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Programas Governamentais e o Gerenciamento de Aquisições: uma Análise Sobre o Regime Diferenciado de Contratações Públicas e Suas Implicações no Programa de Aceleração do Crescimento Gilmar Sarmento da Silva Junior MESTRANDO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PROFIAP [email protected] Paulo da Cruz Freire dos Santos DOUTOR EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PELA UFSC [email protected] Resumo Os projetos e programas governamentais brasileiros são conhecidos pela alta complexidade que demandam dos gestores públicos habilidades e técnicas que, muitas vezes, não fazem parte das suas qualificações. O Programa de Aceleração do Crescimento - PAC é um programa estruturante que abrange vários projetos onde pode-se analisar a metodologia transferida pelo PMBOK. Aquisições é uma das áreascom maiores problemas enfrentados no gerenciamento de projetos, são analisados os pontos críticos dessa área do conhecimento no PAC sob o prisma do processo licitatório. Desse modo, é analisado as alterações trazidas pelo Regime Diferenciado de Contratações Públicas RDC e suas implicações diretas no gerenciamento de Aquisições. Ficam evidentes os benefícios gerados pelo RDC entre as etapas do PAC (2007/2010 2011/2014), que se apresenta uma medida contundente para a melhoria da gestão pública, ultrapassando paradigmas burocráticos e funcionalistas das leis anteriores que não promoviam a eficiência, inovação e competitividade à Administração Pública. Palavras-Chave: Projetos, Licitação, eficiência. Government Programs and Acquisitions Management: an Analysis on the Differentiated Regime of Public Contracts and Their Implications in the Growth Acceleration Program Abstract

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Programas Governamentais e o Gerenciamento de Aquisições: uma

Análise Sobre o Regime Diferenciado de Contratações Públicas e Suas

Implicações no Programa de Aceleração do Crescimento

Gilmar Sarmento da Silva Junior

MESTRANDO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PROFIAP

[email protected]

Paulo da Cruz Freire dos Santos

DOUTOR EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PELA UFSC

[email protected]

Resumo

Os projetos e programas governamentais brasileiros são conhecidos pela alta complexidade

que demandam dos gestores públicos habilidades e técnicas que, muitas vezes, não fazem

parte das suas qualificações. O Programa de Aceleração do Crescimento - PAC é um

programa estruturante que abrange vários projetos onde pode-se analisar a metodologia

transferida pelo PMBOK. Aquisições é uma das áreascom maiores problemas enfrentados no

gerenciamento de projetos, são analisados os pontos críticos dessa área do conhecimento no

PAC sob o prisma do processo licitatório. Desse modo, é analisado as alterações trazidas pelo

Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC e suas implicações diretas no

gerenciamento de Aquisições. Ficam evidentes os benefícios gerados pelo RDC entre as

etapas do PAC (2007/2010 – 2011/2014), que se apresenta uma medida contundente para a

melhoria da gestão pública, ultrapassando paradigmas burocráticos e funcionalistas das leis

anteriores que não promoviam a eficiência, inovação e competitividade à Administração

Pública.

Palavras-Chave: Projetos, Licitação, eficiência.

Government Programs and Acquisitions Management: an Analysis on

the Differentiated Regime of Public Contracts and Their Implications

in the Growth Acceleration Program

Abstract

The Brazilian Government projects and programs are known for high complexity that demand

public managers technical and skills that often are not part of their professional qualifications.

The Acceleration of Growth Program - AGP is a structuring programme covering several

where is analyzed the methodology transferred by the PMBOK. Acquisitions is one of the

areas with the greatest problems faced in project management, reviews the critical points of

this area of knowledge in the Programme under the prism of the bidding process. Thereby, it

is analyzed the changes brought by the Differentiated System of Public Contracts – DSC and

its direct implications in managing Acquisitions Are evident the benefits generated by DSC

between steps of the AGP (2007/2010-2011/2014), which presents a blunt measure for the

improvement of public management, overcoming bureaucratic paradigms and previous laws

not functionalists promoted efficiency, innovation and competitiveness to the Public

Administration.

Key-words: Projects, Bidding, efficiency.

1. Introdução

A Administração Pública lida cotidianamente com políticas e ações voltadas aos mais

diversos públicos e objetivos diversos. A implementação dessas políticas e sucesso das ações

não são possíveis sem uma metodologia clara e objetiva que forneça as diretrizes dos passos a

serem desenvolvidos. Essa lacuna é preenchida pelo gerenciamento de projetos que possibilita

ao gestor público a adoção de métodos efetivos de gestão (PMBOK, 2013).

Percebe-se que os projetos governamentais necessitam de grandes esforços da

administração devido à amplitude, complexidade e impacto significativo sobre a sociedade,

sendo assim, o governo organiza os projetos públicos em programas que integram objetivos

em comum ou complementar. O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC é um

programa que engloba projetos no setor de infraestrutura que tem como objetivo dá suporte ao

desenvolvimento nacional. Contudo, os programas se tornam ainda mais críticos devido à

necessidade da alta capacidade de gestão em todas as áreas do conhecimento (LEVIN, 2013).

E, partindo dos visíveis casos de insucesso, negligencia e má administração de vários projetos

e programas públicos, pressupõe-se que o PAC também pode apresentar falhas em alguma das

áreas do conhecimento.

Como objetivo geral será analisado o impacto das mudanças no certame licitatório

sobre o Programa de Aceleração do Crescimento sob uma perspectiva do gerenciamento de

Aquisições. Como objetivos específicos têm-se: demonstrar as fases do certamente licitatório

a partir do prisma dos processos de gerenciamento de Aquisições e suas respectivas áreas

críticas referentes ao gerenciamento de projetos e comparar as principais mudanças entre a lei

8.666/93 e 12.462/11.

2. Revisão de Literatura

2.1. Programa de Aceleração do Crescimento - PAC e o planejamento estratégico de

desenvolvimento nacional

O Programa de Aceleração do Crescimento - PAC é um programa instituído pelo

governo federal através do decreto nº 6.025/2007. O Programa é constituído de medidas de

estímulo ao investimento privado, ampliação dos investimentos públicos em infra-estrutura e

voltadas à melhoria da qualidade do gasto público e ao controle da expansão dos gastos

correntes no âmbito da Administração Pública Federal (art. 1º, decreto nº 6.025/2007).

Devido a sua complexidade e capilaridade os gestores públicos dos maiores níveis

devem manter um canal de comunicação claro e objetivo entre todos os níveis hierárquicos

(vertical ou horizontal), tendo em vista o alcance dos objetivos propostos pelo Programa.

Meirelles (2015) afirma que o mais moderno princípio da função administrativa, que

já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exige resultados positivos

para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus

membros. Di Pietro (2015) ressalta que o princípio da eficiência apresenta dois aspectos: pode

ser considerado em relação ao modo de atuação de agente público, do qual se espera o melhor

desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação ao

modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo

objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público.

A discussão sobre eficiência nos gastos relacionados ao PAC é de suma importância,

pois o comitê gestor tem o desafio de gerenciar vários projetos que estão divididos nos eixos

estratégicos do programa. A complexidade implica ainda ao governo a utilização de uma

metodologia eficiente no gerenciamento de projetos e programas.

2.2. Gerenciamento de projetos e programas governamentais

Durante os anos 90, a administração pública brasileira sofreu algumas reformas

administrativas devido ao novo contexto observado onde havia a necessidade latente de gerar

resultados positivos, responsabilidade com os gastos públicos e atendimento ao cliente.

Keinert (2007) comenta que o novo contexto exige do administrador público a capacidade de

gerenciar a participação da comunidade na construção das diretrizes estratégicas e formular

indicadores para avaliação dos resultados. Essas mudanças introduziram um novo paradigma

organizacional com um entendimento transversal das organizações, onde a interação com

ambiente, cliente, colaboradores com foco em resultados é fundamental.

A partir do entendimento dos novos desafios, a esfera política é decisiva para as

mudanças estruturantes na Administração Pública tendo em vista que a estratégia

governamental influencia diretamente nos objetivos estratégicos dos órgãos que compõe a

administração direta e indireta do governo, assim como na relação da parceria público-privado

(PPP). Com o amadurecimento do plano de governo surge a necessidade de uma metodologia

de gerenciamento de projetos e programas para o setor público.

Heldman (2009) analisa que o projeto, independentemente da área privada ou pública,

deve ser de natureza temporária, possuir um tempo determinado, criar um produto ou serviços

únicos e metas/objetivos aprovados pelas partes interessadas. Segundo o PMBOK (2013),

projeto é um esforço temporário empreendido para criar um novo produto, serviço ou

resultado exclusivo. A característica de exclusividade de um projeto significa que o produto

ou serviço gerado deve ser diferente dos demais existentes na organização.

O setor público apresenta ainda maiores desafios gerenciais na área de projetos nos

níveis de interação entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Desse modo, o

governo federal elabora programas que conglomerem projetos gerenciados pelos entes e

órgãos da administração direta e indireta. Filho (2009) comenta que um grupo de projetos

quando são geridos na forma de programa contribuem em conjunto para consolidar benefícios

substanciais. Os responsáveis diretos pelo gerenciamento devem trabalhar cuidadosamente a

governança do programa, pois o alinhamento e a integração dos projetos com as necessidades

ou objetivos das partes interessadas é crítico para administração para o alcance dos objetivos

estratégicos governamentais. O PMBOK (2013) esclarece que a governança do projeto

possibilita as organizações a gerenciar os projetos de forma consistente, a maximização dos

resultados e o alinhamento dos projetos com a estratégia organizacional.

Segundo o PgMBOK (2013), um programa é definido como um grupo de projetos

relacionados que vem a ser gerenciados de forma conjunta para que haja um ganho em

benefícios, pela melhora no controle e monitoramento, que não aconteceria caso estes projetos

fossem tratados individualmente. Programas envolvem ainda outras atividades específicas que

podem não estarem inclusas no escopo dos projetos individuais. O PgMBOK (2013) esclarece

ainda que o gerenciamento de programa transformam os resultados incrementais e individuais

de cada projeto em resultados ‘harmônicos’ que integram um plano de benefícios almejado.

Filho (2009) analisa que essa interdependência entre os múltiplos projetos é o foco do

gerenciamento de programas, pois estes são os detalhes que fazem a diferença para o melhor

andamento do programa na organização, permitindo planejamento estratégico e do

cronograma, monitoramento e controle dos projetos no programa. Levin (2013) comenta que

o gerenciamento de programas é definido como uma gestão coordenada visando alcançar os

benefícios e eliminação das lacunas entre os deliverables e os objetivos estratégicos.

3. Método da Pesquisa

A pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa de análise documental explicativa já que

os objetos de análise são os relatórios do Programa de Aceleração do Crescimento: “Balanço

PAC 1 (2007-2010)” e “Balanço PAC 2 (2011-2014)”.Os Balanços do PAC apresentam o

quadro macroeconômico e as mudanças a partir dos investimentos em infraestrutura nos eixos

da Logística, Energética, Social e Urbana. Os relatórios trazem ainda as medidas

institucionais tomadas que impactaram direta ou indiretamente os investimentos e suas

respectivas execuções orçamentária e financeira.

Foram analisadas ainda as leis 8.666/93 e 12.462/11, referente aos procedimentos e

fases do certame licitatório, que repercutem diretamente no gerenciamento de Aquisições na

Administração Pública e, consequentemente, nos projetos e programas públicos. A lei

8.666/93 representa a forma tradicional do certame licitatório já conhecido e utilizado em toda

a administração pública brasileira, já a lei 12.462/2011 traz mudanças significativas nas fases

da licitação, além de alterar e incorporar possibilidades ao gestor público, tendo em vista a

eficiência nos gastos públicos.

A análise documental favorece a observação do processo de maturação ou de evolução

de indivíduos, grupos, processos, conceitos, comportamentos, entre outros (CELLARD,

2008). Ludke e Andre (1986) observam que a análise documental busca identificar

informações factuais nos documentos a partir de questões e hipóteses de interesse. A pesquisa

ainda é identificada como explicativa, pois tem como objetivo a interpretação dos dados. De

acordo com Gil (2008), a pesquisa explicativa tem como objetivo primordial identificar

fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência de fenômenos.

Quanto aos relatórios do PAC, foi utilizada uma análise de abordagem quantitativa,

especificadamente a estatística descritiva, sobre os dados de execução orçamentária e

financeira, uma vez que a pesquisa tem como proposta a interpretação dos dados apresentados

nos relatórios citados.

Já quanto as leis citadas, foi utilizada uma abordagem de análise qualitativa,

comparando os pontos divergentes e examinando quais os principais impactos sobre o

gerenciamento de Aquisições. Nesse ponto, foram analisados os processos do gerenciamento

de Aquisições sob a obrigação jurídica de ambas as leis.

4. Análise dos Dados

4.2. O Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC e Suas Implicações no

Gerenciamento de Aquisições e PAC

Sendo o processo licitatório tradicional um dos maiores gargalos para Administração

Pública e, consequentemente, para o gerenciamento dos projetos advindos do PAC, os agentes

políticos, através lei nº 12.462/2011, regulamentada pelo Decreto nº 7.581/2011 (incluiu o

inciso IV à lei nº 12.462/2011), trouxeram o Regime Diferenciado de Contratações Públicas -

RDC, que tem por objetivo tornar as licitações do Poder Público mais eficiente, incentivo a

inovação tecnológica e isonomia entre os licitantes e seleção da proposta mais vantajosa para

a Administração Pública, sem o afastamento da transparência e o acompanhamento pelos

órgãos de controle (art. 1º, § 1º I, II, III e IV, lei nº 12.462/2011). O RDC foi inspirado nas

regras de contratação da União Europeia, dos Estados Unidos e nas diretrizes da organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE.

Esse novo modelo de licitação, que pode ser utilizado em todos os empreendimentos

do PAC, desburocratiza processos diminuindo drasticamente o custo das obras e o tempo

entre propostas e seleção do fornecedor. O sistema tradicional de licitações torna o

gerenciamento de aquisições longo, lento e complexo devido ao excesso de burocracia, que

ainda dificulta o controle e favorece a corrupção. Essa modalidade de contratação também na

possibilita a contratação integrada de obras e permite que a empresa apresente recursos

judiciais para cada etapa do processo. Vários são os benefícios do novo regime comparado ao

modelo tradicional.

Lei nº 8.666, de 1993. Lei nº 12.462, de 2011.

Análise antecipada dos documentos de

habilitação (antes da abertura da

proposta), mais de uma etapa recursal

(habilitação e julgamento de propostas) e

a prazos maiores para apresentação de

propostas.

Inversão das fases (o julgamento das

propostas acontece antes da habilitação),

com a redução dos prazos de publicação e

com fase recursal única após a análise dos

documentos de habilitação do licitante

vencedor.

O excesso de burocracia na fase de

habilitação reduz a competitividade e

amplia a judiciliazação dos processos.

Menos burocracia e processos menos

complexos que favorecem a

competitividade.

Obrigatoriedade de contratação de projeto

básico separada da contratação de obras

aumenta o risco de assinatura de termos

aditivos que causam paralisação e redução

Há a possibilidade de contratação

integrada de obras, em que a contratada é

responsável pela elaboração dos projetos,

pela execução e pela entrega da obra

de ritmo de obras acabada, devendo corrigir eventuais erros

de projeto sem a celebração de termo

aditivo ou compensação financeira.

A exigência de publicação do valor

estimado da contratação no edital facilita a

formação de cartéis de empresas, a

combinação de preços e a apresentação de

propostas sem maior estudo sobre o

projeto.

O valor estimado da contratação pode ser

publicado após o fim da licitação,

dificultando a formação de cartéis e a

combinação de preços entre empresas,

exigindo maior conhecimento do projeto

por parte das empresas.

A impossibilidade de disputa direta entre

fornecedores (lances decrescentes) impede

a redução de preços após o recebimento

das propostas.

A possibilidade de disputa de lances entre

as empresas propicia redução de custos

para a Administração Pública.

Fonte: Adaptado da lei nº 8.666/93 e lei 12.462/11.

Quadro 1 – Modelo Tradicional das Licitações Públicas x Regime Diferenciado

A inversão das fases de Julgamento e Habilitação aperfeiçoa o gerenciamento de

tempo durante a fase de escolha do fornecedor dando celeridade ao processo. A lei

12.462/2011 (RDC) cita que a licitação deverá ser preferencialmente eletrônica e observar as

seguintes fases principais, nesta ordem: Preparatório, Publicação do Instrumento

Convocatório, Apresentação de Propostas ou Lances, Julgamento, Habilitação, Recursal e

Encerramento.

Já Quanto ao gerenciamento da Qualidade, pode-se atribuir uma melhoria incremental

na contratação integrada onde a Administração Pública elabora o anteprojeto de engenharia e

o contratato elabora o Projeto Básico e Projeto de Engenharia. Essa medida transfere a

responsabilidade ao fornecedor que já possui um melhor know-how e mais eficiência na

elaboração de projetos voltados a obras.

O RDC ainda aborda o gerenciamento de riscos, pois ao tratar de obras, serviços ou

fornecimento de bens remanescentes em consequência de rescisão contratual, a lei é clara ao

trazer que será observada a ordem de classificação dos licitantes remanescentes e as condições

por estes ofertadas.

Quanto aos benefícios para o gerenciamento de custos, percebe-se uma tentativa de

procura da melhor oferta para a Administração Pública e medidas que evitam a formação de

cartéis. Na lei nº 12.462/2011, os valores poderão ser estimados com base no mercado, nos

valores pagos pela Administração Pública em serviços e obras similares ou na avaliação do

custo global da obra, aferida mediante orçamento sintético. A estimativa de custos poderá

permanecer oculta (art. 9º, § 2º, II).

Esses benefícios só podem ser vistos a partir do PAC 2, já que durante o PAC 1 (2007

– 2010) fora utilizado a metodologia tradicional de licitação para a execução dos projetos dos

3 (três) eixos estratégicos.

Fonte: Adaptado do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG, Brasil. Balanço PAC (2007-

2010) e Balanço PAC (2011-2014)

Gráfico 1 –Execução Financeira entre o PAC 1 e PAC 2

O Gráfico acima demonstra o aumento significativo dos investimentos no PAC entre

as duas etapas (PAC 1 e PAC 2), aproximadamente 58,1%. O aumento dos investimentos na

infraestrutura brasileira é justificável através do Investimento Estrangeiro Direto – IED, um

índice que utiliza as entradas efetivas e o potencial de atração dos investimentos estrangeiros

para classificar quais os países mais atrativos aos investidores, que classifica o Brasil como

um dos países mais atrativos no mundo ficando em 3º lugar em 2013, atrás apenas de grandes

potências mundiais como Estados Unidos e China (UNCTAD, 2013). Esse dado revela a

importância do Programa e demais ações de fomento promovidas pelo Estado, uma vez que

os olhares dos investidores estrangeiros estão voltados para o Brasil, o governo precisa

demonstrar a esses investidores o comprometimento com o desenvolvimento sustentável e a

longo prazo onde o seu grau de investimento estrangeiro deve coincidir com o investimento

nacional nos setores-chaves que servem de suporte a economia.

Outro aspecto relevante sobre o valor do investimento entre o PAC 1 e 2 é o

percentual de execução financeira onde a taxa de execução entre as duas etapas, quando

comparada a taxa prevista, subiu aproximadamente 4,20%. Considerando que a segunda etapa

apresentou um crescimento considerável de gastos referente a primeira etapa, o aparente

aumento percentual pouco expressivo pode gerar uma avaliação distorcida sobre o esforço

financeiro do governo, pois entre as duas etapas tem-se um aumento real de 449 bilhões de

reais.

Vale ressaltar que os valores da execução financeira referem-se a todas as despesas

vinculadas ao Programa e não só especificamente a contratações de obras através de

licitações. Contudo, o PAC 2 também apresenta números distintos.

619

1066

560

1009

0

200

400

600

800

1000

1200

PAC 1 PAC 2

R$

Bilh

õe

s

2007 - 2010

Previsto

Executado

2011 - 2014

Fonte: Adaptado do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG, Brasil. Balanço PAC (2007-

2010) e Balanço PAC (2011-2014)

Gráfico 2 – Execução Orçamentária – Valores Empenhados

A discrepância entre os valores empenhados pode ser explicada pela maturidade da

política de investimentos adotada e a melhoria dos processos de aquisição e contratos, que

aperfeiçoa o trâmite entre planejamento e decisão da escolha do fornecedor. Enquanto o PAC

1 apresentou um valor médio de 19 bilhões/ano, o PAC 2 obteve um valor médio de 50

bilhões/ano, um aumento de mais de 250% entre as duas etapas.

Com a finalização do processo de contratação e respectiva homologação, a

Administração deve realizar o empenho da despesa, que consiste em deduzir do orçamento, na

respectiva rubrica, o valor a ser pago ao particular contratado. Assim, pode-se concluir que o

empenho deverá ser realizado após a homologação do resultado do certame e antesda

assinatura do contrato, já que deverá estar indicado no instrumento contratual por tratar-se de

garantia do particular quanto ao pagamento futuro e por ser um dos requisitos que devem ser

analisados pelo gestor para a liquidação da despesa. Portanto, a agilidade no certame diminui

o prazo total que, consequentemente, terá impacto no gerenciamento de tempo para conclusão

das obras.

O crescimento dos valores empenhados não representa as despesas realizadas,

concretas, pois os fornecedores, geralmente empreiteiros, devem entregar o produto solicitado

em edital com as respectivas especificações e qualidade. Assim, ambas as partes interessadas

precisam lidar com os riscos inerentes onde o não aceite do produto entregue resulta em um

prejuízo além do financeiro.

16 1721,1 22,8

35,4

48,6

63,1

54,5

0

10

20

30

40

50

60

70

Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4

R$

Bilh

õe

s

PAC 1

PAC 2

Fonte: Adaptado do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG, Brasil. Balanço PAC (2007-

2010) e Balanço PAC (2011-2014)

Gráfico 3– Execução Orçamentária – Valores Pagos

Realizado o empenho, o próximo passo é a liquidação da despesa, que conforme

preceitua o art. 63 da lei nº 4.320/64, “consiste na verificação do direito adquirido pelo credor

tendo por base os título e documentos comprobatórios do respectivo crédito”. De acordo com

§ 2º do mesmo artigo, “a liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados

terá por base: I – o contrato, ajuste ou acordo respectivo; II – a nota de empenho; III – os

comprovantes da entrega de material ou da prestação efetiva do serviço”. Após a verificação

desses requisitos, a Administração expedirá a ordem de pagamento ao particular (art. 64, lei nº

4.320/64).

O pagamento representa o sucesso da licitação entre poder público e setor privado.

Tendo em vista que o pagamento é realizado após entrega e aceite do produto pelo cliente, é

importante que o processo licitatório de planejamento, habilitação, julgamento e homologação

sejam feitas da maneira mais ágil, transparente e eficiente, diminuindo assim o tempo total.

A partir dos dados, podem-se analisar os benefícios do RDC para o encerramento da

fase de aquisições, que ficara prejudicado pela falta de autonomia ou uma lei menos

burocrática. Com a adesão do RDC, o PAC apresentou uma diferença positiva de,

aproximadamente, três vezes nos pagamentos realizados entre as duas etapas. Enquanto os

pagamentos do PAC 1, representam 71,52% dos empenhos realizados, o PAC 2 apresentam

um aumento de 9,83% comparado a etapa anterior, tendo uma taxa de pagamento de 81,35%

dos empenhos realizados. Apesar do maior volume de obras e, consequentemente, de

problemas na execução, a administração dos órgãos estatais conseguiu gerenciar a área de

aquisições de uma melhor forma através do RDC que também trouxe impactos positivos nas

áreas de custo, qualidade, riscos e tempo dos projetos que compõem o Programa de

Aceleração do Crescimento.

5. Considerações Finais

7,311,3

16,420

28

39,3

44,7

52

0

10

20

30

40

50

60

Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4

R$

Bilh

õe

s

PAC 1

PAC 2

O presente estudo buscou analisar os impactos do Regime Diferenciado em

Contratações Públicas - RDC sob o prisma do gerenciamento de Aquisições no Programa de

Aceleração do Crescimento – PAC. Como objeto de análise foram utilizados as leis que

regulamentam o certame licitatório no Brasil juntamente com os relatórios de Balanço PAC 1

(2007-2010) e PAC 2 (2011-2014). O RDC demonstrou alterações positivas a todo o processo

licitatório e, consequentemente, benefícios a gestão de Aquisições, Custo, Tempo, Riscos e

Qualidade. Esse novo olhar sobre os procedimentos gera inovação e competitividade ao setor

público. Já os relatórios do PAC apresentam diversas informações acerca dos benefícios

acarretados, onde nem todas as informações podem ser atestadas com veracidade. Dessa

forma, filtrados os dados numéricos tendo em vista a confiabilidade da fonte.

Devido a extensão das leis, e todas as suas possíveis implicações, foi necessário

delimitar as alterações para o foco do estudo em questão. O recorte apresentado traz então

uma perspectiva de benefícios na visão gerencial-administrativa. A pesquisa parte do

pressuposto que o modo tradicional do certame licitatório prejudica a eficiência do

gerenciamento de Aquisições devido a sua alta burocratização. Nota-se que esse modelo,

apesar de complexo, é frágil e utilizado como ferramenta para práticas de atos corruptos.

Algumas alterações trazidas pelo RDC parecem insignificantes, mas geram grandes

benefícios à Administração Pública, como: a inversão de fases entre Julgamento e Habilitação

e a não obrigatoriedade da publicação do valor da obra. Apenas essas duas medidas evitam a

prolongamento desnecessário de várias fases recursais e a formação de cartéis que prejudicam

a eficiência dos gastos públicos.

O RDC demonstrou-se uma medida contundente para a melhoria da gestão pública,

ultrapassando paradigmas burocráticos e funcionalistas. A partir desses pontos incrementais é

gerada a força catalisadora das mudanças estruturais. O hiato entre os resultados do PAC 1 e

PAC 2 corroboram a eficiência da lei e abre precedente para os agente políticos elaborarem

medidas com uma visão de foco gerencial e menos legalista.

Os resultados entre as etapas do PAC 1 e PAC 2 demonstram o impacto

quantitativamente em execução orçamentária e financeira que, concretamente, é revertido no

aumento de obras concluídas e entregues a sociedade. Sendo o Brasil um dos países mais

atrativos para investimentos estrangeiros, segundo a UNCTAD, todos os esforços na tentativa

da profissionalização dos processos no setor público se demonstram válidos tendo em vista a

competitividade. E, apesar dos problemas enfrentados no PAC 1, o programa demonstrou

relevante importância no cenário do crescimento econômico onde cria-se o suporte estrutural

a longo prazo.

A análise demonstra claramente os gargalos geralmente encontrados em licitações

públicas. Contudo, o RDC é um modelo opcional abrange apenas um número restrito de

projetos e programas. Sendo assim, estudos futuros podem analisar a viabilidade da expansão

do RDC a todos os tipos de licitação e os impactos sobre o gerenciamento de Aquisições.

Como limitações, foram analisados os relatórios de balanço do PAC produzidos pelo

Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG, contudo, os dados financeiros e

orçamentários detalhados não foram objetos do estudo.

Como principal contribuição, a pesquisa revela a necessidade latente de mudança em

vários processos burocráticos na Administração Pública que desfavorecem o devido

gerenciamento dos projetos implementados através das políticas públicas.

6. Referências

BRASIL, Decreto nº 6.025, de 22 de Janeiro de 2007. Institui o Programa de Aceleração do

Crescimento - PAC, o seu Comitê Gestor, e dá outras providências.

BRASIL, Decreto nº 7.581, de 11 de Outubro de 2011. Regulamenta o Regime

Diferenciado de Contratações Públicas - RDC, de que trata a Lei nº 12.462, de 4 de agosto

de 2011.

BRASIL, Lei nº 11.578, de 26 de Novembro de 2007. Dispõe sobre a transferência

obrigatória de recursos financeiros para a execução pelos Estados, Distrito Federal e

Municípios de ações do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, e sobre a forma

de operacionalização do Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social - PSH nos exercícios de 2007 e 2008.

BRASIL, Lei nº 12.462, de 4 de Agosto de 2011. Institui o Regime Diferenciado de

Contratações Públicas – RDC.

BRASIL, Lei nº 4.320, de 17 de Março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito

Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados,

dos Municípios e do Distrito Federal.

BRASIL, Lei nº 8.666, de 21 de Junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da

Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração

Pública e dá outras providências.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil : promulgada em 5 de outubro

de 1988. São Paulo: Saraiva, 2007.

BRASIL. Presidência da República; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. PAC:

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