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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Biologia EMÍLIO MARCONATO JÚNIOR EFEITOS DO TREINAMENTO FÍSICO E DA METFORMINA SOBRE A FUNÇÃO DA CÉLULA BETA PANCREÁTICA CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Biologia

EMÍLIO MARCONATO JÚNIOR

EFEITOS DO TREINAMENTO FÍSICO E DA METFORMINA SOBRE A

FUNÇÃO DA CÉLULA BETA PANCREÁTICA

CAMPINAS

2019

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EMÍLIO MARCONATO JÚNIOR

EFEITOS DO TREINAMENTO FÍSICO E DA METFORMINA SOBRE A

FUNÇÃO DA CÉLULA BETA PANCREÁTICA

Dissertação apresentada ao Instituto de

Biologia da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de Mestre

em Biologia Funcional e Molecular, na área

de Fisiologia

Orientador: Helena Cristina de Lima Barbosa Sampaio

CAMPINAS

2019

ESTE ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA

PELO ALUNO EMÍLIO MARCONATO JÚNIOR E

ORIENTADO PELA HELENA CRISTINA DE LIMA

BARBOSA SAMPAIO

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Campinas, 02 de Agosto de 2019

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. (a) Dra. Helena Cristina de Lima Barbosa Sampaio

Prof. (a) Dr. Cesar Renato Sartori

Prof. (a) Dra. Marta García-Arévalo Provencio

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa de Pós

Graduação de Biolgia Funcional e Molecular do Instituto de Biologia.

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AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico – BRASIL (CNPq) – Processo Nº

134603/2017-6 – fornecendo a bolsa de estudos de Mestrado.

À Fundação de Amparo À Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processos

Nº 2012/14993-9, 2015/12611-0 e CEPID-OCRC, pelo financiamento do projeto de

pesquisa, tornando possível a produção dessa Dissertação.

O presente trabalho foi relaizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nivel Superior – Brasil (CAPES) – Codigo de finacioamento 001.

Aos professores, colaboradores, colegas de laboratório, funcionários e todos os

demais que possibilitaram e participaram dessa minha etapa de formação.

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RESUMO

Introdução: A obesidade é caracterizada pela expansão do tecido adiposo acarretada pela

sobrecarga calórica, caracterizando um estado inflamatório crônico de baixo grau. Este

ambiente inflamatório influencia os tecidos periféricos, levando à resistência à insulina,

além de levar a uma hipersecreção de insulina pelas células beta pancreáticas. O estresse

de retículo endoplasmático (RE) é um dos mecanismos relacionados ao declínio

progressivo da função e massa da célula beta no diabetes mellitus tipo 2 (DM2). O

treinamento físico tem mostrado melhora da ação da insulina em humanos, além de

diminuir a hipersecreção de insulina estimulada por glicose, com melhora de vários

aspectos relacionados à função da célula beta e da ilhota pancreática. A metformina, uma

droga muito utilizada para o tratamento de diversos distúrbios do metabolismo glicêmico,

apresenta ações na célula beta pancreática, porém pouco se sabe sobre seus efeitos.

Metodologia: Para isto, camundongos C57BL/6 foram divididos em 4 grupos:

alimentados com dieta padrão; alimentados com dieta padrão e que foram submetidos ao

treinamento físico; grupo de animais alimentados com dieta hiperlipídica; e o grupo que

recebeu dieta hiperlipídica e foram submetidos ao treinamento. O tempo de dieta e

treinamento foi de 16 semanas. Nos tratamentos in vitro, células INS-1E foram expostas

a droga estressora CPA e tratadas com metformina. Foram avaliados a homeostase

glicêmica dos camundongos, bem como os transdutores de estresse de RE, os quais

também foram avaliados nas células INS-1E. Resultado: Neste trabalho, observamos a

melhora da homeostase glicêmica e diminuição dos transdutores canônicos do estresse de

RE em camundongos que foram submetidos a uma dieta hiperlipídica e ao treinamento

em esteira, comparados com camundongos obesos, que receberam a dieta hiperlipídica.

O tratamento com metformina em células INS-1E expostas ao CPA foi capaz de prevenir

o estresse de RE, com aumento de expressão gênica e proteica do fator de transcrição

PDX-1. Conclusão: Concluímos que nosso programa de treinamento físico se mostrou

pelo menos parcialmente eficaz contra os efeitos deletérios da obesidade, bem como da

disfunção da ilhota pancreática, através da prevenção do estresse de RE. Ainda, o uso da

metformina preveniu o estresse de RE em células INS-1E devido, em parte, ao aumento

da expressão de Pdx-1, sugerindo que o mecanismo de ação desta droga em células betas

pancreáticas deve envolver este fator de transcrição.

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ABSTRACT

Background: Obesity is characterized by the expansion of adipose tissue caused by

caloric overload, characterizing a low-grade chronic inflammatory state. This

inflammatory environment influences the peripheral tissues, leading to insulin resistance,

in addition to leading to a hypersecretion of insulin by pancreatic beta cells. Endoplasmic

reticulum (ER) stress is one of the mechanisms related to the progressive decline of

function and beta cell mass in type 2 diabetes mellitus (DM2). Physical training has been

shown to improve insulin action in humans, as well as to decrease glucose-stimulated

insulin hypersecretion, with improvement of several aspects related to beta-cell and

pancreatic islet function. Metformin, a widely used drug for the treatment of various

disorders of glycemic metabolism, presents actions in the pancreatic beta cell, but little is

known about its effects. Methods: For this, C57BL/6 mice were divided in 4 groups: fed

with standard diet; fed with standard diet and who underwent physical training; group of

animals fed a high fat diet; and the group that received a high fat diet and were submitted

to training. Diet and training time was 16 weeks. For in vitro treatments, INS-1E cells

were exposed to the CPA, a stress drug, and treated with metformin. We analyzed the

glucose homeostasis of mice, as well as the ER stress transducers in pancreatic islets; ER

stress signaling was also evaluated in INS-1E cells. Results: In this study, we observed

the improvement of glucose homeostasis and reduction of canonical stress transducers of

RE stress in mice that were submitted to a high fat diet and to treadmill training, compared

to obese mice, who received the high fat diet. Treatment with metformin in INS-1E cells

exposed to CPA was able to prevent the stress of RE, with increased gene and protein

expression of the transcription factor Pdx-1. Conclusion: We concluded that our physical

training program was, at least partially, effective against the deleterious effects of obesity,

as well as pancreatic islet dysfunction, through the prevention of ER stress. Furthermore,

the use of metformin prevented ER stress in INS-1E cells due, in part, to increase in Pdx-

1 expression, suggesting that the mechanism of action of this drug in pancreatic beta cells

should involve this transcription factor.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Transdução de sinal de estresse de RE...........................................................17

Figura 2: Evolução do peso corporal, área sob a curva do peso corporal e ganho de

peso..................................................................................................................................26

Figura 3: Peso do tecido adiposo retroperitoneal, Inguinal, Perigonadal e Marrom. Peso

do musculo gastrocnêmio................................................................................................27

Figura 4: Curva glicêmica do teste de tolerância à glicose e área sob a curva. Curva

glicêmica do teste de tolerância a insulina, área sob curva e cálculo da constante de

decaimento da glicose......................................................................................................29

Figura 5: Glicemia e insulinemia de jejum. Secreção estática de insulina em ilhotas

isoladas e conteúdo total de Insulina...............................................................................30

Figura 6: Análise da expressão gênica de Chop, Xbp1, Atf4, Bip, Ins2 e Pdx-1............32

Figura 7: Expressão gênica de Chop e Bip em células INS-1E expostas a CPA...........33

Figura 8: Expressão proteica de CHOP e PDX-1 em células INS-1E expostas ao CPA

tratadas com metformina e AICAR.................................................................................35

Figura 9: Expressão genica de Chop, Xbp1, Atf4, Bip, Serca2b e Pdx-1, em células INS-

1E na exposição ao CPA e tratadas com a droga metformina.................................37

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1.1. Ilhota pancreática e célula beta ................................................................................... 11

1.2. Homeostase glicêmica ................................................................................................. 11

1.3. Obesidade e resistência à insulina..............................................................................11

1.4. Estresse de retículo endoplasmático ............................................................................ 14

1.5. Estresse de retículo endoplasmático e célula beta pancreática .................................... 18

1.6. Estresse de retículo e Pdx-1 ........................................................................................ 18

1.7. AICAR, metformina e célula beta ............................................................................... 18

1.8. Treinamento físico....................................................................................................... 20

2. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 21

3. METODOLOGIA .................................................................................................................... 22

3.1. Animais ....................................................................................................................... 22

3.2. High Fat-Diet .............................................................................................................. 22

3.3. Exercício ..................................................................................................................... 22

3.4. Isolamento de ilhota pancreática e secreção estática de insulina ................................ 22

3.5. Teste intraperitoneal de tolerância à glicose (ipGTT) ................................................. 23

3.6. Teste intraperitoneal de tolerância à insulina (ipITT) ................................................. 23

3.7. Cultura de células INS-1E ........................................................................................... 23

3.8. Western Blotting ......................................................................................................... 24

3.9. PCR quantitativo ......................................................................................................... 24

3.10. Análise estatística ........................................................................................................ 24

4. RESULTADOS ....................................................................................................................... 25

4.1. O treinamento reduz o ganho de peso de animais alimentados com dieta hiperlipídica

25

4.2. O treinamento reduz o peso de tecidos adiposos em animais alimentados com dieta

hiperlipídica ............................................................................................................................. 26

4.3. Melhora da homeostase glicêmica em animais obesos treinados ................................ 28

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4.4. Treinamento físico reduz glicemia de jejum e secreção e conteúdo de insulina em

camundongos obesos ............................................................................................................... 30

4.5. Avaliação da expressão de marcadores de estresse de RE, insulina e Pdx-1 em ilhotas

pancreáticas ............................................................................................................................. 31

4.6. Curva Dose-Resposta de exposição ao CPA em células INS-1E ................................ 33

4.7. Expressão proteica de CHOP e PDX-1 com a exposição ao CPA e tratamento com

metformina e AICAR .............................................................................................................. 34

4.8. Marcadores de estresse de RE em células INS-1E expostas ao CPA e tratadas com

metformina .............................................................................................................................. 36

5. DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 38

5.1. Treinamento físico....................................................................................................... 38

5.2. Tratamento de células INS-1E com metformina ......................................................... 41

6. CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 43

7. REFERENCIAS ....................................................................................................................... 44

Anexo 1 ........................................................................................................................................ 50

Ingredientes ............................................................................................................................. 50

Dieta controle .......................................................................................................................... 50

Dieta hiperlipídica ................................................................................................................... 50

Caseína (84% de proteína)* ................................................................................................ 50

Mistura de sais AIN93G** .................................................................................................. 50

Anexo 2 ........................................................................................................................................ 51

Anexo 3 ........................................................................................................................................ 52

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Ilhota pancreática e célula beta

As ilhotas pancreáticas são aglomerados de células que foram descobertas pelo

Dr. Paul Langerhans 1. Cada ilhota é composta por milhares de células endócrinas e juntas

elas consistem em 2% da massa pancreática total, esses aglomerados de células na ilhota

incluem as células Alfa, células beta, células delta, células épsilon e células do

polipeptídio pancreático. Cada célula libera um hormônio específico em respostas aos

diversos sinais que o organismo pode emitir 2. Em roedores, cada ilhota é composta em

sua maior parte por células betas, que se encontram no núcleo da ilhota, cercado por uma

camada de células alfa, delta, épsilon e polipeptídio pancreático, porém existem variações

entre ilhotas de diferentes tamanhos. Em geral as células betas constituem 60% da massa

das ilhotas, já as células alfas comportam 30%, e as células épsilon e polipeptídio

pancreático 10%. As ilhotas pancreáticas se conectam a um feixe neurovascular que as

irriga e as enerva, através do núcleo central, onde estão as células beta 3.

Cada célula da ilhota pancreática secreta um hormônio específico. As células alfa

secretam o glucagon, um hormônio que aumenta as concentrações de glicose e ácidos

graxos na corrente sanguínea, sendo o principal hormônio catabólico do organismo. As

células beta secretam o hormônio insulina, que diminui as concentrações de glicose pelo

fígado, músculo esquelético e tecido adiposo pela sua sinalização de receptores

específicos. As células delta liberam o hormônio somatostatina, ele inibe a secreção de

glucagon e insulina pelas células alfa e beta. As células épsilon secretam um hormônio

chamado grelina, que estimula o apetite, aumenta a estocagem de gordura e sinaliza a

pituitária para a secreção do hormônio do crescimento. As células do polipeptídio

pancreático secretam seu hormônio, o qual tem seus efeitos sobre a saciedade, além de

diminuir a secreção de ácido gástrico, o esvaziamento gástrico e motilidade intestinal. A

comunicação dessas células é fundamental para geração das repostas celulares, e se dá

através de espaços extracelulares e junções comunicantes, que influenciam na secreção

dos diversos hormônios 4.

1.2. Homeostase glicêmica

Como já mencionado, é o conjunto de células que regulam e ajudam a controlar

as concentrações de glicose no sangue através da secreção de seus hormônios. Portanto

uma disfunção das mesmas pode resultar em um prejuízo na homeostase glicêmica,

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podendo levar ao desenvolvimento do Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) 5 6. Merece

destaque o hormônio insulina, sua secreção é controlada constantemente de acordo com

os sinais neurais, hormonais e principalmente pela concentração de glicose plasmática 7

8. A glicose que esta no sangue é absorvida pelo transportador de glicose do tipo 2

(GLUT2) que se encontra na superfice da membrana plasmática das células beta 9. No

interior da célula, a glicose é fosforilada pela enzima glicoquinase (GCK) em glicose-6-

fosfato e metabolizada gerando ATP, levando ao aumento da razão ATP/ADP

intracelular. Esse aumento da razão leva o fechamento de canais de K+ sensíveis ao ATP,

presentes na membrana da célula beta 10. Em condições basais, esses transportadores estão

abertos, mantendo o potencial elétrico de repouso da membrana celular, atraves do efluxo

de ions K+. Com o fechamento desses canais, e consequentemente a diminuição do efluxo

de K+, o potencial de repouso é alterado, levando à despolarização da membrana celular.

Com isso, ocorre a abertura de canais de Ca2+ dependentes de voltagem, facilitando e

permitindo o influxo de Ca2+. O aumento de concentrações de Ca2+ intracelular

desencadeia maior atividade da maquinaria exocítica, levando a fusão de grânulos

contendo insulina com a membrana plasmática e subsequente liberação de seu conteúdo

no meio extracelular e na corrente sanguínea 11 9.

A insulina transportada pelo sangue se liga às células alvo ativando um receptor

proteico de membrana. O receptor da insulina é constituído de quatro subunidades que

são unidas por meio de ligações dissulfeto, contendo duas subunidades alfa externas à

membrana celular e duas subunidades beta que adentram através da membrana,

projetando-se no citoplasma celular 12 13. As subunidades alfa do lado externo da célula

compreendem a região em que a insulina se liga, promovendo a autofosforilação das

subunidades beta. A autofosforilação do receptor leva à sua ativação tirosina quinase,

recrutando outras moléculas intracelulares, incluindo os substratos do receptor da insulina

(IRS) 14. A fosforilação do IRS irá promover ativação duas outras proteínas a

fosfatidilinositol 3-kinase (PI3K) e a proteína quinase B (PKB) ou AKT. A AKT ativa é

capaz de fosforilar vários outros substratos em resíduos de serina ou treonina, como o

fator de transcrição Forkhead box O (FOXO), Tuberous Sclerosis Complex 2 (TSC2) ,

Glycogen synthase kinase 3 beta (GSK3-beta) e TBC1 domain family member 4

(TBC1D4) também conhecida como proteína substrato da AKT de 160 kDa (AS160) 15.

Essas proteínas promovem os efeitos da insulina na produção, utilização e captação de

glicose, síntese de glicogênio, de proteínas e lipídeos. Outra via através da qual a insulina

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atua é a da Ras-mitogen-activated protein kinase (MAPK), exercendo efeitos sobre o

mecanismo de controle do crescimento e diferenciação celular 16.

A insulina age em diversos tecidos, incluindo músculo, fígado e tecido adiposo,

estabelecendo o controle glicêmico do organismo. No fígado, a insulina tem como

principal função inibir produção de glicose hepática, inibindo as enzimas glicose-6-

fosfatase (G6P) e fosfoenolpiruvato carboxilase (PEPCK). Já no músculo e no tecido

adiposo, o efeito final da sinalização da insulina leva à translocação do transportador de

glicose do tipo 4 (GLUT4), levando para a membrana celular, permitindo assim, a

captação de glicose, e seu armazenamento na forma de substrato energético 17 18. Além

disso, a insulina apresenta um importante papel central, agindo no hipotálamo, resultando

na redução do consumo alimentar e na inibição de neurônios orexígenos 19; esses efeitos

estão associados à ativação de duas vias de sinalização, a AKT/FOXO1 e Janus kinase

2/Signal transducer and activator of transcription 3 (JAK2/STAT3) 20.

1.3. Obesidade e resistência à insulina

A obesidade é caracterizada pela expansão do tecido adiposo frente à sobrecarga

calórica, levando, ainda, ao desenvolvimento de um estado inflamatório crônico de baixo

grau, associado à infiltração de células imunes. As citocinas pró-inflamatórias liberadas

geram um ambiente inflamatório, que afeta os tecidos periféricos, repercutindo em uma

série de fenômenos que levam à resistência a insulina 21. A sobrecarga calórica é um fator

que leva, ainda, à hipersecreção de insulina pelas células beta pancreáticas. Esse aumento

exacerbado de secreção de insulina contribui para as disfunções associadas à célula beta

pancreática, levando à apoptose. As disfunções e morte da célula beta, associadas com a

resistência periférica à insulina, resultam no desenvolvimento do DM2 22 23. A resistência

à insulina é reconhecida como uma das principais causas do DM2 e há evidências de que

esta ocorre muitos anos antes do início do DM2 em humanos. Vários fatores têm sido

relatados para explicar o mecanismo de resistência à insulina, incluindo: obesidade,

inflamação, disfunção mitocondrial, lipotoxicidade, hiperlipidemia, estresse de retículo

endoplasmático, envelhecimento, estresse oxidativo, esteatose hepática, gravidez, dentre

outros. Estas condições podem estar associadas à obesidade, podendo predispor à

resistência à insulina 24.

1.4. Estresse de retículo endoplasmático

O reticulo endoplasmático (RE) é uma estrutura membranosa, sendo o local

principal de montagem (enovelamento) para quase todas as proteínas 25. A

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14

disponibilidade de chaperonas moleculares no RE faz com que este seja um meio ideal

para tal função. Além disso, também compreende um sítio de identificação e sinalização

de eventuais proteínas enoveladas indevidamente, direcionando-as para degradação 26.

Como o enovelamento de proteínas é um processo complexo e sujeito a erros, a

capacidade de montagem das proteínas do RE pode ser facilmente saturada sob vários

disfunções fisiológicas, como a privação de glicose, regulação anormal de Ca2+, hipóxia,

estresse oxidativo, hipoglicemia, expressão de proteínas mutantes, envelhecimento e

aumento da síntese de proteínas 26. Para diminuir o estresse de RE e organizar a

recuperação de sua função, as células diminuem sua capacidade de tradução de proteínas

por algumas horas, diminuindo assim a carga de proteínas preparadas para o RE. Este

processo é de médio a longo prazo, e persiste até que os componentes principais do

mecanismo de unfolded protein response (UPR) sejam processados 27. A UPR

compreende um conjunto de respostas de um mecanismo adaptativo, especialmente

importante em células secretoras, que levam à expansão tanto do tamanho do RE quanto

da sua capacidade, de acordo com a exigência funcional da via exocítica. A UPR também

sinaliza um processo de degradação associada ao RE (ERAD) de proteínas com defeitos

de enovelamento 26.

Há três ramos distintos de transdutores de estresse de RE, cada ramo define uma

via da UPR, mediada por 1) inositol-requiring protein-1 (IRE1), 2) activating

transcription factor-6 (ATF6) e 3) protein kinase RNA (PKR)-like ER kinase (PERK).

Assim, a sinalização da UPR é iniciada por essas proteínas transmembrana do RE; elas

apresentam porções luminais que detectam o ambiente de enovelamento de proteínas no

RE, bem como porções efetoras citoplasmáticas que interagem com a maquinaria

transcricional e/ou translacional da célula 28. A seguir, uma breve descrição de cada ramo

da UPR.

- IRE1

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15

Em resposta às proteínas mal enoveladas, IRE1 oligomeriza no plano da

membrana permitindo sua trans-autofosforilação de domínios quinases próximos. Essa

oligomerização pode acontecer por ligação de proteínas mal enoveladas ao domínio

luminal de IRE1, ou através da liberação de chaperonas repressoras de oligomerização,

ou ambos. Porém, a cascata de sinalização de IRE1 não tem um parâmetro convencional

de ativação sequencial de quinases, pois o único substrato conhecido da IRE1 quinase é

a própria IRE1. Além disso, sua ativação leva a uma função efetora incomum, que causa

a clivagem endonucleolítica precisa de um único substrato, um RNA mensageiro de um

fator de transcrição denominado X-box binding protein-1 (XBP1). Assim, a IRE1 consiste

em uma enzima bifuncional, apresentando tanto atividade de proteína quinase tanto de

endoribonuclease específica, a qual é regulada pelo seu módulo intrínseco de quinase 28.

Após clivagem pela IRE1, ocorre então tradução de XBP1. Este induz produção

de chaperonas do RE e degradação de proteínas associadas ao RE, além de promover

biossíntese de fosfolipídios, que contribuem para a expansão da membrana do RE 29.

Ainda, XBP1 estimula a degradação de RNA mensageiros, o que alivia a carga funcional

do RE 30. Outra resposta celular que envolve o XBP1 é o recrutamento de tumour necrosis

factor receptor-associated factor 2 (TRAF2) e ASK1 (apoptosis signal- regulating kinase

1), as quais ativam c-Jun N-terminal kinase (JNK) 31. Caso as resposta não sejam

suficientes para restaurar a homeostase do RE, essa ativação prolongada do estresse

acentua as ações tanto do ramo da IRE1 quanto da PERK, e desencadeia vias pró-

apoptóticas, que incluem ativação de C/EBP homologous protein (CHOP) da e JNK,

inibindo expressão de Bcl-2 e aumentando a clivagem de caspase 12 32.

- ATF6

O ATF6 é um precursor inativo, preso à membrana do RE por um segmento

transmembrana, e apresenta uma porção sensível ao estresse que se projeta no lúmen do

RE. Na condição de estresse de RE, o ATF6 é transportado da membrana do RE para o

aparelho de Golgi, onde é clivado por proteases residentes no Golgi. Primeiro é clivado

pela site 1 protease (S1P) no lúmen do Golgi, e depois pela site 2 protease (S2P) em uma

região intramembrana. Estas clivagens liberam no citosol a porção de ligação ao DNA. O

ATF6 clivado modula a expressão gênica no núcleo, podendo ativar transcrição Bip e de

outras chaperonas 33. De forma geral, com a ativação da UPR, o tráfego do precursor

inativo do ATF6 para o aparelho de Golgi precede as etapas proteolíticas subsequentes.

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- PERK

Outra via transdutora de estresse de RE compreende ao ramo da PERK.

Semelhante à IRE1, a PERK é uma proteína transmembrana, localizada na região do RE

com domínios sensíveis ao estresse localizados na parte luminal da organela, sendo,

inclusive, similar ao IRE1 em estrutura e função 34.

A porção citoplasmática de PERK também apresenta um domínio de proteína

quinase, que sofre ativação via trans- e autofosforilação, após oligomerização, em

resposta ao estresse de RE. Ao contrário do ramo da IRE1, em que seu único substrato é

ele mesmo, a PERK fosforila a subunidade alfa do fator de transcrição de iniciação da

tradução eucariótica-2 (eIF2α) em resíduo de serina (Ser51). Essa fosforilação inibe o

fator de troca de nucleotídeo guanina (eIF2B). O papel da eIF2B é converter o eIF2-GDP

inativo para o eIF2-GTP ativo. Assim, esta ativação é dificultada pela fosforilação da

subunidade alfa de eIF2 pela PERK, o que leva à formação de um complexo estável

eIF2α-P-GDP-eIF2B e, portanto, inibição da iniciação da tradução. Com isso, ocorre

redução da síntese proteica, e, portanto, redução da quantidade de proteínas recém-

sintetizadas que seriam destinadas ao lúmen do RE já estressado 35.

Além de diminuir a carga proteica mal enovelada no RE, a fosforilação da eIF2α

promove modulações na transcrição gênica da célula. Uma delas, é a síntese de activating

transcription factor 4 (ATF4) e do fator nuclear kB (NFkB) 36. Além disso, aumento de

ATF4 promove maior expressão de CHOP e de seus genes alvos, o growth arrest and

DNA damage-inducible protein-34 (GADD34) e da protein phosphatase 1 (PP1). A PP1

desfosforila o eIF2α, retomando o processo de síntese proteica na célula 37 38.

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Figura 1: Transdução de sinal de estresse de RE. O estresse de RE resulta na ativação

dos transdutores de estresse, PERK (esquerda), IRE1 (centro) e ATF6 (direita) presentes

na membrana do ER. O aumento da ligação de Bip às proteínas mal enoveladas no lúmen

de RE leva a sua dissociação dos transdutores e sua ativação. A PERK fosforila o eIF2a

e atenua a tradução da proteína, aliviando a carga de trabalho do ER. Em paralelo, a

tradução do ATF4 é paradoxalmente facilitada, o que induz a expressão de CHOP e

GADD34; O GADD34 tem como alvo a PP1 a eIF2a para desfosforilação, aliviando a

inibição da tradução. A ativação de IRE1 resulta no processamento de RNAm de XBP1,

regulando no núcleo as chaperonas do RE, componentes da maquinaria ERAD e

biossíntese de fosfolipídios. O IRE1 também degrada RNAm localizado na membrana do

RE, reduzindo a importação de proteínas recém-sintetizadas no lúmen do RE. O ATF6

ativado transloca-se para o Golgi, onde é clivado por S1P e S2P. O domínio

citoplasmático clivado é um ativador transcricional dos genes da UPR envolvidos no

enrolamento de proteínas, incluindo Bip, ERAD, biossíntese lipídica e expansão do ER.

A atividade de ATF6 é inibida pela proteína WFS1 39. Adaptado de Cnop et al., 2012.

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1.5. Estresse de retículo endoplasmático e célula beta pancreática

O estresse de RE consiste em um dos principais mecanismos relacionados ao

declínio progressivo da função e massa da célula beta durante a instalação do DM2 32. O

aumento crônico de ácidos graxos livres induz estresse de RE na célula beta 40. Os

mecanismos através dos quais os ácidos graxos induzem o estresse de RE incluem

depleção de Ca2+ do RE, prejuízo no tráfego de proteínas do RE para o Golgi (devido à

produção de ceramidas) 41 e degradação de carboxipeptidase E. Todos estes fenômenos

contribuem para falhas no processamento da proinsulina na via secretória 40. Ratos que

foram alimentados com dieta rica em lipídios apresentaram aumento da fosforilação de

PERK e da expressão de Bip na célula beta 42. Além disso, células beta são

particularmente sensíveis a agentes que depletam o Ca2+ do RE, tais como bloqueadores

da bomda sarco/retículo endoplasmático Ca2+-ATPase (SERCA), o ácido ciclopiazônico

(CPA) e tapsigargina 43. Exposição de células beta INS-1E ao CPA por 6 a 12h leva ao

estresse severo de RE, caracterizado pelo aumento de ATF4, Bip e XBP1 44

1.6. Estresse de retículo e Pdx-1

O Pdx-1, um fator de transcrição de suma importância para desenvolvimento e

sobrevivência da célula beta 45 regula a função do RE. O Pdx-1 controla genes envolvidos

na formação da ponte dissulfeto, enovelamento de proteínas e a UPR, ligando-se

diretamente aos promotores do ATF4 e do WFS1 (wolframin ER transmembrane

glycoprotein) 46. Além de induzir chaperonas, o ATF4 induz transcrição da CHOP. Esta

via constitui uma sinalização pro-apoptótica na célula beta tanto em modelos in vitro 47,

quanto em modelos in vivo 48.

A ativação prolongada de ATF6 inibe a atividade do promotor da insulina, através

da redução da expressão de Pdx-1 e de MafA 49, influenciando, assim, a transcrição de

componentes essenciais à função da célula beta. Outro estudo observou que agentes que

induzem o estresse de RE como CPA e tapsigargina foi capaz de inibir a expressão de

genes de grande importância em células beta como, insulina-1 (Ins1) e insulina-2 (Ins2)

43.

1.7. AICAR, metformina e célula beta

A metformina é um fármaco muito utilizado para o tratamento de DM2, porem

seus efeitos ainda não são totalmente definidos. Seus efeitos mais conhecidos é a

diminuição da produção hepática de glicose e aumento da captação de glicose pelo

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musculo esquelético 50. O composto farmacológico 5-Aminoimidazol-4-carboxamida-1-

β-D-ribonucleósido (AICAR), quando metabolizado em ZMP é um análogo de AMP

assim aumentando a razão ATP/ADP nas células, além disso regula genes ligados ao

metabolismo oxidativo, angiogênese e preservação de glicose 51. AICAR e metformina

são drogas que ativam uma proteína chamada AMP-activated protein kinase (AMPK).

Esta é uma proteína quinase serina/treonina heterotrimérica ativada por várias situações

fisiológicas ou patológicas de estresse que resultam em uma razão diminuída de

ATP/ADP+AMP 52,53. A AMPK age reprimindo vias que consomem energia e ativando

vias catabólicas para produzir ATP 52,53. Ainda, diminui processos que utilizam ATP ou

biossíntese de ácido graxo e colesterol, através da fosforilação da acetil-Coa carboxilase

(ACC) e da 3-hidroxi-3-methyl-glutaril-CoA redutase (HMGR), respectivamente, com

isso repõe ATP disponível promovendo oxidação de ácido graxo. A AMPK também

exerce seus efeitos sobre o balanço energético celular, através de modificações na

expressão gênica e tradução de proteínas 54–56. Além disso, foi reportada interação da

AMPK com a sinalização da mTOR na célula beta, indicando que nutrientes como a

glicose ou aminoácidos podem representar componentes de um mecanismo que permite

a coordenação entre disponibilidade energética, síntese proteica e crescimento da célula

beta 57. Ainda, o aumento da atividade da AMPK induz aumento da transcrição de Pdx-

1, via PPar- α 54.

O papel do AICAR sobre a secreção de insulina ainda é controverso 57. O Efeito

do AICAR (500 µM) na secreção é notado apenas na presença de concentrações mais

elevadas de glicose (8, 10 e 15 mM) 58. Superexpressão de AMPK por adenovírus induziu

supressão da secreção de insulina em ilhotas isoladas de ratos e em células MIN6 56, No

entanto, a superexpressão da AMPK não resultou em alterações no conteúdo de insulina

em células beta 59. Apesar de algumas evidências sugerirem aumento de apoptose, via

ativação de JNK em células MIN6 60,61, há uma série de trabalhos que mostram que o

AICAR não influencia na morte das células beta MIN6N8 em 2 dias de tratamento (1

mM) 59. Ainda, outros trabalhos reportam que o tratamento com AICAR a 1 mM ou 2

mM de metformina protegeu células INS-1E do efeito apoptótico induzido por palmitato

(250 µM) 62. Corroborando este achado, AICAR reduziu os efeitos tóxicos dos ácidos

graxos via sua ação lipolítica, bem como a metformina (500 µM), diminuindo, assim, a

morte das células beta 63.

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1.8. Treinamento físico

Os efeitos dos mais variados programas de treinamento físico são amplamente

estudados em humanos 64,65–67. O treinamento físico melhora o metabolismo energético,

sendo grande parte dessas adaptações atribuída ao músculo esquelético 68,69. No entanto,

o treinamento físico influencia outros órgãos ou tecidos, incluindo, pelo menos, fígado,

tecido adiposo, cérebro e pâncreas. O exercício produz melhoras na dislipidemia de

indivíduos afetados pela obesidade, através da restauração da expressão gênica de

enzimas relacionadas à oxidação de gordura e a lipogênese hepáticos 70,71, evidenciando

um cross-talk entre o músculo e outras células do organismo.

Mais particularmente na célula beta, trabalhos com roedores sugerem que o

treinamento físico melhora vários aspectos relacionados à função da célula beta e da ilhota

pancreática; tais como aumento do conteúdo de transportador GLUT2 72, melhora da

sinalização da Akt e a atividade da enzima glucoquinase 73,74, e aumento da respiração

mitocondrial na ilhota pancreática 73. Além disso, a contração muscular induz melhora na

sobrevivência da célula beta no diabetes tipo 1 através do IL-6; isso foi evidenciado

através do soro obtido de animais treinados ou meio condicionado de células C2C12,

previamente tratadas com AICAR, resultando na redução da morte de célula beta induzida

por IL-1β e IFN-γ em 15 e 38%, respectivamente 75.

Assim, neste trabalho nossa hipótese foi de que um programa de treinamento

físico de corrida em esteira, em camundongos C57BL/6 induzidos à obesidade por dieta

rica em lipídio, seria capaz de prevenir os efeitos deletérios da obesidade e o estresse de

RE em ilhotas pancreáticas. Ainda, utilizando uma abordagem in vitro, nossa hipótese foi

de que a metformina seria capaz de modular preventivamente as respostas em células beta

INS-1E, frente ao estresse de RE induzido pelo CPA.

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2. OBJETIVOS

Avaliar os efeitos do treinamento físico e da metformina, in vivo e in vitro,

respectivamente, sobre o estresse de retículo endoplasmático na ilhota e na célula beta

pancreática INS-1E.

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3. METODOLOGIA

3.1. Animais

Animais provenientes do CEMIB/Unicamp, camundongos C57BL/6Unib, com 21

dias, foram mantidos no biotério do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional,

Fisiologia, do Instituto de Biologia/Unicamp, e acondicionados em gaiolas (4/gaiola) com

ração e água à vontade, fotoperíodo de 12h e temperatura de 23°C. Todos ss experimentos

conduzidos foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade

Estadual de Campinas, CEUA, número 5023-1/2018.

3.2. High Fat-Diet

Com 90 dias de idade, os camundongos foram separados em 4 grupos: controle

(Ctl), controle treinado (Tr), alimentado com dieta hiperlipídica (HFD), e alimentado com

a dieta rica em gordura e também submetido ao treinamento (HFD Tr). Os grupos Ctl e

Tr receberam ração com conteúdo normal de gordura (Nuvital, SP), enquanto os animais

HFD e HFD Tr foram alimentados com dieta rica em gordura (PragSoluções, SP) (Anexo

1).

3.3. Exercício

Para o treinamento, os animais foram aclimatados à esteira, com baias individuais

sem choque. O protocolo foi composto por 16 semanas de duração onde os animais

correram a uma velocidade correspondente a 70% da sua capacidade máxima de esforço.

Iniciamos o protocolo com 10 min de duração, aumentando gradualmente até atingir 60

min por dia, 5 dias por semana. Sua capacidade máxima de esforço foi quantificada a

partir do teste de corrida na esteira, em que os animais começaram a correr em uma

velocidade de 5 centímetros por segundo e foram aumentados 3 centímetros a cada minuto

até o animal entrar em exaustão, o teste foi realizado antes do início, no meio e no final

do treinamento, avaliando o desempenho dos animais e obtendo reajustes na porcentagem

de velocidade ao decorrer do treinamento.

3.4. Isolamento de ilhota pancreática e secreção estática de insulina

Os camundongos foram eutanasiados por aprofundamento da anestesia seguido de

decapitação; após incisão abdominal foi injetado um volume de 2,5 ml de solução de

Hanks enriquecida com 0,8 mg/ml de Colagenase (Sigma) no pâncreas através do ducto

biliar comum, este foi dissecado e transferido para um tubo de 50 ml. O pâncreas foi

mantido em banho a 37ºC por 10 min. As ilhotas, então completamente separadas do

tecido acinar, foram coletadas uma a uma em lupa. Em seguida, as ilhotas purificadas

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foram utilizadas para os protocolos de determinação de conteúdos gênico (Chop,

Grp78/Bip, Atf4, Xbp1, Ins2 e Pdx-1). Além disso, grupos de quatro ilhotas foram pré-

incubadas por 30 min em solução Krebs-bicarbonato (KB) pH 7,4 (NaCl 120 mM; KCl 5

mM; NaHCO3 25 mM; CaCl2 2,56 mM; MgCl2 1,13 mM), contendo 0,25% de albumina

bovina, na presença de 2,8 mM de glicose e de carbogênio (mistura de 95% de O2 e 5%

de CO2). Após, o meio foi descartado e as ilhotas foram incubadas com solução KB na

presença de diferentes concentrações de glicose, por 1h. Terminada a incubação foi

recolhida uma alíquota do sobrenadante a qual foi estocada a -20ºC para posterior

dosagem de insulina. Após os procedimentos de incubação, o conteúdo total de insulina

das ilhotas foi extraído utilizando-se solução de álcool ácido e a dosagem foi realizada

por radioemunoensaio.

3.5. Teste intraperitoneal de tolerância à glicose (ipGTT)

Os animais foram mantidos em jejum de 12 horas e a glicemia de jejum e foi

avaliada com aparelho Accu-Check Advantage II. Em seguida, foi administrada glicose

(1g/kg de peso do animal) via intraperitoneal e os valores de glicemia foram verificados

nos tempos 15, 30, 60, 90 e 120 minutos após o desafio glicêmico.

3.6. Teste intraperitoneal de tolerância à insulina (ipITT)

Cinco dias após o ipGTT foi realizado o ipITT. Os animais foram mantidos em

jejum de 4 horas e a verificação da glicemia foi realizada com o aparelho Accu-Check

Advantage II (tempo 0). Posteriormente, a insulina regular humana foi administrada via

intraperitoneal (1 U/kg de peso corporal). A glicemia foi verificada nos tempos 3, 6, 9,

12, 15 e 18. A taxa da constante de decaimento da glicose (kitt) foi calculada usando a

fórmula 0.693/t1/2. A glicose t1/2 foi calculada através da análise da queda do quadrado

da concentração de glicose plasmática durante o decaimento da fase linear.

3.7. Cultura de células INS-1E

Linhagens de células beta de rato, INS-1E, gentilmente cedidos pelo Prof Dr

Wolheim (Center Medical Universitaire, Geneva, Switzerland), foram mantidas em

cultura (37ºC, 5% CO2), em meio RPMI-1640 contendo 11 mM de glicose e

suplementado com 5% de soro fetal bovino, 100 U/ml de penicilina, 100 mg/ml de

estreptomicina, 100 µg/ml de piruvato de sódio e 50 µmol/ml de mercaptoetanol. As

células previamente tratadas com CPA (500 µM) por 16h, foram testadas com diferentes

concentrações de AICAR (500 µM, 1mM, 2mM) e metformina (500 µM, 1 mM, 2mM)

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por 16h, em seguida foram definidas as concentrações de CPA 12,5 µM e de metformina

500 µM.

3.8. Western Blotting

Extratos proteicos de células INS-1E tratadas com CPA, AICAR ou metformina,

foram quantificados utilizando-se reagente Bradford (BioRad), e tendo como base uma

curva padrão de albumina (BSA). As amostras foram então incubadas a 100°C por 3 min

em Tampão de Laemmli contendo DTT. Para corrida eletroforética foi aplicado um

volume correspondente a 20 a 30 µg de proteína em gel bifásico (gel de empilhamento e

gel de resolução). Após a corrida as amostras foram transferidas para uma membrana de

nitrocelulose (BioRad) com tampão de transferência. Após bloqueio (5% de albumina

bovina) as proteínas de interesse foram detectadas com anticorpo específico, seguida de

incubação com anticorpo secundário contendo peroxidase (HRP) e, finalmente, com

reagentes de quimioluminescência. As imagens foram capturadas em fotodocumentador

(Amersham™ Imager 600, Life Sciences) e a intensidade e quantificação das bandas

foram medidas por densitometria (ImageJ, Bethesda, USA), sendo os valores das bandas

normalizados pelos valores de densitometria do controle interno GAPDH.

3.9. PCR quantitativo

As amostras de RNA mensageiro (RNAm) foram obtidas a partir da técnica de

extração utilizando-se o Trizol (ThermoFisher Scientific), de acordo com instruções do

fabricante. O RNA obtido foi convertido em cDNA utilizando-se o kit High Capacity

(Applied Biosystems), de acordo com manual do fabricante. Em seguida, o cDNA foi

quantificado, diluído a 300 ng/µl e cerca de 600 ng das amostras foram aplicados em

placas de 96 poços, de modo a obter a quantificação relativa de cDNA ao final do PCR

quantitativo. A amplificação foi ainda normalizada pelo controle interno HPRT, e a

expressão gênica relativa foi determinada utilizando-se o método de 2-ΔΔCT 76. As reações

foram realizadas de acordo com o manual do fabricante (Applied Biosystems).

3.10. Análise estatística

Os grupos foram analisados pelo teste ANOVA two-way seguido de pós-teste de

Bonferroni. As análises foram realizadas no programa GraphPadPrism 5. O nível de

significância adotado para as análises foi de P< 0,05.

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4. RESULTADOS

4.1. O treinamento reduz o ganho de peso de animais alimentados com dieta

hiperlipídica

Os animais tiveram seu peso corporal determinado semanalmente ao longo de 16

semanas a partir do início da administração da dieta hiper lipídica e do treinamento físico.

Ao longo desse período, como esperado, os animais do grupo controle (Ctl) e do grupo

treinado (Tr) apresentaram uma estabilidade no ganho de peso corporal, já os animais que

receberam a dieta hiper lipídica (HFD) e submetidos ao treinamento concomitantemente

com a dieta (HFD Tr), tiveram aumento de peso (Fig. 1A). Se observou um aumento do

peso corporal do grupo HFD e HFD Tr em relação ao grupo Ctl, representando pelo

aumento no valor da área sob a curva (AUC) deste grupo (Fig. 1B) em relação ao valor

de AUC do grupo Ctl. O treinamento não foi capaz de prevenir o peso dos animais como

demonstrado no gráfico da figura 1B. No entanto, quando avaliamos o ganho de peso

desses animais, o treinamento físico promoveu prevenção do ganho de peso nos animais

do Grupo HFD Tr, quando comparado ao grupo HFD (Fig. 1C). Além disso, os animais

que foram submetidos ao treinamento, tiveram sua capacidade máxima de esforço na

esteira avaliados, observamos uma menor capacidade de esforço máximo na decima sexta

semana de treinamento dos animais do grupo HFD Tr que receberam a dieta lipídica,

comparados com os animais que somente treinaram e receberam dieta padrão Tr (Fig 1D).

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Figura 2: Evolução do peso corporal (A), área sob a curva do peso corporal (B) e ganho

de peso (C) dos animais Ctl, Tr, HFD e HFD Tr. Teste de esforço (D) dos animais HFD

e HFD Tr. As barras representam a média ± EPM. O asterisco (*) representa o efeito da

dieta hiper lipídica (grupo HFD) em comparação à dieta padrão (grupo Ctl), e o cerquilha

(#) o efeito do exercício físico em animais obesos (grupo HFD Tr) em comparação ao

grupo obeso sedentário (grupo HFD). ANOVA de duas vias seguido pelo pós-teste de

Bonferroni. P<0,05, n= 6-7.

4.2. O treinamento reduz o peso de tecidos adiposos em animais alimentados

com dieta hiperlipídica

Após a eutanásia dos animais, diferentes depósitos de gordura e o músculo

gastrocnêmio foram dissecados e tiveram sua massa determinada. Observamos o aumento

de peso dos tecidos adiposo retroperitoneal, inguinal, perigonadal e marrom do grupo

HFD em comparação com Ctl (Fig. 2A, B, C e D). Já os animais do grupo HFD Tr

apresentaram menor peso do tecido adiposo retroperitoneal, inguinal e marrom (Fig. 2A,

B e D), em comparação aos animais HFD. Entretanto, o treinamento não foi capaz de

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prevenir o ganho de peso do tecido adiposo perigonadal (Fig. 2C). Além disso, o peso do

musculo gastrocnêmio foi similar entre os grupos HFD e HFD Tr (Fig. 2E), sem

diferenças significativas.

Ctl T

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Figura 3: Peso do tecido adiposo retroperitoneal (A), Inguinal (B), Perigonadal (C), e

Marrom (D). Peso do musculo gastrocnêmio (E) dos animais Ctl, Tr, HFD e HFD Tr. As

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barras representam a média ± EPM. O asterisco (*) representa o efeito da dieta hiper

lipídica (grupo HFD) em comparação à dieta padrão (grupo Ctl), e o cerquilha (#) o efeito

do exercício físico em animais obesos (grupo HFD Tr) em comparação ao grupo obeso

sedentário (grupo HFD). ANOVA de duas vias seguido pelo pós-teste de Bonferroni.

P<0,05, n= 6-7.

4.3. Melhora da homeostase glicêmica em animais obesos treinados

Os animais foram mantidos em jejum overnight e tiveram sua glicemia de jejum

obtida (tempo 0). Em seguida, receberam uma dose de glicose intraperitoneal, e a

glicemia foi verificada nos tempos 15, 30, 60, 90 e 120 min (Fig. 3A). Foi observada

intolerância à glicose no grupo HFD em relação ao grupo Ctl, representado pelo aumento

no valor da área sob a curva (AUC) deste grupo (Fig. 3B) em relação ao valor de AUC

do grupo Ctl. No entanto, animais HFD Tr, foram mais tolerante à glicose que os animais

HFD (Fig.3A-B). Para avaliarmos a resistência à insulina, os animais foram mantidos em

jejum por 6 horas e tiveram sua glicemia de jejum obtida (tempo 0). Em seguida,

receberam uma administração intraperitoneal de insulina, e a glicemia foi verificada nos

tempos 3, 6, 9, 12, 15 e 18 min (Fig. 3C). Neste teste, se observou resistência à insulina

no grupo HFD em relação ao grupo Ctl, representado pelo aumento no valor da AUC

deste grupo (Fig. 3D) em relação com o grupo Ctl. No entanto, os animais HFD Tr,

apresentaram maior sensibilidade à insulina que os animais HFD (Fig. 3C-D). Estes dados

corroboram com o resultado do cálculo da constância de decaimento da glicemia (kITT)

(Fig. 3E).

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Figura 4: Curva glicêmica do teste de tolerância à glicose (A) e área sob a curva (B).

Curva glicêmica do teste de tolerância a insulina (C), área sob curva (D) e cálculo da

constante de decaimento da glicose (E) dos animais Ctl, Tr, HFD e HFD Tr. As barras

representam a média ± EPM. O asterisco (*) representa o efeito da dieta hiper lipídica

(grupo HFD) em comparação à dieta padrão (grupo Ctl), e o cerquilha (#) o efeito do

exercício físico em animais obesos (grupo HFD Tr) em comparação ao grupo obeso

sedentário (grupo HFD). ANOVA de duas vias seguido pelo pós-teste de Bonferroni.

P<0,05, n= 8.

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30

4.4. Treinamento físico reduz glicemia de jejum e secreção e conteúdo de

insulina em camundongos obesos

Na avaliação da glicemia de jejum dos animais, observamos que o grupo HFD

apresentou valores maiores de glicemia que os animais do grupo Ctl (Fig. 4A), no entanto,

os animais HFD Tr apresentaram valores inferiores de glicemia comparados com animais

HFD. Além disso, avaliamos a insulinemia em jejum (Fig. 4B), estes dados corroboram

com os valores de glicemia de jejum, evidenciado pelo aumento nos camundongos HFD,

conforme esperado. Também foi avaliada a secreção e conteúdo de insulina em ilhotas

pancreática isoladas, e observado aumento da secreção e conteúdo de insulina no grupo

HFD, comparado com o grupo Ctl, e menor secreção e conteúdo do hormônio em ilhotas

do grupo HFD Tr, comparado com o grupo HFD (Fig. 4C). A secreção foi estimulada

pela glicose em ensaio de secreção estática de insulina.

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Figura 5: Glicemia (A) e insulinemia de jejum (B). Secreção estática de insulina em

ilhotas isoladas na presença de 2.8 e 16 mM de glicose (C). conteúdo total de Insulina (D)

dos animais Ctl, Tr, HFD e HFD Tr. As barras representam a média ± EPM. O asterisco

(*) representa o efeito da dieta hiper lipídica (grupo HFD) em comparação à dieta padrão

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(grupo Ctl), e o cerquilha (#) o efeito do exercício físico em animais obesos (grupo HFD

Tr) em comparação ao grupo obeso sedentário (grupo HFD). ANOVA de duas vias

seguido pelo pós-teste de Bonferroni. P<0,05, n= 4-7.

4.5. Avaliação da expressão de marcadores de estresse de RE, insulina e Pdx-1

em ilhotas pancreáticas

Foi realizada análise gênica através de PCR quantitativo para avaliação de

marcadores de estresse de RE. Um marcador importante, o ATF4 apresentou expressão

aumentada no grupo HFD, comparado com o grupo Ctl (Fig. 5A). Já para os marcadores

Chop, XBP1 e Bip (Fig. A, B e D) não houve diferença estatística entre o grupo HFD e

Ctl. O treinamento físico preveniu aumento do conteúdo gênico de Chop, ATF4 e Bip,

conforme observado no grupo de animais HFD Tr, quando comparados aos grupos

alimentados com HFD (Fig. 5A, C e D). Como já descrito na literatura, observamos um

aumento na expressão gênica de insulina (Ins2) na ilhota pancreática nos animais HFD

em comparação com o grupo Ctl, e menor expressão de Ins2 nas ilhotas dos animais do

grupo HFD Tr, comparados com o grupo HFD (Fig. 5E). Estes resultados estão de acordo

com a secreção do hormônio no grupo HFD Tr, estimulado pela glicose em ilhotas

isoladas, e com a concentração de insulina plasmática (Fig. 4B-C).

Além disso, na avaliação do conteúdo gênico do fator de transcrição Pdx-1 foi

observada menor a expressão em ilhotas de camundongos treinados, comparada ao grupo

HFD, sem diferenças significativas do grupo HFD, quando comparado ao grupo Ctl (Fig.

5F).

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Figura 6: Análise da expressão gênica de Chop (A), Xbp1 (B), Atf4 (C), Bip (D), Ins2

(E) e Pdx-1 (F) em ilhotas pancreáticas dos animais Ctl, Tr, HFD e HFD Tr. Todas as

amostras foram normalizadas pelo gene controle interno Hprt. As barras representam a

média ± EPM. O asterisco (*) representa o efeito da dieta hiper lipídica (grupo HFD) em

comparação à dieta padrão (grupo Ctl), e o cerquilha (#) o efeito do exercício físico em

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animais obesos (grupo HFD Tr) em comparação ao grupo obeso sedentário (grupo HFD).

ANOVA de duas vias seguido pelo pós-teste de Bonferroni. P<0,05, n= 6-8.

4.6. Curva Dose-Resposta de exposição ao CPA em células INS-1E

Células INS-1E foram expostas a diferentes concentrações de CPA (6µM, 12µM

e 25µM) durante 16 horas, para padronizar nosso modelo de estresse de retículo in vitro.

Em seguida, avaliamos a expressão gênica dos marcadores de estresse de retículo e

observamos um aumento da expressão gênica de Chop, dependente da dose (Fig. 5A).

Além disso, doses elevadas de CPA (12 e 25µM) levaram ao aumento da expressão de

Bip (Fig. 5B).

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Figura 7: Expressão gênica de Chop (A) e Bip (B) em células INS-1E expostas a 6, 12 e

25µM de CPA. Todas as amostras foram normalizadas pelo gene controle interno Hprt.

As barras representam a média ± EPM. O asterisco (*) representa o efeito do CPA em

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comparação com o grupo controle, com diferenças estatísticas entre os grupos. ANOVA

de duas via seguido pelo pós-teste de Bonferroni. P<0,05, n= 5.

4.7. Expressão proteica de CHOP e PDX-1 com a exposição ao CPA e

tratamento com metformina e AICAR

Células INS-1E expostas a 12µM de CPA apresentaram aumento no conteúdo

proteico de Chop (Fig. 7A), juntamente com diminuição da expressão de PDX-1 (Fig.

7C). Além disso, as diferentes concentrações de metformina não foram totalmente

eficazes em reverter esses parâmetros. Podemos observar um aumento da expressão de

Chop nas concentrações de 1µM e 2µM de metformina (Fig. 7A), associadas à diminuição

da expressão de PDX-1 (Fig. 7C), sugerindo um aumento de estresse de retículo nesses

grupos. Já no grupo tratado com 0,5µM de metformina podemos observar uma reversão

parcial do conteúdo proteico de Chop (Fig. 7A), além do aumento da expressão de PDX-

1 (Fig. 7C), sugerindo um papel protetor da metformina em reduzir os efeitos deletérios

do estresse de RE, em células INS-1E tratadas com a droga. Os grupos expostos ao CPA

e tratados com doses de 0,5µM, 1µM e 2µM de AICAR, apresentaram alta toxicidade,

uma vez que a expressão proteica de CHOP se manteve igual e/ou aumentada em

comparação com a exposição isolada ao CPA (Fig. 7B), além da diminuição da expressão

de PDX-1 (Fig. 7D) nesses grupos.

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A B

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Figura 8: Expressão proteica de CHOP (A e B) e PDX-1 (C e D) em células INS-1E

expostas ao CPA na concentração de 12µM, além disso tratadas com 0,5µM, 1µM e 2µM

de metformina e AICAR. As barras representam a média ± EPM. O asterisco (*)

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representa o efeito do CPA em comparação com o grupo controle, e o cerquilha (#) o

efeito do tratamento com metformina em comparação com o grupo foram expostos ao

CPA, com diferente estatísticas entre os grupos. ANOVA de duas via seguida pelo pós-

teste de Bonferroni. P<0,05, n= 3

4.8. Marcadores de estresse de RE em células INS-1E expostas ao CPA e

tratadas com metformina

O estresse induzido pela exposição ao CPA levou ao aumento da expressão gênica

de marcadores como Chop (Fig. 8A), Bip (Fig. 8B), Atf4 (Fig. 8C), Xbp1 (Fig. 8D) e

Serca2b (Fig. 8E). Além disso, foi observado um menor conteúdo gênico de Pdx-1 (Fig.

8F). Já o tratamento com metformina levou a uma prevenção do aumento conteúdo gênico

de Pdx-1, sugerindo um papel protetor da metformina em reduzir os efeitos deletérios do

estresse de RE, considerando a redução parcial do conteúdo proteico de Chop (Fig. 7A),

e do conteúdo gênico de Bip, Atf4, Xbp1 e Serca2b (Fig. B, C, D e E) observados no grupo

tratado. As alterações na expressão de genes importantes para a produção de insulina e

sobrevivência da célula beta pancreática podem ocorrer devido ao aumento do fator de

transcrição Pdx-1, em INS-1E tratadas com metformina.

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A B

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E F

Figura 9: Expressão genica de Chop (A), Xbp1 (B), Atf4 (C), Bip (D), Serca2b (E) e Pdx-

1 (F), na exposição ao CPA a 12µM e tratados com a droga metformina a 0,5µM. As

barras representam a média ± EPM. O asterisco (*) representa o efeito do CPA em

comparação com o grupo controle, e o cerquilha (#) o efeito do tratamento com

metformina em comparação com o grupo foram expostos ao CPA, com diferente

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estatísticas entre os grupos. ANOVA de duas vias seguidas pelo pós-teste de Bonferroni.

P<0,05, n= 4-5.

5. DISCUSSÃO

No presente estudo avaliamos o potencial do treinamento físico, em ilhotas de

camundongos obesos C57/BL6, bem como da metformina em células INS-1E, em

reverter o estresse de RE. Nossos dados sugerem papel protetor, tanto do treinamento

quanto da metformina, sobre os mecanismos que levam à disfunção da célula beta

pancreática durante a progressão do DM2.

5.1. Treinamento físico

Quanto ao treinamento físico, são inúmeros os benefícios à saúde promovidos pela

sua prática, porém pouco se sabe sobre como o treinamento é capaz de induzi-los. Há

evidências de que o meio condicionado com soro de animais treinados melhora as

disfunções em células beta pancreáticas tratadas, reduzindo a morte celular induzida por

citocinas inflamatórias 75. Ainda, foi reportado que ilhotas isoladas de camundongos

treinados, que foram expostas a citocinas inflamatórias, apresentaram redução dos efeitos

deletérios induzidos pelas mesmas, evidenciada pela diminuição de caspase-3 clivada.

Em estudos em que células INS-1E e ilhota pancreática de camundongo foram expostas

a citocinas inflamatórias ou CPA, para indução de apoptose, e em seguida tratadas com

meio condicionado com soro de animais treinados, se observou uma atenuação de

apoptose, bem como da expressão de marcadores de estresse de RE, como Chop e Xbp1

77. Nesse sentido, nosso estudo se propôs a avaliar in vivo o possível efeito do exercício

sobre a função da ilhota pancreática em camundongos obesos. Nossos dados mostraram

que o exercício é capaz de proteger as ilhotas pancreáticas, diminuindo a expressão de

genes da UPR como Atf4, Chop e Bip, em camundongos obesos, corroborando com os

poucos estudos que avaliaram a célula beta ou ilhota pancreática 75,77.

Nós observamos que o treinamento preveniu aumento da expressão dos

marcadores canônicos de estresse de RE em animais obesos, mesmo quando a dieta

hiperlipídica não foi capaz de induzir o aumento dos mesmos no grupo HFD, conforme

já é reportado 42. Ainda que a HFD não tenha induzido aumento de alguns marcadores da

UPR na ilhota, todos os outros parâmetros avaliados, como ganho de peso, adiposidade,

hiperinsulinemia, intolerância à glicose e à insulina, indicaram que a dieta induziu os

efeitos deletérios. Efeitos estes, que foram atenuados pelo treinamento. Em animais que

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foram alimentados com HFD e submetidos ao treinamento houve diminuição de

expressão dos marcadores de estresse de RE, evidenciando o efeito protetor do exercício

sobre marcadores da UPR. Destaca-se em nosso estudo, aumento da expressão gênica de

ATF4 induzido pela HFD, indicando um possível estresse metabólico moderado para a

ilhota pancreática, já que levou à ativação de somente um ramo da UPR. Assim, podemos

inferir que a ativação de uma das vias associadas ao estresse de RE, pôde ser prevenida

pelo programa de treinamento baseado em corrida em esteira que estabelecemos em nosso

trabalho. Segundo estudos, a UPR pode ser ativada de forma gradativa, levando, no fim,

a uma disfunção da célula beta e à incapacidade de sustentar a secreção de insulina. Isso

é evidenciado pela redução de ATF6, XBP1 e p-eIF2α em ilhotas isoladas de pacientes

com DM2 78. Em camundongos obesos ob/ob, com 8 semanas de vida, foi observada

redução de ATF6 e de XBP1, associadas à hiperglicemia e à hiperinsulinemia, sem

alterações dramáticas da massa de célula beta, indicando um menor grau de estresse de

RE 78. É interessante observar que a ilhota apresentou uma resposta compensatória, o que

é evidenciado pelo estado euglicêmico do camundongo obeso ob/ob, após 18 semanas.

Assim, parece que a transição para a euglicemia pode ser resultante da ação efetiva da

UPR para minimizar a morte celular, e permitir este mecanismo compensatório da célula

beta, frente à hiperglicemia 78. Estes mecanismos foram associados à normalização de

Atf6, Xbp1 e p-eIF2α, comparado ao camundongo controle, indicando um baixo grau de

estresse de RE neste modelo.

Em camundongos C57/BL6 alimentados com HFD, após 13 semanas, foi

observado aumento de p-eIF2α, sem modulações de XBP1. O que é consistente com

nossos dados, já que em nosso modelo houve aumento de Atf4, que é um ramo de p-

eIF2α; isso foi associado ao aumento da insulinemia, conteúdo de insulina e da glicemia

de jejum, o que indicaria um estado pré-diabético, conforme reportado 78. Já em outro

estudo, que comparou camundongos db/db e ob/ob, observou-se diferenças importantes

quanto a expressão de Xbp1, com aumento de sua expressão gênica em db/db com 6

semanas, e normalização após 16 semanas de vida, comparado ao controle 79. Porém, em

camundongos ob/ob foi observado aumento de Xbp1 tanto em 6 semanas quanto em 16

semanas de vida, contrastando com os dados do trabalho discutido anteriormente 78. É

importante ressaltar que a Xbp1 compreende uma via de ativação da UPR que induz

aumento da síntese de proteínas antioxidantes e chaperonas, e aumento da sua expressão

é associada à redução de apoptose 40. Não encontramos diferenças significativas de Xbp1

em nosso modelo, corroborando com dados já reportados 78.

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40

Assim, é possível que uma forma branda de estresse de RE, através de um único

ramo da UPR, p-eIF2α-Atf4, e com menor expressão da Chop, seja acarretada pela HFD

em nosso modelo. Vale ressaltar, que este tratamento com HFD, leva ao aumento da

massa de célula beta na ilhota pancreática e hiperinsulinemia em jejum 42. A julgar pela

hiperinsulinemia, conteúdo de insulina e pelo aumento da expressão de Ins2 é possível

que em nosso modelo de obesidade ocorra mecanismo compensatório da ilhota em

resposta à hiperglicemia de jejum, mantendo a via p-eIF2α-ATF4 aumentada, e com

normalização da expressão de Xbp1 no final do tratamento com HFD, assim como

reportado em outro estudo 78. Nossa estratégia abordada neste estudo procurou entender

se o exercício seria capaz de prevenir ou atenuar os efeitos deletérios da HFD. Assim,

avaliamos tais marcadores da UPR em camundongos que treinaram em esteira 1h por dia,

5 vezes na semana. Observamos que o treinamento foi capaz de prevenir o aumento da

expressão de Chop, Atf4 e Bip, ao final de 16 semanas de HFD, associados à menor

glicemia de jejum, insulinemia, conteúdo de insulina, expressão de Pdx-1 e Ins2

reduzidas, assim como da secreção de insulina estimulada por glicose em ilhotas isoladas.

Algumas reflexões podem explicar tal efeito preventivo do exercício sobre os

efeitos da dieta hiperlipídica. Os camundongos treinados que receberam HFD

apresentaram maior sensibilidade à insulina no ITT, comparados aos animais HFD. Esta

melhor sensibilidade leva à melhora da homeostase glicêmica nos animais HFD Tr,

prevenindo o mecanismo compensatório da ilhota pancreática e, portanto, levando à

insulinemia normal nestes animais. Assim, seria possível concluir que o treinamento é

capaz de prevenir a instalação do estresse de RE pela melhora do metabolismo glicêmico.

Outra observação importante é que moléculas conhecidas como miocinas são

liberadas durante o treinamento físico pelo tecido muscular esquelético 75,77,80. Há

evidências de que estas moléculas podem reduzir apoptose na célula beta pancreática. Um

estudo mostrou que a irisina, uma miocina secretada em reposta ao exercício, protege as

células beta pancreáticas, através da ativação de ERK1/2, aumentando a expressão de

membros da família anti-apoptótica Bcl2, levando à redução da expressão de caspase 9 e

3 clivada 81. Ainda, há estudos que mostram m papel da IL-6, uma citocina liberada pelo

músculo esquelético em camundongos treinados, promovendo redução de morte celular

in vitro em células INS-1E expostas à IL-1β e ao IFN-γ, em modelo de DM1 75. Em outro

estudo, a IL-6 promoveu redução de apoptose, in vitro, através do uso de meio

condicionado, com soro de camundongos e humanos treinados, tanto em células INS-1E

quanto em células beta humanas EndoC-βH1. Nas células INS-1E houve redução de Chop

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41

e Xbp1 nas células expostas à IL-1β e ao IFN-γ e que foram tratadas com o meio

condicionado. Neste trabalho, a ação específica da IL-6 foi demonstrada através do uso

de anticorpo contra esta citocina, e através da inibição de STAT-3, a principal via de ação

da IL-6 77. Dessa forma, é possível que estas, dentre outras possíveis miocinas que foram

liberadas no plasma, em nosso modelo treinado, poderiam prevenir o estresse de RE no

camundongo obeso, como observamos em nosso estudo. A limitação do nosso trabalho

foi a não avaliação dos efeitos de miocinas liberadas pelo exercício, estes experimentos

serão realizados futuramente.

5.2. Tratamento de células INS-1E com metformina

Outra particularidade deste estudo, na avaliação do estresse de RE em células beta

pancreáticas, foi o uso in vitro de metformina, como possível agente protetor. A

metformina se destaca como um dos medicamentos amplamente utilizados para o

tratamento de distúrbios do metabolismo glicêmico. Considerando o impacto de tais

distúrbios sobre a sobrevivência da célula beta pancreática, encontrar terapias que

resultem na diminuição da morte celular, impedindo consequente a instalação do DM2, é

de grande importância. Tem sido reportado o papel da metformina em inibir marcadores

apoptóticos da UPR em diversos tipos celulares 82,83. Apesar de poucos estudos

disponíveis sobre o efeito da metformina na ilhota e na célula beta, pois seu principal alvo

é o hepatócito, há evidências de que a droga pode modular a função insular 62,84.

Nós observamos que o tratamento com metformina levou à prevenção do aumento

dos marcadores canônicos de estresse de RE em células beta INS-1E, quando expostas a

droga estressora CPA. Os marcadores avaliados que apresentaram menor expressão de

RNAm foram Bip, Atf4 e Xbp1, porém não foi observada diferença significativa no

RNAm de Chop, comparados com células expostas ao CPA. Além disso, o tratamento

com metformina induziu aumento da transcrição do RNAm de Pdx-1. Estes dados

indicam que as possíveis vias moduladas pela metformina e que atenuaram os efeitos

danosos do ER foram as vias da PERK, a julgar pela menor expressão de Atf4, e o ramo

da IRE1, já que observamos diminuição de RNAm de Xbp1. Ainda, há relatos de que o

fator de transcrição Pdx-1 forma complexos com Atf4 e controla expressão gênica para

respostas apoptóticas e anti-apoptóticas, dependendo do tipo de estresse a que a célula é

exposta 85. Dentre as funções do Pdx-1 destaca-se seu papel na regulação de genes

envolvidos no enovelamento e no processamento da insulina, além de controlar a

expressão do próprio Atf4 46. Dessa forma, é possível que um aumento na expressão de

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RNAm, nas células expostas ao CPA, de Chop, Bip, Atf4 e Xbp1, tendo em vista que os

ramos transdutores de resposta da UPR estão ativos, haja assim, uma compensação do

mecanismo de resposta ao estresse de RE. No entanto, a diminuição da expressão do

conteúdo proteico e do conteúdo de RNAm de Pdx-1 com a exposição ao CPA, sugere

uma progressão para falha das células INS-1E. Com o tratamento com metformina

observamos uma menor transcrição de RNAm pró-apoptóticos, exceto da Chop, e uma

maior expressão do conteúdo proteico e RNAm de Pdx-1, sugerindo uma possível

modulação via Pdx-1, na prevenção dos efeitos danosos da UPR. É importante salientar

que esta melhora do estado de estresse de RE mais severo (como na instalação do DM2,

por exemplo 72), com menor conteúdo proteico de CHOP no tratamento com metformina,

parece ser fundamental para que repostas anti-apoptóticas prevaleçam, mantendo

expressão de PDX-1 e, possivelmente, da insulina. Uma limitação do nosso estudo é falta

de informação quanto às modulações na secreção e expressão da insulina (serão

realizados futuramente) e uma avaliação mais precisa quanto ao papel do Pdx-1 dentre os

efeitos promovidos pela metformina.

Vale salientar que, em concentrações elevadas, a metformina potencializou o

efeito do CPA em induzir marcadores da UPR. Isso deve ser avaliado com cuidado,

quando comparado com os efeitos in vivo da metformina, pois há diferenças relevantes

quanto às doses utilizadas, em diversos modelos de animais estudados, já que o tratamento

das células beta no nosso estudo foi in vitro, por um período prolongado de tratamento

(16h). Ainda, a metformina tem como principal órgão o fígado, assim é possível que os

efeitos in vivo da metformina na célula beta possam ser indiretamente influenciados pela

função hepática, como melhora da sensibilidade à insulina, por exemplo 86.

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43

6. CONCLUSÕES

Concluímos que o treinamento físico foi capaz de prevenir o estresse de RE em

ilhotas pancreáticas, bem como outros efeitos deletérios da obesidade em camundongos

C57BL/6. Ainda, o tratamento com metformina em células INS-1E expostas ao CPA,

preveniu parcialmente a indução do estresse de RE, possivelmente, pelo aumento da

expressão de Pdx-1, impedindo a progressão para um estresse severo, como no DM2.

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Anexo 1

Dietas controle e hiperlipídica

Ingredientes Dieta controle

g/Kg

Dieta hiperlipídica

g/Kg

Caseína (84% de

proteína)*

140 140

Amido 465,7 208,7

Dextrina 155 100

Sacarose 100 100

L-cistina 1,8 1,8

Fibra pH 101 ou pH102

(microcelulose)

50 50

Óleo de soja 40 40

Mistura de sais AIN93G** 35 35

Mistura de vitaminas

AIN93G**

10 10

Cloridrato de Colina ou

Bitartarato de Colina

2,5 2,5

Banha Animal ----- 312

Fornecedor: PragSoluções, Jaú, São Paulo

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Anexo 2

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Anexo 3