profissionais mais velhos trazem novos desafios para as empresas

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Profissionais mais velhos trazem novos desafios para as empresas Perto de chegar ao ápice da mão de obra qualificada formada por jovens, companhias devem se preparar para atrair e reter profissionais com mais idade e experiência Roberta Moraes | 18/11/2015 [email protected] Ao longo das próximas décadas o Brasil acompanhará o encolhimento das taxas de mão de obra qualificada disponível entre os mais jovens. O ápice deverá acontecer daqui a 15 anos, em 2030. Em 2013, a maior faixa de pessoas em idade ativa pronta para o mercado de trabalho era formada por jovens entre 20 a 29 anos. Em 2040, a maior parte desses terá entre 40 e 49 anos. E a partir de 2060 a faixa etária de profissionais com disponibilidade subirá consideravelmente, chegando aos 59 anos de idade. A mudança do perfil da força de trabalho transformará completamente o cenário laboral e poucas empresas estão aproveitando este momento transitório para se preparar para essas novas demandas. Muito além de dominar o mercado consumidor, como mostra a reportagem “Idosos: oportunidade para as empresas que olham o futuro” , publicada pelo Mundo do Marketing, essa parcela da população estará preparada para ocupar postos de trabalho e ajudar no desenvolvimento da economia. Para se preparar para este novo momento, é preciso que as companhias comecem a criar políticas de atração e retenção de talentos, além de promover a cultura de valorização da pessoa idosa. Afinal, o Brasil já está começando a acompanhar o encolhimento das taxas de disponibilidade entre os mais jovens. A mudança na configuração da sociedade dará maior representatividade à terceira idade. Para se adequar a este novo momento é preciso que haja uma preparação, inclusive para capacitar essa força de trabalho. “As empresas precisam aprender de forma mais rápida como elas lidarão com as novas relações de sentido e trabalho, pois isso provoca mudanças na sociedade. Hoje sabemos que viver mais e com mais qualidade de vida está mudando os nossos conceitos, expandindo as fronteiras do que era o trabalho na velhice. Além disso, as pessoas buscam um sentido, uma ocupação que faça a diferença na vida delas”, comentou Márcia Tavares, Diretora do Centro Internacional de Longevidade Brasil, durante o III Fórum Internacional da Longevidade. Reconfiguração do mercado de trabalho Atualmente, já há um gap entre a força de trabalho disponível e a expectativa de contratação do empregador. A baixa qualificação está impactando o mercado porque os jovens não estão recebendo educação de qualidade. Além disso, a faixa entre 50 a 59 ainda está vivendo sob a influência de uma aposentadoria precoce. “Isso é um resquício que herdamos de um tempo em que as pessoas mais velhas eram consideradas improdutivas e, portanto, convidadas a se retirar antecipadamente do mercado de trabalho para que abrisse espaço para os mais jovens, que eram considerados produtivos”, acrescentou Márcia, autora do livro “Trabalho e Longevidade. Como o novo regime demográfico vai mudar a gestão de pessoas e a organização do trabalho”.

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Profissionais mais velhos trazem novos desafios para asempresasPerto de chegar ao ápice da mão de obra qualificada formada por jovens,companhias devem se preparar para atrair e reter profissionais com maisidade e experiência

Roberta Moraes | 18/11/[email protected]

Ao longo das próximas décadas o Brasilacompanhará o encolhimento das taxas de mão deobra qualificada disponível entre os mais jovens. Oápice deverá acontecer daqui a 15 anos, em 2030.Em 2013, a maior faixa de pessoas em idade ativapronta para o mercado de trabalho era formada porjovens entre 20 a 29 anos. Em 2040, a maior partedesses terá entre 40 e 49 anos. E a partir de 2060 afaixa etária de profissionais com disponibilidadesubirá consideravelmente, chegando aos 59 anos deidade. A mudança do perfil da força de trabalhotransformará completamente o cenário laboral epoucas empresas estão aproveitando estemomento transitório para se preparar para essasnovas demandas.

Muito além de dominar o mercado consumidor, como mostra a reportagem “Idosos:oportunidade para as empresas que olham o futuro”, publicada pelo Mundo do Marketing, essaparcela da população estará preparada para ocupar postos de trabalho e ajudar nodesenvolvimento da economia. Para se preparar para este novo momento, é preciso que ascompanhias comecem a criar políticas de atração e retenção de talentos, além de promover acultura de valorização da pessoa idosa. Afinal, o Brasil já está começando a acompanhar oencolhimento das taxas de disponibilidade entre os mais jovens.

A mudança na configuração da sociedade dará maior representatividade à terceira idade. Parase adequar a este novo momento é preciso que haja uma preparação, inclusive para capacitaressa força de trabalho. “As empresas precisam aprender de forma mais rápida como elaslidarão com as novas relações de sentido e trabalho, pois isso provoca mudanças na sociedade.Hoje sabemos que viver mais e com mais qualidade de vida está mudando os nossos conceitos,expandindo as fronteiras do que era o trabalho na velhice. Além disso, as pessoas buscam umsentido, uma ocupação que faça a diferença na vida delas”, comentou Márcia Tavares, Diretorado Centro Internacional de Longevidade Brasil, durante o III Fórum Internacional daLongevidade.

Reconfiguração do mercado de trabalhoAtualmente, já há um gap entre a força de trabalhodisponível e a expectativa de contratação do empregador.A baixa qualificação está impactando o mercado porque osjovens não estão recebendo educação de qualidade. Alémdisso, a faixa entre 50 a 59 ainda está vivendo sob ainfluência de uma aposentadoria precoce. “Isso é umresquício que herdamos de um tempo em que as pessoasmais velhas eram consideradas improdutivas e, portanto,convidadas a se retirar antecipadamente do mercado detrabalho para que abrisse espaço para os mais jovens, queeram considerados produtivos”, acrescentou Márcia,autora do livro “Trabalho e Longevidade. Como o novoregime demográfico vai mudar a gestão de pessoas e a

organização do trabalho”.

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Enquanto os mais jovens estão despreparados e a faixaintermediária pensa na aposentadoria, as pessoas commais idade e que ainda se sentem aptas para permanecerativa não têm oferta de trabalho digno. Além dessasquestões internas que vão provocar déficit, existe tambémum outro problema que já é atual: a fuga de cérebros -quando profissionais capacitados deixam o país em buscade oportunidade em outros mercados. Além da evasãointernacional, as empresas competirão cada vez mais pelabusca da escassa mão de obra qualificada.

Tudo isso custará mais caro, por conta da lei da oferta e daprocura. “Quanto mais difícil ter acesso a profissionaisqualificados, mais caro custará, o que em grande escalaimpactará as empresas financeiramente. Em meio a essecenário, as companhias terão que continuar inovando, poiselas precisam criar produtos e serviços novos para umapopulação de pessoas idosas. Não apenas no papel deconsumidoras, mas também como trabalhadores. Além

disso, nunca antes na história tantas gerações trabalharam juntas. O que faz com que a gestãode pessoas ganhe uma complexidade maior”, reforçou Márcia Tavares.

Experiências de foraCom tantos fatores impactando a realidade, o governo, por meio de políticas públicas eincentivo, e as empresas devem estar preparadas para manter em seus quadros pessoas maisvelhas colaborando por muito mais tempo. No entanto, as companhias ainda relutam emenxergar nos idosos uma alternativa para superar a escassez de profissionais qualificados nomercado.

Pesquisa da PwC de 2013 mostrou que apenas 37% de 108 empresas reconhecem que aspessoas mais velhas podiam contribuir como parte de um mecanismo para reduzir este déficitde profissionais. No entanto, apenas 12% contam com práticas direcionadas para atrair ou reteressa mão de obra. “Mas para todo problema há uma oportunidade. Na Austrália, por exemplo,foi feito um estudo em 2012 que mostrou que se houvesse o incremento de 3% na participaçãode pessoas com 55 anos ou mais na força de trabalho haveria um ganho de 33 bilhões dedólares no produto interno bruto daquilo país. Se o índice fosse 5%, o valor subiria para 48bilhões de dólares”, exemplificou Márcia.

Como os países desenvolvidos começaram a envelhecer antes do Brasil, é possível olhar aexperiência de outros mercados para adequar a realidade brasileira. “Eles já conseguirammapear demandas que a gente ainda não e já estão testando algumas soluções. Os erros e osacertos deles servirão de lições aprendidas para todos. Como essas nações já sabem que terãoesse déficit acentuado e não têm políticas internas que resolvam isso por completo, elesbuscarão em outros lugares. Como o Canadá, por exemplo, que faz ações de incentivos paraatrair imigrantes com qualificação profissional”, pontuou.

Além de se preparar para contar com colaboradores mais velhos, o aumento da expectativa devida também traz transformações na vida dos jovens profissionais que precisarão de suportepara cuidar de pais idosos. Assim como hoje as pessoas têm benefícios e ajuda para cuidaremdos filhos, elas precisarão de apoio para cuidar dos familiares. “Muitos envelhecerão saudáveise outros podem desenvolver doenças crônicas e viverão com ela por muitos anos, o quedemandará cuidados especiais. O desafio para as empresas será estar ao lado destecolaborador neste período delicado da vida dele, pois é improvável que ele se mantenhacriativo, produtivo, engajado, focado nas metas, trabalhando 44 horas por semana, mesmosabendo que o pai ou a mãe está internado no hospital ou em casa com câncer”, alertou MárciaTavares.

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