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1 Segundo relatório Determinantes da introdução de novas práticas silviculturais e percepção quanto ao consórcio eucalipto-acácia Projeto INTENS&FIX Work Package 4 Brasil Thiago Fonseca Morello Marie-Gabrielle Piketty 19/11/2012

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1  

Segundo relatório

Determinantes da introdução de novas práticas silviculturais e percepção quanto ao consórcio

eucalipto-acácia

Projeto INTENS&FIX

Work Package 4

Brasil

Thiago Fonseca Morello

Marie-Gabrielle Piketty

19/11/2012

2  

Sumário

Resumo 3 

1  Introdução e metodologia 4 

2  Adoção de novas práticas por silvicultores: fontes de informação consultadas 14 

3  Empresas de base florestal 23 

4  Percepções quanto ao consórcio Eucalipto-Acácia 28 

5  Conclusão 45 

6  Referências 47 

7  Apêndice: relatórios de entrevista à empresas de base florestal 48 

Apêndice 1: Percepção EF1 quanto ao consórcio Acácia- Eucalipto  48 

Apêndice 2: E1  55 

Apêndice 3: E2  63 

Apêndice 4: EF2  71 

Apêndice 5: E3  80 

Apêndice 6: Siderúrgica  87 

3  

Resumo

Este texto consiste na análise de dados primários coletados a partir de entrevistas com

agentes da cadeia produtiva da madeira. O objetivo é subsidiar o diagnóstico final sobre

os determinantes de decisões acerca das práticas de cultivo tomadas no passado recente

pelos atores.

Foram entrevistados silvicultores independentes, silvicultores detentores de contratos de

fomento florestal, empresas de base florestal (produção de celulose e de carvão vegetal

siderúrgico), prestadores de serviços florestais e cerâmicas.

Entre os resultados obtidos, destacam-se:

1. Os silvicultores (independentes e detentores de contratos de fomento florestal), para

informarem-se quanto a novas práticas, adotam estratégias que abarcam tanto a

consulta a empresas do setor de base florestal quanto experimentos improvisados

conduzidos de maneira independente;

2. A mecanização e o melhoramento genético são os principais eixos de mudança de

práticas nas empresas de base florestal e o aumento do Incremento Médio Anual

(IMA) tende a dar lugar à manutenção;

3. As percepções quanto ao consórcio, declaradas pelos entrevistados, compreendem

tanto o reconhecimento de oportunidades e de desafios, bem como a identificação de

barreiras e de dúvidas quanto à operação e ao desempenho da inovação.

A organização do texto é tal como segue. A primeira seção caracteriza os atores

entrevistados e apresenta as bases metodológicas e teóricas do estudo. Na segunda

seção, são apresentados exemplos de introdução de novas práticas por silvicultores

(independentes ou detentores de contratos de fomento florestal), procurando identificar

as fontes de informação consultadas e alguns dos critérios de decisão por eles tomados

por base. A terceira seção foca as empresas de base florestal, apresentando algumas

mudanças de práticas recentes e tendências para o futuro. As percepções quanto ao

consórcio Eucalipto-Acácia são objeto da quarta seção. Ao final, tem-se uma breve

conclusão.

4  

1 Introdução e metodologia

1.1 Caracterização dos atores entrevistados

Este texto consiste na análise de dados primários coletados a partir de entrevistas com

agentes da cadeia produtiva da madeira. O objetivo é subsidiar o diagnostico final sobre

os determinantes de decisões acerca das práticas de cultivo tomadas no passado recente

pelos atores.

Foram entrevistados agentes que participam das seguintes atividades: cultivo de

plantações florestais, colheita de plantações florestais e processamento da biomassa

extraída das plantações. Eles podem ser enquadrados em quatro classes:

(i) Silvicultor independente: financia com recursos próprios as despesas do cultivo,

vendendo sua produção de madeira para intermediários ou consumidores finais, ou, em

alguns casos, empregando como matéria-prima para outras atividades econômicas;

(ii) Silvicultor fomentado: detém contrato de fomento florestal com uma empresa de

base florestal. Vende maior proporção de sua produção para consumidores finais;

(iii) Prestadores de serviços florestais: realizam, sob contratação, procedimentos de

cultivo e colheita;

(iv) Empresas de base florestal: pessoa jurídica cujo core business depende do

suprimento de madeira obtida de plantios florestais (produtores de celulose, papel,

carvão vegetal siderúrgico e produtos de madeira como MDF e outros);

(v) Cerâmicas: empresas cuja atividade consiste na produção de tijolos a partir do

consumo energético de lenha.

Alguns indicadores que permitem caracterizar as quatro primeiras classes de agentes,

obtidos a partir de dados primários coletados em campo e dados secundários (relatórios

empresariais) constam na tabela abaixo.

5  

Tabela 1 Características dos agentes entrevistados, por classe de agente

Indicador / Classe de agente

Silvicultores Empresas Cerâmicas

N° entrevistados 27 6 3

Área de plantio mínima (ha)

19 72.000 NA

Área de plantio média (ha)

193 183.421 NA

Área de plantio máxima (ha)

605 496.840 NA

UFs ou regiões* SP, MG 5 regiões brasileiras

SP

IMA médio (m3 / ha / ano)

43 42 NA

* Apesar das empresas de base florestal possuírem, considerando todas elas, áreas de plantio que se

estendem pelas cinco regiões brasileiras (sobretudo S, SE, CO e NE), as entrevistas foram realizadas em

escritórios localizados nas UFs de SP e MG.

Das empresas de base florestal entrevistadas, quatro têm como produto celulose ou

papel, uma delas, o MDF, o HDF e outros produtos de fibra de madeira e a última

produz carvão vegetal siderúrgico para o suprimento de fábricas verticalmente

integradas. Para preservar a confidencialidade dos dados primários concedidos como

insumo para elaboração do presente relatório, as empresas de base florestal receberão

nomes genéricos como a tabela abaixo mostra.

Tabela 2 Empresas de base florestal entrevistadas

Empresa Produto Área de plantio (total)

UFs ou região

IMA médio

EF1 Celulose 120.727 MG 37

E1 Placas de fibra

de madeira 209.615 MG, SP, RS 50

E2 celulose 496.840 CO, N, NE,

S 48

EF2 papel 72.000 SP, MG 42

E3 celulose e

papel 124.700 ES, SP, BA 33

Siderúrgica carvão vegetal

siderurgico 76.642 MG, BA 43

6  

Tabela 3 Cerâmicas entrevistadas

Indicador / cerâmica

C1 C2 C3

Produção (mil tijolos / mês)

500 600 720

Consumo de madeira

(m3/mês) 400-480 400 800-1.600

Espécies de madeira

empregadas

Laranjeira, Pinus,

Abacateiro

Pinus, espécies “urbanas” (Ipê, amendoinzeiro, etc.), Eucalipto,

Lucena

Eucalipto, Laranjeira

Rendimento da lenha (m3 / mil tijolos)

0.8 0.65 ?

Quanto aos silvicultores, do total de 27 entrevistados, 16 mantêm um contrato de

fomento florestal com empresas de base florestal e o restante produz de maneira

independente. Os primeiros se localizam em três regiões, leste de MG, nordeste de SP e

Sul de MG. O Box 1 detalha as condições dos mercados de madeira em cada uma

dessas regiões.

Box 1 Caracterização do mercado de madeira nas regiões visitadas em campo

A Ibiúna

O eucalipto, no município, é, sobretudo, vendido como lenha para a indústria da

cerâmica, pizzarias, etc. Também se vende (em proporção secundária) para pontaletes

(pedaços de madeira empregados na produção de andaimes utilizados na construção

civil) e também moirões (para cercas).

Antes era comum a venda de toras de eucalipto para a produção de celulose e para a

queima nas caldeiras da fábrica de celulose. Mas, porém, com o fechamento da filial da

Votorantim Papel e Celulose (VCP), por volta de 2010-2011, localizada nos arredores,

7  

esse nicho de mercado deixou de existir. O preço da biomassa de eucalipto sofreu uma

queda importante com essa mudança.

B Itatinga

A principal finalidade das plantações de eucalipto formadas por silvicultores

independentes – não integrados a empresas de base florestal - é a produção de lenha

para o setor de cerâmica (produção de telhas e tijolos), o qual consiste em olarias

localizadas nos municípios de Conchas, Laranjal Paulista, Piracicaba, Tatuí (informação

obtida dos entrevistados).

Uma finalidade menor é a produção do que se chama de “torinha”, i.e., tora de madeira

retirada da plantação com 10 a 30 anos, aproveitada na fabricação de caixas e pallets.

A demanda da indústria de cerâmica (localizada em Laranjal) já foi maior, como atestou

o diretor da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de Itatinga. As

empresas passaram a adotar fontes alternativas de energia, como o gás natural.

C EF1 (região: leste de Minas Gerais)

A EF1 adquire de 95 a 97% da madeira cultivada em áreas de plantio às quais se aplica

o contrato de fomento florestal. O restante desta produção, não sendo destinado à

produção de carvão vegetal (nos municípios próximos ao setor siderúrgico) ou

torrefadores de café, é vendido para cerâmicas, frigoríficos, fábricas de macarrão,

produtores de farinha de osso, graxarias, padarias e serrarias.

Nenhum dos silvicultores fomentados pela empresa entrevistados mencionou a

existência de atravessadores – intermediários das transações entre produtores e

consumidores – no mercado de lenha. Dos que já venderam lenha (4 de 5), todos

afirmarem (i) transportarem a lenha até a porta do comprador e; (ii) negociar

pessoalmente o preço com o mesmo. Esta é uma evidência de que a demanda e a oferta

de lenha estão concentradas no espaço.

Cabe mencionar a opinião manifestada por um dos entrevistados quanto à consistência

da demanda por lenha. Afirmou que “não dá para mexer com o pessoal da lenha”, no

sentido de que a demanda das cerâmicas e outras atividades consumidoras de lenha é

incerta o bastante para desestimular o cultivo de eucalipto. E, comparando com o

8  

fomento da EF1, acrescentou: “Em quinze anos [em que trabalha com a empresa] nunca

falhou o pagamento.”

D EF2 (região: nordeste do Estado de São Paulo e Sul de Minas Gerais)

Os contratos de fomento geralmente fixam uma proporção da produção a ser entregue às

empresas de base florestal implicadas. Este, porém, não é o caso no fomento EF2: a

empresa tem prioridade, porém, não exclusividade no que respeita ao oferecimento da

madeira. Tanto a quantidade a ser provida como o preço são negociados assim que o

período de maturação das plantações é atingido. Caso o fomentado não se sinta

satisfeito com os termos propostos pela empresa, ele tem o direito de requisitar uma

autorização para transacionar com terceiros. É preciso, porém, comprovar a existência

de duas oportunidades mais vantajosas (maior preço) de venda.

Mesmo, porém, que os fomentados tenham poder, do ponto de vista legal, para entregar

sua madeira para alguém que em nada contribuiu para o financiamento da produção, a

probabilidade disso ocorrer parece baixa. A razão está em que a EF2 garante o

pagamento em um período curto e sua demanda é mais estável ou menos incerta, além

de haver mais confiança na empresa, comparativamente a outros consumidores de

madeira de menor porte, como cerâmicas, restaurantes, matadouros e outras fábricas

operadoras de caldeiras.

Conforme se pôde apurar, os atravessadores ou “lenheiros” podem levar meses para

completar a colheita e retirada da madeira de uma área, enquanto a EF2, ou melhor, a

empresa de colheita e transporte por ela contratada, realiza o serviço em um tempo

consideravelmente inferior, pagando adiantado, em alguns casos.

A maior proporção da madeira produzida via fomento tem como finalidade a geração de

energia para a caldeira da EF2, i.e., é queimada como lenha. Parte minoritária é

transformada em celulose (é processada quimicamente).

9  

1.2 Metodologia

Adotou-se a metodologia de entrevista semiestruturada, a qual tem como princípio

fundamental estabelecer uma relação de confiança com os agentes. Os roteiros de

entrevistas tomados por base podem ser consultados no anexo.

1.3 Teoria

O processo de introdução de uma nova prática (não adotada previamente pelo agente)

produtiva pode ser concebido como influenciado por três conjuntos de fatores: (i)

estratégias de obtenção de informação acerca da performance de práticas desconhecidas;

(ii) preços de mercado dos insumos e fatores de produção requeridos por cada uma das

práticas e; (iii) critérios de decisão entre práticas alternativas adotados subjetivamente

pelo agente.

O diagrama abaixo ilustra este modelo conceitual, sendo A o conjunto de práticas de

obtenção de informação utilizado pelo agente e B o conjunto de critérios de tomada de

decisão por ele adotados.

Diagrama 1 Modelo conceitual de decisão por práticas alternativas

Uma vez que o primeiro conjunto de fatores constitui o escopo deste texto, cabe

apresentar a base conceitual pertinente. Este é o objetivo desta seção.

De partida, é preciso apontar a relação com a literatura que trata do processo de

aprendizado, mais especificamente, da vertente conhecida como “economics of

learning.” Considerando alguns artigos que a compõem (Conley & Udry: 2005,

Decisão

Critérios de decisão

Obtenção de informação quanto à performance

das práticas

Informação quanto ao preço das práticas

A B

mercado

10  

Bikhchandani et al: 1992, Thornton & Thompson: 2001), bem como evidências

coletadas em campo para o problema em estudo, propõe-se a síntese a seguir.

Duas são as estratégias de obtenção de informação a serem consideradas.

Na primeira delas, outros agentes são consultados quanto à sua experiência com práticas

ainda não utilizadas pelo agente. Os dados eventualmente obtidos tendem a se referir,

pois, a contextos distintos do enfrentado na prática pelo agente. Empresas de grande

porte, por exemplo, localizadas em áreas com características biofísicas específicas,

geralmente – conforme será visto nas próximas seções - são fonte relevante de

informação para silvicultores de menor porte, expostos a uma diversidade de

características naturais.

Esta estratégia, a qual será denominada por “prospecção”, pode também ser

compreendida como uma tentativa de validação externa ou social das práticas adotadas

pelo produtor, uma vez que, neste momento, se acessa o conhecimento e a experiência

acumulados por outros agentes. Trata-se de uma estratégia de aprendizado quanto à

performance de uma nova prática próximo ao que se entende, na literatura, por

aprendizado social ou “derramamento de conhecimento” (knowledge spill-over) (Conley

& Udry: 2005, Bikhchandani et al: 1992, Thornton & Thompson: 2001).

Uma segunda estratégia é a de “validação interna”, i.e., testam-se algumas práticas

alternativas nas condições biofísicas e socioeconômicas enfrentadas pelo agente em seu

dia-a-dia, gerando-se, com isso, dados a partir de experimentos conduzidos pelo próprio

agente. Daí porque será entendida por “experimentação”. O recurso à auto-produção de

informação pode ser concebido como uma estratégia similar ao aprendizado por reforço

(“reinforcement learning”, Kaelbling et al: 1996) ou por exploração (“exploration”,

Rejeb et al: 2005; ou, ainda, “on-the-job learning”, Thornton & Thompson: 2001).

Tanto a experimentação quanto a prospecção, e, eventualmente, uma combinação

recursiva das duas, é conduzida até que o agente se convença de que os dados obtidos

são suficientes para concluir, com margem aceitável de erro, quanto à superioridade ou

inferioridade de uma prática nova em termos de custo-benefício. O momento de

interrupção da experimentação, e, o que é equivalente, o período dentro do qual uma

prática é submetida a testes, é estabelecida pelo agente, de modo subjetivo. O que faz

parte de seus critérios de decisão (conjunto B).

11  

Conforme detalhado no Box 2, as empresas de base florestal geralmente seguem um

processo de introdução de novas práticas em que a prospecção constitui o primeiro

estágio, sendo sucedido por uma fase de experimentação.

Box 2 processo de introdução de novas práticas em empresas de base florestal

A ideia (ou informação, este o termo empregado no texto) quanto a uma maneira

alternativa de realizar um dado procedimento de cultivo, colheita ou processamento de

madeira, pode provir de duas fontes principais: (i) pesquisa científica e; (ii)

necessidades ou oportunidades identificadas na prática, geralmente pelo pessoal

diretamente ocupado na realização dos procedimentos (mas também, possivelmente, por

funcionários da área administrativa ou de outras áreas). É o que é sugerido por

entrevistas realizadas com quatro empresas de base florestal.

Uma das empresas adota o seguinte procedimento: uma vez identificada uma boa ideia,

esta é ranqueada, de acordo com cinco critérios, por um grupo formado por

representantes de diversos departamentos da empresa (basicamente envolvendo as áreas

de pesquisa e operacional). Este ranqueamento visa sobretudo estabelecer a viabilidade

da inovação, levando em conta a limitação dos recursos (financeiros e humanos) detidos

pela empresa. São estabelecidas pontuações para cada um dos cinco quesitos a seguir:

(i) viabilidade técnica;

(ii) viabilidade econômica;

(iii) sustentabilidade (ambiental e social);

(iv) adequação ao marco jurídico e a possíveis alterações do mesmo;

(v) alinhamento com a estratégia da empresa (objetivos, missão, etc.)

Estes critérios também se adéquam ao declarado por duas outras empresas de base

florestal.

Empresas do setor constituem outro exemplo de fonte de informação mencionada nas

entrevistas. Segundo afirmado por duas empresas, o intercâmbio de informação entre

empresas é muito comum. Apenas informações estratégicas, quanto a aspectos

econômicos e de marketing são mantidas em segredo. Mas, “da área florestal, não se

esconde nada”. Com exceção de informações sobre o material genético.

12  

Esta peculiaridade do setor composto por empresas de base florestal foi atribuída por

três dos representantes empresariais entrevistados à atuação de instituições como o

IPEF, desde o início do setor, e a colaboração com a Universidade.

Quatro empresas de base florestal foram consultadas quanto ao conjunto de

procedimentos acionados por cada uma delas para introduzir uma nova prática de

cultivo em seu processo produtivo. Em linhas gerais, pode-se dizer que existem duas

vias pelas quais isso ocorre. A primeira corresponde à situação em que as informações

disponíveis acerca da performance da nova prática se mostram insuficientes. A proposta

de alteração, no caso, uma nova prática de cultivo, é submetida ao que será aqui

denominado por “via longa”, nada mais do que uma sequencia de estágios de

experimentação e de análise de resultados (do ponto de vista técnico e, em um segundo

momento, também econômico), tal como representando abaixo.

Experimentos analise de resultados e decisão implementação em escala semi-

operacional analise de resultados e decisão implementação em escala operacional

A via longa entra em marcha geralmente para mudanças de práticas cuja implementação

em escala operacional depende de um conjunto amplo de elementos, os quais são objeto

de decisão de múltiplas áreas da empresa.

Um exemplo de alteração posta em prática pela via longa diz respeito à alteração do

espaçamento de plantio, esta recém-realizada por uma das empresas consultadas.

Passou-se de 3 m x 3m para 2 m x 2 m. Os experimentos que deram base a alteração

foram iniciados no ano de 2000 e concluídos em 2011. De modo que o período

completo de teste da ideia foi de 11 anos. Considerando-se nesta conta, adicionalmente,

o período dentro do qual os resultados dos experimentos foram avaliados pela diretoria

para, finalmente, decidir-se pela implementação, tem-se aproximadamente 12 anos

(dado que o espaçamento foi alterado em Agosto de 2012).

Conforme o declarado por duas das empresas entrevistadas, a via longa dura em torno

de uma década.

Para alterações de menor porte, contudo, como a introdução “de um novo inseticida”,

exemplo dado pelo representante de uma das empresas consultadas, uma “via curta”

entra em curso, esta não necessariamente envolvendo experimentos.

13  

Outro exemplo de uma transformação cuja introdução se deu pela via curta é de reduzir

o número de adubações, sugerida por pesquisa científica realizada pela equipe CIRAD-

ESALQ. A pesquisa forneceu o embasamento teórico e o departamento de pesquisa de

uma das empresas realizou a análise de viabilidade econômica. O tempo completo para

colocar em prática a ideia foi de dois meses.

Porém, não é apenas a complexidade da mudança de prática que determina o tempo em

que a mesma permanecerá em fase de testes, mas também a estrutura de governança da

empresa. Uma das empresas entrevistadas respondeu que a alteração do espaçamento de

plantio poderia ser colocada em prática em questão de meses.

Entre os silvicultores independentes e mesmo entre os fomentados é comum o hábito de

abrir-se mão da prospecção (validação externa) ou da experimentação (validação

interna), conforme se pode verificar na seção 2. No primeiro caso, o silvicultor se

comporta como uma unidade fechada para a informação, não aproveitando do

conhecimento social apoiando-se, pois, exclusivamente em experiência própria. No

segundo caso, o mais recorrente, evidências fornecidas por outros agentes são tomadas

como suficientes, mesmo que correspondam a contextos biofísicos e socioeconômicos

distintos1.

A próxima seção apresenta exemplos de introdução de novas práticas, procurando

identificar as fontes de informação consultadas pelos silvicultores e alguns dos critérios

de decisão por eles tomados por base. Ela tem de ser vista estritamente como uma

tentativa de identificação: não se objetiva mensurar a importância relativa ou

recorrência de fontes ou critérios específicos.

                                                            1 Por mais que este segundo caso se aproxime do que é entendido por “mimese” pela literatura, cabe ressaltar que se parte aqui da hipótese de que os silvicultores sempre tomam uma decisão embasada em dados, sejam estes obtidos exclusivamente a partir de experimentos por eles conduzidos ou exclusivamente a partir de experiência alheia. Ou seja, sempre há uma decisão racional - mas não necessariamente substantiva, pelo contrário, possivelmente limitada ou procedimental, conforme detalhado por Simon (1994) -, por mais que esta possa estar constringida por limitações de conhecimento e capacidade de análise (capital humano), pelo acesso a fatores de produção, a financiamento e por condições biofísicas.

14  

2 Adoção de novas práticas por silvicultores: fontes de informação

consultadas

As principais fontes das quais os silvicultores entrevistados obtém informações quanto a

novas práticas são, nas regiões visitadas em campo, as empresas de base florestal. O que

pode se dar de maneira direta, com recomendações previstas nos contratos de fomento

florestal ou como via contato com funcionários das empresas. Há também canais

indiretos, entre os quais se destacam os que passam pelas empresas prestadoras de

serviços florestais.

Tabela 4 Fontes de informação quanto a práticas de silvicultura*

Fonte de informação Contagem Prestadores de serviços florestais 3

Empresas de base florestal 21

Extensão universitária (a) 2

Programas não-governamentais (b) 3

Laços de proximidade (c) 19

Lojas de insumos agrícolas 3

Eventos setoriais 1 Experimentação

Análise tecno-científica(d) 6 1

Silvicultures entrevistados 26

*A menção da fonte por ao menos um entrevistado, quando interpelado quanto ao processo pelo qual

aprendeu a cultivar eucalipto, foi tomada como suficiente para inclusão do município na tabela.

(a) cursos de cultivo de eucalipto e dias de campo, estações experimentais mantidas por universidades

públicas; (b) Programa Floresta da Família (vide Box 2); (c) amigos, familiares; (d) análise de solo,

providenciada pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral de Itatinga, ESP.

O restante apresenta alguns exemplos de obtenção de informação acerca de novas

práticas, correspondentes a cada uma das duas estratégias mencionadas na introdução.

2.1 Prospecção

Eventos setoriais

Um produtor agrícola do Estado de São Paulo (ESP), cuja principal atividade é a

horticultura, teve seu primeiro contato com práticas de cultivo de eucalipto participando

do programa “Floresta da Família” (Box 3). Nesta experiência pôde aprender o “básico”

15  

e para avançar, “aprofundando” seu conhecimento, buscou orientação em feiras

agropecuárias que já frequentava.

Pôde tomar contato, nestes eventos, com um profissional cuja atividade consiste na

elaboração de equipamentos para cultivo (tratores modificados) e colheita de eucalipto,

além da prestação de consultoria na área. Foi a partir deste contato que tomou

conhecimento do hidrogel, insumo que hoje o permite realizar o cultivo no período do

ano em que há abundância de mão-de-obra. Anteriormente, o produtor, tendo de plantar

no período chuvoso, tal como boa parte dos produtores da região, acabava contratando

trabalhadores no período do ano em que a demanda por força de trabalho atinge o maior

nível.

O determinante da incorporação da nova prática, o emprego do hidrogel, parece ter sido

o custo-benefício esperado pelo agente. O benefício sendo composto por (i) redução do

preço pago pela mão-de-obra e; (ii) aumento da produtividade florestal (m3/ha na idade

de corte) associado ao fato de que a maior disponibilidade de mão-de-obra permite

aumentar a quantidade e qualidade dos procedimentos de cultivo (pode-se “fazer mais

caprichado”, como disse o entrevistado). A mão-de-obra deixou, portanto, de ser um

fator limitante à produtividade florestal.

Box 3 O projeto “Floresta da Família”

No município de Ibiúna (Estado de São Paulo, ESP), foi realizada uma entrevista da

qual participaram um profissional cuja atividade consiste na compra e venda de lenha

(“lenheiro”) e um agrônomo que geriu um programa de capacitação para a regularização

das propriedades fundiárias nos termos do código florestal, denominado “Floresta da

Família”.

De acordo com ambos, aplicavam-se, antigamente, menos tratos silviculturais ao

eucalipto. Prevalecia a crença de que o eucalipto cresceria espontaneamente. Os plantios

florestais eram vistos como “uma fonte de poupança [como se fosse uma reserva de

valor remunerada], reserva de capital.” O projeto “Floresta da Família” pôde tornar

menos recorrente essa crença, mas não totalmente (mesmo produtores que dele

participaram não puseram em prática tudo o que aprenderam, visando economizar

custos).

16  

O projeto “floresta da família”, realizado pelo ONG Ecoar (hoje “Instituto Refloresta”)

nos municípios de Piedade, Pilar e Ibiúna, procurou difundir a silvicultura, baseada em

práticas de resultado comprovado, em tais áreas. Visava-se, sobretudo, adequar as

propriedades da região à legislação florestal (especificamente no que tange às áreas de

preservação permanente, APPs e às áreas de reserva legal, RLs) e promover a

silvicultura de nativas e de exóticas (eucalipto, especificamente). Tomou lugar entre

2003 e 2008, tendo como fonte de financiamento o Fundo Nacional do Meio Ambiente

(FNMA/MMA).

Em um primeiro momento, foram cadastrados produtores agropecuários

(aproximadamente 300) e identificados, nas propriedades, as infrações ambientais e

fontes de impacto elimináveis.

Em um segundo momento, era elaborado um plano de melhoramento para a

propriedade, compreendendo a plantação de essências florestais, nativas, e também,

exóticas com finalidade comercial.

Em um terceiro momento, os produtores que mostraram interesse em executar o plano,

recebiam treinamento em práticas de silvicultura, recebendo as mudas necessárias para

reabilitar suas áreas.

Empresas do setor florestal

No município de Itatinga, São Paulo, é comum entre os silvicultores independentes a

contratação de uma empresa prestadora de serviços florestais. Esta é constituída,

geralmente, por um empreiteiro com experiência na condução dos tratos silviculturais

correspondentes à implantação e à manutenção de plantações de eucalipto e também

capacitada para realizar a colheita. Este profissional detém, portanto, conhecimento

acerca de um conjunto de itinerários técnicos e também comando sobre mão-de-obra e

equipamentos necessários para implementá-los.

O serviço prestado pode tanto se limitar a uma tarefa em específico do processo de

cultivo (implantação e manutenção), ou compreender um conjunto de tarefas e, no

limite, todas as tarefas. De qualquer modo, o prestador de serviços florestais é uma

fonte de informação quanto a novas práticas e pode, até mesmo, determinar diretamente

o itinerário técnico.

17  

Alguns dos empreiteiros são ex-funcionários de empresas de base florestal localizadas

em Itatinga, de modo que, em alguns casos, tais atores colocam-se, no processo de

transmissão de informação, como intermediários entre aquelas empresas e os

silvicultores independentes.

No mesmo município, técnicos que trabalham para as empresas de base florestal foram

apontados, pelos silvicultores independentes, como fontes de informação consultadas

por eles. O que ocorre tanto de maneira formal, ou seja, com o pagamento do serviço

pela parte beneficiada - com o que os técnicos complementam a remuneração recebida

das empresas -, como informalmente, em conversas que ocorrem nos centros de

convivência da cidade.

Mas a informação e o conhecimento (saber-fazer) detido pelas empresas de base

florestal são acessados não apenas por meio de seus funcionários e ex-funcionários.

Também existe o canal da observação, o qual está especialmente disponível aos

silvicultores independentes cujas propriedades são vizinhas a áreas de empresas.

Práticas de cultivo conduzidas nestas áreas são mimetizadas, pelos silvicultores, em

suas propriedades.

As empresas de base florestal tendem a ser a fonte mais importante de informação

quanto a práticas nos municípios localizados dentro das áreas por elas escolhidas para a

firmação de contratos de fomento2. É o que se pôde apurar nos municípios visitados que

pertencem à área de influência da EF13 e da EF24.

O que se dá por meio de recomendações feitas pelos técnicos das empresas, algo que

está previsto nos próprios contratos e, em lugar secundário, por palestras administradas

pelos mesmos atores.

Cabe observar que alguns dos silvicultores fomentados entrevistados manifestaram ter

formado o conhecimento necessário para realizar o cultivo apenas com a observação e

trabalho conjunto com técnicos das empresas ou de prestadores terceirizados de

serviços. Isto no âmbito do fomento florestal.

                                                            2  Estas  áreas  tendem  a  variar,  sobretudo,  em  função  da  distância  em  relação  às  unidades  de processamento de madeira (fábricas de celulose, serrarias ou carvoarias) detidas pelas empresas. 3 Caratinga e Belo Oriente. 4 Poços de Caldas (MG), Andradas (MG), Mogi‐Guaçú (SP) e Espírito Santo do Pinhal (SP). 

18  

O fato de as empresas de base florestal terem sido mencionadas como fontes de

informação por um número de municípios consideravelmente maior do que o observado

para as demais fontes se deve a um viés de amostragem5. Duas das três viagens a campo

foram realizadas com apoio de empresas de base florestal, de maneira a que, em 13 dos

15 municípios percorridos, apenas silvicultores fomentados (vinculados,

contratualmente a empresas) foram entrevistados.

A informação obtida por esta fonte pode não se converter em conhecimento. Um dos

silvicultores fomentados entrevistados afirmou não ter aprendido a cultivar o eucalipto,

uma vez que disse acreditar não ser capaz de fazê-lo sem o apoio da empresa com a qual

possui o contrato de fomento florestal. A observação, em suas terras, do cultivo, tal

como realizado pela empreiteira subcontratada pela empresa, não se mostrou um canal

efetivo de aprendizado de práticas. Além da falta de conhecimento, ele apontou a “falta

de estrutura” como determinante de tal incapacidade. Por estrutura entende máquinas

(caminhão-tanque, p.ex.), mão-de-obra e insumos.

Evidências para o recurso exclusivo à prospecção como estratégia de obtenção de

informação podem ser retiradas de declarações quanto à escolha de clones, por parte de

entrevistados do município de Itatinga (ESP). Três (de sete) dos silvicultores

independentes entrevistados no município deixaram ou vão deixar de utilizar um clone

específico, o C219, pois observaram que as árvores são muito vulneráveis a ventos,

sendo alta a porcentagem das que quebram ao crescer. Um deles disse que adquiriu tal

clone porque “todos [o] estavam plantando”. O que nos diz que há a possibilidade de

que, em alguns casos, a mudança do clone plantado possa ocorrer sem que se tenha

informação suficiente sobre a performance do novo clone a ser introduzido.

O emprego da estratégia de prospecção se deu, no caso específico, de maneira a gerar

uma “cascata incorreta” (Moscarini & Ottaviani: 1995), i.e., uma opção em massa por

uma opção, no caso, um clone, que não se revelou, a posteriori, a de melhor

desempenho.                                                             5 Segundo um ex-funcionário - hoje uma espécie de “conselheiro” quanto a práticas de cultivo - de uma

empresa de base florestal atuante nas proximidades do município de Itatinga (ESP), uma medida para a importância da influência destas empresas sobre as práticas adotadas pelos silvicultores independentes (não-fomentados) está exatamente nas variedades de eucalipto (clones) hoje sendo plantadas pelos segundos. Trata-se de variedades originalmente introduzidas pelas empresas de base florestal em plantios próprios.

 

19  

A influência desproporcional das empresas de base florestal nas escolhas de práticas dos

silvicultores independentes pede a flexibilização de uma das hipóteses dos modelos de

aprendizado social sequencial. O grupo de agentes cuja decisão é tomada por base como

informação relevante por um dado agente não necessariamente é homogêneo. O

tomador de decisão pode classificar seu grupo de referência em subgrupos, atribuindo,

para cada subgrupo, um peso específico. No caso, o subgrupo composto por empresas

de base florestal recebe maior peso.

No caso específico de produtores fomentados, a influência das empresas é mais direta,

não se restringindo, elas, a meras fontes de informação. Isso pois alguns contratos de

fomento florestal preveem a doação de mudas clonais por parte das empresas

contratantes.

Governo, terceiro setor e outras fontes externas de informação

No caso específico de Itatinga (SP) são também consultados os funcionários da Estação

Experimental de Ciências Florestais, mantida pela ESALQ-USP. Estes atores diferem

dos demais mencionados no sentido de que podem ser ditos fontes de informação

“mantidas” pelo governo (estadual, no caso).

No município de Itatinga, um projeto de pesquisa conduzido pela ESALQ-USP (Teste

de Uso Múltiplo do Eucalipto, TUME), teve influência na decisão dos silvicultores

independentes acerca dos clones. Não poderia ser diferente, uma vez que uma das metas

é determinar quais clones se adequam as condições de clima e solo prevalecentes nas

terras detidas pelos silvicultores ou produtores agropecuários estudados

(http://www.tume.esalq.usp.br/).

De modo semelhante, o projeto “Floresta da Família”, realizado pelo ONG Ecoar (hoje

“Instituto Refloresta”) e financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente

(FNMA/MMA) levou a proprietários fundiários dos municípios de Ibiúna, Pilar e

Piedade conhecimento acerca de técnicas de cultivo. O que se deu por meio de

treinamento (aulas presenciais) e de assistência técnica.

Cursos providos por universidades públicas (UNESP e USP) e dias de campo também

foram mencionados em Itatinga.

20  

Mostram-se menos importantes, mas de qualquer maneira não-desprezíveis, enquanto

fontes de informação, pessoas com as quais há laços de proximidade (amigos e

familiares). Estas não necessariamente possuem ou possuíram, no passado, vínculo com

empresas de base florestal ou órgãos públicos prestadores de serviços relacionados à

silvicultura (como unidades de extensão rural ou de pesquisa florestal). Podem, pois, se

tratar de silvicultores independentes.

Lojas de insumos agrícolas foram mencionadas como fonte de aprendizado nos

municípios de Poços de Caldas (MG) e Ibiúna (SP).

Apenas um dos entrevistados mencionou ter aprendido práticas silviculturais em

eventos setoriais (feiras agropecuárias, em particular).

2.2 Experimentação

Alguns entrevistados disseram ter aprendido a partir de experiência própria, i.e.,

testando práticas diferentes e verificando a performance de cada uma. Entre estes, há os

que, já detendo conhecimento acerca de um itinerário (conjunto de práticas) suficiente

para conduzir o cultivo, realizam “experimentos”, como, por exemplo, comparar o

crescimento de áreas adubadas de maneira distinta (quatro dos silvicultores

entrevistados, um deles um silvicultor independente, disseram ter realizados

experimentos com adubação).

Os silvicultores independentes e fomentados também podem gerar, por si próprios,

informação sobre a performance de práticas alternativas, tal como revelado por quatro

dos trinta entrevistados. O espaçamento considerado para plantio é um exemplo de

prática que é objeto de “experimentos”: observa-se o crescimento (taxa anual ou total ao

longo de um número pré-fixado de anos) em talhões estabelecidos com espaçamentos

distintos, selecionando, para plantios futuros, as configurações mais bem-sucedidas.

Além do aumento da taxa de crescimento, há outros motivos para alterar o espaçamento,

como, por exemplo, liberar espaço para a passagem de tratores ou máquinas de

colheita6.

                                                            6 Um silvicultor independente, cuja propriedade se localiza no município de Poços de Caldas (Sul de Minas Gerais) alterou o espaçamento diversas vezes. Inicialmente, partindo de um espaçamento de 2,3 m

21  

Outro exemplo de prática sujeita a um processo de tentativa-e-erro ou experimentação, é

a rebrota. O que se verifica também para silvicultores fomentados, uma vez que são

pouco comuns, ainda, contratos de fomento florestal que compreendam mais de uma

rotação. Para este procedimento, avalia-se, também, o crescimento em talhões que

diferem para o número de brotos por cepa, posteriormente adotando aquela que se

mostra a opção mais bem sucedida.

A experiência própria, mas em um sentido específico, o de conhecimento formado a

partir do cultivo agrícola (café, por exemplo), se mostra relevante enquanto base para a

elaboração de procedimentos de adubação para o eucalipto. Isto em experiências que

correspondem às primeiras tentativas de alguns silvicultores independentes. Em um

desses casos, o agente passou, em um segundo plantio, a empregar as recomendações de

uma empresa de base florestal, com a qual firmou contrato de fomento florestal. As

fórmulas de fertilizantes (teor em nutrientes) e quantidades com que são aplicadas é

também objeto de experimentos conduzidos pelos silvicultores independentes.

Como se vê, a informação gerada de modo independente pelos próprios produtores

também é relevante enquanto base para tomada de decisão acerca de alterações do

itinerário silvicultural.

O que pode se dar também no sentido de impedir a difusão de uma nova prática:

experimentos realizados de maneira precária podem levar à subestimação da

performance (produtividade) da prática. Dois dos onze silvicultores independentes

entrevistados realizaram tentativas malsucedidas de emprego de herbicida. Um deles,

seguindo a recomendação de agrônomos de uma loja de produtos agrícolas, observou

que o herbicida “queimou as plantas”, então continuou com a capina manual. O outro,

                                                                                                                                                                              x 2,3 m, passou a 3 m x 1,8 m e, depois, a 3 m x 2 m e, atualmente, 3,5 m x 2 m. A motivação para os ajustes esteve em otimizar os procedimentos de colheita (mecanizada), mas também de cultivo (o primeiro espaçamento não permitia a passagem de tratores). Estas alterações de espaçamento se refletiram em outras modificações, como a alteração da intensidade de adubação (kg/hectare). Um silvicultor fomentado, entrevistado no município de Andradas (Sul de Minas Gerais) também testou diversos espaçamentos (2,5 m x 1,7 m, 3 m x 1,7 m, 3,5 m x 1,7m) e decidiu plantar apenas com 4 m x 1,5 m. Isso pois, segundo ele, este espaçamento o permite obter uma produtividade satisfatória com menor emprego de insumos, comparativamente aos outros espaçamentos. E também “há mais espaço para o trator”. Outra motivação para alterar o espaçamento está na finalidade à qual o produtor deseja destinar a madeira. Um silvicultor fomentado afirmou ter interesse em manter parte de sua área de cultivo com um espaçamento maior do que o restante, para, com isso, produzir toras de madeira para o desdobramento.

22  

da primeira vez que aplicou herbicida com a bomba costal, não observou efeito. Neste

caso, porém, o produtor admitiu ter cometido erros.

2.3 Outras estratégias: o caso da análise de solo

Uma prática pode ser selecionada não porque é minimizadora de custo, mas porque é

indicada pela estratégia de obtenção de informação de menor custo, mesmo sendo que

esta estratégia possa apontar, com probabilidade positiva, para uma prática sub-ótima.

Este parece ser o caso da análise de solo, uma estratégia de obtenção de informação de

alto custo caso seja contratada individualmente, diretamente com um laboratório.

No município de Itatinga a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),

órgão municipal responsável pela assistência técnica agropecuária, é a presta

gratuitamente o serviço de análise do solo. Em municípios do leste de Minas Gerais, em

que foram entrevistados silvicultores fomentados, tanto o transporte das amostras de

solo para o laboratório como a análise destas têm de ser pagos integralmente pelos

silvicultores.

Uma vez que da análise saem recomendações para a correção do solo (o que consiste,

geralmente, em aplicação de calcário) e para a adubação (fórmulas e quantidades por

hectare), a existência de subsídio público a este procedimento tende a influenciar o

itinerário de cultivo no estágio de preparo de solo.

Adicionalmente, em Itatinga, a prefeitura cede um trator especificamente para a

aplicação de calcário, uma intervenção claramente incentivadora do uso deste insumo.

23  

3 Empresas de base florestal

3.1 Mudanças recentes

Três são as motivações das empresas de base florestal para introduzir uma nova prática:

(i) aumento da produtividade florestal, (ii) redução do custo de produção, (iii) melhoria

da qualidade da madeira.

Tabela 5 Principais mudanças de práticas realizadas pelas empresas de base

florestal entrevistadas

Estágio do processo de produção

Estágio do processo de produção: detalhe

Elemento modificado

Cultivo

Plantio

Melhoramento genético Espaçamento Mecanização Transição para o cultivo mínimo

Rebrota Proporção da área em rebrota Fertilização Fórmulas e quantidades

Ervas daninhas Introdução do herbicida Quantidade de herbicida

Colheita Mecanização

Box 4 Uma experiência de introdução de uma nova espécie arbórea

Uma das empresas de base florestal entrevistadas adquiriu, no passado recente, uma

fábrica e áreas de plantio a ela integradas. As últimas continham estritamente Pinus,

matéria-prima até então empregada. A produtividade florestal se mostrava, porém,

consideravelmente abaixo do atingido em áreas cultivadas com Eucalipto. Enquanto, o

Pinus crescia, em média, a uma taxa de 25-30 m3/ha/ano, esperava-se que o Eucalipto

pudesse atingir 50m3/ha/ano. A substituição por Eucalipto se justificava enquanto

medida para reduzir a área necessária para atingir o nível de produção visado, algo

relevante, dado o preço da terra na região.

Porém, a transição para o eucalipto tinha como barreira o fato de que nenhuma empresa

no mundo havia produzido MDF a partir desta espécie (este o produto da empresa em

questão). Foram realizados alguns testes na fábrica, os quais demonstraram que seria

24  

possível obter um produto de boa qualidade. Procedeu-se, pois, com a substituição de

Pinus por Eucalipto.

Dentro em breve, afirmou o representante da empresa, as árvores de Pinus terão como

única função a de servir como banco de germoplasma (reserva genética).

Para uma das empresas entrevistadas, cinco fatores foram cruciais para o aumento da

produtividade florestal – correntemente em torno de 42 m3/ha/ano -, ao longo de sua

história. São eles:

(1) Transição para o cultivo mínimo (abandono das queimadas), com subsolagem. Esta

era apenas superficial anteriormente. Essas mudanças aconteceram em 1993;

(2) Aumento da fertilização: a quantidade de adubo colocada por hectare passou de 30

kg / ha de NPK para 300 kg / ha de NPK. Além disso, passaram a introduzir fórmulas

com micronutrientes (B, Ca, etc) e a calagem;

(3) Controle de plantas daninhas com herbicida, iniciado em 1992-1993;

(4) Controle de qualidade, compreendendo padronização dos procedimentos, redução do

“erro humano”, uma mudança que ocorreu 10 anos atrás. Esta diz respeito tanto aos

insumos como aos equipamentos (como exemplo, um dos operadores de trator disse ao

entrevistado que, 10 anos atrás, a máquina era regulada apenas uma vez por dia);

(5) Clonagem.

Mecanização

A mecanização é uma transformação, que também vem avançando progressivamente

nos últimos 10 anos, mas que tem sobretudo papel de dar base às cinco mudanças

referidas na subseção anterior para que elas possam se reverter em aumento da

produtividade.

A mecanização da colheita e de algumas tarefas do cultivo (preparo do solo) também

vem sendo desenvolvida, com maior avanço na primeira, em que a mecanização se

estende por quase todo o processo. Um dos principais determinantes da mecanização é a

escassez de mão-de-obra, algo que também foi declarado por outra empresa de base

florestal.

25  

Silvicultura de precisão

Para os representantes de uma quarta empresa de base florestal, uma transformação

técnica relevante, em curso nos últimos três anos, foi o estabelecimento progressivo da

silvicultura de precisão, caracterizada pela mensuração precisa dos insumos e da

produtividade. O que compreendeu melhoria da qualidade dos clones e alterações nas

práticas de adubação. Georreferenciamento de parcelas e automatização são outras

frentes de mudança de práticas avançadas pela empresa. Tudo isso visando aumentar o

controle sobre o processo produtivo.

Adubação

O representante de uma das empresas disse que, antigamente, se tinha um conhecimento

limitado acerca da ciclagem de nutrientes, de seu funcionamento. Não se sabia, por

exemplo, que o Boro é um elemento importante. As práticas de adubação, neste período

inicial, eram meras replicações do que se fazia na agricultura.

Uma das empresas destacou que o aumento da quantidade de fertilizante aplicada por

hectare, de 200-300 kg fertilizante/ha para 1.100 kg fertilizante/há foi crucial para o

aumento do IMA de 25 m3/ha/ano para 50 m3/ha/ano.

Rebrota

A crise econômica mundial, iniciada em meados de 2008, reverteu-se em aumento da

proporção da área de cultivo submetida a rebrota em duas das cinco empresas de base

florestal consultadas.

Em uma delas, realiza-se apenas uma rotação de sete anos de duração. Apesar de o

replantio ser mais caro (R$/ha) do que a condução da rebrota, o fato de a colheita

mecanizada ser menos compatível com uma floresta de rebrota mais do que compensa o

diferencial de custo. Isso pois, os brotos acabam por não seguir as linhas de plantio, o

que causa perdas, reduzindo o coeficiente m3 colhido / m3 na floresta em pé.

Porém, excepcionalmente por conta da crise econômica mundial, e, mais precisamente,

dos impactos desta sobre a atividade da empresa, passaram a realizar a rebrota em 30%

da área de plantio.

26  

A outra empresa mencionada passou pela mesma situação: a rebrota passou a ser

realizada em 60% da área, enquanto, anteriormente, cobria apenas 10%. Foi necessário,

para isso, reunir conhecimento sobre a condução da brotação, o qual a empresa não

possuía. Então consultaram a universidade, tomando contanto com o resultado de

pesquisas científicas e desenvolveram (o departamento de pesquisa) um modelo para

gerir o aumento da área submetida a rebrota.

Estrutura corporativa

De acordo com um dos entrevistados, membro de uma empresa de base florestal;

também influenciam as práticas de manejo florestal as decisões tomadas no centro de

sustentabilidade da empresa (relação com o meio ambiente e com comunidades),

alterações na legislação ambiental/florestal. Dois focos recentes de modificações:

monitoramento da fauna em áreas de cultivo e manejo (economia) da água.

A “área social” da empresa, recentemente, tem sofrido algumas mudanças no sentido de

criar relações mais positivas com as comunidades (quilombolas, indígenas e

movimentos pela terra). O entrevistado também mencionou as políticas públicas,

particularmente o programa do governo estadual de São Paulo, “Melhor Caminho”,

como fatores que afetam as práticas de manejo.

3.2 Tendências para o futuro

Um dos representantes de empresas de base florestal acredita que é possível aumentar a

produtividade florestal do eucalipto, atualmente em torno de 50 m3/ha/ano. Mas a

empresa está se aproximando do nível máximo. A questão, em breve, passará a ser

como manter o rendimento.

A empresa quer crescer (ampliar sua produção), mas não necessariamente em São

Paulo. A menos que consiga aumentar a produtividade florestal e mecanizar

suficientemente, dado que não apenas o preço da terra atua como fator limitante, mas

também o preço da mão-de-obra.

A percepção de que o patamar de produtividade florestal corrente é alto é compartilhada

pelo representante de outra empresa de base florestal. O entrevistado acredita que é

possível superá-lo apenas com transgênicos. Contudo, ele acredita que a melhoria

27  

genética pode render maior benefício caso seja voltada para o aumento da massa de

celulose extraída de cada metro cúbico de madeira.

Tal empresa tem como meta expandir sua produção de celulose. Provavelmente uma das

fábricas será ampliada ou será adquirida mais uma fábrica. Para sustentar este aumento,

a área de plantio deverá ser expandida exclusivamente através do fomento florestal. Não

há interesse em aumentar a extensão das terras próprias de cultivo.

Perspectivas semelhantes foram reveladas pelo membro de uma terceira empresa de

base florestal. Apesar de acreditar que é possível aumentar a produtividade florestal, o

entrevistado defende que é mais importante se preocupar em manter o nível já atingido

(42 m3/ha/ano). Há espaço para aumentar se for considerada a possibilidade de

substituição de material genético antigo, de baixo desempenho, por material de maior

produtividade.

Acredita que o IMA brasileiro pode ser elevado para 45 m3/ha/ano chegando a, no

máximo, 50 m3/ha/ano.

A questão da manutenção da produtividade é crucial atualmente por conta de eventos

climáticos (como ventanias) e também problemas fitossanitários (pragas e doenças).

A empresa não tem planos de instalar fábricas e áreas de plantio em outras unidades da

federação, pelo menos até onde vai o conhecimento do entrevistado. Por enquanto

possui uma fazenda (300 hectares) dedicada exclusivamente à realização de

experimentos, localizada no estado do Tocantins (região Norte).

A compra de novas terras nas regiões em que a empresa já atua (São Paulo e Sul de

Minas Gerais) também não está prevista: na verdade, tem-se por meta aumentar o

suprimento de madeira com base na expansão dos plantios fomentados. E isso,

principalmente por conta da recente construção de um digestor adicional para a

produção de celulose.

A quarta empresa de base florestal consultada tem como meta aumentar o rendimento

das plantações: “é um desafio”, declarou o representante. Outro desafio é a instalação de

áreas de plantio e fábricas em estados da região Nordeste (Piauí e Maranhão).

28  

4 Percepções quanto ao consórcio Eucalipto-Acácia

Silvicultores, prestadores de serviços florestais, representantes (funcionários) de

empresas de base florestal e um ex-funcionário de uma empresa do segmento, emitiram

suas opiniões quanto à proposta do projeto INTENS&FIX. Estas expressam

entendimentos diferenciados quanto ao significado da introdução de um sistema de

cultivo em que uma espécie ainda pouco conhecida no Brasil, a Acácia Mangium, é

combinada com o bem conhecido Eucalipto.

É necessário, de início, ressaltar que o objetivo desta seção é apresentar de modo

organizado as declarações, mas, ressalte-se, da maneira tal como foram expressas, sem

quaisquer correções, mesmo estando elas apoiadas em informação insuficiente ou se

colocando como equívocos do ponto de vista do conhecimento científico disponível.

Eventuais alterações no itinerário técnico, das quais a adubação merece destaque,

especificidades do aproveitamento da Acácia como lenha ou para outras finalidades, o

desempenho dos plantios mistos (produtividade florestal) e a necessidade de garantir a

aprovação dos órgãos ambientais para o cultivo de Acácia (questão do licenciamento).

Estes são alguns dos tópicos levantados pelos entrevistados.

A tabela 6 classifica as principais percepções manifestadas pelos entrevistados quanto

ao consórcio. Descrições detalhadas destas e de outras percepções são apresentados nas

subseções a seguir, por tópicos, sendo eles: adubação e qualidade do solo,

características da madeira (aproveitamento para finalidades alternativas), performance

(técnica e econômica), licenciamento ou aspecto legal e aspectos ambientais (resiliência

a eventos climáticos e “invasividade” da Acácia).

Adicionalmente, ao final de cada tópico (ou sub-tópico, se for o caso), podem ser

encontradas algumas das dúvidas levantadas pelos entrevistados.

O Box 5, ao final desta subseção, descreve algumas experiências prévias com plantio

misto.

29  

Tabela 6 Principais percepções manifestadas pelos entrevistados quanto ao

consórcio Eucalipto-Acácia*

Oportunidades Economia de fertilizantes Redução de impactos ambientais Recuperação da fertilidade

Desafios

Estágio embrionário de melhoramento genético da acácia: é necessário investir em pesquisa e tecnologia

Modificações operacionais: espaçamento, movimentação de tratores e máquinas de colheita, procedimentos de trabalho (cultivo: distribuição de mudas)

Inexistência de suprimento de mudas: é necessário investir em viveiros

Acácia é uma espécie desconhecida no mercado brasileiro: é necessário investir em marketing (produtos derivados, p.ex., papel) e divulgação (matéria-prima).

Finalidade: é preciso descobrir o diferencial do consórcio, relativamente ao cultivo monoespecífico de eucalipto (aplicação operacional ou produto)

Barreiras

Equipamento está otimizado para o cultivo monoespecífico de eucalipto (ex.: digestores de celulose, descascadores)

Procedimentos de trabalho (incluindo os mecanizados) estão otimizados para o cultivo monoespecífico de eucalipto

Foi constatada a invasividade da acácia na região nordeste (BA)

A acácia é desconhecida pelos orgãos de fiscalização florestal/ambiental

Dúvidas

Poder calorífico da acácia? Preço de mercado (acácia como matéria-

prima)? Contratação de mais mão-de-obra (revisão dos

procedimentos de trabalho)?

Desempenho da brotação de acácia? Resistência a eventos climáticos e pragas? IMA do plantio misto?

*Oportunidades: resultados positivos da introdução do consórcio Acácia-Eucalipto previstos pelos

entrevistados. Desafios: metas que os entrevistados acreditam que devam ser cumpridas como pré-

requisito à introdução do consórcio ou à otimização deste. São classificadas como desafios pois os

30  

entrevistados as apresentaram como factíveis. Barreiras: fatos que atuam para tornarem proibitivos o

custo e/ou o risco associados à introdução do consórcio. Dúvidas: pontos cujo esclarecimento é crucial

para a avaliação do custo-benefício da introdução do consórcio.

Box 5 Experiências com plantios mistos

Um das empresas de base florestal entrevistadas tem experiência com sistemas

agroflorestais no Rio Grande do Sul (RS). Os últimos surgiram de demandas das

comunidades localizadas no entorno da fábrica e das áreas de plantio da empresa,

algumas delas contempladas com contratos de fomento florestal, firmados pela empresa.

“Para os pequenos produtores, interessam os plantios mistos”.

No RS, a empresa visava, quando iniciou suas atividades na região, manter 70% da área

de plantio em fomento florestal e o restante em áreas próprias. O que foi cumprido.

Atualmente, possui 30.000 hectares de sistemas agroflorestais (eucalipto consorciado

com culturas de alimentação básica, como milho, arroz, feijão, etc.), distribuídos da

seguinte maneira em Estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

Porém, tendo em mente os objetivos do projeto INTENS&FIX, talvez seja mais

interessante a experiência da empresa com plantios mistos Acácia Negra-Eucalipto,

estabelecidos no RS. Segundo o membro da empresa que foi entrevistado, havia a

“cultura” de plantar Acácia Negra antes da chegada da empresa na região. E isto porque

uma empresa de celulose lá localizada, cuja fábrica e áreas de plantio foram,

posteriormente, adquiridas pela empresa ora em questão, empregava esta espécie para

aumentar a densidade do mix de madeira com que alimentava sua fábrica. As áreas de

plantio eram então compostas inicialmente apenas pela espécie Eucalyptus Grandis, de

baixa densidade.

Outra força que contribui para a difusão do cultivo de Acácia Negra foi a importância

regional do segmento de couro, o qual tem como um de seus principais insumos o

tanino obtenível do processamento de cascas de eucalipto e acácia.

E um terceiro fator permissivo foi o fato de que os solos da região são deficitários em

N.

De tal sorte, o conhecimento quanto ao cultivo, previamente acumulado, bem como a

possibilidade de destinar a acácia para duas finalidades, a produção de celulose e a

31  

produção de tanino - o que incentivou os produtores -, e também o efeito positivo sobre

a fertilidade do solo, se mostraram condições adequadas à difusão do plantio

consorciado de Acácia Negra e Eucalipto na região. O que foi feito com base em

contratos de fomento florestal.

O projeto teve sucesso: a partir de mensurações realizadas pela própria empresa pôde-se

comprovar que ambas as espécies atingiam maior taxa de crescimento quando

consorciadas, comparativamente aos plantios puros. A empresa, contudo, suspendeu o

projeto assim que a decisão de construir uma fábrica no RS foi revista.

Outra empresa de base florestal entrevistada também revelou ter plantações de Acácia

Negra no RS. Observaram, nestas áreas que o eucalipto cresce mais rápido,

inicialmente, pelo menos, em terras anteriormente cultivadas com Acácia Negra.

4.1 Adubação e qualidade do solo

Das dez menções à adubação, feitas por silvicultores (independentes e fomentados),

duas se referem não apenas à economia de recursos monetários (despesa em

fertilizantes), mas também aos impactos ambientais da fertilização química, de modo

que há o entendimento de que a adubação por uma árvore leguminosa é menos

ambientalmente negativa.

A redução da despesa em fertilizantes é um estímulo apenas se mostrar-se mais do que

suficiente para compensar eventuais quedas da produtividade florestal. É o que foi dito

por quatro dos dez silvicultores que se manifestaram quanto ao aspecto do impacto na

adubação.

Um silvicultor fomentado entrevistado associou o plantio consorciado a uma medida de

controle da erosão do solo. E um prestador de serviços florestais disse que a

recuperação da fertilidade do solo é um estímulo à adoção da alternativa.

O representante de uma das quatro empresas de base florestal consultadas, no caso um

técnico que têm acompanhado os experimentos INTENS&FIX, declarou que a

alternativa proposta pelo projeto tem como vantagem a possibilidade de recuperar solos

degradados, já que a Acácia deposita um maior volume de serrapilheira no solo do que o

Eucalipto. O que é um estímulo para produtores de pequeno porte detentores de terras

com solos degradados.

32  

Outro membro da mesma empresa afirmou que o consórcio poderia fornecer nitrogênio

e maior aporte de resíduos florestais [matéria orgânica], algo relevante para a

sustentabilidade produtiva. Um estímulo para os silvicultores fomentados pela empresa,

segundo o entrevistado. Especialmente pois o baixo grau de capitalização é uma

característica de parte relevante destes silvicultores.

O mesmo profissional observou que substituir o nitrogênio de origem química é

vantajoso pois o preço deste insumo tem correlação positiva com o preço do petróleo,

dado que a Petrobrás é a única empresa produtora do insumo.

A importância da economia de fertilizantes nitrogenados pode ser medida para

participação destes na despesa total de cultivo. Apenas duas das seis empresas

consultadas concederam esta informação: enquanto uma delas estima a participação do

nitrogênio em 7,5 a 10%, a outra estima em 1%. Outras duas empresas disseram que o

potássio (K) e o fósforo (P) respondem por maior parte da despesa em fertilizantes.

Nenhuma das empresas mencionou o nitrogênio ao responder quanto ao nutriente fator-

limitante ao cultivo de eucalipto. Todas mencionaram o potássio.

O especialista de nutrição de uma das empresas de base florestal disse que há um limite

máximo de nitrogênio que pode ser aplicado, 100 kg/ha. Acima disso, há risco de

acelerar a decomposição da matéria orgânica, o que resulta em queda da produtividade.

Alguns contratos de fomento estabelecem a doação de fertilizantes químicos para os

silvicultores. Neste caso a economia de fertilizantes nitrogenados, proporcionada pela

Acácia Mangium não é um incentivo para que os silvicultores fomentados passem a

cultivá-la. Apenas a empresa de base florestal, a contratante, pode se beneficiar do

cultivo, por seus contratantes, de uma fonte “natural” de nitrogênio, pois, com isso, a

quantidade de fertilizantes por ela doados poderia ser reduzida, para uma mesma

quantidade de madeira produzida no fomento.

De fato, a execução do procedimento de adubação depende de recursos do silvicultor

apenas no que tange à remuneração de mão-de-obra. O que tende a ser tão menos

importante quanto maior for o crédito obtido pelo silvicultor por intermédio da empresa

de base florestal (nos casos, é claro, em que este benefício é previsto contratualmente).

33  

Dúvidas

Quatro silvicultores afirmaram que é preciso mensurar a economia de adubo. Um deles

perguntou se a leira, i.e., resíduos de colheita deixados no campo, não produz um efeito

sobre o solo comparável ao da Acácia.

Uma das empresas de base florestal colocou em questão o potencial da Acácia para

acumular carbono (ou matéria orgânica) no solo.

É interessante a especulação de um dos silvicultores quanto à possibilidade de o efeito

fertilizante da Acácia pode ter seus benefícios estendidos ao café, espécie cujo cultivo é

intensivo em adubos.

4.2 Características da madeira

Produção de energia

A resistência a uma nova espécie, no caso a Acácia, por parte dos segmentos

processadores de madeira (lenha, desdobramento e celulose) é uma possibilidade

mencionada por três dos trinta entrevistados não pertencentes a empresas de base

florestal. Um número maior de representantes deste grupo (cinco) acredita que, caso

seja possível comprovar que a espécie tem um poder calorífico (ou “rendimento na

queima”, termo mais comumente utilizado) as fábricas consumidoras de lenha

adquirirão a madeira.

Em geral, os silvicultores se sentiriam estimulados a cultivar uma nova espécie apenas

se tiverem certeza de que “haverá mercado”, i.e., de que os compradores com os quais

estão acostumados a se relacionar (sejam intermediários ou consumidores finais) se

disporão a adquirir madeira de Acácia. E isto, é claro, em condições (preço de venda)

comparáveis às atualmente válidas para as transações envolvendo madeira de eucalipto.

Das duas cerâmicas (empresas que tem na lenha a fonte de energia utilizada para

produzir tijolos) entrevistadas para as quais foi possível obter uma resposta adequada,

ambas declararam a necessidade de testar a madeira de Acácia em seus fornos. Como

uma delas afirmou “tem de queimar para ver [i.e., para comprovar se o rendimento é

satisfatório].”

34  

Duas das três cerâmicas entrevistadas afirmaram que uma espécie de madeira tem de se

mostrar atrativa em dois aspectos: (i) rendimento na queima (poder calorífico), o qual

também pode ser expresso como a quantidade de tijolos produzidos por metro cúbico de

lenha queimada e; (ii) o preço pelo qual a matéria-prima é vendida. As empresas

acrescentaram a isso a facilidade de manusear as toras, ressaltando aspectos anatômicos

e a compatibilidade com o tamanho das bocas dos fornos utilizados.

Desdobramento de madeira (produção de fibra)

O representante de uma empresa de base florestal afirmou que a pergunta crucial a ser

respondida sobre o consórcio, no âmbito da produção de madeira é: a madeira de Acácia

é bem aceita (no mercado)? E em nossas fábricas (funciona tecnicamente)? “Será que

essa madeira vai ter características similares às do eucalipto?” Quanto a estas três

perguntas, comentou: “hoje não sabemos”.

Produção de celulose

As quatro empresas produtoras de celulose e/ou papel entrevistadas apontaram que o

emprego de uma espécie alternativa ao eucalipto na produção de celulose demandaria

ajustes no processo produtivo que se mostram correntemente inviáveis. O que resulta do

fato de que as fábricas de celulose são, atualmente, automatizadas, de modo que a

margem para adequar o processo a variações nas características da biomassa é baixa.

Para uma delas, ocorre que o rendimento da Acácia, caso encaminhada para os

digestores atualmente utilizados, se mostraria consideravelmente menor. Isso por conta

de dois fatores: (i) a conversão de Acácia em celulose exige o emprego de uma

quantidade maior de reagentes por m3 do que o eucalipto e; (ii) os digestores da empresa

estão projetados para trabalhar com o consumo específico (de reagentes) do eucalipto.

Daí porque o processamento de 1m3 de Acácia daria origem, nas condições atuais, a

uma quantidade de celulose abaixo daquela que poderia ser obtida casos os digestores

fossem aumentados, de maneira a que a otimizar o aproveitamento da Acácia – atingir a

taxa de conversão máxima ou ótima.

O rendimento das toras de Acácia, processadas em conjunto com toras de eucalipto, não

é apenas inferior ao ótimo (alcançável em digestores projetados para a espécie), mas,

além disso – e esse é o ponto importante – acaba-se por atingir, do processamento de

35  

Acácia e Eucalipto, um rendimento inferior ao que seria obtido de um mesmo volume

de biomassa de Eucalipto.

Há, potencialmente, uma dupla desvantagem associada ao suprimento da fábrica de

celulose com a produção do consórcio: por um lado, é necessário empregar mais

reagente por m3 de biomassa e, por outro lado, a quantidade de celulose que se pode

retirar de um dado volume de biomassa, é inferior. Comparando-se, é claro, com um

suprimento a partir de plantações exclusivamente compostas por eucalipto.

Essa dupla perda é apenas uma possibilidade a ser adequadamente verificada na prática,

ou confirmada com especialistas da área de produção de celulose.

Outra barreira diz respeito ao descascamento das toras: uma vez que as toras de Acácia

têm formato diferente, será preciso ajustar o procedimento de descascamento.

Comercialização do papel de celulose

Outro aspecto relevante diz respeito à aceitação pelo mercado de um papel produzido

com acácia. Um dos técnicos de empresas de base florestal entrevistados apontou que

sua empresa possui uma linha especial de papel, produzido com “menos

branqueamento” e daí, menos reagentes químicos, mas que até então não pôde ter uma

absorção de mercado comparável às outras linhas mais intensivas em insumos químicos.

“Não conseguimos vender”.

Mesmo, portanto, que o papel de acácia se mostre técnicamente, economicamente e até

mesmo ambientalmente superior ao papel de plantações monoespecíficas de eucalipto,

pode haver dificuldade para convencer os consumidores a compra-lo.

Produção de carvão vegetal siderúrgico

O representante da siderúrgica integrada a carvão vegetal não vê barreiras ao

aproveitamento da Acácia para produção do energético. Basta que a madeira tenha

densidade e resistência mecânica comparáveis às do Eucalipto. Não acredita que

existam diferenças anatômicas importantes que possam pedir uma mudança nos

procedimentos de manuseio da madeira para produção carvão vegetal.

36  

Silvicultores

Alguns silvicultores fomentados (5 de 16) afirmaram que apenas com apoio das

empresas com as quais mantêm contrato de fomento considerariam a possibilidade de

adotar o consórcio Acácia-Eucalipto. E isso tanto no sentido de terem garantia de

compra para a madeira de Acácia, como de receberem suporte na realização do cultivo

(assistência técnica e insumos).

Finalidade

Duas das cinco empresas de base florestal entrevistadas declararam que a introdução do

plantio consorciado, em suas áreas de cultivo, depende, sobretudo, da definição de uma

finalidade específica, de um objetivo, a que esta nova modalidade específica possa

atender.

Conforme observado por um dos representantes entrevistados, o “caminho” para as

plantações mistas está encontrar um uso ótimo, uma aplicação operacional ou um

produto final baseado em biomassa de Acácia que tenha aceitação no mercado. O que

aceleraria o processo de aprovação do plantio misto.

O representante de outra empresa de base florestal manifestou pensamento equivalente:

ele não enxerga, ainda, uma vantagem no consórcio Acácia-Eucalipto. O principal

entrave à difusão desta proposta está na ausência de uma finalidade.

Em síntese, as empresas expressaram a opinião de que é preciso descobrir um

diferencial do consórcio (algo que o faça claramente mais vantajoso, mesmo em

situações específicas) em relação aos cultivos monoespecíficos de eucalipto.

Economia de escala

Segundo uma das empresas entrevistadas, as novas práticas têm de se adequar aos

determinantes da competitividade da empresa, de modo a permitir mantê-la. Um fator

crucial neste sentido são as economias de escala correntemente exploradas.

Oportunidades até então exploradas para obter economias de escala podem ser perdidas

caso uma nova espécie ou novo sistema de cultivo forem introduzidos (isso porque a

economia de escala resulta da otimização de diversos estágios do processo produtivo).

37  

Por exemplo, na colheita, todos os ganhos estão associados a passar rápido pela área,

retirando tudo que seja aproveitável para a produção de madeira.

Uma vez que o consórcio vai redundar na perda de alguns dos fatores de

competitividade, a Acácia precisa mostrar um desempenho melhor do que o do

eucalipto. “Senão o acionista vai reclamar”.

Dúvidas

Um silvicultor independente perguntou se as toras de Acácia racham quando deixadas

mais de 25-30 dias no campo.

Duas empresas de base florestal perguntaram quanto a experiências prévias de produção

de celulose a partir de um mix de espécies, tal como é o caso da combinação de Acácia

e Eucalipto.

4.3 Performance

4.3.1 Performance técnica: cultivo

Um dos prestadores de serviços florestais entrevistados, o qual presta serviços de

cultivo, acredita que o “trabalho em plantio consorciado é mais difícil”.

Dois funcionários de outra empresa florestal, ambos responsáveis pelo

acompanhamento dos experimentos INTENS&FIX localizadas nas áreas da empresa,

acreditam que, caso sejam plantadas na mesma linha, alternadamente, mudas de Acácia

e de Eucalipto, será possível utilizar os mesmos procedimentos de cultivo e colheita

empregados em plantios monoespecíficos. Porém, em plantios com linhas compostas

por apenas uma espécie, i.e., alternando-se não ao longo das linhas, mas entre as linhas,

haverá dificuldade para a introdução de tratores e máquinas agrícolas em geral. A

aplicação de herbicida e a adubação, por exemplo, são procedimentos que terão de ser

reprogramados.

O representante de outra empresa de base florestal estima que o plantio, provavelmente,

vai gastar o dobro de homens-hora. E isso por conta do fato de que será necessário

cumprir com uma distribuição precisa para as mudas (ou sementes) de duas espécies,

alternando na entrelinha ou ao longo das linhas. Também com o plantio mecanizado

será preciso duplicar o número de operações: em plantações puras, os tratores fazem três

38  

ou quatro linhas de apenas uma vez. Porém, com duas espécies, talvez seja necessário

passar duas vezes em cada linha, uma vez posicionando as mudas de Eucalipto e outra

posicionando as mudas de Acácia.

De qualquer maneira, o entrevistado acredita que a produtividade da operação de plantio

será inferior no consórcio. No caso do plantio manual (com matraca) talvez seja preciso

sinalizar os locais em que serão estabelecidas mudas de Eucalipto e os em que serão

estabelecidas sementes de Acácia. Para ele, os procedimentos de colheita não teriam de

sofrer alterações importantes.

Para uma das empresas de base florestal consultadas, a escassez de mão-de-obra é um

fator limitante a toda e qualquer alteração em seu sistema de cultivo. O representante

entrevistado se referiu explicitamente à proposta de intensificação ecológica com

Acácia, ao abordar a questão: caso a operação do cultivo consorciado exija um aumento

do quadro atual de funcionários, tem-se aí uma desvantagem importante – há dois anos

a empresa não consegue completar seu quadro de funcionários.

4.3.2 Produtividade

O seguinte raciocínio foi apresentado por uma das empresas de base florestal

consultadas. Se o cultivo exclusivo de Eucalipto produz, hoje, 400 m3 madeira por

hectare, no consórcio, caso o Eucalipto atinja a mesma produtividade, se terá, p.ex., 300

m3 / hectare de madeira de Eucalipto. O que representa uma redução da produção por

hectare. A menos, é claro, que a Acácia, tendo a mesma produtividade (m3 /ha), seja

aproveitável para as mesmas finalidades que o eucalipto e com uma eficiência de

aproveitamento (kg de celulose / m3 de Acácia ou kcal de energia / m3 de Acácia)

equivalente.

Dados extraídos de experimentos INTENS&FIX realizados em outra empresa de base

florestal (localizada em Minas Gerais) revelaram que a produtividade florestal é maior,

levando em conta um ciclo de seis anos, no consórcio composto por 25% de Acácia.

Enquanto um plantio de eucalipto, monoespecífico, apresenta um rendimento de 37,4

m3/ha/ano, o consórcio composto em 25% por Acácia atingiu um rendimento de 43,4

m3/ha/ano.

39  

Um silvicultor independente entrevistado, o qual plantou Acácia em Goiás, afirmou que

a espécie registrou, na região, um “bom crescimento”, a uma taxa superior ao do

eucalipto.

Um dos representantes de empresas de base florestal, quem acompanhou os

experimentos INTENS&FIX em Itatinga, disse que “as árvores de Acácia não

cresceram mais do que as de eucalipto”. O entrevistado não acredita que o consórcio

possa gerar a mesma “massa” por hectare (kg/ha).

O eucalipto hoje se encontra, de acordo com o representante de outra empresa de base

florestal, em um estágio avançado de melhoramento genético. O que é importante não

apenas no que tange à produtividade, mas também quanto a outras características, como

a densidade, etc. A acácia vai partir de um patamar inicial, “começar do zero”. Porém,

para isso, é preciso que as empresas e também a universidade e instituições de pesquisa

apostem na acácia.

Cinco dos silvicultores entrevistados (de vinte e sete) têm como pré-condição para levar

o consórcio a cabo a possibilidade de reduzir o emprego de fertilizantes, sem perda do

rendimento (m3/ha) da plantação.

4.3.3 Suprimento de mudas

Três dos vinte e sete silvicultores entrevistados levantaram a questão referente ao

suprimento de mudas de Acácia, colocando-o como condição necessária à realização do

plantio misto.

Um das empresas de base florestal afirmou que a produção de mudas de Acácia pode

demandar a construção de novos viveiros, caso haja interesse em difundir o consórcio

entre seus fomentados. Outra empresa de base florestal também reconhece o custo de

passar a produzir mudas da espécie como relevante.

Quanto a este aspecto, uma terceira empresa de base florestal apontou que seria

necessário adaptar seu viveiro ou “terceirizar”, i.e., comprar mudas de viveiros

particulares. Algo similar ao comentado por uma quarta empresa de base florestal.

40  

4.3.4 Brotação

O representante de uma empresa de base florestal colocou a seguinte questão: “como é a

brotação da Acácia?” Ou seja, quantas plantas por hectare é possível regenerar e qual é

a produtividade após a regeneração?

Segundo ele, caso a rebrota da Acácia tiver um desempenho pior do que o eucalipto, o

cultivo desta espécie não compensa. Isto porque o horizonte que a empresa toma por

base para a amortização do investimento de plantio compreende duas rotações, ou seja,

12 anos.

O diferencial entre custo de implantação e custo de rebrota assume o valor de R$1.400

/ha. Esta, portanto, uma medida para o que se perde conduzindo a implantação após a

primeira rotação.

A produtividade da Acácia teria de ser muito maior para que o cultivo dela em um

sistema com apenas uma rotação (hipótese de que a rebrota da Acácia é pior) registrasse

um custo inferior ao do cultivo de eucalipto ao longo de duas rotações.

Mas, tomando por base os experimentos conduzidos no Horto de Itatinga, o entrevistado

disse que não espera uma produtividade maior no consórcio, pelo contrário.

Esta barreira em potencial tem sua importância prática minimizada pelo fato de que

apenas duas das cinco empresas questionadas neste sentido procedem, em condições

normais (i.e., excetuando-se a crise econômica iniciada em 2008) com a brotação em

proporção relevante de sua área total de cultivo7.

Dúvidas

Três silvicultores (de vinte e sete) trouxeram à tona a possibilidade de, caso o

crescimento da Acácia seja mais lento do que o do Eucalipto, a primeira espécie poder

ter seu desenvolvimento prejudicado. Pode o Eucalipto “abafar” a Acácia?

Um deles - o qual participa do programa desde 1998, somando uma área total de plantio

de 92 ha (121% da média dos entrevistados) - leu a respeito do consórcio eucalipto-                                                            7 Segundo uma das empresas entrevistadas, apesar de o replantio ser mais caro (R$/ha) do que a condução da rebrota, o fato de a colheita mecanizada ser menos compatível com uma floresta de rebrota mais do que compensa o diferencial de custo.

41  

Acácia e não acha que é uma boa ideia. Como a Acácia cresce mais devagar que o

Eucalipto, este a abafará, acredita o entrevistado, com base em sua experiência.

Um dos silvicultores entrevistados colocou a questão quanto a se o plantio misto deve

ser estabelecido alternando-se as mudas de Eucalipto e de Acácia nas entrelinhas ou

plantando-se uma espécie por linha. Esta questão também foi colocada por três

empresas de base florestal e por um prestador do serviço de colheita mecanizada.

Um dos silvicultores fomentados disse que é importante ter certeza quanto ao período

em que a espécie começa a gerar sementes (“sementear”). Ele julga que, quanto mais

cedo isso ocorrer, pior.

Outras dúvidas referentes ao itinerário técnico e, mais precisamente, à estrutura das

árvores de Acácia, podem ser formuladas como perguntas simples, tal como segue:

Terão de ser acrescentados procedimentos ao itinerário técnico? A Acácia gera galhos?

A Acácia cresce “reta” como o eucalipto, apresenta ramos laterais, é mais frondosa do

que o Eucalipto?

Um dos representantes de empresas de base florestal questionou quanto a se já foram

realizadas experiências de clonagem de Acácia.

4.3.5 Performance técnica: colheita

Pôde-se entrevistar, no município de Itatinga, uma empresa cuja atividade consiste na

prestação de serviços de colheita florestal mecanizada e transporte de madeira. Foi

declarado que a Acácia, mesmo sendo anatomicamente diferente do eucalipto (i.e., a

árvore tendo diferenças estruturais), não imporá dificuldades à colheita mecanizada.

Desde que, é claro, se plante de maneira a deixar espaço (nas entrelinhas) para a entrada

das máquinas.

Porém, o entrevistado acredita que haverá desafio para separar as toras de Eucalipto e

de Acácia, uma vez que as máquinas não podem fazer isso. Para que a separação seja

possível, recomenda que sejam plantadas diversas linhas de eucalipto (o suficiente para

atingir uma quantidade equivalente à colhida em uma rodada da colheita) e diversas

linhas de Acácia. Assim, será possível separar as toras de acordo com a espécie a que

pertencem por rodada.

42  

Segundo uma das empresas de base florestal entrevistada, a depender de como for

estruturado o consórcio, a colheita pode se tornar mais difícil. Particularmente se as

mudas de Acácia e de Eucalipto forem intercaladas ao longo das linhas de plantio.

Outra empresa de base florestal colocou que é preciso saber se o consórcio se adéqua às

práticas de cultivo e colheita atuais – ou se o custo de transformar estas, se for o caso, é

proibitivo.

O ex-supervisor de colheita de uma empresa de base florestal afirmou que o fato de a

Acácia embaraçar complica a colheita manual. A colheita mecanizada, por sua vez,

enfrenta o problema de formação de múltiplos fustes. Apenas se for feita a desrama,

selecionando-se apenas um fuste, é possível proceder com a colheita mecanizada.

Um dos representantes de uma empresa de base florestal consultou, quanto ao plantio

misto, os funcionários da empresa diretamente responsáveis pela colheita. Estes

levantaram os pontos descritos nos três parágrafos a seguir.

Supondo que a fábrica exija uma proporção específica, em volume, de biomassa de

Acácia e de Eucalipto (para produzir a celulose), seria preciso planejar a colheita de

maneira a cumprir com esta proporção na alimentação dos caminhões que entregam as

toras na fábrica. Trata-se de uma complicação importante. A qual é magnificada pelo

fato de que há a possibilidade de que a Acácia apresente desenvolvimento variável entre

os talhões, atingindo performance superior em alguns deles e inferior em outros.

Além disso, há outro complicador: alguns plantios foram feitos em curvas de nível.

Neste caso, há linhas “mortas”, ou seja, linhas de mudas que acabam no meio do talhão.

Algo imposto pela topografia do terreno e que já dificulta a colheita dos plantios

monoespecíficos.

A colheita poderia ser organizada de maneira a que, em uma primeira fase, todas as

árvores de Eucalipto seriam extraídas e, em uma segunda fase, seriam então extraídas as

de Acácia. Este tipo de colheita era comum antigamente, antes da mecanização, e é

praticado, mesmo com máquinas, no Rio Grande do Sul.

É possível fazer a colheita mecanizada de plantios mistos, mesmo se for necessário

separar toras de Acácia e de Eucalipto, porém o custo será maior. Atualmente, o custo

de colheita é de R$11/m3 e o entrevistado estima um aumento para R$20/m3.

43  

4.3.6 Performance econômica

O gerente de logística de uma das siderúrgicas integradas a carvão vegetal do Brasil

declarou que é preciso demonstrar que o retorno financeiro do plantio misto Acácia-

Eucalipto é superior ao correntemente adotado cultivo em plantio monoespecífico. Este

é o critério levado em conta por sua empresa ao decidir por alterações no sistema de

cultivo. Ele recomendou a elaboração de modelos teóricos para o fluxo de caixa do

cultivo, considerando algumas possibilidades alternativas de combinação das duas

espécies e cenários de produtividade florestal.

Um dos silvicultores fomentados, o qual tem como principal fonte de renda a produção

de café, afirmou que o plantio misto tem de proporcionar um lucro comparável ao que

obtém com a cultura mencionada. Este é o princípio por ele seguido em seu cultivo de

eucalipto.

Cinco (de vinte e sete) dos silvicultores entrevistados declararam que adotariam o

plantio misto desde que o custo-benefício se mostrasse satisfatório.

4.4 Licenciamento ou aspecto legal

Um silvicultor fomentado, cuja propriedade está localizada no Estado de São Paulo,

assinalou a questão de licenciamento do corte e transporte da Acácia. Disse que a

polícia florestal inspeciona a cadeia da lenha partindo das empresas consumidoras, até

chegar aos agentes que forneceram a lenha consumida.

Três outros silvicultores fomentados, todos eles com propriedades localizadas no Estado

de Minas Gerais, ressaltaram a importância de existir um licenciamento específico para

a Acácia, tanto para o transporte de toras da espécie, como para queimá-la em fornos de

cerâmicas e de outros consumidores de lenha.

Cabe esclarecer que é preciso ter não apenas uma licença para colheita e transporte de

toras, mas também uma licença específica para a queima (ou carbonização, no caso da

produção de carvão vegetal) da mesma. Tal é a lei vigente em Minas Gerais, cuja

fiscalização é responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas e da Polícia

Ambiental. Um detalhe importante está no fato de que as duas licenças mencionadas

44  

estão disponíveis especificamente para o eucalipto, sendo esta espécie discriminada nos

documentos (ou guias).

Seria necessário introduzir modificações não apenas nas guias de colheita, transporte e

de queima ou carbonização, mas também nos procedimentos de licenciamento e

fiscalização para tornar legal a colheita, transporte e processamento da biomassa de

Acácia. Outro ponto que está longe de ser desprezível é o fato de que os agentes

fiscalizadores, policiais, teriam de ser qualificados para estarem aptos à identificação de

toras de Acácia, ou, pelo menos, na distinção desta em relação a toras de espécies

nativas – as quais têm seu corte, transporte e processamento severamente restritos nos

Estados de Minas Gerais e de São Paulo.

4.5 Aspectos ambientais

4.5.1 Resiliência do cultivo

O responsável pelo acompanhamento dos experimentos INTENS&FIX nas áreas da

empresa para a qual trabalha afirmou que a Acácia é muito sensível a ventanias, o que a

quebra quase completa das árvores plantadas em uma testemunha composta apenas com

a espécie, demonstrou. O mesmo não foi observado no plantio consorciado com

Eucalipto, o qual teve, pois, um efeito positivo em tal sentido.

Adicionalmente, declarou que a Acácia se mostrou vulnerável a um tipo específico de

besouro. Mas uma vantagem em que parece menos atrativa a formigas do que o

Eucalipto.

Um dos silvicultores independentes entrevistados possui terras em Goiás, nas quais

plantou Acácia. Todas as árvores foram quebradas por ação de ventanias (perda de

100%).

Dúvidas

Um dos silvicultores fomentados entrevistados, cuja propriedade se localiza no sul de

Minas Gerais, reportou que houve uma geada no ano passado na região e também que

são recorrentes os episódios de chuvas de granizo com vento intenso. Algo corroborado

por mais dois outros fomentados da região Sul de Minas Gerais/Nordeste de São Paulo.

Um deles apontou que o clima é frio, ocorrendo geadas “fortes” de 4 em 4 anos.

Perguntaram, todos os três entrevistados, se a Acácia é resistente a tais eventos.

45  

Outro silvicultor fomentado, localizado na mesma região, perguntou se a Acácia se

adapta a solos com pedregulhos.

4.5.2 “Invasividade”

Um dos silvicultores fomentados julga ter ouvido falar que a Acácia se transformou em

uma praga em Roraima.

A experiência de uma das empresas de base florestal entrevistadas aponta no mesmo

sentido. Observou-se, em cultivos realizados na Bahia, comportamento invasivo para a

Acácia, com esta espécie se estabelecendo em áreas de preservação permanente (APPs).

O representante empresarial entrevistado observou que a Acácia Mangium é uma

“pioneira agressiva”, “não deixa as espécies nativas se formarem”.

O órgão ambiental exigiu da empresa que propusesse algum uso (finalidade) para a

madeira de Acácia mangium, dada a difusão que a espécie acabou, acidentalmente, por

atingir.

Um dos silvicultores fomentados entrevistados perguntou se é fácil erradicar a Acácia,

caso se deseje deixar de cultivá-la.

5 Conclusão

O texto apresenta algumas oportunidades e barreiras para a difusão da modalidade de

cultivo silvicultural proposta pelo projeto INTENS&FIX, bem como dúvidas trazidas à

tona por agentes da cadeia produtiva da madeira.

Se, por um lado, tem-se em vista uma inovação cuja introdução demanda modificações

importantes nos procedimentos adotados por silvicultores e empresas de base florestal,

por outro lado, a avaliação das mudanças recentes narradas por estes agentes não revela

uma história de conformidade. Muito pelo contrário, como se pôde ver, mudanças

relevantes, entre elas a expansão dos plantios por condições de solo para as quais ainda

se têm pouca informação quanto ao desempenho do eucalipto, têm se tornado cada vez

mais frequentes.

Os principais resultados são:

46  

(i) as empresas de base florestal (e outras empresas da cadeia produtiva, como os

prestadores de serviços florestais) são, nas áreas visitadas em campo, as principais

fontes de informação consultadas por silvicultores (independentes ou fomentados);

(ii) A experimentação é uma estratégia importante de acumulação de informação sobre

uma nova prática silvicultural, especialmente quanto à adubação e o espaçamento;

(iii) As empresas de base florestal tem na mecanização e no melhoramento genético os

principais eixos de mudança de práticas;

(iv) A manutenção do IMA tende a se tornar, no futuro próximo, mais importante do

que a procura de soluções para o aumento deste indicador. O que é uma oportunidade

para inovações que venham a contribuir para a resiliência dos plantios.

(v) As percepções quanto ao consorcio podem ser classificadas em quatro grupos

(v.a) Oportunidades, entre as quais se destaca a contribuição para a conservação /

recuperação do solo;

(v.b) desafios, tais como modificações operacionais, investimento no melhoramento

genético da acácia, na divulgação da espécie como matéria-prima e no marketing de

produtos derivados da espécie;

(v.c) Barreiras, que compreendem o desenho operacional correntemente adotado pelas

empresas de base florestal (orientado, majoritariamente, para produtos derivados

estritamente do eucalipto) e o desconhecimento da acácia por parte dos órgãos de

fiscalização florestal;

(v.d) Dúvidas, por exemplo, quanto ao desempenho da acácia e a resistência a eventos

climáticos e pragas.

Além destes pontos, é de especial interesse para o projeto INTENSIFIX a informação de

que as empresas de base florestal entrevistadas declararam não ter no Nitrogênio (i) o

fator limitante para o crescimento de suas plantações e; (ii) o elemento com maior

participação na despesa total em fertilizantes. As possibilidades de economia de

Nitrogênio, a serem avaliadas na segunda fase do projeto (a ser desenvolvida em 2013)

deverão, portanto, levar em conta o papel secundário do elemento. Para fazer frente a

esta limitação, uma alternativa possível é a de incorporar à análise outros serviços

47  

ambientais do consórcio Eucalipto-Acácia (que não a provisão de nitrogênio), como,

por exemplo, os relacionados à conservação do solo.

Uma vez trazidas a conhecimento as percepções dos agentes, o componente

socioeconômico passa à fase de elaboração de modelos para o cultivo misto, procurando

mensurar a performance econômica do mesmo em diferentes especificações técnicas.

Este o objetivo a ser perseguido no ano de 2013.

6 Referências

Bikhchandani, S., Hirshleifer, D., Welch, I. (1992) A Theory of Fads, Fashion, Custom,

and Cultural Change as Informational Cascades. Journal of Political Economy, Vol.

100, No. 5 (Oct., 1992), pp. 992-1026.

Conley, T.G. & Udry, C. R. (2008) Learning About a New Technology: Pineapple in

Ghana. American Economic Review, American Economic Association, vol. 100(1),

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Kaelbling, L. P.,. Littman, M. L., Moore, A.W. (1996). “Reinforcement Learning: A

Survey.” Journal of Artificial Intelligence Research, 4: 237–85.

Rejeb, L., Guessoum, Z., M’Hallah, R. (2005) The exploration-exploitation dilemma for

adaptive agents. Proceedings of the Fifth European Workshop on Adaptive Agents and

Multi-Agent Systems.

Thornton, R. & Thompson. P. (2001) Learning from Experience and Learning from

Others: An Exploration of Learning and Spillovers in Wartime Shipbuilding. The

American Economic Review, Vol. 91, No. 5 (Dec., 2001), pp. 1350-1368.

48  

7 Apêndice: relatórios de entrevista à empresas de base florestal

Apêndice 1: Percepção EF1 quanto ao consórcio Acácia- Eucalipto

Entrevistas realizadas

no dia 03/02/2012,

período da manhã,

leste de Minas Gerais

1 Entrevistado 1: analista florestal, Coordenação de Pesquisa e Desenvolvimento

Florestal, ex-supervisor de colheita manual (parte da entrevista ocorreu nas áreas dos

experimentos com o consórcio).

1)Qual sua opinião sobre a ideia do consórcio?

A empresa está pensando em implementá-lo não em área própria, mas para o fomento.

2)E quanto ao efeito fertilizante, qual sua opinião?

Acho que é possível.

3)As práticas de cultivo empregadas para formar as plantações consorciadas do

experimento são idênticas às adotadas pela empresa ou não?

São idênticas. Mas talvez em plantios em escala comercial (para os fomentados) seja

necessário modificar a adubação.

4) Alguns produtores perguntaram se, caso a Acácia cresça mais devagar que o

Eucalipto, esse último possa abafar a primeira, o que você acha disso?

Isso não acontece, mesmo sendo que a Acácia realmente cresce mais devagar, mas

apenas nos últimos anos. As duas espécies conseguem conviver juntas porque o

eucalipto tem a copa rala.

5) Quais dificuldades os fomentados podem enfrentar para passar a adotar o

consórcio?

O fato de que haverá um custo para que a empresa passe a produzir a muda de Acácia.

Mas, no que tange ao operacional, i.e., à realização dos procedimentos de cultivo, não

haverá problema, é equivalente ao cultivo do eucalipto.

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Porém, há dois agravantes, referentes a características da Acácia.

Esta espécie é muito sensível a ventanias, o que a quebra quase completa das árvores

plantadas em uma testemunha composta apenas de Acácia, demonstrou. O mesmo não

foi observado no plantio consorciado com Eucalipto, este teve, pois, um efeito positivo

em tal sentido.

Outro problema está na formação de múltiplos fustes, a qual é muito maior

comparativamente a plantios monoespecíficos de eucalipto. De novo, este problema foi

mínimo nos plantios consorciados.

6) E quanto à vulnerabilidade à pestes e pragas?

A Acácia se mostrou vulnerável a um tipo específico de besouro. Mas uma vantagem

em que parece menos atrativa à formigas do que o Eucalipto.

6) O que se ganha optando-se pelo consórcio Eucalipto-Acácia, ao invés de plantios

monoespecíficos de Eucalipto?

Não há ganho se o objetivo é a produção de celulose, pois um dado volume de

biomassa, extraído de uma área de consórcio, tende a dar origem a uma menor

quantidade de celulose, comparando com uma área de plantio exclusivo de eucalipto.

Porém, caso haja interesse em biomassa para a produção de energia, há ganho, pois um

hectare plantado com o consórcio, gera um volume maior de biomassa.

Outra vantagem está na possibilidade de recuperar solos degradados, já que a Acácia

deposita um maior volume de serrapilheira no solo do que o Eucalipto.

7) Qual aproveitamento é possível se dar à biomassa de Acácia, na região?

Celulose, caso a empresa se disponha a empregar tal espécie, e carvão vegetal. Acredito

que a venda de toras para serrarias não seja possível, pois a madeira não me parece boa.

Outra finalidade é o abastecimento das caldeiras da fábrica da empresa com lenha.

Carvão vegetal é uma finalidade para qual os fomentados tendem a vender parte

considerável da madeira não aproveitável para a produção de celulose [toras com

diâmetro inferior a 7 cm].

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8)Outros pontos

A Acácia é uma espécie melífera, esta uma vantagem para os produtores fomentados.

Há um fomentado da fazenda de Cajá, próxima ao município de São Geraldo da

Piedade, quem já plantou consorciado com Acácia, o qual está no quarto ano.

2 Entrevistado 2, especialista da área de Solos, Nutrição e Manejo, Coordenação

de Pesquisa e Desenvolvimento Florestal

1)Qual sua opinião sobre a ideia do consórcio?

R: É bem válida, para o fomento florestal, principalmente. Considerando a região baixa,

a qual atinge uma produtividade inferior, o consórcio poderia fornecer nitrogênio e

maior aporte de resíduos florestais [matéria orgânica], algo relevante para a

sustentabilidade produtiva.

O ponto principal é saber se compensa ou não, isso no que tange à produtividade [IMA].

Pelos dados extraídos do experimento conduzido pela equipe CIRAD-ESALQ, a

produtividade é maior, levando em conta um ciclo de seis anos, no consórcio composto

por 25% de Acácia.

O que retiramos disso [quais são as conclusões a que esta evidência nos leva]?

Em primeiro lugar, o consórcio pode ser viável. Pode ser uma boa substituir a fonte de

nitrogênio regularmente empregada, a qual tem como característica o fato de dar origem

a um nitrogênio cujo preço se correlaciona positivamente com o do petróleo. Isso pois a

Petrobrás fornece essa fonte [esse ponto foi também defendido como uma vantagem da

adubação ecológica visada com o consórcio, por um dos técnicos de fomento

entrevistados].

Mas há outra questão. O rendimento da Acácia, caso encaminhada para os digestores

atualmente utilizados na fábrica de celulose da empresa, é consideravelmente menor.

Isso por conta de dois fatores: (i) a conversão de Acácia em celulose exige o emprego

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de uma quantidade maior de reagentes por m3 do que o eucalipto e; (ii) os digestores da

empresa estão projetados para trabalhar com o consumo específico (de reagentes) do

eucalipto. Daí porque o processamento de 1m3 de Acácia daria origem, nas condições

atuais, a uma quantidade de celulose abaixo daquela que poderia ser obtida casos os

digestores fossem aumentados, de maneira a que a otimizar o aproveitamento da Acácia

– atingir a taxa de conversão máxima ou ótima.

[O rendimento das toras de Acácia, processadas em conjunto com toras de eucalipto,

não é apenas inferior ao ótimo (alcançável em digestores projetados para a espécie),

mas, além disso – e esse é o ponto importante – acaba-se por atingir, do processamento

de Acácia e Eucalipto, um rendimento inferior ao que seria obtido de um mesmo

volume de biomassa de Eucalipto.]

Há, potencialmente, uma dupla desvantagem associada ao suprimento da fábrica de

celulose com a produção do consórcio: por um lado, é necessário empregar mais

reagente por m3 de biomassa e, por outro lado, a quantidade de celulose que se pode

retirar de um dado volume de biomassa, é inferior. Comparando-se, é claro, com um

suprimento a partir de plantações exclusivamente compostas por eucalipto.

Essa dupla perda é apenas uma possibilidade a ser adequadamente verificada na prática,

ou confirmada com especialistas da área de produção de celulose.

Quanto a isso, cabe observar que o rendimento da biomassa de Acácia, atingido em

digestores adaptados a tal espécie – o que se denomina rendimento depurado -, tende a

ser maior ao que a biomassa de eucalipto atinge em digestores próprios a esta espécie. A

razão disso está no fato de que a biomassa de Acácia possui fibras mais curtas do que a

de Eucalipto.

2) E quanto ao rendimento (IMA) do consórcio?

Os resultados obtidos pela equipe CIRAD-ESALQ mostram que o consórcio passa no

crivo da produtividade [medida em biomassa]. Enquanto um plantio de eucalipto,

monoespecífico, apresenta um rendimento de 37,4 m3/ha/ano, o consórcio composto em

25% por Acácia atingiu um rendimento de 43,4 m3/ha/ano.

3) E quanto à possibilidade de plantar talhões apenas com Acácia?

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Sozinha, a Acácia é inviável para a empresa. Tanto pelo baixo rendimento, como pelo

fato de que uma participação muito grande da espécie no suprimento da fábrica criaria a

necessidade de ajustar as caldeiras, aumentando-as, de maneira a ajustá-las ao maior

consumo de reagentes.

Para que seja viável para a empresa, a proporção máxima de Acácia em plantios

consorciados não pode ultrapassar 25%.

4) A avaliação da empresa para o consórcio

Para a empresa, promover o consórcio Acácia-Eucalipto entre seus fomentados, é uma

boa opção, desde que a proporção de mudas de Acácia por talhão não ultrapasse 25%.

Isso pelos seguintes motivos: (i) é possível reduzir o emprego de adubo nitrogenado, o

que se reverte em um menor custo de produção, e se adéqua melhor ao menor poder de

investimento [baixo grau de capitalização] dos produtores; (ii) é possível recuperar

[ainda que parcialmente] áreas degradadas, algo relevante nas regiões em que estão

localizados os fomentados da empresa.

Esses dois resultados, caso se comprovem, podem estimular novos produtores a se

engajarem no fomento florestal da empresa.

5) As plantações consorciadas podem ser formadas a partir das mesmas práticas

implementadas pela empresa (ou recomendadas para os fomentados) ou é

necessário fazer modificações?

(Essa resposta contou com contribuições do entrevistado # 1)

Caso sejam plantadas na mesma linha, alternadamente, mudas de Acácia e de Eucalipto,

será possível utilizar os mesmos procedimentos. Porém, em plantios com linhas

compostas por apenas uma espécie, i.e., alternando-se não ao longo das linhas, mas

entre as linhas, haverá dificuldade para a introdução de tratores e máquinas agrícolas em

geral. A aplicação de herbicida e a adubação, por exemplo, são procedimentos que terão

de ser re-programados.

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6) As plantações consorciadas podem ser colhidas por meio dos mesmos

procedimentos empregados nas plantações monoespecíficas ou é necessário fazer

modificações?

Resposta do entrevistado # 1 (ex-supervisor de colheita):

A colheita manual é complicada porque a Acácia embaraça. E a colheita mecanizada

enfrenta o problema de bi[multi]furcação das árvores, i.e., formação de múltiplos fustes.

Apenas se for feita a desrama, selecionando-se apenas um fuste, é possível fazer esse

tipo de colheita.

7) Ainda segundo a colheita é um problema o fato de não ser possível separar toras

de eucalipto e toras de Acácia?

Não, pois a separação apenas se justificaria se existisse uma linha de produção de

celulose específica para a Acácia, algo que foge aos planos da empresa. A ideia é

misturar toras de espécies distintas, encaminhando-as conjuntamente para os digestores.

8) A Acácia pode, realmente, tornar o rendimento do eucalipto mais sustentável?

Não há evidências ainda, pois os experimentos atingiram apenas idade suficiente para

uma colheita. Não foi medido o teor de carbônico orgânico no solo, este o melhor

indicador de sustentabilidade do rendimento.

Não obstante, comprovou-se um aumento do nitrogênio mineral.

Extrapolando o que sabemos com base na teoria, é de se esperar que haja um aumento

do estoque de matéria orgânica sobre o solo no longo prazo. Mas este é um raciocínio

abstrato, sem corroboração empírica, veja-se bem.

9) E quanto ao menor rendimento obtidos em regenerações (rebrota) comparado

com o de plantios?

Não há evidências que permitam comprovar se a queda, observada em colheitas de

rebrota, tende a ser menor em plantios consorciados.

10) Outros pontos

É interessante testar consórcios com outras leguminosas.

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Apêndice 2: E1

Entrevistado 1, gerente de silvicultura e genética

Entrevistado 2, especialista de nutrição arbórea

1 Práticas tecnológicas

Processo de inovação

O processo tem como primeira fase a realização de experimentos, que cobrem todo o

ciclo de manejo.

Na primeira fase, é examinado o desempenho técnico da inovação, i.e., se ela realmente

funciona no sentido previsto e também se traz alguma melhoria. Esta primeira fase é

essencialmente técnica, não compreendendo a avaliação econômica.

Se a inovação passa pela primeira fase, então é iniciada a segunda fase, em que se tem a

análise econômica. Procura-se então determinar se a nova prática pode ser operada a um

custo inferior ao daquela que será substituída – i.e., se a inovação gera redução de custo.

Fontes de informação sobre novas práticas

Não há regra geral para o surgimento de ideias referentes a novas práticas. Muitas

surgem de necessidades identificadas pela empresa, as quais são debatidas em reuniões

gerais anuais. Mas ideias oriundas de outras empresas e da universidade foram adotadas.

O setor florestal tem uma peculiaridade interessante, exatamente a de que a troca de

informação entre empresas é muito comum. O setor industrial é o mais fechado de todos

neste aspecto, enquanto a agronomia, mesmo sendo mais aberta, se mostra menos aberta

do que o setor florestal.

Essa peculiaridade ele atribui à atuação de instituições como o IPEF, desde o início do

setor, e a colaboração com a Universidade. “Foi o que fez o setor sair dos 15 m3/ha/ano

para os 50 m3/ha/ano”. A universidade é e continua sendo importante.

Questões operacionais

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Além disso, o entrevistado observou que “Produzir mais não basta, é preciso ter uma

vantagem operacional”.

Para esclarecer o que entende por “vantagem operacional”, ele deu como exemplo a

questão da mão de obra. Se a inovação funciona tecnicamente (i.e., passa na primeira

fase), mas sua implementação requer a duplicação do quadro de funcionários, ela se

mostra, nas atuais condições, inviável.

Isso pois, atualmente, nos municípios de São Paulo que pertencem à área de influência

da empresa, há dificuldade para encontrar a mão de obra necessária por um preço

adequado. O que resulta da competição com outros usos do solo, como a cana de açúcar

– este uso do solo tem como característica uma demanda por mão-de-obra altamente

sazonal, concentrada em um período do ano em específico, no qual paga um salário

consideravelmente superior àquele que a empresa pode pagar.

Daí porque uma das principais linhas de mudança de prática na empresa é a

mecanização.

O entrevistado se referiu explicitamente à proposta de intensificação ecológica com

Acácia, ao abordar a questão da escassez de mão-de-obra: caso a operação do cultivo

consorciado exija um aumento do quadro atual de funcionários, tem-se aí uma

desvantagem importante – há dois anos a empresa não consegue completar seu quadro

de funcionários.

2 Mudanças recentes e futuro

Determinantes das mudanças de práticas

Uma nova prática, para se mostrar interessante para a empresa (sendo, pois,

implementada), tem de verificar pelo menos um dos três critérios: aumentar a

produtividade, melhorar a qualidade da madeira e reduzir o custo de produção.

Quanto a isso, o entrevistado observou que a consecução desses objetivos deve se dar

dentro dos marcos exigidos pela certificação ambiental, esta uma preocupação constante

da empresa.

Barreiras e fatores limitantes

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As novas práticas têm de se adequar aos determinantes da competitividade da empresa,

de modo a permitir mantê-la. Há, especificamente, neste sentido, o fato da empresa ser

verticalizada: o florestal produz madeira para alimentar a produção um produto

específico de madeira, com características precisas. No caso da empresa é o MDF,

HDF, chapas de fibra e pisos. Com o que quer dizer que uma mudança de prática

silvicultural deve se adequar às condições dentro das quais opera o processamento da

madeira.

Outro fator crucial é a economia de escala: a empresa é grande, precisa explorar

economias de escala. Oportunidades até então exploradas para obter economias de

escala podem ser perdidas caso uma nova espécie ou novo sistema de cultivo forem

introduzidos (isso porque a economia de escala resulta da otimização de diversos

estágios do processo produtivo).

Por exemplo, na colheita, todos os ganhos estão associados a passar rápido pela área,

retirando tudo que seja aproveitável para a produção de madeira.

Uma vez que o consórcio vai redundar na perda de alguns dos fatores de

competitividade, a Acácia precisa mostrar um desempenho melhor do que o do

eucalipto. “Senão o acionista vai reclamar”.

Mudanças recentes

A fábrica de Agudos pertencia, dez anos atrás, a uma empresa denominada

Freudenberg. Produzia-se MDF a partir do Pinus. Porém, a produtividade estava

consideravelmente abaixo do atingido em áreas de cultivo de eucalipto. Enquanto, o

Pinus crescia, em média, a uma taxa de 25-30 m3/ha/ano, esperava-se que o eucalipto

pudesse atingir 50m3/ha/ano – este o rendimento atualmente alcançado na unidade da

empresa em que se localiza o escritório dos entrevistados. A substituição por eucalipto

poderia, portanto, permitir que um mesmo nível de produção fosse atingido em uma

área menor, algo relevante, dado o preço da terra na região.

Porém, a transição para o eucalipto tinha como barreira o fato de que nenhuma empresa

no mundo havia produzido MDF a partir desta espécie. A empresa realizou alguns testes

na fábrica, em que foi demonstrado que seria possível obter um produto de boa

qualidade. Resolveram então converter a fábrica para MDF de eucalipto.

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Com isso, a área plantada com Pinus veio decrescendo nas propriedades que alimentam

a fábrica de Agudos, dando lugar ao eucalipto. Nos próximos anos as árvores de Pinus

terão como única função a de servir como banco de germoplasma (reserva genética).

A empresa começou a operar na década de 1960. Diversas mudanças na silvicultura do

eucalipto aconteceram desde então. Passaram de 25 m3/ha/ano para 50 m3/ha/ano.

Puderam introduzir melhorias nos plantios, alterando o volume, a densidade básica, a

nutrição. Algo que teve como base, entre outras coisas, o aumento da adubação.

Passaram, de 200-300 kg fertilizante/ha para 1.100 kg fertilizante/ha.

Práticas atuais

Atualmente, na empresa, o plantio é conduzido em duas rotações de seis anos cada uma.

E então é feita a reforma.

Tem-se obtido, na segunda rotação, produtividade igual e até maior do que a primeira.

Não retiram resíduos da colheita, deixam na área de plantio, para decompor e gerar

matéria orgânica.

Lenha

Utilizam madeira fina para alimentação energética da caldeira, mas o grosso da madeira

é para fazer chapa. Estão estudando a possibilidade de ter áreas de plantio apenas para

prover lenha, mas por hora o balanço não se mostra favorável. A produção de pellets

parece interessante.

Não há meta para aumentar a proporção do consumo de energia suprido com produção

própria de lenha.

Custo de transporte

As áreas de plantio estão pulverizadas no espaço. Aumenta os custos de administração.

Solos diferentes. As duas maiores áreas foram compradas nos anos 50.

O raio médio a partir das fábricas da empresa é de 69 km.

Futuro

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O entrevistado acredita que é possível aumentar mais ainda o rendimento do eucalipto.

Mas a empresa está se aproximando do nível máximo. A questão, em breve, passará ser

como manter o rendimento.

A empresa quer crescer (ampliar sua produção), mas não necessariamente em São

Paulo. A menos que consigam aumentar a produtividade (e com mecanização, dado que

não é apenas o preço da terra que atua como fator limitante ai, mas o preço da mão-de-

obra também).

3 Intensificação ecológica

Segundo o entrevistado, a pergunta crucial a ser respondida sobre o consórcio, no

âmbito da produção de madeira é: a madeira de Acácia é bem aceita (no mercado)? E

em nossas fábricas (funciona tecnicamente)? “Será que essa madeira vai ter

características similares às do eucalipto?” Quanto a estas três perguntas, comentou:

“hoje não sabemos”.

Atualmente, a empresa está aguardando os resultados dos experimentos para então testar

a madeira na fábrica.

Supondo que as três perguntas sejam respondidas afirmativamente, é preciso saber se o

consórcio se adéqua às práticas de cultivo e colheita atuais – ou se o custo de

transformar estas, se for o caso, é proibitivo.

A empresa acompanhou os experimentos em Itatinga: “as árvores de Acácia não

cresceram mais do que as de eucalipto”. O entrevistado não acredita que o consórcio

possa gerar a mesma “massa” por hectare (kg/ha).

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Sendo assim, para atingir a mesma produção nos plantios consorciados, vai ser

necessário plantar ao longo de uma área maior. A empresa, porém, não prevê adquirir

mais terras.

“É difícil encontrar uma espécie que supere o eucalipto”, disse o entrevistado.

A mudança para o consórcio atinge um número maior de dimensões em que consiste a

atividade da empresa do que, por exemplo, a alteração da prática (itinerário) de

adubação. Isso porque (mas não somente) tem impacto “na fábrica” (processamento).

Impacto sobre a fertilização

O especialista de nutrição da empresa, disse que “só por conta do nitrogênio, a Acácia

não compensaria.” Aplicam 60-90 kg de nitrogênio / hectare (em média 70-80 kg / ha).

Trata-se do total, considerando a adubação de base e as duas (ou três, em algumas áreas)

adubações de cobertura.

O entrevistado brincou, dizendo: “se a Acácia fixasse potássio, seria com certeza uma

grande solução.”

O especialista de nutrição disse que há um limite máximo de nitrogênio que pode ser

aplicado, 100 kg/ha. Acima disso, há risco de acelerar a decomposição da matéria

orgânica, o que resulta em queda da produtividade.

Segundo Jarbas, o nitrogênio não é o fator limitante ao crescimento do eucalipto hoje.

Segundo Raul, dos três elementos que compõe a fórmula de fertilização mais utilizada,

a NPK, o nitrogênio é o elemento menos consumido. O fator limitante para o eucalipto é

o potássio e o boro. O cálcio também é importante.

De acordo com o especialista em nutrição, a formação de matéria orgânica no solo, ou

transferência de carbono da planta para o solo, é um aspecto que não pode ser perdido

de vista. Ele disse que “a Acácia parece formar menos matéria orgânica no solo” do que

o eucalipto, daí consequentemente, a transferência de carbono tende a ser inferior.

Rebrota

O entrevistado colocou a seguinte questão: “como é a brotação da Acácia?” Ou seja,

quantas plantas por hectare é possível regenerar e qual é a produtividade após a

regeneração?

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Segundo ele, caso a rebrota da Acácia tiver um desempenho pior do que o eucalipto, o

cultivo desta espécie não compensa. Isto porque o horizonte que a empresa toma por

base para a amortização do investimento de plantio compreende duas rotações, ou seja,

12 anos.

O diferencial entre custo de implantação e custo de rebrota assume o valor de R$1.400

/ha. Esta, portanto, uma medida para o que se perde conduzindo a implantação após a

primeira rotação.

A produtividade da Acácia teria de ser muito maior para que o cultivo dela em um

sistema com apenas uma rotação (hipótese de que a rebrota da Acácia é pior) registrasse

um custo inferior ao do cultivo de eucalipto ao longo de duas rotações.

Mas, tomando por base os experimentos conduzidos no Horto de Itatinga, o entrevistado

disse que não espera uma produtividade maior no consórcio, pelo contrário.

Experiência com Acácia no Sul

No Rio Grande do Sul a empresa tem plantações de Acácia. Observaram, nestas áreas

que o eucalipto cresce mais rápido, inicialmente, pelo menos, em terras anteriormente

cultivadas com Acácia.

4 Dados gerais

A empresa possui unidades nos estados de SP, MG e RS. A área total de plantio

corresponde a 209.615 hectares, distribuída em 197 fazendas.

Atualmente a empresa tem superávit de madeira (estoque acumulado, produz mais do

que vende), mas estão colocando o estoque no mercado.

Produção anual

MDF e HDF: 1,5 Mm3

MDP: 1,8 Mm3

Chapa dura de fibra: 220 mil toneladas M

Piso: 11Mm²

Consumo de madeira

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A capacidade de produção (instalada) de madeira é de 7Mm3 /ano.

Custos e preços

A despesa em plantio e em manutenção totaliza R$4.000,00-R$6.000,00 /ha.

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Apêndice 3: E2

Cargo do entrevistado: gerente de sustentabilidade.

Entrevista realizada em 23/08/2012

1 Práticas tecnológicas

Processo de inovação

O manejo florestal pode ser influenciado por decisões tomadas em diversas áreas (ou

departamentos) em que a empresa se organiza.

O centro de tecnologia tanto produz como prospecta novas ideias. As duas fontes

principais de ideias são oportunidades ou necessidades identificadas em campo (ideias

vindas do interior da empresa) e a pesquisa científica (ideias exteriores).

Inovações são introduzidas por duas razões: aumento de produtividade e redução de

custo.

As três áreas de atuação do centro de tecnologia são: (i) melhoramento genético

(biotecnologia); (ii) manejo florestal (espaçamento, fertilização) e; (iii) proteção

florestal ou medidas fitossanitárias. O centro é composto por cerca de 20 profissionais

com título de mestrado ou doutorado.

O centro de tecnologia, assim que identifica uma nova ideia, é responsável pela

realização de experimentos para testá-la. Sendo comprovada a performance, a ideia é

submetida ao microplanejamento e, a partir daí, a implementação passa a depender de

procedimentos burocráticos.

O processo de colocação em prática de uma nova ideia é composto por três estágios: (i)

teste, (ii) aprovação, e (iii) implantação (em escala piloto ou operacional, a depender

dos experimentos realizados no primeiro estágio).

Este processo leva mais ou menos tempo a depender da complexidade da mudança

implicada: pode se tratar de meses ou de décadas.

Um novo inseticida, por exemplo, caso identificado hoje já pode estar sendo aplicado no

campo amanhã. A mudança de espaçamento também é rápida (mas não se trata de algo

64  

que tem sido alterado recentemente e nem tende a ser, pois já se tem conhecimento da

área que uma árvore precisa para crescer satisfatoriamente). Porém mudanças como a

introdução de um novo clone de eucalipto ou uma nova espécie não levam menos de

uma década para se concretizarem.

Fontes de informação

O meio acadêmico, ou a pesquisa científica, é a principal fonte externa (à empresa) de

novas ideias. Algo que decorre da tradição segundo a qual o setor florestal se

estabeleceu no Brasil, de cooperação entre universidade e setor privado. Citou o IPEF e

o CIF. Empresas de consultoria são também uma fonte relevante de informação, mas

secundária.

2 Mudanças recentes e futuro

Práticas atuais

A densidade de plantio praticada pela empresa corresponde a 1.100 ou 1.200 árvores

por hectare.

O plantio em “mosaico”, i.e., alternando-se áreas de eucalipto com áreas de espécies

nativas, tem mantido pragas e doenças afastadas, de modo que problemas fitossanitários

têm se mostrado pouco recorrentes recentemente.

Ao longo do tempo a empresa têm reduzido a quantidade de herbicida aplicada.

A tendência é de ocupar, cada vez mais, solos de pior qualidade, deixando os de melhor

qualidade para a agricultura.

O IMA médio da empresa está entre 45 m3/ha/ano e 50 m3/ha/ano.

Realiza-se apenas uma rotação de sete anos de duração. Apesar de o replantio ser mais

caro (R$/ha) do que a condução da rebrota, o fato de a colheita mecanizada ser menos

65  

compatível com uma floresta de rebrota mais do que compensa o diferencial de custo.

Isso pois, os brotos acabam por não seguir as linhas de plantio, o que causa perdas,

reduzindo o coeficiente m3 colhido / m3 na floresta em pé.

Porém, excepcionalmente por conta da crise econômica mundial, e, mais precisamente,

dos impactos desta sobre a atividade da empresa, passaram a realizar a rebrota em 30%

da área de plantio.

Não se procede a destoca ou rebaixamento de tocos. Aplica-se herbicida, deixando-os

decompor e depois são extraídos e deixados no campo para formar matéria orgânica.

Lenha

As toras de madeira extraídas são destinadas em 95% para a produção de celulose, o

restante é queimado nas caldeiras como fonte de energia. Além disso, um dos

subprodutos da produção de celulose, o licor negro é também empregado como fonte de

energia. Estas duas fontes suprem proporção relevante do consumo energético das

fábricas da empresa.

Em algumas fábricas a casca do eucalipto é utilizada como fonte adicional de energia. O

que não recomendado pela empresa (e está, portanto, sendo reduzido), dado que tal

material é rico em nutrientes (devendo, portanto, ser deixado no solo).

Fatores que permitiram elevar o IMA (na história da empresa)

(i) melhoramento genético, este o principal fator “alavancador” de produtividade;

(ii) melhorias no manejo florestal, principalmente nutrição e espaçamento.

Quanto a este segundo fator, o entrevistado disse que, antigamente, se tinha um

conhecimento limitado acerca da ciclagem de nutrientes, de seu funcionamento. Não se

sabia, por exemplo, que o Boro é um elemento importante.

As práticas de adubação, neste período inicial, eram provenientes da agricultura.

Atualmente, a análise de solo é crucial para determinar o itinerário de adubação. Não se

aplica fertilizantes sem ter, antes, certeza de que isso vai ter efeito positivo.

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A empresa dispõe de material genético que se adapta a condições edafoclimáticas

peculiares, como regiões mais secas e mais frias.

Futuro

O patamar de produtividade (IMA) atingido é alto. Para superá-lo, apenas com

transgênicos. Mas o entrevistado acredita que a melhoria genética pode render maiore

benefício caso seja voltada para o aumento da massa de celulose extraída de um metro

cúbico de madeira, ou, o que é equivalente, ampliar a quantidade de celulose latente em

um hectare de plantio.

A empresa tem como meta expandir sua produção de celulose. Provavelmente uma das

fábricas será ampliada ou será adquirida mais uma fábrica. Para sustentar este aumento,

a área de plantio deverá ser expandida exclusivamente através do fomento florestal. Não

há interesse em aumentar a extensão das terras próprias de cultivo.

Mudanças recentes

O cultivo das áreas da empresa é realizado com base em instruções precisas, divulgadas

para o pessoal operacional em “books” (livretos). Estas instruções não são rígidas,

podendo mudar, caso a empresa decida por introduzir alguma modificação operacional

(adubação, espaçamento,etc).

Também influenciam as práticas de manejo florestal as decisões tomadas no centro de

sustentabilidade da empresa (relação com o meio ambiente e com comunidades),

alterações na legislação ambiental/florestal. Dois focos recentes de modificações:

monitoramento da fauna em áreas de cultivo e manejo (economia) da água.

A área social da empresa, recentemente, tem sofrido algumas mudanças no sentido de

criar relações mais positivas com as comunidades (quilombolas, indígenas e

movimentos pela terra). Algo que têm tido influência relevante nas práticas de manejo,

dada a magnitude do desafio: a empresa atua em cerca de 300 municípios e em todos os

biomas brasileiros, com exceção do amazônico.

67  

O entrevistado também mencionou as políticas públicas, particularmente o programa do

governo estadual de São Paulo, “Melhor Caminho”, como fatores que afetam as práticas

de manejo.

Fomento

A concorrência que enfrentam no fomento não é com outras empresas (disputa por

fomentados), mas sim com a agricultura.

3 Intensificação ecológica

Experiência com sistemas agroflorestais

A empresa tem experiência com sistemas agroflorestais no Rio Grande do Sul. Os

últimos surgiram de demandas das comunidades localizadas no entorno da fábrica e das

áreas de plantio da empresa, algumas delas contempladas com contratos de fomento

florestal, firmados pela empresa. “Para os pequenos produtores, interessam os plantios

mistos”.

No RS, a empresa visava, quando iniciou suas atividades na região, manter 70% da área

de plantio em fomento florestal e o restante em áreas próprias. O que foi cumprido.

Atualmente, a empresa possui 30.000 hectares de sistemas agroflorestais (eucalipto

consorciado com culturas de alimentação básica, como milho, arroz, feijão, etc.),

distribuídos da seguinte maneira: 10.000 hectares estabelecidos no RS e o restante em

três Estados, Mato Grosso, Espírito Santo e Bahia. Uma proporção muito baixa se

encontra em São Paulo.

Experiência com consórcio Acácia Negra-Eucalipto

Já havia a “cultura” de plantar Acácia Negra antes da chegada da empresa. E isto porque

a empresa de celulose RioCel, adquirida pela empresa E2, empregava esta espécie para

aumentar a densidade do mix de madeira com que alimentava sua fábrica. As áreas de

plantio da RioCel eram compostas inicialmente apenas pela espécie Eucaliptus Grandis

spp., de baixa densidade.

68  

Outra força que contribui para a difusão do cultivo de acácia foi a importância regional

do segmento de couro, o qual tem como um de seus principais insumos o tanino

obtenível do processamento de cascas de eucalipto e acácia.

E um terceiro fator permissivo foi o fato de que os solos da região são deficitários em

N.

De tal sorte, a experiência prévia, bem como a possibilidade de destinar a acácia para

duas finalidades, a produção de celulose e a produção de tanino o que incentivou os

produtores , e também o efeito positivo sobre a fertilidade do solo, se mostraram

condições adequadas à difusão do plantio consorciado de acácia e eucalipto na região.

O que foi feito com base em contratos de fomento florestal.

O projeto teve sucesso: a partir de mensurações realizadas pela própria empresa pôde-se

comprovar que ambas as espécies atingiam maior taxa de crescimento quando

consorciadas, comparativamente aos plantios puros. A empresa suspendeu o projeto

assim que a decisão de construir uma fábrica no Rio Grande do Sul foi revista.

Experiência com acácia mangium

A empresa cultivou acácia mangium na Bahia. Observaram a espécie se tornando

invasiva, chegando inclusive a se estabelecer em áreas de preservação permanente

(APPs). Segundo o entrevistado a acácia mangium é uma “pioneira agressiva”, “não

deixa as espécies nativas se formarem”.

O órgão ambiental exigiu da empresa que propusesse algum uso (finalidade) para a

madeira de acácia mangium, dada a difusão que a espécie acabou, acidentalmente, por

atingir. A empresa ainda não pôde resolver este problema.

A espécie, apesar da possibilidade de se tornar invasiva, apresenta algumas vantagens,

como o crescimento “super-rápido”.

Interesse no consórcio eucalipto-acácia

O entrevistado acredita que, nos próximos 50 anos, “nada vai substituir o eucalipto”.

Nenhuma outra espécie poderá atingir performance comparável a do eucalipto.

69  

Para que seja introduzida a acácia - supondo que haja interesse - a indústria (processo

fabril) tem de estar preparada. Trata-se de uma mudança “grande demais”.

Porém, a empresa precisa enxergar uma vantagem no consórcio acácia-eucalipto. O

principal entrave à difusão desta proposta está na ausência de uma finalidade, de um

aproveitamento específico. Ou seja, o entrevistado não vê um benefício que justifique o

esforço.

Quanto a isso, observou que, no caso da experiência com acácia negra no RS, havia

duas finalidades, o aumento da densidade do mix de biomassa utilizado pela antiga

RioCel e a venda para os produtores de tanino.

A possibilidade de empregar a acácia para produzir lenha não interessa à empresa. E

isso mesmo no caso em que esta espécie possua um maior poder calorífico, i.e., caso seu

rendimento for maior do que o do eucalipto. “Não compensa manter uma floresta

apenas para a produção de lenha.”

Economia de adubo

O K é o nutriente-fator limitante e também responde pela maior proporção da despesa

em fertilizantes (até porque algumas substâncias, como o calcário, são aplicadas para

ativar o K). O N é importante apenas no início do plantio: “nos primeiros meses, o N

tem de estar lá”.

Produção de celulose

O caso da antiga RioCel, em que se produzia celulose a partir de um mix de biomassa

de eucalipto e de acácia negra, a fábrica possuía equipamentos antigos, cuja regulagem

era manual. De modo que havia margem de manobra para ajustar o processo produtivo a

variações nas características da biomassa nele introduzida.

Porém, as fábricas da empresa são, atualmente, automatizadas, de modo que a margem

para adequar o processo a variações nas características da biomassa é baixa.

70  

Barreiras operacionais

O viveiro teria de ser modificado, para que seja possível cultivar a acácia. Isto de modo

a manter o suprimento de mudas (e sementes, no caso) alinhado ao cultivo.

O plantio, provavelmente, vai gastar o dobro de homens-hora, estima o entrevistado. E

isso por conta do fato de que será necessário cumprir com uma distribuição precisa para

as mudas (ou sementes) de duas espécies, alternando na entrelinha ou ao longo das

linhas. Também com o plantio mecanizado será preciso duplicar o número de

operações: em plantações puras, os tratores fazem três ou quatro linhas de apenas uma

vez. Porém, com duas espécies, talvez seja necessário passar duas vezes em cada linha,

uma vez posicionando as mudas de eucalipto e outra posicionando as mudas de acácia.

De qualquer maneira, o entrevistado acredita que a produtividade da operação de plantio

será inferior no consórcio. No caso do plantio manual (com matraca) talvez seja preciso

sinalizar os locais em que serão estabelecidas mudas de eucalipto e os em que serão

estabelecidas sementes de acácia.

Para ele, os procedimentos de colheita não teriam de sofrer alterações importantes.

Mesmo com todas essas barreiras, o entrevistado acredita que o manejo possa ser

ajustado ao plantio consorciado. “Este não é o problema”. O maior entrave, reiterou,

está na inexistência de uma finalidade específica.

71  

Apêndice 4: EF2

Cargo do entrevistado: pesquisador florestal

Entrevista realizada em 22/08/2012

1 Práticas tecnológicas

Processo de inovação

Vamos imaginar uma prática grande, i.e., cuja implementação pressuponha a alteração

de um número importante de procedimentos pertencentes a diversas dimensões da

atividade da empresa. O processo de introdução desta nova prática consiste em diversas

etapas, sendo iniciado na escala experimental. Esta fase dura em média 5 anos.

As novas ideias surgem de duas fontes principais: (i) universidade e, em termos mais

gerais, pesquisa científica, especialmente das redes de pesquisa do IPEF e, mais

recentemente da cooperação com a Universidade da Carolina do Norte (EUA); (ii)

funcionários da empresa que lidam diretamente com o cultivo, a colheita e operações do

processo produtivo em geral (mão-de-obra operacional).

Uma vez identificada uma boa ideia, esta é ranqueada, de acordo com cinco critérios,

por um grupo formado por representantes de diversos departamentos da empresa

(basicamente envolvendo as áreas de pesquisa e operacional). Este ranqueamento visa

sobretudo estabelecer a viabilidade da inovação, levando em conta a limitação dos

recursos (financeiros e humanos) detidos pela empresa. São estabelecidas pontuações

para cada um dos cinco quesitos a seguir:

(i) viabilidade técnica;

(ii) viabilidade econômica;

(iii) sustentabilidade (ambiental e social);

(iv) adequação ao marco jurídico e a possíveis alterações do mesmo;

(v) alinhamento com a estratégia da empresa (objetivos, missão, etc.)

Além disso, a ideia ou inovação, ou, mais apropriadamente denominada “projeto”, é

classificada de acordo com o número de procedimentos que terão de ser alterados para

introduzi-la: se forem poucos, ela é classificada como “alteração operacional”, mas, no

72  

caso em que as alterações demandem decisões que estão além da esfera operacional, um

procedimento de experimentação terá de ser acionado; mas isso, é claro, se a ideia

atingir uma posição importante no ranque.

Sendo este o caso, passam a ser conduzidos experimentos para testar sua performance.

Estes experimentos são realizados em “escala experimental”, ou seja, áreas

consideravelmente menores do que as utilizadas pela empresa para o cultivo.

A próxima fase consiste no teste do projeto em escala semi-operacional. E, havendo

sucesso, o projeto passa a área comercial da empresa. E daí a decisão de implementá-lo

cabe à diretoria administrativa.

O entrevistado apresentou alguns exemplos interessantes para como este processo

funciona na prática. O primeiro deles diz respeito à mudança recém-realizada quanto ao

espaçamento, o qual foi alterado de 3 m x 3m para 2 m x 2 m. Trata-se de uma mudança

cuja implementação demandou a realização de experimentos nas duas escalas

mencionadas, sendo, portanto, uma modificação que exigiu mudanças em diversos

aspectos da atividade da empresa.

Os experimentos que deram base a esta mudança recente foram iniciados no ano de

2000 e concluídos em 2011. De modo que o período completo de teste da ideia foi de 11

anos. Considerando-se também o período dentro do qual os resultados dos experimentos

foram avaliados pela diretoria para, finalmente, decidir-se pela implementação, tem-se

aproximadamente 12 anos (dado que o espaçamento foi alterado no presente mês,

Agosto de 2012).

Como disse o entrevistado, diversas alterações tiveram (e terão) de ser feitas: por

exemplo, será necessário contratar mais funcionários na área de cultivo e colheita, o

viveiro terá de ser aumentado (já que o número de mudas plantadas por hectare

aumentou), as quantidades de insumos aplicadas por hectare também terão de ser

revistas (p.ex., fertilizantes).

Segundo o entrevistado, “não leva muito menos do que 10 anos” para concluir o

processo de colocação em prática de uma nova ideia.

Mas isso, no caso de se tratar de algo que requer alterações em diversas dimensões da

atividade da empresa. Existe um procedimento mais rápido de aprovação de uma nova

73  

ideia, mas este é apenas acionado para ideias que (i) envolvem poucas alterações

operacionais e; (ii) se mostram excepcionalmente adequadas a situação enfrentada pela

empresa.

Um exemplo de uma ideia que verificou o primeiro critério é a de reduzir o número de

adubações, sugerida por pesquisa científica realizada pela equipe CIRAD-ESALQ. A

pesquisa forneceu o embasamento teórico e o departamento de pesquisa realizou a

análise de viabilidade econômica. O tempo completo para colocar em prática a ideia foi

de dois meses.

Para o segundo critério, que é raramente utilizado (pois o procedimento padrão é o de

realizar experimentos e análise econômica) o entrevistado deu como exemplo o

aumento da área em que era conduzida a rebrota (segunda rotação). O que ocorreu em

2009, quando os efeitos da crise econômica se fizeram sentir sobre a empresa, e o

recurso financeiro se tornou mais escasso. Isso pois a rebrota demanda uma despesa

inferior a do replantio.

A rebrota passou a ser realizada em 60% da área, enquanto, anteriormente, cobria

apenas 10%. Foi necessário, para isso, reunir conhecimento sobre a condução da

brotação, o qual a empresa não possuía. Então consultaram a universidade, a pesquisa e

desenvolveram (o departamento de pesquisa) um modelo com base no qual aumentaram

a brotação.

É interessante observar que o departamento de pesquisa, para todas as novas ideias,

precisa reunir evidências suficientes para convencer a diretoria operacional.

Fontes de informação sobre novas práticas

A troca de informação entre empresas do setor é muito comum. Apenas informações

estratégicas, quanto a aspectos econômicos e de marketing são mantidas em segredo.

Mas, “da área florestal, não se esconde nada”. Com exceção de informações sobre o

material genético.

74  

2 Mudanças recentes e futuro

Práticas atuais

Mesmo tendo aumentado a proporção da área em que é conduzida a rebrota, logo se

voltou à situação anterior. E isso mesmo sendo o replantio mais caro do que a condução

da rebrota: enquanto o primeiro custa R$5.000,00 /ha, a segunda custa entre R$2.500,00

e R$3.000,00. Esta economia é, contudo, mais do que compensada pelos seguintes

fatores:

(i) parte considerável da área de plantio contém um material genético “ultrapassado” e

de baixa produtividade, daí o interesse em, através do replantio, substituí-lo; (ii) a

colheita mecanizada de árvores de rebrota é mais difícil do que a colheita de áreas

replantadas, de modo que a eficiência da colheita mecanizada é inferior em talhões em

que a rebrota foi conduzida e; (iii) a produtividade florestal (m3 biomassa da floresta em

pé / hectare) é inferior na área de rebrota: em áreas de solo arenoso, a perda,

comparando primeira e segunda rotações, chega a 30%, enquanto que, em melhores

condições de solo, tem-se 10%. A perda média, na área da empresa, é de 20%.

As razões que levam a empresa a se interessar por uma mudança são duas: (i) uma

aplicação operacional ou em produto e; (ii) redução de custo.

A rotação tem duração de 6-7 anos, e a rebrota é atualmente conduzida em apenas 20%

da área.

O IMA médio (considerando toda a área de plantio) é de 42 m3/ha/ano, para uma

densidade (base seca) de 0,5 toneladas / m3.

Fatores que permitiram elevar o IMA (na história da empresa)

(1) Transição para o cultivo mínimo (abandono das queimadas), com “preparo

confinado no sulco” com subsolagem. Esta era apenas superficial anteriormente. Essas

mudanças aconteceram em 1993;

(2) Aumento da fertilização: a quantidade de adubo colocada por hectare passou de 30

kg / ha de NPK para 300 kg / ha de NPK. Além disso, passaram a introduzir fórmulas

com micronutrientes (B, Ca, etc) e a calagem;

(3) Controle de plantas daninhas com herbicida, iniciado em 1992-1993;

75  

(4) Controle de qualidade, compreendendo padronização dos procedimentos, redução do

“erro humano”, uma mudança que ocorreu 10 anos atrás. Esta diz respeito tanto aos

insumos como aos equipamentos (como exemplo, um dos operadores de trator disse ao

entrevistado que, 10 anos atrás, a máquina era regulada apenas uma vez por dia);

(5) Clonagem.

A mecanização é uma transformação, que também vem avançando progressivamente

nos últimos 10 anos, mas que tem sobretudo papel de dar base às cinco mudanças

referidas para que elas possam se reverter em aumento da produtividade.

Futuro

Apesar de acreditar que é possível aumentar o IMA, o entrevistado defende que é mais

importante se preocupar em manter o nível já atingido (42 m3/há/ano). Há espaço para

aumentar se for considerada a possibilidade de substituição de material genético antigo,

de baixo desempenho, por material de maior produtividade.

Acredita que o IMA brasileiro pode ser elevado para 45 m3/ha/ano chegando a, no

máximo, 50 m3/ha/ano.

A questão da manutenção da produtividade é crucial atualmente por conta de eventos

climáticos (como ventanias) e também problemas fitossanitários (pragas e doenças).

A empresa não tem planos de instalar fábricas e áreas de plantio em outras unidades da

federação, pelo menos até onde vai o conhecimento do entrevistado. Por enquanto

possui uma fazenda (300 hectares) dedicada exclusivamente à realização de

experimentos, localizada no estado do Tocantins (região Norte).

A compra de novas terras nas regiões em que a empresa já atua (São Paulo e Sul de

Minas Gerais) também não está prevista: na verdade, tem-se por meta aumentar o

suprimento de madeira com base na expansão dos plantios fomentados. É desta maneira

que a empresa vai sustentar o novo digestor.

Porém, como o contrato de fomento não tem uma cláusula que garante a venda, para a

empresa, da madeira produzida no âmbito deste acordo, talvez seja necessário, imagina

o entrevistado, adquirir madeira de produtores independentes.

76  

3 Intensificação ecológica

O plantio misto tem como objetivo fundamental o enriquecimento do solo, recuperação

de solos degradados, i.e., conservação do solo.

A Acácia não apresentou um desenvolvimento satisfatório na área da empresa. Estão

investigando os motivos e ainda não têm um resultado claro.

O caminho para as plantações mistas está encontrar um uso ótimo, uma aplicação

operacional ou um produto final baseado em biomassa de Acácia que tenha grande

aceitação no mercado. Isso para reduzir o período de aprovação, dentro da empresa.

Lenha como oportunidade

O entrevistado aposta no aproveitamento dos plantios mistos acácia-eucalipto como

fonte de energia para as caldeiras. Acredita que podem reter maior quantidade de

energia por hectare do que os plantios monoculturais. Algo a ser comprovado por meio

do cálculo do balanço energético dos plantios.

O aproveitamento para lenha tem vantagens em relação ao aproveitamento para

celulose, um deles sendo que a colheita não teria de ser ajustada de modo a cumprir com

uma proporção fixa em volume de acácia e eucalipto. O que importa é o poder

calorífico, não havendo grande diferença entre as duas espécies, a colheita não terá de

ser alterada.

A empresa tem como meta aumentar a proporção do consumo energético suprida com a

queima de lenha. Na fábrica de Mogi Guaçú, 95% da energia consumida vêm desta

fonte, não há margem para aumentar a proporção da lenha. Porém, na fábrica localizada

no município de Luiz Antônio (microrregião de Ribeirão Preto), a proporção da lenha é

de 70%, há, pois, espaço para aumentar o consumo de lenha.

Além disso, o consumo de lenha como um todo vai aumentar por conta da operação do

novo digestor (caldeira) que acaba de ser instalado.

A tendência no Brasil é de ampliação das fontes renováveis de energia, tal como a lenha

de plantações. Ele vê esta tendência como uma oportunidade para as plantações mistas.

Deu como exemplo a fábrica da qual a empresa adquire adubo, a qual abandonou fontes

77  

fósseis pela lenha. E acredita que o mesmo vai acontecer com outros segmentos, como

os engenhos processadores de cana-de-açúcar. E, adicionalmente, há a possibilidade de

produção de etanol lignocelulósico.

Produção de celulose

Ao conversar com o pessoal da fábrica (de celulose), o entrevistado chegou à conclusão

de que não a empresa não dispõe de tecnologia para produzir celulose a partir de uma

mistura de eucalipto e acácia. O processo está atualmente configurado para o uso

exclusivo de eucalipto. Não há margem para ajustes que permitam introduzir outra

espécie como insumo.

“A estrutura não está preparada”, disse o entrevistado. O que não deve ser entendido

como se fosse necessário trocar o equipamento, não é, segundo o entrevistado.

Outra barreira diz respeito ao descascamento das toras: uma vez que as toras de acácia

têm formato diferente, será preciso ajustar o procedimento de descascamento.

A qualidade do papel de acácia é ainda desconhecida.

Marketing

Outro aspecto relevante diz respeito à aceitação pelo mercado de um papel produzido

com acácia. A empresa possui uma linha especial de papel, produzido com “menos

branqueamento” e daí, menos reagentes químicos, mas que até então não pôde ter uma

absorção de mercado comparável às outras linhas mais intensivas em insumos químicos.

“Não conseguimos vender”.

Mesmo, portanto, que o papel de acácia se mostra técnica, economicamente e até

mesmo ambientalmente superior ao papel de plantações monoespecíficas de eucalipto,

pode haver dificuldade para convencer os consumidores a compra-lo.

Colheita

78  

Supondo que a fábrica exija uma proporção específica, em volume, de biomassa de

acácia e de eucalipto (para produzir a celulose), seria preciso planejar a colheita de

maneira a cumprir com esta proporção na alimentação dos caminhões que entregam as

toras na fábrica. Trata-se de uma complicação importante. A qual é magnificada pelo

fato de que há a possibilidade de que a acácia apresente desenvolvimento variável entre

os talhões, atingindo performance superior em alguns deles e inferior em outros.

Além disso, há outro complicador: alguns plantios foram feitos em curvas de nível.

Neste caso, há linhas “mortas”, ou seja, linhas de mudas que acabam no meio do talhão.

Algo imposto pela topografia do terreno e que já dificulta a colheita dos plantios

monoespecíficos.

A colheita poderia ser organizada de maneira a que, em uma primeira fase, todas as

árvores de eucalipto seriam extraídas e, em uma segunda fase, seriam então extraídas as

de acácia. Este tipo de colheita era comum antigamente, antes da mecanização, e é

praticado, mesmo com máquinas, no Rio Grande do Sul.

É possível fazer a colheita mecanizada de plantios mistos, mesmo se for necessário

separar toras de acácia e de eucalipto, porém o custo será maior. Atualmente, o custo de

colheita é de R$11/m3 e ele estima um aumento para R$20/m3.

Viveiro

Caso a empresa decida implementar o consórcio acácia-eucalipto em escala operacional,

necessitará de dispor de um suprimento de sementes (ou mudas) de acácia. Seria, para

isso, necessário adaptar o viveiro. Seria possível terceirizar, i.e., comprar mudas de

viveiros particulares. Assim como no caso da colheita, tem-se algo que pode ser feito na

prática, mas, porém, a um custo superior (neste caso, porém, um custo inicial, fixo).

Melhoramento genético

O eucalipto hoje se encontra em um estágio avançado de melhoramento genético. O que

é importante não apenas no que tange à produtividade, mas também quanto a outras

características, como a densidade, etc. A acácia vai partir de um patamar inicial,

“começar do zero”.

Porém, para isso, é preciso que as empresas e também a universidade e instituições de

pesquisa apostem na acácia.

79  

O entrevistado colocou a dúvida “não sei é feita a clonagem da acácia”.

Economia de adubo

A despesa em nitrogênio é baixa, aplica-se de 50-60 kg por hectare. Não se trata do

nutriente que responde pela maior proporção da despesa em fertilizantes: são colocados

170 kg de K por hectare e 70-80 de P.

O entrevistado estima que 1% da despesa total do cultivo corresponde ao N (50 kg/ha,

R$1,00/kg N, em uma despesa total de R$5.000,00).

Recomendação para a análise econômica

O entrevistado recomendou que utilizemos a abordagem do custo evitado. O plantio

misto tem como vantagem a conservação do solo, o que evita perdas de produtividade

associadas à ao desgaste do solo. E recomendou diferenciar solos desgastados e

arenosos dos demais, incorporando um percentual de perda de produtividade específico

para cada um desses dois tipos de solo.

4 Dados gerais

Consumo de madeira: 3 Mm3/ano

Produção: 800 mil ton de papel de imprimir e escrever / ano.

As fábricas do Estado de São Paulo são verticalmente integradas, produzindo papel a

partir de celulose auto-suprida. Há, porém, uma fábrica no Mato Grosso que produz

papel com celulose adquirida de terceiros.

Preço

O preço da madeira colocada na porta de fábrica é de R$80/m3.

80  

Apêndice 5: E3

Cargo dos entrevistados: técnicos de fomento florestal

1 Práticas tecnológicas

Processo de inovação

O processo de inovação é iniciado no departamento de pesquisa, o qual realiza os

experimentos necessários para comprovar a eficácia técnica de novas práticas. O

entrevistado, ao responder, deu como exemplo a introdução de novas práticas de

adubação, as quais têm de ser aprovadas pelo especialista da empresa.

Fontes de informação sobre novas práticas

A empresa mantém parcerias com a Universidade para o desenvolvimento e teste

(experimentos) de novas práticas. Com a UNESP, a colaboração se dirige ao tópico de

doenças e pragas às quais o eucalipto é vulnerável. Já, com os departamentos de

ciências florestais da ESALQ e da UFV, o foca-se nos tópicos de material genético e

adubação. O Horto de Itatinga (estação experimental da ESALQ) também é importante

fonte de colaboração.

2 Mudanças recentes e futuro

Determinantes

Novas práticas são introduzidas com o objetivo de reduzir o custo de produção ou

agregar valor ao produto final (celulose e papel).

Mudanças recentes

Uma transformação técnica relevante, em desenvolvimento nos últimos três anos, foi o

estabelecimento progressivo da silvicultura de precisão, a qual se caracteriza pela

mensuração precisa dos insumos e da produtividade. O que compreendeu melhoria da

qualidade dos clones, alterações nas práticas de adubação. Georreferenciamento de

parcelas e automatização são outras frentes de mudança de práticas avançadas pela

empresa. Tudo isso visa aumentar o controle sobre o processo produtivo.

81  

A mecanização da colheita e de algumas tarefas do cultivo (preparo do solo) também

vem sendo desenvolvida, com maior avanço na primeira, em que a mecanização se

estende por quase todo o processo.

Um dos principais determinantes da mecanização é a escassez de mão-de-obra. “Os

jovens não querem trabalhar no campo.”

Mudanças fertilização

É uma política da empresa utilizar sempre a fonte de nutriente que registra menor preço.

Para isso, assim que aumenta o preço de um fertilizante, o qual possui uma fórmula

(teores de nutrientes) específica, o especialista em nutrição da empresa recomenda a

substituição por fertilizantes equivalentes em termos de teores de nutrientes. Algo que

faz com que as práticas de adubação respondam aos preços de mercado.

Práticas atuais

Os fertilizantes aplicados variam com as condições de solo, de acordo com o apontado

pela análise do solo. O mesmo vale para a aplicação de calcário. A subsolagem é feita

em todas as áreas de plantio da empresa, mas em algumas condições de solo é feita duas

vezes.

O rendimento (IMA) atinge, na região de Limeira, o valor médio de 42 m3/ha/ano. É

feita apenas uma rotação, de sete anos. Visando otimizar a colheita e também o

rendimento, foi tomada a decisão de suprimir a rebrota, realizando, portanto, o plantio a

cada sete anos.

Também não fazem reforma da terra. Destoca ou rebaixamento de tocos também são

procedimentos que não são mais realizados.

Lenha

Os resíduos de colheita com tamanho suficiente para aproveitamento energético (maior

granulometria) são vendidos no mercado, sendo adquiridos por padarias, olarias, etc.

São retirados das áreas de plantio para permitir o fluxo de máquinas e evitar acidentes

de trabalho.

82  

Porém, a empresa produz cavacos de madeira como subproduto do corte das toras de

madeira. Estes são aproveitados para suprir parte do consumo energético das caldeiras.

Na fábrica de Limeira, utilizou-se, até o ano de 2000, os resíduos de colheita para

produzir energia para as caldeiras. Porém, tomou-se a decisão de empregar apenas os

cavacos para isso.

Custo de transporte

No fomento, o raio máximo é de 150 km. Considerando as áreas de plantio próprio, o

raio máximo é de 350 km e o raio médio de 200 km.

Fomento

O pacote tecnológico implementado pelos fomentados é o proposto pela empresa: a

maioria dos fomentados (de São Paulo) não têm experiência prévia com o cultivo de

eucalipto, não detendo, portanto, conhecimento dos procedimentos.

Futuro

A empresa tem como meta aumentar o rendimento das plantações: “é um desafio”,

declarou o entrevistado.

Outro desafio é a instalação de áreas de plantio e fábricas em estados da região Nordeste

(Piauí e Maranhão).

3 Intensificação ecológica

A questão a ser respondida quanto ao consórcio eucalipto-acácia é quanto será agregado

reduzindo-se a adubação em, p.ex., 10%. “Vai agregar em m3/hectare”?

O seguinte raciocínio foi feito: se o cultivo exclusivo de eucalipto produz, hoje, 400 m3

madeira por hectare, no consórcio, caso o eucalipto atinja a mesma produtividade, se

terá, p.ex., 300 m3 / hectare de madeira de eucalipto. O que representa uma redução da

produção por hectare. A menos, é claro, que a acácia, tendo a mesma produtividade (m3

83  

/ha), seja aproveitável para as mesmas finalidades que o eucalipto e com uma eficiência

de aproveitamento (kg de celulose / m3 de acácia ou kcal de energia / m3 de acácia)

equivalente.

Mudas

Para introduzir a Acácia, será necessária ter acesso à mudas da espécie. A empresa,

portanto, precisa considerar a possibilidade de passar a produzir, em seus viveiros, estas

mudas, e, até mesmo, se for o caso, construir mais viveiros (o que também depende da

existência de interesse para levar o consórcio aos fomentados).

Fertilização

Os entrevistados acreditam que a fertilização (fórmulas e quantidades) tem influência

relevante na produtividade, particularmente em solos arenosos, os quais exigem maior

fertilização.

Estimam que a fertilização responde por pelo menos 20% do custo total de cultivo.

Participação (%) do nitrogênio no custo total de cultivo? Além disso, os preços dos

fertilizantes têm aumentado muito nos últimos anos: alguns tiveram seu preço

aumentado em 100% nos últimos três anos.

O nitrogênio é importante, mas mais importante é a composição dos três nutrientes

básicos, nitrogênio, potássio e fósforo. A importância também varia com o estágio de

crescimento: no início, o fósforo é mais importante.

Colheita

A depender de como for estruturado o consórcio, a colheita pode se tornar mais difícil.

Para o entrevistado, a possibilidade de intercalar, ao longo das linhas de plantio, mudas

de acácia e de eucalipto, é a que tornaria a colheita mais difícil. Ou seja, esta é a

possibilidade que mais aumentaria o custo de colheita.

Mas também a intercalação de linhas de acácia e linhas de eucalipto pode criar

dificuldades para a realização da colheita.

Processamento

84  

De acordo com os entrevistados, o processamento de uma espécie além do eucalipto,

para a produção de celulose, tende a ser problemática.

Para ilustrar isso, colocaram que a quantidade de toras de um dado clone de eucalipto

influencia as características físico-químicas da celulose produzida. Isso porque a

celulose é produzida a partir de uma combinação específica de clones, “é uma receita de

bolo”. “Quando enviamos muitas toras de um determinado clone [mais do que o

suficiente para verificar a combinação precisa], acabamos criando um problema na

fábrica”. O que o entrevistado atribui à diferença de densidade.

“O processo fabril terá de ser repensado”, caso se opte pelo uso da acácia, em conjunto

com o eucalipto, na produção da celulose.

Produtor rural

Os produtores rurais possuem uma fonte alternativa de fertilização nitrogenada, de

baixo custo, representada pelos resíduos acumulados em camas de frango. Esta pode ser

uma barreira à difusão, ao menos entre aqueles produtores que possuem granjas, do

consórcio (haja visto que uma das vantagens principais do mesmo é a redução da

adubação nitrogenada).

Os entrevistados acreditam que tais agentes tomam decisão com base no retorno

financeiro: é preciso demonstrar que o consórcio eucalipto-acácia é mais lucrativo do

que o arrendamento para cana, a produção de citrus ou eucalipto em monocultura e a

pecuária (principais usos do solo concorrentes na região).

Fomento

Assumindo que o consórcio eucalipto-acácia se mostre vantajoso tanto para o produtor

(lucratividade) como para a empresa (custo da madeira), a introdução no fomento

dependerá da elaboração de um pacote de fertilização compatível com a economia de

nitrogênio proporcionada pela Acácia. Esta é, portanto, outra alteração de procedimento

que terá de ser realizada para introduzir o consórcio, neste caso, nas plantações

fomentadas.

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Lenha

O principal concorrente da madeira de eucalipto no mercado de lenha é a madeira de

laranjeira, dado que esta possui um poder calorífico (kcal de energia / m3) igual ou

superior ao do eucalipto e é comercializada por um preço inferior. Tem-se ai, pois, a

uma barreira à introdução da acácia como fonte de energia.

Um fato recente que tem contribuído para baixar o preço da madeira de laranjeira além

do patamar historicamente médio é a doença que têm acometido tais árvores. Uma vez

que esta tem sido combatida com o corte das árvores, a madeira tem “inundado” os

mercados locais de lenha.

4 Dados gerais

A empresa possui áreas de plantio (fazendas) nas regiões do Estado de São Paulo em

que há fronteira com os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.

Possui quatro fábricas em operação, duas delas produzindo apenas celulose e as demais

produzindo celulose e papel.

A área total da empresa é de 800.000 hectares, distribuída esta nas seguintes unidades

da federação: BA, SP, PI, MA, TO, MG. Deste total, 346.000 hectares estão atualmente

plantados com eucalipto.

Fomento

Atualmente o programa de fomento da empresa contempla 1.144 proprietários, 811

deles localizados no Estado de São Paulo e 333 no Estado da Bahia.

O fomento responde atualmente por 7-8% do suprimento de madeira, considerando

apenas a fábrica de Limeira. Considerando a produção de São Paulo como um todo, a

participação sobe para 15%.

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Os contratos de fomento estabelecem a provisão, sem qualquer custo para os

fomentados, de assistência técnica, planta topográfica e mudas. A empresa também

adianta fertilizantes, herbicidas e formicidas, os quais têm de ser pagos, em metros

cúbicos de madeira equivalentes, à empresa, ao final do contrato.

O fomentado, pelo contrato, tem de entregar 95% da madeira produzida em sua área à

empresa. Geralmente entregam 100%. Aqueles que preferem destinar 5% da produção

para outros compradores acabam encaminhando a madeira para consumo próprio ou

para uso energético.

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Apêndice 6: Siderúrgica

Cargo do entrevistado: diretor de logística da empresa

Entrevistada realizada por telefone no dia 16/08/2012

Síntese

(i) A empresa leva em conta o custo-beneficio do projeto, tal como propõe a análise de

projetos;

(ii) Se for possível desenhar um modelo de cultivo consorciado que se mostra vantajoso

quanto a este critério, a empresa tende a se interessar pela inovação;

(iii) O custo da adubação nitrogenada varia entre 7.5%-10% do custo total (investimento

necessário para estabelecer uma plantação de eucalipto);

(iv) O entrevistado não vê barreiras para o aproveitamento da produção consorciada

como fonte de matéria-prima para o carvão vegetal siderúrgico, basta que a madeira

tenha densidade e resistência mecânica comparáveis às do eucalipto. Não acredita que

ha diferenças anatômicas importantes que possam pedir uma mudança nos

procedimentos de manuseio da madeira para produção de carvão vegetal.

(v) A Acácia tem pelo fato de ser uma leguminosa algumas vantagens, i.e., fixa

nitrogênio;

(vi) O IMA cai entre duas rotações (a empresa fazia 3, antes fazia 2) entre 10-15%;