Projeto de Declarao da Redao de Iskra e de Zari1

V. I. Lenin

Ao iniciar a publicao de dois rgos sociais-democratas uma revista cientfico-poltica e umdirio operrio de toda a Rssia consideramos indispensvel tecer algumas consideraes sobre nossoprograma, sobre os objetivos que visamos e sobre a maneira como entendemos nossa tarefa.

Vivemos um momento extremamente importante na histria do movimento operrio russo e da social-democracia russa; tudo indica, de maneira evidente, que nosso movimento se encontra num estado crtico:estendeu-se to amplamente, e nas regies mais diversas da Rssia produziram-se tantos grmens vigorosos,que vemos manifestar-se agora, com fora irresistvel, sua tendncia a consolidar-se, a revestir-se de umaforma superior, a ganhar uma fisionomia e uma organizao bem definidas. Com efeito, os ltimos anoscaracterizam-se por uma difuso extraordinariamente rpida das idias da social-democracia em nossaintelectualidade, e ao encontro desta corrente da opinio pblica avana o movimento completamenteindependente, espontneo, do proletariado industrial, que comea a se unir e a lutar contra seus opressores,manifestando uma vida aspirao de socialismo. Por todas as partes criam-se crculos de operrios e deintelectuais social-democratas, aparecem volantes de propaganda local, aumenta a procura de literatura social-democrata, superando desmesuradamente a oferta; e as incessantes perseguies por parte do governo j noconseguem mais conter este movimento.

Os crceres e os locais de confinamento esto repletos, quase todos os meses se ouve falar quesocialistas caram em todas as regies da Rssia, que encomendas foram interceptadas, propagandistascapturados, literatura e impressos confiscados; o movimento, entretanto, no se detm, cresce sem cessar,abarca extensas regies, penetra cada vez mais profundamente na classe operria, atrai cada vez mais aateno pblica. Todo o desenvolvimento econmico da Rssia, toda a histria do pensamento social russo edo movimento revolucionrio russo, garantem que o movimento operrio social-democrata crescer, apesar detodos os obstculos, e os superar.

O trao principal de nosso movimento, o que salta aos olhos de maneira muito especial nestes ltimostempos, sua disperso, seu carter artesanal, se se pode dizer assim; os crculos locais aparecem e atuam deforma quase inteiramente independente dos crculos de outras localidades e at mesmo independentes (e isto especialmente importante) dos crculos que atuaram e atuam ao mesmo tempo nos mesmos centros; no seestabelecem tradies nem heranas e a literatura local reflete bem essa disperso, essa falta de vinculaocom o que j foi criado pela social-democracia russa. O perodo atual nos parece crtico precisamente porqueo movimento comea a superar esse carter artesanal e essa disperso e exige urgentemente a passagem a umaforma superior mais unitria, melhor e mais organizada, pela qual nos consideramos obrigados a trabalhar. Sesubentende que num certo perodo do movimento, em seu incio, essa disperso era absolutamente inevitvel,que a falta de herana o efeito natural de um crescimento extraordinariamente rpido e geral do movimentoaps um largo perodo de calma revolucionria. inegvel tambm que a diversidade de condies locais, asdiferenas na situao da classe operria em tal ou qual regio, enfim, os particulares pontos de vista dosmilitantes locais, existiro sempre, e precisamente essa diversidade que testemunha a vitalidade de ummovimento e seu sadio crescimento. Tudo isso exato; mas, para dizer a verdade, a disperso e a falta deorganizao no so conseqncias inevitveis dessa diversidade. Manter a continuidade de um movimento,unific-lo, no exclui de maneira alguma a diversidade; pelo contrrio, criar um terreno mais vasto e umcampo de ao mais livre. Na altura em que se encontra atualmente o movimento, essa disperso comea aexercer diretamente uma influncia perniciosa, e ameaa desviar o movimento para um caminho falso. Umesprito estreitamente prtico, desconectado da interpretao terica geral do movimento, capaz de destruiros laos que vinculam o socialismo com o movimento revolucionrio na Rssia, por um lado, e com omovimento operrio espontneo, por outro. Obras literrias como o Credo2 que j suscitou um protesto euma condenao perfeitamente justos e como o Suplemento Especial de Rabchaia Misl3 (setembro de1899), demonstram que esse perigo no imaginrio. Esse suplemento expressou de maneira destacada atendncia que se introduziu em Rabchaia Misl, nele j se manifesta uma orientao particular na social-democracia russa; mais ainda, ele expressa uma orientao que pode causar um dano direto, e contra a qual

1 Fonte: Temas de Cincias Humanas, nmero 5. So Paulo, 1979.2 Assim era chamado o manuscrito dos economistas, redigido por Kuskova em fins da dcada de 1890.3 rgo dos economistas, publicado de 1897 a 1907.

indispensvel lutar. E a literatura legal russa, com essa pardia do marxismo que s pode corromper aconscincia social, agrava ainda mais essa desordem e essa anarquia, graas qual o famoso Bernstein(famoso por sua bancarrota) pde, atravs da imprensa, proclamar perante o mundo todo a mentira de que umasuposta maioria dos social-democratas russos esto com ele.

Seria ainda prematuro julgar a profundidade deste desacordo ou a possibilidade que oferece a criaode uma orientao particular (de maneira alguma nos sentimos inclinados a resolver este problema em sentidoafirmativo desde agora; tampouco perdemos ainda a esperana de que seja possvel trabalhar juntos); mas,fechar os olhos gravidade da situao, seria muito mais prejudicial ainda do que exagerar esse desacordo; esaudamos de todo corao o retomo atividade literria do grupo Emancipao do Trabalho e a luta quetravou contra a tentativa de deformar e vulgarizar a social-democracia4.

A concluso prtica que devemos retirar disso tudo a seguinte: para ns, social-democratas russos, indispensvel que nos unamos e concentremos todas as foras na formao de um partido nico e poderoso,que conduzir a luta sob a bandeira do programa social-democrata revolucionrio, que preservar a herana domovimento e manter sistematicamente sua organizao. Esta concluso no nova. Os social-democratasrussos j a adotaram h dois anos, quando os representantes das maiores organizaes social-democratas daRssia, reunidos no congresso da primavera de 18985, fundaram o Partido Operrio Social-Democrata daRssia, publicaram seu Manifesto e reconheceram Rabchaia Gazeta como rgo oficial do partido. Ao nosconsiderarmos membros do Partido Operrio Social-Democrata da Rssia, compartilhamos totalmente asidias fundamentais do Manifesto e lhe atribumos uma grande importncia como declarao franca e pblicados objetivos visados por nosso partido. Por isso, para ns, como membros do partido, o problema de nossastarefas mais urgentes e imediatas coloca-se da seguinte maneira: que plano de ao devemos adotar paraalcanar amais slida restaurao do partido? Alguns camaradas (e ainda alguns grupos e organizaes) atm-se idia de que, para conseguir esse objetivo, convm proceder a uma nova eleio do organismo central dopartido e confiar-lhe a tarefa de retomar a publicao do rgo do partido. Consideramos que este plano errneo ou, ao menos, arriscado. Criar e consolidar o partido criar e consolidar a unidade de todos os social-democratas russos, e tal unidade no pode ser alcanada simplesmente por decreto, no pode ser impostasimplesmente por resoluo, digamos, de uma assemblia de representantes; preciso cri-la. indispensvel,em primeiro lugar, elaborar uma literatura comum a todo o partido, comum no s porque dever estar aservio de todo o movimento russo, e no de regies isoladas; no apenas porque examinar os problemasrelativos ao movimento operrio em seu conjunto, considerado como um todo e no apenas os problemaslocais , auxiliando a luta que travam os proletrios conscientes. Mas comum tambm porque unificar todasas foras existentes da literatura poltica, a fim de refletir todos os matizes de opinio e de pontos de vista queencontramos entre os social-democratas russos, considerados no como trabalhadores isolados, mas comocamaradas ligados por um programa e por uma luta comuns nos quadros de uma organizao nica. indispensvel, em segundo lugar, criar uma organizao especialmente consagrada a vincular entre si oscentros do movimento, a subministrar informaes completas e oportunas sobre o movimento e a prover deimprensa, regularmente, a todas as provncias da Rssia. Somente ento, quando tal organizao tiver sidocriada, quando tiver sido criado um correio socialista russo, quando o partido tiver assegurado uma existnciaslida, somente ento o partido converter-se- numa realidade e, conseqentemente, numa poderosa forapoltica. primeira metade desta tarefa, qual seja, elaborao de uma literatura comum, temos a inteno deconsagrar nossas foras, porque vemos ali a necessidade essencial do movimento atual e o passo preparatrioindispensvel para o renascimento da atividade do partido.

Do carter de nossa tarefa depreende-se tambm, naturalmente, o programa que deve orientar osrgos de imprensa que publiquemos. Ser preciso reservar muito espao para os problemas tericos, querdizer, para a teoria geral da social-democracia e sua aplicao realidade russa. A urgncia de um amploexame destes problemas, precisamente no momento atual, no pode ser colocada em dvida, e depois do quej dissemos isto no requer explicao. Subentende-se que necessrio vincular estreitamente os problemasda teoria geral com o conhecimento do movimento operrio do Ocidente, sua histria e sua situao atual. Porisso nos propomos como objetivo o exame sistemtico de todos os problemas polticos: o Partido OperrioSocial-Democrata deve dar sua opinio sobre todos os problemas que a vida apresenta em todos os terrenos,

4 O grupo conduzido por Plekhnov havia publicado em Genebra, em princpios de 1900, uma Declarao sobre acontinuidade da atividade editorial, onde se apoiava a posio de Lenin contra a corrente economista da Unio dosSocial-Democratas russos.5 Referncia ao famoso primeiro congresso de Minsk, realizado em maro de 1898.

sobre os problemas de poltica interior e exterior, e devemos fazer todos os esforos para que cada social-democrata, cada operrio consciente, tenha opinies bem definidas sobre cada um dos problemasfundamentais: sem tal condio, no so possveis uma propaganda e uma agitao amplas e planejadas. Oestudo dos problemas tericos e polticos estar vinculado elaborao de um programa do partido, cujanecessidade j foi reconhecida pelo congresso de 1898 (temos a inteno de publicar proximamente umprojeto de programa, cujo exame detalhado deve proporcionar materiais suficientes para o prximo congresso,no qual se colocar o problema da aprovao do programa6). Por isso, consideramos como tarefa de particularurgncia o exame dos problemas relativos organizao e dos mtodos prticos para realiz-la. A falta deherana e a disperso de que j falamos mais acima refletem-se de maneira especialmente prejudicial sobre oestado atual da disciplina do partido, de sua organizao e de seus mtodos de atividade clandestina. Deve-sereconhecer franca e abertamente que nesse aspecto ns, social-democratas, estamos atrasados em relao aosvelhos militantes do movimento revolucionrio russo e s demais organizaes que atuam na Rssia, e quedevemos nos esforar para eliminar esse defeito. A ampla atrao que o movimento exerce sobre as massasoperrias e sobre a juventude intelectual, ao lado dos incessantes golpes e do refinamento das perseguiesgovernamentais, tomam absolutamente indispensvel a propaganda sobre os princpios e os mtodos deorganizao do partido, sobre a disciplina e a tcnica conspirativa.

Tal propaganda, se realizada pelos diversos grupos e pelos camaradas mais experientes, pode e deveconduzir formao, entre os jovens socialistas e os jovens operrios, de hbeis dirigentes do movimentorevolucionrio, capazes de superar todas as dificuldades que o jugo do governo autocrtico e policial ope aonosso trabalho, e de responder s reivindicaes das massas operrias, que espontaneamente tendem aosocialismo e luta poltica. Finalmente, o estudo deste movimento espontneo (tanto nas massas operriascomo em nossa intelligentzia) deve ser, em relao com os temas acima mencionados, uma de nossasprincipais tarefas: devemos nos orientar para esse movimento social intelligentzia, que singulariza, naRssia, a segunda metade da dcada de 90 e que rene diversas e s vezes heterogneas correntes; devemosestudar cuidadosamente a situao da classe operria em todos os setores da economia nacional, estudar asformas e as condies de seu despertar e da luta que empreende, a fim de ligar, num todo indissolvel, osocialismo marxista que comea a lanar razes na terra russa com o movimento operrio russo; a fim deligar o movimento revolucionrio russo aos levantes espontneos das massas populares. Somente ento,quando tal ligao tiver se concretizado, poder criar-se na Rssia o Partido Operrio Social-Democrata,porque a social-democracia no consiste unicamente em colocar-se a servio do movimento operrioespontneo (como s vezes se inclinam a pensar, entre ns, alguns prticos de nossa poca); a social-democracia consiste em unir o socialismo ao movimento operrio. Somente tal unio d ao proletariado russoa possibilidade de cumprir sua principal tarefa poltica: liberar a Rssia do jugo da autocracia.

A distribuio dos temas e dos problemas indicados, entre a revista e o peridico, efetuar-se- emfuno das diferenas de extenso dessas publicaes e da diversidade de seu carter: a revista deve servirpreferentemente propaganda, o peridico agitao. Mas na revista e no peridico indispensvel refletirtodos os aspectos do movimento, e desejamos destacar especialmente nossa oposio a um plano que pretendeque o peridico publique em suas pginas, exclusivamente, aquilo que de maneira imediata e direta concerneao movimento operrio espontneo, deixando tudo o que estiver relacionado com a teoria do socialismo, coma cincia, com a poltica, com os problemas de organizao do partido etc., para o rgo destinado aosintelectuais. Pelo contrrio, indispensvel unir todos os fatos concretos e todas as manifestaes domovimento operrio com os problemas assinalados; indispensvel aclarar, atravs da teoria, cada fatoparticular; indispensvel difundir os problemas polticos e de organizao do partido entre as mais amplasmassas da classe operria; indispensvel incluir esses problemas na propaganda. A forma de agitao queimperava quase com exclusividade entre ns at agora quer dizer, a agitao atravs de volantes locais j insuficiente: estreita demais, j que apenas toca em problemas locais e, principalmente, nos aspectoseconmicos. Devemos nos esforar para criar uma forma superior de agitao atravs do peridico, o qualregistrar periodicamente as queixas dos operrios, as greves e outras formas de luta proletria e todas asmanifestaes de opresso poltica em toda a Rssia, e que, de acordo com os objetivos finais do socialismo ecom as tarefas polticas do proletariado russo, tire concluses de cada fato. Estender os limites e ampliar ocontedo de nossa atividade de propagandistas, agitadores e organizadores: esta expresso de P. B. Axelrod

6 O projeto de programa do partido para o II Congresso do POSDR foi elaborado sobre a proposta de Lenin, da redaodo Iskra e de Zari, e publicado no nmero 21 do Iskra, em 19 de junho de 1902. O projeto foi aprovado pelo Congresso,realizado em agosto de 1903.

deve ser a palavra-de-ordem para definir num futuro prximo a atividade dos social-democratas russos, e nsa adotamos para o programa de nossos rgos.

Aqui se coloca, naturalmente, a seguinte questo: se os rgos por ns propostos devem servir para aunio de todos os social-democratas russos, para sua coeso num partido nico, devem ento refletir todos osmatizes de opinio, todas as particularidades locais e os mtodos prticos mais diversos. Como conciliar estareunio de pontos de vista diversos com a unidade de redao dos rgos? Esses rgos devem ser umasimples recoleo de opinies diversas, ou devem ter uma orientao independente, perfeitamentedeterminada?

Nestes dois problemas nos decidimos pela segunda opinio e estamos certos de que um rgo comuma orientao perfeitamente determinada pode ser til (como veremos mais adiante) para refletir as diversasopinies e para estabelecer uma polmica fraternal entre os colaboradores. Pelos nossos pontos de vista,participamos plenamente de todas as idias fundamentais de Marx (tal como foram expostas no ManifestoComunista e nos programas dos social-democratas da Europa Ocidental) e somos partidrios dodesenvolvimento conseqente dessas idias no esprito de Marx e de Engels, rechaando resolutamente essasemendas hbridas e oportunistas que entraram na moda seguindo o fcil exemplo de Bernstein. Consideramoscomo objetivo da social-democracia a organizao da luta de classes do proletariado, a participao nessa luta,a enunciao de seu ineludvel objetivo final, o estudo das condies que determinam os meios para realizaressa luta. A emancipao da classe operria deve ser obra dos prprios operrios7. Mas, ao no separar asocial-democracia do movimento operrio, no devemos esquecer que seu objetivo representar em toda asua integridade os interesses desse movimento, em todos os pases; que de maneira alguma deve cair numacega venerao ante tal ou qual fase particular em que se encontra o movimento, ante tal ou qual poca, antetal ou qual lugar. Consideramos que um dever da social-democracia apoiar a todo movimentorevolucionrio contra o regime governamental e social existente e que seu objetivo a conquista do poderpoltico pela classe operria, a expropriao dos expropriadores e a construo da sociedade socialista.Rechaamos resolutamente toda tentativa de debilitar ou abafar o carter revolucionrio da social-democracia,que constitui o partido da revoluo social, implacavelmente hostil a todas as classes que se mantm noterreno da atual estrutura social. Em particular, consideramos como tarefa histrica da social-democracia russao derrubamento da autocracia: a social-democracia russa est chamada a ser a vanguarda combatente dademocracia russa, est chamada a realizar o objetivo que o desenvolvimento social da Rssia lhe aponta e quefoi indicado pelos ilustres militantes do movimento revolucionrio russo. Somente ligando de maneiraindissolvel a luta econmica luta poltica, somente estendendo a propaganda e a agitao polticas scamadas cada dia mais amplas da classe operria, que a social-democracia pode cumprir sua misso.

A partir deste ponto de vista ponto de vista que j foi exposto aqui em seus traos mais gerais ecuja argumentao foi dada mais de uma vez pelo grupo Emancipao do Trabalho e no Manifesto doPartido Operrio Social-Democrata da Rssia, com o Comentrio que o completa nos folhetos Tarefas dosSocial-Democratas Russos e A Causa Operria na Rssia (fundamentando o programa da social-democracia) esclareceremos tambm todos os problemas tericos e prticos e nos esforaremos para ligar s idiasassinaladas todas as manifestaes do movimento operrio e todas as reclamaes democrticas na Rssia.

Mas, ao orientar nossa tarefa na literatura social, ao nos situarmos numa posio bem determinada, denenhuma maneira temos a inteno de apresentar os distintos aspectos de nossa opinio, como a opinio dossocial-democratas russos; tampouco nos ocorre negar as divergncias existentes, nem dissimul-las ou apag-las. Muito pelo contrrio: queremos que nossos rgos sejam rgos de discusso de todos os problemas paratodos os social-democratas russos que sustentem pontos de vista dos mais diversos matizes. No s norechaamos a polmica entre camaradas nas pginas de nossos rgos, como, pelo contrrio, estamosdispostos a conceder-lhe o maior espao. desejvel, mais ainda, indispensvel, uma polmica franca entretodos os social-democratas russos e entre todos os operrios conscientes para esclarecer a verdadeiraprofundidade das divergncias existentes, para discutir os problemas em litgio em todos os seus aspectos,para lutar contra os extremismos em que inevitavelmente caem os representantes de diferentes opinies, dediferentes regies ou de diferentes profisses do movimento revolucionrio. Consideramos tambm comouma das lacunas do movimento atual a ausncia de uma polmica franca entre pontos de vista notoriamentedivergentes, isto , o esforo por dissimular os desacordos no tocante a questes essenciais.

Mais ainda: reconhecendo a classe operria e a social-democracia russa como a vanguarda combatentena luta pela democracia, pela liberdade poltica, consideramos necessrio nos preocuparmos em fazer de

7 Em Marx, Estatutos Gerais da Associao Internacional dos Trabalhadores (I Internacional).

nossos rgos, rgos de toda a democracia, mas no com a idia de que podemos admitir, por um momentosequer, o esquecimento do antagonismo de classe entre o proletariado e as outras classes, no para tolerar amnima tentativa de ocultar a luta de classes, e isso de maneira alguma; nossa idia que se exponham e seexaminem todos os problemas democrticos sem nos limitarmos de forma estreita aos que se relacionam como proletariado, que se exponham e se examinem todos os casos e todas as expresses de opresso poltica, quese mostrem os laos que ligam o movimento operrio luta poltica em todas as suas formas, que se convide atodos os que lutam honestamente contra a autocracia, qualquer que seja sua opinio e qualquer que seja aclasse a que pertenam, a apoiar a classe operria, considerada como a nica fora revolucionria edecididamente hostil ao absolutismo. Por isso, dirigindo-nos a todos os socialistas russos e aos operriosconscientes, no queremos nos limitar exclusivamente a eles. Chamamos tambm a todos aqueles a quem oatual regime poltico da Rssia esmaga e oprime, aqueles que aspiram a libertar o povo russo de suaescravido poltica; chamamos-os a apoiar as publicaes que dedicam suas foras organizao domovimento operrio para formar um partido poltico revolucionrio; lhes oferecemos as pginas de nossosrgos para desmascarar todas as infmias e todos os crimes da autocracia russa. Lanamos este chamadopersuadidos de que a bandeira da luta poltica hasteada pela social-democracia russa pode e deve converter-sena bandeira de toda a nao.

As tarefas a que nos propomos so, em alto grau, amplas e gerais, e no nos teramos decidido aenfrent-las se, de toda a nossa experincia, no tivssemos extrado a firme convico de que essas so astarefas fundamentais de todo o movimento, se no nos tivssemos assegurado a simpatia e se no tivssemosobtido a promessa de uma mltipla e constante ajuda da parte de: 1) algumas das organizaes do PartidoOperrio Social-Democrata da Rssia; 2) o grupo Emancipao do Trabalho, que fundou a social-democracia russa e esteve sempre frente de seus tericos e representantes na literatura social; 3) de toda umasrie de pessoas que no pertencem a organizaes mas que sentem simpatia pelo movimento operrio social-democrata e prestam no pouca ajuda. Dedicaremos todos as nossas foras para realizar de maneira efetivanossa parte no trabalho revolucionrio geral, e faremos todos os esforos necessrios para que nossoscamaradas russos considerem nossas publicaes como rgos seus, nos quais cada grupo possa dar suasinformaes sobre o movimento, aos quais comunicar suas opinies, suas preferncias em literatura social,suas experincias, sua apreciao sobre as publicaes social-democratas quer dizer, numa palavra, tudo oque entrega ao movimento operrio e tudo o que dele recebe. Somente nessas condies ser possvel apublicao de um rgo social-democrata destinado realmente a toda a Rssia. A social-democracia russasente-se constrangida nos marcos dessa clandestinidade onde atuam grupos isolados e crculos dispersos; j tempo de sair desses marcos para tomar o caminho de uma pregao aberta do socialismo, o caminho da lutapoltica franca, e o primeiro passo a dar nesse caminho deve ser a publicao de um rgo social-democratapara toda a Rssia.