projetos didÁticos no ciclo de alfabetizaÇÃo

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ISSN 1982 - 0283 PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO Ano XXIII - Boletim 6 - MAIO 2013

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Page 1: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

ISSN 1982 - 0283

PROJETOS DIDÁTICOS

NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

Ano XXIII - Boletim 6 - MAIO 2013

Page 2: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

SUMÁRIO

Apresentação .......................................................................................................................... 3

Rosa Helena Mendonça

Introdução .............................................................................................................................. 4

Francisca Izabel Pereira Maciel

Texto 1 - Sequências e atividades pedagógicas para alfabetização ......................................... 8

Sara Mourão Monteiro

Texto 2 - Sequência didática para desenvolver a leitura e produção de gêneros textuais ..... 19

Valeria Barbosa de Rezende

Texto 3 - As histórias em quadrinhos (HQs) nas sequências didáticas (SD): o prazer no fazer,

ensinar e aprender ................................................................................................................28

Francisca Izabel Pereira Maciel

Page 3: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

3

ApresentAção

projetos didáticos no ciclo de AlfAbetizAção

1 Supervisora Pedagógica do programa Salto para o Futuro (TV Escola/MEC).

A publicação Salto para o Futuro comple-

menta as edições televisivas do programa

de mesmo nome da TV Escola (MEC). Este

aspecto não significa, no entanto, uma sim-

ples dependência entre as duas versões. Ao

contrário, os leitores e os telespectadores

– professores e gestores da Educação Bási-

ca, em sua maioria, além de estudantes de

cursos de formação de professores, de Fa-

culdades de Pedagogia e de diferentes licen-

ciaturas – poderão perceber que existe uma

interlocução entre textos e programas, pre-

servadas as especificidades dessas formas

distintas de apresentar e debater temáticas

variadas no campo da educação. Na página

eletrônica do programa, encontrarão ainda

outras funcionalidades que compõem uma

rede de conhecimentos e significados que se

efetiva nos diversos usos desses recursos nas

escolas e nas instituições de formação. Os

textos que integram cada edição temática,

além de constituírem material de pesquisa e

estudo para professores, servem também de

base para a produção dos programas.

A edição 6 de 2013 traz como tema Projetos

didáticos no ciclo de alfabetização e conta

com a consultoria de Francisca Izabel Pe-

reira Maciel, professora associada da Facul-

dade de Educação da Universidade Federal

de Minas Gerais e pesquisadora do Centro

de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE/

UFMG.

Os textos que integram esta publicação são:

1. Sequências e atividades pedagógicas para

alfabetização; 2. Sequência didática para

desenvolver a leitura e produção de gêne-

ros textuais; 3. As histórias em quadrinhos

(HQs) nas sequências didáticas (SD): o pra-

zer no fazer, ensinar e aprender.

Boa leitura!

Rosa Helena Mendonça1

Page 4: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

4

INTRODUÇÃO

Atualmente, as discussões que envolvem

o ciclo de alfabetização e o Ensino Funda-

mental de nove anos passam por reflexões

e questionamentos que estão diretamente

relacionados às atividades que precisam ser

desenvolvidas no espaço escolar. Ao defen-

dermos a entrada da criança de seis anos

no primeiro ano do ciclo de alfbetização,

estamos defendendo que não se trata ape-

nas de incluir os meninos e as meninas na

escola, mas encontrar novas linguagens,

novas categorias, novas estratégias para

enfrentar formas inéditas de exclusão que,

hoje, se produzem e se reproduzem. E uma

das maiores exclusões do sistema educacio-

nal brasileiro é de crianças e jovens que não

têm domínio e fluência das habilidades da

leitura e da escrita.

Partindo do princípio de que orientações

curriculares são “conhecimentos” e não

podem designar “conteúdos”, cujo termo é

restrito, nossa opção teórico-metodológica

é por “capacidades”, termo amplo o sufi-

ciente para abranger todos os níveis de pro-

gressão, desde os primeiros atos motores

até a leitura e a produção textual. Uma pro-

posta curricular de alfabetização ancorada

nas capacidades diz respeito àquilo que uma

pessoa precisa saber para ser alfabetizada.

Defendemos que uma proposta curricular

que atenda ao ciclo de alfabetização passa

necessariamente pela distribuição gradual

das capacidades ao longo dos três anos, sem

que se tenha uma sobrecarga em determina-

do ano e, sim, uma organização coerente e

adequada aos conhecimentos e à idade dos

alunos.

As reflexões sobre planejamento e organiza-

ção de uma proposta de alfabetização que

contemple esse aprendizado devem possibi-

litar ao professor uma visualização mais cla-

ra dos objetivos de seu trabalho em sala de

aula e das metas que deve procurar atingir,

nos três anos do ciclo de alfabetização.

1 Professora Associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE/UFMG. Consultora da edição temática.

projetos didáticos no ciclo de AlfAbetizAção

Francisca Izabel Pereira Maciel1

Page 5: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

5

Uma proposta envolve um processo perma-

nente de experimentação e reflexão na ação

pedagógica, para a melhoria da qualidade da

educação brasileira. Entendemos que as prá-

ticas de ensino e as experiências dos profes-

sores são imprescindíveis e podem favorecer

a ampliação dos referenciais teóricos e cul-

turais dos docentes e de sua autonomia no

trabalho no ciclo de alfabetização.

Uma proposta para o ciclo de alfabetização

precisa levar em consideração alguns princí-

pios, entre eles, destacamos:

O aprendizado e a progressão da criança de-

pendem:

• do processo por ela desenvolvido;

• do patamar em que ela se encontra;

• das possibilidades que o ambiente escolar

lhe propicia.

A proposta pedagógica deve valorizar:

• a interpretação das capacidades da crian-

ça pelo professor, através de critérios ca-

pazes de sinalizar progressivos avanços no

processo de alfabetização.

Também é necessário ter a clareza dos con-

ceitos de alfabetizar e letrar:

• Alfabetizar não se reduziria ao domínio

das “primeiras letras” (alfabetizar);

• Saber utilizar a língua escrita nas situ-

ações em que esta é necessária, lendo e

produzindo textos (letrar);

• Ter clareza sobre capacidades e conheci-

mentos que precisam ser desenvolvidos

para que uma criança seja considerada

alfabetizada;

• Saber como distribuí-los ao longo dos três

anos iniciais da Educação Fundamental;

• Saber o que cada criança deve ser capaz

de realizar a cada período do Ciclo de Al-

fabetização.

Como planejar projetos didáticos e sequên-

cias didáticas ao longo de três anos de forma

integrada entre os anos e as diferentes áreas

de conhecimeto?

Os materiais didáticos e de apoio pedagógi-

co levam em conta o ciclo de alfabetização?

Nesta edição temática, pretende-se focali-

zar a discussão e a análise de propostas de

planejamento e organização de rotinas, que

possam colaborar com o trabalho de ges-

tores e professores alfabetizadores. Além

disso, pretende-se apresentar relatos de

professoras que planejam e organizam suas

rotinas de forma integrada, com diferentes

áreas de conhecimento. Pretende-se, ainda,

mostrar a importância de organizar diferen-

tes agrupamentos nos três anos, adequando

os modos de organização do ciclo aos objeti-

vos pretendidos.

Page 6: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

6

TEXTOS DA EDIÇÃO TEMÁTICA PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE

ALFABETIZAÇÃO2

Projetos didáticos e sequências didáticas na alfabetização: diálogos entre a área da Linguagem e

seus componentes curriculares de Língua Portuguesa e Arte, as áreas de Matemática, Ciências da

Natureza, Ciências Humanas e seus componentes curriculares História e Geografia; o papel da ora-

lidade, da leitura e da escrita na apropriação de conhecimentos de diferentes áreas do saber escolar.

TEXTO 1: SEQUÊNCIAS E ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA

ALFABETIZAÇÃO

O primeiro texto da edição temática apresenta as sequências didáticas/atividades pedagógicas,

que são todas as estratégias didáticas usadas em sala de aula para mobilizar os processos de

aprendizagem dos aprendizes. Segundo a autora do texto: “Elas operacionalizam os proce-

dimentos de ensino para que as metas de aprendizagem estabelecidas no planejamento do

professor sejam alcançadas. Dessa forma, o conjunto de atividades que compõem a rotina

escolar das crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental se caracteriza pela diversidade

das atividades propostas em sala de aula.” A autora apresenta, como exemplos de atividades

pedagógicas: os jogos e brincadeiras pedagógicos, os exercícios individuais, a produção coleti-

va de textos escritos, a leitura autônoma e coletiva de textos, as rodas de leitura, a confecção

de livros infantis, a produção de jornal e informativos escolares etc.

TEXTO 2: SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA DESENVOLVER A LEITURA E

PRODUÇÃO DE GÊNEROS TEXTUAIS

O objetivo do segundo texto da edição temática é apresentar uma prática escolar de leitura

e produção escrita de uma professora do 3o ano ciclo de alfabetização do Ensino Fundamen-

tal. Procura-se evidenciar os procedimentos metodológicos utilizados pela professora, as inte-

rações estabelecidas com/entre os alunos, as oportunidades de aprendizagem geradas pelos

eventos de letramento. O evento de letramento analisado trata da elaboração de um texto

2 Os textos desta publicação eletrônica são referenciais para a edição temática Projetos didáticos no ciclo de alfabetização com veiculação no programa Salto para o Futuro/ TV Escola nos dias 13/05/2013 e 15/05/2013.

Page 7: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

7

descritivo, que teve como foco a produção do gênero perfil. São analisadas e comentadas as

etapas do trabalho com os alunos em sala de aula e mostrados os textos produzidos por alguns

deles ao final deste interessante evento de letramento.

TEXTO 3: AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQS) NAS SEQUÊNCIAS

DIDÁTICAS (SD): O PRAZER NO FAZER, ENSINAR E APRENDER

Para a autora do terceiro texto da edição temática, “as HQs cumprem com diferentes funções

da leitura: lazer, humor, informação e, ainda, são uma forma prazerosa para quem ensina e para

quem aprende.” A autora destaca, também, que “a combinação atrativa da linguagem visual e

verbal e a rápida comunicação podem fazer parecer que as HQ são apenas um artefato de di-

versão, mas elas não são apenas isto e podem se tornar um grande aliado do professor em seu

trabalho com linguagem, história, geografia, matemática, etc.” Após analisar as HQs e incluir

vários e sugestivos exemplos deste gênero textual, a autora mostra como desenvolver a SD com

os alunos, ressaltando que, nesta etapa, é feita a apresentação da proposta e, em seguida, o tra-

balho com os módulos – também conhecidos como oficinas – com sugestões de atividades. Esses

módulos/oficinas deverão propor situações didáticas desafiadoras e desconhecidas dos alunos.

Page 8: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

8

Vamos discutir aqui as atividades pedagó-

gicas da leitura e da escrita desenvolvidas

em turnas do primeiro ano do Ensino Fun-

damental. Sequências didáticas/atividades

pedagógicas são todas as estratégias didáti-

cas usadas em sala de aula para mobilizar os

processos de aprendizagem dos aprendizes.

Elas operacionalizam os procedimentos de

ensino para que as metas de aprendizagem

estabelecidas no planejamento de ensino do

professor sejam alcançadas.

No que se refere à aprendizagem inicial da

língua escrita, é possível dizer que há uma

demanda por atividades pedagógicas espe-

cíficas e adequadas aos seus três níveis de

ensino da alfabetização e do letramento:

• - sistema de escrita,

• - leitura e produção de textos escritos,

• - usos sociais da língua escrita.

Dessa forma, o conjunto de atividades que

compõem a rotina escolar das crianças nos

anos iniciais do Ensino Fundamental se ca-

racteriza pela diversidade das atividades

propostas em sala de aula. A organização

que se dará às atividades de alfabetização

e de letramento deve obedecer a dois cri-

térios didáticos: a sequência das atividades

e a integração entre elas. São exemplos de

atividades pedagógicas: os jogos e brincadei-

ras pedagógicos, os exercícios individuais, a

produção coletiva de textos escritos, a leitu-

ra autônoma e coletiva de textos, as rodas

de leitura, a confecção de livros infantis, a

produção de jornal e informativos escolares

etc.

Esse texto está organizado em duas partes.

Na primeira será discutida a relação entre as

atividades pedagógicas e os procedimentos

de ensino. Na segunda parte serão discuti-

dos, a partir de exemplos de planejamentos

de ensino para uma turma do primeiro ano,

os dois critérios de organização das ativida-

des pedagógicas.

texto 1SEQUÊNCIAS E ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA ALFABETIZAÇÃO

Sara Mourão Monteiro1

2 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE/UFMG.

Page 9: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

9

PROCEDIMENTOS DE ENSINO

E ATIVIDADES PEDAGÓGICAS:

A OPERACIONALIZAÇÃO DO

PLANEJAMENTO DE ENSINO

As metas gerais de aprendizagem em alfa-

betização e letramento, nos anos iniciais

do Ensino Fundamental, abrangem a com-

preensão do princípio da base alfabética do

sistema de escrita; a apreensão das regras

ortográficas das palavras; a aquisição da flu-

ência no processo de leitura; o desenvolvi-

mento das habilidades de leitura, resultan-

tes da compreensão do funcionamento da

modalidade escrita; o desenvolvimento das

habilidades de produção de textos escritos

e a identificação e apropriação dos usos so-

ciais da língua escrita.

Para cada uma dessas metas gerais de apren-

dizagem devem ser estabelecidos os objeti-

vos específicos de ensino para cada ano e

turma dos anos iniciais, levando-se em con-

ta a trajetória e o nível de aprendizagem dos

alunos. A partir daí, torna-se necessário de-

finir os procedimentos de ensino e as ativi-

dades pedagógicas que irão operacionalizar

o plano de ensino.

A figura abaixo representa o modelo desse

sistema didático.

Figura - Sistema didático do planejamento de ensino

Os procedimentos de ensino-aprendizagem

– formas de proceder que alunos e professo-

res adotam para aprender e ensinar no con-

texto escolar (Monteiro, 2010) – podem ser

compreendidos como ações cognitivas que

permitem ao aprendiz refletir sobre os con-

teúdos escolares, através dos encaminha-

mentos de ensino planejados pelos profes-

sores.

Na alfabetização e no letramento, os proce-

dimentos de ensino estão relacionados ao

desenvolvimento da consciência metalin-

guística, que se refere à capacidade de ma-

nipular e refletir sobre a estrutura da língua

(Maluf, 2006; Roazzi & Carvalho, 1991). A

consciência metalinguística abrange dife-

rentes estruturas linguísticas: o fonema e

a sílaba (consciência fonológica); a palavra

(consciência de palavra); a frase (consciên-

cia sintática) e o texto (consciência discur-

siva).

No eixo da escrita e da leitura relacionadas

ao processamento da palavra, os procedi-

mentos de ensino estão relacionados ao de-

Page 10: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

10

senvolvimento da consciência fonológica e

da consciência de palavra, à compreensão

da relação entre a linguagem oral e escrita,

à automatização do reconhecimento da pa-

lavra escrita, ao desenvolvimento da escrita

ortográfica. Podemos citar como exemplos

de procedimentos nesse eixo de trabalho

a leitura do próprio nome e de nomes dos

colegas em listas de nomes; a leitura de pa-

lavras e frases pelas

crianças com o obje-

tivo de desenvolver a

fluência; a leitura de

pequenos textos com

autonomia, a escrita

compartilhada e au-

tônoma de palavras e

frases.

No eixo da produção e

leitura de textos escri-

tos, os procedimentos

devem possibilitar o

desenvolvimento das

estratégias de compreensão e produção de

textos, a ampliação do vocabulário pelo alu-

no e a compreensão de textos curtos lidos

pela professora e com autonomia, a pro-

dução compartilhada de textos adequados

ao gênero, aos objetivos, ao leitor visado

(planejamento, produção e revisão). As per-

guntas de compreensão de textos diversos

(identificação do assunto, localização de in-

formações explícitas, interpretação, avalia-

ção) que podem ser propostas em conversas

coletivas sobre textos, livros e revistas lidos

e as atividades de leitura de pequenos tex-

tos e de livros com

poucos textos, a pro-

dução compartilha-

da de textos (toda

a turma, pequenos

grupos e duplas de

alunos) são proce-

dimentos comuns

na rotina escolar

das crianças que es-

tão em processo de

aprendizagem inicial

da língua escrita.

O exemplo de plane-

jamento apresentado a seguir mostra como

o sistema didático funciona, tendo-se como

referência o eixo de ensino sistema de escri-

ta.

A consciência

metalinguística abrange

diferentes estruturas

linguísticas: o fonema

e a sílaba (consciência

fonológica); a palavra

(consciência de palavra); a

frase (consciência sintática)

e o texto (consciência

discursiva).

Exemplo 1

Sistema didático do planejamento de ensino para uma turma do 1º ano - crianças em processo de

compreensão do princípio alfabético do sistema de escrita

Page 11: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

11

Nível de ensino Meta geral Objetivosespecíficos

Procedimentosde ensino

Sistema de escrita Compreender o prin-

cípio alfabético do

sistema de escrita

As crianças devem ser

capazes de analisar

palavras orais e es-

critas, com base em

suas unidades silábi-

cas.

• Identificação de

número de sílabas

de palavras.

• Comparação de

palavras quanto

ao tamanho, com

base no número de

sílabas.

• Identificação de

palavras que come-

çam com a mesma

sílaba.

Atividades didáticas

1. Brincadeira de contar sílabas de palavras: as crianças em trio passam um toquinho de

madeira a cada sílaba das palavras sorteadas pela professora – nomes de frutas: bana-

na, maçã, abacaxi, laranja, uva. A professora registra em um cartaz, em frente de cada

palavra escrita, a quantidade de sílabas de cada palavra. Nessa atividade as crianças

poderão contar e comparar a quantidade de sílabas das palavras selecionadas.

2. As crianças são orientadas a comparar novamente o número de sílabas de duas pala-

vras (boneca e bola) e contar o número de letras das palavras, que estarão escritas no

quadro da sala. As crianças serão orientadas a identificarem a sílaba “bo” nas duas

palavras. Depois da atividade oral, as fichas das duas palavras serão exploradas em

pequenos grupos com as seguintes orientações: 1. fazer um desenho para cada uma

delas em uma folha de papel ofício; 2. colorir de vermelho as sílabas iguais no início

das palavras; 3. dizer outras palavras que comecem com a sílaba “bo”, como a sílaba

colorida nas duas palavras.

Page 12: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

12

A rotina de trabalho escolar e as atividades

propostas em sala de aula são fundamen-

tais para a aprendizagem dos alunos. Mas,

tendo-se como referência o sistema didá-

tico de planejamento de ensino, elas pre-

cisam estar associadas às metas de apren-

dizagem e aos procedimentos de ensino

definidos do planejamento geral para cada

turma. Atividades propostas aleatoriamen-

te, sem que se tenha clareza do seu papel

pedagógico, não resultam em aprendiza-

gem para as crianças.

As atividades descritas no exemplo 1 nos

mostram como se pode planejar e desenvol-

ver atividades equivocadas, que pouco irão

acrescentar aos conhecimentos dos alunos.

A professora, ainda que tenha pautado seu

planejamento nas metas, não apresentou

um bom planejamento. Ao trazer este “mo-

delo”, a intenção foi contrapor este exem-

plo aos outros exemplos que se seguem, por

acreditar que planejamentos como estes es-

tão muito presentes nas salas de aula das

turmas de alfabetização.

OS CRITÉRIOS DE ORGANIZAÇÃO

DAS ATIVIDADES PEDAGÓGICAS

Conforme foi dito anteriormente, as ativida-

des didáticas devem ser planejadas de acor-

do com os níveis de ensino da língua escri-

ta: sistema de escrita, leitura e produção de

textos escritos e uso social da língua escrita.

A diversidade de atividades pedagógicas pro-

postas em sala de aula precisa se apresen-

tar para as crianças de modo organizado e

coeso. Isso pode ser garantido se forem ob-

servados dois critérios didáticos: a sequên-

cia das atividades e a integração entre elas.

A sequência das atividades garante que as

ações de aprendizagem sejam contínuas, ou

seja, que partam consecutivamente umas

das outras, permitindo o aprofundamento e

a ampliação do conhecimento dos alunos.

A integração diz respeito ao relacionamen-

to entre as ações pedagógicas, visando dar

unidade às temáticas abordadas em sala de

aula e à exploração de determinados recur-

sos pedagógicos e materiais escritos.

Vamos nos valer novamente da análise de

exemplos de planejamento de ensino nos quais

esses critérios foram adotados pela professora.

Exemplo 2

Planejamento de ensino para uma turma do 1º ano - crianças em processo de compreensão do prin-

cípio alfabético do sistema de escrita

Page 13: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

13

Nível de ensino Meta geral Objetivos específicos Procedimentos

de ensino

Leitura Apreciar uma

narrativa literária

As crianças devem

expressar opinião sobre

a obra A princesa que

escolhia, demonstrando

compreensão do texto

lido pela professora.

Título: A princesa que

escolhia

Autora: Ana Maria Ma-

chado

Ilustradora: Graça Lima

Editora: Nova Fronteira

Ano de publicação: 2011

(2ª edição)

• Participação em even-

tos de leitura em sala de

aula, nos quais é preciso

ouvir com atenção lei-

tura oral da professora

e participar de conver-

sas e atividades sobre a

história lida em sala de

aula.

Atividades pedagógicas

1. Roda de leitura do livro A princesa que escolhia. A leitura será realizada em dois dias se-

guidos. No primeiro dia, após a leitura de parte do livro, as crianças serão estimuladas

a expressar suas opiniões sobre o livro (observando ilustrações, formato, cores etc.) e

sobre a história (respondendo a perguntas de compreensão). No segundo dia, para se

retomar a leitura, os alunos serão estimulados a fazer o reconto da parte lida no dia

anterior, tendo-se o livro como recurso para a memória da narrativa e a elaborarem

hipóteses para o desfecho da história.

2. No terceiro dia, a professora irá propor a produção de um álbum de princesas: as crian-

ças terão oportunidade de participar da produção coletiva de pequenos textos descre-

vendo as características das princesas dos contos de fada e de histórias que atualizam

esses contos a partir de seus personagens.

3. Tendo como referência a produção coletiva do álbum, a professora selecionará 2 ou 3

palavras que comecem com uma mesma sílaba para propor atividades de análise de

palavras, conforme procedimentos de ensino definidos no nível do sistema de escrita

do plano de ensino. As atividades podem ser realizadas no terceiro ou no quarto dia da

semana.

Page 14: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

14

A presença da roda de leitura do livro na

rotina escolar dos alunos é um estímulo à

prática de leitura como entretenimento e

exercício à liberdade de pensamento. É pos-

sível observar que o planejamento da leitura

do livro prevê ações nas quais não apenas o

texto escrito é objeto de reflexão, mas tam-

bém o livro passa a ser foco da atenção das

crianças – as crianças serão estimuladas a ex-

pressar suas opiniões sobre o livro (observando

ilustrações, formato, cores etc.) e sobre a his-

tória (respondendo a perguntas de compreen-

são). As práticas efetivas de leitura em sala

de aula que aproximam as crianças dos ma-

teriais de escrita são extremamente impor-

tantes para a formação de novos leitores.

A interrupção e a retomada da leitura junto

aos alunos, usando-se a estratégia do recon-

to e da antecipação da história mediada pe-

las ilustrações do livro, favorecem o desen-

volvimento de capacidades de interpretação

do texto escrito. A proposta de elaboração

coletiva de pequenos textos descritivos para

a produção de um “álbum de princesas”

contribui para o desenvolvimento de capa-

cidades de produção de textos escritos. As

propostas que tomam o texto como unidade

do trabalho pedagógico são fundamentais

para que as crianças aprendam não apenas

a construir significados para os textos escri-

tos que leem e organizar o discurso escrito

na produção textual, mas também para que

elas observem semelhanças e diferenças en-

tre o texto escrito e o oral.

Por fim, atividades de análise de palavras –

com base nos procedimentos de ensino de-

finidos no nível do sistema de escrita – ga-

nham significado quando são selecionadas

dentre aquelas usadas na produção textu-

al coletiva. A análise de palavras, visando

à compreensão do sistema de escrita e à

aprendizagem das correspondências entre

letras e sons, precisa ser proposta de forma

sistemática, observando-se os avanços das

crianças ao longo do processo de alfabeti-

zação. A contextualização e a exploração

lúdica das palavras são princípios da abor-

dagem didática nesse nível de ensino, que

deve considerar ainda os aspectos linguísti-

cos definidos como objeto de aprendizagem

para as crianças.

A sequência das três atividades pedagógi-

cas propostas nesse planejamento permite

o engajamento das crianças em ações rela-

cionadas entre si que favorecem o desenvol-

vimento de aprendizagens em diferentes ei-

xos de ensino. Dessa forma, observa-se que

a organização das ações correspondentes ao

procedimento definido no planejamento ba-

seia-se na integração das ações das crianças

como critério de organização das atividades

pedagógicas.

Exemplo 3

Planejamento de ensino para uma turma do 1º ano - crianças em processo de compreensão do prin-

cípio alfabético do sistema de escrita

Page 15: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

15

Nível de ensino Meta geral Objetivos específicos Procedimentos

de ensino

Sistema de escrita Compreender o prin-

cípio alfabético do

sistema de escrita

As crianças devem ser

capazes de identificar

sílabas de palavras,

oralmente e por es-

crito, compostas por

sílabas cv e ccv

• Identificação das

sílabas de palavras

compostas por sí-

labas cv e ccv, oral-

mente.

• associar as sílabas

identificadas oral-

mente aos seus

correspondentes

na escrita.

• Identificação de

palavras compos-

tas das mesmas sí-

labas das palavras

analisadas.

Atividades pedagógicas

1. Jogo das sílabas: A professora seleciona 10 palavras compostas por sílabas cv e ccv.

Exemplos: pedra – cobra. As crianças, de posse de cartões com imagens corresponden-

tes às palavras selecionadas, devem encontrar o cartão com a imagem que representa

a palavra composta por uma sílaba sorteada pela professora.

2- Ao final do jogo, as crianças devem escolher duas palavras. A professora confecciona

fichas de palavras para que as crianças possam observar a escrita das palavras escolhi-

das por elas, fazendo o reconhecimento, com ajuda da professora, das sílabas escritas

correspondentes às sílabas orais sorteadas.

3- Jogo de encontrar palavras: as crianças recebem uma cartela com várias palavras es-

critas. Elas devem encontrar palavras escritas com as mesmas sílabas das palavras

escolhidas na atividade anterior.

Page 16: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

16

Podemos observar nessa sequência de ati-

vidades que dirigem a atenção das crianças

para um tipo de sílaba a continuidade de

ações voltadas para a análise da estrutura

silábica ccv. Na primeira atividade, identi-

ficam-se oralmente sílabas desse tipo em

várias palavras. Na segunda, estabelece-se a

relação entre sílaba oral e sua forma escrita

em duas palavras. Por último, identificam-

se as sílabas escritas nas duas palavras es-

colhidas pelas crianças em outras palavras

escritas listadas pela professora. Essa orga-

nização tende a oferecer oportunidade para

que as crianças ampliem a possibilidade de

reconhecimento da estrutura silábica em

estudo em outras palavras e aprofundem

seus conhecimentos sobre as correspondên-

cias letra-som.

As sequências das atividades apresentadas

neste texto tiveram como objetivos mostrar

que se pode fazer um bom ou mau trabalho

didático na aquisição do sistema de escrita

alfabética com sequências específicas para

esta aquisição. Um bom trabalho com se-

quências didáticas voltadas para a aquisição

do sistema alfabético precisa ser planejado

em uma interação dialógica com as crian-

ças, em que elas sejam desafiadas a resolver

seus conflitos cognitivos sobre a língua. De

pouco adianta ter metas e objetivos espe-

cíficos se as propostas de sequências didá-

ticas não passam de meras atividades avul-

sas e desconexas do mundo e do saber das

crianças.

REFERÊNCIAS

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são: Dois componentes essenciais da leitura

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Page 19: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

19

texto 2 sequênciA didáticA pArA desenvolver A leiturA e produção de gêneros textuAis

Valeria Barbosa de Rezende1

O objetivo deste texto é apresentar uma prá-

tica escolar de leitura e produção escrita de

uma professora do 3o ano do ciclo de alfabe-

tização do Ensino Fundamental. Procura-se

evidenciar os procedimentos metodológicos

utilizados pela professora, as interações es-

tabelecidas com/entre os alunos, as opor-

tunidades de aprendizagem geradas pelos

eventos de letramento.

Um primeiro ponto a ser apresentado diz res-

peito às concepções de leitura, escrita e en-

sino adotadas pela professora. A professora

tinha a plena convicção de que não bastava a

circulação intensiva de textos na sala de aula;

eles precisavam ser explorados em sua di-

mensão textual-discursiva. Essas atividades,

por sua vez, não se reduziam a classificar gê-

neros e tipos textuais. A professora também

procurava selecionar textos cujas temáticas

eram do interesse dos alunos, procurando

organizá-los a partir das várias tipologias tex-

tuais, com diferentes finalidades e que circu-

lavam em diversos portadores de texto.

Além disso, a professora promovia um espa-

ço de convivência onde havia respeito, pro-

ximidade, escuta e, para isso, optava pela

organização da sala em pequenos grupos de

alunos ou a organização da turma em cír-

culo. Havia, também, por parte da profes-

sora, uma disponibilidade para acolher as

ideias dos alunos, transformando a sala em

um ambiente descontraído e de construção

coletiva. Considerando as referências elen-

cadas acima podemos afirmar que a pro-

fessora afinava-se com uma perspectiva so-

ciointeracionista da linguagem centrada na

interlocução.

Dentro da perspectiva sociointeracionista da

linguagem, destaca-se o conceito de gêne-

ros textuais, definido por Fairclough (2001,

p.161) como um conjunto de convenções

relativamente estável, socialmente aprova-

do, como a conversa informal, momento da

compra de produtos em uma loja, uma en-

trevista de emprego, um documentário de

televisão, um poema ou um artigo científi-

1 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE/UFMG.

Page 20: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

20

co. Um gênero implica não somente um tipo

particular de texto, mas também processos

particulares de produção, distribuição e

consumo. Como qualquer ação no mundo,

os eventos de letramento no contexto esco-

lar ocorrem a partir do discurso, veiculando

significações e ideologias que constroem a

realidade.

Para Schneuwly e Dolz (2004), na escola “o

gênero não é mais um instrumento de co-

municação somente, mas é, ao mesmo tem-

po, objeto de ensino e aprendizagem” (p.76).

Quando os gêneros são transportados para

outro lugar social, por exemplo, da mídia

para a escola, eles sofrem uma transforma-

ção. Visando minorar as dificuldades prove-

nientes dessa situação, os autores propõem

a elaboração de “modelos didáticos de gêne-

ros” (p. 81).

Para os autores, uma sequência didática ade-

quada para a produção de gêneros escolares

deverá responder às seguintes questões:

• Qual é o gênero que será abordado?

Trata-se, por exemplo, da apresen-

tação de uma receita de cozinha a

ser realizada para a rádio escolar, de

uma coletânea de contos a redigir, de

uma exposição a ser proposta para a

turma, da elaboração de instruções

de montagem etc. Para esclarecer

as representações dos alunos, po-

demos, inicialmente, pedir-lhes que

leiam ou escutem um exemplo do

gênero visado.

• A quem se dirige a produção? Os des-

tinatários possíveis são múltiplos: os

pais, outras turmas da escola; tur-

mas de outras escolas, os alunos da

turma; um grupo de alunos da tur-

ma; pessoas do bairro...

• Que forma assumirá a produção?

Gravação em áudio ou vídeo, folhe-

to, carta a ser enviada, representa-

ção em palco ou em sala de aula.

• Quem participará da produção?

Todos os alunos; alguns alunos da

turma; todos juntos; uns após os ou-

tros; individualmente ou em grupos

etc. (p. 99-100)

Para o/a professor/a trabalhar com a produ-

ção escrita de modo eficiente é preciso que

ele/a compreenda as diferenças entre gêne-

ros textuais e tipos textuais, não para que

seus alunos realizem classificações em sala

de aula, mas para auxiliar o/a professor/a a

operar com os textos no ambiente escolar e

favorecer a competência comunicativa dos

seus alunos.

Não existe uma única forma de classificar

os textos, mas podemos agrupá-los a partir

de identificações de traços comuns, como,

por exemplo, um bilhete, uma carta e uma

mensagem de e-mail apresentam estruturas

Page 21: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

21

tipológicas bem próximas e, geralmente, sua

finalidade é a interação com interlocutores

ausentes. Para Marcuschi (2002), os tipos

textuais podem ser considerados como “se-

quências linguísticas”, e se apresentam em

um número bem mais reduzido do que os

gêneros textuais. O referido autor destaca

cinco tipos textuais, a saber: a narração, a

argumentação, a exposição, a injunção e a

descrição, como sequências linguísticas que

compõem os gêneros textuais, não se cons-

tituindo em texto em-

pírico propriamente

dito. A característica

principal da narração

é apresentar fatos

ou ações em uma se-

quência temporal e

causal. Já o texto ar-

gumentativo propõe

comentar, apresentar

ou confrontar ideias,

conhecimentos, opi-

niões, crenças ou valores. Na exposição,

há o predomínio de sequências analíticas e

explicativas. Nas sequências injuntivas, pre-

domina o verbo no modo imperativo, como

nas receitas e regras de jogos. E, finalmente,

a descrição apresenta as especificações e ca-

racterizações de objetos, pessoas ou proces-

sos através de uma seleção de seus traços

distintivos.

Então, é muito raro encontrarmos sequên-

cias tipológicas puras, podemos encontrar

um ou mais tipos estruturando os gêneros

textuais, isso porque os gêneros têm sua

estrutura definida principalmente pela sua

temática (o que deve ser dito) e por sua fun-

ção (plano comunicacional), sendo que as

estruturas linguísticas vão se acomodando

a estes dois aspectos (SCHNEUWLY, DOLZ,

2004, p.26).

Uma sequência didática auxilia o aluno a

dominar melhor um gênero textual, permi-

tindo que ele fale ou

escreva de uma ma-

neira mais adequada

num dado contexto

social. Em seguida,

pretende-se analisar

a prática de uma pro-

fessora do 3o ano do

Ensino Fundamental,

no que se refere ao

ensino do gênero per-

fil.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA A

PRODUÇÃO DO GÊNERO PERFIL

O evento de letramento que será analisado,

exposto no quadro 1, trata da elaboração de

um texto descritivo, ou seja, da produção do

gênero perfil. Trata-se de um texto familiar

para as crianças, uma vez que são comuns

as descrições incluídas nos relatos ou nas

narrações, considerando as práticas de leitu-

Uma sequência didática

auxilia o aluno a dominar

melhor um gênero textual,

permitindo que ele fale ou

escreva de uma maneira

mais adequada num dado

contexto social.

Page 22: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

22

ra de histórias, que geralmente acontecem

na sala de aula ou no contexto familiar.

A professora iniciou a aula com a leitura de

um livro que apresentava e descrevia três

personagens com destaque para as suas ca-

racterísticas físicas, psicológicas, culturais e

sociais, além de destacar os sonhos de cada

uma delas. Após a leitura, a professora soli-

citou que os alunos criassem um persona-

gem, dessem-lhe um nome, apresentassem

suas características (físicas, gostos, sonhos)

e ilustrassem. A professora orientou dizendo

que o personagem poderia basear-se no pró-

prio aluno, em um membro da sua família

ou num colega. A professora informou que

seria confeccionado um livro com todos os

textos. Algumas crianças pediram para con-

sultar e reler o livro, solicitação que foi pron-

tamente acolhida pela professora, permitin-

do a circulação do livro pela sala de aula.

A intervenção quanto à estrutura grama-

tical, ortografia e pontuação foi feita pela

professora, de forma individual. Cabem aqui

algumas considerações sobre a revisão orto-

gráfica e gramatical, que pode ser feita tanto

individualmente, em duplas, em pequenos

grupos ou coletivamente, neste último caso,

o/a professor/a pode disponibilizar uma có-

pia do texto a ser revisado para todos os alu-

nos, ou reproduzi-lo no quadro ou no data

show, dependo dos recursos disponíveis na

escola. Em seguida solicita-se aos alunos

que indiquem as alterações que devem ser

feitas no texto, intercalando com interven-

ções de modo a evitar discriminações com

relação ao autor do texto ou erros de ordem

linguística.

Apresentaremos a seguir dois textos pro-

duzidos pelos alunos, esclarecemos que as

produções grafadas em letra cursiva consis-

tiam nas primeiras versões feitas pelos alu-

nos sem a revisão da professora. Em outra

aula, a professora devolvia as produções re-

visadas e os alunos elaboravam uma nova

versão, observando as marcações feitas pela

professora; ao final da aula, os alunos liam

as produções para a turma, em sua versão

final. Por fim, as produções eram digitaliza-

das, encadernadas e disponibilizadas na bi-

blioteca da turma.

Page 23: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

23

Contexto Ações realizadas em sala de aula Subeventos

Oportunidades

de

aprendizagem

Data: 10/04

Duração do evento:

40 minutos

Disposição: alunos sentados em cír-culo. A professora estava de pé em frente aos alunos.

• Professora:

Apresentando o livro para a tur-ma.

Explorando a capa.

Lendo o livro para a turma.

Destacando as rimas contidas no texto.

Explorando as ilustrações do livro.

Mostrando a ilustração das três personagens.

Explicando a atividade (criar um personagem, dar um nome, pode ser menina ou menino, escrever frases sobre o personagem, o texto pode basear-se em você ou em um membro da família, será confeccionado um livro com to-dos os textos).

Entregando o material (folha, régua e lápis).

Explicando novamente a ativida-de (desenhar a personagem, dar um nome e escrever um pequeno texto, dizendo como ela é, o que ela gosta, o que ela sonha).

• Alunos:

Consultando e relendo o livro

Produzindo o texto individualmen-te

Ilustrando o texto.

Entregando o texto para a profes-sora.

- Oferecendo um modelo do tipo de texto a ser pro-duzido (ações da professora)

-Orientando sobre a atividade (ações da professora)

- produzindo e ilustrando o texto (ações dos alunos)

- Encerrando a aula.

- A professora possibilitou aos alunos conhe-cer a estrutura composicional da descrição.

- Na leitura, a professora cha-mou a atenção para as ilustra-ções contidas no livro, mostrando sua importância na constituição do discurso, como também lança mão de um elemento que favorece a descontração e a ludicidade.

- Os alunos se sentiram envolvi-dos na criação de um personagem e motivados a ilus-trar seus textos.

- A escrita possibi-lita aliar realidade e ficção.

- De um modo bem sutil, a pro-fessora promoveu a reflexão sobre a diversidade social e cultural.

Page 24: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

24

Contexto Ações realizadas em sala de aula Subeventos

Oportunidades

de

aprendizagemData: 24/04 Professora: devolutiva dos textos

produzidos na aula do dia 10/04 com as anotações e intervenções indivi-duais.

Alunos: revisar o texto e elaborar a versão final.

Alunos: Leitura do texto para a tur-ma.

Entregando a versão final do texto para a professora.

- Devolvendo e co-mentando os textos (ações da professo-ra)

- Revisando os tex-tos (ação dos alu-nos)

- Lendo o texto para a turma (ação dos alunos).

- Encerrando a aula

- Toda produção escrita precisa ser revisada;

- Aprendizagem da ortografia, gramá-tica e pontuação, por meio de con-fronto.

- Adequação do formato do texto ao gênero textual proposto.

- A leitura da ver-são final para os colegas da sala per-mitiu mostrar que a escrita serve para ser lida para uma audiência, tem uma função social.

As alterações realizadas pela professora con-

sistiam em pontuar o texto, corrigir a orto-

grafia das palavras, passar da 1ª pessoa para

a 3ª pessoa, substituir, acrescentar e elimi-

nar palavras, eliminar repetições e modifi-

car a estrutura gramatical das frases.

Na produção 1 o aluno elege um persona-

gem – um mendigo – destacando suas carac-

terísticas físicas (cabelos, roupas e corpo).

Nota-se o uso de dois tipos de estruturas no

texto: a do narrador-personagem e a do nar-

rador-observador. Na primeira frase, o aluno

usa o verbo na 1ª pessoa, assumindo o pa-

pel de locutor e também de personagem (eu

sou o Digo um grande mendigo. Gosto muito

de pintar o meu cabelo). Na segunda frase

o aluno altera o tempo verbal para a 3a pes-

soa do singular (Ele adora roupas coloridas e

tem varias cicatrizes pelo corpo). As correções

realizadas pela professora foram no sentido

de garantir a coerência e coesão do texto,

adequando a proposta ao gênero perfil, sen-

do assim, a professora optou por unificar

o texto na 3a pessoa do singular. Além dis-

so, foi feita a revisão ortográfica da palavra

mendigo, que fora escrita pela criança como

“medingo” e foi inserido o acento agudo na

palavra “várias”.

Page 25: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

25

Produção 1 Produção 2

Na produção 3, a criança coloca o foco de

seu texto no sonho de uma criança de nome

Rodrigo. Este aspecto, para ele, é tão impor-

tante que o título do texto é “sonho de crian-

ça”. Apesar de não se tratar de uma histó-

ria, a criança inicia o texto com a expressão

“Era uma vez”, que na revisão da professora

é suprimida, visando à adequação ao gênero

perfil. O texto apresenta apenas dois erros:

ausência da acentuação na palavra “pássa-

ro” e ausência do h na escrita da palavra

“há”, no sentido de existir.

Produção 3

Page 26: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

26

Produção 4

Para finalizar, destacamos alguns aspectos

evidenciados na sequência didática da pro-

fessora para leitura e produção de gêneros

textuais. Um primeiro aspecto diz respeito

à definição das condições de produção: é

preciso compreender que o processo de pro-

dução textual envolve uma série de aspec-

tos que, necessariamente, devem ser consi-

derados e planejados. Isso porque a opção

pela escrita como forma de interlocução não

ocorre por acaso, mas acontece em função

de determinadas condições.

Dentre os fatores condicionantes para a pro-

dução escrita, destacamos a questão da au-

toria do texto, a criança tem que se envolver

com a temática e se assumir como autor/a,

dominar a temática e ter o que dizer sobre

o assunto e conhecer o interlocutor de seu

texto para fazer escolhas discursivas ade-

quadas, garantindo a compreensão de seu

texto. Quando escrevemos um texto, o tema

ou o assunto não pode, por si só, ser consi-

derado como suficiente para a produção tex-

tual. Também devemos conhecer o suporte

em que o texto será veiculado.

Outro aspecto relevante diz respeito ao tem-

po destinado para a realização da tarefa de

produção escrita: não é possível desenvol-

ver uma boa escrita sem tempo para que as

crianças possam refletir sobre o que escre-

Page 27: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

27

ver. É importante pesquisar sobre o assunto,

destinar um tempo para a criação, ilustra-

ção e revisão.

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Page 28: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

28

texto 3As históriAs em quAdrinhos (hqs) nAs sequên-ciAs didáticAs (sd): o prAzer no fAzer, ensinAr e Aprender

Francisca Izabel Pereira Maciel1

Entre os vários gêneros apresentados e tra-

balhados pelos autores de livros didáticos e

também presentes nas propostas de muitos

professores, iremos neste texto tratar das

histórias em quadrinhos (HQs). Esse gênero

foi, durante muito tempo, considerado um

“texto de menor qualidade”, ou até mesmo

“texto sem qualidade” para uso dentro do

espaço escolar. E não era raro encontrarmos

professores que repreendiam seus alunos

pelas leituras furtivas de HQ. Mas, ainda as-

sim, os meninos queriam compartilhar com

os colegas as histórias do Superman, do Ho-

mem Aranha, entre outros, assim como me-

ninas e meninos gostavam das HQs do Tio

Patinhas, da Turma da Mônica... Como mui-

tas vezes os gibis eram reprimidos na sala de

aula, as conversas sobre esses personagens

e as trocas de revistinhas só ocorriam nos

horários de recreio e de saída da escola.

Ainda bem que os tempos e as pessoas mu-

dam. A começar pelos Parâmetros Curricula-

res Nacionais (PCN), documento que orien-

ta as políticas públicas e prática docentes.

Os PCN destacam o trabalho com diferentes

gêneros textuais, entre eles os quadrinhos.

Atualmente, a HQ não só tem espaço garan-

tido nos livros didáticos, como as revistas

de HQ estão nas salas de aula, na bibliote-

ca... Além disso, o gênero HQ teve seu espa-

ço reconhecido na literatura brasileira. São

vários os títulos de romances clássicos da

literatura nacional e internacional que se

apresentam no formato de HQ. A importân-

cia e o reconhecimento desse gênero no es-

paço escolar podem ser comprovados com

a inclusão do gênero HQ no Plano Nacional

de Biblioteca Escolar (PNBE2).

Dessa forma, as HQ estão cada vez mais pre-

sentes no espaço escolar (PNBE e o acervo

das Obras Complementares). A combinação

atrativa da linguagem visual e verbal e a rá-

pida comunicação podem fazer parecer que

as HQ são apenas um artefato de diversão,

1 Professora Associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE/UFMG. Consultora da edição temática.

2 Este programa do Ministério da Educação tem como principal objetivo adquirir – após rigorosa avaliação de especialistas - livros de literatura para ser distribuídos nas escolas públicas brasileiras.

Page 29: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

29

mas elas não são apenas isto e podem se

tornar um grande aliado do professor em

seu trabalho com linguagem, história, geo-

grafia, matemática, etc.

As leituras em histórias em quadrinhos são

mais leves e atrativas, mesmo quando abor-

dam temáticas complexas e adultas. Tome-

mos como exemplos os livros aprovados no

PNBE:

Pererê: 365 dias na Mata do Fundão, de Ziral-

do (editora Globo); Turma da Mônica: Romeu

e Julieta; O pai da Turma da Monica, de Mau-

rício de Sousa, são alguns dos títulos de HQ

do acervo do PNBE.

Poderíamos elencar outras razões para apre-

sentar, como reflexão e sugestão, uma pro-

posta de trabalho e sequência didática (SD)

com histórias em quadrinhos.

As crianças, em geral, têm muita facilidade

em assimilar e entender a proposta de his-

tórias em quadrinhos, algo que não é tão

fácil em turmas de alfabetização de jovens

e adultos3. A importância de trabalhar esse

gênero, independentemente de o público

ser criança, jovem ou adulto, é que este gê-

nero está sendo cada vez mais utilizado não

só como textos narrativos, como para textos

informativos, textos de propagandas, etc.

Como o gênero HQ está muito relacionado

à leitura de fruição, lazer e humor, e não

desfazendo dessas características, é impor-

tante criar uma situação didática em que

o gênero tenha um objetivo que se estenda

para além da leitura e escrita, isto é, propor

uma produção textual temática integrada

com outras áreas de conhecimentos (histó-

ria, educação física, artes). As capas a seguir

da revista da Turma da Mônica dão pistas de

temáticas e da integração de conteúdos das

diversas áreas de conhecimento.

A escola, hoje, não pode se eximir de tra-

balhar a educação inclusiva, mas nossos

alunos estão preparados para conviver sem

preconceitos com alunos com necessidades

especiais? Este exemplar da Turma da Moni-

ca com distribuição gratuita abordou a te-

mática.

3 Nossas experiências com turmas de alfabetização de jovens e adultos na UFMG revelaram um alto grau de dificuldade dos alunos na leitura dos balões, disposição da sequência dos fatos e dos textos, entre outros aspectos.

Page 30: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

30

O trabalho com HQs apresenta uma multi-

plicidade de ações e intencionalidades que

podem e devem ser exploradas pelos profes-

sores. O Brasil terá os anos de 2014 e 2016

marcados pela Copa do Mundo e pelas Olim-

píadas, e vejam o exemplar da Turma da Mô-

nica que traz a primeira parte da história das

copas mundiais de futebol. Esse tema pode

ser desenvolvido envolvendo outros profes-

sores (ou outras áreas de conhecimento,

quando trabalhado pelo mesmo professor)

como a educação física e as modalidades

de esportes, a história das copas do mundo,

a localização geográfica dos países partici-

pantes, a matemática, com a quantificação

das medalhas... Essas são algumas possibili-

dades de integração de conteúdos. As HQs

cumprem, assim, com diferentes funções da

leitura: lazer, humor, informação e, ainda,

são uma forma prazerosa para quem ensina

e para quem aprende.

AS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS (SD)

NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

(HQS)

Ao propor uma proposta de SD com o gê-

nero textual HQs, vamos nos ancorar nos

princípios organizativos da sequência didá-

tica defendidos por Schneuwly e Dolz (2004)

Segundo os autores, os módulos baseiam-

se numa perspectiva construtivista, intera-

cionista e social na realização de ativida-

des intencionais, estruturadas e intensivas,

e não se pode esquecer da adequação das

atividades às necessidades particulares dos

aprendizes.

Os módulos são planejados e constituí-

dos por várias atividades, com o objetivo

de possibilitar aos alunos os instrumentos

necessários para desenvolver, ampliar seus

estudos e conhecimentos sobre os gêneros

trabalhados, de forma sistematizada e apro-

fundada.

No primeiro momento, cabe ao professor

que vai trabalhar com este gênero ter co-

nhecimentos antes de planejar uma sequên-

cia didática, pois, como os demais gêneros,

ele apresenta características específicas e se

elas não são do conhecimento do professor,

isto pode comprometer a proposta e apre-

sentar, como resultado, algo que estamos

constatando com frequência: presença ex-

cessiva de gêneros textuais trabalhados na

superficialidade e desprovidos de conheci-

Page 31: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

31

mentos por parte do docente, e consequen-

temente, para os alunos. É comum ouvir-

mos o professor dizer que trabalha com a

diversidade textual e elenca diferentes gê-

neros, que são apresentados aos alunos em

curto espaço de tempo.

Antes de trabalhar qualquer gênero, o pro-

fessor precisa conhecer e saber o que quer

ensinar e, a partir daí, planejar a sequência

didática. Apresentamos, a seguir, algumas

informações sobre os elementos constitu-

tivos das HQs que podem ser considerados

como o primeiro

momento do plane-

jamento de uma se-

quência didática.

PASSOS PARA

PLANEJAR A

SEQUÊNCIA

DIDÁTICA DE

HQ

Nas HQs não podem faltar os quadrinhos,

as legendas, os balões, as metáforas visuais,

as onomatopeias. Os quadrinhos são dividi-

dos nas páginas de acordo com as ações. Em

cada quadro representa-se uma ação ou par-

te de uma ação, que será completada com o

quadro posterior, dando-nos a ideia de mo-

vimento, ação, continuidade.

As legendas não estão presentes em todos os

quadros/quadrinhos, estas, quando necessá-

rias, vêm emolduradas acima da imagem

ou balão. As legendas assumem a função do

narrador e, em alguns casos, são apresenta-

das na parte inferior e têm a função de nota

de rodapé, ou nota explicativa; essas, em ge-

ral, vêm seguidas de um asterisco (*).

Os balões têm várias funções: apresentam

as falas dos personagens, com um indicati-

vo de quem é o falante, e podem também

representar/expressar os pensamentos dos

personagens escre-

vendo o que cada

um pensa. Os “pen-

samentos escritos”

de cada um podem

ser identificados

pelos vários círcu-

los entre o balão e

o personagem. O

formato dos ba-

lões também pode

expressar os senti-

mentos dos personagens, isto é, podemos

identificar que o personagem está assusta-

do, antes mesmo de ler o que está escrito

dentro do balão, ou com sono, com raiva,

neste caso as metáforas visuais são um re-

curso muito utilizado nas HQs4.

Nas HQs não podem faltar

os quadrinhos, as legendas,

os balões, as metáforas

visuais, as onomatopeias.

Os quadrinhos são divididos

nas páginas de acordo com

as ações.

4 Todas as imagens deste texto encontram-se disponíveis na internet.

Page 32: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

32

Aproximar o leitor ao máximo dos movi-

mentos dos personagens e também dos

sons produzidos na narrativa é um recurso

largamente utilizado nas HQs. Destacamos

as onomatopeias nas HQs. É comum en-

contrarmos escritas com reproduções de

sons, tais como mastigar, assustar, tremer

de frio ou de medo, chorar silenciosamente

ou não, bater na porta (toc, toc, toc...); os

roncos (ronc, ronc, ronc) e outros. Ao repro-

duzirem os sons, os quadrinistas procuram

aproximar os sons do objeto, do local ou do

sujeito que produz o som.

Nas HQs predomina a narrativa como ti-

pologia textual, ainda que existam carac-

terísticas de narrativas cinematográficas.

Predominam textos curtos nos balões e as

páginas, em geral, não ultrapassam oito

quadros.

1) Além desses conhecimentos prévios,

elencados anteriormente, para elabo-

rar o planejamento da SD de HQ, o(a)

professor(a) precisa conhecer e ler vá-

rios tipos de histórias em quadrinhos.

2) Selecionar uma quantidade e varieda-

de de HQs incluindo os livros HQ do

acervo do PNBE para levar para a sala

de aula.

3) Identificar as temáticas das HQ.

O próximo passo será o desenvolvimento

da SD com os alunos. Nesta etapa, inicia-se

com a apresentação da proposta, em segui-

da os módulos – também conhecidos como

oficinas – com sugestões de atividades. Os

módulos/oficinas deverão propor situações

didáticas desafiadoras e desconhecidas dos

alunos.

MÓDULOS E/OU OFICINAS

1. Módulo: Apresentação da situação

O professor, ao iniciar o trabalho, deverá

apresentar, de forma detalhada, o projeto

que irá desenvolver com seus alunos, assim

como os objetivos, o tempo destinado ao

projeto e expor rapidamente as atividades

que serão desenvolvidas.

Page 33: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

33

A partir dessa exposição, o professor deverá

incentivar os alunos a exporem os conheci-

mentos que têm sobre o gênero – aqui no

caso – as HQs. O professor, neste momen-

to, irá ativar os conhecimentos prévios que

seus alunos têm e, ao mesmo tempo, fazer

um diagnóstico sobre o que os seus alunos

já conhecem e o que ainda precisam conhe-

cer. Neste momento, o professor irá propor

perguntas para saber quais revistas seus

alunos conhecem, se alguém da família tem

o hábito de ler, se conhecem alguns perso-

nagens, quais as características desses per-

sonagens.

Distribuir as revistas para os alunos e obser-

var como eles interagem com os suportes

textuais e verificar quais os comentários e

atitudes que demonstram diante do mate-

rial. O momento a seguir é fazer uma roda e

deixar que todos os alunos expressem seus

comentários, que podem ser sobre as carac-

terísticas do suporte textual: quadrinhos,

balões, os personagens, tamanho do supor-

te e das histórias, dentre outros elementos

composicionais das HQs.

Este módulo, que constitui o primeiro mo-

mento, é preparatório da primeira produção

textual que servirá de diagnóstico da turma

e ajudará na definição das atividades dos

módulos subsequentes. As perguntas e os

questionamentos feitos pelo professor po-

derão ajudar no levantamento dos conhe-

cimentos prévios dos alunos acerca da HQ:

Conhecem algumas HQs? Já tiveram opor-

tunidade de ler alguma revistinha? Qual(is)?

Conhecem alguns personagens? Quais as

características deles? Têm predileção por

alguma revista ou personagem? As revistas

são escritas e lidas somente pelo público in-

fantil? Quem são os autores dessas revistas?

Como é feita a leitura?

Cabe ao professor mediar essas informações

e, para muitos alunos, é necessário explicar

que as HQs são lidas da esquerda para a

direita e de cima para baixo, sempre retor-

nando ao quadro da esquerda. Em cada qua-

drinho existe também uma ordem para a

leitura: primeiro, lê-se o balão que está mais

alto e, depois, o mais baixo.

A professora deverá ler uma ou mais histó-

rias para os alunos se eles não tiverem fami-

liaridade com este gênero, caso contrário,

os alunos poderão ser os leitores.

Este diagnóstico inclui, para muitos profes-

sores, uma produção inicial, que pode ser

oral ou escrita. Aqui no caso, o ideal é que

seja escrita. A partir desta produção, o(a)

professor(a) irá identificar os conhecimen-

tos de cada aluno e planejar os módulos e

as atividades de acordo com os resultados

encontrados no diagnóstico.

O professor, junto com os alunos, pode le-

vantar as características desse tipo de tex-

to, que deverão ser anexadas no quadro e

sempre retomadas ou acrescidas com novos

elementos constitutivos deste tipo de gêne-

ro textual. Todas as atividades desenvolvidas

Page 34: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

34

deverão ser expostas e compartilhadas por

todos, assim os alunos podem acompanhar

o seu desenvolvimento e os conhecimentos

produzidos durante a execução das sequên-

cias didáticas.

Como o gênero HQ tem características mui-

to específicas, sugere-se que os elementos

constitutivos das HQs sejam tratados se-

paradamente nos módulos. E seguindo as

orientações de Schneuwly e Dolz (2004), a

produção simplificada é uma atividade que

permite que o aluno concentre-se mais num

aspecto preciso para elaboração de um tex-

to. Iniciaremos nosso próximo módulo com

a tipologia dos balões:

2. Módulo sobre a disposição dos quadros e

os tipos de balões

Ainda que não se tenha um padrão único,

em geral, as HQs têm o mesmo padrão: são

compostas de quadrados distribuídos na pá-

gina; em alguns casos, está presente o re-

tângulo – unindo dois quadrados – em fun-

ção da necessidade da ação.

O professor apresenta uma atividade com

diferentes modelos de balões, pois estes não

apenas representam as narrativas, estão tam-

bém diretamente relacionados às imagens.

1) Fazer a análise dos diferentes balões

e as imagens que os acompanham é

uma atividade interessante e necessá-

ria para o entendimento e compreen-

são da narrativa.

2) Solicitar aos alunos que expliquem para

que serve cada um deles (acrescentar

outros modelos de balões),

TIPO DE BALÃO FUNÇÃO DO BALÃO

(o balão expressa...)

3) Solicitar que preencham cada um dos

balões de acordo com sua função (criando

uma situação – frase ou expressão).

4) Socializar e avaliar coletivamente as res-

postas dadas e os textos produzidos nos ba-

lões.

5) Colar as produções na sala.

Page 35: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

35

3. Módulo: trabalhando com as onomato-

peias

Neste módulo, o professor poderá explorar

com seus alunos os recursos da mímica.

1) Criar situações em que os colegas pos-

sam identificar, através de gestos exa-

gerados, o que o colega está represen-

tando e que pode também ser expresso

através do desenho e/ou escrita.

2) Pedir que os alunos recriem em balões

as situações que representaram atra-

vés da mímica.

3) Solicitar aos alunos que escrevam e

usem também o recurso do desenho

para expressar situações/sentimentos

(raiva/amor/fome/choro/nervoso) que

possam ser entendidas por todos.

4) Analisar coletivamente as produções.

4. Módulo: trabalhando com os títulos

Em geral, os títulos das HQ são muito suges-

tivos e estilizados e, nesta oficina, os alunos

terão a oportunidade de analisar diferentes

títulos. A partir da distribuição de diversas

revistas, os alunos irão:

1) Folhear, identificar os títulos,

2) Escolher alguns que consideram mais

interessantes para fazer apresentação

para os colegas.

3) Uma outra atividade é dispor em

uma página o(s) título(s) sempre

acompanhado(s) das ilustrações e

pedir aos alunos que criem hipóteses

sobre a história narrada a partir do tí-

tulo.

4) Identificar se as hipóteses foram ou

não confirmadas, confrontando com

a leitura da história “real” da revista.

5. Módulo: produção escrita a partir das

imagens

Este módulo consistirá na produção de uma

narrativa de HQ a partir dos balões vazios.

Os alunos terão acesso ao título e aos qua-

drinhos com as imagens na sequência.

1) Caberá a eles fazer uma interpretação

do título, das imagens e dos balões e

escrever a narrativa obedecendo às

funções dos balões.

2) As produções serão discutidas pelos

componentes do grupo e pela turma,

procurando identificar as semelhan-

ças e diferenças entre as versões dos

colegas.

3) A atividade complementar a esta é o pa-

ralelo entre a versão original e a criada

pelo grupo

Page 36: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

36

4) Identificar a produção que mais se apro-

ximou do texto original e solicitar aos com-

ponentes como foi o processo de produção

da narrativa.

6. Módulo final: a produção de uma HQ pe-

los alunos

Algumas decisões precisam ser tomadas,

tais como:

1. A produção será individual ou coletiva?

Tema único ou diversificado?

2. Escolhido o tema, segue-se a escolha do

título, que deverá ser estilizado como

são os títulos das HQs.

3. Elaborar a história.

4. Revisão textual.

5. Reescrita.

6. Feitura da capa/Montagem do livro/re-

vista.

7. Exposição dos livros na sala de aula.

BREVES CONSIDERAÇÕES:

As reflexões aqui apresentadas, assim como

a proposta da sequência didática (SD) com

as histórias em quadrinhos (HQs), devem

ser tomadas a título de exemplo, outras “n”

possibilidades podem e devem ser elabora-

das pelos professores. É preciso levar em

conta que tal proposta de sequência didáti-

ca precisa considerar o nível dos alunos, se

eles são da educação infantil ou do ciclo de

alfabetização (CA); aqui no caso especifico,

foram pensadas para turmas do CA.

As atividades podem ser realizadas indivi-

dualmente ou em grupos, isto vai depender

dos objetivos e da forma como o professor

vai avaliar/acompanhar e monitorar os alu-

nos. Podem ser intercaladas atividades indi-

viduais e outras coletivas, pois sabemos o

quanto nossos alunos aprendem interagin-

do com seus colegas. E é por esta razão que

propomos sempre, ao final de cada módulo/

oficina, que os alunos possam expor suas ati-

vidades, defender suas ideias, discutir com

os colegas, apresentar seus argumentos, hi-

póteses, conhecimentos e dúvidas. Esta úl-

tima é que mais nos interessa, pois não é

com os acertos dos alunos que aprendemos

mais sobre eles, e sim quando eles “erram”e

nos mostram o percurso de seu erro. Neste

momento, podemos aprender como é o pro-

cesso de aprendizagem e onde se localizam

suas dúvidas. Aí sim podemos intervir mais

adequadamente.

O trabalho com a sequência didática possibi-

lita maior segurança e domínio do professor,

sem que ele seja autoritário, assim como os

alunos também se sentem como coautores

dessa proposta, pois ela parte de um diag-

nóstico discutido e apresentado para eles.

Page 37: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

37

Não temos dúvidas de que uma propos-

ta como esta poderá ser enriquecida se for

articulada com outros professores e outras

áreas do conhecimento. Como também é in-

concebível o desconhecimento e/ou conhe-

cimento muito superficial de um professor

que se proponha a trabalhar um gênero sem

que tenha conhecimentos consistentes so-

bre ele.

Os tempos destinados aos estudos de gêne-

ros devem ser meticulosamente pensados e

organizados, pois o que temos constatado

com frequência é a pressa como os alunos

são introduzidos e cobrados sobre a diver-

sidade textual. Essa pressa tem gerado uma

pulverização dos conhecimentos e usos ina-

dequados e escolarizados de vários gêneros

textuais, que perdem a sua função social

diante das tarefas escolares.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; SELVA, Ana

Coêlho Vieira; COUTINHO, Marília de Luce-

na. O trabalho com projetos didáticos: inte-

grando a leitura e a produção de textos. In:

SOUZA, Ivane Pedrosa de; BARBOSA, Maria

Lúcia Ferreira de Figueiredo (orgs.) Práticas

de Leitura no ensino fundamental. Belo Hori-

zonte: Autêntica, 2006.

DOLZ, Joaquim, SCHNEUWLY, Bernard. Gê-

neros orais e escritos na escola. São Paulo:

Mercado de Letras, 2004.

NERY, Alfredina. Modalidades organizativas

do trabalho pedagógico: uma possibilidade.

In: Ensino Fundamental de nove anos: orienta-

ções para a inclusão da criança de seis anos de

idade. Brasília: MEC, 2007.

LEAL, Telma Ferraz. Organização do trabalho

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MENDONÇA, Márcia (orgs.). Alfabetização e

letramento: conceitos e relações. Belo Hori-

zonte: Autêntica, 2005.

LEAL, Telma Ferraz. O Planejamento como

estratégia de formação de professores: orga-

nização e reflexão sobre o cotidiano da sala

de aula. In: LEAL, Telma Ferraz; ALBUQUER-

QUE, Eliana Borges Correia (orgs.). Desafios

da educação de jovens e adultos. Construindo

práticas de alfabetização. Belo Horizonte: Au-

têntica, 2005.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como

ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Page 38: PROJETOS DIDÁTICOS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

38

Presidência da República

Ministério da Educação

Secretaria de Educação Básica

TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTUROSupervisão Pedagógica

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