profissão: motoboy
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Reportagem sobre motoboys na cidade de Porto Alegre.TRANSCRIPT
CAUBÓIS DO ALFATO
Profissão: motoboy Imprudentes. É assim que motoristas veem os motoboys que atravessam a
cidade de ponta a ponta para entregar encomendas no menor tempo
possível. Mesmo que custe a vida.
Ser motoboy é na verdade sinônimo de valentia em Porto Alegre. Em
abril deste ano, a EPTC divulgou que o número de quedas de motoqueiros na
Capital reduziu 20% em relação à mesma época do ano anterior, passando
de 477 ocorrências para 379. O número total, à primeira vista, pode parecer
baixo, mas é o mesmo que dizer que 12 motoqueiros se acidentam por dia na
Capital – um risco considerável para quem trabalha em cima de uma
motocicleta todos os dias.
Alexandre da Silva Oliveira, 37 anos, sendo dez deles como
motoqueiro, já sofreu mais quedas do que pode contar. A maior parte foram
escorregões e tombos que não deixaram nenhuma marca, mas os 15 pontos
na cabeça não escondem: o perigo ronda a rotina dos motoboys. Chuva,
trânsito mal sinalizado, falhas no asfalto e imprudência – por parte dos
motoristas e motociclistas – são, para Alexandre, as maiores causas dos
acidentes na cidade.
Já Ricardo Giordano, 26, é um novato na profissão perto de
Alexandre. Trabalhando há três anos em uma pizzaria da Capital, já caiu da
moto quatro vezes, todas durante o serviço. Para Ricardo, o tempo é o
principal inimigo da profissão: “Entregar comida não é fácil. Se demora muito
fica fria e o gerente recebe reclamação e vem pra cima de nós. Então
pegamos os ‘pacotes’ que vão pra área e saímos correndo. Canso de ir e vir
pro mesmo bairro, mas a pressa impede de fazer uma distribuição melhor. É
complicado”, afirma. Mesmo sabendo que a pressa pode levar a novos
acidentes, ele não deixa de correr e conclui tranquilamente: “(cair) faz parte,
se trabalha com moto tem que saber que uma hora tu vai pro asfalto”.
Se acidentes e tombos são encarados como um “mal necessário” da
profissão, furtos e roubos de motocicletas são um problema que tira o sono
dos que dependem do veículo para seu sustento. Leandro Sant’Ana, 23 anos,
já teve uma moto roubada. Dois homens armados o abordaram e levaram a
Honda GC 215. Na época, Leandro não a usava para trabalhar, mas agora
sempre cuida onde vai estacionar e os lugares das entregas. Hoje a moto é a
sua companheira de trabalho.
Porém, se os riscos e pressões que os motoboys sofrem todos os dias
são grandes, eles têm uma recompensa: o pagamento. O salário de um
motoboy contratado fica em torno de mil reais, praticamente o dobro do
salário mínimo regional. E o único requisito para ganhar uma dessas vagas é
ter habilitação na categoria A. Não é de se admirar que os benefícios e a
liberdade de horários atraiam aqueles que já tinham uma motocicleta na
garagem e buscam estabilização financeira para melhorar de vida.
“Não sabia andar de bicicleta e de repente quis ser motoqueiro!”
Ter a moto na garagem é o incentivo mais comum para entrar no ramo
das entregas, mas jovens como Max Junemam, 22, e Rafael Dal`Mas, 32,
nunca tinham pilotado uma antes de pôr na cabeça que, sim, iam ser
motoboys.
Max faz entregas há três meses. Entrou na empresa de seu cunhado
para dar “uma mãozinha” e acabou gostando. Começou a trabalhar no
mesmo dia em que recebeu a carteira. “Eu gosto porque não é algo
entediante. É melhor que passar o dia todo na frente do computador. Mas
não pretendo ficar nessa área, só estou para ajudar meu cunhado mesmo”,
explica Max.
Já Rafael entrou na profissão com outros planos. “Nunca tinha subido
numa moto, nem na garupa – conta – mas um dia pensei: não precisa ter
faculdade, se ganha bem, o trabalho não é pesado e posso fazer meus
horários, por que não?” Tirou a carteira em dois meses e financiou a moto em
10 vezes. Na primeira semana fez uma viagem até Alvorada, só para sentir a
máquina. Causou espanto na família. A mãe ficou preocupada, achou que
fosse mais uma das “invenções” do filho – que já tinha passado por duas
faculdades incompletas (Administração e Publicidade), uma banda de jazz,
trabalhos como office boy e professor particular de violão e gaita de boca.
“Nem de bicicleta o Rafa andava e de repente resolveu ser motoboy. Não
sabia se ria ou me preocupava com a segurança da cidade”, brinca ela.
Rafael não se intimidou pelos dissabores da profissão. Falante, em
breve conseguiu vários clientes perto de sua casa que não precisavam de um
entregador exclusivo para seus serviços. A renda foi crescendo e as
demandas também. Para dar conta do serviço, chamou um amigo e
começaram uma empresa de entregas. Dois anos depois, a firma de Rafael
tinha três motoboys e clientes em toda a região do centro de Viamão. Com o
negócio dando certo, o jovem empresário foi atrás de outro sonho: se formar
em Direito.
Com peito estufado Rafael afirma: “Paguei as mensalidades mais com
as minhas entregas do que com os lucros da empresa. Esses eu usava pra
me sustentar. Comecei a trabalhar de representante comercial pela manhã,
entregador à tarde e tinha aula de noite. Não pode ter preguiça pra conseguir
as coisas.” Após a formatura, entrou em um escritório, vendeu sua parte da
empresa ao sócio e comprou um carro. Mas ficou com a moto. Com um
sorriso, completa: “Nunca se sabe quando vai bater a vontade de voltar à
vida de motoboy, né?”.
Quanto custa ser um motoboy?
A profissão de motoboy pode ser muito rentável para jovens sem
escolaridade completa ou experiências profissionais anteriores, porém exige
investimentos altos para o exercício para sua prática. Calcular o gasto com
gasolina, reparos mensais e os equipamentos de segurança - requeridos pelo
departamento de trânsito - é uma tarefa importante para quem quer tirar
algum lucro no final do mês. Veja no quadro ao lado os valores dessas
despesas e outros dados sobre a jornada desse profissional.
Quadro Honda GT 140 R$ 5.000
Gasolina R$15 por dia
Manutenção R$35 por mês
Equipamento R$200
Carga horária 6h por dia
Renda média R$ 1.500