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    PROJETANDOPARA O FUTURO

    Ensaio de Projeto Residencial segundo as

    Características do Morador Idoso

    Vitória

    2015

    Carla Dias Borges

    Universidade Federal do Espírito SantoDepartamento de Arquitetura e Urbanismo

     P  r  o j   e t   a n d  o p a r  a o F  u t   u r  o : E  n s  a

     i   o d  e P  r  o j   e t   o R  e s  i   d  e n c  i   a l   S  e g u n d  o a s  C  a r  a c  t   e r  í    s    c  a s  d  o M o r  a d  o r  I   d  o s  o

     C  a r  l   aD  i   a s B  o r  g e s 

    Foto da Capa: Willy Verhulst em Flickr. Espanha, 2014.

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    CARLA DIAS BORGES

    Pro je to de Graduação apresentado aoDepartamento de Arqu i t e tura e Ur banismoda Univers idade Federa l do Esp í r i t o Santocomo requ is i t o para obtenção de grau de

    bachare la em Arqu i t e tura e Urbanismo.

    Or ientadora : Andréa Coe lho Laran ja

    VITÓRIA

    2015

    PROJETANDO

    PARA O FUTURO:Ensaio de Projeto Residencial segundoas Características do Morador Idoso

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    CARLA DIAS BORGES

    Projeto de Graduação apresentado ao Departamento de Arquitetura eUrbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito paraobtenção de grau de bacharela em Arquitetura e Urbanismo.

    Aprovad a em _____ de Agosto d e 2015 .

    COMISSÃO EXAMINADORA

     ___________________________________________________ Prof.ª.Drª Andréa Coelho LaranjaUniversidade Federal do Espírito SantoOrientadora

     ___________________________________________________ 

    D.Sc Aline Nogueira CostaUniversidade Federal do Espírito SantoCoorientadora

     ___________________________________________________ Prof.ª Mestre Flávia Gonçalves de Oliveira e Ar-quiteta da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.Faculdades Integradas Espírito-SantensesConvidada

    PROJETANDO PARA O FUTURO:Ensaio de Projeto Residencial segundo as

    Características do Morador Idoso

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    A Ada lde i e Car los Rober to , meuspa is , por t odo apo io e incent ivo .

    A A l z i ra e Car los Rober to , meussogros , por es ta rem sempre tãopresentes .

     

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    AGRADECIMENTOSAcima de tudo, agradeço a Deus pelo dom davida e por não me desamparar.Aos meus pais, por me ensinarem os valores quemoldaram o meu caráter e por nanciarem todosos papéis, lápis, plotagens e maquetes durante dezsemestres.

    Ao meu noivo, Leonardo, que além de todo carinho

    e afeto, sempre me ajudou e esteve presente,aguentando todas as minhas reclamações durantetodo o curso de arquitetura e às vezes até virandonoites comigo no AutoCAD.

    À minha irmã, que assumiu as tarefas domésticasenquanto eu varava o dia e a noite terminando osinndáveis trabalhos e projetos acadêmicos.

    Aos meus professores, que me instigaram aquestionar os fatos em busca de respostas

    satisfatórias, tornando-me capaz de exercer oofício de arquiteta.

    Aos meus colegas de arquitetura, pelas conversasno pátio de cemuni e pelas caronas.

    A todos os que tornaram meus dias melhores comum simples “bom dia!” quando eu precisava de umsorriso.

    Muito Obrigada!

     Thank you!

    どうもありがとう。

    감사합니다.

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    “Todos nós enve lhecemos e éinapropr iad o cons iderar os i dososcomo qua lquer out ra co isa a lémde nós mesmos no fu turo”

    Co l eman & Pu l l inge r

     

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    RESUMO

    Este projeto de graduação trata acerca damoradia para o idoso. O objetivo é projetar umaresidência unifamiliar que comporte as alteraçõesbiopsicossociais inerentes ao envelhecimento.Este projeto foi dividido em duas etapas. Aprimeira etapa consistiu em levantar dadosrelevantes ao entendimento do tema. Na segunda

    etapa, aplicaram-se as informações adquiridasatravés do levantamento de dados em um projetoresidencial adequado a vivência de um idoso.Adquirir conhecimento acerca dos aspectos daterceira idade foi fundamental para compreendercomo a arquitetura pode ser utilizada paragarantir segurança e autonomia e assim, melhorara qualidade de vida do morador idoso. A casaplanejada para o envelhecimento tem vida útilmaior, pois comporta o ser humano em diferentes

    fases da vida. O projeto residencial pensadosegundo a necessidade do idoso diferencia-seprincipalmente pelo cuidado dado ao espaço decirculação e à eliminação de desníveis. A moradianão precisa ser totalmente adaptada enquanto omorador tiver condições de realizar as atividadesdiárias por conta própria sem auxílio, mas deveprever as adaptações e ser planejada de formaque não seja necessário passar por reformas. Asadaptações podem ser feitas quando forem de fato

    necessárias, de forma a garantir a independência,autonomia e qualidade de vida do idoso.

    Palavras-chave:  Idoso, Terceira Idade,Envelhecimento, Residência, Moradia, Casa,Desenho Universal, Acessibilidade.

    Ronn Aldaman em Flickr. Tailandia, 2008.

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    ABSTRACT 

     This graduation project is about housing for theelderly. The goal is to design a single-family residenceincorporating the biological and psychosocialchanges inherent to the aging process. It wasdivided into two stages. The rst step was to getrelevant data for the understanding of the topic. Onthe second stage, the information acquired through

    researching on the rst stage was applied in aresidential project suitable for the experiences ofan elderly. Acquiring knowledge about the aspectsof the elderly age was fundamental to understandhow the architecture can be used to ensure safetyand autonomy and thus improve the quality oflife of the elder resident. The house planned forthe aging process has a longer lifespan, becauseit is able to shelter the human being at differentstages of life. The attention given to the plan of

    the circulation spaces and to the elimination ofuneven levels stands out on the residential projectdesigned according to the needs of the elderly.

     The house doesn’t need to be fully adapted whilethe resident can perform daily activities on theirown without any assistance, but it should foreseethe need for adjustments and to be planned in away it is not necessary to go through renovation.Adaptations can be made when they are actuallyneeded in order to ensure the independence,

    autonomy and quality of life of the elderly.

    Key-Words:  Senior, Elderly, Aging, Residence,Housing, Home, Universal Design, Accessibility.

    Danielle Pereira em Flickr. Brasil, 2012.

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    SUMÁRIOINTRODUÇÃO

    O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL 

    1. Panorama Estatístico Mundial

    2. Características e Perl da População Idosa Brasileira

    3. A Política a favor do Idoso

    ASPECTOS DO ENVELHECIMENTO E O LUGAR DE MORAR1. A Chegada da Terceira Idade: Transformações

    1.1. Um Breve Histórico

    1.2. Aspectos Socioculturais

    1.3. O Corpo Envelhecido

    1.4. Características Psicossociais do Envelhecimento

    2. A Relação do Idoso com o Espaço de Morar

    2.1. Abrigo e Memória

    2.2. Independência e Autonomia

    A ARQUITETURA PARA A TERCEIRA IDADE

    1. Uma casa para a vida inteira

    1.1. O desenho universal como ferramenta de inclusão

    1.2. A Ergonomia e o Usuário Idoso

    1.3. Acidentes domésticos e Prevenção de Perdas

    2. Legislação e Mercado da Habitação para Terceira Idade

    3. Parâmetros e Sugestão de Soluções de Projeto

    ENSAIO ARQUITETÔNICO

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    1. A Escolha do Terreno

    1.1. Análise do Entorno

    1.2. Índices Urbanos e Código de Obras

    1.3. Características ambientais

    2. Estudo Preliminar

    2.1. Partido Arquitetônico2.2. Elaboração do Programa

    2.3. Organização Funcional

    2.4. Setorização Funcional

    2.5. Projeto Preliminar

    3. O Projeto

    3.1. Desníveis

    3.2. Disposição dos Ambientes

    3.3. Cobertura

    3.4. Vãos

    3.5. Tratamento das Fachadas

    3.6. Instalações Técnicas e Adaptações

    3.7. Revestimentos e Acabamentos

    DESENHOS TÉCNICOS

    CONCLUSÃO

    REFERÊNCIAS

    ANEXOS

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    Oser humano traça metas e faz planos para ofuturo ao longo da vida: planos de estudo, deviagem, de carreira e outros. Alguns planos sãofeitos para um futuro próximo, como o que pre-parar para o jantar de hoje. Já outros, levam tem-po para serem delineados e colocados em prática.Planejar o lugar em que se pretende morar faz par-te da perspectiva almejada para um futuro maisdistante, onde quem planeja precisa considerar o

    fator tempo e os seus efeitos sobre a siologia hu-mana. Ensaiar o projeto de uma residência segun-do as características que o ser humano apresentaao atingir a terceira idade como forma de respostaao planejamento da moradia para o futuro é o alvodeste projeto de graduação.

    A questão central que este trabalho busca respon-der é quais são as características que o projeto re-sidencial pautado nas especicidades de abrigar

    um morador idoso deve apresentar, mantendo-se,contudo, exível como moradia para indivíduos defaixas etárias diferentes ao longo da vida útil daedicação.

    O principal objetivo deste trabalho é projetar umaresidência unifamiliar adequada à presença de ummorador idoso. A busca pela resposta ao questio-namento acerca de quais características a residên-cia deve apresentar leva a objetivos especícos quepermitirão responder à questão central apresen-

    tada: Questiona-se como a população idosa viveatualmente, verica-se como e se a produção ar-quitetônica atual responde à demanda dos idosose busca-se identicar quais leis e normas ampa-ram o idoso.

    A resposta ao questionamento central e o cumpri-mento dos objetivos traçados permitirá que sejaelaborado um projeto de arquitetura residencial

    para atender tanto a um jovem quanto a um idoso.A importância de projetar para o idoso é reexo docontexto mundial atual.

    Os adventos da medicina e a melhora do sanea-mento básico acarretaram uma tendência ao au-mento da população idosa mundial ao melhorara qualidade e a expectativa de vida das pessoas.Projeções da ONU indicam que uma a cada cinco

    pessoas nos países em desenvolvimento terá maisde 60 anos até o ano 2050 (UNFPA, 2012). Para oBrasil, a estimativa é que os idosos acima de 60anos correspondam a 12% da população brasi-leira, mas esse percentual atingirá 30% até 2050(IBGE, 2013).

    A legislação brasileira atual exige a aplicação denormas para garantia de acessibilidade de indiví-duos com mobilidade reduzida. Para empreendi-mentos residenciais, a lei 10098/2011 estabeleceque um percentual xo (percentual não indicado)das unidades residenciais deve ser projetado paraatender estes indivíduos. Já o estatuto do idosoprevê que o imóvel deve garantir um ambiente quepreserve a saúde física e mental do idoso, e exi-ge que pelo menos 3% das unidades totais deveser destinado à ocupação de idosos. No entanto,a acessibilidade é garantida apenas parcialmen-te, uma vez que as demais unidades não precisamcumprir tais normas. Levando em conta o tempo

    de vida útil extenso de uma estrutura em concretoarmado, estimado em cerca de 50 a 100 anos (NBR6118), as unidades que não atendem às normasde acessibilidade deixam seus moradores despro-vidos de um ambiente propício ao envelhecimentosaudável, digno e seguro.

    As unidades residenciais no Brasil são, tradicio-nalmente, pensadas para um perl de cliente es-

    INTRODUÇÃO

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    tático, que não envelhece nem terá necessidadesespeciais no futuro. No entanto, todo ser vivo temsua siologia alterada em função do tempo. As ha-bitações já consolidadas são antros de armadilhasque podem levar um idoso a sofrer acidentes agra-vados pela condição de idade avançada, o que pre-

     judicará seu cotidiano e dicultará a realização deatividades simples. Apesar da crescente demandadessa parcela demográca (idosos), o setor imobi-liário não provê habitações adequadas ao mesmoritmo. Faz-se necessário, portanto, a ampliaçãoda produção arquitetônica voltada a esse públicocomo forma de garantir a inclusão social destes,uma vez que o contrário negligencia direitos legais.

    O projeto arquitetônico voltado para a terceira ida-de deve basear-se no princípio de que a indepen-

    dência do idoso deve ser preservada. Conhecendoa capacidade física e cognitiva do idoso, é possívelmelhorar a relação com o ambiente em que vivematravés de adaptações e pequenas alterações, r-mando o domínio do idoso sobre seu ambiente. Aotornar o desempenho das atividades do dia-a-diamais eciente e seguro, conquista-se uma qualida-de de vida maior do que a que poderia ser obtidaem um ambiente regular, despreparado para a ter-ceira idade (DARE, 2006).

    Visando a compreensão do tema, a primeira medi-da tomada para responder às questões levantadasé a aquisição de informações ligadas ao assuntodesta pesquisa. Para isso, será realizada uma pes-quisa bibliográca, utilizando meios como inter-net, estudos de caso, publicações cientícas, li-vros, legislação e outros.

    Após analisar as informações adquiridas, far-se-áa aplicação da teoria em um exercício prático. As

    informações levantadas serão utilizadas como em-basamento teórico para elaboração de um projetoarquitetônico como forma de resposta ao problemalevantado.

    O primeiro capítulo apresenta a situação do ido-so num cenário mundial, nacional e local (EspíritoSanto) em momentos diferentes: passado e presen-te. Aborda questões políticas sobre o idoso. Apre-

    senta o perl do idoso, o qual será adotado comoparâmetro para decisões de projeto nos capítulosposteriores. Também são apresentadas considera-ções a respeito das projeções demográcas.

    O capítulo seguinte trata dos aspectos relativos aoenvelhecimento e à terceira idade, e de como se

    dá a relação entre o idoso e seu espaço de morar.Será relatado, de forma breve, acerca de como a

     Terceira Idade é encarada em sociedades distintasao longo da história.

    O terceiro capítulo se inicia com uma discussão nocampo do desenho universal e da ergonomia. Ex-põe problemas e confronta a legislação e normasrelacionadas à elaboração do projeto residencialvoltado para as especicidades do morador idoso.

    Por último, apresenta os parâmetros de projeto aserem adotados e trás um quadro síntese de comoas mudanças do processo de envelhecimento po-dem ser contempladas no projeto de arquitetura.

    O último capítulo demonstra como os dados ex-planados nos capítulos anteriores podem ser uti-lizados na elaboração de um projeto arquitetônicopara o público da terceira idade. Há uma breveanálise urbanística, apresentação de alguns estu-dos feitos e por m, o projeto resultado de todo oestudo feito.

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      u   l   D  e  m   F   l   i  c   k  r .   L  a  o  s ,   2   0   1   0 .

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    Este capítulo apresenta a situação do idoso numcenário mundial, nacional e local (EspíritoSanto) em momentos diferentes: passado e pre-sente. Aborda questões políticas sobre o idoso.Apresenta o perl do idoso, o qual será adotadocomo parâmetro para decisões de projeto nos capí-tulos posteriores. Também são apresentadas con-siderações a respeito das projeções demográcas.

    1. Panorama Estatístico Mundial

    Nos últimos anos, o número de idoso tem aumen-tado, bem como sua participação relativa no totalpopulacional. Este crescimento do número de ido-sos em relação aos demais grupos etários carac-teriza o envelhecimento populacional (MOREIRA,2001). Mendes e Corte (2009) armam que o enve-lhecimento populacional é um fenômeno mundial.

    Segundo a ONU1

     (2013),

    A parcela mundial de idosos com 60 anosou mais aumentou de 9.2% em 1990 para11,7% em 2013 e continuará a crescer como

     parcela da população mundial, alcançan- do 21,1% até 2050. Mundialmente, é espe- rado que o número de pessoas idosas maisque dobre, de 841 milhões de pessoas em2013 para mais de 2 bilhões em 2050(tradução nossa).

    O envelhecimento populacional geralmente ocor-re num longo período de tempo e está associadoà redução das taxas de fertilidade e mortalidade.O relatório acerca do envelhecimento elaboradopela ONU em 2013 arma que nos países desen-volvidos, o envelhecimento populacional iniciou--se mais cedo, mas o mesmo fenômeno começoua ocorrer em países ainda em desenvolvimento,

    especialmente os que experimentaram um signi-cante declínio da fertilidade. Destacam-se, nessecontexto, os países da Ásia e da América Latina.Os mapas na Figura 1 mostram a proporção de po-pulação acima de 60 anos em 2014 e a estimativapara 2050, demonstrando quão rápido o processode envelhecimento tem ocorrido.

    1. Organização das Nações Unidas

    CAPÍTULO IO Envelhecimento Populacional

    Figura 1:Mapa do en-velhecimentopopulacionalmundial.HelpAge, 2014.

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    É importante lembrar que o processo deenvelhecimento da população não é uniforme.Cada lugar apresenta uma intensidade especícado processo de envelhecimento populacional,sendo essa determinada por aspectos culturaise fatores de desenvolvimento humano e social(IPEA2, 1999). No Brasil, por exemplo, a intensida-de com que este fenômeno se apresenta é notável.Segundo projeções da ONU em 1998, o índice deidosos no Brasil aumentará em 15 vezes dentrode 100 anos. Comparativamente, a Coreia do Sul,apontada como país com o envelhecimento popu-lacional mais intenso, terá seu índice de idososampliado em 21 vezes no mesmo período de tempo(MOREIRA, 2001).Atualmente, mais de 2/

    3  da população idosa do

    mundo vive em países em desenvolvimento. Como

    a população desses países está envelhecendo maisrapidamente do que ocorreu com os países maisdesenvolvidos, espera-se que até o ano 2050 amaioria dos idosos esteja vivendo nas regiões me-nos desenvolvidas (ONU, 2013).

    O contingente de pessoas do sexo feminino na ter-ceira idade manifesta-se maior que o contingentemasculino. Dados de 2013 mostram que, em umgrupo etário de 60 anos ou mais, para cada 100

    mulheres, havia 85 homens. Quanto maior a ida-de, maior a predominância do sexo feminino nogrupo: para cada 100 mulheres acima de 80 anos,havia apenas 62 homens da mesma faixa etária(ONU, 2013).

    Além da redução da fertilidade como fator de in-uência sobre o número de idosos, os avanços emsaúde e infraestrutura colaboram com a melhorado índice de sobrevivência, aumentando a longe-vidade da população idosa. Percebe-se que o fenô-meno do envelhecimento ocorre dentro do própriogrupo de idosos:

    A proporção de pessoas com ida- de de 80 anos ou mais dentro do gru- 

     po de idosos aumentou de 7% em 1950 para 14% em 2013. [...] Espera-se que

    2. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

    esta proporção de idosos mais velhosatinja 19% em 2050 e 28% em 2100.(ONU, 2013, p.31)

    Entretanto, a partir de 80 anos, torna-se mais di-fícil estimar o índice de mortalidade de idosos, já

    que há muitas variáveis e cada indivíduo envelhe-ce em ritmo próprio. Ainda assim, nota-se que aquantidade de pessoas centenárias também estáaumentando no mundo, e rapidamente. Até o anode 2013, havia mais de 440 mil centenários nomundo, e estima-se que haverá 3,4 milhões em2050 (ONU, 2013).

    Conforme envelhece, a capacidade física do idosotende a declinar. Ao contrário do que se espera,nem sempre a terceira idade é sinônimo de inativi-dade. Uma determinada parcela da população ido-sa continua ativa no mercado de trabalho. Segundodados das Nações Unidas (2013), a participação depessoas com 65 anos ou mais no mercado de tra-balho foi de 31% nas regiões em desenvolvimento ede 8% nas áreas mais desenvolvidas. Essa diferen-ça quanto à participação no mercado de trabalhosegundo o nível de desenvolvimento é devido àsdiferenças de condição de vida e rendimento pre-videnciário. Em nível global, há menos idosos tra-

    balhando hoje3 do que em 1990.Quanto ao arranjofamiliar, o contexto em que o idoso está inseridoé um importante aspecto da terceira idade (IBGE,2012). Há um grande percentual de idosos vivendoindependentemente, principalmente nos paísesmais desenvolvidos. Em termos globais, 40% dosidosos moram sozinhos ou com o cônjuge. Nos paí-ses em desenvolvimento, apenas um quarto dosidosos vive independente, mas espera-se que estafração aumente no futuro à medida que o país se

    desenvolve (ONU, 2013).

    Como fator comprometedor de uma terceira idadeativa e independente, é importante considerar aocorrência de doenças bem como seus efeitos so-bre a população idosa. A principal causa de depen-dência e invalidez na terceira idade são doençascrônicas (doenças não transmissíveis relaciona-

    3. Dados referentes a 2013.

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    das ao tempo). Outras causas comuns são perdade memória, depressão, neoplasmas e lesões porquedas. No mundo, 85% das pessoas acima de60 anos faleceram devido a doenças crônicas em2008. Quanto maior a idade, maior a susceptibili-dade a doenças crônicas (ONU, 2013).

    A mortalidade em idosos devido a doenças in-fectocontagiosas está relacionada a condiçõesde vida ruins para o indivíduo: baixa renda, die-ta pobre em vitaminas, saneamento inadequa-do e infraestrutura de atendimento à saúde de-ciente. Por isso, mortes causadas por doençasinfectocontagiosas em idosos ocorrem principal-mente em regiões subdesenvolvidas (ONU, 2013).

    2. Características e Perl da População IdosaBrasileira

    No Brasil, a queda nos índices de fertilidade foifator determinante para o início do processo de en-velhecimento da população. Esta redução da ferti-lidade está ligada à urbanização e às mudanças noestilo de vida das mulheres brasileiras, iniciando--se nas regiões Sul e Sudeste do país e espalhan-do-se para o restante do território. O processo de

    envelhecimento no Sul e Sudeste diferencia-se porser mais lento que em outras regiões, colaboran-do para uma homogeneização do índice de idososbrasileiros entre as regiões (MOREIRA, 2001).

    As melhores condições de vida obtidas no Brasil,decorrentes do desenvolvimento do país, potencia-lizaram o índice de sobrevivência de todos os gru-pos etários. Assim, além da redução da população

     jovem, advinda de uma menor taxa de natalidade

    consequente da redução da fertilidade, a expecta-tiva de vida do grupo idoso aumenta, aumentandotambém a expressividade numérica e relativa des-te grupo (IPEA, 2001).

    A terceira idade no Brasil se apresenta feminizada:a proporção de homens para mulheres acima de60 anos é de 80 homens para cada 100 mulhe-res – proporção muito próxima do retrato mundial

    (MOREIRA, 2001).

    No Brasil, 71% das pessoas idosas (60 anos oumais) trabalham em situação informal (sem car-teira assinada). A Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios do ano de 2012 justica que partici-pação dos idosos no mercado de trabalho “consti- 

    tui uma forma de se manterem ativos, seja por go- zarem de boa saúde, seja para complementarem arenda ou, ainda, como meio de socialização” (IBGE,2012, p.41).

    A renda média do idoso brasileiro, devido ao es-tágio da vida em que se encontra, é maior que ados indivíduos menores de 30 anos. Devido a isso,o percentual de idosos apontados como chefes defamília não é tão inesperado (63,7%). A grande

    maioria dos idosos recebe algum tipo de benefícioprevidenciário, mas um a cada quatro idosos pos-sui menos de um salário mínimo de renda per ca-pita. Rendimentos baixos tem relação com a médiade anos de estudo, estimado em menos de quatroanos para a terceira idade em 2012 (IBGE, 2012).

    Quanto ao arranjo familiar, o Brasil apresenta-sedentro do percentual mundial estimado pela ONU,com 14% vivendo em domicílio unipessoal e 24,5%com o cônjuge.

    No Brasil, os dados acerca da saúde na terceiraidade são escassos e incompletos, impossibilitandoa apresentação de dados acurados (CAMARANO etal., 1999). Ainda assim, Otero et al. (2012, p.146)arma que há o predomínio das doenças crônicascomo principal causa de morte entre idosos. Noentanto, destaca-se o número de óbitos por desnu-trição. A natureza desse tipo de causa mortis  reve-la “ problemas sociais relacionados à desigualdade

    de acesso à alimentação em quantidade e qualida- de satisfatórias e ao papel das políticas públicas ”.

    Ainda em âmbito nacional, nota-se a importânciada região Sudeste no que tange à proporção deidosos na população, sendo esta região a detento-ra do maior contingente de idosos do país (OTEROet al., 2002).

    Quanto aos estados brasileiros, verica-se que o

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    estado do Espírito Santo, bem como sua capitalVitória, segue a mesma tendência geral de enve-lhecimento apresentada pelo Brasil e pelo mundo.Em 1970, o Espírito Santo era majoritariamenterural. No entanto, a urbanização da capital acarre-tou transformações sociais que inuenciaram suadinâmica demográca, fazendo com que o envelhe-

    cimento da população de Vitória se desse em ritmomais acelerado em relação ao estado. Comparati-vamente,

    E m 1970 a relação [idosos/crianças] era de8,21 em Vitória contra 6,26 do Espírito San- to, evoluindo até 2000, para os valores de25,53 para Vitória contra o índice geral doEstado, de 19,27 idosos por 100 crianças.(CASTIGLIONI, 2008, p.8)

    3. A Política a favor do Idoso

    O crescente aumento da população idosa no mun-do acarreta mudanças no perl demográco, uti-lizado para denir políticas públicas. As mudan-ças na estrutura etária do Brasil estão ocorrendorapidamente, tendo o grupo de idosos se tornadoum contingente expressivo. Este grupo representauma série de novas demandas políticas nas áreasde saúde, previdência e inserção social (Síntese deIndicadores Sociais – IBGE 2012).

    A dinâmica demográca atual brasileira acompa-nha a tendência mundial e reforça a representati-vidade do público idoso. A compreensão do papeldo idoso e de como ele se relaciona com a socieda-de incentivam a mudanças no posicionamento daspolíticas voltadas aos idosos.

    A imagem da velhice no país, frequen- temente associada a perdas, doençase las do INSS, está dando espaço, ain - da que de forma tímida, a iniciativas dogoverno e de entidades para a criaçãode clubes, associações, cursos e ser- viços para a terceira idade. Os idososhoje procuram exercer mais a sua cida- 

    dania. E estão crescendo em número.(ABRAMCZYK, apud BESTTETI, 2006,p.95)

    O aumento da longevidade, por exemplo, apesar deser uma importante conquista social, exerce gran-

    de impacto econômico nos instrumentos gover-namentais relacionados à saúde e à previdência.Essa compreensão da relevância das necessidadesda população idosa levou à elaboração de diretri-zes de suporte ao envelhecimento como forma deresposta aos problemas econômicos e sociais quesurgem nesse cenário.

    O primeiro instrumento internacional, apresenta-do na Primeira Assembleia Mundial sobre o En-velhecimento em 1982, foi o Plano de Ação Inter-nacional de Viena sobre o Envelhecimento. Esseplano fornece uma base para a elaboração de polí-ticas e programas voltados para o envelhecimento,pontuando recomendações em diversas áreas. Em1991, surge o Princípio das Nações Unidas em Fa-vor das Pessoas Idosas, enumerando 18 direitosdos idosos, e em 1992, a Proclamação do Envelhe-cimento, reconhecendo a urgência de implementarações em resposta ao envelhecimento populacio-nal mundial. Além destes instrumentos relaciona-

    dos aos direitos humanos, não existe nenhum ins-trumento jurídico internacional padronizando osdireitos do idoso (ASSUNÇÃO E CURI, 2011).

    Em 2002, Madrid Sediou a Segunda AssembleiaMundial das Nações Unidas sobre o Envelheci-mento, onde os países participantes adotaram aDeclaração Política e o Plano Internacional de Açãopara o Envelhecimento de Madrid, se comprome-tendo a tomar medidas para enfrentar os desaos

    do Envelhecimento. Diferente do Plano de Viena, oplano de Madrid baseia as sugestões de ação emtrês eixos: Idosos e desenvolvimento, Promoção dasaúde e do bem-estar em idade avançada e Garan-tia de ambientes favoráveis e propícios.

    O Brasil rmou compromisso com ambos os docu-mentos internacionais citados, e estes serviram debase para a elaboração dos códigos e leis de ampa-

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    ro ao idoso. Como marco legal, em 1994 a PolíticaNacional do Idoso foi sancionada sob o número deLei 8.842. A discussão acerca do idoso e sua in-serção social nos anos seguintes levaram à elabo-ração e publicação do Estatuto do Idoso em 2003,que garante os direitos das pessoas acima de 60anos. Como forma de administrar as denúncias de

    violação dos direitos dos idosos, o Disque Direitos

    Humanos acrescentou o módulo idoso em 2011.

    As secretarias estaduais e municipais, tomando

    como base o disposto na Política Nacional do Idoso,têm executado planos assistenciais para os idosos.Na região metropolitana de Vitória, foram criadosdiversos Centros de Convivência para Terceira Ida-de, fornecendo formação e atividades culturais erecreativas como meio de socialização para que oidoso não se isole, além de assessoria na defesados direitos do Idoso. Na capital Vitória, são apon-tados 4 centros, localizados no Centro, em Jardimda Penha, Jardim Camburi e Maria Ortiz (Figu-

    ra 2). Em Serra, existem 20 centros de convivênciaregistrados localizados em diversos bairros do mu-nicípio, além de 4 instituições de acolhimento emMorada de Laranjeiras, José de Anchieta, BairroNovo e Jardim Limoeiro.

    Os projetos de espaços públicos têm contempla-do cada vez mais as necessidades dos idosos. Umexemplo é a instalação de aparelhos de exercíciosfísicos para idosos, que tem se tornado muito mais

    recorrentes Os aparelhos, de baixo impacto, si-mulam atividades do cotidiano do idoso, oferecen-do uma rotina de exercícios que poderá auxiliarna manutenção da saúde na terceira idade. EmVitória existem 22 academias para terceira ida-de instaladas. Em Vila Velha as atividades não serestrigem às academias de baixo impacto: ocorrem

    aulas de educação física para a terceira idade nas

    instalações esportivas e em espaços públicos domunicípio (Figura 3), num total de 50 núcleos.

    Quanto ao mercado de trabalho, foi lançado em Vi-tória em 2014 o programa “Começar de Novo coma Terceira Idade”. O programa fornece incentivosscais a empresas para a contratação de funcioná-rios com 60 anos ou mais, como forma de inserir oidoso novamente na sociedade ativa.

    ○ ○ ○ ○

    Figura 2: (Esq.)Canto em Coral,oferecido peloCentro de Convi-vência da Tercei-ra Idade de MariaOrtiz. ArquivoPessoal, 2014.

    Figura 3: (Dir.)Hidroginásticapara idosos emuma das praiasde Vila Velha. Se-mas, 2011[?].

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    29   G   i  u   l   i  o   M  a  g  n   i   f  c  o  e  m   F   l   i  c   k  r .   I   t   á   l   i  a ,   2   0   1   3 .

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    Este capítulo trata dos aspectos relativos ao en-velhecimento e à terceira idade, e de como sedá a relação entre o idoso e seu espaço de morar.Será relatado, de forma breve, acerca de como a

     Terceira Idade é encarada em sociedades distintasao longo da história1 .

    1. Não é de interesse uma longa dissertação sobre este assunto es-pecíco, uma vez que o foco deste trabalho não é um estudo socialou antropológico. No entanto, o entendimento deste tópico irá cola-borar para a compreensão da inserção do idoso na sociedade atual.

    1. A Chegada da Terceira Idade: Transforma-ções

    A denição para envelhecer dada pelo dicionárioé “tornar-se velho ” (FERREIRA, 2001, p.273). Ve-ras (1994, apud RIBAS, 2001), porém, arma nãoser possível estabelecer conceitos e terminologiauniversalizados para tratar acerca do envelheci-mento devido às conotações políticas e ideológicasque podem surgir. No entanto, para ns práticos,este trabalho utilizar-se-á do termo envelhecimen-to para referir-se ao processo que culminará naterceira-idade, estado em que o indivíduo, objetode estudo deste trabalho, se encontra. Para refe-rir-se ao indivíduo objeto de estudo, será adotadoo vocábulo “idoso”.

    O envelhecimento acarreta transformações físicas,psicológicas e sociais para o indivíduo. A ciênciadedicada ao estudo do processo de envelhecimen-

    to e das transformações inerentes a este processoé a logia. Esta ciência considera questões multi-dimensionais do envelhecimento para analisar aadaptação do ser humano a tais transformações.A logia visa o bem-estar integral do idoso, que deveser obtido em interdisciplinaridade (Figura 4), in-cluindo-se aqui o prossional de arquitetura (ZI-MERMAN, 2000).

    A terceira idade pode ser entendida como um fe-

    nômeno físico-biológico, como um comportamentoem resposta à sociedade ou ainda, como um fatocronológico (RIBAS, 2001). BERTAMONI (2009)alerta que a terceira idade deve ser consideradaem seu sentido mais amplo, o qual envolve perdaspara além do caráter biológico – perdas psíquicas,existenciais, econômicas e sociais.

    Quanto à biologia, o envelhecimento se caracteri-

    CAPÍTULO IIAspectos Do Envelhecimento e o Lugar De Morar

    Figura 4:I n f o g r á f i c oGe r o n t o l o g i aX Geriatria. Pik-tochart, 2015.Elaborado pelaautora.

    grupos etários em pesquisas estatísticas e demo-za como um fenômeno irreversível e natural, devi-

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    grupos etários em pesquisas estatísticas e demográcas. No Brasil, por exemplo, um indivíduo de60 anos é enquadrado na terceira idade pela Po-lítica Nacional do Idoso. No entanto, segundo Mo-ragas (1991, apud RIBAS, 2001), essa objetividadepode revelar-se inconveniente quando se comparao efeito do tempo para cada idoso, conforme o es-

    tilo de vida de cada um.

    Diversos estudiosos do envelhecimento concor-dam que a terceira idade se manifesta de manei-ra diferente para cada um. Zimerman (2000, p.21)pontua que apesar de gerais, as transformaçõesoriundas do processo de envelhecimento podemser vericadas “em idade mais precoce ou maisavançada e em maior ou menor grau, de acordocom as características genéticas de cada indivíduo

    e, principalmente, com o modo de vida de cada um ”.Hábitos alimentares, rotinas de exercícios físico emental e manutenção de vícios são exemplos defatores que podem inuenciar na velocidade comque os efeitos do envelhecimento surgem.

    Figura 5:Idosos do SexoMasculino. Identi-cação e idade, daesquerda para di-reita: Irie (73), VôZé (82), Ouchi-san(73), Carlinhos(63), Sr. Custódio(96). Arquivo Pes-soal e Foto Japan.

    Figura 6:Idosas do sexo Fe-minino. Nome eidade, da esquer-da para a direita:Marina (62), Kazu-mi-san (70), DonaEutália (77), VóNeuza (75) e Pipo-ca (80). ArquivoPessoal.

    za como um fenômeno irreversível e natural, devido ao desgaste das estruturas orgânicas do corpohumano submetido ao passar dos anos (NETTO,1997, Apud ASSIS, 2006). Já as transformações fí-sicas irão se reetir no campo psicológico e social.Como consequência destas transformações, certoscomportamentos2  inerentes da terceira idade po-

    derão ser adquiridos . O envelhecimento atua mo-dicando a relação indivíduo-tempo e, consequen-temente, a relação com o mundo e com a história(BEAUVOIR, 1990).

    O aspecto cronológico da terceira idade refere-seao tempo de vida do idoso. Pelo seu caráter objeti-vo, este aspecto é adotado como determinante de

    2. Quando o ambiente não atende mais às necessidades do idoso,na falta de adaptações e relutância, o idoso acaba alterando seu

    comportamento. Por exemplo, pode reduzir a frequência de banhosou passar a utilizar fraldas geriátricas mesmo sem ter incontinên-cia por não se sentir seguro ao utilizar o banheiro. Pode aceitarajuda de terceiros e passar a depender de um cuidador para ne-cessidades básicas ao invés de adquirir equipamentos de suporte eadaptação, chegando a deixar de utilizar determinados cômodos decasa (MENDES, 2007).

    Para Leme (1997) é difícil separar envelhecimentoDessa forma, o envelhecimento age sobre cada in-

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    ( ) pnatural e doenças recorrentes na terceira idade,uma vez que a correlação existente entre terceiraidade e doença é inegável. Hazin (2012), no en-tanto, acrescenta que o declínio acarretado peloenvelhecimento não é determinante de doença eincapacidade, sendo o envelhecimento hoje enten-

    dido como um processo normal, e não como umadoença. Zimerman (2000, p.22) complementa: “oimportante [...] é o entendimento de que essas doen- ças estão dentro do quadro de normalidade da ida- de que essa pessoa tem ”.

    Para lidar com as doenças relativas à terceira ida-de, desenvolveu-se o ramo médico da “Geriatria”.É importante não confundir com gerontologia, quepossui um prisma maior do processo que culmina

    na terceira idade (Figura 4). A geriatria procura es-tabelecer níveis de prevenção, tratamento e reabi-litação das patologias inerentes ao idoso (ZIMER-MAN, 2000).

    1.1 Um Breve Histórico

     Tentar escrever a história de um fenômeno tão an-tigo quanto o surgimento da humanidade é impos-sível, uma vez que não há muitos vestígios claros

    de tempos tão remotos. Além disso, a expectativade vida no passado era baixa, fazendo com que aidade adulta e a terceira idade se confundissem.O assunto envelhecimento não era, portanto, ob-

     jeto de atenção e alvo de estudo. Isto contribuiupara a existência de apenas umas poucas obras ereexões sobre a terceira idade, sendo os mais an-tigos registros atribuídos a lósofos (BERTAMONI,2009).

    Beauvoir (1990, p.114) aponta o mais antigo textoque trata da terceira idade entre as sociedades oci-dentais, cuja autoria é atribuída a Ptah-hotep, umEgípcio que viveu há cerca de 2.500 anos a.C. Otrecho da obra caracteriza o envelhecimento comoum agelo do homem:

    Como é penoso o m de um velho! Ele seenfraquece a cada dia. Sua vista cansa,

    , gdivíduo de forma única, imprevisível e irregular,como pode ser vericado comparando as fotos dasFigura 5 e Figura 6. O idoso pode ter cãs e rostoenrugado, mas não apresentar nenhum problemacomprometedor nos órgãos internos, ou vice-ver-sa: “Não existe um padrão geral de envelhecimento

    que possa ser aplicado a todos os nossos órgãos. Oenvelhecimento resulta da interação de fatores ge- néticos, ambientais e estilo de vida ” (KAMKHAGI,2007, p.89).

    Assim, não há consenso acerca de quando um in-divíduo pode ser considerado idoso. “Ser idoso” de-pende também da própria percepção do indivíduo.Por hábito, chama-se de terceira idade um períodoindenido de tempo que comporta estados físicos

    e mentais muito diversicados, tornando comple-xa a tarefa de denir de fato o quem é o indivíduoidoso (KAMKHAGI, 2007). Apesar da indeniçãoda terceira idade, o envelhecimento não é estáticoe se aplica a todos: é o resultado e a extensão deum processo progressivo que implica em mudan-ças irreversível e desfavorável, ligadas à passagemdo tempo – um declínio – tornando-se aparentedepois da maturidade e desembocando invariavel-mente na morte (BEAUVOIR, 1990).

    O declínio em função do tempo torna o sistemaimunológico mais vulnerável, deixando o corposuscetível a doenças características à fase da ter-ceira idade (KAMKHAGI, 2007). Esta predisposiçãopatológica decorrente do envelhecimento pode le-var à confusão de que terceira idade e doença sãosinônimas. Mendes e Corte (2009, p.200) tambémcompartilham dessa opinião quando armam que:

    O processo de envelhecimento modica eé modicado pelas doenças que podemacometer o idoso, gerando uma relaçãomuito próxima entre os dois fenômenos,de tal forma que modicações exclusivasdo envelhecimento são confundidas comenfermidades e criam a cultura e o este- reótipo de que velhice e ser velho signi - cam doença.

    seus ouvidos tornam-se surdos; sua força Em sociedades agrícolas sedentárias, a longevida-

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    declina; seu coração não tem mais repou- so; sua boca torna-se silenciosa e não falamais. Suas faculdades intelectuais dimi- nuem, e lhe é impossível lembrar-se hojedo que aconteceu ontem. Todos os seusossos doem. As ocupações que até recen- temente causavam prazer só se realizamcom diculdade, e o sentido do paladardesaparece. A velhice é o pior dos infortú- nios que pode aigir um homem [...].

    Para Kamkhagi, os valores culturais acerca da ter-ceira idade ditam a forma como o idoso aparece emescritos históricos:

    As concepções de velhice, que se conhece

     pela literatura, ora colocam o idoso numlugar magistral, ora num espaço de decre- 

     pitude. Na verdade o lugar do velho, aolongo desse processo histórico, vai alémda realidade subjetiva e envolve aspectossimbólicos que são xados pela cultura(KAMKHAGI, 2007, p.13).

    A falta de fatos documentados com qualidade cien-tíca também é um empecilho ao estudo da histó-

    ria da Terceira Idade. Beauvoir (1990) arma queapenas as classes sociais mais privilegiadas fazemparte dos registros a que se tem acesso atualmen-te. Dessa forma, a história da velhice só pode serrelatada conforme essa parcela de privilegiados,excluindo as classes menos favorecidas. Assim, éimpossível obter uma interpretação mais completada história da terceira idade.

    Kamkhagi (2007) em seus estudos retrata que,

    em grupos primitivos nômades coletores e caçado-res, a longevidade era rara e o idoso representavacusto e trabalho. Os rituais de abandono e sacrifí-cio ou assassinato provavelmente foram iniciadosnessa época e continuaram durante os tempos deescassez. Os povos Ainu (Japão), Thonga (Áfricado Sul) e Yakute (Sibéria) são exemplos desse tipode grupo.

    de era um pouco maior e o idoso possuía o papelde transmitir tradições e conhecimento, uma vezque essas comunidades eram iletradas. O idoso écolocado em posição de prestígio e caracterizadocomo sábio. A maioria dos grupos indígenas brasi-leiros se enquadra nesse tipo de sociedade (ASSIS,

    2006).

    Com o advento da escrita, o idoso perde o papelde detentor do saber social. Em sociedades comdivisões sociais estabelecidas, seu papel é ora deexperiência, como mediador de conitos sociais(através da participação em conselho de anciãosnas sociedades grega e judaica, por exemplo), orade senilidade, decrepitude e custo social, como nassociedades europeias da Idade Média (KAMKHAGI,

    2007).Para Vargas (1994, Apud ASSIS, 2006, p.21), “cadasociedade reservou para seus idosos uma função eum lugar determinado – privilegiado ou marginal –segundo suas necessidades e seus valores ”. Destaforma conclui-se que as diferentes situações or-ganizacionais sob as quais as sociedades estavamforam determinantes do papel do idoso ao longo dahistória. Ora o idoso é visto como sábio, ora comoestorvo.

    1.2 Aspectos Socioculturais

    A percepção da terceira idade depende, dentre di-versos fatores, da expectativa de vida da popula-ção, da cultura local e da situação à qual o idosoestá submetido.

    No que se refere à expectativa de vida, seguemduas situações extremas como exemplo: enquantoem Serra Leoa um indivíduo possui 37 anos de ex-pectativa de vida ao nascer, no Japão esta expec-tativa é de 78 anos3 (Figura 7). Portanto, a terceira

    3. Os anos de expectativa segundo projeção estatística para 2014fornecida pela CIA (Central Intelligence Agency) para Serra Leoa e

     Japão são, respectivamente, 57 e 84 anos. Um comparativo aindamais extremo atualmente seria entre os países Chade, cuja expec-tativa de vida ao nascer é de 49 anos (a menor do mundo), e Môna-co, onde a expectativa de vida chega a 89 anos (a maior do mundo).

    idade não deve ser encarada da mesma forma em sociedade capitalista onde o indivíduo é valoriza-

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    qualquer lugar; a terceira idade é relativa (RIBAS,2001).

    No que se refere à cultura local, as sociedadesorientais e ocidentais se diferenciam na forma quelidam com os idosos, uma vez que as bases losó-

    cas dessas sociedades são diferentes. O confucio-nismo, losoa na qual algumas sociedades asiá-ticas se baseiam, defende que todos os familiaresdevem respeito e obediência aos familiares idosos(ASSIS, 2006).

    Na China, por exemplo, a terceira idade é relacio-nada à sabedoria, e por isso o idoso é respeita-do acima de qualquer outro indivíduo na família(BERTAMONI, 2009). Já no Japão, a importânciado idoso para a sociedade se reete na instituiçãodo feriado do “Dia do Respeito ao Idoso”, comemo-rado na terceira segunda-feira do mês de setem-bro, como forma de valorização dos idosos japone-ses que contribuíram para o país com seu trabalhoenquanto jovens (JAPÃO EM FOCO, 2013).

     Já no ocidente, o idoso é estereotipado e desqua-licado. Muitas vezes é caracterizado como inútil,senil e ranzinza, sendo ainda considerado comoum fardo para os familiares dada a sua dependên-

    cia. Isto inuencia os indivíduos a resistir à ideiade que se tornaram idosos como forma de rejeiçãoa esta imagem negativa associada à terceira idade(DARE, 2006).

    Essa imagem negativada se potencializa com asaída do idoso do mercado de trabalho. Numa

    do pela sua capacidade laboral, parar de traba-lhar faz com que o idoso seja contabilizado comoinativo e improdutivo (BERTAMONI, 2009). Alémde não produzir, o idoso representa custos altose sem retorno nanceiro para os cofres públicos,embasando o preconceito e discriminação social

    para com o grupo da terceira idade (ASSUNÇÃO ECURI, 2011).

    Porém, conforme Bertamoni (2009) arma, o as-pecto atual da terceira idade está mudando. Osidosos buscam transformar o tempo de aposenta-doria em uma situação prazerosa, e não de lamúriae inatividade. No Brasil, algumas ações legislativasconrmam esta mudança – foram estabelecidaspolíticas que garantem direitos, benefícios e faci-

    lidades para o indivíduo idoso, ainda que simples,como a reserva de vagas em estacionamentos eguichês de atendimento preferencial idoso. No en-tanto, segundo Hazin (2012), apesar de haver umaparato legal de amparo aos idosos, nem todos osinstrumentos da lei são colocados em prática deforma devida e efetiva.

    A religião também inuencia no tratamento dadoao idoso. Segundo Assis (2006), a tradição fami-liar e a moral islâmica garante que os idosos se-

     jam respeitados e zelados em países mulçumanos.Livros sagrados como o Corão, o Torá e a Bíbliatambém colocam o idoso em posição de honra e orelacionam à sabedoria: “Coroa de honra é a cabe- ça branca; é alcançada andando em justiça ” (BÍ-BLIA, Provérbios, 16:31); “com os anciãos está a

    Figura 7:Imagem compara-tiva entre a pobre-za de Serra Leoa(esq.) e o desenvol-vimento do Japão(dir.), aspectos queestão reetidosna expectativa devida desses países.Fonte: I-Difusora eYun.

    sabedoria, e, na idade avançada, o entendimento ”(BÍBLIA Jó 12 12)

    Há uma vasta quantidade de autores que retratamt i lt õ A lt õ f t ê

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    (BÍBLIA, Jó, 12:12).

    1.3 O Corpo Envelhecido

    Apesar das diferenças notadas no processo de en-velhecimento para cada cultura e da individuali-dade desse processo para cada um, as mudançasfísicas que transformam um indivíduo em ido-so são comuns a todos. Ocorrem transformaçõesvisíveis na aparência, que indicam claramente apassagem dos anos, e também alterações sutis eaté invisíveis, que só são percebidas mais tardeatravés de investigação médica ou devido às al-terações de comportamento do idoso. Essas alte-rações comprometem a capacidade adaptativa doidoso ao meio em que vive e alteram seu cotidiano(FLORES, 2010).

    tais alterações. As alterações que afetam a aparên-cia do idoso, apontadas por Kamkhagi são:

    • Redução da estatura

    • Perda de massa óssea

    • Perda de tônus muscular• Acúmulo de gordura nas coxas e no abdome

    • Enrugamento e acidez da pele

    Angulo (1982, apud RIBAS, 2001) menciona outrasmudanças físicas visíveis – a postura do idoso securva devido à exão da coluna e das articulaçõesdos membros (Figura 9), os cabelos cam brancos,a pele ca mais na e surgem manchas pardacen-tas (Figura 8).

    Nos sistemas internos do corpo do idoso ocorremalterações detectadas através de sintomas e exa-

    Figura 8:Alterações visí-veis do envelhe-cimento: pele á-

    cida e enrugada.Fonte: Raoul D,2010.

    Figura 9: (Esq.)Alterações visíveis

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    mes, e que comprometem a saúde do idoso. As cé-lulas de defesa perdem eciência, deixando o idosomais vulnerável a infecções e neoplasmas. A capa-

    cidade de ltragem dos rins se reduz, as paredesdas artérias engrossam e o tecido das válvulas car-díacas se enrijece, gerando problemas cardíacos(KAMKHAGI, 2007). A capacidade regenerativa ede cicatrização dos tecidos se reduz drasticamente(ANGULO, 1982 apud RIBAS, 2001).

    O metabolismo do idoso é mais lento. Consequen-temente, o organismo do idoso leva mais tempopara se adaptar a mudanças bruscas de tempera-

    tura. Por isso, é comum pensar que o idoso sentemais frio do que o jovem (HAZIN, 2012).

    Na terceira idade, a produção de hormônios se-xuais diminui. A queda nos níveis de hormôniossexuais está relacionada a perdas musculares eósseas, este último principalmente nas mulheresem menopausa. Como consequência, a muscula-tura do antebraço e das costas enfraquecem gra-dualmente após os 65 anos, e a força musculardas mãos diminui aceleradamente após 40 anos(KAMKHAGI, 2007).

    Hazin (2012) explica que os ossos estão sempre serenovando e sendo remodelados, e como o cálcionão é reposto uniformemente após 30 anos de ida-de, o tecido ósseo se calcica, enfraquece e se tornaporoso, levando a quadros clínicos de osteoporosee artrite (Figura 10). Essa situação leva o idoso aadotar equipamentos auxiliares como bengalas

    e andadores. Angulo (1982, apud RIBAS, 2001)complementa: a alteração da estrutura óssea de-termina um ritmo de marcha mais lento, alterando

    signicativamente o estilo de vida do idoso .

    O sistema nervoso é afetado durante o envelhe-cimento com a morte de até três milhões de neu-rônios, sendo que células nervosas não se multi-plicam e, portanto, não há reposição dessa perda.No entanto, face à quantidade estimada de neu-rônios que um indivíduo possui, essa perda é re-lativamente pequena, e os neurônios restantesfuncionam de forma compensatória. O declínio do

    sistema nervoso é responsável por alterações nashabilidades cognitivas e reexos do idoso. Na ter-ceira idade, a resposta a estímulos é mais lenta,ocorrem falhas de memória, disfunção motora eintelectual e desequilíbrio (KAMKHAGI, 2007).

    Com a degeneração das terminações nervosas, osórgãos dos sentidos são comprometidos. (ANGU-LO, 1982, apud RIBAS, 2001). A atroa dos ór-gãos sensoriais interfere na percepção que o idosotem do mundo. Quanto à visão, a acuidade visualdiminui e diversos outros problemas podem aco-meter os olhos (como a catarata e a presbiopia4,por exemplo). A sensibilidade à luz também muda:o ofuscamento aumenta e as nuances tonais sãomenos diferenciadas. Quanto à audição, a capaci-

    4. Anomalia ocular popularmente conhecida como vista cansada,causa enrijecimento do músculo ciliar e gera diculdades para en-xergar de perto.

    çdo envelhecimen-to: a exão da colu-na vertebral devidoà perda óssea leva àportura curva. Fon-te: Pilar Vertebral.

    Figura 10: (Dir.)Mudanças Invisí-veis do envelheci-mento: Perda ósseadecorrente de os-teoporose, doençaque se manifestade-vido à falta de cál-cio principalmenteem mulheres quenão produzem maisas mesmas quan-tidades de hormô-nios sexuais quan-do mais jovens.Fonte: Quadril Ci-rurgia.

    dade de percepção dos sons é reduzida5 progres-sivamente em todas as frequências (KAMKHAGI

    é valorizado enquanto é ativo economicamente.Além disso a falta de preparo sobre como lidar

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    sivamente em todas as frequências (KAMKHAGI,2007). A diminuição do sentido do tato faz comque o idoso enfrente diculdade ao manipular ob-

     jetos e pisar com rmeza devido à perda de sensi-bilidade nas terminações nervosas das mãos e dospés (DARÉ, 2006).

    1.4. Características Psicossociais doEnvelhecimento

    O crescimento tecnológico se reete em mudan-ças no estilo de vida da sociedade. O idoso, nãopossuidor de uma grande capacidade adaptativaàs novidades, poderá ver-se em meio a situaçõesnas quais precisa se moldar, aprendendo assim aconviver com seu novo status. Segundo Zimerman(2000), as causas que proporcionam o envelheci-mento social e obrigam o idoso a lidar com umnovo status são:

    • Crise de identidade devido à falta de papel so-cial, levando à perda da autoestima;

    • Mudança de papel na família;

    • Aposentadoria e todo o tempo livre que estaproporciona;

    • Perda da independência, da autonomia, do po-der de decisão, de parentes e amigos, do poderaquisitivo;

    • Redução da socialização devido à distância,correria diária e falta de tempo entre outros fa-tores.

    Assis (2006) destaca a aposentadoria como fatorcrucial na mudança de papel do idoso na socieda-de. O idoso aposentado enfrenta redução de venci-

    mentos, tendo seu poder aquisitivo abruptamentereduzido. Consequentemente, o idoso experimentauma sensação de declínio do prestígio que outrorapossuía dentro e fora da família. Essa situação éagravada pelo regime capitalista, onde o indivíduo

    5. Sabe-se que o maior dano não é com a idade, mas com o meiourbano. Kamkhagi aponta que um idoso que vive em áreas não ur-banizadas ouve tão bem quanto um jovem morador de uma metró-pole, pois este está exposto a sons mais altos e danosos ao ouvido.

    Além disso, a falta de preparo sobre como lidarcom o tempo ocioso acaba levando o idoso a isolar--se socialmente.

    O envelhecimento também acarreta mudançaspsicológicas. Essas mudanças psicológicas tam-

    bém estão ligadas à hereditariedade, mas são in-uenciadas pelo estilo de vida que o idoso possuía.Essas mudanças podem acarretar diculdade deadaptação, desmotivação, falta de perspectiva defuturo, transtornos psíquicos que exigem trata-mento, como depressão, hipocondria ou paranoia,baixo autoestima e autoimagem deturpada (ZI-MERMAN, 2000).

    2. A Relação do Idoso com o Espaço de Morar

    Segundo o dicionário Michaelis (2012), o verbetecasa pode ser entendido por “todas as construçõesdestinadas à moradia ”, independente de sua tipo-logia. No entanto, o signicado da casa vai além deseu aspecto físico e material.

    À medida que a sociedade ocidental se desenvolveu, oespaço de morar – a casa – também passou poralterações, tanto no seu signicado quanto em sua

    função. O arquiteto Rybczynski (2002, apud MEN-DES 2007) pontua valores diferentes que tornama casa um ambiente confortável em momentoshistóricos diversos. Por exemplo, no século XIV osambientes eram coletivos e não havia privacidade.Na idade Média, um mesmo cômodo ou móvel ti-nha múltiplas funções. Já no século XVII, momen-to em que a burguesia crescia, a moradia se asse-melhava a um apartamento ou cortiço, e abrigavamais de uma família. O ambiente de trabalho e de

    habitar se separam e o conceito de intimismo eprivacidade torna-se então indispensável ao espa-ço de morar. A casa deixa de ser apenas um localde abrigo e proteção.

    A relação dos habitantes e do espaço que habitamtambém se altera, porém em grandeza temporaldiferente. Enquanto o aspecto da casa levou sécu-los para mudar, a relação casa-morador se altera

    conforme o morador vive6 – alterações siológicas,sociais e psicológicas irão se reetir nos ambientes

    pessoal de dimensão simbólica (MIGUEL, 2002).A casa enquanto bem material pode ser avaliada

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    sociais e psicológicas irão se reetir nos ambientesdo local onde habita.

    Após atingir o estágio adulto, o declínio da capa-cidade humana e as mudanças siológicas queocorrem no envelhecimento poderão transformar

    o ambiente em um fator de risco potencial. Se nãofor dada a devida atenção arquitetônica ao espaçoonde vive o idoso, o ambiente no qual se viveu porum longo tempo poderá tornar-se inconveniente7 em função das limitações que o envelhecimentoimpõe sobre este indivíduo (FLORES, 2010).

    2.1. Abrigo e Memória

    A casa, além de oferecer abrigo e proteção, também

    representa as conquistas e memórias da vivênciado morador. As memórias são o que tornam a casaum local único, repleto de signicado emocional.Mendes, Oliveira e Corte (2010) defendem a casacomo um sistema referencial para o idoso, com-posto de sensações familiares, como cores, textu-ras, sons e aromas.

    O idoso estabelece um laço afetivo com o espaçoem que habita, dado o longo tempo que permane-

    ceu vivendo no local. Essa ligação emocional comsua casa é evocada pela sua memória do passado,a qual auxilia o idoso a organizar a linha cronoló-gica do seu pensamento e vivência. Os ambientessão modicados pela presença dos moradores e acasa adquire um caráter subjetivo que permeia arelação entre a pessoa e o ambiente – a casa é ondeo idoso mantém seus hábitos e pertences, os quaisconstituem lembranças importantes para a saúdemental e o equilíbrio emocional do idoso, protegen-

    do sua própria identidade e garantindo sua satis-fação com seu lugar de morar (FLORES, 2010).

    Assim, a casa é um espaço que reete a indivi-dualidade do ser humano, tornando-se um bem

    6. Mendes (2007), em um levantamento em São Paulo, detectou quea média de permanência do idoso no mesmo domicílio era de 20,4anos.7. As complicações enfrentadas pelo Idoso em um ambiente inade-quado à terceira idade serão abordadas no próximo capítulo.

    A casa, enquanto bem material, pode ser avaliadae ter seu desempenho medido quanto ao conforto,localização e outros fatores. No entanto, enquantoícone da memória, o valor da casa torna-se imen-surável (MENDES, OLIVEIRA & CORTE, 2010).

    2.2 Independência e Autonomia

    A falsa noção de que a terceira idade, senilidade edependência são a mesma coisa faz com que se-

     jam adotadas algumas formas de moradia e supor-te ao idoso; são instituições asilares ou clínicas,que prestam auxílio às atividades rotineiras queo idoso desenvolve. Também é comum encontraridosos que vivem sob os cuidados de seus lhos ounetos, ou que tiveram que passar pelo transtorno

    de se mudar por não serem permitidos a morar porsi só. Nos cenários colocados, os idosos não detémmais total poder de escolha sobre seu próprio fu-turo. À medida que se envelhece, terceiros acabamtomando decisões que deveriam ser do idoso so-mente de forma direta ou manipulativa, ignorandoo fato de que o idoso possui desejos e vontade pró-pria (ROBSON, 1997, apud MENDES, 2007).

    Mendes, Oliveira & Corte (2010) defendem que o

    idoso deve permanecer em sua própria residênciatanto quanto for possível devido à contribuição dacasa, bem como das memórias que ela represen-ta, para a saúde do idoso e preservação de suaidentidade. Ribas (2001) complementa o propostoacima ao ressaltar que o idoso, ao permanecer emsua própria casa, adquire uma qualidade de vidamelhor ao evitar morar em asilos, casas de repou-so ou na casa de lhos ou parentes. Paul (1996Apud FLORES, 2010) acrescenta ainda que o ido-

    so, ao manter-se em sua casa, demonstra à so-ciedade sua autonomia e independência. Por m,Daré (2006) arma que, para o idoso, o fator maisimportante é ser independente no sentido de satis-fazer as próprias necessidades e cuidar de si mes-mo sem precisar da intervenção alheia.

    Com isso em mente, a casa deve seguir o ciclo devida do seu habitante de forma a proporcionar

    conforto e segurança em qualquer etapa da vida(MENDES, OLIVEIRA & CORTE, 2010). Tratan-

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    ( , , )do-se da terceira idade, a casa deve ser compatí-vel com a capacidade declinante do idoso (KOSE,1991). A casa deve ser projetada8 tendo em mentea dinâmica de desenvolvimento do corpo humanoe adaptada conforme os residentes envelhecem, de

    forma a compensar com o espaço as perdas físicase sensoriais do idoso em função do processo deenvelhecimento (RIBAS, 2001).

    ○ ○ ○ ○

    8. Este assunto, referente ao projeto da casa, será tratado com maisdetalhes no próximo capítulo.

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       l   l  o  w   J  a  c   k  e   t   M  e   d   i  a .   I  n   d   i  a ,   2   0   1   0 .

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    CAPÍTULO III

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    Este capítulo se inicia com uma discussão nocampo do desenho universal e da ergonomia.Expõe problemas e confronta a legislação e normasrelacionadas à elaboração do projeto residencialvoltado para as especicidades do morador idoso.Por último, apresenta os parâmetros de projeto aserem adotados e trás um quadro síntese de comoas mudanças do processo de envelhecimentopodem ser contempladas no projeto de arquitetura.

    1. Uma casa para a vida inteira

    Devido à relação de afetividade e memória que oproprietário desenvolve para com a sua casa ou aodesejo de demonstrar status social, é comum que oidoso queira permanecer durante a terceira idade emsua residência. Porém, enquanto o corpo humanosofre a ação do tempo e se altera drasticamente, acasa não se altera signicativamente, e a relação

    entre o morador e o ambiente em que vive deixade ser harmoniosa (MENDES, 2007). As alteraçõessiológicas e a suscetibilidade a doenças senispoderão tornar a casa inadequada à vivência doidoso (ASSIS, 2006).

    Uma vez que as condições físicas do indivíduo sealteram devido ao envelhecimento, é necessário queo ambiente residencial também seja alterado parasuportar a nova conguração siológica trazida

    pela terceira idade. Estas alterações na edicaçãogarantirão um ambiente confortável e seguro paraque o idoso a habite e desenvolva suas atividadescotidianas sem transtornos (HAZIN, 2012).

    Dentre as alterações que ocorrem durante oenvelhecimento, é importante levar em consideraçãona concepção de ambientes as alterações referentesà movimentação (gestão do equilíbrio e coordenação

    motora), à execução de atividades (força muscular,alcance, tempo de reação, cognição) e à percepçãodo entorno através dos sentidos sensoriais(DARÉ, 2006). Compreender as transformaçõesresultantes do envelhecimento é fundamentalpara o entendimento da relação entre o idoso e oambiente onde reside (HAZIN, 2012).

    Os empecilhos arquitetônicos que o idoso enfrentaao relacionar-se com o ambiente são uma criação

    humana. Basta que haja uma mudança da posturaao projetar espaços para que a arquitetura se tornemais amigável e inclusiva (CARLI, 2010). Anal,após os esforços para se prolongar a vida humana,é incoerente que as condições adequadas paravivê-la sejam ignoradas (VERAS, 1987).

    1.1. O desenho universal como ferramenta deinclusão

    Ao longo da história da arquitetura, há um hiatoem relação a soluções de projeto para o idoso, poisa arquitetura não era pensada para indivíduoscom limitações físicas. Essa preocupação sóentrou em evidência no nal do século XX, o queocasionou um debate acerca das soluções voltadasà acessibilidade de todas as pessoas (HAZIN, 2012).

    A evolução dos projetos inclusivos deu origem aoconceito de Desenho Universal, cujo objetivo éatender a todos. A tendência é o “Desenho Acessível”ceder lugar ao “Desenho Universal”, pois o primeiroatende apenas pessoas com alguma deciência,enquanto o segundo é mais abrangente (LOPES &BURJATO, 2010).

    Dentro do conceito de desenho universal, oprojeto deve prever as necessidades que poderão

    CAPÍTULO IIIA Arquitetura para a Terceira Idade

    ocorrer ao longo da vida das pessoas, além dasdemandas atuais, garantindo a autonomia dos

    á i l f d d i fâ i té

    1.2. A Ergonomia e o Usuário Idoso

    Para a criação de projetos universalizados a

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    usuários em qualquer fase, desde a infância até aterceira idade. Um projeto de qualidade “suportaas pessoas e suas necessidades, considerandotanto as alterações decorrentes do envelhecimentoou causadas por uma deciência como também

    limitações temporárias” (CARLI, p.132, 2010).Quando limitações funcionais estão envolvidas,como é o caso de idosos com mais de 80 anos, ouso dos espaços é afetado e, consequentemente,o processo de projeto se torna um desao, pois oambiente além de prevenir perdas e compensarlimitações, deve dar opções de escolha conforme apreferência do usuário e ainda ter o uso facilitado,promovendo assim a independência e autonomiado usuário (CARLI, 2010).

    Para a criação de projetos universalizados, aergonomia é uma ferramenta indispensávelpara todo arquiteto. A ergonomia busca reduzira fadiga e o estresse, evitar erros e acidentese proporcionar segurança, satisfação e saúdeao homem (IIDA, 2005). Buscando alcançar ocaráter universal do projeto, é necessário quehaja uma abordagem ergonômica nos ambientespara atender às necessidades do maior númeropossível de usuários, inclusive os idosos, criandoambientes de qualidade segundo as dimensões eespecicidades do corpo envelhecido (LOPES &BURJATO, 2010).

    A antropometria, área de estudo da Ergonomia,auxilia o arquiteto a criar espaços em função das

    Figura 11:Medidas do corpoidoso masculino efeminino de 65 a79 anos de idade.

    Dreyfuss, 2005.

    dimensões e biomecânica do ser humano. Assim,para criar espaços de qualidade para o usuárioidoso a antropometria deve estar atrelada aos

    Os dados antropométricos disponíveis atualmentesão referentes aos idosos norte-americanos de 65até 79 anos de idade (Figura 11) Indivíduos de 80

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    idoso, a antropometria deve estar atrelada aosaspectos siológicos da terceira idade (HAZIN,2012). Há um constante crescimento do númerode idosos e da expectativa de vida. Devido aessa tendência ao envelhecimento populacional

    em todo o mundo, a ocorrência de pessoas comrestrições físicas e sensoriais consequentementeaumenta. No entanto, existe uma carência dedados antropométricos para usuários muitoidosos ou dependentes de órteses e próteses,situação comum na terceira idade, pois a maioriados levantamentos é direcionada por interessesindustriais e militares (LOPES & BURJATO, 2010).

    até 79 anos de idade (Figura 11). Indivíduos de 80anos ou mais e de outras etnias ainda não sãocontemplados em estudos aprofundados dessetipo, e não há dados especícos para essa parcela,que surge como uma demanda que não é atendida

    pelo mercado e que precisa ser cuidadosamenteestudada (DREYFUSS, 2005).

    A variabilidade genética da espécie humanacolabora para a diversidade (Figura 12), de formaque não existem duas pessoas exatamente iguais,nem mesmo gêmeos univitelinos. Cabe ao arquitetolidar com essa situação e projetar de forma aatender tal diversidade (DREYFUSS, 2005). Éilógico tentar determinar um homem-padrão,além de inadequado agrupar todos os indivíduosem uma medida padronizada. O ciclo de vida doser humano compreende fases nas quais as suasdimensões e aparência sofrem alterações emfunção do tempo, bem como as suas necessidadesem relação ao ambiente. Dessa forma, projetoselaborados para atender a um usuário padrão,estático e de dimensões imutáveis, correspondenteà média, restringirão o número de pessoas que serãoatendidas com segurança e conforto, tornando-seespaços de segregação, pois não estarão aptos a

    atender situações críticas, onde os indivíduos nãocorrespondem aos desvios padrão ou estão alémdos limites máximo e mínimo (DUARTE & COHEN,2003).

     Infelizmente, a ergonomia praticada com o idosocomo alvo ainda é majoritariamente corretiva. Hácerta relutância em conceber casas ergonômicaspara a terceira idade, seja por motivos estéticosou mercadológicos, colocando o idoso aquém da

    atenção que de fato merece e necessita (HAZIN,2012).

    1.3. Acidentes domésticos e Prevenção dePerdas

    Uma das formas de prevenir perdas é prevenindoacidentes. Conforme a gravidade do acidente,

    Figura 12:Diferença de di-mensão entre gru-pos étnicos. Drey-fuss, 2005.

    podem surgir limitações que transformarão orelacionamento do usuário com o ambiente,temporariamente ou não (CARLI 2010) No

    equipe de Saúde da Família do Ministério da Saúdecriou uma lista de itens que indicam problemas nolocal onde o idoso vive Há itens especícos para

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    temporariamente ou não (CARLI, 2010). Noentanto, a maioria das moradias dos idosos dispõede condições precárias para prevenção de acidentesdomésticos (DRECH et al. 2008).

    Os tipos de acidentes domésticos que podemacometer um idoso são queimaduras, asxias,envenenamentos e quedas. Acidentes desse cunhosão a sexta causa de morte em idosos (ABRAMS EBERKOW, 1994, apud DRECH et al. 2008). Destes,o tipo de acidente mais comum e recorrente entreos idosos são as quedas. Dados do Ministério daSaúde estimam que 30% dos idosos caiam umavez por ano dentro de casa. Destas ocorrências,47% ocasionam algum tipo de lesão (COSTA NETO,2000). Um estudo feito em São Paulo revelou quea lesão mais comum decorrente de quedas é afratura óssea (FABRICIO et al. 2004). Estes dadosestatísticos reforçam a importância da intervençãonestes ambientes como forma de reduzir aocorrência de acidentes domésticos (Figura 13).

    Dois fatores tornam as quedas na terceira idademais frequentes: o primeiro, inevitável, tem relaçãocom as alterações siológicas do envelhecimento.Quanto mais idoso, maiores são as perdas

    físicas de ordem natural e, consequentemente, aprobabilidade de cair se torna maior. O segundofator, extrínseco, refere-se às características doambiente onde o idoso vive (JAHANA E DIOGO,2007). O fator ambiental proporciona maior risco,pois é agravado pelo condicionamento físico doidoso. Os ambientes identicados onde há maiorfrequência de acidentes são os que apresentamcaracterísticas como piso molhado e escorregadio,objetos obstruindo o percurso e degraus (LOPES

    et al. 2007). Carli (2010) enfatiza que episódiosconstantes no mesmo ambiente é um indíciode que há algo errado e o ambiente está poucoadequado ao seu usuário. Portanto, deve ser dadaatenção extra aos ambientes domésticos onde hámaior frequência de quedas e acidentes.

    Como forma de auxiliar na sondagem dos fatoresde risco que o ambiente oferece para intervenção, a

    local onde o idoso vive. Há itens especícos parao interior e o exterior da habitação, e para cadacômodo (Ver anexo III).

    É necessário salientar que as consequênciasda queda que não são apenas físicas. As lesõesocasionam consequências biopsicossociais(JAHANA E DIOGO, 2007). O idoso podedesenvolver medo de cair novamente, que o fazdiminuir sua mobilidade, aumentando o desuso edeteriorando sua capacidade funcional (MENEZESE BALCHION, 2008). Num cenário mais grave, aincapacidade originada de uma lesão pode levaro idoso a um estado mórbido e em pouco tempoao óbito (JAHANA E DIOGO, 2007). Além disso,as consequências advindas de lesões por quedastambém se estendem à família do idoso e aosindivíduos que com ele convivem, pois o idoso podetornar-se bastante dependente, principalmenteno processo de recuperação, além de desenvolveransiedade e até depressão (LOPES et al. 2007).

    Acidentes decorrentes de mau planejamentotambém é uma questão econômica. Acidentesna terceira idade acabam levando o idoso a serhospitalizado para tratamento, gerando custo

    nanceiro para o paciente e para a previdência.Uma casa dotada de medidas adaptativas paraa terceira idade, ainda que possua o custo deconstrução maior, promoverá economia em longoprazo (MENDES, 2007).

    Figura 13:Gráco - Quan-tidade queda deidosos ao ano Xlesões por ocor-rência. Dados: Mi-nistério da Saúde.Elaboração: Auto-ra.

    (Acessibilidade a edicações, mobiliário, espaçose equipamentos urbanos), criada na década de 80e atualizada algumas vezes até chegar à versão

    Prevenir acidentes domésticos através da reduçãode riscos é importante para garantir a qualidadede vida e bem estar dos idosos. A qualidade do

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    e atualizada algumas vezes até chegar à versãodisponível atualmente, de 2004 (HAZIN, 2012).Esta norma contém parâmetros para acessibilidadepara um grupo diversicado onde o idoso podeestar inserido, mas tem foco principalmente em

    indivíduos com alguma deciência física, excluindoas necessidades reais que crianças e idosossem deciências possuem. Dessa forma, não háparâmetros legais claros que atendam ao idoso naadaptação do ambiente em que vivem (STAMATO,2007).

    Além da norma de acessibilidade brasileira vigentenão fornecer critérios especícos para o idoso,estas só são exigidas para ambientes de usopúblico ou áreas coletivas de empreendimentosresidenciais. Para o ambiente interno das unidadeshabitacionais não existe a obrigação de garantira acessibilidade. Encontra-se um paradoxo: omorador idoso pode até acessar a sua unidadede moradia, mas não conseguirá habitá-la comsegurança e autonomia. Como consequênciada falta de critérios e normas reguladoras daarquitetura para idosos, as construtoras seguemà risca a NBR9050 para adaptar os projetos,tornando as unidades desiguais e estereotipadas,

    reforçando a rejeição à terceira idade e suasalterações, como foi detectado por Stamato (2007):todos os idosos entrevistados emitiram opiniõesnegativas ao serem apresentados a uma ilustraçãode um protótipo de banheiro seguro (Figura 14).

     Mesmo amparado legalmente, o idoso brasileiro nãoobtém na prática os benefícios destes dispositivos

     jurídicos, uma vez que não são efetivamentecolocados em prática (HAZIN, 2012). “A arquitetura

    residencial, da forma como é aplicada hoje noBrasil, não contempla as necessidades especícasdo usuário idoso ” (CARLI, p.134, 2010).

    É importante conhecer o usuário nal, mas nemsempre isso é possível. Nessa situação, o mercadoimobiliário, visando eciência, uniformiza asunidades habitacionais baseando-se em umhomem-padrão. Neste contexto, é compreensível a

    de vida e bem estar dos idosos. A qualidade doambiente da moradia está diretamente ligada aisso. Essa qualidade pode ser alcançada através deum projeto residencial que contemple segurança,funcionalidade, conforto e considere as limitações

    que o idoso poderá desenvolver, permitindo-omanter sua autonomia (FLORES, 2010).

    2. Legislação e Mercado da Habitação para Ter-ceira Idade

    Quanto à moradia do idoso, a lei n°10.741/2003,conhecida popularmente como estatuto do idoso,aborda o assunto em apenas dois artigos dentrode 118:

    • O artigo 37 menciona o direito à moradiadigna, mas não especica o isto que seria de fato.Há apenas uma vaga ideia expressada quando sefaz menção a padrões de habitação compatíveiscom as necessidades do idoso.

    • O primeiro item do artigo 38 apresentauma porcentagem (3%) de unidades a seremreservadas para idosos. Todavia, essa parcela não écondizente com a tendência demográca atual, em

    que o número de idosos aumenta mundialmente. Já o terceiro item fornece uma diretriz: eliminarbarreiras arquitetônicas para a garantia deacessibilidade, mas não indica como fazê-lo.

    Observa-se que a legislação brasileira atual nãodispõe acerca de ambientes privados: o estatutodo idoso trata apenas da moradia na modalidadeinstitucional ou subsidiada por recursos públicos,deixando que a moradia particular seja produzidaconforme a vontade do proprietário ou segundoo interesse do mercado, sem critério algum.No entanto, para o geriatra Zimermam (2000),negligenciar dessa forma a arquitetura do ambienteonde o idoso habita pode ser considerado um tipode violência.

    Quando se trata de acessibilidade no Brasil,é de praxe adotar a norma NBR9050-ABNT

    adoção de medidas antropométricas padronizadas,como forma de atender ao máximo possível deindivíduos. Apesar de tal postura ser razoável, o

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    p p ,conceito de homem-padrão é, na verdade, umaabstração da realidade (FROTA, 2009).

     Ao passo que se tenta atender o máximo possívelde possíveis usuários, a padronização nãoleva em consideração as possíveis limitações ediculdades que este poderá manifestar em seuciclo de vida – seja uma fratura, uma gravidez oua sua senescência. Em uma situação assim, devese prever e assegurar a possibilidade do usuárional intervir no espaço para adequá-lo às suasnecessidades, garantindo a exibilidade do projetocomo forma de satisfazer um número maior deusuários (CARLI, 2010).

    Num mercado capitalista, o custo é um fatorcrucial na tomada de decisão, e a área destinadapara cada unidade é sinônimo de dinheiro. Porém,o planejamento de ambientes acessíveis nãodeve ser encarado como custo, mas sim, comoinvestimento. A área particular dedicada a cadaunidade habitacional diminuiu ao longo dos anos,chegando ao cenário atual. Existe a impressão deque ambientes acessíveis sempre demandarão deuma área maior para serem executados, quando,

    na verdade, é possível criar moradias universaisem unidades mínimas. Essa falsa impressãoleva à ilusão de que ambientes acessíveis serãosempre mais caros e inviáveis como investimentoimobiliário. Porém, Carli (P. 137, 2010) demonstraque não é necessário um enorme espaço para queo ambiente seja acessível ao propor alterações paraadaptar com sucesso uma unidade de 25m², comomostrado na Figura 15.

    Ao incorporar as características do cliente idoso,a indústria da construção, ao executar projetosadequados à terceira idade focando em pessoasque planejam viver uma terceira idade autônoma,fornece um produto duradouro, com vida útilextensa e sem necessidade de muitas alterações(LOPES & BURJATO, 2010). Além de responderà demanda demográca, esse setor garantirá oretorno do investimento, pois “em uma sociedade

    envelhecendo rapidamente, as casas acessíveisterão mais valor ” (CARLI, p.140, 2010). O projetoque não demanda de muitas adaptações ao longodo tempo é também vantajoso para o proprietário,uma vez que planejar e construir o ambienteacessível é muito menos oneroso que reformá-lo(LOPES, 2006).

    Figura 14:Quadro resumode opiniões ex-pressadas poridosos acerca doprotótipo de ba-nheiro seguro.Stamato, 2007.

    de segurança), diminuindo os transtornos deuma reforma. Assim, o projeto deve focar-se naspossibilidades futuras, e, mesmo sendo uma casa

    Figura 15:Proposta de adap-tação em unida-de de moradia da

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    3. Parâmetros e Sugestão de Soluções de Pro- jeto

    Muitas vezes os riscos que o ambiente oferece sãomenosprezados devido à postura de negação aostatus de idoso. Isto se dá devido à carga negativaatribuída ao conceito de velhice, associado adoenças e disfunções físicas e biológicas (HAZIN,2012).

    No entanto, uma residência planejadaadequadamente – contemplando segurança,conforto e consideração às limitações físicas,informativas e sociais do idoso – promove aautonomia do morador idoso, pois reduz o riscode acidentes durante a prática de atividadescotidianas. Isso representa um ganho signicativona sua qualidade e vida (RIBAS, 2001).

    Não é interessante, contudo, projetar uma casa que

    dê suporte às transformações da terceira idade seo morador ainda não apresentar as necessidadesde um idoso. Deve-se, entretanto, prever queo morador, ao envelhecer, terá necessidadede adaptações, e assim, executar um projetoresidencial que permita tais adaptações sem anecessidade de grandes alterações posteriormente(por exemplo, prevendo paredes hidráulicas emlocais que não afetarão a xação de componentes

    comum, diferenciar-se por permitir adequações demaneira simples e prática (CARLI, 2010).

    Quanto ao dimensionamento dos ambientes, éimportante adotar parâmetros antropométricosque sejam confortáveis para o i