características dos empreendimentos analisados .................................. 39

Quadro 7 - Características que representam obstáculos ou favorecem a aplicação do

CM ............................................................................................................................. 40

Quadro 8 - Síntese comparativa dos casos estudados ............................................. 41

Quadro 9 - Etapas da primeira etapa da pesquisa .................................................... 51

Quadro 10 - Etapas da segunda fase da pesquisa ................................................... 54

Quadro 11 - Síntese da análise dos dados coletados - Produtos voltados para o

PMCMV ..................................................................................................................... 60

Quadro 12 - Análise e síntese dos dados coletados na C/I 1 – Fase II ..................... 64

Quadro 13 - Análise e síntese dos dados coletados na C/I 2 – Fase II ..................... 65

Quadro 14 - Síntese comparativa dos casos estudados ........................................... 69

Quadro 15 - Prazo para implementação de mudanças para integração dos princípios do

TVD ........................................................................................................................... 81

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LISTA ALFABÉTICA DE SIGLAS

ABSMC - Alta Bates Summit Medical Center Patient Care Pavilion

AF – Agente Financiador

C/I – Construtora/Incorporadora

CM – Custeio Meta

EA – Escritório de Arquitetura

PH – Produto Habitacional

PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida

SM – Salários mínimos

SMCCV - Sutter Medical Center at Castro Valley

TC – Target Costing

TVD – Target Value Design

UCSF - UCSF Medical Center at Mission Bay

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

Nos últimos anos, o Brasil tem experimentado um crescimento de lançamentos

imobiliários, impulsionado, entre outros, por facilidades na obtenção de financiamentos

imobiliários. Isso tem possibilitado que uma maior parcela da população tenha condições

de adquirir moradia própria, num país onde o déficit habitacional é de cerca de 5,6

milhões de habitações, segundo a Fundação Getúlio Vargas (PNAD - Pesquisa Nacional

por Amostra de Domicílios - 2009).

A construção civil passou a apresentar grande número de lançamentos destes

produtos, que frequentemente esbarram nas questões de qualidade do produto final

entregue, com restrições orçamentárias sempre presentes, elaborado por um processo

de projeto altamente fragmentado e marcado por relações de interesses, muitas vezes

conflitantes. Soma-se a isso grande desperdício de tempo com retrabalhos durante este

processo tradicional de desenvolvimento de projeto, além dos desperdícios

contabilizados na fase de execução (FABRÍCIO; MELHADO, 2001).

O Lean Thinking traz princípios valiosos para a redução de desperdícios de tempo,

materiais, retrabalho, gerenciamento de pessoas e materiais, entre outros. Um dos

elementos importantes do Lean Thinking é o Custeio-meta (CM) (ou Target Costing, em

inglês). Sua integração ao processo de projeto pode se constituir num importante

elemento para uma estratégia lean de gestão de processo de projeto (lean design

management) (EMMITT, 2011).

Para muitos autores, o CM tem suas origens na indústria automobilística japonesa

no início dos anos 1960, como uma estratégia de redução de custos e manutenção dos

resultados esperados (COOPER, SLAGMULDER, 1997; LIKER; 2004; JACOMIT e

GRANJA; 2011;). O gerenciamento de custos tradicional determina o custo do produto

baseado no projeto e no custo estimado de produção. Já o CM age no sentido contrário:

(1) o custo do produto é determinado antes do projeto e (2) o custo do produto é baseado

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nas necessidades do cliente com relação às funções que o produto precisa desempenhar

e quanto este cliente está disposto a pagar por tais funções (COOPER e SLAGMULDER;

1997; LIKER; 2004; PENNANEN; BALLARD; HAATELA; 2008).

Nos EUA, pesquisas recentes vem sendo desenvolvidas com um novo termo para

designar o uso do CM na construção civil: o Target Value Design, ou TVD. Sua

reivindicação de uso no lugar de CM se dá com base nas características particulares e

complexidades da construção civil, já que a teoria do CM foi desenvolvida primariamente

na manufatura (RYBKOWSKI et al., 2011; ZIMINA et al., 2012). O objetivo final do TVD

é o mesmo: entregar um produto final com maior valor agregado, dentro de um valor

aceitável, tentando manter o maior número de benefícios para os principais envolvidos.

O TVD, de certa forma muda a equação do gestão do processo de projeto

tradicional: no sistema tradicional, o custo é consequência do projeto. O TVD age no

sentido contrário: o custo é parâmetro de entrada do produto. No entanto, não raro, custos

e restrições de projeto são encarados como entraves ao processo criativo. No entanto,

segundo Rybkowski et al. (2011), não necessariamente as restrições de orçamento de

projeto sacrificam a estética e qualidade do produto final. Apesar de seu estudo ter sido

conduzido num ambiente bem específico, (estética em suportes para vinho), casos bem

sucedidos de aplicação do referencial do TVD reportados na literatura mostram que este

pode ser utilizado como indutor de criatividade, pois os projetistas e fornecedores passam

a buscar soluções inovadoras para resolver questões de projeto e garantir que o produto

final esteja dentro do que o cliente/usuário pode e está disposto a pagar, com atributos

de qualidade e funcionalidade representativos de valor.

Nesta linha, o TVD surge como alternativa na busca por melhorias destes produtos

entregues na indústria da construção civil, apresentando vantagens para todas as partes

envolvidas no processo. Sua estrutura teórica será utilizada como principal base

conceitual para este trabalho (BALLARD, 2011).

Diferentemente do que ocorre quando existe a incorporação do TVD no processo

de desenvolvimento do produto, uma das práticas comuns no desenvolvimento de

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empreendimentos na indústria da construção civil no contexto nacional é a participação

tardia dos fornecedores somente a partir da fase de produção, quando o projeto já se

encontra quase concluído, diminuindo as alternativas para redução de custos

desnecessários que não representam valor para o cliente (FABRÍCIO; MELHADO, 2001).

Estas alternativas poderiam ter sido consideradas durante o processo de projeto, se uma

maior interdisciplinaridade e colaboração entre os agentes tivessem sido estabelecidas

desde o início do processo.

Para atingir seus objetivos, o TVD depende de esforços intensos de colaboração

nas etapas iniciais de concepção e definição do produto, ou seja, durante o processo de

projeto, melhorando assim a qualidade dos projetos desenvolvidos e gerando valor para

o usuário (MELHADO et al, 2006). Além disso, existe uma alta fragmentação, conforme

apontado por Melhado et. al (2006) como um dos pontos de deficiência na gestão do

processo de projeto, onde a incorporadora/construtora contrata os diferentes projetistas

em etapas diversas do processo, bem como a equipe responsável pela execução do

empreendimento. Isso cria um ciclo de não-colaboração e desconexão, onde a integração

dos agentes é bem pequena, apesar das construtoras realizarem coordenação dos

projetos, com o objetivo de compatibilizar as partes.

Além da participação dos fornecedores nos estágios iniciais de desenvolvimento

do produto, para a aplicação do TVD, parâmetros como custo máximo e níveis de

qualidade e funcionalidade mínimos devem ser utilizados como entradas do processo de

projeto, e não como consequência deles (BALLARD, 2005; BALLARD, 2011;

MACOMBER et al, 2007; JACOMIT, 2010).

O TVD é uma prática que visa gerar mais benefícios ao cliente/usuário final. De

acordo com Ceron (2011), quando se considera produtos da área de construção civil,

existe uma diferença de conceitos entre valor e preço do produto. O preço, tem seu

embasamento em termos de aspectos financeiros de determinado empreendimento,

desde sua concepção até sua venda.

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Já o conceito de valor para arquitetura pode se apresentar de forma mais subjetiva

e vem complementar a ideia de preço e se preocupa com o usuário e suas relações com

o espaço construído. Ele busca atender às necessidades do usuário em diferentes

esferas: físico-ambientais (estabilidade, segurança); humano-psicológicas (aspectos

ligados à percepção do espaço: segurança, coletividade, privacidade); humano-

fisiológicas (conforto termo acústico) – são as percepções de valor dos usuários que

podem fornecer feedback de determinado produto, por meio de Avaliação Pós-Ocupação

(APO), por exemplo. (CERON, 2011).

Quando se considera o preço do produto, temos que a restrição orçamentária do

cliente/usuário final apresenta-se como o elemento mais pragmático para o processo de

projeto, pois a arquitetura tem o compromisso simultâneo de atender às necessidades

das partes envolvidas: cliente, fornecedores, projetistas, usuários, sociedade como um

todo e salvaguardar os interesses de cada um.

Assim sendo, o TVD referencial teórico pode ser considerado como importante

ferramenta para abordar estes assuntos, em um primeiro momento, conflitantes, porém

possíveis de coexistirem em harmonia e, desta forma, aprimorar e melhorar

continuamente os produtos da construção civil. A revisão de literatura neste trabalho não

encontrou, no Brasil, aplicação do TVD na gestão do processo de projeto em

empreendimentos da construção civil, de maneira consciente e sistemática e isto se

apresenta como uma das lacunas que esta pesquisa busca preencher. Para isso, se faz

necessária uma análise detalhada para que possa ser desenvolvida uma proposta clara

de integração do TVD, adaptada às características particulares do contexto de estudo

(produtos voltados para a habitação), bem como o entendimento sobre como o processo

de projeto se desenvolve em empreendimentos voltados para segmentos específicos de

usuários finais.

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1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

O objetivo desta pesquisa é desenvolver uma proposta de integração do TVD na

gestão do processo de projeto em empreendimentos da construção civil voltados para

habitação no Brasil.

Considerando a importância das práticas colaborativas para o referencial teórico

utilizado, esta proposta de integração será dividida em níveis crescentes de colaboração,

pois existe ainda certo grau de dificuldade em assumir as mudanças gerenciais

necessárias para que os benefícios plenos do TVD possam ser alcançados.

Algumas limitações da pesquisa podem ser citadas, tais como o número de

empresas estudadas, poucos empreendimentos considerados no estudo e o método

proposto não teve tempo hábil de aplicação prática, entre outras, que serão detalhadas

oportunamente.

1.4 RESULTADOS ESPERADOS

Como resultado deste trabalho, almeja-se preencher algumas lacunas do

conhecimento. A primeira delas, é desenvolver uma proposta de integração do TVD na

gestão do processo de projeto no Brasil para o contexto de desenvolvimento de

empreendimentos, dado que não foram encontrados casos de aplicação reportados na

literatura.

A segunda lacuna, se diz respeito ao contexto específico de estudo para

integração do TVD: empreendimentos da construção civil voltados para produtos

habitacionais. Os casos já reportados na literatura trazem estudos especialmente em

empreendimentos hospitalares e alguns institucionais ((BALLARD; REISER, 2004,

ZIMINA et al., 2012). Não foi encontrado, até o momento da pesquisa, estudos de caso

em empreendimentos habitacionais.

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Por fim, a adaptação dos conceitos em níveis de colaboração também se mostra

novo, no sentido de propor uma adaptação para contextos poucos colaborativos de

desenvolvimento de produtos.

1.5 RESUMO DO MÉTODO DE PESQUISA

Como estratégia de pesquisa, adotou-se o estudo de caso exploratório. De acordo

com Yin (1994), o estudo de caso é apropriado para responder questões do tipo “por que”

e “como”, e também quando o pesquisador tem pouca/nenhuma possiblidade de controle

dos eventos ou quando as circunstâncias gerais do fenômeno a ser estudado são um

fenômeno contemporâneo num contexto de situação real.

Inicialmente, a unidade de análise foi o processo de desenvolvimento de produtos

para o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), de 3-10 salários mínimos (SM).

Para tal, foram colhidos dados em uma construtora/incorporadora (C/I) que desenvolve

produtos para este segmento. Também foram colhidos dados em um escritório de

arquitetura (EA) para o qual a C/I encomenda o projeto destes produtos. Porém, durante

a pesquisa com a C/I, surgiu a oportunidade de coleta de dados em outro produto da

empresa, voltado para habitação, mas fora do PMCMV, para uma faixa salarial um pouco

maior. Identificou-se a possibilidade de contextos mais favoráveis neste segundo produto,

e a coleta de dados dos dois casos é apresentada.

A coleta de dados foi feita por intermédio de dois instrumentos: questionários e

análise documental (livro de boas práticas de projeto da empresa). Os questionários

foram elaborados com base no referencial teórico do TVD e foram feitas de forma

semiestruturada. Estes questionários também buscaram entender como ocorria o

processo de projeto, bem como quais princípios do TVD já era aplicados pelas empresas,

ainda que de forma inconsciente e não sistemática.

Empregaram-se questões do tipo “aberta” ou “fechada-finalizada”, com questões

sem uma ordem ou cronograma específicos, mas construído em torno de tópicos

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específicos (NAOM, 2007). Este tipo de entrevista é utilizado com entrevistados que

tenham passado em alguma experiência particular que se quer investigar e refere-se a

situações passadas antes da entrevista, além de ser elaborada com base em tópicos

específicos relacionados com a questão de pesquisa – como propor a integração do TVD

na gestão do processo de projeto em ambientes pouco colaborativos?

As evidências coletadas nas entrevistas com os questionários semiestruturados e

a análise documental se apresentam como um instrumento-piloto de coleta de

informações, para testar e coletar dados primários e impressões preliminares sobre o

tema como um estudo exploratório.

Para avaliação e discussão da adoção do TVD no contexto estudado, foi utilizado

o referencial teórico do TVD publicado pelo Project Production Systems Laboratory

(P²SL) da Universidade da Califórnia, Berkeley (BALLARD; 2011). Seus princípios serão

adequadamente descritos no Capítulo 3. Após a avaliação, foi feita análise do método

proposto para a unidade de análise que não participa do PMCMV, e posteriormente a

divisão em níveis de colaboração que podem direcionar a adoção dos princípios do TVD.

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2. GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETO

A seguir algumas considerações sobre o processo tradicional de gestão do

processo de projeto, bem como gestão Lean do processo de projeto.

2.1 GESTÃO TRADICIONAL DO PROCESSO DE PROJETO

O processo de projeto pode ser entendido como o conjunto de atividades que

permeia (ou deveria permear) todas as fases de desenvolvimento de um

empreendimento, desde o seu planejamento, passando pelas etapas de elaboração de

projeto, planejamento, execução e estendendo-se até seu uso (ROMANO, 2006). Ele se

inicia a partir do entendimento do estabelecimento das necessidades do cliente/usuário

e traduz de maneira técnica estas necessidades em forma de projeto, considerando todas

as restrições e pré-requisitos, contendo planejamento e gestão das atividades de forma

integrada e pode se estender de maneira ampla até o momento da pós-ocupação,

manutenção e avaliação, a fim de providenciar feedback do produto lançado.

O ato de projetar, em si, também envolve um período de criação, e muitas vezes

acontece em looping, onde surgem as primeiras ideias, estas são analisadas, ocorre a

síntese destas ideias em algo palpável e depois a síntese é avaliada, podendo prosseguir

para as fases seguintes ou voltar para as fases anteriores (LAWSON; 1997), conforme

Figura 1 abaixo.

Fonte: Adaptado de Lawson; 1997.

Pode-se definir também o processo de projeto como “um conjunto de atividades

intelectuais básicas, organizadas em fases de características e resultados distintos.”

Análise Síntese Avaliação

Figura 1: Síntese geral do processo de projeto

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(LAWSON; 1997). Ele inclui atividades diversas como síntese, previsão, avaliação e

tomada de decisão. Por ser um processo altamente complexo, necessita de metodologias

de controle e planejamento, para que se possa atingir os melhores resultados.

(KOWALTOWSKI et al., 2008).

Sendo o processo de desenvolvimento de produto na construção civil algo

complexo e dividido em várias fases, o processo de projeto permeia desde a concepção

até a ocupação, subdividindo-se em etapas diversas, especificamente voltadas ao

produto esperado em cada fase, de maneira a gerenciar e organizar o processo e

promover um desenvolvimento integrado entre as equipes e atores envolvidos no

processo. O desenvolvimento de produto pode ser definido como um processo. Apesar

de toda complexidade deste, um número reduzido de empresas utiliza-se destes

conceitos de integração entre as equipes envolvidas diante da grande fragmentação em

etapas diversas, face à grande demanda, complexidade do fluxo de informações e prazos

cada vez menores (ROMANO, 2006).

ROMANO (2003) propõe um modelo de referência para o gerenciamento do

processo de projeto integrado de edificações (GPPIE) em seu trabalho, sintetizado pela

Figura 2 a seguir:

Figura 2 - Representação gráfica das fases do processo de projeto em edificações

Fonte: Romano; 2003.

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Cada fase é descrita de maneira detalhada e busca a gestão de todo o processo

de forma integrada e clara. O processo é dividido em três macrofases:

- Pré-projetação: é a fase de planejamento do produto e envolve o planejamento

do empreendimento;

- Projetação: etapa mais longa do processo. Ela engloba a elaboração dos projetos

em suas diversas sub-fases (projeto informacional, conceitual, preliminar, legal,

detalhado);

- Pós-Projetação: refere-se à fase de acompanhamento da execução e avaliação

posterior com acompanhamento do uso da edificação.

Segundo a autora, as práticas tradicionais prejudicam o processo de projeto,

evidenciando a falta de um modelo de gestão que possa auxiliar e promover melhorias

no sistema atual.

Além disso, a alta complexidade destes empreendimentos hoje, envolve uma

grande gama de profissionais especializados. No entanto, uma alta fragmentação do

processo é comum nestes casos. A mobilização das equipes ocorre de forma sequencial,

de acordo com o momento da participação no projeto, tornando uma integração mais

difícil e limitada, conforme ilustra a Figura 3 a seguir: (FABRÍCIO; MELHADO; 2001).

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Figura 3 - Esquema genérico de um processo sequencial de desenvolvimento de projeto em

edifícios – participação dos agentes

Fonte: Fabrício; Melhado; 2001

Para promoção de maior integração entre estes agentes, o modelo descrito pelos

autores (Fabrício; Melhado 2001), propõe o uso de Engenharia Simultânea (ES) para

promover colaboração entre os atores envolvidos no processo. Para tal, o modelo para

promover estas interfaces entre os agentes foi proposto conforme Figura 4 abaixo:

Figura 4 - : Interfaces do processo de desenvolvimento de produto na construção de edifícios

Fonte: Fabrício; Melhado; 2001

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Estas interfaces se dividem da seguinte maneira:

- i1: Interface com o usuário/cliente e identificação das suas necessidades e

identificação das demandas do mercado;

- i2: Colaboração entre a concepção do empreendimento e especificação das

necessidades com relação ao produto;

- i3: Colaboração entre os projetistas de especialidades diversas;

- i4: Construtibilidade do empreendimento e produção dos projetos para execução.

- i5: Acompanhamento da fase de execução e produção de projeto “as built”

Existem alguns estudos no Brasil com relação ‘a ES aplicada ao processo de

projeto (FABRÍCIO; MELHADO; 2001). O modelo a seguir mostra um fluxograma de

forma a integrar essas diversas interfaces contidas no processo de projeto, através da

ES: (Figura 5)

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Figura 5Modelo genérico para organização do processo de projeto de forma integrada

Fonte: Fabrício; 2002

Este modelo é genérico e pode ser adaptado de acordo com o contexto de cada

empresa e suas especificidades. Ele prioriza o projeto simultâneo e integrado para o

processo de projeto de empreendimentos e apresenta-se mais como uma estratégia do

que um planejamento operacional.

É importante lembrar que cada empresa possui sua própria dinâmica de trabalho,

e o processo pode variar também considerando-se a especificidade do produto, relações

entre os agentes envolvidos e pode ser diferente em cada etapa do processo.

Nota-se, pelos trabalhos apresentados e entre outros da literatura, inclusive

analisando-se normas técnicas como a ABNT (NBR 13351), que não há um consenso

sobre um processo único a ser seguido com relação ao processo de projeto.

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As práticas tradicionais hoje contam com um processo de projeto altamente

terceirizado e fragmentado. Em geral, as construtoras terceiram todo o processo de

desenvolvimento de produto para escritórios diversos (arquitetura, estruturas, hidráulica,

elétrica, paisagismo, etc), nem sempre promovendo um trabalho conjunto e integrado dos

envolvidos. A fase de execução em geral torna-se uma etapa dissociada do processo de

projeto, por isso fornecedores e prestadores de serviços acabam sendo excluídos do

processo. (Fabrício; Melhado 2001)

Além disso, a falta de uma análise pós-ocupação e retroalimentação das equipes

de projetistas com estes dados, pode criar um gap no empreendimento subsequente, já

que as noções de valor percebido pelo usuário final nem sempre ficam claras ou são

consideradas. Os custos de uso, manutenção e operação, que fazem parte do ciclo de

desenvolvimento do produto, raramente são considerados no processo de projeto, sendo

em geral de responsabilidade apenas do usuário final, deixando o processo de

desenvolvimento integrado uma realidade ainda mais distante.

As inúmeras restrições – prazo, cronograma, orçamento, legislação, interesses

das partes envolvidas – fazem parte do processo e precisam ser harmonizadas na busca

por um ambiente de maior colaboração, para promover uma adoção eficiente do TVD.

Uma adaptação do TVD que considere as relações contextuais do ambiente de aplicação

pode se apresentar como forma de melhorar este processo, mantendo as expectativas

de todos os envolvidos e entregando um produto final de maior qualidade.

2.2 GESTÃO LEAN DO PROCESSO DE PROJETO (LEAN DESIGN

MANAGEMENT)

2.2.1 O Lean no desenvolvimento de produtos

A filosofia Lean foi amplamente desenvolvida e evoluiu na Toyota, que utiliza

princípios do Toyota Way no desenvolvimento de produtos, de maneira a lançar no

mercado produtos melhores, de maneira mais rápida, com preços mais atrativos e alta

lucratividade, eliminando tarefas que representam desperdício do processo de

desenvolvimento do produto. No entanto, a aplicação apenas destes princípios de forma

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isolada nem sempre é suficiente, pois o TVD pressupõe práticas colaborativas entre os

envolvidos no processo. Uma mudança conjunta de ações dentro da empresa e o

aprendizado de uma nova forma de pensamento é aconselhável, permeando os diversos

setores da mesma, clientes e fornecedores, para uma adoção benéfica da estratégia

citada.

O sistema Lean de desenvolvimento de produtos utilizado pela empresa Toyota e

seus fornecedores, difere-se das práticas tradicionais de desenvolvimento de produtos

(WARD, 2011), focando na criação de valor e ferramentas que criem fluxo de valor,

desenvolvidos por líderes de projeto, de forma que estes líderes possuam apoio de

sistemas como a EV, criando conhecimento e aprendizado de forma rápida e

incentivando as equipes a trabalharem de forma planejada e com autonomia.

A Toyota possui a capacidade de lançar produtos novos altamente lucrativos e

com uma taxa de falha bem pequena, ou seja, com poucos defeitos ou erros. Algumas

destas falhas principais constituem em: perda de mercado (quando a equipe não entende

os pré-requisitos e o que gera valor para o cliente/usuário final, por exemplo), problemas

com custo e qualidade (tanto na fábrica quanto em campo, causados em geral por um

processo de desenvolvimento ruim) e excessos de tempo e de orçamento (cronogramas

não cumpridos e estouro de orçamento). (WARD, 2011).

Para o Sistema Toyota de Produção (STP), as ações no processo de

desenvolvimento que (1) não agregam valor ao produto final, na visão do cliente/usuário

final ou (2) atividades que não agregam valor mas são atividades técnicas necessárias

ao desenvolvimento do produto, são consideradas desperdício e devem ser eliminadas

do processo (LIKER, 2004). Taiichi Ohno, pai do STP, identificou as sete maiores causas

de desperdício em atividades que não agregam valor. São elas: superprodução, espera,

transporte desnecessário, excesso de inventário, movimentação desnecessária, defeitos,

e uma oitava, incluída por Liker (2004), a criatividade não utilizada.

Todo processo busca eliminar ao máximo desperdícios e entregar um produto com

atributos de valor mais interessantes pro cliente/usuário final, dentro do que ele está

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disposto/pode pagar. São técnicas que podem ser sintetizadas ao processo de produção

de outras indústrias que não apenas a automobilística, inclusive na construção civil. No

entanto, seu uso tem sido focado mais para a fase de construção, quando poderia auxiliar

ainda nas fases iniciais de concepção de projeto (EMMITT, 2011).

Sobre os desperdícios no desenvolvimento de produtos Lean, Ward (2011) elenca

que os principais desperdícios referem-se aos desperdícios de conhecimento, pois a

diferença na criação de fluxos de valor rentáveis e não rentáveis é a capacidade de

utilização do conhecimento em criação e entrega no desenvolvimento do produto.

Segundo este autor, o desperdício de conhecimento se divide em três categorias

principais: dispersão, desconexão e ilusão. Cada categoria está associada a certas

práticas, conforme a figura abaixo.

Figura 6 - Categorias de dispersão

Fonte: Ward; 2011.

A dispersão traz ações que interrompem o fluxo de informações, tornando o

conhecimento ineficaz. As barreiras à comunicação evitam o fluxo de conhecimento de

maneira direta (barreiras físicas como distância, incompatibilidade de hardware, etc;

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barreiras sócias como separação em classes corporativas, barreiras de habilidades como

falta de habilidade das pessoas em analisar dados e transformar isso em conhecimento,

etc). (WARD; 2011)

O uso de ferramentas inadequadas também interrompe o fluxo de informações,

quando a empresa faz padronização de soluções para situações diferentes. A Toyota

padroniza o conhecimento mínimo exigido, e a partir deste ponto os envolvidos devem

analisar dados e situações diferentes e transformar isso em conhecimento, estudando

sempre soluções caso a caso. (WARD; 2011)

A desconexão ocorre quando a empresa separa conhecimento, responsabilidade,

feedback e ação e o desperdício ocorre pois cada responsável por determinada área

falha em passar 100% do conhecimento adiante. Dessa forma, ela causa problemas

porque os responsáveis por tomar decisões e fazer o trabalho não possuem o

conhecimento necessário para tal. (WARD; 2011)

O uso de informações inúteis ocorre quando estas não ajudam a entender o

cliente ou questões relacionadas à integração, inovação ou não oferecem subsídios para

tomada de decisão. A espera também causa dispersão, pois os envolvidos precisam

esperar por informações, especificações ou término de determinadas fases para poder

dar seguimento nas atividades, criando problemas no processo. (WARD, 2011)

Por último, tem-se a ilusão, que significa tomar decisões sem os dados

necessários ou operando às cegas. Testar um produto quanto às suas especificações

não é suficiente, pois estatisticamente não é possível testar uma amostra satisfatória para

satisfazer os padrões desejados. Isso cria a ilusão de que o produto que foi testado não

apresentará defeitos. Por fim, tem-se o conhecimento descartado, pois a empresa se

preocupa em lançar o produto e todo o conhecimento adquirido durante o processo acaba

sendo descartado e deixado de lado. (WARD; 2011)

Ward (2011) define os cinco princípios para o desenvolvimento de produtos Lean,

os desperdícios gerados no processo e quais são as contramedidas estes desperdícios:

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Quadro 1 - Contramedidas que os cinco princípios apresentam contra os desperdícios durante o

desenvolvimento de produtos

Fonte: Retirado de Ward, Allan C (2011)

Os princípios de Ward (2011), buscam eliminar os desperdícios descritos e

promover trabalho em conjunto dos envolvidos no desenvolvimento do produto, além da

melhoria contínua de fluxos, processos e do produto em si, transparência entre as

equipes com compartilhamento de informações e lições aprendidas e feedback dos

profissionais, cada um com sua expertise, promovendo o aprendizado contínuo.

O Quadro 2 a seguir mostra o impacto dos princípios Lean no desenvolvimento

dos produtos:

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Quadro 2 - Contramedidas que os cinco princípios apresentam contra os desperdícios durante o

desenvolvimento de produtos

Quadro X: Impacto dos princípios nos indicadores de produtos de alto nível

Fonte: Retirado de Ward, Allan C (2011)

2.2.2 O Lean no processo de projeto e na construção civil

As práticas Lean utilizadas pela Toyota (sendo o Lean uma generalização do

STP), abriram caminho para aplicação destes princípios para uma abordagem no

processo de projeto, ou Lean Design Management. Estas práticas poderiam auxiliar no

sentido de reduzir o desperdício nesta fase, além de entregar maior valor agregado ao

produto final. No entanto, pouca pesquisa de aplicação prática foi encontrada na

literatura, bem como uma definição clara deste referencial. E, para uma adoção

eficiente, todos os envolvidos no processo precisam entender o que representa valor,

de modo a eliminar esforços em atividades que não o agregam ao produto.

Através da revisão de literatura, identificaram-se quatro questões importantes

relacionadas à eliminação de desperdícios e agregação de valor: (EMMITT; REIFI; 2013):

1. Briefing do cliente;

2. Valor e mapeamento da cadeia de valor;

3. Cultura Lean e reunião de equipe;

4. Fluxo de informações.

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Estes autores fizeram uma pesquisa em diversas construtoras com o objetivo de

elucidar como práticas de gestão Lean são percebidas no processo de projeto por

empresas da construção no Reino Unido. Os achados mostraram que as empresas não

praticam este tipo de gerenciamento e, por isso, muito desperdício nas fases de projeto

foram encontradas, além de insatisfação do cliente com o produto entregue, o que mostra

falta de entendimento do que significava valor para este cliente.

Na construção, são comuns atrasos em projetos, retrabalho, incertezas quanto ao

custo final do produto e insatisfação do cliente com o produto entregue (REIFI; EMMITT,

2013). Alguns autores já evidenciaram, em suas pesquisas, que as fases iniciais de

concepção do processo de projeto são importantes no sentido de reduzir o desperdício e

tais incertezas e também aumentar a qualidade do produto final entregue, porém, existem

poucas pesquisas focadas neste estágio de desenvolvimento de empreendimentos; a

maior parte concentra-se na fase de construção (EMMITT; REIFI; 2013).

Algumas oportunidades para aplicação do Lean Thinking na construção civil,

destacando seus princípios teóricos e possiblidades de adoção na construção já foram

apresentadas (PICCHI; 2003). Ward (2011), cita a engenharia simultânea como um dos

princípios para se reduzir as incertezas no processo de desenvolvimento de produtos,

quando existem múltiplas alternativas, sendo o CM uma destas ferramentas para se

atingir estes objetivos e se mostra como uma das abordagens do Lean Thinking.

O CM e, por consequência, o TVD, um termo que vem sendo cunhado atualmente

por diversos autores (MACOMBER et. al 2007; BALLARD 2011; RYBOWSKI et al 2012;

ZIMINA et al, 2012; REIFI, M.H. El.; EMMITT, S; 2013). Esta abordagem almeja promover

colaboração e integração entre os envolvidos já em estágios iniciais da fase de projeto,

buscando participação e esforços intensos no sentido de desenvolver soluções que

atendam ao escopo do cliente, possuam construtibilidade adequada, trazendo benefícios

a todos os envolvidos e agregando valor ao produto final, evitando desperdícios e

lançando produtos mais rapidamente, itens estes que se conectam integralmente aos

princípios do Lean Thinking. Esta abordagem será adotada neste trabalho.

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3 CUSTEIO-META (TARGET COSTING) e TARGET VALUE DESIGN (TVD)

3.1 O CUSTEIO-META

O CM, segundo diversos estudos, tem suas raízes ligadas à indústria

automobilística japonesa e foi inicialmente desenvolvido pela Toyota, como forma de

gerenciamento proativo das expectativas financeiras geradas pela estratégia de negócios

da empresa (JACOMIT; GRANJA, 2011; LIKER, 2004; WARD, 2011). Trata-se de um

exercício contínuo de colaboração entre agentes envolvidos no processo de

desenvolvimento do produto nos estágios iniciais de concepção.

O CM pode ser considerado uma ferramenta inserida dentro da filosofia Lean de

desenvolvimento de produtos. Segundo Cooper e Slagmulder (1997), o modelo

tradicional difere do Lean pelo fato do processo de desenvolvimento não ser

responsabilidade de uma equipe única, mas é distribuída através de múltiplos

departamentos de maneira integrada. De acordo com os autores, no processo de

desenvolvimento de produto tradicional, a definição do produto é desenvolvida pelo

departamento de marketing e transferida para o departamento de engenharia, onde é

convertida em especificações técnicas. Estas especificações são convertidas em

diagramas e, quando o projeto está completo, ele é passado para a produção. Quando

estes departamentos finalizam seu trabalho, o projeto é transferido para a engenharia de

processos para revisão final.

À primeira vista, o processo parece eficiente. No entanto, ele pode esconder

alguns erros. A especialização e alocação de habilidades significa que, a cada novo

estágio, o projeto geralmente precisa de retrabalho e revisões. Ocorre também retrabalho

oculto em etapas anteriores pelos departamentos, posteriormente no processo, para

fazer com que o produto seja viável. Estes retrabalhos podem levar a produtos que não

satisfazem o usuário pois faltam funcionalidades essenciais ou contêm excesso de

funções, ou por estarem numa faixa de orçamento acima do aceitável, além de contar

com alto desperdício em função de retrabalho e execução de atividades que não agregam

valor ao produto final. Finalmente, cada departamento pode acabar tão sobrecarregado

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de trabalho que pode ocorrer um tempo de espera considerável entre a finalização de

uma etapa e o início da próxima. Este tempo de espera pode adicionar atrasos no

processo de desenvolvimento do produto e levar à incapacidade de lançar novos

produtos regularmente.

Em contraste, o desenvolvimento Lean de produtos agiliza todo o processo de

projeto removendo atividades que não agregam valor e as filas de espera entre os

departamentos, que ocorre por conta do “lote” de trabalho só ser repassado para a

próxima etapa depois de concluída a etapa anterior. Todos os membros das equipes

podem visualizar todo o processo de projeto e monitorar seu progresso. O departamento

de marketing garante que o produto vá de encontro às necessidades do usuário através

do processo de projeto, e os representantes de produção e fornecedores garantem que

o produto possa ser feito dentro de um custo razoável. O processo é muito mais rápido,

consome menos recursos e tem uma maior chance de sucesso (COOPER;

SLAGMULDER, 1997).

Num mercado competitivo, novos produtos devem ser lançados de maneira rápida

e sem erros já de início. Quando acoplado ao sistema Lean de produção, o CM e a

Engenharia de Valor (EV) maximizam a probabilidade de que novos produtos irão tanto

satisfazer o consumidor quanto gerar lucro. Para minimizar atrasos, as empresas

realizam o CM e a EV em paralelo com outras atividades do processo de desenvolvimento

do produto. (COOPER; SLAGMULDER, 1997). Esta técnica promove uma redução

considerável no tempo que se leva para lançar novos produtos no mercado.

O trabalho de Cooper e Slagmulder (1997; 1999) cita as três características

relacionadas ao produto, conhecidas como tripé de sobrevivência (figura 7), que têm um

papel crítico no sucesso de empresas que adotam estratégias Lean. A forma interna do

tripé reflete a perspectiva do produtor e a forma externa reflete a perspectiva do cliente.

Internamente, as 3 características são custo, qualidade e funcionalidade. Externamente,

as características são preço de venda, qualidade e funcionalidade percebidas. O custo

é um fenômeno discutido apenas de forma interna na empresa; o custo do produto leva

em conta o montante gasto pela empresa (salário dos funcionários, insumos, material,

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espaço físico, etc.) para produzir determinado produto. O preço se apresenta como um

fenômeno externo à empresa, que leva em conta variáveis como características do

mercado, demanda, etc.

Figura 7 - Tripé de sobrevivência, segundo Cooper e Slamulder (1997; 1999)

Figura 8 - Zona de Sobrevivência de um produto, segundo Cooper e Slagmulder (1997; 1999)

Fonte: Adaptado de Cooper e Slagmulder, 1997; 1999.

No tripé de sobrevivência, o preço é definido como a quantidade pela qual o

produto é vendido no mercado, e custo é o valor dos recursos consumidos para entregar

tal produto e inclui todos os custos de investimento, produção, marketing e venda.

Qualidade é definida como o desempenho do produto frente às especificações, em busca

das necessidades do usuário. Funcionalidade é definida pelas especificações do produto

e é multidimensional.

Preço/Custo

Funcionalidade Qualidade

Valores máximos

Valores mínimos

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Na Figura 8, a área hachurada corresponde aos valores mínimos e máximos e

mostra a zona de sobrevivência de um produto. Quando se considera funcionalidade e

qualidade, o mínimo permitido é o menor valor de cada característica que o usuário está

disposto a aceitar, independentemente do valor atribuído às outras duas características.

Por exemplo, abaixo de um certo nível de funcionalidade, este usuário não está disposto

a adquirir determinado produto, não se importando quão baixo é seu preço de venda, ou

quão alta é a qualidade. (COOPER; SLAGMULDER; 1999)

A capacidade da empresa é o que determina os valores máximos viáveis de

qualidade e funcionalidade de determinado produto lançado. Estes valores máximos são

o que é possível alcançar, sem deteriorar as outras duas características, como no caso

de um produto de alta funcionalidade, o que pode comprometer sua qualidade e aumentar

demais seu preço. Um produto de baixa funcionalidade e um preço muito alto não possui

muitos usuários dispostos a comprá-lo. (COOPER; SLAGMULDER; 1999)

A característica de preço do tripé funciona de forma um pouco diferente das outras

duas, pois o usuário determina o preço máximo permitido e a empresa determina o preço

máximo viável. O preço máximo permitido significa o valor máximo que este usuário está

disposto a pagar por determinado produto, independentemente das outras duas

características. O preço mínimo viável representa o valor mínimo que a empresa está

disposta a aceitar, contanto que a funcionalidade e qualidade estejam dentro dos

parâmetros mínimos aceitáveis. Enquanto este usuário enxerga o preço sob uma ótica

de característica crítica, a perspectiva de empresa é no sentido de custo. (COOPER;

SLAGMULDER; 1999)

Portanto, a zona de sobrevivência de um produto é identificada pela conexão entre

valores máximos e mínimos das 3 dimensões citadas - preço, funcionalidade e qualidade.

3.1.2 O papel do CM no gerenciamento de custos

O CM é uma abordagem que almeja que novos produtos serão lucrativos quando

lançados. Ele é composto de três grandes etapas. A primeira consiste em determinar o

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preço-meta de venda do produto e a meta da margem de lucro, de maneira que o custo

aceitável possa ser estabelecido. A segunda é estabelecer um custo-meta possível para

o produto. A terceira é decompor o custo-meta no nível de produto de maneira que o

preço de compra dos componentes possa ser determinado. (COOPER; SLAGMULDER,

1997).

O preço-meta de um produto é definido por:

Preço-meta = Preço de Venda - Lucro

O preço de venda de um novo produto é decidido primariamente pela análise de

mercado. A margem de lucro é baseada na expectativa de lucro da empresa, resultados

registrados anteriormente e análise competitiva. (COOPER; SLAGMULDER, 1997;

LIKER, 2004). Depois, empresa e fornecedores analisam a capacidade de redução de

custos para produção daquele determinado produto.

Neste trabalho especificamente, Cooper e Slagmulder (1997) defendem o fator

crítico que distingue o CM como a intensidade com a qual a regra cardinal é aplicada: o

CM nunca pode ser ultrapassado. Uma vez que o CM é estabelecido, o próximo passo é

decompor o custo a nível de componente. Dessa maneira, o CM dos componentes se

torna seu preço de compra, ou seja, é o preço de venda dos fornecedores.

O CM tem um papel crítico no gerenciamento de custos, pois uma vez que o

produto é projetado, a maioria dos custos (índice que pode chegar até 90%) já está

comprometida. O CM propõe o custo como “entrada” do processo de projeto, não como

resultado do mesmo. Estimando o preço de venda de um determinado produto e

subtraindo a margem de lucro desejada, tem-se o custo sobre o qual o produto deve ser

produzido (custo-meta). A chave é projetar de maneira a satisfazer o usuário e ficar dentro

do custo-meta estabelecido. (COOPER; SLAGMULDER, 1997)

Para ser eficiente, o CM deve ser um processo altamente disciplinado, conforme

os autores citados no parágrafo anterior. Esta disciplina começa com uma pesquisa de

mercado sobre o que os clientes/usuários querem/precisam e qual o preço que estão

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dispostos a pagar por tal produto. A análise de mercado auxilia na identificação da zona

de sobrevivência de novos produtos e a moldar o preço baseado no mercado pela

identificação dos custos permissíveis.

3.2 FATORES QUE INFLUENCIAM A APLICAÇÃO DO CM

Existem alguns fatores que influenciam a aplicação do CM, em três níveis:

mercado, produto e componente (COOOPER; SLAGMULDER, 1997), conforme quadro

a seguir:

Quadro 3 - Síntese dos fatores de influência para aplicação do CM

Mercado Produto Componente

Intensidade da competição:

por causa das pressões

competitivas de mercado o

CM aumenta a probabilidade

de novos produtos estarem

dentro da zona de

sobrevivência.

Número de produtos em linha:

quanto maior o número de

produtos em linha, maior é o

grau de satisfação do usuário

e mais esforço é voltado para

o processo do CM, pois o

lançamento ocorre com maior

frequência.

Grau de integração horizontal:

empresas Lean compram

grande parte dos produtos

externamente. Quanto maior

a confiança em fornecedores

externos, maior a importância

do gerenciamento destes

fornecedores.

Grau de sofisticação do

cliente: capacidade do cliente

de detectar diferenças entre

preço, qualidade e

funcionalidade entre produtos

concorrentes. O CM ajuda a

empresa a satisfazer as

necessidades de valor.

Frequência de retrabalho:

Necessidade de refazer parte

ou partes do trabalho por

erros, resultando em

desperdício de tempo. O CM

auxilia a diminuir esta

frequência, promovendo corte

de desperdícios.

Poder sobre os fornecedores

principais: quando o poder do

comprador é alto, este

frequentemente dedica mais

esforço desenvolvendo o CM

ao nível de componente,

criando pressões nos custos

dos fornecedores.

Frequência de mudança das

necessidades do cliente:

quanto maior a taxa de

mudança.

Grau de inovação: quanto

maior o grau de inovação do

produto, maior o custo de

desenvolvimento.

Natureza das relações com o

fornecedor: fornecedores

juntam esforços e criatividade

para busca de soluções.

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(Continuação do Quadro 3)

Grau de entendimento de

requisitos futuros do produto:

quanto menor o grau de

entendimento do cliente, mais

o CM pode auxiliar e ajudar a

confiar nas preferências

conhecidas dos usuários para

determinar a futura zona de

sobrevivência.

Complexidade do produto:

quanto maior a complexidade,

maior o custo de aplicação do

CM e maior seu benefício de

aplicação, pois aumenta o

grau no qual os custos na

etapa de projeto podem ser

influenciados.

Magnitude dos investimentos

iniciais: quando o investimento

inicial é baixo, o benefício da

aplicação do CM é baixo.

Quando os investimentos

iniciais são altos, o CM trará

mais vantagens, pois cada

produto precisa ter o máximo

de probabilidade de sucesso.

Duração do desenvolvimento

do produto: quanto maior a

duração, maior a

probabilidade de que as

condições utilizadas durante o

projeto se alterem. Portanto,

no caso de ciclos de

desenvolvimento longos, o

CM traz vantagens e reflete

um processo de

desenvolvimento mais

disciplinado e com vários

pontos de tomada de decisão.

Fonte: autora

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3.3 O CM NA CONSTRUÇÃO CIVIL

As definições do CM descritas valem para a aplicação em processo de

desenvolvimento do produto em geral. No entanto, a construção civil possui

características específicas relacionadas ao processo de desenvolvimento e à sua

dinâmica particular. Um importante referencial teórico de aplicação foi publicado pelo

P²SL (Project Production Systems Laboratory - Berkeley), com relação ao CM. Algumas

tentativas bem sucedidas têm sido descritas na literatura, especialmente nos EUA,

descritos no Capítulo 4 deste trabalho. (BALLARD; 2005)

Para uma aplicação bem-sucedida do CM na construção civil, as seguintes

recomendações são propostas: (BALLARD, 2005)

1. O cliente avalia o empreendimento e decide sobre a realização de estudo de

viabilidade;

2. O estudo de viabilidade envolve todos os membros-chave (projetistas, cliente,

construtora, demais partes interessadas) da equipe de desenvolvimento;

3. O cliente é membro permanente e ativo da equipe de projeto/desenvolvimento;

4. O estudo de viabilidade produz um orçamento detalhado e alinhado com o

escopo;

5. Todos os membros da equipe entendem o empreendimento e os valores das

partes interessadas;

6. Uma regra cardinal é estabelecida: não exceder o Custo-Meta;

7. A estimativa de custos e orçamento é feita de maneira contínua de forma

colaborativa;

8. O sistema Last Planner é utilizado para coordenar as ações entre os membros

da equipe.

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Para aplicar estes componentes, é necessária uma mudança sensível no modelo

tradicional existente, com maior participação do cliente/usuário final durante o processo

de desenvolvimento, utilização de conceitos de valor inclusive na escolha dos

profissionais e fornecedores envolvidos (e não somente com base em menor preço),

criação de ambiente de colaboração, participação dos fornecedores desde as etapas

iniciais de concepção do produto pois, nesta fase, apesar do alto grau de incerteza, é o

momento onde maiores reduções de custos são possíveis e o uso das restrições como

custo e definição de valor para o cliente/usuário como indutores de criatividade no

processo. (COOPER; SLAGMULDER; 1997; BALLARD, 2005).

Além do CM, tem-se a Engenharia de Valor (EV) como outra ferramenta importante

e complementar, que auxilia a tomada de decisão dentro de múltiplas alternativas durante

o processo de desenvolvimento do produto (COOPER; SLAGMULDER, 1997) para

convergir em uma solução de projeto que satisfaça de forma adequada os requisitos de

valor do cliente e usuário final.

3.3 O TARGET VALUE DESIGN (TVD)

O Target Value Design (TVD) é reivindicado como uma adaptação do CM para a

indústria da construção civil. Este termo surgiu pela primeira vez no artigo de Macomber

et. Al (2007) e hoje já é largamente utilizado nos EUA para mencionar este referencial

teórico. O TVD postula a construção civil como um sistema complexo que inclui: definição

de produto, projeto e fases de execução e busca entregar maior valor agregado aos

usuários finais, gerando melhoria contínua e eliminação de desperdícios.

No entanto, a organização da equipe, sozinha, não é suficiente para aplicação do

TVD. O TVD se complementa com os princípios colaborativos do Integrated Project

Delivery (IPD). O IPD é um processo de projeto integrado, abordagem esta que utiliza os

conhecimentos e especialidades de cada membro da equipe, buscando as melhores

soluções de forma integrada (AIA, 2007). No IPD, todos os envolvidos com o processo

de desenvolvimento de produto trabalham de forma colaborativa como uma única equipe,

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o que pode representar um grande desafio para as partes interessadas. (ZIMINA et al.,

2012).

Com relação à aplicação do TVD, a descrição a seguir, do P²SL (BALLARD, 2011),

limitou-se a empreendimentos principalmente hospitalares e alguns institucionais. Para

outros contextos, é provável que seja necessária uma adaptação dos princípios1

destacados no quadro a seguir.

1 Apesar de alguns itens se apresentarem como ferramentas, mais do que princípios, para facilidade de compreensão, neste trabalho será sempre usada a nomenclatura de princípios para os itens descritos por Ballard (2011).

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Quadro 4 - Princípios do TVD segundo Ballard (2011)

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O TVD pode ser entendido, então, como uma ferramenta de gerenciamento do

filosofia Lean e, para melhores práticas, assume que o produto está inserido num

contexto de IPD, que se enquadra mais como uma ferramenta de entrega do produto de

modo mais amplo (DENEROLLE, 2013). Durante o projeto no qual que se utiliza o IPD,

além de colaboração contínua de todos os agentes desde o início do processo, os

envolvidos também compartilham riscos e ganhos, de forma a incentivar a busca das

soluções mais adequadas, nunca perdendo de vista os objetivos e metas de escopo

estabelecidos. (AIA; 2007)

Fonte: AIA, 2007

Pela figura acima, tem-se o modelo tradicional, onde existe participação de alguns

agentes (construtora, por exemplo), apenas no final do processo. Diferentemente do

processo tradicional, o IPD busca integrar os agentes desde a fase de concepção de

projeto, assim inputs de construtibilidade podem ser considerados já em estágios iniciais

Figura 9: Comparação da participação dos atores no empreendimento em processo

tradicional e por IPD

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do projeto, auxiliando na busca das melhores soluções projetuais. Os riscos e margens

de lucro são compartilhados, e isso acaba levando a um esforço extra dos envolvidos

para atingir as metas estabelecidas previamente, no início do processo. Por isso, as

restrições de custo deveriam ser vistas como indutor de criatividade, e não como

consequência dele no final do processo, o que pode resultar em corte e subespecificação

para se atingir a meta

Outra ferramenta comumente utilizada em casos bem sucedidos nos EUA, além

do IPD, é uma forma de contrato relacional chamada IFoA – Integrated Form of

Agreement,(AIA; 2007), bastante comum em projetos que utilizam o IPD. Este tipo de

contrato estabelece, formalmente, a divisão tanto dos riscos quanto dos lucros do

empreendimento, de forma a obter colaboração entre os agentes envolvidos no processo.

Trabalhando através do IFoA, os agentes trabalham de forma colaborativa e dedicam

intensos esforços para evitar prejuízos (que são compartilhados entre todos os

envolvidos em caso de ocorrência), e não ultrapassar a meta de custos proposta, para

que as margens de lucro sejam garantidas a todos os participantes, sempre mantendo a

qualidade do produto entregue.

Estas ferramentas – tanto o IPD quanto o IFoA – são componentes ainda

incipientes no contexto brasileiro, em especial este tipo de contrato relacional, por isso

uma adaptação a contextos não-colaborativos faz-se necessária, apresentando-se como

uma das lacunas apontadas no presente trabalho. O IPD amplifica os benefícios do TVD,

mas é possível que o TVD ocorra sem ele, de forma adaptada ao contexto de uso. O TVD

pode ser entendido como uma estratégia de processo de projeto, que direciona o

processo de desenvolvimento do produto de maneira a entregar maior valor agregado ao

cliente/usuário, dentro das restrições empreendimento (DENEROLLE, 2013).

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4 CASOS REPORTADOS NA LITERATURA DE CM E TVD

4.1 ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO CM NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO

EXTERIOR

4.1.1 Projeto centro atlético do St Olaf College

Nos EUA, temos um caso bem-sucedido de aplicação de muitos conceitos do CM,

especialmente o “projetar para um custo” (design to cost). Entre as características

principais do empreendimento, destacam-se: (BALLARD; REISER, 2004):

- Recursos financeiros provenientes da doação de ex-alunos;

- Responsável pelo desenvolvimento: Boldt Company, que já adotava os princípios

Lean,

- Diferenças principais na gestão do projeto: arquiteto, sendo ex-aluno, também

era parte interessada no projeto; interface com cliente formalizada através de relatórios

periódicos; o CM foi adotado logo no início do processo, logo após a concepção de

desenhos esquemáticos; workshop de dois dias sobre CM com todas as equipes

envolvidas, demonstrando a visão dos clientes e o que representava valor para os

mesmos, além de estabelecer as metas do processo.

Com a adoção do CM nesse empreendimento, além de atingir os níveis de

qualidade e funcionalidade (e seus ideais de valor) exigidos pelos clientes, o orçamento

ficou abaixo do CM estabelecido, e a execução foi feita dentro do cronograma fixado.

Algumas oportunidades de melhoria foram identificadas, tais como: (BALLARD;

REISER, 2004)

- Uso de workshops colaborativos com as equipes envolvidas, iniciando-se já na

produção dos desenhos esquemáticos;

- Existência de formalidade e rigor ao estabelecer o CM, que deve permear todas

as fases do projeto;

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- Utilização do custo do ciclo de vida do empreendimento dentro do contexto do

CM;

- Envolver todas as equipes num ambiente de colaboração, nas fases iniciais de

concepção de projeto e através de contratos do tipo design-build;

- Incentivar os fornecedores a buscar novas ideias para que o orçamento não

ultrapasse o CM.

4.2 PROJETOS COM APLICAÇÃO DO TVD

Em outro estudo, são apresentados 12 projetos nos quais os conceitos de TVD

foram aplicados. (ZIMINA et al., 2012). O Quadro 5 foi elaborado com as características

de dois empreendimentos retratados com mais detalhes do artigo.

Quadro 5 - Estudo dos empreendimentos

Catedral Hill Hospital Fairfield Medical Office Building

Primeiro projeto feito de forma tradicional para este empreendimento apresentou-se cerca de 400 milhões acima do orçamento antes do uso do TVD;

Utilizou a mesma forma de contrato e uso de conceitos Lean e TVD como no projeto do Catedral Hill Hospital;

Uma nova equipe foi formada usando princípios do TVD e Lean Constrution;

Todos os atores envolvidos participaram do processo desde o início da concepção do projeto, fazendo um exercício de desenvolvimento de projeto para que o mesmo ficasse abaixo da meta;

Todos os atores envolvidos participaram do processo desde o início da concepção do projeto;

O processo de projeto, assim como no caso anterior, foi longo, para que o resultado final estivesse dentro dos padrões estipulados;

Resultados:

Produto final: abaixo do orçamento/custo estimados; com entrega de maior valor agregado ao cliente; com soluções inovadoras necessárias para se atingir a meta estabelecida; dentro do cronograma estipulado.

Produto final: custo abaixo do estipulado, porém com itens que agregaram maior valor ao empreendimento, através de um exercício contínuo de melhoria no projeto, ajustes no escopo e no orçamento.

Fonte: Da autora.

Os outros projetos não foram completamente finalizados, mas aqueles que já

foram concluídos apresentaram-se abaixo do orçamento e foram executados dentro do

cronograma e com maior entrega de valor para o cliente/usuário finais, com equipes

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alinhadas aos conceitos do CM e de Lean Construction desde o início da concepção dos

trabalhos

4.3 ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO CM NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL

4.3.1 Empreendimentos habitacionais de interesse social (EHIS)

No trabalho de Granja et. al (2011), foi feita uma análise comparativa de duas

modalidades de desenvolvimento de EHIS para identificação de oportunidades e

barreiras de aplicação do CM nesses contextos. O quadro 6 apresenta características

dos empreendimentos estudados e o Quadro 4 apresenta características que se

configuram em oportunidades e barreiras dos empreendimentos estudados.

Quadro 6 - Características dos empreendimentos analisados

Companhia A Companhia B

Desenvolvimento de EHIS em SP Desenvolvimento EHIS na região sul

Regime: empreitada global Participação de diversos agentes no processo

Demanda: famílias residentes no Município, com renda entre 0 – 10 SM

Demanda: análise do déficit local – famílias, com renda a partir de R$1.800,00

Fonte: Adaptado de Granja et al.; 2011)

Devemos destacar alguns pontos de importância, como a existência de regiões

diferentes e também as diferenças no caso dos clientes; nos casos no Brasil

apresentados, de EHIS, o cliente é público, fator que pode apresentar-se como um

obstáculo para a adoção do CM no processo de projeto.

Além disso, o tipo de contratação através da Lei de Licitações (Lei 8666/93) e as

relações de adversidade presentes neste contexto também podem se apresentar como

entraves para adoção destes conceitos, pois demandaria uma profunda mudança no

modelo utilizado atualmente. Nos casos apresentados anteriormente, no exterior (St Olaf

College, Catedral Hill Hospital e Fairfield Medical Office Building) nos quais o cliente é

privado, as equipes envolvidas com o desenvolvimento do projeto já eram alinhadas com

conceitos do CM e Lean Construction e as relações contratuais eram diferenciadas.

Assim, a aplicação do CM foi natural e o ambiente apresentou-se mais adequado para

uma aplicação plena dos benefícios do CM.

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Quadro 7 - Características que representam obstáculos ou favorecem a aplicação do CM

Obstáculos para a aplicação do CM

Companhia A Companhia B

Concorrência muito baixa ou nula; Existe concorrência, mas não ocorre em nível de

qualidade adequado;

Baixo grau de sofisticação do cliente; Baixa frequência de modelos;

Baixa frequência com que as exigências dos

usuários mudam;

Baixa frequência com que as exigências dos

usuários mudam;

Grau de entendimento dos usuários sobre

requisitos do produto (nem sempre relacionadas

com qualidade)

Baixo grau de entendimento dos usuários sobre

requisitos futuros do produto;

Baixa duração da fase de desenvolvimento do

produto;

Baixa duração da fase de desenvolvimento do

produto;

Baixa influência sobre os fornecedores; Baixa influência sobre os fornecedores;

Alto grau de adversidade nas relações, Relações não colaborativas

Fatores que favorecem a aplicação do CM

Alta complexidade do produto; Crescente grau de sofisticação do cliente;

Alto grau de serviços/produtos terceirizados; Alto grau de serviços/produtos terceirizados;

Baixa frequência de lançamentos novos; Baixa frequência de lançamentos novos;

Baixo grau de inovação do produto. O mesmo agente desenvolve e executa o

empreendimento;

Processo licitatório ocorre em etapas bem

anteriores;

Competição relativa.

Fonte: Adaptado de Granja et al.; 2011)

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Pode-se observar características mais favoráveis na Companhia B, devido às

características relativas ao tipo de programa estudado.

O quadro a seguir mostra, em síntese, os projetos estudados e como se dá a

aplicação dos conceitos do CM/TVD em cada projeto, de acordo com os referenciais

teóricos apresentados: (BALLARD; 2005 e 2011):

Quadro 8 - Síntese comparativa dos casos estudados

Princípios do CM (com base no referencial do P2SL -Ballard, 2005)

Comp. Hab. A

Comp. Hab. B

St. Olaf College

Catedral Hill Hospital

Fairfield Medical Office Building

1. Cliente poderia gastar mais tempo e dinheiro na fase de definição de projeto.

Não há. Não há. Sim, ocorre. Sim, ocorre. Sim, ocorre.

2. Os maiores envolvidos são selecionados por suas propostas baseadas em entrega de valor, não em licitação competitiva.

Ocorre o processo contrário.

Ocorre o processo contrário.

Alguns sim, mas não há informação sobre todos.

Sim, ocorre. Sim, ocorre.

3. Arquitetos não são os únicos a terem acesso ao cliente.

Não é o único, mas não existe ambiente colaborativo

Não é o único, mas não existe ambiente colaborativo

Sim, ocorre. Sim, ocorre. Sim, ocorre.

4. Os projetistas desenvolvem o projeto num ambiente de colaboração verdadeira, explorando problemas e desenvolvendo soluções de maneira conjunta.

Não ocorre. Há participação de diversos agentes, mas não há verdadeira colaboração

Sim, ocorre. Sim, ocorre. (uso de princípios Lean e do TVD incorporam isso).

Sim, ocorre. (uso de princípios Lean e do TVD incorporam isso).

5. Os fornecedores participam das etapas iniciais de concepção.

Não ocorre, só tardiamente

Não ocorre, só tardiamente

Sim, ocorre. Sim, ocorre. Sim, ocorre.

6. As soluções de projeto são desenvolvidas com custo, cronograma e construtibilidade como critérios de projeto.

Não, acabam se tornando critérios de “saída”

Não, acabam se tornando critérios de “saída”

Sim, ocorre. Sim, ocorre. Sim, ocorre.

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(Continuação Quadro 8)

7. O trabalho dos projetistas pode ser reestruturado de maneira a concluir pequenas quantidades de documentos de projeto e liberando frentes de trabalho para os outros membros da equipe.

Não há informação.

Não há informação.

Não há informação.

Não há informação.

Não há informação.

8. Os contratados principais devem permitir e encorajar que as equipes de especialidades contratadas tenham igual participação nas reuniões.

Não há informação, mas tradicional mente não ocorre neste contexto.

Não há informação, mas tradicionalmente não ocorre neste contexto.

Sim, ocorre. Não há informação.

Não há informação.

9. Os incentivos de todos os membros da equipe são alinhados com a busca dos objetivos de projeto.

São alinhados, mas não há percepção clara de conceitos de custo e valor para o cliente.

São alinhados, mas não há percepção clara de conceitos de custo e valor para o cliente.

Sim, ocorre. Sim, ocorre. Sim, ocorre.

10. O custo e as definições de percepção de valor do cliente são parâmetros indutores de criatividade no processo de projeto.

Não. (percepções de valor obtidas em APO neste contexto nem sempre significam percepção de qualidade dos produtos).

De custo não. No caso de valor, em parte sim, pois existe grande base de dados que pode ser utilizada sobre satisfação dos clientes.

Sim, ocorre.

Sim, ocorre. Sim, ocorre.

Fonte: Adaptado de Oliva e Granja; 2012

Pode-se dividir o quadro 8 em três grupos de acordo com os princípios propostos

e proceder-se uma análise horizontal, pois os casos estudados pertencem a contextos

diversos. Assim sendo, teríamos o Bloco 1: Colaboração, abrangendo os princípios 1, 2,

3, 4 e 5 (em amarelo); Bloco 2: Princípios-base para o Projeto: 6, 9 e 10 (em verde) e

Bloco 3: Reestruturação da Estratégia de Desenvolvimento de Projeto: 7 e 8 (em laranja).

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No Bloco 1, a base do CM utilizada nos princípios é a colaboração entre todos os

agentes envolvidos no processo: projetistas, cliente(s), fornecedores, equipes de projetos

complementares (estruturas, hidráulica, elétrica). Observa-se que, nos casos de EHIS,

não se encontra um ambiente favorável para participação de todos os atores envolvidos,

pois a gestão do processo esbarra no modelo utilizado pelos clientes públicos envolvidos

nestes casos: a forma de contratação por processo licitatório (design-bid-build), a própria

Lei de Licitações (Lei 8666/93) e as relações de adversidade muitas vezes presentes

neste tipo de contratação oferecem barreiras para um ambiente participativo e

colaborativo, não oferecendo condições propícias para a adoção plena dos benefícios do

CM, diferentemente do observado nos outros casos, onde o cliente é particular.

No caso do Catedral Hill Hospital, em São Francisco, apesar de o caso ter se dado

baseado em leis públicas de menor preço para este empreendimento, foi utilizado o

conceito de “best value”, em vez de menor preço, selecionando as equipes não só pelo

preço, mas também baseada em princípios de valor para o empreendimento.

O Bloco 2 envolve os princípios-base do CM para a gestão do processo de

projeto. Em geral, as restrições do cliente (custos, percepções de valor, necessidades)

apresentam-se no fim do processo de projeto, comumentemente sacrificando a qualidade

do produto final, quando essas restrições poderiam se apresentar como parâmetros

indutores de criatividade e busca por soluções inovadoras. Para que esses conceitos

possam ser adotados no caso de empreendimentos habitacionais onde o agente é

público, e nas condições legais vigentes, é necessária uma profunda modificação na

gestão do processo de projeto utilizada tradicionalmente, enquanto acontecem

naturalmente nos outros três casos apresentados, pois apresentam características mais

favoráveis, tais como, cliente particular e equipes de projeto já alinhadas com CM e Lean

Construction.

O Bloco 3 envolve uma reestruturação no modo como é conduzida a gestão do

processo de projeto, a fim de alinhar objetivos, valores e CM estabelecidos, facilitando a

colaboração entre os atores envolvidos. No item 7 não há menções explícitas se ele

ocorre nos casos estudados e no item 8 apenas uma ocorrência é relatada.

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Um trabalho recente, em conjunto com a construtora americana nos EUA, analisou

a aplicação do TVD em três empreendimentos: Sutter Medical Center at Castro Valley

(SMCCV), Alta Bates Summit Medical Center Patient Care Pavilion (ABSMC) e UCSF

Medical Center at Mission Bay (UCSF), com o objetivo de melhorar o processo de adoção

deste referencial, quando aplicado em projetos com IPD/Lean e também adaptar este

referencial teórico para outras situações. A pesquisa mapeou o estado atual da adoção

do TVD nestas empresas, identificou oportunidades de melhorias para esta aplicação,

mapeou o estado futuro necessário para estas mudanças, sugeriu ações de mudanças e

revisou as sugestões. (DENEROLLE; 2013)

Através de entrevistas com diversos atores envolvidos nos empreendimentos

(arquitetos, engenheiros, cliente – construtora), os mesmos também preencheram uma

pesquisa de avaliação da aplicação do TVD na empresa, atribuindo pontos para cada

item. Os resultados foram resumidos em uma tabela, onde o empreendimento com maior

pontuação com relação a práticas de aplicação do TVD foi o SMCCV, seguido por

ABSMC e por último o UCSF. Este último empreendimento traz a aplicação do TVD sem

o IPD em sua forma plena (IPD-ish). (DENEROLLE; 2013)

A análise dos resultados dos casos apresentados sugeriu áreas de melhorias para

uma melhor abordagem do TVD na construção civil: (DENEROLLE; 2013)

1. Alguns membros da equipe sentiram que não tinha havido transparência na

maneira como o CM fora estabelecido;

2. Os contratos relacionais utilizados geraram certa tensão entre os envolvidos;

3. Diferentes formas de trabalhar entre projetistas e construtora; faltou

desenvolver um nível comum de entendimento sobre como cada um trabalha

e alinhamento entre os processos;

4. Organização do projeto e melhorias entre as interfaces das equipes;

5. Melhor alinhamento de interesses dos usuários finais do empreendimento

(valores e pré-requisitos);

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6. Incompatibilidade de softwares – são necessárias melhorias na maneira como

as estimativas conceituais de projeto são feitas;

7. As equipes não projetaram proativamente para um custo. Outras ferramentas

poderiam ter sido utilizadas para identificar oportunidades de fazer uso da

Engenharia de Valor, bem como a realização de estimativas de custos mais

apurada, para que o custo influencie positivamente o projeto.

As sugestões de melhorias propostas nessa análise podem elucidar que o TVD é

uma abordagem de gestão de processo de projeto ainda em desenvolvimento e precisa

de adaptações que mudam de acordo com o contexto inserido. O mesmo raciocínio vale

para a adaptação do CM/TVD para o contexto nacional, onde práticas colaborativas são

precárias no processo de desenvolvimento do produto.

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5 MÉTODO DE PESQUISA

5.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA

Como estratégia de pesquisa, adotou-se o estudo de caso exploratório. De acordo

com Yin (1994), o estudo de caso é apropriado para responder questões do tipo “por que”

e “como”, e também quando o pesquisador tem pouca/nenhuma possibilidade de controle

dos eventos ou quando as circunstâncias gerais do fenômeno a ser estudado são um

fenômeno contemporâneo num contexto de situação real. Esta estratégia foi adotada com

o objetivo de se identificar como ocorre o processo de projeto nas empresas estudadas,

a fim de propor mudanças para adoção do TVD, sendo esta uma situação real da

empresa. A pesquisadora pôde observar e fazer inferências sobre este processo,

identificando barreiras e oportunidades de aplicação, sem exercer controle sobre estes

eventos.

Foram elaboradas entrevistas semiestruturadas para a coleta de dados. Neste tipo

de questionário, as perguntas são do tipo “abertas” e “fechadas-finalizadas”, onde as

perguntas são feitas sem ordem específica ou cronograma. Este tipo de entrevista busca

questões indiretas para se construir uma análise e explorar questões específicas sobre

um assunto (NAOM; 2007). As características especificas a seguir podem ser citadas em

uma entrevista semiestruturada:

1. Ela ocorre com entrevistados que já se envolveram com alguma experiência

particular (foco da pesquisa);

2. Refere-se a situações que tenham sido analisadas previamente à entrevista;

3. Ocorre baseada em tópicos específicos relacionados com a hipótese de

pesquisa;

4. É focada na experiência do entrevistado com relação à situação de estudo.

Sendo a intenção destes questionários coletar dados sobre o processo de projeto

atual da empresa e identificar possibilidades de aplicação do TVD, este tipo de entrevista

é adequado para a coleta de dados desta pesquisa.

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A pesquisa foi desenvolvida em fases, devido aos ciclos de aprendizado da

pesquisadora. Inicialmente, pretendia-se colher dados apenas para produtos voltados

para o Programa “Minha Casa, Minha Vida” (PMCMV), do governo federal, no extrato de

3-10 salários mínimos. O PMCMV foi instituído por intermédio da Lei 11.977/2009, de

maneira contida, com metas e subsídios limitados. Após um período de funcionamento

inicial, em julho de 2010 a MP497 prorrogou incentivos fiscais do programa até final de

2014 e aumentou a faixa de valor de imóveis enquadrados como de interesse social (de

R$60 para R$75 mil). Com meta inicial de construção de um milhão de moradias,

beneficiando famílias com ganhos entre zero e 10 salários mínimos (SM), o programa se

mostrou ambicioso.

A aprovação de empreendimentos pelo Agente Financiador (AF) principal deste

programa se divide em duas faixas principais: empreendimentos voltados a famílias que

recebem de 0 a 3 SM; e empreendimentos voltados para a faixa salarial de 3 a 10 SM. O

objetivo é prestar financiamento às empresas da construção civil para investimento em

habitação popular que atendam famílias nesta faixa salarial. Ele abrange capitais e

regiões metropolitanas, municípios com população entre 50 e 100 mil habitantes, e é de

acordo com o déficit habitacional de cada região.

Durante a primeira fase de coleta de dados, o objetivo foi identificar como ocorre

o processo de projeto em uma empresa que desenvolve produtos voltados para o

PMCMV - construtora/incorporadora (C/I 1) - no extrato de 3-10SM. Além da C/I, foi

consultado o escritório de arquitetura (EA) que desenvolve projetos para esta empresa.

Foi elaborado um método piloto, porém devido à dinâmica e características deste primeiro

estudo de caso (que serão detalhadas nas próximas seções), identificou-se a

necessidade de se colher dados em outro tipo de produto, bem como em outra C/I.

Na segunda fase da coleta de dados, os dois questionários aplicados na primeira

fase do estudo foram reaplicados na C/I 1 mas para um segundo produto voltado para

habitação. Além destes, um terceiro questionário foi elaborado, pois entendeu-se que

havia necessidade de moldar esta aplicação do TVD em estágios diversos de maturação

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para a empresa, pois a mesma não possui práticas de gestão Lean de maneira

sistemática e não possui conhecimento teórico/prático sobre o assunto.

Posteriormente, foram coletados dados em uma segunda C/I (C/I 2), com produtos

voltados para habitação, porém com um público-alvo diferenciado e, dessa maneira, ser

possível extrapolar um método de aplicação para construtoras/incorporadoras que possa

ser aplicado com pequenas adaptações por outras empresas não participantes da

pesquisa. Por fim, tem-se as fases de análise, comparação e conclusão, conforme

detalhado nas seções deste capítulo e posterior avaliação do método proposto.

Um método é um conjunto de passos (um algoritmo ou orientação) usado para

executar uma tarefa. Métodos baseiam-se em um conjunto de constructos subjacentes

(linguagem) e uma representação (modelo) em um espaço de solução (MARCH e SMITH;

1995).

5.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A motivação da pesquisa surgiu diante da identificação do TVD como importante

ferramenta de entrega de valor ao usuário final de produtos da construção civil, produtos

estes que sofrem impacto direto de restrições como cronograma, prazos e,

principalmente, custos. A facilidade nos financiamentos imobiliários atualmente tem

impulsionado o lançamento de um grande número de produtos voltados para a habitação.

No entanto, muitas vezes as restrições citadas têm impactado negativamente a qualidade

destes produtos. Por isso, o TVD surge como ferramenta interessante de gerenciamento

de custos e margens para a empresa, ao mesmo tempo que entrega um produto com

maior valor agregado ao usuário final, dentro daquilo que ele pode/está disposto a pagar

por tais benefícios.

As aplicações bem-sucedidas, reportadas principalmente nos EUA, foram voltadas

para a construção de hospitais e, muitas vezes, já em ambientes previamente

colaborativos, muitas vezes inspirados pelo IPD e com conhecimentos de práticas Lean,

além de ferramentas contratuais específicas utilizadas pelas empresas. No Brasil, além

do contexto de aplicação ser em habitação, tem-se ambientes poucos colaborativos, que

são parte de um processo altamente fragmentado e de difícil integração. Portanto,

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observou-se a necessidade de desenvolvimento de um método adaptado às

características intervenientes do contexto de estudo.

A figura 9 mostra uma síntese do delineamento da pesquisa, dividida em dois

grandes blocos, conforme detalhes a seguir.

Figura 9 - Síntese do delineamento da pesquisa

5.3 ESTUDO DE CASO NA C/I1 E EA – DESCRIÇÃO DOE STUDO DE CASO 1 E

DAS EMPRESAS CONSULTADAS

A C/I 1 é uma empresa de grande porte, atuante no Brasil há mais de 30 anos,

atuando no segmento imobiliário residencial e comercial, tendo entregue quase 100 mil

unidades desde a sua fundação. A matriz localiza-se em São Paulo, porém possui

distribuição regional em diversas partes do país (inclusive Campinas-SP) e muitas vezes

os projetos são desenvolvidos pelas regionais. Tanto na matriz como em suas regionais,

os projetos são terceirizados para escritórios diversos.

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No segmento de habitação, atua em extratos diversos, desde produtos voltados

para o PMCMV, até produtos voltados para população mais sofisticada e de maior poder

aquisitivo.

O quadro abaixo resume a primeira fase da pesquisa, que será detalhada a seguir.

Quadro 9 - Etapas da primeira etapa da pesquisa

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Na cidade de Campinas/SP, o EA pesquisado atua elaborando projetos para a C/I

1. É um dos escritórios para o qual a construtora terceiriza seus projetos. O EA conta

com diversos arquitetos, e trabalham com diversos projetos ao mesmo tempo. Nesta

primeira fase, foram coletados dados sobre o processo de projeto do EA, definido no

manual de boas práticas da C/I 1. Este processo de projeto não muda para os diferentes

produtos da construtora. A pesquisadora teve acesso a tal documentação, e será

apresentado de forma resumida como ocorre o processo de projeto dentro da empresa.

Além disso, foram elaborados dois questionários, no formato de entrevista aberta,

e assim contar com múltiplas fontes de coleta de dados convergindo para uma

triangulação (YIN; 1994). Estes questionários foram elaborados com base nos princípios

de aplicação do TVD, descritos por Ballard (2011) e foram analisados sob esta ótica, com

o objetivo de se identificar quais destes princípios eram: 1.aplicados sistematicamente;

2.aplicados, porém com necessidades de mudança para aumentar sua eficiência;

3.aplicados parcialmente e 4.não aplicados. Como a empresa estudada não tinha

treinamento ou conhecimento prévio em Lean ou TVD, partiu-se do pressuposto que

quando os princípios são utilizados, estes, ou alguns destes, são feitos de maneira

inconsciente e instintiva (CAMARGO; GRANJA, 2009).

No EA, o questionário piloto foi feito com a arquiteta coordenadora de projetos,

que trabalha há 5 anos na função. Nesta primeira fase na C/I 1, os dados foram coletados

com a coordenadora de desenvolvimento de produtos da empresa. Ambas as

entrevistadas tiveram contato com desenvolvimento de produtos da empresa voltados

para o PMCMV, no extrato de 3-10 salários mínimos.

Em geral, produtos voltados para o PMCMV têm certa homogeneidade em sua

tipologia. Em geral são plantas com 2 dormitórios, normalmente sem varanda, entre 45-

50m2. Mesmo as fachadas possuem uma monotonia estética e pouco mudam de um

empreendimento para outro, comparando diversas construtoras diferentes.

À luz da análise dos dados coletados por meio das entrevistas semiestruturadas,

bem como da análise documental do manual de boas práticas da empresa, um quadro

foi elaborado com base nestas evidências, e, posteriormente, uma proposta piloto é

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apresentado. Os aprendizados nesta fase sugeriram que um segundo estudo de caso,

na mesma empresa, porém com produtos voltados para um extrato salarial maior poderia

ter potenciais características benéficas para uma adoção do TVD. As pressões contidas

num orçamento já bem apertado e regras que regem o programa acabam criando maiores

obstáculos para as mudanças necessárias para uma integração eficiente do TVD na

gestão do processo de projeto neste contexto.

5.4 EESTUDO DE CASO NA C/I 1 E C/I – DESCRIÇÃO DOS ESTUDOS DE

CASO 2 E 3 E DAS EMPRESAS CONSULTADAS

A segunda fase da coleta de dados foi voltada para outra família de produtos, na

mesma C/I, num primeiro momento. O entrevistado nessa segunda fase atua como

gerente de desenvolvimento de produtos, há 5 anos nesta função, e há 12 anos na

empresa. Este produto para habitação é voltado para o extrato salarial a partir de

R$12.500,00 (aproximadamente 17 salários mínimos, em valores atuais - 2014). Estes

imóveis estão configurados em plantas de 2 ou 3 dormitórios, com área construída média

entre 68-80m2, geralmente com varanda, mais opções de lazer comum diferenciadas

como piscina e espaço gourmet, além de fachadas mais interessantes do ponto de vista

arquitetônico são características buscadas na elaboração deste tipo de empreendimento.

O Quadro 10 mostra a síntese da segunda fase da pesquisa e coleta de dados,

detalhadas a seguir.

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Quadro 10 - Etapas da segunda fase da pesquisa

O manual a respeito do processo de projeto é o mesmo utilizado para estes

produtos. Apesar disso, sendo os potenciais usuários destes produtos com um maior grau

de sofisticação, a adoção do TVD traria benefícios no sentido de capturar, da melhor

maneira possível, os requisitos representativos de valor para estes usuários. Além desta

análise, foram feitas as duas mesmas entrevistas da primeira fase da coleta de dados e

uma terceira entrevista com questões abertas, com o objetivo de elaborar um método de

aplicação do TVD por meio de fases de maturação. A divisão em fases de implantação

se faz mais interessante, pois as empresas estudadas não possuem contato ou

conhecimento teórico/prático com o referencial teórico estudado, tornando-se difícil uma

adoção de todos os princípios a partir de implementações iniciais do TVD. Por isso, o

questionário final teve como objetivo validar a proposta junto à empresa.

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Num segundo momento, a coleta de dados foi feita em outra

construtora/incorporadora (C/I 2), também para produtos voltados para a habitação,

porém são produtos de alto padrão, voltados para segmentos A e B da população. A

empresa (C/I 2) atua há 27 anos no mercado, com produtos imobiliários para habitação

e também comerciais e também possui diversas certificações e premiações. Os produtos

voltados para habitação são diferenciados, com área a partir de 160m2, 4 dormitórios,

com unidades reduzidas por andar, em geral plantas possuem grandes áreas destinadas

à varanda, além de opcionais diferenciados oferecidos pela construtora, conforme

informações coletadas.

Os entrevistados nessa fase atuam nas áreas de gerente de projetos, coordenação

comercial, gerente de orçamentos e responsável por atendimento ao cliente. Primeiro, se

identificou como ocorre o processo de projeto na empresa, bem como barreiras e

oportunidades de implementação do TVD. Posteriormente, o questionário de validação

foi conduzido para se chegar a um método de maturação para adoção do TVD em fases.

À luz da análise comparativa da validação entre as duas empresas, foi possível

generalizar uma proposta de integração do TVD no processo de projeto para

empreendimentos da construção civil, voltados para o contexto em análise (habitação),

possibilitando que este método possa ser adotado de acordo com as características

específicas de cada empresa, com mínimas adaptações necessárias.

6 DADOS COLETADOS E ANÁLISE

Os dados foram coletados em duas fases. Num primeiro momento, no escritório

de arquitetura (EA), e na Construtora/Incorporadora 1 (C/I1), para produtos voltados para

PMCMV. Na segunda fase, participaram a C/I 1, com outro produto voltado para a

habitação que será chamado de PH1 e numa segunda C/I 2, que será chamado de PH2.

Os questionários podem ser consultados no apêndice.

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6.1 COLETA DE DADOS E ANÁLISE – FASE 1

Na primeira fase da coleta de dados foram consultados o Escritório de Arquitetura

(EA), que desenvolve projetos para a Construtora/Incorporadora 1 (C/I1). Os

questionários, bem como o manual de boas práticas da empresa, foram analisados à luz

dos referenciais teóricos de TVD descritos por Ballard (2005; 2011), considerando

produtos voltados para habitação no segmento do PMCMV (3-10 SM).

As figuras a seguir sintetizam como ocorre o processo de projeto da empresa em

questão (adaptado por meio da análise de documentos e questionários). Este processo

de projeto ocorre da mesma maneira para todos os produtos da empresa, inclusive

aqueles voltados para o PMCMV. O processo se divide em 6 etapas principais:

- Etapa 1: ocorre a encomenda do produto;

- Etapa 2, 3 e 4: definição do produto, identificação e soluções e projeto detalhado,

respectivamente. Estas etapas fazem parte do desenvolvimento dos projetos em si;

- Etapa 5: fase de obra (após a conclusão dos projetos);

- Etapa 6: fase de atendimento ao cliente após a conclusão e entrega da obra.

Figura 10 - Etapa 1 – Encomenda do Produto (adaptado do manual de boas práticas de projeto

fornecido pela C/I)

Adaptado de: manual de boas práticas da C/I 1

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Na Figura 22, pode-se observar que, primeiro, a C/I busca um terreno dentro das

especificações do AF e que esteja dentro do escopo financeiro, no caso de produtos não

voltados para o PMCMV. Depois, é feito um estudo de massa que será analisado

tecnicamente para avaliação da viabilidade do novo produto. Só depois a equipe de

arquitetura (EA) é definida e ocorre a reunião para alinhamento de cronograma e escopo

e só neste ponto o projeto tem início. Todo este levantamento inicial é feito apenas com

participação da C/I, sem envolver os outros atores que participarão do processo de

desenvolvimento do produto.

Figura 11 - Etapa 2- Definição do Produto (adaptado do manual de boas práticas de projeto

fornecido pela C/I)

Adaptado de: manual de boas práticas da C/I 1

Depois que o estudo preliminar do produto é validado, os projetistas

complementares entram no processo (estruturas, hidráulica, elétrica), e tem início a fase

de anteprojeto (Figura 12). A C/I avalia as opções de planta, se houver mais de uma –

em geral, um modelo padronizado para produtos neste contexto é reutilizado em novos

lançamentos, sofrendo apenas adaptações de acordo com a legislação local, deixando

pouco espaço para novas soluções. Em geral as mudanças são com relação ao número

de unidades por pavimento, implantação, número de pavimentos e alguns acabamentos.

Este anteprojeto passa novamente por avaliação e, após validado, tem início a fase de

pré-executivo.

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Figura 12 - Etapa 3 - Identificação e Soluções (adaptado do manual de boas práticas de projeto

fornecido pela C/I)

Adaptado de: manual de boas práticas da C/I 1

Na fase de Pré-Executivo (Figura 24), é elaborado também o projeto legal de

acordo com legislação do local de implantação. Depois é feita reunião com as equipes e

compatibilização dos projetos. Somente nesta fase os custos da obra são levantados e,

estando o produto acima do orçamento, a equipe de orçamentação apresenta as

mudanças que deverão ser adotadas com o objetivo de deixar o produto dentro do

orçamento. É nesta fase que são feitos “cortes” em itens de projeto e também na

especificação de materiais, para que o empreendimento não ultrapasse o custo

estabelecido. A seguir, o produto é lançado.

Figura 13 - Etapa 4 – Projeto Detalhado (adaptado do manual de boas práticas de projeto fornecido

pela C/I)

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Adaptado de: manual de boas práticas da C/I 1

Em seguida, os projetos executivos são elaborados pelas equipes de projetos e

compatibilizados (Figura 25). Após a conclusão dos projetos executivos é que o

orçamento detalhado e o planejamento de obra são feitos. O orçamento e planejamento

são avaliados neste ponto, em termos técnicos, prazo, custos. Então o produto é liberado

para a fase de execução.

Na Etapa 5 os projetos são apresentados para a equipe de execução e os

fornecedores são contratados nesta fase. Podem ocorrer alterações de projeto ou a

necessidade de detalhamentos para esta fase.

Por fim, na Etapa 6, a C/I 1 faz a avaliação do empreendimento. Aqui, segundo

questionários, a empresa faz avaliação pós-ocupação do empreendimento, mas de

maneira não-regular (não é realizado para todos os produtos lançados). Porém, somente

a construtora tem acesso a esta avaliação; ela não é compartilhada com as equipes de

projeto.

Após a análise deste processo de projeto e dos questionários (os questionários

encontram-se no anexo), chegou-se a tabela a seguir. Partiu-se da hipótese de que,

alguns princípios do CM/TVD já eram aplicados pela empresa, ainda que de maneira

inconsciente e não-sistemática (CAMARGO; GRANJA, 2009).

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Quadro 11 - Síntese da análise dos dados coletados - Produtos voltados para o PMCMV

PRÍCIPIOS APLICAÇÃO APLICADO, PORÉM APLICADA

NÃO-SISTEMÁTICA MUDANÇAS SÃO SISTEMATICA-OU PARCIAL NECESSÁRIAS MENTE

Os forncedores principais não participam do estudo de viabilidade. As decisões sobre

o estudo de viabilidade esão tomadas apenas pelo cliente. (Q)

As variáveis consideradas são custo, preço e velocidade de venda. Mas as restrições não

estão todas claras ainda nesta fase. (Q)

O estudo de viabilidade não envolve todos as equipes de projetos, somente a construtora, o

escritório de arquitetura, engenharia e o setor de incorporação. (Q)

O estudo de viabilidade apenas busca se o empreendimento trará retorno financieiro para

a empresa. (Q)

O orçamento é somente parcial; escopo e cronograma são alinhados numa fase mais

avançada do processo de projeto (Q/QPP).

O cliente (construtora) é um membro ativo, mas uma maior participação do usuário final

poderia ser considerada (Q/QPP)

O cliente tem um projeto padronizado já previamente definido. As equipes de tem completo

entendimento com relação a estes padrões e o seguem c/ alguns ajustes regionais.(Q)

O cliente apresenta uma tabela com os valores para cada tipo de trabalho para os escritórios.

Não é uma parcerial verdadeira; o incentivo é um fluxo contínuo e garantido de trabalho. (Q)

Escopo e custos são pré-definidos de acordo com o tipo de produto a ser lançado e apenas

o cliente pode fazer mudanças. (Q)

Apenas as equipes internas da construtora discutem essas implicações. Maior participação

externa poderia trazer insights interessantes e novas idéias para o produto. (Q)

Com exceção da estimativa inicial de custos, o orçamento detalhado é elaorado apenas

quando o projeto está concluído.A atualização contínua poderia evitar cortes.(Q/QPP)

O cronograma é feito através de tarefas a serem concluídas pelas equipes de projetos,

mas não de forma sistematizada. (Q)

Por causa da padronização do projeto, todos as equipes de projeto devem seguir o modelo

estabelecido.Nocas soluções poderiam ser incentivadas p/ lançar produtos diferenciados. (Q)

A construtora não compartilha metas de escopo e custos com toda a equipe envolvida. Politica

mais aberta e incentivos p/ um ambiente mais colaborativo traria soluções melhores. (Q)

Não aplicado pela construtora. (Q)

Não aplicado pela construtora. (Q)

As equipes fazem reuniões, porém sem frequência pré-definida. (Q)

NÃO APLICADOTVD

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

12

13

14

15

16

17

6

7

8

9

10

11

1 X

EVIDÊNCIA

2

3

4

5

Q: Evidência coletada nos questionários. QPP: Evidência coletada no quadro de processo de projeto da empresa.

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6.1.1 – Análise dos dados – Fase I

O Quadro 11 e a análise dos questionários, à luz do referencial teórico adotado,

mostram as evidências listadas à seguir com relação ao processo de desenvolvimento

de produto da empresa citada, para a unidade de análise estudada (PMCMV):

1. No estudo de viabilidade, somente a construtora participa e avalia os resultados

encontrados;

2. Nas etapas iniciais de projeto, somente o arquiteto participa; as equipes de

projeto complementares entram apenas depois da fase de estudo preliminar,

na etapa de anteprojeto;

3. As etapas, em geral, são muito fragmentadas; o processo de projeto passa por

muitas sub-fases (estudo de massa, estudo preliminar, anteprojeto, pré-

executivo, executivo) até sua conclusão;

4. As reuniões entre as equipes ocorrem sem frequência pré-definida e destinam-

se mais à avaliação da compatibilização entre os projetos complementares;

5. A C/I 1 não divide metas de escopo, custos, orçamento e cronograma com toda

a equipe desde o início do processo;

6. O orçamento detalhado é levantado somente após a conclusão dos projetos

executivos. A estimativa de custos é feita após a fase de pré-executivo. Se o

produto ultrapassa o custo esperado, são sugeridos os cortes no projeto e

especificação de materiais para serem realizados na fase seguinte, no projeto

executivo;

7. Os fornecedores somente entram na fase de execução de obra. Exceto por

uma participação que foi feita incialmente quando a padronização de produtos

voltados para o PMCMV foi elaborada, estes não participam mais de nenhuma

etapa do processo de projeto;

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8. O modelo padronizado fornecido pela C/I sofre poucas alterações; estas são

mais voltadas para atender a legislações locais da área de implantação do que

para proposição de novas soluções;

9. O usuário final não participa em nenhuma fase do empreendimento. O

feedback de valor percebido pelo usuário, feito apenas após a ocupação do

empreendimento, não é compartilhada com os outros membros da equipe de

desenvolvimento de produto. Não fica claro, pelas informações fornecidas pela

empresa, de que maneira é feita esta avaliação pós-ocupação e se ela fornece

dados com relação não somente à satisfação, mas também sobre sua visão de

valor percebido e desejado do produto; (GRANJA et al., 2009)

10. As restrições do empreendimento como custo, cronograma e escopo não são

estabelecidas de forma clara nos estágios iniciais de projeto;

11. Não existem formas de incentivo para colaboração dos membros da equipe.

O incentivo é apenas através de garantia de fluxo de trabalho;

12. As implicações de custo não são discutidas com todos os membros

envolvidos; apenas a construtora tem poder sobre alterações e mudanças;

13. As fases de projeto e obra são completamente desassociadas do processo de

desenvolvimento do produto;

A maior parte dos princípios do TVD não é aplicada ao processo. O restante é

aplicado apenas de maneira parcial ou é aplicado, porém necessita de melhorias no

intuito de que os benefícios deste referencial teórico possam ser adotados de maneira

eficiente.

Para tanto, é necessário intenso esforço de todos os atores envolvidos no

processo, no intuito de promover um ambiente mais colaborativo. No Brasil, não existem

formas de contrato de incentivos, com divisão de riscos e lucros entre todos os

interessados, da maneira como é praticada nos Estados Unidos, onde tem-se casos de

sucesso implementados. Por isso, uma adaptação dos princípios existentes é necessária

e uma observação sob a ótica de um outro produto para habitação é necessária.

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Neste tipo de produto habitacional voltado para classes sociais mais baixas, a

situação de moradia anterior destes usuários em geral era muito precária, por isso,

apesar da qualidade ser questionável, a APO pode indicar satisfação com o produto

adquirido (GRANJA et al; 2009). Além disso, os parâmetros de qualidade mínimos

estabelecidos pelo AF são muito básicos, ou seja: o baixo nível de exigência dos

usuários, somado ao padrão de exigência mínimo do AF e às restrições orçamentárias e

cronogramas restritos, e pouquíssima flexibilidade devido à lei que regulamenta este

segmento de habitação são alguns dos obstáculos para a adoção do TVD. Uma proposta

piloto foi elaborada com base nestes dados, e posteriormente atualizada após a Fase II

da coleta de dados.

6.2. COLETA DE DADOS E ANÁLISE – FASE 2

Na segunda fase, foram coletados dados em dois momentos. Num primeiro

momento, na mesma C/I 1 da primeira fase, mas para um produto de habitação diferente

daqueles voltados para o PMCMV, que será chamado de PH 1, que consideraremos

produto habitacional padrão, para uma faixa salarial a partir de R$12.500,00

(aproximadamente 17 salários mínimos, em valores de 2014). Na C/I, a unidade de

análise é um produto habitacional de alto padrão para classes A e B, ou PH 2. Trabalhou-

se com a suposição de que usuários finais com maior grau de sofisticação pode ter

melhor discernimento de itens representativos de valor do produto,. Além disso, as regras

que regem o programa permitem pouca flexibilidade.

Na C/I 1, o processo de projeto ocorre igualmente para toda a família de produtos.

Os mesmos dois questionários aplicados na primeira fase, foram aplicados para o PH 1,

e analisados à luz do referencial teórico do TVD descrito por Ballard (2011), de forma a

identificar novamente quais práticas já eram aplicadas, ainda que de forma não

sistemática ou inconsciente e resultaram na elaboração de um quadro que sintetiza esta

análise. O mesmo quadro foi elaborado para os dados coletados na C/I 2 e para o produto

habitacional analisado PH 2. Segue a síntese da análise nos quadros 12 e 13.

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Quadro 12 - Análise e síntese dos dados coletados na C/I 1 – Fase II

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Quadro 13 - Análise e síntese dos dados coletados na C/I 2 – Fase II

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6.2.1 Análise dos dados – Fase II

A análise dos dados do Quadro 12, dos questionários e do processo de projeto da

C/I 1 apontaram as seguintes constatações:

1. As equipes de projeto não participam da fase de viabilidade, entram apenas

na fase de estudo preliminar;

2. As equipes de projetos complementares entram mais cedo se comparado

com os dados coletados anteriormente. Neste caso, elas participam em conjunto

desde a fase de estudo preliminar;

3. Existe certa relação com alguns fornecedores durante a fase do processo

de projeto, ainda que esporádica, em sistema de retroalimentação. No entanto os

fornecedores poderiam ter maior participação, não apenas como consultores, mas

com sua expertise, dando inputs de construtibilidade e sugerindo novas

tecnologias e soluções;

4. Parâmetros mínimos de projeto são definidos através de brainstorm com as

equipes de projeto e reunião de produto;

5. O usuário final participa durante a fase de execução do empreendimento,

com visitas pré-agendadas pela construtora, porém o mecanismo de feedback é

apenas na pós-entrega, como APO;

6. Existe certa flexibilidade dos targets estabelecidos, e novas soluções são

sempre incentivadas por parte da C/I e as metas de escopo e custos são alocadas

entre todas as equipes de projeto;

7. Existe uma estimativa de custos pré-estabelecida pela empresa, e são

apresentados os valores estimados para cada área. As estimativas viram metas,

e caso sejam ultrapassadas, são atualizadas e a área responsável é penalizada2.

Em vez de penalização, poderia haver trabalho em conjunto para exercitar novas

soluções que buscassem diminuir o custo total do empreendimento, sem sacrificar

2 A empresa não detalhou que tipo de penalização é adotado.

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a qualidade, envolvendo todas as áreas, não somente penalizando a área

responsável.

8. Existe uma previsão de orçamento para o empreendimento, antes do

lançamento do mesmo, mas que é revisto e detalhado apenas na conclusão do

projeto executivo;

9. As reuniões de projeto não ocorrem com frequência pré-estabelecida.

Reuniões técnicas com todos os envolvidos visam mais à compatibilização dos

projetos do que discussão de novas soluções e estimativa de custos das equipes

para as soluções apresentadas;

10. Os projetistas nem sempre têm total entendimento em relação às

especificações, necessidades, e o que é valor para a empresa e empreendimento;

11. Apesar dos usuários finais destes produtos terem maior discernimento

sobre itens representativos de valor e fazerem comparação entre produtos

concorrentes, estas informações são subutilizadas para retroalimentar o processo

de projeto.

Já a análise do Quadro 13, análise das entrevistas com a C/I 2 e da unidade de

análise do PH 2, apontou as seguintes evidências:

1. O feedback do usuário final é obtido através de pesquisas de APO, e também

no pré-venda, norteando futuros lançamentos;

2. As etapas de projeto ocorrem de forma similar: busca pelo terreno, estudo

preliminar, anteprojeto, pré-executivo e executivo e por fim, liberado para obra;

3. O estudo de viabilidade não produz um orçamento muito apurado; um

escopo é definido e a área de orçamentos se aprofunda para que este seja fechado

até o lançamento do empreendimento;

4. As equipes nem sempre possuem completo entendimento com relação às

especificações, necessidades e o que é valor para a empresa e o

empreendimento; a empresa desenvolve documentos com diretrizes de projeto e

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escopo das entregas para cada especialidade, para facilitar este entendimento.

Parcerias são feitas com projetistas que já possuem este conhecimento;

5. As metas de custo para o empreendimento não são alocadas para as

equipes de projeto; apenas metas de escopo;

6. A construtora possui certa flexibilidade nas metas, e estas podem ser

alteradas pela empresa, desde que justificadas e aprovadas pela diretoria da

mesma;

7. A busca por novas soluções é encorajada e incentivada pela empresa;

8. A empresa possui estimativa de custos para o empreendimento, porém

estes custos não são passados para os projetistas; somente parâmetros para

desenvolvimento ou modificação do projeto para que o resultado esperado seja

atingido;

9. O orçamento é atualizado junto com o desenvolvimento do projeto pela

equipe de orçamentos;

10. Os fornecedores principais participam durante o processo, tais como

consultores. Sua participação poderia ser mais ativa no processo de projeto com

busca de soluções.

Por fim, uma terceira análise foi feita, através de um quadro síntese que compara

os três estudos de caso:

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Quadro 14 - Síntese comparativa dos casos estudados

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Da análise do quadro comparativo dos dados – aplicação dos 17 princípios (aplicação

parcial/inconsciente/não sistemática) e das entrevistas obtiveram-se as seguintes

inferências:

Com relação aos princípios não aplicados: os itens relacionados ao estudo de

viabilidade são em geral de difícil aplicação (a maioria não são aplicados ou

possuem situação de aplicação parcial) quando envolvem os outros membros-

chave do processo. Em geral, neste estágio, apenas a Construtora está envolvida,

e somente alguns participantes internos estão envolvidos e isto é comum nos

casos estudados. Além disto, nesta fase busca-se apenas a identificação de

retorno financeiro do produto para a empresa, os custos de manutenção e

operação, por exemplo, não são considerados, e este estudo não produz um

orçamento em nível de detalhamento muito preciso;

A forma como ocorre o processo durante o desenvolvimento de produtos do

PMCMV representa maiores desafios para aplicação. Metas de custos e

cronograma bastante restritas e as leis que regem o programa tornam este tipo de

processo pouco flexível para mudanças. Durante os estudos, os entrevistados

demonstraram uma queda de interesse das C/I em desenvolver produtos para esta

linha, em especial pelas dificuldades impostas pelas leis que regem o programa,

bem como das dificuldades em se obter retorno financeiro satisfatório. Isso pode

inclusive ser constatado pelo Quadro 14, onde quase metade (41%) dos princípios

não é aplicado, 29% tem uma aplicação não sistemática ou parcial – de forma

ainda bem básica e intuitiva – 18% tem aplicação, mas ainda necessita de

melhorias para possibilitar aproveitamento dos benefícios de forma mais plena, e

somente 12% é aplicada de maneira sistemática. Estes números evidenciam os

obstáculos maiores neste tipo de processo;

A análise também sugere a possibilidade de adequação do TVD em níveis

crescentes de colaboração – pois esta ferramenta pressupõe intenso envolvimento

e ambiente colaborativo entre os envolvidos no processo – através do qual é

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aconselhável uma análise da empresa sobre a situação atual da forma como a

mesma trabalha. Ainda que alguns princípios já sejam adotados, mesmo que de

maneira parcial, há sempre espaço para melhorias. Como não se encontrou casos

reportados na literatura com aplicação de TVD no contexto de estudo, isto pode

sugerir que as empresas ainda não possuem pleno conhecimento de práticas

colaborativas, abrindo oportunidades de integração do TVD nas construtoras;

A análise dos 3 empreendimentos sugere que a diferença entre os casos

estudados se concentre mais na diferença de como ocorre o processo de projeto

em si e as relações entre as partes envolvidas do que pela faixa salarial de cada

empreendimento. A faixa salarial a qual se destinam mostram pouca influência no

número de fatores que favorecem a integração do TVD. Isso pode ser evidenciado,

por exemplo, quando se analisa a C/I 1 e os dois produtos estudados (PMCMV e

PH1). Apesar da diferença de faixa salarial para a qual se destinam, e apesar do

manual de boas práticas da empresa ser o mesmo para ambas famílias de

produtos, segundo os entrevistados as dificuldades principais relacionadas a

mudanças no processo estão mais conectadas às restrições impostas pelo

processo “engessado” no PMCMV. Um exemplo disto é a dificuldade em incluir os

outros envolvidos já desde o início do processo. Com uma restrição orçamentária

tão apertada, é muito difícil para a empresa alocar recursos para integrar

fornecedores e prestadores de serviços principais nesta fase do processo, por

exemplo. Apesar disto poder ser encarado como investimento, ao invés de custo

(uma vez que este envolvimento pode resultar em redução de custos futuros), as

margens já são bastante justas com retorno nem sempre garantido para que a

empresa concorde em assumir riscos;

Nos 3 casos, uma minoria dos princípios é adotada de forma sistemática, fator que

pode sugerir práticas colaborativas ainda muito incipientes, apresentando boas

oportunidades de melhorias. No entanto, estas propostas de mudanças

necessitam do comprometimento da alta gerência da empresa, para que as

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mudanças possam se estender por todo processo e por toda a hierarquia e

envolvidos no desenvolvimento dos produtos;

Nos 3 casos o usuário final não tem participação ativa no processo de projeto. Em

geral, ele é envolvido apenas na APO, ou, no máximo, durante as pré-vendas nos

estandes. Mesmo estes feedbacks de APO são pouco compartilhados com as

equipes de projetos para aprendizados futuros. Porém estas avaliações não se

destinam a identificar as percepções de valor destes usuários. Ferramentas e

processos necessitam de desenvolvimento e aplicações teste para possibilitar este

tipo de análise.

6.3 COLETA DE DADOS – MÉTODO DE MATURAÇÃO PARA ADOÇÃO DO

TVD

Com base nos princípios do TVD descritos por Ballard (2011), bem como

características visando maior colaboração entre os agentes e princípios Lean, serviram

de base para esse método, que procurou identificar quais princípios poderiam ser

adotadas em curto, médio ou longo prazo, e a partir disto elaborar a proposta de

integração através de estágios de maturação, de acordo com a complexidade do produto

considerado.

Os princípios considerados foram os seguintes (entre parênteses, sua conexão

com os 17 princípios de Ballard):

1. Estabelecimento do custo-meta de projeto no início do mesmo, de

forma que somente a C/I pode alterá-lo. Este princípio visa estabelecer o custo

como parâmetro de projeto logo no início do processo, para que este seja um

indutor de criatividade, não somente uma consequência do projeto executivo

concluído. (Princípio: 9);

2. Envolvimento de todos os parceiros, desde o início do projeto

(fornecedores principais, projetistas, usuários finais). Este item busca promover

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colaboração verdadeira desde as fases iniciais de concepção do

empreendimento. (Princípios: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 10);

3. Estimativa de custos de forma contínua. Isso permite que as equipes

verifiquem continuamente se os custos não estão sendo excedidos, e

trabalhem sempre nesse sentido, em vez orçar o custo do projeto somente

depois que o mesmo está finalizado. A cada etapa, no mínimo, estas

estimativas são atualizadas e alocadas entre todos os envolvidos, com

reuniões frequentes das equipes para discutir soluções baseadas em custos.

(Princípios: 10, 11, 15 e 16);

4. Contratos de incentivo entre a C/I e os parceiros envolvidos,

compartilhando riscos e lucros. Isso dá segurança aos envolvidos e incentiva-

os a buscar melhores soluções que fiquem abaixo do custo proposto mas não

percam qualidade. (Princípio: 8);

5. Treinamento em Lean e em TVD antes do início do empreendimento.

É necessário que os envolvidos comecem a ter contato com os princípios para

que essa nova cultura de gerenciamento possa ser assimilada pelas equipes,

facilitando sua implementação. (Este ponto não está relacionado com os 17

princípios, porém é a base para se iniciar uma aplicação, pois é necessário

entendimento do que essa nova cultura gerencial significa);

6. Co-locação das equipes. Com as equipes desenvolvendo o projeto

no mesmo espaço, a colaboração e troca de informações e ideias fica mais

dinâmica e instantânea. (Princípio 17);

7. Identificação do que é valor para o usuário por meio de avaliação do

último empreendimento, utilizando por exemplo ferramentas Lean. Satisfação

e valor são conceitos complementares, e a APO nem sempre é suficiente para

identificar valor desejado e percebido pelo usuário final. (Princípio 8);

8. Feedback contínuo do usuário. Ao final de cada empreendimento,

também deve ser feita uma avaliação para que seja identificado se as

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percepções de valor dos usuários foi satisfeita ou se esta percepção mudou.

(Princípios 8 e 10);

9. Usuário final como peça chave do processo, participando em todas

as etapas de desenvolvimento do projeto. Na finalização de cada etapa ou a

cada grande mudança nas soluções de projeto, pode ser feita uma avaliação

junto ao usuário, com o objetivo de se identificar se o produto final ainda se

encontra dentro de suas perspectivas de valor desejado. (Princípios 6 e 8);

10. Total entendimento de todos os membros da equipe com relação ao

empreendimento e do que representa valor para as partes envolvidas. Este

princípio prioriza a comunicação entre os envolvidos, que ocorre quando há

verdadeira colaboração. (Princípios 7 e 14);

11. Estudo de viabilidade: envolve todos os agentes que participarão do

empreendimento. Com a participação de todos, as metas de custos e

possibilidades ficam mais claras para as equipes. (Princípios 1, 2, 3, 4 e 5);

12. Incentivos de todos os envolvidos devem estar alinhados com os

objetivos do empreendimento, através de contratos de incentivo. Isso incentiva

a busca de novas soluções de projeto sem perder de vista a qualidade final do

produto. (Princípio 8);

13. Seleção das equipes baseada em valor. Os agentes que participarão

do projeto devem ser selecionados não somente baseado em preço

(frequentemente o menor), mas também em quesitos de valor que podem

oferecer. (Princípios 7 e 8);

14. Transparência entre construtora e equipes, com relação aos planos,

custos gastos para o empreendimento. A transparência entre os participantes

auxilia na busca por um trabalho integrado e em colaboração, evitando

situações onde quem detém o maior poder de negociação leva vantagem

financeira sobre os outros, forçando-os a situações de abaixar o custo além do

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possível para se manter a mesma qualidade do que será oferecido. (Princípios

6, 7, 8 e 14);

15. Uso de ferramentas. Uso de BIM (Building Information Modelling)

como sistema informatizado para integração do projeto, mock-ups (modelo em

escala real do empreendimento), entre outras, para facilitar a avaliação do

empreendimento e seu desenvolvimento. (Princípio 12);

16. Metas flexíveis. Metas devem ser estabelecidas, porém certa

flexibilidade é desejável, contanto que o orçamento não ultrapasse o valor

estabelecido, para que a inovação e busca por novas soluções seja

incentivada. (Princípios 9 e 13);

17. Equipes apresentam seu risco e a construtora assume parte do risco

do empreendimento. Desta forma, as equipes conseguem buscar soluções

diferentes para o empreendimento com certa segurança. (Princípio 8);

18. Todos os envolvidos trabalham nas mesmas condições. É

importante que a equipe trabalhe envolvida com a gestão do processo de

projeto, da concepção à finalização, com reuniões frequentes para discussão

das soluções. (Princípio 8).

Com isso, identificaram-se quais itens podem ser aplicados em um estágio básico,

intermediário e, por último, num estágio avançado de maturação. No entanto, resultados

diferentes nas coletas de dados com relação aos graus de maturidade de cada empresa

apresentavam obstáculos na elaboração de um modelo passível de generalização.

Portanto, uma segunda estratégia foi adotada, separando os princípios em níveis de

colaboração, conforme será detalhado no capítulo a seguir.

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7. PROPOSTA PARA INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÃO DO PROCESSO

DE PROJETO

7.1 PROPOSTA PILOTO PARA INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÃO DO

PROCESSO DE PROJETO

O primeiro fluxograma elaborado sugere algumas mudanças no processo de

projeto no contexto analisado para uma possível proposta de adoção do TVD para

empreendimentos do PMCMV, como um todo. Neste primeiro momento, não foi ainda

proposto um método em estágios.

O objetivo é tentar promover uma maior colaboração entre as partes envolvidas

no processo e, desta maneira, alcançar um produto final com maior qualidade, maior valor

agregado para o usuário final, sem sacrifícios para nenhuma das partes e mantendo as

expectativas econômicas dos interessados.

No método piloto, temos um fluxo de projeto menos linear do que o proposto pela

empresa e com feedback contínuo entre todas as equipes, no intuito de promover maior

colaboração entre os agentes.

Ao detectar demanda para lançamento de um novo empreendimento, a C/I (1)

entra em contato com os fornecedores principais e com todas as equipes de projeto

(arquitetura, hidráulica, elétrica, estruturas) (2). Todos estes agentes participam em

conjunto de workshops sobre práticas em Lean Design Management e TVD (3). Caso

eles já tenham passado por este treinamento, uma reciclagem poderia ser proposta.

A seguir, uma reunião do tipo “Big Room” pode tomar lugar, para que as

informações obtidas na avaliação pós-ocupação do último empreendimento lançado

possam ser compartilhadas, de forma que todas as equipes tenham pleno entendimento

do que é valor percebido pelo usuário final e isso possa ser incorporado no novo

empreendimento, de maneira a melhorar e entregar maior valor agregado ao produto.

Assim, o estudo de viabilidade é realizado com participação da C/I, equipes de

projetos e fornecedores principais (4) com o objetivo de avaliar se o produto está dentro

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do escopo de custos e, caso não esteja, se é possível trabalhar em novas soluções e

inovações tecnológicas a fim de que ele se torne acessível.

Figura 14 - Proposta piloto para incorporação do CM/TVD na gestão do processo de projeto

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Aprovado o estudo de viabilidade, as dificuldades e lições aprendidas durante a

fase de execução do último produto também são compartilhadas (5), para melhorias na

parte técnica.

O cliente (C/I) então compartilha, com os outros envolvidos, as metas de custos,

cronograma, orçamento e escopo (6) e, a partir disto, tem início a fase de estudo

preliminar que, depois de aprovado, passa para a fase de anteprojeto (7). Nestas fases,

todos desenvolvem o projeto tendo o custo estabelecido como indutor de criatividade, e

buscam em conjunto soluções diversas para não ultrapassá-lo.

Concluído o anteprojeto, a equipe faz um levantamento das restrições de custos

para a obra (8) e avaliam se o mesmo está dentro da meta estabelecida (9). Caso a

resposta seja sim, o produto segue para uma avaliação do usuário final e feedback, com

o objetivo de promover uma melhoria contínua ainda durante a fase de projeto e também

para garantir que as percepções de valor do usuário estão sendo compreendidas de

maneira correta e aplicadas de forma eficiente (10).

Caso o produto ultrapasse o custo estabelecido, começa um trabalho em conjunto

entre as equipes de projeto, fornecedores e cliente (18), para propor novas soluções para

o produto que possam reduzir o custo, sem, no entanto, sacrificar a qualidade do produto

entregue. Para garantir que estas alterações não se desviem das questões de valor para

o usuário final, uma nova avaliação sob a ótica destes é realizada (19) e ajustes de projeto

são feitos, se necessário.

A nova proposta passa novamente por um levantamento das restrições de custos

(20) para avaliação do mesmo (21). Caso esteja ultrapassando ainda, todo o processo é

repetido (22). Se estiver dentro do custo estabelecido, o produto segue para os

procedimentos até chegar na fase de executivo (23) (11).

Terminada a elaboração dos projetos pré-executivo/executivo (11), o produto tem

seu custo atualizado para comparação (12 e 13). Caso este seja ultrapassado, ele passa

novamente por um trabalho conjunto das equipes para alterações e novas propostas (22).

Estando dentro do custo, ele passa novamente pela avaliação do usuário final (14). Caso

sejam feitos ajustes de projeto, ele deve novamente ter seu orçamento atualizado (15 e

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16). Ultrapassando o mesmo, deve retornar ao processo (22). Estando de acordo com as

metas de custo, escopo e cronograma estabelecidos no início do processo de

desenvolvimento de produto, os detalhamentos finais são elaborados, caso necessário,

e o empreendimento é lançado e segue para a fase de execução (17).

No entanto, as mudanças sugeridas exigem uma grande transformação na

empresa, que não ocorre de uma só vez, pois além do aprendizado, exige uma mudança

na cultura e maneira de pensar dos envolvidos, bem como mudanças nas relações entre

os atores do processo. Além disso, os usuários finais do PMCMV, possuem situação

anterior muitas vezes bem precária, o que pode levar a um viés de satisfação com o

produto, dificultando a avaliação do que representa valor para estes usuários, que

comumente não sabem ou não tem a opção de analisar e comparar as diversas opções

disponíveis no mercado, além de estar regido por leis e regras do programa, engessando

o processo num modelo muito difícil de ser alterado.

Por isso um método de maturação foi desenvolvido na segunda fase, propondo a

integração do TVD em estágios, para empreendimentos com maior grau de

complexidade. Além disso, os usuários para os quais são voltados estes produtos

possuem maior grau de sofisticação: analisam e comparam as opções ofertadas, tem

maior sensibilidade do que representa valor num produto e quanto ele pode/está disposto

a pagar pelos benefícios oferecidos por tal produto. Sendo assim, todos os envolvidos no

processo podem se beneficiar da aplicação do TVD no empreendimento, reduzindo

custos e prazo de entrega, e entregando um produto de maior qualidade e valor

agregados.

7.2 PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÇAO DO PROCESSO

DE PROJETO EM NÍVEIS DE COLABORAÇÃO

Os resultados do terceiro questionário realizado nas construtoras são exibidos no

Quadro 15 a seguir, mostrando os prazos possíveis para implementação de mudanças a

fim de tornar possível a adoção do TVD na gestão do processo de projeto:

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Quadro 15 - Prazo para implementação de mudanças para integração dos princípios do TVD

Princípio C/I 1 C/I 2

1 Longo prazo Médio prazo

2 Longo prazo Médio prazo

3 Longo prazo Médio prazo

4 Longo prazo Médio prazo

5 Médio prazo Médio prazo

6 Curto prazo Curto prazo

7 Longo prazo Longo prazo

8 Longo prazo Longo prazo

9 Curto prazo Curto prazo

10 Curto prazo Curto prazo

11 Médio prazo Longo prazo

12 Longo prazo Longo prazo

13 Médio prazo Curto prazo

14 Médio prazo Curto prazo

15 Médio prazo Longo prazo

16 Médio prazo Longo prazo

17 Longo prazo Longo prazo

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Embora existam semelhanças entre as possibilidades de mudança em alguns

princípios, não há consenso geral. Além disso, se outros estudos de caso fossem

conduzidos em outras empresas, os resultados poderiam ser completamente diferentes,

dificultando a possibilidade de generalização do método proposto. O TVD propõe muitas

práticas que dependem de práticas colaborativas. Por isso, optou-se por fracionar os

princípios em níveis crescentes de colaboração (AIA, 2010), com o objetivo de

diagnosticar a situação atual das empresas e estabelecer diretrizes para mudanças.

O AIA (2010), traz o IPD em níveis de colaboração, pois as empresas enfrentam,

em muitos casos, restrições - como legislação, barreiras culturais estabelecidas entre

outras - que podem dificultar uma implementação do IPD em seu estado mais completo.

Os 3 níveis são assim definidos (AIA, 2010):

Nível 1 – Típico.

Neste nível, a colaboração é atingida em alguns pontos sem a necessidade de

contrato formal entre os envolvidos.

Características chave: sem contrato para exigir colaboração; compartilhamento de

riscos bem limitada, política de open-book

Nível 2 – Adquirida

No segundo nível, alguns contratos são utilizados para se atingir níveis maiores

de colaboração.

Características chave: maior colaboração dos stakeholders desde o início do

processo; alguns riscos do empreendimento são compartilhados entre os agentes;

incentivos para aumento de produtividade; envolvimento do cliente mais

ativamente; tomadas de decisão sobre questões importantes solicitam o

comprometimento maior dos envolvidos.

Nível 3 – Requerida

No último nível, existe o requerimento de um contrato multipartes entre as partes

interessadas para se atingir os níveis de colaboração mais sofisticados.

Características chave: os envolvidos no processo (pelo menos o cliente,

empreiteiros principais e arquiteto) assinam um contrato único que exige

colaboração; o compartilhamento de riscos/lucros ocorre entre todos os

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envolvidos; as tomadas de decisão são feitas de forma conjunta entre os agentes;

co-localização.

Partindo do pressuposto que o IPD e o TVD são complementares entre si – ambos

trabalhando para se atingir níveis crescentes de colaboração– foi possível classificar os

princípios de Ballard (2011) dentro dos níveis de colaboração citados, conforme figura

abaixo. Segue na Figura 26 a proposta de integração do TVD na gestão do processo de

projeto.

Figura 15 - Níveis de colaboração e relação com os princípios do TVD

Pode-se ainda rotular os catalisadores no processo, que têm como objetivo

acelerar o processo de integração entre os envolvidos (AIA, 2010). Nesta classificação é

possível incluir o Last Planner (principio 12) e o BIM. Os catalisadores não são

obrigatórios – é possível adotar o TVD sem eles – no entanto são elementos importantes

no processo, para se atingir níveis mais sofisticados de integração. Eles podem entrar

em qualquer nível de integração do TVD.

Por fim, é importante ressaltar que, num momento anterior à adoção do TVD, é

interessante que a empresa e os envolvidos no processo tenham um período de

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aprendizado sobre os seus conceitos, facilitando o entendimento das mudanças

propostas no processo e auxiliando na mudança de paradigmas organizacionais para

uma integração do TVD de forma mais eficiente.

7.3 AVALIAÇÃO DA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO TVD NA GESTÃO DO

PROCESSO DE PROJETO

Na análise dos dados coletados, buscou-se primeiramente fazer um diagnóstico

da empresa estudada, com o objetivo principal de identificar quais princípios do TVD já

era aplicados, ainda que de forma parcial e não sistemática (Quadros 12 e 13). Em

seguida, conforme segue no quadro abaixo, identificou-se onde se encontra a empresa

conforme os níveis de colaboração relacionados com os princípios, considerando apenas

aqueles já aplicados, de forma sistemática ou que já são utilizados, porém necessitam

de melhorias:

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Figura 16 – Níveis de colaboração C/I 1

Os princípios em hachura cheia, são aqueles que já são aplicados de forma

sistemática da empresa, necessitando de poucas intervenções. As hachuras em

diagonal representam aqueles princípios que, apesar de serem utilizados de alguma

forma, o são de maneira não sistemática e precisam de melhorias buscando aproveitar

os benefícios do TVD de forma eficiente. É possível inferir desta figura que a C/I 1

atualmente encontra-se entre os níveis 1 e 2 de colaboração. A partir dos pontos ainda

não aplicados, a empresa pode elaborar um plano de mudanças para atingir uma

integração do TVD de forma mais completa.

Conforme citado anteriormente, os itens no nível 1 não necessitam de contrato

para ocorrer. O princípio 7, por exemplo, que ainda não é aplicado de forma

sistemática e foi indicado como longo prazo para adequação, trata do entendimento

do empreendimento e da percepção de valor para as partes interessadas. Isso ocorre,

porque ainda existe certa dificuldade das construtoras em transmitir aos envolvidos –

em especial aos projetistas - os objetivos do empreendimento como um todo, bem

como cada parte entender o que é valor para a outra – por exemplo, os projetistas de

estruturas entendem o que representa valor para os arquitetos, com o objetivo de

trabalhar no sentido de manter estas percepções; se grandes vãos livres por exemplo,

ou a modulação da estrutura de forma a acomodar os caixilhos projetados para o

empreendimento, e assim por diante.

Essa questão pode ser resolvida de maneira relativamente simples, com reuniões

de pré-projeto com as equipes envolvidas, onde a C/I transmite os objetivos e metas

do empreendimento, e onde cada equipe pode apresentar de forma sucinta o que

deve representar valor dentro de cada especialidade no produto final – isso não

precisa necessariamente de contrato para ocorrer, pode ser uma pequena mudança

de processo. O mesmo ocorre com a C/I 2 neste princípio, como é possível observar

na figura 28.

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Figura 17 - Níveis de colaboração C/I 2

Em comparação com a C/I 1, a C/I 2 possui práticas ainda incipientes de

colaboração, como é possível observar pela figura acima. Mais mudanças no

processo são necessárias para que ela possa atingir um nível 1 de colaboração com

integração dos princípios do TVD em curto-médio prazo e atingir o nível 3 após pleno

estabelecimento dos estágios anteriores.

Aqui, pode-se analisar isoladamente o item 13, reportado pela C/I 2 como de longo

prazo para mudanças. Este princípio trata de metas flexíveis para estimular inovação.

Esta proposta se encaixa mais com a disponibilidade da empresa em mudar alguns

pontos no seu processo, e não tanto no contrato com os envolvidos. É mais uma

mudança de cultura, que pode ser atingida inclusive com a fase pré-TVD, através de

workshops de aprendizado dos conceitos e sua importância no processo.

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Os itens de nível 2, são possíveis através de alguns contratos relacionais, a

princípio reportados pelas empresas como de longo prazo (alguns deles). Os

contratos nesta fase auxiliam a colaboração em nível mais sofisticado do que no nível

1 e o mesmo ocorre para o nível 3, quando um contrato multiparte é assinado pelos

envolvidos, com o objetivo de compartilhar riscos e lucros e incentivar a colaboração

no nível mais sofisticado, com atualização de custos das equipes de TVD de forma

contínua e trazendo os envolvidos principais desde o início do processo trabalhando

de forma conjunta (já durante o estudo de viabilidade).

A Figura 30 seguir traz uma síntese para direcionar possíveis construtoras que

planejam fazer um diagnóstico e traçar um plano de mudanças para uma possível

integração do TVD na gestão do processo de projeto:

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Figura 18 – Síntese para diagnóstico da empresa e direcionamentos para planos de ação –

integração

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8. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise dos dados e dos métodos propostos, algumas inferências podem

ser destacadas:

1. No caso de empreendimentos voltados para o PMCMV, a baixa complexidade

do produto, aliados às baixas expectativas dos usuários e aos parâmetros

mínimos exigidos pelo AF e às leis que regem o programa, podem sugerir uma

integração do TVD em uma linha mais básica, com o objetivo de melhorar o

produto final entregue, mantendo as expectativas financeiras esperadas entre

as partes;

2. Quanto maior a complexidade do produto, maiores os benefícios de uma

integração do TVD no processo de projeto. Nos EUA, os casos bem sucedidos

de aplicação são em empreendimentos voltados para construção de hospitais

– um produto de altíssima complexidade. Além disso, o conhecimento prévio

das empresas participantes de modelos gerenciais diferenciados como IPD

facilitam esta aplicação. No Brasil, a adoção dos conceitos do TVD exige

transformações profundas no sistema atual, no processo de projeto, na cultura

de empresa, nas práticas gerenciais. É um processo de longo prazo que exige

comprometimento e consciência, e deve partir desde a alta gerência da

empresa e se espalhar por todos os funcionários;

3. Os custos do empreendimento precisam ser passados a encarar de forma

diferente. Atualmente, eles representam consequência do projeto concluído. É

preciso que eles representem um indutor de criatividade e parâmetro de

entrada de projeto, vindo como meta já no início do processo, nas etapas de

concepção ainda;

4. O envolvimento de todos os agentes desde o início do processo é importante

para que seja possível uma visão global do empreendimento, bem como

análises de como as partes se relacionam com relação aos custos do produto;

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5. Os contratos representam uma ferramenta importante no sentido de auxiliar a

alinhar os objetivos de todos os envolvidos com os objetivos do

empreendimento, bem como incentivar colaboração entre os agentes e

empenho dos envolvidos em encontrar boas soluções que estejam dentro das

metas de custos, escopo e cronograma estabelecidos e colocar a empresa

dentro de níveis de colaboração mais avançados;

6. O usuário deve ser peça chave do processo, em qualquer tipo de

empreendimento. Juntamente com o custo, identificar o que é valor para o

usuário e o outro dos parâmetros principais de projeto. Desta maneira, a

empresa pode alocar esforços em itens que o usuário considera benefícios e

está disposto a pagar por eles, ao invés de alocar recursos em outros itens.

Estes parâmetros também servem para o usuário optar entre um produto e

outro, e muitas vezes ele está disposto a gastar mais para ter aqueles

benefícios considerados de valor para ele. Por isso as soluções de projeto

devem ser avaliadas a cada etapa tendo estas análises também como base.

7. Os fornecedores também são peça chave do processo. Usualmente, eles

participam somente da etapa de execução do empreendimento. Porém, o

envolvimento dos fornecedores principais desde o início do processo,

participando ativamente do projeto, pode trazer insights essenciais para o

produto, com parâmetros de construtibilidade adequados e alocando custos

para as soluções propostas.

Além das mudanças necessárias, a pesquisa apontou algumas limitações nos

métodos propostos, dispostos a seguir.

8.1 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Os métodos propostos por esta dissertação apresentam algumas limitações,

abaixo relacionadas:

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1. Generalização do método. Existem limitações para generalização do método

proposto. Estas limitações podem estar ligadas ao tipo de empreendimento,

por exemplo. O PMCMV, por exemplo, apresenta limitações por conta das leis

que regem o programa, o que acaba engessando alguns processos e criando

maiores obstáculos para mudanças.

2. Particularidades do processo em si. Conforme foi possível observar, apesar do

processo de projeto ocorrer de forma semelhante e em etapas subdivididas de

forma parecida, existem algumas particularidades de trabalho entre elas. A

forma de contratação das equipes, possibilidade de participação dos

fornecedores durante a etapa de projeto e mesmo a forma de trabalho de cada

equipe, são fatores que podem indicar maior facilidade de integração do TVD

ou representar obstáculos para sua aplicação.

3. Possibilidades de mudanças. Nem todas as empresas estão dispostas a mudar

seu modelo tradicional. A adoção do TVD só se torna possível, ainda que

somente a etapa básica, por exemplo, seja adotada, se houver engajamento e

esforços de mudança. O ideal é que esta iniciativa parta da alta gerência da

empresa e se espalhe por toda a estrutura. A C/I deve buscar e propor

parcerias com equipes que entendam seus valores e também estejam

dispostos a adotar tais mudanças.

8.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Para trabalhos futuros, a primeira sugestão é extrapolar o estudo para outros

contextos e empresas. Seria interessante testar este processo para outros produtos

habitacionais ou mesmo para outros tipos de empreendimento – comercial, misto, etc e

mesmo buscar outras construtoras para participar da pesquisa. Isso seria uma forma de

generalização e os métodos poderiam ser comparados analiticamente no futuro, de forma

a comparar os diversos contextos de aplicação. Como toda teoria, estes métodos podem

– e devem – estar em constante evolução e melhoria.

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A segunda sugestão é uma aplicação piloto. A partir dos métodos desenvolvidos,

poderia se retornar às empresas onde os dados foram coletados, e uma aplicação teste

poderia ser realizada para os tipos de empreendimentos estudados. O ideal seria adoção

de pelo menos o estágio básico e a primeira fase do estágio intermediário, para avaliação.

A partir dessa aplicação piloto, a proposta poderia ser refinada e evoluir conforme os

achados da pesquisa. Esta é uma ótima opção de continuidade do presente trabalho,

pois testaria e validaria a proposta e a mesma poderia ser melhorada conforme um estudo

de caso real de aplicação.

Além disso, uma aplicação piloto possibilitaria que cada etapa do método possa

ser detalhada de forma mais ampla, como por exemplo sugerindo planos de ação de

mudanças para auxiliar as empresas a atingirem os níveis de colaboração propostos.

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9. APÊNDICE

9.1 QUESTIONÁRIOS REALIZADOS NA EMPRESA- FASE 1

Questionário 01 – Escritório de Arquitetura

Função: Arquiteto Coordenador

Quanto tempo na função? 5 anos

1. Como a necessidade de lançamento para um novo empreendimento (no caso,

para o Minha Casa, Minha Vida) é identificada?

“Os escritórios de arquitetura não participam desta decisão, é uma definição feita

internamente pela construtora. Quando nos é solicitado o estudo para uma área, a

construtora já tem definida a tipologia que será implantada.”

2. Como são identificadas as necessidades dos usuários futuros do

empreendimento a ser desenvolvido? Este programa de necessidades já vem definido

pela construtora?

“Os produtos voltados para o PMCMV já tem um programa de necessidades

definido pela construtora.“

3. Como são definidos os parâmetros mínimos que devem constar no projeto do

novo empreendimento?

“Normalmente para o Segmento Econômico seguimos os parâmetros mínimos

estabelecidos pelo Agente Financiador.”

4. De que maneira são desenvolvidas as etapas do processo de projeto? (estudo

preliminar, ante-projeto, análise técnica, estudo de viabilidade, etc) Existem reuniões

regulares com o cliente (construtora/incorporadora) entre ou durante as etapas do

processo de projeto?

“Existe um procedimento padronizado com reuniões regulares em várias fases.

Tenho aqui um material com esse procedimento bem explicado.“ - Este é o manual de

boas práticas da empresa, consultado para identificação do processo de projeto.”

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5. Como é a participação do cliente (construtora/incorporadora) nas etapas de

projeto para os produtos do Minha Casa, Minha Vida? (Participação direta, indireta, etc)

“A participação é direta. “

6. O usuário final participa em alguma etapa do processo? (estudo de viabilidade,

croquis, avaliação pós-ocupação, etc)

“Não.”

7. Os fornecedores da etapa de execução do empreendimento participam de

algum estágio do processo de projeto? Qual?

“Os fornecedores participaram nos estudos que originaram os padrões para

produtos do PMCMV. Foram consultados para ajudar na padronização de portas,

caixilhos, gradis, etc e medidas internas/modulação visando bom custo-benefício.”

8. Existe algum mecanismo para obter feedback, por parte dos usuários finais, do

empreendimento lançado?

“Não conheço, mas me parece que existe algo assim na Construtora”.

9. Durante o processo de projeto, da concepção das ideias iniciais à conclusão

do projeto executivo, os custos de produção e manutenção são levantados? Se sim, de

que maneira?

“Os custos de produção são levantados durante o orçamento, mas os custos de

manutenção infelizmente ainda não são prioridade, já que são custos dos futuros

clientes.”

10. Caso o custo levantado ultrapasse o custo estimado pelo cliente, como se

procede para que o orçamento não fique acima do estabelecido? Qual o processo

utilizado?

“São estudados possíveis cortes para equilibrar (normalmente relacionados a

acabamentos, fachada, paisagismo).”

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11. Os escritórios de projetos complementares (estrutural, hidráulica, elétrica,

etc) participam do processo de projeto? Em qual (quais) etapa(s)?

“Participam em todas as etapas. No estudo preliminar normalmente participam

estrutural e paisagismo para definir o conceito do empreendimento. No anteprojeto já

entram todos os outros projetistas.”

12. Há quanto tempo a empresa fornece produtos para o segmento citado?

(Programa Minha Casa, Minha Vida?) Para que faixa salarial são voltados os produtos?

“Desde 2009. Os produtos são para a faixa de renda familiar até R$ 5.000,00.”

14. Atualmente, existem quantos projetos em andamento para o segmento

citado?

“Atualmente existem 3 empreendimentos em fase de executivo.”

Questionário 02 – Construtora/Incorporadora

Função na empresa: Área de Desenvolvimento e Projetos

Tempo na função: (não informado)

1. Como a necessidade de lançamento para um novo empreendimento (no caso,

para o PMCMV) é identificada?

Respondente não pôde fornecer esta informação.

2. Quando a empresa opta por conduzir um estudo de viabilidade para um novo

empreendimento, quais variáveis são levadas em consideração durante o estudo?

(preço, investimento, localização, mercado, etc)? Outros membros são envolvidos neste

estudo (escritório de projetos complementares, arquitetos, engenheiros, etc)?

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“Variáveis consideradas: custo de obra, preço de venda, velocidade de venda.

Envolvidos: setores de incorporação, novos negócios, engenharia”

3. Para que o novo empreendimento seja considerado viável, o que se espera

encontrar durante o estudo de viabilidade?

“É necessário atingir os índices financeiros mínimos estipulados pela empresa.”

4. Durante este estudo, tem-se um orçamento detalhado para lançamento deste

novo empreendimento de acordo com o escopo de projeto e parâmetros de qualidade já

pré-definidos?

“Parcial.”

5. A empresa participa ativamente de todas as etapas do processo de

desenvolvimento de projeto para um novo empreendimento?

“Sim.”

6. As equipes de projetos (arquitetura, estrutura, hidráulica, elétrica, etc) têm

completo entendimento com relação às especificações e necessidades da empresa?

Como isso é apresentado aos projetistas?

“Existem projetos padronizados com todo o detalhamento pronto, é necessário

apenas adequar às exigências locais, e para isso. Temos parceria com alguns

projetistas, que atendem às necessidades da empresa.”

7. Como funcionam as relações contratuais entre a empresa e os escritórios de

projetos? Existem formas de incentivo?

“O incentivo é realizado através do fluxo contínuo de projetos, pelo regime de

parceria. Os parceiros tem uma tabela de remuneração pré-definida com os valores em

função de critérios definidos para cada disciplina.”

8. As metas de escopo e custo estabelecidas pela empresa são flexíveis ou

fixas? Quem pode alterar as definições de custo, cronograma e escopo é somente a

empresa ou os escritórios de projetos também podem fazê-lo?

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“O escopo varia de acordo com o empreendimento e o custo varia em função da

linha de produtos a ser adotada (metas fixas para cada linha de produto). Somente a

empresa pode alterar as definições citadas acima.”

9. Quando surgem soluções alternativas de projeto que impliquem em custo,

qualidade e cronograma, estas são discutidas entre todos os membros envolvidos com

o processo de desenvolvimento de um novo empreendimento?

“São discutidas entre a equipe interna de projetos e engenharia.”

10. Como é feito o planejamento de cronograma com os projetistas, com base

nas tarefas e etapas de projeto a serem concluídas?

“Sim.”

11. As metas possuem objetivos flexíveis? A inovação e busca por novas

soluções é incentivada pela empresa ou os projetistas devem seguir um modelo pré-

estabelecido?

“No segmento voltado para o PMCMV priorizamos a padronização e existe sim

um modelo pré-estabelecido.”

12. As metas de escopo e custos são alocadas para todas as equipes de

projetos (arquitetura, estrutura, elétrica, etc)?

“Não.”

13. As equipes de projetos possuem uma estimativa de custos pré-estabelecida?

Se sim, esta estimativa é constantemente atualizada e por consequência, o orçamento

final é atualizado com base nestas atualizações?

“Não.”

14. São realizadas reuniões com as equipes de projeto? Com que frequência?

“Sim, mas sem freqüência estabelecida.”

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15. Como são identificadas as necessidades dos usuários futuros do

empreendimento a ser desenvolvido? Caso já exista um modelo, como este foi

elaborado?

“No segmento voltado para o PMCMV, as soluções são padronizadas, já que é

voltado para o mesmo perfil de usuários, basicamente atende-se o mínimo estabelecido

pelo Agente financiador e Normas Brasileiras vigentes.”

16. Como são definidos os parâmetros mínimos que devem constar no projeto do

novo empreendimento?

“Parâmetros do Agente Financiador, Normas técnicas brasileiras e legislações

locais.”

17. Os fornecedores da etapa de execução do empreendimento participam de

algum estágio do processo de projeto? Se sim, qual?

“Em alguns casos, normalmente alguns fornecedores participam do

desenvolvimento dos protótipos e testes que resultarão em soluções padronizadas de

projeto e forma de execução.”

18. Existe algum mecanismo para obter feedback, por parte dos usuários finais,

do empreendimento lançado?

“Sim, a área de Relacionamento com Clientes é responsável por este feedback

através de pesquisas em diferentes momentos pós a conclusão da obra.”

19. O custo do empreendimento é estabelecido antes do início da fase de projeto

ou este custo só é levantado com os projetos concluídos (executivos)?

“É definida uma meta antes do início dos projetos.” - Porém, esta meta não é

compartilhada com o restante da equipe.

20. Caso este custo seja ultrapassado, onde são feitos cortes para equilibrar o

orçamento? Como é feita esta hierarquia de cortes?

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“Depende do empreendimento, por se tratar de produto do PMCMV, não existe

muita gordura para ser queimada ou seja, caso algum item esteja muito acima da média

histórica a solução deve ser reavaliada, exemplo: rever os níveis para redução e

equilíbrio do volume de movimentação de solo.”

9.2 QUESTIONÁRIOS REALIZADOS NAS EMPRESAS – FASE 2

9.2.1 Entrevistas na C/I 1 para o PH 1

Questionário 01 -

Função: Gerente de Produtos

Quanto tempo na função?12 anos na Empresa e 5 anos na função.

1. Como a necessidade de lançamento para um novo empreendimento (no caso,

o programa habitacional mencionado) é identificada?

“A Empresa trabalha com várias linhas de Produtos e procuramos identificar pela

localização, perfil técnico e comercial do terreno e valor final de venda que propicie uma

Margem de Lucro.”

2. Como são identificadas as necessidades dos usuários futuros do

empreendimento a ser desenvolvido?

“Este programa de necessidades já vem definido pela construtora? Cada linha de

Produto tem o seu Perfil básico já definidos pela Incorporada os incrementos, vem as

vezes da necessidade do Mercado e da Concorrência.”

3. Como são definidos os parâmetros mínimos que devem constar no projeto do

novo empreendimento?

“Através de Braistorm com os envolvidos e Reunião de Produto.”

4. De que maneira são desenvolvidas as etapas do processo de projeto? (estudo

preliminar, ante-projeto, análise técnica, estudo de viabilidade, etc) Existem reuniões

regulares com o cliente (construtora/incorporadora) entre ou durante as etapas do

processo de projeto?

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“ O Ciclo de Desenvolvimento e Projetos, inicia-se na Fase de Estudos de Massa,

seguido do Comite de Compra de Terrenos, Briefing do Produto, Desenvolvimento do

Produto, Processos Legais e Executivos. Em quase todas as Fases existem reuniões

específicas com a Incorporadora, Engenharia, Comercial e Marketing.”

5. Como é a dinâmica entre projetistas (arquitetura, hidráulica, elétrica, etc) e

fornecedores?

“Constante troca de Informações, hora uma alimento ou sendo retro alimentado.”

6. O usuário final participa em alguma etapa do processo? (estudo de viabilidade,

croquis, avaliação pós-ocupação, etc)

“Ele participa do Processo de construção,com visitas pré-agendadas pela

Incorporadora.”

7. Os fornecedores da etapa de execução do empreendimento participam de

algum estágio do processo de projeto? Qual?

“Poucas vezes, o que poderia ser um ganho para a Empresa se participassem

mais efetivamente.”

8. Existe algum mecanismo para obter feedback, por parte dos usuários finais, do

empreendimento lançado?

“Sim, eles participam de uma pesquisa de satisfação do cliente pós entrega.”

9. Durante o processo de projeto, da concepção das ideias iniciais à conclusão do

projeto executivo, os custos de produção e manutenção são levantados? Se sim, de que

maneira?

“São levantadas os custos para lançamento na fase de Anteprojeto e Pre

Executivo.”

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10. Caso o custo levantado ultrapasse o custo estimado pelo cliente, como se

procede para que o orçamento não fique acima do estabelecido? Qual o processo

utilizado?

“É feito um processo de identificação dos itens que estão causando impacto e ai é

feito um processo junto com a área de projetos, engenharia e fornecedores.”

11. Os escritórios de projetos complementares (estrutural, hidráulica, elétrica, etc)

participam do processo de projeto? Em qual (quais) etapa(s)?

“Desde o início nos estudos preliminares.”

12. Como ocorre o envolvimento dos profissionais durante o processo de projeto

para o novo empreendimento? (Coordenador de projetos, arquitetos, etc)

“Os Profissionais são envolvidos desde a reunião de produto até a fase executiva.”

13. Há quanto tempo a empresa fornece produtos para o segmento citado? Para

que faixa salarial são voltados os produtos?

“ Há muito tempo, mas com o Marketing atual desde 2009. A partir de R$

12.500,00.”

14. Atualmente, existem quantos projetos em andamento para o segmento citado?

“Em torno de 15 Projetos em fase de desenvolvimento.”

Questionário 02

Função: Gerente de Produtos

Quanto tempo na função? 12 anos na Empresa e 5 anos na função.

1. Durante este estudo, tem-se um orçamento detalhado para lançamento deste

novo empreendimento de acordo com o escopo de projeto e parâmetros de qualidade já

pré-definidos?

“Tem orçamento baseado em índices e banco de dados.”

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2. A empresa participa ativamente de todas as etapas do processo de

desenvolvimento de projeto para um novo empreendimento?

“ Sim.”

3. As equipes de projetos (arquitetura, estrutura, hidráulica, elétrica, etc) têm

completo entendimento com relação às especificações e necessidades da empresa?

Como isso é apresentado aos projetistas?

“ É um processo difícil, mas de certa forma já tem uma leitura do que precisamos

nos Projetos já padronizados, porem nos novos sempre entramos num desenvolvimento

em conjunto. Quanto a relação de custos para atendermos os objetivos, ainda estamos

muito dependentes do conhecimento individual do representante da Engenharia e da

percepção individual do Projetista.”

4. Como funcionam as relações contratuais entre a empresa e os escritórios de

projetos? Existem formas de incentivo?

“Ainda não temos, mas estamos pensando sim.”

5. As metas de escopo e custo estabelecidas pela empresa são flexíveis ou fixas?

Quem pode alterar as definições de custo, cronograma e escopo é somente a empresa

ou os escritórios de projetos também podem fazê-lo?

“Metas devem ser seguidas, porém não somos inflexíveis. Somente a Empresa.”

6. Quando surgem soluções alternativas de projeto que impliquem em custo,

qualidade e cronograma, estas são discutidas entre todos os membros envolvidos com o

processo de desenvolvimento de um novo empreendimento?

“Sim, Projetos, Engenharia e Incorporação e as vezes a área Comercial.”

7. Como é feito o planejamento de cronograma com os projetistas? Com base nas

tarefas e etapas de projeto a serem concluídas?

“Data meta de lançamento e aprovações nos órgãos legais e projeto pronto para

início de obra. Sim.”

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8. As metas possuem objetivos flexíveis? A inovação e busca por novas soluções

é incentivada pela empresa ou os projetistas devem seguir um modelo pré-estabelecido?

“Sim, existe uma margem. Sim, hoje estamos praticando e incentivando mais ainda

as novas ideias.”

9. As metas de escopo e custos são alocadas para todas as equipes de projetos

(arquitetura, estrutura, elétrica, etc)?

“Sim.”

10. As equipes de projetos possuem uma estimativa de custos pré-estabelecida?

Se sim, esta estimativa é constantemente atualizada e por consequência, o orçamento

final é atualizado com base nestas atualizações?

“Sim, verificamos as disciplinas envolvidas e planilhamos o valor estimado para

cada área. Esta estimativa vira Meta, se escapar para mais vira atualização e penalização

para a área.”

11. São realizadas reuniões com as equipes de projeto? Com que frequência?

“Sim. No mínimo a cada Etapa de Projeto.”

12. Como são identificadas as necessidades dos usuários futuros do

empreendimento a ser desenvolvido? Caso já exista um modelo, como este foi

elaborado?

“Através de pesquisa mercado e característica do público potencial comprador.

Existe uma base que são os cadernos das Famílias de Produto. Estes cadernos

balizam os Empreendimentos e foram montado junto com uma pesquisa, área de

produtos e Marketing da empresa.”

13. Como são definidos os parâmetros mínimos que devem constar no projeto do

novo empreendimento?

“Da mesma forma que o item acima, e mais Brainstorm interno e Reunião de

Produto.”

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14. Os fornecedores da etapa de execução do empreendimento participam de

algum estágio do processo de projeto? Só como consultores. Se sim, qual?

“Desenvolvimento de Produtos e Executivo.”

15. O custo do empreendimento é estabelecido antes do início da fase de projeto

ou este custo só é levantado com os projetos concluídos (executivos)?

“Antes para lançamento e revisto com o processo final de executivo.”

17. Caso este custo seja ultrapassado, onde são feitos cortes para equilibrar o

orçamento? Como é feita esta hierarquia de cortes?

“Avaliação ponto a ponto dos itens com maior peso. Nos itens que não depreciem

ou comprometam o produto e usuário final.”

Questionário 03

Função: Gerente de Produtos

Quanto tempo na função? 5 anos

Este questionário deve ser respondido da seguinte forma: para cada questão, deve

ser estabelecido se a prática descrita é possível: a curto prazo/médio prazo/longo prazo

e porque/como (ex: essa prática pode ser assimilada a médio prazo, desde que os

fornecedores/projetistas passem por treinamento, etc) ou se existem muitas barreiras (e

quais são) e sua implementação é muito difícil.

1. Estabelecimento do Target no início do projeto, de forma que o mesmo:

a) Não pode ser excedido, a menos que a construtora estabeleça um novo

valor;

Curto prazo. Com política de metas e cultura dos colaboradores.

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b) As metas de qualidade não podem ser alteradas, a menos que a construtora

o defina.

“Médio Prazo. Depende das interfaces é uma análise complexa e deve fazer parte

do processo de reestruturação.”

2. Envolvimento de todos os parceiros, desde o início da concepção do projeto

(fornecedores principais, equipes projetistas – hidráulica, arquitetura, estrutura, elétrica –

usuários finais).

“Médio Prazo. Necessita de um convencimento de que a Ação será Boa para

ambas as partes e para o resultado final.”

3. Estimativa de custos do produto de forma contínua – é possível sua

atualização a cada 3 semanas e na finalização de cada etapa de projeto?

“Longo Prazo. É uma atividade que tem que se criara uma cultura de processos e

mais do que isso de convencimento e requer tempo e foco.”

4. Contratos de incentivo – Neste tipo de contrato, feito com todos os parceiros

(fornecedores e todas as equipes de projeto e construtora), os riscos do empreendimento

no caso de falha são compartilhados por todos, assim como o sucesso em diminuir os

custos e os lucros também são compartilhados entre os agentes.

“Longo Prazo. De novo um trabalho de convencimento.”

5. Treinamento em Lean e Target Value Design (uma das ferramentas do

Lean) antes do início do empreendimento e de forma continua, a fim de ensinar uma nova

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cultura de gerenciamento de projeto tanto para as equipes de projetistas quanto os

fornecedores principais.

“Curto Prazo. Seria Excelente e acho que é uma grande oportunidade de

convencimento.”

6. Co-locação das equipes – neste sistema, a equipe desenvolve o projeto

num mesmo espaço físico, facilitando as integrações e colaborações de forma contínua

até a finalização.

‘Longo Prazo. Difícil mudar. Modifica a estrutura da Construtora/Incorporadora e

Fornecedores Externos.”

7. Identificação do que é valor para o usuário final, por meio da avaliação do

último empreendimento, utilizando ferramentas do Lean

, pois satisfação e valor são conceitos diferentes e devem fornecer feedback para

empreendimentos futuros.

“Médio Prazo. Fortalecer o conceito internamente com os nossos clientes.”

8. Feedback continuo do usuário – feedback de avaliação de valor pro usuário

ao fim de cada empreendimento.

“Médio Prazo. Da mesma forma que a anterior.”

___________________________________________________________

9. O usuário final é peça-chave durante todo o processo – ele participa durante

o processo, por meio de avaliações a cada etapa do produto que está sendo desenvolvido

e a cada grande mudança no produto e/ou introdução de soluções/tecnologias

inovadoras para que não se perca o foco em entregar qualidades que representem valor

para este usuário.

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“Médio Prazo. Totalmente fundamental para o Processo este feed back. Vamos

evitar o erro de novo?”

10. Total entendimento de todos os membros da equipe com relação ao

empreendimento e do que representa valor para as partes envolvidas (projetistas,

construtora, fornecedores, empreiteiros, usuário final).

“Longo Prazo. Tem que partir da alta direção o comprometimento para baixo.”

11. Estudo de viabilidade: envolvimento de todos os agentes principais

(projetistas, construtora, fornecedores, empreiteiros, usuário final), para atestar se o

empreendimento é viável e possibilidades de redução de custos.

“Médio Prazo. Temos que insistir na cultura de se fazer e contaminar o grupo para

fortalecer a iniciativa.”

12. Incentivos de todos os envolvidos deve estar alinhados com os objetivos do

empreendimento, por meio por exemplo de contratos de incentivo, direcionando os

agentes a buscar novas soluções de redução de custos sem perda de qualidade e valor

do produto.

“Longo Prazo. Temos que trabalhar as cabeças pensantes, Construtora,

Projetistas e Fornecedores e Empreiteiros. Fazer entender que um Bom resultado gera

valores, economia e ganho.”

13. Seleção das equipes – baseada em elementos de valor para o usuário

final/construtora que estas equipes podem trazer, e não somente baseada em menor

preço.

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“Médio Prazo. Acredito que a Empresa já tenha bons parceiros, precisamos um

pouco mais de tempo para explicar melhor.”

14. Transparência entre:

a) Construtora: mostra seus planos para o empreendimento, quanto pode

gastar e o que são itens representativos de valor;

“Curto Prazo, Não teríamos problema em abrir isso.”

b) Equipes: mostram seu modelo de trabalho, apresentam seus gastos, custos

com material/pessoal e quais as margens de lucro esperadas.

“Médio Prazo. Primeiro convence-los que é bom para todos e depois acreditar no

princípio ético.”

15. Uso de ferramentas para facilitar a aplicação dos conceitos como BIM

(Building Information Modelling), Mock Ups (construção de modelos em escala real de

partes do empreendimento, em forma de maquete escala 1:1, para avaliar soluções e

para que os usuários também possam avaliar as soluções de projeto), entre outros, o que

exige um período de treinamento das equipes.

“Longo Prazo. Uma excelente ferramenta, apesar dos fornecedores, projetistas e

nós estarmos bem atrasados.”

___________________________________________________________

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16. Targets (custos) flexíveis para incentivar inovação, desde que a construtora

esteja disposta a assumir riscos caso o empreendimento vá a falência.

“Médio Prazo. Assunto delicado, mas acho factível de ser colocado junto à

Direção.”

17. As equipes colocam sua margem em risco e a construtora assume tais

riscos no caso de custos excedentes ou falência do empreendimento.

“Médio Prazo. Idem resposta anterior.”

18. Política de livro aberto total, com transparência financeira de todos os

envolvidos (projetistas, construtora, fornecedores, empreiteiros, usuário final).

“Médio Prazo. Aqui cai no mesmo caso de comprometimento e convencimento

que o negócio é Bom para todos os envolvidos.”

19. Todos os envolvidos trabalham nas mesmas condições; toda equipe deve

estar envolvida com a gestão do processo de projeto, da concepção à finalização.

“Longo Prazo. Ideia sensacional, porem culturalmente as pessoas do nosso País

tem forte predisposição em rejeitar um Bom Planejamento e Divisão de Ideias e Bens.

Olha sensacional......pois acredito num trabalho de “formiguinha”.

9.2.2 Entrevistas na C/I 2 para o PH 2

Questionário 01

Função: Gerente de Projetos; Coordenadora do Comercial e Gerente de

Orçamentos

Quanto tempo na função? 2; 2 e 5 anos respectivamente.

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(obs: como os respondentes foram os mesmos, as questões muito similares nos

questionários 01 e 02 foram suprimidas para evitar repetição).

1. Como são identificadas as necessidades dos usuários futuros do

empreendimento a ser desenvolvido? Este programa de necessidades já vem definido

pela construtora?

Além de pesquisas de mercado sobre desejos e necessidades, temos também as

pesquisas de pré-vendas feitas nos plantões de vendas e as pesquisas de pós ocupação

que acabam nos norteando a respeito de futuros lançamentos.

2. Como são definidos os parâmetros mínimos que devem constar no projeto do

novo empreendimento?

De acordo com projetos já entregues e também de pesquisar de mercado.

3. De que maneira são desenvolvidas as etapas do processo de projeto? (estudo

preliminar, ante-projeto, análise técnica, estudo de viabilidade, etc) Existem reuniões

regulares com o cliente (construtora/incorporadora) entre ou durante as etapas do

processo de projeto?

As etapas são: estudo preliminar, anteprojeto, pré-executivo, executivo e liberado

para obra. Existem reuniões regulares durante todas as etapas de projeto.

4. Como é a participação do cliente (construtora/incorporadora) nas etapas de

projeto para os produtos considerados? (participação direta, indireta, etc)

As pesquisas de pré-venda e de pós-ocupação auxiliam bastante neste processo.

Contamos também com contatos frequentes em eventos que estabelecemos junto aos

nossos clientes onde é possível obtermos feedbacks.

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5. O usuário final participa em alguma etapa do processo? (estudo de viabilidade,

croquis, avaliação pós-ocupação, etc)

Sim, participam mais ativamente na pesquisa de pós-ocupação.

6. Os fornecedores da etapa de execução do empreendimento participam de

algum estágio do processo de projeto? Qual?

Sim, principalmente na fase inicial (anteprojeto e pré-executivo), para auxiliar nas

melhores soluções no que se refere a custo e facilidade de execução.

7. Existe algum mecanismo para obter feedback, por parte dos usuários finais, do

empreendimento lançado?

Temos como padrão realizar pesquisas pós-visitação em todos os stands de

vendas, os clientes fazem uma avaliação sobre os principais itens que consideram

diferenciais no empreendimento e qual a importância estes itens possuem na opinião

destes clientes para definirem/efetivarem a compra.

Esta pesquisa nos orienta quanto a opinião dos clientes no lançamento do produto.

8. Durante o processo de projeto, da concepção das ideias iniciais à conclusão do

projeto executivo, os custos de produção e manutenção são levantados? Se sim, de que

maneira?

Fazemos o primeiro levantamento de custos globais, quando concluímos o

anteprojeto, porém alguns custos já são levantados desde os estudos preliminares,

principalmente no que se refere à estrutura e fundações, pois são custos muito elevados

que podem inviabilizar o empreendimento.

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9. Caso o custo levantado ultrapasse o custo estimado pelo cliente, como se

procede para que o orçamento não fique acima do estabelecido? Qual o processo

utilizado?

- Estudo dos projetos no sentido de ter possibilidades de redução de custos.

- Estabelecimento de metas para os fechamentos de contrato dos custos da curva

``A´´.

- Comprometimento da Engenharia como um todo com os custos e metas

determinadas para execução da obra.

10. Os escritórios de projetos complementares (estrutural, hidráulica, elétrica, etc)

participam do processo de projeto? Em qual (quais) etapa(s)?

Sim. Desde o estudo preliminar temos elétrica, hidráulica, estrutura, bombeiros,

fundações, pressurização e ar condicionado, aquecimento solar e quando iniciamos o

anteprojeto já estamos com todos os projetistas contratados.

11. Como ocorre o envolvimento dos profissionais durante o processo de projeto

para o novo empreendimento? (coordenador de projetos, arquitetos, etc)

Há um gestor e um coordenador dentro da construtora que acompanham todo o

desenvolvimento de projeto desde a fase de produto até o projeto ser liberado para obra

e depois também dão suporte à obra. Todos os projetistas se reportam a gerencia e

coordenação de projetos da construtora/incorporadora.

12. Há quanto tempo a empresa fornece produtos para o segmento citado? Para

que faixa salarial são voltados os produtos?

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117

Há 28 anos a construtora atua neste nicho de mercado. Prezamos por um

acabamento de qualidade, por projetos e materiais inovadores e verdadeiramente

sustentáveis e também pela adoção de novas tecnologias de automação.

Questionário 02

Função na empresa: Gerente de Projetos; Coordenadora do Comercial; Gerente

de Orçamentos.

Tempo na função: 2; 2 e 5 anos respectivamente.

1. Como a necessidade de lançamento para um novo empreendimento é

identificada?

Consideramos estudo para a região x empreendimentos existentes x

empreendimentos em lançamento x necessidades identificadas pelos nossos clientes nas

pesquisas dos nossos plantões.

2. Quando a empresa opta por conduzir um estudo de viabilidade para um novo

empreendimento, quais variáveis são levadas em consideração durante o estudo?

(preço, investimento, localização, mercado, etc)? Outros membros são envolvidos neste

estudo (escritório de projetos complementares, arquitetos, engenheiros, etc)?

Sim, analisamos primeiramente o interesse no terreno. Priorizamos muito a

localização. O custo do terreno, as despesas com documentação, custo de obra,

despesas de marketing e outras despesas de comercialização x VGV do

empreendimento são itens que analisamos para a tomada de decisão. Procuramos

também avaliar um Boletim de dados técnicos da área para identificar questões técnicas

de aprovação de projeto junto aos órgãos responsáveis que possam implicar na

aquisição. Desta forma, a área de Projetos e Orçamentos podem contribuir com dados

para finalizarmos o processo.

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3. Para que o novo empreendimento seja considerado viável, o que se espera

encontrar durante o estudo de viabilidade?

A viabilidade deve conter uma boa taxa de retorno com % de margens dentre as

estabelecidas pela Diretoria.

4. Durante este estudo, tem-se um orçamento detalhado para lançamento deste

novo empreendimento de acordo com o escopo de projeto e parâmetros de qualidade já

pré-definidos?

Com o escopo do produto fechado a área de orçamento aprofunda-se item a item

para que até o lançamento do produto possamos ter os custos todos fechados.

5. A empresa participa ativamente de todas as etapas do processo de

desenvolvimento de projeto para um novo empreendimento?

Sim, as principais áreas envolvidas realizam reuniões que ocorrem mensalmente

para discutir sobre o andamento de futuros lançamentos.

6. As equipes de projetos (arquitetura, estrutura, hidráulica, elétrica, etc) têm

completo entendimento com relação às especificações e necessidades da empresa?

Como isso é apresentado aos projetistas?

Leva um tempo para os novos projetistas se acostumarem com os padrões da

empresa, para facilitar esta compreensão desenvolvemos documentos com diretrizes de

projeto e escopo de entregas para cada especialidade e também acompanhamos todo o

desenvolvimento do projeto para evitar desvios durante o processo. Também buscamos

formar parcerias com nossos projetistas e desta forma nossos parceiros já conhecem a

cultura da empresa.

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7. Como funcionam as relações contratuais entre a empresa e os escritórios de

projetos? Existem formas de incentivo?

Na maioria das vezes é cobrado um valor por metro quadrado de projeto que muda

de acordo com o tamanho e a complexidade do mesmo. Não há incentivos.

8. As metas de escopo e custo estabelecidas pela empresa são flexíveis ou fixas?

Quem pode alterar as definições de custo, cronograma e escopo é somente a empresa

ou os escritórios de projetos também podem fazê-lo?

As metas de custo são fixas, porém podem ser alteradas pela diretoria da empresa

se o acréscimo de custo for imprescindível para a viabilidade do projeto.

No que se refere a custo, só quem pode fazer alterações é a empresa, quanto aos

prazos, são definidos de comum acordo entre empresa e projetistas, sempre levando em

consideração as metas definidas pela empresa.

9. Quando surgem soluções alternativas de projeto que impliquem em custo,

qualidade e cronograma, estas são discutidas entre todos os membros envolvidos com o

processo de desenvolvimento de um novo empreendimento?

Sim sempre são envolvidos todos os participantes do projeto.

10. Como é feito o planejamento de cronograma com os projetistas, com base nas

tarefas e etapas de projeto a serem concluídas?

O planejamento é feito de acordo com cada etapa de desenvolvimento de projeto

e com a relação de interdependência entra as especialidades.

11. As metas possuem objetivos flexíveis? A inovação e busca por novas soluções

é incentivada pela empresa ou os projetistas devem seguir um modelo pré-estabelecido?

As metas podem ser reajustadas se justificada e aprovadas pela diretoria da

empresa. A inovação é uma premissa da construtora para todos os projetos.

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12. As metas de escopo e custos são alocadas para todas as equipes de projetos

(arquitetura, estrutura, elétrica, etc)?

As metas de custo não são passadas para os projetistas, apenas as de escopo.

13. As equipes de projetos possuem uma estimativa de custos pré-estabelecida?

Se sim, esta estimativa é constantemente atualizada e por consequência, o orçamento

final é atualizado com base nestas atualizações?

A empresa tem uma estimativa de custos, mas estes valores não são passados

para os projetistas, apenas damos parâmetros para que desenvolvam projeto ou

modifiquem os mesmos de acordo com o resultado que esperamos. O orçamento é

atualizado junto com o desenvolvimento do projeto.

14. São realizadas reuniões com as equipes de projeto? Com que frequência?

São realizadas várias reuniões, o número dependendo das etapas e da

complexidade do projeto.

15. Como são identificadas as necessidades dos usuários futuros do

empreendimento a ser desenvolvido? Caso já exista um modelo, como este foi

elaborado?

Utilizamos as pesquisas de PDV (s) – pontos de venda, além dos nossos contatos

periódicos com clientes e também os feedbacks das reuniões de comissões de obra que

a Diretoria acompanha pessoalmente.

16. Como são definidos os parâmetros mínimos que devem constar no projeto do

novo empreendimento?

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De acordo com projetos já entregues e também de pesquisar de mercado.

17. Os fornecedores da etapa de execução do empreendimento participam de

algum estágio do processo de projeto? Se sim, qual?

Sim, principalmente na fase inicial (anteprojeto e pré-executivo), para auxiliar nas

melhores soluções no que se refere a custo e facilidade de execução.

18. Existe algum mecanismo para obter feedback, por parte dos usuários finais,

do empreendimento lançado?

Como temos como padrão realizar pesquisa pós visitação em todos os stands de

vendas, os clientes fazem uma avaliação sobre os principais itens que consideramos

diferenciais no empreendimento e qual importância estes itens possuem na opinião

destes clientes para definirem/efetivarem a comprar. Esta pesquisa contribui então para

nos elucidar quanto a opinião dos clientes no lançamento do produto.

19. O custo do empreendimento é estabelecido antes do início da fase de projeto

ou este custo só é levantado com os projetos concluídos (executivos)?

O orçamento é feito antes dos projetos executivos concluídos.

20. Caso este custo seja ultrapassado, onde são feitos cortes para equilibrar o

orçamento? Como é feita esta hierarquia de cortes?

A Incorporação absorve estes custos

Questionário 03

Função: Gerente de Projetos; Coordenadora do Comercial; Gerente de

Orçamentos e Responsável pelo Atendimento ao Cliente.

Quanto tempo na função? 2; 2; 5 e 1 ano e 6 meses.

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Este questionário deve ser respondido da seguinte forma: para cada questão, deve

ser estabelecido se a prática descrita é possível: a curto prazo/médio prazo/longo prazo

e porque/como (ex: essa prática pode ser assimilada a médio prazo, desde que os

fornecedores/projetistas passem por treinamento, etc) ou se existem muitas barreiras (e

quais são) e sua implementação é muito difícil.

1. Estabelecimento do Target no início do projeto, de forma que o

mesmo:

a) Não pode ser excedido, a menos que a construtora estabeleça um

novo valor;

b) As metas de qualidade não podem ser alteradas, a menos que a

construtora o defina.

(os respondentes não souberam responder esta pergunta)

2. Envolvimento de todos os parceiros, desde o início da concepção do

projeto (fornecedores principais, equipes projetistas – hidráulica, arquitetura,

estrutura, elétrica – usuários finais).

Os fornecedores já participam do desenvolvimento dos projetos. Não

pretendemos envolver os clientes finais no desenvolvimento dos projetos uma vez

que as vendas são iniciadas apenas quando o projeto já está concluído.

Envolvemos o cliente final apenas nos itens de personalização.

3. Estimativa de custos do produto de forma contínua – é possível sua

atualização a cada 3 semanas e na finalização de cada etapa de projeto?

Médio prazo.

4. Contratos de incentivo – Neste tipo de contrato, feito com todos os

parceiros (fornecedores e todas as equipes de projeto e construtora), os riscos do

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empreendimento no caso de falha são compartilhados por todos, assim como o

sucesso em diminuir os custos e os lucros também são compartilhados entre os

agentes.

Longo Prazo: Necessidade de juntarmos todos os envolvidos na formatação

do negócio

5. Treinamento em Lean e Target Value Design (uma das ferramentas

do Lean) antes do início do empreendimento e de forma continua, a fim de ensinar

uma nova cultura de gerenciamento de projeto tanto para as equipes de projetistas

quanto os fornecedores principais.

Médio prazo – pois seria uma mudança cultural dentro da empresa e

também para os projetistas com quem trabalhamos hoje.

6. Co-locação das equipes – neste sistema, a equipe desenvolve o

projeto num mesmo espaço físico, facilitando as integrações e colaborações de

forma contínua até a finalização.

Inviável uma vez que nossas equipes são empresas contratadas para cada

especialidade.

7. Identificação do que é valor para o usuário final, através da avaliação

do último empreendimento, utilizando ferramentas do Lean, pois satisfação e valor

são conceitos diferentes e devem fornecer feedback para empreendimentos

futuros.

Curto prazo – pois já realizamos pesquisas pós-ocupação, bastaria

definirmos um parâmetro qualitativo.

8. Feedback continuo do usuário – feedback de avaliação de valor pro

usuário ao fim de cada empreendimento.

Curto prazo - Conforme citado na questão anterior, já realizamos pesquisas

pós-ocupação, bastaria acrescentarmos parâmetros para geração de indicadores

de qualidade.

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9. O usuário final é peça-chave durante todo o processo – ele participa

durante o processo, através de avaliações a cada etapa do produto que está sendo

desenvolvido e a cada grande mudança no produto e/ou introdução de

soluções/tecnologias inovadoras para que não se perca o foco em entregar

qualidades que representem valor para este usuário.

Isto já acontece na comissão de obras que são reuniões com proprietários

eleitos para representar todos os clientes do produto em questão. Nestas reuniões

os representantes acompanham todo o desenvolvimento da obra, melhorias,

dificuldades e prazos. A ata desta reunião é enviada para todos os proprietários.

10. Total entendimento de todos os membros da equipe com relação ao

empreendimento e do que representa valor para as partes envolvidas (projetistas,

construtora, fornecedores, empreiteiros, usuário final).

Longo prazo, pois depende de alterações no processo de projeto e também

na cultura de projeto e de execução de obra.

11. Estudo de viabilidade: envolvimento de todos os agentes principais

(projetistas, construtora, fornecedores, empreiteiros, usuário final), para atestar se

o empreendimento é viável e possibilidades de redução de custos.

Acredito ser inviável, pois o estudo de viabilidade é muito anterior às

discussões de projeto. Este estudo é realizado entre os departamentos de

Incorporação, Projetos, Financeiro e Presidências.

12. Incentivos de todos os envolvidos deve estar alinhados com os

objetivos do empreendimento, através por exemplo de contratos de incentivo,

direcionando os agentes a buscar novas soluções de redução de custos sem perda

de qualidade e valor do produto.

Médio prazo, pois acarretaria em uma mudança de método de negociação

e motivação.

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13. Seleção das equipes – baseada em elementos de valor para o

usuário final/construtora que estas equipes podem trazer, e não somente baseada

em menor preço.

Já trabalhamos desta forma, nunca contratamos projetistas pelo menor

preço.

14. Transparência entre:

a) Construtora: mostra seus planos para o empreendimento, quanto

pode gastar e o que são itens representativos de valor;

b) Equipes: mostram seu modelo de trabalho, apresentam seus gastos,

custos com material/pessoal e quais as margens de lucro esperadas.

a) Médio prazo;

b) Longo prazo.

15. Uso de ferramentas para facilitar a aplicação dos conceitos como BIM

(Building Information Modelling), Mock Ups (construção de modelos em escala real

de partes do empreendimento, em forma de maquete escala 1:1, para avaliar

soluções e para que os usuários também possam avaliar as soluções de projeto),

entre outros, o que exige um período de treinamento das equipes.

Médio prazo, o processo para implementação do método BIM é complexo,

mas já estamos estudando de que forma implantá-lo.

16. Targets (custos) flexíveis para incentivar inovação, desde que a

construtora esteja disposta a assumir riscos caso o empreendimento vá a falência.

Longo Prazo: Implantação muito difícil.

17. As equipes colocam sua margem em risco e a construtora assume

tais riscos no caso de custos excedentes ou falência do empreendimento.

Longo Prazo: Implantação muito difícil

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18. Política de livro aberto total, com transparência financeira de todos

os envolvidos (projetistas, construtora, fornecedores, empreiteiros, usuário final).

Longo Prazo: Implantação muito difícil

19. Todos os envolvidos trabalham nas mesmas condições; toda equipe

deve estar envolvida com a gestão do processo de projeto, da concepção à

finalização.

Acredito ser inviável dentro de nossa realidade, uma vez que sabemos que

por mais parceiros que os projetistas sejam, a preocupação com o resultado final

do projeto é muito maior por parte da empresa. Também sabemos que o

cumprimento das metas de prazos só é alcançado com controle efetivo por parte

da empresa contratante.

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10 ANEXOS

1.1 PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA”

10.1.1 Características gerais do Programa

O programa “Minha Casa, Minha Vida” (PMCMV), foi instituído através da Lei

11.977/2009, de maneira contida, com metas e subsídios limitados. Após um período de

funcionamento inicial, em julho de 2010 a MP497 prorrogou incentivos fiscais do

programa até final de 2014 e aumentou a faixa de valor de imóveis enquadrados como

de interesse social (de R$60 para R$75 mil). Com meta inicial de construção de um

milhão de moradias, beneficiando famílias com ganhos entre zero e 10 salários mínimos

(SM), o programa se mostra ambicioso.

A aprovação de empreendimentos pelo Agente Financiador (AF) principal deste

programa se divide em duas faixas principais: empreendimentos voltados a famílias que

recebem de 0 a 3 SM; e empreendimentos voltados para a faixa salarial de 3 a 10 SM,

que é o contexto de estudo do presente trabalho.

O objetivo é prestar financiamento às empresas da construção civil para

investimento em habitação popular que atendam famílias nesta faixa salarial. Ele abrange

capitais e regiões metropolitanas, municípios com população entre 50 e 100 mil

habitantes, e é de acordo com o déficit habitacional de cada região.

Seu funcionamento ocorre da seguinte maneira:

- A União e o FGTS alocam os recursos divididos por área do território nacional

(sujeito à revisão periódica);

- As construtoras interessadas apresentam o projeto para um empreendimento que

se encaixe nos pré-requisitos estabelecidos para o AF;

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- O AF faz a pré-análise e autoriza o lançamento e comercialização das unidades;

- Depois que a análise é concluída e a comercialização mínima de unidades é

comprovada, é assinado um Contrato de Financiamento à Produção entre o AF e a

Construtora/Incorporadora (C/I).

- Durante a fase de execução, o AF faz o financiamento para o comprador final da

unidade e o montante é abatido do montante da dívida da C/I;

- Os recursos são liberados ao longo da obra, conforme cronograma físico-

financeiro, após medição realizada pelo AF;

- Quando o empreendimento é concluído, a C/I entrega as unidades aos

compradores finais que fizeram o financiamento da compra.

O AF principal conta com as seguintes condições principais para a contratação e

aprovação pelas C/I de financiamento da obra:

- As empresas podem financiar até 100% do custo de execução da obra com uma

liberação de recursos antecipada de até 10% do custo total ou o valor do terreno (o que

for menor);

- A empresa candidata precisa possuir análise de risco válida no AF;

- Para que o Contrato de Financiamento à Produção possa ser assinado, é

necessária comprovação de 30% de comercialização das unidades previstas ou 20% de

unidades financiadas pelo AF pelos compradores finais, ou ainda análise de velocidade

de vendas, de 15% da comercialização;

- Sendo a venda feita pela empresa com financiamento pelo AF, este amortizará o

valor financiado pelo empreendedor;

- A liberação de recursos é feita conforme medição em obra;

- Prazo de pagamento de até 24 meses após conclusão da obra;

- Exigência de contratação de seguro de término da obra e risco de engenharia.

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O projeto proposto pela C/I deve atender normas brasileiras, legislação municipal

da região onde se insere e 30 parâmetros mínimos exigidos pelo AF que serão descritos

na seção a seguir. Cada módulo tem um limite de 500 unidades para lançamento.

10.1.2 Análise e Aprovação dos Empreendimentos

Para avaliação dos empreendimentos a serem lançados, o AF exige a entrega de

documentação da empresa com dados de situação fiscal, risco, situação jurídica. Depois

são entregues os projetos, que são analisados sob três esferas: risco da operação

(viabilidade do empreendimento); engenharia e trabalho social (onde devem ser

cumpridos os 30 itens de parâmetros mínimos definidos pelo AF) e jurídica.

O fluxograma a seguir mostra os trâmites de aprovação das C/I pelo AF:

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Figura 19 - Trâmite de aprovação de novo empreendimento pelo AF

A análise de engenharia do programa busca verificar se o empreendimento atende

as regras do PMCMV para a faixa de operação. Essa análise consiste em:

- Verificar as condições de projeto referentes à funcionalidade e segurança –

acessibilidade, compartimentação, iluminação, ventilação, etc.

- Avaliar o valor de mercado das unidades para garantir que se enquadrem na faixa

salarial citada para que o financiamento possa ser garantido ao comprador final.

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- Verificar orçamento de execução do empreendimento, utilizando como referência

projetos básicos existentes e os índices de custos do Sistema Nacional de Pesquisa e

Índices da Construção Civil (SINAPI).

- Avaliar o cronograma físico-financeiro, observando a viabilidade e a coerência

entre a execução da obra e a alocação de recursos programada.

- Documentos analisados: ficha resumo; projeto arquitetônico; projeto do trabalho

social (quando couber); resumo de especificação mínima; cronograma físico-financeiro;

levantamento planialtimétrico e implantação do terreno; viabilidade da infraestrutura

existente (água, esgoto, energia); licença ambiental, se necessário; quadro de áreas do

empreendimento; taxa de análise e memorial descritivo. Nesta fase, os projetos

complementares não são analisados.

Os parâmetros mínimos exigidos e verificados pelo AF para aprovação de novo

empreendimento estão listados a seguir (retirado do próprio manual para o PMCMV):

- Porte do Empreendimento:

1. Número de unidades: módulos até 500 unidades; condomínios fracionados até

250 unidades;

- Terreno e localização:

2. Em caso de solo contaminado: proposta de recuperação deve ser aprovada pelo

órgão ambiental;

3. Ocorrência de área de proteção ambiental permanente ou proteção de

patrimônio histórico: necessário licença de intervenção;

4. Ocorrência de erosão, recalque por adensamento ou desmoronamento: solução

técnica deve ser apresentada;

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5. Ocorrência de solo alagadiço, sujeito a inundação ou variação de maré: solução

técnica deve ser apresentada, considerando recorrência superior a 50 anos;

6. Serviços públicos: disponibilidade de energia, água, esgoto sanitário e

drenagem pluvial (infraestrutura);

7. Deve haver serviços públicos disponíveis: transporte, iluminação, coleta de lixo.

- Cota de Implantação:

8. Implantação da edificação: em cota favorável em relação à rua e redes de

drenagem/esgoto;

9. Soleira de entrada: em cota superior ao terreno;

10. Deve existir solução para drenagem no fundo de lotes em declive;

- Taludes, desníveis e contenções:

11. Contenção de aterro para proteção de lote contíguo;

12. Contenção de terreno contíguo em cota superior ao empreendimento;

13. Talude superior a 1m: prever contenção ou proteção vegetal, quando

permitido;

14. Talude com inclinação superior a 45º para aterro e 60º para corte: apresentar

comprovação de estabilidade;

15. Talude com desnível superior a 3m: apresentação de solução técnica

(drenagem, bermas, estrutura de estabilização);

16. Proximidades do talude: distância da edificação do pé ou crista do talude deve

ser superior a 1,50m ou menor que a altura do desnível existente;

17. Desnível superior a 1,50m próximo a circulação: prever guarda-corpo.

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- Pé-direito:

18. Mínimo de 2,20m para banheiros, cozinhas e circulação com forro rebaixado

e garagem, e 2,40m para demais ambientes.

- Acessibilidade:

19. Observar largura mínima de 0,80m de portas externas das unidades;

20. Observar regras de acessibilidade em áreas de uso comum, unidades

habitacionais e garagens;

- Privacidade:

21. Previsão de forro nos banheiros;

22. Executar prolongamento de divisória em unidades germinadas até encontro

com o telhado, quando não existir laje/forro em toda unidade.

- Impermeabilidade:

23. Prever impermeabilização entre as fundações e as alvenarias, evitando contato

direto da edificação com o solo.

- Cobertura:

24. Cobertura: telhado ou laje impermeabilizada com manta.

- Sustentabilidade:

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25. Obrigatório uso de madeira certificada ou proveniente de floresta com manejo

controlado para empreendimentos:

- Estacionamento:

26. Declividade em área de estacionamento: inferior a 8%;

27. Prever vias e acessos internos pavimentados para veículos e pedestres;

28. Previsão de cobertura do solo: utilizar brita para vagas de estacionamento

descoberto em áreas planas e outra solução adequada para terrenos com declividade.

- Segurança:

29. Fechamento de divisas: muro ou alambrado com altura mínima de 1,80m;

30. Iluminação de áreas comuns deve compor o projeto.