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PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GERÊNCIA DE PAVIMENTOS PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO Priscilla Miguel de Souza Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Sandra Oda Rio de Janeiro Agosto, 2015

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PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GERÊNCIA

DE PAVIMENTOS PARA A CIDADE DO

RIO DE JANEIRO

Priscilla Miguel de Souza

Projeto de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadora: Sandra Oda

Rio de Janeiro

Agosto, 2015

ii

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GERÊNCIA DE

PAVIMENTOS PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

PRISCILLA MIGUEL DE SOUZA

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

________________________________________

Prof. Drª Sandra Oda – DET/UFRJ

________________________________________

Prof. Dr. Giovani Manso Ávila – DET/UFRJ

________________________________________

Eng. Leonardo Santana Cavalcanti – PCRJ

Rio de Janeiro, RJ – Brasil

Agosto de 2015

iii

Souza, Priscilla Miguel de

Proposta de Implementação do Sistema de

Gerência de Pavimentos para a Cidade do Rio de

Janeiro/ Priscilla Miguel de Souza. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ ESCOLA POLITÉCNICA, 2015.

XIV, 137 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Sandra Oda

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Civil, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 123-126.

1. Sistema de Gerência. 2. Pavimentos. 3. Rio de Janeiro. 4.

Pavimentação. I. Oda, Sandra. II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, UFRJ, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Civil. III. Título.

iv

Ao meu pai Eduardo – meu exemplo de vida

E à melhor mãe de todas, Tina

minha melhor amiga.

v

AGRADECIMENTOS

“Senhor, por todas as coisas que coloca em minha vida, agradeço pelas boas e pelas

ruins, pois ambas me ajudam a crescer.”

Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pois sem Ele nada disso

seria possível. É Ele quem sempre está ao meu lado quando preciso e tenho

consciência da importância Dele em minha vida.

Aos meus pais, Tina e Eduardo, que são os responsáveis por eu chegar até

aqui. Sem a total dedicação, amor, carinho, paciência e fé que vocês depositaram em

mim, eu nada seria. Só tenho a agradecer a vocês por acreditarem em mim e sempre

procurarem me oferecer a melhor educação e as melhores oportunidades. Amo vocês!

Aos meus irmãos, André e Bianca, por serem irmãos, né? Companheiros

desde que me entendo por gente, que cuidam de mim e se preocupam comigo. Meu

irmãozinho sempre interessado em saber como estava minha monografia e me

incentivando. Minha irmã – Bibous – sempre me ajudando quando preciso e me

oferecendo ajuda quando o prazo apertou. Amo vocês, obrigada por tudo!

Ao meu namorado Ignacio, a pessoa que, neste período de tempo, mais me

exigiu disciplina. Apesar de querermos estar juntos, ele me ajudou a separar o tempo

de lazer do tempo necessário para desenvolver a monografia. Ainda assim, esteve

sempre me apoiando nos momentos difíceis e que mais precisei. Não poderia pedir

por alguém melhor ao meu lado.

Às minhas amigas – Thaís, Jhenyffer, Marcela e Isabela – que, sempre

pacientes, me desejavam força e foco na monografia, mesmo que isso significasse

cancelar uma viagem nossa que teria sido maravilhosa. Estou devendo, mas obrigada

pelo incentivo e pela compreensão. Não poderia esquecer de você, Manuela, uma

grande pessoa e de ótimo coração. Obrigada pelo ombro amigo!

Às minhas amigas-irmãs – Luíza, Tatiana, Maythê e Manoella – que mesmo

algumas estando distantes, foram responsáveis por me ajudar a me tornar quem eu

sou hoje. Amo vocês, vocês são amigas para toda a vida. Obrigada por tudo!

Aos meus queridos amigos Bernardo, Thiago e Rafael, sempre companheiros,

além de confidentes, me salvando de situações que não conseguiria resolver sozinha.

Agradeço demais a paciência de vocês comigo!

À minha orientadora Sandra, não só uma ótima professora, como uma

excelente profissional. Tudo o que aprendi e escrevi nesta monografia eu devo a você

e a toda a sua paciência em repassar o conhecimento. Obrigada por me ensinar, me

orientar e acreditar em mim.

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica / UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GERÊNCIA DE

PAVIMENTOS PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Priscilla Miguel de Souza

Agosto, 2015

Orientador: Sandra Oda

Curso: Engenharia Civil

Especialistas da área de Pavimentação afirmam que o Brasil é um país

relativamente desatualizado nesse quesito, com carência em equipamentos, novas

tecnologias, boas metodologias, profissionais qualificados e ferramentas úteis.

Levando isso em consideração, o desenvolvimento de uma ferramenta, um Sistema de

Gerência de Pavimentos, SGP, que poderá ser utilizada para auxiliar na manutenção

dos pavimentos já existentes que possuem alguma irregularidade e precisam ser

modificados, realizando o serviço necessário na via sem desperdício de tempo e de

forma otimizada, se torna essencial. O SGP será capaz de facilitar o gerenciamento

dos pavimentos de toda a cidade do Rio de Janeiro, contando com um banco de

dados que forneça características da via, informações e periodicidade das

manutenções ocorridas na via, assim como o histórico da mesma, dentre outras

informações relevantes. Neste trabalho, como não foi possível obter informações

fundamentais dos pavimentos existentes, foi proposto um passo a passo de uma das

formas de implementação do SGP, onde foi detalhado tudo o que deve ser

considerado para que a implementação ocorra de forma satisfatória, descrevendo e

destrinchando fatores essenciais para sua aplicação, apresentando todos os conceitos

de pavimentos que são importantes para a elaboração das etapas de um SGP.

Palavras-chave: Sistema de Gerência, Pavimentos, Rio de Janeiro, Pavimentação.

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

PROPOSAL OF IMPLEMENTATION OF A PAVEMENT MANAGEMENT

SYSTEM FOR THE CITY OF RIO DE JANEIRO

Priscilla Miguel de Souza

August, 2015

Advisor: Sandra Oda

Course: Civil Engineering

Specialists of the area of Paving affirm that Brazil is a country relatively out of

date in this query, with lack in equipments, new technologies, good methodologies,

qualified professionals and useful tools. Taking that into account, the development of a

tool, a Pavement Management System, PMS, that will be able to be used to help in the

maintenance of the already existent road surfaces that have some irregularity and need

to be modified, carrying out the necessary service in the road without waste of time and

of optimized form, becomes essential. In other words, the Pavement Management

System will be able to make easy the management of the road surfaces of the whole

city of Rio de Janeiro, disposing of a database that should obtain characteristics of the

road, information and periodicity of the maintenances occurred in the road, as well as

the historical of the road, among other relevant information. In this work, since it was

not possible to obtain basic informations of the existent road surfaces, it was proposed

a step by step of implementation of the PMS, where there was detailed everything that

must be considered so that the implementation takes place in the satisfactory form,

describing and unraveling essential factors for his application, presenting all the

concepts of road surfaces that are important for the preparation of the stages of a

Pavement Management System.

Key words: System of Management, Road Surfaces, Pavement, Paving.

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1.1. Justificativa ................................................................................................... 1

1.2. Objetivo ......................................................................................................... 2

1.3. Estruturação do Trabalho ............................................................................ 2

2. DEFINIÇÕES ......................................................................................................... 3

2.1. Pavimentos ................................................................................................... 3

2.1.1. Tipos de Pavimentos ............................................................................... 4

2.1.2. Estrutura dos Pavimentos ........................................................................ 8

2.1.3. Tecnologia de Pavimentos..................................................................... 13

2.2. Tipos de Misturas Asfálticas...................................................................... 21

2.2.1. Misturas usinadas .................................................................................. 22

3. IRREGULARIDADES NA PAVIMENTAÇÃO ...................................................... 30

3.1. Irregularidades de Projeto ......................................................................... 30

3.2. Iregularidades de Execução ...................................................................... 33

3.3. Defeitos nos Pavimentos ........................................................................... 35

3.3.1. Trincas por Fadiga ................................................................................. 36

3.3.2. Trincas em Blocos ................................................................................. 37

3.3.3. Trincas nos Bordos ................................................................................ 38

3.3.4. Trincas Longitudinais ............................................................................. 39

3.3.5. Trincas por Reflexão .............................................................................. 40

3.3.6. Trincas Transversais ............................................................................. 41

3.3.7. Remendos ............................................................................................. 43

3.3.8. Panelas ................................................................................................. 44

3.3.9. Ddeformação Permanente ..................................................................... 45

3.3.10. Corrugação ............................................................................................ 46

3.3.11. Exsudação ............................................................................................. 47

3.3.12. Agregados Polidos ................................................................................ 48

3.3.13. Desgaste ............................................................................................... 49

3.3.14. Desnível entre Pista e Acostamento ...................................................... 51

3.3.15. Bombeamento ....................................................................................... 51

3.4. Controle Tecnológico ................................................................................. 52

4. SISTEMA DE GERÊNCIA DE PAVIMENTOS ..................................................... 54

4.1. Introdução ................................................................................................... 54

4.2. Definição ..................................................................................................... 55

ix

4.3. Dados para a Gerência de Pavimentos ..................................................... 57

4.3.1. Banco de Dados – Histórico dos Pavimentos ........................................ 57

4.4. Desempenho dos Pavimentos ................................................................... 59

4.4.1. Avaliação Funcional: Levantamento de Campo ..................................... 60

4.4.2. Avaliação da Capacidade Estrutural ...................................................... 64

4.5. Manutenção e Reabilitação de Pavimentos .............................................. 67

4.5.1. Atividades: Prevenção, Recuperação, Reconstrução e Reforço ............ 68

4.5.2. Retroanálise .......................................................................................... 73

4.5.3. Dimensionamento de Reforços .............................................................. 74

4.5.4. Uso de Softwares de SGP ..................................................................... 78

4.6. Tomada de Decisão .................................................................................... 82

5. ESTUDO DE CASO ............................................................................................ 87

5.1. Perfil da Cidade do Rio de Janeiro ............................................................ 87

5.1.1. Localização Geográfica ......................................................................... 87

5.1.2. População ............................................................................................. 87

5.1.3. Área Total .............................................................................................. 88

5.1.4. Área Urbana .......................................................................................... 88

5.1.5. Características Climáticas ..................................................................... 89

5.1.6. Vias Urbanas ......................................................................................... 89

5.1.7. Frota ...................................................................................................... 90

5.2. Procedimento para Implementação do SGP ............................................. 90

5.2.1. Inventário ............................................................................................... 91

5.2.2. Avaliação ............................................................................................... 91

5.2.3. Levantamento em Campo...................................................................... 97

5.2.4. Índice de Prioridade (IP) ........................................................................ 99

5.2.5. Estratégia de M&R............................................................................... 100

5.2.6. Atividades de M&R .............................................................................. 101

5.2.7. Implementação .................................................................................... 101

5.3. SGP – Rio .................................................................................................. 102

5.3.1. Inventário da Rede Viária Urbana ........................................................ 103

5.3.2. Avaliação dos Pavimentos ................................................................... 111

5.3.3. Treinamento para o Levantamento da Condição dos Pavimentos ....... 112

5.3.4. Levantamento das Atividades Adotadas nos Programas de Manutenção

e Reabilitação dos Pavimentos .......................................................................... 118

5.3.5. Índice de Prioridade ............................................................................. 120

5.3.6. Estratégia de Manutenção e Reablitação ............................................ 120

x

6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 122

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 123

ANEXO A – Árvores de Decisão ............................................................................ 127

I. Trincas por Fadiga do Revestimento .............................................................. 127

II. Trincas em Blocos .......................................................................................... 128

III. Trincas Laterais .......................................................................................... 128

IV. Trincas Longitudinais .................................................................................. 128

V. Trincas por Reflexão ...................................................................................... 129

VI. Trincas Transversais .................................................................................. 129

VII. Remendos .................................................................................................. 129

VIII. Panelas ...................................................................................................... 129

IX. Corrugação ................................................................................................. 130

X. Exsudação ..................................................................................................... 130

XI. Deformação Permanente nas Trilhas de Roda ........................................... 130

XII. Agregados Polidos...................................................................................... 131

XIII. Desgaste .................................................................................................... 131

ANEXO B – Planilhas para Levantamento de Campo .......................................... 132

ANEXO C – Simbologia dos Defeitos e sua Aplicação em um Croqui ................ 135

ANEXO D – Planilha para Avaliação da Condição dos Pavimentos .................... 137

xi

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Cargas no Pavimento (SANTANA, 1993). ...................................................... 4

Figura 2: Seção transversal típica do pavimento flexível. (1) Revestimento asfáltico; (2)

Base granular; (3) Sub-base; (4) Reforço do subleito; (5) Regularização do subleito

(DNIT, 2006). ................................................................................................................ 5

Figura 3: Distribuição do carregamento em pavimentos flexíveis. ................................. 5

Figura 4: Seção transversal tipo do pavimento rígido (Adaptada de SOUZA, 1980) ..... 6

Figura 5: Distribuição do carregamento em pavimentos rígidos. ................................... 6

Figura 6: Distribuição das tensões do carregamento em pavimento flexível e pavimento

rígido (UFPR)................................................................................................................ 7

Figura 7: Seção transversal típica do pavimento semirrígido direto, à esquerda, e

indireto, à direita (Adaptada de DNIT, 2006). ................................................................ 8

Figura 8: Seção transversal típica dos pavimentos (Adaptada de SENÇO, 1997) ........ 9

Figura 9: Classificação dos revestimentos (DNIT, 2006). ............................................ 10

Figura 10: Processo de Reciclagem da base granular (WIRTGEN, 2004). ................. 20

Figura 11: Constituição da Mistura de Concreto Asfáltico. .......................................... 23

Figura 12: Granulometria comparativa de um SMA e CA (BERNUCCI et al., 2008) ... 25

Figura 13: Trincas por Fadiga (DER/SP). .................................................................... 36

Figura 14: Trincas em blocos (DER/SP). .................................................................... 37

Figura 15: Trinca longitudinal de severidade alta (Foto: Priscilla Miguel). ................... 39

Figura 16: Duas trincas transversais em uma esquina (Foto: Priscilla Miguel). ........... 42

Figura 17: Dois remendos consecutivos em uma faixa de rolamento (Foto: Priscilla

Miguel). ....................................................................................................................... 43

Figura 18: Panelas causadas por trincas por fadiga (Foto: Priscilla Miguel). ............... 44

Figura 19: Exemplo de sistema inadequado de drenagem (Foto: Priscilla Miguel) ...... 45

Figura 20: Exemplo de corrugação no bordo da pista (esquerda) e no meio da pista

(direita). ...................................................................................................................... 46

Figura 21: Exsudação presente das trilhas de roda. ................................................... 48

Figura 22: Exemplo de agregados polidos, mais lisos, por conta de agentes externos

(SHRP Manual). .......................................................................................................... 49

Figura 23: Exemplo de desgaste com agregados desalojados (MELO, 2014). ........... 50

Figura 24: Desnível entre pista e acostamento não pavimentado. .............................. 51

Figura 25: Bombeamento com liberação de material fino (SHRP, 1993). .................... 52

Figura 26: Fluxograma básico de um SGP (ODA, 2014). ............................................ 56

Figura 27: Atividades do SGP que interagem com o Banco de Dados (Albuquerque,

2007). ......................................................................................................................... 58

xii

Figura 28: Dados importantes para a composição de um Banco de Dados

(Albuquerque, 2007). .................................................................................................. 59

Figura 29: Classificação da nota do Valor de Serventia Atual. .................................... 61

Figura 30: Exemplo de perfil longitudinal de um pavimento. ....................................... 63

Figura 31: Deformações no pavimento, também conhecida como deflexões (DNIT,

2006). ......................................................................................................................... 65

Figura 32: Fatores que influenciam no desempenho do pavimento (DNIT, 2011). ...... 67

Figura 33: Diferença de resultados ao se realizar uma manutenção ou uma

reabilitação. ................................................................................................................ 69

Figura 34: Evolução da deterioração em rodovias pavimentadas e o papel do reforço

estrutural (DNIT, 2006). .............................................................................................. 73

Figura 35: Exemplo da relação dos tráfegos. .............................................................. 75

Figura 36: Tabela com os critérios para Avaliação Estrutural (adaptada de DNER,

1979). ......................................................................................................................... 78

Figura 37: Interação entre SGP e o HDM-4 (adaptada de DNIT, 2012). ..................... 82

Figura 38: Localidade da cidade do Rio de Janeiro (WIKIPEDIA, 2015). .................... 87

Figura 39: Subdivisão de zonas da cidade do Rio de Janeiro (WIKIPEDIA, 2015) ...... 88

Figura 40: Estrutura de um SGP para implementação. ............................................... 91

Figura 41: Ficha para avaliação da serventia. ............................................................. 92

Figura 42: Perfilômetro CHLOE, utilizado no AASHO Road Test (ODA et al.,1999) ... 93

Figura 43: Esquema do Perfilômetro CHLOE (HAAS et al., 1994). ............................. 93

Figura 44: Esquema de um perfilógrafo (HAAS et al., 1994). ...................................... 94

Figura 45: Car Road Meter, equipado com acelerômetro (ODA et al., 1999). ............. 94

Figura 46: Maysmeter, medidor de irregularidade longitudinal do tipo resposta (HAAS

et al., 1994). ................................................................................................................ 94

Figura 47: Execução de ensaio com Viga Benkelman. ............................................... 95

Figura 48: Esquema da Viga Benkelman (ODA et al., 1999). ...................................... 95

Figura 49: Esquema do defletômetro vibratório à esquerda e o Dynaflect à direita (ODA

et al., 1999). ................................................................................................................ 96

Figura 50: Esquema de defletômetro de impacto (FWD) (ODA et al., 1999). .............. 96

Figura 51: Dynatest como exemplo de defletômetro de impacto (FWD)...................... 96

Figura 52: Ensaio com defletômetro de impacto (FWD) - bacia de deflexão e índices de

curvatura do revestimento e da base (ODA et al., 1999). ............................................ 97

Figura 53: Estratégia de manutenção e reabilitação mais indicada com base no valor

do ICP (ODA et al., 1999). .......................................................................................... 99

Figura 54: Mapa da Ilha do Fundão ilustrando as seções experimentais (adaptada de

NASCIMENTO, 2015). .............................................................................................. 104

xiii

Figura 55: Deflexões máximas da faixa central dos pavimentos existentes, medidas

pela Viga Benkelman (NASCIMENTO, 2015). .......................................................... 105

Figura 56: Classificação dos Pavimentos por meio do IRI e do IGG (NASCIMENTO,

2015). ....................................................................................................................... 106

Figura 57: Planilha para cada seção, utilizada no preenchimento do inventário da rede

viária urbana (FERNANDES JR, 2005). .................................................................... 107

Figura 58: Localização da Av. Horácio Macedo em azul. .......................................... 108

Figura 59: Distribuição horária do tráfego da Ilha do Fundão (NASCIMENTO, 2015) 108

Figura 60: Planilha para avaliação da condição do pavimento (FERNANDES JR,

2005). ....................................................................................................................... 111

Figura 61: Mapa da Ilha do Fundão ilustrando, em azul, as vias em que foram feitas o

Levantamento de Defeitos. ....................................................................................... 113

Figura 62: Croqui de um trecho de 15 metros da Avenida Pedro Calmon, ilustrando o

levantamento dos defeitos juntamente com sua severidade, segundo simbologia do

Anexo C (LEAL et al., 2013). .................................................................................... 114

Figura 63: Croqui de um trecho de 15 metros da Rua Maria Dolores Lins de Andrade,

ilustrando o levantamento dos defeitos juntamente com sua severidade, segundo

simbologia do Anexo C (LEAL et al., 2013). .............................................................. 115

xiv

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Boletim estatístico da CNT referente à malha rodoviária brasileira (CNT,

2015) ............................................................................................................................ 1

Tabela 2. Boletim estatístico da CNT referente à movimentação anual de cargas (CNT,

2015) ............................................................................................................................ 1

Tabela 3: Classificação das bases para pavimentação (adaptada de SENÇO, 1997). 11

Tabela 4: Tabela com os coeficientes de equivalência estrutural (adaptada de DNER,

1979). ......................................................................................................................... 76

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. JUSTIFICATIVA

O transporte rodoviário é o principal sistema logístico brasileiro, com uma rede

de 1.720.643 quilômetros de estradas, a quarta maior rede do mundo (CIA World

FactBook, Brasil). Ainda assim, apesar de ser o quinto maior mercado da indústria

automobilística mundial, existe uma falta de manutenção, resultando em vias

danificadas em aproximadamente 30% da extensão da malha viária brasileira, isso

porque apenas 210.618 quilômetros de rodovia estão pavimentados. A Tabela 01,

divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), oferece maiores

detalhes.

Tabela 1. Boletim estatístico da CNT referente à malha rodoviária brasileira (CNT, 2015)

Malha Rodoviária - extensão em Km (Março, 2015)

Pavimentada Não Pavimentada Total

Federal 64.045,1 11.944,6 75.989,7

Estadual 119.747,0 105.600,6 225.347,6

Municipal 26.826,7 1.234.918,3 1.261.745,0

Rede Planejada - - 157.560,9

Total 210.618,8 1.352.463,5 1.720.643,2

De acordo com a CNT (2015), 61,1% da movimentação de transporte de

cargas do país é dado ao modal rodoviário, deixando-o responsável por transferir mais

de 485 milhões de reais em cargas, como demonstrado na Tabela 02. Isto não pode

ser realizado de forma eficaz se as condições dos pavimentos se mantêm precárias,

podendo causar acidentes, diminuir o fluxo de tráfego das vias e prejudicar a eficiência

do sistema.

Atualmente, a gestão de orçamentos e racionalização dos recursos disponíveis

são altamente relevantes, o que leva a um fato: o não cumprimento de manutenções

preventivas pode trazer, posteriormente, um acréscimo de 10% a 15% no custo total

de transportes para a realização de manutenções corretivas. Um Sistema de Gerência

de Pavimentos pode não apenas solucionar esse problema como também otimizá-lo.

Tabela 2. Boletim estatístico da CNT referente à movimentação anual de cargas (CNT, 2015)

Matriz do Transporte de Cargas (Março, 2015)

Modal Milhões (TKU) Participação (%)

Rodoviário 485.625 61,1

Ferroviário 164.809 20,7

Aquaviário 108.000 13,6

Dutoviário 33.300 4,2

2

Aéreo 3.169 0,4

Total 794.903 100,0

1.2. OBJETIVO

O objetivo principal deste trabalho é propor um passo a passo da

implementação do Sistema de Gerência de Pavimentos para a cidade do Rio de

Janeiro, descrevendo e destrinchando fatores importantes para sua aplicação. Esta

ferramenta conta com um banco de dados contendo características da via,

informações e periodicidade das manutenções ocorridas na via, assim como o

histórico da mesma, dentre outros dados considerados relevantes ao longo do estudo.

1.3. ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho encontra-se dividido em seis capítulos, no qual o primeiro deles é

apenas uma introdução ao tema, destrinchando o motivo pelo qual este trabalho está

sendo elaborado e qual o seu objetivo final.

No segundo capítulo, o intuito é apresentar brevemente ao leitor os conceitos

básicos da área de pavimentação, como por exemplo, do que é composto um

pavimento, como eles são classificados, as misturas existentes nesta área, quais as

tecnologias utilizadas atualmente, dentre outras informações. Deste modo, o leitor

adquirirá, mesmo que de forma sucinta, o contexto desta área.

Após a identificação das concepções em questão, são desenvolvidos, no

Capítulo 3, os principais problemas encontrados atualmente nesta área. São

abordadas as irregularidades de projeto e de execução, além de serem explicitadas as

patologias encontradas nos pavimentos, também conhecidas como “defeitos”, e o

devido controle tecnológico necessário para estes casos.

Tendo sido exposto todos esses fatores, no quarto capítulo é introduzido o

Sistema de Gerência de Pavimentos (SGP), englobando todos os seus conceitos e

dados necessários para seu pleno funcionamento. Com isso, é descrito a metodologia

das avaliações dos pavimentos, assim como as atividades de manutenção e

reabilitação (M&R) e todos os fatores que estas atividades englobam, além da

definição da estratégia de tomada de decisão.

Por último, no capítulo 5 é apresentado um estudo de caso referente ao SGP

definido ao longo do trabalho, de modo a mostrar um passo a passo para

implementação da ferramenta. O caso utilizará como exemplo algumas vias da Ilha do

Fundão, no Rio de Janeiro, demonstrando como definir as estratégias de intervenção

resultantes e, posteriormente, no capítulo 6 se encontra a conclusão final do trabalho.

3

2. DEFINIÇÕES

2.1. PAVIMENTOS

O pavimento, segundo Souza (1980), “é uma estrutura construída após a

terraplanagem por meio de camadas de vários materiais de diferentes características

de resistência e deformabilidade. Esta estrutura assim constituída apresenta um

elevado grau de complexidade no que se refere ao cálculo das tensões e

deformações”.

Já para Santana (1993), “é uma estrutura construída sobre a superfície obtida

pelos serviços de terraplanagem com a função principal de fornecer ao usuário

segurança e conforto, que devem ser conseguidos sob o ponto de vista da engenharia,

isto é, com a máxima qualidade e o mínimo custo”.

Dessa forma, tendo visto que o pavimento é uma estrutura de diversas

camadas especificamente dimensionadas construída sobre o subleito, para que resista

aos esforços oriundos do tráfego de veículos e do clima, a norma NBR-7207/82

(ABNT, 1982) complementa:

"O pavimento é uma estrutura construída após terraplenagem e destinada,

econômica e simultaneamente, em seu conjunto, a:

a) Resistir e distribuir ao subleito os esforços verticais produzidos pelo tráfego;

b) Melhorar as condições de rolamento quanto à comodidade e segurança;

c) Resistir aos esforços horizontais que nela atuam, tornando mais durável a

superfície de rolamento."

A NBR-7207/82 aborda pontos muito relevantes como, por exemplo, a

transferência dos esforços causados pelos veículos que passarão pelo devido

pavimento. Estes esforços passarão por todas as camadas existentes e serão

transferidos para o subleito conforme ilustra a Figura 01.

4

Figura 1: Cargas no Pavimento (SANTANA, 1993).

De acordo com Santana (1993), quando o pavimento é solicitado por uma

carga de veículo Q, que se desloca com uma velocidade V, recebe uma tensão vertical

σ0 (de compressão) e uma tensão horizontal τ0 (de cisalhamento).

Estes esforços irão se distribuindo à medida que forem atravessando as

camadas do pavimento, fazendo com que chegue até o subleito com uma parcela de

tensão superficial bem inferior à inicial, tornando-o capaz de suportar os esforços

verticais aplicados de forma segura.

2.1.1. TIPOS DE PAVIMENTOS

Há diversos fatores que podem influenciar no bom funcionamento de um

pavimento, assim como na sua resistência e preservação. Levando em consideração a

rigidez do conjunto dos pavimentos, os mesmos podem ser classificados em flexíveis,

rígidos e semirrígidos.

2.1.1.1. Pavimentos Flexíveis

São aqueles em que todas as camadas sofrem deformação elástica

significativa sob o carregamento aplicado e, portanto, a carga se distribui em parcelas

aproximadamente equivalentes entre as camadas (DNIT, 2006).

Basicamente, sua principal característica é possuir um revestimento de camada

asfáltica e ser composto por uma base de material granular, podendo este ser brita ou

solo. A seção transversal típica de um pavimento flexível é ilustrada na Figura 2 e

5

apresenta camadas de revestimento asfáltico, base granular, sub-base e reforço do

subleito, além da regularização do subleito, que não é considerada efetivamente uma

camada, pois não apresenta espessura uniforme. Essas camadas repousam sobre o

subleito, que é a plataforma da estrada.

Figura 2: Seção transversal típica do pavimento flexível. (1) Revestimento asfáltico; (2) Base

granular; (3) Sub-base; (4) Reforço do subleito; (5) Regularização do subleito (DNIT, 2006).

Dentre as camadas explicitadas, a mais relevante estruturalmente para este

tipo de pavimento é a base, que possui a função de receber as tensões do tráfego (P)

e distribuir os esforços (p) antes de transmiti-los à sub-base ou ao reforço do subleito.

A sua distribuição encontra-se ilustrada na Figura 3.

Figura 3: Distribuição do carregamento em pavimentos flexíveis.

Vale ressaltar que uma porcentagem considerável dos pavimentos do Rio de

Janeiro se enquadra neste quesito, visto que este tipo de pavimento possui grande

adaptação a eventuais recalques do subleito, pois deformam sob a ação das cargas,

além de obter rapidez de execução e liberação ao tráfego e reparações fáceis e

rápidas de se realizar.

2.1.1.2. Pavimentos Rígidos

É aquele em que o revestimento tem uma elevada rigidez em relação às

camadas inferiores e, portanto, distribui praticamente todas as tensões provenientes

P

p

P

p

6

do carregamento aplicado (Manual do DNIT, 2006). Ou seja, são placas de concreto

de cimento Portland que são ligadas entre si, porém, neste caso, estas placas

substituem o revestimento e a base do pavimento, visto que possuem alta rigidez e

resistência. A Figura 4 apresenta a seção transversal de um pavimento rígido, na qual

se pode notar a divisão entre a placa de concreto de cimento e a sub-base, onde

possuem contato direto, não sendo necessária a presença da base. Nesse caso, a

sub-base pode ser flexível ou semirrígida, podendo ter função drenante, além de servir

para controlar o bombeamento de finos, a expansão e a contração do subleito.

Figura 4: Seção transversal tipo do pavimento rígido (Adaptada de SOUZA, 1980)

A vantagem principal é que as placas de concreto já possuem a capacidade

para distribuir as tensões do carregamento de forma uniforme, diferente da utilizada

pelos pavimentos flexíveis. A Figura 5 apresenta a distribuição em pavimentos rígidos.

Figura 5: Distribuição do carregamento em pavimentos rígidos.

Além disso, se bem projetado e construído, o pavimento rígido tem uma vida

mais longa, possuindo uma periodicidade maior de manutenção preventiva. Possui

também grande resistência a materiais como óleo diesel e querosene, e ao efeito dos

solventes de combustíveis, evitando a sua degradação.

Portanto, a principal diferença entre os pavimentos flexíveis e rígidos é que, ao

contrário do pavimento flexível, o pavimento rígido suporta por si só as cargas do

tráfego, sendo ele suportado pela sub-base. Já no pavimento flexível, a função do

revestimento é de impermeabilizar e distribuir as cargas para a base, que as suporta

efetivamente. A Figura 6 demonstra a diferença no comportamento da carga atuante

Placa

P

Placa

P

7

do tráfego, sendo mais concentrada nos pavimentos flexíveis e melhores distribuídas

nos rígidos.

Figura 6: Distribuição das tensões do carregamento em pavimento flexível e pavimento rígido

(UFPR).

2.1.1.3. Pavimentos Semirrígidos

O pavimento semirrígido é constituído por revestimento asfáltico e camadas de

base ou sub-base em material estabilizado com adição de cimento. O pavimento

semirrígido é conhecido como pavimento do tipo direto quando a camada de

revestimento asfáltico é executada sobre camada de base cimentada e do tipo indireto

ou invertido, quando a camada de revestimento é executada sobre camada de base

granular e sub-base cimentada (DER, 2006).

Em suma, pode-se dizer que é a mistura das duas classificações anteriores,

por possuir diversas camadas como o item 2.1.1.1., porém havendo a presença de

cimento, como o item 2.1.1.2., que pode ser utilizado na base ou na sub-base da

estrutura.

O pavimento semirrígido possui quase a mesma seção transversal típica que o

pavimento flexível, estando a diferença indicada na Figura 7.

8

Figura 7: Seção transversal típica do pavimento semirrígido direto, à esquerda, e indireto, à

direita (Adaptada de DNIT, 2006).

Pode-se verificar na Figura 7 a estrutura usualmente utilizada para um

pavimento semirrígido direto demonstrado no lado esquerdo, enquanto o pavimento

semirrígido indireto, ou invertido, se encontra no lado direito.

O pavimento semirrígido direto se caracteriza por uma base cimentada

quimicamente, como por exemplo, por uma camada de solo cimento revestida por uma

camada asfáltica. Já o pavimento invertido se caracteriza por ser constituído de

revestimento, base granular não tratada de brita graduada simples e sub-base de

material granular tratado com cimento (DER, 2006).

O pavimento semirrígido não costuma ser muito utilizado, por nem sempre ser

a solução ideal para o projeto, mas apresenta custo inicial baixo e boa durabilidade. O

solo cimento utilizado é uma mistura de solo, água e cimento, realizada no local, que

pode lançar mão de solo regional.

2.1.2. ESTRUTURA DOS PAVIMENTOS

A estrutura de um pavimento tem como objetivo suportar as cargas atuantes

nele repassando, sutilmente, estes carregamentos ao terreno de fundação sem gerar

danificações ao mesmo ou à estrutura.

Já foi mostrado no item 2.1.1.1. a seção transversal típica com o maior número

de camadas necessárias para a estruturação de um pavimento, porém a seção

transversal ilustrada na Figura 8, além de nomear as devidas camadas, também cita

uma parte do sistema de drenagem, que é imprescindível em um projeto geométrico.

Além disso, explicita algumas dimensões que devem ser calculadas e consideradas ao

longo do projeto.

9

Figura 8: Seção transversal típica dos pavimentos (Adaptada de SENÇO, 1997).

É essencial estudar cada camada e conhecer as principais características das

mesmas, porém vale ressaltar que as espessuras de cada uma delas dependem do

projeto estrutural a ser elaborado.

2.1.2.1. Revestimento ou Capa de Rolamento

Também chamado de camada de rolamento, o revestimento deve atuar como

uma superfície de rolamento de qualidade, oferecendo maior conforto e segurança,

visto que é a camada que possui contato direto com o tráfego de veículos. Além disso,

é importante que a mesma possua resistência suficiente para com o desgaste das

intempéries e seja impermeável, já que todo o restante da estrutura dependerá do

revestimento para que infiltre a menor quantidade de água possível e não haja contato

direto com a mesma.

O revestimento é constituído, em cerca de 90% a 95%, por uma camada de

agregado mineral e outra de material asfáltico, entre 5% a 10%. Dentre eles, o

agregado é o responsável por suportar as cargas aplicadas e o desgaste das mesmas,

além de transmiti-las à camada conseguinte. Já o material asfáltico é um elemento

aglutinante, fazendo com que ligue os agregados entre si, além de fornecer um caráter

impermeabilizante à mistura, impedindo e resistindo à ação das águas provenientes

das chuvas.

10

Por conta destas particularidades, esta é a camada mais nobre da estrutura,

sendo a mais cara durante a construção, porém possui grande importância e por isso

deve-se ter cautela na composição da mistura. A Figura 9 apresenta a classificação

dos revestimentos de acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (DNIT).

Figura 9: Classificação dos revestimentos (DNIT, 2006).

A escolha do revestimento mais viável deve ser baseada no fluxo de tráfego

previsto para o local, assim como qual a disponibilidade dos materiais e a sua devida

qualidade, além da acessibilidade destes ao local.

a) Revestimento Flexível

O modelo de revestimento flexível que alcança a melhor qualidade entre os

mesmos é o concreto asfáltico, anteriormente chamado de concreto betuminoso,

devido ao rigoroso controle requerido desde a sua mistura, realizada em usinas, até a

sua aplicação. Por tal motivo é o mais utilizado em autoestradas e vias expressas

(SENÇO, 1997).

Como observado na Figura 9, o revestimento flexível possui várias maneiras de

aplicação sendo considerado o método mais complexo, porém é ainda o mais utilizado

por projetistas e construtores.

11

b) Revestimento Rígido

Sua característica geral é a composição por cimento, tornando-se resistente a

esforços horizontais e disseminando os esforços verticais à sub-base, seguindo o

mesmo raciocínio já desenvolvido no item 2.1.1.2.

Antigamente este tipo de revestimento era utilizado apenas em vias

importantes, porém atualmente ele tem sido utilizado em corredores de ônibus no Rio

de Janeiro, apesar de ainda não ter presença expressiva como o flexível. Ainda assim,

o mesmo é relevante em estudos onde é aplicado como uma alternativa ao asfalto.

2.1.2.2. Base

As bases, assim como as sub-bases, podem ser constituídas por solo

estabilizado, solo-brita, brita graduada, brita graduada tratada com cimento, solo

estabilizado quimicamente com ligante hidráulico ou asfáltico, dentre outros. Sua

função continua sendo a distribuição de cargas oriundas das camadas superiores,

porém, no caso das bases, a única camada acima é o revestimento, fazendo com que

a camada responda mais diretamente aos carregamentos verticais derivados do

tráfego de veículos (SENÇO, 1997).

Como já dito previamente, a base é a camada estruturalmente mais importante

de um pavimento, visto que é a responsável por dar o suporte estrutural a ele. A

mesma é destinada a resistir e distribuir os esforços originados pela ação dos

veículos, atenuando a transferência destes mesmos esforços às camadas

conseguintes.

As bases também podem ser classificadas em rígidas ou flexíveis, e são

melhores detalhadas na Tabela 3.

Tabela 3: Classificação das bases para pavimentação (adaptada de SENÇO, 1997).

Bases

Rígidas

Concreto de cimento

Macadame de cimento

Solo-cimento

Flexíveis

Solo estabilizado

Granulometricamente

Solo-betume

Solo-brita

Macadame hidráulico

Macadame betuminoso

Brita Graduada com ou sem cimento

Por aproveitamento Paralelepípedos

Alvenaria Poliédrica

12

A base de concreto de cimento consiste em uma dosagem de agregados,

areia, cimento e água que atendem ao dimensionamento exigido, podendo ou não ter

armadura metálica em sua estrutura. Esta é utilizada tanto como base quanto como

revestimento (SENÇO, 1997).

2.1.2.3. Sub-base

Além da função de resistir e repassar os esforços aplicados sobre as camadas

superiores às inferiores, esta camada também atua na drenagem do pavimento. A

sub-base torna-se necessária quando, ao dimensionar o pavimento, a camada de

base obtém espessura demasiada a fim de resistir aos carregamentos, sendo assim, é

viável economicamente dividir esta camada em duas, onde a inferior (sub-base) é

composta por materiais de menor custo (BALBO, 2007).

Assim, a sub-base tem a mesma função da base, sendo uma complementação,

de forma a reduzir a espessura da base, além de poder ser utilizada para auxiliar na

regularização dessa camada. Além disso, ela pode drenar infiltrações e controlar a

ascensão capilar da água, quando for o caso. Logo, é importante utilizá-la quando não

for aconselhável executar a base diretamente sobre o leito regularizado ou sobre o

reforço, por circunstâncias técnico-econômicas.

2.1.2.4. Reforço do Subleito

Este reforço é uma camada que visa atenuar as cargas aplicadas sobre um

subleito frágil de forma que este seja capaz de suportar tais cargas. Também pode ser

considerado como camada complementar à base (SENÇO, 1997).

O material utilizado no reforço de subleito obrigatoriamente deve apresentar

maior resistência que o material encontrado no subleito, pois se fosse diferente a

camada se tornaria sem propósito. A utilização desta parte da estrutura é facultativa,

haja vista que outras camadas superiores poderiam suprir sua necessidade, porém

pelo ponto de vista econômico, reforçar o subleito é uma opção mais viável que

aumentar a espessura das demais camadas (BALBO, 2007).

Portanto, esta camada só é necessária quando o subleito possui baixa

capacidade de carga, podendo ser utilizada também para redução da espessura da

sub-base. Diferente da regularização do subleito, o reforço possui uma camada de

espessura constante e é constituído de solo de qualidade superior a do subleito.

13

2.1.2.5. Regularização do Subleito

A regularização do subleito, também denominada de preparo do subleito,

consiste em uma camada de espessura irregular de aterro compactado com a

finalidade de garantir ao subleito as características geométricas transversais e

longitudinais de projeto para a via, evitando gastos desnecessários com subleitos

irregulares que apresentem alta resistência (SENÇO, 1997).

Não é, de fato, uma camada, possuindo espessura variável e sendo executada

quando se faz necessária a preparação do subleito da estrada, para nivelá-lo tanto

longitudinal quanto transversalmente, de modo a corrigir falhas da terraplenagem ou

de um leito antigo de estrada de terra. Por conta disso, é ideal que ocorra sempre que

possível em aterro, o que faz com que esta camada não exista em certos trechos.

2.1.2.6. Subleito

Define-se como o terreno de fundação do pavimento, no entanto, deve-se

limitar este conceito apenas à camada superficial do terreno, haja vista que os

esforços exercidos sobre o subleito são dispersos poucos metros abaixo do solo,

sendo desprezível o efeito atuante nas camadas inferiores (SENÇO, 1997).

Resumidamente, é um maciço que serve de fundação para um pavimento.

2.1.3. TECNOLOGIA DE PAVIMENTOS

Atualmente, há muitas tecnologias utilizadas para o aprimoramento do

pavimento como um todo, tanto na sua estruturação, como nas suas características e

até pensando em um futuro mais sustentável. Dentre elas, os asfaltos modificados e a

reciclagem de pavimentos são as mais recentes.

2.1.3.1. Asfalto Modificado

A princípio o asfalto, encontrado em sua forma original na natureza, era muito

usado na impermeabilização de tanques e reservatórios, porém sua funcionalidade foi

se expandindo e o mesmo foi ganhando outras aplicações ao longo do tempo.

Durante muitas décadas vários pesquisadores vêm tentando desenvolver

técnicas com o objetivo de melhorar a composição do asfalto e torná-lo mais

adequado às necessidades da população, através da incorporação de modificadores

14

de asfalto, tais como: fíleres especiais, fibras e borrachas, as quais vêm tomando

impulsos significativos ao longo dos anos (BERNUCCI et al., 2008).

Especificamente a Europa e os Estados Unidos têm desenvolvido

modificadores para resultar a construção de revestimentos asfálticos com maiores

vantagens – como aumento da adesividade e da resistência ao envelhecimento e à

oxidação; melhoria da resistência à formação de trilhas de roda e ao trincamento de

fadiga; criação de membranas de proteção para evitar a reflexão de trincas para as

camadas superficiais; uso de filmes mais espessos de ligante nos agregados; aumento

da resistência à abrasão de misturas; dentre outros – tornando estes revestimentos

menos sensíveis às variações climáticas e mais resistentes à ação do tráfego. Hoje

em dia, a modificação mais utilizada é através do uso de polímeros ou por borracha de

pneus.

a) Asfalto Modificado com Polímero

Os polímeros podem ser classificados em quatro categorias: termorrígido,

termoplástico, elastômero e elastômero termoplástico. Todas estas se modificam com

a ação do calor, porém de formas distintas.

O polímero termorrígido, quando submetido ao calor, endurece de forma

irreversível, além de não se fundirem e degradarem em uma temperatura limite. Já o

polímero termoplástico é o oposto, quando sofre ação do calor amolece

reversivelmente, visto que se fundem e podem amolecer quando submetido ao calor

novamente. Estes são incorporados aos asfaltos à alta temperatura.

Já os polímeros elastoméricos se decompõem antes mesmo de amolecer ao

sofrerem ação do calor, pois já apresentam propriedades elásticas desde quando

foram vulcanizados. Os não vulcanizados apresentam, no entanto, comportamento

elástico. Enquanto isso, os polímeros elasto-termoplásticos possuem comportamento

flexível quando submetidos ao calor, sendo seu amolecimento reversível.

Segundo Bernucci et al. (2008), nem todos os polímeros podem ser

adicionados ao Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP). Na mesma lógica, nem todos os

cimentos asfálticos podem ser passíveis da adição de polímeros. Logo, é necessário

cautela ao escolher o polímero e o aglomerante, de forma a evitar problemas de

compatibilidade e estocagem do material.

Ainda assim, este tipo de asfalto modificado possui grandes vantagens com a

adição de polímeros junto ao CAP, como obtenção de maior estabilidade e

15

elasticidade ao pavimento. Além disso, também é interessante visto que oferece uma

redução da suscetibilidade térmica, deixando o material menos variável perante a

variação climática e, consequentemente, aumentando a vida útil do pavimento.

Há, também, grande melhora de desempenho com relação às cargas oriundas

do tráfego, visto que o novo material possui alta flexibilidade, coesão e durabilidade

que, com o incremento dos agregados, gera resistência suficiente para suportá-las.

Vale ressaltar que esta resistência também é vantajosa com relação à ação de

solventes, oxidação e envelhecimento do pavimento.

b) Asfalto Modificado com Borracha

No Brasil, mais de 40 milhões de pneus são descartados por ano, geralmente

armazenados de forma inadequada em fundos de quintais, borracharias, ferro-velho,

recauchutadoras ou são lançados em terrenos baldios e cursos d’água. Essa

irregularidade no armazenamento dos pneus resulta em diversos problemas como:

– Riscos constantes de incêndio, produzindo quantidade relevante de fumaça

tóxica (dióxido de carbono);

– Resíduos de óleo presente nos pneus, que podem acarretar na contaminação

de águas subterrâneas;

– Disposição inadequada de carcaças de pneus em vias públicas, podendo

causar acidentes;

– Acumulação de água nos pneus, atraindo mosquitos e proliferando doenças.

Além disso, outro fator que dificulta um destino adequado para esse material é

o fato dos pneus apresentarem baixo grau de compactação e degradação muito lenta,

o que inviabiliza sua disposição final, em condições normais, em aterros sanitários.

A disposição final de pneus inservíveis não é um problema recente, porém

encontrar uma destinação alternativa de forma a priorizar a sustentabilidade e o meio

ambiente é um quadro, de fato, atual. Com a Resolução 258 do Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA), de 26 de agosto de 1999, o uso desse material no Brasil

começou a mudar.

As fábricas de pneus e as importadoras receberam metas com relação à

remoção de pneus do meio ambiente, na qual a meta original, de 2002, exigia que a

cada pneu importado para o país ou fabricado, um pneu inservível tivesse uma

destinação correta. No entanto, posteriormente, elaborou-se a meta atual, vigente

desde 2005, na qual as fábricas e as importadoras de pneus deveriam seguir:

16

– A cada quatro novos pneus fabricados ou importados, cinco pneus inservíveis

devem obter uma destinação final adequada e;

– A cada três pneus reformados importados, de qualquer tipo, quatro pneus

inservíveis deverão obter uma destinação final adequada.

Com essa mudança de lei, pesquisas e soluções sustentáveis começaram a

ser abordadas para a reutilização dos pneus inservíveis como, por exemplo, em obras

de contenção, construção de recifes artificiais, condução do escoamento superficial ou

até utilizados como combustíveis em usinas termoelétricas, em fábricas de celulose e

papel ou em fornos de cimento.

A utilização de pneus como combustível alternativo para fornos de clínquer na

indústria do cimento pode gerar energia elétrica, no entanto, o Brasil ainda utiliza

somente 57% dos pneus inservíveis, enquanto nos EUA esse índice pode chegar a

73% (MARQUES & PAZ, 2007).

Contudo, além das opções citadas acima, existe a possibilidade de recuperar e

reutilizar partes do material inservível. Os pneus são cortados e triturados, seguindo

de operações de separação dos diferentes materiais existentes, o que permite a

recuperação dos mesmos contidos nos pneus. Então, obtém-se borracha pulverizada

ou granulada, possuindo muitas aplicações: utilização em misturas asfálticas, em

revestimentos de quadras e pistas de esportes, na fabricação de tapetes automotivos,

dentre outros.

O asfalto modificado com borracha é um grande exemplo de reutilização desse

material inservível, visto que cada quilômetro pavimentado pode consumir a borracha

de 1.600 a 4.800 pneus inservíveis. Outro exemplo é que, ao considerar a

pavimentação de 4.000 quilômetros de rodovias por ano, tem-se o consumo de 6 a 19

milhões de unidades de pneus por ano, incorporados em pavimentos. Perante estes

dados, nota-se a importância ambiental do desenvolvimento de pesquisas para a

utilização do asfalto borracha na área de pavimentação.

Além do fator ambiental, outros fatores valorizam muito a qualidade deste tipo

de asfalto modificado. A incorporação da borracha na mistura asfáltica oferece uma

redução da suscetibilidade térmica, ou seja, a mistura se torna mais resistente à

variação de temperaturas fazendo com que tanto o desempenho a baixas quanto a

altas temperaturas sejam melhores quando comparados com pavimentos construídos

com ligante asfáltico convencional.

17

Outro ponto importante é o ponto de amolecimento do ligante asfalto-borracha,

que aumenta bastante em relação ao ligante convencional, significando um aumento

da resistência ao acúmulo de deformação permanente nas trilhas de roda, um dos

defeitos mais comuns encontrados nos pavimentos do Rio de Janeiro.

Há também o aumento de vazios, o que proporciona maior facilidade de

escoamento da água das chuvas, evitando acúmulo na superfície do pavimento e,

consequentemente, a aquaplanagem. Esse fator também auxilia na redução do ruído

oriundo do tráfego. Além destas vantagens, há várias outras citadas abaixo.

– Aumento da flexibilidade;

– Maior resistência ao envelhecimento;

– Maior resistência à propagação de trincas;

– Maior aderência entre pneu-pavimento;

– Redução de custos de manutenção de pavimentos.

É válido ressaltar, no entanto, que o custo de fabricação deste tipo de asfalto é

mais caro, visto que há alguns pré-requisitos na escolha da borracha que devem ser

respeitados, além de qual será o tipo de processo utilizado para, então, se definir o

tamanho da partícula e a sua pureza. Quanto menor a partícula, maior a garantia de

compatibilidade, assim como quanto mais pura, melhor a qualidade da mistura.

Além disso, não é recomendada a estocagem. Quando de extrema

necessidade, a borracha do pneu pode ser incorporada ao asfalto de forma a permitir

a estocagem de até três dias, porém não é recomendável.

Ainda assim, levando em consideração as vantagens, desvantagens e o custo-

benefício, principalmente no verão, o asfalto modificado por borracha moída de pneu é

o ideal para as condições climáticas do Rio de Janeiro.

2.1.3.2. Reciclagem de Pavimentos

Segundo Momm e Domingues (1995): “Entende-se por reciclagem de

pavimentos, a reutilização total ou parcial dos materiais existentes no revestimento

e/ou da base e/ou da sub-base, em que os materiais são remisturados no estado em

que se encontram após a desagregação ou tratados por energia térmica e/ou

aditivados com ligantes novos ou rejuvenescedores, com ou sem recomposição

granulométrica”.

18

A reciclagem de pavimentos é, evidentemente, uma técnica de grande teor

ambiental, visto que haverá uma menor necessidade de extração de materiais

granulares em jazidas, uma menor ou nenhuma necessidade de levar os materiais

existentes degradados a vazadouros, um menor custo de energia, dentre outros.

Atualmente, a reciclagem é dividida entre reciclagem de revestimento ou

reciclagem estrutural, que são aplicadas dependendo da situação do pavimento

analisado.

a) Reciclagem de Revestimento

No Brasil, a primeira utilização da técnica de reciclagem de revestimentos

betuminosos aconteceu na cidade do Rio de Janeiro em 1960, onde, na época, o

revestimento era removido por meio de marteletes, transportado para a usina e

remisturado. A primeira rodovia a ser reciclada foi a Via Anhanguera, trecho entre São

Paulo e Campinas, na década de 1980 (PINTO, 1989).

O revestimento asfáltico, provavelmente envelhecido, é restaurado, podendo

ser total ou parcialmente retirado do pavimento e tratado com adição de agentes

rejuvenescedores, com ou sem incorporação de novos agregados, de forma a

recuperar as propriedades dos agregados. Ou seja, é fragmentada, triturada e retirada

a camada antiga do pavimento e, assim, reutilizada através da combinação com

materiais novos formando uma nova mistura, aplicada com o emprego de máquinas

fresadoras-recicladoras ou recicladoras-estabilizadoras.

Sua principal vantagem é não elevar demasiadamente o greide com

recapeamentos sucessivos, mas oferece outras inúmeras vantagens em relação à

utilização convencional de novos materiais. Dentre elas (DNIT, 2006):

I. Conservação de agregados, de ligantes e de energia, ou seja, a reutilização

dos agregados do pavimento degradado propicia uma redução na demanda de

novos materiais e das respectivas distâncias de transporte, prolongando o

tempo de exploração das ocorrências existentes. Além disso, o ligante

remanescente pode ter suas propriedades restabelecidas pela adição de

asfalto novo ou agente rejuvenescedor. O consumo de energia também pode

ser favorecido através de sua redução durante a usinagem da mistura.

II. Preservação do meio ambiente, ou seja, evitar a exploração excessiva de

jazidas minerais (caixas de empréstimos), evitando assim o acúmulo e/ou

geração do passivo ambiental.

19

III. Conservação das condições geométricas existentes, ou seja, a adoção das

técnicas de reciclagem permite que as condições geométricas da pista sejam

mantidas ou modificadas facilmente, evitando-se problemas, como por

exemplo, as alturas em túneis (gabarito vertical) e o acréscimo de carga

permanente em pontes e viadutos.

Além destas citadas por DNIT (2006), há também a menor degradação das

estradas adjacentes, por conta do menor volume de transporte dos novos materiais; a

possibilidade de reabilitar uma só faixa de uma estrada, o que é bem relevante em

vias de duas ou mais faixas, em que somente uma delas está sujeita ao tráfego

pesado; a diminuição dos problemas causados ao tráfego, e a redução do tempo de

execução da obra; o menor tempo de interrupção do tráfego durante o trabalho; e

pode permitir diminuição dos gastos em relação à reabilitação convencional.

As técnicas de reciclagem de revestimentos asfálticos costumam ser

classificadas em “reciclagem a quente” e “reciclagem a frio”, podendo ser processadas

no próprio local, também conhecida como in situ, ou em usina apropriada.

Algumas desvantagens de aplicação das soluções de reciclagem seriam a

obtenção de mão de obra especializada, além do difícil acesso das máquinas às obras

distantes dos grandes centros urbanos – como, por exemplo, a Amazônia –, e a

necessidade da análise econômica para atividades realizadas em diferentes regiões,

observando-se as devidas peculiaridades.

b) Reciclagem Estrutural

A reciclagem de camadas de pavimento asfáltico é a reciclagem estrutural, ou

reciclagem “profunda”, do pavimento, especificamente da base granular, na qual é

utilizado o material fresado do revestimento deteriorado já existente para a execução

de uma nova base.

Um exemplo mais generalizado que poderá ser abordado é a reciclagem a frio

e realizada in situ. A produção de uma base estabilizada pode ser obtida com o

tratamento de toda a seção do pavimento asfáltico e uma quantidade pré-determinada

de material das camadas subjacentes. O processo incorpora as camadas do

pavimento com a camada asfáltica do revestimento, com ou sem a adição de novos

materiais, produzindo uma nova camada de base estabilizada para pavimentos em

estado de deterioração. O processo é ilustrado na Figura 10.

20

Figura 10: Processo de Reciclagem da base granular (WIRTGEN, 2004).

A peça principal de uma máquina de reciclagem é o rotor fresador e misturador,

equipado com uma grande quantidade de ferramentas de corte. O tambor,

normalmente, gira para cima, pulverizando o material no pavimento da rodovia

existente (WIRTGEN, 2004), conforme Figura 10.

O guia da Wirtgen (2004) inclui alguns benefícios relacionados a esse tipo de

reciclagem:

– Fatores ambientais. O material do pavimento existente é totalmente utilizado. O

volume de material novo que necessita ser transportado de pedreiras é

reduzido; Qualidade da camada reciclada;

– Integridade estrutural. O processo de reciclagem a frio produz camadas

espessas ligadas, que são homogêneas e não contêm interfaces fracas entre

camadas de pavimento mais finas;

– A interferência na fundação é minimizada, quando comparada à recuperação

de pavimentos com equipamentos de construção convencionais;

– Menor tempo de construção. As recicladoras possuem altos índices de

produtividade, o que reduz significativamente o tempo de construção quando

comparado a métodos de recuperação alternativos. Um menor tempo de

construção reduz os custos do projeto e o tempo em que o tráfego é

interrompido;

– Segurança. O trem de reciclagem (completo) pode ser acomodado dentro da

largura de uma pista de tráfego;

– Custo-benefício. Todos os benefícios acima fazem da reciclagem a frio um

processo mais atraente para a recuperação de pavimentos em termos de

custo-benefício.

21

Ainda assim, a principal vantagem deste método é a correção de prováveis

defeitos estruturais no pavimento, principalmente nas camadas localizadas abaixo do

revestimento. Além disso, há outras vantagens como melhorias no conforto da faixa

de rolamento; redução dos problemas com transporte; possibilidade de aumentar a

largura do pavimento, caso necessário; e a significativa melhora estrutural da maioria

dos defeitos apresentados pelos pavimentos, como já explicitado anteriormente.

2.2. TIPOS DE MISTURAS ASFÁLTICAS

As misturas asfálticas são, de forma geral, classificadas em:

I. Misturas a quente: São executadas com cimento asfáltico de petróleo (CAP),

que são produtos semissólidos na temperatura ambiente, sendo preparadas,

dispersadas e compactadas em temperaturas muito acima da temperatura

ambiente. Neste caso, os agregados também são aquecidos.

II. Misturas mornas: As misturas mornas se referem a um grupo de tecnologias

que vêm sendo desenvolvidas, com o intuito de diminuir a temperatura de

produção e aplicação em cerca de 30°C ou mais, em relação às misturas a

quente convencionais, mantendo-se o mesmo comportamento destas últimas.

III. Misturas a frio: São executadas com asfaltos liquefeitos (asfaltos diluídos e

emulsão asfáltica) que podem ser levemente aquecidos (T 50ºC). Neste

caso, a mistura é sempre espalhada e compactada à temperatura ambiente,

além de, normalmente, os agregados não serem aquecidos.

As misturas a quente não exigem cura e possuem um envelhecimento mais

gradual, além de suportarem bem o tráfego pesado e serem menos sensíveis à ação

da água. Isso faz com que as mesmas sejam mais duráveis se comparada às misturas

a frio. Porém exigem um aquecimento do agregado e um equipamento especial para

que seja realizado o processo construtivo, o que torna a fabricação difícil e de alto

custo, além de não ser possível a opção da estocagem.

Já nas misturas a frio não é necessário aquecer o agregado e não há

necessidade de equipamento especial, sendo seu processo construtivo e a sua

instalação, simplificados. Além disso, seu processo de fabricação é de baixo custo o

que, juntamente com a possibilidade de realizar estocagem da mistura, torna a mesma

mais econômica do que as misturas a quente. No entanto, é necessária a cura da

22

mistura e, ao se retratar da qualidade da mistura em longo prazo no pavimento, este

tipo de mistura possui um desgaste muito maior.

De acordo com DNIT (2006), os revestimentos asfálticos podem ser

executados com misturas asfálticas usinadas do tipo pré-misturados a frio, areias-

asfalto a frio ou a quente, ou ainda concretos asfálticos, espalhados com

vibroacabadoras e/ou com motoniveladoras. Além das usinadas, também serão

apresentadas algumas misturas in situ em usinas móveis.

3.2.1. MISTURAS USINADAS

A mistura de agregados e ligante é realizada em usina estacionária e

transportada posteriormente por caminhão para a pista, onde é lançada por

equipamento apropriado, denominado vibroacabadora. Em seguida é compactada, até

atingir um grau de compactação tal que resulte num arranjo estrutural estável e

resistente, tanto às deformações permanentes quanto às deformações elásticas

repetidas da passagem do tráfego (BERNUCCI et al., 2008).

3.2.1.1. Concreto Asfáltico Denso (CA)

Também chamado de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), “os

concretos asfálticos são as misturas asfálticas usinadas a quente mais utilizadas como

revestimentos asfálticos de pavimentos no Brasil” (BERNUCCI et al, 2008). É um

revestimento flexível, resultante da mistura a quente, em usina apropriada, de

agregado mineral graduado, material de enchimento (fíler) e material asfáltico,

espalhada e comprimida a quente.

Se dosado de forma conveniente e utilizados os materiais certos, o concreto

asfáltico é uma mistura muito resistente em todos os fatores. Possui granulometria

densa, ou seja, a mesma é contínua e bem-graduada, proporcionando poucos vazios,

pois os agregados menores preenchem os vazios dos maiores.

Graças ao arranjo de partículas com graduação bem-graduada, a quantidade

de ligante asfáltico requerida para cobrir as partículas e ajudar a preencher os vazios

não pode ser muito elevada, pois a mistura necessita contar ainda com vazios com ar

após a compactação em torno de 3 a 5%, no caso de camada de rolamento (camada

em contato direto com os pneus dos veículos) e de 4 a 6% para camadas

intermediárias ou de ligação (camada subjacente à de rolamento). Caso não seja

23

deixado certo volume de vazios com ar, as misturas asfálticas deixam de ser estáveis

ao tráfego e, por fluência, deformam-se significativamente (BERNUCCI et al, 2008).

Ainda assim, o concreto asfáltico proporciona forte união dos agregados,

permite flexibilidade controlável, é impermeável e de fácil aplicação e manuseio

quando aquecido. Permite amplas combinações com outros materiais, tais como

asfalto borracha, asfalto com polímero, dentre outras aplicações que trazem grande

versatilidade na utilização desta opção.

Suas propriedades fundamentais são a durabilidade – que traz resistência à

ação desagregadora de agentes climáticos e forças abrasivas resultantes da ação do

tráfego; a flexibilidade – podendo fletir repentinamente sem que ocorra ruptura e

acomodar-se aos recalques diferenciais ocorridos nas camadas de base; a

estabilidade – oferecendo resistência à deformação sob o efeito da aplicação de

cargas; e a resistência ao deslizamento – evitando o deslizamento dos pneus.

Utilizando a forma esquemática, a constituição da mistura de concreto asfáltico

se dá, basicamente, conforme ilustração da Figura 11.

Figura 11: Constituição da Mistura de Concreto Asfáltico.

3.2.1.2. Camada Porosa de Atrito (CPA)

Segundo Bernucci et al (2008), as misturas asfálticas abertas do tipo CPA –

camada porosa de atrito – mantêm uma grande porcentagem de vazios com ar não

preenchidos graças às pequenas quantidades de fíler, de agregado miúdo e de ligante

asfáltico. Essas misturas asfálticas a quente possuem normalmente entre 18 e 25% de

vazios com ar – DNER-ES 386/99.

Logo, ao atuar como camada de rolamento, a sua principal função é aprimorar

a segurança do pavimento em dias de chuva, aumentando a aderência pneu-

24

pavimento. Dessa forma, este revestimento é capaz de coletar a água da chuva para o

seu interior e proporcionar uma rápida percolação da mesma devido à sua elevada

permeabilidade, até a água atingir as sarjetas.

Além disso, de acordo com Bernucci et al (2008), esta mistura causa: redução

da espessura da lâmina d’água na superfície de rolamento e, consequentemente, das

distâncias de frenagem; redução do spray proveniente do borrifo de água pelos pneus

dos veículos, aumentando assim a distância de visibilidade; e redução da reflexão da

luz dos faróis noturnos. Todos esses aspectos conjuntos são responsáveis pela

redução do número de acidentes em dias de chuva. Outro fator importante é a redução

de ruído ao rolamento, amenizando esse desconforto ambiental em áreas nas

proximidades de vias com revestimentos drenantes.

Como este revestimento seria altamente permeável, é importante que a

camada imediatamente inferior seja necessariamente impermeável de forma a evitar o

acesso de água no interior da estrutura do pavimento.

3.2.1.3. SMA (Stone Matrix Asphalt)

O SMA foi concebido na Alemanha no final da década de 60, a fim de se obter

uma mistura que fosse mais resistente à deformação permanente, além de apresentar

bom comportamento funcional relativo à qualidade de rolamento, durabilidade,

aumento da aderência pneu/pavimento, redução da reflexão de luzes em pista

molhada e de ruído (MOURÃO, 2003).

O SMA é um revestimento asfáltico, usinado a quente, concebido para

maximizar o contato entre os agregados graúdos, aumentando a interação grão/grão;

a mistura se caracteriza por conter uma elevada porcentagem de agregados graúdos

e, devido a essa particular graduação, forma-se um grande volume de vazios entre os

agregados graúdos. Esses vazios, por sua vez, são preenchidos por um mastique

asfáltico, constituído pela mistura da fração areia, fíler, ligante asfáltico e fibras

(BERNUCCI et al, 2008).

Apesar de haver uma grande representação de agregados graúdos na mistura,

deixando um grande volume de vazios, os mesmos são preenchidos, em sua maioria,

pelo ligante asfáltico. Assim, estas misturas tendem a ser impermeáveis com volume

de vazios pequeno, diferentemente do CPA do item anterior. A Figura 12 compara dois

tipos de mistura já discutidos, ressaltando a quantidade de agregado graúdo presente

em cada.

25

Figura 12: Granulometria comparativa de um SMA e um CA (BERNUCCI et al., 2008).

Pode-se notar a grande quantidade de agregado graúdo consumida na mistura

SMA, o que resulta em uma camada com aparência de uma estrutura descontínua

semelhante a uma parede de pedra de elevado atrito interno. A grande vantagem de

obter uma camada com essa rugosidade é o eficiente escoamento superficial e

aumento de aderência do pavimento em dias de chuva.

A maior diferença do SMA com relação às misturas densas convencionais é a

descontinuidade em sua distribuição granulométrica. Existe normalmente a

necessidade de utilização de fibras, que podem ser de celulose (orgânica) ou material

mineral. As fibras atuam de forma a evitar a segregação da mistura e escorrimento do

ligante, quando essas são impostas às elevadas temperaturas de usinagem e

compactação, além de possibilitar que a mistura seja submetida a baixas temperaturas

sem sofrer degradação (LANCHAS, 1999).

Por conta de todos esses fatores, esta mistura proporciona grande melhoria

das condições mecânicas do pavimento – como a resistência à deformação,

fissuração e desgaste – além de aprimorar algumas características funcionais como

resistência à derrapagem, redução do spray e reflexão de luz.

Por último, vale ressaltar que algumas aplicações do SMA, atualmente, são

realizadas em locais considerados críticos, como (BERNUCCI et al., 2008):

– Vias com alta frequência de caminhões;

26

– Interseções;

– Áreas de carregamento e descarregamento de cargas;

– Rampas, pontes, paradas de ônibus, faixa de ônibus;

– Pistas de aeroporto;

– Estacionamentos;

– Portos.

3.2.1.4. Gap-Graded

Outra opção mais recentemente introduzida no Brasil é a mistura “descontínua

densa”, conhecida por gap-graded, que apresenta uma faixa granulométrica especial

que resulta em macrotextura superficial mais rugosa, mas não sem teor de vazios

elevado. As misturas do tipo gap-graped devem ser produzidas com asfaltos

modificados (por polímeros ou borracha de pneus).

Esse tipo de mistura asfáltica tem sido empregado como camada estrutural de

revestimento, por exemplo, na restauração da pavimentação e na duplicação de

trechos na Rodovia BR-040, com asfalto-borracha, trecho Rio de Janeiro–Juiz de Fora,

sob concessão da Concer S.A. (CORDEIRO, 2006).

3.2.1.5. Pré Misturado a Quente (PMQ)

São as misturas asfálticas constituídas por agregados e argamassa asfáltica.

Se forem preparados com especificações mais exigentes recebem o nome de concreto

asfáltico (CBUQ).

Se as características do concreto asfáltico forem menos nobres, recebem o

nome de pré-misturado a quente (PMQ). Logo, o PMQ é um CBUQ com

características menos nobres. Não existe especificação rígida de projeto.

3.2.1.6. Areia-asfalto usinada a quente (AAUQ)

Em regiões onde não existem agregados pétreos graúdos, utiliza-se como

revestimento uma mistura de agregado miúdo, em geral areia, ligante (CAP), e fíler se

necessário, com maior consumo de ligante do que os concretos asfálticos

convencionais devido ao aumento da superfície específica (BERNUCCI et al, 2008).

A AAUQ é normalmente empregada como revestimento de rodovias de tráfego

leve. Como toda mistura a quente, tanto o agregado quanto o ligante são aquecidos

antes da mistura e são aplicados e compactados a quente. Essas misturas, devido à

27

elevada quantidade de ligante asfáltico e presença de agregados de pequenas

dimensões, requerem muito cuidado na execução (IBP, 1999).

Uma das grandes desvantagens das misturas AAUQ é a menor resistência às

deformações permanentes.

3.2.1.7. Areia-asfalto usinada a frio

É a mistura de emulsão asfáltica (EA), e agregado miúdo, contando ou não

com a presença de material de enchimento, em equipamento devidamente apropriado.

Basicamente, o produto é espalhado e comprimido a frio.

Nesta mistura há carência de agregados pétreos graúdos. Logo, podem ser

usados: areia, pedrisco, pó de pedra, pó de escória ou combinação deles. Nesse caso,

é importante usar emulsão de ruptura lenta que tenha por base asfaltos mais

consistentes para melhorar as características mecânicas da AAF (ABEDA, 2001).

3.2.1.8. Pré-misturado a frio (PMF)

Os pré-misturados a frio (PMF) consistem em misturas usinadas de agregados

graúdos, miúdos e de enchimento, misturados com emulsão asfáltica à temperatura

ambiente. Dependendo do local da obra, podem ser usadas para misturar os PMFs:

usinas de solo ou de brita graduada, usinas de concreto asfáltico sem ativar o sistema

de aquecimento dos agregados, usinas de pequeno porte com misturadores tipo rosca

sem fim, ou usinas horizontais dotadas de dosadores especiais. Para operações de

manutenção de pavimentos em uso, pode-se até lançar mão de betoneiras comuns,

de preferência as de eixo horizontal (IBP, 1999).

A mistura do tipo PMF é produzida em usinas simplificadas, sem a existência

de secadores. Além disso, os PMFs podem ser usados em camada de 30 a 70 mm de

espessura compactada, dependendo do tipo de serviço e da granulometria da mistura.

Espessuras maiores devem ser compactadas em duas camadas. As camadas devem

ser espalhadas e compactadas à temperatura ambiente. O espalhamento pode ser

feito com vibroacabadora ou até mesmo com motoniveladora, o que é conveniente

para pavimentação urbana de ruas de pequeno tráfego (ABEDA, 2001).

Vinculado a esta conveniência, essa mistura é muito utilizada em serviços de

conservação por conta de sua praticidade, já que é possível estocar a mistura ou

mesmo utilizá-la durante um dia inteiro de programação de serviços de conservação

de vias.

28

Outras vantagens da técnica de misturas a frio estão ligadas principalmente ao

uso de equipamentos mais simples, trabalhabilidade à temperatura ambiente, boa

adesividade com quase todos os tipos de agregado britado, possibilidade de

estocagem e flexibilidade elevada (ABEDA, 2001).

3.2.2. MISTURAS IN SITU EM USINAS MÓVEIS

Considerando as misturas descritas anteriormente, que utilizam usinas

estacionárias ou até a possibilidade de usinas móveis em alguns casos, e levando em

consideração casos principalmente de selagem e restauração de algumas

características funcionais, existe a possibilidade de utilizar outros tipos de misturas

asfálticas, que são processadas em usinas móveis especiais.

Estas misturas resultam na combinação de agregados-ligante imediatamente

antes da colocação no pavimento e são misturas relativamente fluidas, como a lama

asfáltica e o microrrevestimento.

3.2.2.1. Lama asfáltica

A lama asfáltica não é considerada um revestimento propriamente dito, visto

que sua espessura final é da ordem de 4 mm, mas é um ótimo processo para

preservar e manter revestimentos asfálticos.

A mesma tem sua aplicação principal em manutenção de pavimentos,

especialmente nos revestimentos com desgaste superficial e pequeno grau de

trincamento, sendo nesse caso um elemento de impermeabilização e

rejuvenescimento da condição funcional do pavimento. Aplica-se especialmente em

ruas e vias secundárias. Eventualmente ainda é usada em granulometria mais grossa

para repor a condição de atrito superficial e resistência à aquaplanagem (BERNUCCI

et al, 2008).

Outro uso é como capa selante aplicada sobre tratamentos superficiais

envelhecidos. No entanto, não corrige irregularidades acentuadas nem aumenta a

capacidade estrutural, embora a impermeabilização da superfície possa promover em

algumas situações a diminuição das deflexões devido ao impedimento ou redução de

penetração de água nas camadas subjacentes ao revestimento (BERNUCCI et al,

2008).

29

Além disso, por apresentar condições de elevada resistência à derrapagem,

devido a seu alto coeficiente de atrito, é também empregada na correção de trechos

lisos e derrapantes.

3.2.2.2. Microrevrestimento asfáltico

Esta é uma técnica que pode ser considerada uma evolução das lamas

asfálticas, pois usa o mesmo princípio e concepção, porém utiliza emulsões

modificadas com polímero para aumentar a sua vida útil. O microrrevestimento é uma

mistura a frio processada em usina móvel especial, de agregados minerais, fíler, água

e emulsão com polímero, e eventualmente adição de fibras (ABNT NBR 14948/2003).

Ele é mais utilizado em situações como: capa selante; camada intermediária

em projetos de reforço estrutural, para evitar a reflexão de trincas; recuperação

funcional de pavimentos deteriorados; e pode até ser usado como revestimento de

pavimentos, contanto que haja baixo volume de tráfego.

30

3. IRREGULARIDADES NOS PAVIMENTOS

Representando uma parcela significativa na infraestrutura de transportes

brasileira, os pavimentos são estruturas complexas e dependem de diversas variáveis

para que funcionem de forma plena. Dentre essas variáveis estão: solicitações

ambientais, tipo e qualidade dos materiais utilizados, cargas do tráfego, práticas de

manutenção e reabilitação do pavimento, técnicas construtivas, variação climática do

local, dentre outros.

Ao se estudar a possibilidade de implantação de uma estrada, de uma via

arterial ou até de uma rua local, é necessário que todas estas variáveis sejam

consideradas e analisadas, ressaltando os efeitos que as mesmas podem causar ao

pavimento estudado e como é possível preveni-lo. Feito isso, é necessário um

profissional especializado para dimensioná-lo, resultando em um bom projeto de

pavimentação pronto para ser executado.

A execução de obra de um pavimento envolve diversas etapas, dentre elas

uma usina, onde os materiais são preparados, incorporados e transformados na

mistura definida em projeto como a melhor opção. A partir disso, há o transporte até o

local e toda a aplicação correta deste material, em devidas camadas, de forma a

resultar no pavimento definido.

No entanto, infelizmente nem tudo é feito de acordo com as normas, seja por

desconhecimento do assunto ou por fator cultural. Erros de projeto, má execução e

falta de fiscalização são muito comuns e podem causar grandes prejuízos, diminuindo

a vida útil do pavimento, gerando defeitos precoces e danos imprevisíveis, como será

demonstrado nos itens a seguir.

3.1. IRREGULARIDADES DE PROJETO

De acordo com o DER/SP (2006), um projeto de pavimento deve ser elaborado

em três etapas: estudo preliminar, projeto básico e projeto executivo. O estudo

preliminar corresponde às atividades relacionadas ao estudo geral de pavimento,

baseado em dados de cadastros regionais e locais, observações de campo e

experiência profissional de maneira a permitir a previsão preliminar da estrutura de

pavimento e seu custo (DER/SP, 2006). É basicamente um reconhecimento do

território para, então, ser definido um estudo de viabilidade com relação a estruturação

de um pavimento.

31

Se o estudo preliminar terminar em bons resultados, é possível então a

implantação do tipo de pavimento escolhido em estudo, bastando definir como o

mesmo seria implantado. Para isso, pode-se começar a se aprofundar mais e definir

algumas opções de projeto para o local, elaborando o projeto básico. Segundo

DER/SP (2006), com os elementos obtidos nesta etapa do projeto básico, tais como:

topografia, investigações geológico-geotécnicas, projeto geométrico, projeto de

drenagem etc., devem ser estudadas alternativas de solução, com grau de

detalhamento suficiente para permitir comparações entre elas, objetivando a seleção

da melhor solução técnica e econômica para a obra.

Feito isso, é necessário analisar comparativamente os resultados e avaliar se

há uma solução possível que possa manter a viabilização da obra de um pavimento

naquele local específico. Não havendo problemas, o projeto executivo deve ser

iniciado e “a solução selecionada no projeto básico deve ser detalhada a partir dos

dados atualizados de campo, da topografia, das investigações geológico-geotécnicas

complementares, do projeto geométrico, do projeto de drenagem etc” (DER/SP, 2006).

Logo, observando as etapas de forma generalizada, nota-se que todas elas

necessitam de dados a serem coletados ou analisados em campo, sondagens, mapas

técnicos e específicos, características técnicas e muitos cálculos. Acaba sendo um

processo propício ao erro, por depender de fatores humanos, tanto para coleta de

informações quanto para elaboração de propostas e resultados. No entanto, pelo

histórico da área, há alguns erros de projeto que são muito comuns e, por isso, serão

destacados a seguir.

A caracterização errônea do local é um deles. Isso pode acontecer pelo fato da

empresa que coletou os dados ter realizado a coleta de forma ineficiente e/ou

incompleta, tanto como pode ter sido a desatenção do responsável pela compilação

das informações ou o próprio profissional que interpreta os dados coletados pode ter

se equivocado. Por mais que o engenheiro tenha formação apropriada para avaliar os

dados do local, muitas vezes a caracterização é difícil de definir, visto que não há

como realizar sondagens em todos os pontos do terreno, impossibilitando caracterizar

o local com exatidão.

Além disso, outro erro muito comum é que, infelizmente, alguns profissionais

da área de pavimentação se mantêm em laboratório e não presenciam a implantação

ou utilização dos conhecimentos em campo. Isso traz certa limitação para a

experiência profissional deles, como gera uma visão um pouco idealizada, de modo

que o que funciona em laboratório possa ser aplicável no campo.

32

Porém há também o erro na seleção dos materiais a serem utilizados na

composição do pavimento. O principal problema é que, ao projetar o pavimento com

as proporções de granulometria definidas, nem sempre são utilizados os métodos

indicados pelas normas ou até mesmo algumas normas se encontram defasadas.

Ainda assim, muitos selecionam os materiais visando como objetivo o custo da mistura

e do processo da mesma, o que leva a escolher materiais de menor qualidade e que

não podem suportar as variações climáticas do local. Este é um grande problema

encontrado nos pavimentos do Rio de Janeiro: são utilizados asfaltos CAP 50/70 por

serem mais econômicos, porém os mesmos muitas vezes não resistem a altas

temperaturas e não suportam tráfego pesado.

Apesar de haver normas e regulamentações com todos os processos

explicados passo a passo e ainda haver muitos cursos de especialização na área, há

quem faça a “receita de bolo”. A “receita de bolo” é basicamente um projeto pré-pronto

da mistura do pavimento, na qual o profissional responsável o aplica sempre que

achar necessário, sem coletar nenhum tipo de dado ou possuir qualquer conhecimento

do local. Normalmente, quando isso acontece, o pavimento não possui uma boa vida

útil, visto que o mesmo não foi dimensionado para suportar o tráfego do local ou então

não era adequado para o clima, o tipo de solo, a topografia, dentre diversos outros

fatores que afetam a escolha de um pavimento. No Rio de Janeiro, infelizmente, essa

cultura é enraizada, o que gera, como consequência, o erro citado no parágrafo

anterior.

Outro fator que influencia muito na qualidade final dos pavimentos e é um

grande problema atualmente na cidade do Rio de Janeiro é a questão das licitações.

Os processos de licitação deveriam privilegiar a melhor técnica ou, pelo menos,

requisitar algumas características básicas para que seja realizado um serviço de

qualidade, porém as mesmas acabam por priorizar sempre o custo, trazendo diversas

limitações e prejudicando a qualidade final do projeto. Vale ressaltar que também vem

sendo um grande empecilho encontrar agregados adequados para utilização na área,

No entanto, a principal irregularidade cometida é a criação de editais de

licitação para pavimentação com exigências completamente inadequadas.

Lamentavelmente, este problema existe no Brasil como um todo. Engenheiros que

trabalham para o setor público muitas vezes gostariam de realizar projetos de

pavimentação com qualidade, garantindo resistência e boa durabilidade, além de uma

grande vida útil, porém quem tem poder de tomada de decisão são as pessoas que

não possuem conhecimento específico da área e que visam apenas o custo baixo. As

33

mesmas não percebem o benefício em longo prazo que seria a construção de um

pavimento de qualidade, mesmo que considerado mais caro agora, o que gera as

exigências inadequadas presentes nos editais das licitações, como por exemplo, a

preferência pelo asfalto CAP 50/70, que é inapropriado para o clima brasileiro.

3.2. IRREGULARIDADES DE EXECUÇÃO

Após todo o projeto ter sido elaborado, tem-se como próxima etapa a execução

de obra da alternativa considerada como solução para a implantação de um pavimento

no devido local. Vários fatores externos influenciam na qualidade da execução da obra

e por isso é necessário muita cautela ao realizá-la, mesmo que em todas as etapas

construtivas. Inclusive, uma causa comum para estas irregularidades é a mão de obra

desqualificada.

A chuva é o principal fator externo que prejudica, e muito, não só o andamento

das obras, como também seu resultado final. Há quem tenha tanta pressa em finalizar

uma reparação ou reabilitação de um pavimento, visto que está sendo pressionado por

conta de prazos, que não procura saber se está em época de chuvas ou se isso

influenciaria na execução do serviço. Apenas o executa, com ou sem chuva, de forma

a cumprir ordens, sem pensar na qualidade do que está sendo implantado.

Infelizmente, isso é mais comum do que se imagina e, não muito mais tarde, o devido

pavimento estará estourado e danificado por problema de má execução.

No entanto, os erros podem ser encontrados antes da aplicação de um

pavimento na obra. Supondo que seja elaborado um projeto que não possua

irregularidades, o mesmo terá definido o agregado que deverá ser utilizado nas

diversas camadas do pavimento, porém nada disso é válido se não houver um

armazenamento adequado desse material. Muitas vezes, o responsável por sua

estocagem o dispõe em locais abertos, deixando o material exposto ao ar livre, o que

acarreta na mudança do teor de umidade do agregado e prejudica as misturas com

ligante asfáltico (CAP).

Os agregados devem ser manuseados e estocados de maneira a evitar

contaminação e minimizar sua degradação e segregação. A área de estocagem deve

ser limpa para a prevenção da contaminação do agregado (BERNUCCI et al., 2008).

Além disso, o sistema de dosagem da usina precisa ser extremamente preciso para

que não haja alterações no traço da mistura, sendo recomendado, então, que o

sistema de secagem e mistura da usina de asfalto seja o mais eficiente possível.

34

Porém, devido aos problemas apresentados nas vias do Rio, chega-se à

conclusão que a variação do teor e granulometria da mistura pode ser causada pela

ausência da calibração dos equipamentos, além de haver problema de manuseio na

utilização de temperaturas adequadas para os materiais da mistura. Segundo Bernucci

et al. (2008), faz-se necessário uma atenção especial quanto às temperaturas de

estocagem e usinagem de ligantes asfálticos, pois quando superaquecidos esses

materiais podem sofrer degradação térmica que por sua vez pode levar à perda das

suas características aglutinantes.

Outro fator importantíssimo e que pode ser causa de diversos defeitos é a

compactação inadequada, tanto na compactação asfáltica quanto na da base.

Sabendo que a capacidade de suporte precisa ser adequada à carga que será

recebida, erros na execução da compactação da base podem ser extremamente

prejudiciais à vida útil do pavimento, resultando em afundamentos que prejudicam as

camadas acima. Os problemas encontrados são compactar com teor de umidade

acima do normal, como já mencionado antes, e a supercompactação, que é passar o

rolo compactador além do necessário. Este último faz com que o solo, quando já está

compactado e com a maioria dos seus vazios já preenchidos, sofra o processo de

descompactação pela continuidade do impacto do cilindro vibratório.

Na visão de Bernucci et al. (2008), para que a compactação possa ser

executada de maneira eficiente, duas condições fundamentais devem estar presentes:

existência de confinamento ao compactar e temperatura adequada da mistura

asfáltica. Com isso em mente, na compactação asfáltica deve-se atentar ao controle

da temperatura do asfalto, pois é recomendado que não se utilize a compactação

vibratória com temperatura inferior a 100°C. Se a temperatura estiver próxima a esta, o

mais indicado é que se passe somente o rolo de pneus. Além disso, uma compactação

inadequada de cada camada pode afetar a espessura da mesma, deixando-a mais

fina ou mais espessa do que planejado, alterando a caracterização do pavimento

estudado e podendo prejudicar seu suporte estrutural.

Finalmente, há o quesito do transporte das misturas até a obra. As mesmas

são levadas ao local onde se está executando o pavimento por caminhões

transportadores geralmente com báscula traseira. Alguns fatores importantes devem

ser considerados neste caso: o tipo de tráfego no percurso, a velocidade de produção

da mistura asfáltica na usina; a distância de transporte e o tempo estimado para

descarregamento. Ainda assim, o risco de algum problema surgir durante o

35

deslocamento é provável, gerando irregularidades que Bernucci et al. (2008) cita,

como por exemplo:

– Temperatura excessiva ou temperatura baixa;

– Excesso ou ausência de ligante asfáltico;

– Mistura não homogênea;

– Excesso de agregado graúdo em relação ao projeto de dosagem;

– Excesso de agregado miúdo;

– Excesso de umidade;

– Segregação ou contaminação.

Todos estes fatores, de alguma forma, podem vir a ocorrer devido a falta de

manutenção dos caminhões, variação climática, imprevistos, lançamento inadequado

da mistura, dentre outros. Logo, é importante haver um planejamento elaborado para

todas as etapas do processo de transporte e lançamento das misturas, de modo a

manter a continuidade e fluidez do processo e estar sempre prevenido para qualquer

eventual problema.

3.3. DEFEITOS NOS PAVIMENTOS

É recorrente encontrar pavimentos em situações inadequadas, com diversos

tipos de trincas, marcas de trilhas de roda, panelas, até mesmo remendos mal

aplicados, dentre outros. Todos estes fatores são caracterizados como defeitos e são

consequências das irregularidades já apresentadas nos itens 3.1. e 3.2., porém

também podem ocorrer por conta da deterioração do pavimento, visto que os

pavimentos são elementos que possuem uma vida útil a ser respeitada.

Caso os defeitos sejam originados por conta da deterioração dos pavimentos,

sua causa pode se dar tanto pelas solicitações climáticas quanto pelas solicitações de

tráfego, sendo necessário levar em consideração a severidade destes defeitos e suas

dimensões, para que seja avaliada a gravidade da situação. Além dessa avaliação,

pode ser averiguado se os mesmos podem ser considerados defeitos superficiais ou

pertencentes da estrutura do pavimento, manifestando-se de diversas formas que

serão apresentadas a seguir.

36

3.3.1. TRINCAS POR FADIGA

Como o próprio nome já menciona, a fadiga é uma diminuição gradual da

resistência de um material por efeito de solicitações repetidas e, por conta disso, pode

ocorrer com maior frequência em áreas de trilhas de roda. Sua identificação visual se

dá por “couro de crocodilo” ou “tela de galinheiro”, visto que sua aparência é

semelhante, como mostra a Figura 13.

Figura 13: Trincas por Fadiga (DER/SP).

Estas trincas podem ser agravadas por conta do enfraquecimento estrutural

durante o período de chuvas, visto que quando as primeiras trincas começam a surgir,

permitem que a água da chuva comece a ter acesso ao interior da estrutura. Ao longo

do tempo, a estrutura vai enfraquecendo e, consequentemente, aumentando a

formação das trincas por fadiga. Além disso, pode ser ocasionada pela fadiga do

revestimento asfáltico ou por retração da base estabilizada em função da repetição

das cargas de tráfego.

Há também causas como uma mistura betuminosa fora das especificações em

conjunto a uma estrutura deficiente, materiais de má qualidade utilizados na mistura,

mão de obra negligenciada, idade avançada do pavimento ou espessura insuficiente

da camada para passagem do tráfego existente.

Elas costumam ocorrer em temperaturas intermediárias, ou seja, de 25°C a

40°C, e para ser classificada como este tipo de trinca, é necessário que as mesmas se

encontrem com uma distância menor do que 30 cm entre si.

Além disso, elas podem ser consideradas de severidade baixa, na qual há

poucas trincas conectadas, sem erosão dos bordos e sem evidências de

bombeamento; média, em que há trincas conectadas e bordos levemente erodidos,

porém sem evidências de bombeamento; ou alta, onde há trincas erodidas nos bordos,

37

movimentação dos blocos quando submetidos ao tráfego e há evidências de

bombeamento (ODA, 2014).

Caso elas surjam, para evitar que as mesmas se agravem, é ideal realizar

atividades de Manutenção e Reabilitação (M&R), levando em consideração a

severidade e a gravidade das trincas, como:

– Capa selante, caso a severidade seja baixa;

– Selagem das trincas, para evitar infiltração da água;

– Aplicação de remendo, um reparo permanente para problemas localizados;

– Melhoria do sistema de drenagem, evitando acúmulo de água;

– Substituição da sub-base, base e revestimento;

– Recapeamento, que seria um reforço estrutural;

– Reconstrução do pavimento, para casos mais graves.

3.3.2. TRINCAS EM BLOCOS

Conjunto de trincas interligadas caracterizadas pela configuração de blocos

formados por lados bem definidos, podendo, ou não, apresentar erosão acentuada nas

bordas (DER/SP, 2006). Ou seja, são trincas que dividem o pavimento em blocos

aproximadamente retangulares, podendo variar de 0,1m² a 10m², conforme ilustra a

Figura 14. As mesmas não possuem qualquer relação com o tráfego, podendo

aparecer em qualquer lugar.

Figura 14: Trincas em blocos (DER/SP).

Elas podem surgir por conta da contração de origem térmica, caso o

revestimento seja formado por misturas asfálticas com agregados finos e alto teor de

asfalto com baixa penetração, ou de variação do teor de umidade que poderia vir a

ocorrer nas camadas inferiores. A contração de bases tratadas com cimento ou com

utilização de solos tropicais também causam trincas em blocos.

38

Além disso, o envelhecimento do pavimento pode também ser considerado

uma causa, visto que o revestimento endurece e perde sua elasticidade por conta da

oxidação em virtude de tempo de mistura muito longo, temperatura de mistura elevada

ou período de armazenamento muito longo (ODA, 2014).

Vale ressaltar que a ausência de tráfego também acelera a evolução das

trincas em blocos, pois o remoldamento diminui a velocidade de envelhecimento do

revestimento.

Nesse tipo de trincas, as atividades de M&R mais recomendadas são:

– Aplicação de selante, ou seja, emulsão asfáltica seguida por tratamento

superficial, lama asfáltica ou recapeamento delgado;

– Reciclagem ou recapeamento, em casos mais graves.

3.3.3. TRINCAS NOS BORDOS

São trincas longitudinais próximas à borda do pavimento, usualmente

provocadas pela umidade no acostamento. O recalque do terreno de fundação ou a

ruptura de aterros podem causar trincas longas, longitudinais ou parabólicas.

Elas só surgem em pavimentos com acostamentos não-pavimentados, estando

as mesmas em uma faixa de até 60 cm a partir da extremidade do pavimento. Trincas

longitudinais que estejam fora das trilhas de roda também podem ser incluídas nessa

classificação. Além disso, as mesmas podem ser caracterizadas de acordo com a sua

severidade, podendo ser baixa, em que não há perda de material ou despedaçamento;

média, na qual há perda de material e despedaçamento em até 10% da extensão

afetada; ou alta, onde há perda de material e despedaçamento em mais de 10% da

extensão afetada.

Normalmente, a causa se dá pela compactação insuficiente dos materiais; por

possuir um sistema de drenagem deficiente, visto que pode ocorrer adensamento ou a

ruptura plástica do material das camadas sob a área trincada por conta da drenagem

inadequada; ou por falta de adequado confinamento lateral do acostamento, visto que

o acostamento normalmente não é pavimentado, facilitando o acesso da água pela

lateral para o interior da estrutura.

Dentre as atividades de M&R recomendadas, a mais adequada para esta

situação seria aplicar um selante para evitar a entrada de água no interior da estrutura

39

do pavimento e, consequentemente, evitar o enfraquecimento estrutural. No entanto,

há outras opções como:

– Retirar toda a vegetação próxima ao bordo do pavimento;

– Efetuar reparos nas instalações de drenagem;

– Aplicar uma pintura de ligação na área remendada;

– Aplicar mistura asfáltica usinada a quente, caso haja recalques nos bordos.

3.3.4. TRINCAS LONGITUDINAIS

Trinca isolada que apresenta direção predominantemente paralela ao eixo da

via. Quando apresentar extensão de até 1 m é denominado trinca longitudinal curta.

Quando a extensão for superior a 1 m, denomina-se trinca longitudinal longa (DER/SP,

2006). Um exemplo da mesma é ilustrado na Figura 15.

Figura 15: Trinca longitudinal de severidade alta (Foto: Priscilla Miguel).

Como já mencionado no item anterior, é importante diferenciar onde a trinca

está localizada, se é dentro da área das trilhas de roda ou fora da mesma, justamente

para que a sua classificação seja bem definida.

Além disso, elas costumam ocorrer nas juntas longitudinais de faixas de tráfego

contíguas e podem ser caracterizadas de acordo com a sua severidade, dentre as

40

quais a severidade baixa indica que as trincas tem abertura média inferior a 6 mm ou

estão seladas com material selante em boas condições; a severidade média aponta

que a trinca possui abertura média entre 6 e 19 mm ou está com trinca aleatória

adjacente de severidade baixa; e a severidade alta mostra que as trincas possuem

abertura média superior a 19 mm ou possuem trinca com abertura média inferior a 19

mm, porém têm trincas aleatórias adjacentes com severidade média a alta.

Este tipo de trinca muitas vezes é originado pela má execução de pavimentos

como, por exemplo, a inadequação da ligação das juntas longitudinais de separação

entre faixas de tráfego, criando uma pequena área de menor densidade e menor

resistência à tração ou a construção ou demolição de áreas adjacentes sem cautela na

divisão. Além disso, a contração e dilatação do revestimento devido ao gradiente

térmico pode ser outro fator agravante da criação de trincas longitudinais.

Com isso, algumas atividades de M&R que podem ser aplicadas são:

– Para trincas com abertura menor que 3 mm: não é necessário preenchimento;

– Para trincas com abertura entre 3 e 20 mm: limpeza, aplicação de selante

(asfalto modificado com borracha ou elastômeros) e lançamento de areia sobre

o selante;

– Para trincas com abertura maior que 20 mm: aplicação de reparo com remendo

ou, caso esteja previsto um recapeamento, é ideal preenchê-las com concreto

asfáltico de granulometria fina.

3.3.5. TRINCAS POR REFLEXÃO

As trincas por reflexão manifestam, na superfície do pavimento, o mesmo

padrão de trincas originadas nas camadas inferiores, assim como também refletem

suas juntas. Elas podem ser longitudinais, transversais ou em blocos. Além disso,

costumam ocorrer mais frequentemente em revestimentos asfálticos sobre pavimentos

de concreto de cimento Portland e sobre base tratada com cimento ou base executada

com solo arenoso fino laterítico (ODA, 2014).

Há possibilidade deste tipo de trincas também vir a ocorrer em recapeamentos

que tenham sido aplicados em pavimentos mais antigos, que não tiveram uma

manutenção adequada e já se encontram deteriorados e desgastados.

Para uma melhor análise, elas são classificadas de acordo com sua

severidade, na qual se pode obter uma severidade baixa, que agloba trincas com

abertura média inferior a 6 mm ou seladas com material selante em boas condições;

41

severidade média, que inclui trincas com abertura média entre 6 e 19 mm ou com

trincas aleatórias adjacentes com severidade baixa; ou severidade alta, na qual está

incluso trincas com abertura média superior a 19 mm ou trincas com abertura média

inferior a 19 mm, mas possuindo trincas aleatórias com severidade média a alta.

Com isso, sua causa se resume a movimentos verticais e horizontais, além de

contração e expansão das camadas inferiores, criando trincas que possam vir a ser

refletidas. Há diversos fatores que podem gerar estes movimentos como: variação de

temperatura ou teor de umidade das camadas; recalques de terra; solicitação do

tráfego ou através da perda de umidade em subleito com alto teor de argila. Os tipos

de solos citados no início deste item são mais propensos a essas movimentações.

Como solução para esta irregularidade, são propostas ações de Manutenção e

Reabilitação (M&R) como:

– Remendos e tratamento superficial ou lama asfáltica para reparos temporários;

– Recapeamento, de forma a realizar um reforço estrutural por geomembranas

ou por reciclagem das porções superficiais do pavimento antigo;

– Para trincas com abertura menor que 3 mm: não é necessário preenchimento;

– Para trincas com abertura entre 3 e 20 mm: limpeza, aplicação de selante

(asfalto modificado com borracha ou elastômeros) e lançamento de areia sobre

o selante;

– Para trincas com abertura maior que 20 mm: aplicação de reparo com remendo

ou, caso esteja previsto um recapeamento, é ideal preenchê-las com concreto

asfáltico de granulometria fina;

– Após selagem, é importante jogar areia seca por cima da mesma, de forma a

evitar que o tráfego a retire com facilidade.

3.3.6. TRINCAS TRANSVERSAIS

As trincas transversais são aquelas que se formam, de forma predominante,

perpendicularmente ao eixo da via, como ilustrado na Figura 16. Ao se levar em

consideração a severidade de uma trinca desse tipo, é importar adotar a mais elevada

dentre elas, contanto que esta represente pelo menos 10% da extensão.

42

Figura 16: Duas trincas transversais em uma esquina (Foto: Priscilla Miguel).

Assim como as trincas já apresentadas anteriormente, as trincas transversais

podem ser classificadas em níveis de severidade, sendo considerado de baixa

severidade aquelas com abertura média inferior a 6 mm ou seladas com material

selante em boas condições; de média severidade as trincas com abertura média entre

6 e 19 mm ou com trincas aleatórias adjacentes que tenham severidade baixa; e alta

severidade as que possuem abertura acima de 19 mm ou possuem abertura inferior a

essa medida, porém contendo trincas adjacentes menores com severidade média ou

alta.

Sua principal causa se dá pela contração térmica do revestimento e,

eventualmente, pela contração hidráulica das outras camadas, porém há outros

fatores que podem influenciar na origem deste tipo de defeito, como a utilização de

materiais de má qualidade, a presença de irregularidades na execução do pavimento

ou serviços inadequados das concessionárias, como parece ocorrer na Figura 16.

A principal atividade de Manutenção e Reabilitação (M&R) que pode ser

utilizada nesse caso é a aplicação do selante, de modo a selar as trincas transversais

existentes. Assim, é possível impedir a infiltração de água no interior do pavimento e,

consequentemente, evitar seu enfraquecimento estrutural.

43

3.3.7. REMENDOS

É chamada de “remendo” a porção da superfície do pavimento que obtiver uma

área maior que 0,1m² e que tenha sido removida e substituída, ou que tenha sido

aplicada por cima do pavimento original. A Figura 17 mostra um exemplo de remendo.

Figura 17: Dois remendos consecutivos em uma faixa de rolamento (Foto: Priscilla Miguel).

O mesmo não deveria ser considerado um tipo de defeito e sim uma alternativa

de solução para diversos problemas superficiais encontrados nos pavimentos, no

entanto quando o remendo é mal executado ele pode ser tão prejudicial quanto

qualquer outro defeito presente. Infelizmente, por conta das irregularidades na

execução, da pressa ou até mesmo do desconhecimento na área, muitos remendos

são mal executados no Brasil ou inclusive aplicados de forma equivocada.

Por conta disso, ele não só é considerado um defeito como possui níveis de

severidade assim como os itens citados anteriormente. Neste caso, porém, os níveis

de severidade são definidos dependendo do tipo de defeito apresentado como

problema do local, ou seja, o motivo pelo qual o remendo foi aplicado. Além disso, a

forma pela qual é realizada a execução do remendo também depende do tipo de

defeito presente.

Logo, não é necessário propor nenhuma atividade de M&R para este caso,

visto que não há uma causa específica para o problema além da má execução da

aplicação do remendo. Portanto, basta que a aplicação e execução do remendo sejam

efetuadas de forma correta para que não haja maiores problemas.

44

3.3.8. PANELAS

Basicamente, as panelas são buracos encontrados na superfície de um

pavimento, com uma dimensão mínima de 15 cm, como demonstrado na Figura 18.

Não há um local específico para o surgimento de uma panela, mas é comum encontrá-

las próximo às trincas existentes, visto que é onde há a maior probabilidade de ocorrer

uma fragmentação ou um desprendimento de uma placa de revestimento. Havendo

essa ausência de revestimento no local, a base do pavimento fica exposta à ação das

águas da chuva, provocando o carregamento do material da base o que resulta no

aprofundamento das panelas.

Figura 18: Panelas causadas por trincas por fadiga (Foto: Priscilla Miguel).

Elas são classificadas em níveis de severidade baixa, média e alta, sendo a

profundidade da panela o fator principal a ser considerado. Podem ser originadas por

conta da qualidade inadequada dos materiais utilizados, pela desintegração localizada,

pela desagregação do material sob a ação do tráfego ou pela infiltração inadequada

de água. Além disso, há a possibilidade de haver segregação da mistura utilizada, por

conta da ausência de ligante asfáltico em pontos localizados, ou uma falha estrutural

no pavimento o que, consequentemente, gera panelas.

Ainda assim, um fator muito importante não costuma ser levado em

consideração nestes casos: sistema de drenagem adequado. Este tipo de problema

construtivo é uma causa muito comum de diversos defeitos, não só as panelas, e deve

possuir um projeto muito bem planejado.

Com relação às atividades de M&R, a mais comum e mais utilizada para este

tipo de defeito é o remendo, que é rápido e fácil de transportar e aplicar, mas caso a

panela esteja em um estado mais grave, é necessário realizar uma atividade de

45

reabilitação. A mais indicada seria a realização de um recapeamento, o que traria um

reforço estrutural ao pavimento.

Vale ressaltar, no entanto, que o local deve possuir um sistema adequado de

drenagem, senão não adianta efetuar nenhuma das atividades de M&R, visto que

sempre haveria a presença de água parada, como mostra a Figura 19, agravando os

defeitos presentes no local e podendo causar danos severos a estrutura do pavimento.

Figura 19: Exemplo de sistema inadequado de drenagem (Foto: Priscilla Miguel).

3.3.9. DEFORMAÇÃO PERMANENTE

A deformação permanente é um tipo de distorção que se manifesta sob a forma

de depressões longitudinais, sendo decorrente da densificação dos materiais ou de

ruptura por cisalhamento (ODA, 2014), ou seja, é uma depressão longitudinal das

trilhas de roda.

Em conjunto com as trincas de fadiga, este é um dos maiores problemas

encontrado nos pavimentos do Rio de Janeiro, visto que é muito comum ocorrer em

pontos de ônibus, por possuir alta carga concentrada, e ainda em temperaturas

elevadas. No entanto, seus níveis de severidade são associados à profundidade da

deformação permanente a cada 15 metros e quanto mais profunda, maior a

severidade.

Além da carga concentrada e das temperaturas elevadas, estas distorções

também podem ser originadas por conta da compactação deficiente das camadas do

pavimento, pelo excesso de ligante asfáltico ou de finos na mistura asfáltica, ou da

contração das camadas inferiores. Ou seja, o pavimento teve uma compactação

inadequada, tornando-se densificado, ou teve uma irregularidade na sua execução

46

que o deixou com baixa estabilidade, tornando-o mais plástico e auxiliando nas

deformações.

Alguns outros fatores podem influenciar no surgimento deste defeito, como o

dimensionamento inadequado gerando espessuras insuficientes das camadas; a

dosagem inadequada da mistura, seja por agregados de baixa resistência e mais

arredondados ou por excesso de teor do ligante, gerando uma mistura instável com

grande tendência a deformar; a escolha inadequada do ligante; e o cisalhamento

causado pelo enfraquecimento por conta da infiltração de água que,

consequentemente, resultou em uma fluência plástica do material.

Para sanar este tipo de problema, pode-se realizar a reciclagem do

revestimento, como já comentado neste trabalho; o recapeamento delgado ou o

recapeamento espesso, dependendo da severidade do defeito; ou pode-se reconstruir

este trecho da via, de modo a utilizar novos materiais ou materiais reciclados, sendo

este último apenas para situações de maior gravidade.

3.3.10. CORRUGAÇÃO

É uma distorção, ou deformação plástica, caracterizada pela formação de

ondulações transversais na superfície do pavimento. A mesma é encontrada em

pontos que apresentam elevados esforços tangenciais como frenagem, curvas e

aceleração, deixando evidente a má qualidade da mistura por conta de dosagem

inadequada ou por problemas construtivos. Um exemplo é ilustrado na Figura 20.

Figura 20: Exemplo de corrugação no bordo da pista (esquerda) e no meio da pista (direita).

A fraca ligação entre a base e o revestimento, o excesso de umidade no

momento da construção e a cura insuficiente das misturas (com emulsões asfálticas

ou asfaltos diluídos) são exemplos destes problemas construtivos. Para que seja

47

definido o seu nível de severidade, basta associá-lo aos efeitos sobre a qualidade do

rolamento.

Suas causas podem vir de uma falha estrutural; de algum problema construtivo,

como já explicitado anteriormente; ou de uma dosagem inadequada da mistura, como

o excesso de asfalto ou de agregados finos, a presença de ligante asfáltico pouco

viscoso ou até mesmo a presença de agregados arredondados, com textura lisa ou

granulometria inadequada.

Logo, as atividades de M&R recomendadas, levando em conta o nível de

severidade do defeito em questão, são:

Aplicação de remendos;

Reciclagem de revestimentos com espessura superior a 5 cm, seguindo com

uma aplicação de capa selante ou concreto asfáltico;

Recapeamento delgado;

Recapeamento espesso (reforço estrutural);

Reconstrução da estrutura, com novos materiais ou reciclados.

3.3.11. EXSUDAÇÃO

Sabe-se que se o revestimento for muito rígido, podem surgir trincas por fadiga,

porém se for feito o contrário, ou seja, caso seja utilizada uma taxa muito elevada de

ligante, podem ocorrer as exsudações. A exsudação é definida por excesso de ligante

asfáltico na superfície do pavimento, diminuindo o coeficiente de atrito pneu-pavimento

e comprometendo a segurança no mesmo.

Este defeito é, basicamente, um movimento ascendente do asfalto, resultando

em uma película na superfície do pavimento que ocorre, normalmente, nas trilhas de

roda e em locais de climas quentes, sendo ilustrado na Figura 21.

48

Figura 21: Exsudação presente das trilhas de roda

(http://www.portaldetecnologia.com.br/tags/pavimentos/page/2/).

Neste caso, o defeito também é classificado em níveis de severidade, na qual a

severidade baixa é definida como quando há apenas uma mudança da coloração em

relação ao restante do pavimento por haver um excesso de asfalto; enquanto a

severidade média consiste na perda de textura superficial e a severidade alta

representa marcas de pneus evidentes em tempos quentes, além de uma aparência

brilhante e agregados cobertos pelo asfalto.

Suas principais causas são o baixo índice de vazios presente na mistura

asfáltica; a sobrecarga do tráfego que pode compactar muito e agravar o problema e;

como já comentado anteriormente, o excesso de ligante asfáltico. Levando isso em

consideração, as atividades de M&R mais adequadas seriam:

Tratamento superficial, como capa selante, que é um reparo temporário;

Recapeamento delgado, atividade que seria o ideal;

Sulcos, para reduzir o problema de aquaplanagem;

Aplicação de areia quente, que deve ser imediatamente compactada e varrida

após o resfriamento;

Reciclagem, caso seja necessário fazer uma reabilitação do pavimento.

3.3.12. AGREGADOS POLIDOS

Os agregados polidos são resultado de uma ação abrasiva do tráfego, visto

que esta acaba eliminando as partes ásperas e desregulares das partículas dos

agregados. Resumidamente, o que acontece de fato é que os agregados sofrem um

grande desgaste, removendo o ligante asfáltico presente no local e expondo os

agregados mais graúdos (Figura 22). Logo, eles acabam sendo “polidos” pelo próprio

49

tráfego e ficando mais “lisos”, o que, consequentemente, trazem menos atrito pneu-

pavimento, comprometendo a segurança.

Figura 22: Exemplo de agregados polidos, mais lisos, por conta de agentes externos (SHRP

Manual).

Este defeito também é classificado por níveis de severidade, sendo estes

definidos de acordo com a redução no coeficiente de atrito pneu-pavimento. Quanto

menor o coeficiente, maior a severidade.

Além da ação abrasiva do tráfego presente no local, outra causa comum para

este tipo de problema é a seleção inadequada dos materiais da mistura, ou seja,

agregados com pouca resistência à abrasão, que é o caso de agregados originados de

rochas calcárias. Portanto, para este tipo de defeito, as atividades de M&R mais

recomendadas seriam:

Tratamento superficial ou lama asfáltica, caso baste uma manutenção;

Reciclagem ou recapeamento delgado, em caso de reabilitação;

Definição de novos materiais ou reciclados, caso seja necessária a

reconstrução do pavimento.

3.3.13. DESGASTE

O desgaste é caracterizado pela aspereza superficial do pavimento, visto que

consiste na perda de adesividade do ligante asfáltico e, em casos mais avançados, no

desalojamento progressivo das partículas de agregado (Figura 23). Primeiramente, há

perdas de agregados miúdos apenas, mas com o agravamento do problema, ocorrem

perdas de agregados graúdos também, resultando à aspereza superficial já citada.

50

Figura 23: Exemplo de desgaste com agregados desalojados (MELO, 2014).

Vale ressaltar que o desgaste engloba a intemperização, a oxidação, o

endurecimento, a volatilização e o envelhecimento, e é caracterizado por níveis de

severidade também. A severidade baixa é definida quando há apenas perda de

agregados miúdos, enquanto a severidade média é considerada em casos na qual a

textura superficial já se encontra áspera e há perdas de materiais não só miúdos como

também alguns graúdos. Por último, a severidade alta representa casos mais graves,

nos quais a textura superficial se encontra muito áspera e com perdas de agregados

graúdos.

Há diversos motivos que podem fazer com que este tipo de defeito ocorra,

como:

Teor de ligante insuficiente (problema de dosagem);

Agregados sujos, úmidos ou com pequena resistência à abrasão;

Compactação insuficiente, resultando em envelhecimento precoce;

Superaquecimento da mistura na usina, ocasionando na perda de voláteis;

Endurecimento do ligante (envelhecimento);

Segregação da mistura, ocasionando em excesso de finos em alguns locais e

ausência em outros, facilitando a oxidação;

Abertura precoce ao tráfego, antes do ligante aderir ao agregado;

Perda de adesividade ligante-agregado por ação de produtos químicos, água

ou abrasão;

Execução do pavimento em condições meteorológicas desfavoráveis.

Basicamente, se resume em problemas na mistura (de dosagem e seleção de

materiais) ou problemas construtivos. As atividades necessárias para manutenção e

reabilitação deste tipo de defeito devem ser:

Capa selante, tratamento superficial ou lama asfáltica;

51

Reciclagem ou recapeamento delgado.

3.3.14. DESNÍVEL ENTRE PISTA E ACOSTAMENTO

É a diferença de elevação entre a faixa de tráfego e o acostamento. A mesma

pode ter sido gerada pela aplicação sucessiva de recapeamentos na faixa de tráfego

como também pela erosão ou consolidação de acostamento não pavimentado (Figura

24).

Figura 24: Desnível entre pista e acostamento não pavimentado

(http://www.camaradepenapolis.com.br/fotos/noticia_1192.jpg).

Seu nível de severidade é substituído pelas medições do desnível e suas

soluções podem ser:

Recomposição do acostamento, no caso de erosão ou consolidação;

Fresagem ou reciclagem do revestimento, no caso de recapeamentos

sucessivos.

3.3.15. BOMBEAMENTO

O bombeamento é a saída de água por meio das trincas encontradas no

pavimento, sob a ação das cargas do tráfego (Figura 25). O defeito é identificado pela

deposição do material carreado das camadas inferiores na superfície do pavimento.

52

Figura 25: Bombeamento com liberação de material fino (SHRP, 1993).

Neste caso, os níveis de severidade não são aplicáveis, visto que o

bombeamento depende do teor de umidade das camadas inferiores de cada

pavimento.

Sua causa se dá pela existência de água nos vazios sob o revestimento ou

pela pressão exercida das cargas oriundas do tráfego, podendo ser sanado somente

pela eliminação da água acumulada dentro do pavimento, com instalação de uma

drenagem subterrânea ou melhoria da existente.

3.4. CONTROLE TECNOLÓGICO

Tendo em vista todos os itens apresentados anteriormente, com todos os

possíveis problemas que podem ser encontrados ao longo da área de pavimentação e

suas devidas consequências, agora será abordado o que deve ser feito para evitar que

estes defeitos e irregularidades ocorram ou, pelo menos, sejam corrigidas de forma

eficiente. As atividades que englobam essas ações preventivas e corretivas são

chamadas de Controle Tecnológico.

O Controle Tecnológico é realizado em paralelo com a elaboração do projeto e

execução da obra, em todas as etapas, de modo a verificar todos os processos para

minimizar possíveis problemas e manter tudo sobre controle, resultando em um

pavimento de qualidade.

Para pavimentação asfáltica, por exemplo, devem ser coletadas amostras de

materiais constituintes e de misturas, tanto logo após a produção das mesmas nas

usinas, como imediatamente antes e depois do devido transporte ser realizado, para

verificação de diversas características, como a temperatura da mistura, sua

viscosidade, granulometria, proporções do material, dentre outras.

53

Isto é feito visto que é importante saber se a mistura está mantendo as

propriedades necessárias, estudada em projeto, de modo a resultar em um pavimento

de qualidade para o devido local.

Em campo, deve ser acompanhado o controle da temperatura da mistura,

sendo importante a coleta de amostras antes da aplicação na pista e logo após o

lançamento da mistura na mesma, que serão submetidas aos ensaios em laboratório,

para verificação das mesmas características já explicitadas. Vale ressaltar que

também é importante controlar a espessura aplicada conforme a especificação do

projeto, e também o grau de compactação por meio de amostras extraídas da pista.

Caso o pavimento seja rígido, é importante ter as características do material

demonstradas por meio do controle tecnológico de concreto, que além do estudo do

traço e de seus devidos materiais, tem a inclusão dos ensaios de tração na flexão e

ensaios para a verificação de desgaste superficial, dentre outros.

Em campo são acompanhadas as especificações de concreto, como por

exemplo, a distância entre juntas, espessura, corte de juntas, temperatura de

lançamento, cura, etc. Vale ressaltar que o Concreto, seus componentes e derivados,

precisam ser submetidos a ensaios de qualidade devido ao grande número de

variáveis que influem nas suas características.

A execução de todos os serviços também deve ser verificada de forma

minuciosa, de modo a manter a qualidade dos mesmos. Um exemplo disso é se

atentar ao estado dos equipamentos e à sua calibração, se os mesmos possuem

condições de realizar o serviço de forma satisfatória e se o operador o está realizando

corretamente.

54

4. SISTEMA DE GERÊNCIA DE PAVIMENTOS

4.1. INTRODUÇÃO

A ideia de um SGP foi criada e desenvolvida nos Estados Unidos, com

seus conceitos e sua implantação, na metade dos anos de 1970, com a utilização de

um banco de dados digital. A principal motivação para que o SGP fosse elaborado foi

a necessidade de preservar as rodovias da época.

Em 1985, a American Association of State Highway and Transportation Officials

(AASHTO) publicou seu primeiro guia sobre gerência de pavimentos e, em seguida, o

Federal Highway Administration (FHWA) determinou como requisito, para captação de

investimentos, a implantação do SGP nas malhas rodoviárias norte-americanas

federais. Estas duas ações foram determinantes para a implantação do SGP nos EUA,

estando ele presente na maioria dos estados americanos até a metade dos anos de

1980. De acordo com o NHI (1998), em 1994, 58 das 60 agências já tinham

implantado um SGP.

A AASHTO chegou a publicar mais um guia de SGP em 1990, porém o mesmo

foi substituído por um guia de SGP mais recente chamado Pavement Management

Guide, também elaborado pela AASHTO, em 2001.

A partir disso, graças ao programa Highway Development and Management

(HDM) do World Bank, com o intuito de aplicar sua metodologia requerida para a

obtenção de investimentos em infraestrutura rodoviária, se tornou apenas uma

questão de tempo até que houvesse interesse de outros países no SGP e no que o

mesmo representava. Logo, desde 1980, ano em que foi desenvolvida a primeira

versão do software HDM-III, os países em desenvolvimento vinham aplicando a

metodologia do HDM.

Atualmente, a versão utilizada do HDM é o software HDM-4, com novas

ferramentas para auxiliar na análise regionalizada, além de permitir calibração nos

modelos utilizados. No entanto, países desenvolvidos preferiram implantar seus

próprios SGPs, de modo que fossem consideradas as pesquisas com base técnica de

suas próprias malhas rodoviárias. Alguns países em desenvolvimento, como o Brasil e

a África do Sul, têm se aproximado cada vez mais desta realidade.

No Brasil, apesar da participação nas pesquisas para desenvolvimento das

primeiras versões do HDM nos anos 1970 (HDM-I e HDM-II), a implantação de um

55

SGP no DNER (atualmente incorporado ao DNIT) só se deu a partir de 1982, quando

a Direção do Órgão, por iniciativa do Instituto de Pesquisas Rodoviárias, criou a

Comissão Permanente de Gerência de Pavimentos – CPGP (VISCONTI, 2000).

Inicialmente a CPGP utilizou o chamado Índice de Suficiência para priorizar

projetos de restauração de pavimentos. Este índice não levava em conta fatores de

ordem econômica, mas ponderava informações que refletiam as condições de

conservação e de utilização da rodovia, sendo aceito na época pelo Banco Mundial

(VISCONTI, 2000).

De acordo com Visconti (2000), a partir de 1985 o DNER começou a utilizar a

metodologia e os procedimentos para utilização dos resultados dos levantamentos de

campo do modelo HDM-III, com o objetivo de selecionar economicamente as

alternativas de manutenção para todos os trechos da rede federal pavimentada. A

metodologia do HDM-III foi completamente implantada em 1990, quando o Banco

Mundial avaliou como incompleta a metodologia de levantamento de defeito em

superfície (levantamento visual contínuo) realizada pelo DNER. O Banco Mundial

ainda determinou, em complementação à avaliação econômica com o HDM-III, a

necessidade de utilização de modelo para avaliar as estratégias de manutenção

rodoviária em condição de restrição orçamentária.

Em meados de 2000, o Brasil começou a utilizar o HDM-4, novo modelo de

análise técnica e econômica de rodovias do Banco Mundial. Atualmente, muitos

estados brasileiros usam o HDM-4, porém os mesmos estão em processo de

implantação de seus próprios SGPs, mais especificamente com o banco de dados em

fase de estruturação.

4.2. DEFINIÇÃO

De acordo com Haas, Hudson e Zaniewski (1994), “a gerência de pavimentos é

um processo que abrange todas as atividades envolvidas com o propósito de fornecer

e manter pavimentos em um nível adequado de serviço. Envolve desde a obtenção

inicial de informações para o planejamento e elaboração de orçamento até a

monitorização periódica do pavimento em serviço, passando pelo projeto e construção

do pavimento e sua manutenção e reabilitação ao longo do tempo”.

Com isso, seu principal objetivo é utilizar informações confiáveis para a tomada

de decisão para produzir um programa de manutenção e reabilitação que dê o máximo

56

de retorno possível aos recursos disponíveis. Além disso, é importante que seja

fornecida a resposta para as seguintes questões (ODA, 2014):

O que precisa ser feito em uma determinada rede de pavimentos? (seleção da

estratégia ótima);

Como devem ser executados os serviços? (definição das atividades de M&R

para cada seção);

Quando serão necessárias intervenções para evitar a ruptura e prolongar a

vida em serviço do pavimento?

Onde se localizam os projetos prioritários? (pensar nas características de

tráfego).

Logo, um Sistema de Gerência de Pavimentos (SGP) pode ser definido como

uma ferramenta que auxilia o processo de tomada de decisões sobre os investimentos

rodoviários (SHOJI, 2000). Além de este sistema possuir a função de diagnosticar os

pavimentos e relatar as suas condições atuais, há também a possibilidade de avaliar

os mecanismos de deterioração de modo a prever sua situação futuramente. Com

isso, podem-se definir as estratégias de intervenção que se façam necessárias para,

assim, melhorar as condições dos pavimentos e reduzir seus custos de manutenção e

reabilitação (M&R), além dos custos operacionais dos próprios veículos. A Figura 26

ilustra um fluxograma básico de um SGP.

Figura 26: Fluxograma básico de um SGP (ODA, 2014).

57

Outra interpretação que pode ser feita é a divisão do SGP em duas partes bem

definidas: o “sistema”, responsável pela realimentação de informações do banco de

dados, como avaliações técnica e econômica, além de pesquisas e retratações de

experiências anteriores; e a parte de “gerência”, responsável por toda a administração

do sistema, de modo a elaborar um bom planejamento e controlar a produtividade para

obter os devidos resultados.

Também vale ressaltar que SGP tem como componentes inter-relacionados o

planejamento, a pesquisa, o projeto, a construção e manutenção, e a avaliação e

monitoramento de pavimentos; enquanto que seus principais fatores externos

condicionantes podem ser os recursos orçamentários, os dados necessários ao

sistema e as diretrizes políticas e administrativas. Além disso, seu processo de tomada

de decisão é dividido em dois níveis: o nível de rede, que é mais amplo e trata de toda

a rede, e o nível de projeto, que é mais detalhado e feito por trecho.

Nível de Rede: Planejamento + Programação + Orçamento

Nível de Projeto: Dimensionamento + Construção + M&R

É importante lembrar que, muitas vezes, em decisões de nível de projeto, as

mesmas são realizadas de acordo com um modelo de priorização, ou seja, o que

estiver em piores condições é o trecho mais emergencial e deve ser tratado como

prioridade. O modelo de priorização será detalhadamente abordado mais a frente, no

item 4.4..

4.3. DADOS PARA A GERÊNCIA DE PAVIMENTOS

Como já introduzido anteriormente, para um SGP funcionar de forma plena e

eficiente, é necessário haver uma série de dados já coletados. Dessa forma, será

possível gerar segmentos homogêneos baseado nesses fatores.

4.3.1. BANCO DE DADOS – HISTÓRICO DOS PAVIMENTOS

De acordo com sua definição, um banco de dados é uma ferramenta para

coletar e organizar informações. São conjuntos de registros dispostos em estrutura

regular que possibilita a reorganização dos mesmos e produção de informação, onde

normalmente são agrupados para um mesmo fim.

No caso em questão, a finalidade seria a estruturação de um Sistema de

Gerência de Pavimentos (SGP). A presença de um banco de dados é fundamental

para o funcionamento correto do SGP. É nele que irão constar todos os dados

58

necessários, que devem ser confiáveis, para embasamento do estudo e da efetiva

avaliação e definição de estratégias alternativas, afetando diretamente o resultado. Na

Figura 27, tem-se uma ideia da quantidade de informações que interage com o banco

de dados de um SGP.

Figura 27: Atividades do SGP que interagem com o Banco de Dados (Albuquerque, 2007).

Com isso, ele atua basicamente como um “histórico” do trecho estudado, visto

que preserva informações coletadas para estudos futuros, assim como adiciona novas

informações e atualiza as informações existentes quando necessário.

Por isso, o histórico do pavimento é muito relevante neste tipo de análise.

Perguntas como – Quando construíram este pavimento? Quais foram os métodos

construtivos utilizados e por quê? Em que época do ano ele foi construído? Quais

materiais foram utilizados e por quê? Quando foram realizadas as atividades de

manutenção? Foi necessária realizar alguma atividade de reabilitação? Por quê? Há

quanto tempo ele está em uso? Quais problemas já surgiram neste pavimento e como

foram solucionados? – devem ser feitas e, quando possível, respondidas.

Dessa forma, o responsável terá a oportunidade de estudar a situação do local

e preparar uma solução adequada, baseado na experiência de erros já cometidos

anteriormente, evitando que os mesmos ocorram novamente e se tornem reincidentes.

59

Além disso, muitos outros dados devem ser levados em consideração e

coletados para a obtenção de um banco de dados completo. Dentre eles, é importante

ser considerado o levantamento de características da rodovia, informações da faixa de

rolamento, das camadas de pavimento, do tráfego, as características ambientais da

região, parâmetros do pavimento, dentre outros, como explicitado na Figura 28.

Figura 28: Dados importantes para a composição de um Banco de Dados (Albuquerque, 2007).

4.4. DESEMPENHO DOS PAVIMENTOS

Anteriormente foram apresentados os tipos de defeitos que possam vir a surgir

nos pavimentos, assim como suas prováveis causas e atividades de M&R mais

adequadas. Levando isso em consideração, será abordado em seguida como estes

defeitos são identificados e interpretados nas avaliações subsequentes.

60

4.4.1. AVALIAÇÃO FUNCIONAL: LEVANTAMENTO DE CAMPO

A avaliação funcional é a determinação da capacidade de desempenho

funcional momentânea, conhecida como serventia, que o pavimento proporciona ao

usuário, ou seja, o conforto em termos de qualidade de rolamento. O desempenho

funcional refere-se à capacidade do pavimento de satisfazer sua função principal, que

é a de fornecer superfície com serventia adequada em termos de qualidade de

rolamento (DER/SP, 2006).

Vale ressaltar que serventia é a capacidade de um pavimento construído em

um determinado trecho servir ao usuário em um dado momento quanto ao seu

conforto ao rolamento (e em parte quanto à segurança). Logo, a avaliação funcional

trata de analisar o pavimento quanto a sua função para o usuário: dar conforto ao

rolamento.

Em seguida, é apresentada a descrição das avaliações realizadas para se

classificar e definir as condições do pavimento estudado.

4.4.1.1. Avaliação de Defeitos da Superfície – Levantamento

Visual Contínuo

Primeiramente, é realizado o Levantamento Visual Contínuo (LVC) que nada

mais é do que a avaliação da superfície do pavimento apenas com observação visual

e contínua, realizada por dois técnicos dentro de um veículo, estando um deles

conduzindo.

No LVC, são avaliadas todas as faixas de tráfego do trecho rodoviário em

análise, empregando-se segmentos de extensão de 1 km, onde são identificadas as

ocorrências, a frequência e a severidade de cada tipo de defeito (DER/SP, 2006).

Após isso, é definida uma nota que traduza a condição de rolamento do trecho

em questão, levando em consideração, principalmente, o quesito do conforto

(representado como Valor de Serventia Atual – VSA, na Figura 29). Vale ressaltar que

essa nota acaba sendo subjetiva, visto que cada técnico avaliador pode ter uma

interpretação diferente do que é confortável ou não.

61

Figura 29: Classificação da nota do Valor de Serventia Atual (DNIT, 2011).

Três parâmetros podem ser determinados (DER/SP, 2006):

Índice de Defeitos de Superfície (IDS): representa o grau de deterioração de

superfície do pavimento a partir do somatório da ponderação das frequências e

dos pesos relativos às severidades das ocorrências dos distintos tipos de

defeitos verificados;

Valor de Serventia Atual (VSA): representa as condições de conforto e

segurança ao rolamento percebidas pelos usuários da rodovia;

Índice de Condição Funcional (ICF): caracteriza a condição funcional do

pavimento, envolvendo aspectos relacionados aos defeitos de superfície e à

serventia, a partir de critério decisório envolvendo os dois índices anteriores.

No caso dos pavimentos rígidos, a avaliação subjetiva consiste na atribuição de

notas ou conceitos aos trechos inspecionados, como já explicado, mas levando em

consideração os dados de projeto, de construção, de operação, de reparação e de

reforço.

4.4.1.2. Avaliação Objetiva da Superfície

Segundo DER/SP (2006), a avaliação objetiva da superfície de pavimentos

flexíveis e semirrígidos consiste no levantamento e classificação de ocorrências

aparentes na superfície do pavimento e na medida das deformações permanentes nas

trilhas de roda.

Defeitos do tipo trincas isoladas ou interligadas, panela e desgaste, são

exemplos destas ocorrências.

62

Além disso, neste tipo de avaliação, quatro parâmetros podem ser

determinados (DER/SP, 2006):

FA: frequência absoluta, que corresponde ao número de vezes em que as

ocorrências ou defeitos são verificados;

FR: frequência relativa, que é a relação entre a frequência absoluta, FA, e o

número N de estações inventariadas, multiplicada por 100;

IGI: índice de gravidade individual, que é o resultado da multiplicação da

frequência relativa, FR, pelo fator de ponderação, FP, adotado para cada tipo de

ocorrência;

IGG: índice de gravidade global, que é o somatório dos índices de gravidade

individuais para cada segmento definido como homogêneo.

Para os pavimentos rígidos, esta etapa consiste no preenchimento de ficha de

inspeção contendo os diferentes tipos de defeitos de pavimentos rígidos para a

posterior determinação do Índice de Condição do Pavimento (DER/SP, 2006).

O Índice de Condição do Pavimento (ICP) é a medida de condição estrutural do

pavimento, capaz de fornecer ao engenheiro de pavimentação informações para a

verificação das condições da rodovia e para o estabelecimento de políticas de

manutenção, prevenção e de recuperação (DNIT, Norma 060/2004).

4.4.1.3. Irregularidade Longitudinal

A avaliação da irregularidade longitudinal de pavimentos consiste no

levantamento dos desvios existentes na superfície do pavimento. A escala padrão de

irregularidade adotada no Brasil é expressa em contagens/km (DER/SP, 2006). Este

tipo de levantamento deve ser realizado em todas as faixas de tráfego e nas duas

trilhas de roda.

Em outras palavras, é a grandeza física que representa os desvios da

superfície na direção longitudinal da via, medida para se quantificar o estado da

superfície de um dado trecho por meio de métodos de avaliação direta ou indireta.

Para pavimentos flexíveis ou semirrígidos, na avaliação direta, o método se dá

por meio de equipamentos de CLASSE I (nível e mira, Dipstick, perfilômetro do TRL,

etc.) e CLASSE II (perfilógrafos, equipamentos com sensores a laser, APL francês,

63

etc.). Já na avaliação indireta os equipamentos são de CLASSE III do tipo-resposta

(TRL Bump integrator, Maysmeter, IPR-USP, etc.).

No caso dos pavimentos rígidos, a irregularidade longitudinal do pavimento

deve ser determinada pela utilização e operação do perfilógrafo em cada faixa de

tráfego a ser inspecionada. Como parâmetro da condição da superfície, deve resultar

o Índice de Perfil (IP), cuja unidade é fornecida em mm/km (DER/SP, 2006).

O Índice de Perfil é responsável por gerar um perfil longitudinal do pavimento

(Figura 30) e quando o IP resulta em valores inferiores a 160 mm/km, a superfície em

estudo é caracterizada como uma superfície apropriada.

Figura 30: Exemplo de perfil longitudinal de um pavimento.

4.4.1.4. Cadastro Contínuo de Reparos Superficiais e Profundos

Realizado somente para pavimentos flexíveis e semirrígidos, é o cadastro de

remendos superficiais e profundos necessários previamente à execução da

restauração principal. O cadastro deve ser realizado por técnico experiente em

avaliação de pavimentos na ocasião do levantamento de defeitos da avaliação objetiva

da superfície (DER/SP, 2006).

Este tipo de atividade é interessante para obras de restauração, visto que a

mesma poderá quantificar e elaborar orçamentos prévios dos serviços relacionados

aos remendos, de modo a trazer estes resultados antes mesmo das obras serem

executadas.

É importante lembrar que este cadastro deve ser feito para todas as faixas de

tráfego do trecho em questão, continuamente, assim como nos acostamentos.

64

4.4.2. AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE ESTRUTURAL

A análise estrutural possibilita a estimativa da capacidade de carga de uma

estrutura de pavimento e a sua vida de serviço sob determinadas condições de

tráfego. O principal parâmetro para a avaliação estrutural é a obtenção da deflexão do

pavimento representada pela resposta das camadas estruturais e do subleito perante

a aplicação do carregamento. Quando uma carga é aplicada em um ponto da

superfície do pavimento, todas as camadas fletem devido às tensões e às

deformações geradas pelo carregamento. Os pavimentos mais sadios estruturalmente

fletem menos do que outros pavimentos mais debilitados. A diferença na resposta

entre os pavimentos sadios e debilitados indica os efeitos no desempenho estrutural.

Assim sendo, pavimentos com deflexões mais baixas suportam um maior número de

solicitações de tráfego (DNER, 1998).

Resumindo, a avaliação estrutural tem como objetivo avaliar a capacidade de

resposta das camadas estruturais frente às solicitações das cargas oriundas do

tráfego, estimando também a sua vida de serviço.

Por conta disso, é importante ter conhecimento das características dos

materiais componentes do pavimento, através de ensaios. Estes ensaios podem ser

realizados por métodos destrutivos, como extração de corpo de prova do próprio

pavimento, a abertura de trincheiras ou aplicação de poços de sondagem; como

também podem ser realizados por métodos não destrutivos, como ensaios de Viga

Benkelman, FWD – Falling Weight Deflectometer, dentre outros, com o objetivo de

obter a bacia de deflexão.

A bacia de deflexão representa a deformação que o pavimento terá ao se

passar cargas repetidas pela sua superfície, resultando em um deslocamento por

conta deste carregamento. Sua ilustração se encontra na Figura 31.

65

Figura 31: Deformações no pavimento, também conhecida como deflexões (DNIT, 2006).

A Figura 31 mostra o comportamento das deformações em cada camada e

como elas se redistribuem ao longo de sua profundidade. É importante saber que o

parâmetro d0 indica a deflexão máxima da estrutura, ou seja, ela reflete sua

deformabilidade (resiliência) global, definindo que quanto maior d0, mais resiliente

(elástica) será a estrutura.

Vale ressaltar que o desempenho estrutural do pavimento está vinculado a sua

condição física também, ou seja, a presença de trincas, deformações permanentes,

irregularidades longitudinais ou qualquer outra irregularidade que possa interferir no

seu desempenho estrutural, sendo mais um motivo da necessidade de uma atividade

de reabilitação ou restauração.

Estes defeitos podem demonstrar indicativos de comprometimento estrutural

através de valores, como (DNIT, 2006):

Trincamento por fadiga > 20% da área; ou

Afundamento nas trilhas de roda > 1,2cm.

A execução do reforço deve ter lugar quando os níveis de defeitos excederem

os limites exemplificados anteriormente (DNIT, 2006). Além disso, os ensaios

destrutivos e não destrutivos também trazem indicativos deste tipo de

comprometimento. No entanto, os ensaios destrutivos, além de serem mais invasivos

por retirarem corpos de prova, têm sua realização mais trabalhosa e não se consegue

simular exatamente os estados de tensões que ocorrem em campo.

66

Já os ensaios não destrutivos, utilizados em conjunto com o inventário de

defeitos, constituem-se na maneira mais apropriada para determinar a adequação

estrutural do pavimento (DNIT, 2006). Eles podem ser usados para (DNIT, 2006):

– Auxiliar o projeto de reforço estrutural;

– Distinguir os diferentes segmentos para efeito de projeto, em função dos

valores de deflexão encontrados;

– Determinar causas de defeitos e verificar locais com falta de suporte ou

excesso de vazios;

– Diferenciar os períodos críticos de deterioração do pavimento, em função das

variações sazonais nas deflexões;

– Indicar a capacidade da estrutura do pavimento em suportar o tráfego atual e

futuro;

– Avaliação dos módulos de elasticidade por retroanálise.

Lembrando que a deflexão citada nos itens anteriores é a mesma da Figura 31.

Este tipo de ensaio analisa todas as incógnitas demonstradas nesta figura, de modo a

estudá-las por meio de equipamentos, sendo três deles os mais utilizados: vigas de

deflexão, na qual a viga Benkelman é o mais utilizado; equipamentos dinâmicos de

vibração; e equipamentos dinâmicos de impacto, também conhecidos como FWD –

Falling Weight Deflectometer.

A viga Benkelman é o dispositivo mais simples e difundido para o levantamento

de deflexões em pavimentos. Ela mede a resposta do pavimento submetido a um

carregamento estático ou a aplicação de uma carga em movimento com baixa

velocidade (DNIT, 2006).

Os equipamentos dinâmicos de vibração medem a resposta do pavimento

quando submetido a uma carga vibratória ou cíclica. Enquanto isso, o FWD – ou

defletômetros de impacto – transfere ao pavimento uma carga dinâmica de impacto e

mede os devidos resultados (DNIT, 2006).

Levando tudo isso em consideração, uma observação importante deve ser

ressaltada quanto aos pavimentos rígidos. Além da avaliação estrutural por medição

das deflexões do pavimento, que no caso de pavimento rígido avalia-se, geralmente,

no interior de cada placa de concreto, deve-se analisar também o desempenho de

transferência de carga entre placas por amostragem representativa do trecho

(DER/SP, 2006).

67

Portanto, nota-se que é importante estudar a estrutura do pavimento, visto que

assim é possível conseguir informações valiosas para o projetista, como sua

adequação estrutural e seu grau de restauração, possibilitando o mesmo de escolher e

dimensionar a melhor alternativa dentre as atividades de restauração existentes.

4.5. MANUTENÇÃO E REABILITAÇÃO DE PAVIMENTOS

De acordo com DNIT (2006), a conservação dos pavimentos pode ser definida

como sendo um conjunto de serviços destinados à preservação do pavimento nas

condições em que ele foi originalmente construído ou no estado em que foi

posteriormente restaurado. Logo, a conservação apenas ajuda a rodovia a

desempenhar, de maneira satisfatória, o seu papel durante a vida para a qual ela foi

projetada.

As atividades de Manutenção e Reabilitação (M&R) são tipos de intervenção e

devem ser executadas com certa periodicidade, sendo esta já definida no

planejamento do projeto. Elas são realizadas de modo a solucionar os problemas

identificados no pavimento em questão, seja por conta das cargas de tráfego ou pelo

próprio meio ambiente. A Figura 32 mostra um desenho esquemático simples para

facilitar a interpretação.

Figura 32: Fatores que influenciam no desempenho do pavimento (DNIT, 2011).

Estas atividades possuem três finalidades principais (DNIT, 2006):

– Prolongar a vida útil das rodovias;

68

– Reduzir o custo de operação dos veículos;

– Contribuir para que as rodovias de mantenham permanentemente

abertas ao tráfego e permitir uma maior regularidade, pontualidade e

segurança aos serviços de transporte.

É muito importante que todas estas atividades sejam bem executadas,

preservando a qualidade do serviço, de modo a fazer com que a atividade em questão

cumpra com seu objetivo.

As atividades M&R já foram brevemente citadas anteriormente neste trabalho,

com o intuito de relacioná-las como solução aos devidos defeitos. Logo, neste item, as

mesmas serão definidas de forma mais completa, levando em consideração sua

classificação e características.

4.5.1. ATIVIDADES: PREVENÇÃO, RECUPERAÇÃO, RECONSTRUÇÃO E

REFORÇO

As atividades de Manutenção e Reabilitação podem ser classificadas em

manutenção preventiva, manutenção corretiva ou de recuperação, reconstrução e

reforço. Porém, primeiramente é importante saber a diferença básica entre atividades

de manutenção e atividades de reabilitação.

As atividades de manutenção têm como objetivo preservar ou manter o período

de projeto do pavimento, aumentando pouco o nível de serventia, mas evitando a

deterioração precoce (ODA, 2014).

Já as atividades de reabilitação objetivam prolongar a vida em serviço do

pavimento, elevando o nível de serventia próximo ao valor máximo e criando

condições para um novo ciclo de deterioração (ODA, 2014). Por ser um investimento

bem maior, esta solução acaba sendo mais cara, porém traz um resultado de maior

qualidade.

A comparação das duas com relação à serventia do pavimento está ilustrada

na Figura 33.

69

Figura 33: Diferença de resultados ao se realizar uma manutenção ou uma reabilitação.

Além disso, outro ponto importante de destacar é que as atividades de M&R,

descritas nos próximos itens, fazem parte das ações consideradas nas análises de

estratégias de intervenção, realizadas em nível de rede.

4.5.1.1. Atividades de Prevenção

Também chamada de manutenção preventiva, é aquela efetuada em intervalos

predeterminados e de acordo com critérios preestabelecidos, com o objetivo de reduzir

a probabilidade de falha ou de degradação do funcionamento de uma instalação

(ABNT, 1994). Ou seja, são serviços previamente aplicados com o objetivo de evitar o

surgimento ou agravamento de defeitos. Sua frequência depende do trânsito,

topografia e clima (DNIT, 2007).

Tem por objetivo conter a deterioração em seu estágio inicial.

Na manutenção preventiva podem ser incluídas as atividades de manutenção

de rotina. Estas são reparos localizados de defeitos na pista ou no acostamento com

extensão inferior a 150m e manutenção regular dos dispositivos de drenagem, dos

taludes laterais, da faixa lindeira, dos dispositivos de sinalização e demais instalações

da rodovia (DNIT, 2007).

Além disso, a manutenção periódica também pode ser inclusa neste item,

caracterizada por ser um tipo de conservação requerida em intervalos de tempo

determinados (DNIT, 2007). Nela são realizadas atividades para melhorar as

condições superficiais com vistas à preservação da integridade estrutural e qualidade

de rolamento.

70

Logo, neste item, podem ser englobados os seguintes serviços:

Remendos superficiais; Desobstrução dos sistemas de drenagem; Reparos

localizados; Limpeza da pista; Selagem de pequenas trincas – para

manutenção preventiva ou rotineira;

Tratamento superficial; Lama asfáltica; Reforços esbeltos em concreto

asfáltico; Banhos selantes – para manutenção periódica.

Vale ressaltar que a selagem de trincas é o enchimento de trincas com material

adequado, com o objetivo de aumentar a vida útil do bem trincado (DNIT, 2007). O

DNIT estabelece as normas para execução dos serviços de manutenção e as mesmas

podem ser encontradas em DNIT 154/2010 - ES.

4.5.1.2. Atividades de Recuperação

São reparos realizados em pequenas áreas do pavimento, devendo ser feitos

tão logo os defeitos apareçam (Fernandes Jr e Pantigoso, 1998). Segundo DNIT

(2006), é um processo a ser ordinariamente aplicado a um pavimento desgastado,

com o objetivo de restabelecer suas adequadas características técnicas.

De modo geral, é um tipo de manutenção corretiva, na qual é realizada após a

ocorrência de um problema, destinada a recolocar uma instalação em condições de

executar uma função solicitada (ABNT, 1994).

De forma mais específica, é o conjunto de operações de conservação que tem

como objetivo reparar ou sanar um defeito e restabelecer o funcionamento dos

componentes da rodovia propiciando conforto e segurança aos usuários (DNIT, 2007).

Um exemplo muito importante é a reciclagem do pavimento, que é basicamente

uma regeneração do mesmo. Segundo DNIT (2007), trata-se do processo de

recuperação de pavimentos com a reutilização de material resultante da fresagem do

trecho deteriorado. Entre as vantagens deste processo, pode ser citado: conservação

de agregados, ligantes e de energia; preservação do meio ambiente e manutenção

das condições geométricas existentes, como já visto anteriormente neste trabalho.

Além disso, o DNIT interpreta as atividades de recuperação considerando duas

vertentes: a recuperação do pavimento através de sua restauração ou de sua

reabilitação.

71

No primeiro caso, o DNIT (2006) afirma que é um processo a ser

ordinariamente aplicado a um pavimento que, desfrutando ainda da devida habilitação,

e apresentando desempenho compatível com os competentes modelos de previsão,

se encontra próximo de alcançar, conforme aferido por parâmetros temporais e/ou

índices de desempenho, o estágio final do ciclo de vida correspondente. No caso, a

solução em geral, deverá recair na execução de recapeamento do pavimento

existente.

Já no segundo caso, o DNIT (2006) descreve que é um processo a ser adotado

para um pavimento que, conforme aferido pelos mesmos parâmetros, já ultrapassou,

de forma significativa, o estágio final do ciclo de vida correspondente e apresenta

anomalias com tendências irreversíveis, em termos de desempenho funcional e

estrutural – não desfrutando mais, portanto, da devida habilitação. A solução em geral

também é a execução de recapeamento do pavimento existente.

Há também a utilização de remendos profundos como solução alternativa.

Logo, conclui-se que as atividades de recuperação incluem serviços como reparos

seletivos, recapeamentos, remendos profundos e aplicação de camadas de

regularização, com a finalidade de restaurar a capacidade estrutural ou a qualidade de

rolamento.

4.5.1.3. Atividades de Reconstrução

São atividades com o objetivo de reestruturar o pavimento, mais

especificamente à adição e/ou à substituição de camadas estruturais do pavimento

bem como do revestimento, de tal forma que a estrutura resultante possa suportar a

repetição das cargas por eixo incidentes, em condições de segurança e conforto para

o usuário, durante o novo período de projeto estabelecido (DNIT, 2007).

Ela pode ser caracterizada como parcial ou total. Em situações de reconstrução

parcial, a espessura total a ser removida e substituída se limita a uma profundidade tal

que não atinge a espessura total do pavimento; enquanto que em casos de

reconstrução total, a espessura total a ser removida e substituída atinge toda a

espessura do pavimento podendo, eventualmente, inclusive atingir o subleito (DNIT,

2006).

Essas atividades são requeridas normalmente em situações de grandes

severidades, com problemas maiores e mais graves, no qual a única solução é refazer

72

tudo de novo. Por conta disso, acaba sendo uma medida de intervenção muito

trabalhosa, demorada e com um custo expressivo.

Vale ressaltar que a estrutura danificada, muitas vezes, é consequência da

negligência humana que, consequentemente, resulta na impossibilidade de reabilitar o

pavimento. Logo, é importante evitar que o pavimento atinja um estado de

deterioração a ponto de não cumprir mais com sua finalidade, evitando, assim,

grandes gastos que não estão previstos para a sua reconstrução. Para que isso não

ocorra, basta manter uma manutenção preventiva periódica adequada e possuir um

sistema de drenagem de qualidade.

Trincas por fadiga e deformação permanente, quando não possuem

manutenção adequada, são patologias muito comuns que geram uma necessidade de

reconstrução do pavimento. Outros defeitos como a corrugação e os agregados

polidos também podem precisar de reconstrução caso a causa identificada esteja

relacionada à sua estrutura.

4.5.1.4. Atividades de Reforço

O reforço de um pavimento é o aporte estrutural, constituído de uma ou mais

camadas asfálticas, a ser(em) sobreposta(s) a um pavimento existente, após

devidamente executadas as correções superficiais necessárias, com a finalidade de

torná-lo apto a cumprir um novo ciclo de vida (DNIT, 2006).

Em paralelo, de acordo com DNIT (2006), o recapeamento consiste na

adequada sobreposição ao pavimento existente de uma ou mais camada(s)

constituída(s) de mistura asfáltica e/ou concreto de cimento Portland. Tal sobreposição

conferirá ao pavimento existente adequado aporte estrutural, mantendo-o assim apto a

exercer, em continuidade, um novo ciclo de vida, de conformidade com as premissas

técnico-econômicas.

Vale ressaltar que o recapeamento é dividido em dois tipos: o recapeamento

delgado, que conta com a escarificação e mistura com material da base, além da

compactação antes do lançamento da nova camada de revestimento; e o

recapeamento espesso, que é o mesmo que reforço estrutural, abordado neste item.

Percebe-se, então, que ambos possuem definições muito parecidas, pelo fato

de que um reforço estrutural é o mesmo que um recapeamento espesso. Logo, o

reforço é um revestimento aplicado por cima de outro já presente no local, de modo a

reforçá-lo ou restaurá-lo.

73

A adoção de um reforço é muito comum mesmo que o pavimento não aponte

ter falhas estruturais significativas, a fim de readequá-lo para uma nova demanda de

tráfego ou alinhá-lo por conta de eventuais irregularidades longitudinais. Na Figura 34

é ilustrada a evolução da deterioração em rodovias pavimentadas, onde se pode notar

o reforço requerido como solução em grande parte da vida útil da rodovia.

Figura 34: Evolução da deterioração em rodovias pavimentadas e o papel do reforço estrutural

(DNIT, 2006).

Com relação a esse gráfico, o DNIT (2006) aponta que uma rodovia

pavimentada pode ser mantida em bom estado mediante conservação rotineira, a um

custo bastante baixo. Com o aumento da deterioração, o pavimento deve ser

recuperado de maneira a permanecer em bom estado, por meio de selagem,

recapeamento ou reforço do revestimento.

Além disso, o DNIT (2006) também afirma que o reforço restabelece a

qualidade de rolamento da rodovia e a capacidade estrutural necessária para suportar

o tráfego durante vários anos, começando assim um novo ciclo do pavimento. Com

isso, a Figura 34 também explicita que, com a aplicação do reforço de maneira

adequada, a vida útil da rodovia pavimentada aumenta expressivamente (linha mais

grossa).

4.5.2. RETROANÁLISE

Talvez a mais importante utilização de parâmetros deflectométricos na

atualidade seja a avaliação dos valores modulares das camadas dos pavimentos, para

as suas condições in situ, mediante técnicas de retroanálise (DNIT, 2006).

74

A retroanálise dos pavimentos é um tipo de avaliação feita a partir de dados da

estrutura existente de um determinado pavimento.

Conhecendo-se a linha de influência deflectométrica (bacia de deflexão) na

superfície da estrutura, que usualmente se obtém pelo ensaio de equipamentos de

impacto do tipo Falling Weight Deflectometer (FWD) devidamente calibrados; assim

como as espessuras, constituição e parâmetros de cada camada do pavimento

através de pesquisas histórico-cadastral ou sondagens diretas; é possível realizar a

retroanálise para a determinação dos módulos de resiliência das camadas

componentes do pavimento.

Busca-se, portanto, determinar por tentativas sucessivas, com o auxílio de um

programa computacional que permita o cálculo das tensões, deformações e

deslocamentos em pavimentos, o conjunto de valores de módulos das camadas do

pavimento que reproduza a deformada levantada em campo. Os valores encontrados

são assumidos como os módulos para as condições de campo de cada camada,

podendo ser utilizados em análises mecanísticas da estrutura existente (DNIT, 2006).

Estes valores são fundamentais para a avaliação mecanicista do pavimento e

trazem importantes informações acerca do mesmo. Através deles é possível verificar a

integridade de cada camada, estimar sua a vida útil remanescente do pavimento e as

medidas adequadas a sua restauração.

O processo de retroanálise dispensa medidas trabalhosas e demoradas in loco

bem como a coleta de amostras e ensaios de laboratório para esta finalidade (DNIT,

2006).

4.5.3. DIMENSIONAMENTO DE REFORÇOS

De acordo com Huang (1993), o dimensionamento de reforços de pavimentos é

realizado considerando como critérios de ruína o aparecimento de fendas por fadiga

nas misturas asfálticas e o aparecimento de deformações permanentes na zona de

passagem das trilhas de roda dos veículos, não sendo habitual a consideração da

reflexão de fendas.

Em geral, a deformabilidade do pavimento é a informação mais relevante para

que seja feito um dimensionamento de reforço no mesmo. Deve-se realizar uma

avaliação estrutural, levando em consideração o comportamento da estrutura com

relação ao tráfego; verificar as deformações permanentes, seu caráter residual e se há

rupturas plásticas existentes no local; e avaliar as deformações recuperáveis da

75

estrutura, ou seja, seu comportamento elástico com relação aos esforços de tração

que, quando repetitivos, podem levar à fadiga.

A avaliação estrutural pode ser feita por ensaios destrutivos e não destrutivos,

como já explicitado anteriormente, enquanto que a deformabilidade é realizada pela

análise da deformação elástica do pavimento sob a ação de uma carga ou um esforço.

A mesma pode ser vinculada com o desempenho em serviço. Além disso, é importante

obter as condições da superfície de rolamento através do cálculo do IGG já comentado

anteriormente.

Após a obtenção destes dados, devem-se calcular os valores característicos

para o dimensionamento do reforço (Figura 35), ou seja:

A deflexão de projeto, considerada para o reforço: dp = dmédia + σ;

Sendo dmédia a deflexão média e σ a sua variância.

O tráfego de projeto (Np): é a solicitação futura de tráfego que o reforço irá

receber;

O tráfego total (Nt): Nt = Na + Np

Sendo Na o tráfego existente;

Nt corresponde à solicitação que o antigo pavimento irá receber,

desde a sua abertura ao tráfego até o final de uma nova vida de

projeto, se não for restaurado.

Figura 35: Exemplo da relação dos tráfegos.

Vale ressaltar que o parâmetro de tráfego N deve seguir o método do DNER /

USACE, que define N a partir da equação 1:

N = 365 x VDM x P x F.V. x F.R.

Equação 1

Onde:

VDM: Volume Diário Médio (Nº de veículos) – estimado estatisticamente;

P: Período de projeto (Vida útil em anos projetado para a rodovia);

F.V.: Fator de Veículos;

F.R.: Fator Regional ou Climático.

76

Após essas definições, basta seguir o Método DNER-PRO 11/79, que diz que é

necessário calcular a deflexão admissível (dadm) de modo a manter a deflexão do

pavimento abaixo desse valor, evitando que surjam trincas no revestimento em

questão. Logo:

log dadm = 3,01 - 0,176 log N

Equação 2

Para o dimensionamento de reforços, é necessário utilizar a equação 2

substituindo N por Np, tráfego de projeto.

Em seguida, é utilizado o critério deflectométrico ou de deformabilidade, que

estima a espessura necessária de reforço do pavimento, através dos resultados do

levantamento deflectométrico executado para avaliação estrutural. No caso da

utilização de um reforço feito em concreto asfáltico (CBUQ), tem-se a equação 3:

Equação 3

Onde:

hca : espessura do reforço de concreto asfáltico do pavimento;

K = 40: fator de redução de deflexão próprio do concreto asfáltico;

Dp = dp: deflexão de projeto determinada para o subtrecho homogêneo, objeto

de dimensionamento, em centésimos de milímetro;

Dadm = dadm: deflexão admissível após a execução do reforço do pavimento,

em centésimos de milímetro.

Após isso, caso necessário, é preciso realizar o dimensionamento das

camadas inferiores do reforço do pavimento existente, sempre que o dimensionamento

indicar espessuras de reforço, para concreto asfáltico, superiores a 5 cm.

Logo, para o cálculo das espessuras das camadas não constituídas de

concreto asfáltico, devem-se adotar os coeficientes de equivalência estrutural

recomendados pelo DNER e transcritos a seguir (Tabela 4) (DNER, 1979).

Tabela 4: Tabela com os coeficientes de equivalência estrutural (adaptado de DNER, 1979).

Material K

Solo-cimento (RCS7dias < 28kgf/cm2) 1,00

Solo-cimento (28 < RCS7dias < 45kgf/cm2) 1,40

Solo-cimento (RCS7dias > 45kgf/cm2) 1,70

77

Material granular (ISC > 60) 1,00

Brita graduada (ISC > 80) 1,10

Macadame betuminoso 1,20

PMF denso (%Vv < 6%) 1,40

PMQ denso (%Vv < 6%) 1,70

CBUQ (%Vv < 5%) 2,00

Com isso, a espessura do concreto asfáltico substituído deverá ser multiplicada por:

Ainda assim, apesar de tudo já estar praticamente definido, é importante levar

em consideração alguns critérios da avaliação estrutural que ainda não foram

explicitados.

Não há, por exemplo, normas rígidas que permitam definir com precisão, para

o projeto de reforços de pavimentos existentes, a fronteira que separa os campos de

aplicação dos critérios deflectométrico e de resistência. Em tese, seria lícito aceitar-se

que os métodos de projeto baseados no critério deflectométrico seriam válidos quando

a estrutura subjacente ao reforço estivesse funcionando em regime aproximadamente

elástico, ou, em outras palavras, quando as cargas incidentes ocasionassem

exclusivamente deformações de caráter transitório (DNER, 1979).

Ou seja, há possíveis problemas, como deformações plásticas relevantes

causadas por processos de rupturas ao cisalhamento, que podem ocorrer no

pavimento existente que não estão sendo verificados pelo método de

dimensionamento relacionado ao critério deflectométrico.

Por conta disso, o DNER propôs um critério para a fixação das diretrizes a

serem adotadas para efeito da avaliação estrutural dos pavimentos (DNER, 1979).

Foram formulados cinco casos típicos para os subtrechos homogêneos, de modo que

as situações estudadas se enquadrem em um deles. Os seguintes parâmetros foram

considerados neste estudo:

– N: Número de solicitações de eixos equivalentes ao eixo padrão de 8,2t;

– dp: Deflexão de projeto;

– R: Raio de Curvatura;

– dadm: Deflexão admissível;

– IGG: Índice de Gravidade Global.

78

Portanto, levando em consideração estes parâmetros e a tabela elaborada pelo

DNER ilustrada na Figura 36, pode-se definir da melhor forma os critérios para a

avaliação estrutural do reforço do pavimento em questão.

Figura 36: Tabela com os critérios para Avaliação Estrutural (adaptada de DNER, 1979).

4.5.4. USO DE SOFTWARES DE SGP

Alguns softwares em uso ou em desenvolvimento serão apresentados

brevemente neste item.

4.5.4.1. SGP desenvolvido na Finlândia

O SGP desenvolvido pela Administração Rodoviária e Hidroviária da Finlândia

(Roadway and Waterway Administration, RWA), combina um modelo de otimização

baseado no Processo de Markov que direciona as questões de reabilitação dos

pavimentos e alocação de fundos em nível de rede a um modelo que analisa a

prioridade e a programação dos projetos individuais (THOMPSON et al., 1987).

Como a gerência em nível de rede e em nível de projeto, neste caso, estão

inclusos em um mesmo menu dentro da base do programa, é possível realizar uma

troca de informações entre a gerência destes dois níveis, sendo isto considerado uma

vantagem deste tipo de SGP.

Para o nível de rede, são elaboradas normas para organizar a seleção e

programação de grupos de projetos. Como o programa é baseado no Processo de

Markov, ele analisa os gastos resultantes das possíveis estratégias alternativas para

cada grupo de pavimentos, recomendando a que tiver o melhor custo/benefício, ou

79

seja, que possa minimizar os custos visando em longo prazo. Estes custos são

considerados os custos totais, somando os custos de manutenção, construção e

operação dos veículos.

Este programa consiste de quatro módulos básicos (SHOJI, 2000):

– Um modelo probabilístico que descreve a deterioração do pavimento;

– Um modelo do custo operacional dos veículos;

– Um modelo de custo de construção para cada atividade de reabilitação;

– Análise das limitações possíveis em relação ao orçamento.

Deixando a parte econômica toda sob responsabilidade da gerência em nível

de rede, a gerência em nível de projeto considera que apenas o conjunto de variáveis

não-econômicas, que são consideradas nas decisões da programação de alocação

dos recursos, são relevantes.

Vale ressaltar que a análise em nível de projeto é desempenhada em nível

distrital, portanto a rede nacional é dividida em arquivos separados para cada distrito.

Essa parte do sistema fornece fácil acesso à base de dados de projetos e base de

dados de operações que podem ser utilizados para analisar determinados projetos e

suas relações com os demais (SHOJI, 2000).

4.5.4.2. Sistema PMS – III: SGP desenvolvido em Ohio

O sistema PMS (Pavement Management System – 3th version) trata de um

SGP para aplicação em nível de rede, sendo desenvolvido e implementado pelo

Departamento de Transportes de Ohio (Ohio Department of Transportation, ODOT),

que determina as estratégias de M&R e o orçamento anual necessário a cada seção

durante um período de 6 anos (MAJIDZADEH et al., 1990). Basicamente, levando em

consideração apenas a situação atual e um modelo de previsão determinístico, este

SGP consegue prever a futura condição da rede, além de suas necessidades e

orçamentos.

Dois critérios são adotados para selecionar a estratégia de M&R (SHOJI,

2000):

– A maximização dos benefícios produzidos pelos pavimentos a partir de um

determinado investimento anual; ou

– A minimização dos custos para manter a condição da rede acima de um

determinado nível mínimo.

80

Além disso, o programa é constituído pelos seguintes módulos (SHOJI, 2000):

– Condição do pavimento: caracteriza os defeitos do pavimento, a qualidade de

rolamento e a segurança do usuário;

– Estratégia de reparo: seleção considerando-se informações sobre a via e os

defeitos existentes (tipo, severidade e extensão), o tipo do pavimento e a

classe funcional;

– Custo: determinado conforme a estratégia selecionada;

– Previsão do desempenho: inclui modelos de previsão da deterioração do

pavimento com o tempo, sendo utilizadas equações em função do volume de

tráfego, estrutura do pavimento e características do solo;

– Otimização: identifica a estratégia e o orçamento ótimos a serem alocados;

– Geração de relatórios.

4.5.4.3. Sistema NOS: SGP desenvolvido no Arizona

Inicialmente denominado de NOS (Network Optimization System), ele é

sistema de otimização em nível de rede que tem sido utilizado pelo ADOT (Arizona

Department od Transportation) desde 1980, e foi implementado e denominado AZNOS

em 1993. É uma ferramenta que auxilia a realização de um planejamento financeiro

efetivo para programas de preservação de pavimentos através do uso de uma

pequena quantidade de informações, considerando dados apenas sobre a

irregularidade longitudinal e as trincas (WANG et al., 1992).

O modelo original de NOS recomendava uma estratégia ótima de reabilitação a

longo prazo (estacionário) e outra estratégia ótima de reabilitação a curto prazo (antes

de atingir o estado estável) para pavimentos em qualquer condição (SHOJI, 2000). Um

modelo de programação linear era utilizado para minimizar o custo total de gerência,

justamente para manter a rede acima dos padrões mínimos, enquanto que as

probabilidades de transição das condições dos pavimentos eram definidas pelo

Processo de Markov.

Então, em 1992 o programa NOS foi revisado, assim originando o programa

AZNOS. Levando em conta os dados dos últimos 13 anos existentes, novas matrizes

de probabilidades de transição foram geradas. Além disso, foi necessário adicionar

novas ressalvas em relação às irregularidades longitudinais e às trincas.

Um processo mais rigoroso para selecionar as estratégias de M&R foi adotado,

pois durante o desenvolvimento do antigo NOS foi percebido que mesmo para

81

intervenções de menor grau era necessário muito tempo para selecionar as

estratégias mais adequadas (SHOJI, 2000). Os seguintes critérios passaram a ser

obedecidos:

– A manutenção de rotina é praticável para todos os estados de condição;

– Todas as estratégias são praticáveis para os melhores estados de condição;

– Mais que uma ação deve ser praticável em cada estado de condição.

4.5.4.4. Sistema HDM: Versão HDM-4

Este sistema já foi apresentado anteriormente neste trabalho, principalmente

por conta do seu histórico e sua relação atualmente com o Brasil. O HDM é o software

mais conhecido e mais importante para análise no âmbito da rede, e hoje está na

versão HDM-4. Este programa é avançado e tornou-se uma meta que a maioria dos

órgãos rodoviários mais evoluídos busca gradativamente atingir, conforme os seus

recursos técnicos e as suas disponibilidades financeiras.

Segundo a definição do DNIT, o programa HDM-4 foi idealizado para a análise

econômica de rede rodoviária para investimentos com restrição orçamentária,

buscando atingir a maior extensão possível, visando o maior retorno através do Valor

Presente Líquido dos diversos cenários estudados, dentro de um horizonte de projeto

(por exemplo, 20 anos), podendo analisar diversas alternativas de intervenção para

cada célula, indicando a época para a realização dos investimentos, tendo como

objetivo final a melhor condição da rede no final do horizonte de projeto.

O HDM-4 necessita de alguns dados de entrada para que possa avaliar e

selecionar a melhor estratégia, estando dentre estes dados: as condições atuais dos

pavimentos das rodovias (extensões, estrutura, volume de tráfego, defeitos,

irregularidade, deflectometria, geometria – largura de pista, largura de acostamentos,

declividades médias, índice de curvatura, etc. – condições climáticas, de topografia,

idade do pavimento, idade da última restauração, dentre outros); dados do perfil do

fluxo de tráfego que passa pelo local (tipo de veículos, peso, custos de aquisição e de

manutenção, custo do combustível); as políticas de intervenção (tipo de manutenção

ou restauração e custo) e os cenários de investimento.

Segundo DNIT (2007), na operação do HDM são utilizados alguns parâmentos,

entre eles:

– Taxa de Desconto: É a taxa de oportunidade de capital do setor público, isto é,

a taxa de retorno do investimento marginal. A taxa de desconto a ser usada

82

para os estudos de viabilidade do HDM será definida pela autoridade de

planejamento responsável pelo projeto e, normalmente, é utilizada para

calcular o valor presente liquido (VPL) dos custos e benefícios.

– Valor Presente Líquido (VPL): É a diferença entre os custos e os benefícios de

um projeto.

– Custo Econômico: Representa os custos reais, sem taxas, impostos e leis

sociais.

– Custo Financeiro: Representa os custos realmente desembolsados, incluindo

as taxas, impostos e leis sociais.

– Taxa Interna de Retorno (TIR): É aquela em que o VPL é igual a zero.

Após isso, o sistema avalia os dados e fornece resultados traduzidos nos tipos

de intervenção para cada segmento, custo e época, dentro de um cenário de

investimentos. A Figura 37 ilustra a interação entre o SGP e o software HDM-4.

Figura 37: Interação entre SGP e o HDM-4 (adaptada de DNIT, 2012).

Vale ressaltar que este programa é de uso obrigatório para obtenção de

investimentos do Banco Mundial.

4.6. TOMADA DE DECISÃO

A análise de pavimentos consiste na determinação de suas condições atuais,

na previsão de condições futuras e na avaliação de prioridades de intervenção.

A determinação das condições atuais do pavimento é representada pelo seu

nível de degradação, enquanto que a previsão das condições futuras é caracterizada

por modelos de desempenho, relacionando os respectivos parâmetros do pavimento,

já apresentados anteriormente. Todas essas informações são incluídas no banco de

83

dados do SGP, que é o responsável por relacioná-las com a tomada de decisão

necessária, de forma a avaliar as prioridades de intervenção.

Como já explicado anteriormente, a gerência de pavimentos em Nível de Rede

trabalha com informações mais resumidas e generalizadas, relacionadas a toda malha

viária, utilizadas para a tomada de decisões essencialmente administrativas:

Planejamento + Programação + Orçamento.

Algumas das características ou aplicações de um sistema de gerência em Nível

de Rede são descritas abaixo (ODA, 2014):

– Identificação de projetos candidatos para intervenções;

– Priorização dos projetos considerando as características de desempenho,

tráfego, custo aos usuários e outros fatores locais;

– Geração de necessidades de orçamento da agência a curto e longo prazo;

– Análise de estratégias de intervenção, com avaliação da condição atual do

sistema e previsão da condição futura, em função dos recursos aplicados em

cada alternativa, como já explicado.

Vale ressaltar que o Guia de Gerência de Pavimentos da AASHTO de 1990,

especifica o procedimento descrito abaixo para apoio à decisão na escolha de

alternativas em um SGP em Nível de Rede (ODA, 2014):

Avaliação da Condição Geral da Rede: Os pavimentos recebem avaliações por

pontuação (conceitos quantitativos), juntamente com conceitos qualitativos;

Estabelecimento de Estratégias de Manutenção, Reabilitação e Reconstrução

(MR&R): Neste caso, existem quatro métodos de avaliação para

estabelecimento de estratégias:

Método da Matriz – que correlaciona um defeito específico com uma

estratégia apropriada de MR&R;

Árvore de Decisão – são estudadas variáveis importantes para auxiliar na

seleção de estratégias MR&R;

Método do Custo do Ciclo de Vida – que seleciona estratégias de MR&R

baseado nos custos do ciclo de vida de uma combinação de estratégia

requerida em um período de análise (construção, manutenção, reabilitação,

etc);

Método de Otimização – que relaciona a maximização dos benefícios aos

usuários, a maximização do padrão de desempenho da rede e a

minimização dos custos presentes totais;

84

Custos requeridos: o SGP fornecerá uma estimativa dos custos requeridos

para preservar a rede pavimentada nos níveis de desempenho desejáveis;

Nas análises de estratégias de intervenção citadas anteriormente, serão

consideradas as ações de manutenção preventiva, corretiva, reconstrução e reforço,

em Nível de Rede, de forma menos específica.

No entanto, no âmbito considerado como Nível de Projeto é trabalhado

informações mais técnicas e específicas, relacionadas a seções particulares do

pavimento, incluindo um diagnóstico detalhado dos defeitos, suas prováveis causas e

métodos corretivos alternativos. Lembrando-se do que já foi citado anteriormente,

Nível de Projeto engloba Dimensionamento + Construção + Manutenção e

Reabilitação.

Algumas atividades em Nível de Projeto são exemplificadas em seguida (ODA,

2014):

– Seleção das atividades de manutenção, reabilitação e reconstrução, com base

em critérios estabelecidos pelos níveis mais elevados da gerência;

– Realimentação da base de dados com relação ao desempenho do pavimento,

fornecendo dados para as atividades de projeto, construção e manutenção;

– Definição dos parâmetros principais de projeto, tais como: resistência do

subleito, número de solicitações do eixo padrão e especificações para os

materiais.

A partir das informações oferecidas em níveis de rede e de projeto, os SGPs,

sob situação de restrição orçamentária, utilizam, geralmente, a técnica de priorização

para a seleção de projetos, permitindo a manutenção da rede viária na melhor

condição possível e ao menor custo.

A partir de um programa de priorização, pode-se analisar a utilização de várias

alternativas de intervenção, inclusive a estratégia base, ou seja, aquela em que só se

deve realizar intervenção na rodovia quando o pavimento estiver na sua condição

limite (ODA, 2014).

Após a definição das prioridades, tem-se, a princípio, que definir a melhor

estratégia de M&R em Nível de Rede, ou seja, verificar qual seria a melhor solução

dentre as opções englobadas nesse nível, como:

– Não fazer nada;

85

– Manutenção Preventiva Periódica;

– Manutenção Corretiva;

– Reconstrução; ou

– Reforço.

O fluxograma básico de um SGP, como já ilustrado na Figura 26, explicita bem

as opções.

Feita a análise em Nível de Rede, deve-se passar ao próximo nível mais

específico a ser verificado, o Nível de Projeto. Neste nível, são definidas as atividades

de manutenção de acordo com o tipo de deterioração apresentado e, se for o caso, no

dimensionamento dos reforços e da reconstrução.

A partir dos quatro métodos de avaliação para estabelecimento de estratégias

apresentados pela AASHTO em 1990, este trabalho utilizará as “árvores de decisão”

na escolha das estratégias de Manutenção e Reabilitação, além das mesmas também

poderem auxiliar na seleção da atividade mais adequada de acordo com o tipo de

deterioração. Estas árvores de decisão podem ser encontradas no anexo A,

lembrando que as mesmas foram retiradas de fontes como Fernandes Jr. & Pantigoso

(1997) e Oda et al. (1999).

Com isso, as estratégias podem ser selecionadas através de fatores como a

condição dos pavimentos, levando em consideração os tipos de defeitos com suas

severidades e extensões; assim como o Volume de Tráfego Médio Diário (VDM),

quando este influencia a ocorrência dos defeitos.

Como pode ser visualizado nas mesmas, as árvores de decisão adotam as

seguintes atividades de M&R:

– Não fazer nada;

– Capa selante;

– Lama asfáltica;

– Tratamento superficial;

– Selagem de Trincas

– Preenchimento de buracos;

– Remendo;

– Regularização;

– Drenagem;

– Reciclagem;

– Recapeamento;

86

– Reconstrução;

– Recomposição do acostamento;

– Aplicação de areia quente.

Além disso, os fatores considerados são classificados da seguinte forma:

Severidade do defeito: baixa, média ou alta;

Extensão do defeito: pequena ou grande;

Tráfego (VDM x 1.000): leve (< 1,0), médio (1,0 – 5,0) ou pesado (> 5,0).

87

5. ESTUDO DE CASO

A região escolhida para o estudo em questão é a cidade do Rio de Janeiro,

localizada no estado do Rio de Janeiro, na região Sudeste do Brasil.

O estado do Rio de Janeiro ocupa uma área de 43.780,172 km² e, apesar de

ser, efetivamente, o quarto menor estado do Brasil, concentra 8,4% da população do

país, figurando, consequentemente, como o Estado com maior densidade demográfica

do Brasil. É também o terceiro maior litoral do país, ficando atrás apenas da Bahia e

Maranhão, respectivamente (WIKIPEDIA, 2015).

5.1. PERFIL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

5.1.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A capital e maior cidade do estado do Rio de Janeiro é a cidade homônima, a

segunda cidade mais populosa do Brasil, além de ser a segunda maior metrópole do

país e a sexta maior da América (WIKIPEDIA, 2015). A localidade da cidade do Rio de

Janeiro perante todo o território estadual se encontra ilustrada na Figura 38.

Figura 38: Localidade da cidade do Rio de Janeiro (WIKIPEDIA, 2015).

5.1.2. POPULAÇÃO

Na estimativa de 2014, a população do Rio de Janeiro, segundo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 6.453.682 habitantes, possuindo

uma densidade populacional de 5.389,46 hab/km². No entanto, em 2010, de acordo

com o IBGE, a população do Rio de Janeiro era de 6.320.446 habitantes (39,5% da

88

população estadual), sendo que 46,83% eram homens e 53,17% de mulheres. Além

disso, segundo o censo de 2010 da mesma fonte, 100% da população era urbana

(WIKIPEDIA, 2015).

Sua região metropolitana, com 11.835.708 habitantes, é a segunda maior

conurbação do Brasil, a terceira da América do Sul e a 23ª do mundo. Com isso,

atualmente as taxas de incremento médio anual da população indica, de modo geral,

uma aceleração na taxa de crescimento dos demais municípios da Região

Metropolitana, e um pequeno aumento na taxa da capital (WIKIPEDIA, 2015).

5.1.3. ÁREA TOTAL

A área da cidade do Rio de Janeiro equivale a 1.197,463 km², sendo que seu

litoral possui 197 quilômetros de extensão e inclui mais de cem ilhas que ocupam 37

km², desdobrando-se em três partes, voltadas à baía de Sepetiba, ao oceano Atlântico

e à baía de Guanabara (WIKIPEDIA, 2015).

O litoral da baía de Sepetiba tem como único acidente geográfico de expressão

a Restinga da Marambaia e é arenoso, baixo e pouco recortado. O litoral da baía de

Guanabara é recortado, baixo, abarca muitas ilhas (como a do Governador com de 29

km²) e, em suas margens, situam-se o centro comercial e os subúrbios industriais

(WIKIPEDIA, 2015).

5.1.4. ÁREA URBANA

O município do Rio de Janeiro é usualmente dividido em quatro regiões

geográficas: Zona Oeste, Zona Norte, Zona Sul e Centro. A divisão das mesmas é

mostrada na Figura 39.

Figura 39: Subdivisão de zonas da cidade do Rio de Janeiro (WIKIPEDIA, 2015).

89

Segundo o IBGE, o bairro mais populoso da capital fluminense é Campo

Grande, com 328.370 habitantes. A região oeste concentra grande parte dos bairros

mais populosos do município, tendo um alto crescimento populacional, mas não um

desenvolvimento similar, causando indevidas aglomerações e segregações.

Outros bairros com população igual ou superior a cem mil habitantes são

Bangu (243.125), Santa Cruz (217.333), Realengo (180.123), Tijuca (163.805),

Jacarepaguá (157.326), Copacabana (146.392), Barra de Tijuca (135.924), Maré

(129.770), Guaratiba (110.049), Senador Camará (105.515) e Taquara (102.126). Nos

bairros da região sul, como Copacabana, quase 25% de seus moradores são idosos

(WIKIPEDIA, 2015).

A Ilha do Fundão, local escolhido como projeto piloto para o estudo em

questão, está localizada na Zona Norte.

5.1.5. CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS

É importante ressaltar que o clima do Rio de Janeiro é o tropical atlântico, com

variações locais, devido às diferenças de altitude, vegetação e proximidade do

oceano. Logo, por se tratar de uma cidade litorânea, o efeito da maritimidade é

perceptível, traduzindo-se em amplitudes térmicas relativamente baixas. Os verões

são quentes e úmidos e ocasionalmente com temporais (WIKIPEDIA, 2015).

Somado a isso, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET),

desde 1961 a temperatura mínima absoluta registrada no Rio de Janeiro foi de 3,8 °C

em julho de 1974, na estação meteorológica de Jacarepaguá, e a máxima histórica

atingiu 43,2 °C em Santa Cruz (WIKIPEDIA, 2015). No entanto, a temperatura média

anual considerada atualmente é de 23°C.

O maior acumulado de precipitação em 24 horas foi de 178,5 mm em 6 de abril

de 2010, enquanto em um mês o recorde foi de 472,9 mm em janeiro de 1962; e o

menor índice de umidade relativa do ar foi de 26% em 10 de março de 2007

(WIKIPEDIA, 2015).

5.1.6. VIAS URBANAS

Outro ponto de grande relevância é que a cidade do Rio de Janeiro é um dos

mais importantes entrepostos rodoviários do Brasil. Dentre as autoestradas e vias

expressas que dão acesso à cidade, destacam-se (WIKIPEDIA, 2015):

90

BR-116 (também chamada localmente de Rodovia Presidente Dutra e de

Rodovia Rio-Teresópolis);

BR-040;

BR-101;

RJ-071 (mais conhecida como Linha Vermelha); e

Avenida Brasil.

Estas cinco vias formam o grande complexo rodoviário que dá acesso à cidade

do Rio de Janeiro, sendo utilizadas diariamente por milhares de pessoas que entram e

saem da cidade (WIKIPEDIA, 2015).

Além dos veículos, o Rio de Janeiro também possui uma presença expressiva

na área de transporte não motorizado. A cidade detém 140 km de ciclovias, a maior

metragem do país e a segunda maior da América Latina, perdendo apenas para

Bogotá, com 250 km (WIKIPEDIA, 2015).

Segundo estimativas do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP),

cerca de 320 mil pessoas utilizam bicicletas na cidade. A malha está espalhada por

toda a orla, do Leme à praia do Pontal, na Lagoa, no centro, e em outras áreas das

zonas Sul e Oeste (WIKIPEDIA, 2015).

5.1.7. FROTA

É importante saber o tipo de tráfego que será considerado, visto que, em certas

situações, o mesmo possui grande influência na determinação do tipo de pavimento.

O perfil a frota do Rio de Janeiro é a segunda maior do país, composta por

1.894.528 automóveis, 260.849 motocicletas, 37.224 motonetas, 115.273

caminhonetes, 17.723 ônibus, 17.933 micro-ônibus, 41.388 caminhões, dentre outros

tipos de veículos (IBGE/2014). Totalizando, o número total de veículos que circula pela

cidade é de 2.576.947 veículos.

5.2. PROCEDIMENTO PARA IMPLEMENTAÇÃO DO SGP

Após se ter o conhecimento das características do local escolhido, assim como

seu perfil básico, é importante começar a desenvolver seu devido SGP. Sabe-se que a

estruturação necessária para a implementação de um SGP é composta por fatores

apresentados na Figura 40.

91

5.2.1. INVENTÁRIO

Adquirir o inventário é o primeiro passo para que seja possível implementar um

SGP, visto que assim pode-se conhecer a malha viária que está sendo considerada e

avaliar os dados existentes.

Por incluir informações cruciais para definição de estratégias, como as

características da via – dimensões da pista, dos acostamentos e dos dispositivos de

drenagem – o tipo e volume do tráfego local e, principalmente, todo o histórico do

pavimento – ano em que foi construído, como foi construído, métodos utilizados, quem

executou, materiais utilizados e por que, tipos de misturas asfálticas aplicadas e por

que, espessuras das camadas, restaurações (onde, como e porquê), dentre outros – é

de extrema importância a obtenção do inventário, não sendo possível realizar a

implementação de um Sistema de Gerência de Pavimentos sem a presença do

mesmo no estudo.

Infelizmente, este foi o principal problema encontrado para estudar e

desenvolver um SGP neste trabalho e será explicado mais a frente.

5.2.2. AVALIAÇÃO

As avaliações funcional e estrutural, anteriormente apresentadas, são incluídas

nesta etapa do processo. Caso as mesmas já tenham sido feitas, basta recolher seus

resultados para aplicação no SGP, senão é preciso realizá-las em campo. Ela deverá

INVENTÁRIO AVALIAÇÃO LEVANTAMENTO DE

DEFEITOS

IP (ÍNDICE DE PRIORIDADE)

DE CADA SEÇÃO

ESTRATÉGIA DE M&R

(NÍVEL DE REDE)

ATIVIDADES DE M&R

(NÍVEL DE PROJETO)

IMPLEMENTAÇÃO

Figura 40: Estrutura de um SGP para implementação.

92

ocorrer em paralelo com a obtenção do inventário (Figura 40), visto que um

complementará as informações do outro.

Para a realização da avaliação funcional é preciso, a princípio, avaliar a

superfície de rolamento do pavimento de modo que cada avaliador dê uma nota ao

mesmo com relação ao seu conforto e rolamento. É preciso preencher uma ficha de

avaliação para cada seção estudada, utilizando uma escala de 0 a 5, que definirá o

Valor de Serventia Atual (VSA) do pavimento, como já explicado. A devida ficha está

explicitada na Figura 41.

ACEITÁVEL?

ÓTIMO

Sim BOM

Não REGULAR

Indeciso RUIM

PÉSSIMO

Identificação da Seção: NOTA:

Avaliador: Data: Hora: Veículo:

0

1

2

3

4

5

Figura 41: Ficha para avaliação da serventia.

É importante seguir algumas condições impostas pela norma DNER-PRO

07/94 (Avaliação Subjetiva da Superfície de Pavimentos - DNER, 1994) ao realizar

esta avaliação, dentre elas:

Cada avaliador deve considerar somente o estado atual da superfície de

rolamento;

A avaliação deve ser feita sob condições climáticas totalmente favoráveis

(sem chuva, nevoeiro, neblina, etc.);

Devem ser ignorados os aspectos do projeto geométrico (largura de faixas,

traçado em planta, rampas, etc.), assim como a resistência à derrapagem do

revestimento;

Devem ser considerados principalmente os buracos, saliências e as

irregularidades transversais e longitudinais da superfície;

Devem ser desprezadas eventuais irregularidades causadas por recalques

de bueiros;

Cada trecho deve ser avaliado independentemente e não deve haver troca

de informações entre os avaliadores;

93

Cada avaliador deve considerar o conforto proporcionado pelo pavimento

caso tivesse que utilizá-lo dirigindo um veículo durante 8 horas ou ao longo

de 800 km.

Após a definição do VSA, é preciso realizar a avaliação objetiva da superfície do

pavimento, identificando os defeitos superficiais assim como a presença da

irregularidade longitudinal, como já explicitado neste trabalho.

A irregularidade longitudinal pode ser quantificada por perfilômetros (Figuras 42

e 43), perfilógrafos (Figura 44) e veículos equipados com acelerômetros (Figura 45) ou

medidores do tipo “resposta”, representado na Figura 46 (ODA et al.,1999).

Figura 42: Perfilômetro CHLOE, utilizado no AASHO Road Test (ODA et al.,1999).

Figura 43: Esquema do Perfilômetro CHLOE (HAAS et al., 1994).

94

Figura 44: Esquema de um perfilógrafo (HAAS et al., 1994).

Figura 45: Car Road Meter, equipado com acelerômetro (ODA et al., 1999).

Figura 46: Maysmeter, medidor de irregularidade longitudinal do tipo resposta (HAAS et al.,

1994).

Tendo, por fim, a avaliação objetiva definida, conclui-se a avaliação funcional

como um todo, sendo necessário agora realizar as avaliações estruturais em questão,

que são de grande importância para a posterior definição das estratégias do SGP.

95

A avaliação estrutural só pode ser feita através de ensaios, sendo estes já

apresentados através de métodos destrutivos ou não destrutivos. O método destrutivo

não é o mais ideal por razões já apresentadas, sendo aconselhável a realização dos

ensaios através de métodos não destrutivos. Neste caso, os equipamentos mais

utilizados são a Viga Benkelman, ilustrada nas Figuras 47 e 48; os defletômetros

vibratórios, representado na Figura 49, utilizando o Dynaflect como exemplo; e os

defletômetros de impacto, usando o Dynatest como exemplo, presentes nas Figuras

50, 51 e 52.

Figura 47: Execução de ensaio com Viga Benkelman.

Figura 48: Esquema da Viga Benkelman (ODA et al., 1999).

96

Figura 49: Esquema do defletômetro vibratório à esquerda e o Dynaflect à direita (ODA et al.,

1999).

Figura 50: Esquema de defletômetro de impacto (FWD) (ODA et al., 1999).

Figura 51: Dynatest como exemplo de defletômetro de impacto (FWD).

97

Geofones

Carga

Bacia de Deflexão

L1

L2

L6 L7

ICR = L1 - L2

ICB = L6 - L7

Figura 52: Ensaio com defletômetro de impacto (FWD) - bacia de deflexão e índices de

curvatura do revestimento e da base (ODA et al., 1999).

A avaliação estrutural não só definirá as camadas da estrutura do pavimento,

como também fornecerá suas características, com o tipo de material e espessura,

além dos diversos componentes adquiridos nos ensaios, podendo avaliar a situação

real e atual, estruturalmente, do pavimento.

5.2.3. LEVANTAMENTO EM CAMPO

O levantamento de defeitos em campo deverá ocorrer em paralelo com os dois

itens já apresentados (Figura 40), visto que este levantamento apresenta informações

que também são de muita importância para a definição das estratégias de intervenção

mais a frente.

Segundo Oda et al. (1999), um bom levantamento de defeitos deve:

Identificar as seções que não necessitam de manutenção imediata;

Identificar as seções que requerem apenas manutenção de rotina;

Identificar e priorizar as seções que requerem manutenção preventiva;

Identificar as seções que necessitam de reabilitação.

Neste caso, a função é reconhecer os defeitos, assim como sua localidade

exata no pavimento, sua severidade, dimensão e provável causa, definindo

posteriormente os tipos de atividades necessárias de manutenção ou reabilitação,

assim como a ordem de prioridade dentre as seções estudadas.

Para que isso seja realizado de maneira padronizada, o Programa norte-

americano de Pesquisa SHRP (Programa Estratégico de Pesquisas Rodoviárias)

elaborou um manual de levantamento de defeitos no campo.

98

Este manual considera 15 tipos de defeitos em pavimentos flexíveis

identificando-os através de fotos e figuras. Apresenta, para cada tipo de defeito, a

descrição, os níveis de severidade (inclusive com fotos) e a forma de quantificação da

extensão (ODA et al., 1999). Neste trabalho, o detalhamento dos defeitos se encontra

no item 3.3., e o mesmo foi baseado neste manual por meio de suas classificações.

Portanto, é importante que nesta etapa sejam utilizadas as planilhas expostas

no Anexo B deste trabalho, que podem ser consideradas como um registro para

levantamento de defeitos, a fim de evitar um levantamento incompleto ou não

padronizado.

Vale ressaltar que é muito importante registrar os defeitos encontrados com

fotos e desenhar croquis para facilitar a localização dos mesmos em comparação com

o trecho em questão. Além disso, é interessante utilizar a denotação proposta por Oda

et al. (1999), que comenta que os defeitos devem ser representados por símbolos

apropriados e identificados por um número correspondente ao tipo de defeito, seguido

pelo nível de severidade (B – Baixa, M – Média, A – Alta). Assim, por exemplo, um

remendo (defeito 7) com severidade média é identificado como “7M”.

Baseado em Oda et al. (1999), um exemplo padrão do croqui e a simbologia

dos defeitos estão presentes no Anexo C.

Após todo o levantamento estar concluído e representado em croquis, deve-se

avaliá-los de modo a combinar os defeitos entre si, o que, segundo Oda et al. (1999),

pode ser calculado a partir de informações detalhadas sobre a extensão e nível de

severidade de diferentes formas de deterioração dos pavimentos.

A condição do pavimento pode ser quantificada, por exemplo, pelo Índice de

Condição do Pavimento (ICP), que varia de 0 a 100, onde 100 representa uma

excelente condição do pavimento. Para o cálculo do ICP pode-se utilizar a equação 4,

cujas variáveis Dij e fij são, respectivamente, extensão e fator de ponderação do

defeito i com o nível de severidade j (ODA et al., 1999):

Equação 4

Como certos defeitos influem mais que outros para a perda de serventia do

pavimento, cada nível de severidade de um determinado defeito deve ser associado a

um fator de ponderação, sendo que os fatores de ponderação também devem ser

99

ajustados para as condições operacionais e ambientais do local onde serão utilizados

(ODA et al., 1999).

Com isso, Oda et al., (1999) adaptou uma planilha do Instituto do Asfalto

(1981), que tem como objetivo quantificar o ICP, levando em consideração todos os

defeitos considerados no Programa de Pesquisa SHRP. A mesma se encontra no

Anexo D.

O ICP também pode auxiliar na escolha dentre as alternativas para seleção da

atividade de M&R mais adequada, como mostra a Figura 53.

Figura 53: Estratégia de manutenção e reabilitação mais indicada com base no valor do ICP

(ODA et al., 1999).

5.2.4. ÍNDICE DE PRIORIDADE (IP)

Após a obtenção de todos os dados necessários, pode-se começar a análise

dos mesmos. É importante começar avaliando a prioridade de cada trecho, verificando

quais seções necessitam de manutenção corretiva, reabilitação ou apenas

manutenções de rotina ou preventiva.

É nesta etapa, portanto, que deve ser aplicado o método de priorização,

analisando todas as informações disponíveis e todos os fatores externos, de modo a

resultar em uma lista de ranking das seções, cada uma com seu devido IP, para que

se possa começar a pensar nas alternativas estratégicas disponíveis.

Os fatores mais influentes na decisão de prioridades são o tráfego, a

importância da via e os defeitos presentes na mesma. Dentre eles, o tráfego deveria

ser prioritário, visto que o mesmo possui contato direto com os problemas encontrados

na seção, podendo agravá-los de forma imprevisível. Ainda assim, é importante

manter um equilíbrio e avaliar com cautela a gravidade da situação de cada fator.

Por exemplo, uma via principal, com grande volume de tráfego, possui trincas

de baixa severidade, enquanto que a outra via estudada é secundária, com baixo fluxo

de tráfego, mas com defeitos de alta severidade. Qual das duas opções deverá

receber a devida prioridade? Essa decisão deve ser feita baseada no perfil das vias e

Reconstrução Recapeamento Manutenção

0 20 40 60 80 100ICP

100

nas características de cada defeito encontrado em ambos os casos, por isso a

necessidade de um equilíbrio na decisão.

5.2.5. ESTRATÉGIA DE M&R

Até então, nota-se que não se pode chegar nesta etapa sem a disponibilização

de todas as informações da malha viária existente a ser estudada, por mais que seja

uma etapa muito importante e decisória.

Aqui se deve começar a elaborar as estratégias de intervenção em uma visão

macro, ou seja, em nível de rede. As árvores de decisão, presentes no Anexo A deste

trabalho, devem ser utilizadas de modo a definir qual a melhor estratégia a ser

adotada considerando alguns fatores ilustrados nas árvores.

Por exemplo, supondo que houvesse a presença de deformação permanente

nas trilhas de roda de uma seção:

A avaliação funcional definiu que havia uma deformação permanente na seção;

A avaliação estrutural verificou a real causa do defeito em questão: Problema

estrutural;

O inventário forneceu o tipo de tráfego presente na seção: Tráfego pesado;

O levantamento de defeitos definiu a dimensão e, consequentemente, a

severidade do defeito da seção: Severidade média.

Tendo todas as informações necessárias, basta utilizar a árvore de decisão

para deformação permanente (Anexo A – Item XI) e verificar que:

Severidade média Tráfego Pesado Recapeamento

Logo, a árvore sugere que seja realizado um recapeamento no local. No

entanto, a decisão na aplicação de recapeamento delgado ou espesso (reforço

estrutural) deverá se basear no resultado encontrado na avaliação estrutural da seção.

No exemplo dado, a avaliação estrutural afirmou haver problemas estruturais

no pavimento da seção em questão, logo a estratégia de intervenção indicada para

esta situação seria um recapeamento espesso – ou reforço estrutural – na seção

estudada.

101

5.2.6. ATIVIDADES DE M&R

Após a definição das estratégias de intervenção necessárias para cada seção,

é preciso decidir como se dará a aplicação das mesmas em nível de projeto, ou seja,

elaborando o detalhamento técnico de cada uma delas.

Neste caso, deverão ser avaliados novamente os materiais existentes no local,

tanto na superfície quanto estruturalmente, de modo a definir a composição dos novos

materiais que serão utilizados ou se é possível reutilizar algum já existente, utilizando

a reciclagem como intervenção.

Além disso, outras informações como métodos construtivos, dimensionamento

de cada atividade e suas abordagens, deverão ser definidas nesta etapa. No caso do

exemplo fornecido no item anterior, deverá ser verificado se o reforço estrutural será

precedido de fresagem ou não, além da sua espessura, composição com o tipo de

mistura asfáltica utilizada, assim como o tipo de ligante, agregado, dentre outros.

5.2.7. IMPLEMENTAÇÃO

Como o próprio nome diz, esta última etapa é responsável pela implementação

de todo o planejamento realizado pelo SGP. É o momento em que tudo começa a ser

realizado na prática.

Para que esta etapa seja realizada de forma plenamente satisfatória é

importante que, até aqui, todas aquelas perguntas – citadas anteriormente na

definição de “histórico de um pavimento” – já tenham sido respondidas. As mesmas

são novamente destacadas a seguir.

Quando construíram este pavimento?

Quais foram os métodos construtivos utilizados e por quê?

Em que época do ano ele foi construído?

Quais materiais foram utilizados e por quê?

Quando foram realizadas as atividades de manutenção?

Foi necessária realizar alguma atividade de reabilitação? Por quê?

Há quanto tempo ele está em uso?

Quais problemas já surgiram neste pavimento e como foram solucionados?

Dentre muitas outras.

Vale ressaltar que é importante fazer parcerias com órgãos maiores e de maior

poder de aquisição, além de montar uma equipe de campo e outra de projeto, para

102

que todo o processo de implementação seja acompanhado de perto, mantendo um

controle tecnológico de qualidade.

5.3. SGP – RIO

Inicialmente, a ideia era desenvolver um Sistema de Gerência de Pavimentos

(SGP) para a cidade do Rio de Janeiro, utilizando os dados dos pavimentos existentes

fornecidos pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Com isso, algumas vias seriam

escolhidas para compor o projeto piloto no estudo deste trabalho, com o intuito de

demonstrar a aplicabilidade do SGP na cidade do Rio de Janeiro.

Infelizmente, ao longo do andamento deste trabalho, após diversas pesquisas e

consultas sem obter sucesso, a Prefeitura do Rio de Janeiro nos confirmou que não

possui os dados referentes aos pavimentos da cidade – ou seja, o histórico do

pavimento, características geométricas da via, condição funcional e estrutural dos

pavimentos, etc – e, sem essas informações, se tornou inviável realizar qualquer

tentativa de desenvolver um SGP na prática.

Levando isso em consideração e pensando em uma solução alternativa, foi

feito o contato com a Prefeitura da Cidade Universitária da UFRJ, localizada na Ilha do

Fundão, com o mesmo intuito de obtenção de dados dos pavimentos existentes,

passando então a realizar o estudo com as vias da Ilha do Fundão.

No entanto, é importante lembrar que este trabalho está sendo elaborado em

plena greve dos funcionários públicos, ou seja, ainda que se tenha conseguido

conversar com um engenheiro desta Prefeitura, o mesmo não era responsável por

essa área e não tinha acesso aos dados dos pavimentos das vias do Fundão.

Portanto, estando o funcionário responsável em greve, não foi possível, novamente,

obter as informações necessárias para o desenvolvimento de um SGP para a cidade

do Rio de Janeiro.

Ainda assim, uma tese de doutorado, recentemente publicada por Nascimento

(2015), utilizou as vias existentes da Ilha do Fundão como área para seu estudo,

apresentando alguns dados que seriam de interessante aplicação para este trabalho.

A devida tese aborda sobre a implementação e a validação do modelo de

danos contínuos por viscoelasticidade para mistura de asfalto e análise de pavimento

no Brasil (NASCIMENTO, 2015). Com isso, em parceira com o Centro de Pesquisas e

103

Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES) localizado na UFRJ,

sua tese possui alguns dados que serão apresentados a seguir.

Porém, vale ressaltar que o estudo realizado por Nascimento (2015) não teve a

necessidade de incluir informações estruturais dos pavimentos estudados, tornando os

referentes dados incompletos e, consequentemente, dificultando o desenvolvimento e

implementação de um SGP.

Logo, serão apresentados a seguir os dados coletados, que seriam aplicáveis

a este trabalho.

5.3.1. INVENTÁRIO DA REDE VIÁRIA URBANA

Já ciente do contexto, apenas alguns dados foram obtidos com relação à malha

viária urbana da Ilha do Fundão. Todos os dados apresentados a seguir são baseados

em Nascimento (2015).

Definido como “Projeto Fundão”, o projeto estudado na tese de Nascimento

(2015) tem aproximadamente 11 km de seções experimentais, compostas por

diferentes misturas asfálticas (aplicadas na camada de revestimento asfáltico), que

foram aplicadas entre 2005 e 2011. Durante este tempo, foram construídas diferentes

soluções para os pavimentos. Vale ressaltar que o principal objetivo do projeto Fundão

era testar diferentes asfaltos (ligantes asfálticos) desenvolvidos pelo CENPES.

Quanto às misturas asfálticas usadas nas seções experimentais, as mesmas se

classificam segundo o tamanho máximo nominal (Nominal Maximum Aggregate

Sized), apresentando NMAS de 19.1 mm, 12.5 mm e 9.5 mm, projetadas segundo as

especificações da AASHTO M 323 (NASCIMENTO, 2015).

Na Figura 54 podem-se observar as seções experimentais no mapa do campus

da UFRJ.

104

Figura 54: Mapa da Ilha do Fundão ilustrando as seções experimentais (adaptada de

NASCIMENTO, 2015).

As seções possuem extensão de 60 a 200 metros e o método de reabilitação

utilizado em todo este projeto, para casos mais expressivos, foi o recapeamento.

Com relação às outras soluções de revestimento asfáltico, muitas seções que

estão submetidas a níveis de tráfego baixo e médio foram reabilitadas usando várias

técnicas de tratamentos superficiais, como capa selante, lama asfáltica e

micropolimento (NASCIMENTO, 2015).

Além disso, após a execução das camadas das seções experimentais, eles

avaliaram o desempenho do pavimento de acordo com o método de porcentagem de

área trincada. Vale ressaltar que todas as seções foram construídas como parte da

reabilitação de um pavimento já existente, porém o pavimento existente em si não foi

avaliado de forma funcional e nem estruturalmente.

5.3.1.1. SITUAÇÃO INICIAL DOS PAVIMENTOS

a) Dados apresentados por Nascimento (2015)

Para se avaliar a situação dos pavimentos existentes antes de construir as

seções, uma pesquisa de condição de pavimento inicial foi conduzida para caracterizar

o comportamento estrutural bem como a utilidade dos mesmos no “Projeto Fundão”.

Para isso, três investigações foram realizadas como parte da pesquisa e implicou-se

105

em testes de deflexão não destrutivos, poços de inspeção e radar de penetração de

solo (NASCIMENTO, 2015).

Como o equipamento Falling Weight Deflectometer (FWD) não estava

disponível no devido período, eles utilizaram, inicialmente, uma Viga Benkelman

automatizada para realizar as medidas das deflexões, de acordo com a norma DNIT

133/2010-ME. Além disso, cravaram-se três poços de inspeção de modo a investigar a

espessura da camada do pavimento, identificar os tipos materiais e extrair materiais de

camadas diferentes para posterior caracterização em laboratório.

Considerando que só três poços de inspeção não seria suficiente para

caracterizar todos os pavimentos existentes, e considerando também a natureza

destrutiva dos poços, uma pesquisa utilizando um GPR (Ground Penetrating Radar),

conhecido como radar de penetração no solo, foi conduzida para determinar a

espessura de camada do pavimento de uma maneira extensa e não destrutiva

(NASCIMENTO, 2015). Apesar de algumas características estruturais terem sido

avaliadas, apenas foi publicado o resultado das deflexões máximas dos pavimentos

existentes. As mesmas foram medidas de 20 em 20 metros e apenas o resultado da

faixa de rolamento central está explicitado. O gráfico encontra-se ilustrado na Figura

55.

Figura 55: Deflexões máximas da faixa central dos pavimentos existentes, medidas pela Viga

Benkelman (NASCIMENTO, 2015).

Embora o método da Viga Benkelman não seja o mais adequado para a

análise mecanicista do pavimento, os dados mostrados na Figura 55 permite observar

que as condições estruturais do local do pavimento variam em diferentes pontos. Por

exemplo, entre os pontos 125 e 200, os valores de deflexão máxima são,

aproximadamente, 30 mm x 0,01 mm, o que representa uma condição estrutural muito

106

boa. Por outro lado, entre os pontos 60 e 120, os valores são, aproximadamente, 100

mm x 0,01 mm, representando um pavimento enfraquecido quanto ao seu

comportamento estrutural. Portanto, a solução de um mesmo recapeamento em

ambos os trechos se comportaria de maneira diferente (NASCIMENTO, 2015).

A partir disso, Nascimento (2015) assumiu que todos os segmentos

homogêneos dos pavimentos possuíam a mesma estrutura para, então, definir as

espessuras de cada camada. Na utilização de um SGP, essas suposições não podem

existir, visto que impossibilitaria a ferramenta de trazer uma solução real e correta para

o pavimento estudado. É necessária a utilização de dados realistas e condizentes com

a situação do pavimento.

Após a definição das espessuras, Nascimento (2015) avaliou e classificou as

condições dos pavimentos, levando em consideração dois parâmetros – IRI

(International Roughness Index ou Índice de Irregularidade Internacional) e IGG (Índice

de Gravidade Global) – e chegou a conclusão de que a maioria deles estão em

condições ruins ou péssimas, como mostra a Figura 56.

Figura 56: Classificação dos Pavimentos por meio do IRI e do IGG (NASCIMENTO, 2015).

b) Obtenção dos dados ausentes

Por mais que se tenha conseguido todos os dados anteriormente

apresentados, muitos foram obtidos baseados em suposições, enquanto outros

simplesmente não existem.

Caso houvesse interesse, de fato, em implementar um SGP para a cidade do

Rio de Janeiro, o que deveria ser feito nesta situação é, infelizmente, abrir trincheiras

nos pavimentos a serem estudados para que se possa ter conhecimento da estrutura

107

do mesmo atualmente. Assim sendo, seria necessário preencher uma planilha para

cada seção, sendo a mesma utilizada como base para a elaboração do inventário da

rede viária urbana. A planilha segue ilustrada na Figura 57.

Figura 57: Planilha para cada seção, utilizada no preenchimento do inventário da rede viária

urbana (FERNANDES JR, 2005).

Como não houve nenhum tipo de registro quando os pavimentos foram

construídos, não há como saber o que se tem sob o revestimento a não ser por meio

de poços de inspeção ou trincheiras, e é imprescindível a obtenção destas

informações para a implantação de um SGP.

Como é inviável abrir trincheiras ao longo de todos os pavimentos da cidade,

seria interessante realizar esta coleta de informações por regiões. Por exemplo,

poderia ser aproveitada a situação atual da região da Zona Sul do Rio de Janeiro, na

presença de diversas obras por parte das concessionárias, tornando-se possível

realizar a coleta de amostras ou verificar a estrutura dos pavimentos.

5.3.1.2. VOLUME DE TRÁFEGO

a) Dados apresentados

Infelizmente, a Prefeitura da Cidade Universitária não disponibilizou os dados

completos do fluxo de tráfego de todas as vias da Ilha do Fundão, foi fornecida apenas

a contagem de veículos de uma avenida, a Avenida Horácio Macedo – destacada na

Figura 58, para a utilização neste estudo.

108

Figura 58: Localização da Av. Horácio Macedo em azul.

Além disso, Nascimento (2015) apresenta a distribuição horária do tráfego no

Fundão, ilustrando três horas de pico: às 8hs da manhã, 12hs e às 17hs da tarde

(Figura 59). Como a Ilha do Fundão é praticamente universitária e industrial, a

movimentação diminui expressivamente nos horários da noite, de 20hs até às 5hs da

manhã.

Figura 59: Distribuição horária do tráfego da Ilha do Fundão (NASCIMENTO, 2015).

Levando a Figura 59 em consideração, e sabendo que a contagem da Avenida

Horácio Macedo é por hora e referente ao ano de 2013, incluindo os meses de janeiro

109

a outubro – infelizmente, não foi possível adquirir os dados de novembro e dezembro –

pode-se obter o volume de tráfego na pior situação, que seria nos horários de pico.

As contagens obtidas na Avenida Horácio Macedo encontram-se a seguir,

separadas por mês e por horas de pico:

Janeiro: 284.282 veículos

8hs: 34.994 veículos

12hs: 17.145 veículos

17hs: 18.325 veículos

Fevereiro: 241.459 veículos

8hs: 29.666 veículos

12hs: 15.677 veículos

17hs: 14.195 veículos

Março: 294.969 veículos

8hs: 36.398 veículos

12hs: 16.142 veículos

17hs: 19.812 veículos

Abril: 277.433 veículos

8hs: 35.050 veículos

12hs: 16.454 veículos

17hs: 17.266 veículos

Maio: 295.777 veículos

8hs: 36.002 veículos

12hs: 17.797 veículos

17hs: 18.780 veículos

Junho: 323.417 veículos

8hs: 37.596 veículos

12hs: 21.750 veículos

17hs: 17.402 veículos

Julho: 317.738 veículos

8hs: 33.817 veículos

12hs: 22.895 veículos

17hs: 21.380 veículos

Agosto: 338.118 veículos

8hs: 36.922 veículos

110

12hs: 21.640 veículos

17hs: 23.773 veículos

Setembro: 349.222 veículos

8hs: 36.541 veículos

12hs: 22.407 veículos

17hs: 24.495 veículos

Outubro: 341.580 veículos

8hs: 37.713 veículos

12hs: 22.434 veículos

17hs: 22.479 veículos

Nota-se que, dentre os meses apresentados, aquele que possuiu maior número

de veículos em circulação é agosto. Além disso, avaliando as contagens horárias das

horas de pico (8hs da manhã, 12hs e 17hs da tarde), nota-se que o horário com maior

volume de veículos em todos os meses é sempre às 8hs da manhã, sendo, por isso,

considerada a pior situação.

Outro ponto importante observado por Nascimento (2015) é que o tráfego que

frequenta a Ilha do Fundão é composto por ônibus, caminhões leves e médios, além

dos veículos de passeio. Além disso, a média local do tráfego diário de caminhões era

de 1.500 caminhões na época do início do projeto (2005), o que seria lógico concluir é

que atualmente esse valor teria uma média bem maior, levando em consideração o

grande crescimento urbano da Ilha do Fundão desde então. No entanto, isso só pode

ser comprovado a partir de novas contagens.

b) Obtenção dos dados ausentes

A comparação dos dados anteriores de volume de tráfego não é a ideal, serve

apenas para demonstração de como se deve considerá-los e avaliá-los.

Basicamente, os dados de contagem que foram obtidos sobre a Avenida

Horácio Macedo deveria existir para todas as seções estudadas do projeto, assim

como o gráfico da Figura 59 deveria ser elaborado para cada seção em questão. É

importante entender que, por exemplo, em uma seção pode haver um fluxo maior de

caminhões do que em outra, além de haver vias em que se passa ônibus com

frequência, enquanto em outras não há sequer ponto de ônibus.

Essas pequenas diferenças fazem com que seja necessário um estudo

detalhado de contagens e que cada seção necessite de sua própria caracterização.

111

Seria preciso um número bem maior de dados com relação ao tráfego do que o que foi

obtido para este trabalho.

5.3.1.3. AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DOS PAVIMENTOS

Não foram encontradas informações com relação às condições dos pavimentos

baseadas no método de cálculo do ICP ou pelo preenchimento da planilha presente no

Anexo D.

Houve uma avaliação feita por Nascimento (2015) na qual ele conclui que a

maioria das vias da Ilha do Fundão se encontra em estado de preservação a nível ruim

ou péssimo (Figura 56), porém esta conclusão foi baseada em dados incompletos, não

havendo o levantamento de defeitos necessário para que a mesma fosse considerada

válida.

Neste caso, seria necessário obter as informações completas de um

levantamento para que a implementação do SGP fosse condizente. Após desenvolver

todo o cálculo necessário para encontrar o valor do ICP, basta aplicá-lo na

classificação por ICP (Figura 53) e verificar a sugestão de M&R prevista, preenchendo

uma planilha similar à ilustrada na Figura 60.

Figura 60: Planilha para avaliação da condição do pavimento (FERNANDES JR, 2005).

5.3.2. AVALIAÇÃO DOS PAVIMENTOS

Infelizmente, não foi possível conseguir nenhum tipo de dado relacionado à

avaliação dos pavimentos existentes na Ilha do Fundão, tanto para avaliação

funcional, quanto a avaliação estrutural. Na verdade, não é realizado nenhum tipo de

avaliação estrutural normalmente na Ilha do Fundão.

As avaliações feitas no “Projeto Fundão” de Nascimento (2015) com a Viga

Benkelman, os ensaios destrutivos, dentre outros equipamentos, foram realizados com

o intuito de conseguir informações suficientes apenas para se testar o ligante em

questão. O foco da pesquisa era diferente, visto que não era ligado a nenhuma

questão estrutural do pavimento. Por conta disso, os dados estão incompletos e não

podem ser utilizados neste trabalho.

ICP: Aceitável: M & R Prevista:

SAAE Calçada: Drenagem:

AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DO PAVIMENTO

112

Ainda assim, uma conclusão interessante de Nascimento (2015), a partir das

avaliações funcionais efetuadas, é que o principal problema encontrado nos

pavimentos da Ilha do Fundão são trincas por fadiga, estando as mesmas presentes

em diversos níveis de severidade, incluindo severidade alta.

Vale ressaltar que isso não exclui o fato de existir outros diversos tipos de

defeitos nos pavimentos em questão, apenas afirma que Nascimento (2015) analisou

os mesmos com foco nos problemas por fadiga.

No entanto, seria ideal a realização das avaliações funcional e estrutural de

acordo com as devidas normas, de modo a obter todas as análises de forma verídica

e, assim, ter resultados realistas que condizem com a situação dos pavimentos

estudados.

5.3.3. TREINAMENTO PARA O LEVANTAMENTO DA CONDIÇÃO

DOS PAVIMENTOS

5.3.3.1. SITUAÇÃO ATUAL

Os dados obtidos com relação ao levantamento de defeitos da malha viária da

Ilha do Fundão foram poucos e feitos por alunos graduandos da Engenharia Civil da

UFRJ (LEAL et al., 2013). Três alunos que cursaram a matéria de “Pavimentação B”

entregaram como trabalho final o levantamento detalhado de defeitos de três vias da

Ilha do Fundão, sendo estas (Figura 61):

Avenida Pedro Calmon (PC);

Rua Maria Paulina de Souza (MPS);

Rua Maria Dolores Lins de Andrade (MDLA).

113

Figura 61: Mapa da Ilha do Fundão ilustrando, em azul, as vias em que foram feitas o

Levantamento de Defeitos.

O levantamento foi baseado na metodologia apresentada no item 5.2.3.,

utilizando as planilhas do Anexo B e a simbologia do Anexo C, porém foi feito em

trechos de apenas 200 metros em cada via. Ainda assim, o levantamento foi muito

bem detalhado, com representações, de 15 em 15 metros, da localização de cada tipo

de defeito com a sua devida severidade, em croquis feitos por escala e com anexo de

fotos.

Mais à frente seguem dois exemplos do referido levantamento, referentes às

vias Avenida Pedro Calmon (Figura 62) e Rua Maria Dolores Lins de Andrade (Figura

63).

No croqui da Figura 62, os alunos fizeram questão de mostrar o problema de

drenagem existente no local. Por mais que o sistema de drenagem não seja

considerado especificamente um defeito, é uma das causas mais comuns no

agravamento do mesmo, visto que auxilia ainda mais a presença de água no local e a

infiltração da mesma na estrutura do pavimento.

Além disso, foram mapeadas algumas panelas de baixa severidade – 8B; como

também um pequeno remendo bem executado e uma grande área de trincas por

fadiga, consideradas de alta severidade – 1A. Muito provavelmente as trincas por

fadiga chegaram nesta situação de alto grau por conta do sistema de drenagem

inadequado presente no local.

114

Figura 62: Croqui de um trecho de 15 metros da Avenida Pedro Calmon, ilustrando o

levantamento dos defeitos juntamente com sua severidade, segundo simbologia do Anexo C

(LEAL et al., 2013).

115

Figura 63: Croqui de um trecho de 15 metros da Rua Maria Dolores Lins de Andrade, ilustrando

o levantamento dos defeitos juntamente com sua severidade, segundo simbologia do Anexo C

(LEAL et al., 2013).

116

Já no caso da Figura 63, A Rua Maria Dolores Lins de Andrade possui três

defeitos ao longo do trecho de 15 metros explicitado no croqui: trincas por fadiga,

desgaste e remendo. Três remendos diferentes foram mapeados, sendo dois

considerados de média severidade (7M) e um considerado de alta severidade (7A).

Pode-se notar que o remendo caracterizado com alta severidade possui uma

geometria irregular, além de ser muito grande e ter a presença de trincas por fadiga, o

que mostra que, provavelmente, não era a melhor solução a ser aplicada. As trincas

indicam que seu material não é de boa qualidade e que o problema que existia

anteriormente permanece acontecendo, mesmo sob o novo revestimento.

Além disso, há trincas por fadiga de severidade média (1M) no revestimento do

pavimento original, além de um desgaste em fase inicial. O sistema de drenagem do

local se encontra sem manutenção, visto que os bueiros encontram-se abertos, sendo

possível passar qualquer objeto grande e obstruir a passagem de água, acumulando-a

na pista.

Após a demonstração desses dois exemplos, será apresentada a seguir, de

uma forma geral, a situação do trecho de 200 metros estudado em cada via:

Avenida Pedro Calmon: Esta via possui um sistema de drenagem inadequado,

visto que em todo o trecho estudado foi encontrada água acumulada em seus

bordos. Há também a presença de panelas de baixa severidade e muitas

trincas transversais e longitudinais, porém de baixa e média severidade, sendo

necessário realizar somente a selagem das mesmas. Além disso, dos 7

remendos identificados, 6 foram caracterizados com severidade média ou alta

– por possuírem trincas transversais e por fadiga, além de panelas –

mostrando a necessidade de uma manutenção. Fora isso, há muito desgaste

em toda sua extensão e predominância de trincas por fadiga de alta severidade

ao longo de quase todo o trecho, deixando claro que o pavimento não passa

por uma boa manutenção há bastante tempo.

Rua Maria Paulina de Souza: Neste caso, não há muita variedade de defeitos

presentes no trecho estudado, com apenas uma panela de baixa severidade e

uma pequena área com agregados polidos, porém a presença de trincas por

fadiga é predominante. As mesmas podem ser encontradas ao longo de todo o

trecho, caracterizadas com severidade baixa em sua maioria, porém com

extensões consideráveis – acima de 10 metros. Além disso, foi mapeado um

desnível de pista com relação ao acostamento de 14 metros de extensão, já

em estado deteriorado, necessitando de manutenção.

117

Rua Maria Dolores Lins de Andrade: Dentre as três vias estudadas, esta pode

ser considerada, com base no levantamento dos defeitos, a que está em piores

condições. Nos primeiros 93 metros do trecho, foram mapeados 16 remendos

mal executados – totalmente irregulares e metade com grandes áreas – sendo

8 deles considerados de alta severidade, 6 de severidade média e 2 de baixa

severidade. Enquanto isso, a área restante estava completamente desgastada,

com algumas pequenas trincas por fadiga, considerando então como desgaste

de alta severidade. A partir dos 94 metros, o pavimento original encontrava-se

menos desgastado, no entanto ainda com presença de muitos remendos – 20

remendos irregulares, estando 15 com severidade média e 5 com severidade

alta – além de pequenas panelas e trincas por fadiga de severidade média.

Neste caso, a via deveria estar há anos sem atividades de manutenção,

chegando a um estado de deterioração preocupante.

5.3.3.2. SITUAÇÃO IDEAL

Sabe-se que estes dados foram obtidos de um trabalho acadêmico, não sendo

considerado ideal, visto que o levantamento não foi realizado por pessoas capacitadas

na área. No entanto demonstra de modo suficiente o estado em que se encontram

atualmente as vias da Ilha do Fundão.

Isso acontece porque esta etapa, relacionada ao levantamento detalhado dos

defeitos, não é realizada, de nenhuma maneira e em nenhum momento, na Ilha do

Fundão. Ela é desconsiderada no método utilizado por eles, não sendo possível,

assim, mapear todos os defeitos encontrados ao longo de toda sua malha viária,

principalmente aqueles que estão em fase inicial e que, com um tratamento

preventivo, evitaria problemas inconvenientes futuramente.

Com isso em mente, propõe-se como solução que seja oferecido um devido

treinamento para os funcionários responsáveis por essa coleta de dados. Os mesmos

poderiam estudar os defeitos existentes considerados por SHRP (1993) e aprender a

como caracterizá-los, medi-los e registrá-los adequadamente, como já explicado e

indicado no Anexo B deste trabalho.

Não é preciso seguir exatamente o modelo sugerido no Anexo B, podendo o

responsável elaborar sua própria planilha. O importante é que todos os fatores

presentes na planilha do Anexo B sejam considerados no levantamento de defeitos, de

modo a mantê-lo completo e padronizado para cada seção considerada no estudo,

118

tendo, assim, todas as informações necessárias da malha viária total da Ilha do

Fundão.

5.3.4. LEVANTAMENTO DAS ATIVIDADES ADOTADAS NOS

PROGRAMAS DE MANUTENÇÃO E REABILITAÇÃO DOS

PAVIMENTOS

Como já explicado, as atividades de Manutenção e Reabilitação (M&R) dos

pavimentos podem ser divididas em manutenção preventiva, manutenção corretiva,

reconstrução e reforço.

5.3.4.1. SITUAÇÃO ATUAL

Dentre elas, as atividades adotadas no Programa de M&R dos Pavimentos da

Ilha do Fundão, em sua maioria, não incluem a manutenção preventiva. Apesar de ter

sido explicado por Nascimento (2015) que, em seu projeto, houve atividades de

manutenção preventiva nas vias de tráfego leve – como lama asfáltica, capas selantes

e micropolimento – infelizmente, esta atividade não é periodicamente aplicada. Este

caso foi pontual e realizado especialmente para o projeto em questão.

Infelizmente, as principais atividades realizadas na Ilha do Fundão e,

provavelmente, na cidade do Rio de Janeiro, são, em sua maioria, atividades de

manutenção corretiva. Quando são mapeados os defeitos, os responsáveis dão a

preferência para aqueles que necessitam de manutenção corretiva, deixando de lado

aqueles que precisariam apenas de uma atividade de prevenção. Não há a

preocupação de manter o desempenho de um pavimento, apenas de consertá-lo

quando extremamente necessário.

Um caso típico que se vê todo dia, como os frequentadores da Ilha do Fundão,

é o surgimento de uma panela no pavimento. A panela possui todo um processo até

que, de fato, ela apareça no revestimento, ou seja, é preciso tempo e alguns fatores

externos – existência de trincas, fluxo de tráfego e chuva – para que isso aconteça.

Ainda assim, os responsáveis pela manutenção do pavimento preferem esperar até

que a panela seja formada e cresça até uma severidade considerável para que, então,

seja realizado algum tipo de intervenção – normalmente são remendos, conhecidos

comumente como “tapa-buracos”.

Por que não se pode evitar que isso aconteça? Não só seria mais vantajoso,

como também mais acessível financeiramente. A manutenção corretiva, que muitas

119

vezes, dependendo do estado de deterioração do pavimento, pode se tornar uma

atividade de reforço estrutural ou reconstrução, sairia bem mais caro.

Além disso, como na Ilha do Fundão não existe nenhum tipo de avaliação

estrutural dos pavimentos, não há como saber quando a causa do defeito é estrutural.

Com isso, são propostas atividades de intervenção inadequadas e superficiais para o

defeito estrutural em questão, agravando ainda mais a situação do pavimento, fazendo

com que, assim, se tenha custos desnecessários.

Como já apresentado, a reconstrução ou o reforço estrutural (recapeamento

espesso) são atividades de intervenção para defeitos com causas estruturais e, por

isso, são pouco utilizadas na Ilha do Fundão, justamente por não haver a necessidade

das mesmas perante a avaliação incompleta deles.

Na verdade, não só existe essa necessidade, como também, para certos

trechos, provavelmente seria a única solução. O próprio trecho aqui explicitado da Rua

Maria Dolores Lins de Andrade está há tanto tempo sem passar por uma manutenção

adequada que, provavelmente, sua causa já deve ser estrutural. Apenas realizando

uma avaliação estrutural no local seria possível saber, de fato, suas reais condições.

5.3.4.2. SITUAÇÃO IDEAL

A princípio, em uma situação ideal, o responsável pela condição dos

pavimentos teria todos os dados necessários atualizados: o levantamento de defeitos

de todas as vias que compõem a malha viária da Ilha do Fundão, as avaliações

funcional e estrutural de cada seção, assim como o ICP e a atividade de M&R prevista.

Além disso, haveria a realização de atividades preventivas periodicamente,

como capas selantes e lama asfáltica, impermeabilizando o pavimento de modo a

evitar a penetração da água da chuva pelas trincas existentes. Assim, também seria

evitado o agravamento de defeitos já presentes no revestimento e que deverão

receber manutenção corretiva, como a aplicação de reparos seletivos de qualidade.

Também vale ressaltar que é importante haver a reabilitação dos pavimentos,

que pode ser realizada através de recapeamentos, precedidos ou não por fresagem.

Porém, caso seja necessária a renovação da estrutura do pavimento com remoção da

estrutura danificada, deve-se aplicar como solução a reconstrução do mesmo.

120

5.3.5. ÍNDICE DE PRIORIDADE

5.3.5.1. SITUAÇÃO ATUAL

Como já dito anteriormente, a Ilha do Fundão não realiza nenhum tipo de

avaliação estrutural na sua malha viária, visto que eles já possuem uma cultura de

considerar como prioridade os defeitos que necessitam de manutenção corretiva,

independente das causas que estariam relacionadas a eles.

Eles não realizam nenhum procedimento de priorização com relação aos

defeitos, à importância da via ou ao tráfego existente, apenas planejam suas

atividades de intervenção de acordo com a demanda de manutenção corretiva que

veem ser necessária.

5.3.5.2. SITUAÇÃO IDEAL

Seria necessário haver um estudo de cada via, considerando todos os fatores

já mencionados – tráfego, importância da via e os defeitos existentes. Dentre eles,

para o Rio de Janeiro e, consequentemente, para a Ilha do Fundão, é aconselhável

que o tráfego possua maior prioridade.

Também é importante ressaltar que, para a implementação do SGP na cidade

do Rio de Janeiro, estes três fatores não bastariam no estudo. Seria essencial

considerar as avaliações funcional e estrutural, e também o levantamento de defeitos,

como já explicados anteriormente neste trabalho. No entanto, um fator que ainda não

foi mencionado, porém deve ser levado em consideração na priorização, é uma

avaliação da vida restante do pavimento.

A avaliação da vida restante do pavimento visa estimar o período de tempo que

o pavimento estudado ainda terá futuramente, sendo esta avaliação determinada a

partir da retroanálise.

Quando se tiver todos estes resultados avaliados e considerados, é possível

estimar o IP e elaborar o devido ranking das seções, obtendo uma priorização

adequada para a cidade do Rio de Janeiro.

5.3.6. ESTRATÉGIA DE MANUTENÇÃO E REABILITAÇÃO

Como já explicado, é nesta etapa que são usadas as árvores de decisão,

presentes no Anexo A deste trabalho, mantendo a decisão em nível de rede.

121

Levando em consideração os dados coletados, serão utilizadas como exemplo

de aplicação as trincas por fadiga da Figura 62, visto que foi um defeito encontrado

tanto no levantamento feito por Nascimento (2015), como também no levantamento

realizado pelos alunos graduandos da UFRJ.

A partir dos dados coletados, tem-se:

A avaliação funcional de Nascimento (2015) definiu que havia trincas por fadiga

ao longo das seções;

As trincas por fadiga escolhidas para análise encontram-se na Avenida Pedro

Calmon;

Não foi realizada uma avaliação estrutural no local;

Como esta avenida se localiza na entrada da Ponte do Saber, existe tráfego de

ônibus: tráfego pesado;

O levantamento de defeitos definiu a dimensão e, consequentemente, a

severidade do defeito da seção: severidade alta, com extensão de 15 metros.

Tendo todas as informações necessárias e sabendo que a extensão é

considerada pequena (é menor do que 30% da área da via), basta utilizar a árvore de

decisão para trincas por fadiga (Anexo A – Item I) e verificar que:

Severidade alta Extensão Pequena Tráfego Pesado Remendo +

Drenagem

Logo, a árvore sugere que seja realizado um remendo no local, atentando para

um sistema de drenagem adequado. No entanto, a decisão na necessidade do

remendo seria confirmada se houvesse os dados estruturais que seriam encontrados

na avaliação estrutural da seção.

Por exemplo, caso fosse definido pela avaliação estrutural que o surgimento

das trincas se deu por problemas contidos na estrutura do pavimento, provavelmente a

atividade de M&R recomendada seria alterada para Reconstrução + Drenagem, visto

que seria necessário recompor a estrutura do pavimento.

Portanto, nota-se que todas as informações influenciam de alguma forma na

decisão da estratégia que será abordada, sendo de extrema importância obter todos

os dados para que seja desenvolvido e implementado um SGP o mais próximo

possível da realidade.

122

6. CONCLUSÃO

Inicialmente, a intenção era desenvolver um Sistema de Gerência de

Pavimentos (SGP) para a cidade do Rio de Janeiro, mas isso se tornou inviável a

partir do momento em que não foi possível adquirir os dados necessários.

Era preciso a obtenção de todo o inventário, ou seja, dos históricos dos

pavimentos para usar como base de dados, fazendo com que se iniciasse todo o

processo de estudo e desenvolvimento do SGP. É imprescindível que se tome

conhecimento do que já existe atualmente, pois só assim é possível definir as

estratégias de intervenção a fim de buscar melhorias.

Na Ilha do Fundão também não há esse tipo de registro de dados, visto que

são avaliações que demandam tempo e custo, o que, muitas vezes, é razão de

desmotivação, tornando-se a principal dificuldade para que sejam realizadas.

Logo, por não haver nenhuma maneira de obtenção das informações

completas dos pavimentos existentes no Rio de Janeiro, decidiu-se por apenas propor

um passo a passo de uma das formas de implementação do SGP. Neste trabalho foi

detalhado tudo o que deve ser considerado para que a implementação ocorra de

forma satisfatória, descrevendo e destrinchando fatores essenciais para sua aplicação.

Espera-se que futuramente seja desenvolvido um Sistema de Gerência de

Pavimentos para a cidade do Rio de Janeiro, em parceria com a Universidade, e que

esse trabalho possa auxiliar os responsáveis a atingirem seus objetivos.

Uma sugestão para trabalhos futuros é a parceria com a Prefeitura da Cidade

do Rio de Janeiro na montagem de um banco de dados, a partir da coleta de

informações dos pavimentos de trechos em que estão sendo executadas obras de

infraestrutura pelas concessionárias de serviços públicos. Além disso, recomenda-se a

seleção de uma área piloto, onde poderia ser realizado o estudo de todas as etapas

necessárias para a implementação de um SGP.

123

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SOUZA, M. L. de. Pavimentação rodoviária. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e

Científicos Ed., 1980.

THOMPSON, P. D.; NEUMANN, L. A.; MIETTINEN, M.; TALVITIE, A. A micro-

computer Markov dynamic programming system for pavement management in

Finland – Second North American Conference on Managing Pavements. Royal

York Hotel, Toronto, Canadá, 1987.

UFPR. Texto complementar das notas de aula da Disciplina Transportes B,

Pavimentação. Departamento de Transportes do Setor de Tecnologia da

Universidade Federal do Paraná – UFPR. Disponível em:

http://www.dtt.ufpr.br/Pavimentacao/Notas/TextoComplementar.pdf

VISCONTI, T. S. O sistema gerencial de pavimentos do DNER. Departamento

Nacional de Estradas e Rodagem, Instituto de Pesquisas Rodoviárias, Divisão de

Apoio Tecnológico, Brasil, 84 p, 2000.

WANG, K. C. P.; ZANIEWSKI, J.; DELTON, J. Analysis of Arizona department of

transportation’s new pavement network optimization system. Transportation

Research Record (TRB), National Research Council, Washington D. C., n 1455,

pp. 91-100, 1992.

127

ANEXO A – Árvores de Decisão

I. Trincas por Fadiga do Revestimento

Tráfego Atividade de M&R Severidade

Leve

Médio

Pesado

Leve

Capa Selante

Capa Selante

Médio Capa Selante

Pesado Lama Asfáltica

Baixa

Grande

Não fazer nada

Não fazer nada Pequena

Extensão

Leve

Médio

Pesado

Leve

Médio

Pesado

Não fazer nada

Capa Selante

Remendo

Capa Selante

Lama Asfáltica

Tratamento Superficial

Média

Pequena

Grande

Leve

Médio

Pesado

Leve

Médio

Pesado

Capa Selante

Remendo

Remendo + Drenagem

Tratamento Superficial

Recapeamento

Reconstrução + Drenagem

Alta

Pequena

Grande

128

II. Trincas em Blocos

III. Trincas Laterais

IV. Trincas Longitudinais

Atividade de M&R Severidade Extensão

Baixa

Não fazer nada

Capa Selante

Pequena

Grande

Média

Capa Selante

Selante + Lama Asfáltica

Pequena

Grande

Alta

Selante + Tratamento Superf.

Reciclagem ou Recapeamento

Pequena

Grande

Atividade de M&R Severidade

Baixa Não fazer nada

Média Selante

Alta Remendo + Drenagem

Atividade de M&R Severidade

Baixa Não fazer nada

Média Selante

Alta Remendo

129

V. Trincas por Reflexão

VI. Trincas Transversais

VII. Remendos

VIII. Panelas

Tráfego Atividade de M&R Severidade

Baixa

Leve

Médio

Pesado

Não fazer nada

Não fazer nada

Capa Selante

Média

Alta

Leve

Médio

Pesado

Leve

Médio

Pesado

Capa Selante

Selante + Lama Asfáltica

Selante + Tratamento Superf.

Selante + Tratamento Superf.

Remendo + Lama Asfáltica

Recapeamento

Atividade de M&R Severidade

Baixa

Média

Alta

Não fazer nada

Selante

Remendo

Atividade de M&R Severidade

Baixa Não fazer nada

Média Selante + Tratamento Superf.

Alta Remendo

Atividade de M&R Severidade

Baixa buracos Preenchimento de

Média Remendo

Alta Remendo + Drenagem

130

IX. Corrugação

X. Exsudação

XI. Deformação Permanente nas Trilhas de Roda

Atividade de M&R Severidade

Baixa Não fazer nada

Média Reciclagem ou Recapeamento

Alta Reconstrução

Atividade de M&R Severidade

Baixa Não fazer nada

Média Aplicação de Areia Quente

Alta Tratamento Superficial

Tráfego Atividade de M&R Severidade

Baixa

Média

Alta

Leve

Médio

Leve

Médio

Pesado

Leve

Médio

Pesado

Não fazer nada

Não fazer nada

Regularização

Regularização

Reciclagem

Recapeamento

Reciclagem

Recapeamento

Pesado Reconstrução

131

XII. Agregados Polidos

XIII. Desgaste

Tráfego Atividade de M&R Severidade

Baixa

Média

Alta

Leve

Médio

Leve

Médio

Pesado

Leve

Médio

Pesado

Não fazer nada

Não fazer nada

Lama Asfáltica

Lama Asfáltica

Reciclagem

Tratamento Superficial

Reciclagem

Tratamento Superficial

Pesado Recapeamento

Tráfego Atividade de M&R Severidade

Baixa

Média

Alta

Leve

Médio

Pesado

Leve

Médio

Pesado

Leve

Médio

Pesado

Não fazer nada

Não fazer nada

Lama Asfáltica

Lama Asfáltica

Reciclagem

Tratamento Superficial

Reciclagem

Tratamento Superficial

Recapeamento

132

ANEXO B – Planilhas para Levantamento de Campo

PLANILHA 1

LEVANTAMENTO DE DEFEITOS NO CAMPO

IDENTIFICAÇÃO DA SEÇÃO: ________________________________

DATA DO LEVANTAMENTO (DIA/MÊS/ANO): __ __ / __ __ / __ __

TÉCNICOS: ________________,_________________,_________________

NÍVEL DE SEVERIDADE

TIPO DE DEFEITO BAIXA MÉDIA ALTA

1. TRINCAS POR FADIGA (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

2. TRINCAS EM BLOCOS (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

3. TRINCAS NOS BORDOS (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

4. TRINCAS LONGITUDINAIS (m)

4a - Nas Trilhas de Roda

Selagem (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

4b - Fora das Trilhas de Roda

Selagem (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

5. TRINCAS POR REFLEXÃO

Número __ __ __ __ __ __ __ __ __

Trincas Transversais (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

Selagem (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

Trincas Longitudinais (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

Selagem (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

6. TRINCAS TRANSVERSAIS (m)

Número __ __ __ __ __ __ __ __ __

Extensão (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

Selagem (m) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

7. REMENDOS (Número) __ __ __ __ __ __ __ __ __

Área (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

133

PLANILHA 2

LEVANTAMENTO DE DEFEITOS NO CAMPO

IDENTIFICAÇÃO DA SEÇÃO: ________________________________

DATA DO LEVANTAMENTO (DIA/MÊS/ANO): __ __ / __ __ / __ __

NÍVEL DE SEVERIDADE

TIPO DE DEFEITO BAIXA MÉDIA ALTA

8. PANELAS (Número) __ __ __ __ __ __ __ __ __

Área (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

9. DEFORMAÇÃO PERMANENTE NAS TRILHAS DE RODA

(% da extensão da seção) __ __ __ __ __ __ __ __ __

10. CORRUGAÇÃO (Número) __ __ __ __ __ __ __ __ __

Área (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

11. EXSUDAÇÃO (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

12. AGREGADOS POLIDOS (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

13. DESGASTE (m2) __ __ __.__ __ __ __.__ __ __ __.__

15. BOMBEAMENTO (Número) __ __ __

Extensão (m) __ __ __.__

16. OUTRO (Descrever)

OBSERVAÇÃO:

REGISTRAR "0" PARA OS TIPOS DE DETERIORAÇÃO E/OU NÍVEIS

DE SEVERIDADE NÃO ENCONTRADOS.

__ __ __.__ __ __ __.__

__ __ ____ __ __

134

PLANILHA 3

LEVANTAMENTO DE DEFEITOS NO CAMPO

IDENTIFICAÇÃO DA SEÇÃO: ________________________________

DATA DO LEVANTAMENTO (DIA/MÊS/ANO): __ __ / __ __ / __ __

9. DEFORMAÇÃO PERMANENTE NAS TRILHAS DE RODA

TRILHA INTERNA TRILHA EXTERNA

No. Distância (m) Deformação (mm) No. Distância (m) Deformação (mm)

1 0 __ __ __. 1 0 __ __ __.

2 15 __ __ __. 2 15 __ __ __.

3 30 __ __ __. 3 30 __ __ __.

4 45 __ __ __. 4 45 __ __ __.

5 60 __ __ __. 5 60 __ __ __.

6 75 __ __ __. 6 75 __ __ __.

7 90 __ __ __. 7 90 __ __ __.

8 105 __ __ __. 8 105 __ __ __.

9 120 __ __ __. 9 120 __ __ __.

10 135 __ __ __. 10 135 __ __ __.

11 150 __ __ __. 11 150 __ __ __.

14. DESNÍVEL ENTRE PISTA E ACOSTAMENTO

Leitura Distância (m) Desnível (mm)

1 0 __ __ __.

2 15 __ __ __.

3 30 __ __ __.

4 45 __ __ __.

5 60 __ __ __.

6 75 __ __ __.

7 90 __ __ __.

8 105 __ __ __.

9 120 __ __ __.

10 135 __ __ __.

11 150 __ __ __.

135

ANEXO C – Simbologia dos Defeitos e sua Aplicação em um

Croqui

1. Trincas por Fadiga 8. Panelas B, M, A* B, M, A*

2. Trincas em Blocos 10. Corrugação

B, M, A* S: Selada

3. Trincas nos Bordos 11. Exsudação

B, M, A* B, M, A*

4. Trincas Longitudinais 12. Agregados Polidos

B, M, A* S: Selada

5. Trincas por Reflexão 13. Desgaste

B, M, A* B, M, A*

6. Trincas Transversais 15. Bombeamento

B, M, A* S: Selada

7. Remendos 9. Deformação Permanente nas

B, M, A* Trilhas de Rodas** 14. Desnível Pista/Acostamento

* Níveis de severidade: Baixa, Média e Alta **

TIPO DE DEFEITO SÍMBOLO SÍMBOLO TIPO DE DEFEITO

Não indicado no mapeamento dos defeitos

X X X X

X

s s

s

s

136

SEÇÃO: 2

Comentários: ACENTUADA IRREGULARIDADE LONGITUDINAL.

6

4

5

7

2

3

1

0 2 5 1 3 6 8 9 7 4 0 12 10 11 13 14 15 m

6

4

5

7

2

3

1

0 20 15 25 30 m

7,7

7B

7,7

X X X X X X X X X

X

X

1M

1B

X X

X

X

8M

8A

1B

1M X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X X X X

X

X X

X

X X

X

PARADA DE ÔNIBUS

FOTO 3

137

ANEXO D – Planilha para Avaliação da Condição dos

Pavimentos