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PROJETO PARA A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS A PARTIR DE DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL NO ESTADO DE SÃO PAULO Eng Agr. Mario Ivo Drugowich Eng. Ag. Adalberte Stivari. Eng. Agr. Antonio Carlos Cezário Enga. Agra. Claúdia de Fátima Carvalho Mendes Eng. Ag. Osmar Guimarães Eng. Ag. Luiz Antonio Sanches Murakami Eng. Agr. Paulo Henrique Interliche Eng. Agr. Marcos Martinelli Eng. Agr. Walter Hipólito da Silva 1 1 Engenheiros Agrônomos Assistentes Agropecuários da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral

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PROJETO PARA A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS A PARTIR DE DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

Eng Agr. Mario Ivo DrugowichEng. Ag. Adalberte Stivari.

Eng. Agr. Antonio Carlos CezárioEnga. Agra. Claúdia de Fátima Carvalho Mendes

Eng. Ag. Osmar GuimarãesEng. Ag. Luiz Antonio Sanches Murakami

Eng. Agr. Paulo Henrique InterlicheEng. Agr. Marcos Martinelli

Eng. Agr. Walter Hipólito da Silva1

1 Engenheiros Agrônomos Assistentes Agropecuários da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral

1. Histórico .............................................................................................................................. 3

2. Justificativa ......................................................................................................................... 4

2.1. Contextualização de ocupação dos solos com Pastagens ..............................................4

2.2. Conservação do solo ......................................................................................................5

2.3. Erosão............................................................................................................................7

2.3.1. Tipos de erosão .........................................................................................................7

3. Diagnóstico ......................................................................................................................... 8

3.1. Cenário atual da ocupação dos solos em SP e análise da projeção das curvas de tendência ...................................................................................................................................8

3.2. Avaliação das Pastagens nas diversas Regiões do Estado ............................................11

3.3. Caracterização dos principais tipos de solo cultivados em São Paulo ..........................21

4. Propostas para atacar o problema da recuperação de áreas degradadas................ 27

4.1. Em pastagens degradadas ...........................................................................................27

4.2. Divisão de Pastagens e Adequação de Aguadas...........................................................32

4.3. Capacitação de Técnicos da CATI e de Produtores Rurais ............................................33

4.4. Campos demonstrativos de recuperação / renovação de pastagens - Delineamento Preliminar das Unidades de Adaptação e Difusão de Tecnologias - UATs ................................34

5. CRONOGRAMA FÍSICO – FINANCEIRO PARA A IMPLANTAÇÃO DAS UATs e Áreas Piloto .......................................................................................................................................... 36

6. CRONOGRAMA FINANCEIRO PARA RECUPERAR ÁREAS DEGRADADAS ..................... 37

7. Fonte e Formas de financiamento .................................................................................. 38

8. ESTRATÉGIA DE AÇÃO ...................................................................................................... 39

9. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 40

1. Histórico

Um mundo sem alimentos, sem água potável, sem moradias, sem empregos, sem tecnologias. Será que faz parte de um cenário de ficção? Não. Esse é o quadro de um planeta onde o solo foi esgotado e sua capacidade de renovação natural encerrada.

Na correria do dia-a-dia, atitudes como alimentar-se, abrir a torneira e ver a água correndo, acender uma luz, utilizar um lápis ou até um microcomputador tornaram-se automáticas. Alguns podem pensar o que isso tem a ver com a conservação do solo? Tudo, porque até mesmo a mais alta tecnologia como é a do microship depende do solo para existir, pois a sílica usada na confecção nada mais é que uma fração do próprio solo.

Durante milhões de anos o solo foi sendo formado, por meio de um processo de desgaste natural das rochas. Esse processo realizado pela natureza com a ação do sol, da chuva, dos ventos e de microorganismos, resultou em uma porção de material mineral que aos poucos, com a água sendo acumulada, começou a gerar vida. Nessa matéria viva, também chamada de húmus, encontram-se os restos de matéria orgânica de animais e vegetais em decomposição, ou ainda seres vivos como insetos, minhocas e outros.

No solo existem poros, por onde a água e o ar penetram, levando alimento para toda a vida que fica sob ele. Com isso percebe-se que o solo não é um ambiente inerte. Estimativas feitas para ecossistemas temperados indicam que em um metro quadrado de solo pode-se encontrar mais de um milhão de indivíduos, podendo ser detectado até mil espécies de animais do solo em geral. Em condições de clima tropical e subtropical como onosso, em função das altas temperaturas e umidade, este número cresce exponencialmente. Com base nesses dados podemos definir o solo como uma das principais matérias-primas para a continuidade da existência da vida. Portanto conservar o solo é conservar a vida.

Entre os principais problemas ambientais da atualidade, a degradação do solo, aliada à degradação dos recursos hídricos, constitui uma das principais causas de desastres naturais e, conseqüentemente, causa de milhares de mortes. A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que o total de solos degradados no mundo é de dois bilhões de hectares – área do tamanho dos Estados Unidos e Canadá juntos. E o avanço da degradação é de 20 milhões de hectares por ano. No Brasil, estima-se esta área entre 20 e 40 milhões de hectares.

De acordo com a ONU, os principais agentes causadores de degradação do solo são o pastejo excessivo, descuido das práticas de conservação do solo e desmatamento sem critérios. No que diz respeito ao desmatamento, dados da Embrapa de 1996, demonstram que as florestas tropicais estão reduzidas a 44% de sua área original.

Os problemas derivados deste processo de degradação atingem diretamente os agricultores pela redução do seu potencial produtivo. Mas, além dos agricultores, o problema atinge toda a população nos núcleos rurais e urbanos, pois o manejo inadequado dos solos acarreta a erosão, com o conseqüente arrastamento dos insumos aplicados e das camadas mais férteis do solo para os corpos d’água, provocando o assoreamento e a poluição destes, gerando substanciais acréscimos nos custos para a captação e o tratamento de água para o consumo.

2. Justificativa

2.1. Contextualização de ocupação dos solos com PastagensO Estado conta com uma área ocupada com pastagens da ordem de 40% do total

de terras cultiváveis, o que corresponde à perto de 7,8 milhões de hectares, entretanto, cerca de 20% delas (1,5 milhão de hectares) encontram-se fora do sistema produtivo e outras 60% (4,6 milhões de hectares) em estágios de iniciais a moderados de degradação, com perspectivas de se ver agravada a situação, caso não sejam adotadas ações para a correção desta tendência.

Segundo dados do Levantamento Censitário das Unidade de Produção Agropecuária – LUPA houve uma ocupação das áreas de pastagens por culturas como a cana-de-açúcar, reflorestamento e fruticultura perene, especialmente com a busca por alternativas energéticas e com relação às preocupações sanitárias da cultura dos citros.

Notamos claramente a ocupação, por pastagens, em áreas normalmente consideradas como pouco destinadas às culturas com enfoque industrial, consideradas marginais, o que tem sido, via de regra, o grande motivo do pouco investimento, por parte dos proprietários de áreas de pastagens. Estas têm ocupado áreas anteriormente exploradas por culturas como algodão e café, que alavancaram o desenvolvimento regional em meados do século 20, com a escassez e esgotamento da fertilidade natural do solo, em prover de fartas colheitas, estas culturas foram sendo abandonadas e em seu lugar houve a ocupação por gramíneas nativas e cultivadas, especialmente as Brachiarias.

As grandes voçorocas que ocorrem no Estado estão inseridas neste contexto de pastagens, entendendo como tal toda a área marginal ou inexplorável da propriedade, tendo sido originadas ou por degradação direta destas pastagens ou, principalmente por contribuição de águas lançadas de forma concentrada ou desordenada (leitos de drenagem natural) de estradas, nestas áreas. Portanto, não é errado tratar o tópico voçorocas no contexto de pastagens degradadas.

2.2. Conservação do solo

Na década de 1930, a atenção de alguns produtores rurais e autoridades foi despertada para a queda de produção, principalmente da lavoura cafeeira, devido ao intenso processo erosivo que ocasionara anteriormente a migração dessa cultura do Vale do Paraíba. Na mesma época surgiu nos Estados Unidos, a campanha conservacionista encetada pela sociedade norte-americana e liderada por um técnico idealista e devotado: Hugh Bennet, considerado hoje o “pai” da conservação do solo, que intensificou a pesquisa e a difusão dos conhecimentos técnicos de conservação do solo.

Em São Paulo e possivelmente também em outros Estados, o problema preocupava igualmente lavradores e técnicos. Alguns confiaram a engenheiros agrônomos a aplicação de tecnologia norte-americana no Brasil, os quais contrataram o Escritório Técnico de Agricultura (ETA), para a construção pioneira de terraços de base larga. No início a conservação do solo resumia-se no controle à erosão, por meio de terraços construídos com plaina terraceadora, arrastada por pequenos tratores.

Em 1939 surgia oficialmente a primeira organização governamental de conservação do solo no país, que dava assistência técnica direta aos lavradores, denominada Serviço de Terraceamento. Em 1942, com a reforma geral da Secretaria da Agricultura, esse serviço foi transformado na Seção de Combate à Erosão, Irrigação e Drenagem, quando um grupo, ainda reduzido, com sede em Campinas, atendia solicitações de assistência técnica em todo o Estado, e incluía-se também o problema de água.

Em 1949 foi criado o Departamento de Engenharia e Mecânica da Agricultura (DEMA), e com ele a Divisão de Conservação do Solo que chegou a contar com cerca de 100 especialistas, constituindo a maior Organização de Assistência Técnica Especializada em Conservação do Solo de toda a América Latina.

Compondo a Divisão de Conservação do Solo, existiam as Seções de Conservação do Solo e de irrigação e Drenagem, o Centro de Treinamento Básico de Conservação do Solo e o Serviço de Expansão Conservacionista. Paralelamente foram criadas as Divisões de Mecanização Agrícola e a Divisão de Engenharia.

Nas primeiras fases da conservação do solo, a preocupação restringia-se ao controle de erosão e, especialmente ao terraceamento, feitos de forma isolada em termos de gleba e também de prática. O DEMA, desde a sua origem, procurou além de descentralizar sua ação, distribuindo-se pelo estado em zonas conservacionistas (10) e Regionais Conservacionistas (79), direcionar seu trabalho no sentido de preservar o solo e a água, de diversificar a divulgação, o ensinamento e execução de práticas como o plantio em nível, a irrigação, o barrageamento, as banquetas individuais, o planejamento conservacionista global da propriedade como um todo.

Com a nova reforma da Secretaria, em 1967, foi extinto o DEMA (que se tornou embrião de vários serviços criados e em funcionamento em outros estados e países da América do Sul), passando a sua estrutura a fazer parte da CATI, criada neste mesmo ano.

A partir de 1980, as ações públicas para conservação do solo em São Paulo passaram por um período de estagnação, sendo intensificadas no final da década de 1990, com a implementação do Programa de Microbacias, que já vinha se desenvolvendo embrionariamente desde 1987.

A conservação do solo consiste em dar ao mesmo o uso e o manejo adequado às suas características químicas, físicas e biológicas, visando à manutenção do equilíbrio ou recuperação. Por meio de práticas conservacionistas é possível manter a fertilidade do solo, evitando problemas comuns, como a erosão e a compactação.

Para que o solo seja utilizado adequadamente é imprescindível que seja feito um planejamento adequado a partir de uma análise criteriosa do local onde serão instaladas as atividades agropecuárias, visando a sua utilização racional e maior preservação dos recursos naturais.

Em São Paulo a adoção das práticas conservacionistas de maneira integrada foi intensamente recomendada e incentivada pela CATI, por meio do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas com os seguintes objetivos:

· Promover a conservação dos recursos naturais (solo, água, fauna e flora) por meio da utilização de medidas que diminuam os efeitos do processo de degradação em áreas ainda em estágio inicial, ou afetadas maisintensamente pelo manejo e ocupação incorretos;

· Promover a adoção de tecnologias que aumentem a cobertura vegetal do solo e a infiltração da água, reduzindo sua compactação e aumentando o armazenamento de água no subsolo;

· Promover a adoção de tecnologias que controlem o escorrimento de água superficial e a ação das enxurradas, reduzindo o processo de desgaste e erosão do solo, estradas rurais e assoreamento dos rios;

· Promover a redução da poluição do solo, das nascentes e dos corpos d’água.

Para tanto incentivou a adoção do Sistema de Plantio Direto na Palha, com difusão de conhecimento, principalmente através de Unidades de Demonstração e cessão de semeadoras de plantio direto para associações de agricultores familiares (atualmente o Estado conta com mais de um milhão de hectares cultivados pelo sistema), promovido a recuperação de matas ciliares (doação de mais de dois milhões de mudas), implementado projetos de educação ambiental para alunos de escolas públicas (mais de 300 mil crianças envolvidas), feito a doação de sementes para a adubação verde, incentivado a produção

orgânica, efetivação de tecnologias para a recuperação de áreas degradadas e controle de voçorocas e adequação de estradas rurais, dentre outras ações.

2.3. Erosão

Os processos erosivos ocorrem naturalmente no meio ambiente, de forma lenta e gradual, causando no decorrer da evolução do globo terrestre, mudanças no relevo e na vegetação (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).

Os problemas ambientais têm sido abordados como consequência, entre outras, das disfunções que a atividade humana provoca e de suas repercussões. Ações inadequadas e a ocupação irregular do solo têm conduzido à deterioração, freqüentemente irreversível, de propriedades rurais, afetando o seu potencial produtivo, no processo complexo conhecido como degradação das interações físicas, químicas e biológicas.

Entende-se por erosão o processo de desagregação e remoção de partículas do solo ou fragmentos de rocha, pela ação combinada da gravidade com a água, vento, gelo ou organismos (IPT, 1986).

Segundo OLIVEIRA et al (1987), este fenômeno de erosão vem acarretando, por meio da degradação dos solos e, por conseqüência, das águas, um pesado ônus à sociedade, pois além de danos ambientais irreversíveis, produzem também prejuízos econômicos e sociais, diminuindo a produtividade agrícola, provocando a redução da produção de energia elétrica e do volume de água para abastecimento urbano devido ao assoreamento de reservatórios, além de uma série de transtornos aos demais setores produtivos da economia. A quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente (remoção da vegetação) expõe o solo a formas menos perceptíveis de erosão, que promovem a remoção da camada superficial deixando o subsolo (geralmente de menor resistência) sujeito à intensa remoção de partículas (SILVA, 1990).

Em levantamento do Instituto Paulista de Tecnologia (IPT) foram encontradas aproximadamente 3.500 erosões de grande porte no Estado de São Paulo. A CATI, através do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas implementou ações objetivando o controle de mais de 2.100 voçorocas no Estado, em microbacias de várias regiões, que provocavam a perda de mais de 200 mil toneladas de solo por ano. Também promoveu a recuperação e adequação de mais de 1.700 quilômetros de estradas rurais, que geravam perdas de cerca de 100 mil toneladas de solo por ano.

2.3.1. Tipos de erosão

A erosão acelerada (ação antrópica) pode ser laminar ou em lençol, quando causada por escoamento difuso das águas das chuvas resultante na remoção progressiva dos horizontes superficiais do solo; e erosão linear, quando causada por concentração das

linhas de fluxo das águas de escoamento superficial, resultando em incisões na superfície do terreno na forma de sulcos, ravinas e voçorocas.

A voçoroca é a feição mais flagrante e escandalosa da erosão antrópica, podendo ser formada por meio de uma passagem gradual da erosão laminar para erosão em sulcos e ravinas cada vez mais profundas, ou então, diretamente a partir de um ponto de elevada concentração de águas pluviais. No desenvolvimento da voçoroca atuam, além da erosão superficial como nas demais formas dos processos erosivos (laminar, sulco e ravina), outros processos, condicionados pelo fato desta forma erosiva atingir em profundidade o lençol freático ou nível d’água de subsuperfície.

A presença do lençol freático, interceptado pela voçoroca, induz ao aparecimento de surgências d’água, acarretando o fenômeno conhecido como “piping” (erosão interna que provoca a remoção de partículas do interior do solo, formando “tubos” vazios que provocam colapsos e escorregamentos laterais do terreno, alargando a voçoroca ou criando novos ramos). Além deste mecanismo, as surgências d’água nos pés dos taludes da voçoroca provocam sua desestabilização e descalçamento. As voçorocas formam-se geralmente em locais de concentração natural de escoamento pluvial, tais como cabeceiras de drenagem e embaciados de encostas. A importância do estudo dos fenômenos associados à formação de voçorocas é estabelecer medidas de prevenção e controle, como também o estabelecimento de técnicas compatíveis ao combate do problema.

3. Diagnóstico

3.1. Cenário atual da ocupação dos solos em SP e análise da projeção das curvas de tendência

Pela comparação entre os dados do LUPA 1995/1996 e 2007/2008, podemos visualizar um acréscimo da área ocupada pela cana-de-açúcar da ordem de 90% (de 2.886 para 5.500 mil ha) contra uma regressão da área ocupada por pastagens de 22 % (de 10.275 para 8.000 ha). Podemos inferir que a cultura da cana-de-açúcar avançou sobre as áreas de pastagens e que estudos demonstram que 80% destas áreas encontram-se em algum estágio de degradação. Estima-se que cerca de 60% da área total ocupada por pastagens encontra-se entre um estágio inicial e mediano de degradação, como porexemplo, erosão laminar aparente ou formação de sulcos rasos ou ocasionais, demandando normalmente apenas correções no manejo, e outros 20% já em estágio avançado de degradação, necessitando de intervenção de maquinário e grande inversão de recursos em insumos para reintegrá-las à capacidade de produzir alimentos, fibras ou energia.

Pelas Tabelas 1 e 2, visualizadas através dos Gráficos 1 e 2, também é possível visualizar ainda uma tendência de redução da área de pastagens e aumento da área de florestas plantadas (grande acréscimo no intervalo entre os dois censos, da ordem de 25%), ocupação com a cultura de cana-de-açúcar, e a exploração frutícola tendendo à estabilização. Em todas estas situações, entre os dois censos, houve aumento no número de UPAs, o que indica que pequenas propriedades foram incluídas ou que propriedades maiores foram fragmentadas.

Observa-se um movimento de acomodação ou equilíbrio. A cana-de-açúcar, que consumou um grande crescimento entre os censos, no afã de incorporar áreas para produção, passou a buscar todas as opções de terras disponíveis num primeiro momento. Isto acabou acarretando na obtenção de terras que estavam fora do sistema produtivo, normalmente denominadas pastagens degradadas (considere-se aqui que qualquer área marginal é considerada pelos produtores como “pastagem”), através de grandes investimentos em insumos e máquinas, na inserção destas novamente como fatores de produção. Hoje se observa um movimento diferente, onde áreas marginais, com custos maiores de produção e rendimentos líquidos menores, bem como áreas com declividade acima de 12% (limitadas, portanto para o uso de mecanização intensiva) estão sendo devolvidas em troca de áreas nobres em termos pedológicos e conservacionistas e normalmente mais próximas às usinas, como fator de redução dos custos de logística.

Em algumas regiões, como nas jurisdições das Regionais da CATI de Barretos, Dracena, Presidente Venceslau, São José do Rio Preto, Araçatuba e Bauru, as usinas estão devolvendo as piores áreas principalmente em termos de declividade, para absorver áreas mais nobres, com declividades até o limite de perto de 12%, mais argilosas, menos erodidas e mais próximas das suas unidades de processamento.

Já nas Regionais de Marília, Itapetininga, Ourinhos e Sorocaba, a ocupação das áreas degradadas de pastagens estão sendo efetivadas pela cultura de citros, que, como a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, também trata a exploração com enfoque empresarial, sendo que atualmente vislumbra-se uma tendência de concentração de áreas nas mãos das indústrias processadoras, provavelmente em busca de economia de escala na produção de commodities. Na área das Regionais de Marília e Bauru também há pressão para novos investimentos em florestas plantadas.

Áreas pioneiras estão sendo buscadas principalmente na região da Alta Araraquarense, Regionais de Votuporanga, Fernandópolis, Jales e General Salgado, principalmente para a ocupação com a cana-de-açúcar, apesar de muitas delas apresentarem limitações graves em função da alta suscetibilidade dos solos à erosão.

produtividade não são claramente observados. Além disso, a renovação da pastagem é combinada com a aplicação de calcário e/ou fertilizantes, o que mascara as perdas de nutrientes e produtividade decorrentes da erosão do solo. Os impactos sobre a produtividade induzidos pela erosão nos solos tropicais são difíceis de observar, mesmo quando as taxas de erosão são altas. De qualquer forma, sabe-se que eles se refletem externamente como:a. assoreamento de reservatórios e cursos de água, que podem contribuir com

enchentes, poluição da água potável, diminuição da recarga do lençol freático com consequente redução da vazão dos corpos d’água e o encurtamento da vida útil das instalações hidroelétricas;

b. degradação dos vales e áreas ciliares (regiões sedimentares), que afeta a biodiversidade e a vida selvagem.

c. perda de longo prazo na profundidade efetiva do solo, a qual reduz a sustentabilidade da produção.

Tais impactos não são diretamente percebidos ao nível da propriedade rural.

Foto 1 – Rebanho de dupla aptidão tendo ao fundo a formação de trilhas atravessando os terraços e dando início à formação de sulcos. Fonte – UTE Presidente Prudente

Foto 2 – Mesma área, vista sob outro ângulo, na região de Presidente Prudente. Fonte – UTE Presidente Prudente

Foto 3 – Evolução da situações acima, onde sulcos rasos evoluem para ravinas, já impedindo a motomecanização. Fonte – UTE Presidente Prudente

Foto 4 – Situação extrema, quando os sulcos e ravinas evoluem para voçorocas, praticamente inviabilizando economicamente a área. Fonte – UTE Presidente Prudente

A erosão é causada essencialmente por três fatores – o impacto direto no solo das gotas das chuvas, a desagregação e o arraste e deposição dos sedimentos, sob a forma de enxurrada.

A primeira e principal medida mitigadora da erosão é o impedimento físico do impacto da gota da chuva no solo desprotegido, que absorve toda a energia cinética da mesma. Nesta fase o primordial é proporcionar uma boa cobertura ao solo, visando quebrar esta energia e impedir as etapas subsequentes. A melhor alternativa para aplicar este conceito é o Sistema de Plantio Direto, que no caso específico de pastagens sugere a adoção da Integração Lavoura/Pecuária ou Integração Lavoura/Pecuária/Floresta.

Importante também é a capacidade dos torrões de solo de se manterem naturalmente agregados ou coesos, através de agentes cimentantes, como é o caso da matéria orgânica, fruto da decomposição de organismos biológicos como a microfauna e os restos de culturas vegetais. Quanto mais forte a agregação, mais resistente o solo à erosão. Aplica-se neste caso o princípio de produzir grande volume de matéria seca e mantê-la em superfície o maior tempo possível, possibilitando além da efetiva proteção direta, o fornecimento de agentes agregadores, o que é conseguido também, além da ILP, através de manejos corretos das forrageiras, impedindo o sobre pastejo ou pressão excessiva de pastoreio.

Não havendo as duas primeiras fases, ainda pode ocorrer a terceira, na forma de enxurradas formadas pela incapacidade de absorção de grandes volumes de precipitação em curto espaço de tempo pelo solo ou ainda, o que é muito comum em se tratando de pastagens, a simples condução das águas pluviais oriundas das estradas lindeiras. Entretanto, o impacto das mesmas é minimizado pela própria cobertura vegetal do terreno, que evita a concentração das águas, promovendo uma distribuição uniforme na superfície. Uma alternativa é o sistema de terraceamento, observando, entretanto vários procedimentos para impedir que, ao invés de se tornar uma arma CONTRA a erosão, possa se tornar uma arma A FAVOR da erosão. Isto porque o gado, ao dessedentar, procura os cursos d’água, na rede de drenagem dos vales. Assim, pelos próprios hábitos inerentes a esta espécie, cruzam no sentido do declive do terreno, seguindo sempre o mesmo caminho, formando assim “trilheiros” ou “trilhas”, que cruzam os terraços, induzindo à compactação da crista dos mesmos pelo pisoteio, formando pontos de fragilidade, onde ocorre o rompimento e a condução de um grande volume de água retido em todo o comprimento do canal para as “trilhas”, que na verdade se transformam em canais morro abaixo, provocando o rompimento dos terraços à jusante, produzindo estragos de grandes proporções e dando origem às voçorocas. Portanto, ao se projetar um sistema de terraceamento em pastagens, deve-se ter o cuidado de construir “travesseiros” (diques) reforçados e compactados, transversais ao canal do terraço, com espaçamento entre si de cerca de 50 metros, servindo de passagem na crista do terraço e limitando o volume de água represado, quando da eventualidade de rompimento. Outro ponto crucial é o nivelamento das cristas dos terraços após a etapa de construção e a eventual correção de pontos mais frágeis. A manutenção do sistema de terraceamento pressupõe a limpeza periódica dos canais e o reforço dos pontos fragilizados. No caso do despejo das estradas, várias medidas podem ser tomadas, como a construção de bacias de captação ou cacimbas, a condução organizada das águas para os próprios terraços, desde que dimensionados para tal, ou ainda através de segmentos de terraços ou bigodes. O ideal seria a formação ou reforma de faixas de pastagens em nível, através do uso de cercas elétricas, oferecendo cocho e bebedouro, alternando anualmente a mobilização do solo, abolindo assim o uso dos terraços.

Como recomendação geral, deve-se ter uma visão sistêmica do complexo pastagem, adotando-se sempre um conjunto de práticas conservacionistas, planejadas em nível de áreas de contribuição, ao invés de se buscar soluções simplistas, como o terraceamento como prática isolada e restrito à área da propriedade.

Estima-se que a área ocupada por pastagens no Estado de São Paulo possa ser vista como segmentada em três porções – uma primeira de cerca de 20%, constituída de pastagens já degradadas, com cobertura vegetal extremamente deficiente e ocorrência de sulcos profundos e voçorocas; 60% de pastagens já sofrendo algum nível de degradação, como erosão laminar em profusão e ocorrência de sulcos rasos e/ou trilheiros, em função de manejo inadequado, entretanto ainda inseridas no sistema produtivo; e 20% de áreas sob manejo correto, com perdas mínimas por erosão e máxima expressão de produtividade.

Procurou-se quantificar, em função da espacialização das áreas das pastagens e os diferentes níveis de manejo, as perdas por erosão, considerando os principais tipos de solos (classificação Embrapa – CAMARGO et al. 1987) e parâmetros correlatos para o cálculo da Equação Universal de Perda de Solos. Pode-se verificar no Quadro 1 a amplitude das perdas, que variam desde 190 kg/ha/ano, até perto de 10 t/ha/ano, ou seja, 50 vezes mais, demonstrando assim a influência do manejo e do tipo de solo e clima nas perdas por erosão.

No final, apurou-se uma perda de solo, correspondendo a uma média de 3,04 t/ha/ano, em sua maior parte ocorrendo no Planalto Paulista.

QUADRO I – Perdas de Solos em Áreas de Pastagens sob Pecuária Leiteira e Mista

Pastagens em fase avançada de degradação – 20% da área total de pastagensSolos Erodibi Erosivi LS C P Perda Área Perda

lidade dade Solo Ha total

t.m m/MJ.h MJ.mm/ha.h t/ha t

LE a 0,017 7025 1 0,05 1 5,97125 357.232,14 2.133.122,39

Pln 0,035 7025 1 0,05 1 12,29375 142.892,88 1.756.689,34

Pml 0,049 7025 1 0,05 1 17,21125 142.892,88 2.459.365,08

LR 0,012 7025 1 0,05 1 4,215 51.785,76 218.276,98

TE 0,018 7025 1 0,05 1 6,3225 7.144,67 45.172,18

Outros 0,025 7025 1 0,05 1 8,78125 35.666,08 313.192,72

Total 737.614,40 6.925.818,69

Média 9,39

t/ha

Pastagens em fase inicial de degradação - 60% da área total de pastagens

Solos Erodibi Erosivi LS C P Perda Área Perda

lidade dade Solo ha total

t.mm/MJ.h MJ.mm/ha.h t/ha t

LE a 0,017 7025 1 0,01 1 1,19425 1.071.696,41 1.279.873,43

Pln 0,035 7025 1 0,01 1 2,45875 428.678,64 1.054.013,61

Pml 0,049 7025 1 0,01 1 3,44225 428.678,64 1.475.619,05

LR 0,012 7025 1 0,01 1 0,843 155.357,28 130.966,19

TE 0,018 7025 1 0,01 1 1,2645 21.434,01 27.103,31

Outros 0,025 7025 1 0,01 1 1,75625 106.998,23 187.915,63

Total 2.212.843,20 4.155.491,21

Média 1,88

t/ha

Pastagens com manejo adequado - 20% da área total de pastagens

Solos Erodibi Erosivi LS C P Perda Área Perda

lidade dade Solo ha total

t.mm/MJ.h MJ.mm/ha.h t/ha t

LE a 0,017 7025 1 0,001 1 0,119425 357.232,14 42.662,45

Pln 0,035 7025 1 0,001 1 0,245875 142.892,88 35.133,79

Pml 0,049 7025 1 0,001 1 0,344225 142.892,88 49.187,30

LR 0,012 7025 1 0,001 1 0,0843 51.785,76 4.365,54

TE 0,018 7025 1 0,001 1 0,12645 7.144,67 903,44

Outros 0,025 7025 1 0,001 1 0,175625 35.666,08 6.263,85

Total 737.614,40 138.516,37

Média 0,19

t/ha

TOTAL GERAL DE PERDAS DE SOLO POR EROSÃO EMÁREAS DE PASTAGENS SOB PECUÁRIA LEITEIRA E MISTA 11.219.826,27

Fonte: Lombardi Neto, Francisco - IAC - 05/2000Aplicação da Equação Universal de Perdas de Solo aplicando o valor da erosividade média do Estado de São Paulo.Adaptada e atualizada (Projeto LUPA 2007/2008) por Drugowich, M.I.; Savastano, S. : Savastano, S.A.A.L-CATI-04/2009

Utilizamos a tabela acima, relativa apenas à exploração da pecuária leiteira e mista, correspondendo a cerca de 50% da área total de pastagens ocupada no estado, a título de exemplificar os extremos de perdas em função dos diferentes tipos de solos e aos diferentes estágios de degradação das mesmas.

Na Austrália, em condições equivalentes de clima e solo ao Estado de São Paulo, considera-se que o nível crítico de cobertura do solo nas pastagens cespitosas (que formam touceiras) é de 40% de recobrimento, o que corresponde a 1.000 kg/ha de matéria seca. O ideal é que esse nível mínimo de cobertura seja alcançado no início da estação chuvosa do ano.

A Tabela abaixo mostra a importância da cobertura do solo, avaliada através de um experimento na Austrália.

Tabela 3 - Resultado de uma chuva de 54 mm (Mt Mort – Australia)

tratam. A tratam. B tratam. C

taxa de cobertura do solo 87% 69% 6%escorrimento total após a chuva (mm) 1,5 14,0 38,0porcentagem da chuva que escorreu 3% 26% 70%perda de solo (t/ha) 0,03 0,3 22,0profundidade de solo perdida (mm) 0,002 0,02 1,7concentração de sedimentos (g/L) 1,5 1,9 63,0nitrogênio removido (kg/ha) 0,14 1,9 15,3fósforo removido (kg/ha) 0,02 0,26 4,3Fonte: CAREY, B. & SILBURN, M. (2006).

O tratamento C, correspondente a um solo quase que completamente desprotegido, teve 70% da chuva (de 54 mm) desperdiçados por escorrimento. A perda de solo resultante foi de 22 t/ha. Os tratamentos A e B, com maiores coberturas de solo, tiveram muito pouca enxurrada e igualmente pequena perda de solo e nutrientes.

3.2.1. Região Centro Nordeste Paulista

A pecuária não é a atividade principal da Regional Jaboticabal, muito embora esteja presente em aproximadamente 51.000 ha e em 4.300 UPA´s (Unidades de Produção Agropecuária). As regionais limítrofes possuem realidade semelhante. Merece atenção por conta ausência de manejo sustentável. Verifica-se freqüentemente a invasão da APP para dessedentação animal, resultando em trilheiros (erosão por sulcos) e degradação de taludes fluviais.

3.2.2. Região Central

Áreas de pastagens com alta declividade impedem a entrada da cana-de-açúcar. Áreas do solos mais pobres e de topografia mais acentuada vêm sendo substituída por eucalipto. Permanência de café em áreas de espigão e latossolo. Em torno de 50 a 60% da pastagem degradada ocorre por manejo incorreto do gado.

As pastagens ocupam as áreas com topografia mais acentuada e, principalmente, os vales próximos aos rios. Boa parte dessas pastagens são da espécie Brachiaria com capacidade de suporte de pastejo considerado baixo, entre 0,8 a 1,2 Ua/ha.

Os principais problemas de erosão nas pastagens são: manejo incorreto e o excesso de lotação no período de inverno expondo os solos à ação dos processos erosivos;localização dos bebedouros junto aos córregos favorecendo a formação de trilhas profundas e posteriormente voçorocas; acesso de animais às áreas de APP.

Nas décadas de 1960 e 1970, o terraço foi amplamente difundido como prática eficiente de controle da erosão. A adoção dessa prática nos solos da região, principalmente nas áreas com maiores declividades, pode ser considerada como um dos agravantes das erosões dos solos.

Outra prática difundida na região, adotada em áreas de pastagens, é a construção de caixas de contenção ou bacias de captação em substituição ao terraceamento. A adoção dessa prática pode ser considerada menos danosa quando comparada ao terraceamento, mas, além de ser pouco eficiente, diminui a área dedicada à atividade epor permanecer cheia de água quase todo o ano se transformam em grande potencial de disseminação de verme e doenças aos animais.

3.2.3. Região Noroeste Paulista

Poucos produtores fazem divisão e manejo dos pastos, ocorrendo somente em pequenas áreas com piquetes para produção leiteira onde as áreas são geralmente menores.

Existem muitos sulcos profundos e algumas voçorocas em formação inicial nas áreas de pastagens, mas os produtores, por conta própria, não tomam providências para conter esses processos. Especificamente com relação aos sulcos profundos o motivo seria a falta de esclarecimento do produtor, aliada à falta de recursos financeiros e de infraestrutura na propriedade, sobre a importância desse controle.

Boa parte das áreas apresenta o sistema de terraços em nível, nem sempre locados, dimensionados ou construídos de maneira adequada. A manutenção periódica dos mesmos praticamente inexiste. Poucas áreas adotam a divisão de pastagens e correção e/ou adubação de manutenção.

3.2.4. Região Centro Sul

Áreas de solos aparentemente com problemas de produtividade. Processo erosivo moderado, incipiente quando em estágios iniciais. Degradação em decorrência de manejo inadequado de solo e animais. As práticas de conservação disponíveis são onerosas e a maior parte das propriedades que necessitam de manutenção é utilizada por arrendatários, na sua maioria, o que implica em grande resistência à conservação das mesmas. Áreas com topografia acidentada e solos areno-argilosos – utilizadas para reflorestamento ou fruticultura, principalmente laranja. Os principais problemas de erosão ocorrem devido à área acidentada, mas, os efeitos não são tão evidentes devido ao solo ser predominantemente argiloso. Cana substituindo pastagem apenas em áreas próximas às indústrias, por questões de logística.

Áreas acima de 12% de declividade vêm sendo substituídas por citros. Áreas mais planas – substituição por cana em função da mecanização exigida. Áreas mais degradadas,com solos mais pobres – ainda substituição por cana, apesar de tendência à estabilização.

3.2.5. Região Oeste

A forma de utilização das pastagens é de ocupação até a sua degradação. O capim é pastejado até não sobrar mais folhas para sua recuperação. O uso da Braquiaria, que suporta solos menos férteis, não força o produtor a recompor a fertilidade, porém esta gramínea apresenta hábito de crescimento cespitoso prostrado/decumbente, que faz com que o solo não se exponha ainda mais, desacelerando a degradação.

Os Panicuns tiveram sua área bastante diminuída devido à degradação causada pelo seu hábito de crescimento cespitoso aliado ao manejo inadequado, exigência em

fertilidade do solo e exposição do solo à chuva e sol, degradando-o ainda mais. A localização das aguadas contribuiu também para a erosão e degradação das pastagens, pois os “trilheiros” feitos pelos animais em direção à água são caminhos para que a chuva cause mais erosão. Na grande parte da área ocupada com pastagens não é realizada a prática do terraceamento, porém nas glebas onde foi feito adequadamente, como nas propriedades beneficiadas pelo Programa de Microbacias, notou-se o fim da erosão por sulcos, bem como o aumento na quantidade de nascentes e na vazão das mesmas.

Quase não é adotada a prática de recuperação de pastagens e sim a reforma, realizada com o cultivo de milho (margem esquerda do Rio Tietê) e, milho (águas), feijão (seca) e milho no verão seguinte, com semeadura de Braquiaria nas entrelinhas desta segunda safra de milho (margem direita do Rio Tietê). Adota-se a prática de calagem e terraceamento em algumas glebas. Os arrendatários relatam que sempre encontram compactação no solo quando iniciam o preparo de solo nas pastagens para sua reforma.

3.2.6. Região do Vale do Paraíba

É pouco comum a adoção de práticas de conservação de solo na formação e manutenção de pastagens. As medidas aplicadas na formação e reforma de pastos resumem-se à correção do solo e à escolha da espécie. Neste sentido, as gramíneas do gênero Brachiaria têm oferecido melhores condições de cobertura do solo. Raramente observam-se pastagens terraceadas.

Os maiores problemas estão relacionados ao baixo investimento na melhoria da fertilidade do solo durante a formação e ausência de manutenção da fertilidade ao longo dos anos. Esse fato aliado à condição de superpastejo e a ocorrência do fogo, levam à degradação dos pastos, expondo o solo à erosão.

3.2.7. Região Bragantina

Manejo inadequado ou ausente, resultando em baixa cobertura vegetal, baixa produtividade e conseqüente degradação da pastagem gerando muitas vezes processos erosivos e compactação.

Adotam-se na região as mesmas práticas de conservação de solo, nas diferentes condições edafo-climaticas existentes, gerando situações prejudiciais ao solo e descrédito nas técnicas agronômicas preconizadas.

Exemplos são a adoção de grandes espaçamentos verticais entre terraços, segundo o preconizado hoje, muitas vez devido ao grande volume pluviométrico ocorrido em curto espaço de tempo. Esta e uma situação frequente e recorrente e vem desacreditando os agricultores na prática, pois os terraços não mais suportam este grande volume, rompendo-se e causando prejuízos maiores.

Apesar da não adoção de práticas conservacionistas como divisão e rotação das pastagens, a maioria apresenta baixa lotação de animais e, por situarem-se (grande maioria) em solos sem grande suscetibilidade à erosão, mesmo em grandes declividades, não apresentam grandes perdas de solo, e o tipo de erosão é laminar.

Na região tem-se adotado a implantação de bacias de contenção com resultados positivos no controle da erosão.

3.2.8. Região do Pontal do Paranapanema

O manejo correto da pastagem, visando uma boa cobertura vegetal é a melhor forma de controle da erosão. Terraceamento em pastagens extensivas tem problema com o trilho do gado e a falta de manutenção, sem a devida correção da fertilidade.

Sistemas de conservação mal dimensionados, locados e construídos sem o devido cuidado e conhecimento técnico (capacitação e assistência técnica), aliado à gestãodeficiente da propriedade e à ocorrência de solos altamente susceptíveis à erosão promovem o surgimento de processos erosivos extremamente expressivos, oriundos de rodovias, vicinais e áreas Peri urbanas.

Plantio de culturas anuais para a reforma da pastagem sem preocupação com a conservação do solo, por tratar-se normalmente de arrendatários especializados, sem o devido comprometimento com a manutenção indefinida destas áreas, inclusive em função do investimento necessário para tal, o que poderia inviabilizar tal sistema de exploração.

3.3. Caracterização dos principais tipos de solo cultivados em São Paulo

Em São Paulo, existem vários tipos de solos. O quadro a seguir contém a descrição e a área ocupada por cada um, de acordo com Classificação da Comissão de Solos, 1960.

Quadro 3 – Área ocupada pelos solos que ocorrem no Estado de São Paulo

Ordem Subordem Unidade de mapeamentoÁrea em km2 Abreviatura %

ZONALSolos com B Textural

Podzólico Vermelho-Amarelo orto 6.419 PV 2,6

Podzólico Vermelho-Amarelo; variação Piracicaba

1.374 PVp 0,5

Podzólico Vermelho-Amarelo; variação LARAS 8.513 PVIs 3,5

Podzólico Vermelho-Amarelo “intergrade” paraLatossolo Vermelho-Amarelo 2.240 PVL 0,9

Solos Podzolizados com Cascalho 5.337 Pc 2,2

Ordem Subordem Unidade de mapeamentoÁrea em km2 Abreviatura %

Solos Podzolizados de Lins e Marília; variação Lins

26.529 Pln 11,9

Solos Podzolizados de Lins e Marília; variação Marília

20.752 Pml 8,7

ZONAL

Solos com B Textural

Maditerrânico Vermelho-Amarelo 109 M 0,004

Terra Roxa Estruturada 2.643 TE 1,1

Solos com B Latossólico

Latossolo Roxo 34.932 LR 14,7

Latossolo Vermelho-Escuro-orto 10.724 LE 4,4

Latossolo Vermelho-Escuro-fase arenosa 47.841 LEa 19,7

Latossolo Vermelho-Amarelo-orto 8.410 LV 3,4

Latossolo Vermelho-Amarelo-fase rasa 9.003 LVP 0,9

Latossolo Vermelho-Amarelo-fase arenosa 12.159 LVa 4,9

Latossolo Vermelho-Amarelo-fase terraço 1.693 LVt 0,7

Latossolo Vermelho-Amarelo- “intergrade” Podzólico Vermelho-Amarelo

2.187 LVP 0,9

Latossolo Vermelho-Amarelo-Húmico 238 LH 0,1

Solos de Campos de Jordão 6.809 LJ 2,8

Intrazonal HidromórficoSolos HidromórficosGleizados(Reunindo os Podzol, Hidrofórmicos, Solos Orgânicos)

6.259 HI, PH, O 2,2

Azonal Solos poucos desenvolvidos

Solos Aluviais 814 A 0,3

Litossolo-fase-substrato-bassaltito 186 Li-b –

Litossolo-fase-substrato-granito-gnaisse 259 Li-gr –

Litossolo-fase-substrato-filito-xisto 26 Li-fi 1,28

Litossolo-fase-substrato-arenito calcário 582 Li-ac –

Litossolo-fase-substrato-argilito 1.105 Li-gr –

Regossolo 2.063 R 0,9

Regossolo “intergrade” para Podzólico Vermelho-Amarelo e Regossolo “intergrade” para Latossolo Vermelho-Amarelo

8.547 RPV RLV 3,5

Associação de solos 13.558 - 5,5

Quadro 4 - CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS DO ESTADO DE SÃO PAULO – Comparação entre as diferentes épocas: 1951, 1960, 1987, e 1999Autor: Engº Agrônomo Dr. Helio do Prado*Professor e pesquisador dio IAC (Instituto Agronômico, Campinas)

REGIÃO PAULISTA PAIVA NETO et. Al. (1951) COMISSÃO DE SOLOS (1960) CAMARGO et al. (1987) EMBRAPA – CNPS (1999)

Local de ocorrência Classificação principalmente pelo Critério Geológico

Classificação pelo Critério Morfológico Classificação pelos Critérios Morfológicos e Interpretativos (analítico: químico e granulométrico,

com base no SISTEMA BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS, que estava em desenvolvimento

Classificação pelos Critérios Morfológicos e Interpretativos (analítico: químico e

granulométrico, com base no SISTEMA BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS,

NOROESTE ARENITO DE BAURU Latossolo Vermelho–Escuro fase arenosa Latossolo Vermelho-Escuro distrófico ou álico A moderado textura média

Latossolo Vermelho (3) eufórico ou distrófico A moderado textura média(*)

SUDOESTE DEVONIANOLatossolo Vermelho-Escuro orto Latossolo Vermelho-Escuro distrófico ou álico A

moderado ou A proeminente textura argilosa ou muito argilosa.

Latossolo Vermelho (3) distrófico A moderado textura argilosa ou muito argilosa(*)

Podzólico Vermelho-Amarelo variação Laras Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico ou álico Ta ou Tb abrupto A moderado ou A proeminente textura arenosa/média.

Agrissolo Vermelho-Amarelo (1) ou Agrissolo Amarelo (2) distrófico, ambos A moderado textura arenosa/média

CENTRO-SUL e SUDOESTE

GLACIAL Podzólico Vermelho-Amarelo variação Laras Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico ou álico Ta ou Tb abrupto A moderado ou A proeminente textura arenosa/média.

Agrissolo Vermelho-Amarelo(1) ou Agrissolo Amarelo(2) distrófico ou alissolo(*), A moderado ou A proeminente textura arenosa/média

CENTRO-SUL, SUDOESTE E SUDESTE

GLACIALLatossolo Vermelho-Escuro orto Latossolo Vermelho-Escuro distrófico ou álico A

moderado textura argilosa ou muito argilosaLatossolo Vermelho (3) distrófico A moderado textura argilosa ou muito argilosa(*)

Podzólico Vermelho-Amarelo fase arenosa Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico ou álico A moderado textura média

Latossolo Vermelho-Amarelo (1) ou Latossolo Amarelo (2) distrófico A moderado textura média (*)

CENTRO-SUL CORUMBATAI

Podzólico Vermelho-Amarelo variação Laras Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico ou álico Ta ou Tb abrupto ou não A moderado ou A proeminente textura arenosa/média

Agrissolo Vermelho-Amarelo (1) ou Argissolo Amarelo (2) distrófico A moderado textura arenosa/média

Podzólico Vermelho-Amarelo variação Piracicaba Podzólico Verme-lho Amarelo ou Podzólico Vermelho Escuro ambos distróficos ou álicos Ta ou Tb A moderado textura arenosa/argilosa ou média/argilosa ou argilosa/argilosa

Argissolo Vermelho-Amarelo (1) ou Argissolo Amarelo (2) distrófico ou alissolo, ambos A moderado textura arenosa/argilosa ou média/argilosa ou argilosa/argilosa

Metiderrânico Vermelho-Amarelo Brunizém Avermelhado textura argilosa ou muito argilosa ou Podzólico Vermelho Escuro eutrófico Ta A moderado textura argilosa ou muito argilosa

Chernossolo textura argilosa ou muito argilosa ou Luvissolo Crômico A moderado textura argilosa ou muito argilosa, respectivamente.

LESTE TERCIÁRIO Latossolo Vermelho–Escuro fase terraço Latossolo Vermelho-Amarelo ou Latossolo Amarelo álico A moderado textura argilosa, ou média.

Latossolo Vermelho-Amarelo (1) A moderado textura argilosa (*)

REGIÃO PAULISTA PAIVA NETO et. Al. (1951) COMISSÃO DE SOLOS (1960) CAMARGO et al. (1987) EMBRAPA – CNPS (1999)

TODO O ESTADO BAIXADASSolos Aluviais Solo Aluvial ou Cambissolo substrato sedimentos aluviais,

normalmente eutróficos.Neossolo Flúvico ou Cambissolo substrato sedimentos aluviais, normalmente eutróficos, respectivamente

Solos Hidromórficos Glei Húmico ou Glei Pouco Húmico ou Solo Orgânico com diversificação de grau de saturação por bases

Gleissolo Melânico ou Gleissolo Háplico ou Organossolo com graus de saturação por bases, respectivamente.

LESTE MARITIMO BAIXADAS Podzol Hidomórfico Podzol ou Podzol Hidromórfico álico ou distrófico Espodossolo

TODO O ESTADO BAIXADAS Litossolo Solo Litólico ou Litossolo Cambiossolo de diversos substratos, textura e grau de saturação por bases.

Neossolo Litólico ou Cambissolo de diversos substratos, texturas e graus de saturação por bases.

LESTE, SUDESTE e SUDOESTE

MASSAPÉ Solos de Campos do Jordão Latossolo Vermelho-Amarelo ou Latossolo Vermelho-Amarelo Câmbico ou Cambissolo álico, todos textura média ou argilosa

Latossolo Vermelho-Amarelo (1) ou Latossolo Amarelo (2) câmbico ou cambossolo textura média ou argilosa(*)

Latossolo Vermelho-Amarelo orto Latossolo Vermelho-Amarelo álico ou distrófico A moderado ou A proeminente textura argilosa ou muito argilosa

Latossolo Vermelho-Amarelo (1) distrófico A moderado ou A proeminente textura argilosa ou muito argilosa(*)

LESTE, SUDESTE MASSAPÉ Latossolo Vermelho-Amarelo fase rasa Latossolo Vermelho-Amarelo pouco profundo, Latossolo Vermelho-Amarelo Câmbico, Cambissolo Latossólico, todos álicos A moderado ou A proeminente textura argilosa.

Latossolo Vermelho-Amarelo (1) câmbico ou Latossolico distrófico A moderado ou A proeminente textura argilosa(*)

LESTE, SUDESTE e SUDOESTE

MASSAPÉ Podzolico Vermelho-Amarelo orto Podzólico Vermelho-Amarelo ou Podzólico Vermelho-Escuro, ambos distróficos ou álicos ou eutróficos A moderado textura argilosa ou média/argilosa

Argissolo Vermelho-Amarelo (1) ou Argissolo Vermelho (3) distrófico A moderado textura argilosa(*)

LESTE, SUDESTE e SUDOESTE

SALMOURÃO Solos podzólicos com cascalho Podzólico Vermelho-Amarelo eutrófico ou distrófico A moderado textura média/argilosa com cascalho ou cascalhenta

Argissolo Vermelho(3) ou Argissolo Vermelho-Amarelo (1) eutrófico ou distrófico A moderado textura média/argilosa ou argilosa/argilosa com cascalho ou cascalhenta

Latossolo Vermelho-Amarelo fase rasa Latossolo Vermelho-Amarelo câmbico ou Cambissolo Latossólico, todos álicos A moderado ou A proeminente textura argilosa com cascalho ou cascalhenta

Latossolo Vermelho-Amarelo (1) câmbico A moderado ou proeminente, ou Cambissolo latossólico, ambos com textura argilosa com cascalho ou cascalhenta(*)

OESTE, NOROESTE, NORDESTE e SUDOESTE

ARENITO BOTUCATU Regossolo Areia Quartzosa distrófica ou álica A moderado Neossolo Quartzarênico distrófico a moderado(*)

Latossolo Vermelho-Amarelo fase arenosa Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico ou álico A moderado textura média

Latossolo Vermelho-Amarelo (1) distrófico A moderado textura média(*)

NORDESTE TERRA ROXA LEGITIMA Terra Roxa Legitima Latossolo Roxo eutrófico ou distrófico A moderado ou A chernozêmico textura argilosa ou muito argilosa

Latossolo Vermelho(3) eutroférrico ou distroférrico ou acriférrico A moderado ou A chernozêmico textura argilosa ou muito argilosa

REGIÃO PAULISTA PAIVA NETO et. Al. (1951) COMISSÃO DE SOLOS (1960) CAMARGO et al. (1987) EMBRAPA – CNPS (1999)SUDOESTE TERRA ROXA LEGITIMA Terra Roxa Estruturada Terra Roxa Estruturada eutrófica ou distrófica A

moderada textura argilosa ou muito argilosaNitossolo Vermelho(3) eutroférrico ou distroférrico A moderado textura argilosa ou muito argilosa

OESTE, NOROESTE, NORDESTE e SUDOESTE

TERRA ROXA MISTURADA Latossolo Vermelho-Escuro fase arenosa Latossolo Vermelho Escuro distrófico ou álico A moderado textura média

Latossolo Vermelho distrófico (3) A moderado textura média(*)

Latossolo Roxo Latossolo Roxo distrófico ou álico A moderado textura argilosa ou muito argilosa

Latossolo Vermelho(3) distroférrico ou acriférrico textura argilosa ou muito argilosa (*)

NORORESTE ARENITO DE BAURU Solos Podzolizados Variação Lins Podzólico Vermelho-Amarelho eutrófico ou distrófico ou álico A moderado textura arenosa/média

Argissolo Vermelho-Amarelo (1) Argissolo Vermelho(3)

eutrófico ou distrófico A moderado textura arenosa/média(*)

Solos Podzolizados Variação Marília Podzólico Vermelho-Amarelo ou Podzólico Vermelho-Escuro eutrófico ou distrófico ou álico Ta ou Tb abrupto A moderado textura arenosa/média

Argissolo Vermelho-Amarelo (1) ou Argissolo Amarelo(2) ou Argissolo Vermelho(3) eutrófico ou distrófico, ambos A moderado textura arenosa/média (*)

(*)O autor sugere B textural < 27 cmolc Kg-1 de solo e ao mesmo tempo eutrófico ou distrófico ou álico=ARGISSOLO (EMBRAPA-CNPS 1999)· Álico se m≥ 50% e ao mesmo tempo teor de Al3+ de 0,5 a 4 cmolc Kg-1 de solo. B textural ≥ 27 cmolc Kg-1 de solo e eutrófico =LUVISSOLO (EMBRAPA-CNPS 1999)· B textural Tb e ao mesmo tempo álico = ARGISSOLO B textural ≥ 20 cmolc Kg-1 de solo e ALUMÍNICO =ALISSOLO (EMBRAPA-CNPS 1999)(1) matiz 5YR no horizonte B (2) matiz 7.5YR ou 10YR no horizonte B B textural ≥ 27 cmolc Kg-1 de solo e eutrófico além de A chernozêmico =CHERNOSSOLO (EMBRAPA-CNPS)

4. Propostas para atacar o problema da recuperação de áreas degradadas

4.1. Em pastagens degradadas

A decisão de recuperar ou reformar a pastagem deve ser precedida de um diagnóstico, e da definição do sistema de produção a ser conduzido após a recuperação ou renovação. O diagnóstico deve incluir dados sobre o histórico da área, clima, classes de capacidade de uso do solo, espécie forrageira, produtividade, ocorrência de pragas e doenças, sistema de produção adotado e custos de produção. Devem ser consideradas ainda as condições de infraestrutura, a disponibilidade de capital e as características do produtor. Quanto mais avançado o processo de degradação, mais drástica será a intervenção, com maior número de operações e os custos serão mais elevados.

Como consequência da adaptação e aplicação das tecnologias disponíveis, é possível aumentar significativamente a capacidade de suporte das pastagens e a integração de áreas degradadas ao processo produtivo de grãos, alimentos, energia e fibras, gerando receitas e aumento na oferta de empregos e serviços, bem como na venda de insumos, propiciando modificações profundas nas economias locais. Outro efeito altamente positivo esperado é a mudança do comportamento do pecuarista com relação ao tratamento das pastagens e à inclusão de lavouras no seu complexo produtivo.

4.1.1. MODELOS PARA RECUPERAÇÃO E RENOVAÇÃO DE PASTAGENS DEGRADADAS:

Recuperar uma pastagem consiste em restabelecer a produção de forragem, de acordo com o interesse econômico, mantendo-se a mesma espécie ou cultivar. Renovar uma pastagem consiste no restabelecimento da produção forrageira mediante a introdução de uma nova espécie ou cultivar, em substituição àquela em processo de degradação.

Do diagnóstico devem constar, dentre outras, informações sobre o clima, classes de solo, topografia, propriedades químicas e físicas do solo, espécie de forrageira, produtividade, ocorrência de pragas e doenças, manejo animal vigente, perfil dos custos de produção e sistema de produção adotado, dentre outras. De modo geral, os sistemas de recuperação ou renovação podem ser divididos em dois: recuperação ou renovação direta da pastagem, em que se utilizam apenas práticas mecânicas, químicas e agronômicas, sem cultivos com pastagens anuais ou culturas anuais de grãos; e recuperação ou renovação com uso de cultivos associados, ou seja, integração agricultura-pecuária ou agricultura-pecuária-floresta (Macedo et al, 1999).

O grau de degradação, as condições de infraestrutura, o conhecimento da técnica, a intensidade da demanda pelo criador e a disponibilidade de capital são outros fatores a considerar na escolha de um sistema de recuperação ou renovação de pastagens.

4.1.1.2. Recuperação direta da pastagem

Esta prática, na maioria de suas modalidades, apresenta menor risco para o produtor. É aconselhada quando há necessidade de utilização da pastagem em curto prazo e em regiões de clima e solo desfavoráveis para a produção de grãos; com falta ou pouca infraestrutura (máquinas, implementos e estradas); condições restritas de comercialização, de armazenagem e de aporte de insumos; menor disponibilidade de recursos financeiros; e dificuldades de estabelecer parcerias ou arrendamentos.

Dependendo do estádio de degradação da pastagem pode-se escolher dentre os vários métodos de recuperação direta. Quanto mais avançado o processo de degradação,mais drástica será a intervenção, com maior número de operações e os custos mais elevados. Em geral, a recuperação direta pode ser categorizada pela forma como se atua na vegetação da pastagem degradada: sem destruição da vegetação, com destruição parcial da vegetação, com destruição total da vegetação.

· Recuperação direta sem preparo do solo

Este método é recomendado apenas quando for diagnosticadas baixa produção de forragem e deficiências minerais do solo, com mínima incidência de invasoras e sem sinais de compactação e erosão. Assim, basta aplicar na época apropriada, em cobertura, os nutrientes limitantes para a forrageira e compatíveis com a produção animal esperada e proporcionar à pastagem um período de descanso por tempo suficiente.

Werner (1986; 1998) recomendou que aplicações de até 150 kg de N/ha podem serfeitas de uma única vez, ao final do período das águas, enquanto quantidades superiores devem ser parceladas, aplicando-se 1/3 após o início das chuvas e 2/3 no final do período das águas, o que contribuiria para minimizar a sazonalidade das gramíneas estivais. Entretanto, outros autores contestam a aplicação principal na entrada da seca, argumentando que o N deve ser utilizado exclusivamente na estação de crescimento, quando a planta encontra variáveis climáticas favoráveis e não limitantes à exteriorização de seu potencial de produção, melhorando a relação custo-benefício da adubação nitrogenada.

Havendo necessidade de correção do solo, não se deve aplicar simultaneamente mais do que 2 a 2,5 t de calcário/ha, em superfície. Caso necessário, a dose total deve ser dividida e aplicada em doses anuais. O uso concomitante de gesso agrícola ou superfosfato simples deve ser considerado para auxiliar na incorporação mais rápida de Ca e Mg às camadas mais profundas do solo.

· Recuperação direta com preparo mínimo do solo

Este método é indicado quando, além das deficiências anteriores, o solo também se apresenta compactado.

Segundo os critérios anteriores, aplicam-se os insumos necessários e trabalha-se o solo com subsolador ou escarificador, no início do período chuvoso. Pode-se usar, alternativamente, o subsolador com caixa de adubo, que realiza as duas operações simultaneamente. Neste caso, a vedação deve ser de, no mínimo, 30 dias.

· Recuperação direta com preparo total do solo

Este método se aplica quando a pastagem e o solo se encontram em acentuado estado de degradação, apresentando baixa produtividade, baixa capacidade de rebrota, baixo número de plantas forrageiras por área, infestação por invasoras, solos com alta proporção de área descoberta, compactados, erodidos e com acentuadas deficiências minerais.

Nesta situação, as medidas mais efetivas são o completo preparo do solo mediante calagem, adubação e medidas de controle de erosão, podendo substituir-se a forrageira (renovação) e/ou implantar leguminosas forrageiras ou gramíneas forrageiras anuais, como o milheto. Ocorrendo a introdução de leguminosas forrageiras, o objetivo é a sustentabilidade da pastagem em longo prazo, visando à fixação simbiótica do N2 atmosférico, que melhora a quantidade e qualidade de forragem produzida e se reflete positivamente na produção animal. O uso de forrageiras anuais, como o milheto, é comum na recuperação de pastagens degradadas de Braquiaria, nos cerrados. A maior produtividade de carne obtida no ciclo da cultura pode amortizar total ou parcialmente os custos variáveis da recuperação.

Soares Filho et al. (1992), avaliando diferentes tratamentos de fertilização e manejo (T1: testemunha; T2: macro e micronutrientes + N; T3: gradagem; T4: gradagem + macro e micronutrientes) sobre a recuperação de pastagens de B. decumbens em solo Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico, no Estado de São Paulo, observaram que em dois anos as produções acumuladas da MS da parte aérea e das raízes foram superiores para o tratamento com adubação completa (T2) e que a gradagem prejudicou aquelas variáveis, não recuperando a pastagem.

Carvalho et al. (1990), em trabalho de recuperação de pastagens degradadas de B. decumbens nos cerrados, observaram que o uso da gradagem por si só não proporcionou efeitos na recuperação da pastagem, mas, associada à calagem e adubação, mostrou-se agronomicamente eficiente.

Do mesmo modo, Arruda et al. (1987) mostraram a ineficiência de tratamentos físico-mecânicos (aração; aração + gradagem; e cultivador), com ou sem queima, na

recuperação de pastagens de B. decumbens em solo de tabuleiro, no sul da Bahia, porém observaram efeito marcante da aplicação de fertilizantes.

Veiga e Serrão (1987) citaram que, na região Amazônica, tem sido possível recuperar pastagens de P. maximum em fase de degradação mediante aplicação superficial de 25-35 kg/ha de P e controle de invasoras, com ou sem queima, e que a implantação de Pueraria phaseoloides e Centrosema pubescens é recomendável.

Brasil et al. (1998) introduziram Stylosanthes guianensis cv. Mineirão em uma pastagem de B. ruziziensis e observaram que a produção de MS da parte aérea aumentou, em relação à pastagem solteira em área contígua, durante o inverno (abril-outubro), nos cerrados, sugerindo que o consórcio poderia elevar a capacidade de suporte da pastagem e prolongar sua condição produtiva.

4.1.1.3. Recuperação indireta da pastagem

Este sistema consiste na erradicação total da pastagem e uso da área com culturas intermediárias no processo de recuperação, podendo ser empregado quando a pastagem degradada estiver nas mesmas condições que o caso anterior. Imediatamente após o preparo do solo, volta-se a plantar a mesma espécie forrageira, reforçando o banco de sementes já existente, em plantio simultâneo ou não com culturas forrageiras anuais (milheto, aveia ou azevém) ou com culturas agrícolas anuais (arroz, milho ou sorgo). Os custos são amortizados valendo-se do pastejo animal temporário ou venda de grãos. Também pode ser realizado o plantio solteiro de culturas agrícolas anuais, com a pastagem reimplantada ao final do ciclo destas, no ano subsequente ou após dois ou três anos, dependendo da análise econômica da situação específica. Esse sistema é considerado vantajoso porque permite a elevação da fertilidade do solo com amortização parcial dos custos, quebra de ciclo de pragas, doenças e invasoras, otimização da mão-de-obra, máquinas, equipamentos e instalações, diversificação do sistema produtivo, maior fluxo de caixa para o produtor e criação de novos empregos. Exige, no entanto, maiores investimentos financeiros, infraestrutura e conhecimento tecnológico (Macedo et al, 1999).

4.1.1.4. Renovação direta

Na maioria dos casos, este é o sistema de maior risco, pois tem como objetivo substituir uma espécie ou cultivar por outra forrageira sem utilizar uma cultura intermediária. Emprega principalmente tratos mecânicos e químicos, como o uso de herbicidas, para o controle da espécie que se quer erradicar. A substituição de espécies do gênero Brachiaria por cultivares de Panicum, uma das mais almejadas, nem sempre é bem sucedida dado o elevado número de sementes de Brachiaria que se acumula no solo. As sucessivas aplicações de herbicidas e tratos mecânicos podem encarecer sobremaneira o custo desse processo. A substituição de espécies como Andropogon e Panicum por espécies de Brachiaria, no entanto, oferece melhor possibilidade de êxito. Outra troca de

bom potencial é a substituição de espécies de Brachiaria por espécies de Cynodon (Macedo et al, 1999). Neste caso, atenção especial deve ser dada à fertilidade do solo, devido a maior exigência do Cynodon em relação à Brachiaria.

4.1.1.5. Renovação indireta com uso de pastagem anual ou agricultura

Este sistema é recomendado quando o estádio de degradação da pastagem é bem avançado, com baixa produtividade de forragem, solo descoberto, elevada ocorrência de espécies indesejáveis, grande incidência de formigas e cupins, solo com baixa fertilidade e alta acidez, compactação e/ou erosão do solo, e o produtor deseja trocar de espécie ou cultivar. É de custo elevado, exige conhecimento tecnológico, infraestrutura de máquinas, equipamentos, armazenagem, ou necessidade de parceiros e ou arrendamento. Pode ser executado com a utilização de pastagem anual de milheto, aveia, sorgo e outras, ou culturas anuais de soja, milho, arroz etc., no verão e pastagens anuais no outono/inverno, por tempo (anos ou ciclos) a ser determinado pelas circunstâncias econômicas locais e desejo do produtor. A nova espécie ou cultivar só é implantada após o cultivo sucessivo de pastagens anuais e lavouras ter controlado a forrageira a ser substituída.

4.1.1.6. O uso de agricultura na recuperação ou renovação da pastagem

A prática da integração agricultura-pecuária com a finalidade de recuperar ou renovar pastagens procura amortizar o investimento realizado, parcial ou totalmente, com a venda de grãos produzidos pela cultura agrícola, e aproveitar o efeito residual da adubação da cultura para o estabelecimento da pastagem. Os benefícios físico-químico-biológicos ao agro ecossistema permitem um melhor aproveitamento dos recursos naturais, conferindo sustentabilidade à exploração agropecuária. A adoção de tais práticas, porém, depende de capacidade gerencial e de infraestrutura na propriedade.

A recuperação ou renovação de pastagens degradadas com uso de cultivos agrícolas anuais pode ser conduzida de duas formas. A primeira visa uma recuperação rápida e utiliza cultivos como o do arroz e milho, estabelecidos com preparo do solo no final da seca e plantio simultâneo das sementes agrícolas e forrageiras no início das chuvas, possibilitando que a utilização da pastagem se inicie após a colheita dos cereais. Uma variante consiste em não ressemear a forrageira, quando for alto o estoque de sementes no solo. A segunda alternativa seria a recuperação ou renovação em longo prazo, realizando cultivos anuais por dois anos ou mais, exclusivos ou rotacionados, de arroz, milho, soja, girassol, sorgo etc., restabelecendo a pastagem na área após aquele período.

O maior problema destas práticas, principalmente na recuperação de pastagens de Braquiaria, é o controle das plantas forrageiras que retornam por meio das sementes deixadas no solo, provocando competição com as culturas agrícolas, tendo que se fazer uso de herbicidas. Kichel e Miranda (1997) recomendam, para recuperação de pastagens

de B. decumbens, B. brizantha e de P. maximum cv. Tanzânia, o uso de 1.260 a 1.440 g/ha do princípio ativo glifosate, cerca de 21 dias antes do plantio da soja.

Resultados interessantes foram obtidos por Barcellos et al. (1997), avaliando a produtividade animal de pastagens renovadas de B. brizantha cv. Marandu, com uso da cultura do milho, do arroz e diretamente, com adubação, nos cerrados. Os autores observaram que a pastagem renovada com milho suportou maiores taxas de lotação, em relação às renovadas com arroz e diretamente, devido a maior aplicação dos nutrientes P e N para a cultura do milho, e que a produção e comercialização de grãos de milho e de arroz amortizaram, respectivamente, 46 e 80% dos custos de renovação das pastagens.

A técnica do plantio direto de cultura forrageira anual ou lavouras na recuperação e renovação de pastagens é recomendada, principalmente, para a manutenção da produção das pastagens, quando estas têm apenas perda de vigor ou ligeira queda na produtividade, ou em estádios bem iniciais de degradação, quando a fertilidade do solo, as propriedades físicas, a conservação do solo, a ocorrência de invasoras ou pragas não forem limitantes ao plantio de lavouras ou pastagens anuais em plantio direto.

A tomada de decisão para a recuperação de pastagens deve ocorrer na fase inicial do processo de degradação, pois o custo da recuperação aumenta com o avanço do estado de degradação. Serrão (1984) estimou que, para a região do trópico úmido brasileiro, o custo com a recuperação é da ordem de 250 dólares por hectare. Nos cerrados, o custo de recuperação de pastagens degradadas, pelo método direto, sem preparo do solo, foi estimado em torno de 50 dólares/ha; entre 95 a 200 dólares/ha pelo processo tradicional; entre 300 e 350 dólares/ha pelo sistema Barreirão com opção pela cultura do arroz e entre 350 a 400 dólares/ha quando a opção é pelo cultivo do milho (Oliveira et al., 1994; Dutra e Dutra, 1999). A renovação de pastagens com gramíneas de propagação por mudas e para uso intensivo, como as do gênero Cynodon, implica em gastos mais elevados, da ordem de 590 dólares por hectare (Anualpec, 1999).

A Embrapa (1995) estimou que no período de 1990 a 1995, a reforma de pastagens pelo sistema de integração agricultura-pecuária abrangeu 400 mil hectares na região dos cerrados, elevando sua capacidade de suporte de 0,4 UA/ha para 1,5 UA/ha, sendo que o investimento realizado na maioria destas áreas foi recuperado no primeiro ano de formação dos pastos, através da comercialização dos grãos produzidos. Scaléa (1997) avaliou a economicidade de três sistemas de recuperação ou renovação de pastagens por um período de cinco anos, demonstrando que a taxa de retorno (receita líquida/custo total) dos sistemas convencional (recuperação direta com calagem, adubação e gradagem), Barreirão (com uso da cultura do arroz) e plantio direto (dois anos com soja, no verão, e safrinha de milheto, no inverno) foi de 167, 256 e 273%, respectivamente.

4.2. Divisão de Pastagens e Adequação de Aguadas

Procedimento técnico básico em qualquer das opções de renovação ou reforma de pastagens passa necessariamente por um rigoroso planejamento que deve se pautar

sempre por uma divisão mais racional das pastagens, no sentido de permitir o pastoreio rotacionado, respeitando as características botânicas das espécies forrageiras adotadas, bem como as peculiaridades edafo-climáticas. O objetivo é dar condições ótimas de rebrota e de aproveitamento integral da biomassa por parte dos animais, da mesma forma em que se promove o caminhamento em nível dos mesmos, com disposição adequada das aguadas e dos cochos de sal, principalmente fazendo uso de cercas elétricas, de fácil manuseio e manutenção e de eficiência comprovada. Para se prover os piquetes de bebedouros automáticos, faz-se necessária a instalação de reservatórios estratégicos nos pontos mais altos do terreno, bem como toda a estrutura hidráulica necessária para a distribuição desta agua, por gravidade, considerando ainda a necessidade de se bombear a partir dos corpos d’agua para os reservatórios através de bombas hidráulicas.

Os formatos dos piquetes devem preferencialmente, de acordo com as condições locais, adotar espaçamentos verticais menores em relação ao comprimento, formando retângulos ao invés de quadrados, com vistas à maior eficiência na conservação do solo. As aguadas e cochos também devem ser providas de revestimento ao seu redor, podendo ser adotados vários materiais, como solo-cimento, por exemplo.

4.3. Capacitação de Técnicos da CATI e de Produtores Rurais

Prevê-se inicialmente a capacitação de 25 técnicos, responsáveis pelas Unidades Técnicas de Engenharia, lotados em diferentes Regionais da CATI, com experiência em planejamento conservacionista e intimidade com o Projeto CATI LEITE, com vistas ao planejamento da divisão de pastagens e da rede hidráulica, bem como da confecção de mapas ou croquis e da locação no campo.

A capacitação se dará em duas frentes. A primeira abordando o enfoque das pastagens como culturas e os dados pertinentes para efeito de planejamento e a segunda no sentido de provê-los de condições para a implantação de UATs, considerando as peculiaridades locais.

Esta primeira equipe completa será submetida a um seminário de padronização em metodologia de avaliação e manejo de pastagens, a ser realizado em local a ser definido oportunamente.

Num segundo momento, estes primeiros técnicos capacitados deverão difundir as práticas consolidadas e preconizadas a pelo menos 100 técnicos da rede para padronizar as recomendações e hierarquizar as recomendações técnicas, bem como acompanhar as necessidades e ofertar soluções aos produtores interessados.

Como no Projeto CATI LEITE, deve-se estimular a execução de Dias de Campo nas UATs e UDs para os produtores, bem como fomentar as visitas entre diferentes localidades onde o sistema funcione de forma satisfatória, em condições semelhantes.

Nestas duas ocasiões, espera-se que, concomitantemente se promovam palestras sobre temas específicos visando os produtores envolvidos nos eventos.

4.4. Campos demonstrativos de recuperação / renovação de pastagens -Delineamento Preliminar das Unidades de Adaptação e Difusão de Tecnologias -UATs

Serão instaladas 25 UATs (uma para cada técnico inicialmente capacitado), em propriedades rurais cooperantes, situadas preferencialmente em distintos municípios do Estado de S. Paulo e em condições edafo-climáticas e socioeconômicas diversas.

Todas as unidades deverão caracterizar-se como pastagem degradada, preferencialmente de Brachiaria decumbens e ser representativas da sua região. Em cada unidade será conduzido um experimento em blocos casualizados, de correção e adubação de solo, constando dos seguintes tratamentos:

· três níveis de calagem (V% = 40; 60 e 80%)· três níveis de fosfatagem (P = 10; 20 e 30 ppm)

Aos tratamentos será acrescentada uma fertilização-padrão de 50 kg/ha de N, 50 kg/ha de K2O e 50 kg/ha de FTE Br12. Nos locais onde houver disponibilidade, propõe-seainda a aplicação de gesso, na dosagem de 1 Tonelada/ha. Os tratamentos serão confrontados com parcelas-testemunha (sem correção e adubação). Cada parcela terá 100 m2. Serão empregados quatro blocos (repetições), os quais, acrescidos de bordaduras entre as parcelas, totalizarão 2400 m2/bloco. Cada unidade experimental, portanto, deve ocupar 10.000 m2.

A unidade será isolada, com cercas, dentro da própria pastagem da propriedade cooperante, e será avaliada mensalmente por um período de 24 meses (duas estações chuvosas e de seca). Serão determinadas as seguintes variáveis:

· produção de matéria seca (MS)· composição bromatológica da MSSerão igualmente registradas as variáveis climatológicas (precipitação e

temperaturas) e estimados os custos de produção de MS dos tratamentos. Em cada unidade, durante o período experimental, a equipe deverá promover a reunião de técnicos extensionistas da região para um dia-de-campo sobre metodologia de avaliação de pastagens. Ao final do período experimental, será promovido um dia-de-campo para apresentação e discussão dos resultados junto à comunidade local de produtores rurais. Os dados obtidos serão processados estatisticamente e deverão ser publicados na forma de Boletim(s) Técnico(s).

– Critérios para localização das UATs:

Estima-se a instalação de 25 UATs, localizadas em regiões distintas do Estado de S. Paulo e nas quais as pastagens degradadas correspondam a uma fração significativa da

área total. Além da importância geoeconômica da atividade pecuária na região, também deverá ser considerado o tipo de solo e clima local, buscando instalar ao menos uma área experimental em cada classe de solo e clima encontrada no Estado.

-Seleção dos locais em que serão instaladas as UATs

Nessa etapa, os membros da equipe devem identificar juntos aos produtores rurais de cada região, aqueles interessados em participar do projeto cedendo a área experimental, mediante termo de compromisso de cooperação.

Pressupõe-se sejam selecionados como cooperantes 25 produtores rurais, de preferência situados em municípios distintos e com pastagens localizadas em diferentes condições edafo-climáticas e socioeconômicas.

Sugere-se a implementação das UATs em locais de fácil acesso, preferencialmente às margens de rodovias ou estradas vicinais de grande tráfego, visando à facilidade delocalização das mesmas quando dos dias de campo e a fácil visualização pelos transeuntes, como se fosse uma vitrine tecnológica, de todos os tratamentos aplicados. Deverá ser afixada uma placa indicativa para cada UAT, conforme modelo a ser definido, visando àdivulgação dos trabalhos.

-Redação e apresentação dos Projetos das UATs:

O coordenador do projeto deve visitar as unidades experimentais selecionadas. Os orçamentos e cronogramas relativos a cada unidade experimental local serão compilados em um conjunto abrangendo todos os EDRs participantes, trabalho a ser realizado pela coordenação da equipe sediada na CATI em Campinas (CIAGRO e DEXTRU).

5. CRONOGRAMA FÍSICO – FINANCEIRO PARA A IMPLANTAÇÃO DAS UATs e Áreas Piloto

Atividade Indicador Número Total Valor Total

Meses do Ano

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezCapacitação de Técnicos de ATER

Nº Técnicos Capacitados 125 76.259,00

15.251,00 20.336,00 20.336,00 20.336,00

Campos Demonstrativos Instalados

Nº Campos

25 23.275,00

4.655,00 4.655,00 4.655,00 4.655,00 4.655,00

Levantamento realizado

Nº Municípios250 42.500,00

5.312,50 5.312,50 5.312,50 5.312,50 5.312,50 5.312,50 5.312,50 5.312,50

Projetos com A.T. Atendidos

Nº Projetos250 160.000,00

40.000,00 40.000,00 40.000,00 40.000,00

Adequação de aguadas N° Projetos 250 876.000,00 292.000,00 292.000,00 292.000,00

Pastagens Divididas Nº Projetos450 361.250,00

120416,66 120416,66 120416,66

Projetos de Conservação do Solo elaborados

Nº Projetos

250 60.625,00

20.208,33 20.208,33 20.208,33

Projetos de Controle de Voçorocas Elaborados

Nº Projetos500 76.250,00

25.500,00 25.500,00 25.500,00

Voçorocas Controladas Nº Voçorocas 800 2.500.000,00 133.300,00 133.300,00 133.300,00

Produtores Capacitados em Manejo de Pastagens

Nº Produtores Capacitados

4000 180.000,00

3.015,00 3.015,00 3.015,00 3.015,00

Excursão técnica Nº de Atividades 120 280.000,00 12.000,00 12.000,00 12.000,00 81.333,33 81.333,33 81.333,33 TOTAL 2012TOTAIS 20.563,50 25.648,50 42.303,50 42.303,50 64.982,50 605.324,16 605.324,16 600.669,16 2.007.118,98

OS – todas as atividades serão executadas exclusivamente no ano civil de 2012, exceção apenas à VOÇOROCAS CONTROLADAS e PRODUTORES CAPACITADOS, que serão distribuídas por 5 anos, até o ano de 2016.

6. CRONOGRAMA FINANCEIRO PARA RECUPERAR ÁREAS DEGRADADAS

Atividade Indicador unidade Valor TotalR$

Meses do Ano

2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020Recuperação de

pastagens degradadas

hectares 312.510 468.765.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00 52.085.000,00

Atribuímos o valor médio de R$ 1500,00/ha para a recuperação e consequente reinserção de 20% do total das pastagens degradadas no Estado de São Pauloatravés de financiamento via FEAP, com prazo de carência de no mínimo 5 anos e amortização em 10 anos.O valor refere-se a cercas elétricas nas divisões internas, aquisição de bebedouros e cochos, instalações hidráulicas, com encanamentos e bombas, corretivos e fertilizantes, sementes de forrageiras, terraceamento.

7. Fonte e Formas de financiamento

7.1. Programa Estadual de controle de grandes erosõesAdoção de técnicas já consolidadas de recuperação de áreas degradadas, a exemplo do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, somente financiados com projetos técnicos executados por técnicos das UTEs, de acordo com metodologia CATI de Controle de Voçorocas;

7.2. Linhas de crédito FEAP para conservação de solosLinha especial de crédito destinada a produtores com necessidadesespecíficas de conservação de solos em pastagens, especialmente naquelas de baixa capacidade de lotação e com qualidade inferior de forrageiras,somente financiados projetos com Assistência Técnica por técnicos capacitados dentro do Projeto.

7.3. Linhas de crédito FEAP para reforma ou renovação de pastagensProposição de linhas especiais de financiamento para pecuaristas com intuito de aumentar a cobertura do solo com pastagens manejadas adequadamente,sendo somente financiados projetos com Assistência Técnica de técnicos capacitados pelo Projeto. Itens e operações passíveis de financiamento –compra e aplicação de insumos (sementes de forrageiras, corretivos e fertilizantes, herbicidas, cercas elétricas, bebedouros e cochos, bombas hidráulicas, aquisição de canos e implantação de rede hidráulica, abastecedouros, escarificação e outros);

7.4. Programa ABC (Governo Federal)Apresentação de proposta técnica para Governo Federal relacionado ao enquadramento da recuperação de áreas degradadas aos princípios do Programa ABC, visando à liberação de recursos para o projeto;

7.5. FEHIDRO Fazer gestão junto ao colegiado para que a questão da recuperação de áreas degradadas e controle de voçorocas sejam tratadas de forma diferenciada, uma vez que contribuem diretamente para a poluição dos mananciais, através do assoreamento, refletindo nas enchentes e na falta de regularização dos fluxos hidrológicos, atingindo inclusive e principalmente a qualidade e disponibilidade de água para a população. Neste sentido, devem ser estimuladas as Associações de Produtores Rurais para que sejam tomadoras de recursos junto aos respectivos Comitês de Bacias para conservação do solo em microbacias.

8. ESTRATÉGIA DE AÇÃO

O primeiro passo para a consecução deste projeto é partir de uma base concreta para sedimentar o conhecimento da realidade do Estado, o que foi feito através de consultas às Regionais da CATI e visitas “in loco”, bem como o grande conhecimento de técnicos de UTEs envolvidas diretamente no problema, que permitiu traçar este diagnóstico da situação das áreas degradadas.

A partir deste conhecimento e apoiando-se nos resultados das instituições de pesquisa, aproveitar a expertise dos pesquisadores para capacitar os técnicos extensionistas das UTEs, que detém conhecimentos nas diferentes áreas da engenharia rural, para supri-los de informações que permitam, ao mesmo tempo, servir de carga técnica adicional e dotá-los de know-how para repassar estes conhecimentos a um número maior de extensionistas lotados em Casas da Agricultura e que tenham pendor pela área de conservação do solo e manejo de pastagens, para prover embasamento para o repasse de tecnologias a produtores, na forma de capacitação e assistência técnica e planejar e acompanhar projetos de conservação do solo em áreas de pastagens.

Após a capacitação dos técnicos das UTEs, que servirá também para a padronização das UATs, caberá a eles a implantação e condução destas, de forma a servir de vitrine tecnológica para os técnicos das Casas da Agricultura e produtores interessados.

Todos os itens relativos ao item 5 (Cronograma Físico Financeiro) serão atendidos ou concomitantemente ou imediatamente após a capacitação dos extensionistas, exceção feita ao Controle de Voçorocas e Produtores Capacitados, que serão executados pelo período de 5 anos, até o ano de 2.016. Como estratégia, além das UATs, propõe-se a elaboração de projetos de conservação do solo assistidos e projetos e implantação de áreas de 1 ha, com a proposta técnica de divisão de pastagens a título de difusão de tecnologia, que contemplaria amostra representativa dos 60% da área total de pastagens em fase inicial a moderada de degradação. Sugerimos que todos estes itens recebam financiamento do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas II- Acesso ao Mercado, o que significaria uma continuidade dos trabalhos executados entre os anos de 2000 e 2008, que lograram êxito em várias frentes, particularmente na alavancagem da adoção do Sistema de Plantio Direto na Palha, que saltou de 45 mil para 1 milhão de hectares no período.

Já o orçamento retratado no item 6 – Cronograma Financeiro para Recuperar Áreas Degradadas, refere-se exclusivamente ao ataque direto ao problema, em contraponto ao item anterior, de fomento e incentivo, vislumbrando a reinserção de áreas extremamente degradadas, conceituadas assim as que necessitam de intervenção de

máquinas pesadas, num montante de 20% do total de cerca de 7,5 milhões de hectares levantados, a ser trabalhado num período de 8 anos, dada a complexidade e o volume de recursos necessários. Sugerimos aqui a introdução de linha específica de financiamento para tal fim, junto ao FEAP, a título de subvenção e com a coparticipação dos produtores, em níveis diferenciados de acordo com a sua classificação por renda e tamanho da propriedade.

9. BIBLIOGRAFIA

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DRUGOWICH, M. I. Expansão da Cana-de-Açúcar Versus Conservação do Solo. Revista Casa da Agricultura. Campinas: CATI, no. 2 abr./mai./jun. 2010. p.15-16. (ISSN 0100—6541).

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INTERLICHE, P.H. & Murakami, L.A. Voçorocas: motomecanização e manejo adequado garantem recuperação de terras. Revista Casa da Agricultura. Campinas: CATI, no. 2 abr./mai./jun. 2010. p.24-25. (ISSN 0100—6541).

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SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Instituto de Economia Agrícola. Levantamento censitário de unidades de produção agrícola do Estado de São Paulo - LUPA 2007/2008. São Paulo: SAA/CATI/IEA, 2008. Disponível em: <http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa>. Acesso em: 15/08/2010.

SAVASTANO, S., COSTA, C., DRUGOWICH, M. I. Termo de Referência para Execução de Pesquisa Adaptativa em Pastagens Degradadas. Campinas: CATI, 2001. 19p.

Campinas, Abril de 2012.