projeto e simulaÇÃo da usinagem de corpos de prova … · usinagem para uma máquina de quatro...

77
PROJETO E SIMULAÇÃO DA USINAGEM DE CORPOS DE PROVA PARA ENSAIO DE TRAÇÃO DE TECIDO ÓSSEO BOVINO Tainá Wandelli Joaquim Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Prof. Anna Carla Monteiro de Araújo Coorientadora: Dra. Cristiane Evelise Ribeiro da Silva Rio De Janeiro Agosto de 2019

Upload: others

Post on 22-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • i

    PROJETO E SIMULAÇÃO DA USINAGEM DE CORPOS DE

    PROVA PARA ENSAIO DE TRAÇÃO DE TECIDO ÓSSEO BOVINO

    Tainá Wandelli Joaquim

    Projeto de Graduação apresentado ao

    Curso de Engenharia Mecânica da Escola

    Politécnica, Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, como parte dos requisitos

    necessários à obtenção do título de

    Engenheiro.

    Orientadora: Prof. Anna Carla Monteiro de

    Araújo

    Coorientadora: Dra. Cristiane Evelise

    Ribeiro da Silva

    Rio De Janeiro

    Agosto de 2019

  • i

    Universidade federal do rio de janeiro

    Departamento de Engenharia mecânica

    DEM/POLI/UFRJ

    PROJETO E SIMULAÇÃO DA USINAGEM DE CORPOS DE

    PROVA PARA ENSAIO DE TRAÇÃO DE TECIDO ÓSSEO BOVINO

    Tainá Wandelli Joaquim

    PROJETO DE GRADUAÇÃO APRESENTADO AO CURSO DE ENGENHARIA

    MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

    JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO

    TÍTULO DE ENGENHEIRO.

    Examinado por:

    ________________________________________

    Prof. Anna Carla Monteiro de Araújo (Orientadora), Ph.D.

    ____________________________________________

    Dra. Cristiane Evelise Ribeiro da Silva (Coorientadora), D.Sc.

    ____________________________________________

    Prof. Fernando Pereira Duda, D.Sc.

    ____________________________________________

    Prof.Rossana Mara da Silva Moreira Thiré, D.Sc.

    ____________________________________________

    Eng. Guido Rezende de Alencastro Graça

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL AGOSTO DE 2019

  • i

    Joaquim, Tainá Wandelli

    Projeto e Simulação da Usinagem de Corpos de Prova para

    Ensaio de Tração do Tecido Ósseo Bovino/Tainá Wandelli

    Joaquim. – Rio de Janeiro: UFRJ/ESCOLA POLITÉCNICA, 2019.

    XI, 55 p.: il.; 29,7 cm

    Orientadora: Prof. Anna Carla Monteiro de Araújo

    Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

    Engenharia Mecânica, 2019.

    Referências Bibliográficas: p. 53-54.

    1. Fresamento 2. Simulação de Usinagem. I. Monteiro de Araújo,

    Anna Carla II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

    Politécnica, Curso de Engenharia Mecânica. III. Projeto e

    Simulação da Usinagem de Corpos de Prova para Ensaio de

    Tração do Tecido Ósseo Bovino.

  • ii

    Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

    dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira Mecânica.

    PROJETO E SIMULAÇÃO DA USINAGEM DE CORPOS DE PROVA PARA ENSAIO

    DE TRAÇÃO DE TECIDO ÓSSEO BOVINO

    Tainá Wandelli Joaquim

    Agosto/2019

    Orientadora: Anna Carla Monteiro

    Coorientadora : Cristiane Evelise Ribeiro da Silva

    Curso: Engenharia Mecânica

    Resumo:

    Com o aumento da expectativa de vida da população mundial,doenças que são mais

    comuns em idosos, como a osteoporose, têm tido crescente número de casos de

    incidência. A osteoporose é caracterizada pela diminuição da massa óssea. Uma das

    alternativas para a obtenção do diagnóstico da doença é o ultrassom quantitativo, que

    pode ter seu resultado validado por ensaios de tração em amostras de tecido ósseo. O

    ensaio de tração permite avaliar a resistência mecânica e a fratura e comparar tais

    parâmetros entre tecidos ósseos saudáveis e com osteoporose. Para que o ensaio de

    tração obtenha resultados válidos e possibilite uma comparação entre os materiais é

    necessário que a geometria dos copos de provas seja padronizada e definida por

    normas técnicas. Desta maneira é necessário que o processo de usinagem da amostra

    de tecido ósseo realizada para a obtenção do corpo de prova seja o mesmo e

    padronizado para todas as amostras. Os parâmetros, bem como as etapas de usinagem

    foram definidos experimentalmente durante alguns ensaios preliminares numa máquina

    de apenas três eixos. Foram projetados quatro dispositivos de fixação e após uma

    avaliação fabricou-se o mais adequado. Foi realizada a simulação da usinagem para

    obtenção do corpo de prova para uma máquina com quatro eixos e foram avaliadas três

    condições diferentes através da simulação. Como resultado gerou-se um Código G de

    usinagem para uma máquina de quatro eixos adequado para amostras de tecido ósseo

    de diferentes geometrias e dimenões.

    Palavras-chave: Usinagem, Fresamento, Dispositivos de fixação, Ensaio de tração,

    Simulação.

  • iii

    Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Engineer.

    DESIGN AND SIMULATION OF SPECIMEN MACHINING FOR TENSILE TESTING

    OF BOVINE BONE TISSUE

    Tainá Wandelli Joaquim

    August/2019

    Advisor: Anna carla Monteiro

    Coadvisor : Cristiane Ribeiro

    Course: Mechanical Engineering

    Abstract:

    With the increase in life expectancy of the world population, diseases that are more

    common in the elderly, such as osteoporosis, have increased in incidence. Osteoporosis

    is characterized by decreased bone mass. One of the alternatives to obtain the diagnosis

    of the disease is quantitative ultrassound, which can be validated by tensile tests on bone

    tissue samples. The tensile test allows to evaluate the mechanical strength and fracture

    and to compare these parameters between healthy bone tissues and osteoporosis. For

    the tensile test obtain valid results and to allow a comparison between materials, the

    geometry of the sample proof bodies must be standardized and defined by technical

    standards. Therefore, the bone tissue sample machining process performed to obtain

    the sample must be the same and standardized for all samples. The parameters as well

    as the machining steps were experimentally adjusted during some preliminary testing on

    a three axis machine. Four clamping devices were designed and after evaluation, the

    most efficient was manufactured. The machining simulation was performed to obtain the

    sample for a four axis machine and three different conditions were evaluated through the

    simulation. As a result, a machining G code was generated for a four-axis machine

    suitable for bone tissue samples of different geometries and dimensions.

    Keywords: Machining, Milling, Clamping devices, Tensile test, Simulation.

  • iv

    Agradecimentos

    À Deus e ao Universo por me permitirem estudar em uma das melhores

    universidades do país e sempre me darem forças para seguir mesmo com todas as

    dificuldades.

    Ao meu pai, Sidnei Joaquim, por todo apoio e colaboração ao longo do projeto.

    Por me ceder sua máquina para realização dos ensaios e não medir esforços para me

    ajudar com todas as dúvidas e dificuldades.

    À professora Anna Carla Monteiro pela proposta de um tema tão atual e

    importante, pela orientação deste trabalho e pelo apoio, amizade, incentivo e

    ensinamentos.

    À equpe do INT por ceder as amostras dos ossos e me permitir integrar este

    projeto.

    À Doutora Cristiane Ribeiro por coorientar este trabalho e pelo apoio em todas

    as etapas.

    Ao Engenheiro Guido Graça por todo apoio e disponibilidade com as dúvidas

    que apareceram ao longo do projeto.

    Aos meus pais Sidnei Joaquim e Eloiza Wandelli, pelo amor incondicional, apoio

    e incentivo ao longo de toda minha vida e, sobretudo todo esforço para que eu tivesse

    a melhor formação acadêmica possível.

    À minha irmã Larissa Wandelli por todo amor e apoio durante todos os

    momentos, inclusive os mais difícieis.

    Aos professores de Engenharia mecância da UFRJ por todos ensinamentos ao

    longo do curso.

    Aos meus amigos da faculdade, Bruna Wanke, Rodrigo Cardoso, Evelyn Soares

    e Erick Costa por todo apoio e incentivo perante as dificuldades do curso.

    Aos meus familiares e amigos que sempre me incentivaram e apoiaram.

    Ao meu chefe do estágio Victor Hugo Pereira por toda paciência e incentivo para

    que este projeto fosse finalizado.

    A todos aqueles que colaboraram para execução deste trabalho de alguma

    maneira.

  • v

    Índice

    Índice de figuras............................................................................................................VII

    Índice de tabelas.............................................................................................................X

    Lista de símbolos...........................................................................................................XI

    1. Introdução.............................................................................................................1

    2. Revisão Bibliográfica............................................................................................5 2.1 - Material de estudo: Tecido ósseo.................................................................5

    2.1.1 Anatomia e fisiologia.......................................................................5

    2.1.2 Morfologia do tecido ósseo..............................................................6

    2.2 Mecânica da fratura do tecido ósseo..............................................................8

    2.3 Usinagem......................................................................................................10

    2.3.1 Usinagem de tecidos ósseos.........................................................12

    3. Materias e métodos............................................................................................16

    3.1 Preparação das amostras.............................................................................16

    3.2 Usinagem preliminar....................................................................................17

    3.2.1 Metodologia da usinagem preliminar................................................20

    3.2.2 Ferramentas e parâmetros de usinagem..........................................21

    3.2.3 Teste 1 – CP tipo V...........................................................................23

    3.2.4 Teste 2 – CP tipo IV..........................................................................27

    3.2.4.1.1 Dispositivos de fixação....................................................27

    3.2.5 Teste 3 – Faceamento de um dos lados...........................................33

    3.2.5.1.1 – Dispositivo de fixação do teste 3..................................29

    3.3 Resultados obtidos através dos testes realizados........................................35

    4. Simulação da usinagem numa máquina-ferramenta com quatro eixos..............37 4.1 Geometria simplificada dos ossos................................................................38

    4.2 Simulação da usinagem no Fusion 360.......................................................40

    4.3 Geração do código G...................................................................................47

  • vi

    4.4 Validação do código G..................................................................................48

    5. Conclusões.........................................................................................................51

    6. Referências bibliográficas...................................................................................53

    7. Sugestões de trabalhos futuros..........................................................................55

    Apêndice 1..................................................................................................................a

    Apêndice 2...................................................................................................................j

  • vii

    Índice de figuras

    Figura 1.1 - Diagnóstico de osteopenia e osteoporose. Adaptado de KANIS, (2002)..............................................................................................................................2

    Figura 2.1 - Representação esquemática das partes de um osso longo

    (JUDAS,2012).................................................................................................................6

    Figura 2.2 - Diferenças estruturais do osso compacto e do esponjoso (COWIN.2001).................................................................................................................7

    Figura 2.3 - a) fresamento horizontal, b) fresamento vertical (DINIZ, 2008)................10

    Figura 2.4 - fresa cilíndrica de topo ( Catálogo MITSUBSHI MATERIALS C008Z 2018 2019).............................................................................................................................11

    Figura 3.1 - Amostras provenientes do fêmur X. a) comparativo com o fêmur inicial b) quatro vistas das amostras resultantes.........................................................................17

    Figura 3.2 - Dimensões dos tipos de corpos de prova para tração descritos na morma D683..............................................................................................................................18

    Figura 3.3 - Geometria do Corpo de prova tipo V.........................................................19

    Figura 3.4 - Geometria do Corpo de prova tipo IV........................................................19

    Figura 3.5 - Máquina usada na usinagem preliminar....................................................20

    Figura 3.6 - Geometria da ferramenta de corte usada na usinagem preliminar............21

    Figura 3.7 –Interface do programa SheetCam..............................................................22

    Figura 3.8 - Interface do programa Mach3....................................................................23

    Figura 3.9 - Imagem do osso usado no teste 1 preso na morsa para poder facear um dos lados.......................................................................................................................23

    Figura 3.10 – Imagem do osso usado no teste 1 preso na morsa para poder facear um dos lados.......................................................................................................................24

    Figura 3.11 - Imagens da realização do teste um que obteve o CP tipo V...................24

    Figura 3.12- Imagem do CP tipo V após a realização da usinagem ainda preso por fita dupla face à placa de alumínio......................................................................................25

    Figura 3.13 - Temperatura medida antes do inicio da usinagem. Osso a temperatura ambiente........................................................................................................................25

    Figura 3.14- Temperatura medida durante a usinagem após retirada de 2mm de material com rotação de 16800 rpm e profundidade de corte de 0,3 mm....................26

    Figura 3.15- Temperatura medida após a usinagem de 0.6 mm de material com rotação de 12000 rpm e profundidade de corte de 0.3 mm..........................................26

    Figura 3.16 - Desenho em 3D do Dispostivo em que o osso é preso pelas laterais curvas............................................................................................................................27

  • viii

    Figura 3.17 - Desenho em 3D da montagem do dispostivo em que o osso é preso pelas laterais curvas e do osso antes de ser usinado...................................................28

    Figura 3.18 - Desenho em 2 D do Dispostivo em que o osso é preso pelas laterais curvas e suas respectivas dimensões...........................................................................28

    Figura 3.19 - Desenho em 3D da montagem do dispostivo em que o osso é preso pressionado pelas laterais planas e paralelas...............................................................29

    Figura 3.20 - Desenho em 3D das peças que compõem o dispostivo em que o osso é preso pressionado pelas laterais planas e paralelas.....................................................30

    Figura 3.21 - Geometria do dispositivo de fixação pressionado por parafusos lateralmente...................................................................................................................31

    Figura 3.22- Desenho da montagem do osso e do dispositivo de fixação pressionado por parafusos lateralmente............................................................................................32

    Figura 3.23 - Osso preso ao dispositivo........................................................................32

    Figura 3.24- Usinagem realizada com o dispositivo preso por uma morsa...................33

    Figura 3.25 - Desenho da montagem do osso e do dispositivo de fixação usado no teste 3............................................................................................................................34

    Figura 3.26 - Desenho e dimensões do dispositivo de fixação usado no teste 3..........34

    Figura 3.27 Corpo de prova tipo V obtido após a usinagem preliminar......................36

    Figura 3.28 Corpo de prova tipo IV obtido após a usinagem preliminar......................36

    Figura 3.29 - Corpos de prova tipo IV e tipo V obtidos após a usinagem preliminar....36

    Figura 3.30 – fluxograma com a metdologia do projeto................................................36

    Figura 4.1 – Foto da máquina mini fresadora CNC com quatro eixos..........................37

    Figura 4.2– Retângulo representativo do corpo de prova tipo IV que a amostra deve conter para realizar a usinagem....................................................................................38

    Figura 4.3 - Dimensões do arco de cilindro representativo da amostra........................39

    Figura 4.4 – Cotas do osso usadas para a medição dos parâmetros...........................39

    Figura 4.5 – Simulação da Face 1.................................................................................41

    Figura 4.6 – Geometria obtida após a simulação da usinagem da Face1....................41

    Figura 4.7 – Simulação da Face 2.................................................................................42

    Figura 4.8 – Geometria obtida após a simulação da usinagem da Face 2...................42

    Figura 4.9– Simulação da Slot 1...................................................................................43

    Figura 4.10 - Geometria do corpo de prova tipo IV obtida após a simulação da usinagem

    do slot 1........................................................................................................43

    Figura 4.11 – Montagem da amostra de tecido ósseo no dispotivo de fixação.............43

  • ix

    Figura 4.12 – Informações sobre o processo de simulação 2.......................................46

    Figura 4.13 – Parte do Código G que realiza o faceamento da Face 1 referente aos três

    processos de simulação.........................................................................................47

    Figura 4.14 – Parte do Código G que rotaciona a peça no eixo A e realiza o faceamento

    da Face 2 referente aos três processos de simulação..............................47

    Figura 4.15 - Parte do Código que mostra a realização do contorno referente aos três

    processos de simulação................................................................................................48

    Figura 4.16 – Validação da trajetória da etapa de simulaçao Face 1 da usinagem obtida

    no Basic Viewer..................................................................................................49

    Figura 4.17 – Validação da trajetória da etapa de simulaçao Face 2 da usinagem obtida

    no Basic Viewer..................................................................................................49

    Figura 4.18 – Validação da trajetória da etapa de simulaçao Face 2 da usinagem obtida

    no Basic Viewer..................................................................................................50

  • x

    Ìndice de tabelas

    Tabela 2.1 – Diferenças entre o tecido cortical e trabecular ( BENTO,2003).................7

    Tabela 2.2 – Valores Típicos para as propriedades mecânicas do tecido cortical ósseo

    bovino (COWIN,2001).....................................................................................................9

    Tabela 2.3 – Diferenças entre os valores médios dos módulos de elaticidade do tecido

    cortical ósseo humano e bovino....................................................................................10

    Tabela 2.4 – Condições de corte usadas em SANDOVAL et al. (1996) e SOUZA

    (2010)............................................................................................................................13

    Tabela 3.1 – dimensões e tolerâncias dos corpos de prova.........................................18

    Tabela 4.1 – Valores dos parâmetros dimensionais de algumas amostras..................40

    Tabela 4.2 – Valores dos parâmetros de usinagem obtidos nos três processos de

    simulação realizados.....................................................................................................45

  • xi

    Lista de Símbolos

    Ø – Ângulo de curvatura da amostra de tecido ósseo

    𝐿0- Comprimento da amostra de tecido óssseo

    𝑒0 – Espessura da amostra de tecido ósseo

    𝑑0 – Diametro interno amostra de tecido ósseo

    𝐷1- Diâmetro da fresa usada

    𝑁 - Rotação da máquina-ferramenta

    𝑓 - Avanço

    𝑉𝑐 - Velocidade de corte

    𝑉𝑓 -Velocidade de avanço

    𝑎𝑝 - Profundidade de corte

  • 1

    1 Introdução

    Atualmente com o aumento da expectativa de vida da população, doenças que

    são mais comuns em idosos, como a osteoporose, têm maior incidência. Um estudo

    divulgado pela Fundação Internacional de Osteoporose (IOF, siga em inglês), aponta

    que o aumento da longevidade da população terá como consequência o crescimento na

    incidência de fraturas em idosos, estimando que o número de brasileiros com

    osteoporose deve crescer 32% até 2050 (COOPER, 1992).

    A osteoporose é uma doença osteometabólica caracterizada por diminuição da

    massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo com consequente

    aumento da fragilidade óssea e da susceptibilidade a fraturas. É uma doença associada

    ao envelhecimento, uma vez que com o passar dos anos o organismo perde

    progressivamente a sua capacidade em metabolizar e absorver o cálcio. As

    complicações clínicas da osteoporose incluem não só fraturas, mas também dor crônica,

    depressão, deformidade, perda da independência e aumento da mortalidade

    (KANIS,2002).

    O critério global mais aceito como diagnóstico da doença da osteoporose é o da

    Organização Mundial da Saúde (OMS), que define a osteoporose como uma condição

    em que a densidade mineral óssea é igual ou inferior a 2,5 vezes o desvio padrão do

    pico de massa óssea encontrada no adulto jovem. Assim, essa distância percentual, é

    conhecida como T-score, e deve ser usada para definir a doença. O T-score inicia do

    número zero (que representa a média) e pode assumir números negativos ou positivos

    - quanto mais negativo é o número, mais longe sua massa óssea está do ideal.

    Osteoporose grave ou estabelecida, segundo a IOF, se refere a uma condição em

    que a densidade mineral óssea encontra-se abaixo de 2,5 vezes o desvio padrão,

    acompanhada de pelo menos uma fratura por fragilidade óssea. Na Figura 1.1 pode-se

    observar o gráfico da distribuição da densidade mineral óssea.

  • 2

    Figura 1.1 - Diagnóstico de osteopenia e osteoporose. Adaptado de KANIS, (2002)

    A definição clínica baseia-se tanto na evidência de fratura como na medida da

    densidade mineral óssea, por meio de densitometria óssea (DMO), expressa em gramas

    por centímetro quadrado. Este é o método mais utilizado para avaliar a densidade

    mineral dos ossos e utiliza a técnica de DXA (Dual-Energy X-ray Absorptiometry)

    (SALES,2010).

    O DXA mede a quantidade mineral óssea em massa em uma projeção de raios-

    x e divide pela área da projeção. A densidade mineral óssea resultante deste ensaio é

    uma densidade superfícial e não volumétrica. Por isso, o tamanho do osso influencia, já

    que a relação área-volume é não linear. As regiões mais utilizadas para o ensaio são a

    bacia, o pulso e a região do fêmur. (KANIS, 2002). Esta técnica possui precisão acima

    de 90%, porém é cara e não é amplamente disponível para a população, motivando

    estudos de soluções alternativas, como por exemplo o ultrassom quantitativo (QUS, em

    inglês).

    O QUS é uma alternativa para medir a desmineralização óssea, de baixo custo,

    fácil manuseio do equipamento, sem exposição à radiação ionizante, não invasivo e

    portátil. O principal campo clínico de aplicação é a predição do risco de fratura para

    osteroporose, embora muitas outras condições patológicas ósseas possam se

    beneficiar das medições ultrassônicas. A validação clínica para previsão do risco de

    fratura e a aceitação entre os médicos não é, no entanto, idêntica para todos os

    dispositivos. Desta forma, é importante validar está metodologia, para que seja mais

    amplamente aceita e difundidada clinicamente. A perda de minerais que ocorre durante

    a descalcificação modifica a resistência mecânica e a fratura do tecido ósseo. O QUS,

    diferente do DXA, não só mede a quantidade mineral óssea, mas sim a qualidade

    mineral óssea. Que é um sinergismo entre a quantidade mineral óssea, as propriedaes

    mecânicas e geometria do tecido ósseo. Desta maneira o QUS é capaz de detectar

  • 3

    mudanças nas propriedades mecânicas do tecido ósseo. Assim uma das formas de

    validar a metodologia é através da correlação dos parâmetros obtidos pelo ultrassom

    quantitativo, como retroespalhamento, e dos parâmetros obtidos em ensaios de tração.

    O ensaio de tração consiste em submeter um corpo de prova de geometria

    definida a um esforço crescente na direção axial do corpo de prova, levando-o a se

    romper. Para que o mesmo obtenha resultados válidos e possibilite uma comparação

    entre os materiais é necessário que a geometria dos copos de provas seja padronizada

    e definida por normas técnicas. Desta maneira é um grande desafio a obtenção de

    corpos de provas a partir de tecidos ósseos, uma vez que, os tecidos ósseos têm

    geometria não homogênea.

    A usinagem de tecidos ósseos é um tema bastante abordado, em especial para

    aplicações na área odontologica. Atualmente implantes dentários a partir tecidos ósseos

    corticais bovinos têm-se mostrado uma excelente opção, pois tal material é capaz de se

    integrar ao osso receptor e posteriormente é absorvido pelo organismo. Desta maneira

    existe uma vasta literatura disponível acerca das operações de usinagem necessárias

    para obtenção de implantes, como furação e rosqueamento. A partir deste material

    pode-se concluir que o tecido ósseo bovino tem uma boa usinabilidade, assim

    aumentado a motivação para realização deste trabalho.

    O presente trabalho objetivou realizar um procedimento técnico para fabricação

    de corpos de prova para ensaio de tração a partir de tecidos ósseos bovinos, em um

    centro de usinagem CNC, utilizando-se como ferramenta uma fresa. Tal trabalho visou

    contribuir com estudos médicos relacionados a osteoporore pois está inserido no projeto

    Projeto Interdisciplinar para Estudo da Desmineralização Óssea - PIPEDO, coordenado

    pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) e o Instituto

    Nacional de Tecnologia (INT). Este projeto faz parte do programa “Pesquisa em

    Doenças do Envelhecimento no Estado do RJ — 2016” contemplado pelo edital da

    Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ 19/2016.

    Os laboratórios participantes do PIPEDO são: Laboratório de Caracterização de

    Propriedades Mecânicas e Microestruturais (INT); Laboratório de Tecnologia de Pós

    (LTP); Laboratório de Ultrassom (INMETRO); Laboratório de Processamento Digital de

    Imagens (PUC-RIO); Laboratório de Nano e Microfluídica e Microssistemas (LabMEMS

    - COPPE-UFRJ);

    Os objetivos específicos do trabalho são:

  • 4

    Estudar as características do corpo de prova bem como as dimensões

    necessárias para realizar ensaios mecânicos;

    Definir os valores dos parâmetros e métodos de usinagem, de modo que sejam

    adequados para o processo de obtenção do corpo de prova a partir de tecidos

    ósseos bovinos de diferentes dimensões;

    Realizar testes preliminares com um corpo de prova para verificar se os

    parâmetros são adequados em relação à influência da velocidade de corte na

    temperatura em que o osso é obtido durante a usinagem;

    Fabricar um dispositivo de fixação que seja adequado para tecidos ósseos de

    diferente geometrias serem usinados numa máquina com quatro eixos

    Simular o processo de usinagem para a obtenção de corpos de prova e a partir

    disso gerar um Código G adequado para diferentes amostras de tecido ósseo

    bovino.

    Este trabalho está estruturado em cinco capítulos, de modo que: O segundo

    capítulo se destina à revisão bibliográfica, onde são reportados artigos encontrados na

    literatura sobre usinagem de ossos, também são revisados fundamentos teóricos, como

    morfologia óssea e sua relação com a osteoporose e sobre processos de usinagem.

    No terceiro capítulo há a descrição do processo de obtenção e desmineralização

    das amostras bovinas, a apresentação da metodologia experimental da usinagem

    preliminar para obtenção dos corpos de prova, o projeto e fabricação do dispositivo de

    fixação e os resultados obtidos.

    No quarto capítulo é apresentada a simulação computacional da usinagem na

    máquina CNC com o quarto eixo e os resultados obtidos.

    No quinto capítulo estão apresentadas as conclusões.

  • 5

    2 Revisão Bibliográfica

    Este capítulo tem como objetivo apresentar os artigos encontrados na literatura

    sobre usinagem de tecidos ósseos corticais, conceitos fundamentais sobre morfologia

    óssea e sua relação com a osteoporose e informações acerca de processo de usinagem

    realizado no presente trabalho.

    2.1 Material de estudo: Tecido ósseo

    O material usado neste trabalho consiste em uma porção de tecido cortical ósseo

    retirada da região da média diáfase do fêmur bovino. A escolha deste material está no

    fato do mesmo ter propriedades mecânicas similares as do tecido ósseo humano. Deste

    modo apresenta-se a anatomia, fisiologia e a morfologia do tecido ósseo.

    2.1.1 Anatomia e fisiologia

    O tecido ósseo é uma forma do tecido conjuntivo, é constituído por células, fibras

    e substância fundamental, além de seus componentes extracelulares apresentarem-se

    calcificados, tornando-o um dos tecidos mais resistentes do corpo, por isso capacitado

    às funções de suporte e proteção. Além destas funções, os ossos também proporcionam

    apoio aos músculos esqueléticos, transformando suas contrações em movimentos úteis,

    constituindo um sistema de alavancas que amplia as forças geradas na contração

    muscular. O osso ainda desempenha uma importante função metabólica, como local de

    armazenamento mobilizável de cálcio. Cada osso no esqueleto animal apresenta um

    formato único. Devido à vários fatores como genética e as cargas mecânicas suportadas

    pelos ossos. (JUDAS, 2012)

    O esqueleto consiste em ossos tubulares e não tubulares. Os tubulares,

    utilizados neste trabalho, são geralmente ossos longos (fêmur, tíbia, úmero). Um típico

    osso longo adulto, como o apresentado na Figura 2.1, consiste de um eixo central

    aproximadamente cilíndrico chamado diáfise e duas extremidades alargadas e

    arredondadas chamadas epífeses. As regiões cônicas chamadas metáfises conectam

    a diáfise com cada epífese. (JUDAS, 2012)

  • 6

    Figura 2.1 - Representação esquemática das partes de um osso longo

    (JUDAS,2012)

    A diáfise é composta principalmente de tecido cortical, enquanto que a epífese

    e a metáfise contém tecido trabecular em maioria, sendo contornadas apenas por uma

    fina camada de tecido cortical. Nas superfícies de articulação, extremidades dos ossos

    longos e extremidades da epífise, encontra-se uma fina camada de cartilagem articular.

    A região exterior da diáfise é revestida pelo periósteo, constituído por uma camada de

    tecido conectivo fibroso e por uma linha interior cambial de células não diferenciadas,

    com potencial para produzir osso durante o crescimento ou processo de cura de uma

    fratura. A cavidade medular da diáfise e as cavidades do tecido cortical e cancelar

    ósseoestão alinhados com uma fina linha celular chamada endósteo, que consiste em

    uma membrana de células da superfície óssea (COWIN,2001).

    Enquanto vivos, os ossos são permeados por vasos sanguíneos, cuja trajetória

    sanguínea está intimamente relacionada com os padrões de crescimento, modelamento

    e remodelamento ósseo. No interior da cavidade cilíndrica dos ossos longos, encontra-

    se a medula óssea, que também permeia as trabéculas do tecido esponjoso e extende-

    se ao longo dos canais ósseos (COWIN,2001).

    2.1.2 Morfologia do tecido ósseo

    A composição óssea, em peso, consiste em 65% de mineral, 20% de matriz

    orgânica e células, como colágeno, e 15% de água. A parcela mineral corresponde a

  • 7

    pequenos cristais na forma de agulhas e em íntimo contato com a matriz orgânica. E é

    principalmente fosfato de cálcio, que no osso maduro encontra-se sob a aparência de

    cristais microscópicos de hidroxiapatita, com características de rigidez e fragilidade dos

    minerais, mas da forma como está agregada ao colágeno, torna o osso suficientemente

    resistente à compressão (COWIN, 2001).

    Pode-se dividir o tecido ósseo em dois tipos: esponjoso (ou trabecular) e

    compacto (ou cortical) (Figura 2.2). A diferença entre estas duas formas está associada

    a sua porosidade e, consequentemente, à sua densidade. Na Tabela 2.1, estão

    esquematizadas as principais diferenças entre os dois tipos de tecido (COWIN, 2001)

    Figura 2.2 - Diferenças estruturais do osso compacto e do esponjoso (COWIN, 2001)

    Tabela 2.1 – Diferenças entre o tecido cortical e trabecular ( BENTO,2003)

    Características Cortical Trabecular

    Massa do esqueleto 80% 20%

    Superfície óssea 33% 67%

    Superfície/volume (𝑚𝑚2/𝑚𝑚3)

    2,5 20

    Porosidade Baixa Alta

    Renovação Lenta Rápida

    Função Biomecânica, suporte e proteção.

    Manutenção de mineral e suporte.

    Aproximadamente 80% da massa total do esqueleto de um adulto humano é

    cortical, o qual compõe uma parede externa de todos os ossos e é altamente

    responsável pela função de suporte e proteção do esqueleto. Deste modo, os tecidos

  • 8

    corticais ósseos são os mais solicitados por esforços mecânicos e por esse motivo mais

    importantes se tratando de osteoporose.

    Neste trabalho, os experimentos foram realizados com tecidos corticais ósseos,

    que consistem de uma densa massa sólida, sem quase nenhum espaço medular, com

    apenas canais que são percorridospor nervos e vasos sanguíneos.

    2.2 Propriedaes Mecânicas tecido ósseo

    O tecido ósseo é um material de natureza biológica e como tal suas propriedades

    físicas variam amplamente de amostra a amostra. O mesmo possui uma estrutura

    fibrosa e, portanto pode ser classificado como material composto, sendo formado

    basicamente por colágeno e um grupo de minerais. A associação das fases orgânica e

    mineral confere ao tecido as características e propriedades dos materiais compostos,

    formados à custa de uma matriz reforçada por fibras, com características de anisotropia,

    particularmente úteis como estruturas de resistência a esforços que apresentam

    direções preferenciais. Assim o material osseo pode ser caracterizado como

    heterogêneo e anisotrópico. É um material de grande resistência mecânica e que

    apresenta elasticidade e leveza (RHO, 1997).

    Em geral o tecido cortical ósseo apresenta módulo de elasticidade anisotrópico

    em diferentes direções anatômicas. A resistência e a rigidez do tecido ósseo são

    maiores na direção onde as cargas normalmente são aplicadas. De modo que, o módulo

    de elasticidade na direção longitudinal do osso longo é maior que na direção transversal

    (KATZ, 1984).

    Além da anisotropia o tecido ósseo é também viscoelástico, que é a propriedade

    dos materiais que apresentam características tanto viscosas quanto elásticas quando

    submetidos a deformação. Materiais viscosos resistem à taxa e a tensão de

    cisalhamento linearmente com o tempo quando uma tensão é aplicada. Materiais

    elásticos se deformam instantaneamente quando tracionados ou comprimidos e

    retornam tão rapidamente ao seu estado original assim que o carregamento é removido

    (HOLANDA,1999).

    A estrutura óssea, devido à sua função de sustentação, está continuamente

    sujeita a diversas condições de carregamento, as quais provocam a distribuição de

    solicitações mecânicas em cada um dos membros estruturais envolvidos. A fratura

    óssea pode ocorrer devido a uma sobrecarga mecânica. A forma da fratura depende

  • 9

    principalmento do tipo de carregamento, que pode ser tração, compressão, torção,

    cisalhamento, flexão ou alguma combinação destes,sofrido pelo osso e da energia

    liberada.

    No tecido ósseo, o mecanismo de falha é observado mecanicamente como um

    comportamento inelástico de tensões e deformações, devido a trincas e vazios, e como

    comportamento com fluxo plástico e fluência, devido a processo de fluxo que não altera

    a rigidez do material mas cria deformações irrecuperáveis após descarregamento. Em

    qualquer tipo de carregamento, a tensão requerida para provocar a fratura e o modo de

    propagação de trinca que conduz a esta, dependem de várias variáveis, como a taxa na

    qual a carga é aplicada, intensidade e ciclos de carregamento, a orientação e

    microestrutura da amostra de osso.(COWIN, 2001)

    Na Tabela 2.2 são apresentados os valores médio de algumas das principais

    propriedades do tecido cortical ósseo bovino, usado neste trabalho. Como pode-se

    observar o tecido cortical ósseo tem maior resitência e rigidez na direção longitudinal.

    Isso é explicado pelo tipo de carregamento ao qual tal tecido é submetido. Na Tabela

    2.3 são apresentadas as diferenças entre os valores médios dos módulos de elaticidade

    do tecido cortical ósseo humano e bovino. De modo que, pode-se observar que o osso

    bovino tem módulo de elasticidade 25 % maior que o humano. Deve-se observar que

    tais valores das Tabelas abaixo são variáveis, pois as propriedades mecânicas do tecido

    ósseo dependem de vários fatores, como localização do osso, esforços os quais é

    submetido e idade óssea. Deste modo tais valores têm somente objetivo de mostrar a

    variação das propriedades entre as direções e entre tecidos ósseos humanos e bovinos.

    Tabela 2.2 – Valores Típicos para as propriedades mecânicas do tecido cortical

    ósseo bovino (COWIN,2001)

    Módulo de elasticidade (GPa) Longitudinal 20,4 ± 0,1

    Transversal 11,7 ± 0,1

    Limite de elasticidade à tração (MPa) Longitudinal 141 ± 1

    Transversal -

    Limite de elasticidade à compressão

    (MPa)

    Longitudinal 196 ± 1

    Transversal 150 ± 1

    Tensão de ruptura (MPa) Longitudinal 156 ± 1

    Transversal 50 ± 1

    Módulo de cisalhamento (GPa) - 4,14 ± 0,1

    Coeficiente de Poisson - 0,36 ± 0,1

  • 10

    Tabela 2.3 –Diferenças entre os valores médios dos módulos de elaticidade do tecido

    cortical ósseo humano e bovino.

    2.3 Usinagem

    A usinagem é reconhecidamente o processo de fabricação mais popular do

    mundo, é um processo de fabricação que modifica a forma de uma peça através da

    remoção de material, chamado de cavaco. Dentre os vários processos de usinagem

    existentes, como furação, torneamento e aplainamento, existe também, o fresamento.

    Que é o foco do presente trabalho, este ocorre, quando a ferramenta, geralmente

    multicortante, gira e se desloca em uma trajetória qualquer em relação à peça.

    O processo de fresamento pode ser frontal (Figura 2.3 a), onde o eixo de rotação

    é perpendicular à base da máquina-ferramenta ou tangencial (Figura 2.3 b),onde o eixo

    de rotação da fresa é paralelo à base da máquina-ferramenta.

    Figura 2.3 - a) fresamento horizontal, b) fresamento vertical (DINIZ, 2008)

    Para a relização do fresamento podem ser usadas diversas fresas, cada uma

    com um objetivo específico. Elas podem ser cilíndricas, que são subdivididas em topo,

    facear e de disco, cônicas de perfil e esféricas. Tal divisão ocorre baseada na superfície

    final obtida após um ciclo completo de rotação ser realizado. Nos ensaios experimentais

    do presente trabalho foi utilizada uma fresa cilíndrica de topo (Figura 2.4).

    Módulo de elasticidade (E) Osso Humano (GPa) Osso bovino ( GPa)

    Longitudinal 17,4 ± 0,1 20,4 ± 0,1

    Transversal 9,6 ± 0,1 11,7 ± 0,1

    Flexão 14,8 ± 0,1 19,9 ± 0,1

    Cisalhamento 3,51 ± 0,1 4,14 ± 0,1

  • 11

    Figura 2.4 - Fresa cilíndrica de topo (Catálogo MITSUBSHI MATERIALS C008Z 2018-

    2019)

    Os parâmetros básicos que descrevem o processo de usinagem são: velocidade

    de corte (𝑉𝑐), avanço por dente (f) e profundidade de corte, (𝑎𝑝) que é a

    profundidade que a aresta principal de corte, medida no plano perpendicular a

    velocidade de corte - (mm).

    A partir do diâmetro da fresa 𝐷1, pode-se calcular a rotação N (rpm):

    𝑁 = 1000𝑉𝑐

    𝜋 𝐷1(1)

    A velocidade de avanço (𝑉𝑓) é a velocidade instantânea da ferramenta, segundo a

    direção e sentido de avanço - (mm/mim). Ela é calculada conforme a equação (2) abaixo

    e depende da velocidade de rotação e do avanço.

    𝑉𝑓 = 𝑁 ∗ 𝑓 =𝑉𝑐∗ 𝑓

    𝜋∗𝐷1(2)

    2.3.1 Usinagem de tecidos ósseos

  • 12

    Devido às demandas da área odontológica há um vasto número de artigos sobre

    furação e usinagem para obtenção de parafusos a partir de tecido cortical ósseo bovino,

    porém é escassa a literatura sobre fresamento do mesmo.

    Apesar de metal, como por exemplo titânio, ser o material mais utilizado

    na usinagem de parafusos, a necessidade de se obter materiais alternativos para

    implantes cirúrgicos deu origem à usinagem de tecidos ósseos. Normalmente, as peças

    derivadas de tecidos ósseos bovinos são utilizadas na colocação de próteses ou em

    enxertos de tecidos ósseos dentários. Um dos benefícios oferecidos com o uso de

    parafusos de tecidos ósseos bovinos, por exemplo, é o favorecimento da cicatrização,

    além de melhor compatibilidade biológica.

    A seleção dos parâmetros de usinagem do presente trabalho se baseou em trabalhos anteriores de obtenção de parafusos utilizando o tecido ósseo bovino.

    Uma das referências utilizadas foi o experimento realizado por SANDOVAL et.al.

    (1996). Foram confeccionados parafusos de 2 mm de diâmetro a partir do osso cortical

    bovino. O processo de fabricação dos parafusos foi realizado em quatro etapas.

    Primeiramente, elaborou-se uma cabeça hexagonal com 12 mm de comprimento e

    distância entre faces de 4 mm. Na segunda etapa , torneu-se o perfil do parafuso em

    uma máquina CNC. Em seguida, realizou-se o torneamento da rosca, usando água

    como fluído de corte, assim, hidratando e lubrificando o material e facilitando sua

    usinagem. Na última etapa, realizou-se um polimento da ponta do parafuso com uma

    lixa fina para dar-lhe conicidade e cortou-se a cabeça hexagonal no comprimento

    desejado. Na Tabela 2.4 temos as condições de corte empregadas.

    Outro trabalho tomado como referência foi SOUZA (2010), o experimento

    realizado consistia em produzir uma rosca em uma porção de tecido ósseo cortical

    bovino, utilizando-se como técnica de rosqueamento, o fresamento de roscas com

    ferramenta de múltipla aresta de cortes. Não foi utilizado fluído de corte e considerou-

    se que não houve aquecimento excessivo. A fresa utilizada era de 10 mm de diâmetro

    Os parâmetros de corte utilizados estão descritos na Tabela 2.4.

    Tabela 2.4 – Condições de corte para o processo de furação usada em SANDOVAL et

    al. (1996) e processo de rosquamento udada em SOUZA et al. (2010).

    http://www.eurostec.com.br/produtos/centros-de-usinagem

  • 13

    Condições de corte SANDOVAL et al.

    (1996)

    Velocidade de corte / Rotação

    37,7 m/mim / 1200 Rpm

    Profundidadede corte

    0.05 mm por passe no desbaste e 0.01 mm por passe no rosqueamento

    Velocidade de avanço 20 mm/mim

    Fluído de corte Água

    Condições de corte SOUZA et al. (2010).

    Velocidade de corte / Rotação

    7,54 m/mim / 240 Rpm

    Profundidadede corte 7 mm Velocidade de avanço 16 mm/mim

    Fluído de corte Sem fluído de corte

    Uma outra referência para obtenção dos parâmetros de usinagem é o trabalho

    de (GRAÇA, 2018). Neste trabalho, diferente dos anteriores, o processo de usinagem

    realizado é o fresamento. Utilizou-se uma rotação de 16000 Rpm, avanço de 512

    mm/min, uma profundidade de corte de 0.5 mm e água como fluído de corte. E para tal

    foi utilizada uma fresa cilíndrica de diâmetro 3 mm.

    Segundo o que Wang et al., I, 1995 constataram em seus experimentos sobre

    furação em tecidos ósseos bovinos as ferramentas apropriadas eram as de Aço Rápido

    “HSS”, pois o esforço de corte era muito pequeno, não exigindo ferramentas de alto

    desempenho. Os dados de corte (avanço, rotação e velocidade de corte) podem ser

    semelhantes aos utilizados para a usinagem de materiais compósitos e frágeis, tais

    como os artificiais laminados ou de fibras, e os naturais como a madeira ou marfim. O

    cavaco retirado durante a usinagem é curto e sai em forma de lascas. Além de não

    haver aquecimento excessivo que pudesse danificar o material durante a usinagem,

    assim não sendo necessário fluído de corte.

    Wang et al., I, 1995 consideraram que a superficie final do osso após a usinagem

    é considerada de primeira importância, de modo que as ferramentas selecionadas e o

    regime de usinagem foram ajustados para obtenção de acabamento superficial

    eintegridade geométrica adequados. Dado este fato, os tecidos ósseos deveriam ser

    usinados sob condições de usinagem de acabamento: com apropriadas grandezas tanto

    em profundidade de corte, avanço e velocidade de corte como na seleção das

    ferramentas, em particular a geometria destas.

    Como o tecido ósseo é um material que sofre grande influência das variações de

    temperatura, uma preocupação levantada ao usinar ossos é a temperatura a qual o osso

    pode ser submetido. Estudos revelam que temperaturas acima dos 47ºC provocam

    osteonecrose térmica, que é a morte do tecido decivo a temperarura excessiva. De

  • 14

    modo que este processo pode agravar-se durante a usinagem, que é um processo que

    aumenta a temperatura do material durante sua realização.

    O calor gerado durante a furação é o resultado da fricção entre a superfície

    cortante da broca em contato com o orifício e os fragmentos de osso formados durante

    a furação (Abbage 1998; Carvalho et al. 2004). Assim, são vários os parâmetros de corte

    envolvidos no processo de furação óssea que influenciam diretamente as temperaturas

    geradas no local perfurado: a velocidade de rotação, a velocidade de avanço, a força de

    corte, a profundidade do corte, o tipo de material e a geometria da broca, bem como o

    tipo de tecido ósseo envolvido (Sezek et al. 2012; Lopes 1977).

    Em processos de furação de tecido ósseo, os efeitos da geração de calor são,

    habitualmente, bastante severos, uma vez que a ferramenta de corte encontra-se

    inserida numa área restrita e permanece em contacto constante com as aparas. No

    fresamento o aumento de temperatura durante a operação é um pouco menor que na

    furação, porém ainda se faz necessário, de modo a assegurar a integridade do tecido

    ósseo.

    Existem diversos estudos encontrados na literatura envolvendo a determinação

    da temperatura no tecido ósseo, resultante do processo de furação. A maioria desses

    estudos baseiam-se em estudos experimentais com diferentes metodologias. Em geral,

    as análises experimentais visam estabelecer a relação dos parâmetros de corte com o

    calor gerado no tecido ósseo, fornecendo uma boa indicação de como seria o

    comportamento térmico do tecido ósseo humano vivo quando submetido a diferentes

    conjuntos de parâmetros de corte (Sezek, 2012; Shin e Yoon, 2006). Contudo, a

    medição direta das temperaturas é extremamente complexa devido às condições

    físicas, como por exemplo o movimento da broca e a presença de aparas (Sousa, 2009).

    No artigo, avaliação térmica da furação no tecido ósseo vertical com e sem irrigação, do

    instituto politécnico de bragança. Além da abordagem experimental, onde utiliza-se

    termopares, há uma abordagem numérica, de modo que, pode-se comparar ambos os

    resultados obtidos. Os ensaios realizados permitiram concluir que o uso de irrigação,

    através de ar comprimido, diminui significativamente a agressão ao tecido ósseo, uma

    vez que foram os modelos que registaram campos de temperaturas menos elevados.

    Tanto os ensaios experimentais como os modelos numéricos indicaram que os picos de

    temperatura registravam-se nas zonas adjacentes à broca e perto do orifício de furação.

    A temperatura diminui com o afastamento destas zonas, concluindo-se assim que as

    zonas mais críticas para a ocorrência de necrose térmica são junto ao furo.

  • 15

    As conclusões obtidas no artigo do instituto politécnico de bragança, apesar de

    serem específicas para a furação, servem como base para análise da temperatura

    durante o fresamento. De modo que, conclui-se que as maiores temperaturas no

    material são obtidas adjacentes a fresa, em especial a área em contato a aresta de corte

    da fresa.

  • 16

    3 Materiais e métodos

    Este presente capítulo tem como objetivo apresentar a realização de uma

    usinagem preliminar, explicitando os parâmetros de usinagem utilizados e os resultados

    e conclusões obtidas nestes primeiros testes e apresentar a simulação computacional

    da usinagem na máquina CNC com quatro eixos e os resultados obtidos.

    3.1 Preparação das amostras.

    Toda a preparação de amostras foi baseada no trabalho de (Graça, 2018). Como

    os corpos de provas foram ensaiados de modo a medir o comportamento do tecido

    ósseo cortical quando submetidos a tração, optou-se por utilizar amostras da média

    diáfise, visto que nesta região há uma camada de tecido cortical mais espessa e

    uniforme quando comparada com as epífises. Desta maneira os resultados obtidos

    forma mais concluisvos. As superfícies externas e internas não foram usinadas, devido

    aos poros da camada superficial, interferindo o menos possível na amostra, e também,

    para não perder a camada desmineralizada, uma vez que a usinagem era feita após

    este processo. A diáfise foi dividida no sentido longitudinal, por ser o sentido avaliado

    clinicamente, e em quatro pedaços para se obter um número maior de amostras.

    A etapa inicial de preparo das amostras foi realizada no INT. Foram utilizados

    fêmures bovinos de diferentes idades provenientes de diferentes açougues. Os fêmures

    chegavam com o tecido mole. O primeiro passo foi remover as epífises para que

    restasse apenas a média diáfise. Em seguida, fez-se necessária a remoção do tecido

    mole restante tanto na parte externa do tecido ósseo quanto a medula na parte interna.

    O corte das epífises foi realizado na serra fita de bancada, resultando em um

    corte mais grosseiro. Por este motivo, a média diáfise foi novamente cortada no sentido

    transversal, para resultar em superfícies paralelas com espaçamento de 90 mm entre

    elas. Por último, a diáfise foi novamente cortada na serra policorte, desta vez no sentido

    longitudinal, resultando em quatro partes. Cada uma dessas quatro partes é uma

    amostra para as demais etapas do projeto. As quatro amostras resultantes estão

    ilustradas nas Figura 3.1 a e Figura 3.1b.

  • 17

    Figura 3.1 - Amostras provenientes do fêmur X. a) comparativo com o fêmur inicial b)

    quatro vistas das amostras resultantes

    O processo de desmineralização ocorreu durante 4 horas e foi realizado na

    Universidade Estácio de Sá – UNESA.

    Como simplificação tecido ósseo será chamado de osso ou amostra na descrição

    da metodologia usada

    3.2Usinagem preliminar

    Todos os processos de usinagem descritos neste trabalho têm como objetivo a

    obtenção, a partir das amostras de tecido ósseo bovino acima descritas, de corpos de

    prova para posterior ensaios de tração. De modo que, as dimensões que tais corpos de

    prova foram obtidas utilizando-se a Norma ASTM D683 (Figura 3.2) e (Tabela 3.1).

  • 18

    Figura 3.2 - Dimensões dos tipos de corpos de prova para tração descritos na morma D683

    Após análise da Norma optou-se por trabalhar com os corpos de prova tipo V

    (Figura 3.3) e IV (Figura 3.4) que têm as dimensões descritas na Tabela 3.1. Pois as

    amostras de tecido ósseo só tem diensões mínimas capazes de obter estes.

    Tabela 3.1 – Dimensões e tolerâncias dos corpos de prova

    Dimensões

    (mm) Tipo IV Tipo V Tolerâncias

    W 6 3,18 0,5

    L 33 9,53 0,5

    Wo 19 9,53 6,4

    Lo 90 63,50 3,2

    G 25 7,62 0,2

    D 65 25,40 5,0

    R 14 12,70 1,0

    Ro 25 - 1,0

    T 3,2 3,20 0,4

  • 19

    Figura 3.3 - Geometria do Corpo de prova tipo V

    Figura 3.4 - Geometria do Corpo de prova tipo IV

    Foi realizada uma usinagem preliminar, numa máquina Routter de 2 KW de

    potência que está mostrada na Figura 3.5. Os objetivos destes primeiros testes foram

    avaliar o comportamento do osso durante o fresamento e a formação de cavaco,

    levando a conclusões a cerca da necessidade de fluído de corte e se a operação gerava

    mal cheiro ao ser realizada. Ainda definiu-se as etapas necessárias para obtenção da

    geometria final do corpo de prova e quais valores de parâmetros, como velocidade de

    corte, avanço, profundidade de corte entre outros são os adequados para tais

    operações.

    Foram realizados três pré testes. O primeiro obteve um corpo prova tipo V, o

    segundo um corpo de prova tipo IV, ambos com as mesmas condições de usinagem e

    o terceiro realizou-se apenas o faceamento de uma das laterais do osso com os

    parâmetros de usinagem modificados.

  • 20

    Figura 3.5 - Máquina usada na usinagem preliminar

    3.2.1 Metodologia da usinagem preliminar

    O faceamento é realizado através de um processo de fresamento frontal, que

    tem como objetivo proporcionar superfícies planas isentas de deformação residual na

    seção transversal da peça usinada, em ambos os lados do osso.

    Idealmente, essa operação deve ser realizada com uma fresa (cabeçote) cujo

    diâmetro (𝐷1) seja superior à largura a ser removida. Pois uma fresa com maior

    diâmetro propicia a operação ser executada em um tempo de corte baixo e com

    melhor qualidade da superfície usinada.

    As estratégia mais indicada no nosso caso é a “zig-zag” uma vez que, nossa

    peça pode ser envolvida por paralelepípedo.

    Para se obter o contorno lateral do corpo de prova foi necessário realizar um

    fresamento de contorno. Tal processo gera uma superfície lateral plana com a geometria

    de contorno definida pela Norma.

  • 21

    Etapas

    1. - Facear o lado côncavo (de fora) até o mesmo ficar reto – desbaste a 90°.

    2. - Facear o lado convexo (de dentro) até o mesmo ter espessura final de 3.6 mm

    (segundo a norma) - desbaste a 90°.

    3. - Fresar o contorno do corpo de prova até obter os valores dimensionais da

    norma.

    3.2.2 Ferramentas e parâmetros de usinagem

    Para as três etapas anteriormente descritas usou-se uma fresa de topo reta de

    haste cilíndrica de 6 mm de diâmetro de aço rápido, pois a mesma tem baixo custo e é

    suficientemente resistente para usinar tecidos ósses. A ferramenta escolhida foi de duas

    arestas de corte, conforme a representada na figura 3.6 abaixo, para possibilitar o

    escoamento de cavacos mais facilmente. A máquina utilizada foi uma Routter de 2Kw

    de potência. A mesma realiza fresamento frontal, onde o eixo de rotação da ferramenta

    é perpendicular à superfície da peça e concordante, ou seja, velocidades de corte e de

    avanço no mesmo sentido.

    Figura 3.6 - Geometria da ferramenta de corte usada na usinagem preliminar.

    Os valores utilizados no processo da usinagem foram definidos

    experimentalmente a velocidade de rotaçãoda máquina (𝑁) foi 16800 rpm, velocidade

    de avanço (𝑣𝑓) 1500mm/mim e a profundidade de corte (𝑎𝑝) foi de 0.3 mm durante todos

    os processos. A partir destes valores foi possívelcalcular o avanço (𝑓) 0.0893mm e a

    Usinagem de contorno

    Faceamento lado convexo

    Faceamento lado côncavo

  • 22

    velocidade de corte (𝑣𝑐) 316.672m/mim através das fórmulas apresentadas na seção

    2.3.

    Inicialmente é necessário desenhar no AutoCAD os desenhos relativos às três

    etapas da usinagem. Um retângulo de 35x100 mm referente ao faceamento do lado

    côncavo do corpo de prova, um retângulo de 25x86 mm referente ao faceamento do

    lado convexo do osso e o corpo de prova com a geometria final definida na Norma como

    na figura 3.2. Tais desenhos são importados para o programa SheetCam como extensão

    DXF, onde coloca-se os valores dos parâmetros acima e as informações da ferramenta.

    O sheetCam assim gera o código G. A figura 3.7 mostra a interface do SheetCam. Por

    fim importa-se o arquivo gerado no SheetCam com o código G no programa da máquina

    Mach3.No programa Mach3 é possível controlar a posição da fresa, o sistema de

    coordenadas adotado e os parâmetros de Corte. A figura 3.8 mostra a interface do Mach

    3.

    Figura 3.7- Interface do programa SheetCam.

  • 23

    Figura 3.8 - Interface do programa Mach3

    3.2.3 Teste 1 – CP tipo V

    Foi realizada uma usinagem com as condições descritas acima para se obter um

    corpo de prova tipo V com as dimensões descritas na Tabela 3.2 e Figura 3.2. Para a

    realização da primeira etapa da usinagem, faceamento do lado côncavo do osso, utilizou

    uma morsa giratória que prende lateralmente o osso o pressionando, conforme está na

    Figura 3.9 e 3.10.

    Figura 3.9 - Imagem do osso usado no teste 1 preso na morsa para poder facear um dos lados.

  • 24

    Figura 3.10 – Imagem do osso usado no teste 1 preso na morsa para poder facear um dos lados.

    Para o faceamentodo lado convexo e o contorno do corpo de prova usaram-se

    dois parafusos presos as laterais do osso e uma fita dupla face entre o osso, na parte

    já plana, e uma placa de alumínioconforme-sepode ver na Figura 3.11. Na Figura 3.12

    temos o osso já usinado durante o teste 1 nas dimensões do corpo de prova tipo V

    Figura 3.11 - Imagens da realização do teste um que obteve o CP tipo V

  • 25

    Figura 3.12- Imagem do CP tipo V após a realização da usinagem ainda preso por fita dupla face à placa de alumínio.

    Como a avaliação do aumento da temperatura no osso durante a usinagem é de

    extrema importância mediu-se a temperatura do corpo durante a usinagem usando-se

    um pirômetro confome visto na Figura 3.13.

    Figura 3.13 - Temperatura medida antes do inicio da usinagem. CP a temperatura ambiente

  • 26

    Mesmo com uma alta rotação, 16800 rpm, o osso não apresentou aquecimento

    considerável durante o processo de usinagem, conforme verificado nas Figuras 3.13 e

    3.14

    Figura 3.14- Temperatura medida durante a usinagem após retirada de 2mm de material com rotação de 16800 rpm e profundidade de corte de 0,3 mm

    Percebeu-se durante o experimento que a baixas rotações o osso aqueceu mais

    durante a usinagem em experimentos com altas velocidades, conforme visto nas

    Figuras 3.14 e 3.15. Isso ocorreu pois há uma velocidade de rotação acima da qual um

    material diminui o aquecimento durante a usinagem. Pois a ferramenta toca tão

    rapidamente a peça que não consegue esquentar muito a mesma.

    Figura 3.15 - Temperatura medida após a usinagem de 0.6 mm de material com rotação de 12000 rpm e profundidade de corte de 0,3 mm

  • 27

    3.2.4 Teste 2 – CP tipo IV

    3.2.4.1 Dispositivos de fixação.

    Um dos objetivos do presente trabalho era projetar e fabricar um dispositivo de

    fixação que fosse adequado para todos os ossos de fêmur bovino com diferentes

    geometrias.

    Desta maneira foram estudados alguns tipos de dispositivo avaliando-se as

    vantagens e desvantangens de utilização dos mesmos. Segue abaixo os três projetos

    realizados. Os mesmos foram projetados para serem utilizados numa máquina com

    quatro eixos. O mais adequado e eficiente foi fabricado.

    Dispositivo em que o osso é preso pelas laterais curvas:

    O dispositivo é preso no quarto eixo por uma barra de 20 mm de diâmetro. O

    mesmo foi projetado considerando-se a existência de uma contraponta ao quarto eixo

    para evitar a flambagem do osso. O osso é preso por suas laterais curvas ao levantar

    as placas de cada lado, encaixa-se o osso entre as placas e o dispositivo e aperta-se

    as placas contra o dispositivo, com quatro parafusos e porcas conforme pode-se avaliar

    na Figura 3.16. A Figura 3.17 trata-se da montagem do osso já usinado nas dimensões

    do tipo V no dispostivo. A Figura 3.18 é o desenho técnico do dispositivo e suas

    respectivas dimensões.

    Figura 3.16 - Desenho em 3D do dispostivo em que o osso é preso pelas laterais curvas.

  • 28

    .

    Figura 3.17 - Desenho em 3D da montagem do dispositivo em que o osso é preso pelas laterais curvas e do osso antes de ser usinado.

    Figura 3.18 –Representação do dispositivo em que o osso é preso pelas laterais curvas e suas respectivas dimensões.

  • 29

    A vantagem deste dispositivo está no fato do osso ficar preso lateralmente, e não

    somente pressionado, assim estando melhor fixado no dispostivo e evitando

    escorregamentos e movimentações. Além de possibiltar usinar ossos de diferentes

    geometrias. As desvantagens desse dispotivo está no fato de, como o osso é preso

    lateralmente há uma perda de comprimento possível de ser usinado nas laterais, de

    modo que dificulta o uso deste dispositivo para usinar o CP tipo IV. Além disso, deve-se

    tomar cuidado com a carga de flexão e flambagem , pois o osso fica suspenso pelas

    laterais sem nenhum apoio ao longo da direção axial.

    Devido as limitações a utilização deste dispositivo projetou-se um outro

    dispositivo descrito abaixo:

    Dispositivo onde o osso é pressionado pelas laterais retas

    paralelas:

    O presente dispositivo também foi projetado para ser preso pelo quarto eixo da

    máquina CNC. O osso é lateralmente pressionado através das suas laterais paralelas,

    conforme podemos ver na Figura 3.19. O dispositivo é composto por duas placas

    espessas paralelas com posição variável, dois fusos e porcas conforme apresentado na

    Figura 3.20.

    Figura 3.18 - Representação da montagem do dispositivo em que o osso é preso pressionado pelas laterais planas e paralelas.

  • 30

    Figura 3.20 – Representação do desenho de conjunto que compõem o dispostivo em que o osso é preso pressionado pelas laterais planas e paralelas.

    Entre as vantagens deste dipositivo está o fato de como o osso está somente

    pressionado lateralmente, não há perda de comprimento disponível para usinagem, o

    que facilita a utilização deste dispositivo para obter o CP tipo IV e fabricação mais

    simples que o anterior. Entre as desvantagens está o fato de como osso fica suspenso

    e é apenas pressionado lateralmente o mesmo pode escapar. Além de, como o osso foi

    cortado previamente de maneira irregular há uma maior dificuldade de fixação desta

    maneira (analisou-se que em alguns ossos as suas laterais retas não são paralelas).

    Este dispostivo mostrou-se ineficiente para ser utilizado para todas as amostras,

    de modo que projetou-se um terceiro dispositivo, que elimina as limitações deste.

    Dispostivo em que o osso é pressionado pelas laterais retas por

    quatro parafusos com diferentes apertos.

    O presente dispositivo é preso no quarto eixo por uma barra de 10 mm de

    diâmetro. O osso é lateralmente pressionado através das suas laterais paralelas por

    quatro parafusos M4 que podem sofrer diferentes apertos. O dispotivo é feito de

  • 31

    alumínio e consiste de um retângulo vazado com 4 parafusos e porcas e uma barra com

    as seguintes dimensões e geometrias apresentadas na Figura 3.21

    Entre as vantagens deste dipositivo está o fato de como o osso está somente

    pressionado lateralmente, não há perda de comprimento disponível para usinagem, o

    que facilita a utilização deste dispositivo para obter o CP tipo IV, assim como o

    dispositivo anterior. Seu grande diferencial está no fato de que essa pressão lateral é

    realizada por quatro parafusos que podem sofrer diferentes apertos, de modo que se

    pode apertar mais um lado que o outro para compensar eventuais não uniformidades

    na geometria dos ossos, assim possibilitando que todos os ossos sejam bem fixados. A

    montagem do osso no dispositivo pode ser vista na Figura 3.22.

    Figura 3.21 - Geometria do dispostivo de fixação pressionado por parafusos lateralmente.

    Após a análise dos dispostivos projetados, este último foi o dispositivo que se

    mostrou mais adequado, uma vez que, é o que melhor fixa ossos de diferentes

    geometrias.

  • 32

    Figura 3.22- Desenho da montagem do osso já usinado e do dispostivo de fixação pressionado por parafusos lateralmente.

    A fabricação deste dispositivo foi realizada a partir de um tarugo de alúminio. O

    mesmo foi usinado através de um processo de fresamento com uma fresa de 4 mm de

    diâmetro e uma aresta de corte, na mesma máquina Routter da usinagem preliminar.

    Os parâmetros de usinagem utilizados foram: Rotação de 16000 Rpm , avanço de 300

    mm/mim e profundidade de corte de 0,5 mm. Após a obtenção da estrutura do dispostivo

    um torno convencional foi utlizado para obter a barra cilíndrica de 10 mm de diâmetro

    que encaixa o dispositivo no quarto eixo também a partir de um tarugo de alumínio e a

    mesma sofre um processo de rosqueamento. Além disso, foram realizados dois furos

    centrais passantes, do mesmo diâmetro da barra, e quatro furos laterais passantes na

    estrutura com a routter, e posterior rosquemamento dos mesmos. A barra foi rosqueada

    a um dos furos centrais e uma porca finalizou a fixação. E quatro parafuros M4 foram

    rosquados nos furos laterais do dispostivo. A peça final obtida é mostrada na Figura

    3.23. O desenho técnico do dispositivo está no Apêndice 2.

    Figura 3.23 – Foto do Corpo de Prova preso ao dispositivo

  • 33

    Tal dispositivo foi testado ainda na máquina da usinagem preliminar, entretanto

    preso numa estutura, dado que a mesma não apresenta quarto eixo, O objetivo de tal

    teste foi assegurar que com os paramêtros de usinagem definidos anteriormente o osso

    não escaparia do dispotivo de fixação, além de analisar visualmente se o osso flambava

    após a usinagem. A Figura 3.24 mostra a usinagem realizada com o dispositivo na

    Routter.

    Figura 3.24 - Usinagem realizada com o dispositivo

    3.2.5 Teste 3 – Faceamento de um dos lados

    3.2.5.1 Dispositivo de fixação do teste 3

    Para o teste 3 projetado-se e fabricado-se um dispostivo de fixação com o

    mesmo princípio do anterior, 4 parafusos M4 que pressionam lateralmente o osso e que

    podem sofrer diferentes apertos. Entretanto o objetivo do presente dispostivo era ser

    usado para máquinas sem o quarto eixo, como uma solução alternativa. De modo que

    a rotação do osso entre o lado côncavo e convexo é feita manualmente. Como é o caso

    da router usada na usinagem preliminar. Assim o osso é encostado no dispostivo

    (através do lado côncavo) na direção axial e pressionado pelas laterais planas através

    dos parafusos, conforme podemos ver na Figura 3.25, que é o desenho da montagem

    do osso e do dispostivo. A Figura 3.26 é o desenho da geometria do dispositivo.

  • 34

    Figura 3.25 -Esquema da montagem do osso e o dispotivo de fixação usado no teste 3

    Figura 3.26 - Dimensões do dispositivo de fixação usado no teste 3

    Pode-se observar que deste modo o osso está bem fixado ao dispositivo, pois

    tal fixação é feita tanto na lateral como na parte axial côncava do osso. Deste modo foi-

    se utilizado no teste 3 uma fresa de 12 mm de diâmetro, ao invés da de 6 usada nos

    testes anteriores. Isso permitiu um menor tempo para realização do faceamento. Além

    disso testou-se um aumento da profundidade corte de 0.3 mm para 0.4 mm.

  • 35

    3.3 Resultados obtidos através dos testes

    realizados

    O processo de usinagem como um todo não apresentou cheiro extremamente

    desagradável. Mesmo com uma alta rotação o osso não apresentou aquecimento

    considerável durante o processo de usinagem, de modo que não há necessidade fluído

    de corte ao se usinar ossos nas condições de corte acima citadas. O cavaco gerado é

    um pó fino e para evitar sujeiras e que se inalasse o mesmo foi usado um aspirador ao

    longo de todo o processo. A velocidade de avanço e a profundidade de corte dos testes

    1 e 2 se mostraram adequadas ao osso, que é resistente mecanicamente, porém frágil.

    O tempo de corte foi de aproximadamente 30 minutos para o teste 1, contando paradas

    e trocas de parâmetros para testar quais os mais adequado e de aproximadamente 6

    minutos para o faceamento do teste 3.

    O teste 3 foi fundamental para concluir-se que a maior limitação no fresamento

    de ossos está na fixação do osso na máquina e não relacionada a aumento de

    temperatura durante a usinagem e fragilidade do osso conforme acreditava-se

    inicialmente. O teste 3 permitiu menores tempos para o faceamento devido a fresa de

    maior diâmetro usada e do aumento da profundidade de corte. Entretanto o mesmo

    ainda se mostra menos ineficiente pois não utiliza o quarto eixo. De modo que a rotação

    do osso em 180º para realização do faceamento do outro lado deve ser feita

    manualmente, assim aumentando tempos passivos de corte e não podendo ser utilizado

    eficientemente em larga escala.

    O dispotivo de fixação escolhido para simulação e usinagem foi o que o osso é

    pressionado pelas laterais retas por quatro parafusos com diferentes apertos, pois é o

    que permite melhor fixação do osso.

    A fresa usada na usinagem preliminar escolhida foi de aço rápido, entretanto

    após alguns testes a mesma ficou cega. Sendo assim, é necessário que a fresa usada

    seja de metal duro.

    Abaixo temos na Figura 3.27 a imagem do corpo de prova tipo V e na Figura 3.28

    a imagem do corpo de prova tipo IV ambos obtidos na usinagem preliminar com os

    parâmetros e etapas definidos anteriormente. Na Figura 3.29 vemos ambos os corpos

    de provas juntos e podemos comparar seus tamanhos.

  • 36

    Figura 3.27 – Corpo de prova tipo V obtido após a usinagem preliminar

    Figura 3.27 – Corpo de prova tipo IV obtido após a usinagem preliminar

    Figura 3.29 – Corpos de prova tipo IV e tipo V obtidos após a usinagem preliminar. O

    maior é o tipo IV.

    Abaixo tem-se o fluxograma das etapas realizadas no projeto. As últimas duas etapas,

    simulação e geração do código G serão descritas no capítulo 4

    Figura 3.30 – fluxograma com a metodologia do projeto

    Definição dos parâmetros de

    usinagem experimentalmente

    Usinagem preliminar

    Projeto do dispositivo de

    fixação

    Fabricação do dispositivo de

    fixação

    Simulação da usinagem para a

    máquina de quatro eixos

    Geração do Código G

  • 37

    4 Simulação da usinagem numa máquina-

    ferramenta com quatro eixos

    Foi realizada a simulação do processo de usinagem para obtenção do corpo de

    prova tipo IV a partir de uma amostra de tecido ósseo considerando-se uma mini

    fresadora por comando numérico com quatro eixos. Tal máquina pode ser vista na

    Figura 4.1.

    A máquina possui quatro eixos, são eles os X, Y e Z e o quarto eixo, chamado

    de A, que possibilita a rotação em torno do eixo X, um motor de potência de 2 KW,

    velocidade máxima de rotação de 24.000 rpm e velocidade de avanço máxima de 5

    m/mim nos eixos X, Y e Z.

    A existência do quarto eixo permite que a usinagem da amostra seja mais rápida

    e eficiente, uma vez que, o processo de rotação da peça entre os faceamentos dos

    lados passa a ser automático.

    Figura 4.1 – Foto da máquina mini fresadora CNC com quatro eixos

  • 38

    4.1 Geometria simplificada dos ossos

    O maior desafio da usinagem das amostras é relacionado ao fato das mesmas

    terem diferentes geometrias e superfícies irregulares. Para obtenção do corpo de prova

    tipo IV a partir da usinagem da amostra é necessário que as mesmas tenham

    parâmetros dimensionais suficientes para conter um retângulo com as dimensões

    mínimas do corpo de prova descrito na Norma ASTM D683, seção 3.2, conforme pode-

    se analisar na Figura 4.2.

    Figura 4.2– Retângulo representativo do corpo de prova tipo IV que a amostra deve

    ser possível de conter.

    Após o preparo e corte em quatro partes das amostras, descritos na seção 3.1,

    foram realizadas medições para se obter os parâmetros dimensionais de cada amostra

    e deste modo, analisar a variação destes.

    Decidiu-se assim tratar as amostras cortadas de maneira simplificada como um

    arco de cilindro para facilitar o desenho e a simulação computacional da amostra (Figura

    4.3). Adotou-se assim as seguintes hipóteses:

    𝑒0 = 𝑒𝐿

    𝑑0 = 𝑑𝐿

    O que significa que a espessura e o diâmetro foram considerados constantes

    ao longo de toda a amostra.

  • 39

    Figura 4.3 - Dimensões do arco de cilindro representativo da amostra

    Os parâmetros geométricos gerais relativos as amostras variaram de seguinte modo:

    Ângulo ( Ø) - (85,100) mm

    Comprimento (𝐿0) – 90 ± 2 mm

    Espessura (𝑒0) – (5,10) mm

    Diametro interno(𝑑0) – (10,20) mm

    Após análise de mais amostras constatou-se que os parâmetros acima medidos

    não eram suficientes para caracterizar a dimensão das mesmas. De modo que,

    diferentes medidas foram realizadas, conforme mostrado na Tabela 4.1. Tais dimensões

    estão esquematizadas na Figura 4.4.

    Figura 4.4 – Cotas do osso usadas para a medição dos parâmetros dimensionais.

  • 40

    Tabela 4.1 – Valores dos parâmetros dimensionais de algumas amostras.

    Amostra

    Espessura central (mm)

    Altura tangencial

    (mm)

    Largura superior (mm)

    Largura inferior (mm)

    Laterais paralelas

    (mm)

    Comprimento (mm)

    Envergadura (mm)

    A B A B A B M A B M

    10.3 8 8,5 10,3 10 25,4 26 23 14,5 10,9 9,5 Não 93,9 3,6

    9 P4 10,5 11 14 14,2 28,6 33 29,6 15 19 14,8 Não 96 1,4

    12.2 8,3 9,7 12,2 11,5 30 25,8 27 17,1 14 11,5 Sim 92 2

    13 P4 11,5 7,5 14,2 12 30 30,7 29,5 17,6 21,8 17,1 Não 92 1

    9 P1 9,5 8,5 12 9,5 25,5 29 24 11,1 13,4 9,5 Sim 95,8 3,5

    11 P4 11,5 7 13 14 29 32,5 30,2 16 22,5 18,7 Sim 94 2

    7 P3 9,9 11 14 16,5 32,2 35,5 33,5 20,5 21 20 Sim 94 1,5

    A partir de tais valores é possível definir se uma amostra é adequada e de

    dimensão suficiente para obter um corpo de prova tipo IV com tamanho segundo a

    Norma ASTM D638.

    4.2 Simulação da usinagem no Fusion360

    A partir da simplificação das amostras foi realizada a simulação da usinagem das

    mesmas utilizando-se o Sofware Fusion 360. Tal programa permite a visualização do

    processo de fresamento realizado, bem como as variáveis inerentes ao processo, como

    tempo de corte, tempos passivos, possíveis colisões da ferramenta, velocidades e a

    geração do código g do processo.

    As etapas da simulação da usinagem foram as mesmas da usinagem preliminar:

    Faceamento do lado côncavo, chamado de face 1 , faceamento do lado convexo,

    chamado de face 2 e contorno, chamado de slot 1. Além disso a ferramenta tem o

    mesmo diâmetro de 6 mm, duas arestas de corte e é de metal duro.

    A Figura 4.5 mostra a simulação da Face 1, faceamento da lado côncavo da

    amostra. De modo que ao terminar esta etapa tem-se um dos lados da amostra reto,

    conforme verifica-se na Figura 4.6.

  • 41

    Figura 4.5– Simulação da Face 1

    Figura 4.6 – Geometria obtida após a simulação da usinagem da Face1

    A Figura 4.7 mostra a simulação da Face 2, faceamento da lado convexo da

    amostra. Ao terminar esta etapa tem-se ambos os lados da amostra retos, conforme

    verifica-se na Figura 4.8.

  • 42

    Figura 4.7 – Simulação da Face 2

    Figura 4.8 – Geometria obtida após a simulação da usinagem da Face 2

    A Figura 4.9 mostra a simulação do slot 1, contorno. Ao terminar esta etapa tem-

    se o corpo de prova tipo IV com as dimensões segundo a norma ASTM D638, conforme

    verifica-se na Figura 4.10.

  • 43

    Figura 4.9– Simulação da Slot 1

    Figura 4.10 - Geometria do corpo de prova tipo IV obtida após a simulação da

    usinagem do slot 1.

    A figura 4.11 representa a montagem da amostra de tecido ósseo, tomado

    comobruto, no dispotivo de fixação.

    Figura 4.11 – Montagem da amostra de tecido ósseo no dispotivo de fixação

  • 44

    Os parâmetros como velocidade de corte (𝑣𝑐) 316 m/mim, (N = 16800 rpm),

    profundidade de corte (𝑎𝑝) 0.3 mm e avanço (𝑓)0,0893 mm durante todos os processos

    utilizados na simulação foram os mesmos que os utilizados na usinagem preliminar

    definidos anteriormente.

    A máquina usada na usinagem preliminar têm velocidade de avanço máxima de

    2000 mm/mim e a da máquina mini fresadora CNC, na qual a simulação é baseada,

    têm velocidade de avaço máxima de 5000 mm/mim. Desta maneira, nesta simulação

    usou-se a segunda como base, o que já diminui o tempo de usinagem da simulação em

    comparação a usinagem preliminar. Além disso, o fato de existir o quarto eixo também

    diminui o tempo de usinagem, uma vez que, o quarto eixo permite a rotação da peça de

    maneira automática, assim independe do operador e de outras variavéis existentes em

    processos manuais.

    Foram testadas duas alturas de movimentação em vão livre e dois percursos de

    passes para a profundidade de corte. O que gerou diferentes tempos passivos, ou seja

    tempo gasto sem usinar de fato a amostra. No processo 1 a ferramenta se movimenta

    mais tempo no vazio que no processo 2 devido ao fato de que no primeiro é selecionado

    uma maior altura de subida da ferramenta após realização de cada passe. De modo,

    que o proceso 1 tem um tempo passivo de usinagem maior. Assim o processo 2 é mais

    eficiênte que o processo 1. Além disso testou-se num terceiro processo de simulação o

    efeito no tempo de usinagem ao aumentar-se a profundidade de corte 0.3 mm para 0.5

    mm. Conforme pode-se avaliar na Tabela 4.2.

    A motivação para se realização do processo de simulação 3 foi o trabalho de

    GRAÇA (2018), citado anteriormente. Neste trabalho o autor realizou a usinagem da

    amostra de tecido ósseo utilizando uma profundidade de corte ( 𝑎𝑝) de 0.5 mm.

    Entretanto deve-se ressaltar que apesar do osso ter sido usinado com sucesso para

    esta profundidade, o mesmo era fixado a base da mesa por dois parafusos M4. Assim

    a fixação do osso realizada pelo autor permite maiores forças de corte. Entretanto, para

    o presente dispostivo e parâmetros de usinagem comprovou-se experimentalmente que

    a profundidade de corte de 0.5 mm é inadequada, uma vez que, causou muita vibração

    e o osso escapou do dispositivo de fixação.

    Desta maneira o processo escolhido como mais adequado e eficiente é o

    processo 2.

  • 45

    Tabela 4.2 – Valores dos parâmetros de usinagem obtidos nos três processos de

    simulação realizados.

    Parâmetros Processo Face 1 Face 2 Slot 1

    Distância de corte (m)

    1 8,09 18,79 2,49

    2 6,94 18,33 2,47

    3 4,05 11,23 1,42

    Tempo de corte

    (mim´seg)

    1 6´ 44 18´47 2´33

    2 5´47 15´16 2´06

    3 3´22 9´21 1´13

    Distância passiva (m)

    1 8,20 19,19 0,84

    2 0,86 2,8 0,68

    3 0,5 1,73 0,68

    Tempo passivo

    (mim´seg)

    1 1 ´38 3´50 0´01

    2 0 ´10 0´34 0´008

    3 0´05 0´20 0´008

    Tempo total de cada

    etapa (mim´seg)

    1 8´38 22´53 2´49

    2 6´12 16´05 2´21

    3 3´43 9´57 1´29

    Tempo total de

    usinagem (mim´seg)

    1 33´40

    2 24´09

    3 14´40

    Distância total de

    usinagem (m)

    1 57,59

    2 31,53

    3 19,023

    Pela simulação foi possível gerar um programa de usinagem adequado para

    todas as amostras. Uma vez que considerou-se para simulação que a ferramenta

    deveria se movimentar de forma a ser possível usinar os ossos de diferentes dimensões.

    O que significa que o programa foi realizado de maneira que a trajetória de usinagem é

    a mínima necessária para se usinar adequadamente tanto o osso de maiores dimensões

    quanto o de menores.

    A Figura 4.12 contém dados gerados pelo Fusion 360 acerca da simulação,

    como tempo total de usinagem, número de operações realizadas e ferramentas

    utilizadas. Esta figura é referente ao processo de simulação 2, que é mais eficiente e

    adequado.

  • 46

    Figura 4.12 – Informações sobre o processo de simulação 2

  • 47

    4.3 Geração do Código G

    O software Fusion 360 permite a geração do código G, que é a programação da

    usinagem a ser realizada na máquina CNC e que indica qual a trajetória que a

    ferramenta deve seguir. O código G diz exatamente o que sera feito na usinagem desde

    parâmetros como velocidade de corte, rotação da máquina e avanço como também

    ferramenta utilizada, número de eixos da máquina usados e etapas realizadas.

    Foram gerados 3 códigos G para os três processos de simulação descritos na

    seção anterior. Nas Figuras 4.13 a 4.15 abaixo temos em verde o código do processo

    1, em vermelho o código do processo 2 e em azul o código do processo 3. As Figuras

    4.13, 4.14 e 4.15 representam respectivamente uma parte do código da Face 1, Face 2

    e Slot 1. No código referente ao processo 2 em algu