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Petrnio Domingues164 Maio /Jun /Jul /Ago 2005 No 29A simples negligncia de problemas culturais,tnicos e raciais numa sociedade nacional to heterog-nea indica que o impulso para a preservao dadesigualdade mais poderoso que o impulso oposto, nadireo da igualdade crescente. [...] Nenhuma democra-cia ser possvel se tivermos uma linguagem aberta eum comportamento fechado.Fernandes (1972, p. 161-162)IntroduoA proposta deste artigo fazer um exame dasaes afirmativas em benefcio da populao negra,tendo como eixo a polmica em torno da instituiode um programa de cotas raciais, principalmente nasuniversidades pblicas. Devido ao quadro de desigual-dade racial nas oportunidades educacionais do Bra-sil, argumenta-se, em um primeiro momento, que ascotas constituem um eficiente instrumento para ga-rantir maior representao dos negros. Em um segun-do momento, tem-se a inteno de escrutinar (e refu-tar) as principais crticas dos opositores s cotasraciais.Resultado da luta empreendida pelo movimentonegro, h dcadas assiste-se a uma mudana de postu-ra, em vrios segmentos da sociedade brasileira, emrelao ao tratamento conferido s questes da popu-lao negra no pas (Silvrio, 2002; Heringer, 2001). Asegunda metade dos anos de 1990 foi marcada pelaintroduo do debate sobre a ao afirmativa no Brasil.J existe uma no desprezvel produo acadmicasobre a temtica (Walters, 1997; Skidmore, 1997;Espao AbertoAes afirmativas para negros no Brasil:o incio de uma reparao histrica*Petrnio DominguesUniversidade Estadual do Oeste do ParanUniversidade de So Paulo, Programa de Histria Social* Uma verso preliminar deste texto serviu de base para mi-nha comunicao ao VII Simpsio Interdisciplinar em Histria,na sesso Uma injustia na histria: a questo do negro, na Uni-versidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), em 21 denovembro de 2003. Registra-se aqui um agradecimento s suges-tes do parecerista ad hoc da Revista Brasileira de Educao.Como este artigo aborda um tema polmico, com a defesa de po-sicionamento poltico, de acordo com as orientaes da Revista,preferi public-lo na seo Espao Aberto. Em funo disso, nohaver espao suficiente para um exame mais acurado da produ-o acadmica sobre a temtica das aes afirmativas.Aes afirmativas para negros no BrasilRevista Brasileira de Educao 165Guimares, 1999, 2002, 2003; Gomes, 2001; Heringer,2001; Bernadino, 2002; Moehlecke, 2002; Fry &Maggie, 2002; Silvrio, 2001, 2002; Munanga, 1996,2003; Durham, 2003; Telles, 2003), mas o balano dessaproduo foge dos propsitos deste artigo.O Brasil o pas da segregao racial no decla-rada. Todos os indicadores sociais ilustram nmeroscarregados com a cor do racismo. Segundo a pesqui-sa Mapa da populao negra no mercado de traba-lho no Brasil, realizada pelo Instituto Sindical Intera-mericano pela Igualdade Racial (INSPIR), em 1999,um homem negro na regio metropolitana de SoPaulo recebe 50,6% do rendimento mdio mensal deum homem no-negro. A situao da mulher negra mais dramtica. Ela recebe 33,6% do rendimentomdio mensal de um homem no-negro. A taxa dedesemprego na regio metropolitana de So Paulo de 16,1% para os no-negros e 22,7% para os negros.1Em pesquisa realizada para avaliar a qualidadede vida da populao negra, Maria Ins Barbosa, daFaculdade de Sade Pblica da Universidade de SoPaulo (USP), constatou que o preconceito racial in-fluencia diretamente na sade dessa populao. Em1995, a projeo da expectativa de vida do brasileiro,conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tstica (IBGE), era de 64 anos para os homens e 70anos para as mulheres. No seu trabalho, Maria Insmostra que, na cidade de So Paulo, os negros nochegam a atingir essa mdia. Segundo ela, 63% doshomens negros e 40% das mulheres negras morremantes de completar 50 anos.2 A distribuio popula-cional no espao geogrfico da cidade de So Paulo segregada racialmente. Baseado nos dados do IBGE,Maria Ins inferiu que em Moema, um dos bairrosconceituados de So Paulo, 7,9% dos moradores sonegros; j o Jardim ngela, conhecido pela violn-cia, tem 53,3% de residentes negros.3A violncia tem cor. Uma das manchetes do jor-nal Folha de S.Paulo era reveladora: Negro morre abala, e branco, do corao.4 Segundo a matria, oshomicdios por arma de fogo so a principal causa demorte entre negros na cidade de So Paulo. J entreos brancos, a principal causa de morte so os infartosagudos do miocrdio. Dados da Ouvidoria das Pol-cias Civil e Militar do Estado de So Paulo mostramo perfil das vtimas da violncia policial no ano de1999: cor, 54,05% negros; antecedentes criminais,56,52% no tinham; sexo, 93,22% masculino; faixaetria, 44,12% de 18 a 25 anos.De acordo com o Instituto de Pesquisa Econ-mica Aplicada (IPEA), de 53 milhes de brasileirosque vivem na pobreza, 63% so negros. De 22 mi-lhes de brasileiros que vivem abaixo da linha de po-breza, 70% so negros (idem). Na rea da educao,a situao do negro no menos calamitosa. Do totaldos universitrios, 97% so brancos, sobre 2% denegros e 1% de descendentes de orientais (idem). Se-gundo estudo baseado na Pesquisa Nacional porAmostra de Domiclios (PNAD), de 1999, a taxa deanalfabetismo trs vezes maior entre negros. Os jo-vens brancos, aos 25 anos, tm, em mdia, 8,4 anosde estudos, quando negros da mesma idade tm amdia de 6,1 anos. No Itamaraty, existem apenas deznegros entre mil diplomatas. No Congresso Nacio-nal, no passam de 3%. Juzes, mdicos, oficiais, en-genheiros, professores universitrios negros somamum contingente nfimo, parecem mais personagens defico no Brasil. Em cem anos de vida universitria,no chega a 1% o nmero de professores negros (Car-valho, 2001).Aes afirmativas e cotas para negro