projeto de arquitetura e urbanismo viii - ufjf.brvel-dos-olhos.pdf · evolução (?) urbana e...

12
07/04/2016 1 Prof. Luciane Tasca Projeto de Arquitetura e Urbanismo 8_turma A UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO A CIDADE AO NÍVEL DOS OLHOS Cidades para pessoas Jan Gehl Pequena escala e qualidade A dimensão humana em todos os tipos de cidades e áreas urbanas deve ser um requisito universal Objetivo: apresentar princípios de planejamento para a dimensão humana das cidades Ponto inicial: atividades humanas universais As cidades devem propiciar boas condições para os que querem caminhar, parar, sentar, olhar, ouvir e falar. Caminhar com um propósito CAMINHAR É MAIS QUE O MOVIMENTO QUE NOS LEVA DE UM LUGAR A OUTRO. Caminhada rápida de um ponto A para um ponto B Passeio lento para fruir a cidade ou um pôr do sol Ziguezaguear das crianças Caminhada de um idoso para pegar ar fresco ou exercitar Caminhar com uma velocidade Muitos fatores influenciam na velocidade do caminhar Qualidade do percurso Superfície Quantidade de pessoas Idade Mobilidade O projeto do espaço e o clima também influenciam Os pedestres andam mais rápido em ruas lineares, ao passo que o ritmo cai em praças As pessoas também andam mais rápido quando chove, venta, faz frio ou para fugir de uma forte incidência solar

Upload: duongkiet

Post on 20-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

07/04/2016

1

Prof. Luciane Tasca

Projeto de Arquitetura e

Urbanismo 8_turma A

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

A CIDADE AO NÍVEL DOS OLHOS

Cidades para pessoas – Jan Gehl

Pequena escala e qualidade

A dimensão humana em todos os tipos de cidades e

áreas urbanas deve ser um requisito universal

Objetivo: apresentar princípios de planejamento para a

dimensão humana das cidades

Ponto inicial: atividades humanas universais

As cidades devem propiciar boas condições para os

que querem caminhar, parar, sentar, olhar, ouvir e

falar.

Caminhar com um propósito

CAMINHAR É

MAIS QUE O

MOVIMENTO

QUE NOS

LEVA DE UM

LUGAR A

OUTRO.

Caminhada rápida de um

ponto A para um ponto B

Passeio lento para fruir a

cidade ou um pôr do sol

Ziguezaguear

das crianças Caminhada de um idoso para

pegar ar fresco ou exercitar

Caminhar com uma velocidade

Muitos fatores influenciam na velocidade do caminhar

Qualidade do percurso Superfície

Quantidade de pessoas Idade Mobilidade

O projeto do espaço e o clima também influenciam

Os pedestres andam mais rápido em ruas

lineares, ao passo que o ritmo cai em praças

As pessoas também andam mais

rápido quando chove, venta, faz

frio ou para fugir de uma forte

incidência solar

07/04/2016

2

Caminhar por um tempo

A distância aceitável de caminhada é um conceito fluido

A maior parte das pessoas são dispostas a percorrer 500m

A distância aceitável depende da qualidade do percurso

Trajeto interessante Piso de boa qualidade

Os centros das cidades confirmam a distância de 500m

Grande parte deles correspondem a uma área de 1km²

Juiz de Fora

Espaço para caminhar

Condição para a caminhada agradável e confortável: espaço

livre e desimpedido

Evolução (?) urbana e espaço para os pedestres

Av. Rio Branco (1872)

Av. Rio Branco (1915) Av. Rio Branco (1940)

Av. Rio Branco (1969) Av. Rio Branco (1990)

Av. Rio Branco (2014)

Pensar a cidade para o pedestre

Os pedestres naturalmente

evitam desvios, obstáculos,

degraus, percorrendo com

frequência caminhos em linha

reta

Como consequência, nos

projetos, gramados são

pisoteados em várias direções

Em geral, é fácil prever as

linhas preferidas pelos

pedestres e incorporá-las ao

projeto

O resultado pode ser

surpreendente, as

linhas preferidas podem

inspirar desenhos e

formas fascinantes

07/04/2016

3

A ideal distância de 500m não é uma

verdade absoluta

Se o percurso for interessante, rico e

confortável, os pedestres esquecem da

distância e fruem experiências que

ocorrem

Perspectivas cansativas e

interessantes

Perspectiva cansativa:

O pedestre vê o percurso desde o

começo

O caminho é reto e parece infinito, sem

promessa de experiências interessantes

no trajeto

Perspectivas interessantes:

Caminho dividido em segmentos viáveis

As pessoas andam de praça em praça ou

em uma rua atraente e sinuosa

As curvas não devem ser muito

fechadas, impossibilitando o pedestre de

ver muito à frente

As vistas devem se abrir

A maior rua de

pedestres do mundo A rua Strøget, em

Copenhague possui 1km de

extensão

Atravessa o centro da cidade

diretamente

Incontáveis curvas e voltas

aproximam os espaços e os

tornam interessantes

4 praças dividem o percurso

O papel dos espaços de transição

A qualidade das fachadas no nível térreo é um fator importante

Onde não há lojas ou bancas, chama-se atenção para portas de

entrada, detalhes construtivos e paisagismo

Expressões de fachada verticais aparentam caminhadas mais curtas e

viáveis

Prédios com linhas horizontais ressaltam a distância

Escadarias e degraus

Subir e descer escadas requer maior uso de músculos e

faz com que o ritmo da caminhada seja o da escalada

Escadas e degraus são um desafio físico e psicológico

para pedestres

Se eles puderem vão evitá-los

“Psicologia da escadaria”

É possível disfarçar as

escadarias de forma a

tornar o trajeto mais

viável

Se víssemos a

completa dimensão de

uma escada de uma só

vez, provavelmente

consideraríamos

impossível subir até seu

topo

07/04/2016

4

Os patamares dividem a

subida em segmentos

mais curtos

É como andar de praça

em praça, sem ver a

escada em sua exaustiva

e completa dimensão

Dessa forma somos

convidados a subir

Escadarias em espaços públicos

Piazza di Spagna, Roma: subida combinada com

experiências visuais

Escadarias e degraus são um obstáculo concreto a ser

evitado, por princípio, sempre que possível

Quando forem imprescindíveis, devem ter dimensões

confortáveis, e o interesse visual e a psicologia da

escadaria devem ser usados de modo efetivo

Rampas ou elevadores devem ser criados para o tráfego

de cadeirantes e pedestres com mobilidade reduzida

Escadas e rampas

Se considerarmos as situações em que é possível escolher entre usar

escadas ou rampas, existe uma clara preferência pelas rampas, pois

nelas é possível manter o ritmo da caminhada

Pedestres na era do automóvel

A partir dos anos 1950 a engenharia de tráfego passou a trabalhar a

segurança dos pedestres por meio de passagens subterrâneas e

passarelas

Estas soluções não eram apreciadas pela população, funcionando

somente mediante a instalação de cercas altas ao longo das estradas

Deve-se encontrar

soluções para ruas e vias

que permitam aos

pedestres e bicicletas

permanecer no nível da

rua e atravessá-la com

dignidade

Um modelo integrado de

tráfego pode fazer com

que as ruas sejam mais

seguras e amistosas, com

os carros andando mais

lentamente e parando com

maior frequência

07/04/2016

5

Conforto ao caminhar

A pavimentação também tem papel

importante no conforto dos

pedestres:

As superfícies devem ser niveladas e

não escorregadias

Segurança ao caminhar

Uma boa cidade para se caminhar deve funcionar de dia

e de noite

Uma iluminação à noite é essencial, seja ela sobre

pessoas, rostos, cantos, recuos, pisos, superfícies e

degraus

Atividades estacionárias

Dois tipos de atividades ocorrem

nos espaços urbanos: as de

movimento e as estacionárias

As atividades estacionárias podem

ser classificadas de acordo com o

grau de necessidade:

As que não dependem da qualidade

urbana: comércio de rua, limpeza e

manutenção

As que dependem da qualidade

urbana: estar urbano, cafés e

contemplação

Permanência em

espaços de transição

Sempre que as pessoas param, elas procuram os limites

do espaço: “efeitos dos espaços de transição”

Nos limites dos espaços de transição, não estamos no

meio do tráfego, vemos tudo à frente e temos as costas

protegidas

Mobiliários e fachadas

Mobiliários e fachadas fornecem pontos de apoio á

permanência, como por exemplo os balizadores da Piazza

del Campo, em Siena

São mais atraentes as zonas de permanência atreladas a

fachadas detalhadas. Já fachadas lisas indicam

movimentação

As mais atraentes fachadas urbanas, no que diz respeito à

permanência, são as que apresentam “caves”, nichos e

reentrâncias.

Esses elementos propiciam apoios e proteção contra

intempéries, além de boa visão do entorno

07/04/2016

6

Características da

boa permanência

Bons espaços para

permanecer tem fachadas

irregulares e bons pontos

de apoio

Para além, fixam-se:

Microclima agradável

Boa localização

Espaços de transição

Boa visibilidade

Nível de ruído baixo

Baixo índice de poluição

Vista

Outros elementos

no campo de

visão das

pessoas:

Água

Árvores

Flores

Bom espaço

Boa arquitetura

Obras de arte

Vida e pessoas

Formas de se acomodar

O conforto ao se sentar influi na escolha dos bancos e na

duração da permanência:

Primários: bancos, cadeiras isoladas e cadeiras de café

Secundários: locais onde as pessoas possam se acomodar de

forma espontânea – pedestais, degraus, pedras, frades,

monumentos e fontes

Assentos primários

A preocupação com a vida urbana está totalmente

ausente de considerações sobre a localização de bancos

e a escolha de desenhos e materiais

Os bancos ficam ancorados em meio ao nada, longe dos

espaços de transição, recantos e reentrâncias, projetados

muitas vezes como caixões

No entanto, os assentos primários podem constituir vários

tipos, incluindo cadeiras móveis

Esse tipo de mobiliário oferece flexibilidade ao usuário,

que pode aproveitar ao máximo o local, clima e vista,

além de permitir que ele organize seu próprio espaço

social

Vitalidade das zonas de transição

Estudos sobre centros urbanos

mostram que a permanência

nos ambientes que margeiam os

espaços urbanos compõem o

grosso das atividades

estacionárias

Nesse âmbito, adquirem

relevância os cafés de calçada

da paisagem urbana moderna

Estes equipamentos oferecem

cadeiras confortáveis e boa

visão dos passantes

07/04/2016

7

Vitalidade e permanência

“Convidar as pessoas a caminhar e pedalar na cidade é

um início, mas não basta. O convite deve incluir a opção

de se sentar e passar um tempo na cidade. Atividades de

permanência são a chave de uma cidade viva, mas

também realmente agradável. As pessoas ficam se um

lugar for bonito, significativo e agradável. Uma boa cidade

tem muitas semelhanças com uma boa festa: os

convidados ficam porque se divertem.”

(GEHL, 2013, P.147)

Bons lugares, ótima escala

Não importa o quanto se estude o clima, a iluminação, o

mobiliário e outros fatores essenciais da qualidade

urbana ao nível dos olhos, o esforço pode ser quase

inútil se a qualidade espacial, as proporções e as

dimensões não forem cuidadosamente analisadas.

Experiência do conforto e bem-estar está ligada a

harmonia entre corpo humano, seus sentidos,

dimensões espaciais e escalas.

Influência decisiva

em nossa

experiência sobre o

lugar e em nosso

desejo de nos

movimentarmos ou

premanecermos ali.

Yagamata, Japão Piazza Navona, Roma

Camilo Sitte descreveu a importância de dimensionar

o espaço das cidades de acordo com suas funções e

habitantes, assim como ter espaços fechados onde a

linha de visão é interrompida pelas fachadas

circundantes.

O dimensionamento dos espaços é um fator crucial

para sua função como arcabouço das atividades

humanas e para o bem estar das pessoas. Através de uma análise das cidades na história, Sitte propõe reavaliar a cidade através

de seus espaços existentes, principalmente suas praças. Segundo Françoise Choay

seu objetivo foi o de "polemizar contra as transformações de Viena e planejamento do

Ringstrasse segundo princípios do Barão Georges-Eugène Haussmann. Foi, no

entanto, sem efeito sobre o destino urbanístico da capital austríaca e a concepção de

Otto Wagner." Sua obra será fonte de inspiração para Patrick Geddes, Lewis Mumford.

07/04/2016

8

Sluseholmen, copenhague, dinamarca

A proporção

As proporções espaciais das cidades antigas revela o

mesmo modelo em todas elas. Ruas com 3, 5, 8 ou 10

metros podem facilmente absorver o tráfego de 2.400 a

7.800 pessoas.

Praças com 40 x 80 significam poder observar toda a

cena, ver a própria praça e os rostos.

Hoje: proporções semelhantes são encontradas em

shoppings, parques de diversões, onde o conforto e o

desejo de fazer valer cada metro, determinam a

dimensão do espaço.

Piazza del Campo, Siena.

Combinação de escalas

Ruas que priorizam pedestes oferecem a oportunidade

de trabalhar com a arquitetura dos 5 Km/h, para que

pedestres possam se mover com conforto e os veículos

lentos tenham acesso.

Construir cidades atraentes = cidade ao nível dos olhos

e edifícios situados acima dela.

É o princípio de colocar pequenos espaços dentro de

maiores combinando grandes espaços à escala

humana.

Ramblas de Barcelona Orestad Copenhague, Dinamarca

07/04/2016

9

Eurolille, Lille, Francá

Bancas de comércio, guarda-sóis, toldos e cafés,

fazem o espaço urbano parecer menor e mais intimista.

Mobiliário urbano e balizadores também ajudam a criar

espaços menores em espaços maiores.

Boas cidades para pedalar

Os ciclistas representam um tipo diferente e uma

forma mais rápida de tráfego a pé, mas em termos de

experiências sensoriais, vida e movimento, eles são

parte do resto da vida urbana.

Aspectos sob os quais precisamos planejar: topografia,

clima e estrutura urbana

Amsterdã, Holanda

O fato é que um bom número de cidades tem estrutura,

terreno e clima adequados para andar de bicicleta, mas

a adoçao de políticas de circulação que priorizam o

automóvel fizeram com que andar de bicicleta se

tornasse perigosos ou impossível.

Em muitas cidades a circulação de bicicletas não passa

de conversa de políticos, e a infraestrutura ciclística,

consiste em geral, de trechos de vias desconectadas

aqui e ali, em vez de ser objeto de abordagem útil.

07/04/2016

10

Barcelona, Espanha

Copenhague, Dinarmarca

NUMA ÉPOCA EM QUE COMBUSTÍVEIS

FÓSSEIS, POLUIÇÃO, PROBLEMAS COM

CLIMA E SAÚDE SE TORNAM UM DESAFIO

GLOBAL, PARECE UM PASSO ÓBVIO

PRIORIZAR O TRÁFEGO DE BICICLETAS.

Integração entre sistemas

O convite para pedalar implica que o tráfego de

bicicletas esteja integrado na estratégia geral de

transportes.

É preciso criar condições para levar bicicletas nos

trens, metrôs, e, de preferência também em ônibus

urbanos, para que seja possível viajar combinando

bicicleta e transporte público. Os táxis também

poderiam levar bicicletas, quando necessário.

07/04/2016

11

Onde estacionar a bicicleta?

Outra ligação importante em um sistema integrado de

transporte é a possibilidade de estacionar a bicicleta

com segurança em estações e terminais.

É também preciso ter boas opções de estacionamento

para bicicletas ao longo das ruas em geral, escolas,

escritórios e residências.

Novos edifícios deveriam incluir estacionamento para

bicicletas, vestiários e chuveiros para ciclistas como

parte integrante do seu programa.

A segurança para quem pedala

Outro ponto essencial é a segurança. Uma rede de

ciclovias protegida por meios-fios e carros estacionados

são o primeiro passo importante.

Além disso é preciso manter a segurança nos

cruzamentos. Uma opção são semáforos especiais, que

mostram a luz verde para o cruzamento de ciclistas

cerca de 6 segundos antes de abrir para veículos

motorizados.

Além disso, ônibus e caminhões precisam ter espelhos

especiais para ver as bicicletas.

Uma rede de ciclovias confortável

É importante criar conforto e comodidade em termos de

redes ciclísticas.

Passeios de bicicletas podem ser interessantes,

agradáveis, adotando-se alguns critérios para as

ciclovias.

07/04/2016

12

As ciclovias

É necessário que as bicicletas tenham espaço suficiente

para que não sejam empurradas ou fiquem

aglomeradas.

A largura pode variar de 1,70 a 4 metros, sendo que 2,5

é o mínimo recomendado.

Como alugar sua bicicleta?

Muitas cidades introduziram vários tipos de bicicletas

que podem ser alugadas em postos ou estações.

A idéia é reforçar o uso desse veículo nos trajetos

curtos, oferecendo um serviço público de locação para

que as pessoas não precisem comprar, guardar e

consertar suas próprias bicicletas.

Tóquio, Japão