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PROJECTO AGRO 254 PRODUÇÃO DE SUÍNOS AO AR LIVRE – UNIDADE DE DEMONSTRAÇÃO RELATÓRIO FINAL 2007

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PROJECTO AGRO 254

PRODUÇÃO DE SUÍNOS AO AR LIVRE – UNIDADE DE

DEMONSTRAÇÃO

RELATÓRIO FINAL

2007

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Introdução

As raças suínas autóctones, designadamente a Alentejana e a Bísara,

caracterizadas pela sua elevada resistência e capacidade de adaptação a ambientes mais

agressivos, são comercialmente valorizadas pelos produtos de alta qualidade que delas

se podem obter, não só pelo aproveitamento das suas características genéticas, como

ainda pela sustentação de um adequado sistema de produção. Diga-se, em abono da

verdade, que só a conjugação destes dois factores permitem conferir à carne dos animais

destas raças qualidades organolépticas invulgares.

Sendo um facto indesmentível que estas duas raças, em termos de

produtividade, não podem mìnimamente competir com as raças selectas de elevado

índice de crescimento, a sua mais valia reside obrigatòriamente nos produtos que

originam, sejam eles frescos ou transformados.

Uma estratégia a implementar no sentido de tornar econòmicamente mais

atractiva a exploração destas raças autóctones terá necessàriamente de ter em conta o

aumento da sua produtividade através do cruzamento com outras raças, caso da Duroc,

sem que daí se venha a verificar uma depreciação qualitativa do produto final.

A criação de suínos de raça autóctone em sistema de ar livre apresenta diversas

vantagens relativamente ao sistema intensivo. De facto, para além de um menor

investimento em construções e equipamentos, o sistema extensivo permite a ocupação

de espaços agrícolas abandonados, não tem significativos efeitos deletéricos no meio

ambiente em que está inserido, aumenta o bem estar animal e pode constituir um factor

de desenvolvimento local, regional e, até, nacional.

Para a execução do presente projecto foi necessário definir diversas Acções a

serem desenvolvidas pelas entidades participantes, designadamente a Escola Superior

Agrária de Castelo Branco (ESACB), a Cooperativa de Suinicultores da Beira Interior

(SUIBEIRA), a Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI) e a

Estação Zootécnica Nacional (EZN).

A Acção 1 foi definida com o objectivo de produzir e criar, ao ar livre, leitões

de raça pura - Alentejana e Bísara - e leitões obtidos por cruzamento destas duas raças

com a raça Duroc. Simultâneamente, propunha-se avaliar o impacto ambiental

provocado pela exploração de suínos ao ar livre, através de análises laboratoriais de

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amostras de solo e de lixiviados representativas de toda a área ocupada pelos suínos em

plena produção.

Essencialmente desenvolvida pela ESACB, o acompanhamento técnico- -

veterinário foi assegurado pela SUIBEIRA e pela DRABI.

A Acção 2 tinha por objectivo proceder ao melhoramento da pastagem nos

parques de produção mas, por dificuldades de vária ordem, incluídas as climatéricas, a

DRABI não pôde concretizar em tempo útil as actividades previstas nesta acção.

A Acção 3, a cargo da SUIBEIRA, teve o propósito de demonstrar a tecnologia

adequada na produção, ao ar livre, de leitões das raças autóctones Alentejana e Bísara e

dos respectivos cruzamentos com a raça Duroc até atingirem um peso vivo entre os 12 e

os 14 Kg.

A Acção 4 foi desenvolvida pela EZN e teve como objectivo primordial a

determinação e análise comparativa das performances produtivas e qualidade de carcaça

de suínos das raças puras Alentejana e Bísara e dos suínos provenientes do cruzamento

destas 2 raças com a raça Duroc, todos eles submetidos a um sistema intensivo durante

as suas fases de crescimento e acabamento.

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ACÇÃO 1:

PRODUÇÃO DE LEITÕES AO AR LIVRE. CONTROLO DA PRODUÇÃO

AVALIAÇÃO DE EFEITOS AMBIENTAIS

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE CASTELO BRANCO

DIRECÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA DA BEIRA INTERIOR

COOPERATIVA DE SUINICULTORES DA BEIRA INTERIOR

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1. Introdução

O presente relatório constitui a síntese de resultados observados após conclusão

do Projecto AGRO 254 – Produção de Suínos ao Ar Livre – Unidade de Demonstração,

que decorreu entre Setembro de 2004 e 31 de Dezembro de 2006.

Os objectivos propostos no início, tendo em vista a metodologia programada e

a estratégia definida, eram perfeitamente exequíveis. Contudo, por dificuldades e

vicissitudes várias, verificou-se alguma dificuldade na concretização de alguns desses

objectivos. De entre as dificuldades surgidas de realçar aquela que fez com que o

projecto tivesse um adiamento de cerca de 3 anos, e que se prende com a dificuldade

burocrática no licenciamento da exploração. Apesar de o projecto estar aprovado em

2001, só se conseguiu concretizar a exploração dos animais em 2004.

Apesar dos obstáculos o empenho dos intervenientes, em especial da Escola

Superior Agrária, que teve de fazer um esforço financeiro suplementar para fazer face às

exigências legislativas, fez com que o projecto se tornasse uma realidade, ainda que

com os atrasos conhecidos.

De acordo com o plano previsto foram realizadas as acções previstas, com

algumas alterações, sempre que tal foi necessário, tendo sempre em atenção os

objectivos pretendidos.

Sub-projecto 1 - "Produção de leitões"

Os reprodutores, inscritos nos respectivos Livros Genealógicos, foram

adquiridos na produção e instalados nos parques, localizados na ESACB, em Novembro

de 2004. Após o período de adaptação de cerca de um mês formaram-se os grupos

reprodutivos, dando-se início à produção.

As actividades realizadas no âmbito deste sub-projecto foram dinamizadas pela

ESACB.

Sub-projecto 2 - "Melhoramento da pastagem "

Pretendia-se, com este projecto, melhorar a pastagem nos parques de produção

com trevos e azevém, para servir de complemento à alimentação dos animais.

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Esta acção, da responsabilidade da DRABI, não foi executada, por

condicionalismos que desconhecemos.

Sub-projecto 3 - "Avaliação do impacte ambiental da produção suinícola ao ar

livre"

Pretendeu-se, com este estudo, acompanhar as condições do solo, nos parques

ocupados pelos suínos, através das análises de solo e de lixiviados nos parques

ocupados. Realizaram-se análises do solo - matéria orgânica, pH, condutividade

eléctrica, azoto total, azoto amoniacal, azoto nítrico, fósforo, potássio, capacidade de

troca catiónica e bases de troca, metais pesados, aos lixiviados - matéria orgânica, pH,

condutividade eléctrica, azoto total, azoto amoniacal, azoto nítrico, fósforo, potássio,

sódio, metais pesados.

A colheita de amostras e análises laboratoriais foram da responsabilidade da

ESACB.

Sub-projecto 4 - "Engorda em sistema extensivo vs intensivo"

4.1. - "Avaliação da qualidade da carcaça"

Após o desmame, pretendia-se que metade dos leitões seguisse para engorda

em intensivo (EZN) e a outra metade em explorações da região em extensivo, para

posterior comparação das carcaças.

As entidades responsáveis pelas actividades foram a EZN, a SUIBEIRA e a

ESACB. De realçar a dificuldade em encontrar explorações legalizadas na região para a

engorda em extensivo, o que dificultou esta acção, tendo, grande parte dos animais sido

engordados na EZN, em intensivo.

4.2. - "Avaliação económica"

A avaliação económica dos dois sistemas de produção, durante a engorda, só

poderá ser realizada posteriormente. O principal bloqueio ao seu cálculo imediato

prende-se com o facto de:

- A eficiência produtiva do efectivo, de ambas as raças, não poder ser ainda

considerada regular;

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- O efectivo não se encontra estabilizado por idades;

- Só estarem disponíveis dois anos de resultados, com um efectivo manifesta-

mente pequeno.

2. Síntese dos Trabalhos Realizados

2.1. Sub-projecto 1 "Produção de leitões"

"Instalação dos reprodutores"

Os reprodutores foram adquiridos aos produtores, após contacto com as

Associações de Criadores: UNIAPRA (União das Associações de Criadores do Porco de

Raça Alentejana) e ANCSUB (Associação Nacional de Criadores de Suínos da Raça

Bísara), para as duas raças autóctones utilizadas. Foram adquiridas 16 fêmeas e 4

machos, metade de cada raça, com 6 a 7 meses de idade. As fêmeas estavam gestantes,

vindo a parir, na sua maioria, em Fevereiro/Março de 2005. Os animais foram

distribuídos pelos parques de produção, seguindo o esquema representado na Figura 1.

Figura 1 – Unidade de produção

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Registou-se uma boa adaptação às condições da exploração, sem qualquer

ocorrência anómala a nível comportamental, por parte dos animais.

"Controlo da produção"

Durante o ciclo de produção (Figura 2) foram consideradas 2 épocas de

cobrição, em Maio e Novembro com as consequentes épocas de parto, em Setembro e

Março. Pretendeu-se evitar que os leitões nascessem nos meses mais rigorosos em

termos de temperaturas ambientais, em especial os mais frios.

Os grupos reprodutivos foram efectuados de acordo com o esquema

representado na Figura 3.

Figura 2 - Maneio Reprodutivo

G G G P L L C G G G G P L L C G Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Legenda:

C Época de cobrição G Gestação P Época de Partos

L Lactação

Figura 3 – Grupos reprodutivos

Após confirmação da gestação os machos foram separados das fêmeas e

agrupados num dos parques (Figura 1), onde permaneceram até à época de cobrição

seguinte. As fêmeas gestantes ocuparam os parques de cobrição/gestação (Figura 1).

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Cerca de 15 dias antes do parto, foram transferidas para os parques de parição/lactação,

onde permaneceram até ao desmame dos leitões, que ocorreu aos ± 45 dias. Os leitões

passaram, então, a ocupar o parque de recria, onde permaneceram até atingir 10 a 12 kg

de peso vivo e as porcas passaram para os parques de cobrição, mantendo-se o mesmo

esquema reprodutivo representado na Figura 3.

A partir do segundo ano de projecto, iniciou-se a inseminação artificial, com

sémen de varrascos Duroc, adquirido no exterior.

Os animais foram alimentados uma vez por dia, com alimento comercial

distribuído ad libitum para as porcas em lactação e racionado para os restantes animais.

Foram efectuadas as seguintes pesagens: dos leitões, ao nascimento e ao

desmame; das fêmeas, após o desmame e aquando da confirmação do diagnóstico de

gestação; dos machos, antes e após a época de cobrição.

Os parâmetros avaliados foram: taxa de gestação, intervalo desmame- -

fecundação, tamanho da ninhada ao nascimento, leitões desmamados por fêmea, taxa de

mortalidade entre o nascimento e o desmame, crescimento médio diário dos leitões,

variação do peso dos reprodutores, taxa de substituição do efectivo.

Resultados obtidos

Em primeiro lugar apresentam-se os resultados dos primeiros partos referentes

às porcas exploradas em linha pura. Os parâmetros avaliados são: tamanho da ninhada

ao nascimento (TNN), taxa de mortalidade ao nascimento (tx MN), peso da ninhada ao

nascimento (PNN), peso médio dos leitões ao nascimento (PLN), número de leitões

desmamados por parto (LDP), taxa de mortalidade entre o nascimento e o desmame (tx

MND), peso da ninhada ao desmame (PND), peso médio dos leitões ao desmame (PLD)

e idade ao desmame (ID).

Os dados foram sujeitos a uma análise estatística, tendo-se testado a

homogeneidade de variâncias, seguida de aplicação do teste t-Student, para a

comparação de médias independentes, de acordo com os procedimentos do programa

SPSS. São considerados valores significativos aqueles que satisfaçam o nível de

probabilidade P<0.05.

Os resultados obtidos mostram, globalmente, desempenhos superiores nos

animais da Raça Bísara (Tabela 1), o que reflecte a boa capacidade de adaptação às

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condições de produção ao ar livre, referidas por Santos e Pires da Costa (2001). As

diferenças mais expressivas verificaram-se no peso da ninhada ao nascimento

(P<0.001), com 13.2 e 6.0 kg, para as Bísaras e Alentejanas, respectivamente (Figura 4).

Por seu lado, o peso médio dos leitões ao nascimento (Figura 4), superior em 0.4 kg nas

Bísaras (P<0.01), foi um factor determinante para a menor mortalidade registada nos

leitões desta raça, durante o período de cria (P<0.05). O número de leitões desmamados

por parto (Figura 5), superior nas Bísaras (P<0.05), foi consequência directa das

menores taxas de mortalidade ao nascimento e entre o nascimento e o desmame

(P<0.05), registadas nesta raça.

Tabela 1 - Influência da raça sobre os desempenhos produtivos ao primeiro parto

Raça N Média DP Sig

Alentejana 13 7.0 0.79 TNN (leitões nascidos/parto) Bísara 14 7.6 0.67

NS

Alentejana 13 30.5 8.17 Tx MN (%) Bísara 14 11.0 5.02

*

Alentejana 10 6.0 4.00 PNN (kg) Bísara 10 13.2 4.00

***

Alentejana 10 1.3 0.12 PLN (kg/leitão) Bísara 10 1.7 0.06

**

Alentejana 12 2.6 0.78 LDP (leitões desmamados/parto) Bísara 14 5.1 0.87

*

Alentejana 12 65.0 9.32 Tx MND (%) Bísara 14 34.8 9.22

*

Alentejana 12 32.4 8.41 PND (kg) Bísara 14 62.4 13.77

NS

Alentejana 12 11.0 2.30 PLD (kg/leitão) Bísara 14 11.1 1.42

NS

Alentejana 12 53.0 7.37 ID (dias) Bísara 14 52.0 5.14

NS

DP: Erro padrão; NS: Não significativo; * P<0.05; **P<0.01; ***P<0.001; TNN: Leitões nascidos por parto; TxMN: taxa de mortalidade ao nascimento; PNN: Peso da ninhada ao nascimento; PLN: Peso médio do leitão ao nascimento; LDP: Leitões desmamados por parto; TxMND: Taxa de mortalidade entre o nascimento e o desmame; PND: Peso da ninhada ao desmame; PLD: Peso médio do leitão ao desmame; ID: Idade ao desmame.

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7 7,66

13,2*

1,3 1,7*

0

4

8

12

16

TNN (leitões

nascidos/parto)

PNN (kg) PLN (kg/leitão)

Alentejanas Bísaras

77,6

1,31,7

2,6

5,1

11 11,1

0

2

4

6

8

10

12

Leit

nasc/parto

Pes nasc

(Kg/leitão)

Leit

desm/parto

Pes desm

(Kg/leitão)

Alentejanas Bísaras

Figura 4 - Influência da raça sobre o tamanho e o peso da ninhada ao nascimento.

PNN: Peso da ninhada ao nascimento; PLN: Peso médio do leitão ao nascimento * P<0,05

Relativamente ao tamanho da ninhada, os valores apresentados encontram-se

dentro dos referenciados para as duas raças, semelhantes aos observados por PAMAF,

Projecto 7173 (2001) e Santos e Pires da Costa (2001). Os valores muito elevados

registados nas taxas de mortalidade ao nascimento e entre o nascimento e o desmame,

nas porcas Alentejanas, poderão ser explicados pela ocorrência de grande parte dos

partos nos meses mais frios, Fevereiro e Março, das fêmeas que iniciaram o projecto e

que foram adquiridas já gestantes.

Em conclusão, os animais da raça Bísara apresentaram desempenhos

globalmente superiores aos da raça Alentejana. Contudo, os resultados deverão ser

considerados com cuidado porque se trata apenas de primeiros partos, coincidentes, em

grande parte, com o período de adaptação dos animais à exploração.

Figura 5 - Influência da raça sobre os leitões nascidos e desmamados

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Tabela 2 – Idade das porcas ao parto

RAÇA 1 n Média (dias)

DP (dias)

Max. (dias)

Min. (dias)

1º Parto 15 365 70 513 252

2º Parto 9 570 130 756 419

3º Parto 4 820 130 965 707

4º Parto 1 868 - - -

RAÇA 2

1º Parto 14 453 157 721 315

2º Parto 12 683 198 917 452

3º Parto 5 782 97 895 688

4º Parto 2 892 1 898 897

TOTAL

1º Parto 29 408 126 721 252

2º Parto 21 634 178 917 419

3º Parto 9 799 107 965 688

4º Parto 3 888 17 898 868

Raça 1: Porcas Bisaras; Raça 2: Porcas Alentejanas; DP: Desvio padrão

Para o período de dois anos em que está activa a unidade, as porcas bísaras

fizeram o primeiro (365 vs 453 dias) e o segundo (570 vs 683 dias) parto com idade

mais jovem que as porcas alentejanas.

Tabela 3 – Idade das porcas ao parto por raça no primeiro ano da unidade

1º Ano n 1º Parto n 2º Parto

RAÇA 1 7 358 (± 103)

(252 a 513)

3 437 (± 29)

(419 a 471)

RAÇA 2 7 377 (± 80)

(315 a 515)

4 493 (± 30)

(452 a 522)

Raça 1: Porcas Bisaras; raça 2: Porcas Alentejanas.

As porcas bísaras tendem a realizar o seu primeiro parto a menor idade (-19

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dias), bem como o segundo parto (-56 dias), relativamente às porcas alentejanas.

Tabela 4 – Efeito do macho no peso ao nascimento, no peso ao desmame dos leitões e no número de leitões nascidos vivos

Macho n Peso

nascimento

(g)

n Peso

desmame

(kg)

n Leitões

nascidos

vivos

1

2

3

48

51

311) 2)

1792c

1855c

1953c

36

37

321)

11,08a

13,67b

14,62c

48

51

342)

6,49b

7,98c

7,18bc

4

5

6

602)

31

121)2)

1352a

1529b

1636bc

47

30

131)

11,60ab

12,28b

16,89d

652)

432)

142)

8,42d

4,79a

5,00a

Total/Média 233 1671 195 12,85 255 7,00

Sig. * * * 1) n superior em leitões desmamados porque 1ª pesagem foi posterior aos 8 dias pós-parto (eliminados do

peso ao nascimento); 2) n superior em leitões nascidos vivos porque peso ao nascimento recolhido mais de

8 dias após o parto não foram considerados; Machos 1, 2: Machos Bísaros; Machos 4, 5: Machos

Alentejanos; Macho 3: Macho Duroc utilizado para inseminar as fêmeas Bisaras; Macho 6: Macho Duroc

utilizado para inseminar as fêmeas Alentejanas

Peso ao nascimento

A base genética afecta o peso ao nascimento. Leitões bísaros puros apresentam

pesos significativamente superiores (em ambos os machos existentes na raça)

relativamente aos leitões alentejanos puros. Os leitões BxD (bísarosxduroc) apresentam

pesos idênticos aos bísaros puros. Os AxD (alentejanosxduroc) não diferem nem dos

alentejanos puros, nem dos bísaros puros, nem dos BxD.

Peso ao desmame

O melhor resultado de peso ao desmame é o obtido com AxD seguido por BxD

e só depois alentejanos puros e bísaros puros, com diferenças significativas entre os três

grupos.

Os melhores ganhos médios diários são obtidos nos leitões cruzados AxD

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(0,363 g/dia) e BxD (0,317 g/dia) com diferenças significativas para os grupos de raça

pura a variarem entre 0,215 g/dia (Macho 1 – B puro) e 0,277 g/dia (Macho 2 – B puro).

Tabela 5 – Efeito do macho no número de leitões nascidos vivos, desmamados e no Ganho Médio Diário

Macho n Leitões

nascidos vivos

n Leitões

Desmamados

n GMD

(g/dia)

1

2

3

48

51

311)2)

6,49b

7,98c

7,18bc

36

37

32

6,01c

6,62c

6,94c

36

37

32

0,215a

0,277bc

0,317c

4

5

6

602)

31

121)2)

8,42d

4,79a

5,00a

47

30

13

5,89bc

3,80ª

3,62ª

47

30

13

0,238ab

0,260b

0,363c

Total / Média 2331 7,00 1951 5,76 195 0,266

Sig. * * *

Machos 1, 2 e 3: Machos Bísaros: Machos 4, 5 e 6: Machos Alentejanos 1) Número total de leitões nascidos vivos e leitões desmamados difere com outros quadros porque

algumas das fêmeas já chegaram gestantes à exploração.

Tabela 6 – Peso ao nascimento e peso ao desmame por ano e raça n Peso ao nascimento (g) n Peso ao desmame (kg)

Ano 1

2

121

154

1477 a

1766 b

92

135

10, 54 a

14,02 b

Raça Bisara

Alentejana

160

115

1803 a

1410 b

130

97

12,70

12,49

Total / Média 275 1638 227 12,60

Sig Ano

Raça

*

*

*

NS

Sig. Ano x Raça NS NS

O peso médio dos leitões ao nascimento é superior no 2º ano (1477 vs 1766 –

ano 1 e 2 respectivamente). O primeiro ano é essencialmente constítuido por leitões

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nascidos de 1º parto. O 2º ano tem equilíbrio entre primeiros e segundos partos e já

apresenta alguns terceiros partos. Acresce que algumas das reprodutoras fizeram as

primeiras gestações muito novas ou com pequeno desenvolvimento corporal (já

gestantes ao integrarem a unidade de demonstração). As taxas reprodutivas são

baseadas em fêmeas com parto de vivos e leitões nascidos vivos (exclusivamente). Não

são considerados abortos nem leitões nascidos mortos.

Tabela 7 – Taxas reprodutivas baseadas em fêmeas com parto e leitões nascidos vivos

Fertilidade Prolificidade Fecundidade

1 70,0 6,30b 4,40 Ano 2 80,4 4,30ª 3,50

1 74,0 5,69 4,23 Raça 2 79,0 4,36 3,43

A x R

1 1 71,4 6,30 4,50

1 2 68,8 6,40 4,38

2 1 76,0 5,37 4,08

2 2 84,6 3,76 2,85

Total/Média 76,50 5,00 3,81

Ano NS * NS Raça NS NS NS

Sig

AxR NS NS NS

Raça 1: Raça Bisara; Raça 2: Raça Alentejana

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Tabela 8 – Produtividade numérica (Pn) e produtividade ponderal (Pp)

Prod. Numérica Prod. Ponderal (kg)

1 3,07 32,1 Ano 2 2,65 47,1

1 3,33 47,8 Raça 2 2,31 35,8

A x R

1 1 3,57 35,6

1 2 2,63 29,0

2 1 3,20 54,6

2 2 2,12 40,0

Total/Média 2,80 41,6

Ano NS NS Raça NS NS

Sig AxR NS NS

Raça 1: Raça Bisara; Raça 2: Raça Alentejana; Pn: nº leitões desmamados/porca/ano; PP: Kg de leitão desmamados/porca/ano

Referências bibliográficas

Freitas, A. G. B.; Almeida, J. A. A.; Nunes, J. L. T.; Neves, J. A.; Costa, A. J. M.;

Costa, J. P. (1993). The effect of three levels of feeding growing performances and

carcass characteristics of Alentejano pigs, slaughtered at the same age. VII World

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Freitas, A.B. (2000). Influência do nível e regime alimentar no crescimento e

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UTAD, 71, Vila Real.

Mestre, R. B.; Monteiro, D. O.; Mena, E. G.; Cardoso, A. M. S. (2000). Composição em

tecidos da carcaça do leitão da raça Bísara. 2as Jornadas Internacionais de

Suinicultura. UTAD, 73-78, Vila Real.

PAMAF, Projecto 7173 (2001).Preservação, recuperação e desenvolvimento do porco

Bísaro: Caracterização e valorização dos produtos suinícolas alternativos. Relatório

Final. Fonte Boa, Santarém.

Santos e Silva, J. e Pires da Costa, J. (2001). Resultados reprodutivos das porcas Bisaras

em sistema de ar livre. DRAEDM, Div. Produção Animal, S. Torcato, Guimarães.

Estação Zootécnica Nacional, Santarém.

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Título do sub-projecto Produção de suínos ao ar livre: avaliação de efeitos ambientais

Responsável pelo sub-projecto: Maria do Carmo Simões Mendonça Horta Monteiro

(Doutora, Professor Adjunto da Escola Superior Agrária de Castelo Branco)

Introdução:

A produção de suínos ao ar livre é actualmente uma alternativa à produção

agro-pecuária tradicional principalmente em zonas desfavorecidas. Relativamente à

produção intensiva tem como vantagens um baixo encabeçamento e o facto de contar

com o solo como o meio de deposição natural dos resíduos orgânicos produzidos. Esta

forma de produção pode ter no entanto efeitos ambientais negativos no que diz respeito

à poluição do solo e transporte dessa poluição para áreas adjacentes ou águas

subterrâneas.

1 - Objectivos

O objectivo deste trabalho foi o de avaliar a evolução das propriedades

químicas do solo e caracterizar as águas de drenagem interna, numa unidade

experimental de produção de suínos parqueados ao ar livre.

2 - Material e métodos

Esta unidade experimental situa-se na quinta da Escola Superior Agrária de

Castelo Branco – Portugal, consta de uma área total de 2.8 ha e está dividida em 6

parques. Os animais encontram-se distribuídos por estes parques de acordo com a idade,

estado fisiológico e sexo. Assim, existe um parque para leitões, quatro para porcas

reprodutoras e um parque para varrascos. As raças em estudo são: Alentejana e Bízara

O solo onde se instalou a unidade de demonstração é um cambisol dístrico (FAO,

1994). O declive dos parques varia entre os 5 e os 30 % com um valor médio de 14%

(Figura 5). Antes da instalação da unidade experimental foi caracterizado o solo, quanto

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ao seu teor em carbono orgânico (Corg,), azoto total (N), fósforo e potássio

“assimiláveis” (P e K), Bases de troca (Ca, Mg, Na e K), os metais pesados Cobre e

Zinco (Cu e Zn), pH e condutividade eléctrica (CE). O nível inicial destes elementos

constituiu o nível base de referência deste solo. A data de início do projecto foi em

Janeiro de 2005. Estabeleceu-se um plano de monitorização desta área que consta de

amostragens ao solo com periodicidade bi-mensal. A colheita de terra iniciou-se em

Maio, analisando-se os parâmetros acima referidos. A nomenclatura utilizada foi a de

denominar os parques de 1 a 6 (ex: P1…P6), em que o parque P1 é o dos varrascos e o

P6 é o dos leitões, sendo os outros ocupados pelas fêmeas. Consideraram-se em cada

parque duas zonas de colheita de terra. Uma mais suja, que corresponde à zona onde os

animais comem e dormem (S) e outra mais limpa (L), na restante área. A colheita de

amostras de terra foi efectuada a 20 cm de profundidade por meio de uma amostra

compósita.

Para a recolha da água de drenagem interna (lixiviados), instalaram-se a 60 cm

de profundidad cápsulas de recolha de lixiviados. Colocaram-se 4 cápsulas por cada

parque, duas na zona considerada mais suja e as outras duas na restante zona (ex: P1S1,

P1S2, P1L1; P1L2). A água lixiviada foi recolhida após a ocorrência de precipitação.

Nesta amostra foi quantificado o azoto na forma mineral (NH4+ e NO3

-), o fósforo total

(Pt), o pH, a CE, o Cu e Zn. O volume de água recolhido foi por vezes insuficiente para

a quantificação de todos os parâmetros referidos. Optou-se por quantificar sempre o

azoto mineral e sempre que possível também os outros elementos.

No Quadro 1 apresentam-se as metodologias analíticas e as unidades dos

diversos parâmetros avaliados.

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Quadro 1- Parâmetros avaliados no solo e lixiviados e respectiva metodologia analítica

Parâmetros Metodologia Unidades

Solo

pH Potenciómetria; eléctrodo de vidro;

suspensão de terra em água 1:2,5

Condutividade eléctrica Conductivímetro; suspensão de terra

em água 1:5

dS m-1 (µS cm-

1)

Carbono orgânico Walkley e Black g kg-1

Azoto total Metodo de Kjeldahl g kg-1

Fósforo “assimilável” Egnér-Riehm (extracção),

colorímetria por espectrofotometria

de absorção molecular (doseamento)

mg kg-1

Potássio “assimilável” Egnér-Riehm (extracção),

fotometria de chama (doseamento)

mg kg-1

Bases de troca (Ca, mg, Na

e K)

Solução molar de acetato de amónio

tamponizado a pH 7,0 (extracção),

leituta em absorção atómica

(doseamento)

Cmol(+) kg-1

Metais pesados (Cu e Zn) Método de DTPA_TEA (Lindsay e

Norvell, 1978).

mg kg-1

Lixiviados

pH Potenciómetria; eléctrodo de vidro

Condutividade eléctrica Conductivímetro dS m-1 (µS cm-

1)

NH4+ e NO3

- Standardt Methods, 1980 mg L-1

Fósforo total Digestão com persulfato em

autoclave e doseamento por,

colorímetria em espectrofotometria

de absorção molecular

mg L-1

Cu e Zn Leitura directa em absorção atómica mg L-1

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3-Resultados

Os resultados obtidos em 2005 e 2006 relativamente à evolução das

propriedades do solo e caracterização de lixiviados na unidade experimental de

produção de suínos ao ar livre da ESA-CB apresentam-se de seguida.

3.1- Análises ao solo

Pode-se observar no Quadro 2 as características físico-químicas iniciais do solo

da Unidade Experimental. O solo em causa é de textura média, ácido e pobre em

matéria orgânica e em fósforo. Tem um teor elevado em potássio, baixo em bases de

troca e um teor baixo a médio em Cu e Zn. A condutividade eléctrica é também baixa.

Quadro 2- Características físico-químicas iniciais do solo da Unidade Experimental Co N g kg-1

pH CE µScm-1

P K mg kg-1

Ca Mg .. Na K Cmol(+)kg-1

Cu Zn mg kg-

8,1 0,98 5,1 46,7 9 111 0,35 0,085 0,011 0,048 0,43 0,39

Após um ano, verifica-se que os valores médios da condutividade eléctrica do

solo permanecem baixos, mas há um aumento considerável nalguns parques e uma

variabilidade também elevada. O pH do solo e o teor em Co apresentam uma tendência

para aumentar (Quadro 3).

No Quadro 4 apresentam-se os valores das bases e troca. Observa-se que o

valor médio é superior ao valor inicial do solo para qualquer das bases de troca. Esta

observação está de acordo com o aumento também observado no pH e na CE do solo.

Nas Figuras 1 a 4 pode-se observar que ao longo do tempo houve um aumento

(acumulação) das bases de troca no solo.

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Quadro 3- Características do solo da Unidade Experimental após um ano (Maio

2005 a Abril de 2006; n=8), valores médios da condutividade eléctrica,

pH e Carbono orgânico

Parcela CE

µScm-1 dp CV (%) pH dp

CV (%)

Co g kg-1 dp

CV (%)

Solo inicial 46,7 0,0 5,1 8,08 P1S 46,1 12,8 28 6,0 0,4 7,0 14,36 2,41 17 P1L 67,9 20,0 29 6,2 0,5 7,3 11,67 2,91 25 P2S 71,9 47,8 66 5,9 0,2 2,9 12,72 2,70 21 P2L 71,0 73,0 103 5,8 0,5 7,8 13,81 5,67 41 P3S 104,5 37,8 36 5,7 0,3 5,1 14,79 3,71 25 P3L 98,2 150,2 153 5,9 0,4 7,5 11,15 2,44 22 P4S 97,1 39,9 41 5,7 0,2 4,0 11,73 2,09 18 P4L 92,8 70,7 76 6,0 0,4 5,9 12,23 2,96 24 P5S 68,4 41,4 60 5,9 0,2 3,2 14,54 3,44 24 P5L 51,6 16,5 32 6,2 0,4 5,7 11,32 1,12 10 P6S 132,0 57,7 44 6,1 0,3 5,4 15,70 4,59 29 P6L 57,3 34,0 59 5,8 0,1 2,4 15,20 5,53 36

CV (%) 32* 61** 3 5 12 24 dp- desvio padrão; CV- coeficiente de variação; *-coeficiente de variação dos valores médios, **-média dos coeficientes de variação.

Quadro 4- Características do solo da Unidade Experimental após um ano (Maio 2005 a Abril de 2006; n=8), valores médios das bases de troca

Parcela Ca2+ dp CV (%) Mg2+ dp

CV (%) Na+ dp

CV (%) K+ dp

CV (%)

Solo inicial 0,35 0 0 0,085 0 0 0,011 0 0 0,048 0 0 P1S 4,87 0 0 0,911 0 0 0,156 0 0 0,860 0 0 P1L 2,99 2,91 101 0,718 0,828 115 0,026 0,028 109 0,300 0,337 112 P2S 2,49 2,79 101 0,458 0,626 136 0,044 0,052 120 0,373 0,539 144 P2L 1,24 1,24 101 0,297 0,415 140 0,010 0,013 141 0,243 0,338 139 P3S 2,60 2,99 101 0,313 0,346 111 0,023 0,024 105 0,504 0,655 130 P3L 2,03 2,27 101 0,332 0,407 123 0,009 0,006 73 0,295 0,383 130 P4S 2,00 1,99 101 0,324 0,339 104 0,056 0,037 66 0,394 0,427 109 P4L 2,04 1,94 101 0,329 0,370 112 0,018 0,012 70 0,402 0,518 129 P5S 3,03 3,88 101 0,450 0,555 123 0,066 0,072 110 0,468 0,558 119 P5L 2,78 3,24 101 0,515 0,651 126 0,012 0,009 74 0,295 0,388 132 P6S 3,54 4,48 101 0,594 0,747 126 0,041 0,037 91 0,567 0,719 127 P6L 1,98 2,25 101 0,485 0,681 140 0,028 0,035 124 0,316 0,448 142

CV (%) 36 101 39 113 100 98 41 128

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Figura 1- Evolução no teor em cálcio de troca do solo desde Maio de 2005 até Fevereiro de 2006

0

2

4

6

8

10

0 2 4 6 8Colheita

Ca

2+ (

Cm

ol (+

) k

g-1

) valor inicial

P1L

P2S

P2L

P3S

P3L

P6S

P6L

Figura 2- Evolução no teor em magnésio de troca do solo desde Maio de 2005 até Fevereiro de 2006

0

0,5

1

1,5

2

0 2 4 6 8

Colheita

Mg

2+ (

Cm

ol (+

) k

g-1

valor inicial

P1L

P2S

P2L

P3S

P3L

P6S

P6L

Figura 3- Evolução no teor em sódio de troca do solo desde Maio de 2005 até Fevereiro de 2006

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0 2 4 6 8Colheita

Na

+ (

Cm

ol (+

) k

g-1

)

valor inicial

P1L

P2S

P2L

P3S

P3L

P6S

P6L

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Figura 4- Evolução no teor em potássio de troca do solo desde Maio de 2005 até Fevereiro de 2006

0

0,5

1

1,5

0 2 4 6 8Colheita

K+ (

Cm

ol (

+) kg

-1)

valor inicial

P1L

P2S

P2L

P3S

P3L

P6S

P6L

À semelhança dos outros parâmetros, observa-se uma tendência na acumulação

no solo em fósforo, potássio e azoto (Quadro 5). Este aumento provém essencialmente

dos excrementos dos animais e de restos de ração. O valor mais elevado de fósforo

observa-se na zona mais suja do parque dos leitões (P6S). Os valores mais elevados de

potássio nos parques das fêmeas reprodutoras e no dos leitões. O valor em azoto total

praticamente duplica e apresenta valores semelhantes nos diversos parques.

Quadro 5- Características do solo da Unidade Experimental após um ano (Maio 2005

a Abril de 2006; n=8), valores médios do fósforo, potássio e azoto total

Parcela P

mgkg-1 dp CV (%)

K mgkg-1 dp

CV (%)

N-total g kg-1 dp CV (%)

Solo inicial 9,2 111 0,98

P1S 29 16 57 177 31 18 1,60 0,32 20 P1L 37 26 71 185 78 42 1,40 0,61 43 P2S 21 9 43 139 32 23 1,44 0,36 25 P2L 11 4 43 111 28 25 1,55 0,64 41 P3S 28 17 61 223 125 56 1,86 0,68 37 P3L 11 2 22 132 45 34 1,42 0,54 38 P4S 28 12 43 189 43 23 1,43 0,43 30 P4L 23 18 75 256 179 70 1,43 0,27 19 P5S 44 25 58 200 81 41 1,89 0,68 36 P5L 16 8 47 163 65 40 1,40 0,22 15 P6S 63 46 73 228 106 47 1,85 0,54 29 P6L 22 14 62 161 110 68 1,84 0,65 35

CV (%) 53 55 24 41 14 38

Os teores em metais pesados Cu e Zn mantêm-se próximo do valor inicial do

solo, excepto para o Zn no parque dos leitões (P6S) que apresenta um valor médio

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considerado elevado (Quadro 6). Este aumento poderá ser devido à composição da

ração e ao metabolismo dos leitões, que nesta fase do seu desenvolvimento fisiológico

poderão excretar uma proporção elevada do Zn ingerido.

Quadro 6- Características do solo da Unidade Experimental após um ano (Maio 2005 a Abril de 2006; n=8), valores médios do cobre e zinco

Parcela Cu

mgkg-1 dp CV (%)

Zn mgkg-1 dp

CV (%)

Solo inicial 0,43 0,39 P1S 0,42 0,03 7 0,59 0,27 47 P1L 0,42 0,10 23 0,48 0,22 46 P2S 0,44 0,19 43 0,41 0,29 71 P2L 0,36 0,15 42 0,14 0,06 41 P3S 0,40 0,11 28 0,52 0,28 53 P3L 0,37 0,05 15 0,27 0,11 41 P4S 0,43 0,11 25 0,44 0,21 48 P4L 0,44 0,05 12 0,29 0,12 41 P5S 0,42 0,08 18 0,65 0,37 56 P5L 0,40 0,10 26 0,26 0,07 27 P6S 0,56 0,12 22 1,48 0,93 63 P6L 0,48 0,08 17 0,52 0,18 35

CV (%) 12 23 68 48

Em Maio de 2006 efectuaram-se recolhas de amostras de terra

georreferenciadas o que permitiu efectuar para cada parâmetro analisado o respectivo

mapa de concentração.

Apresentam-se em anexo os mapas referentes à distribuição espacial do Co e do

P quantificados em Maio de 2006 (Figuras 6 e 7). Como se pode observar a

variabilidade espacial é elevada, verificando-se as zonas de maior concentração junto

aos locais de alimentação e de descanso. Observa-se ainda uma acumulação nas zonas

adjacentes à unidade experimental.

3.2- Análise de águas lixiviadas:

A análise dos parâmetros analisados nas águas lixiviadas permite dizer que

apresentam um pH próximo da neutralidade, o que pode ser o resultado de alguma

lixiviação de bases uma vez que no solo se observa acumulação de bases de troca e

também subida de pH. O valor médio da CE apresenta alguma variabilidade, denotando

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diferenças acentuadas na composição dos lixiviados. A CE varia desde um valor

mínimo de 0,192 dSm-1 até 1,8 dS m-1 (Quadro 7).

Quadro 7- Valores médios (n=6) nas águas lixiviadas do pH e condutividade eléctrica Amostra /

parcela pH dp CV

(%) CE

µS cm-1 dp CV

(%) P1S1 6,5 0,7 11 347,5 68,3 20 P1S2 6,8 0,8 11 297,7 55,9 27 P1L1 6,7 0,7 11 319,5 167,9 53 P1L2 5,9 0,7 12 884,0 233,4 26 P2S1 5,9 1,0 17 1077,2 457,9 43 P2S2 6,5 0,8 12 191,5 23,4 12 P2L1 5,9 1,0 17 272,8 26,4 10 P2L2 6,5 0,8 13 382,0 20,3 5 P3S1 6,0 1,0 16 224,0 60,6 27 P3S2 5,8 1,0 18 1001,0 728,2 73 P3L1 6,4 0,8 12 489,2 468,3 96 P3L2 6,9 0,7 9 262,3 42,4 16 P4S1 6,0 0,8 13 1131,5 158,6 14 P4S2 7,0 0,7 10 427,6 201,4 47 P4L1 6,8 0,6 9 223,0 22,5 10 P4L2 6,4 0,4 5 590,0 175,3 30 P5S1 6,6 0,3 4 1107,7 126,6 11 P5S2 6,9 0,8 11 198,4 66,4 33 P5L1 6,6 0,8 13 251,8 39,1 16 P5L2 6,5 0,8 12 280,0 25,9 9 P6S1 6,7 0,6 8 671,0 326,1 49 P6S2 7,2 0,6 8 1836,4 356,7 49 P6L1 7,1 0,8 11 252,5 25,4 10 P6L2 6,8 0,8 11 353,8 26,9 8

CV (%) 6 12 78 28

Os valores da concentração em NH4+ e NO3

- das águas lixiviadas não são

elevados (Quadro 8). No entanto o cálculo da quantidade total de azoto mineral

potencialmente lixiviável é de 16 kg de V por ha em média (Quadro 9). Este valor foi

calculado a partir do produto do valor médio de azoto mineral lixiviado em todos os

parques e da quantidade de água infiltrada. O teor em P total apresenta uma elevada

variabilidade e em quase todos os parques apresenta valores >0,1 mg L-1 . Este valor é

considerado um valor crítico na água de drenagem interna para a qualidade das águas

subterrâneas no que diz respeito ao risco de contribuir para a eutrofização das águas

superficiais. O teor em Cu e Zn é muito baixo reflectindo a também baixa concentração

no solo (Quadro 10).

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Quadro 8- Valores médios (n=6) nas águas lixiviadas do azoto mineral

Amostra /

parcela NH4

+

mg L-1 dp CV

(%) NO3

-

mg L-1 dp CV (%)

P1S1 0,85 0,32 37 9,2 7,1 77 P1S2 0,46 0,30 66 4,0 2,8 70 P1L1 2,92 3,34 115 3,9 2,8 71 P1L2 3,34 2,01 60 2,4 2,2 91 P2S1 2,54 2,07 81 3,5 3,6 104 P2S2 0,84 0,47 55 4,0 1,7 43 P2L1 1,11 0,37 34 3,6 1,7 46 P2L2 0,72 0,27 38 5,5 4,4 80 P3S1 0,81 0,51 63 5,6 3,5 63 P3S2 1,88 1,07 57 6,4 6,7 104 P3L1 1,14 0,79 69 6,9 3,5 51 P3L2 0,61 0,39 65 6,2 1,4 23 P4S1 7,46 3,37 45 3,6 2,4 65 P4S2 0,57 0,35 61 3,1 0,7 24 P4L1 1,03 0,46 45 4,3 3,4 79 P4L2 1,26 0,1 8 3,2 0,7 22 P5S1 12,01 1,52 13 3,3 1,2 38 P5S2 0,88 0,47 53 5,7 4,8 85 P5L1 1,14 0,17 15 2,9 1,1 36 P5L2 0,81 0,22 28 4,9 2,8 56 P6S1 1,36 0,44 32 6,0 1,8 30 P6S2 15,13 3,40 22 4,4 2,6 60 P6L1 1,44 0,91 63 5,7 1,2 22 P6L2 1,0 0,43 43 7,1 1,1 15

CV (%) 146 49 34 57 Quadro 9- Quantidade total de azoto mineral lixiviado (kg N / ha)

Máximo Mínimo Médio N-NH4

+ 66,8 1,4 9,8 N-NO3

- 17,7 2,7 6,0 N-mineral 84,5 4,1 15,8

Setembro de 2005 a Maio de 2006

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Quadro 10- Concentração em Fósforo total (n=4) e em Cu

e Zn (n=1) nas águas lixiviadas Amostra /

parcela Pt

mg L-1 dp CV

(%) Cu

mg L-1 Zn

mg L-1

P1S1 0,008 0,005 59 < 0,001 0,005 P1S2 0,017 0,022 129 < 0,001 nd P1L1 0,019 0,013 71 < 0,001 0,011 P1L2 0,193 0,137 71 < 0,001 0,018 P2S1 0,037 0,042 114 < 0,001 0,004 P2S2 0,03 0,019 65 < 0,001 0,002 P2L1 0,012 0,012 99 < 0,001 0,013 P2L2 0,006 0 < 0,001 0,027 P3S1 0,013 0,005 36 < 0,001 0,004 P3S2 0,016 0,014 90 0,012 0,03 P3L1 0,007 0,006 80 < 0,001 0,006 P3L2 0,052 0,065 125 0,001 0,005 P4S1 0,07 0,048 69 < 0,001 0,011 P4S2 2,698 1,953 72 - nd P4L1 0,232 0,161 69 - nd P4L2 0,176 0,178 101 - - P5S1 0,204 0 - - P5S2 0,270 0,188 70 < 0,001 nd P5L1 0,067 0,034 51 - - P5L2 0,165 0,029 17 - - P6S1 0,173 0,031 18 < 0,001 0,021 P6S2 0,176 0,168 96 0,002 nd P6L1 0,024 0,015 64 0,002 0,007 P6L2 0,011 0,010 84 < 0,001 0,009

CV (%) 277 75 - - 4-Comentário final

Os resultados obtidos após o primeiro ano permitem-nos concluir o seguinte: i)

Os níveis no solo de todos os parâmetros analisados aumentaram acentuadamente e ii)

A variabilidade destes parâmetros é elevada espacial e temporalmente. A variabilidade

entre parques é elevada e é função da razão nº animais/área e idade/alimentação. A

acumulação no solo de elementos minerais é fortemente influenciada pela precipitação.

A intensidade da precipitação e o declive dos parques favorece o arrastamento da zona

superficial mais contaminada, para zonas de menor declive. Verifica-se uma

acumulação do material arrastado por erosão / escoamento superficial no solo da zona

adjacente à unidade experimental. A acumulação de matéria orgânica e de fósforo

parece-nos particularmente importante. O teor em fósforo no solo passou de baixo a alto

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nalguns parques. A composição das águas lixiviadas reflecte este aumento em P no solo,

sendo a sua concentração por vezes superior à considerada admissível em termos de

risco de eutrofização das águas superficiais. Por este motivo somos de opinião que se

testem diferentes arraçoamentos no sentido de optimizar o uso do fósforo na

alimentação animal.

A lixiviação em azoto mineral apresenta uma elevada variabilidade com um

valor médio de azoto mineral lixiviado de 16 kg N / ha.

A continuação da monitorização desta área, e a avaliação do efeito ambiental

de diferentes tipos de alimentação dos suínos reveste-se de todo o interesse, numa

perspectiva de um maneio mais sustentável e portanto com menores impactes

ambientais.

5- Publicações apresentadas

Horta-Monteiro M.C. (2006). Evolução das propriedades químicas de um Cambissolo

sujeito à produção de suínos ao ar livre. Livro de Resumos do II Congresso Ibérico da

Ciência dom Solo, 13-17 de Junho de 2006, Huelva, Espanha.

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Figura 5- Mapa com a localização dos parques e com o declive da unidade experimental de produção de suínos ao ar livre.

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Figura 6- Mapa da concentração em carbono orgânico na unidade experimental de produção de suínos ao ar livre em Maio de 2006

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Figura 7- Mapa da concentração em fósforo (P2O5, mg kg-1, método de Egnér-Riehm) na unidade experimental de produção de suínos ao ar livre em Maio de 2006

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ACÇÃO 2: MELHORAMENTO DAS PASTAGENS DIRECÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA DA BEIRA INTERIOR

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Objectivos

Eram objectivos a necessidade de se melhorarem as pastagens e proporcionar

uma suplementação alimentar adequada e executarem acções relacionadas com a

reprodução e exames laboratoriais de sanidade animal.

Porém, dificuldades de diversa ordem, tais como tranferência de verbas para a

DRABI e as secas consecutivas impediram a realização de tais objectivos.

Execução técnica

Não houve

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ACÇÃO 3: TECNOLOGIA DA PRODUÇÃO DE LEITÕES AO AR LIVRE

COOPERATIVA DE SUINICULTORES DA BEIRA INTERIOR (SUIBEIRA)

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Introdução

A produção de suínos ao ar livre pode contribuir para preservar e valorizar as

raças autóctones e produtos delas derivados evitando, assim, a sua extinção.

Pela possibilidade de utilização de solos de fraca aptidão agrícola e florestal

pode incentivar os produtores de regiões mais desfavorecidas a esta produção,

promovendo-se o desenvolvimento local e regional.

É um sistema de produção que representa pouco investimento em infra-

estruturas e mão de obra além dos reduzidos efeitos adversos sobre o meio ambiente e a

facilidade de resposta às normas de bem estar animal em vigor.

Os produtos da transformação das carnes destas raças são bastante apreciados

por algumas fatias de mercado mais exigentes de “um produto mais natural” de

qualidade resultante de uma alimentação animal também mais natural.

Como forma de aumentar a produtividade das raças autóctones e melhorar o

sistema de maneio, sem diminuir a qualidade do produto final, utilizou-se a inseminação

artificial com sémen da raça Duroc.

Objectivo

Demonstrar a tecnologia de produção de leitões ao ar livre das raças autóctones

Alentejana e Bísara e do seu cruzamento com a raça Duroc até atingirem um peso vivo

de 12 a 14 Kg.

Material e métodos

Todo o ciclo de produção decorreu ao ar livre, promovendo-se abrigos para as

fêmeas em trabalho de parto e lactação e para as respectivas ninhadas.

Todo o efectivo reprodutor, inscrito no livro genealógico da respectiva raça, é

constituído por 27 fêmeas, 14 da raça Alentejana e 13 da raça Bísara e por 4 varrascos,

2 de cada raça. 7 fêmeas alentejanas e 6 bísaras estiveram em produção em linha pura

enquanto as restantes de cada raça foram inseminadas com sémen de Duroc.

As ninhadas das linhas puras foram inscritas individualmente nos livros

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genealógicos.

Durante todo o período de decorrência do projecto, foram efectuadas visitas

periódicas pela médica veterinária para acompanhamento sanitário, assistência aos

partos e maneio das ninhadas, programação de lotes para inseminação artificial (IA) e

cobrição natural, sincronização de cios e práctica da técnica de IA cervical (método

tradicional).

O sémen é proveniente de varrascos de alta performance da raça Duroc;

recolhido no Centro de Inseminação e processado no laboratório desse mesmo Centro.

A avaliação laboratorial inclui a análise da concentração de espermatozóides e o cálculo

do nº de doses por ejaculado. Todo este processo é feito com o apoio de programa

técnico informático.

Resultados e Conclusões

Para os primeiros partos, referentes às porcas cobertas com varrascos da

mesma linha genética, foram avaliados os seguintes parâmetros:

- Tamanho da ninhada ao nascimento (TNN)

- Taxa de mortalidade ao nascimento (tx MN)

- Peso da ninhada ao nascimento (PNN)

- Peso médio dos leitões ao nascimento (PLN)

- Número de leitões desmamados por parto (LDP)

- Taxa de mortalidade entre o nascimento e o desmame (tx MND)

- Peso da ninhada ao desmame (PND)

- Peso médio dos leitões ao desmame (PLD)

- Idade ao desmame (ID).

Os dados foram sujeitos a uma análise estatística, tendo-se testado a

homogeneidade de variâncias, seguida de aplicação do teste t-Student, para a

comparação de médias independentes, de acordo com os procedimentos do programa

SPSS. São considerados valores significativos aqueles que satisfaçam o nível de

probabilidade P<0.05.

De uma forma global, pelos resultados obtidos , os animais da raça bísara

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mostraram desempenhos superiores nomeadamente em PNN, PLN e Tx MND. Também

as bísaras desmamaram mais leitões por parto como consequência directa das menores

taxas de mortalidade ao nascimento e entre o nascimento e o desmame registadas nesta

raça.

Relativamente ao tamanho da ninhada, os valores observados encontram-se

dentro dos referenciados na bibliografia. É de ter em conta que o período em que estes

partos decorreram concidiu, não só com o período de adaptação dos animais, mas

também com a ocorrência de baixas temperaturas atmosféricas.

Analisando o período de dois anos de actividade da unidade de demonstração,

verificou-se que as reprodutoras bísaras fizeram o 1º e 2º partos com idade mais jovem

que as alentejanas. Quanto ao peso ao nascimento, conclui-se que a base genética afecta

o peso ao nascimento. Leitões bísaros puros apresentam pesos significativamente

superiores (em ambos os machos existentes na raça) relativamente aos leitões

alentejanos puros. Os leitões BxD (bísaro x duroc) apresentam pesos idênticos aos

bísaros puros. Os AxD (alentejano x duroc) não diferem nem dos alentejanos puros,

nem dos bísaros puros, nem dos BxD.

O melhor resultado de peso ao desmame é o obtido com AxD, seguido por

BxD e só depois alentejanos puros e bísaros puros, com diferenças significativas entre

os três grupos.

Os melhores ganhos médios diários são obtidos nos leitões cruzados AxD e

BxD com diferenças significativas para os grupos de raça pura.

Quanto às taxas reprodutivas (fertilidade, prolificidade e fecundidade), os

valores encontrados foram baseados em fêmeas paridas com leitões vivos e leitões

nascidos vivos (excluídos os abortos e os nascidos mortos). A taxa de fertilidade média

foi de 76,50, a taxa de prolificidade média foi de 5,00 e a taxa de fecundidade média foi

de 3,81.

Nota - Consultar as tabelas 1 a 8 do Relatório Final da ESACB

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ACÇÃO 4:

EFEITOS DO SISTEMA DE ENGORDA INTENSIVO NAS PERFORMANCES

E QUALIDADE DE CARCAÇA DE SUÍNOS DE RAÇA ALENTEJANA,

BÍSARA E RESPECTIVOS CRUZAMENTOS COM A RAÇA DUROC

ESTAÇÃO ZOOTÉCNICA NACIONAL

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1 - Objectivos

Os objectivos do presente estudo enquadram-se no projecto em que está

inserido e consistiu em determinar, analisar e comparar os efeitos de uma engorda

intensiva nas performances produtivas e características qualitativas da carcaça de suínos

das raças Alentejana e Bísara e dos animais obtidos por cruzamento destas duas raças

com a raça Duroc.

2 - Material e métodos

2.1 - Instalações e equipamento

Os animais utilizados neste estudo foram instalados num pavilhão de testagem

de suínos da Estação Zootécnica Nacional, provido de 24 celas, cada uma delas com

capacidade para 4 animais e equipada com bebedouros automáticos e comedouros

individuais que asseguram o controle rigoroso do alimento ingerido. Este pavilhão está

ainda apetrechado de duas balanças destinadas à pesagem das rações e dos alimentos

rejeitados e de uma terceira para o controle do peso individual dos animais em teste.

2.2 - Animais

Neste ensaio produtivo foram utilizados 45 suínos de ambos os sexos, sendo 16

de cada uma das raças puras Alentejana e Bísara e apenas 8 cruzados Bísaro x Duroc e 5

cruzados Alentejano x Duroc, dada a dificuldade da Escola Superior Agrária de Castelo

Branco em produzir estes animais cruzados através de inseminação artificial das porcas

do efectivo com sémen de Duroc. Todos os animais, à excepção de 1 cruzado

Alentejano x Duroc, foram alojados em grupos de 4 por cela, de acordo com a raça,

sexo e peso vivo.

2.3 - Dieta e regime alimentar

A dieta, única para todos os animais, foi formulada de modo a assegurar as

necessidades sugeridas pela National Research Council (NRC) para suínos na fase de

crescimento/engorda, tendo sido necessário suplementá-la com metionina e lisina. A sua

composição físico-química e conteúdos energéticos estão expressos no Quadro 1.

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Todos os animais foram alimentados em sistema de semi-ad-libitum controlado

e a quantidade de alimento a fornecer era ajustada semanalmente de acordo com o peso

vivo, de modo a assegurar que animais de peso semelhante ingerissem igual quantidade

de matéria seca, até um máximo de 2.8 Kg de alimento fresco/animal/dia.

Quadro 1 - Composição físico-química e conteúdos energéticos da dieta

Ingredientes (g/Kg)

Milho amarelo 313 Trigo forrageiro 214

Cevada 150

Bagaço de soja 126

Sêmea de trigo 167

Carbonato de cálcio 11.0

Fosfato bicálcico 11.0

Metionina 1.0

Sal comum 1.0

Complexo vitamínico/mineral 2.0

Composição química (%)

Matéria seca 89.5

Proteína bruta 13.8

Fibra bruta 3.1

Extracto etéreo 2.2

Cálcio 0.64

Fósforo 0.77

Cinzas 6.5

Lisina (*) 0.74

Metionina (*) 0.33

Triptofano (*) 0.18

Energia bruta (Kcal/Kg) 3699.8

Energia digestível (Kcal/Kg) (*) 3084.0 (*) Valores calculados

2.4 - Pesagens e registos

Todos os animais foram individual e semanalmente pesados em jejum, desde o

início ao final do ensaio, para cálculo da quantidade diária de alimento a fornecer na

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semana seguinte. Foram feitos registos diários individuais da quantidade de alimento

fornecido e rejeitado para determinação do índice de conversão e ingestão média diária.

Após o abate, efectuado à medida que os suínos atingiam cerca dos 100 Kg de peso

vivo, todas as carcaças foram submetidas a uma temperatura de 5° C, durante 24 horas,

para posterior registo do peso e comprimento de carcaça fria e das medidas da espessura

da gordura subcutânea dorsal, de acordo com as normas estabelecidas pela CEE.

2.5 - Dissecação de carcaças

6 meias carcaças esquerdas de cada um dos grupos de suínos, à excepção dos

cruzados Alentejanos/Duroc, com apenas 5 carcaças disponíveis, foram sujeitas a uma

completa dissecação para determinação das percentagens de carne limpa, ossos, tecido

muscular, gordura subcutânea e gordura intermuscular. Após a dissecação, foram

recolhidas amostras representativas de todo o tecido muscular e da totalidade das

gorduras subcutânea e intermuscular para determinação dos teores de ácidos gordos

nelas presentes. Para a análise sensorial da carne, foram seleccionadas áreas

representativas do músculo longissimus dorsi.

2.6 - Análise sensorial

Um painel constituído por 30 consumidores avaliaram as amostras de carne-

-músculo longissimus dorsi- em relação aos atributos flavour, suculência, tenrura e

apreciação global, utilizando uma escala hedónica de 6 pontos (1- extremamente

desagradável; 2- desagrada-me muito; 3- desagrada-me; 4- gosto pouco; 5- gosto;

6- gosto muito). Neste teste de agradabilidade, todos os elementos do painel receberam

amostras correspondentes a carnes de animais das diferentes raças em estudo que lhes

foram apresentadas de forma monádica e sequencial. A carne foi cozinhada em

grelhador até a temperatura interna atingir os 65 ± 5º C

2.7 - Análises químicas

A dieta utilizada foi sujeita à análise da matéria seca, azoto total, extracto

etéreo, fibra bruta, cinzas (método de Weende), cálcio (espectrofotometria de absorção

atómica), fósforo (espectrofotometria do visível) e energia bruta (bomba calorimétrica

adiabática PARR).

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3 – Resultados

3.1 - Performances e medidas de carcaça

Os resultados do ensaio alimentar, expressos no Quadro 2, mostram que os

índices produtivos e as características de carcaça dos suínos puros Alentejanos e Bísaros

são significativamente melhorados com o cruzamento destas duas raças com a raça

Duroc. Se bem que o cruzamento da raça Alentejana com a Duroc tenha dado origem a

animais com o melhor ritmo de crescimento (Grupo AD), foi a raça Bísara que, com o

pior registo, mais benefícios retirou com a injecção de sangue Duroc já que o ganho

médio diário dos suínos resultantes deste cruzamento (Grupo BD) registou uma

melhoria de 34% contra os 29% observados para o Grupo AD. O inverso se verificou

para a eficiência alimentar, com a raça Alentejana a obter maiores vantagens no

cruzamento com a raça Duroc, não obstante a melhor conversão alimentar registada

para a raça Bísara, após cruzamento homólogo.

Quadro 2 - Performances e medidas de carcaça de suínos de raças diferentes engordados em sistema intensivo

Raças EP

A B BD AD Nº de animais 15 13 8 5 - Peso inicial (Kg) 32.7 a 29.3 a 30.1 a 38.2 b 0.827

Peso final (Kg) 98.0 98.9 98.1 98.4 0.529

Peso ganho (Kg) 65.3 b 69.6 c 68.0 c 60.2 a 0.849

Dias em teste 119 b 136 c 99 a 85 a 2.391

Ganho médio diário (g) 556.4 a 514.2 a 690.4 b 716.2 b 0.015

Total ingerido (Kg/MS) 253.3 b 249.1 b 191.3 a 175.2 a 4.636

Índice de conversão (MS) 3.88 b 3.58 b 2.82 a 2.92 a 0.078

Ingestão diária (Kg/MS) 2.136 c 1.828 a 1.940 ab 2.061 bc 0.018

Carcaça: Rendimento (%) 76.5 76.3 75.5 76.6 0.365

Comprimento (cm) 75.7 a 81.5 b 82.0 b 77.9 a 0.392

Toucinho (mm): Ombro 55.0 c 44.6 b 34.8 a 33.3 a 0.883

13ª costela 33.0 c 25.1 b 14.9 a 20.0 ab 0.667

Lombo maior 45.3 c 36.7 b 24.5 a 24.8 a 0.827

Lombo menor 38.1 c 30.0 b 15.9 a 18.8 a 0.871 A - Alentejana; B - Bísara; BD - Bísara x Duroc; AD - Alentejana x Duroc; EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

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Como era já expectável, as medidas retiradas da carcaça revelam uma clara e

significativa tendência para a redução da espessura do toucinho à medida que se passa

do porco Alentejano puro para o Bísaro puro e deste para os porcos cruzados de Duroc.

Relativamente a estes dois últimos grupos, a análise dos dados obtidos revelam que foi

na raça Alentejana que o factor Duroc teve efeitos mais positivos na redução da

espessura do toucinho. De facto, enquanto as carcaças dos suínos Alentejanos puros

(Grupo A), excessivamente gordas, sofrem uma redução média da sua adiposidade em

cerca de 43% quando se efectiva esse cruzamento (Grupo AD), as carcaças dos suínos

Bísaros puros (Grupo B) apenas acusam uma melhoria dessa mesma adiposidade na

ordem dos 34%, após cruzamento homólogo (Grupo BD).

Os valores registados para o comprimento das carcaças manifestam uma clara

prevalência da raça Bísara sobre a raça Duroc na obtenção de carcaças

significativamente mais compridas.

3.2 - Dissecação de carcaças

Os dados recolhidos após a dissecação das carcaças, expressos no Quadro 3,

vieram confirmar, desde logo, a tendência que as medidas lineares registadas na carcaça

inteira indicavam, isto é, uma propensão para a obtenção de carcaças significativamente

mais magras à medida que se passa da raça Alentejana pura para a Bísara pura e desta

para as raças cruzadas.

De facto, a análise dos resultados obtidos revelam que, mais do que a gordura

intermuscular, a taxa de gordura subcutânea foi o factor que mais contribuíu para que se

verificasse, não só uma redução significativa da taxa de gordura total mas ainda um

aumento bastante expressivo da percentagem de tecido muscular da raça Alentejana

para a raça Bísara e destas para as raças cruzadas com Duroc.

O processo utilizado para a determinação da percentagem de carne limpa

baseou-se no novo método de dissecação de referência da União Europeia para a

classificação de carcaças de suínos em que apenas são considerados os pesos dos

tecidos musculares da perna, lombo, pá, barriga e lombinho que, na sua totalidade,

representam cerca de 75% de todos os músculos estriados presentes na carcaça.

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Quadro 3 - Dissecação de carcaças de suínos de raças diferentes engordados em sistema intensivo

Raças EP

A B BD AD Nº de animais 6 6 6 5 - 1/2 carcaça s/cabeça nem chispes (Kg) 33.0 32.5 31.4 31.8 -

Gordura subcutânea (%) 42.1 c 34.8 b 24.6 a 25.3 a 0.448

Gordura intermuscular (%) 12.4 b 10.0 a 8.9 a 9.5 a 0.189

Gordura total (%) 54.6 c 44.7 b 33.5 a 3 4.8 a 0.512

Ossos (%) 6.9 a 9.2 b 9.6 b 8.8 b 0.176

Músculos (%) 38.5 a 46.1 b 56.9 c 56.4 c 0.465

Músculo/Gordura subcutânea 0.92 a 1.34 b 2.33 c 2.23 c 0.037

Músculo/Gordura intermuscular 3.12 a 4.68 b 6.48 c 6.01 c 0.132

Músculo/Gordura total 0.71 a 1.04 b 1.71 c 1.62 c 0.027

Músculo/Osso 5.67 5.05 6.03 6.44 0.129

Carne Limpa(%) 33.6 a 39.5 b 49.4 c 50.3 c 0.409 A - Alentejana; B - Bísara; BD - Bísara x Duroc; AD - Alentejana x Duroc; EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

A fórmula utilizada para o cálculo da percentagem de carne limpa é a que se

segue:

∑4 ( J - SSF - IF - B) + T

Y = C x 100 x ∑

12 J

em que:

Y = percentagem de carne limpa

C = 1.3 ( factor constante)

J = peso da peça antes da dissecação

SSF = peso da gordura subcutânea com courato

IF = peso da gordura intermuscular

B = peso dos ossos

T = peso do lombinho

∑4 = Somatório dos pesos da perna, lombo, pá e barriga

∑12 = Somatório dos pesos de todas as 12 peças da carcaça, antes da dissecação

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Os resultados obtidos através desta fórmula acusam um valor

significativamente inferior para a percentagem de carne limpa na carcaça dos porcos de

raça Alentejana relativamente ao valor registado para os da raça Bísara, enquanto que os

dois grupos de animais cruzados de Duroc - grupos BD e AD - apresentam valores

significativamente superiores, muito idênticos entre si.

3.3 – Qualidade de carcaça

A determinação dos ácidos gordos presentes na carcaça foi feita através da

análise separada de amostras representativas de todo o tecido muscular e da totalidade

das gorduras subcutânea e intermuscular retiradas de cada uma das carcaças dissecadas.

No que se refere aos teores destes ácidos no tecido muscular, os resultados

obtidos e apresentados no Quadro 4 revelam uma tendência não significativa para a

melhoria da qualidade deste tecido quando se se procede ao cruzamento das duas raças

puras utilizadas neste estudo, sobretudo a Alentejana, com a raça Duroc. Esta melhoria

parece estar relacionada com a maior percentagem de ácido oleico e a uma inferior

concentração em ácidos gordos saturados, particularmente o esteárico, detectadas na

estrutura muscular destes animais (Grupo AD).

Quadro 4 - Teores de ácidos gordos no tecido muscular de suínos de raças diferentes engordados em sistema intensivo

Raças EP

A B BD AD

Ácidos gordos saturados (%) Palmítico 25.09 24.30 24.71 24.29 0.169

Esteárico 14.78 15.24 14.58 13.34 0.381

Total 39.87 39.54 39.29 37.63 0.506

Ácidos gordos insaturados (%) Oleico 38.51 38.48 39.28 39.45 0.481

Palmitoleico 3.17 2.75 2.90 3.30 0.086

Linoleico 8.22 9.01 8.28 9.09 0.299

Linolénico 0.32 0.37 0.37 0.45 0.011

Total 50.22 50.61 50.83 52.29 0.487

A.G. insaturados/A.G. saturados 1.26 1.28 1.29 1.39 0.028

A - Alentejana; B - Bísara; BD - Bísara x Duroc; AD - Alentejana x Duroc; EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

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A composição da gordura subcutânea, em termos de ácidos gordos, está

expressa no Quadro 5 e ela manifesta uma redução não significativa da concentração

total de ácidos gordos saturados da raça Alentejana para a raça Bísara e, com alguma

expressão, para as raças cruzadas. É interessante notar que esta redução progressiva da

totalidade de ácidos gordos saturados presentes na gordura subcutânea foi acompanhada

de um aumento, igualmente progressivo, da percentagem total dos ácidos gordos

insaturados, sendo que, nas raças cruzadas, particularmente na Alentejana x Duroc, os

valores atingidos foram significativamente superiores aos observados para as raças

puras. Da relação entre estas duas categorias de ácidos gordos se pode constatar que a

qualidade da gordura subcutânea das raças autóctones, sobretudo a Alentejana, pode ser

significativamente melhorada através do cruzamento com a raça Duroc.

Finalmente, os resultados apresentados no Quadro 6 mostram que a qualidade da

gordura intermuscular da raça Alentejana, já de si superior à da raça Bísara e à do

cruzamento desta com a raça Duroc, passa a ter uma expressão significativa, graças a

um melhor perfil de ácidos gordos componentes exibido após a injecção de sangue

Duroc.

Quadro 5 - Teores de ácidos gordos na gordura subcutânea de suínos de raças diferentes engordados em sistema intensivo

Raças EP

A B BD AD Ácidos gordos saturados (%) Palmítico 26.61 25.83 25.93 25.68 0.146

Esteárico 15.88 16.03 15.27 13.80 0.183

Total 42.49 41.86 41.20 39.48 0.221

Ácidos gordos insaturados (%) Oleico 40.19 39.28 38.55 39.73 0.234

Palmitoleico 2.27 2.16 2.22 2.74 0.064

Linoleico 6.84 a 9.02 b 9.87 b 9.60 b 0.156

Linolénico 0.38 a 0.51 b 0.58 bc 0.59 c 0.008

Total 49.68 a 50.97 ab 51.22 bc 52.66 c 0.190

A.G. insaturados/A.G. saturados 1.17 a 1.22 a 1.24 ab 1.33 b 0.011 A - Alentejana; B - Bísara; BD - Bísara x Duroc; AD - Alentejana x Duroc; EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

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Quadro 6 - Teores de ácidos gordos na gordura intermuscular de suínos de raças diferentes engordados em sistema intensivo

Raças EP

A B BD AD

Ácidos gordos saturados (%) Palmítico 26.71 26.61 26.75 26.02 0.169

Esteárico 15.58 ab 17.74 c 16.75 bc 14.38 a 0.272

Total 42.29 ab 44.35 b 43.50 ab 40.40 a 0.367

Ácidos gordos insaturados (%) Oleico 40.76 b 37.47 a 37.03 a 38.92 ab 0.382

Palmitoleico 2.42 ab 2.14 a 2.16 a 2.83 b 0.069

Linoleico 6.62 a 8.60 b 9.42 b 9.40 b 0.165

Linolénico 0.36 a 0.49 b 0.53 bc 0.59 c 0.011

Total 50.16 ab 48.70 a 49.14 ab 51.74 b 0.332

A.G. insaturados/A.G. saturados 1.19 ab 1.10 a 1.13 a 1.28 b 0.017 A - Alentejana; B - Bísara; BD - Bísara x Duroc; AD - Alentejana x Duroc; EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

3.4 - Análise sensorial

A análise dos resultados obtidos (Quadro 7) tornam desde logo evidente que,

em todos os atributos sensoriais estudados, a carne de porco da raça Alentejana foi alvo

de maior preferência por parte dos consumidores, revelando mesmo efeitos

significativos na suculência, tenrura e apreciação global em relação à carne das outras

raças aqui consideradas. Ao contrário da raça Alentejana, cujos atributos foram, todos

eles, negativamente afectados após cruzamento com a raça Duroc, na raça Bísara,

apesar de se verificar uma redução do flavour e da tenrura da carne, a melhoria

substancial registada para a sua suculência pode ter sido decisiva para uma melhor

apreciação global por parte dos consumidores.

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Quadro 7 - Análise sensorial da carne de suínos de diferentes raças engordados em sistema intensivo

Raças

Atributo sensorial A B BD AD Flavour 4.78 4.57 4.55 4.38 Suculência 4.65 a 3.79 b 4.11 b 4.16 b

Tenrura 5.20 a 4.29 b 4.03 b 4.52 b

Apreciação global 4.95 a 4.14 b 4.26 b 4.36 b

A - Alentejana; B - Bísara; BD - Bísara x Duroc; AD - Alentejana x Duroc; EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

Ainda no âmbito deste projecto, 12 suínos representativos de um núcleo de

animais das raças puras Alentejana e Bísara, oriundos da Escola Superior Agrária de

Castelo Branco e engordados em sistema extensivo, foram abatidos no matadouro da

Estação Zootécnica Nacional e as respectivas carcaças dissecadas para estudo

comparativo, entre estas duas raças, das percentagens de carne limpa, ossos, tecido

muscular, gorduras subcutânea e intermuscular e os teores de ácidos gordos presentes

nos tecidos muscular e adiposo.

Os resultados da dissecação, apresentados no Quadro 8, revelam a mesma

tendência já verificada nos suínos destas raças engordados em sistema intensivo, ou

seja, uma predisposição para a obtenção de carcaças significativamente mais magras

para a raça Bísara em resultado de uma menor deposição de gordura subcutânea e uma

maior percentagem de tecido muscular. Os valores obtidos para a percentagem de carne

limpa também indicam uma melhoria significativa da raça Bísara sobre a raça

Alentejana.

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Quadro 8 - Dissecação de carcaças de suínos das raças Alentejana e Bísara criados e engordados em sistema extensivo

Raças EP

Alentejana Bísara Nº de animais 6 6 - Peso de abate (Kg) 74.0 a 88.1 b 48.800

Carcaça fria (Kg) 56.3 68.1 31.150

Rendimento (%) 76.1 76.7 0.705

1/2 carcaça s/cabeça nem chispes (Kg) 24.3 28.3 -

Gordura subcutânea (%) 37.4 a 31.2 b 2.785

Gordura intermuscular (%) 13.2 11.5 1.097

Gordura total (%) 50.6 a 42.7 b 5.228

Ossos (%) 9.1 a 10.5 b 0.371

Músculos (%) 40.3 a 46.8 b 3.088

Músculo/Gordura subcutânea 1.09 a 1.51 b 0.011

Músculo/Gordura intermuscular 3.14 a 4.08 b 0.154

Músculo/Gordura total 0.81 a 1.10 b 0.006

Músculo/Osso 4.44 4.47 0.023

Carne Limpa(%) 35.6 a 39.8 b 2.477 EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

Os resultados expressos no Quadro 9, relativos aos teores de ácidos gordos

presentes no músculo, revelam que, nos suínos de raça Alentejana, a maior percentagem

de ácidos gordos insaturados, sobretudo o oleico, e os teores inferiores em ácidos

gordos saturados, concorrem definitivamente para a melhoria da qualidade dos produtos

curados tradicionais.

De facto, funcionando como um indicador de qualidade, a relação ácidos

gordos insaturados/ácidos gordos saturados registada para os porcos de raça Alentejana

apresenta uma melhoria de 9% relativamente à observada para a raça Bísara (1.51 vs

1.39).

Já na gordura subcutânea, Quadro 10, esta relação de qualidade foi semelhante

para ambas as raças, uma vez que, na raça Alentejana, a maior percentagem de ácido

oleico não foi suficiente para suprir os teores dos ácidos palmitoleico, linoleico e

linolénico, todos eles inferiores aos registados para a raça Bísara.

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Quadro 9 - Teores de ácidos gordos no tecido muscular de suínos das raças Alentejana e Bísara criados e engordados em sistema extensivo

Raças EP

Alentejana Bísara

Ácidos gordos saturados (%) Palmítico 23.52 a 24.43 b 0.110

Esteárico 12.80 a 13.93 b 0.104

Total 36.32 a 38.36 b 0.275

Ácidos gordos insaturados (%) Oleico 42.62 a 39.08 b 0.766

Palmitoleico 2.16 2.33 0.013

Linoleico 9.42 a 11.06 b 0.501

Linolénico 0.64 0.69 0.004

Total 54.84 53.16 0.246

A.G. insaturados/A.G. saturados 1.51 a 1.39 b 0.001 EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05 Quadro 10 - Teores de ácidos gordos na gordura subcutânea de suínos das raças

Alentejana e Bísara criados e engordados em sistema extensivo Raças EP

Alentejana Bísara

Ácidos gordos saturados (%) Palmítico 22.59 23.18 0.165

Esteárico 12.96 12.11 0.351

Total 35.55 35.29 0.676

Ácidos gordos insaturados (%) Oleico 43.65 a 41.48 b 0.496

Palmitoleico 1.57 a 1.99 b 0.012

Linoleico 10.81 a 12.89 b 0.355

Linolénico 0.63 a 0.86 b 0.004

Total 56.66 57.22 0.563

A.G. insaturados/A.G. saturados 1.59 1.62 0.003 EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

No Quadro 11, os valores determinados para os ácidos gordos presentes na

gordura intermuscular manifestam, entre estas raças, uma relação muito semelhante à

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verificada no tecido muscular. De facto, na raça Alentejana, a taxa de ácido oleico

registada naquele tecido adiposo acusa um aumento superior a 10% relativamente à

verificada na raça Bísara, com reflexos positivos na relação ácidos gordos insaturados/

saturados, ou seja, na qualidade do produto.

Quadro 11 - Teores de ácidos gordos na gordura intermuscular de suínos das raças Alentejana e Bísara criados e engordados em sistema extensivo

Raças EP

Alentejana Bísara Ácidos gordos saturados (%) Palmítico 23.86 a 24.88 b 0.124

Esteárico 13.90 14.07 0.176

Total 37.76 38.95 0.414

Ácidos gordos insaturados (%) Oleico 42.81 a 38.76 b 0.259

Palmitoleico 1.67 a 1.89 b 0.007

Linoleico 9.86 a 12.45 b 0.333

Linolénico 0.63 a 0.90 b 0.004

Total 54.97 54.00 0.377

A.G. insaturados/A.G. saturados 1.46 1.39 0.002 EP – Erro padrão Médias com supraescritos diferentes indicam a existência de diferenças, entre colunas, para p < 0.05

3.5 - Conclusões O conjunto de todos os resultados obtidos neste estudo permite-nos inferir que

os animais de raça autóctone, Alentejana e Bísara, quando submetidos a um sistema

intensivo durante as fases de crescimento e de engorda, podem ver significativamente

melhorados os seus índices de crescimento e beneficiar de uma expressiva redução da

espessura de toucinho logo que seja efectuado o seu cruzamento com a raça Duroc. Os

efeitos desta redução manifestam-se na acentuada quebra da quantidade total de gordura

depositada durante o desenvolvimento dos animais cruzados e, daí, a obtenção de

carcaças com percentagens de músculo significativamente mais elevadas. Esta

particularidade também se aplica relativamente aos porcos Alentejanos e Bísaros puros

criados em montanheira, não obstante este sistema de engorda conduzir, em regra, a

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uma reposição de gordura total inferior à dos animais dessas mesmas raças engordados

em sistema intensivo.

Relativamente à qualidade de carcaça, avaliada em termos de ácidos gordos

presentes nos músculos, gordura subcutânea e gordura intermuscular, é indiscutível que

o regime de montanheira com bolota disponível, proporcionando melhores perfis

daqueles ácidos, com baixos teores dos saturados e altas percentagens dos insaturados,

sobretudo o oleico, eleva substancialmente a qualidade do produto, com algum realce

para a raça Alentejana.

Semelhante avaliação feita para a engorda em sistema intensivo, leva-nos a

concluir que, enquanto o perfil de ácidos gordos na raça Bísara se mantém inalterável

após o seu cruzamento com a raça Duroc, na raça Alentejana é clara a tendência para a

melhoria, por vezes significativa, dos componentes desse perfil determinante da

qualidade de carcaça obtida.

Resumindo, parece claro que, se a utilização de um regime intensivo na engorda

de porcos Alentejanos e Bízaros puros, com uma dieta à base de cereais, não confere às

respectivas carcaças características necessárias para a obtenção de produtos secos

tradicionais de alta qualidade, esse mesmo regime pode, apesar de tudo, constituir uma

boa alternativa para a engorda de animais provenientes do cruzamento daquelas duas

raças com a raça Duroc no sentido de valorizar comercialmente as suas carcaças em

termos de percentagem de carne limpa.

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A execução deste estudo, com a coordenação e responsabilidade do

Investigador-Auxiliar da Estação Zootécnica Nacional, Dr. Orlando Oliveira, só foi

possível graças ao apoio e colaboração dos elementos a seguir descriminados, todos

desta mesma Instituição:

- Engª Maria Suzete Mota Gaudêncio, no maneio alimentar e pesagem dos

animais, recolha e registo de todos os dados obtidos no estudo e na medição e

dissecação de carcaças

- Engª Maria Irene de Matos Alves Mendes, na análise sensorial da carne

- Engª Marta Esquível Vacas de Carvalho Silva Pereira, no tratamento

estatístico dos dados obtidos nas diferentes fases do estudo

- Ana Paula Nunes dos Santos, Leonel Matos e David Rafael, responsáveis

pelo abate dos animais, conservação e dissecação das carcaças, preparação e embalagem

das amostras de produto para análise laboratorial

- Francisco da Silva, José Carlos Correia, Albino Martins e Fernando Garcia da

Costa, na execução de tarefas relacionadas com o maneio dos animais utilizados no

ensaio alimentar

- Laboratório do Departamento de Nutrição e Alimentação Animal da EZN, na

execução das análises químicas, fundamentais para a concretização dos objectivos do

estudo