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/ folia social / Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 • MACKENZIE 20 Serviço folia social Formação Profissional Cursos de beleza são opções para quem quer procurar emprego Págs. 6 e 7 Ritmo certo: Aulas de percussão levam adultos e crianças para a avenida Págs. 12 e 13 Muay Thai: Jovens usam esporte como ponto de fuga do estresse Pág. 19 MACKENZIE Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 Aguia de Ouro Av. Francisco Matarazzo, 1986. Pompéia. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Denise Maria de Carvalho Telefone: (11) 3872-8262 www.aguiadeouro.com.br Gaviões da Fiel Rua Crisitina Tomaz, 183. Bom Retiro. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Denis Nogueira Telefone: (11) 3221-2066 E-mail: [email protected] www.gavioes.com.br Imperador do Ipiranga Av. Carioca, 99. Ipiranga São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Maria Olivia da Silva Telefone: (11) 2219-1053 www.imperadordoipi- ranga.com.br Leandro de Itaquera Rua Padre Viegas de Meneses, 66 - Itaquera. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Karin Martins Telefone: (11) 2056-2847 E-mail: [email protected] Mancha Verde Rua Abraão Ribeiro, 503. Barra Funda São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Emerson Dias Telefone: (11) 3826-6165 www.manchaverde.com.br Mocidade Alegre Av. Casa Verde, 3498. Limão - São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Erica Ferreira Telefone: (11) 3857-7525 E-mail: projetossocioculturais@ mocidadealegre.com.br www.mocidadealegre.com. br Rosas de Ouro R. Coronel Euclides Machado, 1066. Freguesia do Ó. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Vanessa Dias Telefone: (11) 39314555 www.sociedaderosasdeou- ro.com.br Tom Maior Rua Cardeal Arcoverde, 1607. Pinheiros. São Paulo - SP Responsável pelo depar- tamento social: Marcos Antonio Telefone: (11) 3494-9040 www.grestommaior.com.br Acadêmicos do Tucuruvi Av.Mazzei, 722. Tucuruvi. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Aldo Amaral Telefone: (11) 2204-7342 www.academicosdotucu- ruvi.com.br Unidos de Vila Maria Rua Cabo João Monteiro da Rocha, 447. Jardim Japão. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Antonio Carlos da Silva Telefone: (11) 2981-3154 www.unidosdevilamaria. com.br Vai- Vai Av. São Vicente, 276. Bela Vista. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Niltes Lopes Telefone: (11) 3266-2581 E-mail: [email protected] www.vaivai.com.br X-9 Paulistana Av. Luiz Dumont Villares, 324. Parada Inglesa. São Paulo - SP Responsável pelo departamento social: Gessi Bertoli Telefone: (11) 2959-3377 E-mail: [email protected]. br www.x9paulistana.com.br Consultório nas quadras: Tratamentos dentários e fisioterápicos mantêm a saúde da comunidade Págs. 15 e 16 Telefones & Endereços Se você se interessou por algum curso ou projeto e quer ajudar ou participar, en- tre em contato com as agremiações:

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/ folia social / Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 • MACKENZIE 20

Serviço

folia socialFormaçãoProfissionalCursos de beleza são opções para quem quer procurar emprego Págs. 6 e 7

Ritmo certo:Aulas de percussão levam adultos e crianças para a avenida • Págs. 12 e 13

Muay Thai:Jovens usam esportecomo ponto de fuga do estresse • Pág. 19

MACKENZIE Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 Aguia de OuroAv. Francisco Matarazzo, 1986. Pompéia. São Paulo - SPResponsável pelo departamento social: Denise Maria de CarvalhoTelefone: (11) 3872-8262www.aguiadeouro.com.br

Gaviões da FielRua Crisitina Tomaz, 183. Bom Retiro. São Paulo - SPResponsável pelo departamento social:Denis NogueiraTelefone: (11) 3221-2066E-mail:[email protected]

Imperador do IpirangaAv. Carioca, 99. Ipiranga São Paulo - SPResponsável pelo departamento social: Maria Olivia da SilvaTelefone: (11) 2219-1053www.imperadordoipi-ranga.com.br

Leandro de ItaqueraRua Padre Viegas deMeneses, 66 - Itaquera. São Paulo - SPResponsável pelodepartamento social: Karin MartinsTelefone: (11) 2056-2847E-mail:[email protected]

Mancha VerdeRua Abraão Ribeiro, 503. Barra Funda São Paulo - SPResponsável pelo departamento social: Emerson DiasTelefone: (11) 3826-6165www.manchaverde.com.br

Mocidade AlegreAv. Casa Verde, 3498. Limão - São Paulo - SPResponsável pelo departamento social:Erica FerreiraTelefone: (11) 3857-7525 E-mail: projetossocioculturais@mocidadealegre.com.brwww.mocidadealegre.com.br

Rosas de OuroR. Coronel Euclides Machado, 1066. Freguesia do Ó. São Paulo - SPResponsável pelo departamento social: Vanessa DiasTelefone: (11) 39314555www.sociedaderosasdeou-ro.com.br

Tom MaiorRua Cardeal Arcoverde, 1607. Pinheiros. São Paulo - SPResponsável pelo depar-tamento social: Marcos AntonioTelefone: (11) 3494-9040www.grestommaior.com.br

Acadêmicos do TucuruviAv.Mazzei, 722. Tucuruvi. São Paulo - SPResponsável pelo departamento social:Aldo AmaralTelefone: (11) 2204-7342www.academicosdotucu-ruvi.com.br

Unidos de Vila MariaRua Cabo João Monteiro da Rocha, 447. Jardim Japão. São Paulo - SPResponsável pelo departamento social: Antonio Carlos da Silva Telefone: (11) 2981-3154www.unidosdevilamaria.com.br

Vai- VaiAv. São Vicente, 276. Bela Vista. São Paulo - SPResponsável pelo departamento social: Niltes LopesTelefone: (11) 3266-2581E-mail: [email protected]

X-9 PaulistanaAv. Luiz Dumont Villares, 324. Parada Inglesa.São Paulo - SPResponsável pelo departamento social: Gessi BertoliTelefone: (11) 2959-3377 E-mail: [email protected]

Consultório nas quadras:Tratamentos dentários e fisioterápicos mantêm a saúde da comunidade • Págs. 15 e 16

Telefones & Endereços

Se você se interessou por algum curso ou projeto e quer ajudar ou participar, en-tre em contato com as agremiações:

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Editorial19MACKENZIE • Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 / folia social /

Esporte

Textos, fotos e diagramação:

Eliana Marques de DeusJuliana Alberico GutierreKátia Kiss Oliveira Dantas

Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras

Diretora: Profa. Dra. Esmeralda RizzoCoordenador do curso: Prof. Ms. Osvaldo Hatori

Com o objetivo de apresentar o trabalho realizado pelas esco-las de samba, que não se restringe apenas ao carnaval, elabora-mos este suplemento jornalístico, uma exposição dos principais projetos socais desempenhados pelas agremiações do grupo es-pecial de São Paulo, classificadas para o carnaval de 2010.

Quando o assunto é escola de samba, a maioria das pessoas logo associa o tema à festa de carnaval, à folia e à alegria. Claro que uma coisa está ligada a outra, mas as agremiações não se li-mitam apenas a produzir e preparar fantasias e carros alegóri-cos para os desfiles. Ao longo do ano, elas realizam uma série de outras atividades com suas comunidades locais, e muitas vezes, além da região onde estão localizadas.

Em alguns casos, as escolas de samba mantêm parcerias com o Governo, união que contribui com a execução dos projetos. Em outras situações, quando não há ajuda pública, as agremiações assumem o papel que o Estado deveria desempenhar com a po-pulação, e realizam cursos de capacitação profissional, campa-nhas de saúde, treinamentos esportivos, entre outras atividades.

Durante o ano de 2009, visitamos as escolas do grupo espe-cial, que desenvolvem projetos sociais, e acompanhamos as ati-vidades e os cursos. Encontramos pessoas que viveram grandes mudanças devido ao trabalho social das agremiações; persona-gens que, muitas vezes, não desfilam na avenida e sequer gostam da festa de carnaval, mas que participam ativamente dos cursos nas escolas de samba. Existem, também, aqueles que além de frequentarem as aulas, acompanham a produção do carnaval ao longo do ano e não dispensam o clima de festa.

A experiência vivida por nós, jovens jornalistas, foi essencial para a realização deste trabalho. Conhecer o mundo carnavales-co, sua história e perceber a importância das escolas de samba para a comunidade na qual estão inseridas, nos acrescentou mui-to conhecimento como repórteres e, principalmente, como seres humanos.

Contemplar o sorriso de uma criança, a alegria de uma jovem ao receber seu certificado e a euforia de uma senhora que conse-guiu escrever seu nome pela primeira vez, são alguns momentos que guardaremos para o resto de nossas vidas.

Por meio de nossas impressões, buscamos mostrar neste su-plemento que escolas de samba não são apenas feitas de mulhe-res bonitas, desfiles, turistas e lucro; elas representam carinho, amor, preocupação, acolhimento e solidariedade. E, acima de tudo, são belos exemplos de responsabilidade social.

O esporte da disciplinaTorcedores de todas as

idades uniformizados com a camisa do Corinthians, ou fardados com as roupas da Gaviões da Fiel, espa-lham-se em todos os cantos da quadra, quer seja perto da loja, para comprar novos uniformes, quer seja perto da cantina, onde uma mara-vilhosa feijoada é vendida.

Torcida Organizada e Escola de Samba se mistu-

ram na quadra, enquanto uns jovens estão jogan-

do bola, outros estão ao fundo, prepa rando os instrumentos para

mais um ensaio da bate-ria. Para eles, torcida e sam-ba estão juntos, quem está nas arquibancadas na torci-da, também está na avenida desfilando, ajudando a en-tidade enquanto escola de samba a vencer no carnaval.

Um pouco mais à direita da quadra, vemos um

grupo de homens musculosos, de corpo atlético, reunidos como

que se prepa-rando para subir

ao ringue. Subir ao ringue?

Além de torcida e es-cola de samba, é tam-

bém uma academia de boxe? Não, não. Trata-se

apenas dos jovens que irão participar da aula

de Muay Thai, um dos cur-sos que pertencem ao pro-jeto social que a Gaviões da Fiel desenvolve com a co-munidade. Toda semana, cerca de 20 homens vão à sede da torcida para treinar e aprender as técnicas dessa luta tailandesa, que sempre promove competições em todo o Brasil.

O curso não tem uma du-ração fixa, pois a todo o mo-mento entra e sai novas pes-soas querendo aprender e se aprimorar no esporte. Ain-da um pouco tímido com a presença da câmera e do gravador, o professor Luis Martelete, de 24 anos, mais conhecido pelo apelido de “Rato” entre os alunos, afir-ma que “o curso não termina nunca, ele não tem fim, pois é um aperfeiçoamento con-tínuo. Há os que começam como iniciantes e, com o passar do tempo, tornam-se amadores e até chegam a ser profissionais, para disputar campeonatos maiores.”

Os chutes são fortes, pe-sados. Eles usam toda a for-ça que têm para acertar o ad-versário. Após quase uma hora correndo e fazendo aquecimento, os alunos en-fileiram-se em duplas para começar a aprender novos golpes. E engana-se quem vê tanta raiva, tanta força sen-do destilada nos chutes e so-

cos que começam a ser dis-tribuídos entre um e outro aluno. O Muay Thai é um es-porte totalmente contrário ao que se vê, pois ele ajuda a quem o pratica a liberar toda a raiva contida.

Já cansado após meta-de do treino já ter passado e com a respiração pesada, o técnico em informática De-nis Gonçalves mostra como o esporte, mesmo pare-cendo violento, é apaziguador: “o pessoal confun-de com violên-cia, acha que esta treinan do aqui para brigar c om outra torci-da e não tem nada a ver. O Muay Thai é um esporte que tem o treino meio sofrido, o que acaba disciplinando a pessoa, ela fica mais segura de si, não precisa sair por aí brigando.”

Sentado, descan -sando durante o in-tervalo da aula, Renato Nascimento, explica que o esporte o ajuda no traba-lho: “Eu trabalho o dia intei-ro na metalúrgica com um serviço pesado, aqui me des-contraio totalmente quando estou treinando.” Seu time do coração? “Não vou reve-lar, mas não sou corintiano.” afirma num sussurro para não ser descoberto.

Alunos fazem aquecimento e treinam golpes durante aula de Muay Thai, ao centro, o professor “Rato”

Suplemento produzidocomo peça do Trabalho de Graduação Interdisciplinar

Orientação: Profa. Ms. Denise Paiero

O outro lado do carnaval

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Educação17

Saúde

Inclusão digital para todas as idades

Quem caminha pelas tran quilas ruas do Bom Re-tiro, próximo à Rua dos Ita-lianos, assusta-se ao virar a esquina e deparar-se com um ‘bando de loucos’, farda-dos com as roupas da Gavi-ões da Fiel – torcida organi-zada do tradicional clube de futebol Corinthians. Cente-nas de torcedores ocupam as ruas, que parecem ser fe-chadas somente para eles.

Porém, ao entrar na qua-dra da torcida, é possível perceber um clima total-mente diferente e familiar. Um pai joga bola com seu pequeno filho de três anos na quadra improvisada de futebol; um pouco mais a diante, um outro pai, com sua esposa e filho, está sen-

tado tranquilamente, sabo-reando uma feijoada ao som de um pagode.

Mais ao fundo da quadra é possível ver uma pequena sala, com as paredes exter-nas feitas metade de tijolo aparente, metade de vidro. Dentro dela existe algo não muito comum de se encon-trar em escolas de samba: diversos computadores, to-dos estampados com o sím-bolo do Corinthians. Muitos achariam estranho, mas tra-ta-se do projeto social que a Gaviões da Fiel desenvolve com a comunidade, o curso de inclusão digital.

É nesse espaço que mui-tas crianças, jovens e adul-tos aprendem o que para muitos já é algo corriqueiro e básico. Ligar um compu-tador, fazer um documen-to, é algo novo para muitas pessoas, que levam a sério o curso: “Eles ensinam mes-

mo, Word, Excel, navegação na internet, ensinam tudo direitinho, até apostila tem! Eles são bem comprome-tidos, deixam a gente bem a vontade”, afirma a aluna Daniela Silva, com um largo sorriso na face.

O projeto nasceu há um ano e meio com a idéia do diretor social da Gaviões da Fiel, Denis Nogueira. Ele contou com o apoio de pa-trocinadores que doaram os computadores, anunciou o projeto no site da torcida e conseguiu não só volun-tários para dar aula, como também alunos.

Um pouco nervoso, mas com jeito descontraído, o professor Tiago Demétrio, de 22 anos, mostra satisfa-ção em ser voluntário e en-sinar as pessoas carentes. Para ele é muito gratifican-te, já que nasceu na periferia e sabe como é não ter condi-ções de pagar para estudar: “Pra mim é mais por isso, tá ligado, não estou me abai-xando pra ajudar ninguém, mas to vindo de baixo tam-bém, junto com os irmãos”, afirma Demétrio.

Durante o curso é feita uma iniciação da informáti-ca, explicando como surgiu o computador, quais são as peças principais dele, CPU, monitor, teclado. Após isso é ensinado o Pacote Office, com os programas básicos como Word, Excel, Power Point e também a navegar na internet.

O curso abrange todas as idades, desde crianças de oito anos até a terceira ida-

de. “Parece até engraça-do, mas tem homens de uns 30, 40 anos que tem medo de pegar no mouse”, afirma Igor Antunes, de 22 anos, também professor volun-tário. Ele relembra o dia em que um homem, forte e grande, começou a chorar sentado em frente ao com-putador. “A alegria de con-seguir mexer em um com-putador, algo totalmente estranho à sua realidade, é muito emocionante”, com-pleta Antunes.

A sonhada promoção A Unidos de Vila Maria

também oferece aulas gra-tuitas de informática para a comunidade. Na peque-na sala, cerca de cinco alu-

nos aproveitam o fim do cur-so para tirar dúvidas com o professor. “Participar das aulas foi ótimo para mim, porque já estou terminan-do e acabei de saber hoje que recebi uma promoção no meu serviço”, afirma a ope-radora de telemarketing Da-niela Cardoso. Ela já fez ou-tros três cursos na escola e recomenda a todos os ami-gos “Comecei fazendo as au-las de depilação e trabalhei na área, depois fiz o curso de manicure e trabalhei em sa-lão”, diz Daniela.

Para Viviane Martins, também aluna de informáti-ca, é fácil saber que a escola de samba oferece os cursos. “Qualquer funcionário in-forma. A divulgação é feita boca a boca”.

Professor orienta alunos durante aula na Gaviões da Fiel

Na Vila Maria, alunos aprendem a usar o power point

Cursos oferecem acesso às novas tecnologias

Campanha ajuda a salvar vidas

Voluntária ajuda no cadastramento de doadores

Dentro da quadra da es-cola de samba X-9 Paulis-tana o voluntariado é forte, muitas pessoas organizam o cadastramento para a doa-ção de medula óssea. A esco-la de samba cedeu o espaço para Sheila Santos da Silva organizar essa campanha.

Há um ano e dois meses, o marido da organizadora é portador de leucemia linfói-de aguda, um tipo de câncer hematológico. No momento ele não precisa de um trans-plante, mas a família se uniu e resolveu fazer panfletagem para ensinar a população como funciona o processo de doação de medula óssea.

Para realizar a campa-nha Sheila teve que procu-rar a AMEO (Associação de Medula Óssea), responsá-vel em coletar as amostras e encaminhá-las ao hemocen-tro de São Paulo. E procurou também a escola de samba

X-9 Paulistana por ter um salão grande e por realiza-rem o trabalho social “X em Ação”. “Sou moradora da região, conheci o programa deles de responsabilidade social, liguei e pedi que ce-dessem o espaço, o que aju-dou muito, imagina quanto custaria fazer a locação de um salão, com 300 cadei-ras e 200 mesas por um dia e meio”, conta Sheila.

A família mobilizou a propaganda, a divulgação, enviou os e-mails. Foram três meses de trabalho, 250 mil panfletos, 5 mil cartazes, 190 mil e-mails, 150 camise-tas, 50 mil etiquetas em cai-xa de pizzaria. “A gente con-seguiu doação de ônibus, a X-9 cedeu cadeiras e nós ga-nhamos café da manhã de uma padaria. Se a gente fos-se contabilizar a campanha, ela ultrapassa dez mil reais”.

Com a ajuda de algumas

instituições e muita força de vontade, a família sensi-bilizou as pessoas para o ca-dastramento de doação de medula óssea e levou o co-nhecimento do assunto à muita gente.

O que é medula óssea?

Fundada em 2002, a AMEO - Associação da Me-dula Óssea do Estado de São Paulo, é composta por um grupo de pacientes, voluntá-rios, profissionais da área de saúde, e conta com o apoio técnico do Hemocentro da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

O cadastramento para doação de medula é feito no hemocentro da Santa Casa e nas campanhas feitas sema-nalmente por uma equipe móvel da AMEO em empre-sas, faculdades e nas campa-nhas grandes solicitadas por pacientes ou familiares. As campanhas têm o intuito de aumentar o número de do-adores cadastrados no ban-co de medula óssea. Todas as pessoas entre 18 e 55 anos que gozem de boa saúde po-dem se cadastrar. Depois do cadastro, o nome do possí-vel doador só sai do Redome com 60 anos de idade.

A palestrante e fisiotera-peuta Soraia Cardoso, de 29 anos, explica que existe uma confusão sobre o tema. “Me-dula óssea não tem a ver com medula espinhal, a medu-la óssea é a parte interna dos ossos, ela é conhecida popu-larmente como um tutano do osso e é ela que forma as nossas células sanguíneas. Quando a gente tem um pro-blema nesse processo de for-mação celular, é uma doença de medula óssea”.

Para achar uma medula compatível, primeiramen-te é feita uma pesquisa na fa-mília. Se não encontrarem ninguém, recorrem então ao Redome (Registro Nacio-nal de Doadores de Medula Óssea), localizado no Rio de Janeiro. “Por conta da mis-cigenação, no Brasil, é mais difícil encontrar um doador compatível. A gente tem que ter um banco maior, pela po-pulação que existe no país e pelo banco que temos, é ne-cessário melhorar isso pra ontem. A chance é de uma para cem mil”, conclui .

X em Ação

Um dos atendimentos prestados foi o de oftalmologia

professor e coordenador de curso na Universidade, ex-plica as ações do projeto: “Em termos de saúde, esta-mos abordando vários pro-gramas, várias ações, entre elas, oficina do homem, ofi-cina da mulher, a questão da glicemia capilar, a hiperten-são, alimentação saudável, avaliação de índice de massa corpórea e outras coisas”.

Com a quadra da esco-la de samba lotada, os adul-tos puderam gratuitamente medir a pressão, cortar o ca-belo, fazer tratamento para a pele, enquanto as crianças brincavam no pula-pula e pintavam desenhos.

Trabalho voluntário e di-vulgação foi o que não fal-tou no evento, onde mais de

200 voluntários participa-ram, entre alunos da facul-dade e funcionários da X-9. Os universitários de peda-gogia trabalharam com as crianças, os de educação fí-sica ajudaram na área mé-dica e o pessoal do meio am-biente ajudou nas palestras e orientações. E com o apoio dos componentes da escola de samba, a distribuição de folders foi feita pelo bairro e um carro de som percorreu as ruas da região.

Empresas como Droga-sil, Rotary Club, Lions Club, Sabesp e escola de cabelei-reiros Teruya também cola-boraram, seja com apoio em infraestrutura ou com a do-ação de kits e fornecimento de materiais.

O cirurgião dentista João Junior, de 50 anos, partici-pou como voluntário pelo segundo ano consecutivo. “Sou frequentador assíduo da X-9 há 10 anos”, explica.

Em 2009, o programa atendeu a 587 pessoas. Para o cirurgião, “o projeto é de extrema valia, porque a po-pulação às vezes não tem fá-cil acesso à saúde, educação, cultura e arte, e para que-brar paradigmas de que es-cola de samba é oba-oba, samba e carnaval. Acho que realmente é função social de uma escola, pena que pouca parcela da população sabe que ocorre esse trabalho em escola de samba. E, deva-garzinho, vão se quebrando preconceitos”.

Em 2009, a X-9 Paulis-tana realizou o quinto “X em Ação”, com o tema saú-de e cidadania. Cada ano o projeto tra balha com uma área temática, prestando atendimento à comunida-

de. No ano de 2008 foi es-tabelecida uma parceria ofi-cial entre a X-9 Paulistana e a Uni’Santana, e esse ano a universidade assumiu o evento. O enfermeiro Adil-son Alves Senne, de 52 anos,

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EducaçãoMACKENZIE • Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 / folia social /

Saúde

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de diferente daquela que se está acostumado a ver. “A gente percebe que os nos-sos problemas não são nada em relação a muitos proble-mas que a gente vê nos nú-cleos. Alguns alunos muitas vezes com depressão, fazem tratamento psiquiátrico, to-mam remédio controlado, tem dependência de álcool e drogas”, diz Denise Gonçal-ces Soares, de 26 anos, uma das professoras.

A idéia da ONG é trans-formar e formar multiplia-cadores. Em cada turma os professores observam o alu-no que se destaca, para for-mar um novo multiplicador. “Todos os professores que temos hoje nos núcleos fo-ram alunos que se tornaram multiplicadores...todos!”, afirma Denise.

Esperança renovada

O travesti Rayane Lor-rance, saiu de casa com dez anos, porque os pais não aceitavam seu “jeito”. Logo começou a se prostituir para sobreviver. Foi trombadi-nha de rua e morou por um tempo na Febem.

Veio do Recife para São Paulo na década de 80, e agora, apesar de ser porta-dor do vírus HIV e ainda se prostituir, afirma que está com a vida que pediu a Deus. Isso porque ele acredita que pode mudar. Ser cabeleirei-ra, ter uma profissão. “Não tenho tudo ainda como eu quero, mas estou chegando lá. Depois de 29 anos de rua, eu tenho é que agradecer de estar viva. Agora quero um bom emprego fixo, pra que eu vença!”, afirma Rayane.

Autoestima, beleza e formação profissionalA ONG (organiza ção não

governamental) Instituto Bele za & Cidadania encon-trou nas escolas de samba o espaço físico ideal para os cursos profissionalizantes da área de beleza. As enor-mes quadras vazias permi-tem reunir em média 80 alu-nos. A maioria mulheres na faixa dos 30 anos, morado-ras das comunidades locais.

Atualmente a Mocidade Alegre, a Unidos de Vila Ma-ria abrem suas portas para capacitar as pessoas. Ofe-recem aulas de corte mas-culino, corte feminino, en-trelaçamento, manicure e maquiagem, um em cada dia útil da semana.

O projeto de inclusão profissional surgiu a partir de uma idéia da presidente Edilara Lima Pacheco, mais conhecida como Lara Dee (ex-chacrete), que se inte-ressou pelo setor social em 2000, depois de trabalhar com a ONG Viva Rio.

Em função desta gran -diosa experiência fundou junto com José Luiz de Pau-la Júnior o instituto de bele-za no ano de 2003.

As aulas começaram pri-meiro na Rosas de Ouro, co-munidade original da presi-

dente, que viu ali a chance de dar uma oportunida-de de renovação e cres-cimento às mulheres ca-rentes do bairro. O início não foi fácil, era preci-

so bater de porta em porta convidando e explican-do como funcionava. “As pessoas tinham receio. Por ter aquela idéia de

que: nada é de graça, nada é por acaso, alguma coisa tem, vão cobrar no final”, conta a vice-presidente da ONG, Elisabete da Silva.

“Mas deu certo. Na época tinhamos de 15 a 20 alunos, hoje você vê a quantidade, tem 80 de manhã e 120 a tar-de, na turma de entrelaça-mento. Agora o projeto anda com suas próprias pernas, é reconhecido. É a única enti-dade em São Paulo que ofe-rece cursos totalmente gra-tuitos na área da beleza”, explica Elisabete.

Ela também fazia parte destas pessoas carentes que o projeto conseguiu trans-formar. Tornou-se uma mu-lher bem sucedida e uma lí-der capaz de envolver muita gente nesse mecanismo de troca, atenção, carinho. “Se eu posso transformar mais alguém, porque não? Não é verdade?”. E explica ainda que grande parte das mulhe-res chegam ali deprimidas por não fazerem nada além de lavar, cozinhar, passar e

cuidar do marido. Chegam com chinelo de dedo, cabe-los brancos, postura cabis-baixa e saem maquiadas, esmaltadas e usando salto. “Depois o marido vem aqui na porta para ver o que está acontecendo, querendo sa-ber porque a mulher está usando sapato de salto para lavar roupa!”, brinca a pro-

fessora voluntária Carmen Anita Ramos, de 51 anos, que é maquiadora e cabe-leireira por paixão e bióloga por formação.

As professoras garan-tem que é muito gratifican-te fazer parte desta mudan-ça, principalmente quando trabalham com pessoas que real mente são necessitadas, que vêm de uma realida-

A idéia da ONG é transformar e

formar multiplicadores

Durante as aulas de maquiagem elas aprendem a valorizar sua própria beleza.

Fisioterapia ao seu alcance

Unidos de Vila Maria oferece tratamento gratuito

A constante chegada e partida do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) à escola de sam-ba Unidos de Vila Maria pode não fazer muito senti-do para quem observa a es-cola. Mas basta colocar os pés dentro da ampla quadra que logo se observa uma fila de pacientes aguardando o atendimento da clínica de fi-sioterapia instalada em uma pequena sala ao lado de uma passagem que leva às qua-dras externas de futebol.

A ideia pioneira de insta-lar projetos da área da saú-de dentro de uma escola de samba surgiu com o den-tista Augusto Davinny, que iniciou a clínica odontológica no ano de 2003.

Após alguns meses, a di-reção da Unidos de Vila Ma-ria liberou espaço e buscou ajuda de patrocínio e doa-ções de equipamentos para a construção da clínica fisio-terápica.

Há quatro anos e meio Vanessa Tomaz de Aquino, de 26 anos, na época uma jo-vem recém formada, foi con-vidada a participar volun-tariamente da coordenação do projeto, se disponibili-zando a atender a população mais carente. “No começo foi muito difícil tanto para mim quanto para os pacien-tes. Eu cresci junto com eles, com certeza. Não largo aqui por nada, só se eu morrer!”, afirma a fisioterapeuta que não costumava frequentar a escola antes, por não gostar de carnaval.

Para receber tratamento, o paciente precisa primeiro ter um pedido oficial de um médico. A partir daí é feita uma triagem, onde são ava-liadas as necessidades e pos-sibilidades de cada pessoa. “Pergunto se tem convênio, se tem veículo, onde mora. É uma pré-seletiva para sa-ber se tem ou não condi-

ção financeira, se pode ou não ser atendido em outro lugar”, conta Va-

nessa, que faz a triagem. Ela ainda explica que a equipe formada por

quatro fisiotera-peutas atende a

crianças e ido-sos, sem restri-ção a qualquer tipo de patolo-gia. “Só se for

mesmo muito complicado, aí não dá, por causa do espa-ço físico”, que é dividido em três partes.

Na entrada há duas ca-mas hospitalares, uma bi-cicleta ergométrica e uma máquina para realização de exercicios musculares. Todos os equipamentos se comprimem numa área de dez metros quadrados. Os pacientes se revesam nas máquinas , como se fos-se uma espécie de linha de montagem, cada um com um problema diferente, le-vando em média 30 minutos em cada sessão.

A diarista Marli Maria de Souza, recebe uma vez por semana luz fluorescen-te para relaxar a muscultu-ra do braço e diminuir a dor. Ela realiza este tratamento, pois em setembro de 2008 sofreu uma queda enquan-to limpava o banheiro. Des-locou o braço e teve que ficar engessada por 45 dias. De-pois disso, o médico disse que ela precisava urgente de fisioterapia, caso contrário, poderia perder o movimen-to do braço.

Como ela não tinha con-dições financeiras de pagar um tratamento particular e no SUS (Sistema Úni-co de Saúde) a fila de espe-ra era de no mínimo quatro meses, uma amiga indicou a Unidos de Vila Maria. E, apesar da distância, ela vem toda semana de Guarulho até a zona norte de São Pau-lo para o tratamento, que já dura sete meses. “O trata-mento aqui é bom mesmo! Foi muito importante para mim, tem ajudado bastan-te! O braço não tinha mo-vimento, agora melhorou, tem movimento, viu?”, diz Marli movendo levemente o braço. “Agora indico para todo mundo”, conta .

“Alguns hospitais e pos-tos já conhecem o traba-lho na escola de samba Vila Maria e indicam tam-bém. Por isso, às vezes, tem fila de espera para conse-guir uma vaga”, completa a fisiterapeuta voluntária Ca-mila do Amaral, de 30 anos. Ela trabalha no local há três anos, todas as terças e quin-tas-feiras das nove às dezoi-to horas.

É evidente que os pacien-tes ficam agradecidos pe-los cuidados que recebem. “A falta de poder aquisitivo faz com que eles deem mui-to mais valor. Obedecem nossas orientações e ficam felizes por verem a melho-ra”, diz Camila após atender dona Marli.

Paciente durante tratamento fisioterápico

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EducaçãoMACKENZIE • Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 / folia social / / folia social / Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 • MACKENZIE 8

Educação

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Das artes cênicas às artes marciaisA aula de jiu jitsu termina

e o aluno Rajas S oares, de 42 anos, ator e diretor de teatro conta que a aula começará logo em seguida, ali mesmo na Vila Maria. Coinciden-temente os papéis se inver-tem, o professor e atleta de jiu jitsu de apenas 16 anos, Lucas dos Santos Gomes, muda de função e passa a ser aluno e ator amador.

Roupas trocadas, tata-mes retirados e cadeiras or-ganizadas em forma de pla-téia. No palco imaginário, o ensaio da peça se inicia sob a orientação do exigente dire-

tor, que passo a passo ofere-ce novas coordenadas para que os alunos se soltem, concentrem-se e interpre-tem seus personagens .

Há quatro anos, Soares foi convidado pelo setor so-cial da escola de samba a ini-car as aulas de teatro. “Eu estava com uma peça em cartaz em São Paulo, quan-do o coordenador do social assistiu e chamou os atores para conhecer o espaço que estava sendo inaugurado aqui. Eu vim, me interessei e passei a me dedicar como professor voluntário”.

Antes disso ele não co-nhecia a escola de samba e tinha outra visão sobre esse meio, “para mim era só car-naval em fevereiro e mais nada”. Agora, além das suas próprias aulas, participa dos desfiles e pratica o jiu jitsu. “Faço de terça e quarta-fei-ra, das 14 às 15 horas, há três meses. Na verdade, isso aqui é uma diversão, mas os ‘atle-tas’ levam a sério. Isso que é interessante!”, conta Soares com entusiasmo.

Morador do bairro, Lu-cas Gomes começou a dar aula de jiu jitsu por indica-

ção do professor de teatro, há cerca de quatro meses. “Já fazia aula de teatro aqui com o Rajas. Como já parti-cipei de campeonatos e te-nho experiêcia com o jiu jitsu há muito tempo, resolvi ver como era dar aula. É muito bom, muito prazeroso ensi-nar, ainda mais as crianças”, complementa.

Já a aula de teatro, “é boa para abrir a mente e para eu me soltar um pouco, às vezes sou tímido”, afirma o profes-sor de artes marciais que de-monstra possuir grande ta-lento para as artes cênicas.

Durante aula dinâmica, alunos acompanham as explicações do professor e as colocam em prática

Os acordes que levam à músicaO som ecoa pela escada

abaixo, chegando aos ouvi-dos de quem passa pela qua-dra da Unidos de Vila Maria. Os acordes vêm da sala no andar superior, onde cerca de 20 pessoas, sentadas em círculo e com um violão nas mãos, observam os papeis quadriculados ao chão. Es-tes fazem parte da dinâmica usada pelo professor Marco Aurélio Garcia, de 42 anos, para explicar em qual corda

do violão fica determinada nota, se ela é bemol ou suste-nido. Os alunos se mostram afiados às perguntas do pro-fessor e estão animados para demonstrarem seus conhe-cimentos, embora já seja 21h de uma terça-feira, horário em que muitos já devem es-tar cansados após um longo dia de trabalho.

Para Marco Aurélio, dar aulas como voluntário é muito gratificante “É gosto-

so ver o pessoal começar do zero e no final do ano os ver tocando”. A escola de sam-ba faz a sua parte, oferecen-do diversos cursos para a comunidade, e cada um re-tribui com dedicação e es-forço durante as aulas.

O aprendizado vai além do Dó Ré Mi. “A intenção não é formar um profissio-nal de música, mas sim uma pessoa que entenda que se tiver disciplina vai aprender

qualquer coisa na vida”, en-fatiza o professor.

A mistura entre as idades dos alunos é visível, porém isso não é problema para o aprendizado. Rosely Souza fica satisfeita em ver seu fi-lho, Vitor, de 13 anos, apren-dendo a tocar. “Ele sempre gostou de musica. Ele gos-ta dessas coisas, ele tem um gosto diferente dos adoles-centes, eu agradeço muito a Deus por isso”, afirma .

Para participar de qual-quer curso do projeto social deve-se preencher um infor-me sócio econômico, que é checado pelo assistente so-cial que confere se as infor-mações são verídicas. “Isso é feito para que pessoas que têm condições de pagar um curso não ocupem o lugar daquele que não tem”, de-clara Antonio Carlos, res-ponsável pelo setor social da Unidos de Vila Maria.

AgogôÉ um dos sons mais agudos da bateria, podendo se tor-nar uma das marcas carac-terísticas da escola, depen-dendo do seu uso.

ChocalhoO instrumento para os re-frões. Ajuda também a cai-xa a dar o suingue de ma-neira mais leve.

Caixa de guerra Assim como os surdos, este instrumento também mar-ca o andamento, mas per-mite floreios.

RepiqueÉ uma resposta à caixa.

CuícaÉ dependente da marcação dos surdos.

PandeiroÉ pouco audível, por isso muitas escolas aboliram e só utilizam como ‘alegoria’, para as mulatas sambarem.

PratoInstrumento puramente alegórico, apesar do som forte. Apenas um ou duas pessoas tocam o prato, à frente da bateria.

Projeto Barracão oferece apoio financeiro

às escolas de sambaO Projeto Barracão, criado no segundo semestre de 2002, faz parte da Associação Amigos

das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo - Assaoc, uma Organização Social de Cultura responsável, desde abril de 2005, pela gestão das oficinas culturais implantadas no Estado de São Paulo.

Gisele Caram, coordenadora dos projetos regulares – Arquimedes, Barracão, Talentos Especiais e Terceira Idade – contou em entrevista sobre o incentivo oferecido as escolas de samba de São Paulo:

Qual é a finalidade do projeto barracão?Caram: O projeto pretende investir na capacitação de crianças e jovens, prepará-los me-

lhor para a escola, para o mercado de trabalho e para os desafios da vida. É importante que fi-que claro que o projeto não pretende formar artistas para que, eventualmente no futuro, ve-nham atender às agremiações, mas sim diversificar as opções de oficinas artístico culturais junto a comunidade local. Porém, é obvio que, como as agremiações se sustentam em torno da cultura do samba, eles valorizam muito mais as oficinas de percussão, de samba, mestre-sala e porta-bandeira.

Como funciona o projeto?Caram: Estabelecemos diversas oficinas de 20 horas, com mínimo 15 e máximo de 35 jo-

vens entre 7 e 17 anos, que devem cumprir 75% da carga horária total. Oferecemos a remune-ração por hora-aula aos arte-educadores, de acordo com o grau de formação, ensino médio e superior completo. O preenchimento de vagas e a freqüência do público, desde o inicio até o final da oficina cultural, é uma responsabilidade da agremiação.

Quem escolhe as oficinas?Caram: As agremiações escolhem. Eu recomendo várias possibilidades de oficinas cultu-

rais, tento conversar, negociar e sensibilizar. Não tenho como impor. Não posso obrigá-los, até porque eu corro o risco de não ter público para as oficinas.

Qual é o limite de oficinas por agremiação?Caram:Em média ,três a quatro para as agremiações maiores, geralmente do grupo espe-

cial. Não que a gente priorize as escolas consideradas maiores, mas é que em geral essas têm mais público, espaço, estrutura e logística muito mais apropriada.

Há alguma verificação das atividades?Caram: Nós temos uma pessoa que exerce a função de supervisora, que vai às agremia-

ções para verificar se o espaço físico é adequado; se a dinâmica, a metodologia e a relação en-tre o arte-educador e os participantes é boa; se a oficina realmente está funcionando como planejado.

O projeto ajuda a reduzir a criminalidade?Caram: Existe uma série de outras variáveis que justificam e explicam a criminalidade.

Não basta ter só um projeto. Como a gente trabalha muito essa questão das competências pessoais, eles acabam se sentindo melhores, mais capazes e mais confiantes. Passam a en-xergar o mundo e a si mesmos de uma maneira mais positiva. A partir daí, por associação fa-zem outras escolhas mais saudáveis, favoráveis a vida deles. Não é o projeto que vai milagro-samente dar conta dessa situação, tem uma série de outras questões que também devem ser trabalhadas.

TamborimÉ importante pois desenha todo o samba, enquanto os surdos e a caixa fazem a marcação contínua.

Surdo de primeiraA base que garante o anda-mento principal do samba.

Surdo de segundaÉ o contraponto, no mo-mento em que o surdo de primeira está ‘parado’.

Surdo de terceiraÉ o que faz a marcação.

Conheça os principais instrumentos de uma

bateria:

Samba

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira: os guadiões do pavilhãoO pavilhão é a maior re-

presentação simbólica, his-tórica e religiosa de uma es-

cola de samba. É por meio da

bandeira de s e d a , com de-senhos únicos e carac-terísticos, que cada a g r e m i a -ção mantem seus rituais e tradições vivos na memória da sua comunidade. Por essas razões, a transmissão de co-nhecimento por meio do casal de mestre-sala e porta-bandeira é tão importante.

Eles são os guardiões do pavilhão, da essên-cia de tudo aquilo que define a escola como ‘agremiação recreativa só-cio-cultural’.

As escolas de samba são os locais, nos quais além da festa do carnaval, apren-de-se a cultura do samba. Entretanto, em alguns mo-mentos esse elemento é dei-xado de lado em detrimento de valores ligados ao espetá-culo.

E para que o carnaval não se perca e se transforme apenas em folia e algazarra, Gabriel de Souza Martins, o conhecido mestre Gabi foi um dos fundadores da As-sociação de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Estandar-te do Estado de São Paulo (AMESPBEESP) pensando na formação de novos guar-diões, que entendam o com-promisso de representar os ideais de várias gerações an-

teriores. (confira a entrevis-ta completa na página a se-guir)

Proibido sambar aqui

Assim que as aulas mi-nistradas na quadra da Aca-dêmicos do Tucuruvi come-çam, já se observa os casais rodopiarem, fazerem poses e ouvirem os conselhos dos mestres. Ninguém ali sam-ba, pelo contrário, em algu-mas aulas eles dançam até valsa! Isso porque a dança do mestre-sala e da porta-bandeira é herança do mi-nueto, tradicional dança eu-ropéia, que exige postura e leveza nos movimentos.

Os alunos não reclamam, dizem preferir desse jeito mesmo. “Mulher é que gos-ta mais de samba, né? Para o homem é fácil não sambar! E o mestre-sala tem aquele jogo de perna”, brinca o alu-no Leonardo Silva, demons-

trando um dos passos.P a r a

as mo-ças, a

maior res-ponsabilidade e desafio é se manter elegante a todo ins-tante. “É uma dança de sin-cronismo, por isso tem que ensaiar a postura o tempo inteiro. Acredito que para a porta-bandeira é mais com-plicado, porque tem o sal-to, a bandeira, o sorriso no rosto, a mãozinha que tem que estar no lugar certo da maneira certa.”, diz a alu-na Daniele de Lourdes Fer-nandes. “Não pode nem sair para balada e ir mal ar-rumada, porque você acaba se tornando o ponto de re-ferência da escola. É muita responsabilidade! O pavi-

lhão é a representação física da agremiação e você acaba perdendo a sua caracterís-tica própria, passa a ser a da escola”, completa.

Versão mirim

A porta-bandeira Vivia-ne de Oliveira dá aula para as crianças da Mocidade Alegre, e explica que no iní-cio o curso é mais teórico, “são discutidos o surgimen-to do carnaval, os siginifica-dos do mestre-sala e da por-ta-bandeira e a importância de toda essa história lá atrás, pelos nossos ancestrais, comparando com o carna-val nos dias de hoje”. Além disso, ela fala nas aulas so-bre a própria Mocidade Ale-gre, para os alunos entende-rem o local onde convivem e a história da escola de sam-ba da qual participam.

N e s t e caso, a in-tenção de e n s i n a r as crian-ças vem da tentati-va de despertá-los para o caminho do samba, apro-veitando a vontade que de-monstram em dançar, aprender e crescer. “E na realidade, o projeto só-cio-cultural é feito pra tirar as crianças da rua. O mes-tre-sala e a porta-bandeira acabam se desenvolvendo dentro da escola. Hoje, os 15 participantes mirins fa-zem parte da escola, saem para apresentação, fazem shows... as vezes são remu-nerados também. Eu vejo que para eles isso é uma re-compensa, uma identifica-ção dentro da escola. Eles se sentem muito bem e super felizes!”, afirma Viviane.

A experiência de um mestreGabriel de Souza Martins, o Mestre Gabi – fundador da Associação de Mestre-Sala, Porta-

Bandeira e Estandarte do Estado de São Paulo - AMESPBEESP .

Como surgiu a associação e por quê?Gabi: Em 1995 , eu e o mestre Dinei fundamos a associação, porque nós percebemos que a

dança do casal estava se perdendo. Mas a idéia surgiu quando o jornalista e radialista Evaris-to, que é uma das personalidades do samba de São Paulo – que começou o processo sambís-tico aqui –, estava no estúdio de um programa de carnaval falando com o Dinei por telefone, enquanto eu falava com os dois da pista. Foi uma triangulação muito legal.

Aí, num momento o Evaristo falou: “poxa, o que que vocês estão achando dos casais?”. E nós, como mestres-salas um pouco mais velhos, falamos que a tradição estava se perdendo. Cada um fazendo o que queria, né! Essa era uma preocupação. Foi então que ele teve a idéia, e nos disse: “por que vocês não criam aí uma associação pra orientar o pessoal?”. E nós resolve-mos criar, em 95, a Associação de Mestre Sala e Porta Bandeira, que é a AMESPBEESP hoje.

Como foi sua carreira de mestre-sala?Gabi: Eu fui mestre sala durante 26 anos. Tenho 61 anos. Passei pela barroca da zona sul,

que foi a escola onde eu comecei a dançar. Lá fui compositor, chefe de ala, passista e mestre-sala. Depois fui mestre-sala da Camisa Verde e Branco até 2002.

Qual é função do mestre-sala e da porta-bandeira? Gabi: O mestre-sala é o guardião do pavilhão e a porta-bandeira ostenta o seu pavilhão. A

a única função do mestre-sala e da porta-bandeira é de apresentar o pavilhão. E dançar com passos e características próprias do casal, e não pode sambar! Na escola de samba inteira, eles são os únicos que não podem sambar. Sabe por quê? Porque essa nossa dança tem uma influência européia que é vinda do minueto.

A introdução dessa dança vem dos escravos. Foi assim, os escravos eram serviçais nas ca-sas dos nobres, então, quando havia aqueles saraus eles ficavam ali apreciando e observando o ‘sinhozinho’ dançando com a ‘sinhá’, com toda aquela pompa, aquele vestido bonito, aque-le glamour. Aí, quando os escravos iam para suas clareiras, seu terreiro, eles imitavam o que tinham visto na casa grande, mas fazia uma coisa completamente diferente, com batuque. É por isso que a nossa dança tem essa influência, do mestre-sala e da porta-bandeira não po-derem sambar. Nos fazemos passos característicos do minueto, misturados com a capoeira abrasileirada.

Qual é a importância do pavilhão?Gabi: Muito lá atrás, ganhava o carnaval quem conseguisse roubar o pavilhão de outra

escola. Isso quando a coisa não era organizada. Ali na Praça da Sé, vinha uma escola peque-na pela Rua Direita e outra pela Patriarca, aí quando ela se encontrava era aquela ‘bagunça’, uma querendo roubar o pavilhão da outra. Tinha briga mesmo, até com navalha! É, por isso que todos os pavilhões eram de cetim, a navalha não rasga o cetim. Hoje a idéia do pavilhão está mais no sentido figurado, porque a gente não tem mais essas brigas. Agora é organizado, tem uma sequência, uma ordem de desfile, não há mais esse problema.

O que representa o pavilhão?Gabi: Ele tem a importância de uma comunidade. Por exemplo, aquele pavilhão da Tucu-

ruvi, traz uma história da comunidade desde os fundadores, tem um porque daquele símbo-lo. Muita gente, no passado, já brigou, morreu, por esse pavilhão. E é por isso que existe esse respeito.

A Vai- Vai e a Camisa Verde e Branco era uma ‘coisa’, se arrebentavam por causa daqueles pavilhões, era muito sério. Mas hoje com a globalização a coisa se perdeu. Você não vê mais tanto respeito pelo pavilhão como se tinha antigamente, de você chegar ao ponto de brigar com uma navalha por causa de um pavilhão. A escola de samba é uma coisa muito profunda, que muita gente não entende. Hoje em dia, ela esta banalizada, é só o desfile que passa na te-levisão e pronto.

SambaSamba

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Samba Samba

A paixão pela dança inspira futuras passistas

A professora de dança, Aline de Oliveira Paula, de 19 anos, não aparenta a pou-ca idade que tem. Sentada em frente as alunas, ela en-sina cada movimento de-licadamente e com muita paciência, deixando trans-parecer sua maturidade.

Aline cursa o terceiro ano da faculdade de educação fí-sica, é formada em ballet, jazz, sapateado e outros rit-mos e dá aulas de dança há três anos. “No começo, eu confesso que fiquei com bas-tante receio de não dar cer-to, deles (os alunos) não se apegarem e eu não conse-guir dar motivação pra eles. Mas, hoje em dia é maravi-lhoso, eu adoro”.

Ela contou que já desfila há nove anos pela Mocida-de Alegre, apesar de afirmar

que, no início, não gostava do barulho das escolas de samba e dos ensaios. “Já sai na comissão de frente, na ala das passistas e até na bate-ria. No começo eu reclama-va muito do barulho e da ‘ba-gunça’, mas agora não saio mais daqui”, declara.

Num ambiente improvi-sado e com alguns colchone-tes distribuídos pelo chão, as pequenas alunas da aula de Ritmos Brasileiros da escola de samba Mocida-de Alegre iniciam o alonga-mento. Elas demonstram muito entusiasmo, não fal-tam às aulas e estão sempre participando das apresenta-ções de danças em eventos.

Shariah Hadithe Atala Pereira, de 9 anos, diz gos-tar muito das aulas. “Aqui eu aprendo ainda mais do que

já sei. Porque desde peque-na, quando eu tinha quatro anos, já sabia sambar, só que não como agora! Eu falo pra minha mãe que, quando eu crescer... posso até ser pro-fessora de samba no pé, pas-sista ou porta-bandeira”, so-nha a garota. “Aqui é minha casa, é aqui que eu vivo. Não moro aqui no bairro, mas se me chamarem pra vir qual-quer dia, qualquer horário, eu venho!”, afirmar Shariah, orgulhosa de ser da comu-nidade da Mocidade Alegre, sua escola de coração.

O curso é realizado em parceria com o Projeto Bar-racão da Secretaria de Cul-tura do Estado de São Pau-lo e tem duração de um ano. Após a oficina, os alunos re-cebem uma declaração de participação.

Meninas fazem alongamento durante aula de dança

Baterias nota 10

Ao longe já se ouve o for-te barulho produzido pelos surdos, tamborins, choca-lhos, pandeiros, e cuícas.

Quem passa pelo bairro da Bela Vista não imagina que o som tão alto é produ-zido por gente tão peque-na. Alunos da bateria mirim das escolas de samba de São Paulo estão reunidos num evento na quadra da escola de samba Vai-Vai.

A disputa pela melhor co-locação existe apenas no des-file. Durante o restante do ano, as agremiações se en-contram em eventos, orga-nizam festas, apresentações e shows. O espírito competi-tivo fica para a avenida.

Marcos Rezende do Nas-cimento, o conhecido “mes-tre sombra” da bateria da

escola de samba Mocidade Alegre, comenta que para ele a rivalidade não existe en-tre as escolas: “Não tem um confronto direto e sim um desfile para os jurados, nos apresentamos e somos ana-lisados pelo que fazemos, e julgados com regras e crité-rios iguais para todos”.

De um lado da rua, a ba-teria da Vai-Vai, de outro, a da Mocidade Alegre. Frente a frente, elas não estão se en-frentando, e sim se apresen-tando e se completando.

Com ou sem experiência, não importa, o ritmo é con-tagiante e todos que assis-tem a apresentação não re-sistem ao samba no pé.

Em algumas escolas de samba as aulas são ofereci-das por meio do Projeto Bar-

racão da Secretaria de Cul-tura do Estado de São Paulo que atende às crianças e aos jovens de sete a 17 anos. Em outras escolas apenas a agremiação desenvolve o trabalho, independente de qualquer parceria, e, por-tanto, delimita a faixa etária que deseja atender.

O diretor social da esco-la de samba Mancha Verde, Emerson Dias, afirma que a agremiação oferece o curso a quem estiver interessado em participar, desde crian-ças até pessoas com 30 anos de idade. Emerson ainda complementa “a bateria que desfila no carnaval é 100% formada dentro da escola, porque tem muita gente que começou aprendendo nas aulas e hoje vai para os des-

files. Mas, também tem mui-tos que não conseguem che-gar para tocar no carnaval, mas pelo menos saem daqui com uma base”.

Nas outras agremiações, não é diferente, nem todos os alunos vão para o desfile, ou por uma questão de ida-de, pois alguns ainda têm apenas sete anos ou por uma questão de talento. Para to-car na bateria oficial da es-cola não basta ter feito aula, tem que ter habilidade e to-car muito bem o instrumen-to. “O aluno tem que se des-tacar nas aulas, tem que ter aptidão”, alega Vanessa Dias, diretora social da Ro-sas de Ouro.

O curso de bateria é pre-sente na maioria das agre-miações do grupo especial

de São Paulo: Mocidade Alegre, Vai Vai, Rosas de Ouro, Gaviões da Fiel, X9 Paulistana, Acadêmicos do Tucuruvi, Unidos de Vila Maria, Mancha Verde, Tom Maior, Leandro de Itaque-ra, Águia de Ouro e Impera-dor do Ipiranga.

Para Gisele Caram, co-ordenadora do Projeto Bar-racão, existe uma justifica-tiva para a grande adesão às aulas de bateria: “como as agremiações se susten-tam em torno da cultura do samba, elas valorizam mais aquelas oficinas, por exem-plo, de percussão, de samba, mestre sala, porta bandeira e outras que tenham alguma relação com o que é realiza-do pelas agremiações pro-priamente, que é o samba”.

Uma tradição em família, costume que passa de mãe para filha há anos. A família Atala já se acostumou ao ba-tuque e ao som forte produ-zido nas agremiações. Des-de os setes anos de idade, a mãe de Shariah, Solange Aparecida Atala, frequenta as escolas de samba.

Com a filha não é diferen-te, mais cedo que a mãe já iniciou sua vida no samba. Shariah Atala Pereira, de 9 anos, participa há três anos dos projetos sociais da esco-la de samba Mocidade Ale-gre e tem como meta seguir seu lado carnavalesco. Mé-dica, advogada, que nada! Seu sonho mesmo é ser a primeira porta-bandeira da escola. Com um cabo de vassoura e o lençol da bone-ca pendurado ela treina em casa. O som? A mãe toca pa-nelas com colher e pronto, o desfile está feito. “Assim que eu vivo minha vida de sam-bista, assim mesmo”, diz Shariah com um largo soris-so no rosto.

A mãe, de 45 anos, incen-tiva muito a filha e alega fa-zer isso, porque no seu tem-po não existiam aulas sobre a história do samba e do car-naval. “Hoje em dia o sam-ba mudou muito, o carnaval também, está mais profis-sional, mais cheio de co-nhecimentos. Tem trabalho escolar aqui sobre o carna-val antigo, sobre a dança”, conta Solange, que já desfi-lou na Rosas de Ouro, Peru-che, Imperador do Ipiran-ga, Passos de Ouro, Tropa de Fogo e Nenê de Vila Matilde.

A menina frequenta as aulas, e também escreve e lê sobre o assunto. Segun-do a mãe, é importante ela saber mais sobre o passado, da época do avô, que foi um dos fundadores da escola de samba Império de Cambu-ci e da avó, que foi uma das primeiras passistas. “Ela tem que saber o que ela está fazendo, o que ela está dan-çando, o que ela está cantan-do, é história. E ela se inte-ressa”, afirma.

Tradição Familiar

Shariah se dedica na aula de dança

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Governo7

Formatura, espetáculo e festaAlunos apresentam maquiagens e penteados em desfile

A formatura estava atra-sada quase uma hora e o pú-blico, composto por paren-tes e amigos, parecia ansioso para ver o que ia acontecer. A promessa era de que teria uma apresentação perfor-mática, mas ninguém ali sa-bia como seria exatamente.

Na sala de aula, os prepa-rativos finais eram estipu-lados pelos professores que tentavam acalmar o ânimo e a agitação das turmas.

Cada aluno tinha o rosto maquiado e o cabelo entre-laçado, e estava pronto para mostrar o que tinha apren-dido durante as oficinas de maquiagem, entrelaçamen-to e corte de cabelo.

Depois de mais de meia hora, se dirigiram ao salão e iniciaram o ‘espetáculo’. Ao ouvirem seus nomes sendo chamados, os alunos entra-vam e desfilavam com largos sorrisos até a frente, passan-do por entre as cadeiras enfi-leiradas na direção daquela ‘passarela’. Os espectadores tiravam fotos e davam gritos emocionados de surpresa.

Josefa Dias Soares, co-nhecida como Josi, foi o grande destaque. Mãe de quatro filhos e avó de quatro netos, ela não teve vergonha de mostrar seu corpo inteiro pintado artisticamente.

“A professora falou que seria legal se a gente fizesse uma maquiagem corporal, mas ninguém teve coragem. Aí eu falei: ‘vai eu, a velha de quarenta e seis anos”. Mas gostei da experiência, ficou muito legal”, afirma a cabe-leireira, que buscou o curso para “carregar mais baga-gem na mala”.

No fim, após todos te-rem recebido seus certifi-cados, houve uma festa de confraternização com salga-dinhos, lanches e sucos.

Leite enriquecido beneficia pessoas carentesSão cinco horas da ma-

nhã, o sol ainda nem apare-ceu e lá estão todos os saqui-nhos de leite em caixas de isopor assentados em fren-te a escola de samba Acadê-micos do Tucuruvi. O cami-nhão da usina passou logo cedo e fez a distribuição.

Luiz Carlos Tierra, super-visor da Secretaria de Agri-cultura do estado de São Paulo explica que o governo faz uma concorrência para eleger as usinas que vão en-tregar o leite nas entidades. “Não é cooperativa, cada usina é responsável por en-tregar sua produção no local determinado. Elas emitem nota fiscal e recebem pela produção do leite”.

Oito horas, o primei-ro funcionário da escola de samba chega e recolhe as caixas para dentro, arruma-as com cuidado e deixa tudo preparado para a entrega que começará daqui uma hora. Um outro funcionário chega também, arma a mesa e a cadeira na entrada da es-cola e já separa o papel com a lista de presença dos benefi-ciados pelo Programa.

“A escola de samba está no trabalho de distribuição. O trabalho social mesmo é das entidades, de eleger as famílias, buscar o programa e prestar contas da distri-buição”, acrescenta Tierra.

Nove horas, as primeiras

da casa. “Eu recebo um sa-lário só, pra comprar leite o mês inteiro é duro. Mas gra-ças a Deus que tem isso aqui, que me ajuda bastante”.

Toda sorridente Iza-bel sai acanhada em passos curtos. Logo os outros be-neficiários vão chegando e o esquema de distribuição continua o mesmo, até que os saquinhos de leite, que chegaram ali às cinco horas da manhã, começam a de-saparecer dentro da grande caixa de isopor.

O supervior explica que “as usinas de produção fa-zem um leite enriquecido, especial para crianças ca-rentes e desnutridas. Esse leite evita anemia, tem fer-ro e vitamina A, além dis-so substitui o leite materno, por isso a criança só recebe a partir dos seis meses.”

E não são apenas as crianças que precisam do leite. A senhora Glatina Ma-ria Ritter, de 72 anos, que re-cebe o benefício semanal-mente na escola de samba Vai-Vai, conta com os olhos brilhando que “é uma ma-ravilha, porque eu sou obri-gada a tomar muito leite, já que eu tomo muito remédio”

O Programa Viva Lei-te existe há dez anos e as associações interessadas em receber o benefício de-vem procurar a Secretaria de Agricultura com a docu-mentação da entidade e dos diretores da organização em dia com o governo.

mães começam a chegar, al-gumas trazem os filhos no colo, outras os guiam pelas mãos, e outras ainda veem sozinhas. Cada uma passa pela mesa com a lista de pre-sença, apresenta o RG e as-sina o papel confirmando o comparecimento. Mas, não são apenas mães; pais, avós, tios e até vizinhos também aparecem na escola para re-tirar o benefício, basta apresen-tar o docu-mento do res ponsável pela crian-ça cadas-trada.

O critério utilizado pelo Programa Viva Leite é a ida-de, as famílias tem que ter crianças com idade entre seis meses e sete anos, ou idosos com mais de sessenta anos. Além disso, para par-ticipar da entrega as famí-lias devem comprovar sua renda, abaixo de dois salá-rios mínimos.

Cada beneficiário rece-be quinze litros de leite por mês. As agremiações do gru-po especial participantes do Programa são Acadêmi-cos do Tucuruvi e Rosas de Ouro, que realizam a entre-ga à crianças e a Vai-Vai que

atende à idosos e crianças.Dez horas, a funcio-

nária voluntária em re-alizar a entrega do leite chega e assume o lugar do homem que até en-tão realizava esse ser-viço. Valentina Ramos,

de 50 anos, trabalha como colaboradora há cinco anos e conta que o pessoal com-parece mesmo, “são cento e cinquenta famílias cadas-

tradas e a gente entrega duas vezes por semana. É gratifi-cante, eu gosto de trabalhar com o público e depois que eu comecei a trabalhar com o leite, eu gosto de estar no meio desse pessoal, sou bem reconhecida aqui no bairro”.

Valentina conta que não gostava de escola de samba, mas quando começou a par-ticipar, percebeu que não era a bagunça que ela imagi-nava. “Eu percebi muita coi-sa legal, inclusive os projetos sociais voltados para comu-nidade, e por isso resolvi ajudar também”.

Dez e meia, a pequena Izabel chega à escola de sam-ba de mãos dadas com a avó. Em seu rosto, um olhar ini-bido. Nos braços, a pequena boneca não é deixada de lado em nenhum instante.

Devagar, ela pega os sa-quinhos e coloca na sacola da avó. Dona Elza Borges, de 65 anos, conta que busca o leite há três anos para a neta, de 4 anos, e que a entrega ajuda muito no orçamento

Cada beneficiário recebe quinze litros

de leite por mês.

Educação

MACKENZIE • Domingo, 14 de Fevereiro de 2010 / folia social /

Leites ensacados prontos para a distribuição

Há 20 anos na área da es-tética capilar, Cleiton Már-cio da Silva, 44 anos, ex-bombeiro militar, conta o aperto que passou e como conseguiu melhorar de vida.

Um certo dia eu passei

na frente de um salão que ti-nha uma placa: “precisa-se de cabeleireiro com prática”. Como sempre fui muito atre-vido, pensei: “vou pegar essa vaga!” Então, perguntei para o rapaz se ainda estavam ad-mitindo cabeleireiro. Ele quis saber meu nível de experiên-cia, e eu menti, disse: “cinco anos”. Nunca tinha pegado em uma navalha ou tesoura na minha vida.

Como ficou agendado para o dia seguinte um tes-te, a minha mulher, que é ca-beleireira, me deu alguns toques do que fazer. Sem acreditar que daria certo e me chamando de louco, ela achava até que eu poderia ser preso por isso. Mas eu preci-sava tentar, tinha um filho de três meses e não tinha mais comida em casa.

Na hora do teste, o rapaz me indicou para fazer um corte em um cabelo longo, lin-do, e o cliente ainda me falou: “Me deixa bonito que hoje te-nho um casamento para ir!”. Aí eu pensei: “Meu Deus, e agora?”. Comecei a tremer, porque não sabia o que fazer.

O cliente notou meu ner-vosismo e falou: “Meu, você é cabeleireiro mesmo?”. Na hora eu lembrei de uma pa-lavra bíblica que diz assim: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Abri o jogo e expliquei que estava passando por dificuldade fi-nanceira, que inclusive tinha ido a pé da Cachoeirinha até

Santana porque estava sem dinheiro para o transporte.

Para a minha surpresa, ele disse: “Se isso que você está falando é verdade, faz o seguinte: põe a capa em mim, pega a máquina e passa na cabeça inteira”. Não queria fazer aquilo, mas ele insistiu falando: “Cabelo cresce!”.

Nisso o cabeleireiro ao lado ouviu a conversa e falou que me ajudaria fazendo o acabamento final, enquanto o dono do salão não estava lá. Quando o proprietário vol-tou, o cliente pagou dez reais pelo corte e deu mais 20 re-ais, falando que eu era ótimo e que a partir daquele dia só cortaria o cabelo comigo.

Daí em diante, o outro ca-beleireiro foi me ensinando e eu aprendi na marra, por ne-cessidade e sem fazer um cur-so de especialização. Fiquei naquele salão por dois anos, e saí de lá um profissional. Fui crescendo na área até abrir meu próprio salão. Hoje eu estou bem, não sou rico, mas tenho minha casa, meu carro e dois salões.

Me tornei multiplicador da ONG Cosmética, Beleza

“Precisa-se de cabeleireiro com prática”

Cleiton durante aula de corte masculino na Mocidade Alegre

& Cidadania quando resolvi fazer um curso de formação certificada na área. Como eu já tinha muita experiência, o professor me chamou para ajudar como assistente. Isso despertou a curiosidade na presidente da ONG, que me convidou a dar aula e a parti-cipar desse projeto.

Para mim é gratifican-te dividir meu conhecimen-to com quem eu vejo que pre-cisa, porque eu passei muita necessidade na minha vida: eu praticamente não conheci minha mãe e meu pai traba-lhava muito. Com sete anos eu engraxava sapato, vendia sorvete... aprendi na dificul-dade, com muito esforço.

Ser cabeleireiro, queren-do ou não, é uma área que você não passa necessidade, pelo menos 100 reais por mês consegue.

É bom quando os alunos vem falar para mim: “Profes-sor, cortei um cabelo. Ganhei dez reais!” ou “Professor, esse final de semana consegui 50 reais”. Não há dinheiro no mundo que pague isso, por-que eu senti na pele o que eles tão sentindo.

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Um dia de festa no Museu da Casa

Brasileira

As crianças chegam ale-gres ao Museu da Casa Bra-sileira, mesmo depois do longo trajeto da zona norte de São Paulo até a Avenida Brigadeiro Faria Lima.

Se você pensa que crian-ça não gosta de museu está muito enganado. Corren-do pelos corredores e olhan-do atentamente as obras de arte, a turma demonstrou muito interesse.

Com perguntas interes-santes e dificilmente ima-ginadas por um adulto, as crianças surpreenderam os monitores do local. “Onde vocês arranjaram tudo isso, no lixo!?”, questiona um ga-rotinho curioso, de 6 anos, referindo-se aos objetos an-tigos que observava. “É, eles acharam que tava legal e pe-garam”, conclui seu amigo.

A guia, contendo o riso, explica que aquelas relí-quias são doadas ou encon-tradas geralmente nas ci-dades do interior, “É muito gratificante trabalhar com essas crianças, porque elas têm essa curiosidade absur-da. Chegam com uma idéia de que o museu vai ser cha-to e quando elas saem da-qui, estão todas sorridentes e não querem ir embora. É super bacana!”, afimar a jo-vem historiadora Paula Co-elho Magalhães de Lima, de 23 anos, que trabalha como educadora no museu há quatro meses.

O passeio tem duração de 1h30min e o tempo chega a ser curto para o tamanho da curiosidade insaciável dos pequenos, que demonstram interesse em continuar an-dando pelos extensos corre-dores do Museu em busca do descobrimento.

A gritaria e cantoria da criançada tomam conta do espaço e nem mesmo as mo-nitoras conseguem conter o extravaso dos pequenos.

A escola de samba Rosas de Ouro em parceria com a Prefeitura do Município de São Paulo, desenvolve o Re-creio nas Férias há oito anos.

Em julho de 2009, o pro-jeto reuniu 200 crianças na quadra da escola de samba. Divididos por idade, todos participaram ativamente das atividades propostas pe-las monitoras. Os baixinhos dos quatro aos cinco anos fi-caram encarregados pelas

canções, a turma dos seis aos sete anos brincou da dança das cadeiras e pega-pega, já os maiores com oito e nove anos fizeram ativida-des recreativas como dese-nhos, recortes e dobraduras e o pessoal dos dez aos onze anos participou de gincanas.

E não foi só na quadra da agremiação que eles fica-ram, outros três passeios fi-zeram parte do roteiro: um dia inteiro no Sesc Itaque-ra, onde puderam correr, brincar e se sujar à vontade; uma manhã no Museu da Casa Brasileira, com muito conhecimento e diversão;

e um passeio cultural pelo Museu dos Transportes.

A monitora Marli Penha Gaspar da Silva, de 42 anos, ficou muito satisfeita com o trabalho. “É uma realiza-ção pessoal, porque eu sem-pre quis trabalhar em algum projeto que tirasse um pou-co as crianças da rua e traba-lhasse brincadeiras, jogos e atividades, onde eles se so-cializassem uns com os ou-tros e conhecessem novas pessoas. E esse projeto se encaixou justamente no que eu queria”, diz.

Na 17ª edição do Recreio nas Férias, coordenado pela

Secretaria Municipal de Educação, junto às secreta-rias municipais de Espor-te, Cultura, Meio Ambiente e Saúde, foram preparados 150 locais para realizar o projeto, entre escolas, equi-pamentos da Secretaria de Esportes, além de sedes de entidades da sociedade civil.

O programa é gratuito e aberto a todas as crianças, mediante autorização dos pais.

Para mais informações acesse o portal da Secreta-ria Municipal de Educação: www. educacao.prefeitura.sp.gov.br

Crianças participam de diversas atividades durante o Recreio nas férias, entre elas a visita ao museu

Prevenção da saúde bucal para as crianças

Um dentista traba lhando numa escola de sam ba? Co-mo será que isso funciona? Ao contrário do que muitos podem imaginar, no sos-sego do dia um consultório odontológico atende a cerca de 12 crianças diariamente na quadra da escola de sam-ba Unidos de Vila Maria. O atendimento é semanal e a faixa etária é dos quatro aos 16 anos.

Iniciado há seis anos, o projeto foi elaborado pelo dentista Augusto Davinny e

a diretoria social da escola. Após verificarem as ativida-des já desempenhadas pela agremiação com as crian-ças, notaram a necessidade de um consultório odonto-lógico que atendesse a esse público freqüentador diário das aulas de futebol, vôlei e teatro, que passam grande parte do tempo na e s -cola de samba.

Com a aju-

da de patrocinadores, os equipamentos necessários para a clínica funcionar fo-ram doados e dentistas vo-luntários começaram a re-alizar os atendimentos no consultório.

Ao entrar na quadra da escola, não se pode imagi-nar que ao fundo do gran-de salão existe uma peque-na sala que abriga todas as máquinas utilizadas pelos dentistas. Ao se aproximar já é possível sentir aque-

le conhecido cheiro de consultório odon-

tológico, nas pare-des, cartazes colo-ridos explicam e alertam as crian-ças contra os ris-cos da má esco-vação, alguns b r i n q u e d o s distribuídos na

mesa da recepção também ajudam a

compor a decoração do am-biente.

Elen Pereira Santos, de 11 anos, faz aulas de vôlei na agremiação e tem aten-dimento no dentista toda terça-feira, com horário já reservado para seu trata-mento. Ela acorda às 8 ho-ras da manhã e não reclama, sentada na sala de espera e aguarda sua vez, quanto conversa com a secretária.

O dentista voluntário Val-ter Silva Junior, de 46 anos, trabalha há um ano na escola de samba Vila Maria. Além disso, atende em seu pró-prio consultório e presta ser-viço duas vezes por semana em outra clínica. “Eu adoro a minha carreira e nada mais honrável do que prestar ca-ridade para aqueles que tem necessidade e não tem assis-tência de saúde básica”, afir-ma Junior, orgulhoso de seu trabalho na escola.

Outros 12 dentistas co-laboradores trabalham no atendimento realizado de segunda a sexta-feira na es-cola de samba.

O que contribui para que o trabalho aconteça de for-ma eficiente e responsável é a freqüência com que as crianças vão ao consultório e a colaboração deles duran-te o atendimento. “Eles são conscientes do tratamento, não dão trabalho como às vezes tem criança em con-sultório particular que não coopera, aqui eles coope-ram, já são orientados”, co-menta Valter.

Sandra Ribeiro dos San-tos, secretária do consultó-rio dentário, explica que os responsáveis pela criança devem preencher uma ficha de inscrição na secretaria da escola de samba Unidos de Vila Maria e aguardar a abertura de novas vagas.

Crianças recebem cuidados especiais em seus dentes

Aluno do clube escola faz tratamento dentário

EducaçãoSaúde

Brincadeiras e conhecimento nas férias

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A realização de um sonho por meio da escrita

À direita, Alda observa atentamente as orientações da professora

Curso de alfabetização leva oportunidade aos adultos

Num lugar pequeno e apertado, com os livros en-fileirados na prateleira ao fundo da sala, poucas car-teiras, mas o suficiente para atender os 22 alunos que participam do curso de al-fabetização para adultos oferecido pela Confedera-ção das Mulheres do Brasil (CMB), ministrado dentro da escola de samba Vai- Vai.

Professora de informá-tica há 23 anos e freqüenta-dora da Vai-Vai, Andréa Re-gina Prata Penteado, de 40 anos, foi chamada pela di-retoria social da agremiação para trabalhar como volun-tária no projeto de alfabeti-zação. Ela fez o treinamento na CMB e há um ano minis-

tra o curso. A extrovertida e brincalhona aluna Jucélia Lima dos Santos, de 57 anos, é o exemplo de que a pro-fessora conquistou a clas-se e atingiu seus objetivos. “Eu me adaptei ao jeito dela ensinar. É paciente e sabe como atender o aluno”.

A CMB tem parceria com o Ministério da Educação (MEC) e dentro da sala de aula, eles contam com ajuda de parceiros. A União Mu-nicipal dos Estudantes Se-cundaristas de São Paulo (UMES) fornece o material escolar e a identificação es-tudantil e ajuda a mobiliar a sala de aula, a CMB forne-ce a cartilha e a certificação de primeira a quarta série do ensino fundamental.

A Vai-Vai é um dos lu-gares que cede espaço para a realização do curso, mas como Andréa explica “são vários núcleos em todos os

bairros de São Paulo. Tem em Paraisópolis, na Estrada de Itapecerica, na zona les-te. Fora daqui também tem, em Pernambuco, Rio de Ja-neiro, Paraná...”.

O curso tem duração de seis meses, com carga de dez horas semanais, e as au-las são realizadas de segun-

da a quinta-feira, das 9 às 12 horas. Os alunos não cos-tumam faltar e são aplica-dos nas tarefas. “A escola faz parte da minha vida. Quan-do eu não venho de manhã, não tenho sossego, quando é meio dia está faltando al-guma coisa. Estou gostando e vou continuar meus estu-

dos, ainda quero ser advo-gada!”, diz Jucélia.

Ela conta que cursou dois anos do ensino básico na re-gião norte do país e com 14 anos veio para São Paulo. Devido às dificuldades não pôde mais estudar, fez curso de cabeleireira, casou e teve quatro filhos, depois de cria-los ela resolveu ir atrás dos seus estudos.

Com lápis na mão e ca-derno de caligrafia na mesa, cada aluno escreve cuidado-samente e caprichosamen-te cada letra que irá compor suas novas e desconhecidas palavras. “A maior tristeza da minha vida era pegar um caderno e pedir para alguém escrever pra mim. Eu ficava revoltada. E agora chegou a oportunidade!”, anima-se Jucélia, mostrando sua trê-mula caligrafia .

A professora Andréa diz estar muito contente com o resultado do trabalho. “Não tem explicação. Só de escu-tar o aluno falando, ‘olha,

quando entrei aqui eu não sabia isso e hoje sei’... essa é a minha gratificação, acho que salário nenhum pagaria isso”, afirma.

Todos os alunos do pri-meiro semestre de 2009, ministrado no núcleo Vai-Vai, foram encaminhados para o Colégio Mackenzie, instituição particular, que oferece bolsas de estudos. “Me sinto vitoriosa. Nunca é tarde para estudar”, conta Alda Aparecida, de 53 anos, demonstrando felicidade por alcançar mais uma fase em sua vida estudantil.

Com capricho, Jucélia mostra orgulhosa sua conquista

“Me sinto vitoriosa. Nunca é tarde para

estudar”

No ritmo do futebol

O céu está nublado, no chão de areia, as marcas do dia anterior: poças d`água misturam-se com areia, for-mando um grande lamaçal. Sem se importar com isso, cerca de doze adolescentes fazem fila em frente ao pro-fessor, ocupando uma pe-quena área no vasto espaço da quadra.

Momentos depois, to-dos estão correndo, indo até o travessão e voltando, depois dando diversas vol-tas na quadra, para fazer o aquecimento. Nada de jo-gar o tão esperado futebol. O treino é pesado, alongamen-tos, trocas de passes. Após 1h30min de treino é que o jogo de futebol começa.

Ao lado da quadra de areia, outra quadra maior -

praticamente do tamanho de metade do campo de um estádio - é ocupada por jo-vens maiores, numa idade entre doze e dezoito anos, e a cena que se vê é a mesma: alongamentos, corridas, e nada de futebol.

Isto é uma escola de sam-ba? Sim. Na Unidos de Vila Maria o trabalho social é le-vado muito a sério.

Já cansado após coman-dar os garotos no treino, o professor Wilson da Cos-ta, de 47 anos, explica que o trabalho que é desenvolvido com os garotos, pela escola de samba, vai além da práti-ca do simples futebol: “Mui-tos vem aqui pensando que é uma coisa do jeito deles, tipo jogo de rua onde ninguém comanda, aconselha e nem

conversa. Aqui não é assim, há uma disciplina”, afirma.

Por conta disso, alguns acabam desistindo de fazer as aulas, mas o índice de de-sistência é baixo, pois 80% dos que começam o curso, continuam e até participam de campeonatos regionais. “Aqueles que freqüentam mais os treinos, que tem uma qualidade superior que os demais e que mantêm a

disciplina são selecionados para participar de competi-ções”, explica.

Organizados em círculo, os amigos Victor, Jefferson e Leonardo conversam so-bre o treino do dia. Meio tí-mido, Leonardo Cruz, diz como as aulas são importan-tes: “Eu não sabia nada de futebol, achava que jogava alguma coisa, e aprendi bas-tante aqui. Apesar de tudo, a

gente entra aqui moleque e sai cidadão. Não é só futebol que aprende, é também res-peito e união com os demais colegas e professores”.

Empolgado, Jefferson Alves, também elogia a ini-ciativa do projeto na esco-la de samba. Para ele, que mora a duas horas da Vila Maria, o esforço e o tempo gasto são gratificados: “Vale muito a pena”, afirma .

Em fila, garotos fazem aquecimento antes do jogo começar

Elenildo demonstra um golpe para sua aluna

A ginga da cultura AfroAssim como o carnaval, a

capoeira é uma forte expres-são da cultura afro-brasi-leira. Os escravos africanos criaram os característicos golpes ágeis e movimentos gingados ao som do berim-bau, numa mistura de luta e dança, para se defenderem de ataques e castigos. Agora a capoeira é cultivada como uma arte.

Nas aulas oferecidas pela escola de samba Vai-Vai um círculo de pessoas das mais deferentes idades e tipos fí-sicos ‘jogam’ os corpos no ritmo das palmas e da mú-sica, sem intenção de ma-chucar ninguém. Essa é uma boa alternativa cultural e es-

portiva para os moradores da Bela Vista e região.

“Ao invés da criança fi-car na rua fazendo o que não presta, está aqui aprenden-do alguma coisa. A capoei-ra não é só como uma luta, é uma dança, uma arte. Tra-balha a mente e o corpo todo também”, diz o mestre ca-poeirista Elenildo Silva de Moura, de 23 anos, que é vo-luntário nas suas folgas de segunda-feira a noite.

“Aqui você aprende a per-cussão, a história e a origem da capoeira. É todo um tra-balho cultural, você não só treina, você aprende!”, re-força a aluna Hilda Crispina, de 45 anos.

Realização pessoal

Nascida em Salvador, BA, Hilda, sempre quis par-ticipar de uma roda de ca-poeira, mas por oposição da família só fez jazz e outras danças afros. “Eles achavam que era um pessoal mar-ginalizado”, explica. Mas quando veio para São Pau-lo pôde, enfim, realizar sua vontade. Há um ano desco-briu o projeto da Vai-Vai, depois de fazer um trabalho para a faculdade. “Eu fiquei boba, de boca aberta. Não ti-nha noção, foi aí que eu co-nheci de verdade os traba-lhos da escola de samba. Não é só festa”, afirma.

Esporte Educação

Analfabetismo depois dos 40

De acordo com a Pesqui-sa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a taxa de analfabetos entre as pessoas acima de 40 anos passou de 29,2% em 1992 para 17,2% em 2007.