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Projeto: Dia do Vestibulando
Imagem disponível em: http://vestibulandoem-crise.blogspot.com.br/ Acesso em abr. 2014.
Introdução
Este projeto tem como objetivo promover uma reflexão sobre o vestibular para os jovens, para
quem essa é uma realidade próxima. Por isso, ele é especialmente voltado para alunos do Ensino
Médio. O vestibular é aqui considerado qualquer exame de seleção para ingresso em uma
universidade – vestibulares convencionais, ENEM ou outros.
Preparar emocionalmente os alunos para essa fase da vida escolar é fundamental, sendo o Dia
do Vestibulando um bom momento para colocar o assunto em pauta.
O projeto que aqui se apresenta tem como ponto de partida crônicas do escritor Fabricio
Carpinejar, além de outros recursos, como músicas e imagens. A escolha por este autor ocorreu
devido a seu olhar atento para questões que envolvem a contemporaneidade, sua refinada
capacidade de associação de temas aparentemente banais, sua linguagem, ao mesmo tempo
altamente poética e simples, atraente para o público em jogo.
Considera-se importante, aqui, seguir diversas propostas de trabalho, ampliando, pouco a pouco,
a reflexão sobre o vestibular. Para isso, o projeto foi dividido em três partes principais. São elas: 1
– Provocações iniciais, 2 – Interpretação e sistematização (atividades), 3 – Atividade avaliativa.
Essas propostas de trabalho, porém, podem ser adaptadas, selecionadas, expandidas, de acordo
com os interesses e necessidades do professor e de sua turma.
1- Provocações iniciais
Antes de aprofundar no tema ―Vestibular‖ de maneira mais direta, sugere-se trabalhar em sala de
aula esta primeira crônica de Fabricio Carpinejar, ambientada em Mormaço, onde os espaços
públicos de lazer seriam mais disputados pelas crianças que o vestibular e outros concursos
públicos por jovens e adultos brasileiros.
TEXTO 1
O VESTIBULAR DA INFÂNCIA
Fotos de Ricardo Chaves
Uma praça é coisa simples. Básica. A maioria dos prédios residenciais tem cantos de recreação. Não há nada de
sofisticação e de luxo. É paisagem previsível como corredor de ônibus, como postes de luz, como pintassilgo no
muro. Por mais humildes que sejam, escolas possuem um coração verde de grama e uma caixa de areia para
risadas e acrobacias dos estudantes. Praça é espaço corriqueiro e óbvio, menos para municípios como Mormaço, a
250 quilômetros de Porto Alegre, terra abafada no alto da Serra do Botucaraí, reduto de pessoas gentis e atentas,
que não dispensa a farta comida na mesa, um bom e autêntico feijão feito na banha de porco.
Apesar de organizada e impecável, das lixeiras verdes e amarelas de coleta seletiva na frente das casas, a cidade
conta apenas com dois pontos para brincar: uma pracinha de cimento (Dona Luiza) e um parquinho ao lado do
Centro Esportivo. Muito pouco para 596 meninos e meninas.
Existem sete balanços (descartei o que seria o oitavo, absolutamente torto), duas gangorras e um escorregador para
atender todo o público infantil, que representa 23,11% da população total. A concorrência é acirrada. Uma média de
62,45 crianças disputando um balanço. É maior do que o índice de 45,32 candidatos por vaga do último vestibular de
Medicina da UFRGS. A marca humilha igualmente a seleção da USP, a maior universidade do país, que teve 49,25
concorrentes por vaga. Termina sendo mais fácil passar no curso mais cobiçado do país do que arrumar um balanço
em Mormaço.
A infância no lugar é um simulado, um teste de filas e tentativas, de desistências e desculpas, de frases paternais
esperançosas: ―amanhã talvez‖, ―hoje está lotado‖, ―quem sabe outro dia‖. Os filhos arcam com dificuldades para ser
pássaro e treinar pequenos voos. Sentar no balanço é um prêmio da paciência, longas esperas por valiosos minutos
de leveza e sonhado vaivém.
O banal – tudo estaria resolvido na combinação de tábuas coloridas, arcos e correntes – torna-se milagroso. O
aprovado na corrida por um embalo não pinta o rosto muito menos estende faixa na janela, mas expressa sua alegria
pela ansiedade dos gestos. Nem senta direito, logo vai para trás, toma impulso e joga o corpo ao alto para acolher o
zumbido do vento nas franjas.
O cenário poderia ser mais tranquilo. Mas a escassez atingiu a rede de ensino. Os dois balanços da Escola Estadual
Joaquim Gonçalves Ledo, a principal de Mormaço, foram retirados. Restam somente as traves amarelas e
enferrujadas para lembrar as glórias do recreio. De acordo com a diretora Rosilene Nicolotti Perticelli, não há
expectativa de reposição. Na escola infantil Sonho de Criança, os balanços estão em conserto para tristeza dos 60
alunos dos turnos da manhã e tarde.
– Há os brinquedos de chuva, em casa, e os brinquedos do sol, na rua – diferencia Duane Follner, 10 anos.
Para os pequenos, a situação piora. Falta balanço com proteção no município. Bebês não terão a lembrança das
mãos dos pais empurrando suas costas. A gangorra dobra a carência. São 125,5 crianças por um assento. Daí
ultrapassa seleções históricas de concurso público, como a do Instituto Rio Branco. É mais vantajoso ser diplomata e
superar 82 concorrentes por uma poltrona no Itamaraty.
— Pego a bicicleta e atravesso a cidade para ir à gangorra. Chegando lá, fico com pena de quem é menor
e deixo passar na frente – comenta Duane.
O escorregador é o algodão doce, o chantilly, o brigadeiro da diversão. Um único aparelho para 502 moradores
mirins em idade de usá-lo. Lucas da Silva Klein, nove anos, foi conhecer o escorregador fora do território natal, num
passeio pelo Parque das Tuias, em Fontoura Xavier.
— Até me esqueço que isso existe para não ficar esperando – diz.
Mormaço já sabe o que deseja de presente de aniversário daqui a um mês, em 20 de março.
Publicado no jornal Zero Hora Série semanal BELEZA INTERIOR Porto Alegre, Edição N° 16616. Disponível em:
http://carpinejar.blogspot.com.br/2011/02/o-vestibular-da-infancia.html - Acesso em abr. 2014.
Após a leitura do texto, seguem algumas perguntas, que deverão orientar a primeira discussão
com a turma sobre o vestibular. As questões abaixo podem ser discutidas nesse primeiro
momento, apenas oralmente. Contudo, se o professor preferir, pode recomendar aos alunos que,
primeiro, redijam as respostas por escrito, e, sem seguida, dê início ao debate oral.
QUESTÃO 01
Percebe-se que, no texto acima, o vestibular é comparado a situações de pouca oferta e muita
demanda.
INDIQUE dois trechos do texto que explicitem essa comparação.
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QUESTÃO 02
É possível dizer que o enunciador (na figura de Carpinejar), ao propor uma comparação entre a
competitividade do vestibular e oferta de espaços públicos de lazer para a criança em Mormaço,
além de fazer uso de uma estratégia retórica, promove uma crítica, tanto ao ―vestibular da
infância‖ quanto ao vestibular como concurso de ingresso nas universidades brasileiras? Por
quê?
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QUESTÃO 03
INDIQUE outras situações na vida dos brasileiros (cotidiana ou não) que podem ser, segundo seu
ponto de vista, análogas à competitividade do vestibular e ao ―vestibular da infância‖ em
Mormaço.
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QUESTÃO 04
RELEIA o fragmento: ―A infância no lugar é um simulado, um teste de filas e tentativas, de
desistências e desculpas, de frases paternais esperançosas: ‗amanhã talvez‘, ‗hoje está lotado‘,
‗quem sabe outro dia‘. Os filhos arcam com dificuldades para ser pássaro e treinar pequenos
voos. Sentar no balanço é um prêmio da paciência, longas esperas por valiosos minutos de
leveza e sonhado vaivém.‖
Este trecho pode ser aplicado à situação do vestibular vivenciada por muitos estudantes
brasileiros? Por quê?
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QUESTÃO 05
Em especial, quais são os estudantes mais atingidos pela competitividade dos vestibulares nas
universidades públicas brasileiras? Considere as classes sociais e os cursos escolhidos para
compor sua resposta.
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QUESTÃO 06
É possível estender a crítica do texto, explicitamente voltada para os concursos públicos
brasileiros e espaços comuns de lazer em Mormaço, para a realidade da educação e da
desigualdade social que o país enfrenta? Por quê?
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QUESTÃO 07
Apesar de ser um texto que denuncia aspectos problemáticos da realidade, ele apresenta
momentos de alta densidade poética. TRANSCREVA trechos em que isso acontece.
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QUESTÃO 08
REFLITA sobre todas as questões acima discutidas e responda: Por que o texto de Carpinejar
pode ser considerado uma crônica?
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QUESTÃO 09
INDIQUE quais são as características de uma crônica.
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QUESTÃO 10
CITE outros importantes cronistas brasileiros.
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QUESTÃO 11
PESQUISE, em jornais ou revistas, crônicas, traga-os para a aula e SOCIALIZE com os colegas.
2 - Interpretação e sistematização
A leitura do TEXTO 2, bem como as atividades referentes a ele, podem ser indicadas aos alunos
como dever de casa.
Ressalte, porém, com os alunos a importância de uma leitura atenta dos textos e de responder as
questões com rigor, pois esta atividade será o ponto de partida para a atividade posterior.
TEXTO 2
O Vestibular
Superar uma dor de amor é o equivalente a estudar para o vestibular.
Tranca-se no quarto, são recusados convites para sair e se divertir, a
história pessoal é revisada, sublinhada e decorada à exaustão. Não
mais o esporte, não mais as festas, não mais os bares. Os únicos
amigos preservados são os travesseiros. Fala-se pouco, come-se
devagar, experimenta-se um emagrecimento involuntário que dá mais
certo do que uma dieta consciente. Aquela sonhada perda de sete
quilos realmente acontece, na hora e no jeito errados. Não festejamos,
não percebemos, não alardeamos a forma física, a tristeza encabula o
corpo. Somos um par de olheiras e uma boca confusa. As reticências
do período tanto podem ser suspiros como gemidos.
A única missão que resta é estudar, não para seguir uma profissão.
Estudar para seguir a própria vida. Estudar para se manter de pé ou
definitivamente cair. Na dor do amor, o desejo é chegar ao fundo de si,
mas o fundo de si está na pessoa que deixou de nos amar. E nunca se
chega ao fim. O fim não está mais com a gente. Foi junto com quem
traiu a fidelidade que acreditávamos.
A dor do amor oferece igual preparação de uma prova difícil. Uma prova
que não importa a doação, o resultado é conhecido. O que se queria já
se perdeu. Um vestibular que significará esforço e não celebração. Um
vestibular onde se é desclassificado antes da inscrição.
Foto do escritor Fabrício Carpinejar. Disponível em
http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/2008_10_01_archi
ve.html - Acesso em abr. 2014.
Não cumprimos a rotina, mal e forçosamente ficamos de pé. Os pijamas e abrigos pedem na Justiça a guarda da pele. É um luto
sem enterro. Um luto sem cadáver. Um luto sem missa de sétimo dia. Um luto sem familiares se aproximando e tentando consolar.
Um luto sem pêsames e garantia social. Um luto obrigado a trabalhar no dia seguinte. Um luto que não se explica. Um luto que
não merece nem um anúncio de jornal para avisar que acabou. Um luto em que o sofredor poderá se encontrar com seu
sofrimento em carne e osso na próxima esquina.
Acorda-se com a sensação de pesadelo, dorme-se com a sensação de pesadelo. Fase de transição, em que se confia
sinceramente que nada será melhor do que antes. Quem tinha humor fica cínico. Chora-se no princípio com força, depois o choro
é um hábito, perde a concentração e vira um resmungo intermitente. Não se faz outra coisa senão a de remoer o tempo, de repisar
fotografias, vídeos, cartas. Reler e revisar o que foi esquecido no Ensino Fundamental e Médio. São meses de exílio, de sacrifício,
a mostrar que se é capaz de sofrer a sério por alguém e abdicar do que se mais gostava.
A fossa do amor não é uma encenação. Ao passar por ela, termina a confiança irrestrita, a esperança ingênua. As pessoas que
sofreram esse descompasso são reconhecíveis de longe. Não se alegrarão de todo. Uma saudade vai retirar a velocidade dos
ouvidos. Não se abrirão de novo como uma vitória-régia. Têm uma sutileza que as diferenciam dos demais, o tolhimento do
abandono. E poderão no futuro amar melhor porque não mais estarão sozinhas. Estarão sempre conversando e consultando sua
dor.
CARPINEJAR, Fabricio. Disponível em http://www.libertas.com.br/site/index.php?central=conteudo&id=1811 - Acesso em abr. 2014.
QUESTÃO 01
Mais uma vez, Carpinejar compara o vestibular a uma situação decisiva na vida de um sujeito.
Que situação decisiva é essa? E como ela pode ser caracterizada?
CITE trechos do texto que comprovem sua resposta.
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QUESTÃO 02
Carpinejar, nesse texto, associa o vestibular a um ponto decisivo na vida de um sujeito, porque
pode ser considerado um rito de passagem, um momento a partir do qual (e a partir do modo
como é encarado) a vida poderia ser dividida em um antes e um depois.
INDIQUE e EXPLIQUE trechos, no texto, que comprovam isso.
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QUESTÃO 03
Utilizando suas palavras, EXPLIQUE como será esse ―depois‖ do luto para Carpinejar.
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QUESTÃO 04
Não só Carpinejar, como muitas pessoas, consideram o momento do vestibular como um rito de
passagem para uma vida adulta. Na sua opinião, por que o vestibular ganha tanta importância na
vida de um sujeito?
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QUESTÃO 05
Para o autor, assim como o vestibular, o luto (experiência dolorosa diante da perda de um ente
amado) também exige um trabalho, um esforço que transformará toda a vida do sujeito enlutado.
O pensador francês Roland Barthes também localiza, em um luto doloroso (vivenciado, no seu
caso, por conta da morte de sua mãe), o ―meio da vida‖ de alguém, ou seja, o ponto em que a
vida se divide em duas partes: o antes e o depois, reconfigurando toda a relação do sujeito com o
mundo.
LEIA um trecho do texto de Barthes:
―Enfim, um acontecimento vindo do Destino pode sobrevir para marcar, cortar, incisar, articular, mesmo que dolorosamente,
dramaticamente, esse atolamento progressivo, determinar a revirada da paisagem por demais familiar, que chamei de ‗meio do
caminho da vida‘: é, infelizmente, o ativo da dor. Por exemplo: Rancé, cavalheiro dândi, provocador, mundano, volta de viagem e
encontra sua amada decapitada por um acidente: ele se retira e funda a Trapa (1906) (...). Um luto cruel e como que único pode
constituir esse ‗cume do particular‘; marcar a dobra decisiva: o luto será o melhor de minha vida, o que a divide irremediavelmente
em duas partes, antes/depois. (...)
E, por outro lado, preciso sair deste atoleiro tenebroso a que me levam o desgaste dos trabalhos repetidos e do luto -> este
atoleiro, este afundamento imóvel em areias movediças ( = que não se movem!), esta morte lenta no mesmo lugar, esta fatalidade
que faria com que não se pudesse ‗entrar vivo na morte‘ e que pode ser assim diagnosticado: generalização e abatimento dos
‗desinvestimentos‘, impotência de reinvestir. (...)
Portanto, mudar, isto é, dar um conteúdo à ‗sacudida‘ do meio da vida – isto é, em certo sentido, um programa de vida (de vita
nova)‖.
BARTHES, Roland. A preparação do romance, vol.1. São Paulo, Martins Fontes, 2005. p. 7-9.
EXPLIQUE como as partes em negrito do seguinte trecho de Roland Barthes podem se aproximar
do texto de Carpinejar ―O vestibular da fossa‖. UTILIZE exemplos do texto de Carpinejar que
comprovem sua resposta.
―E, por outro lado, preciso sair deste atoleiro tenebroso a que me levam o desgaste dos
trabalhos repetidos e do luto -> este atoleiro, este afundamento imóvel em areias movediças (=
que não se movem!), esta morte lenta no mesmo lugar, esta fatalidade que faria com que não se
pudesse ‗entrar vivo na morte‘ e que pode ser assim diagnosticado: generalização e abatimento
dos ‗desinvestimentos‘, impotência de reinvestir. (...)‖
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QUESTÃO 06
O texto de Roland Barthes, porém, valoriza a experiência dolorosa de um luto, porque dela pode
advir uma Vida Nova, em que o sujeito retoma as rédeas da vida. Pode sacudi-la, recriar seu
modo de estar no mundo, fazer escolhas decisivas, reprogramando, refundando, enfim, a própria
vida, de acordo com o desejo de cada um.
EXPLIQUE como isso pode ser aplicado ao vestibular.
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QUESTÃO 07
Sabemos que o luto, para ser atravessado, necessariamente deve ser uma experiência dolorosa,
em que se aprende a fazer alguma coisa não só com a ausência do outro (que perdemos), mas
com a ausência, a falta, que funda e constitui todo ser humano.
No caso do vestibular, você considera que, como passagem para a vida adulta (quando todas as
escolhas são decisivas e solitárias, por exemplo, em relação à profissão escolhida), também
deve, necessariamente, ser uma experiência dolorosa? Por quê?
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QUESTÃO 08
Você concorda que ―Um luto cruel e como que único [ou a experiência de enfrentar o vestibular]
pode (...) marcar a dobra decisiva: o luto [ou o vestibular] será o melhor de minha vida, o que a
divide irremediavelmente em duas partes, antes/depois‖? Por quê?
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Caricatura do escritor Fabricio Carpinejar. Imagem disponível em
http://carpinejar.blogspot.com.br/2012/10/altar-vazio-jornais-de-ontem.html, com acesso em abr. 2014.
Há várias canções que também tocam o tema do vestibular. Em uma canção famosa, na década
de 80, por exemplo, o vestibular é tratado como uma etapa de vida, (super) valorizada apenas
dentro do regime de vida pequeno-burguês. A letra comporta, assim, também uma crítica social.
Abaixo, um trecho dessa canção.
TEXTO 3
Química
Legião Urbana
Estou trancado em casa e não posso sair Papai já disse, tenho que passar
Nem música eu não posso mais ouvir E assim não posso nem me concentrar
(...) Não posso nem tentar me divertir O tempo inteiro eu tenho que estudar
(...) Chegou a nova leva de aprendizes Chegou a vez do nosso ritual
E se você quiser entrar na tribo Aqui no nosso Belsen tropical
Ter carro do ano, TV a cores, pagar imposto, ter pistolão Ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão
Você tem que passar no vestibular Você tem que passar no vestibular Você tem que passar no vestibular Você tem que passar no vestibular
Letra disponível em: http://letras.mus.br/legiao-urbana/46974/ - Acesso em abr. 2014.
QUESTÃO 09
No trecho ―Chegou a vez do nosso ritual/ E se você quiser entrar na tribo‖, a que tribo a letra da
canção se refere? E a que ritual?
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QUESTÃO 10
Segundo a letra da canção acima, após a passagem pelo ritual mencionado, além de entrar para
a referida tribo, o que acontece?
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QUESTÃO 11
Por que é possível dizer que, na letra de música acima, há uma crítica aos hábitos e valores da
classe média brasileira? Comprove sua resposta com elementos extraídos da música.
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Após responder as questões propostas sobre os textos, proponha um debate aos alunos. Para
isso, disponha as carteiras em círculo, a fim de facilitar a conversa, a troca, o diálogo. Você pode
também convidar professores de outras disciplinas para partilhar esse momento. Valorize esse
debate, uma vez que será uma oportunidade de os alunos refletirem sobre sua posição diante do
período que atravessam em suas vidas e sobre como lidarão com isso agora ou em um futuro
próximo.
Ao final do debate, sugere-se a distribuição do texto abaixo e a leitura, em voz alta, com a turma.
O texto abaixo, além de dar dicas preciosas para o jovem vestibulando, ajudará a descontrair o
fim da aula.
TEXTO 4
Os 10 mandamentos do vestibulando
I – Não escolherás uma profissão pensando apenas no mercado de trabalho e no retorno financeiro.
O candidato tem de buscar sempre saber o porquê de estar realizando o vestibular e, também, o motivo de estar escolhendo uma
determinada carreira. O autoconhecimento é condição fundamental para uma decisão adequada. É preciso escolher algo de que
se vá gostar.
II- Honrarás teus pais sendo feliz com tua escolha profissional.
O vestibulando deve dialogar com os pais para que eles compreendam e respeitem suas decisões. Uma recomendação é que não
haja promessas de ambos os lados (por exemplo, o compromisso de ganhar um carro com a aprovação no concurso é um fator de
ansiedade).
III- Amarás o próximo como a ti mesmo, mas, no dia do vestibular, competirás com ele.
Ninguém precisa rejeitar os amigos nem adotar um comportamento agressivo, mas é necessário ser competitivo no momento da
prova para buscar o melhor desempenho possível.
IV- Respeitarás teus hábitos de alimentação, sono, diversão e descanso.
A disciplina de estudos é importante, mas deve haver espaço para o lazer. O tempo de sono, por exemplo, deve ser preservado. O
lazer diminui a possibilidade do estresse. Na alimentação, frutas, líquidos e alimentos leves são recomendados. Remédios contra
a ansiedade e estimulantes não devem ser tomados por conta própria.
V- Buscarás o apoio incondicional dos teus familiares.
Um ambiente tranquilo é o mais recomendável para o estudo. Todo o grupo familiar deve colaborar com o vestibulando, mas sem
cobrar dele o tempo de estudo, por exemplo, para não aumentar a ansiedade.
VI- Não estudarás toda a matéria nos últimos dias antes da prova.
O conhecimento exigido no vestibular é construído ao longo do Ensino Médio. O melhor momento para aprender é a explicação
em aula, para a qual o aluno deve prestar o máximo de atenção. A prova do vestibular é o término de um processo.
VII- Vestibular é vida. Vida não é vestibular. Respeitarás teu ritmo de estudo e teus limites.
A ideia é descobrir o tempo ideal de estudo, em lugar de estudar horas a fio ou sacrificar o sono sem conseguir se concentrar.
Uma sugestão é revisar a matéria fazendo resumos dos conteúdos e resolvendo provas de vestibulares passados. É importante
também contextualizar as informações de cada matéria, procurando correspondência com as outras disciplinas.
VIII- Conhecerás antecipadamente o local da prova e não esquecerás os documentos no dia.
É importante visitar o local de prova para saber como é o trajeto e para conhecer os horários dos meios de transporte disponíveis
(ônibus, lotação, táxi, etc.). No dia da prova, evite correrias deslocando-se com antecedência para a prova.
IX- Não farás das provas teste de rapidez e ocuparás todo o tempo disponível.
O recomendável é ler atentamente os enunciados das questões, para interpretá-las corretamente. Outra dica é garantir o máximo
de acertos com as questões consideradas mais fáceis, enfrentando depois as mais complicadas.
X- Nunca desistirás da tua identidade profissional.
Persistirás na busca da faculdade que desejas, mesmo se fores reprovado. Se a convicção pela escolha profissional é firmada no
autoconhecimento, o vestibulando deve perseguir sempre seu objetivo, sem esmorecer com eventuais reprovações.
Disponível em http://vestibular.blogs.unipar.br/2011/10/18/os-10-mandamentos-do-vestibulando/ - Acesso em abr. 2014.
3 – Atividade avaliativa
Após todas as reflexões promovidas e a partir dos textos lidos, os alunos deverão produzir uma
crônica, cujo tema principal seja o vestibular. Ao longo da crônica, o vestibular deverá, porém, ser
comparado a outra(s) situação(ões) na vida de um sujeito, assim como Carpinejar o aproximou do
luto e da pouca oferta de espaços de lazer para crianças na cidade de Mormaço. O aluno deve
ficar livre para escolher a situação que será, para ele, análoga ao vestibular. Pode, por exemplo,
tanto ser uma situação difícil, dura – como o luto - como uma situação divertida, engraçada, leve.
RELEMBRE com os alunos as características do gênero crônica, mas deixe-os livres para optar
entre a crônica poética, reflexiva ou de teor mais narrativo.
(30 linhas)
Matriz de correção da Produção de Texto
EIXOS COGNITIVOS COMPETÊNCIA VALOR NOTA
Adequação ao tema, ao
gênero e ao comando.
Compreender a proposta de redação. Adequar às características do gênero
crônica.
Coerência e coesão.
Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a
encadeamento lógico das ideias e fatos.
Adequação à norma culta.
Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Originalidade.
Elaborar um texto com elementos capazes de capturar a atenção do leitor.
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