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PROLIFERAÇÃO DA CÉLULA BETA PANCREÁTICA EM MODELO ANIMAL DE RESISTÊNCIA PERIFÉRICA À INSULINA: ESTUDO DA VIA DE SINALIZAÇÃO WNT/BETA-CATENINA Figura 5. Localização celular de beta-catenina total (a,b,e) e beta-catenina ativada (c,d) por imunoperoxidase (a, b) ou imunofluorescência (c-e) em ilhotas pancreáticas de camundongos do grupo controle (alimentados com ração padrão) (a,c,e) ou tratados com DHL (b,d). Nas imagens (c) a (e) beta-catenina (verde - FITC), insulina (vermelho - TRITC) e DAPI (azul). Setas em (c) e (d) indicam marcação intercelular e nuclear para beta-catenina ativada. Em (a) e (b), Barra = 50 μm; em (c), (d) e (e), Barra = 20 μm. Figura 6. Localização celular por imunofluorescência de proteínas da via Wnt/beta-catenina em ilhotas pancreáticas de camundongos do grupo controle. A imagem (a) corresponde a marcação da ciclina-D, (c) axina- 2, (e) GSK-3β e (g) c-myc. Foi realizada co- localização das proteínas em estudo (verde- FITC) e insulina (vermelho-TRITC) (b,d,f,g) para identificação das células beta das ilhotas. Seta em (g) aponta marcação nuclear para c-myc em células beta. (Barra = 50μm). Figura 7. Immunoblotting para proteínas da via em homogeneizados de ilhotas pancreáticas isoladas de camundongos controle e tratados DHL. Observou-se aumento na expressão protéica de beta-catenina ativada (B, a), ciclina D (C, a) e c-myc (D, a) nas ilhotas hiperplásicas dos animais tratados. Anti-β-actina (b) foi usado como controle interno e homogeneizado de células da linhagem de câncer prostático (LNCaP) como controle positivo (c). Os gráficos representam os valores (média ± SEM de 6 membranas/3 experimentos) de densidade óptica das bandas normalizados em relação aos da β-actina. * P <0,05, ** P <0,007 em relação aos seus respectivos controles (teste t de Student). Figura 8. Immunoblotting para proteínas inibidoras da via em homogeneizados de ilhotas pancreáticas isoladas de camundongos controle e tratados com DHL. Observou-se aumento na expressão protéica do GSK-3β (A, a), mas não de axina 2 (B, a) nas ilhotas dos animais tratados em comparação ao grupo controle. Anti-β-actina (b) foi usado como controle interno e homogeneizado de células derivadas da linhagem de câncer prostático (LNCaP) como controle positivo (c). Os gráficos representam os valores (média ± SEM de 4 membranas/3 experimentos) de densidade óptica das bandas normalizados em relação aos da β-actina. *P <0,05, quando comparado aos respectivos controles (teste t de Student). SANTOS, M. R. 1 ; MASCHIO, D. A. 1 ; OLIVEIRA, R. B. 1 ; CARVALHO, C. P. F. 2 ; COLLARES-BUZATO, C. B. 1 INSTITUTO DE BIOLOGIA, Departamento de Histologia e Embriologia, UNICAMP, Campinas, SP 1 Instituto de Biociências, Unifesp, Santos, SP 2 Palavras-Chave: Wnt/beta-catenina - Célula beta-pancreática - Proliferação celular Apoio: PIBIC/CNPq e FAPESP II. Análise de Parâmetros Morfológicos e Morfométricos no Pâncreas I. Análise de Parâmetros Metabólicos nos Animais Metodologias e Resultados: III. Análise da via Wnt/beta-catenina - Localização e expressão celular de proteínas Introdução/Objetivos: A diabetes melito tipo 2 (T2DM) caracteriza-se por um quadro de hiperglicemia, intolerância à glicose e resistência à insulina, que é parcialmente compensado por hiperinsulinemia e hiperplasia das células beta do pâncreas no estágio inicial da doença. Os mecanismos envolvidos na interrelação entre obesidade/hipercolesterolemia e resistência à insulina e hiperplasia das células beta não são totalmente conhecidos. Tem sido demonstrado que a via de sinalização Wnt/beta-catenina está envolvida na proliferação e diferenciação celular em vários tecidos/órgãos, mas o seu papel na plasticidade do pâncreas endócrino ainda é incerto. O objetivo deste trabalho foi investigar o possível envolvimento da via de sinalização Wnt/beta-catenina na hiperplasia das células beta em um modelo experimental de T2DM utilizando camundongos C57BL/6 machos alimentados com dieta hiperlípidica (DHL) por 60 dias. Para tal, fez-se incialmente uma caracterização metabólica dos animais e, posteriormente, investigou-se a distribuição tecidual e o conteúdo celular de algumas proteínas associadas com a via Wnt/beta-catenina (β -catenina total e ativada, c-myc, ciclina D, GSK-3β e axina 2) (Figura 1) em ilhotas pancreáticas destes animais. Figura 1. Via de sinalização Wnt/beta catenina. Em células não expostas a um sinal de Wnt (ver figura, célula da esquerda), a beta-catenina é degradada através de interações com Axina, APC, e GSK-3. Quando a via é ativada, proteínas Wnt (ver figura, célula da direita) se ligam aos receptores Frizzled/LRP na superfície da célula. Estes receptores sinalizam Dishevelled (Dsh) e Axina. Como consequência o complexo de degradação de beta-catenina é inibido, e esta proteína acumula-se no citoplasma, e no núcleo interage com TCF para controlar a transcrição das proteínas relacionadas à proliferação celular. Adaptado de Logan & Nüsse (Annu. Dev Rev. Cell. Biol. 2004. 20:781-810). Figura 4. Aspecto morfológico de ilhotas pancreáticas, em cortes histológicos de pâncreas, marcadas para insulina (em marrom) por imunoperoxidase, mostrando a citoarquitetura e arranjo celular no animal controle (a) e animal tratado com DHL (b). Exposição à DHL por 60 dias induz aumento na massa das ilhotas (c) e das células beta (d) no pâncreas endócrino de camundongos. Os valores numéricos foram expressos como média ± SEM (número de animais, n=5/grupo). **P<0,01 (teste de t Student). Barra = 50 μm. Figura 2. Exposição à dieta hiperlipídica (DHL) por 60 dias induz aumento do peso corpóreo (a), hiperglicemia jejum (b) e pós-prandial (c) e resistência periférica à insulina (d) em camundongos machos C57. Os valores foram expressos como média ± SEM (número de animais, pelo menos 6 animais/grupo). *P<0,01 e **P<0,0001 em relação ao grupo controle (teste de t Student). Figura 3. Secreção estática de insulina em ilhotas pancreáticas isoladas de camundongos do grupo controle (alimentado com ração padrão ) e tratado com DHL. Os animais tratados com DHL mostram uma tendência (P=0,066) a uma secreção basal de insulina aumentada em relação ao grupo controle, o que aponta para um possível comprometimento na resposta secretora deste hormônio após tratamento com dieta hiperlipídica por 60d. Os valores foram expressos como média ± SEM (número de pools: = 25-30 tubos/grupo cada um com 5 ilhotas). * P<0,0001 em relação à secreção basal (teste de t Student). Conclusão: 1) Os camundongos C57BL/6 submetidos à DHL por 60 dias tornaram-se obesos, hiperglicêmicos e resistentes à insulina, caracterizando-os como pré-diabéticos; 2) Esses animais pré-diabéticos mostram alterações morfométricas do pâncreas indicativas de hiperplasia compensatória das células beta (aumento da massa das células beta); 3) A análise da distribuição e conteúdo celular de proteínas envolvidas na via de sinalização Wnt/beta-catenina sugere uma possível ativação dessa via durante o processo de hiperplasia compensatória da célula beta nesses animais; 4) Estudos futuros sobre o papel dessa via na biologia da célula beta poderão dar subsídios às investigações sobre Terapia Celular/Gênica da diabetes melito.

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PROLIFERAÇÃO DA CÉLULA BETA PANCREÁTICA EM MODELO ANIMAL DE RESISTÊNCIA PERIFÉRICA À INSULINA: ESTUDO DA VIA DE SINALIZAÇÃO

WNT/BETA-CATENINA

Figura 5. Localização celular de beta-catenina total (a,b,e)e beta-catenina ativada (c,d) por imunoperoxidase (a, b)ou imunofluorescência (c-e) em ilhotas pancreáticas decamundongos do grupo controle (alimentados com raçãopadrão) (a,c,e) ou tratados com DHL (b,d). Nas imagens (c)a (e) beta-catenina (verde - FITC), insulina (vermelho -TRITC) e DAPI (azul). Setas em (c) e (d) indicam marcaçãointercelular e nuclear para beta-catenina ativada. Em (a) e(b), Barra = 50 μm; em (c), (d) e (e), Barra = 20 μm.

Figura 6. Localização celular porimunofluorescência de proteínas da viaWnt/beta-catenina em ilhotas pancreáticas decamundongos do grupo controle. A imagem (a)corresponde a marcação da ciclina-D, (c) axina-2, (e) GSK-3β e (g) c-myc. Foi realizada co-localização das proteínas em estudo (verde-FITC) e insulina (vermelho-TRITC) (b,d,f,g) paraidentificação das células beta das ilhotas. Setaem (g) aponta marcação nuclear para c-myc emcélulas beta. (Barra = 50μm).

Figura 7. Immunoblotting para proteínas da via emhomogeneizados de ilhotas pancreáticas isoladasde camundongos controle e tratados DHL.Observou-se aumento na expressão protéica debeta-catenina ativada (B, a), ciclina D (C, a) e c-myc(D, a) nas ilhotas hiperplásicas dos animaistratados. Anti-β-actina (b) foi usado como controleinterno e homogeneizado de células da linhagemde câncer prostático (LNCaP) como controle positivo(c). Os gráficos representam os valores (média ±

SEM de 6 membranas/3 experimentos) dedensidade óptica das bandas normalizados emrelação aos da β-actina. * P <0,05, ** P <0,007 emrelação aos seus respectivos controles (teste t deStudent).

Figura 8. Immunoblotting para proteínas inibidoras davia em homogeneizados de ilhotas pancreáticasisoladas de camundongos controle e tratados comDHL. Observou-se aumento na expressão protéica doGSK-3β (A, a), mas não de axina 2 (B, a) nas ilhotas dosanimais tratados em comparação ao grupo controle.Anti-β-actina (b) foi usado como controle interno ehomogeneizado de células derivadas da linhagem decâncer prostático (LNCaP) como controle positivo (c). Osgráficos representam os valores (média ± SEM de 4membranas/3 experimentos) de densidade óptica dasbandas normalizados em relação aos da β-actina. * P<0,05, quando comparado aos respectivos controles(teste t de Student).

SANTOS, M. R. 1; MASCHIO, D. A.1 ; OLIVEIRA, R. B.1 ; CARVALHO, C. P. F. 2 ; COLLARES-BUZATO, C. B. 1

INSTITUTO DE BIOLOGIA, Departamento de Histologia e Embriologia, UNICAMP, Campinas, SP1

Instituto de Biociências, Unifesp, Santos, SP2

Palavras-Chave: Wnt/beta-catenina - Célula beta-pancreática - Proliferação celular

Apoio: PIBIC/CNPq e FAPESP

II. Análise de Parâmetros Morfológicos e Morfométricos no Pâncreas

I. Análise de Parâmetros Metabólicos nos Animais

Metodologias e Resultados:

III. Análise da via Wnt/beta-catenina - Localização e expressão celular de proteínas Introdução/Objetivos: A diabetes melito tipo 2 (T2DM) caracteriza-se por um quadro de

hiperglicemia, intolerância à glicose e resistência à insulina, que é parcialmente compensado porhiperinsulinemia e hiperplasia das células beta do pâncreas no estágio inicial da doença. Osmecanismos envolvidos na interrelação entre obesidade/hipercolesterolemia e resistência à insulinae hiperplasia das células beta não são totalmente conhecidos. Tem sido demonstrado que a via desinalização Wnt/beta-catenina está envolvida na proliferação e diferenciação celular em váriostecidos/órgãos, mas o seu papel na plasticidade do pâncreas endócrino ainda é incerto. O objetivodeste trabalho foi investigar o possível envolvimento da via de sinalização Wnt/beta-catenina nahiperplasia das células beta em um modelo experimental de T2DM utilizando camundongosC57BL/6 machos alimentados com dieta hiperlípidica (DHL) por 60 dias. Para tal, fez-se incialmenteuma caracterização metabólica dos animais e, posteriormente, investigou-se a distribuição teciduale o conteúdo celular de algumas proteínas associadas com a via Wnt/beta-catenina (β -cateninatotal e ativada, c-myc, ciclina D, GSK-3β e axina 2) (Figura 1) em ilhotas pancreáticas destesanimais.

Figura 1. Via de sinalização Wnt/beta catenina. Em células nãoexpostas a um sinal de Wnt (ver figura, célula da esquerda), abeta-catenina é degradada através de interações com Axina, APC,e GSK-3. Quando a via é ativada, proteínas Wnt (ver figura, célulada direita) se ligam aos receptores Frizzled/LRP na superfície dacélula. Estes receptores sinalizam Dishevelled (Dsh) e Axina.Como consequência o complexo de degradação de beta-cateninaé inibido, e esta proteína acumula-se no citoplasma, e no núcleointerage com TCF para controlar a transcrição das proteínasrelacionadas à proliferação celular. Adaptado de Logan & Nüsse(Annu. Dev Rev. Cell. Biol. 2004. 20:781-810).

Figura 4. Aspecto morfológico de ilhotas pancreáticas, emcortes histológicos de pâncreas, marcadas para insulina (emmarrom) por imunoperoxidase, mostrando acitoarquitetura e arranjo celular no animal controle (a) eanimal tratado com DHL (b). Exposição à DHL por 60 diasinduz aumento na massa das ilhotas (c) e das células beta(d) no pâncreas endócrino de camundongos. Os valoresnuméricos foram expressos como média ± SEM (número deanimais, n=5/grupo). **P<0,01 (teste de t Student). Barra =50 μm.

Figura 2. Exposição à dieta hiperlipídica (DHL) por 60dias induz aumento do peso corpóreo (a),hiperglicemia jejum (b) e pós-prandial (c) eresistência periférica à insulina (d) em camundongosmachos C57. Os valores foram expressos como média± SEM (número de animais, pelo menos 6animais/grupo). *P<0,01 e **P<0,0001 em relação aogrupo controle (teste de t Student).

Figura 3. Secreção estática de insulina em ilhotaspancreáticas isoladas de camundongos do grupocontrole (alimentado com ração padrão ) e tratadocom DHL. Os animais tratados com DHL mostramuma tendência (P=0,066) a uma secreção basal deinsulina aumentada em relação ao grupo controle,o que aponta para um possível comprometimentona resposta secretora deste hormônio apóstratamento com dieta hiperlipídica por 60d. Osvalores foram expressos como média ± SEM(número de pools: = 25-30 tubos/grupo cada umcom 5 ilhotas). * P<0,0001 em relação à secreçãobasal (teste de t Student).

Conclusão: 1) Os camundongos C57BL/6 submetidos à DHL por 60 dias tornaram-se obesos,

hiperglicêmicos e resistentes à insulina, caracterizando-os como pré-diabéticos;2) Esses animais pré-diabéticos mostram alterações morfométricas do pâncreas indicativas dehiperplasia compensatória das células beta (aumento da massa das células beta);3) A análise da distribuição e conteúdo celular de proteínas envolvidas na via de sinalizaçãoWnt/beta-catenina sugere uma possível ativação dessa via durante o processo de hiperplasiacompensatória da célula beta nesses animais;4) Estudos futuros sobre o papel dessa via na biologia da célula beta poderão dar subsídios àsinvestigações sobre Terapia Celular/Gênica da diabetes melito.