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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E
MEIO AMBIENTE URBANO
Ana Júlia Cunha Brito
URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE:
o entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação
BELÉM - PARÁ
2012
1
Ana Júlia Cunha Brito
URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE:
o entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação de Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente Urbano da Universidade da
Amazônia como requisito para obtenção do título
de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e
Sá.
BELÉM - PARÁ
2012
2
Ana Júlia Cunha Brito
URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE:
o entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação de Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente Urbano da Universidade da
Amazônia como requisito para obtenção do título
de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e
Sá.
Banca Examinadora:
__________________________________________________________
Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e Sá (Universidade da Amazônia)
Orientador
__________________________________________________________
Profa. Drª Sandra Maria Rickmann Lobato (Universidade da Amazônia)
Examinador externo
__________________________________________________________
Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo (Universidade da Amazônia)
Examinador interno
Apresentado em: 08 / 08 /2012
Conceito:___________________
BELÉM - PARÁ
2012
3
Aos meus pais, José Maria e Anamaria,
pelo apoio e estímulo em minha vida profissional,
Aos meus irmãos Ana Laura, Adriano (Gisele) e Rodrigo (em memória),
por sempre torcerem por mim,
Aos meus sobrinhos, João Pedro e José Victor,
por tornarem meus dias mais alegres.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, sempre presente em minha vida;
À FIDESA – Fundação Instituto para o desenvolvimento da Amazônia pela bolsa de estudo,
que possibilitou a realização da pesquisa;
A minha família, pais, irmãos, cunhada, sobrinhos, avós, tios e primos que torcem pelo meu
sucesso e que me dão força para continuar desenvolvendo um bom trabalho;
As minhas amigas, Daniela Corrêa Teixeira e Tainá Alves Teixeira por confiarem em mim e
me apoiarem nessa e em todas as minhas evoluções profissionais, sempre acreditando no meu
sucesso;
As minhas amigas Biatriz Araújo Cardoso, fundamental para a conclusão desta dissertação,
obrigada pela ajuda da coleta dos dados até os momentos em que eu não aguentava mais
digitar e Iranete Corpes Oliveira França, companheira dessa etapa, valeu a força e o estímulo
para alcançarmos essa vitória.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Samuel Maria de Amorim e Sá, por contribuir com os meus
conhecimentos e conduzir esta pesquisa com compromisso, competência e responsabilidade;
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia que contribuíram para o conhecimento
adquirido durante essa trajetória;
Aos colegas, estagiários e pacientes da Fisioclínica – Unama, onde iniciei minha vida
profissional e pude conviver com pessoas maravilhosas que me incentivaram a ser uma
profissional cada vez melhor;
Aos funcionários da UMS - Cremação, Alberto Simões Jorge Júnior e Taise Cunha de
Lucena, que viabilizaram e disponibilizaram todos os recursos necessários a realização dessa
pesquisa;
Aos Professores Dra. Sandra Lobato e Dr. Marco Aurélio Lobo, que contribuíram de forma
exemplar no direcionamento desse estudo.
5
“É maravilhoso Senhor, sobretudo, ter tão
pouco a pedir e tanto a agradecer.”
Michael Quoist
6
RESUMO
BRITO, A. J. C. URBANIZAÇÃO E INTERFACES COM SAÚDE E AMBIENTE: o
entorno da Unidade Municipal de Saúde da Cremação 2012. Defesa de Dissertação (Mestrado
em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano) – Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Qualidade de Vida e Meio Ambiente, Universidade da Amazônia. Belém, PA, 2012.
A pesquisa objetivou conhecer e avaliar a relação existente entre os serviços de saúde e o
desenvolvimento urbano no contexto de aplicabilidade do Sistema Único de Saúde. Sendo
assim, a pesquisa tratou identificar como foi constituído o espaço urbano de Belém e a
maneira como ocorreu a integração das áreas de “baixada”, o que propiciou desequilíbrios
ambientais no contexto do urbano que refletem direta ou indiretamente nas condições de
saúde da população envolvida. No caso dessa pesquisa, o bairro da Cremação tornou-se foco
de análise perante o seu processo de ocupação e que atualmente vem passando por mudanças
estruturais mediante a implantação do Programa de Recuperação Urbano Ambiental da Bacia
da Estrada Nova, possibilitando dessa forma compreender como são constituídas as políticas
públicas que envolvem o ambiente e a saúde. Os dados utilizados para responder tais
questionamentos foram obtidos por meio de documentação fotográfica das características
urbanas do espaço estudado, de dados obtidos nos Censos de 2000 e 2010, assim como de um
levantamento dos serviços prestados e das enfermidades comumente encontradas nos anos de
2010 e 2011 na Unidade Municipal de Saúde da Cremação, permitindo dessa forma relacionar
a estrutura do bairro em vista ao processo saúde-doença e saúde ambiental da população
pesquisada. Nesse sentido, evidenciou-se que as doenças encontradas no lócus da pesquisa
podem ser facilmente relacionadas à desarmonia da estrutura urbana, o que mostra a
dissonância entre as políticas públicas de saúde e ambiente no processo de reestruturação do
urbano.
Palavras-chaves: Urbanização. Saúde. Bairro da Cremação.
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ABSTRACT
BRITO, A. J. C. URBANIZATION AND INTERFACES TRETUCEN HEALTH AND
ENVIRONMENT: The Environment of a Municipal Health Unit at Cremação (Belém –
Pará) 2012. Defense of Dissertation (Master of Urban Development and Environment) –
Center for Studies and Research in Quality of life and Environment, University of the
Amazon. Belém, PA, 2012.
The research aimed to identify and evaluate the expectations in relation to health services and
urban development in the context of applicability of the Unified Health System, so the survey
was addressed to identify how urban space consisting of Bethlehem and how the integration
occurred of low areas, which provided environmental imbalance in the urban context that
reflect directly or indirectly on the health of the population involved. In the case of this
research, the neighborhood of Cremation has become the focus of analysis to the process of
occupation and currently is undergoing structural changes through the implementation of the
Urban Environmental Restoration Program Basin of New Road, where the neighborhood is
inserted, thus enabling to understand how policies are made that involve public health and the
environment. The data used to answer these questions were obtained by means of
photographic documentation of urban characteristics, as well as data obtained from Census
2000 and 2010, as well as a survey of services and disease found in the years 2010 and 2011
in the Basic health Cremation, thus allowing to relate the structure of the district in view of
the health - disease and environmental health of the population under study. In this sense, it
was evident that the diseases are easily found related to disharmony in the urban structure,
which shows the dissonance between public health policies and environment.
Keywords: Urbanization. Health. District of Cremation.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Delimitação do Bairro da Cremação.......................................................... 17
Ilustração 2 - Situação do Canal da Quintino Bocaiúva.................................................. 18
Ilustração 3 - Indicação do principal eixo comercial do Bairro da Cremação................. 20
Ilustração 4 - Fluxos migratórios para as áreas de expansão........................................... 23
Ilustração 5 - Bacias Hidrográficas da Cidade de Belém................................................. 28
Ilustração 6 - Bacia Hidrográfica da Estrada Nova.......................................................... 29
Ilustração 7 - Gráfico da população residente por bairro na BHEN................................ 30
Ilustração 8 - BHEN em destaque área que corresponde ao Bairro da Cremação........... 31
Ilustração 9 - Modelo da pirâmide: hierarquização e regionalização do SUS................. 40
Ilustração 10 - Situação das margens do Canal da Caripunas.......................................... 45
Ilustração 11 - Esgoto a céu aberto no bairro da Cremação............................................. 46
Ilustração 12 - Animais de grande porte soltos pelo bairro da Cremação........................ 46
Ilustração 13 - Localização dos setores censitários, Bairro da Cremação, 2010............. 51
Ilustração 14 - Percentual de domicílios situados em logradouros com pavimentação... 52
Ilustração 15 - Percentual de domicílios situados em logradouros com calçada............. 53
Ilustração 16 - Situação do calçamento de um ponto do bairro da Cremação................. 54
Ilustração 17 - Situação da pavimentação de um ponto do bairro da Cremação............. 54
Ilustração 18 - Calçamento e pavimentação do entorno da UMS – Cremação................ 55
Ilustração 19 - Percentual de domicílios situados em logradouros com arborização....... 57
Ilustração 20 - Percentual de domicílios situados em logradouros com acúmulo de
lixo.........................................................................................................
58
Ilustração 21 - Por que você necessita jogar estes resíduos nestes locais....................... 59
Ilustração 22 - Acha que as doenças que aparecem na comunidade podem ter
influência do lixo que está acumulado nas ruas e canais....................
59
Ilustração 23 - Acúmulo de lixo em via pública no bairro da Cremação......................... 60
Ilustração 24 - Acúmulo de lixo na Av. Alcindo Cacela no bairro da Cremação............ 61
Ilustração 25 - Entulhos despejados as margens do canal da Dr. Moraes no bairro da
Cremação.................................................................................................
61
Ilustração 26 - Entulhos despejados as margens do canal no bairro da Cremação.......... 62
Ilustração 27 - Percentual de domicílios particulares permanentes urbanos, segundo as
características do entorno dos domicílios – Brasil – 2010......................
62
Ilustração 28 -Crianças brincando no canal..................................................................... 72
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Configuração atual da BHEN......................................................................... 30
Quadro 2 - Ciclo da política pública e sua relação com a aplicação do modelo de
solução do problema.......................................................................................
33
Quadro 3 - Síntese dos Princípios e Diretrizes do SUS.................................................... 37
Quadro 4 - Evolução histórica dos aspectos de saúde pública e meio ambiente no setor
saneamento no Brasil....................................................................................
42
Quadro 5 - Variação mensal dos Índices Pluviométrico.................................................. 49
Quadro 6 - Doenças de transmissão hídrica..................................................................... 69
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Dados referentes à demanda de atendimento pelos profissionais na UMS
Cremação nos anos de 2010 e 2011.............................................................
63
Tabela 2 - Dados referentes à demanda de atendimento por especialidade na UMS
Cremação nos anos de 2010 e 2011.............................................................
64
Tabela 3 - Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clínico geral no
período chuvoso dos anos de 2010 e 2011...................................................
65
Tabela 4 - Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clínico geral no
período seco dos anos de 2010 e 2011.........................................................
67
Tabela 5 - Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no
período chuvoso dos anos de 2010 e 2011...................................................
70
Tabela 6 - Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no
período seco dos anos de 2010 e 2011.........................................................
70
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos
BHEN Bacia Hidrográfica da Estrada Nova
CID Classificação Internacional de Doenças
CODEM Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana
de Belém.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PROMABEN Programa de Recuperação Urbano Ambiental da Bacia da Estrada Nova
SESAN Secretaria Municipal de Saneamento
SESP Serviço Especial de Saúde Pública
SUS Sistema Único de Saúde
UMS Unidade Municipal de Saúde
UNAMA Universidade da Amazônia
ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 13
1.1 DESCRIÇÕES DO LÓCUS DA PESQUISA: O ENTORNO DA UNIDADE
MUNICIPAL DE SAÚDE DA CREMAÇÃO..................................................................
16
2 CAPÍTULO I: EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE BELÉM/PARÁ........... 21
2.1 URBANIZAÇÃO........................................................................................................ 21
2.2 A SITUAÇÃO DA MACRODRENAGEM EM BELÉM: UM ESTUDO SOBRE A
BACIA HIDROGRÁFICA DA ESTRADA NOVA.........................................................
26
3 CAPÍTULO II: POLÍTICAS PÚBLICAS.................................................................. 32
3.1 CONSTITUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS..................................................... 32
3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE........................................................................ 33
3.2.1 Sistema Único de Saúde.......................................................................................... 36
3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DO MEIO AMBIENTE..................................................... 41
4 CAPÍTULO III: PERCURSO METODOLÓGICO.................................................. 45
5 CAPÍTULO IV: INTERFACES SAÚDE E AMBIENTE NO CONTEXTO
URBANO DO BAIRRO DA CREMAÇÃO..................................................................
50
5.1 ANALISANDO DADOS E COMPARANDO RESULTADOS................................. 50
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 73
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 75
APÊNDICE A – ACEITE DA INSTITUIÇÃO................................................................ 81
ANEXO A – MAPA DOS BAIRROS DO MUNICÍPIO DE BELÉM............................. 82
ANEXO B – COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA............................................................ 83
ANEXO C – MAPA DE CONSULTAS........................................................................... 84
13
1 INTRODUÇÃO
A urbanização brasileira começa a partir do século XVIII, quando ocorre a transição
populacional do meio rural para o meio urbano, atingindo seu ápice no século XIX quando a
cidade se organiza mediante as necessidades de seus habitantes no âmbito político, econômico
e administrativo. Possuidor de vários subespaços, o território brasileiro passa a se organizar
seguindo lógica própria, onde as cidades crescem tanto no ponto de vista quantitativo quando
qualitativo, mas não mantém relações umas com as outras, o que favorece uma disparidade
entre as mesmas (SANTOS, 2005).
A cidade de Belém ganha destaque a partir do século XX, fruto da extração da
borracha, onde sua localização privilegiada a torna porta para a exportação e importação de
mercadorias. No intuito de explorar a Amazônia foram surgindo novos eixos de integração e
com isso o fluxo migratório foi aumentando assim como o desenvolvimento da cidade
(PENTEADO, 1968).
A segregação sócioespacial na cidade de Belém é constatada pela forma como ocorreu
a ocupação do solo e a formação dos bairros. A população financeiramente mais favorecida se
concentra em locais centrais e melhor estruturados enquanto que os indivíduos menos
favorecidos financeiramente se concentram em espaços afastados ou quando próximos ao
centro se caracterizam como “baixadas”, em áreas alagáveis e sem infraestrutura adequada
(TRINDADE JR, 1997).
Tal panorama faz surgir uma Belém de contrastes verificando-se a ausência de um
planejamento territorial urbano adequado. Aparecem então vários problemas como: a falta de
coleta de lixo, oferta insuficiente de equipamentos comunitários e da rede de água e esgoto,
precariedade das condições de habitação, falta de estrutura de lazer, dificuldades de acesso a
algumas comunidades e a degradação do meio ambiente com implicações no processo saúde-
doença (SÁ et al., 2007).
Nesse cenário, a questão da saúde avulta, em relação aos conceitos que envolvem o
saneamento básico, pois, sendo parte constitutiva da sociedade contemporânea e síntese de
múltiplas determinações e entrelaçamentos, seu conceito apresenta significados
historicamente constituídos, fazendo emergir várias indagações sobre a situação em que o ser
humano se distingue no meio. Daí resulta que a concepção de saúde e de doença depende do
contexto sociocultural em que os indivíduos ou grupos estão inseridos e da maneira como
constroem seus significados e importância dentro do ambiente (CHAMMÉ, 2002).
14
Sendo o espaço urbano repleto de contradições e indeterminações que refletem na
produção de processos de adoecimento, os sujeitos inseridos em caóticas condições,
econômicas e políticas, estão subordinados a situações de inclusão e exclusão social, onde a
própria cidade se modifica estruturando e desestruturando o acesso aos serviços e
equipamentos urbanos. Haja vista que existe uma grande relação entre um adequado
planejamento territorial urbano, a constituição do processo saúde-doença e as ações de saúde
pública (IANNI, 2000).
Estabelecer essas relações é fundamental para o desenvolvimento e produção de
conhecimento científico a respeito da influência do território como uma das questões centrais
que constituem o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, sendo que, durante o processo de
construção do SUS foi levantada a questão da realidade sociocultural e ambiental em que o
ser humano está inserido. Concluindo-se que as diferentes concepções e representações sobre
o processo saúde-doença e desenvolvimento humano interferem no modo de perceber e
utilizar o sistema, principalmente às ações ligadas a manutenção do estado de saúde, como
também estabelecer a maneira como são constituídas as políticas públicas e o jogo de
interesses existentes entre os atores sociais envolvidos (IRIART, 2003).
Dessa forma, o SUS, que foi concebido a partir de lutas de profissionais de saúde e de
populares por reformas sanitárias, tendo como um dos seus objetivos prioritários montar um
importante mecanismo de promoção da equidade no atendimento das necessidades de saúde
da população, ofertando serviços de qualidade, adequados às necessidades e demandas dos
usuários, independente do poder aquisitivo do cidadão, visto que, a participação dos atores
sociais é um princípio fundamental para o sistema (CAMPOS, 2009).
Nesse contexto o Bairro da Cremação1 entra como objeto de pesquisa, uma vez que,
constitui uma das áreas atingidas diretamente pelas ações das políticas públicas de
saneamento referentes ao novo Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova, já que
pelo mesmo passa grande parte dos canais referentes à Sub-bacia II e sua população na
maioria vive em ambientes insalubres devido à degradação ambiental gerada no processo de
ocupação das áreas de “baixada”. Antes o bairro ou teve desatenção por ser periférico ou teve
1 Bairro de Cremação, tem sua origem no antigo Forno Crematório construído durante a administração do
Intendente Municipal Antônio Lemos (1897 - 1910). Veio junto a outras medidas de saneamento da cidade.
Atualmente, o Forno Crematório encontra-se desativado e funciona como uns dos logradouros de lazer do bairro
a Praça Dalcidio Jurandir (PENTEADO, 1968).
15
uma drenagem parcial em decorrência da construção dos diques da Av. Bernardo Sayão dos
anos da II Guerra Mundial (1935 - 1945) (BELÉM, 2012).
No caso desta pesquisa, o bairro da Cremação e sua Unidade Municipal de Saúde,
aparecem como foco de análise para as questões do ambiente urbano, da saúde e da
operacionalização do SUS, pois durante o processo de urbanização da cidade de Belém –
como referimos – surgiram de maneira desordenada segregações que ocasionaram impactos
na estrutura infraurbana do município e na forma de existir das pessoas com repercussões nos
processos de saúde e doença da comunidade. Este não foi escolhido aleatoriamente e sim por
se encontrar localizado em região próxima ao centro principal da cidade de Belém. A maioria
de seus moradores pertence à classe média baixa e reside em casas modestas e sem
infraestrutura adequada devido ao histórico de sua ocupação quando as áreas de “baixada” são
incorporadas a cidade por um processo de segregação imposta entre as classes. A população
que tem o espaço como moradia e/ou de trabalho convive com problemas relacionados aos
igarapés ou aos canais que o cortam como: Dr. Moraes, Caripunas, Quintino e 14 de março,
acarretando vários problemas estruturais de saneamento e de saúde (MACHADO, 2004;
TRINDADE JR, 1997).
Mediante tal situação, destaca-se a compreensão do real sentido de saneamento básico
como um conjunto das dinâmicas de produção do espaço urbano, estabelecendo relações entre
seres humanos e o ambiente, na intenção de garantir o controle de doenças, promover saúde,
conforto e bem-estar. Mas, essa relação é prejudicada pela falta de conscientização da
população residente em locais que margeiam os referidos canais, pois favorecem a
contaminação das águas e bloqueiam a drenagem pelo acúmulo de lixo e resíduos em geral
propiciando o aparecimento de enfermidades de transmissão hídrica como também da falta de
diálogo entre os setores urbanos municipais o que impossibilita seu relacionamento
(MACHADO, 2004; SOUZA, 2002).
Diante da argumentação anterior, a seguinte questão se estabelece: Como se dá a
interface entre saúde e ambiente mediante as reconstruções urbanas entre elas aquelas geradas
pelo Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova nas demandas dos atendimentos da
Unidade Municipal de Saúde (UMS) da Cremação?
Os resultados da pesquisa podem fornecer à administração pública informações para
delinear políticas públicas mais adequadas e integradas à população estudada, levando em
consideração suas características peculiares e assim garantir um melhor e maior
aproveitamento das transformações urbanas e da interface saúde e ambiente na qualidade de
vida da população.
16
A pesquisa apresentou como objetivo geral conhecer e avaliar a relação existente entre
os serviços de saúde e o desenvolvimento urbano no contexto de aplicabilidade do SUS. Para
se chegar a tal objetivo metas de investigações foram traçadas, sendo estas: descrever as
características atuais do bairro da Cremação; levantar os serviços ofertados na Unidade
Municipal de Saúde em foco; relacionar a estrutura do bairro em vista ao processo saúde-
doença e saúde ambiental na população em estudo e identificar os agravos coletivos com
ênfase na saúde ambiental.
Para a produção desta dissertação o pressuposto teórico baseou-se na construção de
capítulos pertinentes ao assunto proposto. Portanto, o capítulo I aborda sobre a evolução
urbana da cidade de Belém e a incorporação das áreas de “baixada” por meio de projetos de
benfeitorias e macrodrenagem, levantando os fatores que influenciaram no surgimento de
agravos ambientais e de saúde. O capítulo II apresenta a maneira como foram constituídas as
políticas públicas, a interação entre as políticas de saúde, ambiente e saneamento, assim como
seus instrumentos de ação. No capítulo III será exposto o percurso metodológico utilizado
para alcançar os resultados da pesquisa. Já o capítulo IV mostra a interface saúde e ambiente
por meio da análise dos dados encontrados na pesquisa de campo e por fim serão apresentadas
as conclusões obtidas para responder o problema central que culminou esse estudo.
1.1 DESCRIÇÕES DO LÓCUS DA PESQUISA: O ENTORNO DA UNIDADE
MUNICIPAL DE SAÚDE DA CREMAÇÃO.
O bairro da Cremação situa-se na zona sul do espaço urbano da cidade de Belém, de
caráter popular, em cota de nível de 5-10m. Apresenta um quadro de pobreza e violência,
reflexo de diferenças na distribuição dos serviços e equipamentos urbanos. Penteado (1968,
p.298) descreve suas características comuns como: “seus quarteirões são amplos e traçados
com uma regularidade que demonstra a existência de certo planejamento, através do qual o
traçado de suas ruas foi, de certo modo, adaptado às condições do sítio”. A imagem abaixo
apresenta a delimitação espacial do bairro da Cremação mostrando seus bairros fronteiriços.
17
Ilustração 1 - Delimitação do Bairro da Cremação
Fonte: Google Maps, 2011.
Dados do Censo/2010 mostram uma população de 31.264 habitantes distribuídos em
149 hectares de extensão, sendo 77 hectares de “baixada” (IBGE, 2012). Incluí um
aglomerado de ocupações precárias, devido ao sítio inadequado ao estabelecimento de
habitações saudáveis, típicas da população de baixa renda, com saneamento inapropriado e
com precárias condições de saúde, principalmente após grande contingente de imigrantes que
ocuparam a região (LOBO, 2006).
Apresenta um sistema viário que permite acesso ao centro tradicional gerando
vantagem locacional, suas principais vias são Avenida Alcindo Cacela, Travessa Nove de
Janeiro, Rua Engenheiro Fernando Guilhon e Rua dos Caripunas. São cortadas pelos canais2
da Dr. Moraes, Caripunas, 14 de março e Quintino Bocaiúva que desembocam as margens do
Rio Guamá, vinculados a Bacia Hidrográfica da Estrada Nova. No período chuvoso,
conhecido como “inverno paraense”, o local sofre com a presença de áreas alagadas, alagáveis
ou com drenagem lenta, principalmente nas regiões próximas aos canais, o que gera
transtornos quanto ao deslocamento e representam sérios riscos a saúde de seus moradores. A
2 “Forma como comumente se denominam em Belém os córregos urbanos” (RODRIGUES, 1996, p.167).
18
ilustração a seguir exibe as condições viárias das margens de um dos canais de cortam o
bairro da Cremação (BELÉM, 2012; MACHADO, 2004).
Ilustração 2 - Situação do Canal da Quintino Bocaiúva.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J.C. Brito, 19 de março de 2011.
O bairro foi estabelecido a partir das reformas sanitaristas ou urbanizadoras da era
Antônio Lemos (1897-1910), que tinha como metas prioritárias o cuidado com a saúde
pública e os serviços sanitários por meio da limpeza urbana e a cremação de lixo, já que a
população citadina e seus arredores sofriam com grandes epidemias. Em área localizada na
atual travessa Nove de Janeiro esquina com Fernando Guilhon foi montado um forno
crematório de lixo e animais mortos. Na época a Cremação era afastada do centro da cidade
no intuito de tratar ares fétidos causados pelo lixo urbano (CASTRO, 2009).
Vale resaltar que o acelerado crescimento urbano não foi seguido da implantação de
infraestrutura adequada, a qual aliada à falta de equipamentos urbanos gera baixos índices de
educação, saneamento básico, saúde e emprego para garantir bem-estar e qualidade de vida
para população local. Sendo assim, o processo de urbanização tem como consequência vários
problemas ambientais, dentre as mesmas a deterioração do ambiente, que acaba crescendo por
efeito indireto de sobrevivência da população excluída (BECKER, 2001; JACOBI, 2002).
19
A partir da década de 1970, ocorre o processo de expansão do centro urbano da cidade
de Belém, quando áreas de “baixada” são incorporadas precariamente às ações de políticas
públicas de urbanização, o que provocou relativas melhorias das condições de vida dos
moradores das áreas de “baixada” repercutindo tanto na estrutura física quanto social do
bairro (LOBO, 2006).
Por ser um espaço limítrofe ao centro urbano desenvolvido, ao longo da década de
1990, deixa de abrigar apenas a população de baixa renda, típica do espaço disponível nas
áreas de “baixada” e passa a acolher população do tipo médio e médio superior, apresentando
uma tendência de ascensão às tipologias socioespaciais oriundas da intervenção do Estado e
da especulação capitalista (CARDOSO et al., 2006).
Dentre os seus principais corredores de tráfego, constituídos após intervenções nas
condições de infraestrutura do bairro a Avenida Alcindo Cacela (destacada na ilustração 3) –
que atravessa praticamente toda a extensão do bairro e começa no bairro do Umarizal e finda
à beira do Rio Guamá no bairro da Condor – tornou-se um corredor de subcentro de comércio
e serviços urbanos, gerando uma diferenciação do status dessa região. Nela estão situados a
Unidade Municipal de Saúde – que opera para atender as necessidades de saúde, a Feira
Municipal - que após anos situada no meio da rua passou por uma revitalização e foi entregue
em 2011, comércios de variedades, grandes armazéns, consultórios médicos populares, praça
pública - local onde antes funcionava o Forno Crematório, dentre outras (BELÉM, 2012).
Passando da paisagem natural a paisagem humana, a história da Cremação reflete o vai
e vem das mudanças de lideres políticos. As ações ordenadoras de Antônio Lemos na primeira
década do século 20 e as mais recentes nos anos 40 e 70 tiveram uma inflexão indireta com a
drenagem do canal da Estrada Nova e da qual existem vestígios do então Serviço Especial de
Saúde Pública (SESP) como se vê em algumas comportas de madeira que são parte da
Avenida Bernardo Sayão; apenas marginalmente o bairro foi beneficiado e ademais esse
saneamento não incluiu tratamento de dejetos. Entre o forno de lixo e o primeiro canal da
Estrada Nova, a urbanização se fez quantitativamente e o ambiente não avança de todo
qualitativamente (PENTEADO, 1968).
20
Ilustração 3 - Indicação do principal eixo comercial do Bairro da Cremação.
Fonte: Cardoso et al. (2006).
Atualmente, a Cremação encontra-se em processo de reconstrução estrutural devido à
implantação do Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova iniciado em 2009, e que
visa solucionar os problemas de caráter socioambiental, provocados pelas enchentes do Rio
Guamá e pelo acúmulo de lixo o qual provoca o surgimento de condições sub-humanas de
moradia e saúde. Para isso, a Prefeitura de Belém realiza obras de drenagem dos canais
referentes à Sub-Bacia II que atravessam o bairro e que quando concluídas receberão serviços
de acabamento como pavimentação e adaptação das vias que os margeiam o que favorecerá
um maior e melhor escoamento nessas regiões. Ultimamente vem sofrendo uma renovação
urbana, mediante aos grandes impactos na sua estrutura física com o projeto de revitalização
do espaço urbano, asfaltamento de vias, reforma da feira municipal e o novo projeto de
Macrodrenagem da Estrada Nova que vem gerando tratamento dos canais referentes à sua
sub-bacia.
21
2 CAPÍTULO I: EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE BELÉM/PARÁ
Este capítulo aborda sobre o processo de construção urbana e a configuração desse
ambiente na cidade de Belém assim como a incorporação das áreas de “baixada” no espaço
citadino para interligar setores e garantir moradia e trabalho próximo ao centro. Abordará
ainda a situação da macrodrenagem em especial a Bacia Hidrográfica da Estrada Nova no
município e as questões relecionadas aos agravos coletivos e as soluções encontradas para
resolver tais questões.
2.1 URBANIZAÇÃO
A cidade de Belém apresenta uma localização geográfica estratégica, encontra-se no
nível mais alto da cota de 15 m, às margens da Baía do Guajará e do Rio Guamá, dista 120
quilômetros do mar no estuário do Rio Pará, o que favorece um sistema hidroviário
independente o que lhe permite um fácil acesso ao Oceano Atlântico, e assim, se beneficia
com a criação de portos para dar vazão à importação e exportação (COUTO; CASTRO;
MARIN, 2002).
Ao longo do século XX ocorreu a consolidação da estrutura urbana de grandes
cidades, época está em que a cidade de Belém se vê inserida ao resto do Brasil, em virtude de
grandes projetos para a ocupação e exploração da Amazônia. Entre os séculos XIX e XX,
Belém viveu um tempo áureo, conhecido como Belle Époque, devido à exploração da
borracha, onde o modelo europeu de urbanização adotado gerou a ocupação do território e a
implantação de vários elementos de infraestrutura como calçamento de ruas, iluminação,
arborização, construção do cais do porto e medidas de saneamento (BARROS et al., 2008;
TRINDADE JR, 1997).
A ocupação se deu de forma diferenciada devido a condições geográficas do território,
o que desencadeou as manifestações de desequilíbrio espacial da estrutura urbana – Belém é
formada por vários acidentes hídricos que no processo de ocupação do solo foram
contornados em vez de serem saneados – o que segundo Penteado (1968) mascarou as
características próprias do sítio de Belém, momento este que origina os problemas referentes à
rede de água e esgoto e escoamento da cidade.
Constituída por terras altas e baixas, a cidade estabeleceu uma segregação espacial
imposta, onde as terras altas e firmes eram ocupadas pela elite local, detentora de poder e de
influências gerando investimentos de infraestrutura. Já as terras baixas e alagadas, próximas à
22
área central, conhecidas como “baixadas”3 eram ocupadas pelas classes trabalhadoras e de
poucos recursos, área está de precária ou nenhuma infraestrutura (TRINDADE JR, 1997;
VILLAÇA, 2001).
Esse fenômeno é explicado por Villaça (2001) como o padrão das metrópoles
brasileiras, divididas entre o centro e a periferia, onde a segregação urbana torna-se um
processo de organização espacial, sendo desencadeada pela concentração cada vez mais
diferenciada das regiões gerais da metrópole com classes sociais distintas; mas essas regiões
não são necessariamente exclusivas de uma determinada classe.
Com a dinâmica econômica brasileira, novos padrões de ocupação urbana foram
surgindo devido à intensificação do processo de industrialização e a construção de grandes
eixos rodoviários a partir de 1960, o que induziu um novo fluxo migratório ao longo das
rodovias e provocou o surgimento de meios diferenciados no processo de organização do
espaço urbano, distanciando a população menos favorecida da área central, esta foco das
principais atividades da cidade (BARROS et al., 2008).
Segundo Duarte e Gomes (2002), a cidade se constrói por um processo social
contínuo, onde o fluxo de produção, de troca e de população entra em ação no jogo de forças
para a crescente urbanização. Atualmente, a cidade de Belém é o principal polo metropolitano
da Região Norte, mais para compreender esse status um breve levantamento da dinâmica de
crescimento urbano deve ser explorado. Constituída por uma área territorial de 50,5 mil
hectares, dividido em território continental 17,3 mil hectares e território insular com 33,2 mil
hectares. Passou por vários momentos de crescimento populacional como apresentado por
Rodrigues (1994), entre os períodos de 1940-1950 havia 48.818 habitantes, entre 1950-1960
eram 147.221 habitantes e entre 1960-1970 foram 240.344 habitantes e mais recentemente no
censo de 2010 apresenta uma população em torno de 2.101.883 milhões de habitantes (IBGE,
2012).
Seu crescimento partiu da exploração da primeira légua patrimonial4, que iniciou em
ocupações pioneiras as margens do Rio Guamá e se expandiu para o interior do continente,
constituindo um semicírculo de 6,6 km de raio, composto pelos bairros Jurunas, Batista
Campos, Nazaré, São Braz, Marco, Condor, Guamá, Terra Firme e ao redor da Baía do
3 As “baixadas” são classificadas como áreas urbanas sujeitas às oscilações da maré, encontram-se em nível de
cota de aproximadamente 5-10 metros e que no período chuvoso é atingido por inundações e/ou alagamentos
(PENTEADO, 1968). 4 Corresponde a uma área de aproximadamente uma légua (6.600m), sendo o ponto geográfico que deu origem à
cidade de Belém se estendendo até os limites da atual Dr. Freitas (TRINDADE JR, 1997).
23
Guajará composto pelos bairros Cidade Velha, Comércio, Reduto, Umarizal e Telegrafo
(DUARTE; GOMES, 2002; UEMURA et al., 2009).
Dados do IBGE mostram a dinâmica crescente da região metropolitana composta
pelos municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Santa Izabel,
cada um com características peculiares de desenvolvimento, que geraram degradação
ambiental e social no intuito da população em garantir moradia e trabalho, mesmo assim, a
cidade de Belém foi por anos o polo atrativo de contingente populacional, a ilustração 4
apresenta o modo como ocorreu essa dispersão para além da primeira légua patrimonial.
Atualmente, esse crescimento é baixo, 1,3% ao ano, em relação às outras cidades da região
amazônica (CARDOSO et al., 2006; UEMURA et al., 2009).
Ilustração 4 - Fluxos migratórios para as áreas de expansão.
Fonte: Barros et al. (2008).
24
A queda do crescimento populacional deve-se ao processo de exploração do solo ao
longo de novas rodovias o que favoreceu o processo de conurbação da região metropolitana, a
valorização imobiliária das terras da “primeira légua” e a saturação das terras baixas próximas
ao centro urbano metropolitano (LOBO, 2006).
Quando as cidades são analisadas por dentro há outra percepção. Visto que, a
organização interna das cidades segue padrões diferenciados mediante as condições
socioeconômicas de sua população, pois todas partem de um Centro Principal, local de
fundação da cidade, de grande valor histórico e detentora de uma área comercial ativa;
Subcentros de Comércio e Serviços, para atender moradores de diferentes bairros afastados do
centro; Bairros Residenciais, zonas de segregação espacial, onde a variável renda é definidora
do espaço e as Áreas Industriais, zona de atrativo para trabalhadores, muitas vezes situadas ao
longo de eixos rodoviários para facilitar o escoamento da produção. Portanto, as grandes
cidades são classificadas como entidades socioespaciais complexas, que se modificam
mediante os interesses capitalistas, esse crescimento econômico gera vantagens e
desvantagem no processo de urbanização, onde o centro é bem servido de serviços urbanos e
comunitários, já as periferias e/ou “baixadas”, são constituídas de pouco ou nenhum serviço
urbano, geralmente classificado como insalubres (SOUZA, 2003; VILLAÇA, 2001).
Com a criação de eixos viários acessíveis, a cidade passa a expandir seus limites
territoriais, onde os valores dos imóveis determinam as características da ocupação, mediante
tal situação, a população de alta renda ocupa terrenos bem maiores que no centro e geram uma
separação crescente entre os locais de moradia e trabalho; também o próprio Estado contribui
com a especulação imobiliária quando gera ações de infraestrutura urbana em determinados
bairros, atendendo uma classe social dominante e formando então zonas mais afastadas para a
população carente que não consegue se manter em zonas centrais ou com estrutura urbana
satisfatória (BARROS et al., 2008; SOUZA, 2003). No caso específico de Belém, seu centro
principal detém uma grande concentração de emprego e renda devido seu comércio ativo e a
presença de grandes instituições públicas e privadas, e possui grandes vantagens estruturais
como infraestrutura urbana, saneamento básico e serviços urbanos e comunitários,
apresentando alta especulação imobiliária.
O crescimento desordenado do Município foi desencadeado por descontinuidades e
alta especulação imobiliária, pela falta de uma política de desenvolvimento urbano que
gerasse melhor distribuição de serviços urbanos, principalmente de saneamento básico e de
infraestrutura de equipamentos urbanos nos bairros ocupados pelos mais pobres. Esse
processo de expansão e transformação urbana proporciona uma baixa qualidade de vida a
25
parcelas significativas da população e um forte impacto ambiental na cidade (GROSTEIN,
2001).
Em seus estudos sobre a dinâmica de urbanização da cidade de Belém, Rodrigues
(1996) afirma que o desenvolvimento histórico do município gerou uma somatória de
problemas e conflitos socioambientais e de situações de risco que afetam diretamente à saúde,
à qualidade de vida da população e à qualidade ambiental do espaço físico, os bairros são
locais de reprodução da dominação social, econômica e política através do espaço. Uma vez
consolidado, o espaço urbano cria uma diferenciação de seus setores tanto paisagísticos
quanto funcionais onde os preços do solo são frutos da segregação. Com a valorização das
terras altas e bem estruturadas e a saturação das terras baixas, a dinâmica urbana se modifica e
a população passa a morar ou deixar de morar em um determinado setor (PENTEADO, 1968;
VILLAÇA, 2001).
No caso da Cidade de Belém, a lei nº 7.806, de 30 de junho de 1996 delimita as áreas
que compõem os 71 bairros do Município (ANEXO A). Observa-se a concentração de bairro
tipicamente de classe alta e baixa, como também sua concentração populacional. Atualmente,
as áreas mais densas em população são próximas ao centro – Jurunas, Condor, Cremação e
Umarizal. Portanto, o bairro da Cremação encontra-se como foco de análise desse estudo,
uma vez que, faz parte do centro urbano expandido em área de “baixada”, localiza-se
contíguo a bairros de extrato mais rico (Nazaré e Batista Campos) e com maior e melhor
estrutura de serviços urbanos, como também com bairros de infraestrutura urbana e de
serviços deficientes (CARDOSO et al., 2006).
Sendo assim, algumas considerações a respeito das áreas de “baixada” de Belém
devem ser feitas. Essas áreas correspondem a aproximadamente 40% da área urbana da
capital, situadas em regiões em parte próximas ao centro principal, com dificuldade de acesso
e a população que ocupava esses espaços é de baixo poder aquisitivo. O fluxo populacional
dessas extensões aumenta a partir da década de 60 com o elevado êxodo rural provocando
uma alta densidade demográfica nesse sítio que associado a carência e a insuficiência de
equipamentos urbanos e comunitários proporcionam situações de insalubridade e precariedade
das condições de vida dessa população o que os deixam excluídos do direito à cidadania.
Essas áreas foram inseridas lentamente na estrutura urbana da cidade de modo a solucionar os
problemas referentes à moradia e trabalho da classe operária, atraindo a atenção do poder
público que em momentos específicos, como os chamados anos eleitorais, e circunstâncias
diversas recebem obras de recuperação, saneamento e controle de endemias redefinindo o seu
papel dentro do urbano (TRINDADE JR, 1997).
26
Entorno de 20 bairros do município corresponde às áreas de “baixada” e são cortados
por cinco grandes bacias hidrográficas sendo as mesmas: Bacia do Reduto; Bacia da
Tamandaré; Bacia do Una; Bacia da Estrada Nova e Bacia do Tucunduba. Algumas dessas
bacias já sofreram interversão governamental em parceria com a Prefeitura Municipal no
intuito de garantir integração entre setores da cidade, saneamento básico, tratamento de água e
esgoto e melhores condições de saúde, o que gerou valorização do espaço e reestruturação
social configurando-se como zona nobre da cidade (TRINDADE JR, 1997).
Um exemplo relacionado à situação exposta é encontrado nos bairros da Pedreira e do
Marco a partir da Macrodrenagem da Bacia do Una, proporcionando melhoras na
infraestrutura urbana e despertando o interesse do setor imobiliário que vem reformulando as
características socioeconômicas do local mesmo com a existência de políticas públicas
voltadas para as zonas especiais de interesse social, que visa à manutenção da população
típica da área.
2.2 A SITUAÇÃO DA MACRODRENAGEM EM BELÉM: UM ESTUDO SOBRE A
BACIA HIDROGRÁFICA DA ESTRADA NOVA.
Devido à sua localização, a cidade de Belém sofre com inúmeros problemas no seu
sistema de drenagem, uma vez que, o município é entrecortado por furos e igarapés que no
decorrer dos séculos foram aterrados ou canalizados em canais de esgoto, devido à dinâmica
de crescimento urbano (LIMA, 2004; TAVARES, 2008). Isso traz consequências negativas de
várias naturezas. Dentre estas destacamos as expostas por Rodrigues (1996, p.168):
“problemas relacionados à saúde da população que ocupa as margens dos canais; o
assoreamento como consequência dos movimentos de terra mal projetados ou
espontaneamente realizados; a poluição do espaço ambiental e a ocorrência de
significativas alterações no meio biológico”.
Mediante as características físicas da cidade, principalmente no período chuvoso,
surgem várias áreas de retenção hídrica devida a grande deficiência de escoamento, sobretudo
nas áreas de “baixada” – foco de grandes problemas sociais e ambientais. Mesmo a paisagem
que circunda os canais é prejudicada entre outros fatores por lixo não retirado, além das águas
pluviais retidas. Ao longo dos anos Belém vem se desenvolvendo na luta contra sua
topografia, em uma visão global da situação da cidade, vários programas de recuperação
foram implantados.
27
Com o desenvolvimento urbano, em meados do século XIX, se dá início ao
aterramento da baixada do Piri, que dividia a cidade em dois extremos (leste – oeste), o que
impedia à expansão contígua da mesma. Sendo assim, as formas naturais do sítio urbano não
foram respeitadas na justificativa de integrar, higienizar e embelezar o município. O mesmo
ocorreu com outros igarapés no interior do espaço citadino principalmente nos trechos das
áreas de “baixada” (PENTEADO, 1968; TRINDADE JR., 1997).
Por intervenção do Serviço Especial de Saúde Pública, na década de 40, houve obras
de drenagem das áreas baixas para proteção da orla fluvial criando-se o dique da Estrada
Nova que compreende no trecho entre o igarapé do Tucunduba e o igarapé da Tamandaré.
Tendo em vista que essa área permanecia parcialmente alagadas o que favorecia a
proliferação de microvetores causadores de doenças (TRINDADE JR., 1997).
Na década de 80, foi realizada a limpeza de canais, coleta de entulhos e a roçagem de
mato nas áreas de “baixada”. Já na década de 90 foi iniciado o Programa de Macrodrenagem
do Una, parceria entre o Estado do Pará e a Prefeitura Municipal de Belém que só veio a ser
finalizada em 2005, mas que, atualmente, é considerado um grande projeto de saneamento e
que gerou muitos resultados positivos no âmbito da qualidade de vida da população e
transformou a região em uma grande área de especulação imobiliária, principalmente por se
localizar próximo ao centro (RODRIGUES, 1996).
O município de Belém conjuga 13 das 14 de suas bacias hidrográficas5 – a maioria das
quais integradas por várias sub-bacias que penetram extensamente o sítio urbano por quase
todos os lados, conforme mostra a ilustração 5. Vale resaltar que com o processo de
urbanização atual muitas dessas bacias de drenagem já sofreram algum tipo de intervenção
(TRINDADE JR., 1997).
5 “Sistema hídrico no qual a drenagem é feita a partir da conversão, por diferença de cota, de toda a massa
líquida para um único ponto, chamado enxutório, seguindo para um rio, mar ou oceano, como ponto final de
deságue” (ABRH, 2000 apud LIMA, 2004, p.31).
28
Ilustração 5 – Bacias Hidrográficas da Cidade de Belém.
Fonte: Belém (2012).
29
Atualmente, um novo projeto de saneamento está sendo implantado na cidade. O
Programa de Recuperação Urbano Ambiental da Bacia da Estrada Nova (PROMABEN),
iniciado em 2009 e com prazo de finalização em 2014, surge para solucionar problemas
ambientais, dentre os mesmos aqueles relacionados às questões de saneamento básico e
melhorar as condições de acessibilidade habitacionais, de lazer e recreação que afetam os
moradores das áreas de “baixada” (BELÉM, 2012).
A Bacia Hidrográfica da Estrada Nova (BHEN) apresenta uma extensão de 9,54 km²,
sendo a quinta maior bacia hidrográfica existente na Cidade de Belém (Ilustração 6), com
72,70% de seu solo sujeito a alagamento devido sua localização em cotas altimétricas iguais
ou inferior a 4,0 metros e pelos efeitos das marés e/ou das chuvas constantes. Dados do
PROMABEN mostram que o entorno da bacia apresenta em média 300.000 habitantes,
distribuídos em oito bairros – Batista Campos, Cidade Velha, Condor, Cremação, Guamá,
Jurunas, Nazaré e São Brás (Ilustração 7), o que corresponde a 15,6% da população do
município de Belém (BELÉM, 2007).
Ilustração 6 – Bacia Hidrográfica da Estrada Nova.
Fonte: Belém (2007).
30
Ilustração 7 – Gráfico da população residente por bairro na BHEN.
Fonte: Belém (2007).
Em pesquisa de campo realizada por Lima (2004), o complexo hidrológico da BHEN é
formado por um conjunto de 10 sub-bacias distribuído entre os bairros já citados
anteriormente e comporta uma extensa rede de canais receptores como mostra o quadro 1.
Quadro 1 – Configuração atual da BHEN.
Sub-Bacias Canal Receptor Largura Extensão (m) Área (ha)
1, 2, 4 e 8 Bernardo Sayão 2,50 5.200 188,95
3 3 de maio 4,50 1.560 115,41
5 14 de março 4,92 1.137 160,15
6 Dr. Moraes 4,30 729 109,70
7 Quintino 4,65 1.465 200,77
9 Caripunas 2,50 338
59,28 Timbiras 3,60 836
10 Arsenal 4,34 458 76,68
Fonte: CODEM (1998) apud Lima (2004, p. 77).
31
A partir da década de 1960 quando as áreas de “baixada” são incorporadas ao espaço
urbano, estas não se encontravam com infraestrutura adequada para garantir condições de vida
saudáveis à população que ali se instalara. Nesta época algumas intervenções foram realizadas
pelo governo como o asfaltamento do dique da Estrada Nova que gerou uma pequena
elevação da cota favorecendo o tráfego local e o adensamento populacional (LIMA, 2004).
Já os habitantes que passaram a ocupar de maneira desordenada as margens dos canais
geram um assoreamento dessas margens devido ao lixo, os entulhos jogados dentro de valas e
canais e o mal cheiro por a falta de esgotamento sanitário, provocando um grande impacto
ambiental e de saúde. Essa situação se estendeu por vários anos e agora com a implantação do
PROMABEN deverá garantir melhora da qualidade de vida e da saúde ambiental e social da
população residente nessa bacia (LIMA, 2004; PINHEIRO; GIRARD, 2009).
O programa de macrodrenagem que contempla o bairro da Cremação se encontra em
andamento. Cerca de quatro quilômetros de canais pertencentes à BHEN estão sendo
executado o aprofundamento do leito, com limpeza e retirada de entulhos, elementos que
favorecem a ocorrência de alagamentos e até o assoreamento permanente dos igarapés e
canais, provocando caos ao sistema viários, risco e agravos de saúde e comprometimento do
sistema de água e esgoto. O tracejado contínuo na ilustração 8 pode ajudar a perceber em
imagem aquilo que nosso texto procura destacar (BELÉM, 2012).
Ilustração 8 - BHEN em destaque área que corresponde ao Bairro da Cremação.
Fonte: Belém (2007).
32
3 CAPÍTULO II: POLÍTICAS PÚBLICAS
Este capítulo desenvolve-se a partir de um entendimento sobre Políticas Públicas,
como estas são constituídas e no caso específico desta pesquisa se analisa a interação entre as
Políticas Públicas de Saúde e do Ambiente, assim como, os instrumentos que expressam suas
ações dentro do ambiente urbano.
3.1 CONSTITUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
O Estado é a organização dentro de um país com a função de estruturar a sociedade
que o compõe, promovendo o seu desenvolvimento, garantindo sua ordem, segurança e
equilíbrio. O Estado atinge seus objetivos por meio de políticas públicas focalizadas em
questões específicas que são articuladas mediante interesses individuais e/ou coletivos
dependendo do problema a ser solucionado. As relações de troca entre governantes e aqueles
que lhes dão apoio é a essência da ação do Estado (BRESSER-PEREIRA, 2004).
As políticas públicas são construídas para impulsionar o desenvolvimento econômico
do Estado e promover a inclusão social de grande parte dos cidadãos. Para construir e
entender os desdobramentos das políticas de saúde e do ambiente no Brasil certas formulações
teóricas e conceituais devem ser evocadas; aqui se usarão os conceitos de Peters em 1986,
“Política pública é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou por
delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos” e a clássica de Lowi em 2004, em que
política pública é “uma regra formulada por alguma autoridade governamental que expressa
uma intenção de influenciar, alterar, regular, o comportamento individual ou coletivo através
do uso de sansões positivas ou negativas” (SOUZA, 2007, p.68). Com base nesses conceitos
pode-se mencionar que as políticas públicas servem para explicitar relações do governo com a
sociedade e como surgem os instrumentos para sua aplicação, por meio da formulação de
programas, sua implantação, acompanhamento e avaliação; respeitam o ciclo constituído de:
definição do problema a ser resolvido; consciência coletiva para enfrentar o problema; e os
participantes envolvidos nesta arena política. O quadro 2 ilustra a situação exposta e
demonstra as fases que compreende o ciclo das políticas públicas.
33
Quadro 2 - Ciclo da política pública e sua relação com a aplicação do modelo de solução do problema.
As instituições são instrumentos criados para colocar em prática as políticas públicas
ocorridas dentro de uma dada arena social, ou seja, resolvem os problemas da ordem do
coletivo. Levi (1991) apresenta a construção dessas instituições e como são articuladas as
políticas sociais e econômicas, sofrendo as devidas adaptações à estrutura organizacional do
Governo e à cultura social local.
Levi (1991, p.80) define que “uma instituição caracteriza-se pela capacidade de
delimitar escolhas e por possuir mecanismos de decisões”, o que acarreta a redução de certos
custos de transação. Instituições de diferentes tipos possuem diferentes arranjos para
monitorar e decidir, onde o poder de barganha e o acesso a recursos são desiguais, o que
implicaria em utilizar pressões sociais para se alcançar um benefício coletivo.
Portanto, a partir do entendimento de como se constitui a criação das políticas
públicas, se observa que setores específicos da sociedade se articulam com a finalidade de
garantir resultados que atendam a seus interesses. Ressaltando que muitos setores se
entrelaçam e se sobrepõem no intuito de manter a dinâmica estrutural necessária ao convívio
entre os cidadãos, sendo o caso das políticas públicas envolvendo a saúde e o ambiente.
3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
O direito à saúde é fundamental, garantido na Constituição Federal de 1988. Sendo
que sua expressão enquanto fundamento inicia-se no art.1º, inciso III que se refere à
dignidade da pessoa humana, ou seja, um princípio básico e fundamental para as condições
dignas da existência humana, pois o Estado deve proporcionar aos cidadãos condições de vida
decente. Mediante tal princípio, a saúde é firmada como um direito social no art. 6º da
Constituição Federal e ao consistir-se enquanto um direito social deve-se analisar sua
materialização efetiva e sua relevância pública nas ações e nos serviços do Estado.
Fonte: Howlett e Ramesh (1995) apud Giovanella et al. (2008, p. 74).
34
A saúde abrange vários segmentos do sistema público, sendo fundamental a maneira
como esses sistemas se articulam para assegurar um direito garantido pela Constituição
Federal que em seu art. 196, expressa:
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação” (BRASIL, 2008, p.114).
O conceito de saúde envolve uma abrangência interdisciplinar, se complexifica e
diversifica cada vez mais em vista de novas demandas que se multiplicam no processo de
existência no urbano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): “Saúde é o completo
bem estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença”. Assim como variável
dependente e independente, causada e causadora, a saúde ambiental6 perpassa aqueles
elementos elencados no conceito da OMS (CAMPOS, 2009, p.116).
Dentre as múltiplas interpretações é notório considerar a saúde como uma qualidade
inata do homem mediante o seu comportamento individual e resultante das suas condições de
vida aos aspectos sociais do ambiente urbano entre os mesmos, a moradia, o lazer, a
infraestrutura e a educação. Ressalta-se ainda que a saúde é influenciada, não apenas por
fatores específicos, ou seja, por processos biológicos e sociais, mas pela interação entre os
mesmos constituindo um sistema complexo e dinâmico em contínuo processo de adaptação e
evolução (AUGUSTO; BELTRÃO, 2008; CAMPOS, 2009; RIBEIRO, 2004).
É mister inserir neste conceito, à qualidade de vida7, relativizando as questões
inerentes à ela e ao ambiente, visto que, este é apresentado como o primeiro princípio do
direito ambiental e assegurado também no art. 225 da Constituição Federal que expõe:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações” (BRASIL, 2008, p.127).
Desta maneira, podendo assim traduzi-lo como: o Estado tem por obrigação garantir
um ambiente saudável por meio de políticas públicas, dentre estas o saneamento básico, a
6 A Saúde Ambiental compreende a intervenção do setor saúde em nível de território para garantir o
desenvolvimento humano (AUGUSTO; BELTRÃO, 2008, p.30). 7 Termo subjetivo entendido como a percepção do indivíduo sobre o seu próprio estado de saúde, a sua
influência no contexto cultural e no sistema de valores em que o indivíduo esta inserido. Relaciona-se ao grau de
satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e à própria estética existencial (RIBEIRO,
2004, p.61).
35
coleta de lixo, a moradia, a educação, a saúde, mais emprego e renda visando manter a
integridade biopsicossocial dos cidadãos, a fim de evitar uma extrema desigualdade e
iniquidade ambiental e na saúde.
Vale ressaltar que, a saúde não pode ser avaliada apenas baseada no modelo
biomédico8, sem considerar a sua dimensão subjetiva, a mesma inclui folclore, costumes, leis
entre outros e a necessária socialização – via educação – para dar suporte ao que pode ser de
fato mente sã, corpo são, ou seja, analisar toda e qualquer manifestação dos sujeitos viventes,
ressaltando seu modo de vida e suas maneiras de se relacionar com o ambiente (CAMPOS,
2009). O que Leff (2001) apresenta em seus estudos sobre a interdisciplinaridade entre as
relações sociedade-natureza, articulando a caracterização do ambiente e a conscientização dos
cidadãos na manutenção do seu estado de saúde.
Dessa forma, faz-se necessário analisar o processo saúde-doença9 como um todo, que
Tancredi, Barrios e Ferreira (1998 apud Silva, 2006, p.3) descrevem como:
“um processo social caracterizado pelas relações dos homens com a natureza (meio
ambiente, espaço, território) e com os outros homens (através do trabalho e das
relações sociais, culturais e políticas) em um determinado espaço geográfico e em
um determinado tempo histórico”.
Para alcançar tal proposto se devem cunhar políticas públicas que relacionem o modo
como à sociedade se organiza social e economicamente e as condições de saúde da população
(alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação), visto
que estão diretamente relacionadas.
A saúde e o ambiente são categorias sociais multifacetadas inseridas em um mesmo
contexto espacial e que interferem diretamente na dinâmica da cidade e do cidadão. Assim a
saúde é um fenômeno forjado dentro e fora do indivíduo e este age de acordo com suas
características socioculturais. A mesma é, particularmente, importante para as populações das
periferias urbanas e rurais, uma vez que, a carência em estruturas físicas e a ação do homem
neste meio são fatores condicionantes da percepção do estado de saúde. A construção do
espaço urbano estimula os indivíduos a adaptar-se física, mental e socialmente as variações do
ambiente ocasionando percepções diferenciadas do processo saúde-doença (IANNI, 2000).
Mediante a interrelação entre o processo de construção do urbano por meio de seus
serviços públicos10
e as dimensões que envolvem a saúde, se inicia a reforma do Sistema de
8 Atenção médica individualizada relacionando a doença apenas ao processo biológico (CAMPOS, 2009).
9 Segundo o Ministério da Saúde “representa um conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam o
estado de saúde e de doença de uma população, que varia em diversos momentos históricos e do
desenvolvimento científico da humanidade” (BRASIL, 2006, p.27).
36
Saúde brasileiro após lutas de classes que envolveram atores sociais distintos em busca de
tornar real o direito fundamental à Saúde, analisando sua materialização efetiva e sua
relevância pública nas ações e nos serviços do Estado. Dessa forma, regulamenta-se o Sistema
Único de Saúde (SUS), expressão institucional da política pública de saúde no Brasil
(CAMPOS, 2009).
3.2.1 Sistema Único de Saúde
O SUS foi criado no Brasil pelo art. 198 da Constituição Federal de 1988, quando a
sociedade se mobilizou por meio de Conferências, inclusive internacionais, conforme a Carta
de Ottawa em 1986, em busca de uma Promoção de Saúde11
justa e igualitária, constituindo
uma das metas sociais mais importantes no mundo. Visto que, o subdesenvolvimento de
alguns países está relacionado à pobreza, as doenças e às epidemias e o acesso aos serviços de
saúde era garantido apenas àqueles que podiam “pagar”, ou seja, uma minoria. Sendo assim, o
SUS é fruto da Reforma Sanitária Brasileira que mobilizou vários atores sociais, no intuito de
propor novas políticas e novos modelos de organização do sistema, dos serviços e das práticas
de saúde (CAMPOS, 2009).
Os atores sociais responsáveis pelas reformas sanitárias não foram os mesmos que
levaram adiante a implantação do sistema, visto que, durante sua implantação, novos atores
foram surgindo na arena política em questão. O processo de formulação da política de saúde é
consolidado por um sistema híbrido público e privado e que repercute no acesso aos serviços
de saúde. A rede social que impulsiona o SUS é composta pelos pagadores, Estado e
empresário, responsáveis por gerar os serviços; os provedores, movimento médico
organizado, interessado em prestar os serviços e aproveitar as oportunidades geradas pelo
contexto e o movimento popular de saúde, Conselhos de Saúde e Usuários do Serviço, ainda
com pouca possibilidade de interferência real no mesmo Sistema ou condições de mobilização
e sustentação à Reforma do Sistema (GERSCHMAN; SANTOS, 2006).
A seção da saúde na Constituição Federal de 1988 e as Leis Orgânicas nº. 8080/90 e
nº. 8142/9012
que regulamentam suas ações formulando os papéis dos entes governamentais
10
Lobo (2004) considera serviços urbanos, de acordo com a Lei nº 6.766/79, Art 2º, como sendo compostos pelo
escoamento das águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, e
de energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação, pavimentadas ou não. 11
Silva (2006, p.3) define promoção de saúde como “processo de capacitação da comunidade para atuar na
melhoria da sua qualidade de vida e saúde”. 12
As Leis Orgânicas nº. 8080/90 e nº. 8142/90 foram criadas para regulamentar a legislação que rege o SUS e
dispõe sobre o planejamento, seus instrumentos de ação, bem como, seu financiamento (BRASIL, 2009a).
37
na prestação de serviços e na gestão do sistema de saúde constituem as bases jurídicas do SUS
e são complementadas por legislações estaduais e municipais. Esses conglomerados de
ordenamentos jurídicos do sistema de saúde (abrangente e detalhista) quando colocados em
prática, geram diversas dificuldades ao empregar o sistema e a maneira como o serviço é
prestado os cidadãos brasileiros (BRASIL, 2009a).
As ações e serviços de saúde públicos e privados são desenvolvidos de acordo com
Princípios13
e Diretrizes14
que passam a constituir as regras pétreas do SUS. O quadro 3
apresenta essas regras mostrando os direitos dos cidadãos e os deveres do Estado que são: a
Universalidade; a Integralidade; a Equidade; o Direito à informação; a Descentralização e a
Participação comunitária. Podemos observar no quadro que dentre os deveres do estado para
garantir uma política de saúde eficiente deve-se buscar a integração entre outros instrumentos
de ação do poder público.
Quadro 3 – Síntese dos Princípios e Diretrizes do SUS.
PRINCÍPIOS E
DIRETRIZES DO SUS DIREITOS DOS CIDADÃOS DEVERES DO ESTADO
Universalidade no
acesso e igualdade na
assistência
▪ Igualdade de todos às ações e aos
serviços necessários para promoção,
proteção e recuperação da saúde.
▪ Garantia de ações e serviços
necessários a toda a população, sem
preconceitos ou privilégios de
qualquer espécie,
independentemente da natureza das
ações envolvidas, da complexidade e
do custo do atendimento.
Integralidade na
assistência
▪ Acesso a um conjunto articulado e
contínuo de ações e serviços
resolutivos, preventivos e curativos,
individuais e coletivos, de diferentes
complexidades e custos, que reduzam
o risco de doenças e agravos e
proporcionem o cuidado à saúde.
▪ Garantia de condições de
atendimento adequadas ao indivíduo
e à coletividade, de acordo com as
necessidades de saúde, tendo em
vista a integração das ações de
promoção de saúde, a prevenção de
doenças e agravos, o diagnóstico, o
tratamento e a reabilitação.
▪ Articulação da política de saúde com
outras políticas públicas, como
forma de assegurar uma atuação
intersetorial entre as diferentes áreas
cujas ações tenham repercussão na
saúde e na qualidade de vida das
pessoas.
Fonte: Giovanella et al. (2008).
13
De acordo com o Ferreira (2010, p.611) principio é definido como “momento ou local ou trecho em que algo
tem origem; causa primária; origem; preceito, regras”. 14
Diretriz pode ser definida como “linha reguladora de um caminho ou estrada, de um plano, um negocio, ou de
procedimento” (FERREIRA, 2010, p.257).
38
Quadro 3 – Síntese dos Princípios e Diretrizes do SUS (continuação).
PRINCÍPIOS E
DIRETRIZES DO SUS
DIREITOS DOS CIDADÃOS DEVERES DO ESTADO
Participação da
comunidade
▪ Participação na formação, na
fiscalização e no acompanhamento da
implantação de políticas de saúde nos
diferentes níveis de governo.
▪ Garantia de espaços que permitam a
participação da sociedade no
processo de formulação e
implantação da política de saúde.
▪ Transparência no planejamento e na
prestação de contas das ações
públicas desenvolvidas.
Descentralização,
regionalização e
hierarquização de ações
e serviços de saúde.
▪ Acesso a um conjunto de ações e
serviços, localizados em seu
município e próximos à sua residência
ou ao seu trabalho, condizentes com
as necessidades de saúde.
▪ Atendimento em unidades de saúde
mais distintas, situadas em outros
municípios ou estados, caso isso seja
necessário para o cuidado à saúde.
▪ Garantia de um conjunto de ações e
serviços que supram as necessidades
de saúde da população e apresentem
elevada capacidade de resposta aos
problemas apresentados, organizados
e geridos pelos diversos municípios e
estados brasileiros.
▪ Articulação e integração de um
conjunto de ações e serviços, de
distintas naturezas, complexidades e
custos, situados em diferentes
territórios político-administrativos.
Fonte: Giovanella et al. (2008).
O SUS é formado por um conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos
e instituições públicas nos três âmbitos de governo, mantidos pelo Poder Público por meio de
administração direta e indireta, não se prestando a um simples sistema assistencialista. Essa
política de saúde se caracteriza por ser uma política redistributiva, ou seja, atinge um grande
número de pessoas e impõem perdas e ganhos para grupos distintos a curto e longo prazo.
A arena política em questão inclui grupos distintos de atores e excluem outros,
formando grupos sociais de interesses específicos, que na visão de Olson (1999) expõe o
papel crucial dos pequenos grupos na obtenção de resultados rápidos e seguro em benefícios
próprios ou coletivos, já que estes se encontram mais organizados e ativos o que favorece seu
potencial de ação. Diferente dos grandes grupos em que a quantidade de participantes, não
permite a tomada de decisão segura e confiável, pois apresentam visões diferenciadas em
relação à mesma questão. Este argumento explica o papel dos atores social que compõem a
arena política da saúde no Brasil compondo o arranjo institucional do SUS.
Dessa forma, observa-se que as Políticas Públicas de Saúde e de Meio Ambiente,
assim como as demais, são concebidas sem considerar hierarquias ou protocolos legais e sim
armadas pelo poder de barganha de grupos de interesse focados em criar ou manter abertas as
janelas de oportunidades para ganhos futuros (GERSCHMAN; SANTOS, 2006).
39
A criação do SUS ocorreu no bojo do processo de democratização do país, em que o
Governo Federal delegou aos Estados e aos Municípios grande parte das funções de gestão
das políticas sociais. Arretche (1999, p.119) afirma que: “o grau de sucesso de um programa
de descentralização está diretamente associada à decisão pela implantação de regras de
operação que efetivamente incentivem a adesão do nível de governo ao qual se dirigem”.
A implantação do SUS esbarra nas questões da descentralização e do financiamento.
Uma vez que, o Brasil possui uma quantidade elevada de municípios pobres e a adesão destes
envolve um alto custo político e financeiro de arcar com a responsabilidade pública da oferta
universal de serviços de saúde devido às condições de elevada incerteza quanto ao fato de que
o Governo Federal venha efetivamente a cumprir com sua função de financiamento do
sistema, sem contar com os atrasos desse repasse (ARRETCHE, 1999).
O Estado não possui suporte financeiro suficiente para efetivar a materialização e
universalidade da rede pública de saúde, o que acarreta uma degradação na qualidade dos
serviços prestados mediante aos fortes investimentos tecnológicos da iniciativa privada,
ficando o SUS apenas para atender a classe economicamente desfavorecida, excluídos da
assistência privada, com serviços de atenção básica e com os tratamentos de alta
complexidade, muitos desses que não são cobertos pelos planos de saúde, o que vem a
atrapalhar sua efetividade (MENICUCCI, 2007).
Vale ressaltar que os serviços e programas no SUS estão ordenados em três níveis de
atenção, que são a Básica, a Média e a Alta complexidade que seguem uma lógica
organizacional de forma regionalizada e hierarquizada, como indicado na ilustração 9,
permitindo um conhecimento maior dos problemas de saúde da população. Esse sistema de
rede de serviços conforme apontado por Giovanella et al. (2008, p.627) favorece “a realização
de ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores e educação em saúde,
além do acesso ao conjunto das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis
de complexidade”.
40
Ilustração 9 – Modelo da pirâmide: hierarquização e regionalização do SUS.
Fonte: Giovanella et al. (2008).
A atenção básica é o ponto de contato inicial com o SUS, tem o objetivo de cobrir as
afecções e condições mais comuns, assim como, o acompanhamento rotineiro do estado de
saúde da população. Para tal um dos requisitos iniciais esta relacionada à acessibilidade da
população, ou seja, a eliminação de barreiras financeiras, geográficas, organizacionais e
culturais e, portanto garantir à equidade de seus serviços (AUGUSTO; BELTRÃO, 2008;
GIOVANELLA et al., 2008).
As estruturas físicas que proporcionam o funcionamento desse nível de atenção são
providas pelo município e corresponde às Unidades Municipais de Saúde. Neste nível de
atenção os serviços são ambulatoriais compostos por: clínica médica, pediatria, ginecologia e
acompanhamento nutricional. Como também outros procedimentos simples (curativos e
vacinas) e o encaminhamento para outros níveis de atendimento. Sendo que sua configuração
pode variar dependendo das necessidades de cada região (BRASIL, 2009b). Campos (2009,
p.783) resalta ainda que: “um Centro de Saúde primário deveria modificar-se de acordo com o
tamanho e complexidade das necessidades locais, assim como da situação da cidade”. Uma
Atenção Básica bem organizada garante resolução de cerca 80% das necessidades e
problemas de saúde da população de um município, bem como se torna menos oneroso a
gestão da saúde e consolida um dos pressupostos do SUS: a integridade das ações
(CAMARGO; MORRONE, 2005).
Baseado nessas informações observa-se a necessidade do diálogo entre as políticas de
saúde e ambiente visando garantir a harmonia da população. Quando ocorre a conexão entre
as políticas se reduz os custos individualistas e amplia as possibilidades de novos
investimentos, já que estudos mostram a influência positiva e negativa do ambiente na
constituição do estado de saúde.
41
3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DO MEIO AMBIENTE
Na Constituição Federal de 1988 o meio ambiente é apresentado como um direito (art.
225); sendo definido como: “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as formas” (BRASIL,
2006, p.14). Constitui o habitat social do ser humano e nesse contexto o homem é o único ser
vivo que tem o poder de projetar, organizar e destruir o próprio ambiente que ocupa atingindo
proporções individuais e coletivas, onde os valores econômicos, políticos e culturais interfere
diretamente nos impactos gerados (JACOBI, 2006).
O desenvolvimento das cidades vem ocorrendo de maneira muito rápida sem um
planejamento infraestrutural adequado e controlado, levando a uma desorganização financeira
e administrativa das cidades o que acarreta problemas urbanos em nível de segregação
espacial e impactos na saúde (SANTOS, 2005).
As ações do poder público, na maioria das vezes, são influenciadas pelos interesses da
classe dominante do que pelo propósito de gerar bem-estar coletivo, e suas omissões se
manifestam de forma negativa e desorganizada no planejamento e na gestão urbana afetando
dessa maneira diversas ações políticas nos aspectos que envolvem a saúde pública e o meio
ambiente (GIOVANELLA et al., 2008). Dentro das relações que compreendem a saúde e o
ambiente urbano se encontra as questões do saneamento, o quadro 4 a seguir traz informações
a respeito do panorama histórico que envolve essa questão.
42
Quadro 4 – Evolução histórica dos aspectos de saúde pública e meio ambiente no setor saneamento no Brasil.
Fonte: Soares, Bernardes e Cordeiro Netto (2002, p.1715).
43
Os problemas provocados pelo acelerado desenvolvimento urbano geraram ações
públicas no intuito de estabelecer normas e regulamentar à propriedade urbana e o bem
coletivo. Dessa forma se estabelece o Estatuto da Cidade pela Lei nº 10.257 de 10 de julho de
2001, a fim de regulamentar os art. 182 e 183 da Constituição Federal referente às políticas
urbanas na intenção de ordenar as funções sociais da cidade. Em seu art. 2º, inciso IV, do
Estatuto da Cidade, funda-se um plano de desenvolvimento das cidades ficando o gestor
municipal responsável por garantir a organização interna do município em âmbito social,
econômico e territorial, na intenção de restabelecer o controle sobre o crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre meio ambiente. Já o inciso V deixa ciente sobre a “oferta de
equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses
e necessidades da população e às características locais” (BRASIL, 2001, p.1).
Como instrumento de ação para a execução do Estatuto da Cidade, surge então o Plano
Diretor do Município de Belém, que apresenta em seu art. 3º os princípios fundamentais para
sua gestão que compreende em seu inciso I a função social da cidade em todos os sistemas
públicos. O Plano Diretor Municipal oferece no art. 4º, inciso II, “promover as condições
básicas de habitabilidade por meio do acesso de toda a população à terra urbanizada, à
moradia e ao saneamento ambiental, bem como garantir a acessibilidade aos equipamentos e
serviços públicos”. Entre os serviços públicos garantidos se destaca aqui as Unidades Básicas
de Saúde, levando em consideração sua localização, seus acessos e serviços, uma vez que, a
estruturação da cidade está diretamente liga ao oferecimento e a qualidade dos atendimentos
oferecidos à população e reforçando a relação existente entre as condições de vida geradas
pela problemática urbana e sua interface com a as questões ambientais e da saúde (BELÉM,
2008, p.3; JACOBI, 2006).
Na cidade de Belém, um dos problemas urbanísticos mais preocupantes na
constituição do espaço urbano refere-se à ocupação do solo na garantia de moradia, com esse
objetivo a população de baixa renda concentra-se nas áreas de “baixada” passando a ocupar as
margens de canais e de rios provocando o desmatamento da área gerando desequilíbrio do
ecossistema, outra situação encontrada refere-se ao tipo de moradia e a ausência de
infraestrutura, como saneamento básico. O descaso momentâneo do poder público para essas
regiões fere o direito constitucional referente à dignidade da pessoa e a sadia qualidade de
vida.
Atualmente, grandes investimentos já foram realizados em parcerias entre o Estado e a
Prefeitura Municipal, no intuito de atender as necessidades da cidade. As interversões
ocorridas principalmente nas bacias hidrográficas do interior da cidade mediante as obras de
44
macrodrenagem são exemplos de investimentos que incorporam as áreas de “baixada” ao
espaço urbano, pois apresentam localização privilegiada, e após as obras passam por processo
de valorização do território. A urbanização dessas áreas tende a expulsar seus moradores,
visto que, tornam-se áreas de especulações do setor imobiliário. Para essas situações o Plano
Diretor também atua por meio das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) que garantem
um tratamento diferenciado as áreas afetadas pelas obras de macrodrenagem o que permite a
manutenção da população envolvida no local após as melhorias do espaço (BELÉM, 2008;
TRINDADE JR, 1997).
45
4 CAPÍTULO III: PERCURSO METODOLÓGICO
Esta dissertação se iniciou a partir de um levantamento de dados sobre a situação
geográfica do bairro da Cremação, com base nos dados estatísticos encontrados no site do
IBGE e com dados sobre os fatores intraurbanos e as transformações estruturais sofridas pelo
espaço nos últimos anos, informações encontradas em jornais locais disponíveis no Arquivo
Público da Biblioteca Arthur Vianna, da Fundação Cultural Tancredo Neves.
Em seguida um registro fotográfico foi desenvolvido pela pesquisadora no entorno da
UMS- Cremação para reconhecimento das características do território em virtude de suas
necessidades e possibilidades mediante as obras decorrentes da implantação do Programa de
Recuperação Urbano Ambiental da Bacia da Estrada Nova (PROMABEN). O entorno da
Unidade de Saúde destaca-se, pois se apresenta em situação crítica em relação às questões de
saneamento básico, visto que exibe esgoto a céu aberto, excesso de lixo nas ruas, mato alto e
animais de grande ponte soltos pela rua. As ilustrações 10, 11 e 12 são referencias as
características territoriais do entorno da Unidade o que nos ajuda a perceber as situações do
espaço urbano referido e as questões sanitárias estudadas.
Ilustração 10 – Situação das margens do Canal da Caripunas.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
46
Ilustração 11 – Esgoto a céu aberto no bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
Ilustração 12 – Animais de grande porte soltos pelo bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
47
Após autorização do gerente da Unidade (APÊNDICE A), o projeto precisou ser
submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade da Amazônia (UNAMA) para
então ter acesso às dependências e aos documentos da UMS – Cremação, local principal do
desenvolvimento dessa pesquisa, sendo aprovado conforme CAAE nº 02043512.8.0000.5173
(ANEXO B). A coleta de dados ocorreu no período de maio e junho de 2012 e foi constituída
de um levantamento documental dos relatórios de produção mensal e dos mapas de consulta
diária referente aos anos de 2010 e 2011, assim como observações feitas durante as visitas na
unidade. Os anos escolhidos para construção do banco de dados foi definido a partir do início
das obras decorrentes do PROMABEN em 2009 a fim de registrar e conhecer as condições de
saúde da comunidade para posteriormente comparar e demostrar a efetividade das ações de
integração entre as políticas públicas de saúde e do ambiente relacionada às reconstruções
urbanas sofridas pelo local em estudo mediante as obras de macrodrenagem.
A pesquisa constituiu-se de um estudo descritivo de caráter quantitativo, visto que
buscou descrever as características de uma determinada população, fenômeno ou
estabelecimento de relação entre variáveis (XAVIER, 2010). A escolha do método
quantitativo em assuntos que abordam a área da saúde é apresentada por Viana e Baptista
(2008, p.84) como “uma ferramenta essencial para medir o alcance de uma determinada
política, sua linha de base, isto é, a situação inicial de sua implantação, do seu desempenho e
de sua reformulação entre outros”.
Sendo assim, realizou-se a correlação dos dados referentes às características
urbanísticas do entorno do domicílio no bairro da Cremação encontradas no Censo
Demográfico Brasileiro com as demandas gerais dos serviços prestados pela Unidade de
Saúde em específico os atendimentos médicos prestados pelas especialidades: clínica geral e
pediatria, na intenção de levantar quais são as enfermidades comumente registradas pela UMS
– Cremação. Foram excluídas da pesquisa as doenças notificadas a Secretaria Municipal de
Saúde (SESMA) devido falhas no preenchimento dos cadernos de controle e porque a partir
de 2010 as anotações começaram a ser feitas nos prontuários dos pacientes, o qual a
pesquisadora não teve acesso por questões éticas, uma vez que precisaria de autorização de
cada paciente por meio de um termo de consentimento livre e esclarecidos o que ficaria
inviável a execução da mesma.
A UMS – Cremação é uma das mais antigas unidades de saúde da cidade de Belém e
até hoje apresenta a mesma estrutura física; esta unidade é composta por uma equipe de saúde
multidisciplinar (clínico geral, pediatra, ginecologista, odontólogo, nutricionista e equipe de
enfermagem) e oferece os seguintes serviços vinculados à atenção básica: Programa de
48
Aleitamento Materno (Pró-Ame); Controle e Tratamento da Pressão Arterial (Hiper Dia); Pré-
natal; realização de exames de Tuberculose e Hanseníase; Saúde Mental; Tabagismo;
Planejamento Familiar e Sala de Vacina.
A análise documental constituiu-se de um levantamento quantitativo dos atendimentos
realizados na unidade através do mapa de produção mensal dos anos de 2010 e 2011, a partir
desses dados obteve-se o universo de cada ano, 21.818 atendimentos em 2010 e 23.607
atendimentos em 2011, e assim realizou-se o cálculo estatístico para identificar o n amostral
(773 por ano). Os anos foram somados e por meio dos mapas de consulta diária (ANEXO C)
das especialidades clínica geral e pediatria colheram-se os CIDs15
para construção de tabelas
referentes às enfermidades que mais acometeram adultos e crianças. Em media foram
coletados de três a cinco códigos de cada mapa, de maneira aleatória, em dias alternados e
divididos de forma proporcional aos doze meses do ano.
Os dados também foram divididos em período seco e chuvoso, uma vez que, a cidade
de Belém não apresenta condições climáticas para a distinção de estações do ano e divide-se
em estação de chuva e de “seca” ou com mais e menos chuva. O período chuvoso corresponde
aos meses de dezembro a junho, devido o elevado número de dias de chuva, como observado
no quadro 5 que registra os dados pluviométricos em duas regiões distintas para determinação
do chamado “inverno e verão” paraense (PENTEADO, 1968); Isso acarreta vários transtornos
na cidade quando canais transbordam e ruas alagam favorecendo o surgimento de vetores e a
contaminação das águas pluviais, principalmente nas áreas de “baixada” devido suas
características ambientais e o perfil dos ocupantes nessa região deixando o ambiente propício
ao surgimento de agravos à saúde e ao ambiente. Dados mostram que o volume pluviométrico
em Belém encontram-se acima da média histórica dos últimos 30 anos e devido às
instabilidades climáticas na Região Norte a tendência é um aumento entorno de 14% da média
anual (O LIBERAL, 2010b).
Quanto à análise estatística esta foi realizada por meio da tabulação dos dados
utilizando o programa Microsoft Excel ®, também empregado para a confecção das tabelas.
15
Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde.
49
Quadro 5 - Variação mensal dos Índices Pluviométrico.
Fonte: Penteado (1968).
50
5 CAPÍTULO IV: INTERFACES SAÚDE E AMBIENTE NO CONTEXTO URBANO
DO BAIRRO DA CREMAÇÃO.
Os resultados apresentados correspondem à pesquisa de campo referente à
Urbanização e Interfaces com a saúde e ambiente no entorno do bairro da Cremação no
município de Belém, descrevendo suas características ambientais e os serviços de saúde
encontrados no mesmo, assim como a maneira como esses elementos se interrelacionam na
constituição do processo saúde-doença e saúde ambiental da população envolvida buscando
responder ao problema central da pesquisa.
4.1 ANALISANDO DADOS E COMPARANDO RESULTADOS
Os Censos Demográficos originalmente tinham a função de contabilizar o tamanho da
população de um país, atualmente é utilizado para quantificar a demanda de bens e serviços
públicos e privados assim como uma gama de informações gerais a respeito das características
demográficas, socioeconômicas, urbanísticas, entre outras. Dessa forma, se tornou uma
ferramenta importante no planejamento público do país e fonte de informação para a produção
de pesquisa científica (JANNUZZI, 2006).
Visando atingir um dos objetivos específicos dessa pesquisa que corresponde à
descrição das particularidades atuais do bairro da Cremação se utilizou dados do Censo
Demográfico dos anos 2000 e 2010 com a finalidade de avaliar como o bairro se encontra em
relação às características urbanísticas e sua influência nas questões da saúde pública, da
constituição do processo saúde-doença e do ambiente urbano.
A ilustração 13 mostra a delimitação do bairro em estudo dividido por setores
censitários16
, destaque para a localização da Unidade Minicipal de Saúde, local onde a
pesquisa foi desenvolvida. Nesta imagem, observa-se a configuração do bairro que apresenta
um traçado bem definido, o que possibilita um fácil escoamento de tráfego e deslocamento ao
centro principal.
16
Entende-se por setor censitário a “unidade geográfica de coleta que, na zona urbana, compreende cerva de 300
domicílios” (JANNUZZI, 2006, p.40).
51
Ilustração 13 - Localização dos setores censitários, Bairro da Cremação, 2010.
Fonte: Google Earth (2012).
Os dados apresentados são resultados de estudos sobre as Características Urbanísticas
do Entorno do Domicilio baseados no Censo Demográfico de 2010, com o objetivo de
conhecer a infraestrutura urbana do país e no caso desta pesquisa, em especifico, o bairro da
Cremação por meio de mapas disponibilizado pelo professor Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo
do Grupo de Pesquisa em Indicadores de Qualidade de Vida da Amazônia.
Informa-se que os dados abordados abaixo se referem à pavimentação, calçamento,
arborização e acúmulo de lixo e a maneira como essas características interferem de forma
direta e indireta na condicionante do estado de saúde e de doença da população.
As ilustrações 14 e 15 mostram as características do bairro a respeito da pavimentação
e do calçamento, observa-se que, aproximadamente, 80-100% do mesmo encontra-se
pavimentado, mas em relação ao calçamento esse percentual é bastante diversificado, com
referencia ao entorno da UMS – Cremação esse percentual não ultrapassa 20% de áreas com
calçada. O maior nível de calçamento pode ser encontrado nos setores censitários que
margeiam os bairros de extratos mais elevados como o bairro da Batista Campos e Nazaré
como exposto pelo Censo (IBGE, 2010) observando que as melhores condições do entorno
52
dos domicílios esta ligado ao poder aquisitivo da população. Isso chega a ser ambivalente já
que os órgãos públicos providenciam estrutura de acesso à passagem de veículos, mas não
proporcionam acesso ao deslocamento seguro de pedestres, uma vez que, a manutenção das
calçadas é de responsabilidade dos moradores.
Ilustração 14 - Percentual de domicílios situados em logradouros com pavimentação.
Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).
53
Ilustração 15 - Percentual de domicílios situados em logradouros com calçada.
Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).
Durante a pesquisa de campo, ao realizar a documentação fotográfica, encontrou-se
situações contraditórias ao apresentado pelos dados estatísticos como veremos nas ilustrações
16, 17 e 18, onde as áreas compreendidas por canais e algumas transversais não apresentam
pavimentação tão pouco calçamento adequado e quando pavimentadas se depara com
calçadas irregulares, desnivelas ou inexistente, já o entorno da UMS – Cremação apresenta
pavimentação e calçamento regular e constante, o que vai contra os dados apresentados pelo
IBGE. Esclarecendo que as informações coletadas pelo Censo são do ano 2009/2010 e o
registro fotográfico refere-se ao ano de 2011 podendo ter ocorrido alterações da paisagem
urbana no intervalo de coleta dos dados.
Uma consideração importante a fazer mediante a situação apresenta anteriormente diz
respeito à permeabilidade do solo17
nas áreas de “baixada”, já que os materiais impermeáveis
utilizados no processo de urbanização como asfalto, cimento, entre outros, impedem o
escoamento natural das águas e favorecem mudanças no comportamento da drenagem e que
dependendo das características físicas e climáticas locais trazem como consequência o
17
“A permeabilidade do solo é um dos atributos físicos mais importantes para indicar a qualidade de um solo.
Podendo ser definida como a maior ou menor facilidade que os solos oferecem à passagem de água” (SAMPAIO
et al., 2006, p. 798).
54
surgimento de áreas alagadas no interior da cidade o que propicia locais favoráveis ao
surgimento de enfermidades (LIMA, 2004).
Ilustração 16 – Situação do calçamento de um ponto do bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
Ilustração 17 – Situação da pavimentação de um ponto do bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
55
Ilustração 18 – Calçamento e pavimentação do entorno da UMS – Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
Outro elemento, que deve ser avaliado diz respeito à arborização, já que a mesma
apresenta benefícios tanto para a saúde ambiental como a saúde da população. Segundo Shuch
(2006) uma arborização bem planejada proporciona a estabilização e melhora do microclima,
reduz a poluição atmosférica e sonora como também contribui para a melhoria estética da
cidade e ações sobre a saúde humana. Nesse sentido, o nível de arborização afeta os fatores
intraurbanos e consequentemente melhora a qualidade de vida da população.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendam que deva existir no
mínimo 12m² de área verde por habitante devido sua importância para a regulamentação
climática e purificação do ar. A poluição do ar é um problema mundial que gera repercussões
tanto na saúde ambiental quanto na saúde humana e atinge altos índices na população urbana.
Por esta associada à inalação do ar poluído, as doenças do sistema respiratório são as mais
comuns, em estudos realizados em São Paulo foi constatado que o SUS gasta em torno de 24
milhões de reais em doenças respiratórias, fato esse que poderia ser alterado caso houvesse
um maior número de árvores por habitantes como preconiza a OMS, já que as mesmas tem a
capacidade de reter partículas e poluentes, o que minimiza os efeitos gerados pela poluição do
ar (GOUVEIA, 1999; SCANAVACA JUNIOR, 2011; SHUCH, 2006).
56
Scanavaca Junior (2011, p.2) afirma que “a arborização bem feita também está
relacionada com uma maior expectativa de vida, menor pressão arterial, menores índices de
diabetes e colesterol, menores estresse e irritabilidade”.
Desta forma, torna-se relevante mencionar a realidade de Belém, onde dados do último
Censo/2010 mostram que a cidade apresenta apenas 22,4% de árvores no entorno do
domicilio, situação essa preocupante visto que a capital paraense localiza-se dentro da floresta
Amazônica. Lembrando ainda da existência de tipos específicos de arborização para os
centros urbanos, já que nem todo o tipo de vegetação atinge os objetivos preconizados pela
OMS (D’ALMEIDA; SANTOS, 2012).
A ilustração 19 representa os dados encontrados no bairro da Cremação com relação à
arborização, na qual se observa uma desigualdade no percentual de distribuição. O entorno da
UMS encontra-se bem arborizada entre 80-100%, pois está localizada ao lado da Praça
Dalcídio Jurandi, que apresenta vegetação variada, mas que não contemplam de maneira
satisfatória as necessidades de saúde humana e ambiental do bairro.
Na região, também se observa áreas que apresentam até 20% de arborização, essas se
localizam nas proximidades de bairros que se caracterizam pelo processo histórico de
ocupações desordenadas e degradação ambiental com a finalidade de garantir moradia.
Scanavaca Junior (2011) relaciona a arborização com a pavimentação alegando que a falta de
árvores na cidade ocasiona danos ao asfalto, já que as alterações provocadas pelo microclima
urbano geram dilatações e contrações diárias favorecendo o surgimento de rachaduras.
57
Ilustração 19 - Percentual de domicílios situados em logradouros com arborização.
Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).
O último componente avaliado por essa pesquisa diz respeito ao acúmulo de lixo em
via pública, dados do Censo/2010 mostram que o percentual de depósito/acúmulo de lixo no
entorno do domicílio é proporcional ao tamanho do município e afeta diretamente a qualidade
de viva de seus habitantes deixando-os expostos a ambientes insalubres, visto que
proporcionam o aparecimento de roedores e animais peçonhentos provocando impactos na
saúde da população, na cidade de Belém esse percentual corresponde a 10,4% (IBGE, 2012).
O despejo irregular do lixo em via pública acarreta o entupimento de valas, bueiros e o
assoreamento de rios e canais que quando associados ao volume intenso de chuva acarreta
transtornos no trânsito e no deslocamento da população devido à dificuldade do escoamento,
trazendo consequências graves à dinâmica ambiental da cidade. Desta forma, o lixo e o
entulho despejados sem maiores cuidados passam a ser arrastados pela chuva gerando
destruição das áreas verdes, provocando mau cheiro, proliferação de bichos e agravos à saúde
ocasionando doenças em adultos e crianças. Quem mais sofre com esse fenômeno é a
população localizada nas áreas de “baixada”, principalmente aqueles que habitam em áreas
cortadas por canais (GOUVEIA, 1999; RÊGO; BARRETO; KILLINGER, 2002; O
LIBERAL, 2008).
58
No caso do bairro da Cremação, essa situação é sempre recorrente, tendo em vista que,
os canais dispostos no espaço sofrem com o assoreamento provocado pelos dejetos jogados
dentro e ao redor dos mesmos, quando se encontram transbordados chegam a ser visualmente
impossíveis de se delimitar o canal da via pública. No censo de 2000, dos 6.998 domicílios
visitados 99,7% afirmam que o lixo domiciliar é coletado, mas na prática o que se vê são a
formação de bolsões de entulho nas vias públicas que se expandem rapidamente e pioram
após fortes chuvas. O conjunto de fatores apresentado até agora refletem diretamente na saúde
da população estudada, sobretudo nas crianças que se encontram vulneráveis as condições
ambientais urbanas como veremos nos dados discutidos adiante (IBGE, 2000; O LIBERAL,
2010a).
A ilustração 20 expõe os resultados do Censo de 2010 a respeito do percentual de
domicílios situados em logradouros com acúmulo de lixo no bairro da Cremação, os dados
mostram uma situação preocupante, isto é, praticamente todos os logradouros apresentam lixo
urbano espalhado no decorrer das vias públicas. Até mesmo no entorno da UMS – Cremação
a taxa não ultrapassa 20%, mostrando uma discrepância enorme se comparado com os dados
apresentados no censo de 2000.
Ilustração 20 - Percentual de domicílios situados em logradouros com acúmulo de lixo.
Fonte: Mapa cedido pelo grupo de pesquisa em indicadores de qualidade de vida da Amazônia (2012).
59
Em um estudo realizado sobre o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos da
bacia da Estrada Nova, Pinheiro e Girard (2009) mostram que mesmo possui coleta de
resíduos e serviço de limpeza, os bairros compreendidos pela BHEN permanecem com pontos
fixos de acúmulo de lixo domiciliar, devido à própria população não respeitar os horários de
coleta do lixo e de entulhos nas vias e canais. No estudo realizado pelas autoras mencionadas,
duas perguntas e suas respectivas respostas merecem destaque como veremos nas ilustrações
21 e 22 em relação à situação ambiental vivenciada pelos moradores dos bairros envolvidos
pelo PROMABEN a respeito do porque jogam lixo e entulhos nas vias públicas ou canais e
qual a influência do lixo de modo geral na saúde da comunidade.
Ilustração 21 – Por que você necessita jogar estes resíduos nestes locais?
Fonte: Pinheiro e Girard (2009).
Ilustração 22 – Acha que as doenças que aparecem na comunidade podem ter
influência do lixo que está acumulado nas ruas e canais.
Fonte: Pinheiro e Girard (2009).
60
Os resultados encontrados pelas autoras fundamentam os dados apresentados nas
tabelas a seguir em relação à influência do lixo no surgimento de enfermidades nos moradores
do bairro da Cremação atendidos em sua UMS.
A seguir serão mostradas algumas ilustrações (23, 24, 25 e 26) realizadas durante a
pesquisa de campo em relação aos pontos de acúmulo de lixo nas vias públicas e nos canais
do bairro da Cremação, confirmando os dados apresentados pelo Censo/2010 e pelas autoras
Pinheiro e Girard (2009).
Ilustração 23 – Acúmulo de lixo em via pública no bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
61
Ilustração 24 – Acúmulo de lixo na Av. Alcindo Cacela no bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
Ilustração 25 – Entulhos despejados aa margens do canal da Dr. Moraes no bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
62
Ilustração 26 – Entulhos despejados as margens do canal no bairro da Cremação.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito, 19 de março de 2011.
Finalizando esta etapa da coleta de dados sobre as características urbanísticas do
entorno do domicílio a partir do Censo Demográfico 2010, em especial, o que envolve o
bairro da Cremação observa-se que a inserção desses fatores apresentam grandes valores a
pesquisa e a exploração dos resultados proporciona um olhar diferenciado na aplicação e
integração das políticas públicas de saúde e ambiente. A seguir, na ilustração 27 serão
apresentados outros determinantes que também foram levantados pelo Censo Demográfico de
2010 e não utilizados nesta pesquisa, mais com grande relevância na constituição do urbano.
Ilustração 27 - Percentual de domicílios particulares permanentes urbanos, segundo
as características do entorno dos domicílios – Brasil – 2010.
Fonte: IBGE (2010).
63
A seguir, serão tratados os dados obtidos na UMS – Cremação em relação aos serviços
ofertados e suas demandas de atendimento, no intuito de relacionar os índices encontrados
com as características urbanísticas do bairro, os anos utilizados para a coleta dos dados
também foram estudados com cuidados para poder proporcionar resultados compatíveis com a
proposta do estudo.
A tabela abaixo mostra os dados referentes às demandas de atendimento pelos
profissionais na UMS – Cremação nos anos de 2010 e 2011 e vale resaltar que devido à
planilha de atendimento diário referente ao mês de março de 2010 se achar incompleta não foi
possível considerá-lo na pesquisa.
Tabela 1 – Dados referentes à demanda de atendimento pelos
profissionais na UMS - Cremação no ano de 2010 e 2011.
Demanda de
Atendimento
2010
Demanda de
Atendimento
2011
Janeiro 3237 3508
Fevereiro 3714 5093
Março 4504
Abril 5716 5497
Maio 5283 4971
Junho 4395 5954
Julho 4763 4055
Agosto 4572 3567
Setembro 4412 4350
Outubro 4596 4439
Novembro 5282 3922
Dezembro 4513 3680
TOTAL 40483 53540 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).
A demanda de atendimento do ano de 2011, nos meses de janeiro, fevereiro e junho
obtiveram uma média maior em relação aos atendimentos de 2010 e que nos outros meses a
média de atendimentos de 2010 são maiores que 2011. Mostrando que mesmo como as
alterações urbanas que vem ocorrendo no bairro da Cremação via Macrodrenagem da Estrada
Nova não houve significância estatística na comparação dos números de atendimentos. O
resultado também se justifica, pois as obras do PROMABEN ainda não foram concluídas e os
anos referentes à coleta de dados são próximos ao início da obra, tendo em vista que, os
transtornos causados pelas obras também geram riscos a manutenção do estado de saúde.
64
Na tabela seguinte serão apresentados os dados referentes às demandas por serviços
prestados pela UMS – Cremação, serviços estes vinculados a atenção primária à saúde.
Considerando os atendimentos dos consultórios médicos nas áreas de clínica geral, pediatria.
Tabela 2 – Dados referentes à demanda de atendimento por especialidades na UMS -
Cremação no ano de 2010 e 2011.
Demanda de
Atendimento
2010
Demanda de
Atendimento
2011
Consultórios Médicos 21818 23607
Enfermagem 4871 6520
Assistência Social 5390 6536
Nutrição 1399 2023
Farmácia 17005 14854
TOTAL 50483 53540 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).
A demanda de atendimento de 2011 obteve uma média maior do que 2010, para os
profissionais de enfermagem, assistência social e nutrição, no entanto, esses dados são
justificados pela administração da Unidade em decorrência dos programas de governo
implantados ou ampliados a partir de 2010. Sendo assim, os atendimentos de enfermagem
aumentaram, pois este serviço é responsável pela triagem dos atendimentos, dessa forma,
esses profissionais chegam a resolver casos simples sem a necessidade de atendimento
médico especializado. No caso do serviço de nutrição, com o aumento da cobertura do
Programa Bolsa Família e a exigência do acompanhamento nutricional de maneira semestral
nos meses de junho e dezembro a demanda tende a aumentar. Já a respeito do serviço
farmacêutico com a ampliação do Programa Farmácia Popular no ano de 2011 a tendência é
reduzir a concentração na distribuição de medicamentos pela Unidade de Saúde.
Vários estudos apontam a relação existente entre as questões do ambiente urbano e a
saúde. Gouveia (1999) mostra que a urbanização acelerada ocasiona enormes repercussões na
saúde da população visto que as cidades crescem sem infraestrutura adequada e carente de
serviços essenciais refletindo diretamente na população de baixa renda.
Nos principais centros urbanos, no intuito de garantir moradia e trabalho, a população
passa a viver em condições precárias e sem aceso aos bens e serviços básicos de saneamento,
saúde e educação (FREITAS; PORTO, 2006). No caso da cidade de Belém, as áreas de
“baixada” próximas ao centro refletem essa situação e em específico o bairro da Cremação
que sofre com problemas relacionados com a infraestrutura inadequada e falta de saneamento
básico. Dados do Censo de 2000 mostram a distribuição de domicílios particulares
65
permanentes, por tipo de esgotamento sanitário, na qual o tipo de esgotamento predominante
ficou em torno de fossa séptica com 3.558 domicílios e 2.622 apenas vão para a rede geral de
esgoto, desta forma, observa-se a precária situação do saneamento nesse espaço citadino
(IBGE, 2000).
Dados do IBGE de 2010 mostram que a cidade de Belém apresenta índices
insatisfatórios referentes à urbanização e ao saneamento, 44,5% do esgoto da cidade encontra-
se a céu aberto. A Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN) é o órgão responsável pelos
serviços e obras de saneamento básico e drenagem urbana no município; dados dessa
instituição revelam que apenas 45% do sítio urbano são cobertos por esse serviço, mas que o
mesmo encontra-se em expansão. As áreas não pavimentadas da zona de expansão e as
“baixadas” são servidas por valas e canais que precisam de obras intensas de macrodrenagem
para melhor adequação da população a um estilo de vida saudável (D’ALMEIDA; SANTOS,
2012; RIBEIRO, 2004).
A tabela 3 apresenta as demandas de atendimento por meio do levantamento dos CIDs
encontrados nos mapas de consulta diária nos anos de 2010 e 2011 realizados pelo serviço de
clínica geral da UMS – Cremação no período chuvoso.
Tabela 3 – Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clinico geral no período chuvoso
dos anos de 2010 e 2011.
N %
Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 25 7
Neoplasias [tumores] (C00-D48) 01 1
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários (D50-D89)
13 3
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 19 5
Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) 31 9
Doenças do sistema nervoso (G00-G99) 13 3
Doenças do olho e anexos (H00-H59) 09 2
Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 128 33
Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 16 4
Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 29 8
Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 10 3
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
(M00-M99)
09 2
Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 23 7
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)
20 6
Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de
causas externas (S00-T98)
08 2
Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde (Z00-Z99)
18 5
TOTAL 372 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).
66
Constata-se que doenças do aparelho circulatório são as de maior prevalência, uma
vez que, este é um atendimento típico da atenção básicas de saúde devido o Programa
Hiperdia responsável pelo controle da hipertensão arterial sistêmica e do diabetes preconizado
pelo Ministério da Saúde. Seguido por enfermidades relacionadas aos transtornos mentais e
comportamentais; doenças do aparelho digestivo; doenças infecciosas e parasitárias; doenças
do aparelho geniturinário e sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte.
Em levantamento realizado por Freitas e Porto (2006) expõem que as populações
expostas a riscos ambientais devido à falta de infraestrutura urbana apresentam diversas
doenças infecciosas e parasitárias decorrentes das condições sanitárias inadequadas.
Confirmando os dados encontrados nesta pesquisa em relação aos tipos de atendimento
prestados pela UMS - Cremação. Observa-se que estas se caracterizam como uma doença
típica da população carente que apresentam uma alimentação inadequada devido ao baixo
consumo de nutrientes essenciais que podem gerar alterações no aparelho digestivo, como
também a falta de cuidados com o corpo e higiene pessoal.
Os moradores das áreas de “baixada”, como é o caso do bairro da Cremação que
apresentam uma quantidade elevada de acúmulo de lixo em via pública estão sujeitos aos
mais graves problemas relacionados aos fatores de risco ambiental que afetam a saúde. Dessa
forma, as doenças infecciosas e parasitárias representam um importante problema de saúde
pública em países em desenvolvimento (MORAES NETO; SANTOS; ALMEIDA, 2009;
RÊGO, BARRETO, KILLINGER, 2002).
No que se referem aos sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte, ou seja, as típicas “viroses”, surgem de maneira
sazonal quando os sujeitos encontram-se vulneráveis em relação a déficits do sistema imune,
esse achado é explicado por Wady et al. (2004) que demonstra que a carência no consumo
diário de micronutrientes (cálcio, zinco, ácido fólico, vitamina C e vitamina A) estão
associados à função imunológica. E que por sua vez Ing et al. (2000 apud Wady et al. 2004,
p.14) comprovam em seus experimentos “que a desnutrição proteica pode aumentar a
suscetibilidade a infecções parasitárias gastrintestinais, assim como prolongar o tempo de
infecção”. Ou aos riscos de contaminação causada pelos transtornos causados pela chuva
associados à falta de saneamento e as características urbanísticas (GOMES, 2012).
Um detalhe importante para se observar faz alusão a demora em fechar um diagnóstico
e a negligência por alguns profissionais que só investigam o biológico e não interpretam o
67
ambiente em que o indivíduo esta inserido acarretam tratamentos errôneos e comprometem a
notificação da doença e a política de intervenção na comunidade (CRUZ, 2012).
Já a tabela 4 mostra o levantamento dos CIDs encontrados nos mapas de consulta
diária do serviço de clínica geral nos anos de 2010/2011 referente ao período seco.
Tabela 4 – Dados referentes à demanda de atendimento por CID do clinico geral no período seco dos
anos de 2010 e 2011.
N %
Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 27 7
Neoplasias [tumores] (C00-D48) 02 1
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários (D50-D89)
32 8
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 31 8
Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) 23 6
Doenças do sistema nervoso (G00-G99) 22 6
Doenças do olho e anexos (H00-H59) 10 3
Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 163 40
Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 06 2
Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 12 3
Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 04 2
Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 11 3
Algumas afecções originadas no período perinatal (P00-P96) 01 1
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)
16 4
Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de
causas externas (S00-T98)
05 2
Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde (Z00-Z99)
15 4
TOTAL 380 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).
Os dados encontrados em relação ao período seco, não apresentaram alterações
significativas se comparado ao período chuvoso e as enfermidades de maior incidência
permaneceram constantes. Apenas um dado ganha destaque na tabela 4 e diz respeito aos
transtornos mentais e comportamentais e as doenças do sistema nervoso. Machado (2004)
relaciona esse achado ao aumento da expectativa de vida que devido o processo de senilidade,
a carência afetiva e o suporte familiar proporciona desordens mentais e comportamentais
relacionados à velhice. Outro fato observado na pesquisa é que no período seco o
deslocamento é mais fácil devido ao clima e à possibilidade de trafegar pelo bairro sem sofrer
com as consequências provocadas por alagamentos.
A seguir, serão apresentados os dados referentes aos atendimentos pediátricos no
intuito de poder comparar mais adiante quais enfermidades acometem mais adultos e crianças
68
e quais são comuns à população estudada. Pesquisas mostram que as crianças são as que mais
sofrem com as mudanças climáticas e com as condições ambientais, culturais e sanitárias.
Os dados a seguir revelam as demandas de atendimento do serviço pediátrico da UMS
– Cremação nos anos de 2010 e 2011 igualmente divididos em período chuvoso e seco,
mostrando que as doenças infecciosas e parasitárias são uma constante tanto no atendimento
adulto prestado pelo serviço de clinica geral quanto no infantil, diferenciando apenas as
proporções de acometimentos sendo o pediátrico muito superior.
Em estudo realizado por Ludwig et al. (1999, p. 553) em que analisa a correlação entre
condições de saneamento básico e parasitoses intestinais observou que “as crianças estão mais
expostas à contaminação em função do desconhecimento dos princípios básicos de higiene e
da maior exposição a partir do intenso contato com o solo”. Apresenta também dados sobre a
incidência da enfermidade que é mais elevada na faixa etária de 3 a 9 anos e que a incidência
e prevalência vão decaindo com o avançar da idade mediante as mudanças de hábitos e ao
desenvolvimento do sistema imune.
As áreas de “baixada” são locais sujeitos à degradação ambiental, dos dados já
apresentados, o lixo urbano disperso pelo bairro da Cremação, torna-se foco de transmissão de
doenças entre elas estão às verminoses, infecções intestinais, gripe, leptospirose, dengue,
meningite, dor de cabeça, dor de dente, febre, alergias e náuseas principalmente em crianças
que utilizam os espaços para brincadeiras e jogos de rua.
Como já exposto, as parasitoses são consideradas um grave problema de saúde pública
e são frequentemente encontradas em regiões carentes de infraestrutura urbana e saneamento,
entre os mesmos o esgotamento sanitário, a drenagem e a coleta dos resíduos sólidos e o
abastecimento de água. Pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde indicam que as doenças
de transmissão hídrica conforme quadro 6 são responsáveis por metade das mortes de crianças
até um ano de idade assim como das internações hospitalares (MORAES NETO; SANTOS;
ALMEIDA, 2009; RIBEIRO, 2004).
69
Quadro 6 – Doenças de transmissão hídrica.
Fonte: Brasil (2006)
As tabelas 5 e 6 apresentam os dados dos atendimentos pediátricos do ano de
2010/2011 nos períodos chuvoso e seco. Nota-se que independente do período as
enfermidades encontradas são comuns (doenças infecciosas e parasitárias, doenças do
aparelho respiratório e doenças da pele e do tecido subcutâneo) e com percentuais similares
tendo índices superiores a 70%.
O mesmo resultado foi encontrado no estudo de Fernandes e Mainbourg (2005), em
que as parasitoses e as dermatoses estão diretamente ligadas às más condições de saneamento
em bairro com problemas de infraestrutura, de saneamento e de ambiente, o que compromete
a saúde de seus moradores. Na pesquisa de Rêgo, Barreto e Killinger (2002) mostram que os
comprometimentos respiratórios das crianças podem ser decorrentes do odor desagradável
provocado pelos resíduos sólido como também de sua queimada em locais impróprios,
situação esta comumente encontrada na Cremação.
70
Tabela 5 – Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no período chuvoso dos anos
de 2010 e 2011.
N %
Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 132 30
Neoplasias [tumores] (C00-D48) 04 3
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários (D50-D89)
08 4
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 11 5
Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 02 2
Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 111 24
Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 35 9
Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 08 4
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)
40 10
Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98) 01 1
Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com
os serviços de saúde (Z00-Z99)
31
8
TOTAL 383 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).
Tabela 6 – Dados referentes à demanda de atendimentos pediátricos por CID no período seco dos
anos de 2010 e 2011.
N %
Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 152 36
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários (D50-D89)
13 4
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) 14 4
Doenças do olho e anexos (H00-H59) 07 3
Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 03 2
Doenças do aparelho respiratório (J00-J99) 98 23
Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 01 1
Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99) 23 6
Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 08 3
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99)
40 10
Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com
os serviços de saúde (Z00-Z99)
30 8
TOTAL 389 100 Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).
71
Vale ressaltar que no período chuvoso devido à mudança climática as doenças como
gripe e pneumonia são frequentes mediante o aumento da umidade. Outro elemento que pode
ser destacado nas tabelas envolve a porcentagem de enfermidades em investigação, ou seja,
aquelas sem diagnóstico fechado.
A pesquisa constata que a população que compõem o bairro apresenta, elevados
índices de doenças relacionadas às características urbanísticas locais assim como os fatores
econômicos, políticos e sociais que não interferem apenas no indivíduo, mas toda a
coletividade. As “baixadas” apresentam uma somatória de problemas que refletem na saúde
de seus habitantes desde sua incorporação na estrutura urbana da cidade de Belém. A
Cremação por apresentar uma topografia e um seu sistema de drenagem deficitário, acúmulos
de lixo em via público, ausência de esgoto sanitário e até o elevado índice pluviométrico da
cidade permitem o surgimento de doenças de transmissão hídrica decorrente do assentamento
desordenado dos seus espaços e ocupação das margens dos canais e a falta de educação
ambiental na conservação do ambiente limpo.
Autores como Duarte e Gomes (2002) mostram que a proliferação de doenças está
associada ao baixo nível de educação, de renda e de conscientização dos moradores com
relação à higiene e cuidados com o corpo, alimentação e habitação. Situações essas facilmente
encontradas no bairro estudado deixando-o vulnerável e precisando de pesquisas científicas
relacionadas a ações públicas na urbanização, na saúde e no ambiente. A ilustração 28 deixa
clara essa relação, quando crianças utilizam um canal como área de lazer ficando expostas as
situações de risco a saúde. Essa posição do autor deixa de lado o lugar e a importância de
políticas públicas.
72
Ilustração 28 – Crianças brincando no canal.
Fonte: Pesquisa de Campo, A. J. C. Brito (2012).
Sendo assim, é de responsabilidade do poder pública a viabilização de soluções
específicas e integradoras entre a tríade urbanização/saúde/doença minimizando e/ou
eliminando riscos ambientais e estruturais e favorecem as condições necessárias para se
atingir uma melhor qualidade de vida.
73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa apresentou resultados sobre aspectos selecionados da interface entre saúde
e o ambiente por meio da analise das características urbanísticas do bairro da Cremação,
assim como o levantamento das enfermidades registradas pela sua Unidade Básica de Saúde.
É possível observar que esta consegue alcançar todos os objetivos propostos inicialmente.
Descrevemos características atuais do espaço estudado utilizando dados apresentados
pelo Censo Demográfico – IBGE (2010) sobre as características urbanísticas do entorno do
domicílio apontando a existência de elementos urbanos propícios a proliferação de doenças e
que atingem as condições de qualidade de vida.
Entre os dados apresentados, encontramos o percentual referente à pavimentação, na
qual um projeto de nivelamento e saneamento é esperado e devem ser executados respeitando
as estruturas físicas do ambiente, já que o planejamento estrutural das vias públicas nas áreas
de “baixada” devem ser realizadas de maneira que permita uma drenagem adequada e
propicie a suportar o volume de precipitação pluviométrica, pois a impermeabilidade do solo
favorece o surgimento de zonas de alagamento e com drenagem lenta permite o aparecimento
de focos de doenças. Mesmo assim, regiões bem pavimentadas favorecem um melhor fluxo de
deslocamento de veículos e que devem ser associado ao perfil das calçadas para o tráfico de
pessoas. Esses dois aspectos também influenciam nas possibilidades e legislações no acesso
aos serviços de saúde.
Outro elemento analisado diz respeito à arborização, a qual foi possível relacionar com
as condicionantes de saúde e de doença, isto é, a presença de árvores no ambiente urbano
permite um equilíbrio do microclima e do índice de poluição gerados pelo acelerado
crescimento urbano. Em relação ao bairro da Cremação, os dados mostram que as áreas
próximas aos canais pelo processo de ocupação irregular constituem-se de percentuais baixos
de zonas próximas a logradouros de lazer como as praças apresentam um percentual mais
elevado.
O componente mais preocupante encontrado nesta pesquisa foi o excesso de lixo
acumulado em vias públicas, praticamente todo o bairro da Cremação apresenta pontos
críticos para despejo de entulhos. Esse elemento afeta diretamente a dinâmica da cidade, pois
além de influenciar nas condições de saúde, atingem também o deslocamento e o saneamento.
Vários estudos mostram a preocupação envolvendo as questões de saúde, doença e os
resíduos sólidos. Nas áreas de “baixada”, principalmente aquelas constituída por um número
acentuado de canais, também utilizados pelos moradores para eliminar o que não é mais útil e
74
necessário favorecendo o assoreamento desses canais que irão afetar o escoamento de água e
até mesmo ocasionar transbordamento desses canais permitindo a disseminação de patologias
veiculadas pela água. Percebe-se que as condicionantes ambientais vivenciadas por essa
população associada a ausência ou ineficiência de fatores intraurbanos possibilitam um
desequilíbrio no ecossistema.
Outro propósito avaliado nessa pesquisa encontra-se vinculado a Unidade Básica de
Saúde da Cremação levando-se em conta todos os serviços que a mesma oferece. Constatou-
se que os serviços ofertados atendem de forma limitada às necessidades da comunidade, visto
que, a estrutura física observada durante a pesquisa não comporta a demanda de todos os
serviços de atenção básica de saúde preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Tão
pouco, tem condições de praticar a sensibilização individual e/ou coletiva em consideração à
educação ambiental e de saúde, no intuito de favorecer uma percepção mais acentuada da
relação existente entre processo de construção do urbano e do processo saúde-doença.
Dentre os resultados encontrados por meio do levantamento das enfermidades pode-se
constatar que as características urbanas no entorno do domicilio do bairro da Cremação
permitem o surgimento e disseminação de doenças, mostrando a dissonância existente entre as
políticas públicas que envolvem as questões do urbano e da saúde. Fazendo mister mencionar
que são as crianças as mais vulneráveis no contexto do cenário urbano como discorrido nesse
estudo.
Todos os argumentos apresentados até o momento foram necessários para responder à
pergunta central que envolve essa pesquisa, desta forma, concluímos que a implantação e
conclusão do PROMABEN trarão benefícios urbanos, ambientais e de saúde, uma vez que
ocorra a integração entre as políticas públicas apropriadas a atender as necessidades das
comunidades envolvidas. Visto que, programas de educação ambiental devem ser
implementados em todos os serviços públicos que se adéquam a proposta de maneira que não
permita que os problemas urbanos encontrados continuem interferindo nas condições de saúde
e que a própria população compreenda a relação existente entre o urbano e sua interface com
a saúde e o ambiente. Desta forma, tende-se a minimizar a demanda de atendimentos e
conduzir a manutenção favorável da condicionante coletiva saúde.
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APÊNDICE A – ACEITE DA INSTITUIÇÃO
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ANEXO A – MAPA DOS BAIRROS DO MUNICÍPIO DE BELÉM
83
ANEXO B – COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA
84
ANEXO C – MAPA DE CONSULTAS