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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO Ana Júlia Cunha Brito URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE: o entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação BELÉM - PARÁ 2012

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E

MEIO AMBIENTE URBANO

Ana Júlia Cunha Brito

URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE:

o entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação

BELÉM - PARÁ

2012

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Ana Júlia Cunha Brito

URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE:

o entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação de Mestrado em Desenvolvimento e

Meio Ambiente Urbano da Universidade da

Amazônia como requisito para obtenção do título

de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e

Sá.

BELÉM - PARÁ

2012

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Ana Júlia Cunha Brito

URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE:

o entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação de Mestrado em Desenvolvimento e

Meio Ambiente Urbano da Universidade da

Amazônia como requisito para obtenção do título

de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e

Sá.

Banca Examinadora:

__________________________________________________________

Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e Sá (Universidade da Amazônia)

Orientador

__________________________________________________________

Profa. Drª Sandra Maria Rickmann Lobato (Universidade da Amazônia)

Examinador externo

__________________________________________________________

Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo (Universidade da Amazônia)

Examinador interno

Apresentado em: 08 / 08 /2012

Conceito:___________________

BELÉM - PARÁ

2012

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Aos meus pais, José Maria e Anamaria,

pelo apoio e estímulo em minha vida profissional,

Aos meus irmãos Ana Laura, Adriano (Gisele) e Rodrigo (em memória),

por sempre torcerem por mim,

Aos meus sobrinhos, João Pedro e José Victor,

por tornarem meus dias mais alegres.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, sempre presente em minha vida;

À FIDESA – Fundação Instituto para o desenvolvimento da Amazônia pela bolsa de estudo,

que possibilitou a realização da pesquisa;

A minha família, pais, irmãos, cunhada, sobrinhos, avós, tios e primos que torcem pelo meu

sucesso e que me dão força para continuar desenvolvendo um bom trabalho;

As minhas amigas, Daniela Corrêa Teixeira e Tainá Alves Teixeira por confiarem em mim e

me apoiarem nessa e em todas as minhas evoluções profissionais, sempre acreditando no meu

sucesso;

As minhas amigas Biatriz Araújo Cardoso, fundamental para a conclusão desta dissertação,

obrigada pela ajuda da coleta dos dados até os momentos em que eu não aguentava mais

digitar e Iranete Corpes Oliveira França, companheira dessa etapa, valeu a força e o estímulo

para alcançarmos essa vitória.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e Sá, por contribuir com os meus

conhecimentos e conduzir esta pesquisa com compromisso, competência e responsabilidade;

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia que contribuíram para o conhecimento

adquirido durante essa trajetória;

Aos colegas, estagiários e pacientes da Fisioclínica – Unama, onde iniciei minha vida

profissional e pude conviver com pessoas maravilhosas que me incentivaram a ser uma

profissional cada vez melhor;

Aos funcionários da UMS - Cremação, Alberto Simões Jorge Júnior e Taise Cunha de

Lucena, que viabilizaram e disponibilizaram todos os recursos necessários a realização dessa

pesquisa;

Aos Professores Dra. Sandra Lobato e Dr. Marco Aurélio Lobo, que contribuíram de forma

exemplar no direcionamento desse estudo.

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“É maravilhoso Senhor, sobretudo, ter tão

pouco a pedir e tanto a agradecer.”

Michael Quoist

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RESUMO

BRITO, A. J. C. URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE: o

entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação 2012. Defesa de Dissertação (Mestrado

em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano) – Núcleo de Estudos e Pesquisas em

Qualidade de Vida e Meio Ambiente, Universidade da Amazônia. Belém, PA, 2012.

A pesquisa objetivou conhecer e avaliar a relação existente entre os serviços de saúde e o

desenvolvimento urbano no contexto de aplicabilidade do Sistema Único de Saúde. Sendo

assim, a pesquisa tratou identificar como foi constituído o espaço urbano de Belém e a

maneira como ocorreu a integração das áreas de “baixada”, o que propiciou desequilíbrios

ambientais no contexto do urbano que refletem direta ou indiretamente nas condições de

saúde da população envolvida. No caso dessa pesquisa, o bairro da Cremação tornou-se foco

de análise perante o seu processo de ocupação e que atualmente vem passando por mudanças

estruturais mediante a implantação do Programa de Recuperação Urbano Ambiental da Bacia

da Estrada Nova, possibilitando dessa forma compreender como são constituídas as políticas

públicas que envolvem o ambiente e a saúde. Os dados utilizados para responder tais

questionamentos foram obtidos por meio de documentação fotográfica das características

urbanas do espaço estudado, de dados obtidos nos Censos de 2000 e 2010, assim como de um

levantamento dos serviços prestados e das enfermidades comumente encontradas nos anos de

2010 e 2011 na Unidade Municipal de Saúde da Cremação, permitindo dessa forma relacionar

a estrutura do bairro em vista ao processo saúde-doença e saúde ambiental da população

pesquisada. Nesse sentido, evidenciou-se que as doenças encontradas no lócus da pesquisa

podem ser facilmente relacionadas à desarmonia da estrutura urbana, o que mostra a

dissonância entre as políticas públicas de saúde e ambiente no processo de reestruturação do

urbano.

Palavras-chaves: Urbanização. Saúde. Bairro da Cremação.

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ABSTRACT

BRITO, A. J. C. URBANIZATION AND INTERFACES TRETUCEN HEALTH AND

ENVIRONMENT: The Environment of a Municipal Health Unit at Cremação (Belém –

Pará) 2012. Defense of Dissertation (Master of Urban Development and Environment) –

Center for Studies and Research in Quality of life and Environment, University of the

Amazon. Belém, PA, 2012.

The research aimed to identify and evaluate the expectations in relation to health services and

urban development in the context of applicability of the Unified Health System, so the survey

was addressed to identify how urban space consisting of Bethlehem and how the integration

occurred of low areas, which provided environmental imbalance in the urban context that

reflect directly or indirectly on the health of the population involved. In the case of this

research, the neighborhood of Cremation has become the focus of analysis to the process of

occupation and currently is undergoing structural changes through the implementation of the

Urban Environmental Restoration Program Basin of New Road, where the neighborhood is

inserted, thus enabling to understand how policies are made that involve public health and the

environment. The data used to answer these questions were obtained by means of

photographic documentation of urban characteristics, as well as data obtained from Census

2000 and 2010, as well as a survey of services and disease found in the years 2010 and 2011

in the Basic health Cremation, thus allowing to relate the structure of the district in view of

the health - disease and environmental health of the population under study. In this sense, it

was evident that the diseases are easily found related to disharmony in the urban structure,

which shows the dissonance between public health policies and environment.

Keywords: Urbanization. Health. District of Cremation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - Delimitação do Bairro da Cremação.......................................................... 17

Ilustração 2 - Situação do Canal da Quintino Bocaiúva.................................................. 18

Ilustração 3 - Indicação do principal eixo comercial do Bairro da Cremação................. 20

Ilustração 4 - Fluxos migratórios para as áreas de expansão........................................... 23

Ilustração 5 - Bacias Hidrográficas da Cidade de Belém................................................. 28

Ilustração 6 - Bacia Hidrográfica da Estrada Nova.......................................................... 29

Ilustração 7 - Gráfico da população residente por bairro na BHEN................................ 30

Ilustração 8 - BHEN em destaque área que corresponde ao Bairro da Cremação........... 31

Ilustração 9 - Modelo da pirâmide: hierarquização e regionalização do SUS................. 40

Ilustração 10 - Situação das margens do Canal da Caripunas.......................................... 45

Ilustração 11 - Esgoto a céu aberto no bairro da Cremação............................................. 46

Ilustração 12 - Animais de grande porte soltos pelo bairro da Cremação........................ 46

Ilustração 13 - Localização dos setores censitários, Bairro da Cremação, 2010............. 51

Ilustração 14 - Percentual de domicílios situados em logradouros com pavimentação... 52

Ilustração 15 - Percentual de domicílios situados em logradouros com calçada............. 53

Ilustração 16 - Situação do calçamento de um ponto do bairro da Cremação................. 54

Ilustração 17 - Situação da pavimentação de um ponto do bairro da Cremação............. 54

Ilustração 18 - Calçamento e pavimentação do entorno da UMS – Cremação................ 55

Ilustração 19 - Percentual de domicílios situados em logradouros com arborização....... 57

Ilustração 20 - Percentual de domicílios situados em logradouros com acúmulo de

lixo.........................................................................................................

58

Ilustração 21 - Por que você necessita jogar estes resíduos nestes locais....................... 59

Ilustração 22 - Acha que as doenças que aparecem na comunidade podem ter

influência do lixo que está acumulado nas ruas e canais....................

59

Ilustração 23 - Acúmulo de lixo em via pública no bairro da Cremação......................... 60

Ilustração 24 - Acúmulo de lixo na Av. Alcindo Cacela no bairro da Cremação............ 61

Ilustração 25 - Entulhos despejados as margens do canal da Dr. Moraes no bairro da

Cremação.................................................................................................

61

Ilustração 26 - Entulhos despejados as margens do canal no bairro da Cremação.......... 62

Ilustração 27 - Percentual de domicílios particulares permanentes urbanos, segundo as

características do entorno dos domicílios – Brasil – 2010......................

62

Ilustração 28 -Crianças brincando no canal..................................................................... 72

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Configuração atual da BHEN......................................................................... 30

Quadro 2 - Ciclo da política pública e sua relação com a aplicação do modelo de

solução do problema.......................................................................................

33

Quadro 3 - Síntese dos Princípios e Diretrizes do SUS.................................................... 37

Quadro 4 - Evolução histórica dos aspectos de saúde pública e meio ambiente no setor

saneamento no Brasil....................................................................................

42

Quadro 5 - Variação mensal dos Índices Pluviométrico.................................................. 49

Quadro 6 - Doenças de transmissão hídrica..................................................................... 69

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados referentes à demanda de atendimento pelos profissionais na UMS

Cremação nos anos de 2010 e 2011.............................................................

63

Tabela 2 - Dados referentes à demanda de atendimento por especialidade na UMS

Cremação nos anos de 2010 e 2011.............................................................

64

Tabela 3 - Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clínico geral no

período chuvoso dos anos de 2010 e 2011...................................................

65

Tabela 4 - Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clínico geral no

período seco dos anos de 2010 e 2011.........................................................

67

Tabela 5 - Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no

período chuvoso dos anos de 2010 e 2011...................................................

70

Tabela 6 - Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no

período seco dos anos de 2010 e 2011.........................................................

70

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos

BHEN Bacia Hidrográfica da Estrada Nova

CID Classificação Internacional de Doenças

CODEM Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana

de Belém.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PROMABEN Programa de Recuperação Urbano Ambiental da Bacia da Estrada Nova

SESAN Secretaria Municipal de Saneamento

SESP Serviço Especial de Saúde Pública

SUS Sistema Único de Saúde

UMS Unidade Municipal de Saúde

UNAMA Universidade da Amazônia

ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 13

1.1 DESCRIÇÕES DO LÓCUS DA PESQUISA: O ENTORNO DA UNIDADE

MUNICIPAL DE SAÚDE DA CREMAÇÃO..................................................................

16

2 CAPÍTULO I: EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE BELÉM/PARÁ........... 21

2.1 URBANIZAÇÃO........................................................................................................ 21

2.2 A SITUAÇÃO DA MACRODRENAGEM EM BELÉM: UM ESTUDO SOBRE A

BACIA HIDROGRÁFICA DA ESTRADA NOVA.........................................................

26

3 CAPÍTULO II: POLÍTICAS PÚBLICAS.................................................................. 32

3.1 CONSTITUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS..................................................... 32

3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE........................................................................ 33

3.2.1 Sistema Único de Saúde.......................................................................................... 36

3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DO MEIO AMBIENTE..................................................... 41

4 CAPÍTULO III: PERCURSO METODOLÓGICO.................................................. 45

5 CAPÍTULO IV: INTERFACES SAÚDE E AMBIENTE NO CONTEXTO

URBANO DO BAIRRO DA CREMAÇÃO..................................................................

50

5.1 ANALISANDO DADOS E COMPARANDO RESULTADOS................................. 50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 73

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 75

APÊNDICE A – ACEITE DA INSTITUIÇÃO................................................................ 81

ANEXO A – MAPA DOS BAIRROS DO MUNICÍPIO DE BELÉM............................. 82

ANEXO B – COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA............................................................ 83

ANEXO C – MAPA DE CONSULTAS........................................................................... 84

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1 INTRODUÇÃO

A urbanização brasileira começa a partir do século XVIII, quando ocorre a transição

populacional do meio rural para o meio urbano, atingindo seu ápice no século XIX quando a

cidade se organiza mediante as necessidades de seus habitantes no âmbito político, econômico

e administrativo. Possuidor de vários subespaços, o território brasileiro passa a se organizar

seguindo lógica própria, onde as cidades crescem tanto no ponto de vista quantitativo quando

qualitativo, mas não mantém relações umas com as outras, o que favorece uma disparidade

entre as mesmas (SANTOS, 2005).

A cidade de Belém ganha destaque a partir do século XX, fruto da extração da

borracha, onde sua localização privilegiada a torna porta para a exportação e importação de

mercadorias. No intuito de explorar a Amazônia foram surgindo novos eixos de integração e

com isso o fluxo migratório foi aumentando assim como o desenvolvimento da cidade

(PENTEADO, 1968).

A segregação sócioespacial na cidade de Belém é constatada pela forma como ocorreu

a ocupação do solo e a formação dos bairros. A população financeiramente mais favorecida se

concentra em locais centrais e melhor estruturados enquanto que os indivíduos menos

favorecidos financeiramente se concentram em espaços afastados ou quando próximos ao

centro se caracterizam como “baixadas”, em áreas alagáveis e sem infraestrutura adequada

(TRINDADE JR, 1997).

Tal panorama faz surgir uma Belém de contrastes verificando-se a ausência de um

planejamento territorial urbano adequado. Aparecem então vários problemas como: a falta de

coleta de lixo, oferta insuficiente de equipamentos comunitários e da rede de água e esgoto,

precariedade das condições de habitação, falta de estrutura de lazer, dificuldades de acesso a

algumas comunidades e a degradação do meio ambiente com implicações no processo saúde-

doença (SÁ et al., 2007).

Nesse cenário, a questão da saúde avulta, em relação aos conceitos que envolvem o

saneamento básico, pois, sendo parte constitutiva da sociedade contemporânea e síntese de

múltiplas determinações e entrelaçamentos, seu conceito apresenta significados

historicamente constituídos, fazendo emergir várias indagações sobre a situação em que o ser

humano se distingue no meio. Daí resulta que a concepção de saúde e de doença depende do

contexto sociocultural em que os indivíduos ou grupos estão inseridos e da maneira como

constroem seus significados e importância dentro do ambiente (CHAMMÉ, 2002).

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Sendo o espaço urbano repleto de contradições e indeterminações que refletem na

produção de processos de adoecimento, os sujeitos inseridos em caóticas condições,

econômicas e políticas, estão subordinados a situações de inclusão e exclusão social, onde a

própria cidade se modifica estruturando e desestruturando o acesso aos serviços e

equipamentos urbanos. Haja vista que existe uma grande relação entre um adequado

planejamento territorial urbano, a constituição do processo saúde-doença e as ações de saúde

pública (IANNI, 2000).

Estabelecer essas relações é fundamental para o desenvolvimento e produção de

conhecimento científico a respeito da influência do território como uma das questões centrais

que constituem o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, sendo que, durante o processo de

construção do SUS foi levantada a questão da realidade sociocultural e ambiental em que o

ser humano está inserido. Concluindo-se que as diferentes concepções e representações sobre

o processo saúde-doença e desenvolvimento humano interferem no modo de perceber e

utilizar o sistema, principalmente às ações ligadas a manutenção do estado de saúde, como

também estabelecer a maneira como são constituídas as políticas públicas e o jogo de

interesses existentes entre os atores sociais envolvidos (IRIART, 2003).

Dessa forma, o SUS, que foi concebido a partir de lutas de profissionais de saúde e de

populares por reformas sanitárias, tendo como um dos seus objetivos prioritários montar um

importante mecanismo de promoção da equidade no atendimento das necessidades de saúde

da população, ofertando serviços de qualidade, adequados às necessidades e demandas dos

usuários, independente do poder aquisitivo do cidadão, visto que, a participação dos atores

sociais é um princípio fundamental para o sistema (CAMPOS, 2009).

Nesse contexto o Bairro da Cremação1 entra como objeto de pesquisa, uma vez que,

constitui uma das áreas atingidas diretamente pelas ações das políticas públicas de

saneamento referentes ao novo Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova, já que

pelo mesmo passa grande parte dos canais referentes à Sub-bacia II e sua população na

maioria vive em ambientes insalubres devido à degradação ambiental gerada no processo de

ocupação das áreas de “baixada”. Antes o bairro ou teve desatenção por ser periférico ou teve

1 Bairro de Cremação, tem sua origem no antigo Forno Crematório construído durante a administração do

Intendente Municipal Antônio Lemos (1897 - 1910). Veio junto a outras medidas de saneamento da cidade.

Atualmente, o Forno Crematório encontra-se desativado e funciona como uns dos logradouros de lazer do bairro

a Praça Dalcidio Jurandir (PENTEADO, 1968).

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uma drenagem parcial em decorrência da construção dos diques da Av. Bernardo Sayão dos

anos da II Guerra Mundial (1935 - 1945) (BELÉM, 2012).

No caso desta pesquisa, o bairro da Cremação e sua Unidade Municipal de Saúde,

aparecem como foco de análise para as questões do ambiente urbano, da saúde e da

operacionalização do SUS, pois durante o processo de urbanização da cidade de Belém –

como referimos – surgiram de maneira desordenada segregações que ocasionaram impactos

na estrutura infraurbana do município e na forma de existir das pessoas com repercussões nos

processos de saúde e doença da comunidade. Este não foi escolhido aleatoriamente e sim por

se encontrar localizado em região próxima ao centro principal da cidade de Belém. A maioria

de seus moradores pertence à classe média baixa e reside em casas modestas e sem

infraestrutura adequada devido ao histórico de sua ocupação quando as áreas de “baixada” são

incorporadas a cidade por um processo de segregação imposta entre as classes. A população

que tem o espaço como moradia e/ou de trabalho convive com problemas relacionados aos

igarapés ou aos canais que o cortam como: Dr. Moraes, Caripunas, Quintino e 14 de março,

acarretando vários problemas estruturais de saneamento e de saúde (MACHADO, 2004;

TRINDADE JR, 1997).

Mediante tal situação, destaca-se a compreensão do real sentido de saneamento básico

como um conjunto das dinâmicas de produção do espaço urbano, estabelecendo relações entre

seres humanos e o ambiente, na intenção de garantir o controle de doenças, promover saúde,

conforto e bem-estar. Mas, essa relação é prejudicada pela falta de conscientização da

população residente em locais que margeiam os referidos canais, pois favorecem a

contaminação das águas e bloqueiam a drenagem pelo acúmulo de lixo e resíduos em geral

propiciando o aparecimento de enfermidades de transmissão hídrica como também da falta de

diálogo entre os setores urbanos municipais o que impossibilita seu relacionamento

(MACHADO, 2004; SOUZA, 2002).

Diante da argumentação anterior, a seguinte questão se estabelece: Como se dá a

interface entre saúde e ambiente mediante as reconstruções urbanas entre elas aquelas geradas

pelo Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova nas demandas dos atendimentos da

Unidade Municipal de Saúde (UMS) da Cremação?

Os resultados da pesquisa podem fornecer à administração pública informações para

delinear políticas públicas mais adequadas e integradas à população estudada, levando em

consideração suas características peculiares e assim garantir um melhor e maior

aproveitamento das transformações urbanas e da interface saúde e ambiente na qualidade de

vida da população.

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A pesquisa apresentou como objetivo geral conhecer e avaliar a relação existente entre

os serviços de saúde e o desenvolvimento urbano no contexto de aplicabilidade do SUS. Para

se chegar a tal objetivo metas de investigações foram traçadas, sendo estas: descrever as

características atuais do bairro da Cremação; levantar os serviços ofertados na Unidade

Municipal de Saúde em foco; relacionar a estrutura do bairro em vista ao processo saúde-

doença e saúde ambiental na população em estudo e identificar os agravos coletivos com

ênfase na saúde ambiental.

Para a produção desta dissertação o pressuposto teórico baseou-se na construção de

capítulos pertinentes ao assunto proposto. Portanto, o capítulo I aborda sobre a evolução

urbana da cidade de Belém e a incorporação das áreas de “baixada” por meio de projetos de

benfeitorias e macrodrenagem, levantando os fatores que influenciaram no surgimento de

agravos ambientais e de saúde. O capítulo II apresenta a maneira como foram constituídas as

políticas públicas, a interação entre as políticas de saúde, ambiente e saneamento, assim como

seus instrumentos de ação. No capítulo III será exposto o percurso metodológico utilizado

para alcançar os resultados da pesquisa. Já o capítulo IV mostra a interface saúde e ambiente

por meio da análise dos dados encontrados na pesquisa de campo e por fim serão apresentadas

as conclusões obtidas para responder o problema central que culminou esse estudo.

1.1 DESCRIÇÕES DO LÓCUS DA PESQUISA: O ENTORNO DA UNIDADE

MUNICIPAL DE SAÚDE DA CREMAÇÃO.

O bairro da Cremação situa-se na zona sul do espaço urbano da cidade de Belém, de

caráter popular, em cota de nível de 5-10m. Apresenta um quadro de pobreza e violência,

reflexo de diferenças na distribuição dos serviços e equipamentos urbanos. Penteado (1968,

p.298) descreve suas características comuns como: “seus quarteirões são amplos e traçados

com uma regularidade que demonstra a existência de certo planejamento, através do qual o

traçado de suas ruas foi, de certo modo, adaptado às condições do sítio”. A imagem abaixo

apresenta a delimitação espacial do bairro da Cremação mostrando seus bairros fronteiriços.

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Ilustração 1 - Delimitação do Bairro da Cremação

Fonte: Google Maps, 2011.

Dados do Censo/2010 mostram uma população de 31.264 habitantes distribuídos em

149 hectares de extensão, sendo 77 hectares de “baixada” (IBGE, 2012). Incluí um

aglomerado de ocupações precárias, devido ao sítio inadequado ao estabelecimento de

habitações saudáveis, típicas da população de baixa renda, com saneamento inapropriado e

com precárias condições de saúde, principalmente após grande contingente de imigrantes que

ocuparam a região (LOBO, 2006).

Apresenta um sistema viário que permite acesso ao centro tradicional gerando

vantagem locacional, suas principais vias são Avenida Alcindo Cacela, Travessa Nove de

Janeiro, Rua Engenheiro Fernando Guilhon e Rua dos Caripunas. São cortadas pelos canais2

da Dr. Moraes, Caripunas, 14 de março e Quintino Bocaiúva que desembocam as margens do

Rio Guamá, vinculados a Bacia Hidrográfica da Estrada Nova. No período chuvoso,

conhecido como “inverno paraense”, o local sofre com a presença de áreas alagadas, alagáveis

ou com drenagem lenta, principalmente nas regiões próximas aos canais, o que gera

transtornos quanto ao deslocamento e representam sérios riscos a saúde de seus moradores. A

2 “Forma como comumente se denominam em Belém os córregos urbanos” (RODRIGUES, 1996, p.167).

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ilustração a seguir exibe as condições viárias das margens de um dos canais de cortam o

bairro da Cremação (BELÉM, 2012; MACHADO, 2004).

Ilustração 2 - Situação do Canal da Quintino Bocaiúva.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J.C. Brito, 19 de março de 2011.

O bairro foi estabelecido a partir das reformas sanitaristas ou urbanizadoras da era

Antônio Lemos (1897-1910), que tinha como metas prioritárias o cuidado com a saúde

pública e os serviços sanitários por meio da limpeza urbana e a cremação de lixo, já que a

população citadina e seus arredores sofriam com grandes epidemias. Em área localizada na

atual travessa Nove de Janeiro esquina com Fernando Guilhon foi montado um forno

crematório de lixo e animais mortos. Na época a Cremação era afastada do centro da cidade

no intuito de tratar ares fétidos causados pelo lixo urbano (CASTRO, 2009).

Vale resaltar que o acelerado crescimento urbano não foi seguido da implantação de

infraestrutura adequada, a qual aliada à falta de equipamentos urbanos gera baixos índices de

educação, saneamento básico, saúde e emprego para garantir bem-estar e qualidade de vida

para população local. Sendo assim, o processo de urbanização tem como consequência vários

problemas ambientais, dentre as mesmas a deterioração do ambiente, que acaba crescendo por

efeito indireto de sobrevivência da população excluída (BECKER, 2001; JACOBI, 2002).

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A partir da década de 1970, ocorre o processo de expansão do centro urbano da cidade

de Belém, quando áreas de “baixada” são incorporadas precariamente às ações de políticas

públicas de urbanização, o que provocou relativas melhorias das condições de vida dos

moradores das áreas de “baixada” repercutindo tanto na estrutura física quanto social do

bairro (LOBO, 2006).

Por ser um espaço limítrofe ao centro urbano desenvolvido, ao longo da década de

1990, deixa de abrigar apenas a população de baixa renda, típica do espaço disponível nas

áreas de “baixada” e passa a acolher população do tipo médio e médio superior, apresentando

uma tendência de ascensão às tipologias socioespaciais oriundas da intervenção do Estado e

da especulação capitalista (CARDOSO et al., 2006).

Dentre os seus principais corredores de tráfego, constituídos após intervenções nas

condições de infraestrutura do bairro a Avenida Alcindo Cacela (destacada na ilustração 3) –

que atravessa praticamente toda a extensão do bairro e começa no bairro do Umarizal e finda

à beira do Rio Guamá no bairro da Condor – tornou-se um corredor de subcentro de comércio

e serviços urbanos, gerando uma diferenciação do status dessa região. Nela estão situados a

Unidade Municipal de Saúde – que opera para atender as necessidades de saúde, a Feira

Municipal - que após anos situada no meio da rua passou por uma revitalização e foi entregue

em 2011, comércios de variedades, grandes armazéns, consultórios médicos populares, praça

pública - local onde antes funcionava o Forno Crematório, dentre outras (BELÉM, 2012).

Passando da paisagem natural a paisagem humana, a história da Cremação reflete o vai

e vem das mudanças de lideres políticos. As ações ordenadoras de Antônio Lemos na primeira

década do século 20 e as mais recentes nos anos 40 e 70 tiveram uma inflexão indireta com a

drenagem do canal da Estrada Nova e da qual existem vestígios do então Serviço Especial de

Saúde Pública (SESP) como se vê em algumas comportas de madeira que são parte da

Avenida Bernardo Sayão; apenas marginalmente o bairro foi beneficiado e ademais esse

saneamento não incluiu tratamento de dejetos. Entre o forno de lixo e o primeiro canal da

Estrada Nova, a urbanização se fez quantitativamente e o ambiente não avança de todo

qualitativamente (PENTEADO, 1968).

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Ilustração 3 - Indicação do principal eixo comercial do Bairro da Cremação.

Fonte: Cardoso et al. (2006).

Atualmente, a Cremação encontra-se em processo de reconstrução estrutural devido à

implantação do Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova iniciado em 2009, e que

visa solucionar os problemas de caráter socioambiental, provocados pelas enchentes do Rio

Guamá e pelo acúmulo de lixo o qual provoca o surgimento de condições sub-humanas de

moradia e saúde. Para isso, a Prefeitura de Belém realiza obras de drenagem dos canais

referentes à Sub-Bacia II que atravessam o bairro e que quando concluídas receberão serviços

de acabamento como pavimentação e adaptação das vias que os margeiam o que favorecerá

um maior e melhor escoamento nessas regiões. Ultimamente vem sofrendo uma renovação

urbana, mediante aos grandes impactos na sua estrutura física com o projeto de revitalização

do espaço urbano, asfaltamento de vias, reforma da feira municipal e o novo projeto de

Macrodrenagem da Estrada Nova que vem gerando tratamento dos canais referentes à sua

sub-bacia.

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2 CAPÍTULO I: EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE BELÉM/PARÁ

Este capítulo aborda sobre o processo de construção urbana e a configuração desse

ambiente na cidade de Belém assim como a incorporação das áreas de “baixada” no espaço

citadino para interligar setores e garantir moradia e trabalho próximo ao centro. Abordará

ainda a situação da macrodrenagem em especial a Bacia Hidrográfica da Estrada Nova no

município e as questões relecionadas aos agravos coletivos e as soluções encontradas para

resolver tais questões.

2.1 URBANIZAÇÃO

A cidade de Belém apresenta uma localização geográfica estratégica, encontra-se no

nível mais alto da cota de 15 m, às margens da Baía do Guajará e do Rio Guamá, dista 120

quilômetros do mar no estuário do Rio Pará, o que favorece um sistema hidroviário

independente o que lhe permite um fácil acesso ao Oceano Atlântico, e assim, se beneficia

com a criação de portos para dar vazão à importação e exportação (COUTO; CASTRO;

MARIN, 2002).

Ao longo do século XX ocorreu a consolidação da estrutura urbana de grandes

cidades, época está em que a cidade de Belém se vê inserida ao resto do Brasil, em virtude de

grandes projetos para a ocupação e exploração da Amazônia. Entre os séculos XIX e XX,

Belém viveu um tempo áureo, conhecido como Belle Époque, devido à exploração da

borracha, onde o modelo europeu de urbanização adotado gerou a ocupação do território e a

implantação de vários elementos de infraestrutura como calçamento de ruas, iluminação,

arborização, construção do cais do porto e medidas de saneamento (BARROS et al., 2008;

TRINDADE JR, 1997).

A ocupação se deu de forma diferenciada devido a condições geográficas do território,

o que desencadeou as manifestações de desequilíbrio espacial da estrutura urbana – Belém é

formada por vários acidentes hídricos que no processo de ocupação do solo foram

contornados em vez de serem saneados – o que segundo Penteado (1968) mascarou as

características próprias do sítio de Belém, momento este que origina os problemas referentes à

rede de água e esgoto e escoamento da cidade.

Constituída por terras altas e baixas, a cidade estabeleceu uma segregação espacial

imposta, onde as terras altas e firmes eram ocupadas pela elite local, detentora de poder e de

influências gerando investimentos de infraestrutura. Já as terras baixas e alagadas, próximas à

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área central, conhecidas como “baixadas”3 eram ocupadas pelas classes trabalhadoras e de

poucos recursos, área está de precária ou nenhuma infraestrutura (TRINDADE JR, 1997;

VILLAÇA, 2001).

Esse fenômeno é explicado por Villaça (2001) como o padrão das metrópoles

brasileiras, divididas entre o centro e a periferia, onde a segregação urbana torna-se um

processo de organização espacial, sendo desencadeada pela concentração cada vez mais

diferenciada das regiões gerais da metrópole com classes sociais distintas; mas essas regiões

não são necessariamente exclusivas de uma determinada classe.

Com a dinâmica econômica brasileira, novos padrões de ocupação urbana foram

surgindo devido à intensificação do processo de industrialização e a construção de grandes

eixos rodoviários a partir de 1960, o que induziu um novo fluxo migratório ao longo das

rodovias e provocou o surgimento de meios diferenciados no processo de organização do

espaço urbano, distanciando a população menos favorecida da área central, esta foco das

principais atividades da cidade (BARROS et al., 2008).

Segundo Duarte e Gomes (2002), a cidade se constrói por um processo social

contínuo, onde o fluxo de produção, de troca e de população entra em ação no jogo de forças

para a crescente urbanização. Atualmente, a cidade de Belém é o principal polo metropolitano

da Região Norte, mais para compreender esse status um breve levantamento da dinâmica de

crescimento urbano deve ser explorado. Constituída por uma área territorial de 50,5 mil

hectares, dividido em território continental 17,3 mil hectares e território insular com 33,2 mil

hectares. Passou por vários momentos de crescimento populacional como apresentado por

Rodrigues (1994), entre os períodos de 1940-1950 havia 48.818 habitantes, entre 1950-1960

eram 147.221 habitantes e entre 1960-1970 foram 240.344 habitantes e mais recentemente no

censo de 2010 apresenta uma população em torno de 2.101.883 milhões de habitantes (IBGE,

2012).

Seu crescimento partiu da exploração da primeira légua patrimonial4, que iniciou em

ocupações pioneiras as margens do Rio Guamá e se expandiu para o interior do continente,

constituindo um semicírculo de 6,6 km de raio, composto pelos bairros Jurunas, Batista

Campos, Nazaré, São Braz, Marco, Condor, Guamá, Terra Firme e ao redor da Baía do

3 As “baixadas” são classificadas como áreas urbanas sujeitas às oscilações da maré, encontram-se em nível de

cota de aproximadamente 5-10 metros e que no período chuvoso é atingido por inundações e/ou alagamentos

(PENTEADO, 1968). 4 Corresponde a uma área de aproximadamente uma légua (6.600m), sendo o ponto geográfico que deu origem à

cidade de Belém se estendendo até os limites da atual Dr. Freitas (TRINDADE JR, 1997).

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Guajará composto pelos bairros Cidade Velha, Comércio, Reduto, Umarizal e Telegrafo

(DUARTE; GOMES, 2002; UEMURA et al., 2009).

Dados do IBGE mostram a dinâmica crescente da região metropolitana composta

pelos municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Santa Izabel,

cada um com características peculiares de desenvolvimento, que geraram degradação

ambiental e social no intuito da população em garantir moradia e trabalho, mesmo assim, a

cidade de Belém foi por anos o polo atrativo de contingente populacional, a ilustração 4

apresenta o modo como ocorreu essa dispersão para além da primeira légua patrimonial.

Atualmente, esse crescimento é baixo, 1,3% ao ano, em relação às outras cidades da região

amazônica (CARDOSO et al., 2006; UEMURA et al., 2009).

Ilustração 4 - Fluxos migratórios para as áreas de expansão.

Fonte: Barros et al. (2008).

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A queda do crescimento populacional deve-se ao processo de exploração do solo ao

longo de novas rodovias o que favoreceu o processo de conurbação da região metropolitana, a

valorização imobiliária das terras da “primeira légua” e a saturação das terras baixas próximas

ao centro urbano metropolitano (LOBO, 2006).

Quando as cidades são analisadas por dentro há outra percepção. Visto que, a

organização interna das cidades segue padrões diferenciados mediante as condições

socioeconômicas de sua população, pois todas partem de um Centro Principal, local de

fundação da cidade, de grande valor histórico e detentora de uma área comercial ativa;

Subcentros de Comércio e Serviços, para atender moradores de diferentes bairros afastados do

centro; Bairros Residenciais, zonas de segregação espacial, onde a variável renda é definidora

do espaço e as Áreas Industriais, zona de atrativo para trabalhadores, muitas vezes situadas ao

longo de eixos rodoviários para facilitar o escoamento da produção. Portanto, as grandes

cidades são classificadas como entidades socioespaciais complexas, que se modificam

mediante os interesses capitalistas, esse crescimento econômico gera vantagens e

desvantagem no processo de urbanização, onde o centro é bem servido de serviços urbanos e

comunitários, já as periferias e/ou “baixadas”, são constituídas de pouco ou nenhum serviço

urbano, geralmente classificado como insalubres (SOUZA, 2003; VILLAÇA, 2001).

Com a criação de eixos viários acessíveis, a cidade passa a expandir seus limites

territoriais, onde os valores dos imóveis determinam as características da ocupação, mediante

tal situação, a população de alta renda ocupa terrenos bem maiores que no centro e geram uma

separação crescente entre os locais de moradia e trabalho; também o próprio Estado contribui

com a especulação imobiliária quando gera ações de infraestrutura urbana em determinados

bairros, atendendo uma classe social dominante e formando então zonas mais afastadas para a

população carente que não consegue se manter em zonas centrais ou com estrutura urbana

satisfatória (BARROS et al., 2008; SOUZA, 2003). No caso específico de Belém, seu centro

principal detém uma grande concentração de emprego e renda devido seu comércio ativo e a

presença de grandes instituições públicas e privadas, e possui grandes vantagens estruturais

como infraestrutura urbana, saneamento básico e serviços urbanos e comunitários,

apresentando alta especulação imobiliária.

O crescimento desordenado do Município foi desencadeado por descontinuidades e

alta especulação imobiliária, pela falta de uma política de desenvolvimento urbano que

gerasse melhor distribuição de serviços urbanos, principalmente de saneamento básico e de

infraestrutura de equipamentos urbanos nos bairros ocupados pelos mais pobres. Esse

processo de expansão e transformação urbana proporciona uma baixa qualidade de vida a

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parcelas significativas da população e um forte impacto ambiental na cidade (GROSTEIN,

2001).

Em seus estudos sobre a dinâmica de urbanização da cidade de Belém, Rodrigues

(1996) afirma que o desenvolvimento histórico do município gerou uma somatória de

problemas e conflitos socioambientais e de situações de risco que afetam diretamente à saúde,

à qualidade de vida da população e à qualidade ambiental do espaço físico, os bairros são

locais de reprodução da dominação social, econômica e política através do espaço. Uma vez

consolidado, o espaço urbano cria uma diferenciação de seus setores tanto paisagísticos

quanto funcionais onde os preços do solo são frutos da segregação. Com a valorização das

terras altas e bem estruturadas e a saturação das terras baixas, a dinâmica urbana se modifica e

a população passa a morar ou deixar de morar em um determinado setor (PENTEADO, 1968;

VILLAÇA, 2001).

No caso da Cidade de Belém, a lei nº 7.806, de 30 de junho de 1996 delimita as áreas

que compõem os 71 bairros do Município (ANEXO A). Observa-se a concentração de bairro

tipicamente de classe alta e baixa, como também sua concentração populacional. Atualmente,

as áreas mais densas em população são próximas ao centro – Jurunas, Condor, Cremação e

Umarizal. Portanto, o bairro da Cremação encontra-se como foco de análise desse estudo,

uma vez que, faz parte do centro urbano expandido em área de “baixada”, localiza-se

contíguo a bairros de extrato mais rico (Nazaré e Batista Campos) e com maior e melhor

estrutura de serviços urbanos, como também com bairros de infraestrutura urbana e de

serviços deficientes (CARDOSO et al., 2006).

Sendo assim, algumas considerações a respeito das áreas de “baixada” de Belém

devem ser feitas. Essas áreas correspondem a aproximadamente 40% da área urbana da

capital, situadas em regiões em parte próximas ao centro principal, com dificuldade de acesso

e a população que ocupava esses espaços é de baixo poder aquisitivo. O fluxo populacional

dessas extensões aumenta a partir da década de 60 com o elevado êxodo rural provocando

uma alta densidade demográfica nesse sítio que associado a carência e a insuficiência de

equipamentos urbanos e comunitários proporcionam situações de insalubridade e precariedade

das condições de vida dessa população o que os deixam excluídos do direito à cidadania.

Essas áreas foram inseridas lentamente na estrutura urbana da cidade de modo a solucionar os

problemas referentes à moradia e trabalho da classe operária, atraindo a atenção do poder

público que em momentos específicos, como os chamados anos eleitorais, e circunstâncias

diversas recebem obras de recuperação, saneamento e controle de endemias redefinindo o seu

papel dentro do urbano (TRINDADE JR, 1997).

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Entorno de 20 bairros do município corresponde às áreas de “baixada” e são cortados

por cinco grandes bacias hidrográficas sendo as mesmas: Bacia do Reduto; Bacia da

Tamandaré; Bacia do Una; Bacia da Estrada Nova e Bacia do Tucunduba. Algumas dessas

bacias já sofreram interversão governamental em parceria com a Prefeitura Municipal no

intuito de garantir integração entre setores da cidade, saneamento básico, tratamento de água e

esgoto e melhores condições de saúde, o que gerou valorização do espaço e reestruturação

social configurando-se como zona nobre da cidade (TRINDADE JR, 1997).

Um exemplo relacionado à situação exposta é encontrado nos bairros da Pedreira e do

Marco a partir da Macrodrenagem da Bacia do Una, proporcionando melhoras na

infraestrutura urbana e despertando o interesse do setor imobiliário que vem reformulando as

características socioeconômicas do local mesmo com a existência de políticas públicas

voltadas para as zonas especiais de interesse social, que visa à manutenção da população

típica da área.

2.2 A SITUAÇÃO DA MACRODRENAGEM EM BELÉM: UM ESTUDO SOBRE A

BACIA HIDROGRÁFICA DA ESTRADA NOVA.

Devido à sua localização, a cidade de Belém sofre com inúmeros problemas no seu

sistema de drenagem, uma vez que, o município é entrecortado por furos e igarapés que no

decorrer dos séculos foram aterrados ou canalizados em canais de esgoto, devido à dinâmica

de crescimento urbano (LIMA, 2004; TAVARES, 2008). Isso traz consequências negativas de

várias naturezas. Dentre estas destacamos as expostas por Rodrigues (1996, p.168):

“problemas relacionados à saúde da população que ocupa as margens dos canais; o

assoreamento como consequência dos movimentos de terra mal projetados ou

espontaneamente realizados; a poluição do espaço ambiental e a ocorrência de

significativas alterações no meio biológico”.

Mediante as características físicas da cidade, principalmente no período chuvoso,

surgem várias áreas de retenção hídrica devida a grande deficiência de escoamento, sobretudo

nas áreas de “baixada” – foco de grandes problemas sociais e ambientais. Mesmo a paisagem

que circunda os canais é prejudicada entre outros fatores por lixo não retirado, além das águas

pluviais retidas. Ao longo dos anos Belém vem se desenvolvendo na luta contra sua

topografia, em uma visão global da situação da cidade, vários programas de recuperação

foram implantados.

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Com o desenvolvimento urbano, em meados do século XIX, se dá início ao

aterramento da baixada do Piri, que dividia a cidade em dois extremos (leste – oeste), o que

impedia à expansão contígua da mesma. Sendo assim, as formas naturais do sítio urbano não

foram respeitadas na justificativa de integrar, higienizar e embelezar o município. O mesmo

ocorreu com outros igarapés no interior do espaço citadino principalmente nos trechos das

áreas de “baixada” (PENTEADO, 1968; TRINDADE JR., 1997).

Por intervenção do Serviço Especial de Saúde Pública, na década de 40, houve obras

de drenagem das áreas baixas para proteção da orla fluvial criando-se o dique da Estrada

Nova que compreende no trecho entre o igarapé do Tucunduba e o igarapé da Tamandaré.

Tendo em vista que essa área permanecia parcialmente alagadas o que favorecia a

proliferação de microvetores causadores de doenças (TRINDADE JR., 1997).

Na década de 80, foi realizada a limpeza de canais, coleta de entulhos e a roçagem de

mato nas áreas de “baixada”. Já na década de 90 foi iniciado o Programa de Macrodrenagem

do Una, parceria entre o Estado do Pará e a Prefeitura Municipal de Belém que só veio a ser

finalizada em 2005, mas que, atualmente, é considerado um grande projeto de saneamento e

que gerou muitos resultados positivos no âmbito da qualidade de vida da população e

transformou a região em uma grande área de especulação imobiliária, principalmente por se

localizar próximo ao centro (RODRIGUES, 1996).

O município de Belém conjuga 13 das 14 de suas bacias hidrográficas5 – a maioria das

quais integradas por várias sub-bacias que penetram extensamente o sítio urbano por quase

todos os lados, conforme mostra a ilustração 5. Vale resaltar que com o processo de

urbanização atual muitas dessas bacias de drenagem já sofreram algum tipo de intervenção

(TRINDADE JR., 1997).

5 “Sistema hídrico no qual a drenagem é feita a partir da conversão, por diferença de cota, de toda a massa

líquida para um único ponto, chamado enxutório, seguindo para um rio, mar ou oceano, como ponto final de

deságue” (ABRH, 2000 apud LIMA, 2004, p.31).

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Ilustração 5 – Bacias Hidrográficas da Cidade de Belém.

Fonte: Belém (2012).

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Atualmente, um novo projeto de saneamento está sendo implantado na cidade. O

Programa de Recuperação Urbano Ambiental da Bacia da Estrada Nova (PROMABEN),

iniciado em 2009 e com prazo de finalização em 2014, surge para solucionar problemas

ambientais, dentre os mesmos aqueles relacionados às questões de saneamento básico e

melhorar as condições de acessibilidade habitacionais, de lazer e recreação que afetam os

moradores das áreas de “baixada” (BELÉM, 2012).

A Bacia Hidrográfica da Estrada Nova (BHEN) apresenta uma extensão de 9,54 km²,

sendo a quinta maior bacia hidrográfica existente na Cidade de Belém (Ilustração 6), com

72,70% de seu solo sujeito a alagamento devido sua localização em cotas altimétricas iguais

ou inferior a 4,0 metros e pelos efeitos das marés e/ou das chuvas constantes. Dados do

PROMABEN mostram que o entorno da bacia apresenta em média 300.000 habitantes,

distribuídos em oito bairros – Batista Campos, Cidade Velha, Condor, Cremação, Guamá,

Jurunas, Nazaré e São Brás (Ilustração 7), o que corresponde a 15,6% da população do

município de Belém (BELÉM, 2007).

Ilustração 6 – Bacia Hidrográfica da Estrada Nova.

Fonte: Belém (2007).

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Ilustração 7 – Gráfico da população residente por bairro na BHEN.

Fonte: Belém (2007).

Em pesquisa de campo realizada por Lima (2004), o complexo hidrológico da BHEN é

formado por um conjunto de 10 sub-bacias distribuído entre os bairros já citados

anteriormente e comporta uma extensa rede de canais receptores como mostra o quadro 1.

Quadro 1 – Configuração atual da BHEN.

Sub-Bacias Canal Receptor Largura Extensão (m) Área (ha)

1, 2, 4 e 8 Bernardo Sayão 2,50 5.200 188,95

3 3 de maio 4,50 1.560 115,41

5 14 de março 4,92 1.137 160,15

6 Dr. Moraes 4,30 729 109,70

7 Quintino 4,65 1.465 200,77

9 Caripunas 2,50 338

59,28 Timbiras 3,60 836

10 Arsenal 4,34 458 76,68

Fonte: CODEM (1998) apud Lima (2004, p. 77).

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A partir da década de 1960 quando as áreas de “baixada” são incorporadas ao espaço

urbano, estas não se encontravam com infraestrutura adequada para garantir condições de vida

saudáveis à população que ali se instalara. Nesta época algumas intervenções foram realizadas

pelo governo como o asfaltamento do dique da Estrada Nova que gerou uma pequena

elevação da cota favorecendo o tráfego local e o adensamento populacional (LIMA, 2004).

Já os habitantes que passaram a ocupar de maneira desordenada as margens dos canais

geram um assoreamento dessas margens devido ao lixo, os entulhos jogados dentro de valas e

canais e o mal cheiro por a falta de esgotamento sanitário, provocando um grande impacto

ambiental e de saúde. Essa situação se estendeu por vários anos e agora com a implantação do

PROMABEN deverá garantir melhora da qualidade de vida e da saúde ambiental e social da

população residente nessa bacia (LIMA, 2004; PINHEIRO; GIRARD, 2009).

O programa de macrodrenagem que contempla o bairro da Cremação se encontra em

andamento. Cerca de quatro quilômetros de canais pertencentes à BHEN estão sendo

executado o aprofundamento do leito, com limpeza e retirada de entulhos, elementos que

favorecem a ocorrência de alagamentos e até o assoreamento permanente dos igarapés e

canais, provocando caos ao sistema viários, risco e agravos de saúde e comprometimento do

sistema de água e esgoto. O tracejado contínuo na ilustração 8 pode ajudar a perceber em

imagem aquilo que nosso texto procura destacar (BELÉM, 2012).

Ilustração 8 - BHEN em destaque área que corresponde ao Bairro da Cremação.

Fonte: Belém (2007).

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3 CAPÍTULO II: POLÍTICAS PÚBLICAS

Este capítulo desenvolve-se a partir de um entendimento sobre Políticas Públicas,

como estas são constituídas e no caso específico desta pesquisa se analisa a interação entre as

Políticas Públicas de Saúde e do Ambiente, assim como, os instrumentos que expressam suas

ações dentro do ambiente urbano.

3.1 CONSTITUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

O Estado é a organização dentro de um país com a função de estruturar a sociedade

que o compõe, promovendo o seu desenvolvimento, garantindo sua ordem, segurança e

equilíbrio. O Estado atinge seus objetivos por meio de políticas públicas focalizadas em

questões específicas que são articuladas mediante interesses individuais e/ou coletivos

dependendo do problema a ser solucionado. As relações de troca entre governantes e aqueles

que lhes dão apoio é a essência da ação do Estado (BRESSER-PEREIRA, 2004).

As políticas públicas são construídas para impulsionar o desenvolvimento econômico

do Estado e promover a inclusão social de grande parte dos cidadãos. Para construir e

entender os desdobramentos das políticas de saúde e do ambiente no Brasil certas formulações

teóricas e conceituais devem ser evocadas; aqui se usarão os conceitos de Peters em 1986,

“Política pública é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou por

delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos” e a clássica de Lowi em 2004, em que

política pública é “uma regra formulada por alguma autoridade governamental que expressa

uma intenção de influenciar, alterar, regular, o comportamento individual ou coletivo através

do uso de sansões positivas ou negativas” (SOUZA, 2007, p.68). Com base nesses conceitos

pode-se mencionar que as políticas públicas servem para explicitar relações do governo com a

sociedade e como surgem os instrumentos para sua aplicação, por meio da formulação de

programas, sua implantação, acompanhamento e avaliação; respeitam o ciclo constituído de:

definição do problema a ser resolvido; consciência coletiva para enfrentar o problema; e os

participantes envolvidos nesta arena política. O quadro 2 ilustra a situação exposta e

demonstra as fases que compreende o ciclo das políticas públicas.

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Quadro 2 - Ciclo da política pública e sua relação com a aplicação do modelo de solução do problema.

As instituições são instrumentos criados para colocar em prática as políticas públicas

ocorridas dentro de uma dada arena social, ou seja, resolvem os problemas da ordem do

coletivo. Levi (1991) apresenta a construção dessas instituições e como são articuladas as

políticas sociais e econômicas, sofrendo as devidas adaptações à estrutura organizacional do

Governo e à cultura social local.

Levi (1991, p.80) define que “uma instituição caracteriza-se pela capacidade de

delimitar escolhas e por possuir mecanismos de decisões”, o que acarreta a redução de certos

custos de transação. Instituições de diferentes tipos possuem diferentes arranjos para

monitorar e decidir, onde o poder de barganha e o acesso a recursos são desiguais, o que

implicaria em utilizar pressões sociais para se alcançar um benefício coletivo.

Portanto, a partir do entendimento de como se constitui a criação das políticas

públicas, se observa que setores específicos da sociedade se articulam com a finalidade de

garantir resultados que atendam a seus interesses. Ressaltando que muitos setores se

entrelaçam e se sobrepõem no intuito de manter a dinâmica estrutural necessária ao convívio

entre os cidadãos, sendo o caso das políticas públicas envolvendo a saúde e o ambiente.

3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

O direito à saúde é fundamental, garantido na Constituição Federal de 1988. Sendo

que sua expressão enquanto fundamento inicia-se no art.1º, inciso III que se refere à

dignidade da pessoa humana, ou seja, um princípio básico e fundamental para as condições

dignas da existência humana, pois o Estado deve proporcionar aos cidadãos condições de vida

decente. Mediante tal princípio, a saúde é firmada como um direito social no art. 6º da

Constituição Federal e ao consistir-se enquanto um direito social deve-se analisar sua

materialização efetiva e sua relevância pública nas ações e nos serviços do Estado.

Fonte: Howlett e Ramesh (1995) apud Giovanella et al. (2008, p. 74).

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A saúde abrange vários segmentos do sistema público, sendo fundamental a maneira

como esses sistemas se articulam para assegurar um direito garantido pela Constituição

Federal que em seu art. 196, expressa:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e

econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso

universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação” (BRASIL, 2008, p.114).

O conceito de saúde envolve uma abrangência interdisciplinar, se complexifica e

diversifica cada vez mais em vista de novas demandas que se multiplicam no processo de

existência no urbano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): “Saúde é o completo

bem estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença”. Assim como variável

dependente e independente, causada e causadora, a saúde ambiental6 perpassa aqueles

elementos elencados no conceito da OMS (CAMPOS, 2009, p.116).

Dentre as múltiplas interpretações é notório considerar a saúde como uma qualidade

inata do homem mediante o seu comportamento individual e resultante das suas condições de

vida aos aspectos sociais do ambiente urbano entre os mesmos, a moradia, o lazer, a

infraestrutura e a educação. Ressalta-se ainda que a saúde é influenciada, não apenas por

fatores específicos, ou seja, por processos biológicos e sociais, mas pela interação entre os

mesmos constituindo um sistema complexo e dinâmico em contínuo processo de adaptação e

evolução (AUGUSTO; BELTRÃO, 2008; CAMPOS, 2009; RIBEIRO, 2004).

É mister inserir neste conceito, à qualidade de vida7, relativizando as questões

inerentes à ela e ao ambiente, visto que, este é apresentado como o primeiro princípio do

direito ambiental e assegurado também no art. 225 da Constituição Federal que expõe:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público

e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações” (BRASIL, 2008, p.127).

Desta maneira, podendo assim traduzi-lo como: o Estado tem por obrigação garantir

um ambiente saudável por meio de políticas públicas, dentre estas o saneamento básico, a

6 A Saúde Ambiental compreende a intervenção do setor saúde em nível de território para garantir o

desenvolvimento humano (AUGUSTO; BELTRÃO, 2008, p.30). 7 Termo subjetivo entendido como a percepção do indivíduo sobre o seu próprio estado de saúde, a sua

influência no contexto cultural e no sistema de valores em que o indivíduo esta inserido. Relaciona-se ao grau de

satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e à própria estética existencial (RIBEIRO,

2004, p.61).

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coleta de lixo, a moradia, a educação, a saúde, mais emprego e renda visando manter a

integridade biopsicossocial dos cidadãos, a fim de evitar uma extrema desigualdade e

iniquidade ambiental e na saúde.

Vale ressaltar que, a saúde não pode ser avaliada apenas baseada no modelo

biomédico8, sem considerar a sua dimensão subjetiva, a mesma inclui folclore, costumes, leis

entre outros e a necessária socialização – via educação – para dar suporte ao que pode ser de

fato mente sã, corpo são, ou seja, analisar toda e qualquer manifestação dos sujeitos viventes,

ressaltando seu modo de vida e suas maneiras de se relacionar com o ambiente (CAMPOS,

2009). O que Leff (2001) apresenta em seus estudos sobre a interdisciplinaridade entre as

relações sociedade-natureza, articulando a caracterização do ambiente e a conscientização dos

cidadãos na manutenção do seu estado de saúde.

Dessa forma, faz-se necessário analisar o processo saúde-doença9 como um todo, que

Tancredi, Barrios e Ferreira (1998 apud Silva, 2006, p.3) descrevem como:

“um processo social caracterizado pelas relações dos homens com a natureza (meio

ambiente, espaço, território) e com os outros homens (através do trabalho e das

relações sociais, culturais e políticas) em um determinado espaço geográfico e em

um determinado tempo histórico”.

Para alcançar tal proposto se devem cunhar políticas públicas que relacionem o modo

como à sociedade se organiza social e economicamente e as condições de saúde da população

(alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação), visto

que estão diretamente relacionadas.

A saúde e o ambiente são categorias sociais multifacetadas inseridas em um mesmo

contexto espacial e que interferem diretamente na dinâmica da cidade e do cidadão. Assim a

saúde é um fenômeno forjado dentro e fora do indivíduo e este age de acordo com suas

características socioculturais. A mesma é, particularmente, importante para as populações das

periferias urbanas e rurais, uma vez que, a carência em estruturas físicas e a ação do homem

neste meio são fatores condicionantes da percepção do estado de saúde. A construção do

espaço urbano estimula os indivíduos a adaptar-se física, mental e socialmente as variações do

ambiente ocasionando percepções diferenciadas do processo saúde-doença (IANNI, 2000).

Mediante a interrelação entre o processo de construção do urbano por meio de seus

serviços públicos10

e as dimensões que envolvem a saúde, se inicia a reforma do Sistema de

8 Atenção médica individualizada relacionando a doença apenas ao processo biológico (CAMPOS, 2009).

9 Segundo o Ministério da Saúde “representa um conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam o

estado de saúde e de doença de uma população, que varia em diversos momentos históricos e do

desenvolvimento científico da humanidade” (BRASIL, 2006, p.27).

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Saúde brasileiro após lutas de classes que envolveram atores sociais distintos em busca de

tornar real o direito fundamental à Saúde, analisando sua materialização efetiva e sua

relevância pública nas ações e nos serviços do Estado. Dessa forma, regulamenta-se o Sistema

Único de Saúde (SUS), expressão institucional da política pública de saúde no Brasil

(CAMPOS, 2009).

3.2.1 Sistema Único de Saúde

O SUS foi criado no Brasil pelo art. 198 da Constituição Federal de 1988, quando a

sociedade se mobilizou por meio de Conferências, inclusive internacionais, conforme a Carta

de Ottawa em 1986, em busca de uma Promoção de Saúde11

justa e igualitária, constituindo

uma das metas sociais mais importantes no mundo. Visto que, o subdesenvolvimento de

alguns países está relacionado à pobreza, as doenças e às epidemias e o acesso aos serviços de

saúde era garantido apenas àqueles que podiam “pagar”, ou seja, uma minoria. Sendo assim, o

SUS é fruto da Reforma Sanitária Brasileira que mobilizou vários atores sociais, no intuito de

propor novas políticas e novos modelos de organização do sistema, dos serviços e das práticas

de saúde (CAMPOS, 2009).

Os atores sociais responsáveis pelas reformas sanitárias não foram os mesmos que

levaram adiante a implantação do sistema, visto que, durante sua implantação, novos atores

foram surgindo na arena política em questão. O processo de formulação da política de saúde é

consolidado por um sistema híbrido público e privado e que repercute no acesso aos serviços

de saúde. A rede social que impulsiona o SUS é composta pelos pagadores, Estado e

empresário, responsáveis por gerar os serviços; os provedores, movimento médico

organizado, interessado em prestar os serviços e aproveitar as oportunidades geradas pelo

contexto e o movimento popular de saúde, Conselhos de Saúde e Usuários do Serviço, ainda

com pouca possibilidade de interferência real no mesmo Sistema ou condições de mobilização

e sustentação à Reforma do Sistema (GERSCHMAN; SANTOS, 2006).

A seção da saúde na Constituição Federal de 1988 e as Leis Orgânicas nº. 8080/90 e

nº. 8142/9012

que regulamentam suas ações formulando os papéis dos entes governamentais

10

Lobo (2004) considera serviços urbanos, de acordo com a Lei nº 6.766/79, Art 2º, como sendo compostos pelo

escoamento das águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, e

de energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação, pavimentadas ou não. 11

Silva (2006, p.3) define promoção de saúde como “processo de capacitação da comunidade para atuar na

melhoria da sua qualidade de vida e saúde”. 12

As Leis Orgânicas nº. 8080/90 e nº. 8142/90 foram criadas para regulamentar a legislação que rege o SUS e

dispõe sobre o planejamento, seus instrumentos de ação, bem como, seu financiamento (BRASIL, 2009a).

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na prestação de serviços e na gestão do sistema de saúde constituem as bases jurídicas do SUS

e são complementadas por legislações estaduais e municipais. Esses conglomerados de

ordenamentos jurídicos do sistema de saúde (abrangente e detalhista) quando colocados em

prática, geram diversas dificuldades ao empregar o sistema e a maneira como o serviço é

prestado os cidadãos brasileiros (BRASIL, 2009a).

As ações e serviços de saúde públicos e privados são desenvolvidos de acordo com

Princípios13

e Diretrizes14

que passam a constituir as regras pétreas do SUS. O quadro 3

apresenta essas regras mostrando os direitos dos cidadãos e os deveres do Estado que são: a

Universalidade; a Integralidade; a Equidade; o Direito à informação; a Descentralização e a

Participação comunitária. Podemos observar no quadro que dentre os deveres do estado para

garantir uma política de saúde eficiente deve-se buscar a integração entre outros instrumentos

de ação do poder público.

Quadro 3 – Síntese dos Princípios e Diretrizes do SUS.

PRINCÍPIOS E

DIRETRIZES DO SUS DIREITOS DOS CIDADÃOS DEVERES DO ESTADO

Universalidade no

acesso e igualdade na

assistência

▪ Igualdade de todos às ações e aos

serviços necessários para promoção,

proteção e recuperação da saúde.

▪ Garantia de ações e serviços

necessários a toda a população, sem

preconceitos ou privilégios de

qualquer espécie,

independentemente da natureza das

ações envolvidas, da complexidade e

do custo do atendimento.

Integralidade na

assistência

▪ Acesso a um conjunto articulado e

contínuo de ações e serviços

resolutivos, preventivos e curativos,

individuais e coletivos, de diferentes

complexidades e custos, que reduzam

o risco de doenças e agravos e

proporcionem o cuidado à saúde.

▪ Garantia de condições de

atendimento adequadas ao indivíduo

e à coletividade, de acordo com as

necessidades de saúde, tendo em

vista a integração das ações de

promoção de saúde, a prevenção de

doenças e agravos, o diagnóstico, o

tratamento e a reabilitação.

▪ Articulação da política de saúde com

outras políticas públicas, como

forma de assegurar uma atuação

intersetorial entre as diferentes áreas

cujas ações tenham repercussão na

saúde e na qualidade de vida das

pessoas.

Fonte: Giovanella et al. (2008).

13

De acordo com o Ferreira (2010, p.611) principio é definido como “momento ou local ou trecho em que algo

tem origem; causa primária; origem; preceito, regras”. 14

Diretriz pode ser definida como “linha reguladora de um caminho ou estrada, de um plano, um negocio, ou de

procedimento” (FERREIRA, 2010, p.257).

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Quadro 3 – Síntese dos Princípios e Diretrizes do SUS (continuação).

PRINCÍPIOS E

DIRETRIZES DO SUS

DIREITOS DOS CIDADÃOS DEVERES DO ESTADO

Participação da

comunidade

▪ Participação na formação, na

fiscalização e no acompanhamento da

implantação de políticas de saúde nos

diferentes níveis de governo.

▪ Garantia de espaços que permitam a

participação da sociedade no

processo de formulação e

implantação da política de saúde.

▪ Transparência no planejamento e na

prestação de contas das ações

públicas desenvolvidas.

Descentralização,

regionalização e

hierarquização de ações

e serviços de saúde.

▪ Acesso a um conjunto de ações e

serviços, localizados em seu

município e próximos à sua residência

ou ao seu trabalho, condizentes com

as necessidades de saúde.

▪ Atendimento em unidades de saúde

mais distintas, situadas em outros

municípios ou estados, caso isso seja

necessário para o cuidado à saúde.

▪ Garantia de um conjunto de ações e

serviços que supram as necessidades

de saúde da população e apresentem

elevada capacidade de resposta aos

problemas apresentados, organizados

e geridos pelos diversos municípios e

estados brasileiros.

▪ Articulação e integração de um

conjunto de ações e serviços, de

distintas naturezas, complexidades e

custos, situados em diferentes

territórios político-administrativos.

Fonte: Giovanella et al. (2008).

O SUS é formado por um conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos

e instituições públicas nos três âmbitos de governo, mantidos pelo Poder Público por meio de

administração direta e indireta, não se prestando a um simples sistema assistencialista. Essa

política de saúde se caracteriza por ser uma política redistributiva, ou seja, atinge um grande

número de pessoas e impõem perdas e ganhos para grupos distintos a curto e longo prazo.

A arena política em questão inclui grupos distintos de atores e excluem outros,

formando grupos sociais de interesses específicos, que na visão de Olson (1999) expõe o

papel crucial dos pequenos grupos na obtenção de resultados rápidos e seguro em benefícios

próprios ou coletivos, já que estes se encontram mais organizados e ativos o que favorece seu

potencial de ação. Diferente dos grandes grupos em que a quantidade de participantes, não

permite a tomada de decisão segura e confiável, pois apresentam visões diferenciadas em

relação à mesma questão. Este argumento explica o papel dos atores social que compõem a

arena política da saúde no Brasil compondo o arranjo institucional do SUS.

Dessa forma, observa-se que as Políticas Públicas de Saúde e de Meio Ambiente,

assim como as demais, são concebidas sem considerar hierarquias ou protocolos legais e sim

armadas pelo poder de barganha de grupos de interesse focados em criar ou manter abertas as

janelas de oportunidades para ganhos futuros (GERSCHMAN; SANTOS, 2006).

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A criação do SUS ocorreu no bojo do processo de democratização do país, em que o

Governo Federal delegou aos Estados e aos Municípios grande parte das funções de gestão

das políticas sociais. Arretche (1999, p.119) afirma que: “o grau de sucesso de um programa

de descentralização está diretamente associada à decisão pela implantação de regras de

operação que efetivamente incentivem a adesão do nível de governo ao qual se dirigem”.

A implantação do SUS esbarra nas questões da descentralização e do financiamento.

Uma vez que, o Brasil possui uma quantidade elevada de municípios pobres e a adesão destes

envolve um alto custo político e financeiro de arcar com a responsabilidade pública da oferta

universal de serviços de saúde devido às condições de elevada incerteza quanto ao fato de que

o Governo Federal venha efetivamente a cumprir com sua função de financiamento do

sistema, sem contar com os atrasos desse repasse (ARRETCHE, 1999).

O Estado não possui suporte financeiro suficiente para efetivar a materialização e

universalidade da rede pública de saúde, o que acarreta uma degradação na qualidade dos

serviços prestados mediante aos fortes investimentos tecnológicos da iniciativa privada,

ficando o SUS apenas para atender a classe economicamente desfavorecida, excluídos da

assistência privada, com serviços de atenção básica e com os tratamentos de alta

complexidade, muitos desses que não são cobertos pelos planos de saúde, o que vem a

atrapalhar sua efetividade (MENICUCCI, 2007).

Vale ressaltar que os serviços e programas no SUS estão ordenados em três níveis de

atenção, que são a Básica, a Média e a Alta complexidade que seguem uma lógica

organizacional de forma regionalizada e hierarquizada, como indicado na ilustração 9,

permitindo um conhecimento maior dos problemas de saúde da população. Esse sistema de

rede de serviços conforme apontado por Giovanella et al. (2008, p.627) favorece “a realização

de ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores e educação em saúde,

além do acesso ao conjunto das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis

de complexidade”.

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Ilustração 9 – Modelo da pirâmide: hierarquização e regionalização do SUS.

Fonte: Giovanella et al. (2008).

A atenção básica é o ponto de contato inicial com o SUS, tem o objetivo de cobrir as

afecções e condições mais comuns, assim como, o acompanhamento rotineiro do estado de

saúde da população. Para tal um dos requisitos iniciais esta relacionada à acessibilidade da

população, ou seja, a eliminação de barreiras financeiras, geográficas, organizacionais e

culturais e, portanto garantir à equidade de seus serviços (AUGUSTO; BELTRÃO, 2008;

GIOVANELLA et al., 2008).

As estruturas físicas que proporcionam o funcionamento desse nível de atenção são

providas pelo município e corresponde às Unidades Municipais de Saúde. Neste nível de

atenção os serviços são ambulatoriais compostos por: clínica médica, pediatria, ginecologia e

acompanhamento nutricional. Como também outros procedimentos simples (curativos e

vacinas) e o encaminhamento para outros níveis de atendimento. Sendo que sua configuração

pode variar dependendo das necessidades de cada região (BRASIL, 2009b). Campos (2009,

p.783) resalta ainda que: “um Centro de Saúde primário deveria modificar-se de acordo com o

tamanho e complexidade das necessidades locais, assim como da situação da cidade”. Uma

Atenção Básica bem organizada garante resolução de cerca 80% das necessidades e

problemas de saúde da população de um município, bem como se torna menos oneroso a

gestão da saúde e consolida um dos pressupostos do SUS: a integridade das ações

(CAMARGO; MORRONE, 2005).

Baseado nessas informações observa-se a necessidade do diálogo entre as políticas de

saúde e ambiente visando garantir a harmonia da população. Quando ocorre a conexão entre

as políticas se reduz os custos individualistas e amplia as possibilidades de novos

investimentos, já que estudos mostram a influência positiva e negativa do ambiente na

constituição do estado de saúde.

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3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DO MEIO AMBIENTE

Na Constituição Federal de 1988 o meio ambiente é apresentado como um direito (art.

225); sendo definido como: “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem

física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as formas” (BRASIL,

2006, p.14). Constitui o habitat social do ser humano e nesse contexto o homem é o único ser

vivo que tem o poder de projetar, organizar e destruir o próprio ambiente que ocupa atingindo

proporções individuais e coletivas, onde os valores econômicos, políticos e culturais interfere

diretamente nos impactos gerados (JACOBI, 2006).

O desenvolvimento das cidades vem ocorrendo de maneira muito rápida sem um

planejamento infraestrutural adequado e controlado, levando a uma desorganização financeira

e administrativa das cidades o que acarreta problemas urbanos em nível de segregação

espacial e impactos na saúde (SANTOS, 2005).

As ações do poder público, na maioria das vezes, são influenciadas pelos interesses da

classe dominante do que pelo propósito de gerar bem-estar coletivo, e suas omissões se

manifestam de forma negativa e desorganizada no planejamento e na gestão urbana afetando

dessa maneira diversas ações políticas nos aspectos que envolvem a saúde pública e o meio

ambiente (GIOVANELLA et al., 2008). Dentro das relações que compreendem a saúde e o

ambiente urbano se encontra as questões do saneamento, o quadro 4 a seguir traz informações

a respeito do panorama histórico que envolve essa questão.

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Quadro 4 – Evolução histórica dos aspectos de saúde pública e meio ambiente no setor saneamento no Brasil.

Fonte: Soares, Bernardes e Cordeiro Netto (2002, p.1715).

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Os problemas provocados pelo acelerado desenvolvimento urbano geraram ações

públicas no intuito de estabelecer normas e regulamentar à propriedade urbana e o bem

coletivo. Dessa forma se estabelece o Estatuto da Cidade pela Lei nº 10.257 de 10 de julho de

2001, a fim de regulamentar os art. 182 e 183 da Constituição Federal referente às políticas

urbanas na intenção de ordenar as funções sociais da cidade. Em seu art. 2º, inciso IV, do

Estatuto da Cidade, funda-se um plano de desenvolvimento das cidades ficando o gestor

municipal responsável por garantir a organização interna do município em âmbito social,

econômico e territorial, na intenção de restabelecer o controle sobre o crescimento urbano e

seus efeitos negativos sobre meio ambiente. Já o inciso V deixa ciente sobre a “oferta de

equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses

e necessidades da população e às características locais” (BRASIL, 2001, p.1).

Como instrumento de ação para a execução do Estatuto da Cidade, surge então o Plano

Diretor do Município de Belém, que apresenta em seu art. 3º os princípios fundamentais para

sua gestão que compreende em seu inciso I a função social da cidade em todos os sistemas

públicos. O Plano Diretor Municipal oferece no art. 4º, inciso II, “promover as condições

básicas de habitabilidade por meio do acesso de toda a população à terra urbanizada, à

moradia e ao saneamento ambiental, bem como garantir a acessibilidade aos equipamentos e

serviços públicos”. Entre os serviços públicos garantidos se destaca aqui as Unidades Básicas

de Saúde, levando em consideração sua localização, seus acessos e serviços, uma vez que, a

estruturação da cidade está diretamente liga ao oferecimento e a qualidade dos atendimentos

oferecidos à população e reforçando a relação existente entre as condições de vida geradas

pela problemática urbana e sua interface com a as questões ambientais e da saúde (BELÉM,

2008, p.3; JACOBI, 2006).

Na cidade de Belém, um dos problemas urbanísticos mais preocupantes na

constituição do espaço urbano refere-se à ocupação do solo na garantia de moradia, com esse

objetivo a população de baixa renda concentra-se nas áreas de “baixada” passando a ocupar as

margens de canais e de rios provocando o desmatamento da área gerando desequilíbrio do

ecossistema, outra situação encontrada refere-se ao tipo de moradia e a ausência de

infraestrutura, como saneamento básico. O descaso momentâneo do poder público para essas

regiões fere o direito constitucional referente à dignidade da pessoa e a sadia qualidade de

vida.

Atualmente, grandes investimentos já foram realizados em parcerias entre o Estado e a

Prefeitura Municipal, no intuito de atender as necessidades da cidade. As interversões

ocorridas principalmente nas bacias hidrográficas do interior da cidade mediante as obras de

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macrodrenagem são exemplos de investimentos que incorporam as áreas de “baixada” ao

espaço urbano, pois apresentam localização privilegiada, e após as obras passam por processo

de valorização do território. A urbanização dessas áreas tende a expulsar seus moradores,

visto que, tornam-se áreas de especulações do setor imobiliário. Para essas situações o Plano

Diretor também atua por meio das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) que garantem

um tratamento diferenciado as áreas afetadas pelas obras de macrodrenagem o que permite a

manutenção da população envolvida no local após as melhorias do espaço (BELÉM, 2008;

TRINDADE JR, 1997).

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4 CAPÍTULO III: PERCURSO METODOLÓGICO

Esta dissertação se iniciou a partir de um levantamento de dados sobre a situação

geográfica do bairro da Cremação, com base nos dados estatísticos encontrados no site do

IBGE e com dados sobre os fatores intraurbanos e as transformações estruturais sofridas pelo

espaço nos últimos anos, informações encontradas em jornais locais disponíveis no Arquivo

Público da Biblioteca Arthur Vianna, da Fundação Cultural Tancredo Neves.

Em seguida um registro fotográfico foi desenvolvido pela pesquisadora no entorno da

UMS- Cremação para reconhecimento das características do território em virtude de suas

necessidades e possibilidades mediante as obras decorrentes da implantação do Programa de

Recuperação Urbano Ambiental da Bacia da Estrada Nova (PROMABEN). O entorno da

Unidade de Saúde destaca-se, pois se apresenta em situação crítica em relação às questões de

saneamento básico, visto que exibe esgoto a céu aberto, excesso de lixo nas ruas, mato alto e

animais de grande ponte soltos pela rua. As ilustrações 10, 11 e 12 são referencias as

características territoriais do entorno da Unidade o que nos ajuda a perceber as situações do

espaço urbano referido e as questões sanitárias estudadas.

Ilustração 10 – Situação das margens do Canal da Caripunas.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

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Ilustração 11 – Esgoto a céu aberto no bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

Ilustração 12 – Animais de grande porte soltos pelo bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

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Após autorização do gerente da Unidade (APÊNDICE A), o projeto precisou ser

submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade da Amazônia (UNAMA) para

então ter acesso às dependências e aos documentos da UMS – Cremação, local principal do

desenvolvimento dessa pesquisa, sendo aprovado conforme CAAE nº 02043512.8.0000.5173

(ANEXO B). A coleta de dados ocorreu no período de maio e junho de 2012 e foi constituída

de um levantamento documental dos relatórios de produção mensal e dos mapas de consulta

diária referente aos anos de 2010 e 2011, assim como observações feitas durante as visitas na

unidade. Os anos escolhidos para construção do banco de dados foi definido a partir do início

das obras decorrentes do PROMABEN em 2009 a fim de registrar e conhecer as condições de

saúde da comunidade para posteriormente comparar e demostrar a efetividade das ações de

integração entre as políticas públicas de saúde e do ambiente relacionada às reconstruções

urbanas sofridas pelo local em estudo mediante as obras de macrodrenagem.

A pesquisa constituiu-se de um estudo descritivo de caráter quantitativo, visto que

buscou descrever as características de uma determinada população, fenômeno ou

estabelecimento de relação entre variáveis (XAVIER, 2010). A escolha do método

quantitativo em assuntos que abordam a área da saúde é apresentada por Viana e Baptista

(2008, p.84) como “uma ferramenta essencial para medir o alcance de uma determinada

política, sua linha de base, isto é, a situação inicial de sua implantação, do seu desempenho e

de sua reformulação entre outros”.

Sendo assim, realizou-se a correlação dos dados referentes às características

urbanísticas do entorno do domicílio no bairro da Cremação encontradas no Censo

Demográfico Brasileiro com as demandas gerais dos serviços prestados pela Unidade de

Saúde em específico os atendimentos médicos prestados pelas especialidades: clínica geral e

pediatria, na intenção de levantar quais são as enfermidades comumente registradas pela UMS

– Cremação. Foram excluídas da pesquisa as doenças notificadas a Secretaria Municipal de

Saúde (SESMA) devido falhas no preenchimento dos cadernos de controle e porque a partir

de 2010 as anotações começaram a ser feitas nos prontuários dos pacientes, o qual a

pesquisadora não teve acesso por questões éticas, uma vez que precisaria de autorização de

cada paciente por meio de um termo de consentimento livre e esclarecidos o que ficaria

inviável a execução da mesma.

A UMS – Cremação é uma das mais antigas unidades de saúde da cidade de Belém e

até hoje apresenta a mesma estrutura física; esta unidade é composta por uma equipe de saúde

multidisciplinar (clínico geral, pediatra, ginecologista, odontólogo, nutricionista e equipe de

enfermagem) e oferece os seguintes serviços vinculados à atenção básica: Programa de

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Aleitamento Materno (Pró-Ame); Controle e Tratamento da Pressão Arterial (Hiper Dia); Pré-

natal; realização de exames de Tuberculose e Hanseníase; Saúde Mental; Tabagismo;

Planejamento Familiar e Sala de Vacina.

A análise documental constituiu-se de um levantamento quantitativo dos atendimentos

realizados na unidade através do mapa de produção mensal dos anos de 2010 e 2011, a partir

desses dados obteve-se o universo de cada ano, 21.818 atendimentos em 2010 e 23.607

atendimentos em 2011, e assim realizou-se o cálculo estatístico para identificar o n amostral

(773 por ano). Os anos foram somados e por meio dos mapas de consulta diária (ANEXO C)

das especialidades clínica geral e pediatria colheram-se os CIDs15

para construção de tabelas

referentes às enfermidades que mais acometeram adultos e crianças. Em media foram

coletados de três a cinco códigos de cada mapa, de maneira aleatória, em dias alternados e

divididos de forma proporcional aos doze meses do ano.

Os dados também foram divididos em período seco e chuvoso, uma vez que, a cidade

de Belém não apresenta condições climáticas para a distinção de estações do ano e divide-se

em estação de chuva e de “seca” ou com mais e menos chuva. O período chuvoso corresponde

aos meses de dezembro a junho, devido o elevado número de dias de chuva, como observado

no quadro 5 que registra os dados pluviométricos em duas regiões distintas para determinação

do chamado “inverno e verão” paraense (PENTEADO, 1968); Isso acarreta vários transtornos

na cidade quando canais transbordam e ruas alagam favorecendo o surgimento de vetores e a

contaminação das águas pluviais, principalmente nas áreas de “baixada” devido suas

características ambientais e o perfil dos ocupantes nessa região deixando o ambiente propício

ao surgimento de agravos à saúde e ao ambiente. Dados mostram que o volume pluviométrico

em Belém encontram-se acima da média histórica dos últimos 30 anos e devido às

instabilidades climáticas na Região Norte a tendência é um aumento entorno de 14% da média

anual (O LIBERAL, 2010b).

Quanto à análise estatística esta foi realizada por meio da tabulação dos dados

utilizando o programa Microsoft Excel ®, também empregado para a confecção das tabelas.

15

Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde.

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Quadro 5 - Variação mensal dos Índices Pluviométrico.

Fonte: Penteado (1968).

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5 CAPÍTULO IV: INTERFACES SAÚDE E AMBIENTE NO CONTEXTO URBANO

DO BAIRRO DA CREMAÇÃO.

Os resultados apresentados correspondem à pesquisa de campo referente à

Urbanização e Interfaces com a saúde e ambiente no entorno do bairro da Cremação no

município de Belém, descrevendo suas características ambientais e os serviços de saúde

encontrados no mesmo, assim como a maneira como esses elementos se interrelacionam na

constituição do processo saúde-doença e saúde ambiental da população envolvida buscando

responder ao problema central da pesquisa.

4.1 ANALISANDO DADOS E COMPARANDO RESULTADOS

Os Censos Demográficos originalmente tinham a função de contabilizar o tamanho da

população de um país, atualmente é utilizado para quantificar a demanda de bens e serviços

públicos e privados assim como uma gama de informações gerais a respeito das características

demográficas, socioeconômicas, urbanísticas, entre outras. Dessa forma, se tornou uma

ferramenta importante no planejamento público do país e fonte de informação para a produção

de pesquisa científica (JANNUZZI, 2006).

Visando atingir um dos objetivos específicos dessa pesquisa que corresponde à

descrição das particularidades atuais do bairro da Cremação se utilizou dados do Censo

Demográfico dos anos 2000 e 2010 com a finalidade de avaliar como o bairro se encontra em

relação às características urbanísticas e sua influência nas questões da saúde pública, da

constituição do processo saúde-doença e do ambiente urbano.

A ilustração 13 mostra a delimitação do bairro em estudo dividido por setores

censitários16

, destaque para a localização da Unidade Minicipal de Saúde, local onde a

pesquisa foi desenvolvida. Nesta imagem, observa-se a configuração do bairro que apresenta

um traçado bem definido, o que possibilita um fácil escoamento de tráfego e deslocamento ao

centro principal.

16

Entende-se por setor censitário a “unidade geográfica de coleta que, na zona urbana, compreende cerva de 300

domicílios” (JANNUZZI, 2006, p.40).

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Ilustração 13 - Localização dos setores censitários, Bairro da Cremação, 2010.

Fonte: Google Earth (2012).

Os dados apresentados são resultados de estudos sobre as Características Urbanísticas

do Entorno do Domicilio baseados no Censo Demográfico de 2010, com o objetivo de

conhecer a infraestrutura urbana do país e no caso desta pesquisa, em especifico, o bairro da

Cremação por meio de mapas disponibilizado pelo professor Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo

do Grupo de Pesquisa em Indicadores de Qualidade de Vida da Amazônia.

Informa-se que os dados abordados abaixo se referem à pavimentação, calçamento,

arborização e acúmulo de lixo e a maneira como essas características interferem de forma

direta e indireta na condicionante do estado de saúde e de doença da população.

As ilustrações 14 e 15 mostram as características do bairro a respeito da pavimentação

e do calçamento, observa-se que, aproximadamente, 80-100% do mesmo encontra-se

pavimentado, mas em relação ao calçamento esse percentual é bastante diversificado, com

referencia ao entorno da UMS – Cremação esse percentual não ultrapassa 20% de áreas com

calçada. O maior nível de calçamento pode ser encontrado nos setores censitários que

margeiam os bairros de extratos mais elevados como o bairro da Batista Campos e Nazaré

como exposto pelo Censo (IBGE, 2010) observando que as melhores condições do entorno

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dos domicílios esta ligado ao poder aquisitivo da população. Isso chega a ser ambivalente já

que os órgãos públicos providenciam estrutura de acesso à passagem de veículos, mas não

proporcionam acesso ao deslocamento seguro de pedestres, uma vez que, a manutenção das

calçadas é de responsabilidade dos moradores.

Ilustração 14 - Percentual de domicílios situados em logradouros com pavimentação.

Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).

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Ilustração 15 - Percentual de domicílios situados em logradouros com calçada.

Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).

Durante a pesquisa de campo, ao realizar a documentação fotográfica, encontrou-se

situações contraditórias ao apresentado pelos dados estatísticos como veremos nas ilustrações

16, 17 e 18, onde as áreas compreendidas por canais e algumas transversais não apresentam

pavimentação tão pouco calçamento adequado e quando pavimentadas se depara com

calçadas irregulares, desnivelas ou inexistente, já o entorno da UMS – Cremação apresenta

pavimentação e calçamento regular e constante, o que vai contra os dados apresentados pelo

IBGE. Esclarecendo que as informações coletadas pelo Censo são do ano 2009/2010 e o

registro fotográfico refere-se ao ano de 2011 podendo ter ocorrido alterações da paisagem

urbana no intervalo de coleta dos dados.

Uma consideração importante a fazer mediante a situação apresenta anteriormente diz

respeito à permeabilidade do solo17

nas áreas de “baixada”, já que os materiais impermeáveis

utilizados no processo de urbanização como asfalto, cimento, entre outros, impedem o

escoamento natural das águas e favorecem mudanças no comportamento da drenagem e que

dependendo das características físicas e climáticas locais trazem como consequência o

17

“A permeabilidade do solo é um dos atributos físicos mais importantes para indicar a qualidade de um solo.

Podendo ser definida como a maior ou menor facilidade que os solos oferecem à passagem de água” (SAMPAIO

et al., 2006, p. 798).

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surgimento de áreas alagadas no interior da cidade o que propicia locais favoráveis ao

surgimento de enfermidades (LIMA, 2004).

Ilustração 16 – Situação do calçamento de um ponto do bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

Ilustração 17 – Situação da pavimentação de um ponto do bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

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Ilustração 18 – Calçamento e pavimentação do entorno da UMS – Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

Outro elemento, que deve ser avaliado diz respeito à arborização, já que a mesma

apresenta benefícios tanto para a saúde ambiental como a saúde da população. Segundo Shuch

(2006) uma arborização bem planejada proporciona a estabilização e melhora do microclima,

reduz a poluição atmosférica e sonora como também contribui para a melhoria estética da

cidade e ações sobre a saúde humana. Nesse sentido, o nível de arborização afeta os fatores

intraurbanos e consequentemente melhora a qualidade de vida da população.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendam que deva existir no

mínimo 12m² de área verde por habitante devido sua importância para a regulamentação

climática e purificação do ar. A poluição do ar é um problema mundial que gera repercussões

tanto na saúde ambiental quanto na saúde humana e atinge altos índices na população urbana.

Por esta associada à inalação do ar poluído, as doenças do sistema respiratório são as mais

comuns, em estudos realizados em São Paulo foi constatado que o SUS gasta em torno de 24

milhões de reais em doenças respiratórias, fato esse que poderia ser alterado caso houvesse

um maior número de árvores por habitantes como preconiza a OMS, já que as mesmas tem a

capacidade de reter partículas e poluentes, o que minimiza os efeitos gerados pela poluição do

ar (GOUVEIA, 1999; SCANAVACA JUNIOR, 2011; SHUCH, 2006).

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Scanavaca Junior (2011, p.2) afirma que “a arborização bem feita também está

relacionada com uma maior expectativa de vida, menor pressão arterial, menores índices de

diabetes e colesterol, menores estresse e irritabilidade”.

Desta forma, torna-se relevante mencionar a realidade de Belém, onde dados do último

Censo/2010 mostram que a cidade apresenta apenas 22,4% de árvores no entorno do

domicilio, situação essa preocupante visto que a capital paraense localiza-se dentro da floresta

Amazônica. Lembrando ainda da existência de tipos específicos de arborização para os

centros urbanos, já que nem todo o tipo de vegetação atinge os objetivos preconizados pela

OMS (D’ALMEIDA; SANTOS, 2012).

A ilustração 19 representa os dados encontrados no bairro da Cremação com relação à

arborização, na qual se observa uma desigualdade no percentual de distribuição. O entorno da

UMS encontra-se bem arborizada entre 80-100%, pois está localizada ao lado da Praça

Dalcídio Jurandi, que apresenta vegetação variada, mas que não contemplam de maneira

satisfatória as necessidades de saúde humana e ambiental do bairro.

Na região, também se observa áreas que apresentam até 20% de arborização, essas se

localizam nas proximidades de bairros que se caracterizam pelo processo histórico de

ocupações desordenadas e degradação ambiental com a finalidade de garantir moradia.

Scanavaca Junior (2011) relaciona a arborização com a pavimentação alegando que a falta de

árvores na cidade ocasiona danos ao asfalto, já que as alterações provocadas pelo microclima

urbano geram dilatações e contrações diárias favorecendo o surgimento de rachaduras.

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Ilustração 19 - Percentual de domicílios situados em logradouros com arborização.

Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).

O último componente avaliado por essa pesquisa diz respeito ao acúmulo de lixo em

via pública, dados do Censo/2010 mostram que o percentual de depósito/acúmulo de lixo no

entorno do domicílio é proporcional ao tamanho do município e afeta diretamente a qualidade

de viva de seus habitantes deixando-os expostos a ambientes insalubres, visto que

proporcionam o aparecimento de roedores e animais peçonhentos provocando impactos na

saúde da população, na cidade de Belém esse percentual corresponde a 10,4% (IBGE, 2012).

O despejo irregular do lixo em via pública acarreta o entupimento de valas, bueiros e o

assoreamento de rios e canais que quando associados ao volume intenso de chuva acarreta

transtornos no trânsito e no deslocamento da população devido à dificuldade do escoamento,

trazendo consequências graves à dinâmica ambiental da cidade. Desta forma, o lixo e o

entulho despejados sem maiores cuidados passam a ser arrastados pela chuva gerando

destruição das áreas verdes, provocando mau cheiro, proliferação de bichos e agravos à saúde

ocasionando doenças em adultos e crianças. Quem mais sofre com esse fenômeno é a

população localizada nas áreas de “baixada”, principalmente aqueles que habitam em áreas

cortadas por canais (GOUVEIA, 1999; RÊGO; BARRETO; KILLINGER, 2002; O

LIBERAL, 2008).

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No caso do bairro da Cremação, essa situação é sempre recorrente, tendo em vista que,

os canais dispostos no espaço sofrem com o assoreamento provocado pelos dejetos jogados

dentro e ao redor dos mesmos, quando se encontram transbordados chegam a ser visualmente

impossíveis de se delimitar o canal da via pública. No censo de 2000, dos 6.998 domicílios

visitados 99,7% afirmam que o lixo domiciliar é coletado, mas na prática o que se vê são a

formação de bolsões de entulho nas vias públicas que se expandem rapidamente e pioram

após fortes chuvas. O conjunto de fatores apresentado até agora refletem diretamente na saúde

da população estudada, sobretudo nas crianças que se encontram vulneráveis as condições

ambientais urbanas como veremos nos dados discutidos adiante (IBGE, 2000; O LIBERAL,

2010a).

A ilustração 20 expõe os resultados do Censo de 2010 a respeito do percentual de

domicílios situados em logradouros com acúmulo de lixo no bairro da Cremação, os dados

mostram uma situação preocupante, isto é, praticamente todos os logradouros apresentam lixo

urbano espalhado no decorrer das vias públicas. Até mesmo no entorno da UMS – Cremação

a taxa não ultrapassa 20%, mostrando uma discrepância enorme se comparado com os dados

apresentados no censo de 2000.

Ilustração 20 - Percentual de domicílios situados em logradouros com acúmulo de lixo.

Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).

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Em um estudo realizado sobre o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos da

bacia da Estrada Nova, Pinheiro e Girard (2009) mostram que mesmo possui coleta de

resíduos e serviço de limpeza, os bairros compreendidos pela BHEN permanecem com pontos

fixos de acúmulo de lixo domiciliar, devido à própria população não respeitar os horários de

coleta do lixo e de entulhos nas vias e canais. No estudo realizado pelas autoras mencionadas,

duas perguntas e suas respectivas respostas merecem destaque como veremos nas ilustrações

21 e 22 em relação à situação ambiental vivenciada pelos moradores dos bairros envolvidos

pelo PROMABEN a respeito do porque jogam lixo e entulhos nas vias públicas ou canais e

qual a influência do lixo de modo geral na saúde da comunidade.

Ilustração 21 – Por que você necessita jogar estes resíduos nestes locais?

Fonte: Pinheiro e Girard (2009).

Ilustração 22 – Acha que as doenças que aparecem na comunidade podem ter

influência do lixo que está acumulado nas ruas e canais.

Fonte: Pinheiro e Girard (2009).

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Os resultados encontrados pelas autoras fundamentam os dados apresentados nas

tabelas a seguir em relação à influência do lixo no surgimento de enfermidades nos moradores

do bairro da Cremação atendidos em sua UMS.

A seguir serão mostradas algumas ilustrações (23, 24, 25 e 26) realizadas durante a

pesquisa de campo em relação aos pontos de acúmulo de lixo nas vias públicas e nos canais

do bairro da Cremação, confirmando os dados apresentados pelo Censo/2010 e pelas autoras

Pinheiro e Girard (2009).

Ilustração 23 – Acúmulo de lixo em via pública no bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

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Ilustração 24 – Acúmulo de lixo na Av. Alcindo Cacela no bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

Ilustração 25 – Entulhos despejados aa margens do canal da Dr. Moraes no bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

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Ilustração 26 – Entulhos despejados as margens do canal no bairro da Cremação.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.

Finalizando esta etapa da coleta de dados sobre as características urbanísticas do

entorno do domicílio a partir do Censo Demográfico 2010, em especial, o que envolve o

bairro da Cremação observa-se que a inserção desses fatores apresentam grandes valores a

pesquisa e a exploração dos resultados proporciona um olhar diferenciado na aplicação e

integração das políticas públicas de saúde e ambiente. A seguir, na ilustração 27 serão

apresentados outros determinantes que também foram levantados pelo Censo Demográfico de

2010 e não utilizados nesta pesquisa, mais com grande relevância na constituição do urbano.

Ilustração 27 - Percentual de domicílios particulares permanentes urbanos, segundo

as características do entorno dos domicílios – Brasil – 2010.

Fonte: IBGE (2010).

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A seguir, serão tratados os dados obtidos na UMS – Cremação em relação aos serviços

ofertados e suas demandas de atendimento, no intuito de relacionar os índices encontrados

com as características urbanísticas do bairro, os anos utilizados para a coleta dos dados

também foram estudados com cuidados para poder proporcionar resultados compatíveis com a

proposta do estudo.

A tabela abaixo mostra os dados referentes às demandas de atendimento pelos

profissionais na UMS – Cremação nos anos de 2010 e 2011 e vale resaltar que devido à

planilha de atendimento diário referente ao mês de março de 2010 se achar incompleta não foi

possível considerá-lo na pesquisa.

Tabela 1 – Dados referentes à demanda de atendimento pelos

profissionais na UMS - Cremação no ano de 2010 e 2011.

Demanda de

Atendimento

2010

Demanda de

Atendimento

2011

Janeiro 3237 3508

Fevereiro 3714 5093

Março 4504

Abril 5716 5497

Maio 5283 4971

Junho 4395 5954

Julho 4763 4055

Agosto 4572 3567

Setembro 4412 4350

Outubro 4596 4439

Novembro 5282 3922

Dezembro 4513 3680

TOTAL 40483 53540 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).

A demanda de atendimento do ano de 2011, nos meses de janeiro, fevereiro e junho

obtiveram uma média maior em relação aos atendimentos de 2010 e que nos outros meses a

média de atendimentos de 2010 são maiores que 2011. Mostrando que mesmo como as

alterações urbanas que vem ocorrendo no bairro da Cremação via Macrodrenagem da Estrada

Nova não houve significância estatística na comparação dos números de atendimentos. O

resultado também se justifica, pois as obras do PROMABEN ainda não foram concluídas e os

anos referentes à coleta de dados são próximos ao início da obra, tendo em vista que, os

transtornos causados pelas obras também geram riscos a manutenção do estado de saúde.

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Na tabela seguinte serão apresentados os dados referentes às demandas por serviços

prestados pela UMS – Cremação, serviços estes vinculados a atenção primária à saúde.

Considerando os atendimentos dos consultórios médicos nas áreas de clínica geral, pediatria.

Tabela 2 – Dados referentes à demanda de atendimento por especialidades na UMS -

Cremação no ano de 2010 e 2011.

Demanda de

Atendimento

2010

Demanda de

Atendimento

2011

Consultórios Médicos 21818 23607

Enfermagem 4871 6520

Assistência Social 5390 6536

Nutrição 1399 2023

Farmácia 17005 14854

TOTAL 50483 53540 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).

A demanda de atendimento de 2011 obteve uma média maior do que 2010, para os

profissionais de enfermagem, assistência social e nutrição, no entanto, esses dados são

justificados pela administração da Unidade em decorrência dos programas de governo

implantados ou ampliados a partir de 2010. Sendo assim, os atendimentos de enfermagem

aumentaram, pois este serviço é responsável pela triagem dos atendimentos, dessa forma,

esses profissionais chegam a resolver casos simples sem a necessidade de atendimento

médico especializado. No caso do serviço de nutrição, com o aumento da cobertura do

Programa Bolsa Família e a exigência do acompanhamento nutricional de maneira semestral

nos meses de junho e dezembro a demanda tende a aumentar. Já a respeito do serviço

farmacêutico com a ampliação do Programa Farmácia Popular no ano de 2011 a tendência é

reduzir a concentração na distribuição de medicamentos pela Unidade de Saúde.

Vários estudos apontam a relação existente entre as questões do ambiente urbano e a

saúde. Gouveia (1999) mostra que a urbanização acelerada ocasiona enormes repercussões na

saúde da população visto que as cidades crescem sem infraestrutura adequada e carente de

serviços essenciais refletindo diretamente na população de baixa renda.

Nos principais centros urbanos, no intuito de garantir moradia e trabalho, a população

passa a viver em condições precárias e sem aceso aos bens e serviços básicos de saneamento,

saúde e educação (FREITAS; PORTO, 2006). No caso da cidade de Belém, as áreas de

“baixada” próximas ao centro refletem essa situação e em específico o bairro da Cremação

que sofre com problemas relacionados com a infraestrutura inadequada e falta de saneamento

básico. Dados do Censo de 2000 mostram a distribuição de domicílios particulares

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permanentes, por tipo de esgotamento sanitário, na qual o tipo de esgotamento predominante

ficou em torno de fossa séptica com 3.558 domicílios e 2.622 apenas vão para a rede geral de

esgoto, desta forma, observa-se a precária situação do saneamento nesse espaço citadino

(IBGE, 2000).

Dados do IBGE de 2010 mostram que a cidade de Belém apresenta índices

insatisfatórios referentes à urbanização e ao saneamento, 44,5% do esgoto da cidade encontra-

se a céu aberto. A Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN) é o órgão responsável pelos

serviços e obras de saneamento básico e drenagem urbana no município; dados dessa

instituição revelam que apenas 45% do sítio urbano são cobertos por esse serviço, mas que o

mesmo encontra-se em expansão. As áreas não pavimentadas da zona de expansão e as

“baixadas” são servidas por valas e canais que precisam de obras intensas de macrodrenagem

para melhor adequação da população a um estilo de vida saudável (D’ALMEIDA; SANTOS,

2012; RIBEIRO, 2004).

A tabela 3 apresenta as demandas de atendimento por meio do levantamento dos CIDs

encontrados nos mapas de consulta diária nos anos de 2010 e 2011 realizados pelo serviço de

clínica geral da UMS – Cremação no período chuvoso.

Tabela 3 – Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clinico geral no período chuvoso

dos anos de 2010 e 2011.

N %

Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 25 7

Neoplasias [tumores] (C00-D48) 01 1

Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários (D50-D89)

13 3

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 19 5

Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) 31 9

Doenças do sistema nervoso (G00-G99) 13 3

Doenças do olho e anexos (H00-H59) 09 2

Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 128 33

Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 16 4

Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 29 8

Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 10 3

Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo

(M00-M99)

09 2

Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 23 7

Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de

laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)

20 6

Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de

causas externas (S00-T98)

08 2

Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os

serviços de saúde (Z00-Z99)

18 5

TOTAL 372 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).

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Constata-se que doenças do aparelho circulatório são as de maior prevalência, uma

vez que, este é um atendimento típico da atenção básicas de saúde devido o Programa

Hiperdia responsável pelo controle da hipertensão arterial sistêmica e do diabetes preconizado

pelo Ministério da Saúde. Seguido por enfermidades relacionadas aos transtornos mentais e

comportamentais; doenças do aparelho digestivo; doenças infecciosas e parasitárias; doenças

do aparelho geniturinário e sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de

laboratório, não classificados em outra parte.

Em levantamento realizado por Freitas e Porto (2006) expõem que as populações

expostas a riscos ambientais devido à falta de infraestrutura urbana apresentam diversas

doenças infecciosas e parasitárias decorrentes das condições sanitárias inadequadas.

Confirmando os dados encontrados nesta pesquisa em relação aos tipos de atendimento

prestados pela UMS - Cremação. Observa-se que estas se caracterizam como uma doença

típica da população carente que apresentam uma alimentação inadequada devido ao baixo

consumo de nutrientes essenciais que podem gerar alterações no aparelho digestivo, como

também a falta de cuidados com o corpo e higiene pessoal.

Os moradores das áreas de “baixada”, como é o caso do bairro da Cremação que

apresentam uma quantidade elevada de acúmulo de lixo em via pública estão sujeitos aos

mais graves problemas relacionados aos fatores de risco ambiental que afetam a saúde. Dessa

forma, as doenças infecciosas e parasitárias representam um importante problema de saúde

pública em países em desenvolvimento (MORAES NETO; SANTOS; ALMEIDA, 2009;

RÊGO, BARRETO, KILLINGER, 2002).

No que se referem aos sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de

laboratório, não classificados em outra parte, ou seja, as típicas “viroses”, surgem de maneira

sazonal quando os sujeitos encontram-se vulneráveis em relação a déficits do sistema imune,

esse achado é explicado por Wady et al. (2004) que demonstra que a carência no consumo

diário de micronutrientes (cálcio, zinco, ácido fólico, vitamina C e vitamina A) estão

associados à função imunológica. E que por sua vez Ing et al. (2000 apud Wady et al. 2004,

p.14) comprovam em seus experimentos “que a desnutrição proteica pode aumentar a

suscetibilidade a infecções parasitárias gastrintestinais, assim como prolongar o tempo de

infecção”. Ou aos riscos de contaminação causada pelos transtornos causados pela chuva

associados à falta de saneamento e as características urbanísticas (GOMES, 2012).

Um detalhe importante para se observar faz alusão a demora em fechar um diagnóstico

e a negligência por alguns profissionais que só investigam o biológico e não interpretam o

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ambiente em que o indivíduo esta inserido acarretam tratamentos errôneos e comprometem a

notificação da doença e a política de intervenção na comunidade (CRUZ, 2012).

Já a tabela 4 mostra o levantamento dos CIDs encontrados nos mapas de consulta

diária do serviço de clínica geral nos anos de 2010/2011 referente ao período seco.

Tabela 4 – Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clinico geral no período seco dos

anos de 2010 e 2011.

N %

Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 27 7

Neoplasias [tumores] (C00-D48) 02 1

Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários (D50-D89)

32 8

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 31 8

Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) 23 6

Doenças do sistema nervoso (G00-G99) 22 6

Doenças do olho e anexos (H00-H59) 10 3

Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 163 40

Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 06 2

Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 12 3

Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 04 2

Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 11 3

Algumas afecções originadas no período perinatal (P00-P96) 01 1

Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de

laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)

16 4

Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de

causas externas (S00-T98)

05 2

Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os

serviços de saúde (Z00-Z99)

15 4

TOTAL 380 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).

Os dados encontrados em relação ao período seco, não apresentaram alterações

significativas se comparado ao período chuvoso e as enfermidades de maior incidência

permaneceram constantes. Apenas um dado ganha destaque na tabela 4 e diz respeito aos

transtornos mentais e comportamentais e as doenças do sistema nervoso. Machado (2004)

relaciona esse achado ao aumento da expectativa de vida que devido o processo de senilidade,

a carência afetiva e o suporte familiar proporciona desordens mentais e comportamentais

relacionados à velhice. Outro fato observado na pesquisa é que no período seco o

deslocamento é mais fácil devido ao clima e à possibilidade de trafegar pelo bairro sem sofrer

com as consequências provocadas por alagamentos.

A seguir, serão apresentados os dados referentes aos atendimentos pediátricos no

intuito de poder comparar mais adiante quais enfermidades acometem mais adultos e crianças

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e quais são comuns à população estudada. Pesquisas mostram que as crianças são as que mais

sofrem com as mudanças climáticas e com as condições ambientais, culturais e sanitárias.

Os dados a seguir revelam as demandas de atendimento do serviço pediátrico da UMS

– Cremação nos anos de 2010 e 2011 igualmente divididos em período chuvoso e seco,

mostrando que as doenças infecciosas e parasitárias são uma constante tanto no atendimento

adulto prestado pelo serviço de clinica geral quanto no infantil, diferenciando apenas as

proporções de acometimentos sendo o pediátrico muito superior.

Em estudo realizado por Ludwig et al. (1999, p. 553) em que analisa a correlação entre

condições de saneamento básico e parasitoses intestinais observou que “as crianças estão mais

expostas à contaminação em função do desconhecimento dos princípios básicos de higiene e

da maior exposição a partir do intenso contato com o solo”. Apresenta também dados sobre a

incidência da enfermidade que é mais elevada na faixa etária de 3 a 9 anos e que a incidência

e prevalência vão decaindo com o avançar da idade mediante as mudanças de hábitos e ao

desenvolvimento do sistema imune.

As áreas de “baixada” são locais sujeitos à degradação ambiental, dos dados já

apresentados, o lixo urbano disperso pelo bairro da Cremação, torna-se foco de transmissão de

doenças entre elas estão às verminoses, infecções intestinais, gripe, leptospirose, dengue,

meningite, dor de cabeça, dor de dente, febre, alergias e náuseas principalmente em crianças

que utilizam os espaços para brincadeiras e jogos de rua.

Como já exposto, as parasitoses são consideradas um grave problema de saúde pública

e são frequentemente encontradas em regiões carentes de infraestrutura urbana e saneamento,

entre os mesmos o esgotamento sanitário, a drenagem e a coleta dos resíduos sólidos e o

abastecimento de água. Pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde indicam que as doenças

de transmissão hídrica conforme quadro 6 são responsáveis por metade das mortes de crianças

até um ano de idade assim como das internações hospitalares (MORAES NETO; SANTOS;

ALMEIDA, 2009; RIBEIRO, 2004).

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Quadro 6 – Doenças de transmissão hídrica.

Fonte: Brasil (2006)

As tabelas 5 e 6 apresentam os dados dos atendimentos pediátricos do ano de

2010/2011 nos períodos chuvoso e seco. Nota-se que independente do período as

enfermidades encontradas são comuns (doenças infecciosas e parasitárias, doenças do

aparelho respiratório e doenças da pele e do tecido subcutâneo) e com percentuais similares

tendo índices superiores a 70%.

O mesmo resultado foi encontrado no estudo de Fernandes e Mainbourg (2005), em

que as parasitoses e as dermatoses estão diretamente ligadas às más condições de saneamento

em bairro com problemas de infraestrutura, de saneamento e de ambiente, o que compromete

a saúde de seus moradores. Na pesquisa de Rêgo, Barreto e Killinger (2002) mostram que os

comprometimentos respiratórios das crianças podem ser decorrentes do odor desagradável

provocado pelos resíduos sólido como também de sua queimada em locais impróprios,

situação esta comumente encontrada na Cremação.

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Tabela 5 – Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no período chuvoso dos anos

de 2010 e 2011.

N %

Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 132 30

Neoplasias [tumores] (C00-D48) 04 3

Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários (D50-D89)

08 4

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 11 5

Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 02 2

Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 111 24

Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 35 9

Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 08 4

Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de

laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)

40 10

Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98) 01 1

Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com

os serviços de saúde (Z00-Z99)

31

8

TOTAL 383 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).

Tabela 6 – Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no período seco dos

anos de 2010 e 2011.

N %

Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 152 36

Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários (D50-D89)

13 4

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 14 4

Doenças do olho e anexos (H00-H59) 07 3

Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 03 2

Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 98 23

Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 01 1

Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 23 6

Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 08 3

Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de

laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)

40 10

Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com

os serviços de saúde (Z00-Z99)

30 8

TOTAL 389 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).

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Vale ressaltar que no período chuvoso devido à mudança climática as doenças como

gripe e pneumonia são frequentes mediante o aumento da umidade. Outro elemento que pode

ser destacado nas tabelas envolve a porcentagem de enfermidades em investigação, ou seja,

aquelas sem diagnóstico fechado.

A pesquisa constata que a população que compõem o bairro apresenta, elevados

índices de doenças relacionadas às características urbanísticas locais assim como os fatores

econômicos, políticos e sociais que não interferem apenas no indivíduo, mas toda a

coletividade. As “baixadas” apresentam uma somatória de problemas que refletem na saúde

de seus habitantes desde sua incorporação na estrutura urbana da cidade de Belém. A

Cremação por apresentar uma topografia e um seu sistema de drenagem deficitário, acúmulos

de lixo em via público, ausência de esgoto sanitário e até o elevado índice pluviométrico da

cidade permitem o surgimento de doenças de transmissão hídrica decorrente do assentamento

desordenado dos seus espaços e ocupação das margens dos canais e a falta de educação

ambiental na conservação do ambiente limpo.

Autores como Duarte e Gomes (2002) mostram que a proliferação de doenças está

associada ao baixo nível de educação, de renda e de conscientização dos moradores com

relação à higiene e cuidados com o corpo, alimentação e habitação. Situações essas facilmente

encontradas no bairro estudado deixando-o vulnerável e precisando de pesquisas científicas

relacionadas a ações públicas na urbanização, na saúde e no ambiente. A ilustração 28 deixa

clara essa relação, quando crianças utilizam um canal como área de lazer ficando expostas as

situações de risco a saúde. Essa posição do autor deixa de lado o lugar e a importância de

políticas públicas.

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Ilustração 28 – Crianças brincando no canal.

Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).

Sendo assim, é de responsabilidade do poder pública a viabilização de soluções

específicas e integradoras entre a tríade urbanização/saúde/doença minimizando e/ou

eliminando riscos ambientais e estruturais e favorecem as condições necessárias para se

atingir uma melhor qualidade de vida.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa apresentou resultados sobre aspectos selecionados da interface entre saúde

e o ambiente por meio da analise das características urbanísticas do bairro da Cremação,

assim como o levantamento das enfermidades registradas pela sua Unidade Básica de Saúde.

É possível observar que esta consegue alcançar todos os objetivos propostos inicialmente.

Descrevemos características atuais do espaço estudado utilizando dados apresentados

pelo Censo Demográfico – IBGE (2010) sobre as características urbanísticas do entorno do

domicílio apontando a existência de elementos urbanos propícios a proliferação de doenças e

que atingem as condições de qualidade de vida.

Entre os dados apresentados, encontramos o percentual referente à pavimentação, na

qual um projeto de nivelamento e saneamento é esperado e devem ser executados respeitando

as estruturas físicas do ambiente, já que o planejamento estrutural das vias públicas nas áreas

de “baixada” devem ser realizadas de maneira que permita uma drenagem adequada e

propicie a suportar o volume de precipitação pluviométrica, pois a impermeabilidade do solo

favorece o surgimento de zonas de alagamento e com drenagem lenta permite o aparecimento

de focos de doenças. Mesmo assim, regiões bem pavimentadas favorecem um melhor fluxo de

deslocamento de veículos e que devem ser associado ao perfil das calçadas para o tráfico de

pessoas. Esses dois aspectos também influenciam nas possibilidades e legislações no acesso

aos serviços de saúde.

Outro elemento analisado diz respeito à arborização, a qual foi possível relacionar com

as condicionantes de saúde e de doença, isto é, a presença de árvores no ambiente urbano

permite um equilíbrio do microclima e do índice de poluição gerados pelo acelerado

crescimento urbano. Em relação ao bairro da Cremação, os dados mostram que as áreas

próximas aos canais pelo processo de ocupação irregular constituem-se de percentuais baixos

de zonas próximas a logradouros de lazer como as praças apresentam um percentual mais

elevado.

O componente mais preocupante encontrado nesta pesquisa foi o excesso de lixo

acumulado em vias públicas, praticamente todo o bairro da Cremação apresenta pontos

críticos para despejo de entulhos. Esse elemento afeta diretamente a dinâmica da cidade, pois

além de influenciar nas condições de saúde, atingem também o deslocamento e o saneamento.

Vários estudos mostram a preocupação envolvendo as questões de saúde, doença e os

resíduos sólidos. Nas áreas de “baixada”, principalmente aquelas constituída por um número

acentuado de canais, também utilizados pelos moradores para eliminar o que não é mais útil e

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necessário favorecendo o assoreamento desses canais que irão afetar o escoamento de água e

até mesmo ocasionar transbordamento desses canais permitindo a disseminação de patologias

veiculadas pela água. Percebe-se que as condicionantes ambientais vivenciadas por essa

população associada a ausência ou ineficiência de fatores intraurbanos possibilitam um

desequilíbrio no ecossistema.

Outro propósito avaliado nessa pesquisa encontra-se vinculado a Unidade Básica de

Saúde da Cremação levando-se em conta todos os serviços que a mesma oferece. Constatou-

se que os serviços ofertados atendem de forma limitada às necessidades da comunidade, visto

que, a estrutura física observada durante a pesquisa não comporta a demanda de todos os

serviços de atenção básica de saúde preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Tão

pouco, tem condições de praticar a sensibilização individual e/ou coletiva em consideração à

educação ambiental e de saúde, no intuito de favorecer uma percepção mais acentuada da

relação existente entre processo de construção do urbano e do processo saúde-doença.

Dentre os resultados encontrados por meio do levantamento das enfermidades pode-se

constatar que as características urbanas no entorno do domicilio do bairro da Cremação

permitem o surgimento e disseminação de doenças, mostrando a dissonância existente entre as

políticas públicas que envolvem as questões do urbano e da saúde. Fazendo mister mencionar

que são as crianças as mais vulneráveis no contexto do cenário urbano como discorrido nesse

estudo.

Todos os argumentos apresentados até o momento foram necessários para responder à

pergunta central que envolve essa pesquisa, desta forma, concluímos que a implantação e

conclusão do PROMABEN trarão benefícios urbanos, ambientais e de saúde, uma vez que

ocorra a integração entre as políticas públicas apropriadas a atender as necessidades das

comunidades envolvidas. Visto que, programas de educação ambiental devem ser

implementados em todos os serviços públicos que se adéquam a proposta de maneira que não

permita que os problemas urbanos encontrados continuem interferindo nas condições de saúde

e que a própria população compreenda a relação existente entre o urbano e sua interface com

a saúde e o ambiente. Desta forma, tende-se a minimizar a demanda de atendimentos e

conduzir a manutenção favorável da condicionante coletiva saúde.

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APÊNDICE A – ACEITE DA INSTITUIÇÃO

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ANEXO A – MAPA DOS BAIRROS DO MUNICÍPIO DE BELÉM

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ANEXO B – COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA

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ANEXO C – MAPA DE CONSULTAS